CINEMA TAMAR GUIMARÃES MANON DE BOER WENDELIEN VAN OLDENBORGH JARDIM DE INVERNO: ARQUIVO 25 ANOS WINTER GARDEN: 25 YEAR ARCHIVE CASA FRANÇA-BRASIL EXPOSIÇÃO / EXHIBITION CFB 25 anos / CFB 25 years 15 de agosto a 20 de setembro de 2015 BETO SHWAFATY Remediações Remediations CONVERSA TALK CFB: Perspectivas históricas e projeções futuras / Historical perspectives and future projections Domingo, 20 de setembro, às 16 h Sunday, September 20, 4 p.m. CI LDO M E I R E LE S Cédulas Banknotes ALFREDO JA AR Cultura = Capital Culture = Capital CINEMA JARDIM DE INVERNO: ARQUIVO 25 ANOS WINTER GARDEN: 25 YEAR ARCHIVE CI LDO M E I R E LE S Cédulas Banknotes ALFREDO JA AR Cultura = Capital Culture = Capital Foto 1 / Photo 1 TAMAR GUIMARÃES MANON DE BOER WENDELIEN VAN OLDENBORGH ALFREDO JAAR Cultura = Capital, 2011-2015 CFB 25 YEARS Five projects celebrating 25 years of Casa França-Brasil and imagining what the role of a cultural institution in Rio de Janeiro could be today. Curadoria de Pablo León de la Barra 15 de agosto a 20 de setembro de 2015 Curated by Pablo León de la Barra August 15 to September 20, 2015 Alfredo Jaar nasceu no Chile em 1956 e mora e trabalha em Nova York desde 1982. É reconhecido e respeitado internacionalmente por sua prática artística sociopolítica. BETO SHWAFATY Remediações Remediations CFB 25 ANOS Cinco projetos para comemorar os 25 anos da Casa França-Brasil e imaginar qual poderia ser hoje o papel de uma instituição cultural no Rio de Janeiro. Em Cultura = Capital, Alfredo Jaar amplia o conceito de Arte = Capital (Kunst = Kapital) de Joseph Beuys e acompanha o pensamento dos filósofos Antonio Gramsci e Friedrich Nietzsche de que cultura é fundamental para a existência humana. Para Jaar, arte e cultura constituem um espaço de resistência e desempenham um papel fundamental em nossas vidas políticas diárias. Em tempos de recessão econômica, quando cultura e educação logo sofrem cortes orçamentários, Cultura = Capital reconhece que cultura não é apenas um fator de desenvolvimento econômico, mas uma necessidade básica e elemento indispensável para o progresso social. Invertendo a equação, sem cultura, não existe capital. ALFREDO JAAR Culture = Capital, 2011-2015 In Culture = Capital, Alfredo Jaar expands on artist Joseph Beuys’s claim that Art = Capital (Kunst = Kapital), and follows the belief of philosophers Antonio Gramsci and Friedrich Nietzsche that culture is central to human existence. For Jaar, art and culture constitute a space of resistance and play a fundamental role in our everyday political lives. In times of economic recession, when culture and education are immediately affected by budget cuts, Culture = Capital recognizes that culture is not only a factor of economic development, but a basic need and an indispensable element of social progress. Changing the equation around, without culture there is no capital. Alfredo Jaar was born in Chile in 1956 and has lived and worked in New York since 1982. He is recognized and respected internationally for his sociopolitical artistic practice. Foto 3 / Photo 3 Foto 2 / Photo 2 BETO SHWAFATY Remediações, 2010 – 2014 BETO SHWAFATY Remediations, 2010 – 2014 Remediations is the result of an exploration into how certain dynamics and notions of the national project are transposed to other communication media, especially in the fields of visual culture and spatial politics. The project addresses the multifaceted relations between territorial planning, economics, architecture, ideology, history, and progress as they integrate issues relating to modernism and colonialism. By exploring the connections between nature, culture, and politics, the project draws attention to the ideological uses of visuality, progressrelated discourses, and communication strategies by those in power at different times and places in Brazil. Beto Shwafaty was born in Sao Paulo in 1977 and forms part of a new generation of Brazilian artists with a critical artistic practice. Uma pequena retrospectiva da obra de Cildo Meireles relativa a moedas é apresentada no cofre da CFB. Zero Cruzeiro, de 1974, questiona o valor do dinheiro, enquanto Inserções em circuitos ideológicos (a partir de 1970) demonstra como os indivíduos podem interferir na economia, na política e na ideologia. In the safe at CFB, a small retrospective of Cildo Meireles’s work relating to economic currencies is presented. Zero Cruzeiro from 1974 questions the value of money, while the Insertions into Ideological Circuits (from 1970 on) demonstrate how individuals can intervene in economics, politics, and ideology. Remediações é fruto de uma investigação de como certas dinâmicas e conceitos do projeto nacional são transportados para outros meios de comunicação, principalmente nos campos da cultura visual e política espacial. O projeto aborda as relações multifacetadas entre planejamento territorial, economia, arquitetura, ideologia, história e progresso na medida em que esses fatores integram questões relativas ao modernismo e ao colonialismo. Ao explorar as conexões entre natureza, cultura e política, o projeto chama a atenção para os usos ideológicos da visualidade, dos discursos relativos ao progresso e de estratégias de comunicação por aqueles que estão no poder em diferentes épocas e lugares no Brasil. Cildo Meireles nasceu em 1948 e é um dos mais respeitados artistas brasileiros. Cildo Meireles was born in 1948 and is one of Brazil’s most respected artists. Beto Shwafaty nasceu em São Paulo em 1977 e faz parte de uma nova geração de artistas brasileiros que têm uma prática artística crítica. CILDO MEIRELES Cédulas, 1970 – 2015 CILDO MEIRELES