Brazil and its charismatic influences Obra de Evandro Carlos Jardim O Brasil e suas carismáticas influências INFLUENCES Jaraguá, sinais, manchas e sombras - 1979 INFLUÊNCIAS por Silvana Baierl “Várias telas são documentos sobre o destino do homem, mais do que sua vida.” apurado estudo sobre a natureza tropical, constituída por Pietro Maria Bardi A ” relles uma leitura atenta sobre a carta. Além de realizar um embaúbas, coqueiros e folhagens. Baseado nessa pesquisa, o pintor concluiu aquele que seria seu trabalho mais primeira missa no Brasil” é uma das pinturas famoso. Quinze anos após sua primeira aparição pública, mais conhecidas sobre cenas brasileiras. Um o quadro foi encaminhado aos Estados Unidos, para repre- trabalho de Victor Meirelles (1832 – 1903), sentar o Brasil na Exposição Centenária da Filadélfia, em que retratou o primeiro tema focado na História do Brasil. 1876. Foi depois disso que ele veio para o Brasil, sendo E como tudo o que envolve nossas culturas, histórias e parte da Academia de Belas Artes. Hoje, está exposta no lendas, esse quadro tem inúmeras curiosidades. Apesar de Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro/RJ. reproduzir um fato ocorrido em solo brasileiro, foi pintado A imagem sintetiza o comportamento do nosso País, se em Paris, a partir do ano de 1853. E não surgiu ao acaso, analisarmos o depoimento de Pinheiro Chagas: “A Primeira porque representou um grande desafio ao seu autor. Missa no Brasil é uma página brilhante, porque resume A obra exigiu aprimoramento técnico e habilidade, a existência desse país e simboliza seu papel na história porque a cena seria reproduzida em uma tela de grandes da civilização das Américas. A entrada dos europeus no proporções, com uma composição complexa, repleta de México e Peru assume cenas de horror. Os pintores me- referências históricas. Uma pintura erudita, enfim, que xicanos e peruanos, que desejavam retratar em suas telas condensou hábitos locais, ambiente tropical, vestimentas o episódio da entrada dos emissários da Europa em seus portuguesas e elementos indígenas. Pura magia, se nos países, pintaram o assassínio de Atahualpa ou o suplício de posicionamos diante da obra e nos entregamos à simplici- Montezuma. No Brasil, a cena era de paz e amor”. dade de contemplá-la. Mas onde (ou como) Victor Meirelles buscou inspiração para reproduzir uma pintura tão perfeita, rica em Mais de 510 anos se passaram. Uma carta e a sen- detalhes e ícones de um novo mundo, ainda desconhecido sibilidade de retratar um ambiente tornou uma pintura e com tanto a ser explorado, cerca de 350 anos após ser possível e consagrada. Atualmente, porém, vivemos uma descoberto pelos portugueses? Conta a história do Des- sociedade mais livre, norteada por tecnologias da eletrô- cobrimento do Brasil, que Pero Vaz de Caminha, ao aqui nica. Computadores, TV e Internet nos mantêm em rede chegar, escreveu para a corte uma carta. Um minucioso nacional e internacional. Ferramentas virtuais exportam relato sobre a paisagem tropical e um testemunho sobre a informações de uma cultura a outra, de um país a outro, raça humana da nova terra. Caminha descreveu os habi- interligando os pontos mais longínquos da terra com um tantes, o entorno repleto de palmeiras, aves de diferentes simples toque dos dedos. cores, vastos campos e arvoredos. Para realizar a pintura, foi recomendada a Victor Mei- 008 Em linguagem global A ideia de Aldeia Global, na sociedade contemporânea, defendida pelo acadêmico e teórico em Comunicações “Several pictures are documents about the destination of humanity, more than just about life.” Pietro Maria Bardi “The First Mass in Brazil” is one of the best known paintings about Brazilian scenes, a work by Victor Meirelles (1832 – 1903), who painted the first ever issue focused on Brazilian History. Like everything that involves our cultures, historical episodes and legends, this picture has a lot of curiosities. Despite the fact that it shows a fact which occurred on Brazilian soil, the painting was actually painted in Paris, starting in 1853. In addition, it did not arise by chance, as it represented a major challenge for its painter. The work required technical enhancement and skill, as this scene would be reproduced on a large screen, through a complex composition, full of historical references. This is, after all, an erudite painting which condensed local habits, a tropical environment, Portuguese clothing and Native Brazilian elements. Pure magic, if we position ourselves before the work and indulge ourselves in the simplicity of contemplating it. But, after all, where (or how) did Victor Meirelles seek the inspiration to reproduce such a perfect painting, rich in details and icons of a new world, as yet undiscovered and with so much to be explored, some 350 years after it was discovered by the Portuguese? It tells the story of the Discovery of Brazil, and also the fact that Pero Vaz de Caminha, on coming to these shores, wrote a letter to the Portuguese court. This letter was a detailed report about the tropical landscape and also a testimonial presenting the human race in this new land. Caminha described the inhabitants, the surroundings full of palm trees, birds of different colours, vast fields and clusters of trees. To carry out the painting, it was recommended that Victor Meirelles should embark on a careful read of the letter, apart from carrying out an accurate study of tropical nature, consisting of embaúbas, coconut trees and foliage. Based on this research study, the painter concluded what would become his most famous work. Fifteen years after its first public appearance, the picture was sent to the United States to represent Brazil at the Centenary Exhibition in Philadelphia, in 1876. It was after this event that the painting came to Brazil, being part of the Academy of Fine Arts. The picture is now on show at the National Museum of Fine Arts, in the city of Rio de Janeiro/RJ. The picture sums up the behaviour of our country, is we 009 INFLUÊNCIAS INFLUENCES Marchall McLuhan, deixou de ser um conceito para se Renascimento; seguindo para as influências das máquinas, tornar realidade. E usando o progresso como preceito, na Era Moderna; até culminar nas linguagens virtuais das sem importar se ele é benéfico ou não, tudo é possível em mídias eletrônicas, tão presentes na contemporaneidade. nossos dias. Então, como todos esses novos rumos da nossa Tanto que a arte muitas vezes parece nos apresentar um sociedade influenciam a arte e seus autores? Poderia a tec- revival de si própria. Porque fatores externos sempre re- nologia excessiva distanciar os artistas de seus materiais, ou percutiram e criaram tendências nas expressões artísticas. poderia travar uma luta de resgate às antigas linguagens? Ao estudarmos o assunto, encontramos os ismos, muitas Em 2012, a pintora Tomie Ohtake se contrapôs a tudo vezes precedidos do nome de um artista, de uma cidade, isso, em uma mostra na Fundação Iberê Camargo, em Porto de um momento ou de uma obra, enfim, que foi capaz de Alegre/RS, que apresentou uma série de 40 trabalhos, pro- desencadear movimentos e transpor fronteiras. analyse the statement made by Pinheiro Chagas: “The First Mass in Brazil is a brilliant page, as it sums up the very existence of the country and also represents its role in the history of civilisation in the Americas. The arrival of Europeans to Mexico and Peru takes on scenes of horror. Indeed, Mexican and Peruvian painters, who wished to show, on their pictures, the episode of the arrival of European representatives in their countries, painted the murder of Atahualpa or Montezuma’s plea. In Brazil, it was a scene of peace and love“. In global language Over 510 years passed. A letter and the sensitivity of representing an environment have made a painting both possible and acknowledged. However, nowadays we live in a freer society which is largely guided by electronic gadgets. Computers, television and the Internet keep us in a national and an international network. Virtual tools pass information from one culture to another, one country to another, interconnecting the most remote parts of Earth with a touch of the finger. The idea of a Global Village, in corporate society, as defended by the academic and communications theorist, Marchall McLuhan, stopped being a concept to become reality. duzidos entre 1959 e 1962. A exposição mereceu o título de “Pinturas Cegas”. A artista se isolou mediante todas “Como a vida e a natureza se encontram sempre na as formas de influências, ao confrontar a pintura com as pintura, aquele que tem experiência de vida e conhecimento influências óticas. Propôs a si mesma o desafio de testar da natureza está em posição privilegiada para compreender os limites da pintura, vendando seus olhos e trabalhando os valores da arte.” Lionello Venturi cegamente sobre as telas. Deixou-se levar inteiramente pela experiência livre de pintar, revelando a importância apenas do gesto, testemunhando suas habilidades na pureza Herança cultural do ato de pintura. Supondo um paralelo entre a História da Arte e das Disposta a não ver a obra e sua criação, ela nos fez Civilizações, podemos traçar as bases da História da Arte questionar a relação entre cegueira e arte. No entanto, mui- Brasileira. Vamos criar um limite imaginário, e