UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS – UEG UNIDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PAULO VICTOR SILVA DE OLIVEIRA ESTUDO DA ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO: ENSAIO DE TIRANTES PUBLICAÇÃO Nº: ENC. PF – 145/2011 ANÁPOLIS / GO 2011 ii PAULO VICTOR SILVA DE OLIVEIRA ESTUDO DA ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO: ENSAIO DE TIRANTES PUBLICAÇÃO Nº: ENC. PF – 145/2011 PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS. ORIENTADORA: VALÉRIA CONCEIÇÃO MOURO COSTA, M.Sc. ANÁPOLIS / GO: 2011 iii FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na Fonte Biblioteca UnUCET – UEG Jerusa da Silva Alves Guimarães – CRB 1/1938 De Oliveira, Paulo Victor Silva Estudo da Aderência Aço-Concreto: Ensaio de Tirantes. / Paulo Victor Silva de Oliveira – Anápolis: Universidade Estadual de Goiás, Curso de Engenharia Civil, 2011. 67p. il. ; 31 cm. – (Monografia / Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas – Curso de Engenharia Civil). I. De Oliveira, Paulo Victor Silva II. Título III. Monografia. 1. Concreto Armado 2. Aço 3. Aderência REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DE OLIVEIRA, P. V. S. Estudo da aderência aço-concreto: Ensaio de tirantes. Trabalho de Conclusão de Curso, Engenharia Civil, Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, GO, 67p. 2011. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: Paulo Victor Silva de Oliveira TÍTULO DA MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL: Estudo da aderência aço-concreto: Ensaio de tirantes. GRAU: Bacharel em Engenharia Civil. ANO: 2011 É concedida à Universidade Estadual de Goiás a permissão para reproduzir cópias deste projeto final e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste projeto final pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. __________________________________ Paulo Victor Silva de Oliveira Avenida A Nº 60 Apto. 512-A Residencial Vila Rica Setor Leste Vila Nova 74635-030 – Goiânia/GO – Brasil [email protected] iv PAULO VICTOR SILVA DE OLIVEIRA ESTUDO DA ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO: ENSAIO DE TIRANTES PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL. APROVADO POR: ________________________________________________ VALÉRIA CONCEIÇÃO MOURO COSTA, M. Sc. (UEG) (ORIENTADOR) _______________________________________________ ANA LÚCIA CARRIJO ADORNO, D. Sc. (UEG) (EXAMINADOR INTERNO) ___________________________________________________ LIANA DE LUCCA JARDIM BORGES, D. Sc. (UEG) (EXAMINADOR INTERNO) ANÁPOLIS/GO, 01 de Julho de 2011. v DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho primeiramente a Deus, pela saúde, fé e perseverança. A minha mãe, Geralda, que nunca duvidou da minha capacidade. Por fim, ao meu pai, Marcos Antônio, que mesmo não estando aqui entre nós, me deu forças nos momentos dificies. vi AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me permitiu a inteligência e a sabedoria. À minha mãe, Geralda, pelo carinho, dedicação e amor, que sempre me apoiou e me amparou quando se fazia necessário. À minha orientadora Professora Valéria, pelo constante apoio, incentivo, dedicação e amizade essenciais para a elaboração deste trabalho e para o meu desenvolvimento como pesquisador. À minha família por todo o apoio prestado. Aos meus amigos de faculdade, Raphael Kratka, Nilo, Fernando Rheinländer e Pedro Curado, que estiveram comigo nos momentos bons e também nos momentos ruins. Ao amigo e ex-chefe, Júlio Nunes, pela excepcional amizade e pelo apoio profissional. A todos, os meus sinceros agradecimentos. vii “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original”. Albert Einstein viii RESUMO O uso eficiente dos materiais estruturais é a chave para o desenvolvimento da construção civil. A associação entre o aço e o concreto em vigas, pilares e lajes tem ocorrido em maior escala nas estruturas de concreto armado. Nestas, os elementos são compostos por concreto de qualidade estrutural e as barras de armadura adequadamente dimensionadas e detalhadas são inseridas no concreto simples. Nos elementos de concreto armado, admite-se a interação completa entre os dois materiais para que ocorra a integral transferência dos esforços e a compatibilidade de deformações. (De NARDIN et al, 2005). A aderência pode ser entendida como a ligação existente entre o aço e o concreto, impedindo o deslocamento relativo entre os dois materiais, formando assim uma peça solidária. De modo esquemático, a aderência é dividida em três parcelas: adesão, aderência mecânica e atrito, que em conjunto compõem a aderência natural. Os objetivos deste trabalho são estudar a importância da aderência nas estruturas de concreto armado e apresentar os resultados obtidos por meio do ensaio de tirantes e comparálos com os resultados da NBR 7477 (ABNT, 1982) A metodologia utilizada para atingir os objetivos propostos, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a importância da aderência aço-concreto nas estruturas de concreto armado, posteriormente este trabalho apresenta os resultados do ensaio de tirantes, segundo NBR 7477 (ABNT, 1982), realizado com concreto convencional, na idade de 90 dias, para determinação do coeficiente de conformação superficial das barras de aço. As barras de aço utilizadas nos experimentos foram do tipo nervuradas de diâmetros nominal de 10,0mm, 12,5mm e 16,0mm. Os resultados obtidos através do ensaio mostram que todas as barras de aço atenderam a NBR 7477 (ABNT, 1982). Palavras-chave: concreto armado, aço, aderência. ix ABSTRACT The efficient use of structural materials is the key to the development of the construction. The association between the steel and concrete beams, columns and slabs has occurred on a larger scale in concrete structures. In these, the elements are composed of structural quality concrete and rebar properly sized and details are entered in plain concrete. In reinforced concrete elements, it is assumed the complete interaction between the two materials for the occurrence of transfer of full efforts and compatibility of deformations. The grip can be understood as the link between steel and concrete, preventing relative movement between the two materials, thus forming a joint piece. Schematically, the grip is divided into three parts: accession, mechanical grip and friction, which together comprise a natural grip. Our objectives are to study the importance of adherence in the reinforced concrete structures and present the results obtained from the test traces and compare them with the results of the NBR 7477 (ABNT, 1982) The methodology used to achieve the proposed objectives, was initially performed a literature review on the importance of adherence in the steel-concrete reinforced concrete structures, then this paper presents the results of the test rods, according to NBR 7477 (ABNT, 1982), held with conventional concrete, at the age of 90 days to determine the coefficient of surface conformation of the steel bars. The steel bars used in the experiments were the type of ribbed nominal diameters of 10.0 mm, 12.5 mm and 16.0 mm. The results obtained by testing show that all the steel bars met the NBR 7477 (ABNT, 1982). Keywords: concrete, steel, adhesion. x LISTA DE FIGURAS Título Página Figura 2.1 Tipos de superfície das barras, adap. FUSCO (1995)...............................................5 Figura 2.2 Situações de boa e má aderência para armaduras horizontais...................................7 Figura 2.3 Aderência por adesão, adap. FUSCO (1995). ...........................................................9 Figura 2.4 Aderência mecânica, adap. FUSCO (1995) ............................................................10 Figura 2.5 Aderência por atrito, PINHEIRO & MUZARDO (2003). ......................................11 Figura 2.6 Formação de espaços vazios ou poros sob as barras concretadas em posição horizontal devida à segregação e ao acúmulo de água, LEONHARDT (1979). ......................14 Figura 2.7 Efeito da resistência à compressão do concreto na resistência, DUCATTI (1993, apud BARBOSA, 2001) ...........................................................................................................15 Figura 2.8 Ensaio de arrancamento direto (RILEM RC5, 1982)..............................................16 Figura 2.9 Ensaio de arrancamento com anel circunferencial (FRANÇA, 2004)....................17 Figura 2.10 Ensaio de flexão em vigas (RILEM RC5, 1982). .................................................18 Figura 2.11 Ensaio de extremidade de viga. RIBEIRO (1985) ................................................18 Figura 2.12 Esquema do corpo de prova do ensaio das quatro barras. DUCATTI (1993). .....19 Figura 2.13 Esquema geral de ensaio desenvolvido por DUCATTI (1993) ............................20 Figura 2.14 Esquema do corpo de prova (FRANÇA, 2004) ....................................................21 Figura 2.15 