Seminário de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo
Flexibilidade dos espaços administrativos, sistema de divisórias e
a solução estrutural
Um caso em estudo
Agosto . 2009
António Manuel Corado Pombo Fernandes
Bloco ‘D’, área 3 da Católica
Seminário de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo
1.
Qual o motivo para esse teto
liso e contínuo? (Fig. 01)
Será uma opção estética a
laje em concreto à vista?
Fig. 01 – Teto contínuo
Vamos lá! Deve haver um
motivo justificável para isso.
Especulemos...
Fig. 02 – Laje dupla; caixão perdido
António Manuel C P Fernandes
Porque inverter as vigas e
botar a laje estrutural por
baixo tendo que executar
outro suporte para apoiar o
piso do pavimento superior?
(Fig. 02) Não parece lógico!
Além de ser uma opção
estrutural-construtiva mais
trabalhosa e onerosa...
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Pode-se reparar que os espaços
administrativos – esta é a principal
função do bloco D, onde estão os
departamentos – são
compartimentados por um sistema
flexível e modulado de divisórias
permutáveis. Só há vedações em
alvenaria nas torres das escadas e
nos pequenos volumes (Fig. 03)
onde se localizam sanitários e
copas que necessitam de
instalações hidráulicas.
Fig. 03 – Paredes só as necessárias
António Manuel C P Fernandes
2.
Historicamente as áreas administrativo-acadêmicas sempre exigiram
muitas modificações em suas configurações para adaptar-se a novas
exigências pedagógicas. Este fato, que é uma exigência programática, foi a
justificativa que levou a esta solução.
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Fig. 04 – O sistema divisório modulado
António Manuel C P Fernandes
3.
Percebe-se, com certa evidência, que o sistema é formado por
montantes verticais que estruturam a divisória e que a modulação é
ordenada por certos princípios também bastante evidentes: uns na
vertical, com três divisões, outros na horizontal, com o módulo básico e
um sub-módulo quando o sistema encosta nas alvenarias e junto aos
pilares. (Fig. 04)
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4.
Na vertical temos o pé direito dividido em três partes (Fig. 05):
Fig. 05 - Esquema
Fig. 06 - Guichê
António Manuel C P Fernandes
a primeira parte, do chão até a altura de 1.10 m,
pode ser apenas um painel fixo opaco ou um balcão
de guichê de atendimento das secretarias
departamentais (Fig. 06).
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Fig. 07 - Janelas
Fig. 08 - Porta
António Manuel C P Fernandes
A segunda parte, de 1.00 m, pode ser fixa de vidro, ou uma janela
pivotante vertical junto à fachada; juntando-se a primeira e segunda
partes (1.00 + 1.10 = 2.10 m) podemos ter uma porta; e a terceira, de
2.10 até ao teto, uma bandeirola que pode ser fixa, de vidro ou opaca,
ou basculante para ventilação (Fig. 07 e 08).
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Assim o sistema divisório
também foi concebido
usando a mesma modulação.
A cada módulo temos um
montante que se apóia no
chão e no teto garantindo a
estabilidade estrutural do
sistema da divisória. Tais
montantes estão sempre
colocados no cruzamento da
malha modulada (1.025 x
1.025 m), podendo-se
escolher o percurso
ortogonal que for necessário.
Fig. 09 – Foto do anteprojeto
António Manuel C P Fernandes
5.
Na horizontal, como em todos os blocos do conjunto, o módulo dimensional é
de 1.025 m (um metro, dois centímetros e cinco milímetros). Os pilares estão
afastados 6 módulos entre si (6.15 m), nos dois sentidos (Fig. 09).
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Fig. 10 – Croqui - planta
António Manuel C P Fernandes
Junto ao pilar (0.60 m de diâmetro), há um sub-módulo
completando o vão restante (Fig. 10); repare-se que entre o
montante e o pilar aparece, ainda, um elemento de
adaptação que se verá posteriormente.
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Fig. 11 – A ‘sapata’ fixando o montante
Fig. 12 – A ‘sapata’ protegida
António Manuel C P Fernandes
6.
A fixação do montante é realizada por ajuste da altura da “sapata”
que pressiona a superfície do teto de concreto armado (não
poderia ser um simples e frágil forro) por meio de maior ou menor
rosqueamento de um parafuso; com esta solução elimina-se
qualquer furação no teto; após ajustado fecha-se o vão com um
acessório rebitado. (Fig. 11 e 12)
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Fig. 13 – Apoio do montante no piso
António Manuel C P Fernandes
7.
Para garantir atrito no apoio do piso (granito polido) sem a
necessidade de furação e impedir o deslocamento lateral do
montante, colocou-se uma placa de borracha dura; na parte superior
não houve tal necessidade pois o atrito entre o metal da “sapata” e a
superfície de concreto é suficiente para garantir isso (Fig. 13); reparese, também, que esse apoio de borracha é usado por baixo do
módulo em contato com o piso, para ajuste e vedação.
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8.
Todos os ajustes “finos”, tanto na vertical como na horizontal, foram
resolvidos de maneira simples com peças em chapa dobrada (um U maior
vestindo outro U menor: os dois se encaixam mais, ou menos, segundo o
vão a ajustar); após ajustados são rebitados.
Todas as peças em contato com os pilares (Fig. 14) ou com o teto (Fig. 15),
assim como entre os módulos e entre estes e os montantes (Fig. 16), têm
um elemento de espuma de borracha para absorver as pequenas
ondulações e dar o ajuste necessário para a perfeita vedação.
Fig. 14 – Ajuste com o pilar
António Manuel C P Fernandes
Fig. 15 – Ajuste com o teto
Fig. 16 – Ajuste entre
módulos e com o montante
9.
Para poder-se contar com um teto nivelado e resistente no qual se
pressionam os montantes das divisórias, como já explicado, foi
necessária – e lógica! – a inversão do sistema estrutural de concreto
armado convencional, laje sobre as vigas (Fig. 17), passando a ter
vigas invertidas, com a laje na parte inferior formando um teto contínuo
(Fig. 18). No caso, o piso foi assentado em uma superfície superior
formada por placas pré-moldadas de concreto colocadas sobre as
vigas e muretas de alvenaria que se apoiam na laje estrutural
resultando em caixões perdidos, como se vê no croqui.
Fig. 17 – Laje sobre vigas
Fig. 18 – Laje-teto e vigas invertidas
António Manuel C P Fernandes
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10.
Uma tecnologia convencional adaptada de
forma a viabilizar uma necessidade
programática.
Não é uma “sacada”, não é uma
“invenção”, é apenas, mas é, pensar as
soluções tecnológicas a serviço da
concepção arquitetônica!
António Manuel C P Fernandes
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