UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Química Dissertação de Mestrado Síntese Verde de N-alquilcitroneliliminas e N-alquilcitronelilaminas a partir do (R)-Citronelal Aplicação na Síntese de um Juvenóide Rafael Carniato do Amaral Pelotas, 2010 RAFAEL CARNIATO DO AMARAL Síntese Verde de N-alquilcitroneliliminas e N-alquilcitronelilaminas a partir do (R)-Citronelal - Aplicação na Síntese de um Juvenóide. Dissertação Programa de apresentada ao Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Pelotas, como requisito obtenção do título Ciências (área do de parcial Mestre à em conhecimento: Química). Orientadora: Dra. Raquel Guimarães Jacob Pelotas, 2010 ii Dados de catalogação na fonte: ( Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744 ) A485s Amaral, Rafael Carniato do Síntese verde de N-alquilcitroneliliminas e Nalquilcitronelilaminas a partir do ( R ) Citronelal –aplicação na Síntese de um Juvenóide / Rafael Camiato do Amaral ; orientador Raquel Guimarães Jacob. - Pelotas,2010.- 96f. ; il..- Dissertação ( Mestrado ) –Programa de Pós-Graduação em Química. Instituto de Química e Geociências . Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2010. 1. Citroneliliminas 2.Micro-ondas 3.Aminas 4.Química verde I Jacob, Raquel Guimarães (orientador) II .Título. CDD 547.2 A banca examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado intitulada “Síntese Verde de N-alquilcitroneliliminas e N-alquilcitronelilaminas a partir do (R)-Citronelal – Aplicação na Síntese de um Juvenóide”, de autoria de Rafael Carniato do Amaral. Banca Examinadora: ................................................................................................. Profª. Drª. Raquel Guimarães Jacob – Orientadora - UFPel ..................................................................... Prof. Dr. Rodrigo Barroso Panatieri - UFU ...................................................................... Prof. Dr. Diego da Silva Alves - UFPel iii Aos meus pais Aurelino e Marta, e ao meu irmão Michel, que sempre me deram amor, carinho, força, amizade e compreensão. Sempre o meu eterno agradecimento pelos esforços realizados. iv Aos meus professores, Raquel, Perin e Eder, um agradecimento especial pelas oportunidades, ensinamentos, orientação e amizade dedicados nestes anos de convívio. v AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Paulo Henrique Schneider, da UFRGS, e ao Samuel, da UFSM, pelas análises de RMN 1H e 13C. Ao Prof. Dr. Marcus Mandolesi Sá, da UFSC, por disponibilizar o aparelho de Micro-ondas para a realização de experimentos em seu laboratório. Ao Marco, pelas análises de Infravermelho. A Cátia, de forma especial, pela ajuda, amizade e ensinamentos ao longo de todo o trabalho. A Josiane, pelo incentivo e grande amizade desde o início da graduação. Aos colegas Dielson e Mateus, pela amizade, companheirismo e ajuda em todos os momentos do mestrado. Aos amigos Nivia, Dalva, Clóvis e Daniel, um agradecimento especial pela ajuda, incentivo e amizade durante esse período. Aos meus colegas de laboratório, pela amizade e ajuda. Às agências financiadoras CAPES, CNPq, FAPERGS e FINEP pelos auxílios concedidos. A todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram para que eu realizasse o mestrado. vi RESUMO Titulo: Síntese Verde de N-alquilcitroneliliminas e N-alquilcitronelilaminas a partir do (R)-Citronelal - Aplicação na Síntese de um Juvenóide. Autor: Rafael Carniato do Amaral Orientadora: Profª. Drª. Raquel Guimarães Jacob Palavras-chave: citroneliliminas; micro-ondas; aminas; química verde. Desenvolveu-se um método para a síntese seletiva de citroneliliminas, através da reação do (R)-citronelal com aminas primárias, sob condições brandas e em meio livre de solvente. A reação foi realizada através do uso de Al2O3 neutra e anidra como agente secante, e proporcionou a obtenção das respectivas aldiminas com bons a excelentes rendimentos. Este protocolo foi estendido para a síntese quimiosseletiva de citronelilaminas através de aminação redutiva one-pot, ao acrescentar-se NaBH4 ao meio reacional. A metodologia foi utilizada com sucesso na síntese de 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina, um análogo do hormônio juvenil ativo contra pupas de moscas de estábulos (Stomoxys calcitrans) e moscas comuns (Musca domestica), diretamente do óleo de citronela. O uso de micro-ondas acelerou a reação. O método é simples, limpo e geral, sendo estendido a outros exemplos de aldeídos alifáticos e aromáticos. R Al2O3 t.a. ou MO C N R1 H O C R H 1a-e 3a-m 1 H2NR NaBH4, t.a. ou MO 2a-g R 1.Al2O3, MO 2. NaBH4, t.a. ou MO CH NH N H R1 H 4a-g 4b R= CH2 ; CH ; C R1= C4H9 ; sC4H9 ; tC4H9; C6H5CH2; C6H5 ; H2C ; CH2 ; CH2 ; Esquema 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA. Dissertação de Mestrado em Química. Pelotas, Janeiro de 2010. vii Abstract Title: Green synthesis of N-alkylcitronellylimines and N-alkylcitronellylamines starting from (R)-Citronellal - Application in the Synthesis of a Juvenoid. Author: Rafael Carniato do Amaral Academic Advisor: Profª. Drª. Raquel Guimarães Jacob Keywords: citronellylimines; microwaves; amines; green chemistry. We developed a method for selective synthesis of citronellylimines by reaction of (R)-citronellal with primary amines, under mild conditions and solvent-free environment. The reaction was performed by neutral Al2O3 as anhydrous drying agent and provided the respective aldimines with good to excellent yields. This protocol was extended to the chemoselective synthesis of citronellylamines through reductive amination one-pot, adding NaBH4 to the reaction medium. The methodology was successfully used in the synthesis of 3,7-dimethyl-N-(prop-2-ynyl) oct-6-en-1-amine, a juvenile hormone active against stablefly (Stomoxys calcitrans) and housefly (Musca domestica), directly from citronella oil. The use of microwaves accelerates the reaction. The method is simple, clean and general, being extended to other examples of aliphatic and aromatic aldehydes. H Al2O3 r.t. or MW C N R1 R O C R H 1a-e 3a-m 1 H2NR NaBH4, r.t. or MW 2a-g H 1.Al2O3, MW CH NH 2. NaBH4, r.t. or MW N H R1 R 4a-g 4b R= CH2 ; CH ; C R1= C4H9 ; sC4H9 ; tC4H9; C6H5CH2; C6H5 ; H2C ; CH2 ; CH2 ; Scheme 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA. Master Dissertation in Chemistry. Pelotas, January, 2010. viii Índice Agradecimentos. ..........................................................................................................vi Resumo ....................................................................................................................... vii Abstract ....................................................................................................................... viii Índice ............................................................................................................................ix Índice de Tabelas ........................................................................................................ xiii Índice de Figuras ......................................................................................................... xiv Lista de Siglas e Abreviaturas ..................................................................................... xvi Introdução e Objetivos ............................................................................................. 01 CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................... 06 1.1. As iminas .............................................................................................................. 07 1.1.1. Síntese de iminas ......................................................................................... 08 1.1.2. Reatividade do grupamento imino ................................................................ 14 1.1.2.1. Redução de iminas ............................................................................ 15 1.1.2.2. Reações de adição nucleofílica ......................................................... 18 1.1.2.3. Reações imino Diels-Alder ................................................................ 20 1.1.3. Importância biológica e farmacológica de iminas e aminas secundárias ..... 22 1.2. Uso do citronelal em síntese orgânica ................................................................. 26 1.2.1. Condensação do (R)-citronelal com aminas................................................. 27 1.2.1.1. Síntese de octaidroacridinas ............................................................. 27 ix 1.2.1.2. Síntese de benzimidazóis.................................................................. 29 1.2.1.3. Síntese e ciclização de citroneliliminas ............................................. 29 CAPÍTULO 2: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................... 31 2.1. Síntese de iminas a partir da condensação do (R)-citronelal e outros aldeídos com aminas primárias ................................................................................................ 32 2.1.1. Otimização das condições reacionais através do estudo da condensação do (R)-citronelal com a N-butilamina ........................................................................... 32 2.1.2. Síntese de citroneliliminas ............................................................................ 40 2.1.3. Síntese de iminas a partir de outros exemplos de aldeídos ......................... 42 2.1.4. Identificação das iminas sintetizadas ........................................................... 43 2.2. Redução de iminas para obtenção de aminas secundárias ................................. 46 2.2.1. Identificação das aminas secundárias sintetizadas ...................................... 50 2.2.2. Síntese da 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina ................................ 52 2.3. Estudos preliminares do potencial biológico de alguns dos compostos sintetizados ................................................................................................................. 55 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ........................................................... 57 CAPÍTULO 3: PARTE EXPERIMENTAL .................................................................... 59 3.1. Materiais e Métodos ............................................................................................. 60 3.1.1. Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear ................................... 60 3.1.2. Espectroscopia de Infravermelho ................................................................. 60 3.1.3. Rota-evaporadores. ...................................................................................... 60 3.1.4. Bomba de Auto-vácuo .................................................................................. 61 x 3.1.5. Solventes e Reagentes ................................................................................ 61 3.2. Procedimentos experimentais .............................................................................. 61 3.2.1. Procedimento Geral para a obtenção do (R)-citronelal a partir do Óleo Essencial de Citronela ................................................................................................. 61 3.2.2. Procedimento Geral para a preparação do Suporte Sólido .......................... 62 3.2.3. Procedimento para a calibração do forno de Micro-ondas ........................... 62 3.2.3.1. Procedimento para a Calibração da Potência por Nível (determinação da potência real) .................................................................................. 62 3.2.3.2. Procedimento para a Calibração da distribuição da potência no interior do forno de Micro-ondas.................................................................................. 63 3.3. Procedimento para a síntese da N-butilcitronelilimina a temperatura ambiente utilizando diferentes agentes secantes ....................................................................... 64 3.4. Procedimento para a síntese das iminas a temperatura ambiente....................... 65 3.5. Procedimento para a síntese da N-butilcitronelilimina utilizando aquecimento convencional ............................................................................................................... 65 3.6. Procedimento Geral para a preparação das Iminas utilizando Irradiação de Micro-ondas Doméstico ............................................................................................... 65 3.7. Procedimento Geral para a preparação das Iminas utilizando Irradiação de Micro-ondas Científico ................................................................................................. 66 3.8. Procedimento Geral para a preparação das Aminas Secundárias utilizando temperatura ambiente ................................................................................................. 66 3.9. Procedimento Geral para a preparação das aminas secundárias utilizando irradiação de Micro-ondas Científico ........................................................................... 67 3.10. Procedimento de recuperação da Al2O3 ............................................................. 67 xi REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 68 CAPÍTULO 4: ESPECTROS SELECIONADOS ......................................................... 74 xii Índice de Tabelas Tabela 1: Resultados obtidos na síntese de iminas utilizando Al2O3 .......................... 10 Tabela 2: Resultados de MIC obtidos frente alguns dos microorganismos testados (em µg/mL) ................................................................................................................. 23 Tabela 3: Obtenção da N-butilcitronelilimina utilizando diferentes agentes secantes ...................................................................................................................... 33 Tabela 4: Efeito da variação na quantidade de Al2O3 no rendimento da reação ........ 38 Tabela 5: Resultados obtidos na síntese de citroneliliminas ...................................... 40 Tabela 6: Resultados obtidos na síntese de iminas com outros exemplos de aldeídos ....................................................................................................................... 