Fundação Getúlio Vargas Escola de Administração de Empresas de São Paulo Ricardo Bittencourt Explorar as Possibilidades de Utilização dos Resultados do QFD na Metodologia de Trabalho para a Gestão da Cadeia de Suprimentos: O IMPACTO NA GESTÃO DOS ESTOQUES DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Orientador: Prof. Dr. Marcos Augusto de Vasconcellos SÃO PAULO 2006 2 Fundação Getúlio Vargas Escola de Administração de Empresas de São Paulo Ricardo Bittencourt Explorar as Possibilidades de Utilização dos Resultados do QFD na Metodologia de Trabalho para a Gestão da cadeia de Suprimentos: O IMPACTO NA GESTÃO DOS ESTOQUES Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração da Fundação Getúlio Vargas — EAESP-FGV, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Marcos Augusto de Vasconcellos SÃO PAULO 2006 II 3 BITTENCOURT, Ricardo. Explorar as possibilidades de utilização dos resultados do QFD na metodologia de trabalho para a gestão da cadeia de suprimentos: o impacto na gestão dos estoques. Ricardo Bittencourt – 2006. 195 f. Orientador: Marcos Augusto de Vasconcellos Dissertação (MPA) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. 1. Estoques - Administração 2. Desdobramento da função qualidade 3. Clientes e fornecedores - Relacionamento I. Vasconcellos, Marcos Augusto de. II. Dissertação (MPA) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título. CDU 658.7 4 Ricardo Bittencourt Explorar as Possibilidades de Utilização dos Resultados do QFD na Metodologia de Trabalho para a Gestão da Cadeia de Suprimentos: O IMPACTO NA GESTÃO DOS ESTOQUES Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissionalizante em Administração da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Campo de Conhecimento: POI: Administração da Produção. Orientador: — Prof. Dr. Marcos Augusto de Vasconcellos Data de Aprovação 25 / 09 / 2006 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Marcos Augusto de Vasconcellos (Orientador) FGV-EAESP Prof. Dr. Dagoberto Helio Lorenzetti FGV-EAESP Prof. Dr. Claude Machline III 5 Dedicatória À minha mãe Emanuela e ao meu pai Gervasio (in memoriam), os quais sempre se esforçaram para me dar amor, amparo, educação de qualidade, caráter e preceitos éticos e morais. À minha esposa Silvana, pelo apoio incondicional e pela compreensão nos momentos difíceis e felizes desta minha caminhada, momentos esses que permitiram o amadurecimento do nosso convívio familiar e propiciaram-me elaborar o presente trabalho. IV 6 Agradecimentos A Deus, pela oportunidade de fazer o curso de Mestrado e por guiar meu caminho. Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcos Augusto de Vasconcellos, por organizar minhas idéias e me mostrar o caminho a seguir, coisas que somente um grande mestre é capaz de fazer. À Philips do Brasil Ltda, que apostou em mim como profissional custeando meu curso e apoiando-me nos momentos de ausência. Aos amigos do mestrado, pelo auxílio oferecido durante o curso. Ao Professor Dagoberto Helio Lorenzetti, pelo suporte e informações prestadas durante a elaboração deste trabalho. V 7 BITTENCOURT, Ricardo. “Explorar as possibilidades de utilização dos resultados do QFD na metodologia de trabalho para a gestão da cadeia de suprimentos: o impacto na gestão dos estoques”. São Paulo, 2006. 186p. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) — Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, EAESP-FGV. RESUMO As transformações ocorridas no mercado têm levado os clientes a exigirem dos fornecedores níveis de desempenho cada vez mais elevados, principalmente no que diz respeito à entrega. O desafio para a organização que pretende ser líder em serviço ao cliente é conhecer as exigências dos diferentes segmentos em que atua e reestruturar seus processos de logística em direção ao cumprimento dessas exigências da maneira mais eficiente possível, maximizando a utilização de seus recursos e, para isso, reduzindo os custos. Nas análises de redução dos custos, as empresas avaliaram suas contas dos demonstrativos contábeis e descobriram que o estoque exigia um valor de capital investido, gerando altos custos financeiros ou alto custo de oportunidade. Simplesmente tomar ações pontuais para redução de estoques sem o conhecimento científico tem levado muitas delas à queda do nível de serviço logístico oferecido e, conseqüentemente, à perda de vendas. Esta dissertação objetivou trazer para dentro da empresa, de forma unificada e estruturada, as necessidades/desejos dos clientes, definindo, assim, níveis de serviço adequados aos tipos de mercado ou produto. Isso permite um melhor gerenciamento dos estoques, ou seja, a definição de níveis de serviço por categorias de produtos e conseqüentemente estoques de segurança para sustentar tais níveis. Nesse sentido, recomenda-se a matriz da “casa da qualidade” do QFD como ferramenta de concatenação das necessidades dos clientes com as características logísticas e os recursos da companhia. Para alcançar esse objetivo, foi construído um modelo hipotético de aplicação para estudar diversos níveis de serviços e seus respectivos impactos em valor no estoque de segurança. O estudo visa à aplicação em empresas que atendam aos clientes com estoques de produtos acabados de demanda independente, planejando e produzindo as reposições desses estoques, baseados em previsões de demanda. PALAVRAS-CHAVES: gestão de estoques, níveis de serviço ao cliente, QFD. VI 8 BITTENCOURT, Ricardo. “To explore the possibilities of the QFD results usage in the supply chain management work methodology: the inventory management impact.” São Paulo, 2006 — 186p. Dissertation (Master in Professional Administration) — Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, EAESP-FGV. ABSTRACT The changes occurred in the market made customers require more and more high performance levels from suppliers, mainly related to product delivery. The challenge for the organization which intends to be leader in customer service is to know the demands from the different segments in which it operates and restructure its logistic processes towards the fulfillment of these demands in the most efficient way, maximizing resources utilization, in order to reduce costs. During the cost reduction analysis, the companies appraised their accounting statements and discovered that the inventory represents an amount of invested capital, generating large financial costs or large opportunity costs; by simply taking prompt actions for inventory reduction, without the scientific knowledge, has taken many of them decline in the service level provided, and in selling losses. This dissertation has the objective to bring from outside the company, in an unique and structured way, the customer needs/wishes, and, based on that, to define appropriate service levels to the different markets or products types that the company attend, allowing a better inventory management; it means, to define specific service level for each product category an related buffer inventories to support it. In this sense, it is recommended the QFD “house of quality” matrix as a tool for tying the customer needs to the logistical characteristics and the resources of the company. To reach this objective, a hypothetical application model was built to study several service levels and the respective financial impacts in the buffer stock necessary for such service levels. The study is applicable for companies that serve customers through finished products (independent demand) with inventory replacement planning based on demand forecast. KEY WORDS: inventory management, customer service level, QFD. VII 9 Sumário Lista de Ilustrações Nomenclatura INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 2 1. 2. 3. 4. 5. 3 4 5 6 7 Objetivo ........................................................................................................................... Motivação e relevância do tema....................................................................................... Problematização e delimitação do tema........................................................................... Metodologia..................................................................................................................... Estrutura do trabalho........................................................................................................ CAPÍTULO 1 QFD — DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE ............................................................. 12 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 Histórico........................................................................................................................ 12 Benefícios obtidos com a utilização do QFD................................................................ 14 Definição e princípios ................................................................................................... 20 O método QFD.............................................................................................................. 29 QFD no Brasil ............................................................................................................... 37 Levantamento sobre o uso do QFD e perspectivas futuras............................................ 44 CAPÍTULO 2 LOGÍSTICA ................................................................................................................................ 49 2.1 2.2 2.3 2.4 Histórico e conceitos ..................................................................................................... 49 Novos papéis da Logística............................................................................................. 53 Logística Integrada........................................................................................................ 57 Supply Chain Management........................................................................................... 62 CAPÍTULO 3 ESTOQUES ................................................................................................................................. 66 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 Funções e finalidades dos estoques ............................................................................... 67 Classificação dos estoques ............................................................................................ 71 Indicadores das dimensões de estoque .......................................................................... 74 Custos de estoque.......................................................................................................... 76 Gestão dos estoques ..................................................................................................... 79 CAPÍTULO 4 EVOLUÇÃO DO RELACIONAMENTO CLIENTE-FORNECEDOR..................................................129 VIII 10 C ont. CAPÍTULO 5 DESEJOS DOS CLIENTES E A GESTÃO DE ESTOQUES................................................................140 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 Requisitos dos clientes ..................................................................................................140 Necessidades dos clientes..............................................................................................141 Expectativas dos clientes...............................................................................................143 Satisfação dos clientes...................................................................................................144 O impacto da complexidade..........................................................................................146 Nível de serviço.............................................................................................................152 Estratégias de produção.................................................................................................159 CAPÍTULO 6 ANÁLISE E DISCUSSÃO ..............................................................................................................163 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 183 IX 11 Lista de Ilustrações Figuras Capítulo 1 Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Tempo de introdução de um produto versus esforço gasto para introduzir ........................................ Benefícios na implantação do QFD...................................................................................................... Estrutra do QFD desenvolvida por Akao ............................................................................................. Qualidades exigidas versus características da qualidade ..................................................................... Modelo da casa da qualidade ................................................................................................................ Seqüência de desdobramento do QFD (ASI) ....................................................................................... Objetivo-Fim do QFD ........................................................................................................................... Modelo de Kano .................................................................................................................................... Evolução do QFD no Brasil de 1995 a 2001........................................................................................ 16 19 21 22 26 31 32 34 37 Capítulo 2 Figura 1 Figura 2 Figura 3 Desenvolvimento de estratégias e o planejamento............................................................................... 59 Gerenciamento da cadeia de suprimentos ............................................................................................ 59 Evolução do pensamento logístico....................................................................................................... 61 Capítulo 3 Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Analogia dos estoques ........................................................................................................................... 67 Nivelamento de demanda...................................................................................................................... 69 Natureza da demanda ............................................................................................................................ 70 Quantidade disponível versus tempo: item de demanda independente............................................... 82 Sistema de revisão periódica ................................................................................................................. 85 Estoque de segurança com demanda variável e tempo de atendimento constante............................. 88 Estoque de segurança com demanda constante e tempo de atendimento variável............................. 92 Estoque de segurança com demanda e tempo de atendimento variável ............................................. 93 Modelo do lote econômico – ciclo do estoque ..................................................................................... 97 Lote econômico de um item.................................................................................................................. 98 Evolução do estoque no tempo ............................................................................................................. 99 Estrutura do produto .............................................................................................................................. 102 O processo do MRP............................................................................................................................... 103 Sistema clássico de empurrar estoques................................................................................................. 106 Gráfico típico de uma curva ABC ........................................................................................................ 112 Exemplo de efeito chicote ..................................................................................................................... 122 Dilema de manter ou reduzir os estoques ............................................................................................. 126 Capítulo 4 Figura 1 Figura 2 Definições a serem estabelecidas para que o modelo possa ser implantado....................................... 134 Modelo Comakership ............................................................................................................................ 136 Capítulo 5 Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Manifestação da insatisfação pelo consumidor .................................................................................... 145 A complexidade de produto e canal e os desafios da cadeia de abastecimento.................................. 147 Outros desafios do aumento da complexidade de produto e canal...................................................... 147 Modelo de logística voltada ao cliente.................................................................................................. 149 X 12 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Determinação dos níveis de serviço...................................................................................................... 151 Elementos de serviços ao cliente........................................................................................................... 155 Curva do trade-off custo-serviço target ................................................................................................ 156 O loop logístico...................................................................................................................................... 157 Níveis necessários de estoque de segurança......................................................................................... 158 Dilema da gestão de materiais............................................................................................................... 159 Posicionamento do DP conforme o tipo da estratégia de produção.................................................... 161 Capítulo 6 Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Definido o nível de serviço ao cliente................................................................................................... 163 Ranking de nível de serviço .................................................................................................................. 167 Casa da qualidade do QFD para as exigências dos clientes................................................................. 171 Análise dos resultados da casa da qualidade ........................................................................................ 172 Análise do peso ponderado das exigências dos mercados................................................................... 173 Níveis de serviço versus o nível de estoque de segurança................................................................... 175 Conclusão Figura 1 Composição do custo logístico total em detalhe .................................................................................. 179 Tabelas Capítulo 1 Tabela 1 Benefício na aplicação do QFD ............................................................................................................ 18 Capítulo 3 Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Fatores de segurança.............................................................................................................................. 90 Flutuação da demanda ao longo da cadeia de suprimentos devido a uma alteração na demanda do consumidor final ......................................................................................................... 120 Indicação para redução do efeito chicote.............................................................................................. 124 Capítulo 4 Tabela 1 Modelo articulado em níveis de desenvolvimento............................................................................... 130 Capítulo 5 Tabela 1 Diferenças entre as estratégias Build-To-Forecast e Build-To-Order................................................. 161 Capítulo 6 Tabela 1 Fatores de segurança.............................................................................................................................. 165 XI 13 Quadros Capítulo 1 Quadro 1 Benefícios chaves do QFD.................................................................................................................... 17 Capítulo 3 Quadro 1 Relação da demanda e do tempo de atendimento variável versus atendimento de pedidos .............. 94 Capítulo 4 Quadro 1 Quadro 2 Faixas de referência do fornecedor ....................................................................................................... 135 Modelo de Petrus ................................................................................................................................... 137 Capítulo 5 Quadro 1 Fontes de mudança e requerimentos para manufatura/marketing ....................................................... 153 Capítulo 6 Quadro 1 Quadro 2 Quadro 3 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço único (desperdício) ....................................... 166 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço único excelente.............................................. 168 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço adequado ....................................................... 174 XII 14 Nomenclatura ASI: American Supplier Institute. Benchmarking: Processo contínuo de avaliação e comparação do nível de desempenho das melhores empresas no mercado, que visa atingir uma forte melhoria de performance. Para efetuar essa análise, os concorrentes servem de termo de comparação, assim como empresas de outros setores de atividade. Pode ainda envolver uma comparação da eficácia na realização das principais funções e processos entre diferentes departamentos ou unidades de negócio da empresa. Brainstorming: Tempestade cerebral, em inglês. Técnica utilizada para gerar idéias. Consiste em propor e relacionar todo tipo de associações que vierem à cabeça, sem nenhuma análise sobre sua pertinência, para avaliação posterior. Geralmente é feita por duas ou mais pessoas, em conjunto. Breakthrough: Atingir um nível superior de competitividade por meio de uma ruptura dos procedimentos atuais; concentração das ações de melhoria nos processos. Classificação ABC: Uso da análise de Pareto para classificar itens e produtos nas categorias A, B e C, com base em critérios como demanda e valor. Cofins: Contribuição para Financiamento da Seguridade Social. É um tributo cobrado pela União sobre o faturamento bruto das pessoas jurídicas, destinado a atender programas sociais do Governo Federal. COMAKERSHIP: É a estratégia dirigida ao envolvimento solidário dos fornecedores no complexo empresarial do cliente, podendo alcançar inclusive uma integração estratégica. CRP: Continuous Replenishment Program — Suprimento contínuo entre parceiros comerciais, com informações relativas às vendas reais dadas pelos scanners, com suprimento ajustado ao necessário, com a manutenção de estoques mínimos e com informações comparadas com a previsão de demanda previamente acordada entre os parceiros comerciais. Customer chain: Cadeia de clientes. Decoupling Point: É o ponto na cadeia de suprimentos onde o produto deixa de ser produzido de forma genérica (para estoque) e passa a ser produzido para atender a um pedido de determinado cliente. Efeito Forrester (efeito chicote): Efeito em toda a cadeia de abastecimento decorrente de frutuações na demanda em seu final (consumo), sentida com maior intensidade em seu início (fornecimento). Feedback: Retro-alimentação às ações que têm seu efeito informado claramente para permitir ajustes às futuras ações. GAP: Lacunas entre duas partes. XIII 15 Harvard: A Universidade de Harvard (ou simplesmente Harvard) é uma universidade privada americana situada em Cambridge, Massachusetts. ICMS: Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, também chamado de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. É um imposto estadual não-cumulativo. É a grande fonte de receita do Distrito Federal e dos Estados. IEC: International Electronics Comission — Comissão internacional que propõe normas para fabricação e teste de aparelhos eletrônicos, inclusive áudio e vídeo. IMAM: Inovação e Melhoramento na Administração Moderna. IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados. É um imposto federal cobrado das indústrias sobre o total das vendas de seus produtos e das pessoas jurídicas responsáveis pela importação de produtos em geral. Sua alíquota é variável. ISO: International Organization for Standardization - uma entidade não governamental, criada em 1947, com sede em Genebra, Suíça. O objetivo da ISO é promover no mundo o desenvolvimento de normas que representam o consenso dos diferentes países, por meio da cooperação no âmbito intelectual, científico, tecnológico e de atividade econômica, com a intenção de facilitar o intercâmbio internacional de produtos e serviços. ISO9000: Série de normas internacionais para a administração da qualidade e desenvolvimento da qualidade assegurada, que foram desenvolvidas para auxiliar as empresas a documentar os elementos do sistema da qualidade para serem implementados para manter um sistema da qualidade eficiente. Just-in-time: Filosofia de manufatura baseada na eliminação planejada dos desperdícios e a elevação contínua da produtividade, somente tendo o exato material de que necessita, zerando os defeitos, eliminando os tempos de set up e tamanho dos lotes e revisão contínua da operação. Kanban: Mecanismo para puxar a produção “Just–in–Time”. Por intermédio desse sistema a produção de um recurso é disparada segundo a necessidade de peças do recurso que o procede. Dessa forma, partindo-se das necessidades da demanda final, todo o processo produtivo é "puxado" até que se alcance as necessidades de produção do primeiro recurso fabril. O "kanban” pode ser efetuado por via eletrônica, por "kanban squares" (tinta ou fita amarela no chão, nas mesas de montagem) ou por cartões.. Know-how: Técnica, conhecimento ou capacidade desenvolvida por uma empresa. O know-how é mais facilmente atribuído a produtos tangíveis. Quando esse conhecimento se torna mais disponível e utilizado, o seu valor diminui. Assim, deve ser considerado como um fator distintivo e uma competência central para uma empresa. Lead time: Tempo computado entre o início da primeira atividade até a conclusão da última, em série de atividades. Market Share: Percentagem de participação no mercado, é a fatia das vendas de um produto que cada fabricante detém. Marketing: Conjunto das atividades empresariais destinadas à descoberta, à conquista, à manutenção e à expansão de mercados para as empresas e suas marcas. XIV 16 Método de Taguchi: Método que otimiza a funcionalidade e os custos globais (tanto do produtor quanto do cliente) combinando técnicas de projeto de experimentos, análise funcional e tecnologia de controle. Mix: Diferentes composições ou combinações de produtos de uma oferta (linha de produtos, demanda ou carteira). MRP II: Manufacturing Resources Planning ou Planejamento dos Recursos da Manufatura. MRP ou MRP I: Material Requirements Planning ou Planejamento das Necessidades de Materiais. Payback: Prazo para recuperação do capital é um indicador voltado à medida do tempo necessário para que um projeto recupere o capital investido. É aplicável, sem restrições, a projetos convencionais de investimento que apresentem um fluxo de caixa. PIS: Programa de Integração Social. É uma contribuição devida pelas pessoas jurídicas, com objetivo de financiar o pagamento do seguro desemprego e do abono para os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos (14º sálario). QFD: (Quality Funcion Deployment) Desdobramento da Função Qualidade, metodologia com base nas pessoas para determinar rigorosamente as necessidades e os desejos dos clientes. SEBRAE : Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Set-up: Trabalho necessário para se mudar uma determinada máquina, recurso, centro de trabalho e linha de produção, do término da última peça da produção A até a primeira peça da produção B. Tempo compreendido entre a paralisação de produção de um equipamento, a troca do seu ferramental e a volta de sua produção. Shopping Center: Um shopping center é uma estrutura (ou um conjunto de estruturas) que contém estabelecimentos comerciais como lojas, lanchonetes, restaurantes, bem como estacionamento. SKU: Stock Keeping Unit. Representa a unidade para a qual informações de venda e de gestão de estoque são mantidas. Pode ser uma unidade de consumo de um produto ou uma caixa coletiva com diversas unidades do mesmo. Slogan: É uma frase de fácil memorização usada em contexto político, religioso ou comercial como uma expressão repetitiva de uma idéia ou propósito. Supply Chain: É a Cadeia de Suprimento. Rede de organizações envolvidas nos diferentes processos e atividades anteriores que produzem valor, sob a forma de produtos e serviços nas mãos do consumidor final.. Supply Chain Management (SCM): É o gerenciamento da Cadeia de Suprimento. Ligação da cadeia de valor de negócio desde o primeiro contato do cliente até ao armazém do fornecedor, passando pelas vendas, serviço de clientes, gestão de armazém, entrega de produtos ou serviços e produção. Teamwork: Pessoas trabalhando juntas como um time XV 17 Time-to-market: O tempo do ciclo entre a concepção de um produto e sua disponibilização para a venda no mercado. TQC (Total Quality Control): Controle total da qualidade. Trade off: Troca compensatória, na sua forma básica, o resultado incorre em um aumento de custos em uma determinada área com o intuito de obter uma grande vantagem em relação às outras. VMI: Vendor Managed Inventory ou Estoque Gerenciado pelo Fornecedor. Parceria em que o fornecedor repõe os estoques do cliente com base nos níveis de estoque informados pelo próprio cliente por via eletrônica (EDI, Internet ou outros meios). O cliente participa somente com a informação sobre seus níveis de estoque e, preferencialmente, de maneira automática de forma que seus custos de controle de estoques e pedido são reduzidos a um mínimo. XVI Introdução 2 Introdução Cada vez mais o serviço proporcionado pela logística é uma das grandes oportunidades para as empresas que desejam diferenciar seus produtos/serviços no mercado. O serviço ao cliente tem sido muito valorizado, tanto pelos consumidores finais quanto pelos clientes intermediários, já que bons produtos e bons preços não são mais suficientes para atender às exigências de uma operação de venda. Isto ocorre, porque, embora produto e preço sejam fatores essenciais, a rapidez na entrega, a disponibilidade de produto, o bom atendimento, a ausência de avarias, a flexibilidade da empresa entre vários outros itens de serviço, criam valor ao reduzir os custos para o cliente, aumentando sua vantagem competitiva. Para que seja possível oferecer um serviço de qualidade, é necessário ser capaz de atender às expectativas dos clientes. Entretanto, tais expectativas de serviços podem variar significativamente de cliente para cliente. Neste momento, surgem duas grandes questões: como a empresa deve atuar da forma mais eficaz possível quando se está implantando uma estratégia de serviço? Que níveis de serviço adotar? As respostas a essas perguntas levam à questão da segmentação do atendimento. Empresas dos mais diversos setores vêm percebendo que atuar de forma diferenciada, buscando atender a diferentes necessidades dos diversos grupos de clientes, é uma das melhores políticas a ser adotada. Portanto, ganhar competitividade pela oferta de serviços de qualidade não significa oferecer elevados níveis de serviço de forma homogênea para todos os clientes. Isso porque recursos podem estar sendo gastos com grupos de clientes que não valorizam tais serviços, tornando o processo mais oneroso sem uma percepção de diferencial. Por outro lado, clientes mais exigentes podem não estar sendo atendidos em suas necessidades de serviço. A segmentação do nível de serviço de acordo com o tipo de mercado pode ser utilizada como forma de aumentar a efetividade dos serviços oferecidos, direcionando os recursos de forma adequada. 3 1. Objetivo Diante da complexidade da exigência dos clientes e em vista dos mercados aos quais as empresas têm que atender, buscou-se estudar os impactos gerados na cadeia logística, especificamente na gestão de estoques, tentando responder à seguinte questão: qual a influência que os níveis de serviço exigidos pelos clientes têm sobre os níveis de estoque da empresa? Muitas empresas têm utilizado o conceito de nível de serviço de forma genérica e unificada, ou seja, têm definido não somente metas, mas também estratégias de gestão de estoques, baseando-se em um único nível de serviço para todos os seus produtos e segmentos de mercado. O trabalho busca provar que, quando generalizamos a definição de nível de serviço, poderemos estar cometendo um erro gerencial, levando a empresa a alocar recursos desnecessários à manutenção de estoques e todos os custos relativos a eles, tais como, custo financeiro, custo de armazenagem, custo de movimentação, custo de administração, custo de obsolescência e custo de transporte. O objetivo do trabalho é trazer para dentro da empresa de uma forma unificada e estruturada as necessidades/desejos dos clientes, definindo, assim, níveis de serviços adequados aos tipos de mercados ou produtos. Isso permite um melhor gerenciamento dos estoques, ou seja, a definição de níveis de serviço por categorias de produtos e, conseqüentemente, estoques de cobertura para sustentar tais níveis. Nesse sentido, a matriz da casa da qualidade do QFD serve como ferramenta útil para a logística na medida em que possibilita, de forma organizada, concatenar necessidades versus recursos, identificando, de maneira clara, o que os clientes desejam. Assim, são objetivos: 1) estabelecer uma base conceitual para realizar a avaliação dos custos relativos ao estoques que estão relacionados com a satisfação dos clientes; 2) demonstrar como a matriz da casa da qualidade do QFD pode auxiliar na organização estruturada das necessidades dos clientes. 4 2. Motivação e Relevância do Tema Com o dinamismo no contexto global de competitividade dos negócios, em decorrência da globalização, gerando uma crescente entrada de produtos importados no mercado nacional, a diferenciação por agregação de valor e atendimento exato das necessidades dos clientes pode ser a fonte de rentabilidade e sobrevivência das atividades. Vários segmentos do mercado brasileiro passaram a ser disputados por algumas das mais competitivas empresas (e produtos) mundiais. A entrada desses competidores alavancou a exigência dos clientes locais, que passaram a requerer de seus fornecedores desempenho de classe mundial. Como conseqüência, o mercado atual exige que as empresas nacionais sejam inovadoras, dêem atenção ao custo do produto, tenham qualidade de produto e de processos, tenham capacidade para encontrar novas soluções (WILLAERT et al, 1998), tenham flexibilidade de mix, de volume e de demanda (XAVIER, 1997), sejam ecologicamente corretas (ASIEDU & GU, 1998) e diminuam continuamente o time-to-market (ZIRGER & HARTLEY, 1996). A diferenciação de uma empresa no mercado, cada vez mais, está ligada a uma boa administração da cadeia logística. Mesmo com direcionamentos estratégicos voltados para a área de marketing, devem ser considerados quais são os impactos que essas estratégias proporcionarão na cadeia logística e, conseqüentemente, no funcionamento dos processos comerciais e de manufatura. O aumento da percepção da importância da logística nesses processos demonstra que, para o cliente, não basta ter o produto na forma desejada, mas, também, no momento requerido (prazo de entrega), a um preço compatível, na qualidade dos componentes e até, eventualmente, na logística reversa. Para realizar todos os ensejos dos clientes, é importantíssimo que haja uma integração logística. Com a complexidade dos produtos comercializados, a integração logística é cada vez mais exigida, pois aumentou-se o número de produtos (mix) solicitados às áreas de manufatura, o volume de transporte, as movimentações internas e a gestão dos estoques. Além disso, do ponto de vista financeiro, o estoque é um ativo e representa dinheiro preso que não pode ser utilizado para outros propósitos. Esses estoques têm seu custo de estocagem. A área de finanças deseja o menor estoque possível e precisa 5 de alguma mensuração do nível do estoque. Uma medida conveniente para saber se os estoques estão sendo utilizados com eficiência é a taxa de giro de estoque (ARNOLD, 1999). Ainda, segundo DAVIS (2001:491), “Os gerentes das melhores companhias estão se conscientizando de que o estoque realmente não é um ativo, mas, na verdade, um passivo. Conseqüentemente, a quantidade média de estoque que estas empresas possuem relativamente a suas vendas anuais tem diminuído.” 3. Problematização e Delimitação do Tema O trabalho está delimitado à conceituação dos estoques, aos custos advindos do mesmo e a um exemplo (situação hipotética) de aplicação de diversos níveis de serviço e seus respectivos impactos em valor no estoque de segurança. O estudo visa à aplicação em empresas que atendam aos clientes com os estoques de produtos acabados de demanda independente, planejando e produzindo as reposições desses estoques baseando-se em previsões de demanda. É fundamental, para qualquer organização, o monitoramento e a avaliação da satisfação dos clientes com relação ao nível de serviço prestado, pois sua relação futura depende dessa satisfação. Vendas, lucro e retorno financeiro estão correlacionados com a satisfação dos clientes. Deixar de captar as dimensões relevantes que agem sobre a satisfação dos clientes, pode levar a pontos cegos, impedindo a organização de tomar as devidas providências a tempo, gerando, assim, deterioração nas perspectivas futuras de vendas e rentabilidade. As exigências desejadas e os desafiadores requerimentos proporcionam uma oportunidade de vantagem competitiva para o negócio, se for possível encontrar uma forma de as fazer visíveis e entregá-las. Entretanto, neste mundo em mudança rápida, atingir o alvo direito da satisfação dos clientes é mais difícil no mercado segmentado atual, com novas tecnologias e pressões competitivas. O QFD transforma exigências invisíveis em vantagens estratégicas visíveis, permite que se dê prioridade e que se atue em um processo focalizado no 6 estabelecimento de níveis de serviço. No seu conceito básico, o QFD é abordado como uma ferramenta de qualidade sendo completamente diferente das demais, já que procura as exigências do cliente explícitas e implícitas maximizando as qualidades positivas, criando, assim, valor agregado adicional para o serviço. Neste trabalho, não serão aprofundadas, nem detalhadas todas as etapas do processo de utilização da ferramenta QFD. Será tão somente admitido que são dadas as necessidades do mercado em relação aos segmentos pesquisados (mercado consumo e profissional) e fazer a utilização da casa da qualidade para dar os pesos necessários às dadas exigências, transformando-as, assim, em níveis de serviço requeridos pelo cliente/mercado. 4. Metodologia O estudo inicia-se com a revisão bibliográfica, explorando, sob o ponto de vista dos autores da literatura, a metodologia QFD. No capítulo subseqüente, faz-se uma fundamentação da logística sob o ponto de vista estratégico das empresas e como ocorreu a extensão dos conceitos para toda a cadeia de negócios, definida como Supply Chain. A seguir, partimos para um estudo mais aprofundado dos estoques, seus custos, seus impactos no negócio e a forma de gerenciar os mesmos. Na análise dos desejos dos clientes e da gestão dos estoques, levantaremos questões referentes aos clientes, (como: qualidade, produto, serviço, entrega, custos, mercado, entre outras) que devem ser utilizadas para maximizar-lhes a satisfação. Posteriormente, a partir da revisão da literatura, são identificados os atributos que geram impacto na satisfação dos clientes. A idéia final será elaborar um relatório, indicando, pela realização de simulações matemáticas, o impacto das necessidades específicas de clientes/mercados na gestão dos estoques. O modelo utilizado como base será descrito em forma de valores monetários de estoque de segurança necessários. Para levantar as necessidades dos clientes, utilizaremos a casa da qualidade do QFD como fonte de informações. 