XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
INTERNET E PESQUISA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA BUSCA
PELA CONSTRUÇÃO DA AUTORIA
Wagner Teixeira Dias
Mestrando em Educação Brasileira pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Profª. Drª. Zena Eisenberg
Professora do Departamento de Educação da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados obtidos com a pilotagem metodológica realizada
para a construção de nosso projeto de mestrado. O projeto, em linhas gerais, trata de
reflexões que dão foco à formação de professores e à relação fronteiriça entre autoria e
plágio em trabalhos de pesquisa realizados por licenciandos de instituições públicas,
privadas e filantrópicas como conclusão de disciplinas cursadas. Para o que neste
momento propomos, apresentaremos o tema de nossa investigação, seguido pela
exposição do processo de pilotagem. Finalizando, apontaremos os resultados obtidos até
o presente momento, os quais indicam significativa diferença no entendimento e na
forma de abordagem do tema plágio em universidades públicas, privadas e filantrópicas.
Constatamos também que há, por parte dos licenciandos, um grande uso das novas
tecnologias de informação e comunicação (NTICs), em especial a internet, e que o
manejo incoerente das mesmas, aliado a uma falta de orientação, no que concerne aos
passos de uma pesquisa, têm facilitado a construção de trabalhos plagiados, bem como
promovido a diluição da voz autoral dos futuros professores. Acreditamos ainda que o
problema da diluição da voz autoral e do manejo incoerente das formas de se realizar
uma pesquisa poderão reverberar nas escolas em que os futuros professores atuarão.
Assim, nossas considerações finais, trazem à baila a hipótese de que um licenciando
bem orientado, bem formado no quesito pesquisa e usos das novas tecnologias de
informação e comunicação poderão, a médio prazo e em tese, promover um caminho
profícuo para as pesquisas dos seus alunos, construindo saberes com a exaltação
necessária de vozes autorais.
Palavras-chave: formação de professores, pesquisa, plágio, autoria.
1- APRESENTAÇÃO DO TEMA DA INVESTIGAÇÃO E DO OBJETO
DELIMITADO
Realizar pesquisa, além de todas as implicações que emolduram o objeto a ser
pesquisado, os dados produzidos, sua análise e a tessitura de considerações, exige do
pesquisador determinadas habilidades. Uma das mais importantes, talvez, seguindo as
ideias propostas por Becker (2007), seja a escolha do que investigar e o recorte
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realizado, a fim de minuciar o foco dos questionamentos.
Assim, partindo da observação dos trabalhos de alunos de ensino fundamental e
médio ao longo de nossa jornada na docência, percebemos que raras foram as vezes em
que os jovens estudantes fizeram valer o poder de seus dizeres. Os trabalhos por eles
realizados eram meras cópias de páginas de internet ou livros, sem as devidas
referências, o que nos levou a crer que os alunos não possuíam o entendimento do que é
verdadeiramente uma pesquisa e, menos ainda, de sua importância.
O outro ponto que consideramos relevante é o fato de que as pesquisas
realizadas por esses alunos não apresentavam críticas, opiniões, concordâncias. Além de
o objeto investigado não ser assimilado e entendido, havia uma lacuna que deveria ser
preenchida por dizeres, vozes, pensamentos que fundamentassem uma construção
autoral.
No entanto, é preciso pensar que ainda que alguns estudantes não sejam capazes
de identificar que ao plagiar estão realizando um ato ilícito, o fato é que essa prática, na
contemporaneidade, tem se destacado nas instituições educacionais.
Na verdade, não é apenas a escola a contemplada com a ação de plagiadores.
Outros níveis da educação, como as graduações e as pós-graduações – o que engloba
especialistas, mestrandos, doutorandos e os próprios professores universitários –
também têm sido vitrines de eventos de plágio, cujos casos mais graves são levados a
público através dos meios de comunicação. Dessa forma, os meandros que perpassam as
questões do trabalho de pesquisa, ligam-se diretamente com os conceitos fronteiriços de
plágio e autoria, o que vem preocupando educadores, pesquisadores, universidades e
órgãos de fomento à pesquisa.
