Um futuro sem carros: o ambicioso plano de Helsinque para a mobilidade urbana Por Diego Mateus da Silva* Seria possível imaginar, em pleno século XXI, uma cidade na qual seus habitantes não possuam carros? No cenário urbano atual das cidades brasileiras que recebem diariamente cerca de 10 mil novos automóveis, em média, esta hipótese soa praticamente utópica. Com um aumento da frota de automóveis na ordem de 70% e de motocicletas em 209% nos últimos dez anos, a realidade brasileira parece caminhar cada vez mais para uma elevada taxa de motorização e um uso mais intenso do transporte particular nas vias urbanas. Na contramão desta tendência, a cidade de Helsinque, capital da Finlândia, vislumbra que nos próximos dez anos não será mais necessário possuir um automóvel para realizar qualquer deslocamento na área urbana, através da qualificação e integração dos demais sistemas de transporte. Banhada pelo Golfo da Finlândia, a capital nórdica é reconhecida pela arquitetura art nouveau de seus edifícios e por seu alto nível de desenvolvimento socioeconômico. Com cerca de 600 mil habitantes dentro de seus limites e 1,2 milhões na região metropolitana, a cidade apresenta atualmente um índice de 3,9 automóveis para cada 10 habitantes. Mesmo com uma baixa taxa de motorização se comparada a cidades europeias de densidade semelhante como Bruxelas (Bélgica) e Estocolmo (Suécia), um ambicioso plano apresentado pela prefeitura projeta que até 2025 o uso do transporte individual nos movimentos intraurbanos seja praticamente zerado. A proposta parte dos conceitos de integração entre os diferentes modais e da permeabilidade da rede de transportes no espaço urbano para fazer com que cada cidadão seja atendido pelo sistema de transporte municipal em seus deslocamentos. Através do uso da tecnologia já disponível nos smartphones de hoje, o sistema de Helsinque irá operar on demand, ou seja, conforme a necessidade de cada usuário no tempo e no espaço. Foto: Niklas Sjöblom / Flickr Antes de sair de seu lugar de origem, o usuário poderá acessar um aplicativo route planner através da internet que indicará a melhor maneira de realizar sua viagem e poderá, através da mesma plataforma, adquirir os tíquetes para os sistemas de transporte coletivo ou compartilhamento de bicicletas e carros. O grande avanço deste plano está na abrangência de sua intermodalidade. O sistema não se limita ao uso do transporte público, mas poderá ser utilizado também em sistemas de carsharing, carona combinada, táxis, VLT e metrô, tudo em uma plataforma digital única. Desta forma será possível 13 de Novembro de 2014 que cada usuário seja atendido de maneira rápida e eficiente em suas necessidades de viagem dentro da cidade. Uma fase de testes já está programada para o fim deste ano com a aplicação do sistema a empregados de determinadas empresas localizadas ao norte da cidade. em Transportes pelo Sindicato das Empresas de Ônibus da cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus). E Helsinque não está sozinha na empreitada de reduzir a participação do automóvel na mobilidade urbana. Em novembro de 2013, a cidade de Hamburgo, na Alemanha, lançou o projeto Green Network que visa implantar uma rede de passeios e ciclovias que irão conectar as áreas verdes localizadas ao sul e ao norte da cidade, hoje acessíveis apenas de carro. Com um conjunto de parques, jardins e praças que cobrem cerca de 40% da área da cidade, o plano da prefeitura de Hamburgo é tornar mais seguro, econômico e aprazível o acesso a estes espaços. Como consequência da implantação desta rede, espera-se também reduzir as emissões de CO2 em função da menor queima de combustíveis fósseis; além de auxiliar na contenção de enchentes devido ao incremento de áreas de absorção pluvial na cidade. Iniciativas de desestímulo ao uso do transporte privado por meio da qualificação de sistemas de transporte público têm sido a tônica das cidades que buscam uma mobilidade mais inteligente e integrada. Utilizar tecnologias como sistemas GPS e aplicativos route planner já disponíveis nos smartphones atuais é parte essencial no processo de qualificação da mobilidade urbana dos grandes centros. Sem dúvida, o aguardado sucesso do plano de mobilidade de Helsinque servirá de exemplo para inúmeras cidades ao redor do mundo no tocante à integração modal e plataformas digitais. Caberá a cada uma destas cidades compreender suas especificidades para desenvolver soluções que visem padrões de mobilidade mais sustentáveis, incrementando o uso do transporte ativo não-motorizado e dos sistemas de transporte público. Saiba Mais: Site do My Journey Planner http://www.reittiopas.fi/en/ e do Green Network http://www.hamburg.de/gruenes-netz/ (ambos em inglês) Revisão Anja Tigre (FGV Projetos) Marcello Victorino (FGV Projetos) Maria Alice Rocha (FGV Projetos) * Diego Mateus da Silva é Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente trabalha como especialista 13 de Novembro de 2014