7 5. Estrutura do Trabalho Para atender aos objetivos, além deste capítulo, o trabalho está estruturado em mais seis capítulos e a conclusão: Capítulo 1 — QFD – Desdobramento da Função Qualidade: Este capítulo descreverá o histórico do surgimento do QFD, onde primeiramente foi implementado e de que forma os conceitos se propagaram desde o país de origem, tornando-se mundialmente conhecidos e aplicados. A seguir, serão abordados quais são os principais benefícios obtidos com a utilização do QFD, as vantagens de sua implementação como processo estruturado, os fatores chaves para obter os resultados esperados de sua aplicação e as principais dificuldades no uso da ferramenta. Na seqüência, o capítulo irá abordar as definições do QFD por meio de seus principais mentores, os tipos de abordagem do método, seus desdobramentos e variantes; serão descritas, também, as fases do projeto QFD, com seus respectivos estágios e os princípios que garantem uma correta adaptação e utilização. Postos esses conceitos, entra-se na explanação do método propriamente dito, ou seja, o conjunto de matrizes, rotinas de planejamento e comunicação, consolidando as solicitações dos clientes até atingir os diversos níveis de agrupamento. O capítulo é finalizado com duas abordagens mais práticas. Será relatada brevemente a aplicação do QFD no Brasil listando exemplos de utilização da ferramenta no desenvolvimento de serviços e produtos, e, no último tópico, explorarse-á, como conclusiva do método, um levantamento sobre o uso do QFD, suas principais aplicações e perspectivas futuras de utilização. Capítulo 2 — Logística Este capítulo abordará de maneira global qual a importância da logística na empresa moderna, suas origens, evolução, os principais conceitos, aplicações e 8 transformações na forma de aplicação segregada para ser correlacionada entre as diversas áreas da cadeia de negócios. Será descrito, também, o surgimento do conceito de logística integrada, o envolvimento dos principais elos na cadeia de suprimentos, desde o cliente final até o fornecedor do fornecedor e como esses conceitos de forma expandida se transformarão desencadeando o processo denominado de Supply Chain Management. Capítulo 3 — Estoques Este capítulo se destacará por representar o cerne da discussão do trabalho, ou seja, a grande base conceitual para o entendimento dos estoques se estabelece aqui. Iniciar-se-á pela descrição das principais funções e finalidades dos estoques. A seguir, os estoques serão classificados nos preceitos básicos e sob a perspectiva de suas funções. Isso posto, serão identificados os principais indicadores das dimensões de estoques. Nos itens 4. e 5. deste capítulo, serão discutidos todos os custos envolvidos na administração dos estoques, como eles impactam na gestão dos negócios da empresa e quais são as formas de geri-los. Na discussão da gestão dos estoques, abordaremos os principais tipos de decisão que devemos tomar para o efetivo controle, ou seja, os “quantos” e “quandos” dessa atividade, métodos de colocação de pedidos em função do tipo de demanda, estoque de segurança, conceito de lote econômico de compra, MRP. A seguir, serão ilustradas algumas políticas e suas abordagens, as principais estratégias de gestão e como devemos medir a efetividade da gestão. Dentro desse aspecto, será apresentado o modelo mais divulgado para avaliação, gestão e decisão de controle do estoque, conhecido como classificação ABC. Será discutido, também, um conceito relevante para efeito do gerenciamento total da cadeia de suprimento, até como forma de vincular os conceitos descritos anteriormente de logística integrada a custos de estoque, chamado de efeito chicote ou efeito Forrester. 9 Para finalizar o capítulo e como forma de embasar as discussões dos tópicos a serem abordados adiante, será argumentado o por que reduzir os níveis de estoque, quais os principais riscos de manter altos níveis de estoque e quais os dilemas que os gestores devem levar em conta no momento de decidir por mantê-los ou não e em que níveis. Capítulo 4 — Evolução do Relacionamento Cliente-Fornecedor Neste capítulo, buscar-se-á mostrar os principais modelos de relacionamento entre clientes e fornecedores, os níveis de abordagens e algumas considerações sobre as mesmas. Capítulo 5 — Desejos dos Clientes e a Gestão dos Estoques Este capítulo descreverá os principais requisitos dos clientes, suas necessidades, expectativas e como podemos satisfazê-los. Em seguida, já agrupando conceitos abordados anteriormente, será descrito qual o impacto que a complexidade dos produtos e o aumento dos canais de distribuição, fruto das necessidades dos clientes sobre a cadeia de abastecimento. Esse processo vai desde a compreensão das necessidades dos clientes, a fase do ciclo de vida em que estão, o desenvolvimento de pacotes de serviços até o alinhamento de toda a cadeia de abastecimento à estratégia dos níveis de serviço a serem estabelecidos. No passo seguinte, serão apresentadas as fontes de mudança à tendência dos mercados, as novas exigências do cliente e os desafios para manufatura e marketing com o objetivo de atendê-lo. Serão discutidos aqui, também, quais são os impactos que essas tendências de exigência do cliente (níveis de serviço) têm nos estoques. O capítulo é finalizado abordando as principais estratégias de produção, e qual a posição que cada uma delas tem em termos de custo e foco no cliente. 10 Capítulo 6 — Análise e Discussão Neste capítulo, simular-se-á , por meio de um exemplo teórico fictício, o que acontece com os níveis dos estoques de segurança das empresas considerando um nível único de serviço ao cliente para todos os produtos/mercados alvos e níveis de serviços específicos para cada um dos segmentos nos quais a empresa atua, canal consumo e canal profissional. Para a estruturação dos desejos e necessidades dos clientes, utiliza-se a casa da qualidade do QFD (para isso, admitir-se-ão como previamente fornecidos os dados de pesquisa das necessidades junto ao mercado), apresentando todos os atributos e respectivos pesos, juntamente com a correlação existente entre os mesmos. Espera-se com isso, comprovar a quadro conceitual proposto. — Conclusão São apresentadas as conclusões que se reportam à análise do resultado da pesquisa, focalizando os pontos fortes, os pontos fracos e as recomendações para futuras pesquisas a serem realizadas. — Referências Bibliográficas Relação de todas as obras referenciadas na dissertação. 11 Capítulo 1 12 Capítulo 1 QFD — Desdobramento da Função Qualidade 1.1 Histórico Durante a década de 1960, a indústria japonesa teve um período de grande crescimento. Em razão disso, a indústria automobilística daquele país realizava constantes alterações de modelo e lançamento de novos veículos. Isso criou a necessidade de um método que garantisse a qualidade do produto desde a fase de projeto (AKAO, 1996). Entretanto, as empresas tinham grandes dificuldades para atingir esse objetivo. Os primeiros artigos e publicações apareceram na década de 70 (primeiramente sistematizado por matrizes nos estaleiros de Kobe, do grupo da Mitsubishi Heavy Industries, em 1972) com o Doutor Yogi Akao, cientista japonês estudioso do assunto e até a atualidade considerado um dos papas da metodologia (AKAO, 1987a e 1987b). Buscando uma solução para esse problema, Yoji Akao começou a realizar estudos que, com a união de sua pesquisa com as de Shigeru Mizuno, deram origem a uma nova metodologia creditada como orientadora do processo da qualidade chamada (Hin) Artigo, bem ou mercadoria (Shitsu) Qualidade, (Kino) Função, (Tenkai) Desenvolvimento, desdobramento, traduzida para o português como Desdobramento da Função Qualidade, ou, simplesmente, QFD. O QFD é um método de desenvolvimento de produtos, também utilizado para serviços, que pretende garantir a qualidade desde as fases iniciais do projeto. Além disso, o QFD ouve as exigências dos clientes e as traduz em características mensuráveis, criando produtos e serviços que atendam e/ou superem as expectativas desses clientes (OHFUJI et al.,1997). Em paralelo a essa evolução metodológica no Japão, a partir de 1986 (SULLIVAN, 1986), houve nos Estados Unidos uma difusão intensa de QFD, 13 principalmente de duas versões: ASI (ASI, 1989) e King (King, 1989). Essas duas versões tratam particularmente do Desdobramento da Qualidade — QD, uma das duas partes de QFD, apesar de serem também chamadas de QFD. Parece que o QFDr (QFD restrito), a outra parte do QFD, não foi aplicado porque já havia processos bem estabelecidos de desenvolvimento de produto nos Estados Unidos (BOOZ, 1968; COOPER, 1986). Um exemplo disso é o uso da Análise de Sistemas e métodos de Engenharia de Sistemas (CHECKLE, 1981) pela General Motors, substituindo o QFDr por esses processos bem conhecidos para desenvolvimento de projetos complexos de engenharia (ROSS, 1995). Recentemente, QFD Institute dos Estados Unidos tem feito esforços no sentido de complementar as versões ASI e King por meio da apresentação do QFD Amplo (Comprehensive QFD). É também importante mencionar o trabalho de Clausing, chamado de QFD Melhorado (Enhanced QFD), no qual o método de Robust Design é acrescido a QFD, e ambos são colocados dentro de uma estrutura de desenvolvimento denominado Total Quality Development — TQD (CLAUSING, 1994). Com relação à prática de QFD nos Estados Unidos, ela se encontra em quase todos os setores da indústria. Vale mencionar algumas aplicações especiais na indústria automobilística (ROSS, 1995), em serviços (MAZUR, 1999) e em software (ZULTNER, 1990). Na Europa, o QFD é também bastante conhecido. Diversos casos de aplicação têm sido relatados: por exemplo, desenvolvimento de software na Alemanha (HERZWURM, 1997; 1999); planejamento urbano e indústria da construção civil na Suíça (SWOBODA, 1999); e, desenvolvimento habitacional na Finlândia (LAURIKKA, 1996). Na Suécia, além das aplicações de QFD (BERGMAN, 1995), há uso articulado de técnicas estatísticas em conjunto com o método QFD (GUSTAFSSON, 1996). Na Itália, há também relatos de várias aplicações de QFD (ZUCCHELLI, 1995). De outras partes do mundo, podemos citar as aplicações inovadoras de QFD na Austrália, na área de planejamento estratégico e desenvolvimento de novo negócio ou melhoria de negócio existente, em conjunto com o uso do método de Hoshin Kanri (HUNT, 1999). No Brasil, há relatos de aplicações de QFD nas indústrias automobilística e de alimentos desde 1995 (CABRAL, 1999; CARVALHO, 1998; CHENG, 14 1995a; GUEDES, 1999; NOGUEIRA, 1999; ORMENESE, 1996; SANTIAGO, 2000; 1999; SARANTÓPOULOS, 1996). 2.2 Benefícios obtidos com a Utilização do QFD O QFD trata de planejamento e prevenção e não de solução de problemas. O QFD é um processo integrativo que busca alinhar as necessidades dos clientes, requerimentos dos desenhos de peças e produtos acabados, processo de planejamento, e as especificações de manufatura durante o desenvolvimento do produto. O QFD ajuda as empresas na identificação das exigências reais do cliente e traduz essas exigências em características de produto, especificações de engenharia e, finalmente, detalhes da produção. O produto pode, então, ser manufaturado para satisfazer ao cliente. O QFD pode também auxiliar identificando medidas de performance consistentes nos diferentes estágios do produto: processo de design —processo de manufatura — “customer chain” (LOCKAMY & KHURANA, 1995a: 73-84). O objetivo principal do QFD é superar três maiores problemas (KLIEWER et al., 1998): negligenciar a voz do cliente, perder informações de diferentes indivíduos e trabalhar funções em diferentes exigências. O QFD é uma metodologia extremamente útil para facilitar a comunicação, o planejamento e a tomada de decisão dentro dos times de desenvolvimento de produtos e serviços (CROW, 1996). O QFD fornece métodos específicos assegurando a qualidade durante cada estágio do processo do desenvolvimento de produto, começando com o projeto. Para assegurar a qualidade de novos produtos e de serviços, deve-se prestar atenção não somente às ‘qualidades negativas’ das percepções expressadas nas queixas dos clientes, mas também às idéias não declaradas ou ‘qualidades positivas’ latentes expressadas em demandas do consumidor (KLIEWER et al., 1998). Segundo HAUSER, CLAUSING (1988), o QFD é usado pela Toyota desde 1977, e os resultados, segundo a empresa, foram significativos. Entre janeiro de 1977 e abril 15 de 1984, a Toyota introduziu quatro novos veículos, tipo van, no mercado. Usando o ano de 1977 como base, a empresa reportou uma redução de 20% nos custos de início de produção em outubro de 1979; uma redução de 38% em novembro de 1982; e uma redução acumulativa de 61% até abril 1984. Durante esse período, o ciclo de desenvolvimento do produto foi reduzido em um terço, com melhoria correspondente em qualidade, devido à redução no número de mudanças na engenharia. Outras vantagens do QFD elencadas foram: (a) aumento da satisfação do cliente; (b) melhoria no desempenho do produto; (c) redução do número de chamados da garantia; (d) transmissão do conhecimento adquirido de geração para geração; (e) melhoria da documentação; e (f) melhoria da comunicação entre os departamentos. GRIFFIN (1992) ressalta, entretanto, que alguns dos benefícios tangíveis citados por empresas japonesas, como custos de desenvolvimento, só são visíveis quando o processo é usado repetidamente em uma família de produto. Contudo, o QFD proporciona vários benefícios intangíveis, tais como redução de barreiras interfuncionais e mudança da cultura corporativa. Portanto, a autora aconselha que a decisão de implementação dessa ferramenta deva levar em conta se os benefícios intangíveis serão fortes e visíveis o suficiente para garantir os investimentos até que os efeitos mensuráveis possam aparecer. A utilidade do QFD é muito grande, principalmente levando-se em conta que, mesmo após as grandes mudanças conquistadas pelas empresas nas últimas décadas em termos de eficácia e produtividade, hoje ainda se defrontam com mercados altamente competitivos em que os diferenciais primários já foram superados pela maioria dos concorrentes (custos/preços competitivos, tempo de entrega, qualidade do produto/serviço etc.). Os limites do diferencial competitivo devem estar cada vez mais focados na contínua busca da satisfação dos clientes agregando valor com serviços diferenciados, produtos customizados, inovação e outras ações que diferenciem a empresa à frente dos concorrentes. Para atingir esses novos requisitos competitivos, a empresa deve buscar ouvir o que seus clientes dizem, assimilando, sistematizando e transformando em produtos, processos ou serviços adequados aos requisitos desejados. 16 Entre as principais vantagens da utilização do QFD, encontradas na literatura, pode-se citar (SHINA, 1991; CHENG et al., 1995; OHFUJI et al., 1997; COSTA, 1999; NOGUEIRA et al., 1999): diminuição no número de modificações de projetos e do tempo de desenvolvimento, identificação dos gargalos de engenharia, construção de base de dados com a documentação gerada pelo QFD e fortalecimento da prática da engenharia simultânea. Outras vantagens e benefícios provenientes da implantação do QFD segundo MIGUEL (2001) são: redução de problemas no lançamento de novos produtos, prevenção de problemas a priori pela identificação das dificuldades de projeto e manufatura, quantificação dos requisitos dos clientes e maior satisfação deles, aumento da comunicação entre departamentos e áreas funcionais da organização, redução dos custos no início de produção de novos produtos. Isso fica claro por meio da Figura 1 seguinte: Figura 1 Tempo de introdução de um produto versus esforço gasto para introduzir Figura 1: Tempo de introdução de um produto versus esforço gasto para introduzir Fonte: Manual de QFD, p5 GUINTA, L.R.; PRAIZLER, N.C. (1993) Ainda, segundo GUIMARÃES (1996), podemos sumarizar os principais benefícios que se pode obter quando utilizamos com sucesso a metodologia QFD: obtenção de vantagem competitiva, melhoria da qualidade dos processos e dos produtos ou serviços, maior conhecimento e entendimento do mercado, redução de 17 custos de qualidade de falhas externas, redução dos GAPS de qualidade (serviços), redução de reclamações dos clientes. Usando o QFD, portanto, teremos os seguintes benefícios (OZGENER, 2003), conforme mostrado no Quadro 1: Quadro 1: Benefícios chave do QFD. Dimensão Benefícios chaves do QFD Satisfação dos clientes Aumenta a satisfação do cliente Melhora a compreensão das demandas do cliente Permite organizar e nivelar as exigências Custos Encurta o ciclo de desenvolvimento do produto Dinamiza o processo de interação das exigências Reduz o número de mudanças de engenharia Reduz o custo do projeto e da manufatura Desenho de processos e produtos . Promove uma melhor compreensão das interações do projeto Envolve a manufatura no processo do projeto Ajuda a otimizar o desenvolvimento do processo e do produto Fornece uma base de dados para os projetos futuros Aumenta a velocidade de introdução de novos projetos ao mercado Comunicação Enfatiza a "voz do consumidor" Promove o Teamwork Promove a ruptura de barreiras entre funções e departamentos Promove a compreensão das exigências multidisciplinares Fornece uma linguagem e base da dados comum Documentação Fornece avaliações detalhadas e sensibilidade contínua Melhora a documentação do projeto/processo de desenvolvimento Produz um detalhado e ativo registro da documentação Fonte: Ozgener, Sevki. Quality function deployment: a teamwork approach. 2003 Conforme HERRMAN, HUBER e BRAUNSTEIN (2000:93), existem focos diferentes relacionados com a satisfação dos clientes, por exemplo, o fato de que algumas pessoas de marketing estão concentradas no cliente externo, enquanto a manufatura e engenharia estão preocupadas em melhorar o processo interno. Deve-se, então, ampliar o foco para diminuir a distância entre a qualidade interna e as necessidades dos clientes externos para satisfazer os clientes. Ainda segundo os autores, os engenheiros têm incrementado o foco no cliente por meio da inserção da sua voz nos modelos de melhoria da qualidade e nos métodos, tornando-se evidente o 18 crescimento do uso do QFD. Podem-se observar ainda alguns benefícios na aplicação do QFD, pela Tabela 1 seguinte: Tabela 1: Benefício na aplicação do QFD Intangíveis Tangíveis Redução considerável no tempo de desenvolvimento Eliminação de mudanças tardias de engenharia Diminuição dos custos iniciais no projeto Aumento da confiabilidade do projeto Controle de fatores econômicos na fábrica Valor Agregado Aumento da satisfação do cliente Planejamento de garantia estável Aplicação genérica Conhecimento de engenharia armazenada e transferível Fortalecimento do processo de desenvolvimento de produto Reforça os objetivos definidos anteriormente com base no Marketing e nos negócios Enfoque em tecnologia de produto e processo Visualizador de características para priorização e locação de recursos Comunicação e trabalho de equipe são reforçados. Fonte: Eureka e Ryan (1993, p.54). Obter os benefícios desejados do processo de QFD depende da existência dos seguintes fatores de sucesso (WILLHITE, 1997; HALES, 1995): deixe claro que o QFD é uma prioridade em termos de gerenciamento; estabeleça prioridades claras para as atividades do QFD, especificamente, as necessidades de alocação de recursos das gerências, insista na execução da pesquisa de mercado e avaliação técnica de competitividade; promova treinamentos em QFD, preferivelmente “Just-in-time” para usar QFD; insista que as decisões estejam baseadas em exigências do cliente; compreenda os termos usados em QFD; insista na participação e comprometimento interfuncionais; tornem-nos líderes de QFD ao invés de gerentes; minimize a quantidade de tempo que os membros da equipe terão que gastar em reuniões da equipe; garanta que os membros da equipe aprendam algo novo em cada etapa do processo; 19 promova “feedbacks” constantes que ajudarão os membros da equipe a fazer progresso para a realização de seus objetivos; garanta que todos os clientes afetados pelo produto durante todo seu ciclo de vida tenham a oportunidade de contribuir no seu projeto. Outros benefícios podem ser obtidos com a implantação do QFD, conforme a Figura 2: Figura 2 Benefícios na implantação do QFD Fonte : Carnevalli, Sassi & Miguel, 2002. A literatura também relata as principais dificuldades no uso do QFD, a saber, Ekdahl & Gustafsson, 1997; Cristiano et al., 2000; Martins & Aspinwall, (2001): falta de suporte gerencial e de comprometimento dos membros da equipe do QFD; falta de recursos financeiros e de tempo para conduzir a consulta aos clientes; falta de experiência com o uso do método; longo tempo consumido com a aplicação; e dificuldades em trabalhar com matrizes muito grandes. 20 1.3 Definição e Princípios O conceito do QFD não é criar um produto que atinja as exigências básicas do cliente, mas sim aquelas que as excedam e incluir as exigências não declaradas, que freqüentemente são esquecidas e conduzem à falha. O processo de QFD é caro e difícil. Requer uma visão de longo prazo para atingir o “payback”. Sem o suporte da alta gerência, todas as tentativas de implementação do QFD podem falhar. O compromisso da alta gerência é a chave na implementação do QFD, principalmente por causa das implicações envolvidas com a organização, os orçamentos e o tempo de entrega do projeto (OZGENER, 2003). O conceito do QFD surgiu a partir das necessidades de garantir a qualidade no desenvolvimento do produto, ou seja, na fase de projeto, de maneira a garantir esse projeto na pré-produção, isto é, antes de o produto entrar em fabricação. A fim de que se possa ter garantia da qualidade no projeto, o QFD possibilita traduzir os requisitos e necessidades dos clientes (qualidades exigidas) em características da qualidade, ou melhor, em atributos e especificações do produto, buscando o desdobramento da qualidade do projeto para o produto acabado por meio do uso de matrizes. Essas matrizes contêm as informações e os dados necessários para que a qualidade seja obtida. Entretanto, as informações das matrizes devem ser colocadas em prática. Nesse sentido, o QFD também atua como uma forma de comunicar sistematicamente a informação relacionada com a qualidade e de explicitar ordenadamente o respectivo trabalho (função) para colocar em prática essas informações. Dessa forma, observa-se que o QFD contempla esses dois aspectos fundamentais: o desdobramento da qualidade e o desdobramento da função. O desdobramento da qualidade é representado por um conjunto de matrizes com a tradução das qualidades exigidas pelos clientes em características da qualidade do produto, processo e produção. O desdobramento da função, por sua vez, significa o desdobramento do trabalho, ou seja, a seqüência, o registro e a documentação de todas as funções operacionais e dos trabalhos necessários para a obtenção da qualidade 21 desdobrada nas matrizes elaboradas. Na realidade, o que é denominado comumente de QFD é somente o Desdobramento da Qualidade, enquanto que o desdobramento da função é denominado de “QFD no sentido restrito” (tradução feita de narrowly defined QFD) [CHENG, AKAO]. A combinação dessas duas partes forma então o QFD Amplo, ilustrado na Figura 3 (MIGUEL et al., 2003). Figura 3 Estrutura do QFD desenvolvida por Akao. . Fonte: Akao, Y. QFD – Integrating Customer Requirements into Product Design, 1990. O QFD, no sentido restrito, pode ser obtido pelo desdobramento sistemático das funções de trabalho (planejamento, projeto, produção, serviços, etc.) e operações que contribuem para a qualidade nas etapas sucessivas para obtenção do produto, traduzindo-se no trabalho necessário para obter a qualidade. A matriz mais comum na utilização do QFD, e de onde se inicia todo o processo de desdobramento, é aquela que relaciona as qualidades exigidas (requisitos dos clientes) com as características da qualidade (especificações) do produto. Essa matriz é ilustrada na Figura 4 (MIGUEL et al., 2003). 22 Figura 4 Qualidades exigidas versus características da qualidade (adaptado de Miguel) Fonte: Miguel, P. A. C. - “Qualidade: Enfoques e Ferramentas”, 2001. O QFD (Quality Function Deployment — Desdobramento da Função Qualidade) é um método para desenvolvimento de uma ampla variedade de produtos e serviços, buscando identificar os desejos e as necessidades dos clientes para criar produtos que atendam às exigências dos clientes. O QFD tem como objetivo gerenciar o processo de desenvolvimento de modo a manter o foco sempre voltado para o atendimento das necessidades dos clientes. Esse gerenciamento é realizado pela identificação e o desdobramento das variáveis que compõem o desenvolvimento do produto, por meio de tabelas, matrizes e procedimentos de extração, relação e conversão (CHENG et al., 1995). Abaixo seguem algumas outras definições de QFD por alguns de seus principais mentores: ...é um método para o desenvolvimento de uma qualidade de projeto dirigida para a satisfação do consumidor e, então, traduzir as demandas do consumidor em metas de projeto e pontos prioritários para a garantia da qualidade a serem utilizados no estágio de produção. (AKAO,1990) ...é um método de planejamento e desenvolvimento estruturado de produtos, que possibilita a um grupo de desenvolvimento definir claramente os desejos e 23 necessidades dos clientes, e então avaliar sistematicamente cada produto ou serviço proposto e seu impacto frente a essas necessidades. (COHEN, 1995) QFD desdobra a voz do cliente - as necessidades do cliente definidas por uma consulta detalhada, o "brainstorming”, mecanismos de “feedback” e pesquisa de mercado – durante todo o processo de desenvolvimento do produto. Isto significa traduzir as necessidades do cliente em requisitos técnicos apropriados a cada estágio do desenvolvimento do produto e da produção. (EUREKA; RYAN,1992) QFD é um processo de planejamento e verificação para a conexão de cada passo da garantia da qualidade, como: planejamento do produto, projeto do produto, preparação para a produção, produção, vendas e serviços. (KING,1987) QFD é um processo visual e conectivo que ajuda os times a se focalizarem nas necessidades do consumidor por todo o desenvolvimento... QFD é um processo sistemático que ajuda a identificar os desejos do consumidor e desdobrá-los por todas funções e atividades da corporação. (CLAUSING, 994) É importante ressaltar que o QFD trouxe uma inversão no processo de desenvolvimento de novos produtos. Tradicionalmente, é a engenharia, com base em suas próprias aptidões, que direciona ("empurra") as atividades de desenvolvimento. No QFD, o processo é desencadeado pelas necessidades reais do consumidor, orientando ("puxando") tais atividades. A lógica de funcionamento é aproximar produtores e consumidores, como antigamente o artesão conhecia os desejos de sua clientela. (CARVALHO, 1997) Em suma, o QFD é uma metodologia de planejamento estratégico, que traz como conseqüência importante, a melhoria da Qualidade, no seu sentido mais amplo, isto é, satisfazer os desejos e necessidades dos clientes: vender o que o cliente deseja comprar e tornar o produto ou serviço disponível no momento em que o mercado o exige e antes que a concorrência o faça (BARNARD, W. & WALLACE, T., 1994). A implementação de um projeto QFD é normalmente coordenada por um time de trabalho interfuncional — Marketing, Engenharia, Manufatura, Distribuição, 24 Desenvolvimento, etc. — (afetados pelo projeto em questão) que seguirão a sua disciplina de conhecimento e o seu "background" no entendimento, na interpretação e na tradução dos requerimentos dos clientes. (DAETZ, 1995) Segundo GUIMARÃES (1996), um projeto QFD pode ser dividido em três fases, com seus respectivos estágios: A. Busca de dados dos clientes: Preparação: Neste estágio, define-se o escopo do projeto e o mercado objetivo, compõe-se o time de trabalho, delineia-se o cronograma inicial e toda a linha de ação do time. Descoberta: A busca de dados do mercado desejado inicia-se neste estágio, cujo objetivo é ter em mãos a lista de requerimentos dos clientes, utilizando os métodos apropriados de pesquisa, tais como grupos focais, entrevistas individuais e outros. Organização: Este estágio engloba a edição dos requerimentos em classes ou subgrupos, em número razoável, que permita o trabalho de estruturação de dados com a máxima clareza nas matrizes posteriores. Medidas de percepção: Quando de posse dos requerimentos editados, inicia-se a pesquisa de percepção dos clientes em que introduzimos os concorrentes que queremos conhecer, sua performance e posição relativa de mercado do ponto de vista dos clientes. B. Casa da qualidade: A primeira matriz de dados do projeto. Nela colocaremos os dados colhidos do mercado na fase anterior e em que se inicia o trabalho de diagramação e tradução dos desejos e necessidades dos clientes em características mensuráveis. 25 Conforme Prates (1998), temos as seguintes etapas na montagem da matriz da qualidade (casa): Etapa 1: Requisitos do Consumidor: — coleta de informações do mercado-alvo na linguagem do consumidor; — execução de análise dos concorrentes do quanto o produto da companhia e o produto dos concorrentes atendem as necessidades dos consumidores; as necessidades do consumidor podem ser levantadas por meio de pesquisas de mercado. Essas pesquisas de mercado devem obter graus de importância para cada requisito. Etapa 2: Requisitos Técnicos: — itens controláveis garantem que os requisitos dos consumidores sejam satisfeitos. Esses são gerados a partir dos requisitos dos consumidores. Etapa 3: Matriz de Correlações entre os Requisitos do Consumidor e os Requisitos Técnicos. Uso de simbologia típica na correlação: forte correlação = 9 moderada correlação = 3 ∆ fraca correlação = 1 Etapa 4: Matriz de Correlações entre os Requisitos Técnicos (“telhado da casa da qualidade”). Ela indica a relação que cada requisito técnico tem com o outro. Nesse caso, usa-se a seguinte notação: fortemente positiva pouco positiva Δ pouco negativa ▲ fortemente negativa 26 A Figura 5 mostra um modelo esquemático da “Casa da Qualidade”: Figura 5 Modelo da Casa da Qualidade Fonte: PRATES, G.A. Ecodesign utilizando QFD, Métodos de Taguchi e DFE, 1998. Os resultados de uma casa da qualidade como entrada da casa seguinte são: casa 1 (projeto conceitual): converte necessidades do consumidor em requisitos do projeto; casas 2 e 3 (configuração do projeto): converte requisitos do projeto em especificações do produto, e estas em controle de qualidade na fabricação e montagem. 27 C. Análise: A cada finalização de uma matriz, há a chance de incorporação às decisões do projeto, de todo o aprendizado adquirido do mercado. Pelas análises sistemáticas dos resultados mostrados nas matrizes, decisões estratégicas podem ser tomadas para aumentar o market share, tais como a priorização de recursos de desenvolvimento, melhoria de certas características chave do produto ou serviço, redução de custos em características pouco importantes para o mercado, necessidade de mais pesquisas de opinião, descoberta de novas funções requeridas no produto ou serviço na frente da concorrência e muitas outras dessa natureza. É extenso o número de publicações sobre o QFD. Na maioria, são estudos de caso. O número de versões existentes também é considerável. Entretanto, as mais difundidas são as advogadas por AKAO (1990), CLAUSING; PUGH (1991) e pelas organizações americanas GOAL/QPC e o ASI — American Supplier Institute, (KING,1989) e (ASI, 1993), respectivamente. Princípios Conforme descrito por ABREU (1997), embora o método do QFD seja, antes de tudo, uma metodologia flexível desenvolvida na prática e orientada para resultados, devendo ser adaptada às necessidades de cada aplicação, como qualquer método, necessita de princípios que garantam sua correta adaptação e utilização. Segundo o autor, todo método, para sua consistência e seu amadurecimento precisa ter princípios para nortear sua aplicação. Caso contrário, existe uma tendência de que, durante sua evolução, haja ocorrências de variações significativas — ou até digressões — do conceito original, que terminariam desfigurando o método. Em função de sua importância, vamos apresentar os três princípios propostos por OHFUJI 1 que, visando melhor entendimento e maior clareza, * 1. 0HFUJI foi a única referência explícita, i.e., verbalizada que encontramos sobre princípios básicos para o QFD. Isso denota que o método necessita ainda de maiores trabalhos teóricos para garantir sua consistência. OHFUJI, T. In: CHENG. L.C. et al. QFD: Planejamento... p. 51-52. 28 decidiu expandi-los para cinco e realizar algumas modificações — que serão explicadas à medida que forem sendo introduzidas. 1. Subdivisão e Unificação — processo de análise e síntese. É fundamental conhecer e definir tanto o objeto do projeto e seus requisitos de qualidade como, detalhadamente, a forma de execução. Após o detalhamento de ambos, é necessário buscar a síntese por meio da união dos itens e sua classificação em grupos. Esse princípio é verdadeiro em todo o processo de QFD, em cada matriz ou tabela confeccionada. 2. Pluralidade — garante a natureza do trabalho interfuncional do QFD. É a consideração de visões distintas em cada fase, matriz e tabela que formam o QFD, seja na definição da qualidade do produto — no desdobramento da qualidade em todos os processos da organização — seja na própria forma de execução do projeto, pela participação multifuncional das equipes garantindo o aspecto pluralista em todo o processo. 3. Visibilidade — é a explicitação e apresentação visual das informações (por meio de escrita, de desenhos e de tabelas). Somente o compromisso total com esse princípio pode garantir que o primeiro e o segundo possam ser atingidos. Ele é crucial para que percepções e experiências dos membros participantes — muitas vezes nunca explicitadas ou não-visíveis — possam ser avaliadas e discutidas pelos outros membros. Esse princípio, em conjunto com o da pluralidade, garante uma solução inteligente. 4. Totalização — é necessário garantir a visão do todo, em seus mais diversos ângulos, sem perder de vista as partes mais importantes. Isso significa três pontos: (i) que toda a atividade do QFD deve ser totalizada; (ii) que essa totalização deve ser feita para cada ponto de vista, e os requisitos do cliente devem ser integrados pela visão do mercado, pela área de marketing e, também, pela visão das áreas 29 técnicas da empresa, por meio de grupos multifuncionais; (iii) que as totalizações de cada ponto de vista devem ser reunidas em uma única totalização. Deve-se atentar sempre para um dos princípios básicos da teoria sistêmica: a soma das partes ótimas não constitui necessariamente um todo ótimo. 5. Priorização — é necessário priorizar as partes mais importantes, para que se possam fazer os desdobramentos necessários ao QFD, além do que, todos os projetos, no mundo real, têm restrições de tempo e recursos. O princípio da priorização define a regra para os desdobramentos: uma vez identificadas as partes mais importantes, passamos a ampliá-las e desdobrá-las, de forma a conhecer profundamente seus detalhes e assim sucessivamente. 4. O Método QFD Levando em consideração o objetivo central deste trabalho, não iremos nos aprofundar explicando o método QFD em detalhes, mas sim procurar mostrar as implicações dos resultados obtidos com a utilização do método do QFD na administração da atividade logística, mais especificamente no gerenciamento dos estoques. Numa perspectiva ocidental, o QFD é um conjunto de matrizes e rotinas de planejamento e comunicação, que tem como objetivo organizar e focalizar, dentro das empresas, as habilidades para desenvolver produtos e serviços que não apenas eliminem as causas das reclamações dos clientes, mas também forneçam uma resposta ativa aos seus desejos, necessidades e expectativas, trabalhando, inclusive, para a descoberta de desejos latentes, ainda não explícitos por comportamentos ou informações. Portanto, o processo de trazer os requisitos e a voz do cliente para dentro da empresa, para a matriz de pré-planejamento e para a própria matriz da qualidade é a atividade mais importante para o QFD. Com a participação de seus colaboradores e de 30 ferramentas utilizadas pelo marketing em pesquisas de mercado, tanto qualitativas como quantitativas, é possível identificar, medir, acompanhar e comparar diferentes percepções (necessidades, solicitações e desejos) para cada produto e serviço, no mercado. Com a obtenção dessas informações, geralmente pelas técnicas qualitativas, as percepções ou os requisitos dos clientes devem ser agrupados com outras solicitações mais abrangentes, atingindo assim diversos níveis de agrupamento. O QFD é um método que objetiva satisfazer os clientes pela tradução das, muitas vezes vagas e subjetivas, necessidades, em especificações técnicas mensuráveis e objetivas em todas as áreas da empresa. Com isso, transformamos os conhecimentos dispersos nos vários integrantes da rede de relacionamentos da organização (clientes, parceiros, colaboradores externos, equipe de vendas, assistência técnica, desenvolvimento etc), em conhecimentos para a empresa. Baseando-se na metodologia da ASI, o QFD se estrutura para garantir que os desejos relevantes dos clientes sejam desdobrados em características técnicas mensuráveis do produto ou serviço (fase 1 — Planejamento), as quais, por sua vez, são priorizadas e desdobradas nas especificações de componentes e partes (fase 2 — Partes), na adequação dos processos de produção (fase 3 — Processos) e, por fim, estas são priorizadas e desdobradas em padrões de procedimento no nível dos processos operacionais (fase 4 — Operações), conforme podemos observar na figura 6 — Seqüência de Desdobramento do QFD (ASI). 31 Figura 6 Seqüência de Desdobramento do QFD (ASI) Fonte: baseado e adaptado. In: GUlNTA, L. PRAIZLER. N.C. The QFD Book: The Team Approach to Solving Problems and Satisfying Customers Through Quality Function Deployment. New York. NY: AMACOM. 1993. p. 31. A representação da priorização por meio de um funil, conforme a Figura 6, é motivada pelo objetivo do método do QFD em planejar e desenvolver a qualidade, em todas as suas possibilidades, objetivando a satisfação dos clientes pela tradução de suas necessidades mais importantes em características mensuráveis. A Figura 7 — Objetivo-Fim do QFD — mostra esquematicamente a proposta última do QFD: garantir que a voz do cliente seja corretamente interpretada pela organização, fazendo com que todos os profissionais envolvidos executem suas atividades, sabendo como fazer de acordo com o desejo do cliente e, assim, tornando disponível um produto de qualidade que satisfaça esse cliente. 32 Figura 7 Objetivo-Fim do QFD Objetivo-Fim do QFD Voz do Cliente Satisfação do Cliente Fonte: GUINT A, L. PRAIZLER. N.C. The QFD Book: The Team Approach to Solving Problems and Satisfying Customers Through Quality Function Deployment. New York, NY: AMACOM. 