Coeficiente de conformação da barra de ø 10mm (França, 2004) ........................24 Figura 2.16 Coeficiente de conformação da barra de ø 12,5mm (França, 2004) .....................24 Figura 2.17 Coeficiente de conformação da barra de ø 16,0mm (França, 2004) .....................25 xi Figura 3.1 Slump Test. .............................................................................................................27 Figura 3.2 Lona plástica nos corpos de prova. .........................................................................29 Figura 3.3 Ensaio de resistência à compressão axial................................................................29 Figura 3.4 Ensaio de resistência à tração por compressão diametral .......................................30 Figura 3.5 Ensaio de módulo de elasticidade, detalhe do sistema de medição das deformações ..................................................................................................................................................30 Figura 3.6 Tensão de compressão ............................................................................................31 Figura 3.7 Tensão de tração......................................................................................................32 Figura 3.8 Módulo de deformação ...........................................................................................32 Figura 3.9 Leitura do ângulo de inclinação das nervuras .........................................................34 Figura 3.10 Moldes para os corpos de prova............................................................................36 Figura 3.11 Formas dos tirantes ...............................................................................................37 Figura 3.12 Sistema de carregamento ......................................................................................38 Figura 3.13 Marcação das fissuras ...........................................................................................39 Figura 4.1 Espaçamento médio entre as fissuras – aço de 10,0mm .........................................41 Figura 4.2 Espaçamento médio entre as fissuras – aço de 12,5mm .........................................42 Figura 4.3 Espaçamento médio entre as fissuras – aço de 16,0mm .........................................42 xii LISTA DE TABELAS Título Página Tabela 2.1 Relação entre η e η1 ..................................................................................................5 Tabela 2.2 Valores obtidos de XM e CV – 28 dias (França, 2004) .........................................22 Tabela 2.3 Valores obtidos de XM e CV – 90 dias (França, 2004) .........................................23 Tabela 2.4 Coeficiente de conformação superficial (França, 2004).........................................23 Tabela 2.5 Aumento em porcentagem do (η) em relação ao aumento do diâmetro da barra (França, 2004)...........................................................................................................................25 Tabela 3.1 Resultados das propriedades mecânicas do concreto .............................................31 Tabela 3.2 Resultados da caracterização das barras de aço......................................................33 Tabela 3.3 Comparação dos espaçamentos entre nervuras obtidos e os intervalos exigidos pela NBR 7480 (ABNT, 1996) ........................................................................................................35 Tabela 3.4 Dimensões dos tirantes ensaiados...........................................................................36 Tabela 4.1 Espaçamento médio entre fissuras..........................................................................40 Tabela 4.2 Valores obtidos de CPM, DP e CV ........................................................................43 Tabela 4.3 Valores do coeficiente de aderência .......................................................................43 Tabela 4.4 Tensão de aderência segundo CASTRO (2000).....................................................44 Tabela 4.5 Tensão de aderência segundo NBR 6118 (ABNT, 2003).......................................45 xiii LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas; a espaçamento médio entre 10 nervuras consecutivas das barras de aço; Ac área de concreto; An área da nervura; As área de aço; BT beam test; CAD concreto de alto desempenho; CEB Comité Euro-International du Béton; CP Corpo-de-prova; CV coeficiente de variação da amostra; Ec módulo de elasticidade do concreto; Es módulo de elasticidade do aço; e altura mínima da nervura das barras de aço; fbd tensão de aderência (de cálculo) adotada pela norma brasileira; fc resistência à compressão do concreto; fcm resistência média à compressão do concreto; fct resistência à tração do concreto; f resistência média à tração do concreto; fy resistência de escoamento do aço à tração; fr área relativa da nervura; IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas; La comprimento de ancoragem; Lb comprimento de ancoragem (normalização brasileira); M valor médio; n número de nervuras no comprimento de ancoragem; N força de tração; NBR norma brasileira de regulamentação; q carga aplicada; P força; POT ensaio de pull out (arrancamento); xiv Sn distância entre nervuras transversais centro a centro; S deslizamento; smáx deslizamento máximo; us deslocamento do aço; Xm valor médio do espaçamento entre as nervuras; β ângulo de inclinação da nervura; εc deformação no concreto; εs deformação no aço; φ ângulo de fricção do concreto; ø diâmetro da barra; ρ taxa de armadura; σc tensão no concreto; σs tensão no aço; η coeficiente de conformação superficial das barras de aço; η(1,2,3) coeficiente da normalização brasileira; τ tensão de aderência; τbm tensão média de aderência oriunda da rigidez da peça; τm tensão média de aderência; τmáx tensão máxima de aderência; τu tensão última (ruptura) da aderência; ∆ variação percentual; ∆s distância entre duas fissuras. xv SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................1 1.1 OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS....................................................................1 1.2 METODOLOGIA A SER UTILIZADA.............................................................2 1.3 CONTEÚDO DO TRABALHO .........................................................................2 2 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO................4 2.1 CONDIÇÕES INICIAIS .....................................................................................4 2.2 TIPOS DE ADERÊNCIA ...................................................................................8 2.3 2.4 2.2.1 ADERÊNCIA POR ADESÃO .................................................................................. 9 2.2.2 ADERÊNCIA MECÂNICA ..................................................................................... 9 2.2.3 ADERÊNCIA POR ATRITO ................................................................................. 10 FATORES QUE INFLUENCIAM NA TENSÂO DE ADERÊNCIA ..............11 2.3.1 ADENSAMENTO DO CONCRETO ....................................................................... 11 2.3.2 CONFORMAÇÃO SUPERFICIAL ......................................................................... 12 2.3.3 DIÂMETRO DA BARRA ..................................................................................... 12 2.3.4 IDADE DO CONCRETO ...................................................................................... 13 2.3.5 POSIÇÃO DA BARRA NA CONCRETAGEM .......................................................... 13 2.3.6 RESISTÊNCIA MECÂNICA DO CONCRETO ......................................................... 14 2.3.7 TRAÇO DO CONCRETO ..................................................................................... 15 ENSAIOS DE ADERÊNCIA............................................................................15 2.4.1 ENSAIO DE ARRANCAMENTO DIRETO: PULL-OUT TEST (POT) ................... 16 2.4.2 ENSAIO DE ARRANCAMENTO COM ANEL CIRCUNFERENCIAL: RING PULL – OUT TEST 17 2.4.3 ENSAIO DE FLEXÃO: BEAM TEST (BT).............................................................. 17 2.4.4 ENSAIO DE EXTREMO DE VIGA: BEAM END TEST ............................................ 18 2.4.5 ENSAIO DE ADERÊNCIA DO TIPO PUSH-OUT TEST........................................... 19 2.4.6 ENSAIO DAS QUATRO BARRAS ......................................................................... 19 xvi 2.4.7 ENSAIO DE CONFORMAÇÃO SUPERFICIAL OU ENSAIO DE TIRANTE DE CONCRETO ................................................................................................................... 20 2.5 PESQUISA SOBRE ENSAIOS DE TIRANTES..............................................22 2.5.1 FRANÇA (2004)................................................................................................ 