UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – UFSM CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DO ENSINO - MEN PROFESSORA ELISETE M. TOMAZETTI ACADÊMICO: VANTOIR ROBERTO BRANCHER ATIVIDADE DIDÁTICA: Aula de Ética Santa Maria, 27 de outubro de 2008. 1.Introdução: A aula que ora apresentamos consolida-se numa proposta de atividade que terá sua incursão num primeiro dia de aula, cujo tema centrar-se-á em questões ética. A ética hoje apresenta-se numa campo de estudos e pesquisas com significativas incursões e/ou abordagens., Maria de Lourdes Borges no na obra Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Propõe-nos que pensemos a ética nas seguintes perspectivas: É tic a M E T A É T IC A É T IC A N O R M A T IV A É T IC A A P L IC A D A . in v e s tig a a n a tu r e z a d o s p r in c í p i o s m o r a is , in d a g a n d o s e s ã o o b j e t i v o s e a b s o lu t o s o s p r e c e ito s d e f e n d id o s p e la s d iv e rs a s te o ria s d a é t ic a p re te n d e res p o n d e r a p e rg u n ta s c o m o : "o q u e d e v e m o s fa z e r? " " q u a l a m e lh o r f o r m a d e v iv e r b e m ? " . É T IC A T E L E O L Ó G IC A A É T IC A D E O N T O L Ó G IC A B o a s c o n s e q ü ê n c ia s é tic a c o n s e q ü e n c i a li s t a E g o ís m o é tic o B e m p r ó p rio N ã o c o n s e q ü e n c i a l is t a é tic a d e v ir tu d e s , U t i li t a r is m o B e m tod os d iz r e s p e i t o à a p l ic a ç ã o d e p r in c í p i o s e x t r a í d o s d a é t ic a n o r m a tiv a p a r a a r e s o lu ç ã o d e p r o b l e m a s é t ic o s c o t id i a n o s A s c o n s e q ü ê n c i a s d o a to n ã o d e v e m i n f lu e n c i a r n a d e c i s ã o a virtu d e é d e fin id a c o m o " e xc e lê n c ia m o ra l o u r e t i d ã o " , a ê n f a s e in c i d e s o b r e o c a r á t e r v i r t u o s o s e r e s h u m a n o s , e n ã o p r im e i r a m e n t e s o b r e o s s e u s a t o s e s e n t im e n t o s , o u s o b r e s u a s r e g r a s e c o n s e q ü ê n c ia s É t ic a d o D is c u r s o C o n t r a t u a lis m o m o ra l A s re g ra s e s tã o im p l íc i ta s a o s p a rtic ip a n te s In tu ic is m o M o r a l É t ic a d o d e v e r T o d o s te m o s u m s e n s o o u u m a in t u i ç ã o d e é t ic a A s re g ra s s ó s ã o va lid a s se usadas p a ra to d o s em q u a is q u e r c i r c u n s t a n c ia . FIGURA 1: Esquema de Ética que produzi a partir da obra Assim, a partir do esquema exposto existem múltiplas perspectivas e abordagens possíveis quando abordamos está temática. 2. Apresentação do Tema/Problema Filosófico: Nosso problema filosófico centrar-se-á na seguinte diretriz: O que é Moralidade? O que são dilemas morais? E como introduzir esta discussão no Ensino Médio? 3. Justificativa: A justificativa desta atividade prima no sentido de buscarmos viabilizar discussões que problematizem a moralidade e a ética na contemporaneidade. Tal proposta visa promover discussões introdutórias as temáticas da moralidade a turmas de Ensino Médio de Escolas Públicas sulriograndenses. 4. Desenvolvimento da Atividade Didática: Nossa atividade terá seu desenvolvimento baseado nas propostas de ensino e aprendizagem desenvolvidas por Obiols (2002) que tem nos proposto um modelo que tenha “um inicio problematizante, um desenvolvimento analítico e um encerramento sintético” (Idem, p. 121). Assim nossa sensibilização/problematização sugere que os estudantes formem grupos de no máximo cinco integrantes e tentem resolver a seguinte pergunta “é ético ou não roubar um remédio para salvar uma pessoa que não tem dinheiro para compralo e que sem ele morreria?” Ressaltamos que essa pergunta dever ser respondida de forma escrita para ser entregue ao professor e também para ser apresentada aos colegas. Num segundo momento proporemos um debate entre os estudantes que se posicionaram a favor o roubo e contra o roubo. Concluída esta atividade passaremos a um novo momento onde trabalharemos com um texto extraído do Livro RACHELS, James. Os elementos da filosofia da moral. Barueri, SP: Manole, 2006. RACHELS, James. Os elementos da filosofia da Barueri, SP: Manole, 2006. 