1993. p. 31. O método QFD pode ser descrito em uma seqüência lógica e temporal de oito fases distintas no seu desenvolvimento, que seguem, parcialmente, o modelo proposto por MERLI (1990): 1. planejamento, estruturação e definição dos objetivos do projeto; 2. percepção completa e correta das necessidades e solicitações do cliente, aqui entendido principalmente como o usuário final: mas devem-se considerar também todos que manipulam o produto, tanto interna como externamente à empresa; 3. montagem da matriz de pré-planejamento — determinação, pelo próprio cliente, da importância de cada solicitação feita na etapa I, avaliação de cada solicitação frente aos principais concorrentes e inclusão de outros itens que se fizerem necessários ao projeto; 33 4. montagem da matriz de planejamento — tradução clara e completa das solicitações dos clientes (voz do cliente) em características técnicas do produto, levantamento dos valores de reais referentes a cada uma, bem como para os produtos produzidos pelos concorrentes diretos (benchmarking). Devem-se incluir aqui todas as questões técnicas pertinentes (por exemplo, grau de dificuldade que a empresa tem para melhorar uma dada característica técnica); 5. planejamento, projeto, desenvolvimento de novas tecnologias de produto e determinação de especificações para cada pormenor individual de cada característica crítica do produto; 6. melhoria e desenvolvimento de novas tecnologias de processo para obter o produto planejado, ou seja, a tradução das especificações de cada detalhe do produto em especificações do processo de produção; 7. desdobramento das especificações de cada detalhe do processo nas condições operacionais específicas das atividades críticas que devem ser monitoradas na produção; 8. acompanhamento da produção inicial e definição das características do desempenho do produto e das instruções para seu uso. No tocante à voz do cliente, devemos ainda ressaltar a importância de manter as próprias palavras citadas pelos clientes, para que a interpretação seja um ponto a ser discutido e aclarado pelos componentes da equipe do projeto de QFD. Caso ocorram dúvidas quanto às informações colhidas do cliente, devem-se realizar novas pesquisas qualitativas, objetivando sanar todas as dúvidas. Esse claro entendimento é fundamental para evitar que o projeto do QFD seja orientado por uma interpretação errônea logo no início, levando as equipes de desenvolvimento a uma direção diferente da requerida pelo cliente. 34 Para interpretar melhor a voz do cliente, é necessário ter em mente os conceitos de qualidade positiva (ou ativa) e qualidade negativa (ou passiva). Para entender de forma clara as nuances de qualidade que o QFD pode atingir, utilizaremos como base o modelo proposto por KANO, conhecido como diagrama de Kano. Figura 8 Modelo de Kano Fonte: adaptada de Berger, C. et al, 1993. KANO et al. propõem, como podemos observar na Figura 8, três tipos de qualidade que fazem diferença significativa na percepção do cliente frente a um produto: Qualidade Atrativa — trata-se daquela característica de produto que, quando plenamente incorporada, conduz a uma satisfação plena ou mesmo ao encanto do cliente para com o produto, porém, quando incorporada de forma parcial, constitui um fator de resignação por parte do cliente ou, ainda, de indiferença devido a um possível desconhecimento da possibilidade de existência dessa característica. O cliente expressa suas 35 expectativas para elementos de qualidade positiva esporadicamente, de forma vaga. As características que fazem parte desse grupo representam oportunidades significantes, breakthroughs, para satisfação do cliente e ganhos no mercado. Qualidade Esperada — trata-se daquela característica de produto que, quando incorporada, conduz à satisfação, enquanto sua ausência traz a insatisfação, para este grupo de elementos de qualidade não há meio termo. São aqueles itens que o cliente normalmente expressa com algum detalhe, um exemplo típico são itens especificados por um cliente industrial. Qualidade Mandatória — trata-se daquela característica de produto que, quando plenamente incorporada, constitui uma presença óbvia, não implicando aumento da satisfação, porém, quando incorporada de forma parcial, constitui um fator de grande insatisfação. Normalmente são itens que não são expressos pelos clientes, por exemplo, a existência de pneu de estepe no carro. KANO et al. citam ainda mais dois tipos de qualidade que, apesar de não serem tão importantes como os três primeiros, devemos ter presentes quando estivermos analisando o QFD. São eles: Qualidade indiferente — trata-se daquela característica de produto que, incorporada ou não, resulta numa indiferença do usuário, sendo um bom item para simplificação do produto. Normalmente significa que o produto está sobreprojetado. Qualidade reversa — trata-se daquela característica de produto que, quando incorporada, conduz à insatisfação ou quando incorporada de forma incompleta traz satisfação ao cliente. 36 O trabalho de KANO et al. prossegue apresentando uma interessante metodologia para identificar e quantificar os requisitos dos clientes dentro de cada tipo de qualidade, utilizando pesquisas quantitativas. Por sua inovação, quando comparado com as formas tradicionais de "ouvir" o mercado e por sua aderência ao método do QFD, deveria ser leitura obrigatória nos cursos de pesquisa mercadológica. Também GRIFFIN e HAUSER apresentam um estudo orientador de como proceder ao processo de ouvir o cliente, por meio de pesquisas quantitativas e qualitativas específicas para o QFD. Uma vez identificada claramente a voz do cliente, é necessário levantar a importância relativa de cada item e efetuar o benchmarking competitivo, ou seja, solicitar ao cliente que compare, para cada requisito da voz do cliente, os produtos dos concorrentes. O que importa é saber qual a percepção dos clientes para cada item e não uma avaliação objetiva. Esses dados são normalmente obtidos por pesquisas quantitativas utilizando um questionário estruturado elaborado a partir dos itens da voz do cliente. Conforme citado anteriormente, o benchmarking competitivo também deve ser efetuado por meio de uma pesquisa quantitativa. A pesquisa deve fornecer a posição relativa de cada item da voz do cliente frente aos concorrentes. Essas comparações também fornecem oportunidades competitivas por meio de investimentos nos requisitos em que os principais concorrentes, segundo a percepção dos clientes, possuem um desempenho fraco. 37 5. QFD no Brasil Apesar de o QFD já ser divulgado há cerca de dez anos no País, sua utilização ainda é relativamente recente, havendo, inclusive, escassez de dados sobre sua aplicação de forma mais abrangente (CARNEVALLI, SASSI & MIGUEL, 2003). A Figura 9 mostra a evolução do uso do QFD no Brasil nos últimos anos, indicando o número de artigos publicados nos anais de diversos eventos. Foram analisados os artigos publicados em eventos no Brasil de 1995 a 2001. No total, foram analisados 14 anais de eventos no país. (SASSI & MIGUEL, 2002) Figura 9 Evolução do QFD no Brasil de 1995 a 2001. Fonte: SASSI, A. C.; MIGUEL, P. A. C. Análise das publicações sobre o QFD no desenvolvimento de serviços e produtos, 2002. Nos últimos anos, a metodologia vem sendo bastante divulgada, o que pode ser comprovado pelo número de publicações de artigos nos eventos verificados. A seguir, serão listados casos aplicados no setor de serviços e no desenvolvimento de produtos com QFD. 38 1. Setor de Serviços 2 * Uma empresa do ramo hoteleiro escolheu uma área piloto dentro do empreendimento para utilização do QFD integrada com o TQC (Total Quality Control). Para utilização do QFD, escolheu-se o restaurante por lidar com problemas característicos de várias áreas. Segundo SILVEIRA & SELEG (1995), na primeira parte do plano, realizou-se um diagnóstico detalhado. Na segunda etapa, formou-se uma estrutura de suporte à implementação do TQC e QFD, dentro da organização, realizou-se a educação e treinamento para homogeneizar os conceitos de Qualidade e desenvolver o papel de cada um. Na terceira etapa, iniciaram-se as atividades de gerenciamento da rotina definida a função de cada célula. Foram confeccionadas as matrizes de QFD para identificação do perfil dos clientes que freqüentam o restaurante, processos produtivos/funções, dentre outras. A utilização da metodologia QFD em paralelo com a implementação de um programa de qualidade trouxe resultados positivos tais como: rapidez no gerenciamento de processos, flexibilidade para acompanhar as mudanças do mercado, além de manter os dados de todo o processo garantindo o domínio tecnológico. FERREIRA & RIBEIRO (1995) apresentam a realização do projeto na Biblioteca da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, optando pelo uso do QFD para elaboração e implantação desse projeto. Realizou-se uma pesquisa de mercado, utilizando um questionário aberto, junto aos usuários da biblioteca. Baseado nas respostas obtidas nesse questionário aberto, organizou-se um questionário fechado, com perguntas em relação à infra-estrutura, às inovações, ao acervo, ao horário de funcionamento. O QFD direcionou e facilitou a definição das etapas a serem cumpridas de forma a alcançar patamares de qualidade compatíveis com os anseios dos usuários da biblioteca, por meio do levantamento da voz do cliente. Sendo assim, criou-se um ambiente favorável no início das atividades de análise da situação atual da biblioteca e subseqüente elaboração de um projeto de modernização. 2. SASSI, A.C.; MIGUEL, P. A. C. Análise de publicações sobre o QFD no desenvolvimento de serviços e produtos, XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002, p.2. 39 O método QFD auxiliou a atividade do projeto de páginas de Internet do trabalho de SANTIAGO et al. (2000). Por meio da pesquisa, constatou-se que o método utilizado pode atuar como elemento que ajuda a equilibrar o uso de recursos visuais capazes de atrair a atenção do usuário e, ao mesmo tempo, tornar as páginas de Internet mais fáceis de entender e utilizar. O QFD propiciou à equipe do projeto interagir melhor com os usuários/clientes, uma vez que a pesquisa em dados secundários e as entrevistas possibilitaram definir melhor a estratégia da pesquisa. Já a pesquisa junto aos usuários, via questionário, permitiu à equipe priorizar as qualidades exigidas. BACELAR et al. (2001) apresentam a aplicação do método do QFD na avaliação do processo de desenvolvimento de uma empresa prestadora de serviços auxiliares à construção civil possuindo vários equipamentos. Após a realização da coleta de informações (banco de dados do sistema de oportunidades comerciais e questionário fechado via e-mail), foram apontados pelos clientes os principais requisitos: atendimento das especificações e prazo de atendimento. Segundo os autores, apesar de a comunicação com o cliente em relação à empresa prestadora de serviços ser um requisito importante para o atendimento, a empresa utiliza pessoal técnico qualificado que é um dos seus pontos fortes para identificar as necessidades do cliente. O trabalho de DUARTE et al. (2001) objetiva o conjunto de laboratórios de prestação de serviços e consultoria denominado UNImetro, com sistema de qualidade (ISO/IEC Guia 25) já implementado e consolidado, destacando as áreas de ensaios e metrologia dimensional e elétrica — Laboratório de Metrologia e ensaios da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. A aplicação do QFD iniciou-se com a identificação da demanda da qualidade dos clientes de uma pesquisa de mercado (após a aplicação do questionário e, em seguida, concluído, possibilitando a elaboração da Matriz da Qualidade). O QFD mostrou-se adequado, direcionando o uso de recursos humanos, financeiros e de infra-estrutura para atender e manter demandas consideradas atrativas, garantindo a maior fatia no mercado, melhorando, assim, a prestação de serviços com o apoio da metodologia. 40 O trabalho de JESUS et al. (2001) foi desenvolvido em uma empresa que opera no setor de assistência técnica no mercado de automação bancária, sendo o estudo de caso na Supervisão Regional Sul, com intuito de avaliar a sua qualidade na prestação de serviços. Utilizou-se a Matriz da Qualidade, Matriz dos Serviços, Matriz dos Recursos. A metodologia do QFD forneceu subsídios para a identificação do perfil desejado de uma empresa prestadora de serviços de assistência técnica no mercado de automação a partir do ponto de vista de seus clientes. Portanto, com a aplicação do QFD, verificou-se uma mudança de comportamento da empresa, passando de reativa para pró-ativa, baseando sua decisão em dados e fatos e também com a ampliação da satisfação de clientes. A empresa Transportes Rápido Pajuçara Ltda. é uma empresa que atua no transporte rodoviário de carga no segmento de encomendas. Segundo BASTIDAS et al. (2001), para adquirir dados confiáveis sobre os clientes, realizou-se uma pesquisa de mercado por meio de um questionário, identificando, assim, os itens que não satisfazem as necessidades, fortalecendo o posicionamento competitivo. O QFD permitiu a identificação dos itens de maior importância como prazo de entrega, facilitando o entendimento dos aspectos envolvidos na prestação do serviço de transporte de carga. O QFD demonstrou-se útil para determinar as discrepâncias entre o serviço esperado e o serviço oferecido. Para caracterizar e mensurar a qualidade do serviço ambulatorial de Fisioterapia de um Hospital Militar, propondo melhorias para o aprimoramento da qualidade do serviço, utilizaram-se os itens de especificações técnicas e ações administrativas para melhorar a qualidade (denominados de indicadores de desempenho do QFD). Os critérios de qualidade selecionados foram: relacionamento do fisioterapeuta, capacidade de resolução, relacionamento com a equipe geral, equipamentos disponíveis, competência, horário, espaço físico, presença do supervisor e avaliação diária. Segundo CORTEZ NETO et al. (2001), o serviço de Fisioterapia do hospital, sob visão do cliente externo, mostrou-se satisfatório. Sob o ponto dos clientes internos, merece algumas melhorias no ambiente físico, disponibilidade de recursos tecnológicos, aproveitamento geral teórico e geral do tempo. 41 Um dos clubes tradicionais de Porto Alegre foi escolhido para o estudo de RIBEIRO et al. (2001). A freqüência do clube vinha diminuindo devido às novas alternativas de esporte e lazer. Para mudar essa situação, utilizou-se a metodologia do QFD iniciando com uma pesquisa de mercado, sendo complementada pela observação do comportamento do sócio durante sua permanência no Clube e visitando clubes concorrentes. Utilizaram-se matrizes da qualidade, serviços e recursos, gerando itens para melhoria e, em seguida, desdobramento do plano de ação. O QFD mostrou-se adequado para realizações de melhoria como retenção dos sócios atuais. Um estudo de caso foi realizado em um Shopping Center por CECIN et al. (2001). Após a realização da pesquisa de mercado para identificar as necessidades dos lojistas, utilizando o QFD como ferramenta de organização das informações, foi também utilizado o marketing de relacionamento para verificar as melhorias. Segundo os autores, identificaram-se algumas melhorias a serem introduzidas tais como: o número de seguranças por acesso às dependências do shopping, número de seguranças internos por andar do shopping, promoção de treinamentos aos funcionários da administração, controle de entrada e saída de pessoas fora do horário ao público e a contratação de funcionários para segurança, entre outros. A análise dos resultados revelou uma provável deficiência dos modelos anteriores de QFD desenvolvidos em geral para o setor de serviço. Uma delas foi a não inclusão dos princípios do marketing de relacionamento, pois ações visando estreitar o relacionamento entre cliente e fornecedor não eram incorporadas no plano de ação. Sendo assim, o QFD corrigiu essa deficiência. 42 2. Desenvolvimento de Produtos 3 * A FIAT Automóveis S.A. utilizou a metodologia do QFD, para garantir a qualidade de sua nova linha de motores FIRE que a empresa instalou no Brasil (NOGUEIRA et al.,1999). Segundo os autores, o QFD foi eficaz para transmitir os dados do projeto até o setor de produção, para identificar os processos e componentes críticos que devem ser inspecionados, para mostrar como a qualidade dos componentes do motor interfere na qualidade final do produto e para servir como meio de documentação do conhecimento gerado durante o projeto de linha. A Volkswagem do Brasil vem usando o QFD para desenvolver ônibus e caminhões. Segundo FRAGOSO (1999), o QFD faz parte do ciclo de desenvolvimento do produto da empresa como o primeiro e mais importante passo, pois é por meio do método que a empresa entra em contato com a voz do cliente (qualidade exigida) e transforma essa voz em características técnicas do produto. Apesar disso, o QFD usado na Volkswagem fica restrito apenas à sua primeira matriz (casa da qualidade), sendo uma pequena etapa do ciclo de desenvolvimento de produto da empresa. A empresa de alimentos Sadia recentemente necessitou comprar novos equipamentos para fabricar uma família de produtos. Para realizar esse processo de transferência de tecnologia, de modo que a empresa comprasse os equipamentos certos, ela utilizou a metodologia do QFD como guia desse processo. Com o uso do QFD, foi possível definir, a partir dos requisitos dos clientes, que características do produto, da matéria-prima e dos processos são necessárias para levar em conta essas exigências. Segundo SARANTOPOULOS et al. (1999), o QFD funciona lembrando sempre às empresas que quem manda é o consumidor final e a tecnologia deve atendêlo. O trabalho de OLIVEIRA et al. (2000) apresenta uma proposta de integração do método QFD e de técnicas estatísticas de planejamento e análise de experimentos, visando à melhoria dos resultados obtidos no desenvolvimento de produtos, em especial na etapa do projeto do produto e do processo. A proposta foi aplicada em uma 3. SASSI, A.C.; MIGUEL, P. A. C., op. cit., p. 6. 43 empresa do setor alimentício que enfrentava dificuldades no desenvolvimento de um determinado produto, principalmente para obtenção de informações. Alguns benefícios observados pelos autores com a implantação do QFD foram: maior confiança da equipe nos resultados obtidos e nas decisões tomadas, alcance das metas de prazo e de qualidade do projeto, maior interação entre as áreas de Pesquisa & Desenvolvimento e Marketing, maior extração de informações das pesquisas de mercado, dentre outros. VIEIRA & STANGE (1996) apontam uma variação do QFD proposto por Macabe com uma matriz a mais sobre assistência técnica e com o uso Método de Taguchi para complementar o QFD, sendo esse método, segundo os autores, adaptado para o uso nas montadoras do Brasil. O estudo de caso foi realizado na empresa Agrale S/A, no sistema de freios do caminhão Agrale 4000D, buscando a redução do número de reclamações e garantindo a qualidade do produto desde o projeto até a utilização final pelo cliente. O QFD mostrou-se útil para identificar os itens importantes, focando o campo de aplicação das ferramentas de melhoria como o Método de Taguchi e o CEP (Controle Estatístico do Processo). O uso do Método de Taguchi apresentou a vantagem de dar resultados a curto prazo, motivando a empresa a continuar o projeto antes mesmo do aparecimento dos primeiros resultados do QFD. A participação da Assistência Técnica contribuiu tanto para coletar a qualidade exigida do cliente como para conscientização dos funcionários deste setor sobre o produto e exigências dos clientes. PAIVA & CHENG (2001) fizeram um estudo de caso em uma empresa de massas alimentícias, devido às dificuldades na área administrativa e financeira, no processo de tomada de decisões, no controle e planejamento de suas atividades administrativas e de produção. Realizou-se pesquisa de mercado (degustação do produto), verificando alguns benefícios com a implantação do QFD tais como: organização do trabalho, infra-estrutura necessária ao processo, disponibilização e difusão das informações, conhecimento de novas técnicas, gestão da qualidade, limitações financeiras e técnicas, dentre outros. Segundo os autores, verificou-se, em empresas de pequeno porte, para que o método fosse eficaz, a necessidade de buscar 44 mecanismos de suporte às atividades de marketing para avaliação de possíveis mercados e detecção das necessidades dos consumidores. O trabalho de MIGUEL et al. (2001) relata a implantação do QFD em empresas que produzem filmes flexíveis de polipropileno, muito utilizados em embalagens de alimentos e produtos de consumo, rótulos, etiquetas, dentre outras aplicações. O produto escolhido como piloto foi um filme existente que necessitava de melhorias. Foi definida a equipe de treinamento para implantação do QFD. Com a aplicação, foram encontradas algumas dificuldades no desenvolvimento do produto, tais como: atraso no cronograma, dificuldades de conciliar agenda de reuniões com clientes, escolha do produto. Segundo os autores, a implantação do QFD vem sendo satisfatória, apesar das dificuldades encontradas, sendo os benefícios com sua implantação: desenvolvimento das habilidades de planejamento, melhoria da comunicação entre as pessoas e áreas funcionais, disseminação e nivelamento do conhecimento. 6. Levantamento sobre o Uso do QFD: perspectivas futuras GANTWERKER & MANOSKI (2003b) expõem a importância estratégica contida no processo de desenvolvimento de produtos, principalmente nos estágios iniciais destes. Segundo os autores, a direção estratégica da organização e a avaliação de viabilidade dos projetos são as bases fundamentais que trazem foco e clareza aos objetivos e a falha nesse ponto “cria uma fundação fraca para o projeto, levando normalmente a interações múltiplas e significativo retrabalho”. Além disso, as atividades desenvolvidas nas fases iniciais, ainda que extremamente relevantes, são menos intensas do que no final, podendo a maioria ser executada “no papel, na biblioteca ou no computador” (GANTWERKER & MANOSKI, 2003b). SHULMAN (2003) cita que “novos produtos são o motor número um do crescimento da renda”, pois podem expandir a base de consumidores, atraindo novos clientes, ajudam a reter os atuais e “continuamente atender suas necessidades de 45 mudança”, aumentar a participação de mercado e a participação no negócio de cada cliente, proteger a companhia de avanços da competição, motivar empregados e partes envolvidas ao lidar com condições humanas que buscam a novidade. WITZENBURG (2003) ressalta que, tradicionalmente, os processos para desenvolvimento de produtos são seqüenciais, mas que o uso de algumas técnicas e ferramentas tem permitido reduzir o tempo total de desenvolvimento, como no caso do GVDP — Global Vehicle Development Process da GM, que “reduziu, em quatro anos, o tempo entre a aprovação do conceito e o inıcio da produção de 48 meses para 18-24 meses, estando em busca de chegar aos 12 meses”. O autor cita que, além de “fazer pelo menos metade do trabalho inicial com a matemática”, com a utilização de metodologias de testes de subconjuntos e subsistemas separadamente, reduziu-se ao máximo os chamados testes finais ou testes de integração. O uso desse conceito propicia antecipar fortemente as respostas do produto final, permitindo assim a adequação em menor tempo das necessidades de alteração ou validação de tecnologia, capacitando também o aumento da confiabilidade do produto e do processo de desenvolvimento em si. SOLBERG (1988) mostra que a habilidade de aplicar o aprendizado via tentativa e erro para ajustar a performance de sistemas de manufatura torna-se inútil em um ambiente em que mudanças ocorrem mais rapidamente que as lições aprendidas. Existe a necessidade de metodologia preditiva formal para desenvolvimento de produtos, baseada no entendimento de causa e efeito, expressa em diversas formas: equações, modelos matemáticos, simulações, algoritmos, aproximações e outras técnicas dessa natureza. Já MEYBODI (2003) discute o uso dos princípios do Just-in-Time de manufatura na melhoria dos processos de desenvolvimento de produtos: gerar o que é preciso, na quantidade de que se necessita e no momento exato, com eliminação de resíduos e respeito pelas pessoas. Encontrando similaridade nos fatores chave entre o processo usual de produção e o processo seqüencial de desenvolvimento de produtos, o mesmo ocorre entre o Just-in-Time e a chamada Engenharia Simultânea. Um estudo realizado em 51 organizações mostrou que as companhias que adotam esses métodos, 46 desenvolvem produtos com qualidade 61% melhor, 52% menos tempo de desenvolvimento, 38% menos custo de desenvolvimento, 33% menos custo de manufatura e introduzem novos produtos 71% mais freqüentemente que companhias tradicionais (MEYBODI, 2003). O autor defende ainda a utilização de uma organização hierarquicamente achatada, composta por elementos multifuncionais e com poder de decisão para o desenvolvimento de produtos, de forma a “quebrar as barreiras, substituídas pela comunicação e cooperação legítima”. Enquanto MEYBODI (2003) cita as dimensões de qualidade, tempo, competência e custos como sendo os fatores de sucesso no processo de desenvolvimento de produtos, diretamente relacionados aos lucros, OXBERRY (2002) e VERSPRILLE (2001) abordam principalmente a simulação e a prototipagem rápida como alavancadores do processo de desenvolvimento de produtos. Como as pesquisas convencionais de mercado somente conseguem “arranhar a superfície”, faz-se necessária a quebra desse paradigma. É preciso passar aos próprios usuários as tarefas relacionadas às suas necessidades, após equipá-los com ferramentas adequadas para inovação. Isso é utilizado hoje maciçamente no desenvolvimento, por exemplo, de componentes e circuitos eletrônicos, já com forte crescimento na área de alimentos. Dessa forma, PINE (1994) defende a chamada “customização maciça” para, pelo uso de novas tecnologias, customizar os produtos para os clientes, oferecendo, assim, maior variedade destes, a preços acessíveis e sentido de individualidade. KRISHNAN & BHATTACHARYA (2002), por sua vez, desenvolveram um estudo abordando o desenvolvimento de produtos na situação de incerteza tecnológica, ou seja, a decisão entre utilizar uma tecnologia robusta e comprovada ou optar pela seleção de uma tecnologia ainda incerta, porém com possibilidade de alavancagem competitiva do produto. Por meio do uso de fórmulas estocásticas, os autores desenvolveram modelos que permitem avaliar, com base nas variáveis margens esperadas pelo uso da nova tecnologia, impacto pelo atraso do desenvolvimento, demanda esperada, custo e tempo total esperado, estabelecer o ponto ótimo para decisão de tecnologia, permitindo minimizar os riscos e maximizar o valor esperado no processo de desenvolvimento do produto. Isso possibilita, inclusive, a avaliação de 47 redundância no desenvolvimento (tecnologia comprovada e nova tecnologia), pesando o acréscimo de custo em comparação com o respectivo aumento de valor esperado, via também redução de riscos. MACCORMACK, VERGANTI & IANSITI (2001) trouxeram uma nova abordagem ao tema, ao desafiar o paradigma de que projetos efetivos são caracterizados por uma estrutura que minimiza as mudanças, com base na estabilidade do conceito e tecnologia. Segundo os autores, “a incerteza e o ambiente dinâmico representam desafios fundamentais para os modelos aceitos de desenvolvimento de novos produtos”. Os mesmos propõem que maiores investimentos no desenvolvimento da arquitetura, junto ao constante feed-back durante as diversas fases de desenvolvimento (com possíveis alterações advindas destes) e possibilidade constante de flexibilidade no produto, resultam em melhores projetos e produtos desenvolvidos. O conceito básico por trás do estudo em questão indica que tais práticas são realmente vantajosas em ambientes altamente mutáveis, desde que se utilizem conceitos de intercambialidade tecnológica em plataformas e arquiteturas robustas, visto que “diversos excelentes projetos (julgados pela qualidade do produto final) sofreram fortes alterações de projeto nas fases finais de desenvolvimento, através do uso de um modelo flexível em um ambiente que apresenta altos níveis de incerteza” (MACCORMACK, VERGANTI & IANSITI, 2001). 48 Capítulo 2 49 Capítulo 2 Logística 2.1 Histórico e conceitos A logística tem suas origens nas organizações militares. Semanticamente, a palavra tem suas raízes na França - proveniente do verbo "loger" (alojar). Segundo SOUZA (2002), "a logística originou-se no século XVIII, no reinado de Luiz XIV, onde existia o posto de Marechal — General de Lógis — responsável pelo suprimento e pelo transporte do material bélico nas batalhas". O sistema logístico foi desenvolvido com o intuito de abastecer, transportar e alojar tropas — propiciando que os recursos certos estivessem no local certo e na hora certa. Esse sistema operacional permitia que as campanhas militares fossem realizadas e contribuía para a vitória das tropas nos combates. MENDES (2000:15) afirma que muitos conceitos logísticos utilizados atualmente são provenientes da logística militar da Segunda Guerra Mundial. GALLO (1998) cita que o primeiro general a utilizar esse termo foi o general Von Claussen de Frederico da Prússia, e foi desenvolvido mais adiante pela Inteligência Americana, juntamente com os professores de Harvard, para a Segunda Guerra Mundial. Logo depois, em meados de 1950, a logística surgiu como matéria na Universidade de Harvard, nas cadeiras de Engenharia e Administração de Empresas. Segundo FLEURY (2001), o conceito de logística despontou no começo da década de 80, impulsionado principalmente pela revolução da tecnologia de informação e pelas exigências crescentes de desempenho em serviços de distribuição. O'CONNOR (2001), também identifica que o nascimento da logística deve-se à utilização das ferramentas MRP I e MRP II, pois surgiu a necessidade do gerenciamento de materiais com uma forte interação entre a distribuição, compras, 50 produção e controle de estoques. GRAEML (2000:93) afirma que, no futuro, o foco deixará de ser a cadeia de suprimentos e passará a se concentrar em logística em tempo real, estando as empresas interessadas em soluções informáticas capazes de integrar transações e otimizar a utilização dos recursos. De acordo com POIRIER (1997:212), um artigo da revista Harvard Business Review identifica a logística como apta a: "se tornar o próximo elemento dominante da estratégia, como um meio inventivo de criar valores para os clientes, uma fonte imediata de economia, uma importante disciplina sobre o marketing, e uma extensão importante da flexibilidade de produção". NOVAES (2003) fala que, durante muito tempo nas empresas, tal como no meio militar, as atividades relacionadas à logística eram tidas como um serviço meramente de apoio e que não agregavam valor ao produto. O sistema logístico era visto como um gerador de custos e sem nenhuma influência no planejamento estratégico organizacional. De acordo com o CLM — Council of Logistics Management, podemos conceituar a Logística como sendo o processo de planejar, implementar e controlar, de maneira eficiente, o fluxo de armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor. Segundo LAMBERT (apud SUCUPIRA et al., 2003), as atividades logísticas precisam estar integradas em suas diversas fases, iniciando-se no momento da aquisição, passando pela movimentação e finalizando no seu armazenamento. NASCIMENTO (2001) fala que a educação formal em logística nasceu da necessidade de administrar as diferenças espaciais entre produção e consumo. O economista relata que "em 1901 foi publicado o primeiro texto sobre custos de distribuição de produtos agrícolas, pois, nos Estados Unidos, as áreas de produção se tornaram mais distantes dos grandes mercados de consumo". O economista diz, ainda, que "em 1960, a Michigan State University desenvolveu e iniciou os primeiros cursos formais para treinamento de logística práticos e acadêmicos". A partir daí, houve uma 51 união entre acadêmicos e militares para utilizarem os conceitos da logística militar nas atividades do cotidiano. Já no meio empresarial, MARTINS & ALT (2003: 251) relatam que: "No Brasil, a logística apareceu nos anos 1970, por meio de um de seus aspectos: a distribuição física, tanto interna quanto externa [...]". Ao perceberem que, em um país de dimensões continentais como o Brasil, as empresas deveriam ter um gerenciamento logístico eficaz, os empresários atentaram definitivamente para a logística como um elemento que pode gerar vantagem em relação à concorrência. Os mesmos autores MARTINS & ALT (2003: 251) expõem que, até poucos anos atrás, o termo logística continuava associado a transportes, depósitos regionais e atividades ligadas a vendas. [...] Hoje, as empresas brasileiras já se deram conta do imenso potencial implícito nas atividades integradas de um sistema logístico [...]; dizem ainda que "a logística é responsável pelo planejamento, operação e controle de todo fluxo de mercadorias e informação, desde a fonte fornecedora até o consumidor [...]". A Logística empresarial estuda como a administração pode prover melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores, pelo planejamento, organização e controles efetivos para as atividades de movimentação e armazenagem, que visam facilitar o fluxo de produtos (BALLOU,1993). Estas atividades, ou parte delas, são, freqüentemente, designadas de outras maneiras: distribuição, distribuição física, administração de materiais. Às vezes, estes termos são usados para definir uma posição ou responsabilidade na organização. Entretanto, para distingui-los, será possível com as seguintes definições: 1. Distribuição – Refere-se à combinação de atividades e instituições ligadas à propaganda, venda e transferência física de produtos ou serviços. Diz respeito, portanto, a assuntos mais amplos do que apenas a Logística; 2. Logística – Como já foi mencionado, refere-se à arte de administrar o fluxo de materiais e produtos, da fonte ao usuário. O sistema logístico inclui o fluxo total de materiais, desde a aquisição de matéria-prima até a entrega dos 52 produtos acabados aos usuários finais, apesar de, tradicionalmente, as empresas isoladas controlarem, diretamente, somente uma parte do sistema total de distribuição física de seu produto; 3. Distribuição física – Refere-se à parte de um sistema logístico que diz respeito à movimentação externa dos produtos, do vendedor ao cliente ou consumidor; 4. Suprimento físico – Refere-se à parte do sistema logístico no tocante à movimentação interna de materiais ou produtos, das fontes ao comprador; 5. Planejamento e controle de produção – Diz respeito ao fluxo de materiais, desde o recebimento da matéria-prima, passando pelas etapas de fabricação e processamento, até o estoque de produtos acabados. BALLOU (1993) considera a Logística como assunto vital. É um fato econômico que tanto os recursos quanto os seus consumidores estão espalhados numa ampla área geográfica. Além disso, os consumidores não residem, se é que alguma vez o fizeram, próximos de onde os bens ou produtos estão localizados. Este é o problema enfrentado pela Logística: diminuir o hiato entre a produção e a demanda, de modo que os consumidores tenham bens e serviços, quando e onde quiserem, e na condição física que desejarem. A distribuição física é uma das funções importantes dos canais de distribuição tradicionais. “Uma das definições mais comuns de canal de distribuição é a estrutura das unidades de organização dentro da empresa e de representantes e revendedores, atacadistas e varejistas, fora da empresa, através da qual um bem, produto ou serviço é colocado no mercado.” (FREY, 1965). . 