22 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL ...................................................................................27 3.1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................27 3.2 CONCRETO .........................................................................................................27 3.2.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS ........................................................................... 28 3.3 ARMADURA .......................................................................................................32 3.4 MÉTODO EXPERIMENTAL ...................................................................................35 3.4.1 ENSAIOS DE TIRANTES .................................................................................... 35 3.4.2 FABRICAÇÃO DOS TIRANTES ........................................................................... 37 3.4.3 SISTEMA DE CARREGAMENTO ......................................................................... 38 3.4.4 SISTEMA DE LEITURA ...................................................................................... 39 4 APRESENTÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS .....................................................40 4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS ...........................................................................40 4.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA........................................................................................40 4.2.1 COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DA AMOSTRA ...................................................... 40 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..........................46 5.1 CONCLUSÕES .....................................................................................................46 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................48 1 1 INTRODUÇÃO Ao longo da história o homem tem explorado diversas concepções estruturais, sempre em função da cultura, dos padrões arquitetônicos vigentes, dos aspectos financeiros e das limitações técnicas existentes. Diversos são os materiais e infinitas são as combinações entre eles, porém, a associação entre o aço e o concreto para formar peças estruturais resistentes aos diferentes tipos de esforços, mostrou ser a solução mais viável, não somente pelo aspecto econômico e técnico como também pela disponibilidade dos materiais (SILVA, 2006). A associação entre o aço e o concreto em vigas, pilares e lajes tem ocorrido em maior escala nas estruturas de concreto armado. Nestas, os elementos são compostos por concreto de qualidade estrutural e as barras de armadura adequadamente dimensionadas e detalhadas são inseridas no concreto simples. Nos elementos de concreto armado, admite-se a interação completa entre os dois materiais para que ocorra a integral transferência dos esforços e a compatibilidade de deformações (BARBOSA, 2001). As últimas três décadas têm presenciado a adoção de uma nova alternativa para a associação aço-concreto nas edificações. São as estruturas mistas aço-concreto, que se diferenciam das estruturas de concreto armado usuais pela maneira como se apresenta o aço estrutural. Neste trabalho será realizada uma revisão bibliográfica sobre a aderência e, um levantamento das pesquisas que utilizaram os ensaios de tirantes, com diferentes tipos de concretos, comparando os resultados entre si e com a formulação teórica da NBR 7477 (ABNT, 1982). 1.1 OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS Este trabalho tem como objetivo geral estudar a importância da aderência nas estruturas de concreto armado. Como objetivos específicos, podem ser citados: a) Fazer uma revisão bibliográfica sobre a aderência; b) Apresentar os resultados obtidos através do ensaio de tirantes, comparando os resultados encontrados com a NBR 7477 (ABNT, 1982) e com NBR 6118 (ABNT, 2003) 2 O estudo da aderência entre o aço e o concreto envolve uma grande quantidade de variáveis, tais como: a resistência à compressão do concreto, diâmetro da barra, comprimento de ancoragem, adensamento e entre outras, onde cabe destacar que algumas dessas variáveis ainda não têm sua influência completamente estabelecida como, por exemplo, comprimento de ancoragem. 1.2 METODOLOGIA A SER UTILIZADA Visando atingir os objetivos propostos, inicialmente será realizada uma revisão bibliográfica sobre a importância da aderência aço-concreto nas estruturas de concreto armado, posteriormente será realizado o ensaio de tirantes e comparando os resultados encontrados com a NBR 7477 (ABNT, 1982). Em seguida, será realizada uma análise estatística dos ensaios de tirantes que foram realizados. 1.3 CONTEÚDO DO TRABALHO O trabalho está estruturado, em seis capítulos, além das referências bibliográficas. A seguir é apresentada uma descrição a respeito do conteúdo dos capítulos. O capítulo 2 apresenta uma revisão da literatura sobre aderência aço-concreto. Inicialmente são tratados os principais tipos de aderências existentes entre o aço e o concreto, tais como por atrito, mecânica e adesão, bem como os fatores que influenciam na aderência aço-concreto: adensamento do concreto, comprimento de ancoragem, conformação superficial, diâmetro da barra, estado superficial, idade do concreto, posição da barra na concretagem, resistência à compressão simples do concreto e por fim, traço do concreto. Posteriormente, são contemplados os seguintes ensaios de aderência: ensaio de arrancamento direto – pull-out test (pot) , ensaio de arrancamento com anel circunferencial – ring pull – out test, ensaio de flexão – beam test (bt), ensaio de aderência do tipo push-out test, ensaio de extremo de viga – beam end test, ensaio das quatro barras e ensaio de conformação superficial ou ensaio de tirante de concreto. 3 O capítulo 3 e o capítulo 4 descreve o ensaio de tirantes, sendo que o capítulo 3 aborda o programa experimental, o capítulo 4 fala sobre a apresentação e análise de resultados do ensaio comparando com a NBR 7477 (ABNT, 1982). As principais conclusões e sugestões para trabalhos futuros serão apresentados no capítulo 5. 4 2 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO 2.1 CONDIÇÕES INICIAIS A descoberta do cimento tem sua origem nas pesquisas realizadas por Smeaton e Parker, no século XVIII, sendo que sua produção industrial somente ocorreu no século seguinte, como conseqüência dos estudos e pesquisas de Vicat e Josef Aspdin, na Inglaterra,’ em 1824 (KAEFER, 1998). O concreto armado surgiu na França em 1849, quando Lambot construiu um pequeno barco com argamassa e fios de aço de pequeno diâmetro, exibido em Paris em 1855 (BASTOS, 2006). Em 1861, o horticultor e paisagista Joseph Monier, constrói vasos ornamentais em argamassa armada, conseguindo em 1867 patentear essa invenção. Posteriormente, consegue patentes de tubos, reservatórios, placas e pontes (BASTOS, 2006). Em 1850 tem início uma série de ensaios realizados pelo advogado norte americano Thaddeus Hyatt, que em 1877 obtém patente para um sistema de execução de vigas de concreto e aço, no qual as barras previam os efeitos de tração e cisalhamento, sugerindo o uso de estribos e barras dobradas (VASCONCELOS, 1992). O concreto armado pode ter surgido da necessidade de se aliar as qualidades da pedra (resistência à compressão e durabilidade) com as do aço (resistências à tração), com as vantagens de poder assumir qualquer forma, com rapidez e facilidade, e proporcionar a necessária proteção do aço contra a corrosão (BASTOS, 2006). De acordo com Ferguson et al. (1988), como o concreto armado é formado por dois materiais distintos, o dimensionamento desses tipos de estruturas se torna mais difícil justamente por apresentarem comportamentos diferentes. Percebe-se isso pela curva tensão x deformação de cada material específico. Para que o concreto armado funcione como qualquer outro material estrutural que tenha o objetivo de garantir a segurança é imprescindível que se tenha uma perfeita aderência entre o aço e o concreto, de modo a funcionar como um material único, uniforme, homogêneo e isótropo. 