40 Tabela 7: Dados espectrais de RMN 1H, RMN 13C e IV das iminas 3a-m .................. 44 Tabela 8: Aminas secundárias obtidas por aminação redutiva one-pot...................... 49 Tabela 9: Dados espectrais de RMN 1H e RMN 13C das aminas secundárias 4a-g ... 51 Tabela 10: Halos de inibição dos produtos testados (em mm) ................................... 56 Tabela 11: Calibração do Forno de Micro-ondas Doméstico Panasonic – modelo Piccolo NN-S42BK ...................................................................................................... 63 Tabela 12: Distribuição da Potência no Forno de Micro-ondas doméstico Panasonic – modelo Piccolo NN-S42BK....................................................................................... 64 Tabela 13: Recuperação da Al2O3 .............................................................................. 67 xiii Índice de Figuras Figura 1: (R)-citronelal ................................................................................................. 2 Figura 2: (R)-citronelal como matéria-prima para a obtenção de citroneliliminas e citronelilaminas............................................................................................................. 3 Figura 3: 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina .................................................. 5 Figura 4: Estrutura geral das Iminas ........................................................................... 7 Figura 5: Tautomerismo imina-enamina ...................................................................... 7 Figura 6: Diferença de reatividade entre aldeídos e cetonas ..................................... 11 Figura 7: Caráter heteropolar do grupo imino............................................................. 14 Figura 8: Iminas com atividade biológica contra fungos e bactérias .......................... 23 Figura 9: Iminas com atividade antiproliferativa ......................................................... 23 Figura 10: Iminas com atividade antiinflamatória ....................................................... 24 Figura 11: N-hexilcicloexilamina ................................................................................ 25 Figura 12: 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina ............................................... 25 Figura 13: (R)-citronelal (3,7-dimetil-6-octenal) ......................................................... 26 Figura 14: Terpenos naturais que podem ser sintetizados a partir do citronelal ........ 27 Figura 15: Espectro de RMN 1H do composto 3a em CDCl3 a 400MHz ..................... 34 Figura 16: Espectro de RMN 13C do composto 3a em CDCl3 a 100MHz.................... 35 Figura 17: Espectro de infravermelho do composto 3a .............................................. 35 Figura 18: Espectro de infravermelho da mistura imina-enamina .............................. 37 Figura 19: Reaproveitamento da Al2O3 ...................................................................... 39 Figura 20: Espectro de RMN 1H do composto 4a em CDCl3 a 400 MHz.................... 47 xiv Figura 21: Espectro de RMN 13C do composto 4a em CDCl3 a 50 MHz .................... 48 Figura 22: Espectro de infravermelho do composto 4a .............................................. 48 Figura 23: Espectro de infravermelho do óleo essencial de citronela bruto ............... 53 Figura 24: Espectro de infravermelho da imina 3d obtida a partir do óleo essencial de citronela bruto ......................................................................................................... 54 Figura 25: Espectro de infravermelho do composto 4b obtido diretamente do óleo essencial de citronela bruto, sem purificação do produto............................................ 54 Figura 26: Compostos que tiveram sua atividade bactericida/bacteriostática testada ........................................................................................................................ 55 Figura 27: Distribuição da Potência no interior do Forno de Micro-ondas .................. 63 xv Lista de Siglas e Abreviaturas CCD Cromatografia em Camada Delgada GRE Grupo Retirador de Elétrons IV Infravermelho MIC Concentração Inibitória Mínima MO Micro-ondas PPTS p-tolueno-sulfonato Piridínico RMN 1H Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio RMN 13C Ressonância Magnética Nuclear de Carbono-13 xvi Introdução e objetivos 1 1. Introdução A sociedade tem sido vítima de inúmeros desastres ambientais, muitos dos quais decorrentes do excesso de poluição e da exploração irracional das fontes naturais de matéria-prima pela indústria.1a Visando minimizar os impactos ambientais ocasionados nos processos químicos da produção de novas substâncias, a aplicação de metodologias baseadas nos conceitos da Química Verde ganhou destaque nos últimos anos.1b Nesse contexto, o mundo moderno busca maneiras de promover o desenvolvimento sustentável, de modo a garantir a saúde do planeta para as futuras gerações.1c É necessário encontrar fontes alternativas para as matérias-primas que a indústria utiliza e uma estratégia neste sentido é o uso de fontes renováveis (biomassa). Os óleos essenciais fornecem uma grande variedade de compostos que podem ser utilizados como matéria-prima em síntese orgânica, levando à obtenção de compostos com possível atividade biológica. Assim, a utilização de substâncias oriundas de fontes naturais renováveis, como o (R)-citronelal (1a) (Figura 1), e o aumento da eficiência de energia, com a utilização de irradiação de MO, são exemplos de alternativas que podem ser adotadas para atender as demandas da comunidade científica na obtenção de novos produtos úteis à população, contribuindo para a sustentabilidade.1 CHO 1a Figura 1. (R)-citronelal. O (R)-citronelal é um monoterpeno predominantemente formado através do metabolismo secundário das plantas e está presente no óleo essencial de Cymbopogon nardus (L) Rendle, também conhecido como Citronela,2 espécie adaptada às condições climáticas do Estado do Rio Grande do Sul e bastante encontrada na região. O (R)-citronelal pode ser utilizado como matéria-prima para a obtenção de citroneliliminas a partir da reação de condensação com aminas. Devido à presença de uma ligação dupla na cadeia das citroneliliminas, elas podem atuar 2 como importante intermediário sintético permitindo a obtenção de vários compostos com alto potencial biológico. Estas iminas também podem ser reduzidas, gerando as citronelilaminas com alto potencial biológico e/ou sintético (Figura 2).3 CHO H2NR1 [H] N R1 NHR1 1a Figura 2. (R)-citronelal como matéria-prima para a obtenção de citroneliliminas e citronelilaminas. De fato, as iminas são importantes intermediários sintéticos e apresentam aplicações na área medicinal e farmacêutica.4 O grupo azometino pode ser explorado em reações de cicloadições,5 em adições nucleofílicas de reagentes organometálicos6 e em reações hetero Diels-Alder.7 Além disto, as iminas apresentam importantes aplicações medicinais e farmacêuticas,8 atuando como anticâncer,8a,b bactericida,8c-i agente anti-inflamatório8j,k e fungicida.8c,f-i Similarmente, as aminas secundárias também apresentam importantes aplicações na indústria farmacêutica e agroquímica.9 Contudo, a maioria das metodologias descritas na literatura para a obtenção de iminas consiste na condensação de compostos carbonílicos com aminas primárias,10 utilizando agentes secantes11 ou destilação azeotrópica12 para a remoção de água. Estas metodologias, em geral, utilizam grande quantidade de solventes orgânicos, aquecimento convencional e longos tempos reacionais. Recentemente, alguns métodos envolvendo o uso de energia não-clássica, como o uso de MO na ausência de solvente13a-f ou ultrassom na presença de etanol,13g foram descritos para a obtenção mais rápida de iminas. Porém, a maioria utiliza grande quantidade de agente secante, que dificulta a utilização em maior escala, além de não permitir a reutilização destas substâncias. Além disto, grande parte destes métodos não é geral, sendo aplicados apenas às aminas e aldeídos aromáticos. Isto se justifica pelo fato das iminas aromáticas serem mais estáveis tanto no meio reacional quanto após serem isoladas. Diferentemente, as iminas alifáticas tem sido muito pouco estudadas devido a sua baixa estabilidade. Sob as 3 condições descritas na literatura, devido à presença de hidrogênio α ao grupo imino elas podem sofrer tautomerização à enamina correspondente e consequentemente sofrerem auto-condensação no meio reacional ou após serem isoladas, diminuindo o rendimento.14 Desta forma, o desenvolvimento de novas estratégias para a introdução seletiva de grupos azofuncionalizados, a partir de metodologias simples, gerais, envolvendo condições reacionais brandas, alta economia atômica, reagentes e produtos atóxicos, geração mínima de resíduos e reduzido impacto ambiental é de grande importância para a síntese de compostos nitrogenados.10 2. Objetivos O nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido novas alternativas para a síntese de substâncias que possuam valor agregado em áreas como a industrial, a biológica e a farmacológica. O foco de todo o trabalho está embasado nos princípios da Química Verde, onde se destaca a utilização de matérias-primas provenientes de fontes naturais renováveis, como o citronelal, o citral e o ácido ricinoléico. Desta forma, os objetivos deste trabalho são: 1. Desenvolver uma metodologia sintética para a obtenção das Nalquilcitroneliliminas e N-alquilcitronelilaminas, a partir de matéria-prima de fonte renovável, utilizando suportes sólidos recicláveis, em meio livre de solvente e com ou sem aquecimento por MO (Esquema 2); CHO H2NR1 Agente secante t.a. ou MO [H] NR1 NHR1 1a Esquema 2 2. Sistematizar a metodologia desenvolvida através da utilização de outros aldeídos e aminas; 4 3. Aplicar a metodologia diretamente no óleo essencial de citronela visando a síntese de 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina (4b) (Figura 3), um análogo do hormônio juvenil ativo em moscas de estábulos (Stomoxys calcitrans) e moscas comuns (Musca domestica).3 N H 4b Figura 3. 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina. 5 Capítulo 1 Revisão Bibliográfica 6 1.1. As iminas As iminas (5) (Figura 4) são uma classe de compostos bastante utilizada em síntese orgânica.13g Isto porque elas e seus derivados apresentam propriedades farmacológicas e biológicas importantes, além de serem de grande utilidade como intermediários sintéticos em diversas reações.4 R C N R R1 2 5 Figura 4. Estrutura geral das iminas. A química das iminas é bastante similar a de aldeídos e cetonas. Compostos carbonílicos contendo hidrogênios α são capazes de tautomerização ceto-enólica. Iminas (6) com hidrogênios α são capazes de fazer o mesmo tipo de isomerização, obtendo a chamada enamina (7) (Figura 5).10a R N C R1 CH R2 3 R 6 1 R N H R C C R2 R3 7 Figura 5. Tautomerismo imina-enamina. A estabilidade das formas tautoméricas imina-enamina pode ser influenciada pelos grupos substituintes ligados à cadeia principal e também pelo tipo de solvente utilizado. Em geral, espera-se que as iminas, na presença de solventes polares, sejam menos estáveis, favorecendo a formação do tautômero enamina.14 A estabilidade das iminas alifáticas, sob as condições descritas na literatura, é menor porque elas sofrem auto-condensação no meio reacional ou após serem isoladas. O uso de agentes secantes de comportamento ácido, ácidos de Lewis ou a presença de traços de ácido carboxílico proveniente da oxidação do aldeído, favorecem a formação da condensação das aldiminas alifáticas. Portanto, na ausência de ácidos e solventes com baixa constante dielétrica as aldiminas alifáticas são estáveis.14 7 1.1.1. Síntese de iminas O primeiro registro de uma reação de síntese de iminas aconteceu no ano de 1864, pelo pesquisador alemão Hugo Schiff, o que levou as iminas a serem conhecidas como Bases de Schiff. A principal reação de síntese de iminas (5) é a condensação de um composto carbonílico (8) (aldeído ou cetona) com uma amina primária (2) (Esquema 3).10a R O C R2 R H2NR1 C N R2 R1 5 2 8 H2O Esquema 3 As iminas derivadas de aldeídos são denominadas aldiminas, sendo que R pode ser um grupo alquila ou arila, e no lugar do R2 há um átomo de hidrogênio. As iminas derivadas de cetonas denominam-se cetiminas, onde tanto R como R2 são grupos alquila ou arila. Em ambos os casos, R1 será um grupo alquila, arila ou um átomo de hidrogênio.10a,b O mecanismo dessa reação se dá através de um processo reversível, que inicia com a adição nucleofílica de uma amina primária (2) ao grupo carbonila do aldeído ou da cetona, seguido pela transferência de um próton do nitrogênio para o oxigênio, levando a um amino álcool neutro, ou carbinolamina (9). A protonação do oxigênio da carbinolamina por um catalisador ácido converte o OH em um melhor grupo de saída (H2O+), e a perda de água produz um íon imínio (10). A perda de um próton do nitrogênio gera o produto final (5) e regenera o catalisador ácido (Esquema 4).10a R O C R2 8 R OH2 C NHR1 R2 O R C NH2R1 R2 NH2R1 2 R1 -H2O R N C H H2O R2 10 OH + C NHR1 H3O R R2 9 R C N 2 R R1 5 Esquema 4 8 Esta reação é um exemplo típico de adição nucleofílica ao carbono carbonílico, onde a água é eliminada do intermediário tetraédrico inicialmente formado e uma nova ligação dupla C = N é formada. Tradicionalmente, a reação de obtenção de iminas é catalisada por ácidos, onde compostos carbonílicos e aminas são dissolvidos em solventes orgânicos tratados e mantidos sob condições de refluxo, sendo necessário a utilização de um aparelho de Dean Stark para a eliminação da água liberada pela reação.12 A remoção da água formada na reação também pode ser realizada através da utilização de agentes secantes.11 Alguns trabalhos relatam o uso de ZnCl2,11a TiCl4,11b Mg(ClO4)2,4 MgSO4-PPTS,11c CuSO4,11c e Al2O3,11d substâncias que, além de remover a água formada na etapa final do processo da síntese de iminas, podem atuar como ácidos de Lewis, promovendo o ataque nucleofílico do par de elétrons do nitrogênio da amina ao carbono carbonílico.4 Entretanto, em nenhum destes trabalhos foi observada a realização de um tratamento prévio para deixar estes sólidos anidros e consequentemente melhorar sua capacidade secante. A utilização de Al2O3 foi descrita em 1985, por Texier-Boullet.11d O procedimento foi realizado através da mistura prévia de um composto carbonílico (8) (10,0 mmol) com Al2O3 (2,5 gramas; 24,5 mmol); a essa mistura, foi adicionada lentamente uma mistura contendo uma amina primária (2) (10,0 mmol) e Al2O3 (2,5 gramas; 24,5 mmol) (Esquema 5). Nesse trabalho, o autor fez uso de um grande excesso de Al2O3, sendo que, para cada 1,0 mmol dos reagentes (composto carbonílico e amina) foram necessários aproximadamente 5,0 mmol (0,5 gramas) de Al2O3 para remover a água e favorecer a formação do produto. R O C 8 R2 NH2R1 2 Al2O3 1,5 - 7,0 h 0 ºC - 120 ºC OH R C NHR1 R2 R - H2O C N R2 R1 5 51-99% Esquema 5 A reação ocorreu em meio livre de solvente sob diferentes temperaturas e tempos (Tabela 1). É importante ressaltar que embora esta metodologia seja considerada verde, a sua aplicação em grande escala torna-se inviável, devido à grande quantidade de alumina necessária para a reação. Além disto, requer uma 9 agitação mais eficiente, tendo em vista que a reação ocorre em meio livre de solvente. Tabela 1. Resultados obtidos na síntese de iminas utilizando Al2O3. Linha R 1 2 CH CH 3 R 2 R 1 Cond. reacionais (temp. / tempo) Rend.