53 2.2 Novos papéis da Logística Novas tecnologias e necessidades impostas pelo mercado criaram novos papéis para a Logística, inclusive de estratégia. Por exemplo, hoje já se sabe que as estratégias logísticas influenciam no projeto do produto, nas parcerias, nas alianças e na seleção de fornecedores, e em outros processos vitais de negócios. Com isso, o conceito de Logística se amplia mais e mais e passa a ser, como tudo agora, global (GONÇALVES, 2000). Segundo SEVERO (2004), atualmente, o papel da logística no negócio aumentou tanto em escopo quanto em importância estratégica. A integração dos fluxos de materiais, produção e distribuição revolucionam não somente a forma de gerenciar as atividades logísticas das empresas, como também de gerenciar a organização como um todo É senso comum considerar a Logística como o centro de coordenação e de integração de todas as atividades da Cadeia de Suprimentos. Logo, vê -se a Logística como capaz de criar valor ao cliente. Estas novas funções da Logística levarão à necessidade de criar uma infra-estrutura para integrar tanto as funções Logísticas quanto de manufatura, de modo a criar um único sistema estratégico voltado para atender às necessidades dos clientes. Mas, não importa o quanto se faça de investimentos para atender a esta nova realidade (GONÇALVES, 2000), um componente vital de, digamos, todo esse processo, é a parceria. Afinal, como gerenciar os fluxos de materiais entre os diversos componentes da cadeia Logística se não houver uma perfeita integração, uma mútua confiança, uma reciprocidade entre as empresas que compõem estes fluxos de materiais até a entrega do produto ao cliente? Como manter uma linha de produção em constante atividade se, por algum motivo, um dos fornecedores não cumprir a sua parte? Enfrentando as ameaças dos clientes em trocar de fornecedor, a direção das empresas deve incorporar a Logística. Ou seja, ao longo da cadeia Logística, as relações entre as empresas – inclusive com o emprego de recursos de comunicação e tecnologias de informação – 54 devem ser garantidas de tal forma que os resultados e, portanto, os serviços prestados pela Logística obedeçam exatamente às necessidades de serviços expressas pelos clientes. Como um fator de sucesso, sem levar em consideração o tamanho e as metas de uma empresa, a Logística está assumindo, cada vez mais, uma posição de destaque no pensamento e na ação estratégica (MOURA, 2000). Transferir as atividades Logísticas para empresas prestadoras de serviços torna-se uma vantagem competitiva crucial. É uma clara tendência que consolidou-se. O potencial que a terceirização possui torna-se aparente quando o compartilhamento deste contingente de custos é comparado com os custos globais. Segundo uma recente pesquisa realizada pela Universidade Técnica de Berlim, os custos logísticos da indústria são da ordem de 11%, enquanto que, no comércio, chegam a mais de 22% (MOURA, 2000). Um serviço total é exigido na Logística, pois aqueles que só oferecem o transporte estão ficando fora do mercado. Diversas atividades, variando desde as funções de estocagem, gerenciamento do estoque, distribuição externa etc., estão fazendo parte das empresas de Logística. Todas as questões que foram mencionadas aqui demonstram que o mercado de serviços logísticos está a ponto de entrar em um novo futuro. Isto significa focalizar as necessidades individuais dos clientes com uma variedade de serviços logísticos diferenciados, por meio dos quais as entregas são feitas dentro de 24 horas ou, até mesmo, em determinados intervalos de horários. Nas palavras de MOURA (2000), o termo terceirização é mais do que somente uma frase vazia. É um processo altamente complexo de maestria, uma confirmação da competência de cada empresa de serviços logísticos. Nesta década, a Logística efetuou mudanças de grande alcance e melhorias na indústria e na economia. Sua área de influência e seu volume cresceram continuamente e tornaram-se um fator de eficiência. A otimização de múltiplos setores das empresas conduz a uma variedade crescente de tarefas para a Logística. Ela é responsável pelo fluxo geral dos materiais e 55 das informações dentro e fora da empresa, entre fornecedores e clientes (MOURA, 2000). Por mais que evolua em sua concepção, a Logística requer o que, aliás, se faz necessário hoje em todas as atividades entre empresas: parceria, confiança mútua e participação. Tudo para que se consiga garantir a sobrevivência. Afinal, os clientes e os competidores estão direcionando essas mudanças. Os clientes estão exigindo tamanhos menores de lotes, lead times mais curtos e melhores níveis de serviço. Eles esperam por isto. Se a sua empresa, juntamente com os seus parceiros, não puder fazer isto, certamente seus concorrentes o farão. Com o passar do tempo, em função da grande preocupação das empresas com a redução de estoques e com a busca da satisfação plena do cliente, a logística empresarial evoluiu muito. NOVAES (2003) fala que a logística passou a agregar valor de lugar, de tempo, de qualidade e de informação à cadeia produtiva. Além disso, a logística moderna procura eliminar do processo tudo que não tenha valor para o cliente, ou seja, tudo que acarrete somente custos e perda de tempo. MATTAR (2003) cita a importância do funcionamento integrado de toda a logística interna e externa à empresa que envolve o processo de produção e comercialização do(s) novo(s) produto(s) [ ], pois exige um alto grau de integração em toda a cadeia de negócios da empresa — fornecedores, a empresa (Marketing, vendas, produção, Pesquisa & Desenvolvimento, legal, finanças, compras, etc.), canal de distribuição e consumidores — para que a empresa possa assegurar vantagem competitiva sustentável no mercado. O ambiente extremamente competitivo do momento atual exige que as organizações e suas cadeias logísticas trabalhem com altíssimo grau de eficiência, utilizando, da melhor forma possível, os recursos disponíveis. Paradigmas precisam ser desafiados a todo o momento, sob o risco de sucumbir de forma irremediável à pressão da competição e do mercado. Não é mais possível aceitar passivamente as limitações de produtividade. Dessa forma, a criatividade deve ser exercitada, mas o controle e a disciplina de processo não podem ser deixados de lado. Paradoxalmente, é preciso quebrar barreiras, desafiar o que está estabelecido, pensar “fora da caixa”, 56 eliminar atividades redundantes e, ao mesmo tempo, buscar a excelência num processo lógico e ordenado que permita evitar a perda de tempo e de confiabilidade, minimizando as chances de erro e mantendo (ou ampliando) a geração de valor pela organização e/ou pela cadeia a que esta integra (ROCHA, 2004). NOVAES (2003) fala que a logística moderna procura coligar todos os elementos do processo — prazos, integração de setores da empresa e formação de parcerias com fornecedores e clientes — para satisfazer às necessidades e preferências dos consumidores finais. Segundo WOOD e ZUFFO (1998), a economia brasileira tem sofrido mudanças importantes. Os esforços das empresas intensificam-se cada vez mais na busca por processos mais eficientes e pela adoção de sistemas de gestão mais modernos. As estratégias empresariais para enfrentar o mercado globalizado resumiam-se, até o momento, em reduções de custo com materiais, tecnologias e mão-de-obra. Estes recursos já estão praticamente esgotados, sendo seu acesso comum à maioria dos fabricantes e prestadores de serviço. Portanto, não permitem criar mais diferenciais de inovação nos produtos. Nesse contexto, a administração logística ganha uma nova dimensão, e a ordem é atuar nos seus fluxos, em suas estratégias, na busca de parcerias, em seus sistemas informativos, de tal forma que se obtenham reduções de prazos dentro da cadeia, redução de custos, melhoria na qualidade, permitindo uma redução no tempo de atendimento ao cliente. A logística deixa de ter um enfoque operacional para ter um caráter estratégico, agregando valor e transformando-o num melhor produto ou serviço prestado. DORNIER (2000) destaca, ainda, que a logística deve cooperar com o projeto e introdução de novos produtos, a retirada de produtos do mercado, o lançamento de campanhas promocionais, a definição de políticas de pósvenda, a definição de níveis de desempenho em serviços e outros. A insuficiente discussão do tema Logística nas empresas fez com que a grande maioria delas lhe dispensasse tratamento e enfoque puramente funcional e segmentado. A execução de atividades relativas à movimentação, armazenagem, seleção de fornecedores, compras, produção é realizada nas empresas de forma 57 separada e funcional. Esse enfoque fracionado, incutido nas empresas, traz como conseqüências (CHING,2006) : 2.3 falta de foco no cliente; níveis de serviço abaixo do desejado; custos de logística elevados; capital empregado em estoques; ciclos longos de produção e pouca flexibilidade. Logística Integrada O conceito de logística integrada está no entendimento que, a logística deve ser vista como uma ferramenta gerencial capaz de agregar valor por meio de serviços prestados. Para melhor entender este conceito, Fleury (2000), destaca dois exemplos: em uma empresa multinacional (Walt-Mart), e outro em uma empresa nacional (Atacadista Martins), reconhecidas pela eficácia de suas operações logísticas, tendo a logística como instrumento fundamental na definição de suas estratégias competitivas. Bowersox e Closs (2001), identificam como logística integrada a competência que vincula a empresa a seus clientes e fornecedores. As informações fluem pela empresa na forma de atividades de vendas e de pedidos, e são filtrados em planos específicos de compras e de produção. Não é suficiente garantir o desempenho interno de fluxo dos materiais e informações para ser totalmente competitiva e eficaz, a empresa deve expandir de forma integrada incorporando clientes e fornecedores. Essa extensão é denominada de gerenciamento da cadeia logística. Para que possa ser gerenciada de forma integrada, a logística deve ser tratada como um sistema, ou seja, um conjunto de componentes interligados trabalhando de forma coordenada para o atendimento das metas e atingir um único objetivo comum. Esta abordagem de integração deverá ser expandida pela empresa aos seus clientes e fornecedores, para alcançar as metas de desempenho. Se em um primeiro plano o relacionamento interno é fundamental, a integração com os clientes e 58 fornecedores será imprescindível, para que isto ocorra é necessário uma estrutura organizacional dos processos que a integrem na direção ao desempenho estratégico de suas atividades logísticas em direção à competitividade. Destacam-se dois modelos de estrutura nas organizações: a primeira, reúne as atividades em um único setor com o objetivo de agregar competências, e o segundo, em que as atividades logísticas são interdepartamentais, isto é, as atividades logísticas são distribuídas em vários departamentos. Algumas empresas adotam um sistema híbrido de acordo com as suas necessidades e cultura. Wood (1998), destaca duas atividades fundamentais para determinar o perfil da logística integrada: primeiro, a identificação do ambiente competitivo (identificar e estabelecer comparações e direcionar ações de melhores clientes e fornecedores); e segundo, a determinação dos custos e valores da cadeia (determinar os custos e valores de cada atividade e de orientação das ações de otimização). A cadeia logística busca, portanto, o equilíbrio entre as áreas de processos e de atividades, de modo que os objetivos essenciais da função logística sejam equilibrar demanda e oferta, na busca das metas estratégicas da empresa e da otimização dos seus sistemas. O planejamento logístico representa o sumário das estratégias (Figura 1), com os objetivos delineados, programas, indicadores e medidas-chave de desempenho. A visão do processo deve ser orientada para o cliente, dirigida pela estratégia e baseada em metas de resultados. Alguns exemplos de metas incluem: corte de inventários pela metade, redução dos ciclos de tempo, eliminação completa de erros de pedido e faturas e redução do custo total em porcentagem. 59 Figura 1 Desenvolvimento de estratégias e o planejamento Fonte: Copacino (1997:30). A Figura 2 mostra a integração entre os diversos participantes dos canais de distribuição por meio de uma administração compartilhada dos principais processos de negócio, interligando, assim, todos os participantes, desde o subfornecedor até o consumidor. Figura 2 Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Fonte: Sucupira et al. (2003). 60 Os professores John L. KENT. Jr. e Daniel J. FLINT (apud FIGUEIREDO, 2006) estudaram a evolução do pensamento de logística em cinco etapas principais. 1. Do campo ao mercado: início na virada do Século XX, enfocada basicamente no transporte para escoamento da produção agrícola. 2. Funções segmentadas: de 1940 até o início da década de 60, pensamento logístico voltado para a movimentação e garantia de abastecimento das tropas nas guerras, identificando os principais aspectos da eficiência no fluxo de materiais, em especial as questões de armazenamento e transportes, tratadas separadamente no contexto da distribuição de bens. 3. Funções integradas: da década de 60 até os primeiros anos da década de 70, trata-se do começo de uma visão integrada nas questões logísticas. O foco deixa de recair somente na distribuição física para englobar um espectro mais amplo de funções. Nesse período, presencia-se o aparecimento de um gerenciamento consolidado das atividades de transportes de suprimentos e distribuição, armazenagem, controle de estoques e manuseio de materiais. 4. Foco no cliente: início dos anos 70 até meados da década de 80, ênfase à aplicação de métodos quantitativos às questões logísticas. Seus principais focos são a produtividade e custos de estoques. Nesse período, identificase o interesse pelo ensino e pesquisa da Logística nas escolas de administração. 5. Logística como elemento diferenciador: surge o conceito de SCM, identificado como a última fronteira empresarial em que se podem explorar novas vantagens competitivas. Destaque das considerações logísticas no mais alto nível de planejamento estratégico das corporações. Conjuga os processos logísticos, que tratam do fluxo de materiais e informações dentro e fora das empresas. 61 Figura 3 Evolução do pensamento logístico Fonte: FIGUEIREDO, 2006. Segundo WOOD (1998), as atividades da logística podem ser decompostas em três grandes grupos: — Atividades estratégicas: relacionam-se às decisões e à gestão estratégica da própria empresa. A função logística deve participar de decisões sobre serviços, produtos, mercados, alianças, investimentos, alocação de recursos, etc. — Atividades táticas: referem-se ao desdobramento das metas estratégicas e ao planejamento do sistema logístico; envolvem decisões sobre fornecedores, sistemas de controle de produção, rede de distribuição, subcontratação de serviços, etc. 62 — Atividades operacionais: estão relacionadas à gestão do dia-a-dia da rede logística, envolvendo a manutenção, a melhoria do sistema e a solução de problemas. Segundo FINE (1999), a verdadeira capacidade essencial da empresa — o núcleo básico — concentra-se na habilidade de planejar e gerenciar a cadeia de fornecimento, de modo a conceder a vantagem máxima, ainda que temporária, num mercado em que as forças competitivas transformam-se à velocidade da luz. A visualização da empresa de forma fragmentada, elemento por elemento, proporciona apenas uma percepção limitada e geralmente distorcida da empresa como um todo. Também é possível estudar o coração ou o fígado, na esperança de determinar as características do proprietário. A observação da empresa no contexto da sua cadeia de fornecimento e dos seus detentores de interesses oferece uma visão muito mais completa, uma imagem holística das atividades, uma cadeia inconsútil de capacidades e de know-how, de si própria e das empresas aliadas. Como o mundo circundante, essas capacidades e relacionamentos recíprocos encontram-se em constante mutação e evolução. Por conseguinte, a empresa deve monitorar e gerenciar todo o conjunto. Sobretudo num mundo de alta velocidade evolutiva, as empresas precisam concentrar o pensamento estratégico na totalidade da cadeia de fornecimento, e não apenas nas capacidades isoladas. As capacidades isoladas estão sujeitas a perder o valor da noite para o dia, sob a ação catalisadora de tecnologias novas ou em rápida evolução ou das novas táticas dos concorrentes. 2.4 Supply Chain Management Segundo FIGUEIREDO e ARKADER (1998), o conceito de Supply Chain Management surgiu como uma evolução natural do conceito de Logística Integrada. Enquanto a Logística Integrada representa uma integração interna de atividades, o Supply Chain Management representa sua integração externa, porque estende a coordenação dos fluxos de materiais e informações aos fornecedores e ao cliente final. 63 Os mesmos autores afirmam que a gestão da cadeia de suprimentos, além da redução de custos, pode proporcionar outras formas de obtenção do aumento da produtividade, como: (a) a redução de estoques, a racionalização de transportes e a eliminação de desperdícios; (b) agregando-se valor aos produtos mediante prazos confiáveis, atendimento no caso de emergências, facilidade de colocação de pedidos, serviço pósvenda, dentre outros. O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, ou Supply Chain Management (SCM), é a integração dos diversos processos de negócios e organizações, desde o usuário final até os fornecedores originais, proporcionando produtos, serviços e informações que agregam valor para o cliente (YOSHISAKI, 2000). Segundo ALBERTIN (2000), o gerenciamento da Cadeia de Suprimentos é o gerenciamento da cadeia produtiva desde o fornecimento da matéria-prima até a rede de distribuição dos produtos, visando a otimizar os métodos e etapas de produção, compras e suprimentos, inventário, administração, previsões, armazenagem, transporte e entrega dos produtos. Baseia-se na parceria de empresas de diversos setores de cada uma das etapas do Supply Chain, como fornecedores, indústria, armazéns, varejistas, distribuidores, empresas de Logística etc. Atualmente, existe uma crescente conscientização que a excelência do produto não garante vantagem competitiva e lucratividade. Visando ao perfeito equilíbrio, as empresas estão começando a usar a rede de Cadeia de Suprimentos para reduzir custos e complementar seus produtos e serviços com serviços básicos e de adição de valor. Contudo, a Cadeia de Suprimentos tem que ser gerenciada. Essencialmente, o SCM é a integração dos processos, baseada numa entrega mais adequada de serviços básicos e customizados (ALBERTIN, 2000). O processo tem início com o pedido do cliente, depois vem a produção, o armazenamento e a distribuição dos produtos e suprimentos para o cliente. Este tipo de processo proporciona o compartilhamento de previsões de vendas, a diminuição de custos, agiliza as entregas e otimiza a produtividade. Tudo visando a satisfação do cliente. 64 Supply Chain Management (SCM) é uma filosofia integrada para gerenciar o fluxo total de um canal de distribuição, desde o fornecedor até o cliente final. O SCM parte do cliente externo e gerencia todos os processos que são necessários para gerar valor ao cliente de uma forma horizontal. SCM é a integração dos processos do negócio desde o usuário final até os fornecedores originais que proporcionam os produtos, serviços e informações que agregam valor para o cliente (LAMBERT et al, 1998). Portanto, o SCM é uma filosofia que procura unificar habilidades e recursos de funções organizacionais, tanto dentro de uma empresa quanto fora dela. O ponto principal é desenvolver relacionamentos e sincronizar o fluxo de produtos, serviços e informações. 65 Capítulo 3 66 Capítulo 3 Estoques CUNHA (2001:106) afirma que estoques são certas quantidades de itens mantidos em disponibilidade constante e renovados permanentemente para produzir lucros e/ou serviços. Entende-se, portanto, que o estoque é o ativo da empresa que se encontra na eminência de ser transformado em lucro. Qualquer quantidade, em qualquer lugar das mais diversas empresas, disponível para trazer rentabilidade para a organização é estoque. Para SLACK (1996:381), o estoque deve ser entendido como uma acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação. A transformação poderá ocorrer em uma empresa de manufatura, com estoques de materiais, ou num escritório contábil, com estoque de informações, por exemplo. Estocar, para CAVANHA FILHO (2001:41), significa prevenir-se de flutuações de abastecimento, por qualquer razão que seja, de forma a proteger um elo mais caro na cadeia produtiva. Para produtos acabados, finaliza o autor, estocar simboliza a garantia de produtos à venda nas prateleiras, geração de receita e a manutenção de clientes. Os estoques são criados, segundo TUBINO (2000:106), para várias funções. Uma delas é a garantia da independência das etapas produtivas, permitindo que qualquer problema em uma das etapas não seja transferido para as demais. Outra função é a de permitir uma produção constante, garantindo a estocagem do produto principalmente em períodos sazonais. 67 3.1 Funções e Finalidades dos Estoques Para MARTINS & ALT (2006), os estoques têm a função de funcionar como reguladores do fluxo de negócios. Como a velocidade com que as mercadorias são recebidas — unidades recebidas por unidade de tempo ou entradas — é usualmente diferente da velocidade com que são utilizadas — unidades consumidas por unidade de tempo ou saídas —, há a necessidade de um estoque, funcionando como um amortecedor. A analogia com a caixa-d’água de nossas residências é muito adequada. A figura 1 mostra esquematicamente o estoque. Figura 1 Analogia dos Estoques Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais, 2006. As funções dos estoques definidas por ARNOLD (1999: 268): “Na produção em lotes, o propósito básico dos estoques é separar o suprimento da demanda.” Com a separação do suprimento da demanda por meio de estoques, qualquer problema que surgir durante o tempo de suprimento, que poderia comprometer algum prazo de entrega aos clientes é anulado. No suprimento, quando por exemplo, quebra uma máquina, um fornecedor atrasa alguma entrega, a demanda de certo produto cresce de forma imprevisível, é o estoque que consegue evitar as faltas de produtos acabados para entrega ao cliente. 68 Segundo ARNOLD (1999:271): Os estoques ajudam a maximizar o atendimento aos clientes, protegendo a empresa da incerteza. Se fosse possível prever exatamente o que os clientes querem e quando, um plano seria feito para satisfazer à demanda sem incertezas. Entretanto, a demanda e o lead time necessários para produzir um item são sempre incertos, possivelmente resultando em esvaziamentos de estoques e na insatisfação dos clientes. Dificilmente se consegue prever o que, quanto e quando os clientes querem. Somente se consegue saber essas informações após as mesmas terem sido negociadas ou feito o pedido. O lead time na maioria das vezes, além de ser muito longo, também varia, gerando incertezas no tocante a atendimento aos clientes. Para minimizar essas incertezas, são criados os estoques que nos ajudam a maximizar o atendimento aos clientes. A função dos estoques de produtos acabados é regular as diferenças entre as taxas de produção e de demanda do mercado. Essas diferenças podem ter sua origem em função de decisões gerenciais ou por ocorrências inesperadas (CORRÊA, 2000). Podemos destacar, dentro das finalidades dos estoques apontadas por LAMBERT (1998), as seguintes finalidades: a. Capacitar a empresa a atingir economias de escala A formação de estoques pode ser bastante útil para a empresa obter economia de escala nas funções de compras, transporte e fabricação. Comprando matéria-prima em grandes lotes, pode-se obter preços mais econômicos e vantagens comerciais atraentes. Na fabricação, a capacidade da planta é maior e os custos de fabricação são menores quando uma empresa programa grandes lotes de produção, com poucas mudanças na linha e poucas alterações no set-up das máquinas. No transporte, a composição de cargas completas gera fretes unitários menores e maior facilidade na composição. Porém, manter estoques para satisfazer essas funções pode ser prejudicial quando o mercado sofre alguma oscilação. Isso levaria a empresa a ter que expender recursos visando se desfazer dos estoques, para se adequar às efêmeras regras do mercado. 69 b. Equilibrar oferta e demanda Oferta ou demanda sazonais podem motivar a empresa a formar estoques. O custo de estabelecer níveis de produção elevados para atender esses períodos de pico torna-se bastante elevado, podendo significar manter a empresa ociosa durante os períodos de baixa do mercado e a ter mão-de-obra flutuante. Os estoques sazonais seriam, portanto, uma forma de nivelar o processo produtivo. Por outro lado, a demanda por um produto pode ser estável e a oferta de matéria-prima ser sazonal, obrigando a empresa gerenciar a produção e os estoques segundo a cadência de fornecimento. Figura 2 Nivelamento de demanda Fonte: Arnold, Tony J.R - Administração de Materiais, 1999. Devemos ressaltar que a demanda pode apresentar vários tipos de comportamentos, como mostra a figura 3, e que esses comportamentos são influenciadores diretos na definição das estratégias para o gerenciamento dos estoques. 70 Figura 3 Natureza da demanda. terminado Demanda perpétuo sazonal irregular Tempo Fonte: material retirado da apresentação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica IT-208 Sistemas Logísticos Prof Anderson — Decisões sobre Política de Estoques. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial (Ballou) Cap. 9. c. Atuar como regulador do fluxo durante a cadeia de suprimento A formação de estoques serve como proteção para a escassez de matéria-prima nos seguintes casos: — atrasos na entrega de pedidos; — quebra de equipamentos; — problemas com os fornecedores; — problemas de qualidade na matéria-prima e do produto; — ocorrências durante a fase de transporte. 71 3.2 Classificação dos Estoques Segundo MARTINS & ALT (2006), os estoques podem ser classificados em demanda dependente ou independente. Os materiais, componentes, partes e peças da demanda independente são os itens cuja demanda decorre, em sua maioria, dos pedidos dos clientes externos, por exemplo, os produtos acabados, que a empresa vende diretamente a seus clientes externos, e itens de manutenção, de uso interno e requisitados por clientes internos, como material de escritório. Um item é dito de demanda dependente quando a quantidade a ser utilizada depende da demanda de um item de demanda independente. Assim, um pneu em uma montadora é um item de demanda dependente, pois a quantidade total a ser utilizada dependerá da previsão de automóveis a serem montados (5 unidades por automóvel). Para um comerciante de pneus, no mercado de reposição, o mesmo pneu é um item de demanda independente. Como os estoques constituem parcela considerável dos ativos das empresas, eles recebem um tratamento contábil minucioso. São classificados, principalmente para efeitos contábeis, em cinco grandes categorias: a. Estoques de materiais: são todos os itens utilizados nos processos de transformação em produtos acabados. Todos os materiais armazenados que a empresa compra para usar no processo produtivo fazem parte do estoque de materiais, independentemente de serem materiais diretos, que se incorporam ao produto final, ou indiretos, que não se incorporam ao produto final. Assim, material pode ser um componente de alta tecnologia, por exemplo, um computador de bordo para aviões, ou mesmo um pedaço de madeira a ser utilizado na embalagem de um produto ou uma graxa para o mancal de uma certa máquina ou equipamento. Aqui se incluem também os materiais auxiliares, ou seja, itens utilizados pela empresa, mas que pouco ou nada se relacionam com o processo produtivo, como os materiais de escritório e de limpeza. No decorrer do texto, nós nos referiremos ao termo matéria-prima como os materiais que se incorporam ao produto acabado. É importante ressaltar que certos materiais que se incorporam ao produto final, como alguns tipos de embalagem, não gozam 72 de créditos de IPI e, como tal, não são considerados pelos Órgãos Fiscais matérias-primas. b. Estoques de produtos em processos: correspondem a todos os itens que já entraram no processo produtivo, mas que ainda não são produtos acabados. São os materiais que começaram a sofrer alterações, sem, contudo, estar finalizados. Muitas pessoas usam a expressão "produtos que estão no meio da fábrica" para designá-los. c. Estoques de produtos acabados: são todos os itens que já estão prontos para ser entregues aos consumidores finais. São os produtos finais da empresa. Os produtos acabados são bem conhecidos por nós em nosso diaa-dia, e itens, como os de revenda, enquadram-se nesta categoria. d. Estoques em trânsito: correspondem a todos os itens que já foram despachados de uma unidade fabril para outra, normalmente da mesma empresa e que ainda não chegaram a seu destino final. e. Estoques em consignação: são os materiais que continuam sendo propriedade do fornecedor até que sejam vendidos. Em caso contrário, são devolvidos sem ônus. Os materiais, como recursos que são, recebem as mais variadas denominações. Consideram-se as seguintes denominações para os materiais: materiais diretos: também denominados materiais produtivos ou matérias-primas. São aqueles que se agregam ao produto final, isto é, saem com o produto final. Exemplos: os pneus de um automóvel e o copo de um liquidificador gozam de créditos de IPI, ICMS, e mais recentemente, do PIS/Cofins. materiais indiretos: também denominados materiais não-produtivos ou materiais auxiliares. São aqueles que não se agregam, isto é, não saem com o produto final. Exemplos: óleos de corte das máquinas, ferramentas que são utilizados na usinagem, não gozam de créditos para fins fiscais. 73 Segundo SCHWITZKY (2001), os estoques podem ainda ser classificados de acordo com as funções que desempenham, conforme a seguir: — Estoques de antecipação: são criados antecipando-se uma demanda futura. Normalmente, são criados antes de futuros picos de venda, sendo que, para esses picos de venda, a capacidade de produção da empresa teria que ser aumentada em muito, incorrendo em custos de treinamento, contratação, demissão quando ocorrerem quedas dos picos e outros custos. Esse estoque de antecipação, muitas vezes, também, cria-se antes de um programa de promoções, das férias coletivas ou diante de uma possível ameaça de greve. O objetivo principal desse estoque de antecipação é nivelar a produção e reduzir os custos das mudanças das taxas de produção. — Estoques de flutuação: realizam-se para compensar flutuações imprevisíveis do suprimento, da demanda e do lead time maior do que normalmente é. Sua finalidade é prevenir contra perturbações na produção ou no atendimento aos clientes, por exemplo, atrasos nas entregas. Também é conhecido como estoque de segurança ou de reserva. — Estoques de tamanho de lote: são gerados quando o tamanho de lote é maior do que o necessário. Ele é maior por várias razões, por exemplo, descontos em função de compras em grande quantidade, lote mínimo do fornecedor ou de fabricação, redução dos custos de transportes e custos de escritório. À medida que os pedidos entram, os produtos são entregues, os estoques diminuem e são reabastecidos ciclicamente. — Estoques de transporte: existem em função de transportar os produtos de um lugar para outro, ou de uma fábrica para outra, ou da fábrica para o centro de distribuição ou a um cliente. Esse estoque é proporcional ao tempo para efetuar o transporte e ao volume transportado. 74 — Estoques de especulação: são gerados quando certos produtos variam muito de preço e os compradores têm expectativa de aumento futuro. Então, os mesmos compram uma grande quantidade para estocar e vender quando os preços já estiverem mais altos. O objetivo é antecipar a ocorrência de escassez, criar valor ao produto e a correspondente efetivação do lucro. 3.3 Indicadores das Dimensões dos Estoques As dimensões dos estoques, segundo RODRIGUES (1993:2), podem ser medidas por meio de três principais indicadores: 1) função da variedade de itens; 2) volume de material e 3) valor dos materiais estocados. 1. Variedades de Itens O número de itens existentes em um estoque tem tendência natural de crescer, muitas vezes porque não existe uma visão global dos custos com materiais. A preocupação está em especificar aquele que gere menos perda possível e isso acaba fazendo com que tenhamos cada vez mais itens semelhantes em estoque. O problema é que novos materiais podem ter um baixo consumo, o que pode implicar que o lote necessário seja menor que o lote mínimo de compra ou fabricação, provocando um aumento nos níveis de estoque. De acordo com RODRIGUES (1993:12): “Ter um item, ao invés de dois, faz com que tenhamos lotes de compras maiores com um conseqüente aumento do poder de compra.”, portanto é muito importante uma análise criteriosa antes de criar um novo item. Processos de racionalização são importantes, pois, além de balancearem o estoque, trazem as seguintes vantagens: 75 ▪ menos itens para administrar; ▪ menos documentação e menos registro no computador; ▪ menos pedidos de compra ou fabricação; ▪ pedidos de compras com lotes maiores, com conseqüente aumento do poder de barganha com o comprador; 2. ▪ lotes econômicos de fabricação compatíveis com a demanda; ▪ melhor aproveitamento da área do depósito; ▪ menos recebimento; ▪ menor número de itens a controlar. Volume de Material Dentre as três dimensões de estoque, o volume de material estocado necessita de uma atenção especial, pois, além do valor do estoque envolvido, temos o custo da área ocupada. A quantidade de material em estoque é, teoricamente, determinada por dois parâmetros: estoque de segurança e lote de compra (RODRIGUES, 1993). Quando o volume dos materiais estocados é muito grande, pode-se necessitar de ampliação das áreas de armazenagem. Isso pode implicar ampliar a área construída ou alugar depósitos de terceiros. Sem dúvida, isso aumenta os custos de armazenagem. 3. Valor dos Materiais Estocados Segundo RODRIGUES (1993:): É necessário planejarmos a formação dos estoques com os olhos permanentemente voltados para a questão do dinheiro envolvido na operação. Haja vista que quando diminuímos a quantidade física de material no depósito, não estamos somente pensando na economia da área, mas também nas suas conseqüências nos custos indiretos (Movimentação e Armazenagem, Administração, Qualidade, Obsolescência, Oportunidade, Seguro, etc.) e resultados diretos no desempenho financeiro. Enfim, o que realmente conta é o dinheiro. 76 3.4 Custos de Estoque CHING (1999) aborda esse custo salientando não só os valores necessários para manter os estoques como também os custos de imobilização de capital: Estão associados a todos os custos necessários para manter certa quantidade de mercadorias por um período. São geralmente definidos em termos monetários por período. Os custos de manter incluem componentes como custos de armazenagem, seguro, deterioração e obsolescência e custo de oportunidade de empregar dinheiro em estoque (que poderia ser empregado em outros investimentos de igual risco fora da empresa). Segundo PADOVEZE (1997:57): “a empresa deve manter seu estoque o mais baixo possível, objetivando reduzir os impactos financeiros de manutenção de investimentos no capital de giro e, principalmente, reduzir os desperdícios futuros com obsolescência tecnológica dos itens.” Os seguintes custos relacionados utilizam-se nas decisões sobre a administração dos estoques: custo por item, custos de estocagem, custos de pedidos, custos de esvaziamento de estoque e custos relacionados à capacidade (ARNOLD, 1999). a. Custo por Item O valor pago na compra de um item e demais custos diretamente associados para trazê-lo à fábrica, como: transportes, taxas de alfândega e seguro devem ser levados em conta. Se o item for fabricado na própria empresa, o seu custo inclui a matéria-prima, mão-de-obra direta e os custos indiretos de fabricação (ARNOLD, 1999). Dependendo do princípio de custeio adotado pela empresa, os custos indiretos não fazem parte do custo do item, sendo considerados como despesa do período. Esse princípio de custeio é chamado custeio variável (BORNIA, 2000). b. Custos de Estocagem São todas as despesas que a empresa incorre ao manter determinado estoque. Esse custo é proporcional ao volume estocado e pode-se subdividi-lo em três 77 categorias: custos de capital, custos de armazenamento e custos de risco (ARNOLD, 1999). Os custos de capital, no mínimo, são os juros perdidos por não investir aquele dinheiro nas taxas vigentes, que dependendo das oportunidades de investimento disponíveis, são bastante significativas. É um custo de oportunidade. Este capital, também, poderia ser investido em tecnologia, máquinas e outros investimentos. O espaço necessário para a estocagem, os equipamentos e os funcionários compõem os custos de armazenagem. CHING (1999) comenta que esses custos de estocagem podem incluir o custo de seguro, o custo de deterioração e obsolescência, os quais fazem parte do custo do risco de se manter estoques. Além disso, também, considera o custo de oportunidade de empregar o dinheiro que, ao invés de estar empregado em estoque, poderia estar empregado em outro negócio de maior rentabilidade para a empresa. Conforme ARNOLD (1999:275), “O custo de estocagem é geralmente definido como uma porcentagem em valores monetários do estoque por unidade de tempo (geralmente um ano). Os livros didáticos tendem a utilizar um valor de 20% à 30% em setores industriais.” Daí, pode-se escrever a equação (1): Custo anual (Ca) = Estoque médio (EM) x Custo unitário (C) x Taxa (i) (1) Esses custos englobam os vários custos envolvidos com os estoques. Com essa taxa única é mais simples calcular o quanto nosso estoque está nos custando e quanto se consegue economizar quando o diminuímos. c. Custos de Pedidos Esses custos acabam sendo proporcionais ao número de pedidos emitidos, pois, se emitirmos um pedido de 1 unidade ou 100 unidades, os custos serão os mesmos. 78 Segundo CHING (1999:29), os custos de pedidos: Incluem os custos fixos administrativos associados ao processo de aquisição das quantidades requeridas para reposição do estoque – custo para preencher pedido de compra, processar o serviço burocrático, na contabilidade, no almoxarifado, de receber o pedido e verificação contra nota e a quantidade física. Os custos de pedir são definidos em termos monetários por pedido. Os custos de pedidos em uma fábrica podem incluir: custos de controle de produção, custos de preparação e desmontagem, custos de capacidade perdida e custos de pedidos de compra. O custo de pedidos pode ser reduzido aumentando-se o número de unidades requisitadas por pedido, porém isso aumentará o nível do estoque e, também, o custo anual com a manutenção do estoque (ARNOLD, 1999). d. Custos de Esvaziamento de Estoque Pode-se considerá-los a soma do lucro perdido e de uma insatisfação gerada. O ideal é obter o equilíbrio entre a compensação de manter o estoque para satisfazer a demanda e os custos resultantes das faltas de estoques (DAVIS, 2001). A falta de estoque pode acontecer no momento em que a demanda for maior do que a prevista durante o lead time ou se, por alguma razão, o lead time for maior do que o habitual. O custo pode ser potencialmente caro por causa dos pedidos de clientes não atendidos, de vendas perdidas e de clientes possivelmente perdidos. Essas faltas podem ser reduzidas com estoque extra (ARNOLD, 1999). e. Custos Relacionados à Capacidade Alterações no nível de produção, com o intuito de aumentar a capacidade, pode levar a um aumento dos custos operacionais devido às horas de trabalho adicional, necessidade de contratações, realização de treinamentos, turnos extras, demissões e etc. ARNOLD (1999: 277) afirma que: “Estes custos podem ser evitados por meio do nivelamento da produção, ou seja, pela produção em períodos de folga para serem 79 vendidos em períodos de pico. Entretanto, isso aumenta o estoque nos períodos de folga.” Para atender a uma demanda sazonal quando a empresa tem restrições de capacidade, pode ser mais econômico construir um estoque temporariamente maior do que normal. 3.5 Gestão dos Estoques A gestão de estoque é, basicamente, o ato de gerir recursos ociosos possuidores de valor econômico e destinado ao suprimento das necessidades futuras de material , numa organização. Os investimentos não são dirigidos por uma organização somente para aplicações diretas que produzam lucros, tais como os investimentos em máquinas e em equipamentos destinados ao aumento da produção e, conseqüentemente, das vendas. Outros tipos de investimentos, aparentemente, não produzem lucros. Entre estes estão as inversões de capital destinadas a cobrir fatores de risco em circunstâncias imprevisíveis e de solução imediata. É o caso dos investimentos em estoque, que evitam a perda de dinheiro em situação potencial de risco presente. Por exemplo, na falta de materiais ou de produtos que levam à não realização de vendas, a paralisação de fabricação, a descontinuidade das operações ou serviços etc., além dos custos adicionais e excessivos que, a partir desses fatores, igualam, em importância estratégica e econômica, os investimentos em estoque aos investimentos ditos diretos. Porém, toda a aplicação de capital em inventário priva de investimentos mais rentáveis uma organização industrial ou comercial. Numa organização pública, a privação é em relação a investimentos sociais ou em serviços de utilidade pública. A gestão dos estoques visa, portanto, numa primeira abordagem, manter os recursos ociosos expressos pelo inventário, em constante equilíbrio em relação ao ótimo nível econômico dos investimentos. E isso é obtido mantendo estoques mínimos, sem correr o risco de não tê-los em quantidades suficientes e necessárias 80 para manter o fluxo da produção da encomenda em equilíbrio com o fluxo de consumo. DECISÕES DE ESTOQUE (QUANTO PEDIR / QUANDO PEDIR) Em cada estágio de sistema de estoque, os gerentes de produção precisam sempre gerir as tarefas do dia-a-dia dos sistemas. Segundo SLACK (1996:385), nesse gerenciamento, eles estão envolvidos em dois tipos de decisões: DECISÃO DE VOLUME DE RESSUPRIMENTO — QUANTO PEDIR No gerenciamento dessa decisão, toma-se decisão de quantidade a pedir, isto é, quanto precisa comprar em cada momento. Ao tomar esse tipo de decisão, temos de equilibrar dois conjuntos de custos: o primeiro custo associado à manutenção de estoques, que estão relacionados a capital de giro e o segundo custo associado à colocação de um pedido usualmente relacionado às transações necessárias para gerar informações na colocação de pedidos. Como essas decisões envolvem custos, é importante que os gerentes de produção saibam identificar os diversos custos de estoque que podem ocorrer na tomada de decisões. Dentre esses custos, SLACK destaca os seguintes: custo de colocação de pedidos — são os custos que incluem as tarefas de escritório na preparação do pedido e de toda documentação associada ao arranjo para que se faça a entrega, os custos gerais de manter todas as informações e também podendo ocorrer custos de troca causados pela necessidade de mudar da produção de um item para a produção do outro; custos de descontos de preços — que são os custos extras para pequenos pedidos, já que, em muitas indústrias, os fornecedores oferecem descontos sobre o preço para compras de grandes quantidades; custos de falta de estoque — ocorrem quando se toma uma decisão errada na quantidade de pedidos e a empresa fica sem estoques, o que vai 81 acarretar custos por falta no fornecimento a nossos consumidores. Nesse caso, se esses consumidores forem externos, poderão trocar de fornecedores e, no caso dos consumidores internos, a falta de estoque levará a tempo ocioso no processo seguinte, ineficiência e, de novo, consumidores externos insatisfeitos; custos de capital de giro — são os custos associados a juros, que a empresa paga ao banco quando faz empréstimos, ou os custos de oportunidade, de não reinvestirmos em outros lugares. Ocorrem quando a empresa não tem fundo para pagar fornecedores. É o que precisamos para girar o estoque; custos de armazenamento — são aqueles associados a armazenamento físico dos bens, como a locação, climatização, iluminação do armazém que são geralmente caros, especialmente se tratando de condições especiais, como a baixa temperatura, ou produtos que exigem alto grau de segurança; custos de obsolescência — que são aqueles que ocorrem quando os itens estocados permanecem armazenados por muito tempo, existindo riscos de se tornar obsoletos ou deteriorar-se com a idade; custos de ineficiência de produção — esses custos estão relacionados com a filosofia de just-in-time, altos níveis de estoque nos impedem de ver a completa extensão de problemas dentro da produção. DECISÃO SOBRE O TEMPO — QUANDO COLOCAR UM PEDIDO? O ideal para se tomar esse tipo de decisão é que o nível de estoque atingisse zero. Deste modo, ele chegaria instantaneamente e evitaria qualquer ocorrência ou falta de estoque. Segundo SLACK, a decisão de quando colocar um pedido é importante, quando a demanda é vista como probabilística. Os pedidos são usualmente disparados para deixar certo nível de estoque de segurança médio quando o pedido chega. Esse nível 82 de estoque de segurança é influenciado pela variabilidade tanto da demanda como do lead time, sendo assim ele é usado para que o estoque não falte antes de chegar o pedido de reabastecimento. O uso de nível de ressuprimento como disparo para a colocação de um pedido necessita de que os gerentes de produção façam uma revisão contínua dos níveis de estoque de cada item. Essa revisão contínua é o que Slack chama de abordagem de revisão contínua. Também, pode-se utilizar outra abordagem alternativa, que é a abordagem de revisões periódicas, em que o gerente em vez de pedir em um nível de ressuprimento permanente, ele faz pedidos de reabastecimento de tamanhos variáveis em intervalos de tempo regulares e fixo. Basicamente, existem três sistemas que determinam quando repor os estoques. São eles: sistema ponto de pedido, sistema de revisão periódica e MRP. Os dois primeiros são para demanda independente e o último, para demanda dependente (ARNOLD, 1999). SISTEMA PONTO DE PEDIDO De acordo com ARNOLD (1999:319), utilizando esse sistema, “um pedido deve ser emitido quando ainda há estoque suficiente para satisfazer a demanda do momento em que o pedido é emitido até que o novo estoque chegue.” Figura 4 Quantidade disponível versus tempo: item de demanda independente Fonte: ARNOLD, TONY J.R - Administração de Materiais São Paulo, Ed.Atlas 1999. 