focar ape- tas coisas permanecem retidas na memória de todo artista. nas nas manifestações praticadas aqui, e como a arte teve O resultado dos trabalhos de Tomie Ohtake apresentou seu início em nosso País. Quais são as influências que o algo semelhante a grandes oceanos. Ela não deu título a Brasil provoca ou recebe. O quê determina um vai e vem nenhum deles, exatamente para não influenciar a visão do de ações, reações ou manifestações. Porque a cultura bra- espectador. Assim, cada um pode encontrar seu próprio sileira é uma síntese de muitas influências, provocadas por significado e viver uma experiência íntima, conectando-se vários povos e etnias, que hoje formam a sua população, à pintura sem agentes influenciadores. de maneira geral. Não há um núcleo de origem, mas um 010 tempos tão distantes – Victor Meirelles e Tomie Ohtake Em uma primeira fase histórica, o Brasil viveu três -, podemos avaliar como as Artes Plásticas se comportam séculos sob a colonização portuguesa, recebendo uma diante de influências muitas vezes difíceis de controlar, ou herança cultural lusa, que compunha toda a unidade do agem como uma ferramenta de preservação histórica das País, e no qual todos passaram a falar a mesma língua civilizações. A arte tem o poder de provocar questionamen- portuguesa, sendo também quase todos cristãos. Mas havia tos, reflexões, euforias, mudanças positivas e negativas na pequenas mesclas de influências indígenas, africanas e, ao História da Humanidade. Evolui paralelamente à ciência, à longo do tempo, também italianas, francesas, japonesas e política ou à religião. Seus deslocamentos são semelhantes alemãs. Influências e miscigenações que persistem até os àqueles que ocorrem na sociedade. nossos dias. Em toda História da Arte, notamos como ela acom- Notamos que os estados do Norte e Nordeste ainda panha os processos industriais, apontando um universo preservam a presença da cultura indígena, e outras agregam teocêntrico, na Idade Média; uma fase antropocêntrica, no influências africanas. No sul do Brasil, estão inerentes as Foto: Silvana Baierl mosaico de diferentes formações e informações. Anjos - Catedral de Brasília/DF - Obra de Alfredo Ceschiatti Comparando-se dois exemplos tão distintos e em And, using progress as a justification, regardless of whether it is beneficial or not. everything is possible these days. So, how do these new paths trailed by society influence art and the authors? Could excessive technology make the artists more distant from their materials, or could they fight a fight to bring back the old languages? In 2012, painter Tomie Ohtake made a counterpoint to all this, at an exhibition at the Iberê Camargo Foundation, in Porto Alegre/RS, that showed a series of 40 works, produced between 1959 and 1962. This exhibition deserved the title of “Blind Paintings”. The artist isolated herself from all types of influence, on confronting painting with optical influences. She proposed to herself the challenge of testing the limits of poetry, blindfolding herself and working on the paintings as if blind. She let herself be carried away entirely by the free experience of painting, showing the importance of the gesture alone, witnessing her skills in the purity of the act of painting. Wishing not to see her work and creation, she made us consider the relationship between blindness and art. However, many things remain in the memory of all artists. The results of the work of Tomie Ohtake had something similar to great oceans. She did not give any of the pieces a title; this was done 011 tugueses, agregou ao Brasil muitas tradições do calendário nária, música, folclore e dialetos. Outras etnias deixaram religioso, como festas e procissões. O Carnaval, a Festa sua contribuição, como os espanhóis, árabes, japoneses e do Divino e as festas juninas baseiam-se nessa influência. poloneses, presentes na região Sudeste. Assim como a cavalhada, o bumba-meu-boi, o fandango camente não encontramos vestígios ou práticas artísticas. A não ser pela presença da Arte Rupestre, a qual, aliás, pode assumir um caráter genuinamente brasileiro. Foto: Reproduzida de Postal e a farra do boi, as lendas, brincadeiras e cantigas infantis. Muitas delas têm origem na imigração portuguesa. E com a presença da Família Real no Brasil, surgem novas perspectivas. Vamos testemunhar, nesta época, Num primeiro estágio, a colônia portuguesa respon- pinturas que revelam figuras da realeza. O império de D. sabilizou-se pela introdução dos grandes movimentos João XVI marca a construção dos primeiros museus, da artísticos europeus, no Brasil. Entre eles, o Renascimento, Academia Imperial de Belas Artes, de conventos e mos- Maneirismo, Barroco, Rococó e Neoclássico. Havia, en- teiros. Exemplares que enalteciam a arquitetura, escultura, tão, uma arte notadamente lusitana, que revolucionou o pintura e ourivesaria. O Império decide pela abertura dos ambiente da arte nativista. portos e a vinda das primeiras missões artísticas, a partir Todo o cenário de colonização sofre mudanças repen- Os Passos: Jesus carregando a cruz - Escultura de Aleijadinho - Congonhas/MG Os Passos: A Ceia - Obra de Aleijadinho - Congonhas/MG manifestações italianas e alemãs, que seguem até a culi- Porém, foram 322 anos de colonização, no qual prati- 012 INFLUENCES Foto: Reproduzida de Postal INFLUÊNCIAS de 1808, dando início aos processos imigratórios. tinas a partir de 1808, com a vinda da corte de D. João XVI A expedição de Maurício de Nassau traz em um grupo ao Brasil, o que ocasionou grandes transformações polí- de arquitetos, cientistas, militares e artistas. Entre eles, ticas, econômicas e, obviamente, culturais. Vale lembrar, estavam Frans Post e Albert Eckhout, nascidos respec- porém, que a imigração portuguesa não foi interrompida tivamente em Haarlem e Groningen, ambas na Holanda. com a independência do País. Portugal continuou sendo Aqui chegaram com a tarefa de documentar o novo mundo. uma fonte de influências importante até meados do século Antes deles, nada registra a presença reconhecida das Ar- XX. Além do idioma, o catolicismo, enraizado entre os por- tes Plásticas, no Brasil, apesar dos movimentos barrocos 013 INFLUENCES Floresta dos Verdes Claros - 120 x 160 cm - 2010 Obra de Nelson Screnci INFLUÊNCIAS on purpose so as not to influence the view of the spectator. Thus, each person can find his or her own meaning and live an intimate experience, connecting to painting without any external influencing agents. By comparing two examples, so different and in such distant ages – Victor Meirelles and Tomie Ohtake -, we can see how Plastic Arts behave when faced with influence factors that are often difficult to control, or act as a tool for the historical preservation of civilisations. Art has the power of provoking queries, thoughts, periods of euphoria, positive changes and also negative changes, in the History of Humanity. He evolves parallel to Science, politics or religion. His movements are similar to those which occur in society. In the whole History of Art, we see how it follows industrial processes, suggesting a theocentric universe, in the Middle Ages; an anthropocentric phase, in the Renaissance; then proceeding to the influence of machines in the Modern Age; and finally reaching its climax in the virtual languages of electronic media, so much present in contemporary life. This, so much that art often seems to present us with a revival of itself, because external factors have always had a repercussion and have always created trends in forms of artistic expression. On studying the issue, we find the isms, which are often preceded by the name of an artist, a city, a moment or a specific work, after all, that has been able to trigger off movements and surpass frontiers. “As life and nature always meet in poetry, the person who has an experience of life and knowledge of nature is in an excellent position to understand the underlying values of art.” Lionello Venturi destacados, principalmente, entre igrejas de Minas Gerais, com o mar. Tema amplamente explorado por Debret, artista Goiás e Bahia. vindo na missão francesa de Joachim Lebreton. Frans Post foi o primeiro artista a retratar nosso país, Jean-Baptista Debret (1768 – 1848) deixou como he- no século XVII, deixando-se embriagar pelas belezas rança um vasto material iconográfico, com alta fidelidade. naturais de Olinda, Ilha de Itamaracá, Recife e arredores. Lecionou pintura na Academia Imperial de Belas Artes. Ao Em sua obra, nota-se a influência de todo o ambiente ao retornar para seu país de origem, publicou o livro “Viagem seu redor, vivendo a experiência de pintar rios caudalosos, Pitoresca ao Brasil” (1834 – 1839), no qual documentou coqueiros esguios e frutas, muitas frutas tropicais. Eckhout aspectos da natureza, da sociedade, do homem brasileiros dominava a figura humana, encantando-se com persona- do início do século XIX. gens temáticos: os diferentes tipos raciais, entre índios, negros, mulatos, mamelucos e brancos. Ambos vieram ao Fragilidade regional Brasil como documentaristas, já que naquela época ainda Pintores constantemente se influenciavam pelas cenas não havia a fotografia. 