Por esse motivo, para a presente investigação, propomos que o uso das modernas
ferramentas tecnológicas sejam consideradas, afinal, parafraseando a fala do professor
Sérgio Abranches, da Universidade Federal de Pernambuco, em entrevista à Rio Mídia,
em maio de 2009, não é mais possível que o campo educacional opere sob tensões que
polarizam o professor – “pertencente à era analógica” – e o aluno – “pertencente à era
digital”.1 A internet é uma realidade que veio para ficar e é necessário que nós, enquanto
educadores, tenhamos conhecimento do bom manejo da mesma, de suas possibilidades,
a pretexto de orientarmos de modo positivo nossos educandos.
Com base nessas indagações, vastas dentro de um macro contexto – plágio e
autoria – delimitamos nosso campo de atuação para entender a relação fronteiriça entre
a autoria e o plágio nos trabalhos acadêmicos de graduandos de cursos de
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licenciatura. Esse recorte se dá devido à importância do papel do professor no processo
de ensino-aprendizagem, especialmente no que diz respeito à formação e orientação do
aluno na realização de pesquisas.
Assim, cremos que uma atenção especial deva ser dada à formação do professor,
afinal, os licenciandos de hoje, futuros professores, precisam saber manusear todo o
arsenal de busca, de investigação, para que, a médio prazo, ensinem aos seus alunos a
importância, as diretrizes e os processos de construção de um trabalho investigativo que
tenha um conteúdo bem desenvolvido e que apresente os posicionamentos críticos dos
pesquisadores através de suas vozes autorais.
Os elementos aqui relatados nos levaram a elaborar a pergunta que norteia a nossa
investigação. Esta pergunta, que carrega consigo uma série de implicações, constitui o
problema da nossa pesquisa, que pode ser sintetizado da seguinte forma: como
licenciandos e professores universitários entendem e lidam com a questão da diluição
da voz autoral facilitada pelo plágio?
Para responder ao questionamento, pretendemos, na dissertação, confrontar os
pontos de vistas de licenciandos, de seus professores e da literatura especializada acerca
do tema proposto.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Apresentamos neste item o que alguns pensadores trazem como discussão acerca
dos conceitos que regem nosso trabalho. Em breves linhas, descrevemos como o plágio
tem sido caracterizado pelos estudiosos, em especial os do Direito, bem como fazemos
um esboço do pensamento de Bakhtin acerca da questão da autoria. Fechando a
discussão, realizamos um levantamento de proposições referentes ao conceito de Juízo
Moral, nos moldes de Piaget e Kohlberg, para buscar uma elucidação a respeito de
possíveis argumentações dos licenciandos para a realização do plágio.
Essa fundamentação se faz necessária, uma vez que comungamos das ideias
propostas pelos pensadores acima descritos e acreditamos que no decorrer da
investigação será necessário recorrer a teorizações mais elaboradas na tentativa de
responder os questionamentos da pesquisa. Apresentamos na sequência as subdivisões
conceituais com as quais pretendemos operar.
2.1- PLÁGIO
Para dar início à jornada de diálogos com um possível referencial teórico,
necessitamos traçar o entendimento do que vem a ser plágio. Trata-se de um conceito
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que pode apresentar definições diversas, complexas, uma vez que dependerão das lentes
utilizadas para defini-las. De acordo com o dicionário Aurélio, o verbete plágio é
apresentado do seguinte modo:
Plágio: sm. Ato ou efeito de plagiar. / Plagiar: v.t.d. 1. Apresentar
como seu (trabalho intelectual de outrem). 2. Imitar (obra alheia).
(FERREIRA, 2001, p. 538)
Já Leite (2009) diz que costumeiramente o plágio tem sido conceituado de modo
simplista como sendo “o uso das palavras ou textos de outrem, sem informar de quem
eles são ou qual a fonte de onde foram tirados”. (LEITE, 2009, p. 20). Contudo, numa
acepção mais aprofundada, este autor diz que “o conceito de plágio não é tão simplista
como sua noção e, em sede dos direitos de autor, revela-se como um dos assuntos mais
complexos”.