83 Vamos supor que o lead time de reposição seja de duas semanas e a demanda semanal seja de 100 unidades. Logo, se o pedido for emitido quando tiverem 200 unidades em estoque, haverá uma média de estoque suficiente até a nova remessa chegar. Porém, durante o lead time de reposição, tanto a demanda como o tempo para reposição podem variar para mais ou para menos em relação à média. Quando essa variação for para mais, poderá ocorrer uma falta de estoque. Para resolver esse problema, são acrescentados os estoques de segurança. A equação (1), a seguir, determina como calcular o ponto de pedido: PP = DDLT + ES equação (1) Em que: PP – ponto de pedido DDLT – demanda durante o lead time ES – estoque de segurança A figura 4 apresenta um gráfico mostrando: ponto de pedido (PP), lead time, estoque de segurança (ES), quantidade do pedido (Q) e variações no estoque em função do tempo. Os intervalos entre as reposições podem variar em função da variação da demanda, enquanto as quantidades pedidas são constantes. O estoque médio (EMQ) é igual à metade da quantidade por entrega (QE/2) somado ao estoque de segurança (ES), representado na equação (2) seguinte (ARNOLD, 1999). equação (2) Para determinar o estoque médio, pode-se utilizar a equação (2), a qual mostra que quanto maior a quantidade do pedido, maior será o estoque médio. A determinação do estoque de segurança será descrita mais adiante. 84 A quantidade pedida, apesar de ser constante para este sistema, pode ser determinada basicamente de duas maneiras: pelo tempo que cada pedido deve suprir a demanda futura ou calculando a quantidade econômica do pedido (QEP). Quando se leva em conta apenas o tempo que cada pedido deve suprir demandas futuras, nem sempre se está minimizando os custos. Normalmente é utilizada quando os custos envolvidos são pouco representativos. A quantidade econômica de pedido QEP pode ser determinada pela equação (3) (TUBINO, 2000): equação (3) Em que: A= unidades utilizadas anualmente S= custo por pedido i= custo anual de armazenagem do estoque (%) C= custo de cada unidade pedida SISTEMA DE REVISÃO PERIÓDICA Conforme ARNOLD (1999:336), “No sistema de revisão periódica a quantidade disponível de um item é determinada em intervalos de tempo especificados e fixos e assim um pedido é emitido.” 85 Figura 5 Sistema de revisão periódica. Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2006. Os intervalos de tempo entre os pedidos emitidos são constantes e a quantidade a ser pedida varia em função do estoque máximo permitido e o estoque disponível, ou seja, a quantidade pedida (Q) é igual ao estoque máximo (EMáx) subtraído da quantidade de estoque disponível (E). Isso é representado pela equação (4): Q = EMáx – E equação (4) O nível-alvo ou nível máximo de estoque (EMáx) é determinado pela soma do estoque de segurança (ES) com a demanda (D) durante o lead time (TA) e durante a duração do período de revisão (IP) (ARNOLD, 1999). A equação (5) representa o nível máximo de estoque (EMáx): EMáx = D ( IP + TA ) + ES equação (5) 86 Conforme se observa na figura 5, os intervalos de reposição são constantes. Porém, o lead time e a demanda variam, implicando a variação das quantidades pedidas. O intervalo padrão para realização da revisão dos estoques para novos pedidos é determinado de forma empírica, aproximada, de modo que a quantidade pedida seja próxima da quantidade econômica calculada pela equação (3) (MOREIRA, 1993). O intervalo padrão pode ser calculado pela equação (6) (MOREIRA,1993): equação (6) Em que: S = custo por pedido C = custo de cada unidade pedida i= custo anual de armazenagem do estoque (%) A = unidades utilizadas ou vendidas anualmente De acordo com ARNOLD (1999), o sistema de revisão periódica é útil nas seguintes situações: — quando há muitas liberações pequenas de estoques e os custos de atualização das transações no registro de estoque são muito caras; — quando os custos com pedidos são pequenos. Normalmente, quando uma grande diversidade de itens é pedida de um mesmo fornecedor; — quando muitos itens são pedidos de uma só vez para completar uma carga de caminhão ou perfazer uma operação de produção. 87 Para definir quando utilizar o sistema de Ponto de Pedido ou o de Revisão Periódica, é importante analisar as vantagens e desvantagens de cada um. ESTOQUE DE SEGURANÇA O estoque de segurança tem a função de compensar variações do tempo de atendimento (tempo de ressuprimento), as variações da demanda e os desvios da previsão em relação à demanda. O desvio padrão é muito utilizado na área estatística. Normalmente, para determinação do estoque de segurança, o desvio padrão (σD) tem sido calculado em relação à variação da demanda. Neste trabalho, o cálculo do desvio padrão dos desvios da previsão em relação à demanda, tanto para determinar o estoque de segurança como para avaliar a qualidade do método de previsão, realiza-se por meio da equação (7): equação (7) Em que: xi — valor da diferença entre a previsão de demanda e a demanda real xm — média das diferenças entre a previsão de demanda e a demanda real n— número de períodos analisados Obs.: A definição de cada variável da equação (7) foi adaptada de DIAS (1993). 88 Neste capítulo, são apresentadas três situações possíveis de variação: apenas a demanda é variável, apenas o tempo de atendimento é variável e tanto a demanda como o tempo de atendimento é variável. COM DEMANDA VARIÁVEL E TEMPO DE ATENDIMENTO CONSTANTE Segundo MARTINS (2000: 202), estudos demonstram “que a demanda durante o período de atendimento pode se aproximar de uma distribuição normal, de Poisson ou de uma exponencial negativa — atendimento de varejo e atacado.” Para simplificar, considera-se apenas o caso da distribuição normal, tendo a média D e o desvio padrão igual a σD. O estoque de segurança determina-se para compensar um aumento de demanda após a emissão do pedido, de forma que não haja falta de estoque e não comprometa a entrega de produtos ao cliente. Quando o ponto de pedido (PP) é atingido, emite-se um novo pedido. Como nesse caso o tempo de atendimento (TA) é constante, passados determinados dias, o pedido é entregue. Podemos verificar isso na figura 6 a seguir: Figura 6 Estoque de segurança com demanda variável e TA constante Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2006. 89 Analisando-se a figura 6, basicamente três situações podem ocorrer durante o tempo de atendimento: a demanda (D) pode coincidir exatamente com a média dos períodos anteriores. Dessa forma, quando o pedido for entregue, o saldo em estoque será igual ao estoque de segurança, não comprometendo as entregas aos clientes. a demanda (D2) pode ser inferior à média dos períodos anteriores. Quando o pedido for entregue, o estoque será superior ao estoque de segurança, não afetando as entregas aos clientes. a demanda (D1) pode ser superior à média dos períodos anteriores. Quando o pedido for entregue, o estoque de segurança pode ter sido suficiente, ou não, para evitar que o estoque zere. Se a demanda for maior que (D) e menor que (D1), ainda haverá estoque no momento da entrega do pedido. Porém, se a demanda for maior que (D1), haverá zeramento do estoque antes da entrega do pedido, podendo afetar as entregas aos clientes. Devemos assumir um certo risco de não atender à demanda quando ela for superior a D1. Esse risco é chamado de á, trata-se da probabilidade de que a demanda exceda D1, considerando sua distribuição aproximadamente normal (MARTINS, 2000). O risco de não atender à demanda ou ao atendimento de clientes define-se, normalmente, em função dos custos de manutenção de altos estoques ou pela política adotada pela própria empresa. ARNOLD (1999) propõe valores para Zá baseado no nível de atendimento definido, como ilustrado na tabela 1. Nesta tabela, pode-se encontrar o valor de Zá correspondente ao nível de atendimento utilizado na equação, a qual determina o estoque de segurança. 90 Tabela 1 Fatores de segurança Fonte: ARNOLD, T. J.R — Administração de Materiais São Paulo, 1999. A definição do nível de atendimento para determinação do estoque de segurança normalmente é apontada pelo gestor baseado em vários fatores, como: espaço físico necessário, capital investido em estoques, custo do capital, satisfação do cliente e práticas das concorrências. Podem ser utilizados diferentes níveis de atendimento para os diferentes grupos de produtos das curvas A, B e C ou linhas de produtos. Vamos supor que, em 100 pedidos, admita-se 03 casos de não atendimento. Nesse caso, o não-atendimento é de 3% e o de atendimento é de 97%. Por meio da Tabela 1 acima, encontra-se Zá = 1,88. Segundo MARTINS (2000), o estoque de segurança (ES) é determinado pela equação (8): ES = Zá x σD x TA equação (8) Em que: Zá – define o nível de atendimento σD – desvio padrão da distribuição da demanda durante o tempo de atendimento TA – tempo de atendimento 91 Sempre que o intervalo de tempo considerado para determinar o desvio padrão da demanda for diferente do lead time ou tempo de atendimento (TA), para o Sistema Ponto de Pedido, ou diferente da soma do lead time ou tempo de atendimento (TA) com o intervalo padrão (IP), para o Sistema de Revisão Periódica, há necessidade de se fazer um ajuste ao valor do desvio padrão, conforme a equação abaixo (ARNOLD, 1999): equação (9) No caso do modelo do intervalo padrão (IP), sistema de revisão periódica, a determinação do estoque de segurança segue raciocínio análogo, pela equação a seguir: ES = Zá x σD x IP equação (10) Segundo MARTINS (2000:205), “Muitos autores consideram, para maior segurança, o seguinte ajuste:” A equação (11) resulta num estoque de segurança sempre maior do que fornece a equação (10), minimizando a possibilidade da falta de estoque quando a demanda aumenta. ES = Zá x σD x IP + TA equação (11) Essa segurança maior é importante, pois o modelo do intervalo padrão é mais vulnerável à variação da demanda, ou seja, a variação da demanda influencia diretamente durante todo intervalo de revisão mais o tempo de atendimento, enquanto que, no modelo 92 ponto de pedido, essa influência direta ocorre somente durante o tempo de atendimento, no que tange à possibilidade de falta de estoque. COM DEMANDA CONSTANTE E TEMPO DE ATENDIMENTO VARIÁVEL De acordo com MARTINS (2000: 205), “A abordagem desse caso geralmente é feita considerando o tempo de atendimento com uma variação discreta, como possibilidades associadas.” Não é considerada uma variação contínua, por exemplo, 1 a 2 dias (1 – 1,1 – 1,11 – 1,111 – 1,112 ... 1,999 – 2), mas sim, uma variação discreta (2 – 3 – 4 – 5 ...). Por meio da figura 7, extraem-se várias conclusões: se o tempo de atendimento for igual TA1, o estoque disponível quando o pedido for entregue será maior que o estoque de segurança; se o tempo de atendimento for igual a TA2, que representa o tempo médio de entrega dos últimos períodos, o estoque disponível será igual ao estoque de segurança; e, se o tempo de atendimento for igual a TA3, o estoque será zero quando for entregue o pedido. A preocupação ocorre quando o tempo de atendimento for igual a TA4, ou seja, maior que TA3, pois nessa situação haverá falta de estoque e clientes poderão deixar de ser atendidos. Figura 7 Estoque de segurança com demanda constante e tempo de atendimento variável Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2000. 93 Pode-se concluir o seguinte: quando o tempo de atendimento for menor que TA3 (TA < TA3), todas as solicitações poderão ser atendidas; quando o tempo de atendimento for maior que TA3 (TA > TA3), nem todas as solicitações poderão ser atendidas, podendo gerar insatisfações de clientes. O tempo de atendimento médio (TAM) pode ser determinado pelo levantamento estatístico, com a equação (12): equação (12) Em que: TAi – tempo de atendimento Pi – probabilidade de tempo de atendimento TAi acontecer COM DEMANDA E O TEMPO DE ATENDIMENTO VARIÁVEL O estudo da condição em que tanto a demanda quanto o tempo de atendimento variam, assume complexidade matemática. A solução é simplificada considerando-se as duas distribuições como discretas (MARTINS, 2000). A figura 8 apresenta a situação em que tanto a demanda quanto o tempo de atendimento variam. Figura 8 Estoque de segurança com demanda e tempo de atendimento variável Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2000. 94 Em função da complexidade matemática, são adotadas distribuições discretas para a demanda e para o tempo de atendimento. A situação em que a demanda e o tempo de atendimento são variáveis é a mais encontrada nas empresas. A demanda varia em função do mercado e o tempo de atendimento varia em função da complexidade dos processos e do ritmo de trabalho. Na realidade, a demanda e o tempo de atendimento são difíceis de se manterem constantes. A variação, em algumas situações, pode ser minimizada, mas está longe de ser eliminada. O Quadro 1 é resultado da interpretação das hipóteses oriundas da figura 8. Quadro 1 Relação da demanda e do tempo de atendimento variável versus atendimento de pedidos Fonte: MARTINS, Petrônio G.; ALT, Paulo R.C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2000. Segundo MARTINS, quando se considera tanto a demanda como o tempo de atendimento como variáveis contínuas, com médias e desvios padrões conhecidos, pode-se utilizar a equação (13) para cálculo de estoque de segurança: ES = Zá x µTA x σD2 + µD2 x σTA2 equação (13) 95 Em que: Zá – é função do nível de atendimento µTA – tempo médio de atendimento σD – desvio padrão da demanda durante o tempo médio de atendimento µD – demanda média durante o tempo médio de atendimento σTA – desvio padrão do tempo de atendimento Segundo MARTINS (2000:211), “As incertezas, presentes em quase tudo o que fazemos, estão também nos estudos dos estoques.” Portanto, é necessário utilizar alguma forma de dimensionar os estoques que nos dêem, pelo menos, uma certa segurança para que pedidos de clientes não deixem de ser atendidos. Uma ferramenta muito usual é o método estatístico aplicado aos estudos de estoques. LOTE ECONÔMICO Segundo REIS (2004), existe um grande número de métodos desenvolvidos para o controle de estoques em sistemas com demanda independente, contudo o mais importante deles é o Modelo do Lote Econômico ou Quantidade Econômica de Pedido (Economic Order Quantity — EOQ). Este modelo relaciona o tamanho do lote a ser pedido com a demanda e os custos de estoque, sendo que o lote econômico minimiza os custos totais. O modelo é baseado numa série de hipóteses simplificadoras, mas ainda assim fornece bons resultados: a) a demanda é conhecida exatamente e é contínua e constante ao longo do tempo; b) considera somente um item; 96 c) todos os custos são conhecidos exatamente e não variam ao longo do tempo; d) não é considerada a possibilidade de faltas do produto; e) o tempo entre o pedido e a entrega (lead time) é zero. A reposição é instantânea, de forma que o pedido completo dá entrada no estoque e pode ser utilizado imediatamente; f) o preço de compra e o custo de pedido não variam com a quantidade pedida; g) uma entrega única é feita para cada pedido; h) cada item de estoque é independente, não sendo possível fazer economias pela substituição do item ou pelo agrupamento de vários itens no mesmo pedido. As variáveis consideradas no cálculo desse modelo são as seguintes: Q= quantidade pedida, a ser otimizada; T= duração do ciclo entre duas entregas; D= demanda por unidade de tempo (constante); UC = custo unitário; RC = custo de pedido do item; HC = custo de manutenção de uma unidade de um item em estoque por um período de tempo (em geral um ano). 97 Figura 9 Modelo do lote econômico — ciclo do estoque ESTOQUE Q D = Q/T D Q/2 = Estoque Médio TEMPO T Fonte: REIS, Manoel A S., Material utilizado na aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. MÉTODO DE CÁLCULO A expressão do lote econômico é obtida em três passos: — cálculo do custo total de um ciclo de estoque; — obtenção do custo do estoque por unidade de tempo (TC), dividindo o custo total de um ciclo pela extensão do ciclo (T); — minimização do custo por unidade de tempo. CUSTO TOTAL DO ESTOQUE DURANTE UM CICLO — custo de compra do item = UC x Q. — custo do pedido do item= RC. — custo para manter estoque do item no período T = HC x Q/2 x T. — custo total de estoque por ciclo = UC x Q + RC + (HC x Q x T )/2. (4) 98 Figura 10 Lote econômico de um item. Custo Total = Custos (Unitário+Pedido+Manutenção) Mínimo Custo Custo de Manutenção de Estoque Custo Custo de Pedido Custo Unitário Q0 Lote Econômico Q - Lote Pedido Figura 11 – Lote Econômico de um item Fonte: REIS, Manoel A S., Material utilizado na aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. CUSTO DO ESTOQUE POR UNIDADE DE TEMPO Dividindo a equação (4) pelo período de tempo T: TC = (UC x Q)/T + RC/T + (HC x Q)/2 Como Q = D x T ou D = Q/T, temos: TC = UC x D + (RC x D)/Q + (HC x Q)/2 Em que: Custo fixo = FC = UC x D Custo Variável = VC = RC × D HC × Q + Q 2 [1] 99 A EXPRESSÃO DO LOTE ECONÔMICO O custo total por unidade de tempo (TC) depende somente da variável Q. Logo derivando TC com relação a Q e igualando a zero obtém-se: d (TC ) RC × D HC =− + =0 dQ Q2 2 Em que se pode obter o valor mínimo de Q0, designado Lote Econômico: Q0 = 2 × RC × D HC [2] EVOLUÇÃO DO ESTOQUE NO TEMPO Figura 11 Evolução do estoque no tempo Q0 (Lote Econômico) Q0/2 (Estoque Médio) T0 T0 TEMPO Fonte: REIS, Manoel A S., Material utilizado na aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. 100 DURAÇÃO DO CICLO PARA O LOTE ECONÔMICO Considerando que Q = D x T, e fazendo Q = Q0, temos: T0 = Q0/D Substituindo na expressão do lote econômico, obtém-se a expressão da duração do ciclo para o lote econômico: T0 = 2 × RC D × HC [3] CUSTO DE ESTOQUE PARA O LOTE ECONÔMICO Fazendo Q = Q0 na equação [1] do custo variável e utilizando a equação [2] no lugar de Q0 tem-se: VC0 = RC × D × = HC HC 2 × RC × D + × 2 × RC × D D HC RC × HC × D + 2 RC × HC × D 2 Os dois termos da última expressão referem-se aos custos de pedido e de manutenção de estoque, respectivamente. Simplificando, obtém-se: VC0 = 2 × RC × HC × D = HC × Q0 [4] Portanto, o custo total ótimo é: TC0 = UC × D + VC0 = UC × D + HC × Q0 [5] 101 RESTRIÇÕES AO LOTE ECONÔMICO: 1. espaço de armazenagem — uma empresa que passa a adotar o método em seus estoques, pode deparar-se com o problema de falta de espaço, pois, às vezes, os lotes de compra recomendados pelo sistema não coincidem com a capacidade de armazenagem do almoxarifado; 2. variações do preço de material em economias inflacionárias, calcular e adquirir a quantidade ideal ou econômica de compra, com base nos preços atuais para suprir o dia de amanhã, implicaria, de certa forma, refazer os cálculos tantas vezes quantas fossem as alterações de preços sofridas pelo material ao longo do período, o que não se verifica , com constância, nos países de economia relativamente estável, em que o preço permanece estacionário por períodos mais longos; 3. dificuldade de aplicação — essa dificuldade decorre, em grande parte, da falta de registros ou da dificuldade de levantamento dos dados de custos. Entretanto, com referência a este aspecto, erros, por maiores que sejam, na apuração destes custos não afetam, de forma significativa, o resultado ou a solução final. São pouco sensíveis a alterações razoáveis nos fatores de custo considerados. Estes são, portanto, sempre de precisão relativa; 4. natureza do material — pode vir a se constituir em fator de dificuldade. O material poderá tornar-se obsoleto ou deteriorar-se; 5. natureza de consumo — a aplicação do lote econômico de compra, pressupõe, em regra, um tipo, de demanda regular e constante, com distribuição uniforme. Como isso nem sempre ocorre com relação à boa parte dos itens, é possível que não consigamos resultados satisfatórios ou esperados com os materiais cujos consumos sejam de ordem aleatória e descontínua. 102 MRP (MATERIALS REQUIREMENT PLANNING) Dê acordo com SLACK et al. (1996), o MRP surgiu nos anos 60 com a finalidade de permitir às empresas o cálculo da quantidade de materiais de determinado produto necessário e em que momento. Para isso, ele utiliza pedidos em carteira e uma previsão para os pedidos que irá receber. Assim, o MRP verifica todos os componentes necessários para atender a esses pedidos, garantindo que sejam providenciados a tempo. Além disso, no cálculo do MRP, a demanda por um item é diretamente relacionada com a demanda por outros itens. Partindo dos pedidos em carteira e da previsão de vendas, o MRP considera a estrutura do produto com os níveis de fabricação, a quantidade do lote de compra, o tempo de reposição para cada componente (comprado ou fabricado internamente), as necessidades das peças baseadas no programa-mestre, o uso de cada peça, atentando-se para sua utilização também em outros produtos e o uso de cada peça, levando-se em conta que ela pode ser usada no mesmo produto em diversos níveis. Figura 12 Estrutura do produto. Produto Parte A (i) Sub-parte C (k) Sub-parte D (l) Nível 0 Parte B (j) Sub-parte E (m) Nível 1 Sub-parte F (n) Nível 2 Nível 3 Figura 13 – Estrutura do Produto Fonte: REIS, Manoel A S., Material utilizado na aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. 103 Inicialmente se estabelece a necessidade bruta do produto acabado (nível 0); desconta-se o estoque existente desse produto obtendo-se as necessidades líquidas de itens nível 0. Com base na necessidade líquida do produto (nível 0), obtemos a necessidade bruta de itens do nível 1; para cada material do nível 1 devemos subtrair estoques existentes e pedidos em andamento, determinando quantidades a pedir; nesse caso devemos levar em conta o lead time e outras informações relevantes para determinar o momento de fazer os pedidos para cada item; para os demais níveis o processo é o mesmo. O PROCESSO DO MRP Figura 13 O processo do MRP. Cronograma Mestre • Itens a produzir • Quantidades • Prazos Estrutura do Produto • Lista de materiais • Composição Registro de Estoques • Estoque físico atual • Alocações • Materiais em processo Necessidade Bruta de Materiais Necessidade Líquida de Materiais Pedidos em Andamento • Pedidos já emitidos e ainda não entregues • Previsão de entrega Padrões de Pedidos • Lead time de entrega • Estoque de segurança • Política de ressuprimento Materiais a Solicitar Quantidades a Pedir e Tempos Fonte: REIS, Manoel A S., Material utilizado na aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. 104 A grande vantagem da implantação de um sistema de planejamento das necessidades de materiais é a de permitir ver, “rapidamente”, o impacto de qualquer replanejamento. Assim, podem-se tomar medidas corretivas, sobre o estoque planejado em excesso, para cancelar ou reprogramar pedidos e manter os estoques em níveis razoáveis. POLÍTICA DE ESTOQUES Ao buscar avaliar a efetividade de sua política de estoques, uma empresa deveria considerar três tipos principais de indicadores de desempenho (FLEURY, 2000): A) indicadores financeiros, como o retorno sobre o investimento, o giro e o número de dias em estoque — Constituem a categoria mais antiga, tradicional e disseminada pelas empresas na avaliação de políticas de estoque; B) indicadores de serviço ao cliente, como a disponibilidade de produto, prazo de entrega e o pedido perfeito — Medem a capacidade de um determinado estágio da cadeia de suprimentos para atender o cliente conforme suas expectativas; C) indicadores de custeio gerencial, como o custo da falta, o custo do excesso de estoques e o custo logístico total — Constituem a categoria de indicadores mais recente e ainda pouco disseminada pelas empresas. Segundo BOWERSOX (2001), o gerenciamento de estoques é um processo integrado em que são obedecidas políticas da empresa e da cadeia de valor em relação aos estoques. Essas políticas podem ser divididas em três tipos de abordagens. Abordagem reativa O sistema reativo de estoque responde às necessidades de controle de estoques de uma empresa ao longo do canal de distribuição. Os pedidos de ressuprimento são emitidos quando o estoque disponível cai abaixo de um mínimo predeterminado. A 105 quantidade pedida é geralmente baseada em algum cálculo de lote, embora possa ser uma quantidade variável, em função dos níveis de estoques do momento e de um nível mínimo predeterminado. Abordagem de planejamento Os métodos de planejamento de estoques usam bases de dados comuns para coordenar necessidades de estoques nos diversos locais ou elos da cadeia de agregação de valor. O planejamento pode ocorrer no depósito da fábrica para coordenar a vinculação e a entrega dos estoques em diversos centros de distribuição, ou para coordenar as necessidades de estoques entre diversas empresas de um canal de distribuição. Dois métodos de planejamento de estoque são destacados: rateio de estoque em que, mediante as regras de rateio, o encarregado do planejamento dos estoques determina a quantidade de produtos que pode ser destinada a cada centro de distribuição, com base nos estoques disponíveis na fábrica. O outro método seria o planejamento das necessidades que leva em conta os diversos estágios de distribuição e as características de cada estágio. Esse método é baseado na demanda dos clientes, que não é controlada pela empresa. Essas incertezas das demandas dos clientes determinam os níveis necessários de estoque. Abordagem híbrida Um sistema combinado de gerenciamento de estoques pode ser usado para contornar alguns dos problemas inerentes a qualquer método, de planejamento ou reativo. Esse sistema adaptado de gerenciamento híbrido combina os princípios reativos e de planejamento de estoques. O princípio de um sistema adaptável reside no fato de que a demanda dos clientes deve ser tratada geralmente como independente. No entanto, há algumas situações de canais de distribuição em que essa demanda pode ser tratada como dependente. A característica principal de um sistema adaptável de gerenciamento de estoques é o fato de que ele muda à medida que as condições se alteram. Um sistema adaptável de gerenciamento de estoques deve ajustar-se aos locais e às datas, alterando-se em conformidade com os locais e as épocas do ano. 106 Um dos métodos mais utilizado para gestão dos estoques nas empresas, segundo BOWERSOX (2001) e CHING (2001), é o sistema clássico de empurrar o estoque. Conforme demonstrado na figura 14, o fluxo de material é empurrado ao longo do processo pela fábrica até a distribuição, para suprir clientes. À medida que os pedidos dos clientes chegam, eles são atendidos com os produtos acabados estocados nos depósitos. Para repor os estoques nos depósitos, a fábrica produz contra a previsão de vendas (necessidades esperadas) e não contra a demanda atual ou do depósito. Esse enfoque é vantajoso quando os lotes econômicos de produção ou compra são superiores aos necessários a curto prazo, o que nem sempre ocorre. Figura 14 Sistema clássico de empurrar estoques Previsão Fornecedores Proc. Pedido Estoque de Matéria-prima envio Fábrica envio Pedido Estoque produto acabado despacho Fonte: CHING, H. Y., Gestão de estoques na cadeia de logística , 2001. Cliente 107 ESTRATÉGIAS PARA GESTÃO DE ESTOQUES GASNIER (2002) descreve as seguintes estratégias para a gestão de estoques: 1. Cobertura especulativa: trata-se de uma operação de natureza financeira, em que se formam estoques adquirindo produtos quando os respectivos preços estão abaixo do preço natural de mercado, para desovar esses estoques quando os preços estiverem “em alta”. Envolve riscos na medida em que se aposta que a margem seja capaz de cobrir os custos financeiros e de armazenagem, portanto não é uma estratégia usual para empresas de manufatura, cujas missões residem na produção e não na especulação. Essa estratégia incorre em um custo alto e um risco alto . 2. Cobertura estratégica: quando existe uma razoável probabilidade de um risco de caráter extraordinário, o estoque pode assumir a função de uma resposta contingencial reduzindo o impacto da falta no usuário, decorrente da interrupção na fonte (oferta). Essa estratégia incorre em um custo baixo e um risco baixo. 3. Cobertura estatística: nesse caso, parametrizamos o ponto de reabastecimento do sistema de gestão de estoques com um método objetivo de dimensionamento estatístico. Trata-se de uma abordagem muito usual para itens de demanda independente, isto é, cujas quantidades nos pedidos diários tem uma distribuição probabilística. Essa estratégia incorre em um custo baixo e um risco médio. 4. Estoque excedente: nessa estratégia, deliberadamente se mantém o estoque superdimensionado em relação à cobertura normal (estatística), em razão do alto impacto que a falta representa. Essa estratégia incorre em um custo alto e um risco baixo. 5. Ponto de ruptura: algumas empresas propositalmente mantêm saldos subdimensionados em relação à necessidade normal (estatística), aceitando a falta por um curto período. Naturalmente, o usuário terá que retornar mais tarde para repetir a tentativa, ou será procurado assim que a 108 disponibilidade esteja restabelecida. Se houver outras fontes para aquele item, essa estratégia representa um risco, na medida que o usuário pode optar temporária ou permanentemente por outro fornecedor. Essa estratégia incorre em um custo baixo e um risco alto. 6. Reabastecimento contínuo: trata-se de uma variação do sistema kanban, cujos itens baixados do estoque, comercializados — fornecidos ou consumidos — são reabastecidos a partir de um disparo automático, por meio de sistema eletrônico ou visual. Essa estratégia incorre em um custo baixo e um risco baixo. MEDIDAS DE GESTÃO DE ESTOQUES Rotatividade (giro): a rotatividade ou giro do estoque é uma relação existente entre o consumo anual e o estoque médio do produto. Rotatividade = Consumo médio mensal Estoque médio A rotatividade é expressa no inverso de unidades de tempo ou em “vezes”, isto é, “vezes por dia”, ou por mês, ou por ano. Por exemplo: o consumo anual de um item foi de 500 unidades e o estoque médio de 100 unidades. O giro seria, então: 500 unidades_ano / 100 unidades = 5 vezes/ano. O giro de estoque seria de 5 vezes ao ano, ou o estoque girou 5 vezes ao ano. O índice de giro pode também ser obtido de valores monetários de custo ou de venda. Para as principais classes de estoques, as taxas de rotação são obtidas da seguinte maneira: Produto acabado = custo das vendas ($/ano) estoque médio de produtos acabados ($) Matéria-prima = custo dos materiais utilizados ($/ano) estoque médio de matérias-primas ($) 109 TAXA DE COBERTURA Podemos utilizar outro índice que é bastante conveniente para a análise de estoque, ou seja, o antigiro ou taxa de cobertura. A rotatividade indica quantas vezes rodou o estoque no ano. O antigiro indica quantos meses de consumo equivalem ao estoque real ou ao estoque médio. Antigiro = estoque médio consumo Um item que tem estoque de 5.000 unidades é consumido a uma taxa de 2.500 unidades por mês. Quantos meses o estoque cobre a taxa de consumo? Antigiro = 5.000 2.500 = 2 meses O grande mérito do índice de rotatividade do estoque é que ele representa um parâmetro fácil para a comparação de estoques, entre empresas do mesmo ramo de atividade e entre classes de material do estoque. O SISTEMA ABC DE CONTROLE DOS ESTOQUES Segundo PEREIRA (1999), o princípio da classificação ABC ou curva 80 – 20 é atribuído a Vilfredo Pareto. Em 1897 ele elaborou um estudo sobre a distribuição de renda. Por meio desse estudo, percebeu-se que a distribuição de riqueza não se dava de maneira uniforme, havendo grande concentração de riqueza (80%) nas mãos de uma pequena parcela da população (20%). De acordo com ARNOLD (1999), quatro perguntas necessitam de respostas no controle de estoque. São as seguintes: 1. Qual é a importância do item no estoque ? 2. Como os itens são controlados ? 3. Quantas unidades devem ser pedidas de cada vez ? 4. Quando um pedido deve ser emitido ? 110 O sistema de classificação ABC de estoques responde às duas primeiras perguntas, determinando a importância dos itens, permitindo, assim, diferentes níveis de controle baseados na importância relativa dos itens. As outras duas são respondidas pelo sistema de planejamento, por exemplo, utilizando um MRP. O controle de estoque é exercido pelo controle de cada item individualmente e, para um eficiente controle dos estoques, é necessário observar as perguntas citadas por ARNOLD (1999) e as respectivas respostas. Segundo DAVIS (2001), manter o estoque atualizado por meio de contagem, fazendo pedidos, recebimento de materiais consome tempo e dinheiro. Quando existem limites nesses recursos, focaliza-se nos itens mais importantes do estoque. Se um estoque é composto de milhares de itens, uma boa alternativa é a classificação ABC para definir a importância de cada item, em que os mais importantes devem receber a maior atenção. Mas não existe restrição de quantidade de itens para se aplicar à classificação ABC. Se a quantidade de itens for pequena, também, pode ser aplicada a classificação ABC. Cada produto pode possuir um comportamento de demanda diferente, independente da curva à qual pertence. Alguns possuem comportamento similar na demanda. Assim, para cada produto ou grupo de produtos, pode-se ter que utilizar sistemas de previsão diferentes para que a previsão seja de boa qualidade. Essa classificação, também, pode diferenciar os níveis de atendimento desejados estrategicamente para produtos de cada curva. Segundo ARNOLD (1999), o procedimento de classificação dos itens por utilização anual em valores monetários é a seguinte: 1. determinar a quantidade anual utilizada para cada item; 2. determinar o custo médio de cada item; 3. calcular o custo anual para cada item multiplicando a quantidade utilizada pelo custo médio; 4. ordenar em uma tabela o custo anual calculado em valores decrescentes; 111 5. calcular na coluna ao lado os valores acumulados do custo anual; 6. calcular o percentual desse valor acumulado em relação ao todo; 7. com base na porcentagem acumulada, classificar os itens nos grupos A, B e C. A curva ABC é utilizada para a administração de estoques, para a definição de políticas de vendas, para o planejamento da distribuição, para a programação da produção e uma série de problemas usuais de empresas, quer sejam estas de características industriais, comerciais ou de prestação de serviços.Trata-se de uma ferramenta gerencial que permite identificar quais itens justificam atenção e tratamento adequados quanto à sua importância relativa. A análise ABC consiste na separação dos itens de estoque em três grupos de acordo com o valor de demanda anual, em se tratando de produtos acabados, ou valor de consumo anual, em se tratando de produtos em processo ou matérias-primas e insumos. O valor de consumo anual ou valor de demanda anual é determinado multiplicando-se o preço ou custo unitário de cada item pelo seu consumo ou sua demanda anual. Assim sendo, como resultado de uma típica classificação ABC, surgirão grupos divididos em três classes, como segue: classe A: representa uma pequena quantia de itens, porém uma grande parcela de recursos envolvidos. São os itens mais importantes e merecem um tratamento individual. Determinação precisa dos custos envolvidos no sistema de armazenagem e reposição, uma atualização constante de dados, estoques de segurança confiáveis, etc; classe B: corresponde aos itens intermediários entre classe A e classe C. Merecem atenção individualizada devido à sua relativa importância; classe C: representa uma grande quantidade de itens, porém respondem por uma pequena porcentagem monetária. São os itens menos importantes 112 e merecem pouca atenção individualizada. A atualização de dados não necessita ser freqüente, os estoques de segurança podem ser aproximados. Figura 15 Gráfico típico de uma curva ABC. Uma classificação ABC de itens de estoque, tida como típica, apresenta uma configuração em que 20% dos itens são considerados A e respondem por 65% do valor de demanda ou consumo anual. Os itens B representam 30% do total de número de itens e 25% do valor de demanda ou consumo anual. Tem-se, ainda, que os restantes 50% dos itens e 10% do valor de consumo anual serão considerados de classe C. Embora se reconheça que tais percentuais de classificação possam variar de empresa para empresa, é importante observar que o princípio ABC em que uma pequena percentagem de itens é responsável por uma grande percentagem do valor de demanda ou consumo anual, normalmente ocorre. Apesar de a configuração acima ser válida como "padrão típico", em se tratando de curva ABC, a classificação não deve ter como regra rígida ser composta por três classes. Dessa forma, uma análise ABC deve obrigatoriamente refletir a dificuldade de controle de um item e o impacto deste item sobre os custos e a rentabilidade, o que de certa maneira pode variar de empresa para empresa. Deve-se, ainda, ter em mente que, apesar de a análise ABC ser usualmente ilustrada por meio do valor de consumo anual, 113 este é apenas um dos muitos critérios que pode afetar a classificação de um item. Os principais fatores que afetam a importância de um item e que podem ser utilizados como critérios qualificadores numa análise ABC são: o custo unitário; os cuidados de armazenagem para um item; os custos de falta de material e as mudanças de engenharia (projeto). Em várias empresas, uma análise ABC é preparada freqüentemente para determinar o método mais econômico para controlar itens de estoque, pois, por meio dela, torna-se possível reconhecer que nem todos os itens estocados merecem a mesma atenção por parte da administração ou precisam manter a mesma disponibilidade para satisfazer os clientes. Assim, conduzir uma análise ABC é, com freqüência, um passo muito útil no projeto de um programa de ação para melhorar a performance dos estoques, reduzindo tanto o capital investido em estoques como os custos operacionais. Dentro do critério ABC, podem-se estabelecer níveis de serviços diferenciados para as diversas classes, por exemplo: 99% para itens A, 95% para itens B e 85% para itens C, de forma a reduzir o capital empregado em estoques, ou podem-se usar métodos diferentes para controlar o estoque e, assim, minimizar o esforço total de gestão. Do exposto acima, decorre que os materiais considerados como classe A merecem um tratamento administrativo preferencial no que diz respeito à aplicação de políticas de controle de estoques, já que o custo adicional para um estudo mais minucioso desses itens é compensado. Em contrapartida, os itens tidos como classe C não justificam a introdução de controles muito precisos, devendo receber tratamento administrativo mais simples. Já os itens que foram classificados como B poderão ser submetidos a um sistema de controle administrativo intermediário entre aqueles classificados como A e C. Tais considerações valem tanto para ambientes em que se busca gerenciar a formação de estoques por demanda dependente — por exemplo: modelos como MRP e Kanban, como para ambientes em que se gerencie a formação de estoques por demanda independente — por exemplo: modelos como ponto de pedido, reposição periódica ou estoque mínimo. 