014 do cotidiano brasileiro: o negro caminhando seminu ao lado Enquanto isso, o Rio de Janeiro, porta de entrada do de seu senhor. Ao mesmo tempo, os franceses e a Família Brasil na ocasião, serviria de inspiração para inúmeras Real influenciavam a moda, com o uso de sedas, mantilhas pinturas, que enfatizavam sua paisagem exuberante, seus de rendas e cabeleiras bem penteadas. E muitas pinturas contornos rochosos e montanhas em perfeita harmonia dessa época reproduzem personagens da Corte, feitas a Cultural Heritage Imagining a parallel between History of Art and History of Civilisations, we can establish the foundations of History of Brazilian Art. Wes hall establish an imaginary border and focus on the expressions as practiced here, and as Art started in our Country. What are the influences that Brazil causes or receives, and what determines a coming and going sequence of actions, reactions or expressions. This is because Brazilian culture is indeed a synthesis of many types of influence, caused by different peoples and ethnic groups, which now comprise the population in general. There is no nucleus of origin, but rather a mosaic of different formations and information. In the first historical phase, Brazil passed three centuries under Portuguese colonisation, thus receiving a Lusitanian cultural background which comprised the whole country, and in which everyone started specking Portuguese and where almost all are also Christian. However, there were small elements of Native Brazilian influence and African traits and then, over time, also Italians, French, Japanese and German. These are influences and racial mixes that remain to this day. We see that the states of the Brazilian North and Northeast still preserve the presence of Native Brazilian culture, while others add African influence. In the South of Brazil, we have Italian and German cultural expressions, which also affect the local cuisine, music, folklore and dialects. Other ethnic groups also left their contributions, including the Spanish, Arabic, Japanese and also the Poles, present in the Southeast Region. In fact there were 322 years of colonisation, of which we hardly find any traces or artistic practices. This, except for the presence of Rock Art which, indeed, can take on typical Brazilian characteristics. In this first phase, the Portuguese colony was responsible for introducing the main European artistic movements, including the Renaissance, Maneirism, Baroque, Rococó and Neoclassicism. There was, therefore, a significantly Lusitanian form of art, which turned the environment of nativist art on its head. The whole scenario of colonisation underwent sudden changes as from 1808, when the Royal Family of Dom John XVI came to Brazil, bringing significant political, economic and, obviously, cultural transformations. It is also worth noting that Portuguese immigration was never interrupted by the independence of the country. Portugal remained as a strong source of important influences until the middle of the 20th Century. Apart from the language, Roman Catholicism, which was well established among the Portuguese, also brought to Brazil many traditions from the religious calendar, including parties and processions. Carnival, the Festa do Divino religious festivals, and the famous June festivities are based on this influence. This was also the case with cavalhada, the bumba-meu-boi, the fandango and farra do boi, as well as legends, play activities and children’s songs. Many of them have their origins in Portuguese immigration. With the presence of the Royal Family in Brazil, new possibilities arise. At this time we see paintings that show members of the Royal Family. The Empire of Dom João XVI also brought the construction of the first museums, the Imperial Academy of Fine Arts, convents and monasteries. These are examples that would praise architecture, sculpture, painting and metalworking. The Empire decides to open the ports and also the arrival of the first artistic missions, as from 1808, starting the immigration processes. Maurice of Nassau’s expedition brings a group of architects, scientists, military personnel and artists, including Frans Post and Albert Eckhout, who were born in Haarlem and Groningen respectively, both these cities being in the Netherlands. They came here with the mission of documenting the New World. Before them, there is nothing to register the accepted presence of Fine Arts, in Brazil, despite the highlighted baroque movements, especially among churches in Minas Gerais, Goiás and Bahia. Franz Post was the first artist to depict our country, in the 17th Century, letting himself be bowled over by the natural beauties of Olinda, Itamaracá Island, Recife and surroundings. In his work, we see the influence of the whole of 015 Não se pode negar que a vinda da Família Real é de escultor brasileiro, que viveu durante o início das missões europeias, e permaneceu fiel às suas origens. suma importância para o Brasil. A Academia Imperial de Aleijadinho viveu o auge da decadência do ouro, re- Belas Artes, que depois se tornou na Escola de Belas Artes, cebendo influências do ambiente cultural da sociedade mi- estabeleceu um centro acadêmico de pintura, iniciando a neradora. Trabalhou com brilhantes arquitetos, escultores e formação de artistas notáveis, como Victor Meirelles, Pedro pintores e, por ser tão conservador, não deixou seguidores. Alexandrino, Pedro Américo, Rodolfo Amoedo, Almeida Tanto que hoje ouvimos muitos estudiosos denominarem Júnior e tantos outros. seu trabalho como “estilo Aleijadinho”. Obra de Nelson Screnci pedido do Imperador, para presentear amigos da Europa. INFLUENCES Centros da Cidade - 100 x 130 cm - 2001 INFLUÊNCIAS No entanto, tudo parecia muito frágil, para a arte genuinamente nacional. Enquanto os artistas brasileiros “Arte é também o melhor retrato e a maior herança de lutavam por seus ideais, e muitas vezes eram renegados ao uma sociedade. É a materialização dos anseios expressivos esquecimento, o que vinha do exterior era extremamente de uma cultura.” Nelson Screnci valorizado. O movimento Barroco, vivido no Brasil, no século XVIII exemplifica bem essa tese. Muito se perdeu durante a colonização, na qual os escultores eram conside- País marcado por expedições rados meros entalhadores, com obras raramente assinadas, Mas a América continuava despertando a curiosi- comprovando a austeridade da nobreza. E justificando a dade estrangeira, diante do desconhecido, impenetrável ausência das Artes Plásticas até a chegada da Família Real. e misterioso. O Brasil reunia raças exóticas, paisagens Nesse período, encontramos três grandes nomes. pitorescas, natureza abundante, o que estimulou três perfis: Bento Sabino dos Reis esculpiu inúmeras imagens, as os conquistadores de terras, os cobiçadores por riquezas quais transformaram os templos religiosos da Bahia em e os estudiosos. verdadeiros museus. Manoel da Costa Ataíde pintou gran- A natureza selvagem aguçava a inspiração do artista de parte das igrejas de Minas Gerais. Foi militar, pintor e que aqui chegava, pronto para explorar todas as imagens decorador. Nem todas as suas obras foram documentadas de um ambiente desconhecido. As pinturas desta época e, várias delas foram trabalhadas em parceria com o grande são ricas em arvoredos, cipós, palmeiras, arbustos, ervas, mestre Aleijadinho. riachos e cachoeiras. Espécies que aguçavam a inspiração Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, trabalhou 016 e a criatividade. com materiais disponíveis pelas terras de Minas Gerais, Porque para o artista estrangeiro, o Brasil tinha a incluindo a pedra-sabão. Apesar de enriquecer a arquitetura vegetação mais verde, as quaresmeiras mais lindas, o sol do Brasil, com suas esculturas, foi após sua morte que o mais brilhante e uma terra de alucinantes contrastes. incansável mestre mineiro teve todo o conjunto de sua obra A partir do século XIX, o Brasil transforma-se em reconhecido. Vitima de um mal súbito, que aos poucos agente inspirador para a arte europeia. As missões que consumia seu corpo, manteve-se ativo trabalhando com aqui vieram contribuíram diretamente na História da Arte as ferramentas amarradas aos seus punhos. É interessante Brasileira, iniciando uma segunda fase pós-colonial. notar como a doença influenciou sua obra, assim como De 1822 a 1829, o Barão G. H. Von Langsdorff vem a presença dos jesuítas. Na sua fase sadia, Aleijadinho ao Brasil com uma expedição francesa. O pintor alemão Jo- produziu esculturas harmoniosas, de fisionomias serenas, hann Moritz Rugendas (1802-1858) o acompanha partindo sempre perseguindo um ideal barroco. Nos últimos anos da Fazenda Mandioca, no Rio de Janeiro, e percorrendo até de vida, sua obra é muito mais expressionista, porém Minas Gerais. Para a viagem até Mato Grosso, destaca-se sempre mantendo um talento para a perfeição, sem se a presença do pintor e desenhista francês Aimé-Adriaen deixar influenciar por outros estilos. É o primeiro grande Taunay (1803-1828). Também fez parte da expedição o the surrounding atmosphere, living the experience of painting volumous rivers, sleek coconut trees and also many tropical fruit. Eckhout dominated the human figure, getting enchanted with theme personalities: different racial types, including Native Brazilians, Afro-Brazilians, mulattoes, mamelucos and white people. Both came over to Brazil as documentarists, as photography had not yet been invented at the time. In the