(%) H H 2C 20 ºC / 2,5 h 99 H H 2C 20 ºC / 1,5 h 96 H CH3 HC 20 ºC / 3,0 h 98 4 i-C3H7 H H 2C 20 ºC / 7,0 h 90 5 H3C H H 2C 0 ºC / 15 min 90 H −C3H7-n 20 ºC / 4,0 h 95 H H 2C 20 ºC / 2,0 h 99 H3C H 2C 70 ºC / 7,0 h 66 H3C H 2C 20 ºC / 5,0h 51 20 ºC / 2,0 h 99 120 ºC / 6,0 h 82 6 7 O2N 8 9 H3C 10 11 H H 2C De acordo com os resultados mostrados na Tabela 1, pode-se notar que, em geral, os aldeídos apresentam maior reatividade que as cetonas, visto que, para sintetizar cetiminas foram necessários uso de temperaturas mais elevadas e tempos de reação mais longos (linhas 8, 9 e 11), e mesmo assim os rendimentos foram menores do que os obtidos quando o produto final era uma aldimina (linhas 1 a 7 e 10). Os motivos da maior reatividade do aldeído (11) em relação à cetona (12) decorrem tanto de efeitos estéricos quanto eletrônicos (Figura 6). O carbono carbonílico dos aldeídos apresenta um dos substituintes formado apenas por um átomo de hidrogênio, tornando-o menos impedido, e, ainda, possui somente um grupo doador de elétrons para neutralizar parcialmente a carga positiva do carbono da carbonila, favorecendo sua maior reatividade comparada as cetonas.10a 10 δ− δ− O δ− C δ+ R H 11 Ο δ− Cδ+ δ− R R2 12 Figura 6. Diferença de reatividade entre aldeídos e cetonas. Em decorrência dos graves problemas ambientais relacionados com a poluição gerada pelos processos químicos nos diversos ramos da indústria, no início da década de 90, uma nova tendência, com o intuito de minimizar esses problemas, ganhou destaque. É a chamada Química Verde, que está baseada em um conjunto de 12 princípios, cujo objetivo visa reduzir ou eliminar o uso ou a geração de substâncias tóxicas nocivas ao meio ambiente nos processos químicos, buscando a promoção do desenvolvimento sustentável.1 Tendo em vista o emprego dos princípios da Química Verde, novas metodologias envolvendo a síntese de iminas tem sido desenvolvidas. Assim, Stefani e colaboradores obtiveram iminas (3) a partir de aldeídos (1) e aminas primárias (2), utilizando irradiação de ultrassom como fonte energética, etanol como solvente e SiO2 como agente secante, sendo que para cada 1,0 mmol dos reagentes (aldeídos e aminas) utilizou-se 5,0 mmol de SiO2 (Esquema 6).13g R O C R H2NR1 H 1 SiO2, EtOH H 2 CH2 O ; R= CH2 ; ON2 CH2 CH2 O N CH2 H2C ; C2 CH2 ; ; H2 C ; MeO . OMe R1= R1 3 85-99% ; O ; C N ; H2 C ; H2C . H2C Esquema 6 Uma variedade de aldeídos aromáticos e heteroaromáticos foi testada, com grupos substituintes elétron-atratores ou elétron-doadores, e não foram observadas grandes variações de rendimento. Esta metodologia contempla alguns princípios da 11 Química Verde, tais como economia atômica, minimização de resíduos e a promoção da eficiência de energia.1 Outra forma bastante eficaz para a promoção da eficiência de energia é através da utilização de irradiação de MO. Baseado na utilização desse recurso, Varma e colaboradores desenvolveram uma nova metodologia para a síntese de iminas sob condições livres de solvente e com o uso de argila montmorilonita K-10 como agente secante.13a As iminas (13) foram sintetizadas a partir da reação entre diferentes aldeídos (1) com substituintes aromáticos e a anilina (2g). Nesta reação, para cada 1,0 mmol de aldeído e 1,0 mmol da anilina foram adicionadas 20,0 mg da argila K-10. A mistura foi irradiada por MO durante 3,0 minutos, atingindo temperatura de 110 oC (Esquema 7). R NH2 C O H 1 argila K-10 MO, 110 oC 3 min OH H R C N H 2g R= C6H5; p-HOC6H4; o-HOC6H4; p-Me2NC6H4; p-MeOC6H4 R -H2O C N H 13 95-98% Esquema 7 Também utilizando MO, Gopalakrishnan e colaboradores realizaram um estudo da síntese de iminas (3) em meio livre de solvente, tendo como agente secante NaHSO4.SiO2.13b No procedimento realizado, misturou-se 1,0 mmol do aldeído (1) com 1,0 mmol de NaHSO4.SiO2 em um recipiente, e após adicionou-se 1,0 mmol da amina (2). A mistura foi irradiada com MO (320 W, 50 – 66 oC) por um período de tempo entre 40 e 90 segundos (Esquema 8). 12 R O C H2NR H 2 1 CH2 ; R= H3CO H3CO R 1= H2C CH2 HO ; H 2C OH ; H 2C NO2 ; NO2 CH2 CH2 ; H3CO OCH3 H 2C H 2C OCH3 ; H2C Cl ; H 2C Cl Cl ; H2C ; H 2C ; H3CO CH2 ; O CH2 ; Me2N CH2 ; C N H R1 3 90-98% CH2 ; NO2 OCH3 ; CH2 CH2 ; O2N R NaHSO4.SiO2 MO, 50 - 66 oC 40 - 90 s 1 CH3 ; OCH3 Cl ; H C 2 Cl H 2C Esquema 8 Neste trabalho, somente aldeídos e aminas com presença de anel aromático na estrutura foram utilizados. Variou-se a natureza dos substituintes ligados ao anel aromático tanto dos aldeídos quanto das aminas, e não foram observadas alterações significativas de rendimento. Embora os autores tenham obtidos excelentes resultados para a síntese das iminas com a utilização de NaHSO4.SiO2 sob irradiação de MO, o mesmo não foi observado a temperatura ambiente. Neste caso, verificou-se a não formação do produto desejado, fato que limita o uso desse agente secante a metodologias que envolvam o emprego de fontes de aquecimento, como MO ou aquecimento convencional. Além das inúmeras possibilidades mencionadas empregando o uso de MO na presença de agente secante, Paquin e colaboradores13c desenvolveram uma metodologia onde a síntese das iminas (14) ocorreu sem a presença dessas substâncias. Nesse estudo, a mistura de aldeídos aromáticos (15) e aminas (2) foi aquecida sob MO (90 W, 100 oC) por 8,0 minutos (Esquema 9). 13 O C Ar H 15 o NH2R1 MO, 100 C, 8 min -H2O 2 Ar C N H R1 14 85-100% Ar= Ph; Piperonila; 4-MeOC6H4; 4-ClC6H4; 4-NO2C6H4; 3,4,5-MeOC6H2; 3,4-MeOC6H3; 3,5-MeOC6H3; 4-OHC6H4. R1= i -PrNH2; PrNH2; H2NCH2Ph. Esquema 9 Para que ocorresse a formação das iminas, a água liberada foi removida do meio reacional na forma de vapor em sistema aberto. Porém, a alta temperatura (100 oC), necessária para promover a eliminação da água, inviabilizou a aplicação dessa metodologia a aminas voláteis, como a metilamina (16). Para resolver esse problema, os autores utilizaram argila de montmorilonita K-10 como agente secante, em sistema fechado. Assim, para cada 10,0 mmol de aldeído (15) e 10,0 mmol da metilamina (16), foram utilizados 3,0 gramas de argila K-10, e a mistura foi irradiada com MO por 10 minutos, atingindo a temperatura de 120 oC (Esquema 10). Ar O C H 15 H2N CH3 Argila K-10 MO, 120 oC, 10 min 16 Ar C N CH3 H 17 48-73% Ar= Ph; 4-MeOC6H4; 4-ClC6H4; 4-NO2C6H4. Esquema 10 1.1.2. Reatividade do grupamento imino As iminas são espécies bastante reativas, devido ao caráter heteropolar do grupo imino (Figura 7), que favorece a adição de reagentes nucleofílicos. Esta propriedade faz com que elas sejam utilizadas como intermediários químicos em diversas reações.15a δ+ δ− C N Figura 7. Caráter heteropolar do grupo imino. 14 As iminas podem sofrer, entre outras, reações de redução,15 de adição nucleofílica16 e também podem ser utilizadas como dienófilos ou azadienos em reações imino-Diels-Alder.17 1.1.2.1. Redução de iminas A redução de iminas é uma reação bastante empregada em síntese orgânica. Sua importância está ligada ao fato de que as aminas secundárias, produtos da reação, são compostos de interesse para a indústria farmacêutica e agrícola.15b Como visto anteriormente, as iminas (5) são sintetizadas a partir da condensação de compostos carbonílicos (8) com aminas primárias (2).10a Numa reação de redução para obtenção de aminas secundárias (18), as iminas poderão ser utilizadas isoladas ou como intermediários da reação. Quando a reação de redução ocorre a partir de iminas isoladas, temos uma aminação redutiva indireta. Já a reação a partir de aminas e compostos carbonílicos, com a formação da imina ou do intermediário íon imônio in situ, seguida de redução é conhecida como aminação redutiva direta (Esquema 11).15c 1. Síntese de iminas R R2 O R C 8 2 R C N 1 R 5 H2NR1 3. Aminação redutiva indireta 2 2. Aminação redutiva direta R CH NH R2 R1 18 Esquema 11 Os principais agentes redutores utilizados nesse tipo de síntese são os hidretos metálicos.15d Alguns exemplos descritos na literatura relatam o uso de LiAlH4,15e Bu2SnClH,15f RuHCl(PPh3)3,15g CaH2/ZnX2,15h Silano/MoO2Cl2,15i NaBH415a,j e NaBH4/alumina,15k sob diferentes condições reacionais. 15 O NaBH4 é um dos agentes redutores mais comumente empregado nesse tipo de síntese. Em trabalho realizado por Echevarria e colaboradores, as aminas secundárias (19) foram obtidas através da reação de redução das iminas (20) previamente isoladas, pela presença de NaBH4 (2,0 mmol), em etanol e sob refluxo, durante um período de 3,0 horas para iminas com substituintes doadores de elétrons e 6,0 horas para aquelas que apresentavam substituintes retiradores de elétrons (Esquema 12).15a H NaBH4 Etanol, Refluxo 3-6h N X N H X 20 19 85-98% X = H, CH3, N(CH3)2, OCH3, Br, CN, NO2 Esquema 12 De acordo com os autores, a maior reatividade de iminas com grupos substituintes doadores de elétrons deve-se ao caráter mais eletrofílico do carbono imínico, o qual apresenta menores valores de carga e densidade eletrônica se comparado com as iminas que apresentam substituintes elétron-retiradores. Este resultado está de acordo com o mecanismo da reação, pois a adição de hidreto, que ocorre na etapa lenta, é mais eficiente em centros eletrofílicos com menor densidade eletrônica (Esquema 13).15a H H N Na+BH4- Na+ N X X 20 H H Na+ H N O H X B H H NaH2BO3 N H 19 X Esquema 13 16 Empregando a filosofia da Química Verde, Kazemi e colaboradores desenvolveram um trabalho de aminação redutiva indireta para as iminas (21), obtendo as correspondentes aminas secundárias (22), através da utilização de NaBH4/Al2O3 em meio livre de solvente.15k O suporte sólido NaBH4/Al2O3 foi preparado através da simples mistura de Al2O3 (1,4 gramas; aproximadamente 14,0 mmol) e NaBH4 (0,114 gramas; 3,0 mmol) em um recipiente, onde adicionou-se 1,0 mmol da correspondente imina juntamente com 5 gotas de metanol. As aminas secundárias foram obtidas após 5,0 minutos sob maceração a temperatura ambiente (Esquema 14). Ar C N H Ar1 21 Ar= C Ar CH NH Maceração, t.a. H Ar1 5 min 22 80-98% NaBH4/Al2O3 C ; Cl ; C ; NC Ar1= C ;C O2N Br ; C C; C OH CH3 Esquema 14 Varala e colaboradores realizaram a redução in situ das iminas geradas a partir de aldeídos e aminas, utilizando como agente redutor um sistema formado por NaBH4/InCl3.15l O procedimento de aminação redutiva direta utilizou uma solução formada por benzaldeído (1d) (1,0 mmol) e anilina (2g) (1,0 mmol) em acetonitrila (2,0 mL), onde se adicionou uma mistura de InCl3 (0,135 mmol) e NaBH4 (1,5 mmol) em 2,0 mL de acetonitrila. Os reagentes foram colocados sob agitação em temperatura ambiente e atmosfera de nitrogênio durante 30 minutos, obtendo-se a correspondente amina (4f) (Esquema 15). CHO NH2 NaBH /InCl 4 3 CH3CN, t.a. 30 min 1d 2g N H 4f 90% Esquema 15 17 Esse procedimento foi estendido a outros compostos carbonílicos e aminas primárias, e as respectivas aminas secundárias foram obtidas após período que variou entre 15 e 60 minutos, com rendimentos de 40 a 92%. 1.1.2.2. Reações de adição nucleofílica As iminas são espécies químicas suscetíveis à adição de reagentes nucleofílicos e essa adição pode ser do tipo 1,2-, diretamente ao carbono imínico, ou 1,4-, onde a adição se dá no carbono α ao carbono imínico. Assim, a geração de aminas pela adição de nucleófilos 1,2- ao grupo imino (C=N) tem sido estudada.16 A estratégia mais utilizada para a síntese de aminas via adição 1,2- é o ataque nucleofílico de reagentes organometálicos. No trabalho realizado por Takahashi e colaboradores, as iminas (23) foram obtidas pela condensação do (S)-valinol (24) com os correspondentes aldeídos.18 Após, foi realizado o estudo da reação com a adição de cloreto de benzilmagnésio e de benzillítio, onde foi observada a adição nucleofílica pela formação das aminas (25) (Esquema 16). H3C CH3 OH H2N H3C RCHO 73-90% OH N R 24 CH3 H H3C R M THF, 40 ºC (M=MgCl) Et2O, t.a. (M=Li) 23 CH3 2 OH HN R R2 25 35-90% R = C6H5, 4-MeOC6H4; R2 = C7H7 Esquema 16 Já Chao-Jun Li e colaboradores desenvolveram um método de adição 1,2de cicloalcanos a iminas, mediada por peróxidos.19 Inicialmente, reagiu-se o (E)-Nbenzilidenobenzenamina (26) com ciclooctano (27), e diferentes peróxidos foram testados. O melhor resultado foi obtido quando se utilizou o peróxido de tert-butila durante 15,0 horas a temperatura de 135 oC, com rendimento de 96% para a formação da amina (28) (Esquema 17). 