Para Leite, o plágio pode ser definido como sendo:
(...) a cópia, dissimulada ou disfarçada, do todo ou de parte da forma
pela qual um determinado criador exprimiu as suas ideias, ou seja, da
obra alheia, com a finalidade de atribuir-se a autoria da criação
intelectual e, a partir daí, usufruir o plagiador das vantagens advindas
da autoria de uma obra. Podemos também definir plágio como o ato de
apropriar-se da composição, ideias ou expressão de outrem, de partes
ou passagens de obras alheias, apresentando-as como produto da
intelectualidade daquele que pratica o ato expropriatório. (LEITE,
2009, p. 21)
Gandelman (2007), por sua vez diz que plágio é um conceito que:
(...) no imaginário popular e coletivo carrega consigo um sentido de
que uma obra intelectual foi violada, contrafeita, ou de qualquer forma
atingida por um ato ilícito, desonesto, trazendo para o plagiário uma
falsa vantagem (...) roubada de uma criação intelectual bem sucedida e
lucrativa. (GANDELMAN, 2007, p. 86)
Ao copiar, colar, parafrasear – ou utilizar partes de um texto alheio, sem as
devidas referências, estudantes passariam a embotar-se, impedindo, desse modo, uma
construção de diálogos que promovessem saberes.
Estes conceitos, no entanto, deixam de aludir aos casos em que não há por parte
do sujeito considerado plagiador a intenção de expropriar a ideia de outrem, tendo o ato
de plágio sido cometido por desconhecimento, falta de informação, orientação ou
habilidade nas condutas técnicas que regem uma pesquisa. Nestes casos, vale questionar
com que conceito de autoria os licenciandos trabalham para decidir se posicionar ou
não, e de que forma, nos seus trabalhos acadêmicos.
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2.2- AUTORIA
O conceito de autoria encontra-se em uma região fronteiriça com o plágio e, por
isso, também precisa ser compreendido. Neste caminho, definir autor significa manter
uma relação direta com a detenção da posse da criação, com o que é criativo e original
em uma obra intelectual. No dicionário Aurélio, foi possível encontrar a seguinte
acepção para autoria:
Autoria: sf. Condição de autor. / Autor: (ô) sm. 1. A causa principal,
a origem de. 2. Criador de obra artística, literária ou científica. 3.
Aquele que intenta demanda judicial. (Ferreira, 2001, p. 77).
Analisando essa definição, pensamos que atribuir ao autor apenas um caráter de
originalidade ou de causa principal deixa de lado uma reflexão relevante à qual se refere
à indagação acerca do que é ser original. Isso porque as criações se baseiam em outras
criações anteriores e essas, por sua vez, em outras, ainda mais distantes.
É neste ponto que a obra de Mikhail Bakhtin (1995 / 2010), quando trata da
questão da autoria, colabora com a discussão que agora trazemos à baila. Os conceitos
de Dialogismo e de Polifonia partem da noção de que ao enunciar, ainda que se utilizem
vozes alheias, é possível, junto a essas, elaborar um diálogo que fomente uma
construção de pontos de vista, que fundamentam e apresentam a voz do autor, o qual
assume a responsabilidade por suas enunciações. Em linhas gerais, ser autor para
Bakhtin é dialogar com vozes (Polifonia) e enunciados alheios (Dialogismo).
(...) em qualquer enunciado quando estudado com mais profundidade
em situações concretas de comunicação discursiva, descobrimos toda
uma série de palavras do outro semilatentes e latentes, de diferentes
graus de alteridade. (...) O enunciado se verifica um fenômeno muito
complexo e multiplanar se não o examinamos isoladamente e só na
relação com o seu autor (o falante), mas como um elo na cadeia da
comunicação discursiva e da relação com outros enunciados a ele
vinculados (...). (BAKHTIN, 2010, p. 299).
Neste contexto, uma voz autoral pode se fazer concreta ainda que dialogue com
enunciações de outrem. Dialogar, referenciar, buscar no pensamento alheio os pontoschave para as construções autorais não impede a emissão de argumentos, críticas,
oposições ou concordâncias.
Segundo Bakhtin (1995):
O problema do diálogo (...) torna-se mesmo o centro das preocupações
em Linguística. Isso é perfeitamente compreensível, pois, como
sabemos, a unidade real da língua (...) não é enunciação monológica,
individual e isolada, mas a interação de pelo menos duas enunciações,
isto é, o diálogo. (BAKHTIN, 1995, p. 145-146).