5 Se não há contato entre aço e concreto, não pode haver força de tração no aço. Deve, portanto, haver aderência entre aço e concreto para que o aço trabalhe com eficiência, ou seja, as tensões de tração possam ser transmitidas perfeitamente do concreto para o aço. Em barras nervuradas essa transferência de tensões são maiores do que as barras lisas (Figura 2.1), justamente pelo maior atrito conseguido por esse tipo de barra (FUSCO, 1995). Figura 2.1 – Tipos de superfície das barras, adap. FUSCO (1995) A caracterização da superfície de aderência das barras de aço destinada a armaduras para concreto armado é feita pelo coeficiente de conformação superficial η, através de ensaio estabelecido na NBR 7477 (ABNT, 1982). Os valores mínimos para este coeficiente, apresentados na NBR 7480 (ABNT, 1996) são estabelecidos em função da categoria do aço. Para a NBR 6118 (ABNT, 2003), a conformação superficial é medida pelo coeficiente η1. Os valores para este coeficiente são estabelecidos em função do tipo de superfície lateral das barras. As relações entre os coeficientes η e η1, apresentadas pela NBR 6118 (ABNT, 2003), item 8.3.2, são mostradas na Tabela 2.1. Tabela 2.1- Relação entre η e η1, conforme NBR 6118 (ABNT, 2003) Tipo de barra Lisa (CA-25) Entalhada (CA-60) Alta aderência (CA-50) Coeficiente de conformação superficial η η1 1,0 1,0 1,2 1,4 ≥ 1,5 2,25 Para a determinação da resistência de aderência de cálculo fbd, a NBR 6118 (ABNT, 2003) adota uma expressão que representa a média da resistência uma vez que sua variação não é uniformemente distribuída ao longo da barra. De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 6 2003) a resistência de aderência de cálculo entre armadura e o concreto na ancoragem de armaduras passivas é obtida pela seguinte expressão: f bd = η1 × η 2 × η 3 × f ctd Sendo: f ctd = f ctk ,inf γc ; 2 f ct , m = 0,3 × f ck 3 ; f ctk ,inf = 0,7 × f ct , m ; fck = resistência característica à compressão do concreto; γc = coeficiente de ponderação das resistências no estado limite último; η1 = tipo de superfície da barra; η1 = 1,0 para as barras lisas; η1 = 1,4 para as barras entalhadas; η1 = 2,25 para as barras nervuradas; η2 = coeficiente de aderência; η2 = 1,0 para situações de boa aderência; η2 = 0,7 para situações de má aderência; η3 = coeficiente de diâmetro da bitola; η3 = 1,0 para ø < 32 mm; η3 = 132 − φ para ø ≥ 32 mm; 100 fctd = resistência a tração de cálculo do concreto; ø é o diâmetro da barra em mm. Equação (2.1) 7 Nota-se que a resistência de aderência de cálculo depende diretamente da formação superficial da barra, da localização da barra no elemento estrutural, considerando-se as zonas de boa ou má aderência (Figura 2.2), do diâmetro das barras e da resistência à tração de cálculo do concreto fctd. Figura 2.2 – Situações de boa e má aderência para armaduras horizontais A aderência é pior nas barras superiores de uma concretagem devido aos seguintes fatores: a) Fator água/cimento mais alto devido à migração da água para a superfície durante a vibração; b) Recalque plástico do concreto debaixo das barras. Para o cálculo de comprimento de ancoragem (lb) tem-se a seguinte fórmula: lb = φ 4 × f yd f bd Onde: Ф = diâmetro da armadura longitudinal; fyd = tensão de escoamento de cálculo do aço; Equação (2.2) 8 fbd = tensão de aderência. 2.2 TIPOS DE ADERÊNCIA A hipótese fundamental do concreto armado está baseada na transferência de esforços entre a armadura e o concreto, que é possível devido à iminência de escorregamento relativo entre os dois materiais, sendo que a resistência ao escorregamento é entendida como resistência de aderência ou simplesmente aderência. A tensão de cisalhamento, atuante na interface formada pelo concreto e a armadura é comumente utilizada para identificar a aderência entre os dois materiais (ROSSI, 2002). De acordo com Fusco (1995), a solidariedade entre a armadura e o concreto é garantida pela existência de certa aderência entre os dois materiais, sendo a mesma composta de diversas parcelas, que decorrem de diferentes fenômenos que intervêm na ligação dos dois materiais. Segundo Leonhardt & Mönnig (1977), a aderência em peças de concreto armado surge sempre que houver variação de tensões em determinado trecho de barras de aço. As principais causas dessas variações de tensões são: ações externas, fissuras, forças de ancoragem nas extremidades das barras, variações de temperatura, retração do concreto e deformação lenta. A aderência pode ser entendida como a ligação existente entre o aço e o concreto, impedindo o deslocamento relativo entre os dois materiais, formando assim uma peça solidária. Embora a concepção de um valor médio da tensão de aderência seja conveniente, a transferência de forças está associada a uma combinação das parcelas relativas à adesão, ao atrito e à aderência mecânica. Esta divisão, entretanto, é meramente didática, não sendo possível determinar cada componente isoladamente, devido à complexidade dos fenômenos envolvidos. Conforme Pinheiro & Muzardo (2003), aderência é a propriedade que impede que haja escorregamento de uma barra de aço em relação ao concreto que a envolve. É, portanto, responsável pela solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com que esses dois materiais trabalhem em conjunto, uma vez que não existe deslocamento relativo entre a barra de aço e o concreto que a envolve. 9 2.2.1 Aderência por adesão A parcela de aderência por adesão, ilustrada na Figura 2.3, é estabelecida pela ligação físico-química que se estabelece na interface aço-concreto durante as reações de pega do cimento. A aderência depende da limpeza da superfície e da rugosidade das barras, o que não é suficiente para uma boa aderência. (FRANÇA, 2004). Conforme Eligehausen et al. (1983), a aderência fornecida pela adesão é muito baixa, apresentando valores em torno de 0,5 a 1,0 N/mm². Essa parcela é destruída sob pequenos deslocamentos da barra. Figura 2.3 – Aderência por adesão, adap. FUSCO (1995) 2.2.2 Aderência mecânica A tensão de cisalhamento entre o aço e concreto ainda é resistida pelo engrenamento desses dois materiais. Na verdade, esta é a principal parcela atuante nas solicitações do concreto armado, no qual se empregam barras nervuradas. A parcela referente à aderência mecânica é a grande responsável pela ancoragem da barra de aço e esta promove certa resistência de pós-pico, depois de atingida a tensão máxima de aderência (ALMEIDA, 2006). A aderência mecânica está presente tanto nas barras nervuradas quanto nas barras lisas. Entretanto, os estudos deste trabalho delimitam à análise da aderência em barras nervuradas; uma vez que é o engrenamento mecânico entre a nervura da barra e o concreto, o responsável pela aderência efetiva no concreto armado. As disposições de saliências ao longo 10 das barras funcionam como peças de apoio, mobilizando tensões de compressão no concreto (FUSCO, 1995). Essa aderência é a interação mecânica entre o aço e concreto, decorrente da presença de saliências na superfície da barra (nervuras laminadas, estrias), como ilustra a Figura 2.4. Este tipo de ligação depende da forma, altura, inclinação das nervuras e da distância entre elas. Por meio de intertravamento mecânico, do tipo de encaixe entre o concreto e as nervuras das barras de aço, formam-se “consolos de concreto” que são solicitados ao corte e à compressão antes que a barra possa deslizar no concreto (FRANÇA, 2004). Figura 2.4 – Aderência mecânica, adap. FUSCO (1995) 2.2.3 Aderência por atrito A parcela relativa ao atrito, ilustrada na Figura 2.5, é decorrente da ação das forças de atrito existentes entre os dois materiais. Estas forças dependem do coeficiente de atrito entre o aço e o concreto, o qual é função da rugosidade superficial da barra. A aderência por atrito, a qual se manifesta devido à pressão transversal do concreto sobre a armadura como, por exemplo, a de retração ou de confinamento, pode ser determinada por meio de ensaios de arrancamento. Conforme Ducatti (1993), mesmo quando o concreto circunvizinho apresentar fissuras de fendilhamento, o atrito pode substituir, embora parcialmente, a parcela perdida da transferência do engrenamento das tensões de aderência. Permanece a situação até certo nível de tensão para o qual ou a resistência de atrito seja esgotada ou se torne insuficiente. Nesse 11 caso, a barra é arrancada deixando em seu lugar original, um orificiio quase intacto dentro do concreto (quando do caso de barras lisas). Figura 2.5 – Aderência por atrito (PINHEIRO & MUZARDO, 2003) 2.3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA TENSÂO DE ADERÊNCIA A tensão de aderência pode ser definida como sendo a relação entre a força atuante na barra e a superfície da barra aderente ao concreto. Porém, existem vários fatores que podem intervir na sua quantificação e influenciar o comportamento da aderência. Seguem abaixo alguns fatores que devem ser levados em consideração no dimensionamento e análise. 2.3.1 Adensamento do concreto O adensamento pode ser critico para a aderência uma vez que as zonas de ancoragem são pontos onde normalmente se tem uma elevada porcentagem de armadura, ocasionando maiores dificuldades de concretagem e, como conseqüência, maior possibilidade de surgimento de vazios, tornando esta região mais fraca quando solicitada (FRANÇA, 2004). Influencia tanto na aderência ao aço-concreto quanto na resistência à compressão e à tração do concreto (OLIVEIRA E ASSIS, 2006). 