meantime, Rio de Janeiro, the gateway to Brazil at the time, would be an inspiration for several paintings, which stressed the city’s exuberant landscape, rocky contours, and mountains in perfect harmony with the sea. This issue was well exploited by Debret, an artist who came over on the French mission of Joachim Lebreton. Jean-Baptiste Debret (1768 – 1848) left as his main heritage a vast iconographical collection of materials, with high fidelity. He taught painting at the Imperial Academy of Fine Arts. On returning to his home country, he published the book “A Picturesque Trip to Brazil” (1834 – 1839), in which he documented aspects of nature, society, and the Brazilian human population at the start of the 19th Century. Regional frailness Painters would constantly be influenced by scenes of Brazilian daily life: a black person walking seminaked alongside his or her master. At the same time, the French and the Royal Family influenced fashion, with the use of silk, lace mantillas and well-combed hairdos. Many paintings of this era reproduce Royal Court personalities, made at the request of the Emperor, to give as presents to friends in Europe. One cannot deny that the coming of the Royal Family was very important for Brazil. The Imperial Academy of the Fine Arts, which later became the School of Fine Arts, established an academic centre for painting, including the qualification of important artists, such as Victor Meirelles, Pedro Alexandrino, Pedro Américo, Rodolfo Amoedo, Almeida Júnior and so many others. However, everything seemed so fragile, for genuinely national art. While Brazilian artists fought for their ideals, and were often sentenced to be forgotten, what came from abroad was extremely well valued. The Baroque movement experienced in Brazil in the 18th Century is a good example of this theory. A lot was lost during the colonisation, in which the sculptors were 017 INFLUENCES Sementes (inspiradas em sementes brasileiras) - Esculturas em Cerâmica Obra de Mieko Ukeseki INFLUÊNCIAS considered as merely wood carvers, with works that are rarely signed, proving the austerity of the nobility, and also justifying the absence of the Plastic Arts until the Royal Family arrived. In this period, we find three important names: Bento Sabino dos Reis, who sculpted countless images, which turned the Bahian religious temples into true temples; Manoel da Costa Ataíde painted many of the churches in Minas Gerais. He was a soldier, painter and decorator. Not all his works have been documented and many of them were worked on in partnership with the great master Aleijadinho. Antonio Francisco Lisboa, or Aleijadinho (the Little Physically Challenged One), worked with the materials that he had available in Minas Gerais, including soapstone. Despite enriching Brazilian architecture, with his sculptures, it was only after his death that the tireless master from Minas Gerais had his work recognised. Victim of an ailment that slowly consumed his body, he kept active with the tools tied to his wrists. It is interesting to note how the illness influenced his work, as also the presence of the Jesuits. In his healthy phase, Aleijadinho produced harmonious sculptures, with serene physiognomies, always in pursuit of a Baroque ideal. In the last years of his life, his work is much more expressionist, while always keeping a talent for perfection, without being influenced by other styles. This is the first important Brazilian sculptor to live through the start of the European missions, and remained loyal to his origins. Aleijadinho lived through the peak of the gold crisis, receiving influence from the cultural environment of the mining society. He worked with brilliant architects, sculptors and painters and also, being so conservative, he did not leave any followers, so much so that even today we hear many specialists refer to his work as the “Aleijadinho Style”. “Art is also the best portrait and the best heritage of a society. It is the materialisation of the significant desires of a culture.” Nelson Screnci desenhista francês Antoine Hercule Romuald Florence, interior ainda contido, repleto de elementos que inspiraram conhecido no Brasil como Hércules Florence (1804-1879), diferentes obras. um profundo admirador das Artes e da Ciência. 018 Nesse período, encontramos excelentes desenhos de E exatamente no momento em que o Brasil proclama Rugendas, assim como obras que focalizam o ambiente sua independência, os artistas percorrem um vasto territó- do Pantanal, Cerrado e Amazônia. A expedição percorre rio, que ainda preservava uma estrutura econômico-social o país por meio de rios e florestas, cidades e povoados. com bases coloniais. A expedição de Langsdorff presen- Esse período destaca obras que retratam a luta dos brancos ciou dois países em um só, dividido pelo crescimento contra os índios, no traço de Rugendas. Florence desenha nas cidades litorâneas, com uma vida mais urbana; e um os índios da tribo Mundurucu, na Amazônia. Taunay pinta A country with many expeditions However, America continued to arouse foreign curiosity, faced with the unknown, the impenetrable and the mysterious. Brazil had the presence of exotic races, picturesque landscapes, abundant nature, and this encouraged three profiles: the land conquerors, those seeking wealth, and the specialists studying the issue. Wild nature aroused the inspiration of the artists that came over here, ready to exploit all the images of an unknown environment. The paintings of this era are rich in trees, branches, palm trees, shrubs, herbs, streams and waterfalls, as well as species that led to inspiration and creativity, because, in the opinion of the foreign artists, Brazil had the greenest vegetation, the most beautiful pink and purple glory trees, the most brilliant sunshine and also a land of significant contrasts. Starting in the 19th Century, Brazil becomes an agent of inspiration for European art. The missions that came over here have made direct contributions to the History of Brazilian Art, starting a second post-colonial phase. Between 1822 and 1829, Baron G. H. Von Langsdorff came to Brazil with a French expedition. The German painter Johann Moritz Rugendas (1802-1858) goes with him from the Fazenda Mandioca, in Rio de Janeiro, and travelling over to Minas Gerais. For the trip to Mato Grosso, we highlight the presence of French painter and designer Aimé-Adriaen Taunay (1803-1828). The expedition also included French designer Antoine Hercule Romuald Florence, known in Brazil as Hércules Florence (1804-1879), a deep admirer of Arts and Science. At the very moment when Brazil declares its independence, the artists travel along a vast territory, which still had an economic and social structure with colonial bases. Langsdorff’s exhibition thus witnessed two countries in one, divided by the growth of the coastal cities, with a more urban lifestyle; and a countryside which is still limited, while full of elements that have inspired different work projects. In this period we find excellent works by Rugendas, including artistic works that focus on the environment of the Pantanal, Cerrado and the Amazon Region. The expedition traverses the country along rivers and forests, cities and hamlets. This period highlights works that depict the fights between whites and Native Brazilians, in the strokes of Rugendas. Florence draws the Native Brazilians of the Munducuru tribe, in Amazonia. Taunay painted large palm trees, identified as buritis, a plant native to the Chapadas region. There are also records of how they got surprised with the geographical depressions, infinite varieties of coastal vegetation, birds of different hues and colours, in a country which Landsdorff would define as “enchanting, with one of the most perfect languages ever created by humanity, with extensive treasures of nature”. Here we can see the counterpoints, in the paintings that establish images of animals, forests, trees, tents, Native Brazilian utensils, together with paintings that synthesise common attire and habits of the rich people in the cities, the skin-melaninated slave and his or her life in the senzala (slave quarters), together with farm mansions, waterfalls and rodeos. The foundation of the School of Fine Arts and also the presence of foreign missions encouraged academic teaching in the Plastic Arts, generating influences on Brazilian art that would persist through to the 20th Century. However, in general, the art as here practiced would continue to follow the European lines. French influence would deserve a topic in itself, as there is a lot to be considered. Ever since the country was first discovered, Brazil has always been part of French imagination and, to this day, the relationships between Brazil and France are close. Even though there is not a significant percentage, in colonisation, France has contributed to the construction of a Brazilian identity, especially if we remember that many European countries have discovered South America through Brazil, 019 nativas das Chapadas. Registros do quanto se surpreenderam com as depressões geográficas, variedades infinitas de vegetações serranas, pássaros de diferentes cores e tons, em um país que Langsdorff definiria como “encantado, com uma das linguagens mais perfeitas criadas pelo homem, com