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São nestes pressupostos que nossas proposições se ancoram. Tendemos a
acreditar que é possível que um licenciando seja autor de seus dizeres, dialogando com
outros autores sem, no entanto, meramente copiar, parafrasear sem referências,
evidenciando a voz dos autores com os quais está dialogando em detrimento à sua.
Sob essa lente, plagiar, na condição de licenciandos, é algo que gera
preocupação. Isto se deve ao fato de que esses serão os futuros professores que em
médio prazo e em tese ensinarão seus alunos a construírem suas vozes autorais,
obedecendo a paradigmas de conduta ética e moral que devem reger o universo da
pesquisa e da autoria.
2.3- JUÍZO MORAL
Ultrapassando os limiares da técnica de pesquisa, do conhecimento e do
entendimento da importância de um trabalho investigativo, outra nuance entra no
debate. Trata-se da averiguação do que esses licenciados trazem como entendimento, ou
juízo moral referente ao plágio. Será que estes futuros professores consideram o plágio
uma atividade antiética e moralmente ilícita? Será que plagiam sem culpa, ou deixam de
plagiar por medo? A ausência de punição seria um indicativo de que há licença para o
plágio? Nessa linha reflexiva, creio que os estudos de Piaget e Kohlberg acerca das
questões morais podem nos auxiliar no processo de compreensão desses dilemas.
Os estudos de Piaget acerca do Juízo Moral (JM), que embora sejam focados em
crianças, podem, segundo La Taille (1994), explicar a conduta dos adultos:
Uma afirmação central do livro JM é justamente que as relações de
coação (portanto, um certo tipo de prática social) levam a um
pensamento moral que associa o bem aos ditames das autoridades, e
que relações de cooperação, por implicarem o respeito mútuo, levam a
uma moral autônoma, dependente da assimilação racional dos motivos
das normas aceitas. Tal fato fica particularmente claro no
desenvolvimento das crianças, mas é também identificável entre os
adultos. (LA TAILLE, 1994, p. 11).
Em linhas gerais, Piaget (1994) divide seu estudo acerca do juízo moral em três
etapas básicas: a anomia, heteronomia e autonomia. Na primeira as crianças
desconhecem conceitos morais. Na fase heterônoma, as imposições dos adultos, as
regras sociais impõem o julgamento do que vem a ser o bem e o mal, o certo e o errado.
E, na fase autônoma, há de fato uma autonomia, um julgamento compreendido pelo
sujeito com base em seu entendimento de mundo sem que esses juízos se vinculem a
uma imposição superior, mas sim à aceitação de uma norma como convenção social.
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Kohlberg, por sua vez, aprofundando os estudos realizados por Piaget, vem
propor acréscimos à tese piagetiana de juízo moral, trazendo à luz as ideias de que os
indivíduos podem por si, e de forma autônoma – ou seja, sem aspectos coercitivos,
impositores – ter em mãos o poder para desenvolver um julgamento moral também
autônomo, ainda que isso não seja um achado comum.
Dessa forma, o trabalho de Kohlberg:
(…) has offered a new, more detailed stage sequence for moral
thinking. Piaget basically found two stages of moral thinking, the
second of which emerges in early adolescence; Kohlberg uncovered
additional stages that some people even reach a postconventional level
of moral thinking where they no longer accept their own society as
given but think reflectively and autonomously about what a good
society should be. (CRAIN, 1992, P. 151)2
Os estudos de Kohlberg, segundo Vidigal (2009) permitiram que o juízo moral
dos indivíduos fosse classificado em três níveis:
(...) pré-convencional, convencional e pós-convencional. O nível préconvencional contempla aqueles que não compreenderam ainda
normas morais e não as respeitam. Para os indivíduos do nível
convencional, as regras identificadas e internalizadas são externas,
principalmente as provenientes das autoridades. Somente no nível pósconvencional é que as regras sociais são aceitas, pautadas em
princípios morais que as regem e, para se tomar uma decisão, pensa-se
no princípio, não na convenção. (VIDIGAL, 2009, p. 5).
