NÍVEIS DE PRAGUICIDAS ORGANOCLORADOS EM MÉIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL ORGANOCHLORINE PESTICIDE LEVELS IN HONEYS FROM RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL Susana Mohr1, Thiago Guilherme Schwanz2, Joseane de Oliveira Mozzaquatro3, Giane Magrini Pigatto4, Vanusa Granella2, Roberta Cocco4, Ijoni Hilda Costabeber5 Resumo: Os praguicidas organoclorados são altamente tóxicos, estáveis e de baixa biodegrabilidade, podendo persistir por mais de 30 anos no meio ambiente. Por este motivo ainda são detectados em alimentos, embora estejam proibidos desde 1985. O objetivo do presente trabalho foi determinar os níveis dos praguicidas organoclorados em 33 amostras de mel de abelhas coletadas no RS durante os anos de 2009 e 2010. Somente o 4,4-DDT não foi detectado. O 4,4-DDD foi encontrado em uma amostra, o heptacloro em seis amostras, o heptacloro epóxido em sete amostras, e o dieldrin+4,4-DDE em dezoito amostras. No que se refere à legislação, 2 amostras apresentaram níveis superiores ao máximo permitido para o heptacloro, 4 amostras para o dieldrin+4,4-DDE, e 1 amostra para o 4,4-DDD. Palavras-chave: mel de abelhas; praguicidas organoclorados; Rio Grande do Sul. Summary: The organochlorine pesticides are extremely toxic, stable, with low biodegradability, and may persist for more than 30 years in the environment. For this reason they are still detected in foods, although their prohibition since 1985. The aim of this work was to determinate the organochlorine pesticide levels in 33 honey samples collected in the RS during the years of 2009 and 2010. Only the 4,4-DDT was not detected. The 4,4-DDD was found in one sample, the heptachlor in six samples, the heptachlor epoxide in seven samples, and dieldrin+4,4DDE in eighteen samples. With regard to the legislation, 2 samples were with levels found above the maximum level established to the heptachlor, 4 samples to dieldrin+4,4-DDE, and 1 sample to the 4,4-DDD. Key words: honey; organochlorine pesticides; Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, o desaparecimento das abelhas tem devastado um grande número de colméias ao redor do mundo, causando sérios prejuízos tanto para a apicultura, quanto para todas as atividades agrícolas que necessitam de polinização. Este fenômeno, denominado nos Estados Unidos de “desordem do colapso das colônias” (CDD), ainda não possui um consenso sobre sua origem, supondo-se que possa ser tanto devido à introdução de um novo agente infeccioso, quanto pelo uso indiscriminado de praguicidas (WIEST et al., 2011; NOZAL et al., 2008). A aplicação de praguicidas na agricultura pode contaminar o solo, ar, água, bem como as flores as quais as abelhas coletam o néctar para a produção de mel. Conseqüentemente, abelhas e mel podem ser utilizados como indicadores da contaminação ambiental (BLASCO et al., 2011; BALAYIANNIS & BALAYIANNIS, 2008). _______________________ 1 Médica Veterinária, Doutoranda em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria. *Autor para correspondência: Av. Roraima, 1000, Centro de Ciências Rurais, Prédio 42, Sala 3135A, CEP 97119-900, Santa Maria/RS. Email: [email protected] 2 Farmacêutico(a)-bioquímico(a), Doutorando(a) em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria. 3 Acadêmica de Farmácia, Universidade Federal de Santa Maria. 4 Médica Veterinária, Mestranda em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria. 5 Docente nível associado do Departamento de Morfologia, Doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria. O grande emprego de praguicidas organoclorados na agricultura desde 1940 promoveu, além de colheitas com qualidade, um aumento na produtividade. Apesar dos benefícios que trazem os praguicidas, o problema de intoxicações com estes compostos é muito preocupante, principalmente pelo fato de contaminarem a água, o solo e uma variedade de alimentos. A comercialização, uso e distribuição dos praguicidas organoclorados foram proibidos no Brasil pela Portaria 329 de 02/09/85 (BRASIL, 1985), do Ministério da Agricultura, devido