114 É inegável a utilidade da aplicação do princípio ABC aos mais variados tipos de análise em que se busca priorizar o estabelecimento do que é mais ou menos importante num extenso universo de situações e, por conseqüência, estabelecer-se o que merece mais ou menos atenção por parte da administração, particularmente no que diz respeito às atividades de gestão de estoques. No entanto, a simples aplicação do princípio ABC, sem considerar aspectos diferenciados inerentes aos materiais quanto à sua utilização, aplicação e aquisição, poderá trazer distorções quanto à classificação de importância e estratégias de utilização dos mesmos. Além da classificação ABC, existem também outros critérios ou processos de categorização considerados relevantes para a priorização dos esforços de gerenciamento dos itens em estoque, segundo Gasnier (2002), descritos a seguir. CLASSIFICAÇÃO DE CRITICIDADE (XYZ) Da mesma forma que a classificação ABC, também podemos segmentar os itens em estoque baseado no critério do impacto resultante da falta, agregando mais informações para as rotinas de planejamento, reposição e gerenciamento. Este processo que envolverá um trabalhoso julgamento técnico, considerando a seguinte classificação: Classe X- Ordinário: Item de baixa criticidade, cuja falta naturalmente compromete o atendimento de usuários internos (serviço ou produção) ou externos (clientes finais), mas não implica em maiores conseqüências. Eventualmente, a SKU ordinária pode ser substituída por outro SKU intercambiável. Classe Y- Crítico: Sua falta representa razoável transtorno e custo, sem ser vital. Por exemplo, em um processo produtivo a falta de um item Y não chega a parar a linha, mas retém os produtos inacabados, aguardando sua disponibilidade para despacho e faturamento. Classe Z- Vital: Item cuja falta acarreta conseqüências desastrosas, tais como interrupção dos processos da empresa, podendo comprometer a 115 integridade de equipamentos, o nível de serviço acordado ou segurança operacional, do produto ou processo. Para facilitar a memorização, optamos por designar os itens vitais pela letra Z devido à sua posição no extremo oposto do alfabeto. CLASSIFICAÇÃO DE AQUISIÇÃO (123) Esta classificação diz respeito ao processo de aquisição dos itens em estoque (oferta), incluindo tanto a identificação, qualificação e desenvolvimento de fornecedores como o disparo e atendimento de requisições, em termos do grau de confiabilidade das especificações e prazos. Sua operacionalização requer elaborado julgamento (subjetivo também) dos profissionais envolvidos com o reabastecimento (setor de compras). A seguir vemos os critérios que distinguem cada uma destas categorias. Classe 1- Complexa: Tratam-se dos itens de obtenção muito difícil, pois envolvem diversos fatores complicadores combinados, tais como longos set-ups e lead-times (tempo de resposta, distâncias e variabilidades na oferta e/ou demanda) e riscos quanto a pontualidade, qualidade, fontes alternativas (cartéis) e sazonalidade. Classe 2- Difícil: Envolve alguns poucos fatores complicadores relacionados acima, tornando o processo de obtenção relativamente difícil. Classe 3- Fácil: Fornecimentos ágeis, rápidos e pontuais, com amplas alternativas a disposição no mercado fornecedor. CLASSIFICAÇÃO DE POPULARIDADE (PQR) Segmentamos as SKU em três categorias, baseado no critério de popularidade. A popularidade expressa a freqüência de transações de entregas, recebimentos, devoluções, acessos, coletas, apanhes, faturamentos, despachos ou viagens envolvendo determinada SKU, observadas no período de um ano, conforme proposto a seguir: 116 Classe P- Muito popular: Tratam-se das SKU que apresentam elevada freqüência de movimentação, digamos pelo menos uma transação por dia. Classe Q- Popularidade média: Envolvem as SKU que apresentam uma freqüência intermediária de, digamos, menos do que uma transação por dia, mas pelo menos uma transação por mês. Classe R- Baixa popularidade: Incluem-se nesta categoria as SKU slow moving e no moving, que apresentam - digamos - menos do que uma transação por mês ou por semestre. Baixa movimentação (slow moving): São aqueles itens de baixa popularidade, isto é, que apresentam uma movimentação muito lenta (acumulando poeira), com poucos acessos de recebimentos ou apanhes. Também verificamos itens classificados como "sem movimentação" (no moving), situação em que devemos reavaliar a real necessidade de mantê-los nos estoques da empresa. Uma boa prática consiste em rever periodicamente as movimentações, buscando identificar itens de baixa movimentação. Para esta finalidade, os sistemas tkvem disponibilizar recurso para pesquisas de itens que não apresentaram movimentação em determinado período, digamos seis meses ou um ano. A popularidade diz respeito ao número de transações efetuadas no período, independentemente da quantidade envolvida em cada transação. Caso o período considerado for diferente de 365 dias corridos, é preciso ajustar a medição, anualizando-a para possibilitar comparações. O cuidado que se deve ter ao utilizar este tipo de classificação é o fato de ser comum que algumas pessoas confundam popularidade com giro, apesar de serem conceitos distintos. Também é preciso distinguir o conceito logístico de popularidade em contraste com a terminologia comercial, que entende por produtos populares aqueles de menor preço e, portanto, mais acessíveis. 117 CLASSIFICAÇÃO DE APLICAÇÃO (GUS) Esta classificação trata da aplicação do produto, servindo para orientar políticas de configuração e cobertura dos estoques. Classe G- Geral: São produtos que podem ser requeridos em vários centros de operações ou pontos de consumo. São potenciais candidatos para estratégias de centralização da armazenagem, visando compartilhamento de recursos. Classe U- Única: Envolve produtos que são usados somente em um centro de operações ou ponto de consumo, em vários produtos. Classe S- Específico: São produtos usados exclusivamente em um produto (demanda dependente), e cuja aquisição pode ser programada por pedido individual. Naturalmente, sempre será possível considerar outros critérios além daqueles aqui apresentados, em função daquilo que é mais relevante para cada análise e tratamento. Podemos classificar os itens de diversas outras maneiras, entre as quais destacamos algumas: volume ocupado [m3], peso [Kgs], localização, consumo, tipo de demanda, saldo (movimentações), em estoque, natureza valor química, imobilizado, cuidados momento especiais de de transporte movimentação, armazenagem e controle entre outras, mas as classificações ou processos de categorização dos critérios considerados relevantes para a priorização dos esforços de gerenciamento dos itens em estoque, resumem-se em: Classificação Ponto de vista contemplado ABC Classificação de valores consumidos Acionista (econômico) XYZ Classificação de criticidade Cliente 123 Fornecedor Classificação de aquisição PQR Classificação de popularidade Processo operacional GUS Classificação de aplicação Alocação (posicionamento) 118 EFEITO CHICOTE O efeito chicote é um fenômeno importante no estudo das cadeias de distribuição porque tem conseqüências sobre a eficiência do fluxo de materiais nas cadeias de suprimento. Ele descreve a tendência geral de como uma pequena alteração na demanda do consumidor final pode ser amplificada no sistema de produção e distribuição, ao longo da cadeia de suprimentos. O efeito é o resultado da distorção da informação na cadeia de suprimentos, em que empresas mais a montante não possuem a informação da demanda real do consumidor final. Conseqüentemente, seus pedidos são baseados nos pedidos realizados pelas empresas mais a jusante da cadeia, ou mais próximas do consumidor final. Segundo FORRESTER (1961), as causas do efeito chicote podem ser reduzidas a dois tipos de atrasos: 1) atraso da transferência de informação da demanda e 2) atraso na transferência física de produtos na cadeia de suprimentos. “O efeito de chicoteamento foi verificado em muitos e diferentes mercados” (LEE et al., 1997). Para MCCULLEN & TOWILL (2002), o efeito chicote refere-se à amplificação do pedido do consumidor final, em que a demanda de suprimento e as entregas físicas à montante excedem a quantidade original pedida pelo mesmo. O período de tempo entre picos e vales sucessivos de demanda são predicativos suficientes para se criar uma ilusão de sazonalidade. O fenômeno da amplificação da demanda foi documentado primeiro por FORRESTER, em 1961, nos Estados Unidos, e, em seguida, por BURBIDGE, em 1985, no Reino Unido. Propostas de solução para se reduzir o efeito chicote também foram realizadas por FORRESTER (baseado em um modelo de sistema de produção/distribuição envolvendo o estoque do varejista, do distribuidor e da indústria, chamado DYNAMO) e por BURBIDGE (baseado na observação do chão de fábrica e análise de engenharia industrial). Nos últimos anos, as idéias de ambos têm sido estendidas e refinadas, sendo bem aplicadas com sucesso em várias cadeias de suprimento, em diferentes cenários, reduzindo-se o efeito chicote (MCCULLEN & TOWILL, 2002). 119 Passados mais de quarenta anos, esse fenômeno pode ser observado em inúmeras cadeias de suprimentos regionais, nacionais e internacionais. Soluções para o efeito chicote estão disponíveis para empresas que desejam reduzir custos e melhorar o nível de serviço ao cliente. Em um contexto experimental de gerenciamento de estoque, STERMAN (1989), citado por LEE et al. (1997), relata a evidência do efeito de chicoteamento por meio do “Jogo da Cerveja”. O experimento envolve uma cadeia de suprimentos com quatro elos que tomam decisões independentes sobre estoque sem consultar os outros membros da cadeia, tendo apenas, como referência e fonte de informação, os pedidos realizados pelo elo a jusante. O experimento mostra que a amplificação da variação de um pedido aumenta à medida que se caminha mais a montante da cadeia, ou que se distancia da demanda do consumidor final, confirmando o efeito de chicoteamento. O fenômeno foi interpretado como sendo uma conseqüência do comportamento irracional sistemático dos membros da cadeia. As conseqüências do efeito chicote são: 1) oscilações do estoque; 2) estoque adicional para se assegurar da incerteza da variação da demanda; 3) flutuações desnecessárias no nível de produção e entrega; 4) dificuldade de disponibilização do produto. Se os custos de produção e distribuição são relacionados linearmente com os níveis de atividade, então o custo total do efeito de chicoteamento, tendo como base um sistema de custo padrão, deveria ser a soma do custo de estoque relacionado ao efeito e a margem de lucro perdida devido à baixa disponibilidade do produto (MCCULLEN & TOWILL, 2002). Segundo o mesmo, o efeito chicote não é um problema novo, é um novo nome dado para se descrever um problema muito bem conhecido, extenso e caro no mundo real da cadeia de suprimentos, além de viajar em longas distâncias e, algumas vezes, levar um bom tempo para ser identificado. Possui três dimensões que envolvem: o suprimento (como o seu aumento é observado); o tempo (quanto tempo para amplificar?); a geografia (qual a distância do fornecedor?). A globalização da cadeia de suprimentos leva a um aumento da demora e das distâncias das entregas, e, conseqüentemente, do efeito de chicoteamento, obscurecendo as suas causas. 120 Os obstáculos de conhecimento do efeito chicote estão sendo lentamente eliminados. As ferramentas existentes podem ser agrupadas em quatro princípios de controle do fluxo, demonstrados em um estudo de caso realizado por MCCULLEN & TOWILL (2002) em uma empresa pertencente a uma cadeia de suprimentos global: a) seleção de um sistema de controle que contribui para a dinâmica de desempenho da cadeia de suprimentos; b) diminuição do tempo de processamento de informação e material; c) fornecimento de informação operacional de alta integridade na cadeia de suprimentos; d) eliminação da redundância de elos e interfaces na cadeia onde quer que ocorra. A Tabela 2 apresenta o efeito chicote, descrito por FORRESTER, mediante um exemplo que não inclui período de defasagem entre a ocorrência da demanda, em uma determinada parte da rede de suprimentos, e sua transmissão para seu fornecedor. As premissas do exemplo são: 1) o total disponível para a venda em qualquer período (estoque final) é igual ao total requerido no período (demanda); 2) o estoque inicial mais a produção são iguais à demanda mais o estoque final ou duas vezes a demanda (de acordo com item 1, o estoque final deve ser igual à demanda). Cada produto acabado é composto por um componente do fornecedor. Tabela 2 Flutuações da demanda ao longo da cadeia de suprimentos, devido a uma alteração na demanda do consumidor final. Fonte: Adaptado de DORNIER,1999. 121 A última coluna da tabela 2 indica a demanda do consumidor final; as demais colunas, a produção e os estoques dos elos participantes da cadeia de suprimentos do exemplo. Uma variação de dez unidades na demanda do consumidor final gerou uma variação de vinte unidades no pedido realizado do supermercado para a indústria. Essa variação de vinte unidades gerou uma variação de quarenta unidades na taxa de produção e no pedido realizado da indústria para o fornecedor, variando a demanda de sessenta a cem. Por fim, o fornecedor, que é o elo mais a montante, variou a sua taxa de produção durante os cinco meses de 20 a 140 unidades. A Figura 16, a seguir, mostra um exemplo do efeito chicote: 122 Figura 16 Exemplo de efeito chicote. Fonte: SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI, E. Designing and Managing the Supply Chain: Concepts,Strategies, and Case Studies. Boston: McGraw-Hill, 2000. 321p. Adaptado de DORNIER, 1999. 123 LEE et al. (1997) sugerem práticas que ataquem o efeito chicote em cada uma das causas apontadas por eles: Processamento das variações na demanda — a distorção da demanda surge devido à falta de visibilidade que os fornecedores e fabricantes têm do real consumo de seus produtos. Uma forma de reduzir esse aspecto é compartilhando as informações de consumo com as empresas que atuam na cadeia de distribuição. Mesmo assim, as diferentes metodologias de previsão que são utilizadas entre as empresas vão manter o efeito chicote. “Para eliminar o efeito chicote, podemos antever um único membro da cadeia realizando as atividades de previsão e compras para as outras empresas” (LEE et al., 1997:556). LEE et al. (1997) apontam ainda práticas como VMI (estoque gerenciado pelo fornecedor) e CRP (programas de reposição automática) como vetores que atuam no sentido da redução do efeito chicote. A eliminação de etapas na cadeia de distribuição e a redução dos tempos de ressuprimento também podem ser usadas na redução do efeito chicote. Racionamento (compras de prevenção à falta) — em situações em que há falta de produtos, a tendência é que as empresas peçam quantidades maiores do que sua real necessidade. Nesse caso, a alocação da quantidade disponível para entrega pode ser feita de acordo com a participação histórica de mercado de cada cliente, e não segundo seus pedidos feitos no período de falta. O mesmo ocorre quando uma empresa procura protegerse contra uma possível falta. Nesse caso, a fim de evitar pedidos distorcidos, o fabricante deve compartilhar informações de estoque e produção. Formação de lotes de compra e de produção — as causas para a utilização dos lotes são os custos fixos de pedido, produção e transporte e a utilização de ‘períodos de revisão dos estoques’ sem que o fabricante tenha informações sobre o consumo de seu produto. Dessa forma, o combate ao efeito chicote se dá pela redução dos custos fixos de pedido, 124 por exemplo, a utilização dos sistemas automáticos de reposição sem a necessidade da emissão de pedidos por papel. Quanto à revisão periódica, seu efeito pode ser diminuído com a disponibilização da informação de consumo ao longo da cadeia de distribuição. Variações de preço — as distorções no fluxo de materiais causadas pelas estratégias de variações no preço devem ser evitadas com a utilização de outras políticas comerciais, por exemplo, a política de preço baixo todo dia. Outra alternativa é a desvinculação contratual entre a compra e a entrega dos produtos. Assim, uma grande compra para obtenção de descontos pode ser dividida em várias entregas em períodos futuros. Os resultados obtidos nas pesquisas sobre a redução do efeito chicote podem ser classificados em três tipos de iniciativas (vide Tabela 3): a) a alteração do processo físico de produção, armazenagem e transporte dos materiais; b) o compartilhamento de informações para o planejamento em cada etapa da cadeia logística; c) o controle dos efeitos das políticas comerciais para que não induzam o fluxo da cadeia ao efeito chicote. Tabela 3 Indicações para redução do efeito chicote. Melhoria do processo logístico Compartilhamento de informações Redução do efeito de políticas comerciais Forrester (1961) Lee et al. (1997) Agilização do tratamento dos Formação de lotes de compra pedidos e de produção Melhora na qualidade dos Processamento das variações dados na demanda Ajuste dos estoques Variações de preço Racionamento Simchi-Levi et al. (2000) Redução do tempo de ressuprimento Formação de parcerias estratégicas Redução da incerteza Redução da variabilidade Fonte: DIAS, George P.P., YOSHIZAKI, Hugo T.Y. Gestão dos estoques numa cadeia de distribuição com sistema de reposição automática e ambiente colaborativo. Escola Politécnica da USP – Departamento de Engenharia de Produção, 2001. 125 POR QUE REDUZIR OS NÍVEIS DE ESTOQUE Os estoques podem ter múltiplas funções, porém o seu excesso pode trazer resultados indesejáveis para a empresa. SHINGO (1996:52) comenta que: Inicialmente pensava-se que somente três fatores poderiam gerar lucro nas atividades de produção: (1) custos mais baixos de matéria-prima, (2) custos mais baixos de mão-de-obra e (3) custos indiretos mais baixos. Mas um fator extremamente importante para gerar lucro foi deixado de lado: (4) maior taxa de giro de capital, ou seja, aumentar lucros via redução de estoques. Os riscos de manter estoques são: — obsolescência resultante das mudanças ocorridas nos modelos em termos de estilo ou novas tecnologias; — danos aos produtos que podem ocorrer durante o manuseio e transporte das mercadorias; — furtos ou perdas de mercadorias; — deterioração que pode ser por apodrecimento, ou dissipação na armazenagem, ou por ter data de validade limitada. Existe uma tendência crescente nas empresas pela busca da maior disponibilidade de produto (ao cliente final) com o menor nível de estoque total. Vários são os fatores que influenciam os tipos de políticas e estratégias que estão sendo adotadas: a) número de itens (SKU), tornando mais complexa e trabalhosa a contínua gestão dos pontos de pedido e níveis de estoque; b) alto custo do capital, devido às altíssimas taxas de juros no Brasil, tem tornado a propriedade (manutenção) dos estoques cada vez mais onerosos; c) foco financeiro na redução do Capital Circulante Líquido, como uma das formas de maximizar seus indicadores de Valor Adicionado pelo Mercado. Outros fatores têm influenciado a gestão de estoques na cadeia de suprimentos no sentido de aumentar a eficiência com a qual as empresas operam os processos de movimentação de materiais. Quando se aumenta a eficiência nesses processos, reduzem-se os custos unitários de movimentação de materiais, permitindo operar com 126 tamanhos de lotes de ressuprimento menores, sem afetar a disponibilidade de produto desejada pelos clientes. Podemos destacar três fatores que têm contribuído fortemente para a redução dos custos unitários de movimentação de materiais, envolvendo as atividades de processamento de pedidos, armazenagem e transporte: 1) construção de parcerias entre empresas na cadeia de suprimentos; 2) aparecimento dos operadores logísticos; 3) introdução de novas tecnologias de automação (informação) na captação e troca de dados entre os componentes da cadeia logística. Mesmo com a constante melhoria operacional pela qual as empresas de classe mundial têm passado, com reduções significativas nos custos de estoque, os mesmos continuam sendo críticos em muitas dessas organizações. Os gestores das atividades de Supply Chain freqüentemente se deparam com a necessidade de reduzir estoques, sem afetar o nível de serviço, tarefa que parece ser impossível pelo fato de contrariar o ensinamento base da logística versus os trade-offs entre o nível de serviço e os custos das atividades. Dessa forma, o estoque se destaca como sendo um item chave para a redução de custos, não só por sua relevância dentro do custo total frente à margem das empresas, mas também, e principalmente, pelo valor imobilizado na conta do ativo o que afeta diretamente o retorno sobre o capital dos acionistas. Segundo GASNIER (2002), naturalmente existem boas razões para mantermos e para reduzirmos os estoques, por um lado, o desejo de reduzir os estoques e, por outro, a necessidade de mantê-los (figura 17): Figura 17 Dilema de manter ou reduzir os estoques. Fonte: GASNIER, D. G. A dinâmica dos estoques, 2002. 127 Essa situação é conhecida como um dilema ou “trade-off”, isto é, uma encruzilhada em que, ao optarmos por um caminho, temos que abrir mão das vantagens do outro caminho. Essas são as decisões diárias que cabem aos gestores de materiais, enquanto procuram executar sua desafiadora missão. Para efetivamente administrar esse dilema, é necessário dispor de instrumentos gerenciais, que demonstrem os acertos e desvios de nossas decisões e ações. 128 Capítulo 4 129 Capítulo 4 Evolução do Relacionamento Cliente-Fornecedor São cada vez mais numerosas as empresas a acordar para o fato de que as alianças vão ter a importância primordial no futuro. As alianças estão a evoluir tão depressa, que ninguém pode mais fazer tudo sozinho. James Houghton. O cliente é a razão de ser das empresas, porém a cadeia produtiva é formada por uma seqüência de fornecedores e clientes. Quanto melhor for o relacionamento entre eles, maiores chances de as organizações obterem sucesso. Toda a cadeia de fornecimento pode ser vista como uma corrente, cujos elos interligados devem operar sinergicamente para fornecer um produto ou serviço que satisfaça o seu cliente imediato. Se um desses elos falhar, toda a cadeia será comprometida. Essa aproximação entre clientes e fornecedores produz, em muitos casos, uma dependência mútua importante em torno do interesse das organizações (ALVAREZ & QUEIROZ; 2003). Nesse sentido, conforme REICHHELD (2000), os fornecedores que não buscam a lealdade dos clientes abalam sua proposta de valor e arriscam o futuro. Segundo TUCKER (2001), a descontinuidade de um empreendimento pode ser causada pela insistência de um fornecedor em manter posturas totalmente ultrapassadas de relacionamento com os clientes dos produtos e serviços ofertados. Muitas empresas já começam a entender que o papel dos fornecedores dentro da logística moderna é o de parceiros operacionais. Esse conceito exige um relacionamento aberto que compreende desde o desenvolvimento conjunto de produtos até contratos de fornecimento com preços, qualidade e prazos sujeitos à administração mútua, visando à conservação do mercado pela contínua satisfação do cliente. Dessa 130 forma, observamos uma evolução do relacionamento cliente-fornecedor que anteriormente era priorizada apenas pela questão do preço, em que o Cliente sempre desconfiava do fornecedor. Assim sendo, não havia uma relação de parceria. Com o passar dos tempos e devido à necessidade empreendida pelos novos cenários econômicos, observamos que a relação baseada unicamente na questão do preço foi dando lugar a um relacionamento mais duradouro em que se buscava uma confiança recíproca. Algumas empresas já conseguem uma integração operacional em que clientes e fornecedores fazem investimentos conjuntos em prol da melhoria do serviço prestado. O estágio mais avançado dessa relação cliente-fornecedor é alcançado quando se consegue uma integração estratégica em que existe um envolvimento de ambos nos processos de desenvolvimento de produtos e processos, fornecimentos sincronizados e qualidade assegurada (MEIRIM, 2004). Para efeito de estabelecimento de metas em termos de fortalecimento da relação cliente-fornecedor, DSND Consub S/A e SEBRAE/Rio de Janeiro tomaram por base o modelo de Martin Christopher (CHRISTOPHER, 1997), articulado em quatro níveis de desenvolvimento, tendo uma visão da evolução do relacionamento em termos mais globais. Tabela 1 Modelo articulado em níveis de desenvolvimento PRIMEIRO NÍVEL ABORDAGEM CONVENCIONAL SEGUNDO NÍVEL MELHORIA DA QUALIDADE TERCEIRO NÍVEL INTEGRAÇÃO OPERACIONAL QUARTO NÍVEL INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Slogan: “Compramos pelo melhor preço.” Slogan: “Fazer a qualidade junto aos Fornecedores.” Slogan: “O processo produtivo começa na casa do fornecedor.” Slogan: “Fazer negócios juntos.” Fonte: GIL, Fernando L. et al. Gestão da cadeia de suprimentos como fonte de vantagem competitiva – um estudo de caso do setor off shore localizado na cidade de Niterói, 1998. Um desdobramento dos níveis de evolução no fortalecimento da relação clientefornecedor e suas respectivas abordagens pode ser visto e comparado a seguir: 131 Primeiro Nível (abordagem convencional) — prioridade aos preços e abordagem/relacionamento entre adversários em contraposição de interesses baseado em relações de força; — avaliação de fornecedores quanto a preços e garantia (entregas, qualidade); — inspeção de recebimento (100 % dos lotes) baseada nas amostragens estatísticas; — certificados formais e Controle por inspeção dos fornecedores. Segundo Nível (melhoria da qualidade) — prioridade à Qualidade e Início de relacionamento a longo prazo; — redução do número de fornecedores; — início da autocertificação de fornecedores; — compra de sistemas e não de componentes (com o controle por parte dos projetistas). — início de fornecimento JIT. Terceiro Nível (integração operacional) — controle dos processos dos fornecedores e dos processos globais; — avaliação de fornecedores levando em conta a aptidão dos processos; — alguns investimentos comuns em Pesquisa & Desenvolvimento; — programas de melhoramento com os fornecedores; — ampliação do Just-in-time/início de fornecimentos sincronizados; — sistemas de garantia da qualidade. 132 Quarto Nível (integração estratégica) — gerenciamento comum dos procedimentos de negócios; — avaliação global dos fornecedores (tecnológica e estratégica); — feedback do mercado transmitido diretamente ao fornecedor; — parcerias nos negócios com alguns dos fornecedores mais importantes; — feedback do mercado em tempo real com diagnósticos diretos do campo; — ampliação dos fornecimentos sincronizados; — acordos sobre estratégias e políticas em nível máximo; — sistemas de garantia de qualidade globais (integrados). O relacionamento com o cliente no futuro será muito mais complexo do que o é no presente, pois as companhias deverão não apenas satisfazer os clientes como também terão de gerar evidências para comprovação da satisfação de seus clientes. A corrida pelas conquistas de padrões da qualidade será e está sendo modificada. Conforme as novas normas da série ISO 9000, as empresas têm o seu procedimento apenas aceitos na versão 2000, com exigências de validação dos procedimentos e comprovação de melhoria contínua. A monitoração freqüente dos fornecedores é uma das principais ferramentas para a busca dessa melhoria contínua. Do lado dos fornecedores, as normas ISO 9000:2000 introduzem a exigência da medição da satisfação dos clientes com a intenção de orientar os esforços de melhoria da organização. Com essa visão, os fornecedores estarão naturalmente melhor qualificados junto aos seus clientes para o fornecimento, por meio de evidências que comprovem a satisfação de seus clientes (ALVAREZ & QUEIROZ; 2003). KOTLER (2000) menciona que a agilidade será um fator preponderante para a sobrevivência das organizações, quando afirma que, nos anos 80, as empresas eram cuidadosas com os seus novos produtos; nos anos 90, elas tinham menos tempo para cuidar dos novos produtos e por isso apontavam e atiravam com rapidez; nos anos 2000, as empresas atiram sem apontar e depois vão ver o que podem aprender com 133 suas novidades. Hoje, os movimentos têm de ser rápidos e ágeis. Com isso KOTLER (2000), também considera que os relacionamentos entre as empresas e seus fornecedores serão afetados, forçando-os a buscar a criação de valor junto aos seus clientes. “Serão consultores e irão ajudar os clientes a administrar melhor as empresas que dirigem” (KOTLER, 1997). MODELOS DE RELACIONAMENTO 1. O modelo de Juran O objetivo principal de um estreitamento das relações com fornecedores é criar um relacionamento que garanta que o produto satisfaça às necessidades de adequação ao uso com um mínimo de inspeção de recebimento e ação corretiva. (JURAN, 1992). Segundo JURAN (1992), existe uma série de atividades para relacionamento cliente-fornecedor que deve ser seguida: planejamento pré-contrato; avaliação da aptidão do fornecedor; seleção do fornecedor; custo total de uma compra; planejamento conjunto; cooperação com o fornecedor durante a execução de contrato. A Figura 1 mostra esquematicamente as definições a serem estabelecidas na planta do cliente para que este modelo possa ser implantado. 134 Figura 1 Definições a serem estabelecidas para que o modelo possa ser implantado. Fonte: JURAN J.M, (1992) Planejando a Qualidade, São Paulo, pioneira, p. 168-180. Dentro das definições esquematizadas, cabe salientar a respeito dos critérios para orientar decisões de compra, a importância relativa dos parâmetros: qualidade, preço e prazos de entrega devem ser estabelecidos de modo a orientar compras quanto à escolha dos fornecedores, garantindo assim adequação ao uso. 2. O modelo de Merli “COMAKERSHIP” A relação fornecedor-cliente, segundo MERLI (1990), é considerada como um fator prioritário na estratégia industrial. Falar de estratégia empresarial significa falar de “vantagens competitivas”, isto é, um dos elementos que garantem ou podem garantir o sucesso de uma empresa no mercado. O modelo de Merli está configurado 135 pela evolução dos relacionamentos operacionais entre clientes e fornecedores de uma cadeia industrial decorrente de dois tipos de contribuições: abordagem estratégicofilosófica e fruto de evoluções práticas. O modelo é apresentado pela seguinte lógica: evolução cultural/organizacional e as políticas de referência; os relacionamentos operacionais; a avaliação de fornecedores; a administração da qualidade; a logística; o marketing de compra. Para resolver os problemas de qualidade do “Just-in-time” da elaboração de projeto, sob o ponto de vista de suprimentos, MERLI (1990) apresenta uma forma de buscar o desenvolvimento do fornecedor pela análise de sua classe operacional. Ele afirma que o fornecedor pode se situar em três faixas de referência que variam em função do grau de desenvolvimento da relação entre o fornecedor e a empresa cliente, conforme Quadro 1: Quadro 1 Faixas de referência do fornecedor Classe III Fornecedor “normal” Classe II Fornecedor “integrado” Classe l Fornecedor “comaker” (Comakership “parceria nos negócios”) Fonte: MERLI, G. The new strategy for manufactures, 1990. 136 Figura 2 Modelo Comakership ESTABELECER E APROVAR POLITICA DE REFERÊNCIA ESTUDAR/PLANEJAR E INICIAR AÇÕES RELATIVAS A MARKENTING DE COMPRA ESTUDAR/PLANEJAR E CARACTERIZAR FORNECIMENTOS, CONSIDERANDO ASPECTOS FORMALIZAR METODOLOGIAS DE: MARKENTIG DE COMPRA LOGÍSTICA DE ACORDO COM A DISPONIBILIDADE E IMPORTÂNCIA CLASSIFICAR CADA ITEM DE AQUISIÇÃO ESTABELECER CRITÉRIOS FORNECEDOR X NÍVEL OPERACIONAL DESEJADO DESCREVER CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO, CERTIFICAÇÃO E DESCLASSIFICAÇÃO CONJUNTO DE CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS Fonte: MERLI, G. The new strategy for manufactures, 1990. A Figura 2 apresentou esquematicamente as definições internas a serem estabelecidas pelo cliente, para poder atender ao modelo. Foi mostrada a interpretação dos pontos lógicos do modelo de Merli, de forma seqüencial e inter-relacionada. O Modelo de Merli está caracterizado pelas seguintes atividades no relacionamento fornecedor cliente: classe operacional exigida; realizar avaliação; desenvolvimento de fornecedores; certificação. 137 3. Modelo Híbrido O modelo Híbrido do Petrus é uma compilação e reestruturação dos modelos acima descritos, utilizando as ferramentas de formação dos modelos. Foi desenvolvido com o objetivo de unir a simplicidade do modelo de Juran com a abrangência do modelo de Merli, segundo PETRUS (1994) enfoca e descreve de forma detalhada o desenvolvimento de fornecedores com a qualidade assegurada, existe uma série de atividades que auxilia na integração de fornecedores e clientes que são detalhadas a seguir: índice de desempenho; inspeção por amostra; relacionamento; seleção de fornecedores; planejamento da certificação; pré-auditoria; ações corretivas e qualidade assegurada aprovada. O modelo é mostrado segundo sua definição interna em vários tópicos no Quadro 2: Quadro 2 Modelo de Petrus Políticas de relacionamento Fornecedores atuais Marketing de compra Importância x disponibilidade Avaliação da logística Importância x fornecedores Forma de avaliação Documentos e procedimentos Fonte: PETRUS, Claudia Souto. Diagnóstico da qualidade, utilização de ferramentas estatísticas e modelo de relacionamento com fornecedores em uma indústria cerâmica. Dissertação UFSC, 1994. 138 4. Considerações dos modelos MERLI (1990) descreve com detalhes a evolução em curso no relacionamento cliente-fornecedor, define as motivações estratégicas que dão sustentação a essa lógica de relacionamento e coloca, com muita propriedade, a vantagem competitiva associada ao relacionamento entre cliente e fornecedor. Apesar de o modelo de JURAN (1992) também evidenciar a não adequação da forma tradicional de relacionamento cliente-fornecedor, Merli apresenta o assunto com maior abrangência. Os dois modelos têm viabilidade de aplicação prática e encerram conceitos e filosofias, que podem alavancar a organização usuária para uma situação competitiva e estratégica melhor. Já o modelo Híbrido mostra-se mai simples, oferece maior facilidade, entendimento e aplicação. PETRUS (1994), buscou associar a abrangência do modelo de Merli à relativa simplicidade de Juran. A aplicação prática dos conceitos envolvidos nos modelos estudados somente tem aumentado as suas chances de sucesso, se a organização que os utilize, pratique as lógicas de qualidade total, Just-in-Time e garantia da qualidade. 139 Capítulo 5 140 Capítulo 5 Desejos dos Clientes e a Gestão de Estoques Quando se menciona a palavra “cliente”, deve-se sempre explorá-la no sentido mais amplo. O cliente pode estar presente em diversas formas, como: usuário, hóspede, consumidor, paciente, comprador, etc. De acordo com JURAN (1995:9), os clientes podem ser distinguidos satisfatoriamente em dois grupos: clientes internos e clientes externos. Os clientes internos podem ser definidos como aqueles que pertencem à mesma organização. Toda organização possui muitos clientes internos, inclusive alguns departamentos são clientes de outros departamentos internos. Os clientes externos não pertencem à organização ou são usuários de seus produtos, direta ou indiretamente. Um usuário final compra os produtos ou serviços com o objetivo de consumo. 5.1 Requisitos dos Clientes Cada vez mais, faz-se necessário identificar, analisar e avaliar os requisitos e necessidades dos clientes. Os requisitos dos clientes podem estar relacionados com a efetividade nas entregas, adequação ao custo, e nível de qualidade. Uma forma de monitorá-los é estabelecer indicadores referentes aos requisitos. Conforme OKLAND (1994:20), alguns questionamentos podem ser conduzidos para o estabelecimento dos requisitos, como: ▪ Quem são meus clientes imediatos? ▪ Quais são seus verdadeiros requisitos? ▪ Como posso identificar esses requisitos? 141 ▪ Como posso medir minha capacidade de atendê-los? ▪ Será que disponho da necessária capacidade para atendê-los? (Em caso negativo, o que deve ser mudado para melhorar?). ▪ Será que estou, continuamente, atendendo aos requisitos? (Em caso negativo, o que me faz falhar nesse cumprimento, se a capacidade existe?). ▪ 5.2 Como controlo as mudanças nos requisitos? Necessidades dos Clientes As pessoas manifestam preferências por determinados bens e serviços. Devem-se entender bem os conceitos de necessidade, desejos e demanda para compreender melhor os clientes. Conforme KOTLER (1993:33), tais conceitos podem ser definidos como: ▪ necessidade humana: é o estado de privação de alguma satisfação básica; ▪ desejos: são vontades para a satisfação específica das necessidades mais profundas; ▪ demanda: são desejos de produtos específicos apoiados na habilidade e vontade de comprá-los. O atendimento às necessidades dos clientes é determinante para a retenção e captação de clientes. Segundo MIRSHAWKA (1993:48), a satisfação do cliente pode ser explicada como sendo um estado em que as necessidades dos clientes, seus desejos e suas expectativas são atendidos ou excedidos. Para um bom entendimento das necessidades dos clientes, devem ser consideradas outras variáveis, que não estão diretamente relacionadas com o produto ou serviço. Deve-se pesquisar além das necessidades formuladas pelos clientes com o objetivo de descobrir as necessidades não mencionadas e, também, considerar os aspectos regionais e culturais “As necessidades dos clientes incluem as necessidades 142 culturais, que raramente são formuladas abertamente”. (JURAN, 1995:68). Nesse sentido, é que a ferramenta QFD pode suportar no processo de obtenção, de maneira estruturada e clara, as reais necessidades dos clientes. Outro item que merece atenção é a comunicação, pois nem sempre o cliente expressa sua necessidade de forma clara e transparente. O ideal é descobrir as dimensões qualitativas que o cliente deseja expressar, e tem dificuldade de fazê-lo. Os desejos e necessidades dos clientes devem ser traduzidos para a nossa linguagem, a fim de garantir uma comunicação efetiva "As necessidades do cliente, expressas na linguagem do cliente, são muitas vezes difíceis de ser entendidas devido à terminologia imprecisa e aos nossos dialetos”. (JURAN, 1995:80) ALBRECHT (1998:105) declara que o cliente deve sempre receber um "pacote de valor" que é uma combinação de tangíveis, intangíveis, experiências e resultados projetados para conquistar a sua aprovação e assegurar o direito de sobreviver e prosperar no mercado. Devem-se compreender as necessidades básicas, os instintos, as situações de vida, os problemas e as motivações de compras dos clientes que podem ser realizadas de duas maneiras; — pesquisa de mercado, pela qual se deve investigar a estrutura e a dinâmica do mercado de atuação; — pesquisa da percepção do cliente, por meio da qual se deve compreender as expectativas, os pensamentos e os sentimentos dos clientes, focando a análise das necessidades e prioridades dos mesmos. O autor sustenta que, para uma boa percepção de valor para o cliente, é preciso conhecer os fatores mais valorizados por ele e descobrir as oportunidades inexploradas para adicionar valor à experiência do mesmo. Para tanto, o autor defende uma "hierarquia de valor para o cliente", composta de quatro níveis: 1. básico: atributos absolutamente essenciais da experiência, tangíveis ou intangíveis, sem os quais é inútil tentar fazer negócio. Exemplo: o carro deve estar adequadamente montado, acabado e preparado para ser entregue; 143 2. esperados: atributos associados da experiência que o cliente se acostumou a considerar como fazendo parte da prática geral de negócio. Exemplo: alguém deve explicar as características do carro; 3. desejados: atributos que os clientes não esperam necessariamente, mas os conhecem e apreciam se a experiência os incluir. Exemplo: alguém dá sugestões úteis a respeito dos cuidados com o carro; 4. inesperados: atributos "surpresa", que adicionam valor para o cliente, além dos seus desejos ou expectativas normais. Exemplo: o vendedor entrega o carro na casa do cliente, ou em seu escritório. Peter F. Drucker afirma que existe somente uma definição válida para uma proposta de negócio — desenvolver clientes. Drucker reforça, ainda, que um negócio é uma organização que adiciona valor e riqueza: o valor é criado pelo cliente e a riqueza é gerada pelos donos da organização. "As pessoas de finanças dizem que negócio é fazer dinheiro, porém na realidade negócio é fazer produtos para os clientes. O dinheiro é resultado de produtos com valores entregues para os clientes dispostos a comprar” DRUCKER (apud WATSON 2002:55). 