Banknotes, 1970 – 2015 Foto 4 / Photo 4 JARDIM DE INVERNO Arquivo 25 anos WINTER GARDEN 25 Year Archive Curadoria conjunta de Pablo León de la Barra e Natália Quinderé. Curated by Pablo León de la Barra and Natália Quinderé. Para comemorar o aniversário de 25 anos da CFB, seu espaço principal é transformado em um jardim de inverno. Fundado em 1820, como a Praça do Comércio, o prédio tem seu uso original resgatado, mas, desta vez, como praça de cultura e praça pública para ser usada por seus visitantes. O espaço aqui não é utilizado para exibir obras de arte, mas para apresentar, em uma série de mesas expositoras, diferentes momentos da história da existência do prédio como centro cultural. A pesquisa de arquivo nos permite mergulhar no eclético histórico de exposições da CFB, mas também identificar temas e ideias que poderiam orientar seu futuro. A inspiração vem de Un jardin d’hiver (Um jardim de inverno), de 1974, do artista belga Marcel Broodthaers, no qual ele apresentou um jardim de palmeiras com vitrines com gravuras como forma de crítica aos discursos coloniais e à autoridade das instituições culturais. For the celebration of CFB’s 25 th anniversary, its main space is transformed into a winter garden. The building, which was founded in 1820 as the Praça de Comércio (the city’s main trade exchange square), has recovered its use as a praça, but this time as cultural and public square to be used by its visitors. Here, the space is not used to exhibit works of art, but to present different moments from the history of the building’s life as a cultural center on a series of vitrines. The research into the archive allows us to immerse ourselves in the eclectic exhibition past of CFB, but also to recognize themes and ideas which could inform the future of CFB. The Winter Garden is inspired by Belgian artist Marcel Broodthaers’s 1974 Un jardin d’hiver, in which he presented a palm garden with vitrines containing prints, making a critique of colonial discourse and the authority of cultural institutions. Natália Quinderé nasceu em Fortaleza em 1982. Atualmente, vive no Rio de Janeiro e faz doutorado em história e crítica de arte (PPGAV/ EBA/UFRJ). Natália Quinderé was born in Fortaleza in 1982. She lives in Rio de Janeiro and is studying for a doctorate in history and art criticism at the Federal University of Rio de Janeiro. 1 FOTOGRAFIA EM FOCO No relatório de funcionamento do primeiro ano da Casa França-Brasil, a escolha recorrente de exposições de fotografia é justificada pela produção de qualidade e de fácil aceitação pública. As exposições tinham como meta constituir uma tripla participação – expor trabalhos de um artista brasileiro, de um artista francês e de alunos de escolas de artes visuais –, no intuito de estreitar laços culturais entre Brasil e França e fortalecer a influência da instituição como um importante centro cultural. A primeira exposição de fotografias, “Cartier Bresson & Sebastião Salgado” (1990), materializa essa meta com a participação de alunos do Núcleo de Fotografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e do Departamento de Comunicação da Uerj. Embora a ideia de tripla participação não tenha sido concretizada de maneira contínua, a dobradinha entre fotógrafos franceses e brasileiros se repetiu, como em “Retratos da Bahia: fotografias de Pierre Verger e aquarelas de Carybé” (1990), “Instantes decisivos – Marc Riboud e Evandro Teixeira” (1993). A política dos primeiros anos foi ultrapassada, no entanto, a influência francesa persistiu em exposições como “Nadar” (1994), “Marcel Gautherot: Bahia – rio São Francisco, Recôncavo e Salvador” (1996), “Pierre Verger – fotografias” (1999), “Paris em foco” (2005), entre outras. 2 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA E OS PINTORES VIAJANTES: FRANÇA-BRASIL NO SÉCULO XIX 13 de novembro a 16 de dezembro de 1990 Curadoria: Jean Boghici “Missão artística francesa e os pintores viajantes” encerrou o primeiro ano de funcionamento da Fundação Casa FrançaBrasil. Idealizada e organizada pelo marchand e colecionador Jean Boghici, fazia parte de um projeto mais amplo chamado “Da missão à opinião, dois séculos de arte entre a França e o Brasil”. Boghici pretendia organizar um conjunto de três exposições que compunha um panorama da influência francesa na produção brasileira, desde a chegada ao Rio de Janeiro da Missão Artística Francesa, em 1816, até as mostras Opinião 65/66, organizadas no MAM do Rio. A Casa FrançaBrasil abrigou o primeiro eixo do projeto e expôs óleos, desenhos, gravuras, aquarelas e esculturas dos principais membros da Missão, de seus discípulos e dos pintores viajantes do século XIX, como os irmãos Marc e Zéphyrin Ferrez, o escultor Louis Rochet, Simplício Sá, Araújo Porto Alegre, August Müler e François Biard. O conjunto de cerca de 120 obras era proveniente de acervos públicos e de muitos colecionadores privados. Patrocinada pelo Instituto Cultural França-Brasil, a exposição de Boghici reafirmava o projeto político representado pela Fundação Casa FrançaBrasil e ainda pela escolha do edifício de Grandjean de Montigny como cenário – uma construção ampla de laços culturais entre França e Brasil. Em 2004, uma nova exposição, “A Missão Francesa – uma academia moderna”, repensava o papel dos artistas franceses no Brasil, com apoio de universidades e instituições de arte do Rio. 3 APOTEOSE TROPICAL: DESFILEEXPOSIÇÃO COM PINTURAS DE GLAUCO RODRIGUES 31 de janeiro a 3 de março de 1991 Curadoria: Frederico Morais A “exposição-desfile” do pintor gaúcho Glauco Rodrigues é realizada logo depois da mostra “Missão artística francesa e os pintores