18 Ph N C Ph Ph 15 h, 135 oC 26 Ph N O O 27 28 96% Esquema 17 Iminas com diferentes grupos elétron-doadores ou elétron-retiradores foram testados e os rendimentos variaram entre 53 e 84%. Porém, quando ocorreu a modificação do cicloalcano, o rendimento diminuiu, chegando a 37% com a utilização de ciclopentano, devido ao seu baixo ponto de ebulição. Além da adição 1,2-, é possível realizar a adição 1,4- de Michael, onde reações via iminas quirais são exemplos, da também conhecida, “alquilação desracemizante”. Este tipo de reação está fundamentada na adição conjugada de iminas quirais a alquenos eletronicamente deficientes.20 Iminas quirais (29) obtidas a partir de cetonas cíclicas 2-substituídas (30) e da 1-feniletilamina opticamente ativa (31) reagem sob condições neutras, com aceptores de Michael (32) produzindo adutos, como o composto (33). A hidrólise destes adutos conduz a cetonas cíclicas 2,2-dissubstituídas (34) com recuperação do auxiliar quiral (31) (Esquema 18).21 C6H5 O R (rac)-30 -H2O H N C6H5 H NH2 (R)-31 GRE 32 C6H5 H R 29 N R GRE 33 H3O+ O GRE=Grupo Retirador de Elétrons R GRE 34 C6H5 H NH2 (R)-31 Esquema 18 19 Em geral, esta adição de Michael apresenta alta regiosseletividade, de forma que a alquilação ocorre, predominantemente, na posição α mais substituída da imina, ou seja, é uma adição do tipo 1,4- e não ocorre no carbono imínico. A razão se encontra no equilíbrio tautomérico entre imina quiral (29) e as duas enaminas secundárias (35) e (36) representadas pelos seus confômeros mais estáveis (Esquema 19). Na enamina mais substituída (35), a ligação N-H está sin à ligação dupla da enamina e, consequentemente, a transferência interna e concertada do hidrogênio ligado ao átomo de nitrogênio à posição α-GRE do alqueno eletrofílico é facilitada. Entretanto, na enamina menos substituída (36) esta transferência concertada não ocorre devido à geometria da ligação N-H estar anti à ligação dupla desta enamina. C6H5 H C6H5 H NH C6H5 R 35 H N NH R 29 R 36 Esquema 19 Portanto, a adição dessas iminas a alquenos eletrofílicos se dá por aproximação endo – sin entre as espécies reagentes, onde há transferência concertada do próton do nitrogênio da enamina secundária ao aceptor de Michael.21,22 1.1.2.3. Reação imino Diels-Alder As iminas podem ainda estar envolvidas em reações imino-Diels-Alder, as quais representam uma das principais ferramentas na síntese de heterociclos presentes em produtos naturais.17 Os produtos são obtidos nas reações de cicloadição com iminas ativadas. Entre os métodos existentes, o mais comum envolve uma imina como dienófilo ou como dieno na forma de 1-azadienos e 2azadienos (Esquema 20). 20 N R N N N R R R Imina = Dienófilo Imina = 1-azadieno N N Imina = 2-azadieno Esquema 20 Em 2007, Menéndez e colaboradores apresentaram a primeira aplicação de cicloadição entre iminas aromáticas (37) e 1-azadienos (dimetilidrazonametacroleína (38)), onde a imina age como um dieno e a dupla ligação (C=C) do azadieno se comporta como um dienófilo (Esquema 21).23 N(CH3)2 N H3C CH2 (H3C)2N 38 InCl3 CH3CN, t. a. R2 R CH3 R2 R1 N 1 N N H H R3 39 R3 37 Esquema 21 As hidrazonas α,β-insaturadas são conhecidas por se comportarem como dienos em reações hetero-Diels-Alder.20 Devido ao efeito elétron-retirador do átomo de nitrogênio, a dupla ligação (C=C) do 1-azadieno pode ser considerada como alqueno pobre de elétrons. No entanto, a introdução de grupos elétron-doadores, como o dimetilamino, inverte esta situação e permite o uso de hidrazonas α,βinsaturadas como dienófilos em condições normais de reações de Diels-Alder (Esquema 22). Para tal transformação, os autores utilizaram 10% de tricloreto de Índio (InCl3) como catalisador, onde obtiveram uma série de 1,2,3,4- tetraidroquinolinas (39). 21 N(CH3)2 N H3C CH2 R2 R2 N R1 N In(III) R1 3 R R3 - In(III) (H3C)2N 2 R (H3C)2N N N H N CH3 1 R R3 2 R H H N CH3 R1 R3 H 39 Esquema 22 1.1.3. Importância biológica e farmacológica de iminas e aminas secundárias Inúmeros estudos constataram, em compostos com o grupo imino (C=N), significativa atividade biológica e farmacológica.8 Os principais relatos referem-se à atividade antifúngica,8c,f-i antibacteriana,8c-i antitumoral8a-b e antiinflamatória.8j,k Sinha e colaboradores sintetizaram várias iminas (Figura 8), as quais foram submetidas a testes de atividade biológica.8c Os compostos testados apresentaram bons resultados contra as bactérias Bacillus subtilis, Staphylococcus aureus e Pseudomonas fluorescence e contra os fungos Aspergillus niger e Candida albicans (Tabela 2). 22 HO HO HN HN O N HO O N HN O OH HO 40 HO O S O O 42 41 H N OH O NH N N N NH 43 44 HO O N O OH N NH 45 Figura 8. Iminas com atividade biológica contra fungos e bactérias. Tabela 2. Resultados de MIC obtidos frente alguns dos microorganismos testados (em µg/mL). Composto Bacillus subtilis Pseudomonas fluorescense Staphylococcus aureus Aspergillus niger Candida albicans 40 41 42 43 44 45 18,4 48,2 35,1 11,3 42,5 15,5 15,8 5,7 3,8 19,3 38,1 21,6 35,9 19,2 3,4 18,5 16,8 >50 >50 >50 47,5 17,8 >50 21,3 28,4 12,5 >50 11,9 26,8 15,9 Vicini e colaboradores estudaram a atividade antiproliferativa de diversas iminas.8a Dos estudos realizados, as iminas 46a-i (Figura 9) apresentaram resultados significativos contra a proliferação de células leucêmicas, melanoma e células de adenocarcinoma mamário. R3 N S 46 N CHR2 46a R2= 3-ClC6H4; R3= H; 46b R2= 4-OCH3C6H4; R3= H; 46c R2= 2-OH, 3-OCH3C6H3; R3= H; 46d R2= 4-OH, 3-OCH3C6H3; R3= H; 46e R2= 5-NO2 - 2-Furanila; R3= H; 46f R2= 2-OHC6H5; R3= CH3; 46g R2= 2-ClC6H4; R3= CH3; 46h R2= 3-ClC6H4; R3= CH3; 46i R2= 4-OCH3C6H4R3= CH3. Figura 9. Iminas com atividade antiproliferativa. 23 Geronikaki e colaboradores desenvolveram uma série de iminas com o intuito de pesquisar sua atividade antiinflamatória.8k Essa propriedade farmacológica foi testada em ensaios com ratos que apresentavam edema de pata induzido, como modelo de inflamação aguda. As iminas 47a-d e 48a-b (Figura 10) apresentaram atividade antiinflamatória como resultado da inibição da síntese de prostaglandinas. A imina 47a teve o melhor resultado, com diminuição de 75% do edema, enquanto que as demais produziram redução de aproximadamente 56,1% do processo edematoso. R3 N S N C H OH H3C(H2C)3 S R4 47 R3 N N C H OH R4 48 48a R3= H; R4= H 48b R3= H; R4= OCH3 47a R3= I; R4= H; 47b R3= H; R4= OCH3; 47c R3= Br; R4= OCH3; 47d R3= OCH3; R4= OCH3. Figura 10. Iminas com atividade antiinflamatória. Ainda, as iminas apresentam papel importante como intermediários na síntese de moléculas ou grupamentos funcionais que apresentam comprovada atividade biológica e farmacológica. Por exemplo, o anel β-lactâmico, estrutura que dá nome a um grupo de antibióticos bastante utilizados na terapêutica - tais como a penicilina pode ser sintetizado a partir de uma reação envolvendo iminas como intermediário sintético. Assim, numa reação de cicloadição [2+2] do ceteno (49) com a imina (50), foi obtido o penam (51), um análogo da Penicilina V (52) (Esquema 23).24 Ph O O N S O N O O Et3N N O Cl 50 CO2Me O C O H N OMe O O Ph S PhO O N 51 H N CO2Me O Ph S N O 49 O Ph N CO2Me S N 52 CO2K Esquema 23 24 Além das iminas, as aminas secundárias, sintetizadas, entre outras maneiras, através de uma reação de redução de iminas, apresentam importante aplicação farmacológica e na agricultura.3,9,15 Assim, Srivastava e colaboradores sintetizaram algumas aminas secundárias, e estudaram a atividade antifilarial desses compostos contra Acanthocheilonema viteae.9e O estudo foi realizado in vivo, em roedores da espécie Mastomys coucha, os quais foram submetidos a 200 mg/Kg de substância, via oral, durante 5 dias. O composto N-hexilcicloexilamina (53) (Figura 11) apresentou 100% de atividade antifilaricida contra as macrofilárias (formas adultas) de A. viteae. HN 53 Figura 11. N-hexilcicloexilamina. Em 1973, Wright e colaboradores estudaram a atividade de vários derivados de citronelilaminas como hormônio juvenil contra as pupas de moscas de estábulos (Stomoxys calcitrans) e moscas comuns (Musca domestica). Eles verificaram que o composto 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina (4b) (Figura 12), apresentou alta atividade, inibindo o desenvolvimento de insetos jovens e, portanto, caracterizando-se como um análogo do hormônio juvenil contra estes insetos.3 N H 4b Figura 12. 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina. 25 1.2. Uso do citronelal em síntese orgânica Os óleos essenciais são substâncias que apresentam ampla variedade de compostos (terpenos e terpenóides) que podem ser utilizados como matéria-prima em síntese orgânica, levando à obtenção de compostos com possível atividade biológica. Um exemplo é o óleo essencial de citronela (Cymbopogon nardus (L) Rendle), que apresenta o composto (R)-citronelal (1a) (3,7-dimetil-6-octenal, Figura 13), um monoterpeno predominantemente formado pelo metabolismo secundário das plantas.25 CHO 1a Figura 13. (R)-citronelal (3,7-dimetil-6-octenal). O citronelal está presente em mais de 50 tipos de óleos essenciais, e sua concentração e estereoquímica variam de acordo com a natureza da planta. O óleo essencial de citronela (Cymbopogon nardus (L) Rendle) apresenta apenas o isômero R, o qual pode ser isolado através de um sistema de destilação sob pressão reduzida ou por extração. A produção anual de óleo de citronela, que contém 40 - 51% de (R)-citronelal, é de cerca de 2300 toneladas.2 O uso do citronelal em síntese orgânica contempla vários princípios da Química Verde. Ele é obtido a partir de fontes de matérias-prima renováveis, é uma substância biodegradável e apresenta baixa toxicidade. Ainda, é um reagente muito versátil, que pode ser utilizado com eficiência para introduzir um novo centro estereogênico em estruturas mais complexas.2 Além de seu uso na indústria de fragrâncias, o citronelal é utilizado como intermediário em síntese de diversos terpenos naturais como o 1-mentol (54) e αtocoferol (55) (Figura 14).26 Alguns trabalhos descrevem a biotransformação do citronelal em compostos de aplicação industrial,25 assim como no metabolismo de organismos vivos.27 26 CH3 HO OH CH3 H3C O CH3 54 CH3 CH3 CH3 CH3 55 Figura 14. Terpenos naturais que podem ser sintetizados a partir do citronelal. 1.2.1. Condensação do (R)-citronelal com aminas A reação de condensação do (R)-citronelal (1a) com aminas primárias permite a obtenção de (R)-citroneliliminas, as quais podem ser isoladas ou geradas in situ. A presença de uma ligação dupla na cadeia do (R)-citronelal permite que as citroneliliminas sofram diferentes transformações. A reatividade das N-arilcitroneliliminas já foi amplamente estudada.2,7,28-31 Estas sofrem reação iminoDiels-Alder intramolecular levando à formação de octaidroacridinas. Entretanto, há apenas um trabalho que descreve a reatividade das N-alquicitroneliliminas alifáticas que sofrem ene-ciclização, levando à formação de aminas cíclicas quirais.32 1.2.1.1. Síntese de octaidroacridinas As octaidroacridinas (56) e (57) são uma classe de compostos com propriedades farmacológicas muito interessantes, atuando como antidepressivos, agentes anticolinesterase, sedativo,33 além de inibidor das secreções do ácido gástrico.34 Uma síntese eficiente delas é a partir da condensação do (R)-citronelal (1a) com N-arilaminas (58) (Esquema 24).7 Esta é uma reação imino-Diels-Alder catalisada por ácido de Lewis, que se complexa com o par de elétrons do nitrogênio do intermediário imina (59), possibilitando a hetero-ciclização em uma só etapa de reação. Este tipo de reação possui uma grande economia atômica, com altos rendimentos e grande estereosseletividade.7 27 R1 NH2 R CHO R R1 1a 59 58 H R1 H R1 N H H R N N H H 57 R 56 Esquema 24 Essa transformação pode ser catalisada por SnCl4,7b, Cr(CO)3,35 peneira molecular,36 BiCl3,37 TiCl3,38 Yb(OTF)3.39 Recentemente, Jacob e colaboradores descreveram uma metodologia muito simples e ambientalmente correta para a preparação de octaidroacridinas (56) e (57).7a Esta metodologia realiza a reação imino-Diels-Alder do (R)-citronelal (1a) e aminas (58) na presença de SiO2/ZnCl2 (10%) como catalisador, sob condições livres de solvente e MO. A reação ocorre de forma fácil, limpa e altamente seletiva, com resultados comparados aos obtidos por métodos convencionais. Este protocolo verde também foi aplicado para a reação entre anilina (2g) e óleo essencial bruto de citronela (contendo 40 a 51% de (R)citronelal). O produto foi obtido com 79% de rendimento junto com geraniol, citronelol, acetato de geraniol e outros constituintes do óleo que não sofreram modificações. Já Lenardão e colaboradores desenvolveram uma metodologia para a preparação de octaidroacridinas (60) utilizando como catalisador um líquido iônico de selênio, a temperatura ambiente ou sob MO (Esquema 25).7c Essa metodologia se mostrou eficiente devido a alta estabilidade, a facilidade na preparação e a baixa viscosidade desse líquido iônico. NH2 CHO R 1a BF4- C4H9 SeH C2H5 C6H5 sal de selenônio (5 mol %) t.a. ou MO (548W) 61 R H N H H 60 Esquema 25 28 1.2.1.2. Síntese de benzimidazóis Os benzimidazóis constituem uma classe de compostos de grande importância na química medicinal. Eles apresentam variadas atividades farmacológicas, tais como anti-histamínicos,40 anti-ulcerativos,41 antialérgicos42 e antipiréticos.43 Jacob e colaboradores sintetizaram benzimidazóis 1,2-dissubstituídos (62) a partir da condensação do orto-fenilenodiamino (63) com (R)-citronelal (1a).44 Para isso, utilizou-se como catalisador uma mistura de SiO2/ZnCl2 (25%). A reação ocorreu tanto a temperatura ambiente como através de MO, e o rendimento máximo alcançado foi de 92% (Esquema 26). NH2 CHO SiO2/ZnCl2 (25%) t.a. ou MO NH2 63 N N 62 92% 1a Esquema 26 1.2.1.3. Síntese e ciclização de citroneliliminas Lachat e colaboradores realizaram a síntese da N-arilcitroneliliminas a partir de uma solução de 1,0 mmol de anilina em 10 mL de pentano seguida da adição de 1,0 mmol de (R)-citronelal (1a) e peneira molecular de 4 A°. A mistura foi mantida sob agitação a temperatura ambiente over night e depois filtrada via celite.7b Foi observado que a reação é fortemente dependente do tipo de peneira molecular utilizada. Quando foi utilizada peneira molecular pulverizada, houve formação das iminas puras com rendimentos quantitativos, após 15 minutos. Estas iminas foram utilizadas para a síntese das octaidroacridinas correspondentes, conforme descrita no Esquema 24 (página 28). Da mesma forma, Demailly e Solladie reagiram (R)citronelal (1a) com benzilamina (2f), utilizando benzeno como solvente e peneira molecular e obtiveram a N-benzilcitronelilimina (3f).32 Essa imina foi utilizada como intermediário na reação de ene-ciclização, realizada sob agitação durante 24 horas 29 na presença de SnCl4, obtendo-se a amina secundária cíclica (64) com 75% de rendimento (Esquema 27). NH2 CHO 2f 1a Pen. molec. 