1.2. Primeiro Exemplo: a Bebê Theresa Theresa Ann Campo Pearson, uma recém-nascida acéfala mais conhecida pelo público como "bebê Theresa", nasceu na Flórida em 1992. A acefalia está entre as piores doenças inatas. Recém-nascidos acéfalos algumas vezes são chamados de "bebês sem cérebro", o que demonstra, a grosso modo, uma idéia correta, mas não muito exata. Faltam partes importantes do encéfalo - o cérebro e o cerebelo, bem como o topo do crânio. Há, contudo, o tronco cerebral, portanto funções supostamente automáticas, tais como a respiração e a batida do coração, são possíveis. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos de acefalia são detectados durante a gestação e são abortados. Daqueles que não o são, metade nasce morta. Cerca de 300 crianças com acefalia nascem vivas por ano e geralmente morrem dentro de poucos dias. A história da bebê Theresa não seria extraordinária, exceto pelo pedido incomum feito por seus pais. Sabendo que ela não poderia viver muito tempo e que, mesmo que sobrevivesse, nunca teria uma vida consciente, os pais de Theresa ofereceram seus órgãos para transplante. Eles pensaram que seu rim, fígado, coração, pulmões e córneas poderiam ir para outras crianças que se beneficiariam com isso. Os médicos concordaram que esta era uma ótima idéia. Pelo menos 2.000 crianças necessitam de transplante a cada ano, e nunca há órgãos disponíveis em quantidade suficiente. Entretanto, os órgãos não foram retirados, porque a lei da Flórida não permite sua remoção até que o doador esteja morto. Nove dias depois de nascer, Theresa morreu, mas já era muito tarde para as outras crianças - seus órgãos não poderiam mais ser transplantados, porque eles haviam se deteriorado. As histórias dos jornais sobre a bebê Theresa desencadearam muitas discussões públicas. Teria sido certo remover os órgãos da recém-nascida e, assim, causar sua morte imediata para ajudar outras crianças? Diversos "especialistas em ética prática" - pessoas empregadas em universidades, hospitais e faculdades de direito cujo trabalho é pensar sobre tais questões foram entrevistados pela imprensa para comentar o caso. Surpreendentemente, poucos deles concordaram com os médicos e com os pais. Em vez disso, eles apelaram a velhos princípios filosóficos para se oporem à retirada dos órgãos. "Simplesmente parece ser horrível usar pessoas como meios para os fins de outras", disse um dos especialistas. Outro explicou: "É antiético matar para salvar. É antiético matar a pessoa A para salvar a pessoa B". Um terceiro acrescentou: "O que os pais estão realmente pedindo é: matem esse bebê agonizante para que seus órgãos possam ser utilizados por uma outra pessoa. Bem, isso é uma proposta horrível". O que é realmente horrível? As opiniões estavam divididas. Os especialistas em ética usaram a razão, enquanto os pais e os médicos não. Mas estamos interessados em mais do que as pessoas possam pensar. Queremos saber a verdade do problema. Na verdade, os pais estavam certos ou errados em oferecer os órgãos para transplante? Se quisermos descobrir a verdade, devemos perguntar quais as razões ou argumentos que cada lado pode apresentar. O que pode ser dito para justificar o pedido dos pais ou para justificar o argumento de que o pedido está errado? Após o estudo deste material novamente voltaremos aos grupos propondo que os grupos organizem um pequeno texto produzindo os argumentos quanto a sua decisão. Escrito o texto e apresentados os argumentos voltaremos ao texto onde conheceremos os argumentos explicitados pelo autor. RACHELS, James. Os elementos da filosofia da Barueri, SP: Manole, 2006. O Argumento do Benefício. A sugestão dos pais baseou-se na idéia de que, uma vez que Theresa morreria brevemente de qualquer forma, seus órgãos não lhe trariam benefício algum. Outras crianças, entretanto, poderiam se beneficiar deles. Dessa forma, seu raciocínio parece ter sido este: se pudermos beneficiar alguém, sem causar danos a ninguém, nós deveríamos proceder assim. O transplante de órgãos beneficiaria outras crianças sem prejudicar Theresa. Portanto, devemos fazer o transplante de órgãos. Está correto? Nem todos os argumentos são consistentes. Ademais, além