viajantes”. “Apoteose tropical” discutia aspectos da cultura brasileira, inclusive, a influência francesa, por meio da criação de mitologias sobre o Carnaval, a antropofagia, a cidade do Rio de Janeiro e seu santo padroeiro São Sebastião, a economia, o período do Brasil Colônia. No folheto que acompanhava a exposição, Frederico Morais, que se nomeia o carnavalesco (curador) da mostra, aponta como procedimentos utilizados pelo artista a citação, a reprodução e a mistura de imagens, signos de brasilidade: “do mapa à bandeira do Brasil, de Caminha a Oswald de Andrade, do barroco à Mangueira”. A facilidade de lidar com essa sobreposição de imagens foi justificada por Frederico tanto pela trajetória profissional de Glauco Rodrigues (realização de cenários, figurinos, o trabalho como designer gráfico dos primeiros números da revista Senhor, a convite de seu diretor de arte, o artista Carlos Scliar), como também a influência da pop arte. A exposição organizava-se como um desfile (Escola de Samba Unidos de Terra Brasilis) e as obras distribuíam-se por alas. Na abertura da exposição, um show da bateria Estácio de Sá completou a alegoria. 4 ÍNDIOS NA CASA Nos primeiros anos de 1990, três eventos marcam formas distintas de representações indígenas na Casa França-Brasil. A exposição “Brasilidades” (1991), dividida em três eixos, inaugura essa representação. O primeiro eixo, Amazônia e a França, foi organizado pela antropóloga Berta Ribeiro, a convite do consulado francês, e já havia sido montada no Pará e no Rio Grande do Sul, antes de chegar à Casa França-Brasil. Berta Ribeiro centralizou a mostra em grupos indígenas da Amazônia estudados por especialistas franceses, em épocas distintas. A ideia era expor traços significativos da cultura de tribos como tucano, tikuna, txicão. Para tanto, no vão central da casa, uma maloca reproduzia a moradia dos tucanos, tribo do alto rio Negro, estudada pelo biólogo Jules Crevaux no século XIX. Além de Amazônia e a França, foram expostas fotografias da tradicional festa do bumba, em Parintins, da francesa Elisabeth Dan Müller, e 25 desenhos em nanquim e água-forte, criados por Portinari, em 1941, para ilustrar uma reedição do livro do viajante alemão do século XVI, Hans Staden. “Programa de índio: Kuarup” (1991) e a exposição “Grafismo kadiwéu” (1993) são os outros dois eventos que marcam a presença indígena na Casa. No primeiro, índios da tribo yawalapiti, localizada no alto Xingu, realizaram no vão da Casa trechos do cerimonial Kuarup, ritual em homenagem aos mortos da aldeia. Patrocinados pela Shell, as três apresentações, venda de objetos e pinturas tinham como objetivo arrecadar dinheiro para a Organização Indígena do Xingu – KUARUP. Dois anos mais tarde, no ano internacional dos povos indígenas, a Casa expõe os grafismos do grupo indígena kadiwéu, localizado em Mato Grosso. A exposição contou com acervo do Museu do Índio e com pranchas fotográficas do acervo de Darcy Ribeiro, que desenvolveu pesquisas de campo com esse grupo indígena no final da década de 1940. 5 INTERNACIONAIS – UM PEQUENO RECORTE Do desejo de exibir artistas laureados no circuito internacional e alcançar notoriedade como centro de exposições, a Casa FrançaBrasil promoveu numerosas exposições individuais e coletivas de artistas europeus. Essas exposições têm, em geral, dois aspectos em comum: são itinerantes, foram expostas em outros lugares (no Brasil e exterior), como também fazem parte de um único acervo. A exposição de Miró, de 1995, reuniu 51 águas-fortes e litografias do artista catalão, trazidas do acervo da galeria francesa Maeght. A mostra coincidia com a exposição de 58 trabalhos do escultor francês Auguste Rodin, no Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro. As duas exposições tiveram apoio do Consulado da França e foram agenciadas pelo adido cultural francês Romaric Sulger Büel. Em 1997, a Casa reabre suas portas, após oito meses de reformas estruturais (que ainda não tinham sido concluídas), apenas para receber a exposição da artista francesa Niki de Saint Phalle. Com curadoria de Jean-Gabriel Mitterrand, 40 esculturas foram espalhadas no interior da Casa e no pátio dos Correios, além de 47 obras gráficas. Já a exposição de Picasso, inaugurada no final de 1999, reunia as cerâmicas produzidas no sul da França entre 1947 e 1954, gravuras e fotografias de André Villers do artista trabalhando. O conjunto era parte da coleção pessoal do neto de Picasso, Bernard Ruiz Picasso, curador da exposição. 6 SITUAÇÕES: ARTE BRASILEIRA – ANOS 70 16 de agosto a 24 de setembro de 2000 Curadoria: Glória Ferreira e Paula Terra “Situações” reuniu trabalhos de 54 artistas brasileiros no intuito de traçar particularidades e questões pertencentes ao cenário das artes visuais brasileiras, na década de 1970, tendo como marcos paradigmáticos da produção o Salão Bússola (1969), que aconteceu no MAM do Rio, e a exposição organizada por Frederico Morais, “Do corpo à terra” (1970), em Belo Horizonte. De um lado, “Situações” discutia mudanças ocorridas nas práticas artísticas, influenciadas pela experimentação, e sua dissolução em diferentes linguagens – poesia, vídeo, cinema, fotografia, instalação. De outro, examinava o embate entre a produção, a formação e a crítica do sistema das artes. A reunião de trabalho de artistas como Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Artur Barrio, Cildo Foto 5 / Photo 5 PORTUGUÊS Meireles, Luiz Alphonsus, Lygia Pape, Nelson Leiner, Maria do Carmo Secco, Sonia Andrade, entre muitos outros, materializava esse conjunto significativo, que advinha, em sua maior parte, da coleção dos próprios artistas. “Situações” contou com uma mostra de 100 vídeos e filmes da época e uma seção documental que expôs revistas, cartazes, convites e outros materiais com o objetivo de catalogar obras ausentes na exposição e disponibilizar fac-símiles de documentos importantes para o público. Chacal participou da seleção de poesias e Ligia Canongia fez a consultoria da mostra de filmes, com curadoria de Glória Ferreira. A exposição teve apoio da Secretaria de Estado da Cultura e da Casa França-Brasil. 