4 Ao SnCl4 N CH2 C6H5 24h, t.a. Benzeno/Pentano 15min., t.a. R 3f N CH2 C6H5 H 64 75% Esquema 27 30 Capítulo 2 Apresentação e Discussão dos Resultados 31 O foco de todo o trabalho do nosso grupo de pesquisa está baseado nos princípios da Química Verde. Destaca-se a utilização de matéria-prima proveniente de fontes naturais renováveis, o uso de suportes sólidos recicláveis, reações realizadas em meio livre de solvente e a promoção da eficiência de energia através da utilização de fontes de energia não-clássicas como MO. Dessa forma, procuramos desenvolver uma metodologia simples, limpa e rápida para a síntese de citroneliliminas a partir do (R)-citronelal, e aplicar na obtenção de citronelilaminas. Os resultados obtidos nesse estudo serão apresentados e discutidos a seguir. 2.1. Síntese de iminas a partir da condensação do (R)-citronelal e outros aldeídos com aminas primárias 2.1.1. Otimização das condições reacionais através do estudo da condensação do (R)-citronelal com a N-butilamina Para determinar as melhores condições reacionais de obtenção das N-alquilcitroneliliminas, foram escolhidos como materiais de partida o (R)-citronelal (1a) e a N-butilamina (2a). De modo a acompanhar as reações por CCD, foi obtido a amostra padrão de N-butilcitronelilimina (3a) através de metodologia descrita na literatura.7b Dessa forma, uma mistura contendo 1a (0,154 gramas; 1,0 mmol) e 2a (0,073 gramas; 1,0 mmol) foi deixada agitar em hexano e sob peneira molecular 4 A° a temperatura ambiente over night e o rendimento obtido foi de 69% (Esquema 28). CHO H2N 2a Pen. molec. 4 Ao Hexano t.a. over night N 3a 69% 1a Esquema 28 Várias metodologias descritas na literatura, para a síntese de iminas, utilizam agentes secantes para remoção da água formada como subproduto na reação, deslocando o equilíbrio no sentido de formação das iminas.11 Reproduzimos a metodologia de Texier-Boullet,11d onde usou-se 5,0 mmol de Al2O3 para cada 1,0 32 mmol de 1a e 1,0 mmol de 2a. Porém, a grande quantidade de Al2O3 em meio livre de solvente tornou a reação inviável, pois o sistema de agitação magnética não foi suficiente para promover uma homogeneização que permitisse a interação dos reagentes, não ocorrendo a formação da N-butilcitronelilimina (3a). Assim como no estudo de Texier-Boullet, as outras metodologias descritas também utilizam grande quantidade de agentes secantes, o que inviabiliza a aplicação em grande escala. A grande quantidade de agente secante é necessária porque estes compostos são utilizados sem tratamento prévio de secagem, o que diminui muito sua capacidade de remoção da água. Desta forma, estudamos a utilização dos agentes secantes descritos na literatura (Tabela 3) para a síntese de iminas, realizando previamente, um tratamento de secagem. Assim, estes sólidos foram mantidos em forno elétrico a 250°C por 3h e depois armazenados em um dessecador. Então, uma mistura contendo (R)-citronelal (1a) (0,154 g; 1,0 mmol), N-butilamina (2a) (0,073 g; 1,0 mmol) e 1,0 mmol de agente secante foi mantida sob agitação a temperatura ambiente, por período de 1,5 a 15 horas (Esquema 29). As reações foram acompanhadas por CCD e o tempo reacional foi determinado quando se verificou o consumo total do (R)-citronelal. CHO Agente secante 1,5 - 15 h, t.a. H2N 2a N 3a 1a Esquema 29 Tabela 3. Obtenção da N-butilcitronelilimina utilizando diferentes agentes secantes. Linha Agentes secantes Tempo (h) Rendimento (%) 1 Al2O3 6,0 95 2 Na2SO4 4,5 93 3 CaSO4 5,0 89 4 K2CO3 6,0 91 5 CuSO4 1,5 75 6 MgSO4 5,5 79 7 CaCl2 15,0 81 8 SiO2 7,0 70 33 Como se observa na Tabela 3, todos os agentes secantes utilizados apresentaram resultados satisfatórios para a síntese de 3a com a utilização de apenas 1,0 mmol. Os melhores resultados foram obtidos com a utilização dos agentes secantes anidros Na2SO4, K2CO3 e CaSO4 (Linhas 2, 3 e 4). Entretanto, o maior rendimento foi obtido com Al2O3 anidra (Linha 1), onde 95% do produto 3a foi isolado após 6,0 horas de reação. Comparando com o trabalho desenvolvido por Texier-Boullet,11d observou-se que um simples tratamento prévio de secagem permitiu reduzir a utilização de 4,0 mmol de Al2O3, alterando a proporção aldeído:amina:Al2O3 de 1:1:5, para 1:1:1 equivalentes. O tempo reacional foi semelhante ao obtido por Texier-Boullet quando utilizaram aldeídos e aminas alifáticos (7,0 horas) e o rendimento foi superior ao obtido por eles (90%). Estes resultados mostraram o sucesso do tratamento de secagem na diminuição da quantidade de agente secante necessários para remover a água formada na reação. Após ser isolada, a N-butilcitronelilimina (3a) obtida foi analisada por RMN 1H, RMN 13 C e IV. No espectro de RMN 1H (Figura 15) podemos observar em 7,63 ppm a presença de um tripleto de tripletos com J = 5,2 e 1,2 Hz, referente ao hidrogênio ligado ao C8 (carbono imínico). O hidrogênio ligado ao C3 (carbono vinílico) aparece na forma de um multipleto na região de 5,07-5,15 ppm. Em 3,36 ppm há um tripleto com J = 6,8 Hz referente aos hidrogênios ligados ao C11 adjacente ao grupo imino na cadeia da butila. 9 10 11 4 6 8N 1 2 3 7 5 3.400 5.150 7.50 7.00 14 3.350 5.100 7.640 12 13 7.630 5.050 7.620 6.50 7.610 6.00 7.600 5.50 5.00 4.50 4.00 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 1 Figura 15. Espectro de RMN H do composto 3a em CDCl3 a 400MHz. 34 O espectro de RMN 13C (Figura 16) mostra a presença de um pico em 164,1 ppm, referente ao carbono imínico (C8), um pico em 131,1 ppm e outro em 124,3 ppm referentes aos carbonos vinílicos C2 e C3, respectivamente, e um pico em 60,9 ppm referente ao C11, vizinho do nitrogênio imínico. 9 10 11 4 6 8N 1 2 3 7 5 160 150 140 130 120 110 100 13 12 90 14 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Figura 16. Espectro de RMN 13C do composto 3a em CDCl3 a 100MHz. A análise no IV (Figura 17) mostra a presença da banda em 1668,4 cm-1 característica da deformação axial da ligação C=N de iminas alifáticas. A ausência de bandas na região de 3300 a 3400 cm-1 de deformação axial de ligação N-H e em 1650 cm-1 característica de deformação axial de C=N-H indicam que não ocorreu tautomerização e, portanto, não houve formação da enamina correspondente. 105 %T 90 1114,86 827,46 75 60 45 2958,80 2927,94 2918,30 2872,01 2860,43 1668,43 1456,26 15 1377,17 30 0 11 13 4 6 8N 1 2 3 7 5 12 14 -15 3600 3200 Amostra líquida C57P 2800 10 9 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Figura 17. Espectro de infravermelho do composto 3a. 35 Uma vez confirmada a formação da imina 3a sob temperatura ambiente, foi realizado um estudo da reação sob aquecimento convencional, visando a diminuição do tempo reacional. Tendo em vista que os melhores resultados da síntese de 3a sob temperatura ambiente foram obtidos com Al2O3 e Na2SO4, esses dois agentes secantes foram utilizados para as reações sob aquecimento convencional. As mesmas quantidades de reagentes e agentes secantes foram mantidas e colocadas sob aquecimento em banho de óleo e com agitação magnética. Com a utilização de Al2O3, sob aquecimento de 45 o C, não ocorreu diminuição do tempo reacional (6,0 horas), e o rendimento manteve-se o mesmo que a temperatura ambiente (95%). Da mesma forma, com Na2SO4 a 45 oC, o tempo da reação não diminuiu e o rendimento manteve-se inalterado (93% após 4,5 horas). Ao elevar a temperatura da reação para 60 oC, com Al2O3, observou-se, por CCD, que após 2,0 horas ocorreu o consumo total do (R)-citronelal e a formação do produto 3a com 94% de rendimento (Esquema 30). CHO Al2O3 2 h, 60 oC H2N 2a N 3a 94% 1a Esquema 30 Diferentemente do observado na reação utilizando Al2O3, com o aquecimento a 60 oC a reação que utilizou Na2SO4 levou a formação de uma mistura entre a imina 3a e seu tautômero enamina (65) (Esquema 31). CHO Na2SO4 H2 N 2a 1a 2 h, 60 oC N 3a N H 65 Esquema 31 Esta constatação foi verificada através da análise do espectro no IV do produto obtido. Observou-se que, além da banda característica da deformação axial do grupo imino (C=N) em 1668,43 cm-1, também havia a presença da banda 36 característica da deformação axial do grupo enamina (C=C-NH) em 1643,42 cm-1 (Figura 18). A presença da banda de deformação axial do grupo N-H em 3400 cm-1 confirma a tautomerização. Este resultado está coerente com o fato de que iminas derivadas de aldeídos que possuem hidrogênios ácidos α ao grupo imino, podem sofrer tautomerização na presença de agentes secantes com caráter ácido, levando a um equilíbrio entre as duas formas.14 105 %T 90 1112,93 827,46 75 2956,87 2926,01 2872,01 2860,43 30 1456,26 1668,43 45 1375,25 1643,35 60 15 3600 C30B 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Figura 18. Espectro de infravermelho da mistura imina-enamina. Como o uso de Al2O3 anidra levou a um melhor resultado tanto a temperatura ambiente quanto sob aquecimento convencional, optou-se por utilizar este agente secante para os estudos seguintes. Assim, foi estudada a influência da quantidade de Al2O3 no rendimento da reação (Tabela 4). Para isso, manteve-se a quantidade dos reagentes e variou-se apenas a quantidade de Al2O3 anidra. A reação foi mantida sob agitação a temperatura ambiente por 6,0 horas. Foi possível observar que a diminuição da quantidade de Al2O3 para 0,5 mmol levou à diminuição do rendimento de 3a para 85% (Linha 1). Por outro lado, o aumento da quantidade de Al2O3 não alterou o rendimento final (Linhas 3 e 4). 37 Tabela 4. Efeito da variação na quantidade de Al2O3 no rendimento da reação. Linha Catalisador Quantidade (mmol) Rendimento (%) 1 Al2O3 0,5 85 2 Al2O3 1,0 95 3 Al2O3 1,5 95 4 Al2O3 2,0 95 Esses resultados mostram que Al2O3 é um eficiente agente secante, sendo que 1,0 mmol foram suficientes para remover a água formada durante a reação. Isso favoreceu o deslocamento do equilíbrio reacional no sentido de formação da imina 3a, obtendo excelente rendimento final. Com o objetivo de reduzir ainda mais o tempo reacional, foi realizado um estudo utilizando aquecimento por MO. Inicialmente, foi utilizado um forno de MO doméstico, calibrado conforme procedimento experimental (Item 3.2.3; página 62). Para que a reação atingisse a temperatura de 60 oC, a mesma temperatura do estudo com aquecimento convencional, foi necessário a utilização de uma potência de 400 W. Desta forma, a mistura de 1,0 mmol de (R)-citronelal (1a), 1,0 mmol de N-butilamina (2a) e 1,0 mmol de Al2O3 anidra foi colocada em MO doméstico durante 1,5 minutos na potência de 400 W e a formação de 3a se deu com 95% de rendimento (Esquema 32). CHO H2N 2a 1a Al2O3 Anidra MO Doméstico 60oC (400 W) 1,5 min. N 3a 95% Esquema 32 Um resultado similar foi obtido quando a reação foi realizada em forno de MO científico. A mistura de 1,0 mmol de 1a, 1,0 mmol de 2a e 1,0 mmol de Al2O3 anidra foi colocada em um tubo selado de 10,0 mL, o qual foi submetido a MO científico (200 W) na temperatura de 60 oC, com agitação e pressão não-invasiva por 2,0 minutos. O produto 3a foi obtido com rendimento de 93% (Esquema 33). 38 CHO Al2O3 Anidra H2N MO Científico 60 oC (200 W) 2,0 min. 2a 1a N 3a a 93 3% Esquema 33 Outro estudo realizado neste trabalho, visando minimizar a formação de resíduos, foi do reaproveitamento da Al2O3 utilizada zada nas reações (Figura 19). Após a reação, a Al2O3 foi separada do produto por filtração, ficando retida no papel filtro. Essa Al2O3 foi submetida a uma simples lavagem com acetato de etila para retirada de impurezas provenientes da reação, e posteriormente colocada em forno elétrico para evaporação do solvente (Ítem ( 3.10; página 67). 100 80 60 Rendimento (%) 95 40 90 81 69 20 0 0 1°Ciclo 2°Ciclo 3°Ciclo 4°Ciclo 5°Ciclo Figura 19. 1 Reaproveitamento da Al2O3. Conforme figura 19, 1 foi observado que a Al2O3 manteve-se manteve ativa e com boa capacidade de absorção da água formada na reação reação até o 4º ciclo, sendo que os rendimentos diminuíram a cada ciclo. Esse fato pode ser atribuído à desativação do agente secante, devido à modificação de sua área superficial ou de seus sítios ativos pelas sucessivas reações, sendo que no 5º ciclo não ocorreu a formação do produto 3a. Ainda, foi realizado um estudo denominado scale up,, onde se utilizou maior quantidade dos reagentes, de modo a demonstrar a possibilidade de aplicação dessa metodologia em grande escala. escala Dessa forma, colocou-se se para reagir r 5,0 mmol 39 de 1a, 5,0 mmol de 2a e 5,0 mmol de Al2O3 sob aquecimento em MO doméstico (60 oC, 400 W). Após 4,0 minutos foi obtido o produto 3a com 95% de rendimento (Esquema 34). CHO NH2 2a 1a Al2O3 Anidra MO Doméstico 60 oC (400 W) 4 min N 3a 95% Esquema 34 2.1.2. Síntese de citroneliliminas Depois de confirmada a síntese da N-butilcitronelilimina (3a) e terem sido estabelecidas as melhores condições reacionais, buscou-se a obtenção de outras citroneliliminas, a partir da condensação do (R)-citronelal (1a) com aminas primárias (2b-g). Foram reproduzidas as reações utilizando temperatura ambiente e aquecimento por MO doméstico ou científico (Esquema 35). CHO Al2O3 Anidra t.a. ou MO Doméstico ou MO Científico H2N R1 2b-g N R1 3b-g 1a Esquema 35 Todos os resultados obtidos na síntese das citroneliliminas (3a-g) encontram-se resumidos na tabela 5. 40 Tabela 5. Resultados obtidos na síntese de citroneliliminas. Linha Aldeídos 1 1 Aminas 2 H2N CHO 2a 1a Produto 3 3a N Método Tempo Rend.