5.3 Expectativas dos Clientes Se identificadas corretamente, as expectativas dos clientes podem ser utilizadas como fontes muito valorosas de informação para a organização. De acordo com SUSSAN e JOHNSON (1997:162), a alta gerência deve estar totalmente comprometida com a filosofia de procurar identificar e exceder as expectativas e necessidades do cliente, criando uma visão acompanhada por um intensivo “feedback”, assegurando a garantia da qualidade no processo. Segundo os autores, este é o início da qualidade. As experiências esperadas no uso dos produtos ou serviços adquiridos pelo cliente são a base das expectativas dos clientes, portanto, a conformidade entre essas 144 expectativas no ato da compra e o desempenho do produto ou serviço é que proporcionam ou não a satisfação do cliente. As expectativas dos clientes são formadas pelas informações recebidas por familiares, amigos, meios de comunicação, vendedores, etc. Muitas vezes, os vendedores proporcionam aos clientes falsas expectativas que podem proporcionar insatisfações. “O hiato entre as expectativas e o desempenho é a maior causa da insatisfação dos consumidores” KOTLER (1993:236). 5.4 Satisfação dos Clientes Segundo BARNES (2002:59), a satisfação do cliente é definida como a conformidade com as expectativas dos clientes com relação à situação de compra e ao desempenho e o consumo do produto ou serviço. Por tal motivo, torna-se indispensável atuar na área de projeto, procedendo, junto aos clientes ao estudo sistemático de suas necessidades acarretando um estreitamento de contato com eles. A satisfação ou insatisfação do cliente depende da experiência adquirida, após a compra de um produto ou serviço. No caso da insatisfação, o cliente poderá detectar defeito e agir de formas diferentes, tais como: não aceitar o produto defeituoso ou ficar indiferente ao defeito. KOTLER (1993:237) arrola um conjunto de alternativas que o cliente tem, que podem ser vistas nas Figura 1, quando ele fica insatisfeito com os produtos ou serviços da organização. 145 Figura 1 Manifestação da insatisfação pelo consumidor. Fonte: KOTLER, Philip; Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle, 1993. Por outro lado, no caso da satisfação do cliente, KOTLER (1993:236) afirma que existe uma função íntima entre as expectativas em relação ao produto ou serviço e o desempenho percebido do mesmo. De acordo com KIRKBY et. al (2003:6), deve-se ressaltar a importância, para o gerenciamento, da experiência do cliente (CEM), em que essa experiência é o condutor fundamental de valor e a maior influência no comportamento de compras futuras. Uma boa experiência do cliente encoraja a lealdade, enquanto a má experiência do cliente pode colocar o relacionamento em risco, resultando na redução da carteira de clientes da organização. Os autores mencionam também que é difícil o projeto de entrega de uma boa experiência do cliente, sem antes discutir os requisitos culturais e organizacionais da organização. KIRKBY, et al. acrescentam ainda um estudo de caso que ilustra as perdas potenciais de uma organização por não atender às expectativas dos clientes. Segundo SWADDLING e MILLER (2002:62), nos últimos anos as organizações têm mensurado a satisfação dos clientes. Entretanto somente alguns gerentes, relacionados com o gerenciamento estratégico das organizações, são hábeis ao conduzir a mensuração da satisfação do cliente. Na maioria das vezes, quando novas informações ou perspectivas são levantadas pelos programas de medição, geralmente são ignoradas pela alta administração. É fundamental para a organização a definição 146 correta das necessidades do cliente, a partir do próprio. Se considerarmos como exemplo um comprador de veículo, pode-se imaginar que o cliente tem como necessidade: alto desempenho, livre de defeito, seguro barato e estilo atraente e que, portanto, no momento da elaboração do projeto, deveriam ser levadas em conta essas necessidades do cliente com o objetivo de satisfazê-lo. Na busca da satisfação dos clientes, deve-se considerar a condição de ouvir a voz do cliente, entender e exceder suas necessidades, desejos e expectativas, proporcionando a sua fidelidade, sua retenção e seu entusiasmo. Para HERRMANN, HUBER e BRAUNSTEIN (2000:79), o cliente satisfeito pode pagar mais pelo produto ou serviço com bom desempenho. Os autores declaram ainda que a satisfação dos clientes pode ser relacionada com o desenvolvimento dos produtos baseados na metodologia do QFD. 5.5 O Impacto da Complexidade Segundo BOVET e THIAGARAJAN (2000:122), “muitos dos projetos de Cadeias de Abastecimento atuais não atendem às necessidades dos clientes”, especialmente os de alto valor para a empresa. Relata que um dos motivos para essa situação é a crescente complexidade do atendimento à demanda. O aumento da concorrência tem gerado uma explosão de diferenciação de produtos e uma proliferação de canais de distribuição, aumentando a complexidade e os custos da cadeia de abastecimento, como indicado na Figura 2. 147 Figura 2 A complexidade de produto e canal e os desafios da cadeia de abastecimento. Fonte: Adaptado de BOVET, D. M. e THIAGARAJAN, S., 2000, p. 124. O desafio inicial que existe, nessas condições, é classificar adequadamente os clientes segundo o seu valor para a empresa e estabelecer uma política de preços compatível com a segmentação resultante. Os outros desafios são os da Figura 3: Figura 3 Outros desafios do aumento da complexidade de produto e canal. Desenvolver formas de gerenciar uma ampla gama de combinações de produtos e serviços Adaptar todo o pacote de produtos e serviços para atender às necessidades do cliente Reagir às mudanças de necessidades dos clientes de forma contínua Gerenciar o custo do serviço nesse ambiente complexo Fonte: Adaptado de BOVET, D. M. e THIAGARAJAN, S., 2000, p.124 148 Segundo BOVET e THIAGARAJAN (2000), além do aumento da complexidade, a forma de pensar dos executivos das empresas, têm dificultado o projeto de cadeias de abastecimento adequadas às novas exigências. Isso constitui uma barreira para se obter as mudanças necessárias. Essa forma de pensar envolve: a. perspectiva: a cadeia é vista normalmente apenas como um centro de custos. Os gerentes ainda não conseguem tratar o problema em função das necessidades dos clientes; b. papel: o projeto dos serviços não é tratado com o mesmo grau de importância e prioridade quanto o projeto dos produtos. Apesar da realização de pesquisas de mercado, estas são geralmente voltadas para a determinação das características do produto e não ligadas aos processos e serviços da Cadeia de Abastecimento; c. organização: apesar dos progressos que têm se verificado na integração de funções, continuam a existir silos, prejudicando a eficácia da cadeia de abastecimento. Há, por exemplo, muito pouca integração entre marketing e logística (ou gerenciamento de cadeias de abastecimento); d. medição: o sucesso da cadeia é geralmente medido muito mais em função dos orçamentos. O serviço ao consumidor é acompanhado apenas em níveis básicos, como a média de disponibilidade de produtos e média de tempo de produção. A falta de indicadores adequados impede uma realimentação do processo de melhoria do projeto da cadeia de abastecimento. As empresas que adotam as melhores práticas estão superando a maneira tradicional de pensar e aprendendo a utilizar o projeto da cadeia de abastecimento como uma ferramenta imprescindível para valorizar adequadamente cada segmento de mercado. 149 Orientar a cadeia de abastecimento em função dos clientes permite obter vantagens competitivas, adicionando valor e desenvolvendo relações mais lucrativas com o cliente. Essa orientação visa ir além da diferenciação de produtos, proporcionando uma estratégica diferenciação de serviços. BOVET e THIAGARAJAN (2000) recomendam uma metodologia desenvolvida pela Mercer Management Consulting, especializada em estratégias de cadeias de abastecimento, eficiência de transportes e logística internacional, para auxiliar gerentes a desenvolver cadeias de abastecimento voltadas para o cliente. A abordagem recomendada consiste na adoção de um programa de melhoria em quatro etapas, apresentadas na Figura 4. Figura 4 Modelo de logística voltada ao cliente. Fonte: BOVET, David M. e THIAGARAJAN, Sridhar, 2000, p. 126. 150 Etapa 1 — Compreender as necessidades dos clientes As diferenças de necessidades dos clientes são fontes de vantagem competitiva. Por esse motivo, compreender tais necessidades e agrupá-las adequadamente permite que se estabeleça uma segmentação, que será a referência para a orientação da cadeia de abastecimento. Existem muitos métodos que podem ser eficientes na identificação das necessidades dos clientes. Vão desde os mais simples, como pesquisas para levantar os requisitos mais facilmente identificáveis, até métodos avançados de pesquisa, desenvolvidos por empresas especializadas. Entrevistas, por exemplo, podem ajudar a esclarecer certas suposições, alguns requisitos emergentes ou necessidades não normalmente expressas, também, podem certificar o que os clientes não querem ou não podem aceitar. Essas pesquisas, quando incorporadas aos programas da empresa, permitem avaliar com uma certa precisão as necessidades dos clientes e desenvolver uma sensibilidade para possíveis respostas a eventuais novas ofertas de serviços. Etapa 2 — Compreender a fase do ciclo de vida dos clientes Para que as empresas possam obter a melhor lucratividade com a base de clientes atual e prever a lucratividade potencial futura é importante que compreendam as diferenças de valor que existem entre os clientes ou grupos de clientes. Esta condição é crítica para o desenvolvimento das Cadeias de Abastecimento em função da segmentação de mercado que se pode estabelecer com base nestas diferenças. O estudo da lucratividade dos clientes envolve a aplicação de uma metodologia para determinação do ciclo de vida dos clientes. As empresas que utilizam esta metodologia avaliam os lucros potenciais futuros através de custo baseado em atividade (ABC ou Activity Based Costing). Esta etapa é crítica para se compreender a dinâmica da alteração do valor dos clientes ao longo do tempo, fornecendo às empresas as informações necessárias para que orientem suas Cadeias de Abastecimento de acordo com esta dinâmica. 151 Etapa 3 — Desenvolver pacotes de serviço voltados para os clientes Compreendidas as necessidades dos clientes e seus potenciais de lucro, podese projetar os níveis de serviços a serem oferecidos. A determinação desses níveis será função do valor do cliente e das necessidades logísticas para atendê-lo, podendo-se agrupá-los em quatro categorias diferentes, conforme ilustrado na Figura 5. Figura 5 Determinação dos níveis de serviço. Fonte: BOVET, David M. e THIAGARAJAN, Sridhar, 2000, p. 127. Enquadrados os clientes nas quatro categorias principais, pode-se continuar a segmentá-los de acordo com suas particularidades, ou necessidades específicas. Os clientes de alto valor, por exemplo, podem ser divididos em três subgrupos, em função do tempo de entrega, tipos de embalagem e taxa de atendimento de pedidos de compra. Pode-se, então, definir as ofertas de serviços adequados a cada grupo, com base no equilíbrio entre o valor do cliente e o custo de servi-lo nas condições oferecidas. O resultado dessa etapa é um quadro perfeitamente definido de grupos de clientes relacionados a pacotes de serviços específicos. O processo, no entanto, é dinâmico, 152 necessitando ser reavaliado periodicamente em função das mudanças das necessidades dos clientes e dos custos dos serviços. Etapa 4 — Alinhar toda a Cadeia de Abastecimento à estratégia A etapa final é desenvolver a cadeia de abastecimento com flexibilidade suficiente para reagir rapidamente às mudanças, permitindo dedicar uma maior atenção aos clientes de valor, sem deixar de atender a todos os outros de acordo com os níveis de serviço oferecidos. Como o equilíbrio entre os níveis de serviço e as receitas já foram considerados anteriormente, o alinhamento da cadeia de abastecimento à estratégia traçada automaticamente conduzirá ao melhor resultado possível, obtendo-se o benefício de cativar os melhores clientes e dar atenção àqueles que possam garantir resultados futuros. No ambiente competitivo atual, em que a diferenciação de produtos é cada vez mais cara e arriscada, a diferenciação de níveis de serviço constitui uma estratégia mais segura para se obter vantagens competitivas, e é capaz de produzir melhores resultados a longo prazo. 5.6 Nível de Serviço O requerimento dos anos 90 por produtos que se sobressaíam em relação aos dos concorrentes leva à renovação ou fabricação imediata de um produto personalizado para um cliente específico (BOLWIJN & KUMPE, 1990). O Quadro 1 a seguir mostra as tendências e as exigências como desafios a serem considerados pela empresa e, particularmente, pela função manufatura. 153 Quadro 1 Fontes de mudança e requerimentos para manufatura/marketing. Fontes de mundança concorrência global Tendências do mercado curto ciclo de vida do mercado avanços tecnológicos Exigências do cliente baixo preço Desafios para manufatura e marketing mudança contínua de produtos produto de qualidade concorrência baseada mudança nas exigências no tempo do cliente crescente segmentação organização do trabalho do mercado aumento da demanda por maior confiabilidade do produto terceirização ou subcontratos variedade de escolha elevada freqüência de mudança nos produtos entrega rápida e confiável curtos lead times do consumidor personalização do produto elevada variedade de produtos serviço antes, durante e após a venda incerteza na demanda Fonte: ALTAMIRANO, A.V., 1999. Segundo SLATER & NARVER (1994), uma cultura empresarial orientada para o mercado fornece a base para o desenvolvimento das competências agregadoras de valor para atingir uma vantagem competitiva. Isso significa desenvolver habilidades que permitam entregar um valor superior aos clientes: satisfação e serviço ao cliente, qualidade orientada para o cliente, inovação e desenvolvimento de novos produtos e reduzir a distância entre cliente e empresa. Nesse sentido, para SLATER & NARVER (1994), os componentes dessa abordagem permitem à empresa uma visão a longo prazo, impulsionando o lucro. O primeiro componente é o foco no cliente, que significa criar valor superior entendendo e conhecendo qual é e como evoluirá a cadeia de valor dos consumidores. O segundo componente é o foco sobre o concorrente, requer a identificação a curto prazo dos pontos fortes e fracos dos concorrentes e, a longo prazo, de suas estratégias. O terceiro 154 componente é uma coordenação entre funções. Implica a coordenação do pessoal, dos processos e dos outros recursos da empresa para criar valor para os clientes. Entre as preocupações com a forma de satisfazer o cliente, de vencer a concorrência e de resolver os problemas internos, a prioridade é o cliente. Isso implica a empresa manter-se atualizada quanto às exigências dos consumidores, que estão modificando-se rapidamente (CONTADOR, 1995b). Uma abordagem de produto e serviço para o cliente é proposta por CHASE & GARVIN (1989), em que a empresa, além de oferecer uma variedade de produtos a um baixo preço e alta qualidade, teria uma política de portas abertas oferecendo transparência para os clientes, quanto aos processos de desenvolvimento de produto, fabricação etc., e assistência técnica após a venda, como uma forma de se diferenciar dos concorrentes. Para PRAHALAD & HAMEL (1990), a longo prazo, a competitividade deriva da construção das competências essenciais, produzindo produtos para uso imediato a menor custo e em menor tempo do que a concorrência. A tarefa crítica do gerenciamento será criar uma organização capaz de oferecer produtos com características de desempenho atrativas para os clientes. As fontes de vantagem competitiva real estão na capacidade de gestão para consolidar tecnologias e habilidades em competências essenciais que estimulem as funções de negócio a se adaptem às mudanças de oportunidades. Os autores definem as competências essenciais como o conhecimento da empresa em coordenar várias habilidades da empresa, como: harmonizar os fluxos de tecnologia, integrar a organização do trabalho e entrega de valor para o cliente. A competência essencial é a comunicação, o envolvimento e o compromisso para trabalhar sem os limites organizacionais formais, envolvendo todos os níveis de pessoas e funções. 155 O IMPACTO NOS ESTOQUES LIMA (2000), na sua visão gerencial do custo total e seus conflitos, ressalta as dificuldades para o novo gerente em conseguir o balanceamento dos custos individuais de uma empresa: Um dos principais desafios da logística moderna é conseguir gerenciar a relação entre custo e nível de serviço (trade-off). O maior obstáculo é que cada vez mais os usuários estão exigindo melhores níveis de serviço, mas ao mesmo tempo não estão dispostos a pagar mais por isto. Conforme podemos ver na Figura 6 o nível de estoque é um dos elementos de transação presentes nos quesitos de atendimento ao cliente: Figura 6 Elementos de serviços ao cliente. Fonte: Adaptado de STERN, Louis W. et.all, 1996, p 153. A estratégia logística, discutida por COPACINO (1997), aborda diretamente o tema, ou seja, envolve o sistema que a empresa deve manter para oferecer determinado nível de serviço e objetivo de custo que o sistema deve encontrar. Devido aos tradeoffs entre custo e nível de serviço, a empresa deve determinar o desempenho logístico desejado (o ponto C, na Figura 7). Obviamente, envolve objetivos estratégicos, principalmente estratégias de marketing e necessidades de serviço ao cliente e, também, a posição de custo-serviço dos concorrentes da empresa. 156 Figura 7 Curva do trade-off custo-serviço target. Alto Fonte: Adaptado de COPACINO, 1997. O serviço ao cliente pode ser visto de várias formas, conforme LALONDE et al. (2000) incluem: 1) uma atividade ou função gerenciada, tal como processamento de pedidos ou manuseio das reclamações dos clientes; 2) performance real sobre parâmetros particulares, tais como a habilidade de enviar pedidos completos para 98% dos pedidos recebidos dentro de 24 horas; 3) parte de uma filosofia geral corporativa. Na filosofia, a empresa deve formalizar e instituir várias medidas de desempenho. Níveis de serviço ao cliente — segundo LAWRENCE (1999), o nível de serviço ao cliente é definido como a taxa de cumprimento. Um pedido é considerado bem sucedido se for cumprido 100%, e um fracasso se somente cumprido parcialmente ou devolvido. A percepção do cliente é o que conta, no que se refere ao nível de serviço, entretanto, se o cliente percebe um cumprimento parcial como uma falha, então, a companhia deve fazer o mesmo. O referido autor discute a necessidade de utilização 157 do estoque para atender determinados níveis de serviço ao cliente. Propõe vários métodos de cálculo, incluindo modelos matemáticos. A idéia geral pode ser vista na Figura 8: Figura 8 O loop logístico Fonte: LAWRENCE, F. B., 1999. Discutir ou decidir um nível de serviço único para os clientes pode ser uma tarefa difícil de ser realizada e raramente obteremos uma equação que minimize os estoques e ofereçam um nível de serviço equalizado ao mercado. Segundo TAYLOR (2005), o procedimento-padrão é definir um nível de disponibilidade do produto, denominada nível de serviço ao cliente (customer service level — CSL) e, em seguida, ajustar o estoque de segurança para que alcance esse nível. É claro que CSL’s mais altos são melhores, mas defini-los em números altos demais pode tornar-se extremamente dispendioso, pois o estoque de segurança sobe exponencialmente com o nível de serviço. A figura 9 mostra a rápida elevação do estoque de segurança necessário para atingir altos índices de atendimento do produto. No caso específico desse produto, o simples aumento do índice de atendimento em meio ponto, de 97,5% para 98%, exige a manutenção de quase três vezes o estoque de segurança. É um preço 158 alto a pagar por uma melhoria tão ínfima, considerando os altos custos da manutenção dos estoques. Estoque de segurança necessário Figura 9 Níveis necessários de estoque de segurança. 800 600 400 200 0 97,5 98,0 98,5 99,0 99,5 100 Índice de atendimento do produto (%) Figura 1 – Níveis necessários de estoque de segurança Fonte: TAYLOR, D. A., 2005. Sabendo que o aumento resulta em rápida redução dos retornos no nível de serviço, como se deve proceder na escolha do nível correto? O ideal seria utilizar uma fórmula semelhante à quantidade econômica do pedido (economic order quantity — EOQ) para que você descobrisse o nível em que o custo de manutenção de estoque adicional compensasse o custo da escassez. Mas como calcular o custo de uma escassez? Se um cliente se dispõe a aceitar um pedido em atraso, o custo é a despesa do pedido em atraso. Se ele recorre a um outro fornecedor para essa compra específica, o custo é a perda de receita pela perda da venda. Se ele recorre a outro fornecedor e nunca mais o procura, o custo é a perda de receita por todas as vendas futuras que deixarão de ocorrer por perda desse cliente. Poucas empresas têm um bom controle das probabilidades de ocorrência de todos esses resultados, muito menos um método preciso de estimar a receita perdida das vendas futuras. O mais simples seria definir 159 uma meta de nível de serviço em algum ponto na cada dos 90 e ajustar os estoques de segurança. A Figura 10 nos mostra o dilema da gestão de materiais: Figura 10 Dilema da gestão de materiais. Fonte: GASNIER, Danier G., 2002. 5.7 Estratégias de Produção PIRES (2004) apresenta quatro definições de estratégia de produção: A. produção para estoque (MTS — Make-to-Stock): essa estratégia é caracterizada pela produção de bens com base em previsão de demanda (forecast). As vendas são atendidas a partir de estoques pré-existentes de produtos não customizados. A estratégia MTS tem como principais vantagens a possibilidade de explorar economia de escala, o baixo custo da produção e a rapidez na entrega do produto; porém existem desvantagens como alto custo de estoque e a impossibilidade de oferecer uma ampla variedade de produtos. A opção por essa estratégia dificulta, portanto, o atendimento de pedidos customizado; B. montagem sob encomenda (ATO — Assemble-to-Order): essa estratégia é caracterizada pela manutenção de estoques de subconjuntos, componentes e materiais diversos até o recebimento do pedido do cliente contendo as 160 especificações do produto final. Embora estas sejam selecionadas pelo cliente, as possibilidades de influenciar no projeto do produto são muito limitadas. A customização pode ser operacionalizada com sucesso organizando os processos produtivos conforme a lógica do sistema ATO; C. produção sob encomenda (MTO — Make-to-Order): a alternativa do MTO caracteriza-se pela interação do cliente com o produto, isto é, o cliente pode participar no desenvolvimento do projeto básico. Essa estratégia permite à empresa oferecer um maior grau de customização ao cliente, quando comparada à estratégia ATO. Outra vantagem é a possibilidade de diminuição drástica dos estoques. Entretanto uma desvantagem dessa estratégia está no fato de requerer um tempo mais longo para o atendimento de um pedido. Os clientes, contudo, desejam a entrega de produtos customizados em prazos cada vez menores; D. engenharia sob encomenda (ETO — Engineering-to-Order): é uma extensão do MTO, em que o projeto do produto é elaborado com grande interação com o cliente. É a melhor opção em termos de customização, pois oferece ao cliente mais liberdade de escolha. Todavia é uma estratégia muito complexa que se justifica somente quando há necessidade de específicos projetos como a construção de uma casa, fabricação de máquinas especiais, elaboração de móveis customizados, entre outros. Apesar de ser a estratégia que oferece o maior grau de customização, essa estratégia é incompatível com os custos e prazos menores requeridos pela customização em massa. Para GUNASEKARAN e NGAI (2004), a estratégia Build-to-Forecast é semelhante à estratégia MTO. Da mesma forma, CHEN, LU, YU et al (2003) observam que a estratégia Build-to-Forecast (BTF) é semelhante à estratégia MTS. Com o intuito de evitar a falta de clareza que diferentes definições causam, no presente trabalho, optou-se por adotar os termos BTO e BTF referindo-se respectivamente às 161 estratégias MTO e MTS. A Tabela 1 apresenta as principais diferenças entre as estratégias BTF e BTO. Tabela 1 Diferenças entre as estratégias BTF e BTO Fonte: GUNASEKARAN e NGAI, 2004. A Figura 11 apresenta o posicionamento do Decoupling Point conforme o tipo da estratégia de produção: Figura 11 Posicionamento do DP conforme o tipo da estratégia de produção. Fonte: Adaptado de ALFNES e STRANDHAGEN, 2000. 162 Capítulo 6 163 Capítulo 6 Análise e Discussão Analisar as exigências de nível de serviço de clientes individuais ajuda a empresa a identificar oportunidades de maior economia em sua cadeia de suprimentos. Muitas empresas estabelecem um alto padrão de nível de serviço e aplicam esse padrão globalmente, porém oferecer um nível de serviço superior ao que os clientes realmente precisam pode ser um desperdício se considerarmos as enormes despesas associadas à manutenção de altos níveis de serviço. Uma estratégia mais lucrativa seria variar o nível de serviço de acordo com as necessidades individuais dos clientes, eliminando o desperdício do 'excesso de atendimento' aos clientes com poucas exigências e, ao mesmo tempo, evitando, também, oferecer um serviço insatisfatório a clientes extremamente exigentes (Figura 1). Figura 1 Definindo o nível de serviço ao cliente. Fonte: TAYLOR A. D., Logística na cadeia de suprimentos, 2005. 164 Se a intenção da empresa é ser reconhecida pela excelência nos serviços, provavelmente manterá seu nível de serviço no intervalo superior da zona satisfatória, como vemos na ilustração, mas, se a competição se baseia principalmente em preço, então o intervalo de 'serviço adequado' ajudará a manter os custos baixos. Baseando-se nessa lógica, iremos, assim, simular o que acontece com os níveis dos estoques de segurança de uma empresa em duas situações propostas: 1) considerando um nível único de serviço ao cliente para todos os produtos/ mercados alvos (consumo e profissional); 2) considerando níveis de serviços específicos para cada um dos segmentos nos quais a empresa atua (consumo e profissional). Após a verificação desses resultados, poderemos concluir se e como as necessidades específicas de cada cliente, aqui representados pelos dois canais de atuação da empresa, afetam a gestão dos estoques. Para efetuar o cálculo das duas situações propostas, efeito didático e prático, iremos assumir algumas premissas básicas: a) modelo de estoque de segurança em que o consumo (a venda) é variável ao longo do tempo, e o tempo de atendimento (a reposição do estoque) é constante; consideramos, nesse caso, tratar-se de uma empresa com uma linha de produção que entrega ao estoque as principais famílias de produtos a serem ilustradas, sempre no tempo; b) a demanda durante o período de atendimento se aproxima de uma distribuição normal, tendo a média D e o desvio padrão σD; c) temos, como produtos da empresa disponíveis para venda, um total de dez sku’s (itens), sendo 7 destes destinados ao mercado de consumo (grandes redes de varejo) e 3 destes destinados ao mercado profissional, ou seja, projetos, distribuidores e concorrência pública; 165 d) o nível de atendimento (serviço) a ser definido pela empresa será baseado na Tabela 1, proposta por ARNOLD (1999). Encontramos na mesma os diversos níveis de atendimento a serem escolhidos e os respectivos fatores de segurança a serem utilizados para o cálculo do estoque de segurança requerido; Tabela 1 Fatores de segurança. Fonte: ARNOLD, T. J.R . Administração de materiais, 1999. e) a equação que será utilizada para o cálculo dos estoques de segurança é a seguinte: ES = Zá x σD x TA Onde: Zá – o nível de atendimento (serviço) σD – desvio padrão da distribuição da demanda durante o tempo de atendimento TA – tempo de atendimento 166 Na primeira situação, Quadro 1, a empresa define um nível de serviço igual para todos os seus produtos, independentemente de quais sejam as variáveis de demanda, desvio padrão, tempo de atendimento e, principalmente, mercado alvo: Quadro 1 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço único (desperdício). Mercado Consumo Mercado Profissional Sku's Custo unitário ($) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12,00 11,00 9,00 16,00 18,00 13,00 15,00 21,00 25,00 20,00 TOTAL Demanda (venda pçs) 700,0 250,0 300,0 450,0 500,0 800,0 150,0 70,0 110,0 90,0 Desvio Tempo de padrão atendimento (pçs) (dias) 60,0 80,0 10,0 45,0 70,0 90,0 5,0 15,0 8,0 3,0 12 8 6 7 4 7 10 14 21 16 Estoque de Estoque de segurança segurança (pçs) ($) Nível de Serviço desejado(% ) 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 95,00 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3.420,0 342,9 373,4 40,4 196,4 231,0 392,9 26,1 92,6 60,5 19,8 4.115,35 4.106,88 363,75 3.143,15 4.158,00 5.107,62 391,33 1.944,73 1.512,25 396,00 1.776,0 25.239,06 Fonte: Elaborado pelo autor. Os resultados indicam que a empresa, para manter esse nível de serviço genérico de 95% de atendimento, deve manter um estoque de segurança de 1.776 peças entre todos os produtos, conseqüentemente um valor de estoque de $ 25.239,06. Isso significa que, a cada 1000 peças vendidas, 50 peças irão faltar. Nesse caso, a empresa pode incorrer em um erro, como discutimos no início deste capítulo, estabelecendo um nível único de serviço para todos os seus produtos e, em função disso, definindo seus níveis de estoque de segurança para atender os mesmos. Essa situação, gera um nível excessivo de estoques, acarretando custos adicionais em todos os aspectos referentes aos custos do estoque, tais como, armazenagem, financeiros, movimentação, administração, sem que, efetivamente, o cliente reconheça ou necessite desse nível. Nesse caso, poder-se-ia dizer que a empresa estaria atuando na “zona de desperdício”, conforme visto na Figura 1. 167 Antes de desenvolvermos a segunda análise com os resultados do estoque de segurança em função do nível de serviço, devemos justificar o porquê de classificarmos dado nível de serviço como excelente. Numa pesquisa de desempenho na indústria brasileira realizada pelo IMAM, obteve-se um ranking de nível de serviço em 16 principais setores da economia, conforme Figura 2. Figura 2 Ranking de nível de serviço. Fonte: GASNIER, Danier Georges, A Dinâmica dos Estoques, 2002, p.186. Analisando a Figura 2, nota-se que entre os dezesseis setores pesquisados, se tomarmos os dez melhores em termos de desempenho em nível de serviço, teremos um resultado médio de nível de serviço de, aproximadamente, 91,6%. Por outro lado, se tomarmos a amostra total dos dezesseis setores analisados, esse nível de serviço cai para, aproximadamente, 83%. Com base nesses resultados e admitindo que os dezesseis setores pesquisados são relevantes para uma conclusiva em termos de representatividade do nível de serviço na indústria brasileira, estamos considerando uma faixa de nível de serviço adequado a partir dos 83% e um nível de serviço excelente até 91,6%. Dessa forma, valores de nível de serviço que estiverem abaixo de 83% serão considerados “insatisfatórios” e os que estiverem acima de 91,6% serão considerados ”desperdício”, conforme visto na Figura 1. 168 Numa segunda análise, fizemos o mesmo quadro para cálculo de estoque de segurança, porém, agora, em um nível de serviço único dentro de uma faixa que denominamos “excelente”. Conforme explicado anteriormente, consideramos como nível de serviço excelente valores que não excedam 91,6%. Assim, para esta segunda análise, um nível de serviço único foi definido em 90%. A seguir o Quadro 2 com os resultados: Quadro 2 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço único excelente. Mercado Consumo Mercado Profissional Sku's Custo unitário ($) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12,00 11,00 9,00 16,00 18,00 13,00 15,00 21,00 25,00 20,00 TOTAL Demanda (venda pçs) 700,0 250,0 300,0 450,0 500,0 800,0 150,0 70,0 110,0 90,0 3.420,0 Desvio Tempo de padrão atendimento (pçs) (dias) 60,0 80,0 10,0 45,0 70,0 90,0 5,0 15,0 8,0 3,0 12 8 6 7 4 7 10 14 21 16 Nível de Serviço desejado(% ) 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 Estoque de Estoque de segurança segurança (pçs) ($) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 266,0 289,6 31,4 152,4 179,2 304,8 20,2 71,8 46,9 15,4 3.192,52 3.185,94 282,18 2.438,32 3.225,60 3.962,28 303,58 1.508,64 1.173,14 307,20 1.377,8 19.579,39 Fonte: elaborado pelo autor. Os resultados, nesse caso, indicam que a empresa, para manter este nível de serviço genérico de 90% de atendimento, ou seja, um nível excelente de serviço, deve conservar um estoque de segurança de 1.338 peças entre todos os produtos, conseqüentemente um valor de estoque de $ 19.579,39. Podemos notar que, com esse nível de serviço, o número requerido de peças para o estoque de segurança reduziu-se em 398 peças. Tal redução levou a empresa a economizar, em termos de capital investido em estoque, $ 5.659,67, ou seja, uma redução em valor da ordem de 22%. Isso significa que, realmente, podemos obter uma redução dos níveis de estoque quando definimos níveis de serviços compatíveis com a realidade do mercado. 169 Nossa análise poderia parar por aqui, simplesmente a empresa admitiria que, por exemplo, esse último nível de serviço definido (90%) seria a base para o estabelecimento do nível de estoque de segurança. No entanto, poderíamos ainda assim nos perguntar: o nível de 90% de serviço ao cliente é um nível excelente, será adequado?, não poderíamos definir um nível ótimo de serviço ao cliente que maximizasse suas necessidades minimizando nossos investimentos em estoques? É dessa questão que nasce o fundamento do trabalho no sentido de levantar as reais necessidades dos clientes/mercados e, dessa forma, definir o que seria o nível adequado de serviço ao cliente. A questão básica é como, portanto, obter, de forma clara, organizada e concisa, as necessidades dos clientes. Para isso, sugerimos uma ferramenta estruturada da qualidade, denominada QFD e, por meio da análise destes resultados, a definição clara de metas de níveis de serviço, estabelecendo, assim, níveis de estoque de segurança mais reais perante o requisitado em termos de serviço. Na metodologia QFD, a casa da qualidade (ou matriz da qualidade) não só está presente, como inicia os desdobramentos. Mais importante ainda, essa matriz é a ferramenta básica de projeto do QFD (HAUSER & CLAUSING, 1988). Alguns autores, inclusive, descrevem apenas a casa da qualidade em seus trabalhos, muitas vezes (mas não obrigatoriamente) aplicada e adaptada a situações específicas. A casa da qualidade é obtida pelo cruzamento da tabela dos requisitos do cliente com a tabela das características de qualidade. O quadro 1 compõe a tabela dos requisitos dos clientes. O triângulo 4 e a aba 2 compõem a tabela das características de qualidade. O quadrado 3, interseção das duas tabelas, é denominado “matriz de relações”. O resultado obtido desses cruzamentos é ilustrado na Figura 5 do capítulo 2. A casa da qualidade pode ser definida como a matriz que tem a finalidade de executar o projeto da qualidade, sistematizando as qualidades verdadeiras exigidas pelos clientes por meio de expressões lingüísticas, convertendo-as em características substitutas e mostrando a correlação entre essas características substitutas (características de qualidade) e aquelas qualidades verdadeiras (AKAO, 1996). 170 O processo pode ser claramente visto como o conjunto de três atividades relacionadas: a sistematização das qualidades verdadeiras exigidas pelos clientes; a transformação das qualidades exigidas pelos clientes em características de qualidade; e a identificação das relações entre as qualidades verdadeiras e as características de qualidade. A saída do sistema consiste nas especificações do serviço, ou seja, no conjunto de características do serviço com suas respectivas necessidades projetadas (valores de especificações). Dessa forma, pode-se entender que a tabela dos requisitos dos clientes (horizontal) é a entrada da casa da qualidade e a tabela das características de qualidade (vertical) é a saída do sistema. Para efeito ilustrativo deste estudo, consideramos o uso da matriz da casa da qualidade, levando em conta que os dados iniciais coletados do mercado foram previamente fornecidos, isto é, a “busca de dados dos clientes” (1ª fase). Tais dados foram obtidos por meio de pesquisa solicitadas pela empresa, servindo como base para a montagem da casa da qualidade e para análise posterior de seus resultados (3ª fase). A lista dos “quês”, atributos que os clientes valorizam ou desejam no serviço a ser prestado, captados do mercado, são: disponibilidade de produto; tempo de ciclo do pedido; consistência do prazo; freqüência de entrega; flexibilidade do sistema de distribuição; sistema de informação de apoio; sistema de remediação de falhas; apoio na entrega física; apoio pós-venda. De posse desses atributos, montamos a casa da qualidade para obtermos as correlações das necessidades dos clientes e como atendê-las. Utilizamos como ferramenta de apoio um software versão demo chamado QFD-Capture (figura 3). 171 Figura 3 Casa da qualidade do QFD para as exigências dos clientes. Fonte: elaborado pelo autor por meio da utilização do software QFD-Capture. 172 9 SISTEMA DE REMEDIAÇÃO DE FALHAS APOIO NA ENTREGA FÍSICA 1 1 9 3 9 9 3 APOIO PÓS-VENDA Forte correlação total Forte correlação relacionada ao estoque 45 23 Tempo de resposta para solicitação de emergência 9 9 1 3 9 9 3 9 1 9 3 Rapidez da descarga 3 9 3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE APOIO 3 9 3 9 3 Pontualidade na entrega 9 9 9 9 9 Percentual de variação de preço anual 3 9 1 9 9 Tempo médio para a confirmação do pedido 9 9 3 9 9 9 9 9 Tempo de remediação de falhas FLEXIBILIDADE DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO 9 9 9 3 9 Percentual de falhas no envio de documentos 9 3 9 9 9 3 3 Tempo médio de atraso FREQÜÊNCIA DE ENTREGA 9 Periodicidade das entregas CONSISTÊNCIA DO PRAZO 9 9 9 1 Percentual de entregas com atraso TEMPO DE CICLO DO PEDIDO Tempo entre pedido e recebimento do produto DISPONIBILIDADE DE PRODUTO Percentual de entregas com pendências o que Percentual entregue do total pedido como Percentual da demanda satisfeita na tirada do pedido Figura 4 Análise dos resultados da casa da qualidade. 9 3 9 9 9 3 9 3 51% Fonte: elaborado pelo autor. Analisando a Figura 4, nota-se que os itens com os maiores valores (índices), são os que tratam da disponibilidade de produto, tempo de ciclo do pedido e consistência do prazo. Analisando esses três itens, nota-se com clareza a relação com os estoques, já que, quando se trata de disponibilidade de produtos, significa ter o produto no momento em que o cliente coloca o pedido, ou que solicita a entrega do produto. Nesse caso, ter um nível de estoque ajustado significa atender as necessidades do cliente no momento correto; no tocante ao tempo de ciclo do pedido, novamente temos uma relação direta com os estoques, pois significa que para atendimento dos referidos produtos/mercados, existem tempos compromissados, previamente acordados e, para 173 que isto possa ser cumprido de forma correta, outra vez abordamos a definição de níveis de estoques de segurança ajustados em função dessa necessidade, fazendo com que o pedido do cliente seja atendido dentro do tempo total estabelecido. A consistência no prazo também se relaciona com o gerenciamento dos estoques; nesse caso, garantir que os prazos de entrega sejam sempre os mesmos é praticamente uma resultante de níveis de estoque de segurança bem ajustados e consistentemente disponíveis nos volumes adequados de forma a nunca termos problemas de variabilidade no processo de atendimento. Outra conclusão importante e relevante neste caso é que, conforme demonstrado na parte inferior da matriz da casa da qualidade (Figura 5), o mercado profissional apresenta um valor maior em relação ao peso total ponderado no nível de importância das exigências, indicando que esse segmento apresenta maior exigência em relação ao nível de serviço em comparação com o mercado consumo. Figura 5 Análise do peso ponderado das exigências dos mercados. Importância da exigência Mercado Consumo Mercado Profissional 8 8 9 9 7 9 7 7 8 9 7 9 7 7 8 6 7 6 8 8 9 5 7 7 4 7 8 6 8 9 7 7 9 6 8 8 8 9 6 7 8 8 Peso Ponderado Mercado Consumo Mercado Profissional 64 63 49 63 49 42 64 35 28 48 49 48 72 56 72 81 56 81 56 36 72 35 32 54 63 48 48 56 730 790 Fonte: elaborado pelo autor. Baseando-se, portanto, nessas conclusões, iremos, a seguir, simular uma situação de estoques de segurança com um nível de serviço considerado excelente para o mercado profissional, mais exigente, um nível de serviço adequado para o mercado consumo e analisar seus resultados. 