7 ARTE E RELIGIOSIDADE NO BRASIL – HERANÇAS AFRICANAS 19 de fevereiro a 26 de abril de 1998 Curadoria: Emanoel Araújo e Carlos Eugênio Marcondes de Moura “Arte e religiosidade no Brasil” foi a primeira exposição na Casa França-Brasil que discutiu as influências africanas sobre a produção artística do país. Foi montada na Feira do Livro de Frankfurt, em 1994, que tinha o Brasil como seu país tema. Três anos mais tarde, em 1997, a exposição é inaugurada na Pinacoteca de São Paulo. Emanoel Araújo, um de seus curadores, era o diretor daquela instituição paulistana. Na Casa, a mostra reuniu cerca de 200 objetos, entre contas e colares, máscaras rituais da sociedade Guedelé da Nigéria, esculturas raras de Santo Antônio, esculpidas no Brasil do século XIX, trabalhos do mestre Didi, Rubem Valentim, Ronaldo Rego, entre outros. Tendo como fio condutor primordial as religiões africanas, duas mães de santo ergueram 16 altares dos principais orixás afro-brasileiros no salão da Casa. O conjunto tinha procedência diversa: coleções particulares e acervos institucionais. Até a década de 1970, parece ter sido comum participantes dos cultos de religiões afro-brasileiras serem perseguidos pela polícia e terem confiscadosos objetos utilizados nesses rituais. A provável passagem da maior parte do conjunto exposto no arquivo da polícia foi episódio amplamente reproduzido na impressa local. Além de objetos e altares, cinco exposições de fotografia documentavam reuniões de grupos religiosos e de sociedades de origem africana. Quatro anos depois de “Arte e religiosidade”, outra exposição itinerante, também com curadoria de Emanoel Araújo, ocupou a Casa França-Brasil. “Negro de corpo e alma” fez parte da Mostra do Redescobrimento que ocupou seis museus e centros culturais do Rio de Janeiro, entre 9 de outubro de 2000 a 14 de janeiro de 2001. 8 CENÁRIOS ESPETACULARES A pesquisa no acervo da Casa França-Brasil revelou características cruciais de seu campo de atuação como um pavilhão de eventos, sobretudo, em seus primeiros quinze anos de funcionamento. A programação abarcava desde exposições de artistas, selos e futebol a bienais de quadrinhos e mostras sobre escritores. Uma particularidade de algumas dessas exposições era a construção de cenografias temáticas monumentais no interior e exterior da Casa. “Isto é a França em quadrinhos”, de 1991, transformou o pátio interno em uma grande ruína futurística, projetada pelo arquiteto francês Olivier Corbex. No ano da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Rio-92), a exposição “Viva a água” (1992) repete o mesmo estratagema: por meio de uma temática, constrói na nave central uma maquete gigantesca da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. “Egito faraônico” (2002) distancia-se um pouco dessa lógica, embora a fachada da Casa tenha sido tomada pela imagem de uma figura egípcia. A heterogeneidade de cenografias, construídas em um edifício do século XIX, traz à tona a flexibilidade do espaço como local de exposições de arte contemporânea e, ao mesmo tempo, reconta a história multíplice do edifício, antes da Fundação Casa FrançaBrasil: desenhado, em 1819, por Grandjean de Montigny, arquiteto integrante da Missão Francesa, para ser Praça do Comércio (1820); a partir de 1824, transforma-se em Alfândega; durante a Segunda Grande Guerra, arquivo de bancos ítalo-germânicos e abriga o II Tribunal do Júri, entre 1956 e 1978. 9 ANOS 2009-2015 Em 24 de outubro de 2009, a Casa França-Brasil reabriu suas portas, sob a direção de Evangelina Seiler, depois de um ano de reformas físicas do prédio e de mudança em sua missão institucional. Uma enorme estrutura suspensa por cabos e com planos transparentes, da artista Iole de Freitas, invadia o vão central do edifício. Projetado especialmente para esse espaço, o trabalho da artista inaugurava um projeto de exposições singular que deu forma à Casa no circuito de arte carioca: um artista brasileiro ou estrangeiro ocupa o vão central do edifício, assim como suas salas laterais. Como muitos desses projetos foram feitos especialmente para a Casa França-Brasil, o edifício do século XIX se transformou em um espaço de instalações temporárias. A partir desse modelo expositivo, passaram pela instituição muitos artistas de linguagens e produção diversa, como Laura Lima, Hélio Oiticica, Daniel Senise, Waltercio Caldas, José Rufino, Laercio Redondo, Carmela Gross, Cristina Iglesias e Dias & Riedweg. Paralelamente, o cofre da antiga Praça do Comércio e da Alfândega passou a abrigar trabalhos de artistas de trajetórias variadas, convidados, normalmente, pelo artista que ocupava o vão central e as salas principais. O programa Ocupação Cofre expôs projetos de Amália Giacomini, Ana Miguel, Pedro Victor Brandão, Analu Cunha, Efrain Almeida, Daniel Steegmann, Marcelo Cidade, Jorge Soledar, entre outros. Para além desse modelo expositivo, característico da direção de Evangelina, os eventos anuais de performance e música (Happenings e In Drama) estabeleceram um diálogo intenso, na Casa, entre artes visuais e outras práticas artísticas, materializando uma nova maneira de localizar esse edifício secular como um espaço de arte contemporânea. Embora essa Foto 6 / Photo 6 administração tenha terminado em 2014, a nova direção optou por manter os projetos desenvolvidos na gestão anterior em 2015: “Tombo” de Rodrigo Braga e ainda duas futuras ocupações, dos artistas Barrão e Angelo Venosa. 