(%) A 6,0 h 95 2 1a 2a 3a B 1,5 min 95 3 1a 2a 3a C 2,0 min 93 4 1a B 6,0 min 74 B 6,0 min 89 A 8,0 h 75 B 2,0 min 91 A 7,0 h 90 A 7,0 h 91 H 2N 2b 4 3b N 1a H2N 3c 2c 6 1a 7 1a 8 1a H2 N 2d 2d 3d N 3d H2N 2e 9 N 1a N 3e H2 N 2f 3f N 10 1a 2f 3f B 2,5 min 92 11 1a 2f 3f C 3,0 min 88 12 1a A 24 h 82 C 4,0 min 75 13 H2N 1a 2g 3g 2g 3g N Método: (A) a reação ocorreu sob agitação a temperatura ambiente; (B) a reação ocorreu em forno de o micro-ondas doméstico (60 C; 400 W); (C) a reação ocorreu em forno de micro-ondas científico (60 o C; 200 W). Com os dados mostrados na Tabela 5, podemos destacar a diminuição do tempo reacional com a utilização de MO, tendo como exemplo a síntese do composto 3a, que na reação em temperatura ambiente demorou 6,0 horas para ocorrer (Linha 1), enquanto que usando MO doméstico (Linha 2) ou científico (Linha 3) ocorreu em apenas 1,5 e 2,0 minutos, respectivamente. Ainda, os resultados experimentais para a síntese de citroneliliminas mostraram que, nestas condições, as aminas aromáticas são menos reativas que as alifáticas, visto que o tempo necessário para formar o produto foi muito maior do que o dispensado para obter iminas provenientes de aminas alifáticas. Por exemplo, ao comparar o tempo necessário para a síntese dos compostos 3a e 3g pelo método A, constatou-se que na reação utilizando a amina alifática 2a (Linha 1), a formação do 41 produto ocorreu após 6,0 horas de reação e com 95% de rendimento, enquanto que ao utilizar a amina aromática 2g (Linha 12) foram necessárias 24 horas de reação e o produto 3g foi obtido com rendimento de 82%. Isto provavelmente está relacionado à menor disponibilidade do par de elétrons do átomo de nitrogênio das aminas aromáticas, o que torna a reação mais lenta. Além disso, devido ao grande tempo necessário para a síntese da imina 3g, ocorreu formação de pequena quantidade de octaidroacridina, um produto que pode ser obtido a partir da reação do (R)-citronelal (1a) com aminas aromáticas. 2.1.3. Síntese de iminas a partir de outros exemplos de aldeídos Após sintetizadas as citroneliliminas, passou-se à sistematização da reação a partir da utilização de outros exemplos de aldeídos. Da mesma forma, foram reproduzidas as reações utilizando temperatura ambiente e aquecimento por MO (Esquema 36). As iminas foram purificadas através de uma simples filtração utilizando 10 mL de acetato de etila e depois rota-evaporadas para a retirada do solvente. Os resultados obtidos estão resumidos na Tabela 6. O C R H 1b-d H2N R1 2a,d,g Al2O3 Anidra t.a. ou MO Doméstico ou MO Científico R C N H R1 3h-m Esquema 36 Tabela 6. Resultados obtidos na síntese de iminas a partir de outros exemplos de aldeídos. Linha Aldeídos 1 1 CHO Aminas 2 Produto 3 2a 1b 3h 2 1b 2a 3 1b 2d 3h 3i 4 CHO 1c N N Método Tempo Rend.(%) A 8,0 h 75 C 2,0 min 85 A 6,0 h 90 2a N 3j A 6,0 h 43 5 1c 2a 3j B 4,0 min 60 6 1c 2a 3j C 4,0 min 65 42 Tabela 6. Resultados obtidos na síntese de iminas a partir de outros exemplos de aldeídos (Continuação). 7 1c 2g A 18 h 77 N 3k 8 1c 9 CHO 2g 3k B 9,0 min 60 2a N 3l A 4,0 h 81 3l B 2,0 min 80 A 16,0 h 94 1d 10 1d 2a 11 1d 2g N 3m 12 1d 2g 3m B 3,0 min 92 13 1d 2g 3m C 3,0 min 92 Método: (A) a reação ocorreu sob agitação a temperatura ambiente; (B) a reação ocorreu em forno de o micro-ondas doméstico (60 C; 400 W); (C) a reação ocorreu em forno de micro-ondas científico o (60 C; 200 W). Após realizar todo o estudo de síntese de iminas, pode-se observar, com os resultados obtidos, que as metodologias utilizando temperatura ambiente e MO são efetivas e abrangem tanto aldeídos alifáticos (1a-c) quanto aromáticos (1d). Destaca-se o uso do citral (1b), um aldeído α,β-insaturado, que levou a formação das respectivas iminas com bons rendimentos (Tabela 6, linhas 1 a 3). Os menores rendimentos foram obtidos quando o butanal (1c) foi utilizado (Tabela 6, linhas 4 a 8), formando as respectivas iminas com rendimentos que variaram de 43 a 77%, conforme a condição reacional utilizada. Em todos os casos, observou-se que a utilização de MO acelerou a reação, sem ocorrer grandes diferenças nos rendimentos. 2.1.4. Identificação das iminas sintetizadas Todas as iminas obtidas, com exceção da 3m que é sólida, são líquidos levemente amarelados ou alaranjados. As estruturas das iminas obtidas foram confirmadas por análise de RMN 1H, RMN 13 C e IV. Entretanto, devido à demora na realização das análises por RMN, algumas iminas sofreram decomposição parcial, 43 poluindo os seus espectros. A imina propargílica (3d) foi a que apresentou menor estabilidade, sofrendo decomposição total, e devido a grande demora em ser analisada, não pode ser identificada por RMN. A sua identificação foi realizada por IV, através da presença das bandas de deformação axial das ligações (≡C-H) em 3307,9 cm-1 e (C=N) em 1670,4 cm-1 e depois confirmada através da obtenção da amina propargílica (4b) (Tabela 9; página 51). Os dados espectrais das iminas 3a-m encontram-se resumidos na Tabela 7. Tabela 7. Dados espectrais de RMN 1H, RMN 13C e IV das iminas 3a-m. Linha Composto 1 3a 2 3b N N 3 N 3c 1 RMN H RMN 13 C IV -1 (400 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,63 (t, J= 5,2 Hz, 1H); 5,075,15 (m, 1H); 3,36 (t, J= 6,8 Hz, 2H); 0,80-2,31(m, 11H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H); 0,93 (t, J= 6,2 Hz, 3H); 0,90 (d, J= 7,2 Hz, 3H). (100 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 164,1, 131,1, 1668,4 (C=N) 124,3, 60,9, 42,7, 36,8, 32,7, 30,5, 25,3, 25,2, 20,1, 19,4, 17,4, 13,6. 200 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,61 (t, J= 5,4 Hz, 1H); 5,005,20 (m, 1H); 2,94 (sexteto, J= 6,6 Hz, 1H); 1,20-2,50(m, 9H); 1,73 (s, 3H); 1,69 (s, 3H); 1,46 ( d, J=6,4 Hz, 3H); 0,94 (d, J= 6,6 Hz, 3H); 0,80 (t, J= 7,4 Hz, 3H). (100 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 162,3, 131,3, 1666,5 (C=N) 124,4, 68,0, 42,7, 36,9, 30,7, 30,6, 30,3, 25,5, 22,3, 19,5, 17,5, 11,0. (400 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,61 (t, J= 5,2 Hz, 1H); 5,005,20 (m, 1H); 0,80-2,40(m, 7H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H); 1,18 (s, 6H); 1,17 (s, 3H); 0,92 (d, J= 6,8 Hz, 3H). (100 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 158,7, 131,3, 1666,5 (C=N) 124,5, 56,6, 43,4, 36,9, 30,8, 30,7, 29,6, 25,6, 25,3, 19,4, 17,5. -1 -1 -1 4 3d N 5 N 3e 6 3f N Instável Instável (KBr, cm ): 3307,9(≡C-H); 1670,4 (C=N) -1 (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,65 (t, J= 5,4 Hz, 1H); 5,05,2 (m, 1H); 2,8-3,0 (m, 2H); 2,18-2,3 (m, 2H); 0,80-2,16 (m, 15H); 1,68 (s, 3H); 1,62 (s, 3H); 0,92 (d, J= 6,9 Hz). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 162,3, 131,3, 1666,5 (C=N) 124,4, 69,7, 42,7, 36,8, 34,4, 34,3, 30,6, 25,6, 25,5, 25,4, 24,9, 24,8, 19,4, 17,6. (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,82 (m, 1H); 7,20-7,50 (m, 5H);5,00-5,30 (m,1H); 4,61 (s, 1 H); 0,75-2,50 (m, 7H); 1,72 (s, 3H); 1,64 (s, 3H); 1,00 (d, J= 6,8 Hz, 3H). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 166,0, 128,5, 1666,5 (C=N); 1649,1; 128,4, 128,3, 128,2, 127,9, 127,8, 126,8, 1452,4; 732,5; 696,3 124,4, 65,1, 42,9, 36,9, 30,6, 25,7, 25,3, 19,6, 17,6. -1 44 Tabela 7. Dados espectrais de RMN 1H, RMN (Continuação). 7 N 3g 8 3h N 9 3i 10 N 3j 11 N 3k 12 N 3l 13 N 3m N 13 C e IV das iminas 3a-m -1 (400 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,84 (t, J= 5,2 Hz, 2H); 7,257,40 (m, 2H); 7,05-7,23 (m, 1H); 6,95-7,05 (m, 2H); 4,85-5,20 (m, 1H); 2,40-2,55 (m, 1H); 2,20-2,38 (m, 1H); 0,85-2,15 (m, 5H); 1,68 (s, 3H); 1,61 (s, 3H); 0,90 (d, J= 6,8 Hz, 3H). (100 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 166,1, 152,5, 1651,1 (C=N); 1600,9; 131,5, 128,9, 125,1, 124,3, 120,5, 115,0, 1498,7; 748,4; 692,4. 53,3, 43,7, 36,9, 30,7, 25,6, 25,4, 19,7, 17,6. (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 8,05-8,30 (m, 1H); 6,00 (d, J= 9,6 Hz, 1 H); 4,90-5,20 (m, 1H); 3,30-3,60 (m, 2H); 2,28-2,38 (m, 2H); 1,92 (s, 3H); 1,82-1,98 (m, 2H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H); 1,201,42 (m, 4H); 0,80-1,00 (m, 3H). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 159,3; 159,0; 1649,1 (C=N) 149,7; 132,5; 132,1; 125,7; 124,6; 123,3; 61,2; 61,2; 40,1; 33,1; 33,0; 32,5; 26,8; 26,0; 25,6; 24,2; 20,4; 20,3; 17,6; 17,1; 13,8. (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 8,40-8,60 (m, 1H); 6,06 (d, J= 8,4 Hz, 1 H); 5,38-5,44 (m, 1H); 4,34 (d, J= 1,8 Hz, 2H); 1,00-2,60 (m, 5H); 2,17 (s, 3H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 160,9; 160,7; 3300,2(≡C-H); 151,5; 132,7; 132,2; 1651,1 (C=N) 125,3; 124,4; 123,9; 123,2; 123,0; 74,8; 74,7; 47,1; 47,0; 40,5; 40,1; 32,7; 26,9; 26,8; 25,9; 25,5; 24,3; 17,6; 17,3. (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,70 (s, 1H); 2,80 (t, J= 6,8 Hz, 2H); 2,04-2,18 (m, 2H); 1,22-1,72 (m, 6H); 0,80-1,00 (m, 6H). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 180,9, 39,7, 1668,0 (C=N) 39,1, 29,9, 19,7, 19,5, 14,0, 13,5. (200 MHz, CDCl3) δ (ppm) 6,90-7,50 (m, 3H); 6,40-6,85 (m, 3H); 0,60-1,60 (m, 7H). (KBr, cm ): 1681,0 (C=N); 1601,9; 1495,8; 747,4; 691,5. -1 -1 -1 -1 - -1 (KBr, cm ): 1647,21 (C=N); 1579,7; 1450,5; 754,17. (400 MHz, CDCl3) δ (ppm) 8,26 (s, 1H); 7,71-7,73 (m, 2H); 7,25-7,50 (m, 3H); 3,61 (t, J=7,2 Hz, 2H); 1,69 (quinteto, J= 7,6 Hz, 2H); 1,39 (sexteto, J= 7,6 Hz, 2H); 0,95 (t, J= 7,2 Hz, 3H). (50 MHz, CDCl3) δ (ppm) 160,7, 136,3, 128,5, 128,0, 61,4, 33,0, 20,4, 19,4, 13,9. 300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 8,51 (s, 1H); 7,96-8,00 (m, 2H); 7,40-7,62 (m, 5H); 7,20-7,43 (m, 3H). (75 MHz, CDCl3) δ (KBr, cm ): (ppm) 160,3; 152,0; 1625,9 (C=N); 1600,9; 136,1; 131,3; 129,1; 1498,7; 128,7; 128,6; 125,9; 752,24; 692,4. 120,8. -1 45 As análises no IV tiveram grande importância para a confirmação estrutural dos compostos preparados. A principal banda de absorção no IV que caracteriza as iminas é da deformação axial da ligação C=N em aproximadamente 1660 cm-1 para as iminas alifáticas e em 1650 cm-1para as iminas aromáticas. 2.2. Redução de iminas para obtenção de aminas secundárias Embora o NaBH4 seja o agente redutor mais utilizado para a redução de iminas, as metodologias descritas na literatura utilizam solventes ou outros catalisadores associados a este hidreto. Além disso, utilizam grande quantidade de agente redutor e refluxo por longos períodos sob aquecimento convencional. Mesmo a metodologia dita “livre de solvente” desenvolvida por Kazemi e colaboradores15k, requer a adição de 5 gotas de metanol para facilitar a agitação da mistura reacional, pois para a redução de 1,0 mmol de imina utiliza uma grande quantidade de suporte sólido preparado com 14,0 mmol de Al2O3 e 3,0 mmol de NaBH4. Desta forma, procuramos adaptar a metodologia desenvolvida para a síntese de iminas, visando a redução destes compostos para obtenção de aminas secundárias, através do método da aminação redutiva one pot, em meio livre de solvente e utilizando a menor quantidade possível de NaBH4 a temperatura ambiente ou com aquecimento por MO. Para isto, inicialmente, foi colocada uma mistura contendo 1,0 mmol de 1a, 1,0 mmol de 2a e 1,0 mmol de Al2O3 anidra no MO doméstico pelo tempo necessário para a formação da imina 3a (1,5 minutos) e, sem isolar, adicionou-se 2,0 mmol de NaBH4 ao meio reacional. Essa mistura foi agitada em temperatura ambiente por 15 minutos adicionais, e o produto 4a foi obtido com 91% de rendimento (Esquema 37). CHO 1. Al2O3, MO Dométisco 60 oC (400 W), 1,5 min H2N 2a 2. NaBH4, t.a., 15 min N H 4a 1a 91% Esquema 37 46 O produto 4a obtido foi purificado por cromatografia em coluna de sílica, utilizando uma mistura de hexano/acetato de etila na proporção de 80:20 e em seguida foi rota-evaporado para a retirada do solvente. Esse produto foi analisado através de RMN 1H, RMN 13C e IV. No espectro de RMN 1H (Figura 20), destaca-se a ausência do tripleto centrado em 7,63 ppm característico do hidrogênio imínico, indicando a redução do grupo imino (C=N). Além disso, nota-se a presença do multipleto entre 5,07 e 5,15 ppm, referente ao hidrogênio ligado carbono vinílico (C3). Ainda, observa-se um multipleto entre 2,57 e 2,69 ppm, referentes aos hidrogênios ligados aos C8 e C11, carbonos vizinhos do nitrogênio. 10 9 11 13 4 6 8N 2 1 3 7 H 12 14 5 5.150 5.100 2.700 8.0 2.650 7.0 5.050 2.600 6.0 2.550 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 1 Figura 20. Espectro de RMN H do composto 4a em CDCl3 a 400 MHz. Da mesma forma, no espectro de RMN 13 C (Figura 21), destaca-se a ausência do pico em 164.1 ppm característico do carbono do grupo imino. O pico em 131,1 ppm refere-se ao carbono vinílico C2 e o pico em 124,7 ppm refere-se ao carbono vinílico C3. Também se destaca a presença de 2 picos, um em 49,5 ppm e outro em 47,6 ppm, referentes a C8 e C11, carbonos vizinhos do nitrogênio. 47 10 9 11 13 4 6 8N 2 1 3 7 H 12 14 5 170 160 150 140 130 120 110 100 Figura 21. Espectro de RMN 90 13 80 70 60 50 40 30 20 10 0 C do composto 4a em CDCl3 a 50 MHz. Na análise no IV (Figura 22), foi possível verificar a presença de uma banda fraca em 3394,7 cm-1, referente à deformação axial de N-H de amina secundária e uma banda intensa em 1454,3 cm-1 referente à deformação angular simétrica no plano da ligação N-H. O desaparecimento da banda em 1668,4 cm-1 confirma a redução da imina, e, portanto, a formação da N-butilcitronelilamina (4a). 105 %T 1118,71 3394,72 75 1058,92 90 1454,33 1377,17 60 45 2956,87 2926,01 2870,08 30 15 9 11 13 4 6 8N 2 1 3 7 H 12 14 5 0 3600 Amostra liquida 3200 10 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Figura 22. Espectro de infravermelho do composto 4a. 48 De modo a reduzir o tempo na etapa de redução, a reação foi realizada utilizando o MO após a adição do NaBH4. Neste caso, tanto a preparação da imina quanto na redução one-pot foi realizada sob irradiação de MO científico. Assim, após tempo suficiente para a formação da imina 3a (2,0 minutos), foi adicionado o NaBH4 e a reação foi novamente submetida à irradiação no MO científico (60 oC; 200 W) por 2,0 minutos. A amina secundária 4a foi obtida com 89% de rendimento após um tempo total de 4,0 minutos (Esquema 38). CHO H2N 2a 1. Al2O3, MO Científico, 60oC (200 W), 2 min 2. NaBH4, MO Científico, 60 oC (200 W), 2 min N H 4a 89% 1a Esquema 38 O método de aminação redutiva one-pot foi estendido a outros aldeídos e/ou aminas (Esquema 39). Todos os resultados obtidos na síntese de aminas secundárias por aminação redutiva one-pot estão resumidos na Tabela 8. O C R H 1a,d,e H2NR1 2a,d,g H 1. Al2O3, MO Doméstico ou MO científico 2. NaBH4, t.a. ou MO Científico CH NH R1 R 4a-f Esquema 39 Tabela 8. Aminas secundárias obtidas por aminação redutiva one-pot. Linha Aldeído 1 Amina 2 1 1a 2a Produto 4 4a 2 1a 2a 3 1a 2d 4 1a 5 1d 2a N H 4d Rend.