12 2.3.2 Conformação superficial Quanto à conformação superficial, as barras de aço são classificadas em lisas e nervuradas. Segundo Vieira (1994), o estado superficial das barras lisas, onde a resistência de aderência está ligada à adesão, tem influência significativa sobre a aderência que ela possa desenvolver. De acordo com CEB 151 (1982), as barras lisas contaminadas com desmoldante praticamente não apresentam aderência. Para barras nervuradas, onde a adesão representa uma pequena parcela da resistência da aderência, o estado superficial da barra não influencia nessa resistência. As barras nervuradas com diferentes condições de superfície (barras normais, oxidadas ao ar, oxidadas na água salgada, lubrificadas e com rugosidade obtida artificialmente) têm pouca influência no comportamento de aderência do aço ao concreto. 2.3.3 Diâmetro da barra Ducatti (1993), ao estudar o efeito na aderência de barras nervuradas de diferentes diâmetros, observou que a resistência de aderência diminui quando o diâmetro de barra aumenta. Segundo o autor, A justificativa para tal fato possivelmente está ligada à espessura da zona de transição, que é mais grossa nas barras de maior diâmetro. Conforme Barbosa (2001), o aumento do diâmetro das barras reduz a tensão máxima de aderência. Uma justificativa é que a espessura da zona de transição torna-se maior nas barras de maior diâmetro. Com o aumento do diâmetro e a maior altura das nervuras, há uma maior retenção da água de amassamento do concreto na interface barra/concreto, o que aumenta a zona de transição. Como esta região torna-se mais porosa, o esmagamento ou cisalhamento da parte em contato com as nervuras ocorre de forma mais fácil. Segundo Soroushian e Chol (1989) e Reynolds e Baddy (1982) o aumento do diâmetro de barra reduz a tensão máxima de aderência. Tal fato pode ser explicado devido ao aumento da espessura da zona de transição entre a armadura e o concreto. Além disso, as maiores dimensões das nervuras retêm mais água de amassamento na face inferior da barra, refletindo 13 em uma zona de transição de maior espessura, enfraquecendo assim a ligação entre a matriz de argamassa e a armadura, tornando-se esta mais porosa e ficando vulnerável ao esmagamento do concreto por compressão pelos flancos das nervuras. Segundo Eligehausen et al. (1983), o aumento do diâmetro resulta em uma diminuição da tensão máxima de aderência, sendo esta diminuição não é significativa. Porém, os estudos realizados por Barbosa (2001) apontam para um aumento da tensão de aderência à medida que se aumenta o diâmetro. Entretanto, a autora conclui ainda que sejam necessários mais estudos. 2.3.4 Idade do concreto Ribeiro (1985) afirma que a influência da idade do concreto sobre a aderência é a mesma verificada em relação à resistência à compressão ou à tração do concreto. 2.3.5 Posição da barra na concretagem Na concretagem de uma peça, tanto no lançamento como no adensamento, o envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela inclinação e posição da barra. De acordo com o CEB 151 (1982), a tensão de aderência de barras concretadas na posição vertical e solicitadas no sentido contrário à concretagem é maior que a de barras concretadas na posição horizontal ou na vertical solicitadas no mesmo sentido da concretagem. A exsudação do concreto fresco provoca um acúmulo de água sob as barras, que ao ser absorvida ou evaporar, deixará espaços vazios ou poros, prejudicando a aderência (BARBOSA, 2001). Ribeiro (1985) observou que a posição da barra influi na resistência ao arrancamento. As barras concretadas na posição horizontal, no topo da forma, apresentam pior comportamento do que aquelas concretadas no fundo da forma. Isto se deve ao fato de que as barras inferiores situam-se numa zona em que o adensamento é mais acentuado e, portanto, a existência de argamassa porosa na metade inferior das barras é menor, conforme ilustra a Figura 2.6. 14 Figura 2.6 – Formação de espaços vazios ou poros sob as barras concretadas em posição horizontal devida à segregação e ao acúmulo de água, LEONHARDT (1979) 2.3.6 Resistência mecânica do concreto A resistência mecânica do concreto é um dos fatores que influência de maneira mais significativa à resistência de aderência. De modo geral, quanto maior a resistência do concreto e quanto melhor a qualidade do concreto, em razão da boa dosagem, maiores serão os esforços de aderência que o concreto poderá suportar na interface aço-concreto. Conforme Ducatti (1993), no caso da ruptura por fendilhamento de concretos normais com resistência à compressão de até 40 MPa, a resistência à tração do concreto seria o fator determinante do estado último de carregamento na ancoragem da armadura. Segundo Monteiro (1985), que realizou ensaios de aderência do tipo Pull-Out-Test, em corpos de prova com diferentes níveis de resistência, concluiu que a resistência à compressão do concreto exerce um “papel fundamental” na resistência de aderência. Conforme Ducatti (1993, apud BARBOSA, 2001), a tensão última de aderência é proporcional à raiz quadrada da resistência à compressão (Figura 2.7). Para resistências convencionais, isso pode ser explicado através da proporcionalidade entre resistência à tração e à compressão, visto que os principais mecanismos de aderência são dependentes da fissuração e conseqüentemente da resistência à tração. Vieira (1994) afirma que a resistência à tração do concreto é o fator principal que condiciona a resistência de aderência quando a ruptura ocorre por fendilhamento. No entanto, no caso em que ocorre ruptura por arrancamento, o fator determinante é a resistência de compressão do concreto. 15 Figura 2.7 – Efeito da resistência à compressão do concreto na resistência da aderência, DUCATTI (1993, apud BARBOSA, 2001) 2.3.7 Traço do concreto Qualquer modificação no traço do concreto que não altere a resistência à compressão ou à tração do concreto, não influenciará o comportamento de aderência ao aço-concreto (OLIVEIRA E ASSIS, 2006). Martin e Noakowski (1981) afirmam que utilizando agregados de diâmetro maior e pequena quantidade de água se observa um definido acréscimo no comportamento da aderência. Uma explicação para estas observações seria que em misturas com agregados muito finos, as partículas finas e também a água se acumulam nas circunvizinhanças da barra, levando esta região a uma queda na resistência, o que facilita um esmagamento do concreto por compressão junto aos flancos das nervuras, quando a barra for solicitada. 2.4 ENSAIOS DE ADERÊNCIA A normalização brasileira avalia a tensão de aderência através da determinação do coeficiente de conformação superficial que é obtido através do ensaio de fissuração em tirantes de concreto de forma prismática, armados com uma única barra ou fio, onde será submetido ao ensaio de tração. Existem vários ensaios que determinam o coeficiente de conformação superficial de barras e fios de aço destinados a armaduras de concreto armado, alguns citados a seguir: 16 2.4.1 Ensaio de Arrancamento Direto: PULL-OUT TEST (POT) Este ensaio é normalizado pela CEB RC6 (1983) e também recomendado pelo RILEM RC5 (1982) e pela ASTM C243 (1991). É um ensaio sobre o material composto concreto armado. Não é evidentemente o caso do ensaio de compressão simples, realizado unicamente com o material concreto. Sendo, portanto, considerado como um ensaio composto, que pode ser conduzido por arrancamento de uma barra envolvida dentro de um bloco de concreto (Figura 2.8), que está diretamente correlacionado com a tensão de compressão. Barbosa et al. (2000), ressaltam que as vantagens desse ensaio são o baixo custo, a simplicidade do corpo de prova, possibilidade de se isolar as variáveis que influenciam a aderência, e a possibilidade de uma visualização objetiva do próprio conceito de comprimento mínimo de ancoragem, sendo, dessa forma, um ensaio bastante didático. A validade do ensaio de arrancamento para efeitos de capacidade de ancoragem das barras é questionada, tendo em vista as diferenças existentes entre o panorama de tensões obtido nesse tipo de ensaio e o correspondente às regiões de ancoragem das armaduras de peças de concreto armado. Conforme Fusco (1995), no ensaio de arrancamento surge uma componente de compressão longitudinal. Em zonas de ancoragem da armadura de tração de vigas submetidas à flexão essa componente não existe. Figura 2.8 – Ensaio de arrancamento direto (RILEM RC5, 1982) 17 2.4.2 Ensaio de Arrancamento com Anel Circunferencial: Ring Pull – Out Test Conforme França (2004), este ensaio consiste na extração de uma barra de aço concretada no interior de um corpo de prova que se apóia contra placas de uma máquina de ensaio, o corpo de prova é sempre cilíndrico e fica envolvido por anel metálico que abraça o comprimento mergulhado; este anel é instrumentado com strain-gages que possibilitam medir, além das deformações ocorridas no anel, a tração exercida em um dos extremos da barra e os escorregamentos. A Figura 2.9 ilustra o ensaio. Figura 2.9 – Ensaio de arrancamento com anel circunferancial (FRANÇA, 2004) 2.4.3 Ensaio de Flexão: Beam Test (Bt) O “Beam Test” consiste em um corpo de prova constituído de dois blocos paralelepipédicos de concreto armado, ligados em sua parte inferior pela barra de aço e em sua