10 POR QUE UMA CASA FRANÇA-BRASIL? A criação da Fundação Casa França-Brasil foi a conjunção de três projetos culturais distintos. O primeiro se caracterizava pelo estabelecimento de 16 casas de cultura por todo o Estado do Rio de Janeiro. O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac localizava prédios e casas históricas com necessidade de restauração e os adaptava para ativação cultural. O segundo projeto previa a realização de um corredor cultural no Centro da cidade carioca. O corredor tinha início no MAM, atravessava a Cinelândia, Praça 15 e desembocava na Casa França-Brasil. Por último, materializava-se um projeto político de cooperação entre Brasil e França. Do outro lado do Atlântico, o ministro da cultura francês, Jack Lang, que idealizou o projeto ao lado de Darcy Ribeiro, afirmava a importância de a França criar laços com países da América Latina e da África. Em relatórios de reuniões, no decorrer de 1989, sobre as linhas de atuação da Casa, ficara acordado que a programação seria concebida pelos governos brasileiro e francês, pelo Estado do Rio de Janeiro e por empresas privadas. Em 4 de julho de 1985, o protocolo de intenções para a restauração do prédio e instalação da futura sede da Fundação Casa França-Brasil foi assinado no próprio edifício a ser reformado, com a presença de todas as autoridades envolvidas, tendo discursado na ocasião o vice-governador e secretário estadual de cultura do Estado do Rio, o antropólogo Darcy Ribeiro. A restauração do edifício – desenhado, em 1819, para ser Praça do Comércio por Grandjean de Montigny, integrante da Missão Artística Francesa – foi realizada por meio de um convênio entre o poder público (federal e estadual) e a iniciativa privada (Rhodia S.A. via Fundação Roberto Marinho). O projeto museográfico do francês Pierre Catel, financiado pelo Ministério da Cultura da França, previa o vão central vazio para eventos, um lugar de exposição permanente de peças históricas e salas com terminais de vídeo, ligados a computadores, com informações da história franco-brasileira e em contato direto com o Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou, em Paris. Esse projeto tecnológico difundido na mídia da época como a criação de um “museu cibernético” jamais foi realizado completamente. A Casa França-Brasil foi inaugurada, em 29 de março de 1990, com a exposição “Par-delà et Par-deçà”. Promovida pelo governo francês, a mostra divulgava as relações históricas e culturais entre França e Brasil dos séculos XVI ao XIX, mediante a exibição de reproduções de documentos e imagens. Os eventos realizados na Casa, entre 1990 e 2008, marcam um período eclético de sua programação: desde exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, mostras sobre a cultura popular a salões de antiquários e de colecionadores de selos. O relatório do primeiro ano de fundação, de 1990, mostra a falta de recursos financeiros e de funcionários, bem como a ausência de uma programação que desse início às suas atividades. A recorrência de exposições de fotografias e de gravuras evidencia certa precariedade orçamentária em relação aos planos iniciais expostos nos relatórios das reuniões e nas notícias publicadas pela grande mídia, especialmente, durante os cinco anos de restauração do edifício. Em 2008, a Casa França-Brasil passou por uma ampla transformação em sua missão institucional e norteou suas atividades para a construção de um espaço singular de exposições e eventos de arte contemporânea. Embora tenha sido originada por meio de um projeto de cooperação franco-brasileira, a Casa atualmente não tem nenhum vínculo institucional com a França ENGLISH 1 1816 to the Opinião 65/66 (Opinion 65/66) exhibitions at Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Casa França-Brasil hosted the first of these exhibitions, which included oil paintings, drawings, prints, watercolors, and sculptures by the mission’s leading members, their disciples, and travelling painters from the nineteenth century, like the Ferrez brothers, Marc and Zéphyrin, the sculptor Louis Rochet, Simplício Sá, Araújo Porto Alegre, August Müler, and François Biard. The 120 works on show came from public collections and a variety of private collectors. Sponsored by Instituto Cultural França-Brasil, Boghici’s exhibition was consistent with Fundação Casa França-Brasil’s overarching policy and its choice of making a building designed by Grandjean de Montigny its setting – a spacious construction representing the wealth of cultural ties between France and Brazil. In 2004, a new exhibition called The French Mission – a Modern Academy reviewed the role of French artists in Brazil with support from universities and art establishments in Rio de Janeiro. PHOTOGRAPHY IN FOCUS In the report on Casa França-Brasil’s first year of activities, the decision to put on different exhibitions of photography is justified by the quality of the works and their capacity to attract more visitors. Another goal of these exhibitions was to jointly display works by Brazilian artists, French artists, and students from art schools in order to draw closer ties between Brazil and France and to bolster CFB’s standing as an important cultural venue. The first exhibition of photographs, Cartier Bresson & Sebastião Salgado (1990), was true to this objective in that it included work by students of photography from Escola de Artes Visuais do Parque Lage and the Department of Communication of the State University of Rio de Janeiro. Although this three-pronged approach was not always observed, the juxtaposition of French and Brazilian photographers was repeated, such as in Portraits of Bahia: photographs by Pierre Verger and water colors by Carybé (1990) and Decisive Moments – Marc Riboud and Evandro Teixeira (1993). Although this policy was later dropped, the French influence continued in exhibitions like Nadar (1994), Marcel Gautherot: Bahia – São Francisco river, Recôncavo and Salvador (1996), Pierre Verger – Photographs (1999), Paris in Focus (2005), and others. 