de saber quais argumentos são dados sob determinada perspectiva, queremos saber se estes são de alguma forma bons ou não. De uma forma geral, um argumento é consistente se suas premissas são verdadeiras e se a conclusão deriva logicamente delas. Neste caso, pode-se duvidar da avaliação de que Theresa não seria machucada. Afinal, ela morreria e isso não é ruim para ela? Mas, em relação ao que está sendo considerado, parece claro que, nessa circunstância trágica, os pais estavam certos - continuar vivendo não traria benefício algum para ela. Viver é um benefício somente se nos habilita a desenvolver atividades, ter pensamentos, ter sentimentos e conviver com outras pessoas - em outras palavras, se nos habilita a ter uma vida. Na ausência de tais coisas, a mera existência biológica não tem valor. Então, apesar de Theresa poder permanecer viva por mais alguns dias, isso não traria benefício algum para ela. (Podemos imaginar circunstâncias pelas quais outras pessoas sairiam ganhando se ela permanecesse viva, mas isso não se equipara aos seus benefícios.). Os argumentos do benefício, por conseguinte, fornecem uma razão poderosa para o transplante de órgãos. Quais são os argumentos do lado oposto? O Argumento de que as Pessoas Não Deveriam Ser Usadas como Meios. Os especialistas em ética que se opuseram ao trans-plante ofereceram dois argumentos. O primeiro baseou-se na idéia de que é errado usar pessoas como meios para os fins de outras. Retirar os órgãos de Theresa seria usá-la em benefício de outras crianças, portanto não deveria ser feito. Este é um argumento consistente? A idéia de que não devemos "usar" as pessoas é obviamente atrativa, mas é uma noção vaga que precisa ser lapidada. O que isso quer dizer exatamente? "Usar as pessoas" normalmente envolve a violação de sua autonomia - a capacidade de decidir por elas mesmas como viver suas próprias vidas de acordo com seus próprios desejos e valores. A autonomia de uma pessoa pode ser violada por meio de manipulação, trapaças ou fraudes. Por exemplo, posso fingir ser seu amigo, quando estou interessado em conhecer sua irmã; ou posso enganá-lo a fim de obter um empréstimo; ou posso tentar convencê-lo de que gostaria de assistir a um show em uma outra cidade, quando na verdade eu só gostaria que me levasse até lá. Em cada caso, estou manipulando-o para conseguir algo para mim mesmo. A autonomia também é violada quando as pessoas são forçadas a fazer coisas contra a sua própria vontade. Isso explica por que "usar as pessoas" é errado: é errado porque a decepção, a trapaça e a coerção são erradas. Retirar os órgãos de Theresa não envolveria fraude, trapaça ou coerção. Isso seria "usá-la" de alguma outra forma moralmente significativa? Estaríamos, é claro, fazendo uso de seus órgãos em benefício de uma outra pessoa. Mas, fazemos isso toda a vez que realizamos um transplante. Neste caso, contudo, estaríamos fazendo um transplante sem a sua permissão. Esse fato faz da operação um erro? Se estivéssemos fazendo isso contra a sua vontade, pode até ser uma razão para a objeção; seria uma violação de sua autonomia. Mas Theresa não é um ser autônomo; ela não possui desejos e é incapaz de tomar qualquer decisão por si própria. Quando as pessoas são incapazes de tomar decisões por si próprias e outros devem fazer isso por elas, existem duas diretrizes racionais que podem ser adotadas. Primeiramente, pode-se perguntar o que seria feito para o seu próprio bem? Se aplicarmos esse padrão para a bebê Theresa, parece não haver objeção em relação à retirada de seus órgãos, pois, como já vimos, seus interesses não seriam afetados de qualquer forma. Ela irá morrer brevemente não importa o que se faça. A segunda diretriz apela para as próprias preferências da pessoa: podemos pensar se ela pudesse nos contar o que quer, o que diria? Esse tipo de pensamento geralmente é útil quando estamos lidando com pessoas que se sabe possuírem preferências, mas são incapazes de expressá-las (por exemplo, um paciente em coma que fez um testamento). Mas, infelizmente, a bebê Theresa não possui preferências a respeito de nada e nunca possuirá. Portanto, não conseguimos uma orientação dela, nem