parte superior por uma rótula metálica, conforme ilustrado na Figura 2.10. A viga assim constituída é solicitada a flexão simples, sobre dois apoios, por duas forças concentradas de mesma magnitude que agem a distâncias iguais dos extremos. Nos extremos das barras colocam-se deflectômetros, a fim de que possam ser medidos os deslocamentos relativos da barra em relação ao concreto. (SIMPLICIO, 2008) 18 Figura 2.10 – Ensaio de flexão em vigas (RILEM RC5, 1982) 2.4.4 Ensaio de Extremo de Viga: Beam End Test Segundo França (2004), este ensaio representa a situação de aderência que existe entre uma fissura de flexão-cisalhamento e o extremo de uma viga simplesmente apoiada. Representa uma variação do ensaio de flexão, que consiste em uma barra situada na parte inferior do corpo de prova, que é tracionada e a reação, que simula a zona de compressão da viga, é aplicada na parte superior do corpo de prova, ilustrada na Figura 2.11. Conforme Ribeiro (1985), ele fornece as mesmas informações que o ensaio de flexão ou ensaio de viga, com a vantagem da redução do tamanho do corpo de prova. Figura 2.11 – Ensaio de extremidade de viga. RIBEIRO (1985) 19 2.4.5 Ensaio de Aderência do Tipo Push-Out Test Este ensaio consiste em fazer extrair uma barra de armadura de aço, geralmente posicionada no centro de um bloco de concreto, arrancando ou puxando sobre ela (ensaio de PULL-OUT TEST ou ensaio de PUSH-OUT TEST). Uma vez rompida a ligação aço-concreto, a barra se desloca com mais ou menos facilidade dentro do bloco de concreto dependendo da rugosidade da sua superfície envolvida (armadura lisa ou armadura nervurada). Barbosa et al. (2000), ressaltam que as vantagens desse ensaio são o baixo custo, a simplicidade do corpo-de-prova, possibilidade de se isolar as variáveis que influenciam a aderência, e a possibilidade de uma visualização objetiva do próprio conceito de comprimento mínimo de ancoragem, sendo, dessa forma, um ensaio bastante didático. 2.4.6 Ensaio das quatro barras É um ensaio de arrancamento do aço no concreto, onde a barra central, situada em um dos lados do corpo de prova, é tracionada enquanto o mesmo é mantido imóvel pela força reativa distribuída pela outras três barras, situadas no lado oposto e dispostas no vértice de um triângulo imaginário (ROSSI, 2002). Figura 2.12 – Esquema do corpo de prova do ensaio das quatro barras (DUCATTI, 1993). A medida dos deslocamentos da barra central em relação ao concreto é feita por meio de extensômetros fixados ao concreto por um adeviso. As deformações são medidas por extensômetros elétricos colocados ao longo do comprimento da barra central. 20 O ensaio de quatro barras, testado por Ducatti (1993), consiste de uma emenda por transpasse, ligando três barras a uma central e envolvidas por um cilindro de concreto, como mostra Figura 2.13. O objetivo principal deste método é eliminar as interferências das tensões de compressão, impostas ao concreto no ensaio de arrancamento tradicional. Figura 2.13 – Esquema geral de ensaio desenvolvido por DUCATTI (1993) 2.4.7 Ensaio de Conformação Superficial ou Ensaio de Tirante de Concreto Este ensaio consiste em exercer um esforço de tração aos dois extremos de uma barra mergulhada no centro de um corpo de prova de concreto prismático, com objetivo de avaliar a aderência entre o concreto e o aço. Em geral, ele é usado para se estudar fissuração, simular a zona de transição entre duas fissuras de flexão e determinar o coeficiente de conformação superficial da barra (BARBOSA, 2001). De acordo com NBR 7477 (ABNT, 1982), a determinação do coeficiente de conformação superficial será feita por meio de ensaio de fissuração em tirantes de concreto, armados com uma única barra ou fio. Enquanto barras lisas apresentam fissuras de maior abertura e mais afastadas entre si, barras nervuradas apresentam fissuras mais próximas e com menor abertura. O afastamento (df) entre as fissuras permite a determinação do coeficiente de conformação superficial, por meio da equação 2.3, especificada na NBR 7477 (ABNT, 1982). 21 Figura 2.14 – Esquema do corpo de prova (FRANÇA, 2004) η= 2,25 × d ∆Lmédio Equação (2.3) Onde: η = coeficiente de conformação superficial; d = lado da seção do tirante; ∆Lmédio = distância média entre fissuras, considerando as quatro faces. Segundo Castro (2000), a partir do cálculo do espaçamento médio entre as fissuras determina-se a tensão média de aderência das barras de aço em concretos de diferentes classes de resistência aplicando-se a equação 2.4: τ m = 0,375 × f ct × φ ∆l médio × ρ Onde: τm = tensão média de aderência (MPa); fct = resistência à tração simples do concreto (MPa); f ct = 0,9 × f ct , sp ; Equação (2.4) 22 fct,sp = resistência à tração indireta, medida no ensaio de compressão diametral; ∆lmédio = distância média entre fissuras (mm); Ø = diâmetro da barra (mm); ρ = As / Ac; As = área de aço da seção transversal (mm²); Ac = área de concreto da seção transversal (mm²). 2.5 PESQUISA SOBRE ENSAIOS DE TIRANTES 2.5.1 França (2004) Segundo França (2004) após a execução do ensaio de tirantes, foram medidos os espaçamentos entre as fissuras para obter o coeficiente de conformação supercifial. Os valores dos espaçamentos médios entre as fissuras obtidos para idades de 28 e 90 dias estão na Tabela-2.2, na qual se encontram, também, os coeficientes de variação das amostras (CV). Geralmente, se os dados de uma amostra têm um CV igual ou maior a 25% a sua qualidade é considerada duvidosa. Tabela 2.2- Valores obtidos de XM e CV – 28 dias (França, 2004) ENSAIOS REALIZADOS AOS 28 DIAS diâmetro da barra (mm) concreto convencional concreto com 10 % de resíduo XM C.V. XM C.V. 10.0 7,94 12,1 7,43 17,53 12.5 7,73 9,37 8,34 4,53 16.0 7,96 7,52 8,59 9,48 Onde: XM: média das distâncias dos nove CPs em cm; CV: coeficiente de variação em %. 23 Tabela 2.3 – Valores obtidos de XM e CV – 90 dias (França, 2004) ENSAIOS REALIZADOS AOS 90 DIAS diâmetro da barra (mm) concreto convencional concreto com 10 % de resíduo XM C.V. XM C.V. 10.0 7,84 5,41 7,01 8,25 12.5 7,6 3,62 8,25 3,92 16.0 7,72 2,36 8,38 3,62 Onde: XM: média das distâncias dos nove CPs em cm; CV: coeficiente de variação em %. Analisando as tabelas 2.2 e 2.3 verificou-se que todas as amostras apresentaram um coeficiente de variação inferior a 25%, conclui-se que os resultados obtidos apresentaram uma boa qualidade. Pode-se notar que à medida que o diâmetro das barras cresce há uma diminuição do valor do coeficiente de variação. Além disso, observa-se que o CV obtido para as amostras ensaiadas na idade de 90 dias foram menores que aquelas ensaiadas aos 28 dias. Posteriormente, foi calculado o coeficiente de aderência, de acordo com a norma NBR 7477 (ABNT, 1982), utilizando-se a equação 2.3. Tabela 2.4 – Coeficiente de conformação superficial (França, 2004) concreto convencional concreto com Resíduos 28 90 28 90 10.0 1,36 1,38 1,45 1,54 12.5 1,57 1,6 1,46 1,53 16.0 1,72 1,78 1,6 1,64 diâmetro da barra (mm) Podemos observar que à medida que se aumenta o diâmetro da barra há um aumento no coeficiente de conformação. Para melhor visualização do comportamento da aderência foram elaborados gráficos da evolução do coeficiente de conformação superficial. 24 Figura 2.15 – Coeficiente de conformação da barra de ф 10mm (França, 2004) Figura 2.16 - Coeficiente de conformação da barra de ф 12,5mm (França, 2004) 25 Figura 2.17 - Coeficiente de conformação da barra de ф 16mm (França, 2004) Tabela 2.5 – Aumento em porcentagem do (η) em relação ao aumento do diâmetro da barra (França, 2004) diâmetro da barra (mm) concreto convencional concreto com Resíduos 28 dias 90 dias 28 dias 90 dias 10.0 → 12.5 + 15,44% + 15, 94% + 0,69% - 0,65% 12.5 → 16.0 + 9,55% + 11,25% + 9,59% + 7,19% Observando a Tabela 2.5, conclui-se que o aumento no diâmetro da barra de aço produz um acréscimo mais expressivo no coeficiente de aderência no concreto convencional do que no concreto com resíduos. A NBR 7480 (ABNT, 1996) determina que o valor mínimo para o coeficiente de conformação supercial seja igual a 1,5 para as barras de aço de diâmetro nominal igual ou superior a 10,00 mm. 26 Frente a isto, conclui-se que o concreto convencional na barra de 10 mm não atendeu a normalização brasileira em nenhuma das idades (28 e 90 dias), mas o concreto com resíduos atendeu o valor solicitado pela norma na idade de 90 dias. Para as barras de 12,5 mm utilizando o concreto convencional, este valor foi atendido nas duas idades (28 e 90 dias), mas para o concreto com resíduo de borracha esse valor só foi atendido na idade de 90 dias. Para as barras de 16,0 mm, ambos os concretos superou o valor exigido pela norma. 27 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL 3.1 Introdução Os ensaios para caracterização do aço, das propriedades mecânicas do concreto e o ensaio de tirantes foram realizados no Laboratório da UFG de Engenharia Civil, em GoiâniaGO. Neste capítulo são apresentados os procedimentos experimentais usados para avaliação e comparação da aderência aço-concreto, utilizando concreto convencional e três diâmetros de barras de aço do tipo nervuradas. 