extensos tesouros da natureza”. E notamos os contrapontos, nas pinturas que concretizam imagens de animais, selvas, árvores, tendas, utensílios indígenas, ao lado de pinturas que sintetizam as vestimentas comuns e os hábitos dos ricos habitantes das cidades, o negro escravo e sua vida na senzala, ao lado de casarios de fazendas, cachoeiras e rochedos. Brasil - Portugal 500 Anos - Painel - 1994 (inspirada nos 500 Anos do Descobrimento do Brasil) grandes palmeiras, identificadas como os buritis, plantas A fundação da Escola de Belas Artes e a presença das missões estrangeiras estimularam o ensino acadêmico nas Artes Plásticas, gerando influências na Arte Brasileira até o século XX. Mas, de uma forma geral, a arte aqui praticada continuaria seguindo as correntes europeias. As influências francesas merecem um tópico a parte, porque há muito para ser considerado. Desde seu descobrimento, o Brasil passou a ser parte do imaginário francês. E até hoje, as relações entre Brasil e França são estreitas. E apesar de não existir uma porcentagem significativa, na colonização, a França contribui na construção de uma identidade brasileira. Principalmente se lembrarmos de que muito países da Europa descobriram a América do Sul por intermédio do Brasil. E sem choques crônicos. Mundos tão diferentes que convivem harmoniosamente, trocando influências e informações. E como a arte influencia a própria arte, nos anos 90, Alfonso Hugo, diretor do Instituto Goethe de Brasília/DF, decidiu refazer a expedição de Langsdorff. Dieter Straus, diretor da instituição desde agosto de 1994, apoiou a ideia, e sugeriu incluir trabalhos de Rugendas, Florence e Taunay. O resultado da nova missão foi exposta no Museu de Arte de São Paulo, entre novembro de 1995 e fevereiro de 1996. Também foi exposta na Galeria Atos Vulcão e Casa França-Brasil. O projeto permitiu uma reflexão sobre o século XIX e XX, gerando um novo diálogo entre artistas brasileiros e alemães. 020 INFLUENCES Obra de Luiz Ventura - Projeto Arte no Metrô - Estação Restauradores de Lisboa/Portugal INFLUÊNCIAS Apoteose oriental No início do século XX, o Brasil abriu as portas para a colônia japonesa, que se espalhou em várias regiões, mas mantendo no estado de São Paulo sua maior presença. Além da agricultura, penetraram em todos os setores, ganhando notoriedade na culinária, arquitetura e nas artes plásticas. Aos poucos, foram conquistando seu espaço em museus, bienais e revelando suas verdadeiras vocações. Nomes com a importância de Tomie Ohtake, Macabu Mabel, Yoshida Tanaka e Flávio Shire estão entre os mais respeitáveis dos movimentos contemporâneos. A maioria deles chegou ao Brasil ainda jovens, concluindo sua formação escolar ou iniciando carreiras em solo brasileiro. Tisique Kumasaka (1901) é um dos pioneiros a se estabelecer aqui e se dedicar à pintura. Em 1988, ano em que se comemorou os 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, os trabalhos apresentados em uma grande exposição com artistas que retratavam as paisagens típicas do nosso País. Yoshiya Takaoka retratou a Casa dos Azulejos de Salvador (1966); Tomoo Handa pintou o quadro “Paisagem de Diamantina (1977); Masako Oninaka inspirou-se em Ouro Preto (1980) e Iwao Nakajima pintou a Catedral da Sé e o Marco Zero (1988). A mostra contou com trabalhos and without chronic conflict situations. These are worlds that are so very different yet live in harmony, exchanging influences and information. And as art has an influence on art itself, in the 1990s, Alfonso Hugo, the director of the Goethe Institute in Brasília, in Brazil’s Federal District, decided to retrace the expedition embarked on by Langsdorff. Dieter Straus, the Head of the Institution since August 1994, gave his support to the idea and also suggested the inclusion of work by Rugendas, Florence and Taunay. The result of this new mission was shown at the Museum of Art of São Paulo (MASP), between November 1995 and February 1996. It was also shown at the Atos Vulcão Art Gallery and in the Brazil-France House. This project enabled a thought about the 19th and 20th Centuries, generating a new dialogue between Brazilian and German artists. in both geographical and cultural terms. “The exchange of information was a contribution to my work. Brazil is a generous country, both in terms of nature and culture. Brazilians are also generous, and that brings out, in the artist, this desire to create and to show things through art”, she says. After leaving Japan, Mieko only saw Brazil and decided to stay, due to the opportunity to work in a more spontaneous manner, without any kind of prejudice. “The civilised societies of the First World also coexist with some barriers that prevent the artist from expressing himself or herself. For this reason, these possibilities are greater in Brazil. For this reason, in Brazil the possibilities are higher. This is a country that is so generous it can be frightening to begin with. Slowly, the artist perceived a true significance in these regional characteristics that are present only in Brazil”, Mieko ponders. An Oriental apotheosis At the start of the 20th Century, Brazil opened its doors to the Japanese colony which spread out among several regions, while having its most significant presence in the state of São Paulo. Apart from agriculture, the Japanese community entered all segments, becoming particularly well known in the areas of cooking, architecture and plastic arts. Slowly but surely, they started to gain ground in museums and Biennial Exhibitions, and also started to show their true vocations. Names as important as those of Tomie Ohtake, Macabu Mabel, Yoshida Tanaka and Flávio Shire are among the most respectable names of contemporary movements. Most of them came to Brazil while still young, completing their schooling or starting careers on Brazilian soil. Tisique Kumasaka (1901) is one of the pioneers that settled here and was dedicated to painting. In 1988, the year in which the 80th Anniversary of Japanese Immigration into Brazil was commemorated, the work was presented in a major exhibition with artists showing the typical landscapes of our country. Yoshiya Takaoka showed the Tiles House in Salvador (1966); Tomoo Handa painted “Landscape of Diamantina” (1977); Masako Oninaka was inspired by Ouro Preto (1980) and Iwao Nakajima painted the Sé Cathedral and the Geographical Centre of the City (1988). The exhibition continues with works in Ceramic Art by Megumi Yuasa, Akinori Nakatani and Shoko Suzuki. Another mark of the colony from the Land of the Rising Sun was the Tea Mansion, an architectural landmark in the city of Mogi das Cruzes, in 1942, and discontinued in 1968. This is a building that mixes the Japanese and Brazilian styles, in all its architecture, sustained by eucalyptus trunks with a roof in Oriental contours and stonework inspired by regional architecture from Minas Gerais. Plastic artist Mieko Ukeseki came to Brazil in the 1970s and settled in Cunha, in the State of São Paulo. She was not shaken by the cultural differences, and, in fact, she sought inspiration in living a new experience, so far from her birthplace, Italian Presence With the start of the First World War, Europeans migrated to other countries. The Italians arrived in Brazil, starting a new process, and a new type of influence. Many of them prospered, working on farms, while others got established in commercial and industrial activities. Among these, there is the presence of the Italo-Brazilian Francisco Matarazzo Sobrinho (1898 – 1977), who in 1946 would found the Modern Art Museum of São Paulo (MASP) and later, in 1951, the Biennial Exhibition of São Paulo, which he presided until his death. We see that, at several different moments within the History of Brazilian Art, Italians have made their presence felt. Many settled in Brazil so well that they were often mistaken for people born in the country. Important names became famous in Plastic Arts and became famous and recognised in art galleries, important exhibitions and also in the Biennial Exhibitions that followed: Eliseu Visconti, Nicolao Antonio Facchinetti, Giovanni Battista Castagneto, Enrico Bianco, Victor Nanni Brecheret, Ernesto De Fiori and Alfredo Volpi. This is in addition to Brazilians of Italian descent, including such names as Anita Malfatti, Cândido Portinari, Giuseppe José Gianini Pancetti, Iberê Camargo, Bruno Giorgi, Aldo Cláudio Felipe Bonadei and Alfredo Ceschiatti. The Neapolitan painter Alejandro Ciccarelli (1811-1879) very well exploited the Brazilian contrasts in his paintings. A sea surrounded by giant mountains and Atlantic rain forest, the means of transport, the big farms and their linear plantations, and the daily life activities of many Native Brazilian tribes. According to the teacher of History of Art at the Brazilian Sculpture Museum (MuBE), Rosângela Gonçalves, as from the 19th Century immigration became constant for many reasons. This brought to Brazil a healthy coexistence between workers, labourers and shopkeepers, and also among artists who could therefore develop their talent and creativity. Despite the many missions of different nationalities that came to Brazil, today the most famous foreign artists are within the Japanese and 021 se adaptaram ao Brasil, de tal forma, que chegavam a Shoko Suzuki. E a