174 Quadro 3 Estoques de segurança resultantes do nível de serviço adequado. Mercado Consumo Mercado Profissional Sku's Custo unitário ($) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12,00 11,00 9,00 16,00 18,00 13,00 15,00 21,00 25,00 20,00 TOTAL Demanda (venda pçs) Desvio padrão (pçs) 700,0 250,0 300,0 450,0 500,0 800,0 150,0 70,0 110,0 90,0 60,0 80,0 10,0 45,0 70,0 90,0 5,0 15,0 8,0 3,0 Tempo de atendimento (dias) Nível de Serviço desejado(%) 12 8 6 7 4 7 10 14 21 16 85,00 85,00 85,00 85,00 85,00 85,00 85,00 90,00 90,00 90,00 3.420,0 Estoque de Estoque de segurança segurança (pçs) ($) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 216,2 235,3 25,5 123,8 145,6 247,6 16,4 71,8 46,9 15,4 2.593,92 2.588,58 229,27 1.981,14 2.620,80 3.219,35 246,66 1.508,64 1.173,14 307,20 1.144,6 16.468,69 Fonte: elaborado pelo autor. Os resultados indicam que trabalhando com um nível de serviço adequado às necessidades do cliente, ou seja, 85% de nível de serviço para o mercado consumo e 90% de nível de serviço para o mercado profissional, ela precisaria manter um estoque de segurança de 1.145 peças entre todos os produtos, conseqüentemente um valor de estoque de $ 16.468,69. Podemos notar que, com esse nível de serviço, o número requerido de peças para estoque de segurança reduziu em 233 peças. Tal redução levou a empresa a economizar em termos de capital investido em estoque $ 3.110,7 ou seja, uma redução em valor da ordem de 16% em relação ao nível de serviço que qualificamos como excelente (90%), mas, se comparado ao nível de serviço inicial, qualificado como desperdício (95%), chega-se a uma redução de capital investido da ordem de 35%. Temos, portanto, uma redução significativa do valor do estoque de segurança, quando definimos níveis de serviço específicos para cada categoria de produto/mercado com base nas reais necessidades dos clientes. Na Figura 6 é apresentado um resumo dos diversos níveis de serviços calculados e os respectivos estoques de segurança necessários para atendê-los: 175 Figura 6 Níveis de serviço versus o nível de estoque de segurança Desperdício Nível de Serviço (%) Excelente Específico Mercado Consumo 95,00 90,00 85,00 Mercado Profissional 95,00 90,00 90,00 TOTAL 25.239,06 19.579,39 -22% 16.468,69 -16% -35% Figura 6: Níveis de serviço versus o nível de estoque de segurança. Fonte: elaborado pelo autor. Fonte: Elaborado pelo autor. 176 Conclusão 177 Conclusão O problema de pesquisa que motivou a realização deste trabalho era saber de que forma as necessidades dos clientes, ou seja, os atributos do processo de atendimento às suas exigências, causam impacto na gestão dos estoques, simplificado neste trabalho pelos estoques de segurança de acordo com as recomendações da atual literatura, na área da gestão de logística. Interessava, também, verificar como a utilização da casa da qualidade do QFD poderia agrupar de forma estruturada as necessidades levantadas e proporcionar respostas técnicas às direções a seguir quanto ao nível de serviço a adotar. Para responder a essas preocupações, neste trabalho, procurou-se desenvolver os conceitos relacionados aos clientes, cadeia de abastecimento, planejamento de produtos e serviços, sistema de medição e gestão dos estoques, a ferramenta do QFD e seus respectivos processos. Também foram analisados alguns indicadores e atributos, apoiados na revisão bibliográfica, que podem promover a satisfação dos clientes. Elaborou-se um quadro conceitual, conforme bibliografia consultada, dos atributos relacionados com a satisfação dos clientes e observou-se que houve forte correlação entre os atributos de satisfação dos clientes relacionados com os estoques e como se deve proceder para atender os mesmos. Nota-se, também, que o nível de exigência de serviços para o mercado profissional é maior do que o nível de exigência para o mercado de consumo, levando à conclusiva de que a empresa deve realmente definir níveis de serviço específicos para cada setor/segmento. Enfatiza-se que a utilização da matriz da casa da qualidade do QFD como ferramenta para captar os atributos da qualidade, além de correlacionar de forma 178 estruturada as necessidades dos clientes e identificar suas correlações com a forma de atingi-los, permite à empresa, posteriormente, transformar esses requisitos de serviços, de acordo com o “know-how” da organização, em características especiais e características de controle para os níveis de serviços a desenvolver. Os atributos aqui estabelecidos podem ser catalogados e validados pela organização e monitorados ao longo do tempo como forma de atualizar as estratégias da empresa em termos de níveis de serviço, perante a evolução dos mercados e clientes. A percepção de que nem todos os clientes são igualmente sensíveis a serviço ressalta a utilidade das políticas de estoque de segurança com base nas expectativas dos clientes. Dessa forma, será possível atuar para melhoria dos níveis de serviço que realmente sejam vistos como diferenciais. Ao mesmo tempo, deve-se perceber que características situacionais de mercado precisam ser levadas em consideração na segmentação para torná-las operacionalmente viáveis. Para usufruir as vantagens da segmentação dos serviços, é preciso que a empresa se estruture de modo a ser capaz de gerenciar a complexidade da adoção de diferentes políticas de estoque, estando sempre atenta às mudanças no mercado, pois estas exigirão readaptações ao longo do tempo. Pontos fortes A metodologia proposta busca a otimização dos níveis de estoque, produto acabado a produto acabado, com o objetivo de maximizar o nível de atendimento a clientes. Com o nível de estoque otimizado por meio da metodologia apresentada neste trabalho, a probabilidade de atender os clientes de acordo com suas exigências específicas aumenta e, por conseqüência, os investimentos requeridos em estoque diminuem. Pontos fracos Existe a necessidade de calcular todos os outros custos envolvidos na gestão dos estoques para se definir exatamente quais serão os percentuais de ganhos obtidos 179 com as diferentes definições de níveis de serviço. Além disso, há um risco de a empresa se concentrar nos cálculos matemáticos que definem os níveis de serviço e esquecer que os processos de movimentação física, armazenagem, separação, carga e transporte, também fazem parte do pacote de valor que deve ser oferecido ao cliente como nível de serviço. O modelo proposto nos indica como se deve trabalhar internamente para definir de forma adequada os níveis dos estoques de segurança, porém não se estende às operações dos depósitos e/ou distribuição física. A figura abaixo ilustra, de forma resumida, todos os custos que afetam o custo logístico total. Podemos notar na Figura 1, portanto, que os custos do estoque são apenas um componente desse custo e que, para uma avaliação mais ampla, dever-se-ia também levar em conta estes outros custos: Figura 1 Composição do custo logístico total em detalhe. Custo material Custo dos impostos Custo da Aquisição Custo Operacional Custo do transporte Custo do Capital Custo de armazenagem Custo de movimentação Custo da Embalagem Capital de Giro em estoque Custo administrativo Custo de obsolescência Custo Logístico Total Custo Financeiro Despesas de Distribuição Despesas administrativas Despesas com transportes Fonte: GASNIER, D. G., A dinâmica dos estoques, 2002, p.139. Mesmo assim, os objetivos foram alcançados, pois as simulações dos cenários dos diferentes tipos de serviço comprovaram, por meio dos resultados numéricos, que excessos de serviço geram custos de manutenção de estoques mais altos do que aqueles que se julgam excelentes ou, finalmente, adequados. A hipótese verdadeira é: níveis de serviços ajustados às necessidades de cada mercado/cliente fornecem os fatores de nível de segurança “ideais” para o cálculo do estoque correto. 180 Sugestões para Trabalhos Futuros Os conhecimentos obtidos através do desenvolvimento desta dissertação podem ser ampliados através da elaboração de novos trabalhos. Eis as sugestões para trabalhos futuros: Desenvolver a aplicação da metodologia proposta, com a definição dos critérios, procedimentos e instruções necessárias, e sua validação através de um estudo de caso, verificando a relação entre o nível de estoques de produtos acabados e a freqüência de entradas e saídas. O objetivo seria observar o impacto do aumento e da diminuição dessa freqüência nos níveis de estoques e no nível de atendimento ao cliente. Uma segunda vertente de análise poderia ser elaborada através de um estudo de caso, analisando qual a influência que o tempo de atendimento total do processo de compra de um produto (desde a colocação do pedido até e a entrega efetiva ao cliente) teria sobre os níveis de estoques de produtos acabados. Poder-se-ia também desenvolver um trabalho com caráter mais técnico, avaliando de forma estatística, quais as principais influências que as situações excepcionais de demanda, como picos de sazonalidade, promoções efetuadas pela empresa e seus concorrentes, desabastecimento estrutural de algum produto, ou até descontinuidade de alguma linha de produto, trariam para as novas exigências dos clientes e sua conseqüente influência nos níveis de serviço exigidos. Elaborar um estudo que apresente a influência da velocidade da troca de informação entre o ponto de consumo e o ponto de estoque de produtos acabados, na acuracidade da previsão da demanda. Recomendações É necessário analisar o impacto deste trabalho na estratégia comercial e financeira da empresa, uma vez que o foco estudado foi apenas logístico. Na estratégia 181 comercial, devem ser analisadas as possibilidades de redução do estoque dos centros de distribuição e a redução de custos relacionados a essas atividades. Como o foco dado ao trabalho foi apenas o do ajuste do nível de serviço em função dos mercados atendidos, recomenda-se, também, o estudo da redução da complexidade do produto, a aplicação do modelo de postergação, com a montagem de alguns opcionais próximo ao momento da entrega do produto, proporcionando uma flexibilidade maior ao cliente. 182 Referências Bibliográficas 183 Referências Bibliográficas ABREU, F.S. “QFD — Desdobramento da Função Qualidade — estruturando a função qualidade”. Revista de Administração de Empresas, v.37, n.2, 1997. ABREU, F. S. QDF — Quality Function Deployment — requisitos organizacionais para aplicação,1997.258 p. Dissertação (Mestre em Administração) FGV/EAESP. São Paulo. AKAO, Y. & OHFUJI, T. Quality Deployment in Japan: the state of the art. MA, Methuen: JSQC 25th Symposium, GOAL/QPC, June 1987b. AKAO, Y. Quality Function Deployment - QFD – Integrating Customer Requirements into Product Design. Edited by Y. Akao, Productive Press, Portland, Oregon, 1990. AKAO, Y. Introdução ao Desdobramento da Qualidade. Belo Horizonte. Fundação Christiano Ottoni, 1996. AKAO, Y. (ed.) Quality Deployment: a series of articles. MA, Methuen: GOAL/QPC, 1987a. ALBERTIN, A. L. Comércio Eletrônico. Modelo, Aspectos e Contribuições de sua aplicação. São Paulo : Atlas, 2000. ALBRECHT, K. Revolução nos serviços: como as empresas podem revolucionar a maneira de tratar seus clientes. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. ALFNES, E., STRANDHAGEN, J. O. “Enterprise Design for Mass Customization: the control model methodology”. International Journal of Logistics, July 1, v3, n2, 2000. ALTAMIRANO, A.V. Metodologia para Integração do Marketing e da Manufatura. Tese. (Doutor em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, julho, 1999. ALVAREZ, M. P.; QUEIROZ, A. A. de. “Aproximações dos Laços de Parcerias entre Fornecedor-Cliente na Cadeia de Suprimentos como Fonte de Competitividade”. XXIII ENEGEP Ouro Preto, MG, Brasil, 22 a 24 de outubro de 2003. AMERICAN SUPPLIER INSTITUTE (ASI). Quality Function Deployment: implementation manual: 3-day workshop. Dearborn, ASI, 1993. AMERICAN SUPPLIER INSTITUTE. Quality Function Deployment: implementation manual for three day workshop. ASI, Dearborn, USA. 1989. ARNOLD, T.J.R. Administração de Materiais. São Paulo: Ed.Atlas, 1999. 184 ASIEDU, Y.; GU, P. “Product Life Cicle Cost Analysis: state of the art review”. International Journal of Production Research, v.36, n.4, 1998. BACELAR, S.R.B., CABEL B, G.M., CARVALHO, M.M. “QFD: Estudo de Caso em uma Empresa Prestadora de Serviços de Apoio à Construção Civil”. CD-ROM. Anais do XXI Enegep – XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, 2001. BALLOU, R. H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo : Editora Atlas, 1993. BARNARD, W. & WALLACE, T. The Innovation Edge. USA: Oliver Wight Publications, 1994. BARNES, J. G. Segredos da Gestão pelo Relacionamento com os Clientes: é tudo uma questão de como você faz com que eles se sintam. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. BASTIDAS, G., NERY, R., CARVALHO, M.M. “Uso do QFD no Setor de Serviços: Avaliação de uma Transportadora Rodoviária de Carga”. CD-ROM. Anais do XXI Enegep – XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, 2001. BERGMAN, B. “On The Use of QFD in Europe”. Proceedings of International Symposium on Quality Function Deployment, JUSE, Tokyo. 1995. BOOZ; ALLEN; HAMILTON. Management of New Products. New York: Booz, Allen e Hamilton, 1968. BORNIA, A.C. Apostila de Custos Industriais. Universidade Federal de Santa Catarina, 2000. BOVET, D. M. e THIAGARAJAN, S. Logística Orientada para o Cliente. Revista HSM Management. São Paulo, nº 18, ano, 3, jan-fev 2000. BOWERSOX, D.J., CLOSS, D.J., Logística Empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Ed. Atlas, 2001. BURBIDGE J. L., Production Planning and Control: A Personal Philosophy — Computers in Industry, Vol. 6, Iss. 6. (1985). CABRAL, P. et al. - “Adding Value to the Packaging Development Guided by QFD”. In: Proceedings of the 5th International Symposium on Quality Function Deployment. Belo Horizonte, MG, ago, 1999. CARNEVALLI, J.A. Estudo Exploratório Tipo Survey sobre o uso do QFD nas 500 maiores Empresas no Brasil. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Faculdade de Engenharia Mecânica e de Produção, Universidade Metodista de Piracicaba, Santa Bárbara d’ Oeste. 2002. CARNEVALLI, J.A.; SASSI, A.C.; MIGUEL, P.A. Cauchick. “Aplicação do QFD no Desenvolvimento de Produtos: levantamento sobre seu uso e perspectivas para pesquisas futuras”. Núcleo de Gestão da Qualidade & Metrologia, Faculdade de Engenharia Mecânica e de Produção, UNIMEP. Gestão & Produção, v.11, n.1, jan.-abr. 2004. 185 CARVALHO, A., CHENG, L. C. “The Use of QFD for Choosing Equipment. Proceedings of the World Innovation and Strategy Conference”. 4th. International Symposium on Quality Function Deployment, University of Western Sidney, Macarthur, Sidney, Australia. 1998. CARVALHO, M. M. de. QFD - Uma Ferramenta de Tomada de Decisão em Projeto. Tese (Doutorado em Engenharia) – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997. CAVANHA FILHO, A.O. Simulador Logístico, 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) — Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. CECIN, S.R., ECHEVESTE, M.E., RIBEIRO, J.L.D. “Desdobramento da Qualidade em Serviços: uma aplicação no setor de Shopping Centers”. CD-ROM. Anais do 3º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto, Florianópolis, 2001. CHASE, R.B.; GARVIN, D. A. “The Service Factory”. Harvard Business Review, July/August 1989. CHECKLE, P. B. Systems Thinking, Systems Practice. Wiley, Chichester, 1981. CHEN, R.S., LU, K.Y., YU, S.C., TZENG, H.W., CHANG, C.C. “A Case Study in the Design of BTO/CTO Shop Floor Control System”. Information & Management, 41 25-37, 2003. CHENG, L.C., SKAPIN, C.A., OLIVEIRA, A., KRACETUSKI, E., DRUMOND, F.B., BOAN, F.S., PRATES, L.R. e VILEILLA, R.M. QFD – Planejamento da Qualidade. Belo Horizonte: Editora Líttera Maciel Ltda, 1995. CHING, H.Y. Gestão de Estoques na Cadeia de Logística Integrada – Supply Chain. 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2006. CHING, H.Y. Gestão de Estoques na Cadeia de Logística Integrada – Supply Chain. São Paulo: 2 Atlas, 1999. CHING, H.Y. Gestão de Estoques na Cadeia de Logística Integrada. São Paulo: Atlas, 2001. CHRISTOPHER, M. O Marketing da Logística: otimizando processos para aproximar fornecedores e clientes. Trad. de Nota Assessoria. São Paulo: Futura, 1999 CHRISTOPHER, M. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. São Paulo: Pioneira, 1997. CLAUSING, D. (1994). Total Quality Development: a step-by-step guide to world-class concurrent engineering. New York: ASME (ASME press series on international advances in design productivity). CLAUSING, D.; PUGH, S. “Enhanced Quality Function Deployment”. In: Design and Productivity International Conference. Honolulu, 1991. Proceedings…Honolulu, DPIC, 1991. CLAUSING, D.; HAUSER, J. R.. “The House of Quality”. Harvard Business Review, v. 66, n. 3, p. 63-73. may-june 1988. 186 COHEN, L. Quality Function Deployment – how to make QFD work for you. Addison – Wesley, Reading, MA, 1995. CONTADOR, J. C. “Planejamento Estratégico: recomendações sobre os ambientes externo e interno”. Revista de Administração de Empresas, Março/Abril 1995b. COOPER, R. G., KLEINSCHMIDT, E. J. “An Investigation into the New Product Process: steps, deficiencies and impact”. Journal of Product Innovation Management. 1986. v 3, nº 1. COPACINO, W.C. Supply Chain Management: the basics and beyond. St. Lucie Press, Boca Raton & APICS, Falls Church, 1997. CORREA, H. L.; GIANESI, I.G.N.; CAON, M. Planejamento, Programação e Controle da Produção: MRP II / ERP: conceitos, uso e implantação. São Paulo: Atlas, 2000. CORTEZ NETO, A. et al. “O Desdobramento da Função Qualidade para o Gerenciamento do Atendimento Fisioterápico em um Hospital de Guarnição — estudo de caso”. CDROM. ANAIS do XXI ENEGEP. Salvador, 2001. COSTA, M. M. M. Implantação da Metodologia QFD em uma Agência Bancária. 1999. 87 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas. CRISTIANO, J. J.; LIKER, J. K.; III WHITE, C. C. “Customer Driven Product Development through Quality Function Deployment in the U.S. and Japan”. Journal of Product Innovation Management, v. 17, n. 4. CROW, K.A. (1996). Customer-focused Development with QFD, DRM Associates, http://members.aol.com/drmassoc/pdef.html. Acesso em 15/01/06. CUNHA, F. L. de S.da. Aplicação da Aliança Logística: estudo de caso em hospitais da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. (Dissertação de Mestrado), 2001. DAETZ, D. Customer Integration, the QFD Leader’s Guide for Decision Making. New York: John Wiley & Sons, 1995. DAVIS, M. M.; AQUILANO, N. J.; CHASE, R. B. Fundamentos da Administração da Produção. 3.ed. Porto Alegre: Bookman Editora, 2001. DIAS, G. P.P., YOSHIZAKI, H. T.Y. Gestão dos Estoques numa Cadeia de Distribuição com Sistema de Reposição Automática e Ambiente Colaborativo. Escola Politécnica da USP – Departamento de Engenharia de Produção, 2001. DIAS, M. A. Administração de Materiais: uma abordagem logística. São Paulo: Atlas,1993. DORNIER, P. P. et al. Logística e Operações Globais: textos e casos. São Paulo: Atlas, 2000. 721 p. Cap. 1, Logística e operações globais: Evolução e Projeto. DORNIER, P. P. Logística e Operações Globais. São Paulo: Atlas, 1999. 721 p. 187 DUARTE, L.C.S., DANILEVICZ, A.M.F., CATEN, C. “Desdobramento da Função Qualidade: Caso dos Laboratórios de Metrologia e Ensaios da Unijuí”. CD-ROM. Anais do XXI Enegep – XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, 2001. EKDAHL, F., GUSTAFSSON, A. “QFD: The Swedish Experience”. Transactions from the Ninth Symposium on Quality Function Deployment, Novi, USA. 1997. EUREKA W. E., RY AN N. E. QFD Perspectivas Gerenciais do Desdobramento da Função Qualidade. Rio de Janeiro: Quality Mark. 1993. Tradução de The Customer-Driven Company: Managerial Perspectives on QFD. FERREIRA, A. M.e RIBEIRO,J. L. “O Uso do QFD no Gerenciamento de Projetos: um estudo de caso no setor de serviços”. Anais do XV ENEGEP, 1995. FIGUEIREDO, K.; ARKADER, R. Da Distribuição Física ao Supply Chain Management: o pensamento, o ensino e as necessidades de capacitação em logística. Disponível em: http://www.cel.coppead.ufrj.br/frcapac.htm. Acesso em 10/07/2006. FINE, C. H. Mercados em Evolução Contínua: conquistando vantagem competitiva num mundo em constante mutação. Rio de Janeiro: Campus, 1999. FLEURY, P. F. Supply Chain Management: Conceitos, Oportunidades e Desafios da Implementação. CEL – Centro de Estudos em Logística. São Paulo, fev. 2001. FLEURY, Paulo Fernando; MONTEIRO, Fernando José Retumba. O Desafio Logístico do ECommerce. CEL – Centro de Estudos em Logística. São Paulo, out. 2000. FORRESTER, J. W. Industrial Dynamics. Boston: MIT Press, 1961. FRAGOSO, H. R. “O Ciclo de Desenvolvimento de Produtos da Volkswagen Caminhões e Ônibus”. In: Anais do 1o Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produtos, Belo Horizonte - MG, ago (1999). FREY, A. W. (ed.). Marketing Handbook. 2a. ed. Nova York : The Ronald Press Company, 1965. GALLO, Í. A. O Papel da Logística na Globalização. São Paulo, 1998. Disponível em: <http://www.guialog.com.br/ARTIGO56a.html>. Acesso em: 04 jun. 2005. GANTEWERKER, S.; MANOSKI, P. Don’t Get Caught in The Middle: how to successfully negotiate the intermediate and late stages of new product development. Food Processing, Dec2003b v64. GASNIER, D. G. A Dinâmica dos Estoques: guia prático para planejamento, gestão de materiais e logística. São Paulo: IMAM, 2002. GIL, F. L. et al. Gestão da Cadeia de Suprimentos como Fonte de Vantagem Competitiva – um estudo de caso do setor off shore localizado na cidade de Niterói, 1998. GONÇALVES, W. G. Novos Papéis da Logística. Revista Movimentação & Armazenagem, out. 2000. p.64. 188 GRAEML, A.R. Sistemas de Informação: o alinhamento da estratégia de TI com a estratégia corporativa. São Paulo: Editora Atlas, 2000. GRIFFIN, A. “Evaluating QFD’s Use in US Firms as a Process for Developing Products”. Journal of Product Innovation Management. 1992. v.9, nº3. GRIFFIN, A; HAUSER, J.R. The Voice of the Customer. Chicago: University of Chicago, 1991. (Working Paper) GUEDES, L. B. R. et al. - “Obtaining Countrywide Success through QFD Implementation in the Development Process of a Popular Brazilian Food Product”. In: Proceedings of the 5th International Symposium on Quality Function Deployment. Belo Horizonte - MG, ago (1999). GUIMARÃES, L. M. “QFD — Metodologia para Vantagem Competitiva”. In: Controle de Qualidade. Editora Banas, no. 44, Janeiro 1996. GUINTA, L. PRAIZLER, N.C. The QFD Book: the team approach to solving problems and satisfyng customers through quality function deployment. New York: NY AMACOM. 1993. GUNASEKARAM, A., NGAI, E. W. T. “Build to Order Supply Chain Management: a literature review and framework for development”. Journal of Operations Management, 2004. GUSTAFSSON, A ., EKDAHL, F., BERGMAN, B. “Conjoint Analysis – a useful tool in the design process”. Transactions from the Eighth Symposium on Quality Function Deployment concurrent with International Symposium on QFD’96, Novi, USA. GUSTAFSSON, A. Customer Focused Product Development by Conjoint Analysis and QFD, Linkoping Studies in Science and Technology. Dissertation no. 418, Linkoping University, Linkoping, Sweden, 1996. HALES, R.F. “Adapting Quality Function Deployment to the U.S. Culture”. In: IIE Solutions, Oct. (27/10), 1995. HAUSER, J.R. & CLAUSING, D. “The House of Quality”. Harvard Business Review, 61(5), 1988. HERRMANN, A.; HUBER, F.; BRAUNSTEIN, C. Market-Driven Product and Service: bridging the gap between customer needs, quality management and customer’s satisfaction. International Journal of Production Economics, v. 66, 2000. HERZWURM, G. et al. Qualitätssoftware durch Kundenorientierung. Die Methode Quality Function Deployment (QFD). Braunschweig, Wiesbaden, 1997. HERZWURM, G., SCHOCKERT, S. “Virtual Product Development – using the internet as a communication platform for QFD. Proceedings of the Fifth Annual International Symposium on Quality Function Deployment, UFMG, Belo Horizonte, Brasil. 1999. HUNT, R. A. “Hoshin Planning, QFD e TQM”. Transactions of the 11th. Symposium on Quality Function Deployment, QFD Institute, Ann Arbor, USA. 1999. 189 JESUS, L.S., DANILEVICZ, A.M.F., CATEN, C.S. “Melhoria da Qualidade de Serviços Bancários Automatizados através do QFD”. CD-ROM. Anais do XXI Enegep – XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, 2001. JURAN, J.M. Planejando a Qualidade. São Paulo: Pioneira, 1992. JURAN, J. M. Managerial Breakthrough: the classic book on improving management performance. 2ed. New York: McGraw-Hill, 1995. JURAN, J.M. Planejamento para a Qualidade. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1995. KANO, N., KOURA, K. “Development of Quality Control Seen Through Companies Awarded the Deming Prize”. Reports of Statistical Application Research, JUSE, Tokyo. 1990/1991. v. 37, nº 1-2. KING, B. Better Designs in Half the Time, Goal/QPC, Methuen, MA, 1989. KING, R. Better Designs in Half the Time. Massachussets: GOAL QPC, 1987. KIRKBY, J. et al. “The Value of Customer Experience Management, R-19-4070” – Strategic Analysis Report, March, 2003. KLIEWER, C., LIU, E., STEPHEN, D. & WEENING, D. (1998). Quality Function Deployment. Department of Computer Science, University of Calgary, Alberta, Canada, Retrieved 10 January 2002, http://sern.ucalgary.ca/~dweening/SENG613/Presentation/tsld008-9.htm. Acesso em 17 December 2004. KOTLER, P. “Pensar Globalmente, Atuar Localmente”. HSM Management n.2, maio/jun, 1997. KOTLER, P. Administração de Marketing: a edição do novo milênio. São Paulo: Prentice Hall, 2000. KOTLER, P. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1993. KRISHNAM, V.; BHATTACHARYA, SHANTANU. “Technology Selection and Commitment in New Product Development: the role of uncertainty and design flexibility”. Management Science, March 2002 v48 i3. LAMBERT, D.M., STOCK, J.R., VANTINE, J.G. Administração Estratégica da Logística. Trad. de Maria Cristina Vondrak. São Paulo: Vantine Consultoria, 1998. LAURIKKA, P., LAKKA, A., VAINIO M. “QFD in Building Design”. Transactions from the Eighth Symposium on Quality Function Deployment concurrent with International Symposium on QFD’96, Novi, USA. 1996. LAWRENCE, F.B. “Closing the Logistics Loop: a tutorial” Production and Inventory Management Journal. Falls Church, v.40, First Quarter 1999. LEE, H.L; PADMANABHAN, V.; WHANG,S. “Information Distortion in a Supply Chain: the bullwhip effect”. Management Science, vol.43, No.4, 1997. 190 LIMA, M. P. “Os Custos de Armazenagem Logística Moderna”. Revista Tecnologística. São Paulo, n.50, jan.2000. LOCKAMY III, A.; KHURANA, A. “Quality Function Deployment: a case study”. Production and Inventory Management Journal, v.36, n.2,1995. MACCORMACK, A.; VERGANTI, R.; IANSITI, M. “Developing Products on ‘Internet Time’: the anatomy of a flexible development process”. Management Science, Jan 2001 v47 i1. MARTINS, A., ASPINWALL, E.M. “Quality Function Deployment: an empirical study in the UK”. Total Quality Management, 2001. v.12, nº 5. MARTINS, P. G; ALT, P. R. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2003. MARTINS, P. G. Administração de Materiais e Recursos Empresariais. São Paulo: Saraiva, 2000. MARTINS, P. G.; ALT, P. R. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. 2.ed. – São Paulo: Saraiva, 2006. MATERIAL retirado da apresentação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica IT — 208 Sistemas Logísticos Prof Anderson — Decisões sobre Política de Estoques. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial (Ballou) Capítulo 9. MATTAR, F. Gerencia de Produtos: como tornar seu produto um sucesso. 2a. edição. São Paulo: Atlas, 2003. MAZUR, G. “Service QFD: State of the Art Update”. Proceedings of the Fifth Annual International Symposium on Quality Function Deployment. UFMG, Belo Horizonte, Brasil. 1999. MCCULLEN, P.; TOWILL, D. Diagnosis and Reduction of Bullwhip in Supply Chains. MEIRIM, H. Gerenciamento Colaborativo de Fornecedores Parte 1. http://www.administradores.com.br/membros.jsp?pagina=membros_espaco_aberto_corpo&idColu na=365&idColunista=581. Acesso em 15/06/2006. MENDES, S. V. Gestão Financeira de um Sistema Logístico. Taubaté, 2000. 71p. Monografia. Universidade de Taubaté. Disponível em: <http://www.unitau.br/prppg/cursos/ppga/mba/2000/mendes_sheila_valdirene.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2005. MERLI, G. The New Strategy for Manufactures. Portland, Oregon: Productive Press. EUA, 1990. MEYBODI, M. “Using Principles of Just-in-Time to Improve New Product Development Process”. Advances in Competitiveness Research, Annual 2003 v11 i1. MIGUEL, P.A.C. et al. “Desdobramento da Qualidade no Desenvolvimento de Filmes Flexíveis para Embalagens”. Revista Polímeros: Ciência e Tecnologia. v.13, n.2, abr/jun 2003. MIGUEL, P.A.C. et al. “Projeto Piloto de Implantação do QFD para Desenvolvimento de Filmes Flexíveis de BOPP”. In: 3º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produtos, Florianópolis, Anais. Florianópolis, 2001. CD. 191 MIGUEL, P.A.C. “The Stage-of-the-Art of the Brazilian QFD Applications at the Top 500 Companies”. International Journal of Quality & Reliability Management, v.20, n.1, 2003. MIRSHAWA, V. Criando Valor para o Cliente — a vez do Brasil. São Paulo: Makron Books, 1993. MOREIRA, D.A. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pioneira, 1993. MOURA, R. A. Como a Logística Afeta os Lucros. São Paulo. Disponível em: http://www.imam.com.br. Acesso em: 02/06/2006. NASCIMENTO, S. da S. A Logística e as Dimensões Econômicas. 2001. Disponível em: <http://www.guialog.com.br/ARTIGO271.htm>. Acesso em: 05 jun. 2005. NOGUEIRA, T. M. et al. “Quality Assurance: an application of QFD to the production startup of a new engine line”. In: International Symposium on Quality Function Deployment, 5., 1999. Belo Horizonte: UFMG, 1999. NOVAES, A. G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: estratégia, operação e avaliação. Rio de Janeiro: Campus, 2003. OAKLAND, J.S. Gerenciamento da Qualidade Total. São Paulo: Nobel, 1994. p. 15, 16, 20, 60. O'CONNOR, B. Logistics vs Suplly Chain. Disponível http://www.logassoc.asn.au/html/logistics_vs_supply_chain.html. acesso em 25/08/2005. em: OHFUJI, T.; ONO, M.; AKAO, Y. Métodos deDesdobramento da Qualidade (1). Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1997. OLIVEIRA, L.C. e SPINOLA, F. M. “Uso Integrado do Método QFD e de Técnicas Estatísticas de Planejamento e Análise de Experimentos na Etapa do Projeto do Produto e do Processo”. CD – ROM do 2º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto, São Carlos, 2000. ORMANESE, F. M. et al. - “Exploring a New Market Using QFD”. In: Proceedings of the 8th Symposium on Quality Function Deployment, p. 1-10, Novi, MI, jun (1996). OXBERRY, E. “Rapid Fire: with ever advancing rapid prototyping and production technologies, the development of new materials is as important as that of the management technology itself. Plastics Engineering, Dec 2002 v243 i12. OZGENER, S. “Quality Function Deployment: a teamwork approach”. TQM & Business Excellence, vol. 14, no. 9, november, 2003, 969–979. www.ebsco.com. Acesso em 21/02/2006. PADOVEZE, C. L. Contabilidade Gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. PAIVA, C. L.; CHENG, L. C. “O Emprego do QFD como Ferramenta para a Implantação do Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos em uma Pequena Empresa de Massas Alimentícia. In: Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto, 3., 2001. Florianópolis, 2001. 1 CD. 192 PEREIRA, M. O Uso da Curva ABC nas http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=5&rv=Vivencia. Acesso em 14/07/2006. Empresas. PETRUS, C. S. Diagnóstico da Qualidade, Utilização de Ferramentas Estatísticas e Modelo de Relacionamento com Fornecedores em uma Indústria Cerâmica. Dissertação (Mestrado) UFSC, 1994. PINE, B. J. Personalizando Produtos e Serviços – Customização Maciça - A Nova Fronteira da Competição nos Negócios. Sao Paulo: Makron Books, 1994. PIRES, S. Gestão da Cadeia de Suprimentos. São Paulo: Editora Atlas, 2004. POIRIER, C. C.; REITER, S. E. Otimizando sua Rede de Negócios. São Paulo: Editora Futura, 1997. PRAHALAD, C.K.; HAMEL, G. “The Core Competence of the Corporation”. Harvard Business Review, May-June 1990. PRATES, G.A. Ecodesign utilizando QFD, Métodos de Taguchi e DFE. 1998. Tese (Doutorado) — EPS-UFSC. REICHELD F. F. A Estratégia da Lealdade. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2000. REIS, M. de A. e S. Material utilizado na Aula de Logística do Curso MPA FGV, 2004. RIBEIRO, J.L.D., CUNHA, M.G., ECHEVESTE, M.E. “Desdobramento da Qualidade: um plano de melhorias para retenção de clientes em clubes sociais e esportivos”. CD-ROM. Anais do XXI Enegep – XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, 2001. ROCHA, H. M. “O Desenvolvimento de Produtos como Ferramenta Estratégica de Integração e Competitividade na Cadeia de Suprimentos”. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) - ISSN 1677-7387 Faculdade Cenecista Presidente Kennedy – Coordenação do Curso de Administração, Volume 03 – nr. 01 - maio/2004. RODRIGUES, G. J.J. Redução do Estoque em 3 Dimensões. São Paulo: IMAM, 1993. ROSS, H. M., PARYANI, K. “QFD Status in the U. S. Automotive Industry”. Transactions of the Seventh Symposium on Quality Function Deployment, QFD Institute, Ann Arbor, USA. 1995. SANTIAGO, L.P. et al. “A aplicação do Método QFD para facilitar atividades de Projetos de Páginas para Internet”. CD–ROM do 2º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto, São Carlos , 2000. SARANTÓPOULOS, I. A ., et al. “Food Product Upgrade Using QFD”. Transactions from the Eighth Symposium on Quality Function Deployment concurrent with International Symposium on QFD’96, Novi, USA. 1996. SARANTOPOULOS, I.A. et al. “Processo de Transferência guiado pelo QFD”. CD-ROM. Anais do 1º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produtos. Belo Horizonte, 1999. 193 SASSI, A. C.; MIGUEL, P. A. C. “Análise das Publicações sobre o QFD no Desenvolvimento de Serviços e Produtos. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção — ENEGEP, 22., 2002. Curitiba, 2002. CD-ROM. SCHWITZKY, M. Acuracidade dos Métodos de Previsão e a sua Relação com o Dimensionamento dos Estoques de Produtos Acabados. Dissertação. (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, novembro de 2001. SEVERO, J. F. Capítulo I, disponível em http://www.portaldelogistica.adm.br/capitulo_1.htm>, acesso em 05/06/06. SHINA, S. G. Concurrent Engineering: new rules for worldclass companies. IEEE Spectrum, v. 28, n. 7, July 1991. SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção (do ponto de vista da Engenharia de Produção). 2ª ed, Porto Alegre: Editora Bookman, 1996. SHULMAN, R. “Recovery and The New Product Paradox”. Brandweek. June 23, 2003 v44 i25 p. 20. SILVEIRA, G.G. e SELEG, P. M. “A Utilização do QFD como Suporte à Implementação do TQC: uma aplicação prática em uma empresa do setor hoteleiro”. Anais do XV ENEGEP, São Carlos, 1995. SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI, E. Designing and Managing the Supply Chain: concepts, strategies, and case studies. Boston: McGraw-Hill, 2000. SLACK, N., et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas S.A., 1996. SLATER, S. F.; NARVER, J.C. “Market Orientation, Customer Value, and Superior Performance”. Business Horizons, Mar./Apr. 1994. SOLBERG, J. Integrated Manufacturing Systems: an overview design and analysis of integrated manufacturing systems. USA: The National Academy of Science, 1988. SOUZA, P. T. de. Logística Interna para Empresas Prestadoras de Serviço. 2002. Disponível em: <http://guialog.com.br/ARTIGO350.htm>. Acesso em: 03 jun. 2005. STERMAN, J. D. “Modeling Managerical Behavior: miscperceptions of feedback in a dynamic decision making experiment”. Management Science, v. 35, n. 3, pág. 321-339, 1989, apud LEE, H. L.; PADMANABHAN, V.; WHANG, S. Information Distortion in a Supply Chain: the bullwhip effect. Management Science, v. 43, n. 4, april, 1997. STERN, L. W. et.al. Marketing Channels. 5a ed. New Jersey: Prentice Hall,1996. SUCUPIRA, C. A. C. et al. Gestão da Cadeia de Suprimentos e o Papel da Tecnologia de Informação. Disponível em <www.cezarsucupira.com.br>,2003, acesso em 29/06/06. SULLIVAN, L.P. “Quality Function Deployment”. Quality Progress, 34(6), 1986. SUPPLY CHAIN MANAGEMENT: An International Journal, v. 7, n. 3, 2002. 194 SUSSAN, A.P; JOHNSON, W.C. The Impact of Market / Quality Orientation on Business Performance. Computers Ind. Engng, Great Britain, v. 3, 1997. SWADDLING, D.C.; MILLER, C. “Don’t Measure Customer Satisfaction”. Quality Progress. USA, V. 35 (5), May 2002. SWOBODA, F. “QFD in Strategic Real State Portfolio Management — how to meet infrastructure e construction needs of diverse e innovative clients”. Proceedings of the Fifth Annual International Symposium on Quality Function Deployment. UFMG, Belo Horizonte, Brasil. 1999. TAYLOR, D. A. Logística na Cadeia de Suprimentos: uma perspectiva gerencial. São Paulo: Ed. Pearson Addison-Wesley, 2005. TUBINO, D. F. Manual de Planejamento e Controle da Produção.São Paulo: Atlas, 2000. TUCKER, R. Agregando Valor a seu Negócio. São Paulo: Makron Books, p. 232, 2001. VERSPRILLE, K. Elevating CAE into the Design Process. Computer-Aided Engineering, Sep 2001 v20 i9. VIEIRA, S.R. e STANGE, P. “Um Sistema de Gerenciamento da Qualidade para Fábricas Montadoras com Ênfase no Método de Taguchi e QFD. CD-ROM. Anais 16º Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Piracicaba, 1996. WATSON, G. H. P. “Drucker: Delivering Value to Customers”. Quality Progress. USA, v. 35 (5), May 2002. WILLAERT, S.S.A.; DE GRAAF, R.; MINDERHOUD, S. “Collaborative Engineering: a case study of concurrent engineering in a wider context. Journal of Engineering and Technology Management, v.15, n.1, 1998. WILLHITE, M. (1997) QFD: a structured problem solving technique. SEPO TechNote No. 7, http://www.mitre.org/resources/centers/sepo/requirements/qfd_technique.html. acesso em 01/05/06. WITZENBURG, G. “Vehicle Development View from the Trenches: a look at the tricks and tools automakers use to squeeze time and cost out of new product development”. Automotive Industries, March 2003 v183 i3. WOOD, T.J., ZUFFO, P.K. “Supply Chain Management”. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.38, Jul./Set, 1998. XAVIER, G.G. “Investigating Flexibility and Information Technology as Key Elements for Competitive Advantage”. Produção, v.7, n.2, 1997. YOSHIZAKI, H. Supply Chain Management e Logística. Disponível <www.vanzolini.org.br/areas/logistica/SCM_logistica.pdf >, acesso em 20/03/06. em ZIRGER, B.J.; HARTLEY, J.L. (1996). “The Effect of Acceleration Techniques on Product Development Time”. IEEE Transactions on Engineering Management, v.43, n.2, May. 195 ZUCCHELLI, F. “1985-95 — 10 Years of QFD in Italy — different typologies of applications of QFD in various sectors of manufacturing e service industries”. Proceedings of International Symposium on Quality Function Deployment, JUSE, Tokyo. 1995. ZULTNER, R. E. “Software Quality Deployment: adapting QFD to software”. Transactions of the Second Symposium on Quality Function Deployment, Novi, USA. 1990.