3.2 Concreto O concreto utilizado foi dosado para atingir uma resistência característica à compressão em torno de 35 MPa, aos 28 dias. O concreto foi cedido pela empresa Realmix Concreto Ltda. Foi medido o abatimento antes e após a introdução do aditivo, sendo 4 cm e 18 cm, respectivamente, conforme ilustra a Figura 3.1. Figura 3.1 – Slump Test 28 Empregou-se como agregado miúdo areia natural proveniente do Rio e como agregado graúdo, o granulito da Pedreira Anhanguera (Brita 1). A relação água e cimento foi de 0,44. O cimento utilizado foi o CP II-F 32 da Cimpor, e o superplastificante, foi o TecFlow 50N, sendo um litro por metro cúbico de concreto. 3.2.1 Propriedades Mecânicas As principais propriedades mecânicas medidas do concreto são: resistência à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e o módulo de elasticidade longitudinal. Essas propriedades são determinadas a partir de ensaios, executados em condições específicas. Geralmente, os ensaios são realizados para controle da qualidade e atendimento às especificações. A concretagem de todos os corpos de prova cilíndricos e dos moldes de tirantes foi realizada em uma única etapa, com duração de aproximadamente 3 horas. Para determinação das propriedades mecânicas do concreto, foram moldados 3 (três) corpos-de-prova cilíndricos de 10x20cm para cada idade (3, 7, 21, 28, 60 e 90 dias), sendo o adensamento realizado por meio de mesa vibratória. Após o início da pega do concreto, os corpos-de-prova foram cobertos por lonas plásticas, Figura 3.2. Foi realizada cura úmida durante os sete primeiros dias, após a concretagem. 29 Figura 3.2 – Lona plástica nos corpos-de-prova cilíndricos As Figuras 3.3, 3.4 e 3.5, ilustram os ensaios de resistência à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade longitudinal, respectivamente. Figura 3.3 – Ensaio de Resistência à Compressão Cilíndrica, conforme NBR 5739 (ABNT, 2007) 30 Figura 3.4 – Ensaio de resistência à tração na compressão diametral, conforme NBR 7222 (ABNT, 2010) Figura 3.5 – Ensaio de módulo de elasticidade, conforme NBR 8522 (ABNT, 2008), detalhe do sistema de medição das deformações 31 A Tabela 3.1 apresenta os valores das resistências à compressão e à tração e o módulo de deformação, seguindo os procedimentos estabelecidos pelas normas NBR 5739 (ABNT, 2007), NBR 7222 (ABNT, 2010) e NBR 8522 (ABNT, 2008), respectivamente. Tabela 3.1 – Resultados das propriedades mecânicas do concreto Idades (dias) Ensaio 3 7 21 28 60 90 Resistência à Compressão (MPa) 32,29 37,92 41,82 44,81 47,72 50,81 Resistência à Tração (MPa) 3,21 3,66 4,15 4,49 4,73 5,05 Módulo de Deformação (GPa) 21,18 22,17 24,08 26,44 26,98 28,2 As Figuras 3.6, 3.7 e 3.8, ilustram a evolução da resistência à compressão e à tração e do módulo de deformação, respectivamente, para as idades de 3, 7, 21, 28, 60 e 90 dias. Resistência à Compressão 60 fck (MPa) 50 40 30 20 10 0 0 3 7 21 28 dias Figura 3.6. – Evolução da Resistência à Compressão 60 90 32 Resistência à Tração 6 fck (MPa) 5 4 3 2 1 0 0 3 7 21 28 60 90 dias Figura 3.7 – Evolução da Resistência à Tração Módulo de Deformção 30 25 GPa 20 15 10 5 0 0 3 7 21 28 60 90 dias Figura 3.8 – Evolução do Módulo de Deformação , 3.3 Armadura Utilizaram-se, nesta pesquisa, aços do tipo nervurado com seção circular da classe CA 50, com resistência característica de escoamento (fy) de 500 MPa, produzido pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Optou-se por barras de aço de diâmetros de 10,0mm, 12,5mm, 16,0mm, pela facilidade apresentada no manuseio e fabricação dos moldes de tirante, uma vez que o tamanho do molde varia de acordo com o diâmetro da barra, e também por serem os aços mais utilizados nas construções civis de pequeno e médio porte. 33 Os ensaios para a caracterização do aço obedeceram à norma NBR 7480 (ABNT, 1996), a qual fixa as condições exigíveis na encomenda, fabricação e fornecimento de barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado. Os resultados obtidos estão ilustrados na Tabela 3.2. O ensaio para obtenção das propriedades mecânicas do aço foi realizado segundo a NBR 6152 (ABNT, 2002). Tabela 3.2 – Resultados da caracterização das barras de aço Diâmetro (mm) Inclinação da Limite de Limite de Alongamento nervura Escoamento Resistência (%) (graus) (MPa) (MPa) 10,0 49 609,50 775,30 14,57 12,5 47 619,00 778,00 14,00 16,0 48 630,10 795,00 16,05 Para as barras de aço de diâmetro nominal ou superior a 10,0mm da categoria CA-50, a norma brasileira estabelece que o coeficiente de conformação superficial deva ser maior ou igual a 1,5. A NBR 7480 (ABNT, 1996) estabelece, em relação à conformação geométrica das barras, que: Para diâmetros nominais maiores ou iguais a 10.0mm, a altura média das nervuras transversais ou oblíquas deve ser igual ou superior a 0.04 do diâmetro nominal e para diâmetros nominais inferiores a 10.0mm, igual ou superior a 0.02 do diâmetro nominal; As nervuras devem abranger pelo menos 85% do perímetro nominal da seção transversal da barra; As barras devem ter pelo menos duas nervuras longitudinais contínuas e diametralmente opostas, exceto no caso em que as nervuras transversais estejam dispostas de forma a se oporem ao giro da barra dentro do concreto; O espaçamento médio das nervuras transversais ou oblíquas, medido ao longo de uma mesma geratriz, deve estar entre 0.5 e 0.8 do diâmetro nominal. 34 Para se obterem dados precisos a respeito do material foram realizados ensaios referentes à conformação geométrica das barras em estudo, especificados a seguir. O ângulo de inclinação das nervuras foi determinado através de uma série de cinco leituras de cada lado da barra e para cada diâmetro, obtendo o valor médio. A Figura 3.9 ilustra o método. Figura 3.9 – Leitura do ângulo de inclinação das nervuras A distância entre as nervuras foi obtida pela distância entre pontos equivalentes das mesmas, em 10 espaços afastados e dividida pelo número de espaços. Os resultados obtidos estão na Tabela 3.3. Verifica-se que os valores obtidos encontram-se dentro dos limites da NBR 7480 (ABNT, 1996). 35 Tabela 3.3 – Comparação dos espaçamentos entre nervuras obtidos e os intervalos exigidos pela NBR 7480 (ABNT, 1996) Espaçamentos Médios das Nervuras Diâmetro (mm) Espaçamento (mm) Intervalo do espaçamento NBR7480/96 10,00 6,50 5,00 a 8,00 12,50 8,62 6,25 a 10,00 16,00 9,44 8,00 a 12,80 3.4 Método Experimental 3.4.1 Ensaios de Tirantes O ensaio de tirantes, normalizado pela NBR 7477 (ABNT, 1982), prescreve os procedimentos necessários para a determinação do coeficiente de conformação superficial de barras e fios de aço destinados a armaduras de concreto armado, sendo que essa determinação será feita através de ensaio de fissuração em tirantes de concreto, armados com uma única barra ou fio. A fabricação dos moldes obedeceu à norma acima citada, que específica as seguintes características (em cm): φ d = π ×φ × + 7 4 Onde: d = medida do lado do tirante; ø = diâmetro nominal da barra ou fio; ℓ = comprimento do tirante ≥ 15 x d (Figura 3.10); L = comprimento da barra = ℓ + 120 (Figura 3.10). Equação (3.1) 36 Figura 3.10 – Moldes para os corpos de prova A equação 3.1 permite dimensionar o tamanho das fôrmas que, por sua vez, variam de acordo com o diâmetro da barra ou fio de aço. As dimensões dos tirantes ensaiados estão descritos na Tabela 3.4. Tabela 3.4 – Dimensões dos tirantes ensaiados Diâmetro da barra (ø) (mm) 10,0 12,5 16,0 Largura (d) (mm) 47,7 53,5 60,9 Altura (d) Comprimento (l) (mm) 47,7 53,5 60,9 (mm) 750,0 850,0 950,0 A norma NBR 7477 (ABNT, 1982) determina que o mínimo de tirantes a serem ensaiados seja em número de 9 (nove). Atendendo a esta orientação foi executado um número de formas que permitissem a moldagem dos tirantes suficientes para serem ensaiados com a 37 idade de 90 dias. O objetivo de moldar todos os corpos-de-prova de uma só vez era de poder eliminar possíveis interferências que poderiam ocorrer de um caminhão de concreto para outro. As fôrmas dos tirantes foram executadas em madeira de boa qualidade, conforme ilustra a Figura 3.11. Figura 3.11 – Fôrmas dos tirantes 3.4.2 Fabricação dos tirantes O procedimento adotado na confecção dos tirantes consiste em primeiramente untar inteiramente as formas com óleo mineral, colocando em seguida as barras de aço cuidadosamente, para que não sofram contaminação do óleo lubrificante. Após fixação das barras de aço, os orifícios externos foram tampados com massa de calafetar, para não permitir que a barra se movimentasse durante o processo de adensamento. 38 Com a fôrma preparada, lançou-se o concreto em duas camadas. Para melhor adensamento, o concreto é espalhado manualmente. Após o preenchimento dos moldes, os tirantes foram colocados em mesa vibratória para adensamento. Após a vibração, os tirantes passam por um processo de nivelamento, quando são removidas as asperezas por meio de uma desempenadeira. Para a realização do ensaio, os tirantes foram pintados na cor branca com tinta a base de cal, para melhor visualização das fissuras. 