colônia ainda teve como marco o Ca- se confundir entre as pessoas nascidas no país. Grandes sarão do Chá, um marco arquitetônico erguido na cidade nomes se consagraram nas Artes Plásticas, e se tornaram de Mogi das Cruzes, em 1942, e desativado em 1968. Uma reconhecidos em galerias, grandes exposições e nas Bienais edificação que mistura o estilo japonês com o brasileiro, em que se seguiram: Eliseu Visconti, Nicolao Antonio Facchi- toda sua arquitetura, sustentado por troncos de eucaliptos, netti, Giovanni Battista Castagneto, Enrico Bianco, Victor com um telhado que segue linhas orientais e alvenaria em Nanni Brecheret, Ernesto De Fiori e Alfredo Volpi. Além linhas inspiradas na arquitetura mineira. dos descendentes italianos, os quais nasceram no Brasil: A artista plástica Mieko Ukeseki chegou ao Brasil Anita Malfatti, Cândido Portinari, Giuseppe José Gianini na década de 70 e se estabeleceu em Cunha/SP. Ela não Pancetti, Iberê Camargo, Bruno Giorgi, Aldo Cláudio se abalou com as diferenças culturais. Na verdade, ela Felipe Bonadei e Alfredo Ceschiatti. buscou inspiração ao viver uma nova experiência, num O pintor napolitano Alejandro Ciccarelli (1811-1879) País distante de sua terra natal, em termos geográficos e tão bem explorou em suas pinturas os contrastes brasileiros. culturais. “A troca de informações foi uma contribuição Um mar cercado de gigantescas montanhas e mata atlân- ao meu trabalho. O Brasil é um país generoso, tanto na tica, os meios de transporte, as grandes fazendas e suas natureza quanto culturalmente. Os brasileiros também são plantações lineares, o cotidiano das muitas tribos indígenas. generosos, o que manifesta no artista esta vontade de criar, De acordo com a professora de História da Arte do de se manifestar através da arte”, afirma. Obra de Gontran Guanaes Netto - Painel instalado na Estação Marechal Deodoro de São Paulo - SP - Brasil em Arte Cerâmica de Megumi Yuasa, Akinori Nakatani e INFLUENCES Traços das Populações Brasileiras - Painel - 1989 INFLUÊNCIAS MuBE-Museu Brasileiro de Escultura, Rosângela Gonçal- Desde que saiu do Japão, Mieko conheceu apenas o ves, a partir do século XIX a imigração se fez constante Brasil e decidiu ficar, exatamente pela oportunidade de por diferentes razões. Trouxe ao Brasil um convívio salutar trabalhar de forma mais espontânea e sem preconceitos. entre trabalhadores, operários e comerciantes, e também “As sociedades civilizadas, de primeiro mundo, também entre artistas, que puderam desenvolver seu talento e cria- convivem com algumas barreiras, que impedem o artista tividade. Apesar das muitas missões de diferentes naciona- de se expressar. Por isso, no Brasil essas possibilidades lidades vindas ao Brasil, hoje os artistas estrangeiros mais são maiores. É um país com uma generosidade que até destacados estão entre as colônias japonesas e italianas. assusta, num primeiro momento. E aos poucos, o artista “No século XX, podemos destacar a importância dos ita- vai percebendo todo sentido nessas características regionais lianos e seus descendentes, o que desencadeou a formação presentes somente no Brasil”, considera Mieko. dos grupos de artistas, como o Santa Helena, Guanabara, Grupo dos 15 e Seibi, sendo este último formado com a Presença italiana contribuição dos artistas japoneses”, acrescenta. Com o início da I Guerra Mundial, os europeus mi- Rosângela lembra, porém, que a globalização faz gram para outros países. E os italianos desembarcam no com que outros países também recebam influências es- Brasil, dando início a um novo processo, a uma nova influ- trangeiras, inclusive do Brasil. “A arte está cada vez mais ência. Muitos deles prosperam, trabalham em fazendas, se universal, eliminando barreiras. Hoje, todos vivemos estabelecem no comércio e na indústria. Entre eles, o ítalo- sob as mais diversas influências, ao mesmo tempo e em -brasileiro Francisco Matarazzo Sobrinho (1898 – 1977), espaços diferentes. O que identifica um país é sua forma que iria fundar, em 1946, O Museu de Arte Moderna de São de decifrar a arte, o que cada artista explora para retratar Paulo e, em 1951, a Bienal de São Paulo, a qual presidiu a sua realidade”, completa. até seu falecimento. Nota-se que em diversos momentos da História da Arte Brasileira, os italianos se fazem presentes. Muitos 022 Antropofagia libertária Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil demons- 023 INFLUENCES trava suas primeiras intenções de se liberar das amarras nietta também é pintora, escultora e ceramista, e confessa estrangeiras. Acontece a Semana de Arte Moderna e, em ter uma formação construída também em tendências e seguida, o movimento antropofágico marca o Modernismo, instruções recebidas de artistas estrangeiros. Ela vivenciou no Brasil. Era uma tentativa de deglutir o mundo para que intensamente os movimentos coletivos em ateliês, como a arte descobrisse seu próprio país. O movimento tomou o Grupo Santa Helena, que ainda hoje inspira jovens ar- forma, emergindo nomes como o escritor Mário de An- tistas na formação de processos artísticos coletivos. “A drade, o pintor Di Cavalcanti e o compositor e maestro realidade urbana de São Paulo recebeu muitas influências Heitor Villa-Lobos. A Semana de Arte Moderna de 1922 estrangeiras, de várias partes do mundo, que também con- acontece exatamente 100 anos após a Independência do tribuiu com a formação de uma nova paisagem na cidade, Brasil, celebrando 100 anos de liberdade. com o trabalho de escultores como Victor Brecheret, Lasar “Só a Antropofagia nos une”. A frase abriria o Mani- Segall e Domenico Calabroni. E todos os demais estados festo Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, 1928. do Brasil convivem com essa conexão e influência entre Os artistas reagiam contra as consciências e culturas impor- artistas estrangeiros”, salienta. tadas. A elite perpetuava sua preferência pelos modismos Antonietta lembra que todos os países latino-america- europeus, em detrimento aos valores da História do Brasil. nos foram fortemente influenciados por seus colonizadores. Em 1929 que Tarsila do Amaral pintou a obra Antropo- Porém, o Brasil se destaca por seu real desprendimento em fagia, um trabalho em óleo sobre tela, com 126 x 142 cm. assumir essa miscigenação, o que resulta em reconheci- Uma referência desse anseio de liberdade. Porque apesar mento mundial, principalmente na área das Artes Plásticas. das influências de seus mestres parisienses Léger e André “No entanto, somos uma nação constantemente em busca Lisboa; e de seus contatos com a linguagem surrealista, de uma identidade própria”, finaliza. a artista conseguiu desenvolver uma linguagem muito própria e original. “A pintura das crianças não é obra de arte. Para elas, “A Negra” foi pintada em Paris, em 1923; assim como não passa de divertimento, enquanto para os primitivistas Antropofagia, sendo este último uma tradução do com- trata-se do objetivo de suas vidas. Elas abolem o tempo, plexo de ideais do Manifesto Antropofágico de Oswald remontam à fontes, a esses paraísos infantis perdidos e, de Andrade. afinal, reencontrados. O naif começa onde morre criança”. Analisando esses processos, nos dias atuais, a presidente do SINAPESP-AIAP-UNESCO - Sindicato Nacio- Anatole Jakovsky nal dos Artistas Plásticos e Comitê Nacional Brasileiro da AIAP - Associação Internacional das Artes Plásticas Arte Naif – Uma fonte inesgotável de referências – UNESCO, Antonietta Tordino, observa que o Brasil O sociólogo Souza Barros cita, em seu livro Arte, caracteriza-se mundialmente pela riqueza de culturas, Folclore, Subdesenvolvimento, a imposição dos meios de raças, religiões, crenças, hábitos e contrastes, que forma comunicação, a qual não se restringe aos grandes centros. uma gigantesca nação cultural, e não apenas territorial. “Há Estabelece, nas áreas afastadas do interior, a criação de um uma riqueza ambiental que fortalece o artista e o ajuda a denominador comum de preferências e seduções. Trocando concretizar sentimentos. É comum, em todo processo ar- em miúdos, gera influências alheias ao ambiente natural tístico, essa necessidade de transpor na pintura a realidade das civilizações. “Vai matando os motivos locais, apresen- ao seu redor, e seu trabalho pode até provocar mudanças no tando fatores de distorção e suprimindo as iniciativas mais meio social. A Semana de 22 e, sem dúvida, um exemplo ingênuas e puras do folclore. Por outro lado, o homem do desse comportamento”, acrescenta. campo informa-se de uma série de outros fatores que não Além de presidir o SINAPESP-AIAP-Unesco, Anto- 024 lhe chegavam facilmente ao conhecimento (...)”