2 FRENCH ARTISTIC MISSION AND TRAVELLING PAINTERS: FRANCE AND BRAZIL IN THE NINETEENTH CENTURY November 13 to December 16, 1990 Curated by Jean Boghici French Artistic Mission and Travelling Painters was held at the end of the first year of functioning of Fundação Casa França-Brasil. Devised and organized by art patron and collector, Jean Boghici, it was part of a bigger project called From mission to opinion: two centuries of art between France and Brazil. Boghici’s idea was to hold a series of three exhibitions giving an overview of the influence of France on Brazilian output from the arrival of the French Artistic Mission in Rio de Janeiro in 3 TROPICAL APOTHEOSIS: EXHIBITIONPARADE WITH PAINTINGS BY GLAUCO RODRIGUES January 31 to March 3, 1991 Curated by Frederico Morais The “exhibition-parade” by Glauco Rodrigues, a painter from Rio Grande do Sul, curated by Frederico Morais, was held shortly after The French Mission and Travelling Painters exhibition. It discussed aspects of Brazilian culture, including the influence of France, through the creation of myths about carnival, cannibalism, the city of Rio de Janeiro and its patron saint, St. Sebastian, the economy, and the Brazilian colonial period. In the booklet brought out for the exhibition, Frederico Morais, calling himself the carnavalesco [carnival producer] (curator) of the exhibition, explained some of the artist’s strategies, such as citations, reproductions, and mixtures of images, signs of Brazilianity: “from the map to the flag of Brazil, from Caminha to Oswald de Andrade, from the baroque to Mangueira [samba school].” Morais sees the ease with which the artist deals with these superimposed images as stemming from his professional career (set and costume designer, and graphic designer for the first issues of Senhor magazine on the invitation of its art director, artist Carlos Scliar) and the influence of pop art. The exhibition was arranged as if it were a samba parade (Unidos de Terra Brasilis samba school) and the works were distributed into different parade sections. At the vernissage, a performance by percussionists from Estácio de Sá samba school completed the narrative. 4 INDIANS IN THE HOUSE In the early 1990s three events showcased different forms of indigenous representation at Casa França-Brasil. Brazilianities (1991) was the first, divided into three thematic areas. The first of these, Amazon and France, was organized by anthropologist Berta Ribeiro on the invitation of the French Consulate. It had toured in Pará and Rio Grande do Sul before being exhibited at Casa França-Brasil. Berta Ribeiro organized the exhibition around the Amazonian indigenous groups studied by French experts at different times. The idea was the exhibit significant features of the culture of tribes like the Tucano, Tikuna, and Txicão. The central exhibition space contained a maloca, a traditional dwelling of the Tucano people, who live in the upper Negro river, studied by biologist Jules Crevaux in the nineteenth century. There was also an exhibition of photographs of the traditional Bumba festival in Parintins taken by Frenchwoman Elisabeth Dan Müller, and 25 Indian ink drawings and etchings done by Portinari in 1941 to illustrate a new edition of a book by sixteenth century German traveler, Hans Staden. Indigenous Rite: Kuarup (1991) and Kadiwéu Art (1993) were the other two exhibitions that took indigenous expressions to CFB. In the former, representatives of the Yawalapiti tribe, from the upper Xingu river, staged parts of a Kuarup ceremony in which they pay tribute to the village’s dead. Sponsored by Shell, the three performances, along with sales of objects and paintings, were held to raise money for the Xingo Indigenous Organization, Kuarup. Two years later, in the International Year of the World’s Indigenous Peoples, Casa França-Brasil put on an exhibition of art by the Kadiwéu people from Mato Grosso. The exhibition included pieces from the Museu do Índio collection and photographic plates by Darcy Ribeiro, who did fieldwork with this group in the late 1940s, from the Darcy Ribeiro archive. 5 INTERNATIONAL EXHIBITIONS – A FEW EXAMPLES Keen to exhibit the work of acclaimed international artists and make its name as an exhibition venue, Casa França-Brasil held a number of solo and group shows of European artists. Most of them had two features in common: they were touring (in other words, they had been exhibited elsewhere in Brazil and abroad) and they were from a single collection. The 1996 exhibition of Miró displayed 51 etchings and lithographs by the Catalan artist from the collection of Galerie Maeght, France. This exhibition coincided with another at Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro of 58 works by French sculptor Auguste Rodin. Both were funded by the French Consulate and mediated by the French cultural attaché Romaric Sulger Büel. In 1997, Casa França-Brasil reopened its doors after closing for eight months for structural reforms (that had not been completed) to receive the exhibition of French artist Niki de Saint Phalle, curated by Jean-Gabriel Mitterand. It contained 40 sculptures, exhibited inside the building and in the courtyard, as well as 47 graphic works. Meanwhile, the Picasso exhibition, which opened in late 1999, showed ceramics produced in the south of France between 1947 and 1954 and prints and photographs by André Villers of the artist at work. The works all belonged to the personal collection of Bernard Ruiz Picasso, Picasso’s grandson, who also curated the exhibition. 