3.4.3 Sistema de carregamento Após secagem da pintura, os tirantes foram fixados cuidadosamente ao sistema de carregamento (Figura 3.12), através de garras aplicadas às extremidades livres da barra e, submetidos à força de tração até atingir 80% da carga correspondente a tensão de escoamento da barra de aço, de acordo com a NBR 7477 (ABNT, 1982). Após o fim do carregamento verificou-se a ocorrência de fissura, marcando com caneta, como ilustra a Figura 3.13. Figura 3.12 – Sistema de carregamento 39 Figura 3.13 – Marcação das fissuras 3.4.4 Sistema de leitura Ao término da aplicação do carregamento máximo, as distâncias entre as fissuras foram medidas, no eixo longitudinal, nas quatro faces do tirante e anotada a fim de se realizar o cálculo do coeficiente de conformação superficial. Ressalta-se que só foram consideradas as fissuras que surgiram nas quatro faces do tirante. 40 4 APRESENTÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS 4.1 Resultados experimentais O ensaio para a determinação do coeficiente superficial das barras de aço, também conhecido como ensaio de tirantes, foi realizado aos 90 dias de idade. Foram moldados nove corpos de prova para cada variável da pesquisa, que é o diâmetro do aço. Os valores dos espaçamentos médios entre as fissuras, obtidos para a idade de 90 dias, estão apresentados na Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Espaçamento médio entre fissuras Diâmetro do aço (mm) 10,0 12,5 16,0 Espaçamento médio entre fissuras (cm) CP1 6,49 4,89 5,72 CP2 6,32 4,8 5,91 CP3 6,41 4,72 5,9 CP4 6,35 4,8 6,12 CP5 6,33 4,91 5,82 CP6 6,53 5,13 6,14 CP7 6,58 4,62 5,56 CP8 6,65 4,78 5,47 CP9 6,80 4,89 5,59 CPM 6,50 4,84 5,80 Onde: CP1, CP2, CP3...CP9 são o número de tirantes ensaiados para cada diâmetro, CPM = média das distâncias entre as fissuras dos nove CPs em cm. 4.2 Análise estatística 4.2.1 Coeficiente de variação da amostra Para se calcular o coeficiente de variação é necessário obter o desvio padrão e a média das amostras a serem analisadas. Para o cálculo do coeficiente de variação utilizou-se a equação 4.1. 41 DP CV = × 100 CPM Equação (4.1) Onde: CPM = média das distâncias entre as fissuras dos nove CPs em cm; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação em %. Foram confeccionadas nove amostras de tirantes de concreto para cada idade, com isso obtivemos a distância média entre as fissuras de cada tirante que estão ilustradas nas Figuras 4.1, 4.2 e 4.3. A linha rosa simboliza um comportamento linear dos resultados com 0% de variação e a em azul os resultados obtidos. Espaçamento médio entre as fissuras (cm) Concreto - 10,0mm 8 7,5 7 6,5 6 5,5 5 1 2 3 4 5 6 7 nº do CP's 10,0mm Média Figura 4.1 – Espaçamento médio entre as fissuras - aço de 10,0mm 8 9 42 Espaçamento médio entre as fissuras (cm) Concreto - 12,5mm 7 6,5 6 5,5 5 4,5 4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 8 9 nº do CP's 12,5mm Média Figura 4.2 – Espaçamento médio entre as fissuras - aço de 12,5mm Espaçamento médio entre as fissuras (cm) Concreto - 16,0mm 7 6,5 6 5,5 5 4,5 4 1 2 3 4 5 6 7 nº do CP's 16,0mm Média Figura 4.3 – Espaçamento médio entre as fissuras - aço de 16,0mm Por sua vez, na Tabela 4.2, se encontra os valores dos desvios padrões e o coeficiente de variação das amostras (CV). O CV é uma análise preliminar dos dados obtidos em um experimento que mede a variabilidade das observações. Geralmente, se os dados de uma amostra têm um CV igual ou maior que 25% a sua qualidade é considerada duvidosa. 43 Tabela 4.2 – Valores obtidos de CPM, DP e CV Diâmetro do aço (mm) CPM DP CV (%) 10,0 6,50 0,15 2,36 12,5 4,84 0,13 2,79 16,0 5,80 0,23 3,88 Analisando os valores do CV apresentados na Tabela 4.2, observa-se que todos os resultados obtidos tiveram valores menores que 25%, o que acarreta em sua aceitação. A Tabela 4.3 apresenta os valores do coeficiente de aderência obtidos pela equação e da tensão média de aderência calculada a partir da equação 4.2. η= 2,25 × d ∆Lmédio Equação (4.2) Onde: η = coeficiente de conformação superficial; d = lado da seção do tirante; ∆Lmédio = distância média entre fissuras, considerando as quatro faces. Tabela 4.3 – Valores do coeficiente de aderência Diâmetro da barra (mm) d (cm) ∆lmédio (cm) η 10,0 12,5 16,0 4,77 5,35 6,09 6,50 4,84 5,80 1,65 2,49 2,36 Com valores da resistência à tração do concreto e as médias distâncias médias entre fissuras, pode-se calcular, conforme equação 2.4, anteriormente citada, a tensão média de 44 aderência, segundo CASTRO (2000). A Tabela 4.4 apresenta os resultados obtidos com os ensaios realizados na idade de 90 dias. Tabela 4.4 – Tensão de aderência segundo Castro (2000) ø (mm) Tensão de aderência (MPa) 10,0 8,44 12,5 11,42 16,0 9,63 Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003), obtém-se a tensão de aderência conforme a equação 4.3. f bd = η1 × η 2 × η 3 × f ctd Sendo: f ctd = f ctk ,inf γc ; 2 f ct , m = 0,3 × f ck 3 ; f ctk ,inf = 0,7 × f ct , m ; fck = resistência característica à compressão do concreto; γc = coeficiente de ponderação das resistências no estado limite último; η1 = tipo de superfície da barra; η1 = 1,0 para as barras lisas; η1 = 1,4 para as barras entalhadas; η1 = 2,25 para as barras nervuradas; η2 = coeficiente de aderência; η2 = 1,0 para situações de boa aderência; η2 = 0,7 para situações de má aderência; Equação (4.3) 45 η3 = coeficiente de diâmetro da bitola; η3 = 1,0 para ø < 32 mm; η3 = 132 − φ para ø ≥ 32 mm; 100 fctd = resistência a tração de cálculo do concreto; ø é o diâmetro da barra em mm. A Tabela 4.5 apresenta os resultados obtidos da tensão de aderência segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003). Tabela 4.5 – Tensão de aderência segundo NBR 6118 (ABNT, 2003) Diâmetro (mm) Tensão de aderência (MPa) Ø ≤ 32 11,36 46 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 5.1 Conclusões A aderência entre o concreto e a armadura é uma das principais propriedades responsáveis pelo bom desempenho do concreto armado. Além da junção complexa dos fenômenos adesão, atrito e ancoragem mecânica, a aderência está sujeita à influência de inúmeros fatores como as propriedades dos materiais aço e concreto, tipo e velocidade do carregamento, geometria das nervuras, posição das barras durante a concretagem, entre outros. Este trabalho relata um estudo do comportamento da aderência de barras de aço nervuras, inseridas em concreto convencional. Após a revisão bibliográfica e em função da análise dos dados obtidos no programa experimental, as seguintes conclusões podem ser feitas: Analisando os dados do coeficiente de conformação superficial (η) para a barra nervurada aos 90 dias nota-se que esta atende as especificações da norma, a qual exige um valor mínimo de η igual a 1,5, tomando como referência, para as comparações entre outros protótipos; Observou-se também que o valor do coeficiente de conformação (η) para os aços de diâmetro de 12,5mm foi maior em relação aos aços de 10,0mm; Baseado nos resultados encontrados na análise estatística podemos concluir que os resultados obtidos nesta pesquisa são de boa qualidade, pois os coeficientes de variações ficaram abaixo dos 25% e a resistência à tração bem como o diâmetro do aço tem efeito significativo na tensão de aderência; A normalização brasileira superestima os valores de tensão de aderência para os aços com diâmetro menor ou igual que 32,0mm; Observou-se que o valore da tensão de aderência para os aços de diâmetro 16,0mm foi 19% inferior em relação aos aços de 12,5mm. 47 5.2 Sugestões para trabalhos futuros Como contribuição ao estudo da aderência entre o aço e o concreto foi proposto o presente trabalho, que tem, conforme o capítulo 1, o objetivo principal comparar os resultados encontrados com a NBR 7477 (ABNT, 1982) e NBR 6118 (ABNT, 2003). Vários estudos ainda necessitam ser feitos, a fim de obter melhores expressões de cálculo para uma maior aproximação dos resultados experimentais com os resultados estimados, por exemplo: Buscar melhorar a matriz do concreto, com o intuito de aumentar sua capacidade de resistência à compressão e reavaliar seu comportamento estrutural através do ensaio de tirantes; Avaliar o comportamento do material quando adicionado sílica; Avaliar o comportamento do material quando adicionado resíduos de borrachas; Estudar o comportamento do material quando submetido a outros tipos de ensaios estruturais tais como ensaios de flexão de vigas, ensaio das quatro barras, entre outros; 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS, Standard test method for comparing concretes on the basis of the bond developed with reinforced steel, C 243, Philadelphia, 1991. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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