. Obra de Maria Bonomi INFLUÊNCIAS Italian colonies. “In the 20th Century, we can mention the importance of the Italians and their descendants, which triggered the establishment of groups of artists, such as Santa Helena, Guanabara, Grupo dos 15 and Seibi, with this latter group consisting of contributions from Japanese artists”, she adds. Rosângela also remembers, however, that globalisation has meant that other countries have also received foreign influence, including the influence from Brazil. “Art is getting more and more universal, with the elimination of barriers. Now we all live under the same influences. at the same time, but in different spaces. What really identifies a country is its way of deciphering art, which is explored by each artist to portray his or her reality”, she completes. Libertarian Anthropophagy In the first decades of the 20th Century, Brazil showed its first intentions of breaking free from foreign ties. The Modern Art Week took place and, soon afterwards, the Anthropophagic Movement marked Modernism in Brazil. This was an attempt to swallow the world, so that art could discover its own country. The movement took shape, and thus arose names like Mário de Andrade, painter Di Cavalcanti, and musical composer and maestro Heitor Villa-Lobos. The Modern Art Week of 1922 takes place exactly one hundred years after Brazil’s Declaration of Independence, so commemorating a century of freedom. “Only Anthropophagy brings us together”. This phrase would open the Anthropophagic Manifesto, penned by Oswald de Andrade in 1928. Artists reacted to imported cultures and consciences. The elite perpetuated its preference for European fashions, in preference to the values of History of Brazil. It was in 1929 that Tarsila do Amaral painted the work Anthropophagy, an oil painting measuring 126 cm x 142 cm. This work was a reference point in this yearning for freedom, because, despite the influence of her Parisian masters Léger and André Lisboa, and her contact with surrealist language, the artist has managed to develop a highly original language of her very own. “The Skin-Melaninated Woman” was painted in Paris in 1923; just like Anthropophagy itself, this is a translation of the complex set of ideals of the Anthropophagic Manifesto produced by Oswald de Andrade. Analysing these processes, at the present time, the President of the National Plastic Artists’ Trade Union and also the Brazilian National Committee of the Plastic Arts International Association – UNESCO (SINAPESP-AIAP-UNESCO), Antonietta Tordino, observes that Brazil is globally characterised by richness of cultures, ethnicities, creeds, habits and contrasts, which melt into a nation that is gigantic culturally, and not only in terms of territory. “There is an environmental richness that strengthens the artist and helps him to make feelings materialise. It is common, throughout the artistic process, that there is this need to bring out the surrounding reality in painting, and his work can even cause social changes. The Modern Art Week of 1922 is, without any doubt, a clear example of such behaviour”, she adds. Apart from presiding over SINAPESP-AIAP-Unesco, Antonietta is also a painter, sculptor and ceramic artist, and confesses that she has qualifications that are also based on 025 A importância da pintura naif é inquestionável para a E quando consideramos seus diferentes elementos, Arte Brasileira, e não poderia ser desconsiderada, exata- testemunhamos que o mar, a fauna, a flora, a geologia mente por relatar as ricas tradições populares. Reflete toda a enfim, são agentes influenciadores dos muitos estilos re- capacidade dos pintores de captar um olhar brasileiro sobre velados pelas Artes Plásticas praticadas no Brasil, assim a realidade ao seu redor. Representa a memória coletiva como entre os artistas de outros países que aqui chegam do povo brasileiro, com uma documentação visual artística e, muitas vezes, jamais retornam ao seu país de origem. em louvor aos costumes, usos, comportamentos urbanos e Existem duas obras consagradas, as quais mostram o regionais, sem influências intelectuais. É uma visão sim- quanto esse elemento natural se torna presente no trabalho ples do que é visto, de forma pura. As raízes de um povo, artístico: A balsa da Medusa, de Theodore Géricault e Na- enfim. Apesar de o cantor e compositor baiano Gilberto vio de Emigrantes, de Lasar Segall. Este último, pintado Gil ironicamente argumentar, certe vez, o contrário: “Raiz entre 1939 e 1941, hoje é parte do acervo do Museu Lasar para mim é aipim”. Segall, em São Paulo/SP. Num mundo moderno, no qual a linguagem artística A Balsa da Medusa concretiza o imaginário do artis- tende cada vez mais a se influenciar por diferentes ten- ta, numa situação de naufrágio, e no qual os personagens dências internacionais, muitas vezes sufocando sua na- acenam para um barco à distância, na tentativa de uma cionalidade, o próprio Gilberto Gil defende as influências salvação. Uma revolução, na História da Arte, naquela afro-baianas na sua música. Ou seja, muitas vezes parece ocasião, já que os artistas trabalhavam sempre momentos haver uma negação à qualquer tentativa de defesa de uma de coroações de imperadores e grandes batalhas. Theodoro identidade brasileira, não apenas nas Artes Plásticas, como Géricault surge com uma nova proposta, uma embarcação também em outros setores. que transporta sobreviventes e cadáveres. A Arte Naif e suas possíveis relações com as “normas Lasar Segall imprime na tela o triste relato da condição cultas” parece criar uma empatia com o público. Enquanto humana das embarcações. A pintura revela pouco sobre os intelectuais a definem como uma arte menor, muitas o mar e o céu, numa pintura de luz clássica, homogênea, vezes esse conceito não corresponde à realidade. Porque onde cada personagem tem sua parcela de luz. Segall é uma arte atuante, existente e persistente. Que luta contra transmite na obra todo o seu sentimento, com personagens as indiferenças, num País de origens colonizadoras. Talvez que choram ou riem. Mistura tédio e melancolia, leveza possa ser considerada ingênua, exatamente por retratar nos- e tristeza, abandonando as convenções pictóricas de sua sa identidade cultural, o nosso ambiente real e o nosso co- época. Navio de Emigrantes se transformou em sua pintura tidiano. Porém, está emaranhada de grandes nomes, como mais marcante, e uma obra histórica para o Brasil, mesmo Elisa Martins da Silveira, Cardosinho, Heitor dos Prazeres, não seguindo um tema usual na pintura moderna. Nilson Machado, Nil Rosa, Pablo Lobato, Alexandre da Nos nossos tempos, podemos vislumbrar a obra de Cunha, Adão Domiciano, Deraldo Clemente, Danbeco, Frans Krajcberg, artista que refez o seu destino, no Brasil, Enzo Ferrara, Agostinho Batista de Freitas e tantos outros. por intermédio do contato com a natureza local. Certa vez, ele declarou que “no Brasil senti o impacto da natureza. O oceano sem limites Em todo o mundo, a arte interliga os períodos da Bruno Lechwski, nos anos 30, mestre de Pancetti, história, da religião, política, ciência ou tecnologia. A na- defendia que “em qualquer parte onde esteja, sinto-me tureza está em todas as manifestações artísticas, inclusive nos braços da minha mãe – a natureza. Porque a pátria é na arte abstrata, mesmo que sua presença ocorra de forma uma só, a natureza. Ambos se naturalizaram brasileiros. subjetiva, num processo de reinvenção. São inegáveis as influências que o entorno exerce sobre o artista. 026 Aqui nasci pela segunda vez”. Entre nomes consagrados, encontramos a obra Jaguari, de Iberê Camargo, datada de 1941. Johann Moritz INFLUENCES Obra de Antonio Peticov INFLUÊNCIAS trends and instructions received from foreign artists. She has intensely experienced the group movements in studios, such as the Santa Helena Group, which still today inspires young artists in the establishment of collective artistic processes. “The urban reality of São Paulo has received a lot of foreign influence, from several parts of the world, which has also played a part in the establishment of a new landscape in the city, with the work of sculptors such as Victor Brecheret, Lasar Segall and Domenico Calabroni. In addition, all the other states of Brazil coexist with this connection with, and influence of, foreign artists”, he stresses. Antonietta remembers that all the Latin American countries have been strongly influenced by their colonists. However, Brazil stands out for its real detachment in taking on this racial mix, which results in world acclaim, especially in the area of Plastic Arts. “However, we are a nation that is constantly in search of its own identity”, she finalises. “Paintings by children are not works of art. For them, this is nothing more than a bit of fun, while for the primitivists it is the aim of their lives. They abolish time, make use of sources, these lost infant paradises which have finally been found again. Naïf starts where children die”. Anatole Jakovsky Naïve Art – an inexhaustible source of references Sociologist Souza Barros mentions, in his book Art, Folklore and Underdevelopment, the imposition of the means of communication, which is not restricted to major centres. However, in the more remote parts of the countryside, the creation of a common denominator of preferences and seductions is established. Summarising, this generates influences beyond the scope of the natural environment of civilisations. “This is killing off the local reasons, presenting distortion factors and suppressing the most naïve and pure initiatives of folklore. On the other hand, the rural people get informed about a series of other factors that do not easily become known (...)”