em nossa imaginação. A conclusão é que fomos deixados para fazer o que acharmos melhor. O Argumento do Erro em Matar. Os especialistas em ética também apelaram para o princípio de que é errado matar uma pessoa para salvar outra. Retirar os órgãos de Theresa seria matá-la para salvar outras vidas, eles afirmaram; então, retirar os órgãos seria errado. Esse argumento é consistente? A proibição de matar está certa-mente entre as regras morais mais importantes. No entanto, poucas pessoas acreditam que é sempre errado matar - a maioria acredita que as exceções são algumas vezes justificadas. A questão, portanto, é se a bebê Theresa deveria ser considerada como uma exceção à regra. Existem muitas razões para tal, a mais importante é que ela morrerá brevemente de qualquer forma, não importando o que seja feito, ao passo que retirar seus órgãos pelo menos traria algum benefício para os outros bebês. Qualquer um que aceitar isso considerá-la a premissa principal do argumento falsa. Geralmente é errado matar uma pessoa para salvar outra, mas nem sempre. Mas há outra possibilidade. Talvez a melhor maneira de entender a situação seria considerar a bebê Theresa como se já estivesse morta. Se isso parece loucura, lembre-se de que a "morte cerebral" hoje é amplamente aceita como um critério pa»ra decretar a morte legal de uma pessoa. Quando ele foi proposto, encontrou resistência na afirmação de que qualquer pessoa pode ter morte cerebral enquanto muitos de seus órgãos ainda estão funcionando - com o auxílio de máquinas, seu coração pode continuar a bater, elas podem respirar, e assim por diante. Mas o critério da morte cerebral foi por fim aplicado, e as pessoas começaram a se acostumar a considerá-lo como a "verdadeira" morte. Isso foi racional, porque quando o cérebro pára de funcionar não há mais qualquer esperança de vida consciente. Pessoas acéfalas não preenchem as exigências técnicas para a morte cerebral como esta é atualmente definida, mas talvez a definição devesse ser reformulada para incluí-las. Afinal, elas não possuem esperança de vida consciente, pela razão fundamental de que não possuem o cérebro nem o cerebelo. Se a definição de morte cerebral fosse reformulada para incluir os acéfalos, iríamos nos acostumar com a idéia de que essas crianças desafortunadas nascem mortas e não consideraríamos a retirada de seus órgãos como o ato de matá-las. O argumento ao erro em matar seria, então, discutível. De uma forma geral, portanto, parece que o argumento a favor do transplante dos órgãos da bebê Theresa é mais forte do que os argumentos contra ele. Assim passaremos ao terceiro momento da atividade, qual um “encerramento sintético”, elaborando um vocabulário operativo com os argumentos que poderiam ser usado a favor e contra a doação de órgãos. Leituras e Materiais complementares: BORGES. Maria de Lourdes. Ética kantiana. In. BORGES. Maria de Lourdes. Ética. Rio de Janeiro, 2002. p.15-32. BORGES. Maria de Lourdes. O utilitarismo In. BORGES. Maria de Lourdes. Ética. Rio de Janeiro, 2002. p.33-56 Filme: Eu sou A lenda (ARQUIVO DO PROFESSOR) BORGES. Maria de Lourdes.Ética de Virtudes. In. BORGES. Maria de Lourdes. Ética. Rio de Janeiro, 2002. p.57-80. GONÇALVES, Maria. Ética e Trabalho. RJ. Ed. Senac Nacional. 2004. p.1930. ARANHA, Maria Lucia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Introduçâo à moral. In ARANHA, Maria Lucia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna. 1993. p. 273-282 ARANHA, Maria Lucia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Concepções Éticas. In ARANHA, Maria Lucia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna. 1993. p. 283-289. FILME: LADROES DE BICICLETA (ARQUIVO DO PROFESSOR) FILME: NOTICIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR (ARQUIVO DO PROFESSOR) VALLS, Alvaro, L. M. Os problemas da Ética. In VALLS, Alvaro, L. M. O que é Ética. São Paulo. Brasiliense.2008, p. 01-24. 6. Referências: RACHELS, James. Os elementos da filosofia da Barueri, SP: Manole, 2006. BORGES, Maria de Lourdes s no na obra. Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. OBIOLIS, Guilhermos. Uma introdução ao ensino de filosofia. Ijuí, Unijuií. 2002.