De acordo com essas ideias, é possível traçar parâmetros para a busca do
entendimento dos valores, princípios e normas de conduta que regem os licenciandos na
investigação que aqui propomos. Poderiam tais licenciandos, ao plagiarem, serem
alocados em um dos estágios de construção dos juízos morais propostos por Piaget ou
Kohlberg? Seria um professor recém-formado, ex-plagiador no curso de licenciatura,
um orientador ciente de seu ofício e das exigências éticas que ditam os comandos no
fazer acadêmico? Que concepções de moralidade possuem estes licenciandos e como os
mesmos reagem diante dos dilemas promovidos pela prática do plágio?
É clássico e delicado o tema que engloba autoria e plágio, amplamente discutido,
e que traz preocupações focadas na construção do saber, na construção de uma
autonomia autoral do futuro professor, na propagação de um método ético e de rigor que
deverá ser transmitido a jovens alunos de nossas escolas, alunos esses que, em um
futuro próximo, darão sequência a um ciclo chegando às cadeiras universitárias.
Por esses motivos, acreditamos na relevância de nossa discussão para que sejam
ampliados os debates dentro dos cursos de pós-graduação, podendo, em um futuro
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próximo, colaborar com as reflexões, proposições, métodos que possam aprimorar o
entendimento dos dilemas citados, contribuindo para o processo de formação de
professores.
3- ESTUDO PRELIMINAR (PILOTAGEM)
A partir da revisão de literatura, que devido ao limite deste texto não poderá ser
apresentada, realizamos um estudo preliminar que pudesse direcionar as trajetórias para
a realização da investigação. A realização do piloto se justificou pela necessidade de
aferir se a linha metodológica escolhida para a pesquisa (entrevistas semiestruturadas)
daria conta de responder os questionamentos propostos e garantir uma jornada mais
eficaz para o processo investigativo.
Desse modo, para se conseguir uma aproximação com os mecanismos que
podem dar o sustentáculo para a empiria, julgamos ser necessário:
a) Conhecer as situações em que ocorre o plágio e como o mesmo é conceituado por
licenciandos e professores universitários;
b) Conhecer os processos de construção do plágio e os porquês do mesmo ser cometido
por licenciandos;
c) Entender como licenciandos e professores têm lidado com o plágio;
d) Confrontar as respostas anteriores com o que diz a literatura especializada;
Para que as indagações apresentadas pudessem ser averiguadas, de acordo com as
orientações apontadas pela revisão de literatura, concluímos que as entrevistas
semiestruturadas, utilizadas na maioria das pesquisas que se aproximam de nossa
proposta investigativa, poderiam ser o caminho mais eficaz. Tais entrevistas, na
pilotagem aqui descrita, foram realizadas no modo presencial e via ferramentas de
comunicação síncronas através da internet.
Seguem abaixo as pormenorizações do teste metodológico.
3.1-Entrevistados
Para a pilotagem foi entrevistado um total de três professores, sendo um de uma
universidade privada, cuja entrevista se realizou via ferramenta de comunicação
síncrona (para este tipo de entrevistas utilizar-se-á a partir deste ponto a sigla FCS –
Ferramenta de Comunicação Síncrona – o que engloba os serviços de MSN, Google
Talk, Yahoo Messenger, Skype, ou outros) e dois professores de universidade
filantrópica, com entrevistas semiestruturadas em caráter presencial.
No caso dos licenciandos, foram entrevistados dois alunos de Geografia (um
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pertencente a instituição pública, via FCS, e outro de instituição privada, entrevistado
em caráter presencial; um aluno de Ciências/Química de instituição pública (FCS), um
aluno de História, matriculado em instituição privada (entrevista presencial), um aluno
de Educação Física, de universidade pública (FCS) e um aluno de Letras de
universidade filantrópica (FCS).
A opção da entrevista via FCS surgiu para que os entrevistados, ao abordarem um
tema que lhes poderia ser constrangedor – plágio – ficassem à vontade, percebendo que
o anonimato seria resguardado. No entanto, percebeu-se que o uso da ferramenta de
comunicação síncrona não apresentou diferenças conteudísticas em comparação à
entrevista presencial. Desse modo, ao ser utilizada na pesquisa oficial, a ferramenta de
comunicação síncrona será uma opção a mais no quesito comodidade para entrevistador
e entrevistados.