. The importance of naïve painting is undeniable, in the case of Brazilian Art, and could not be ignored, exactly as it reports on the rich popular traditions. It reflects the whole capacity of the painters in obtaining a Brazilian view of the surrounding reality. This represents the collective memory of the Brazilian people, with a visual and artistic documentation in praise of customs, practices, and also urban and regional patterns of behaviour, without any intellectual influences. This is a simple vision of what is seen, in pure form. The roots of a people, after all, even though the Bahian singer and composer Gilberto Gil once argued the contrary: “Roots, for me, are manioc roots”. In the modern world, in which artistic language gets more and more influenced by different international trends, often suffocating nationality, Gilberto Gil himself defends Afro-Bahian influences on his music. In other words, there often seems to be a denial of any attempt to defend a Brazilian identity, not only in Plastic Arts, as also in other segments. Naïve Art and its possible relationship with the “cultured standards” seem to create empathy with the public. While intellectuals define this as a smaller art, often this concept does not correspond to reality, because it is an active form of art, that is both existent and persistent. A form of art that fights against indifference, in a country with colonist origins. This could be considered naïve for the fact that it represents our cultural identity, our real identity and also our daily lives. However, this is full of important names such as Elisa Martins da Silveira, Cardosinho, Heitor dos Prazeres, Nilson Machado, 027 INFLUÊNCIAS INFLUENCES Dieter Straus – Editora Estação Liberdade – 1995. Rugendas pintou a Floresta Brasileira, em 1824. Manuel Nil Rosa, Pablo Lobato, Alexandre da Cunha, Adão Domiciano, Deraldo Clemente, Danbeco, Enzo Ferrara, Agostinho Batista de Freitas and so many others. O Brasil na Visão do Artista – A Natureza e as Artes de Araujo Porto-Alegre retratou a Floresta Brasileira, em Plásticas – Frederico Morais – Projeto Cultural Sudameris 1853. – Prêmio Editorial Ltda – 2001. O pintor pós-impressionista francês, Paul Cézanne (1839-1906), mantinha o hábito de sair de casa com um Revista E – SESC SP – 2007 caderno de notas. Era um meio de registrar esboços e as- Aleijadinho – Catálogo Geral da Obra – Márcio Jardim – Editora RTKF – 2006 pectos variados da natureza, no entorno de seu ateliê. Tudo Aldemir Martins – O Viajante Amigo – Jacob Klinto- o que lhe parecia excessivo ou superficial ganhava menor witz – SESC SP – 2006 atenção, focando-se no essencial da natureza: o mundo Vida e Arte dos Japoneses no Brasil – 80 Anos da visível e concreto, desconsiderando o artificial. O pintor Aldemir Martins hoje é considerado o mestre Imigração Japonesa no Brasil – Museu de Arte de São do imaginário brasileiro. Em seus 83 anos de existência, Paulo Assis Chateaubriand – Banco América do Sul - 1988. buscou uma incessante compreensão de seu País, pintando figuras típicas do Nordeste: cangaceiros, rendeiras, gatos, peixes, frutas e horizontes, sempre repletos de cores fortes. Exercitou todas as técnicas do desenho, gravura, pintura, ilustração, ourivesaria, cerâmica, desenho industrial, objetos e projetos gráficos. Exemplos que justificam o pensamento de Pietro Maria Bard, o qual definia que as Américas assumiram, desde sua formação por meio dos processos colonizadores, um influências do Ocidente e Oriente, superando e ampliando os espaços ao seu redor. Bibliografias A Arte Brasileira em 25 quadros - 1790/1930 – Editora Record – Rafael Cardoso – 2008. A Arte Naif no Brasil, de Jacques Ardies – Editora Empresa das Artes/1998 – Textos de Geraldo Edson de Andrade. Pinturas Cegas – Tomie Ohtake / Paulo Herkenhoff – 2012. Influência Histórica Social da Missão Artística Francesa na Arte Brasileira – Odorico Pires Pinto – Tese apresentada à Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil – 1950. O Brasil de Hoje no Espelho do Século XX – Artistas Alemães e brasileiros refazem a expedição Langsdorff – 4ª edição – Por Maria de Fátima G. Costa, Pablo Diener e 028 Foto: Silvana Baierl ras. Sendo assim, a Arte Brasileira convive com múltiplas Interior da Igreja de São Francisco de Assis, em Salvador/BA - Pinturas no teto do Mestre Athayde e peças também atribuídas a Aleijadinho ponto de encontro das mais variadas procedências e cultu- The ocean without borders Throughout the whole world, art interconnects the periods of history, religion, politics, science or technology. Nature is in all artistic forms of expression, including abstract art, even if its presence occurs in a way that is subjective, in a process of reinvention. The influences that the surroundings have upon the artist are undeniable. When we consider its different elements, we witness the fact that the sea, plant and animal life, and also geology, are influencing agents of the different styles that have been revealed by Plastic Arts in Brazil, as also among artists of other countries that arrive here and often do not return to their countries of origin. There are two famous works, which show just how much this natural element becomes present in artistic work: The Raft of the Medusa, by Theodore Géricault, and the Ship of Emigrants, by Lasar Segall. This last work, painted between 1939 and 1941, is now part of the collection of the Laser Segall Museum in São Paulo, Brazil. The Raft of the Medusa materialises the imagination of the artist, in a shipwreck situation and in which the characters wave to a distant ship, in the hope of being saved. A revolution in the History of Art at that time, as the artists always worked on moments of coronations of emperors and major battles. Theodore Géricault comes along with a new proposal, a ship which transports survivors and corpses. Lasar Segall prints on the screen the sad report of the human conditions aboard the ships. The paintings say little about the sea and the sky, in a painting with classic light, homogeneous, where each character has his or her part of light. In the work, Segall transmits his whole feelings, with characters that laugh or cry. This is a mixture of tedium and melancholy, lightness and sadness, thereby abandoning the pictorial conventions of his time. The Ship of Emigrants ended up becoming his most significant painting work, and also a historical work for Brazil, even though it does not follow a theme which is usual in modern painting. In our days, we can envisage the work of Frans Krajcberg, an artist that reset his destination, in Brazil, through contact with local nature. On one occasion, he declared that “in Brazil I felt the impact of nature. Here I was born for the second time”. In the 1930s, Bruno Lechwski, Pancetti’s master, defended the concept that “wherever I may be, I felt I was in my mother’s arms – my mother being Nature. This, because a country is only one unit, its nature. Both ended up naturalising as Brazilian citizens. Among famous names, we find the work by the name of Jaguari, by Iberê Camargo, dated from 1941. Johann Moritz Rugendas painted the Brazilian Forest in 1824, while Manuel de Araujo Porto-Alegre also painted the Brazilian Forest in 1853. The French post-impressionist painter, Paul Cézanne (1839-1906), kept the habit of leaving the house with a notepad. This was one way that he used to record drafts and miscellaneous aspects of nature around his studio. Everything that seemed excessive or superficial was given less attention, with the focus being aimed on the essential aspects of nature: the visible and concrete world, disregarding the artificial. Painter Aldemir Martins is now considered the master of Brazilian imagination. In his 83 years of life, be sought a constant understanding of his country, painting typical figures from the Brazilian Northeast: cangaceiros, lace workers, cats, fish, fruits and horizons, always full of strong colours. He also used all techniques of drawing, engraving, painting, illustration, metalworking, ceramics, industrial design, objects and graphical projects. These are examples that justify the thoughts of Pietro Maria Bardi, who defined that the Americas have taken on, ever since their formation through colonisation processes, the aspect of a meeting point of several origins and cultures. This way, Brazilian Art coexists with multiple influences of both East and West, exceeding and expanding the spaces around. Bibliography Brazilian Art in 25 Pictures - 1790/1930 – Editora Record – Rafael Cardoso – 2008. Naïve Art in Brazil, by Jacques Ardies – Editora Empresa das Artes/1998 – Texts by Geraldo Edson de Andrade. Blind Paintings – Tomie Ohtake / Paulo Herkenhoff – 2012. The Social Historical Influence of the French Artistic Mission in Brazilian Art – Odorico Pires Pinto – Thesis presented to the National Architecture School of the University of Brazil - 1950. Today’s Brazil Mirroring the 20th Century – German and Brazilian Artists recreate the Langsdorff Expedition – 4th edition – By Maria de Fátima G. Costa, Pablo Diener and Dieter Straus – Editora Estação Liberdade – 1995. Brazil as Seen by the Artist – Nature and Plastic Arts – Frederico Morais – Sudameris Cultural Project – Prêmio Editorial Ltda – 2001. E Magazine – SESC SP – 2007 Aleijadinho – General Catalogue of Work – Márcio Jardim – Editora RTKF – 2006 Aldemir Martins – The Friendly Traveller – Jacob Klintowitz – SESC SP – 2006 Life and Art of Japanese People in Brazil – 80 Years of Japanese Immigration to Brazil – Assis Chateaubriand Art Museum of São Paulo – América do Sul Bank - 1988. 029