à constatação de seu efeito acumulativo e prejudicial, que ocorre principalmente pela transferência de pequenas quantidades ao longo das cadeias alimentares. Porém, sua grande utilização durante as últimas décadas produziu acumulação de resíduos tóxicos em vários ecossistemas, com concentrações que tem alcançado níveis tóxicos em vários organismos terrestres, como pássaros, mamíferos e organismos aquáticos. Os praguicidas organoclorados são altamente tóxicos, estáveis, inertes e de baixa biodegrabilidade, além de serem lipossolúveis. Alguns compostos podem persistir por mais de 30 anos no meio ambiente (MIDIO & MARTINS, 2000). Em relação aos limites permitidos para estes compostos, a legislação brasileira prevê limites de referência para o mel através da Instrução Normativa n° 24 de 09/08/11 (BRASIL, 2011), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os compostos aldrin, 4,4-DDE, 4,4-DDD, 4,4-DDT, endrin, lindano, heptacloro, alfa-BHC e beta-BHC estão listados, com limites máximos de 10 µg/Kg. O objetivo do presente trabalho foi determinar os níveis dos praguicidas organoclorados heptacloro, heptacloro epóxido, dieldrin, 4,4-DDE, 4,4-DDD e 4,4,-DDT em 33 amostras de mel de abelhas Apis mellifera, coletadas em diferentes regiões no estado do Rio Grande do Sul, durante os anos de 2009 e 2010. Os compostos foram extraídos utilizando-se o método QuEChERS (ANASTASSIADES et al., 2003), o qual envolve partição com acetonitrila e clean-up através de extração em fase sólida dispersiva (DSPE), utilizando-se o sorvente amina primária-secundária (PSA). Após, os extratos foram analisados em cromatógrafo gasoso equipado com micro detector de captura de elétrons (GC-µECD) de Ni63 (Agilent 6890 Plus), com separação realizada em coluna capilar de sílica fundida HP-5 (30m x 0,32 mm x 0,25 µm). A temperatura do injetor e detector mantiveram-se constantes a 280°C e 320°C, respectivamente. O nitrogênio foi utilizado como gás de arraste sob pressão constante de 7,2 psi, fornecendo uma vazão de 1,5 mL min-1. A programação da temperatura do forno foi como segue: 60°C, (2 min), 30°C/min até 190°C (5 min), 5°C/min até 220°C (5 min), e 20°C/min até 300°C (1 min). A identificação dos compostos foi realizada pela comparação dos tempos de retenção (TR) dos picos encontrados nas amostras com os TR individuais dos padrões certificados dos praguicidas organoclorados, sob as mesmas condições de trabalho. Dentre os compostos analisados, somente o 4,4-DDT não foi detectado em nenhuma das amostras. Dentre os demais compostos, o 4,4-DDD foi encontrado em uma amostra (22,6 µg/Kg), o heptacloro em seis amostras (média de 2,21 µg/Kg, valores entre 0,93 e 44,4 µg/Kg), o heptacloro epóxido em sete amostras (média de 1,53 µg/Kg, valores entre 5,75 e 8,88 µg/Kg), e o dieldrin+4,4-DDE em dezoito amostras (média de 5,72 µg/Kg, valores entre 5,84 e 45,73 µg/Kg). No que se refere à legislação, 2 amostras apresentaram níveis superiores ao máximo permitido para o heptacloro, 4 amostras para o dieldrin+4,4-DDE, e 1 amostra para o 4,4-DDD. Em diversos países, a grande maioria das análises residuais de mel de abelhas tem revelado algum tipo de praguicida organoclorado. Na Turquia, os compostos heptacloro, dieldrin, DDT e análogos foram detectados em mais de 96% das amostras analisadas (YAVUZ et al., 2010). No presente estudo não houve frequência semelhante, embora os compostos dieldrin+4,4-DDE terem sido detectados em mais de 50% das amostras (54,5%). Embora estes praguicidas estejam proibidos no país há mais de duas décadas, o presente estudo demonstrou que ainda continuam a ser detectados em mel de abelhas do estado do Rio 2 Grande do Sul, provavelmente devido a suas características de grande persistência e bioacumulação. Novos estudos são necessários para determinar as causas desta contaminação, colaborando também para o controle de qualidade do mel de abelhas consumido pela população brasileira. Referências bibliográficas ANASTASSIADES, M.; LEHOTAY, S.; STAJNBAHER, D. et al. 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