(%) D 16,5 min 91 E 4,0 min 89 D 17 min 87 D 16 min 84 D 17 min 86 N H 2g 4c Tempo N H 4a 4b Método N H 49 Tabela 8. Aminas secundárias obtidas por aminação redutiva one-pot (Continuação) 6 1d 2g D 18 min 82 E 5,0 min 91 D 16 min 85 N H 4e 7 1d 8 2g CHO 4e 2g N H 4f 1e Método: (D) a imina foi sintetizada conforme método B (Tabela 6, pág. 42) e deixada esfriar a temperatura ambiente; após, foi adicionado NaBH4 (2,0 mmol) e deixado agitar por mais 15 minutos a temperatura ambiente; (E) a imina foi sintetizada conforme método C (Tabela 6, pág. 42) e deixada esfriar a temperatura ambiente; após, foi adicionado NaBH4 (2,0 mmol) e colocada novamente em o forno de microondas científico (60 C; 200 W). Observando a tabela 8, verifica-se que a formação de todas as aminas secundárias aconteceu com rendimentos satisfatórios. Além disso, a reação ocorreu num tempo bastante curto, sem o uso de solventes e com apenas 2,0 mmol de NaBH4, caracterizando-se como uma metodologia limpa. Entretanto, não foi possível sintetizar a amina 4g através desse método. Neste caso, foi realizado o método de aminação redutiva indireta, no qual a imina 3j foi sintetizada e isolada previamente. Após foi adicionado 2,0 mmol de NaBH4 e está mistura foi colocada sob agitação em meio livre de solvente e a temperatura ambiente por 2,0 horas. O produto 4g foi obtido com 54% de rendimento (Esquema 40). N 3j NaBH4 t.a., 2h Esquema 40 N H 4g 54% 2.2.1. Identificação das aminas secundárias sintetizadas As aminas secundárias foram purificadas por cromatografia em coluna de sílica, utilizando uma mistura de hexano/acetato de etila, numa proporção variável de 95:5 a 80:20. Em seguida, foram rota-evaporadas para a remoção do solvente. Após sua purificação, elas foram submetidas a análises de RMN 1H, RMN 13 C e IV. 50 Semelhante ao ocorrido na identificação das iminas por RMN 1H e RMN 13 C, devido à demora na realização das análises por RMN, algumas aminas sofreram decomposição, não podendo ser identificadas através dessas analises. Os dados espectrais das aminas secundárias obtidas estão resumidos na tabela 9. Tabela 9. Dados espectrais de RMN 1H e RMN 13C das aminas secundárias 4a-g. Linha 1 Produto N H 4a 2 N H 4b 3 4c 4 N H 4d N H 1 13 RMN H (400 MHz, CDCl3) δ (ppm) 5,07-5,09 (m, 1H); 2,572,69 (m, 4H); 1,93-2,01 (m, 2H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H); 1,12-1,54 (m, 10H); 0,92 (t, J= 7,6 Hz, 3H); 0,89 (d, J= 6,8 Hz, 3H). RMN C (50 MHz, CDCl3) δ (ppm) 131,1, 124,7, 49,5, 47,6, 37,1, 36,7, 31,7, 30,6, 25,6, 25,4, 20,4, 19,5, 17,6, 13,9. (200 MHz, CDCl3) δ (ppm) 5,00-5,15 (m, 1H); 3,43 (d, J= 2,4 Hz, 2H); 2,52-2,60 m, 2H); 2,22 (t, J= 2,4 Hz, 1H) 0,80-2,10(m, 8H); 1,68 (s, 3H); 1,60 (s, 3H); 0,90 (d, J= 6,4 Hz, 3H). (100 MHz, CDCl3) (KBr, cm ): 3307,9 (N-H e δ (ppm) 131,1, 124,7, 82,2, 71,2, e ≡C-H); 46,5, 38,1, 37,1, 1452,4 (N-H). 36,9, 30,5, 25,7, 25,4, 19,5, 17,6. instável (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) 7,29-7,35 (m, 3H); 7,217,28 (m, 2H); 4,13 (dd, J= 13,5 e 3,0 Hz, 1H); 3,71 (sl, 1H); 3,56 (dd, J= 13,5 e 9,0 Hz, 1H); 2,52-2,64 (m, 2H); 1,43-1,65 (m, 2H); 1,021,21 (m, 2H); 0,74 (t, J= 7,0 Hz, 3H). -1 -1 instável instável -1 -1 instável (KBr, cm ): 3404,4 (N-H); 1602,8; 1508,3; 767,7; 750,3; 692,5; 650,0. -1 6 N H 4f 7 (KBr, cm ): 3383,5 (N-H); 1602,9; 1498,7; 1454,3; 748,4; 692,4. (KBr, cm ): (75 MHz, CDCl3) δ (ppm) 134,3, 3203,8 (N-H); 1496,8; 129,3, 128,9, 128,6, 59,7, 52,8, 1456,3; 752,2; 698,3. 28,1, 19,8, 13,4. 5 N H 4e IV -1 (KBr, cm ): 3394,7 (N-H); 1454,3 (N-H). N H 4g instável instável (300 MHz, CDCl3) δ (ppm) (75 MHz, CDCl3) δ 3,83 (sl, 1H); 2,70-2,90 (m, (ppm) 48,5, 31,1, 4H); 1,60 (quinteto, J= 7,2 19,7, 13,5. Hz, 4H); 1,50-1,20 (m, 4H); 0,94 (t, J= 7,2 Hz, 6H). (KBr, cm ): 3410,2 (N-H); 1600,9; 1504,5; 747,4; 691,5. -1 (KBr, cm ): 3431,4 (N-H). 51 As principais bandas de absorção no IV que caracterizam as aminas secundárias são: uma banda fraca na região de 3350-3310 cm-1, referente a deformação axial de N−H; uma banda de deformação angular simétrica de intensidade média ou forte na região de 1650-1580 cm-1; e uma banda de intensidade média a fraca, na região entre 1250-1020 cm-1, referente a deformação axial de C−N. 2.2.2. Síntese da 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina Como podemos observar na tabela 8, essa metodologia contemplou a síntese do composto 3,7-dimetil-N-(prop-2-inil)oct-6-en-1-amina (4b), o qual já teve sua atividade biológica comprovada em estudo realizado por Wright e colaboradores. Essa amina secundária é um análogo do hormônio juvenil ativo em moscas de estábulos (Stomoxys calcitrans) e moscas comuns (Musca domestica).3 Esse produto foi obtido após aquecer a mistura de 1,0 mmol de (R)-citronelal (1a) com 1,0 mmol propargilamina (2f) em MO doméstico a 60 oC (400 W) por 2,0 minutos. Em seguida, foram adicionados 2,0 mmol de NaBH4 e deixado agitar por 15 minutos a temperatura ambiente. O rendimento foi de 89% (Esquema 41). CHO 1. Al2O3, MO Dométisco 60 oC (400 W), 2 min H2N 2d 2. NaBH4, t.a., 15 min 1a N H 4b 89% Esquema 41 Com o objetivo de mostrar a simplicidade da metodologia desenvolvida neste trabalho, o composto 4b foi sintetizado a partir do óleo essencial bruto de citronela, que contém cerca de 40 a 51% de (R)-citronelal. Dessa forma, pesou-se 0,342 gramas de óleo de citronela (considerando que o óleo bruto apresentava 45% de (R)-citronelal, equivalente a 1,0 mmol deste composto) e adicionou-se 1,0 mmol da amina propargílica e 1,0 mmol de Al2O3. Essa mistura foi colocada em MO doméstico a 60 oC (400 W), e após 2,0 minutos houve a formação da imina. Em seguida, o NaBH4 (2,0 mmol) foi adicionado e a mistura foi mantida sob agitação a 52 temperatura ambiente por 6,0 horas ou sob irradiação de MO doméstico por 4,0 minutos, e a amina 4b foi obtida com rendimentos de 85% e 91%, respectivamente. A reação foi acompanhada por IV (Figuras 23 a 25). Na figura 23, pode ser observar uma banda em 1726,3 cm-1 referente a carbonila do (R)-citronelal, presente no óleo essencial de citronela bruto. 105 %T 90 889,18 1111,00 1097,50 1051,20 60 1234,44 1670,35 1643,35 2723,49 75 3400,50 3390,86 1024,20 45 1377,17 1726,29 1454,33 30 2962,66 2922,16 2870,08 2856,58 15 0 4000 Oleo bruto 3600 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Figura 23. Espectro de infravermelho do óleo essencial de citronela bruto. Já a figura 24 mostra o desaparecimento da banda em 1726,3 cm-1 da carbonila do (R)-citronelal (presente na figura 23) e o aparecimento da banda em 1668 cm-1 referente ao grupo imino, indicando a formação da imina 3d. 53 105 %T 889,18 90 1236,37 3309,85 1454,33 45 1377,17 1741,72 1668,43 3363,86 60 1026,13 75 2962,66 2870,08 2856,58 30 11 4 6 8N 1 23 7 5 12 0 4000 CE005B 3600 3200 10 9 2922,16 15 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 13 800 1/cm Figura 24. Espectro de infravermelho da imina 3d obtida a partir do óleo essencial de citronela bruto. Na figura 25 houve o desaparecimento da banda característica do grupo imino em 1668 cm-1 (presente na Figura 24), que indica a redução da imina e conseqüente formação da amina 4b. 105 %T 1109,07 1095,57 1053,13 1028,06 1010,70 1741,72 75 1236,37 1670,35 1643,35 90 1450,47 45 1377,17 3309,85 3367,71 60 2962,66 2868,15 2856,58 30 9 0 4000 3600 Amostra liquida 3200 10 11 4 6 8N 2 1 3 7 H 12 5 2924,09 15 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 13 800 1/cm Figura 25. Espectro de infravermelho do composto 4b obtido diretamente do óleo essencial de citronela bruto, sem purificação do produto. 54 2.3. Estudos preliminares do potencial biológico de alguns dos compostos sintetizados Paralelamente, algumas citroneliliminas e citronelilaminas sintetizadas durante a realização deste trabalho foram repassadas ao Grupo de pesquisa do professor Wladimir Padilha da Silva da UFPel - FAEM/DCTA, para realizar a avaliação do potencial bactericida/bacteriostático em bactérias patogênicas de importância na indústria de alimentos. Para este estudo foram avaliados o (R)citronelal 1a, o citral 1b, as iminas 3g, 3h e 3i, as aminas 4a, 4b e 4c, e o óleo essencial de citronela modificado contendo a amina 4a’ (Figura 26). A atividade biológica dos compostos foi analisada através da técnica da difusão em Agar utilizando a técnica do disco.45 Foram testadas cepas padrão de Listeria monocytogenes (ATCC 19117), Staphylococcus aureus (ATCC 29213) e Salmonella enteritidis (ATCC 13076). CHO CHO 1a N 1b N H 4a 4a' N 3g 3h N H N H 4b N 3i N H 4c Figura 26. Compostos que tiveram sua atividade bactericida/bacteriostática testada. A tabela 10 apresenta os halos de inibição das citroneliliminas e citronelilaminas testadas com as bactérias Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus e Salmonella enteritidis e comparados aos resultados apresentados pelo (R)citronelal e pelo citral. 55 Tabela 10. Halos de inibição dos produtos testados (em mm). Microrganismo Listeria monocytogenes Staphylococcus aureus Salmonella enteritidis Concentração Compostos Testados 1a 3g 4a 4a' 4b 1b 3h 3i 200mg/mL 16,0 10,0 23,0 22,0 16,0 30,0 22,0 18,0 100mg/mL 10,0 9,0 18,0 20,0 14,0 29,0 18,0 15,0 50mg/mL 9,0 8,0 15,0 11,0 13,0 19,0 12,0 12,0 200mg/mL 14,0 11,0 18,0 28,0 14,0 30,0 20,0 17,0 100mg/mL 12,0 8,0 13,0 23,0 14,0 22,0 15,0 9,0 50mg/mL 9,0 8,0 11,0 19,0 12,0 22,0 10,0 10,0 200mg/mL 11,0 10,0 15,0 20,0 15,0 24,0 24,0 13,0 100mg/mL 11,0 9,0 12,0 19,0 15,0 23,0 21,0 10,0 50mg/mL 10,0 8,0 11,0 19,0 12,0 22,0 16,0 8,0 Através da análise dos dados nota-se que os compostos que apresentaram bons resultados foram os produtos 4a, 4a' e 3h. Os compostos 4a e 4a' são os mesmos, mas com a diferença que o 4a’ foi testado sem ser isolado do óleo essencial de citronela. De um modo geral o produto bruto 4a' apresentou melhores resultados que a citronelilamina 4a pura, com exceção das concentrações de 200 e 50 mg/mL para L.monocytogenes, que apresentaram halos maiores para 4a. Isto indica que os componentes presentes no óleo essencial de citronela apresentam um efeito sinérgico com a N-butilcitronelilamina (4a). Outro bom agente antimicrobiano foi a imina derivada do citral 3h. Porém, o citral apresentou maior halo de inibição que está imina. Esses resultados preliminares mostraram que a presença de grupos nitrogenados no citral e no citronelal levou a formação de derivados com alto potencial antimicrobiano. 56 Considerações Finais e Conclusões 57 Baseado nos objetivos propostos neste trabalho e analisando os resultados obtidos, pode-se concluir que foi desenvolvida uma nova metodologia geral para a síntese de iminas, onde se destaca a utilização de aldeídos alifáticos e aromáticos, bem como aminas alifáticas e aromáticas. Essa metodologia atende a vários princípios da Química Verde, onde destaca-se o uso do composto (R)-citronelal, uma substância obtida de matéria-prima proveniente de fonte de natural renovável. Além disso, promoveu-se a reação em meio livre de solvente e fazendo uso de Al2O3 anidra como agente secante em quantidade equimolar, diminuindo assim a geração de resíduos ao final do processo. Aliado a isso, a promoção da eficiência de energia em reações que utilizaram temperatura ambiente ou aquecimento por irradiação de microondas são as principais vantagens que essa metodologia oferece. Além disso, foi desenvolvida uma metodologia de aminação redutiva one pot, bastante simples e ecologicamente correta, a qual proporcionou a formação, em poucos minutos, de aminas secundárias com atividade biológica comprovada e com bons rendimentos. Por fim, a continuidade desse trabalho será realizada através da agregação de alguns grupos funcionais, tais como organo-enxofre e organo-selênio, aos compostos sintetizados, de modo a avaliar a atividade biológica desses novos compostos funcionalizados. 58 Capítulo 3 Parte Experimental 59 3.1. Materiais e Métodos 3.1.1. Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear Os espectros de RMN 1H e RMN 13 C foram obtidos em espectrômetros Bruker DPX, que operam na freqüência de 200 MHz e 400 MHz, (Departamento de Química – UFSM e 300 MHz (Instituto de Química – UFRGS). Os deslocamentos químicos (δ) estão relacionados em parte por milhão (ppm) em relação ao padrão interno (TMS, utilizado como padrão interno para os espectros de RMN 1H e CDCl3 para os espectros de RMN 13 C), colocando-se entre parênteses a multiplicidade (s = singleto, sl = singleto largo, d = dubleto, dd = duplo dubleto, td = tripleto de dubleto, dl = dubleto largo, t = tripleto, q = quarteto, m = multipleto), o número de hidrogênios deduzidos da integral relativa e a constante de acoplamento (J) expressa em Hertz (Hz). 3.1.2. Espectroscopia de Infravermelho Os espectros de infravermelho foram obtidos a partir de um aparelho de espectrofotometria em Infravermelho de marca Shimadzu – modelo IR Prestige-21 com Transformada de Fourier (Central Analítica - Instituto de Química e Geociências - Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Pelotas - RS). 3.1.3. Rota-evaporadores Para remoção dos solventes das soluções orgânicas, foram utilizados: Rota-evaporador Quimisul, modelo Q-344B2 de 1000 W. Linha de Vácuo conectada ao rota-evaporador – Bomba D’água Ferrari, modelo IDB – 40, de 370 W, com rotação do motor de 3450 rpm e com a presença de Trompa D’água. 60 3.1.4. Bomba de Auto-vácuo Imediatamente após a remoção dos solventes através do rota-evaporador, os compostos foram submetidos novamente à pressão reduzida, produzido desta vez por uma Bomba de Auto-vácuo – Edwards, modelo E-2 M-8, para remoção completa do solvente. 3.1.5. Solventes e Reagentes Os solventes Hexano e Acetato de Etila (AcOEt) foram purificados por destilação fracionada. Os reagentes restantes foram obtidos de fontes comerciais e utilizados sem prévia purificação. Nas reações de condensação foi utilizada alumina 90 – Merck neutra que foi ativada segundo procedimento 3.2.2. Os produtos foram purificados por cromatografia em coluna (CC), utilizandose gel de sílica 60 (230-400 mesh – MERCK) e, como eluente, um solvente ou mistura de solventes hexano/acetato de etila. As placas de cromatografia em camada delgada (CCD) foram obtidas de fontes comerciais; Sílica G/UV254 (0,20 mm). Utilizou-se, como método de revelação, cuba de iodo, luz ultravioleta e solução ácida de vanilina. 