Os licenciandos foram convidados a participar da pilotagem através de anúncio
que veiculamos na rede social Facebook, ou através da nossa mala direta de e-mails.
Com relação aos professores, todos foram recrutados para as entrevistas através de
nossos contatos pessoais.
Para o desenrolar da pilotagem, um e-mail e um endereço de MSN foram criados
para uso específico do teste, sendo ambos utilizados na produção de dados. Foi através
do e-mail criado que foram agendadas as entrevistas com os alunos e com o professor
da rede privada.
3.2- Resultados do piloto:
Na modalidade de entrevistas via ferramenta de mensagens síncronas foram
encontrados como pontos negativos: a) a possibilidade de haver um descompasso de
horários entre o entrevistador e o entrevistado, o que deixa o entrevistador vulnerável à
vontade do entrevistado; b) há demora nas respostas mais complexas, o que dá ao
entrevistador a ideia de que o entrevistado está pesquisando possíveis respostas na
internet, ou fazendo outras atividades, dividindo a atenção destas com a entrevista; c)
durante o processo de entrevista via FCS ocorreu falha do sistema – perda do sinal – e
desconhecimento do manejo da ferramenta pelo entrevistado (este não conseguia
adicionar o endereço de MSN); d) ocorreu de alguns possíveis entrevistados não
aparecerem online nas datas e horários previamente combinados; e) a entrevista via FCS
é lenta, com duração superior a uma hora e entrevistador e entrevistado estão sujeitos a
cometerem erros de ortografia e utilizarem vícios da linguagem oral. Nas entrevistas via
FCS percebemos que havia uma preocupação dos entrevistados em fazer a correção
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ortográfica do que enviavam como respostas, temendo que os dados apresentados
fossem publicados com tais incoerências de grafia.
Para que não houvesse perda do material produzido, foi necessário copiar e colar
em arquivo de Word as entrevistas, uma vez que em um momento isolado do processo
de pilotagem o sistema não salvou o histórico completo da entrevista. É preciso que se
registre que a ferramenta MSN disponibiliza automaticamente um histórico das
entrevistas realizadas, com data e horário do chat.
No caso das entrevistas de caráter presencial, é possível eleger como pontos
favoráveis a duração - menor que a entrevista via MSN (meia hora no máximo) – a
possibilidade de se analisar as reações do entrevistado e as nuances de voz. Este modelo
de entrevista oferece ao entrevistador um termômetro para verificar se o entrevistado
encontra-se cansado ou disposto a continuar a entrevista. Essas observações poderiam
ser feitas se os entrevistados disponibilizassem ferramentas de áudio e vídeo, contudo,
não vivenciamos esta experiência na realização do piloto. Já em caráter presencial,
torna-se difícil que o entrevistado faça uma pesquisa na internet ou em outra fonte antes
de responder as questões propostas, evitando a elaboração de respostas.
Mas há também alguns pontos desfavoráveis: entrevistador e entrevistado
encontram-se numa relação de troca que pode gerar nervosismo, timidez, apreensão; é
moroso o processo de transcrição das entrevistas, o qual oferece como produto final
cerca de sete a dez laudas, aproximadamente. As categorias de análise se constroem
após a transcrição, uma vez que durante a entrevista o entrevistador se ocupa de outras
questões: observação, atenção para não repetir perguntas, ou não se esquecer de abordar
determinadas indagações.
Contudo, se comparadas as entrevistas presenciais e via FCS, é possível dizer que
ambas possibilitam produção de dados consistentes. A entrevista via FCS surge como
uma ferramenta que facilita o contato entre entrevistador e entrevistado, podendo a
entrevista ser realizada em horários pré-determinados e de qualquer local que possua
internet.
Dois foram os pontos-chave do piloto. O primeiro permitiu que conseguíssemos
aferir a consistência do protocolo de entrevistas para alunos e professores, o que
permitiu ajustes de algumas questões, de modo a torná-las mais claras e objetivas. O
segundo ponto foi a criação das categorias de análise dos dados. Assim, foram eleitas as
seguintes categorias: conceito de plágio e de autoria, honestidade e desonestidade
acadêmica, juízo ou raciocínio moral nas justificativas para o plágio, lugar da internet
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na pesquisa.