6 SITUATIONS: BRAZILIAN ART – 1970s August 16 to September 24, 2000 Curated by Glória Ferreira and Paula Terra Situations brought together the work of 54 Brazilian artists with the idea of identifying what specific features and issues marked the Brazilian visual arts scene in the 1970s, two of whose high points were the Salão Bússola [Compass Room] exhibition held in 1969 at Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro and Do Corpo à Terra [From the Body to the Earth], organized by Frederico Morais in Belo Horizonte in 1970. Situations discussed the changes that had taken place in artistic practices under the influence of experimentation and their dispersion into different languages – poetry, video, film, photography, installation. Meanwhile, it also examined the clash between production, training, and criticism in the art system. The selection of works by Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Artur Barrio, Cildo Meireles, Luiz Alphonsus, Lygia Pape, Nelson Leiner, Maria do Carmo Secco, Sonia Andrade, and many others, mostly from the artists’ own collections, materialized this significant period. The exhibition also included 100 videos and films from the time, as well as a selection displaying magazines, posters, invitations, and other printed matter with the aim of cataloguing works that were not in the exhibition, and to give the public the chance to see facsimiles of important documents. Chacal took part in the selection of poems and Ligia Canongia was the consultant for the selection of films, curated by Glória Ferreira. The exhibition was funded by the Rio de Janeiro State Secretariat for Culture and Casa França-Brasil. 7 ART AND RELIGIOUS EXPRESSION IN BRAZIL – AFRICAN LEGACIES February 19 to April 26, 1998 Curated by Emanoel Araújo and Carlos Eugênio Marcondes de Moura Art and Religious Expression in Brazil was the first exhibition at Casa França-Brasil to discuss African influences on the country’s art production. It was formulated for the 1994 Frankfurt Book Fair, when Brazil was the guest of honor. Three years later, in 1997, African Legacies was inaugurated at Pinacoteca de São Paulo, whose director at the time was Emanoel Araújo, one of the exhibition curators. At Casa França-Brasil, the exhibition included around 200 objects, including beads and necklaces, ritual masks from the Guedelé society in Nigeria, rare sculptures of St. Anthony made in Brazil in the nineteenth century, and works by Mestre Didi, Rubem Valentim, Ronaldo Rego, and others. As African religions were its central pillar, two priestesses (mães de santo) raised 16 altars to the main Afro-Brazilian orixás (spirit gods) in the main hall of the building. The objects came from a variety of private and institutional collections. Until the 1970s, it seems to have been common for participants of Afro-Brazilian religious ceremonies to be persecuted by the police, who would seize the objects they used. The likely passage of most of the exhibits through police archives was a fact that received much 8 SPECTACULAR SETTINGS Research of the Casa França-Brasil archives has revealed some key features of its field of action like an events pavilion, especially in its first 15 years of existence. It hosted exhibitions of art, stamps and football, exhibitions about writers, and biennials of comic strips. One particularity of some of these exhibitions was the construction of huge theme-based sets inside and outside CFB. This is France in Cartoons, from 1991, transformed the courtyard into a futuristic ruin designed by French architect Olivier Corbex. In the same year as the United Nations Conference on Environment and Development (Earth Summit), Long Live Water (1992) repeated the same stratagem, building a giant model of the Paraíba do Sul river basin in the central exhibition space. Egypt of the Pharaohs (2002) diverged somewhat from this pattern, although the façade of the building was taken over by an Egyptian figure. The heterogeneous sets erected in a nineteenth-century building unleashed the plasticity of the space for exhibitions of contemporary art, while retelling the multifaceted history of the building before Fundação Casa França-Brasil: designed in 1819 by Grandjean de Montigny, the architect with the French Artistic Mission, to be a trade exchange (1820), it was subsequent used as the customs house as of 1824, a storage place for Italian and German banks during the Second World War, and the 2nd Criminal Court of Law from 1956 to 1978. 