3.2. Procedimentos Experimentais 3.2.1. Procedimento Geral para a obtenção do (R)-citronelal a partir do Óleo Essencial de Citronela O (R)-citronelal foi obtido através da destilação fracionada sob pressão reduzida do óleo essencial de citronela, produzido no Pólo Oleoquímico de Três Passos/UNIJUÍ e doado pelo Prof. Luiz Volney Viau. A destilação foi realizada, em linha de vácuo, utilizando-se uma bomba de alto vácuo com capacidade de atingir uma pressão mínima de 10-2 mmHg. O aquecimento foi realizado em manta com agitação magnética e utilizou-se uma coluna Vigreux de 40 cm de comprimento e um 61 balão de 100 mL de volume, contendo 75 mL do óleo bruto. Nestas condições, o citronelal foi obtido em bom rendimento e com alto grau de pureza. O (R)-citronelal destilou a 85oC sob pressão de 9 mmHg, e foi analisado por Cromatografia em Camada Delgada. A comparação dos fatores de retenção do destilado com o fator de retenção dos padrões de citronelal permitiu a identificação. 3.2.2. Procedimento Geral para a preparação do Suporte Sólido Os catalisadores e agentes secantes utilizados foram submetidos a previa secagem em forno elétrico da marca Suggar, Modelo FE2322BR – Potência 1500 W, a uma temperatura de 250 °C por 3 horas e depois mantidos em um dessecador. 3.2.3. Procedimento para a Calibração do Forno de Micro-ondas Antes de realizar o estudo da obtenção das iminas, foi realizada a calibração da potência a cada nível (1 a 10) e da distribuição da potência no interior do forno de Micro-ondas doméstico Panasonic – modelo Piccolo NN-S42BK. 3.2.3.1. Procedimento para a Calibração da Potência por Nível (determinação da potência real) A calibração da potência do forno de MO, nos seus 10 níveis, foi realizada utilizando-se um béquer de vidro com 1000 mL de água deionizada. O sistema foi irradiado no centro do prato giratório durante 120 segundos. A temperatura da água foi medida antes e depois da irradiação, calculando-se a diferença de temperatura. Foram realizadas 4 medidas para cada nível e a potência foi calculada utilizando-se a seguinte fórmula: 62 K. cp. m. T Potência = t Onde: K = 4,184 Ws/cal Cp = 1 cal/ g ºC m = massa em gramas T = diferença de temperatura em ºC t = tempo de aquecimento em segundos Após calcular a média entre as 4 medidas obtidas para cada nível, chegou-se aos seguintes resultados para a potência real, que estão mostrados na Tabela 11. Tabela 11. Calibração do Forno de Micro-ondas Doméstico Panasonic – modelo Piccolo NN-S42BK. a Potência Nominal Nível 150 W 1 200 W 2 300 W 3 400 W 4 500 W 5 550 W 6 650 W 7 750 W 8 800 W 9 900 W 10/Jet a Potência fornecida pelo fabricante. Potência calculada no cento do prato giratório 34,8 W 95,8 W 148,2 W 196,9 W 280,0 W 418,4 W 548,0 W 575,3 W 610,1 W 697,3 W 3.2.3.2. Procedimento para a Calibração da distribuição da potência no interior do forno de Micro-ondas Para verificar a distribuição da potência no interior do forno, o prato giratório foi dividido em 9 raios concêntricos, distantes 1,9 cm, conforme figura 27. 1 4 23 78 5 6 9 Figura 27. Distribuição da Potência no interior do Forno de Micro-ondas. 63 Foram utilizados 4 béqueres de vidro de 50 mL, devidamente numerados (1 a 4), contendo 25 mL de água deionizada e dispostos no prato giratório como mostrado acima. Os béqueres foram irradiados sob potência máxima nível (10/Jet), durante 30 segundos. A temperatura da água foi medida antes e depois da irradiação. Para determinar a potência usou-se a mesma fórmula descrita no item 3.2.3.1. (página 62). Este procedimento foi realizado em duplicata para cada raio do prato giratório. No centro do prato foi colocado apenas um béquer e no raio 1 foram colocados 2 béqueres por vez. O resultado desta calibração pode ser observado na Tabela 12. Tabela 12. Distribuição da Potência no Forno de Micro-ondas Doméstico Panasonic – modelo Piccolo NN-S42BK. Raio Centro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Potência (W) 196,9 185,6 196,9 183,1 196,1 142,9 185,6 137,9 142,9 122,0 A calibração do forno de MO doméstico foi concluída, observando-se que a potência nominal difere bastante da potência real calculada no centro do prato, como está apresentado na Tabela 11 (página 63). Além disto, a potência está ligeiramente mais concentrada no seu centro do que nas extremidades, conforme mostra a Tabela 12. 3.3. Procedimento para a síntese da N-butilcitronelilimina a temperatura ambiente utilizando diferentes agentes secantes A N-butilcitronelilimina foi preparada em um vial de vidro de 20 mL, ao qual foram adicionados o (R)-citronelal (1,0 mmol, 0,154 gramas), a N-butilamina (1,0 mmol, 0,073 gramas) e o agente secante (1,0 mmol). Em seguida, o frasco foi tampado com um septo de borracha, e colocado em agitação a temperatura ambiente. O progresso da reação foi acompanhado por CCD. Após agitar por 1,5 a 64 15,0 horas, adicionou-se 10 mL de acetato de etila, e a solução orgânica foi separada do catalisador por filtração; o solvente foi evaporado sob pressão reduzida. 3.4. Procedimento Geral para a síntese das iminas a temperatura ambiente A preparação das iminas foi realizada em um vial de vidro de 20 mL, ao qual foram adicionados o aldeído (1,0 mmol), a amina primária (1,0 mmol) e a Al2O3 anidra (1,0 mmol; 0,101 gramas). Em seguida, o frasco foi tampado com um septo de borracha, e colocado em agitação a temperatura ambiente. O progresso da reação foi acompanhado por CCD. Após agitar por período entre 4,0 e 24h, adicionou-se 10 mL de acetato de etila, e a solução orgânica foi separada da Al2O3 por filtração, sendo o solvente evaporado sob pressão reduzida. 3.5. Procedimento para a síntese da N-butilcitronelilimina utilizando aquecimento convencional A N-butilcitronelilimina foi preparada em um balão de vidro de 25 mL, ao qual foram adicionados o (R)-citronelal (1,0 mmol; 0,154 gramas), a N-butilamina (1,0 mmol; 0,073 gramas) e 1,0 mmol do agente secante (Al2O3 ou Na2SO4). Essa mistura foi colocada em um balão de 25 mL, com agitação sob aquecimento convencional em banho de óleo. Após 2,0 horas na temperatura de 60 oC observouse o completo consumo do citronelal por CCD. Adicionou-se 10 mL de acetato de etila e a solução orgânica foi separada do catalisador por filtração, sendo o solvente evaporado sob pressão reduzida. 3.6. Procedimento Geral para a preparação das Iminas utilizando Irradiação de Micro-ondas Doméstico A preparação das iminas utilizando irradiação de MO doméstico foi realizada em um vial de vidro de 20mL, ao qual foram adicionados o aldeído (1,0 mmol), a amina primária (1,0 mmol) e a Al2O3 anidra (1,0 mmol; 0,101 gramas), sendo estes 65 agitados previamente por 1,0 minuto. Em seguida o frasco foi tampado com um septo de borracha, e colocado no centro do prato giratório do forno de MO. A mistura foi irradiada na potência de 400 W, durante 1,5 a 9,0 minutos. O progresso da reação foi acompanhado por CCD. Após esse período, adicionou-se 10 mL de acetato de etila, sendo a solução orgânica separada da Al2O3 por filtração e o solvente evaporado sob pressão reduzida. 3.7. Procedimento Geral para a preparação das Iminas utilizando Irradiação de Micro-ondas Científico Para a realização das reações no MO científico, foi utilizado um aparelho da marca CEM Explorer monomodo, com uma frequência magnética de 2450 MHz. A potência máxima é de 300 W, com controle de temperatura de - 80 a 300 oC e agitação magnética. Em um tubo de 10 mL foram colocados o aldeído (1,0 mmol) e a amina (1,0 mmol) em presença de 1,0 mmol de Al2O3 anidra. O tubo foi fechado com um septo e colocado na cavidade do MO, sendo irradiado com agitação, sob uma potência máxima de 200 W na temperatura de 60 oC e pressão não-invasiva por período de 2,0 a 4,0 minutos. Após a formação do produto, a reação foi resfriada a temperatura ambiente, filtrada com acetato de etila (10 mL) e posteriormente rota-evaporada. 3.8. Procedimento Geral para a preparação das Aminas Secundárias utilizando temperatura ambiente Para a preparação das aminas secundárias utilizando temperatura ambiente, primeiro as iminas foram sintetizadas utilizando MO doméstico, conforme descrito no item 3.6 (Página 65) e após a mistura reacional esfriar a temperatura ambiente, foi adicionado ao frasco reacional o NaBH4 (2,0 mmol; 0,076 gramas). A mistura foi agitada por 15 minutos adicionais a temperatura ambiente. Após, acetato de etila (10 mL) foi adicionado à solução orgânica, a qual foi separada da Al2O3 e do NaBH4 através de filtração. A fase orgânica foi lavada com solução saturada de NaCl (10 66 mL), sendo então separada através de funil de decantação e posteriormente seca com MgSO4 anidro. O solvente foi evaporado sob pressão reduzida. 3.9. Procedimento Geral para a preparação das aminas secundárias utilizando irradiação de Micro-ondas Científico Para a preparação das aminas secundárias utilizando MO científico, primeiramente sintetizaram-se as iminas, conforme descrito no item 3.7 (Página 66). Deixou-se a mistura esfriar a temperatura ambiente, e se adicionou ao frasco reacional NaBH4 (2,0 mmol; 0,076 gramas). A mistura foi colocada novamente no MO científico (60 oC; 200 W) por 2,0 minutos adicionais. Após, acetato de etila (10 mL) foi adicionado, e o produto foi separado da Al2O3 e do NaBH4 através de filtração. A fase orgânica foi lavada com solução saturada de NaCl (10mL), sendo então separada através de funil de decantação e posteriormente seca com MgSO4 anidro. O solvente foi evaporado sob pressão reduzida. 3.10. Procedimento de recuperação da Al2O3 Após a imina ser isolada por filtração, a Al2O3 que ficou retida no papel filtro foi submetida a uma simples lavagem com acetato de etila (10 mL). Em seguida, a Al2O3 foi colocada em forno elétrico na temperatura de 250 oC por 3,0 horas para secagem. As massas de Al2O3 utilizadas após cada recuperação estão listadas na tabela 13. Tabela 13. Recuperação da Al2O3. Linha Ciclo Equivalente (mmol) 1º Massa recuperada (em gramas) 0,101 (Al2O3 Nova) 1 2 2º 0,098 0,97 3 3º 0,095 0,94 4 4º 0,090 0,89 5 5º 0,088 0,87 1,0 67 Referências Bibliográficas 68 1. a) Lenardão, E. J.; Freitag, R. A.; Dabdoub, M. J.; Batista, A. C. F.; Silveira, C. C. Quim. Nova 2003, 26, 123; b) Centi, G.; Perathoner, S. Catal. Today 2003, 77, 287; c) Kirchhoff, M. M. Resour. Conserv. Recy. 2005, 44, 237; d) Anastas, P. T.; Bartlett, L. B.; Kirchhoff, M. M.; Williamson, T. C. Catal. Today 2000, 55, 11; e) Anastas, P.T.; Warner, J. Green Chem.: Theory and Practice; Oxford University Press: Oxford, 1998; f) Trost, B.M. Science 1991, 254, 1471; g) Song, S. J.; Seong, J. C.; Park, D. K.; Kwon, T. W.; Jenekhe, S. A. 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N 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ppm (t1) Espectro de RMN 13C do composto 3b em CDCl3 a 100 MHz. 75 105 %T 831,32 968,27 1147,65 1743,65 75 1238,30 1325,10 90 60 2962,66 2926,01 15 1666,50 2872,01 2850,79 30 1377,17 1454,33 45 0 4000 3600 Amostra liquida 3200 N 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3b. 76 N 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 ppm (t1) Espectro de RMN 1H do composto 3c em CDCl3 a 400 MHz. N 170 160 ppm (t1) 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Espectro de RMN 13C do composto 3c em CDCl3 a 100 MHz. 77 105 %T 90 75 1377,20 1669,42 3308,94 45 1454,35 1435,06 60 2962,71 2915,46 2872,06 2855,66 30 15 N 0 3600 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3d. 78 N H ppm (t1)7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 Espectro de RMN 1H do composto 4b em CDCl3 a 200 MHz. N H ppm (t1) 130 120 110 100 90 Espectro de RMN 80 13 70 60 50 40 30 20 10 0 C do composto 4b em CDCl3 a 100 MHz. 79 100 %T 1112,93 95 1375,25 1452,40 85 3307,92 90 80 2854,65 75 2922,16 65 2960,73 70 60 55 3300 3000 Amostra líquida 2700 2400 2100 1950 1800 1650 1500 1350 1200 1050 900 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 4b. 80 N Espectro de RMN 1H do composto 3e em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3e em CDCl3 a 75 MHz. 81 105 %T 1238,30 75 889,18 1047,35 1346,31 962,48 90 1377,17 60 1666,50 1450,47 45 2852,72 30 N 2926,01 15 0 3600 Amostra liquída 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3e. 82 N Espectro de RMN 1H do composto 3f em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3f em CDCl3 a 75 MHz. 83 100 %T 90 3028,24 1028,06 80 1494,83 70 1377,17 60 696,30 1452,40 2960,73 40 1666,50 2870,08 2850,79 732,95 50 2912,51 30 20 3600 Amostra liquida 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3f. 84 N 8.0 ppm (t1) 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 Espectro de RMN 1H do composto 3g em CDCl3 a 400 MHz. N 170 ppm (t1) 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Espectro de RMN 13C do composto 3g em CDCl3 a 100 MHz. 85 N Espectro de RMN 1H do composto 3h em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3h em CDCl3 a 75 MHz. 86 100 %T 90 1201,65 873,75 856,39 80 70 1446,61 50 1377,17 2827,64 1616,35 60 40 2958,80 2927,94 20 1651,07 2860,43 30 10 3600 Amostra líquida 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3h. 87 N Espectro de RMN 1H do composto 3i em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3i em CDCl3 a 75 MHz. 88 100 %T 1305,81 80 869,90 852,54 1201,65 90 1377,17 2914,44 2966,52 50 1444,68 2873,94 2858,51 3300,20 60 1614,42 70 1651,07 40 30 N 20 3600 Amostra líquida 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3i. 89 N Espectro de RMN 1H do composto 3j em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3j em CDCl3 a 75 MHz. 90 N H Espectro de RMN 1H do composto 4g em CDCl3 a 300 MHz. N H Espectro de RMN 13C do composto 4g em CDCl3 a 75 MHz. 91 105 %T 2958,80 2929,87 45 1315,45 2870,08 60 1153,43 1255,66 1274,95 1427,32 1463,97 3408,22 3049,46 75 991,41 1379,10 90 30 1498,69 1600,92 15 N 0 3600 Amostra líquida 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3k. 92 N 8.0 ppm (t1) 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 Espectro de RMN 1H do composto 3l em CDCl3 a 400 MHz. N 170 160 ppm (t1) 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Espectro de RMN 13C do composto 3l em CDCl3 a 50 MHz. 93 100 %T 974,05 1026,13 1377,17 1309,67 80 1579,70 3061,03 3026,31 90 2872,01 2860,43 2835,36 1450,47 70 60 2956,87 2929,87 754,17 50 N 1647,21 40 30 3600 Amostra líquida 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 1/cm Espectro de Infravermelho do composto 3l. 94 N H Espectro de RMN 1H do composto 4d em CDCl3 a 300 MHz. N H Espectro de RMN 13C do composto 4d em CDCl3 a 75 MHz. 95 N Espectro de RMN 1H do composto 3m em CDCl3 a 300 MHz. N Espectro de RMN 13C do composto 3m em CDCl3 a 75 MHz. 96