Na sequência, outra percepção promovida pelo piloto foi a divergência acerca do
entendimento do que era plágio. Isso ocorreu tanto entre os alunos quanto entre os
professores.
Foi importante a diversificação dos entrevistados, o que significa pertencer a
universidades públicas, privadas ou filantrópicas. Através dos dados produzidos, uma
diferença considerável entre os pareces de alunos e professores dos três modelos de
universidades acima listados foram evidenciados. Os alunos das universidades públicas
e filantrópicas têm se mostrado mais inteirados e preocupados com as questões do
plágio que os alunos das instituições privadas. O professor da instituição privada diz
que turmas grandes, alunos desinteressados e falta de punição por parte da instituição
para os casos de plágio colaboram para que o mesmo continue ocorrendo. Os alunos das
universidades privadas, por sua vez, alegam que seus professores não orientam as
pesquisas e não dão retorno sobre os trabalhos realizados, o que gera insegurança,
descrença e desmotivação. A falta de tempo, a dificuldade com a linguagem acadêmica
e a necessidade de uma nota no fim do curso foram apontados como elementos que
levam os licenciandos de universidades privadas a plagiar. Concluímos que será
necessário na pesquisa oficial operar com o critério de ponto de saturação, a pretexto de
se ter as demandas da pesquisa cobertas de forma satisfatória, permitindo a elaboração
de conclusões bem fundamentadas.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Plágio entre licenciandos é um fato que não pode passar despercebido.
Contudo, de acordo com o piloto realizado, entendemos que muitos dos licenciandos
das universidades públicas e filantrópicas, apesar de inteirados sobre o tema plágio,
desconhecem, paradoxalmente, que algumas de suas atividades de pesquisa seguem
caminhos ilícitos e antiéticos. Esses alunos dizem não plagiar por medo de serem
descobertos, uma vez que tem havido fiscalização e punição. No caso das universidades
privadas, percebemos que o tema não é abordado. Os alunos sequer têm disciplinas de
pesquisa e, ao que parece, não tem havido por parte dos professores interesse em
orientar, ler e dar retorno aos trabalhos realizados. Assim, alunos de instituições
privadas se sentem desmotivados e passam a plagiar para garantir uma nota ao término
de seus cursos. Deixamos então, em aberto futuras possíveis reflexões que virão com o
resultado final de nossa dissertação de mestrado, mas, desde já, orientados pelo
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resultado do piloto e pelo que as pesquisas têm apontado, acreditamos que orientação e
punição tem sido os caminhos encontrados para a diminuição do problema, permitindo a
boa formação de professores convictos de suas obrigações ético-profissionais.
NOTAS
1- Autoria na era Digital. Matéria publicada no Rio Mídia, 2009 podendo ser encontrada na íntegra em:
http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/entrevistas/autoria-na-era-digital (acessado em 24 de
junho de 2011).
2-(...) apresentou um novo estágio, uma sequência mais detalhada do pensamento moral. Piaget
basicamente encontrou dois estágios do pensamento moral, sendo o segundo emergente na adolescência;
Kohlberg descobriu estágios adicionais em que algumas pessoas atingem até um nível pós-convencional
do pensamento moral, no qual não aceitam meramente as imposições sociais, mas passam a refletir de um
modo autônomo acerca do que vem a ser uma boa sociedade. (Nossa tradução)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANCHES, Sérgio. Autoria na era Digital. Maio de 2009. Disponível em: http://
www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/entrevistas/autoria-na-era-digital
(acessado em 24 de junho de 2011).
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
____________. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995.
BECKER, Howard S. Segredos e truques da Pesquisa. Rio de Janeiro, Zahar, 2007.
CRAIN, William. Theories of Development – concepts and applications. 3ª Ed. New
Jersey : Prentice Hall, 1992.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O
minidicionário da Língua Portuguesa. 4ª ed. Ver. Ampliada – Rio de Janeiro :
Nova Fronteira, 2001.
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(acessado em 20 de janeiro de 2012)
Junqueira&Marin Editores
Livro 2 - p.001461
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