9 2009 – 2015 Casa França-Brasil reopened its doors on October 24, 2009, under the direction of Evangelina Seiler after a year of structural reforms and a complete review of its institutional mission. A huge structure suspended by cables with transparent planes by Iole de Freitas invaded the building’s central hall. Designed especially for the space, her work heralded an unprecedented exhibition project in which a Brazilian or foreign artist would take over the building’s central and side rooms, effectively carving out a new place for CFB in the Rio art circuit. As many of these projects were site-specific, the nineteenth century building turned into a space for temporary installations. Many artists went on to occupy CFB with different languages and artistic proposals, including Laura Lima, Hélio Oiticica, Daniel Senise, Waltercio Caldas, José Rufino, Laercio Redondo, Carmela Gross, Cristina Iglesias, and Dias & Riedweg. Meanwhile, the safe of the former trade exchange and customs house was given over to works by artists with assorted trajectories, normally invited by the principal guest artist occupying the main hall and rooms. The artists whose work was displayed as part of the Occupying the Safe program included Amália Giacomini, Ana Miguel Pedro Victor Brandão, Analu Cunha, Efrain Almeida, Daniel Steegmann, Marcelo Cidade, and Jorge Soledar. As well as this exhibition model, which featured throughout Seiler’s directorship, annual performances and concerts (Happenings and In Drama) were also held to foster interchange between the visual arts and other art forms, materializing a new role for this distinguished building as a key contemporary art venue in this city. Although this administration ended in 2014, the new team have chosen to maintain the exhibitions already scheduled for 2015: Tombo by Rodrigo Braga, and two installations yet to be produced by artists Barrão and Angelo Venosa. 10 WHY CASA FRANÇA-BRASIL? Fundação Casa França-Brasil was created from the convergence of three distinct cultural projects. The first was the establishment of 16 new cultural centers in different parts of the state of Rio de Janeiro. Inepac, the state cultural heritage institute, identified historic houses and buildings in need of restoration and adapted them for cultural activities. The second project was to create a cultural corridor in downtown Rio de Janeiro. It would begin at Museu de Arte Moderna, continue through Cinelândia and Praça 15, and end at Casa França-Brasil. Finally, there was a political cooperation project between France and Brazil. On the other side of the Atlantic, the French minister for culture, Jack Lang, who crafted the project together with Darcy Ribeiro, believed it was important for France to forge ties with countries from Latin America and Africa. In the minutes of meetings held in 1989 to define the strategy for Casa França-Brasil, it was agreed that its activities would be determined jointly by the Brazilian and French governments, the Rio de Janeiro state government, and private businesses. On July 4, 1985, a memorandum of understanding for the restoration of the building to host Fundação Casa FrançaBrasil was signed in its future premises. Representatives of all the authorities involved were present, and the lieutenant governor and state secretary for culture of Rio de Janeiro, anthropologist Darcy Ribeiro, gave a speech. Designed in 1819 by Grandjean de Montigny, a member of the French Artistic Mission, and first used as a trade exchange, the building was restored through a public-private partnership involving the federal and state governments and Rhodia S.A. via the Roberto Marinho Foundation. The museographical project devised by Frenchman Pierre Catel and financed by the French Ministry of Culture envisaged an empty central hall for events, a place for a permanent exhibition of historical artefacts, and rooms with video terminals linked to computers, with information on the history of France and Brazil and a direct link-up to Centre national d’art et de culture Georges CINEMA Pompidou in Paris. This hi-tech project, reported the media at the time as a “cyber museum,” never fully came to fruition. Casa França-Brasil was inaugurated on March 29, 1990, with the exhibition, Par-delà et Par-deçà, promoted by the French government. It demonstrated the historical and cultural ties between France and Brazil from the sixteenth to nineteenth centuries with reproductions of documents and images. From 1990 to 2008, CFB’s programming was quite eclectic. There were exhibitions of Brazilian and foreign artists, exhibitions about folk culture, and salons for antiquarians and stamp collectors. The report on the foundation’s first year of activity in 1990 refers to a shortage of funds and employees and the lack of a clear direction for its activities. The recurrence of exhibitions of photographs and prints are also indicative of funding restrictions, and do not correspond to the initial plans drawn up in the preparatory meetings or the news published in the media, especially during the four years when the building was being restored. In 2008, Casa França-Brasil’s mission was completely overhauled and its activities were directed towards making it a unique exhibition and event space for contemporary art. Although it was originally the fruit of French and Brazilian cooperation, Casa França-Brasil now has no institutional ties with France. TAMAR GUIMARÃES MANON DE BOER WENDELIEN VAN OLDENBORGH Foto 7 / Photo 7 coverage in the local press. As well as the objects and altars, five exhibitions of photographs documented religious meetings and societies of people of African descent. Four years after Art and Religious Expression, another touring exhibition also curated by Emanoel Araújo was brought to Casa França-Brasil. Black in Body and Soul was part of the Rediscovery Exhibition held at six museums and cultural venues in Rio de Janeiro between October 9, 2000 and January 14, 2001. 15 – 27 agosto TAMAR GUIMARÃES Canoas, 2010 August 15 – 27 TAMAR GUIMARÃES Canoas, 2010 filme 16 mm transferido para digital, cor, som, 13’ 30’’ edição de 7+1 PA Cortesia da artista e Galeria Fortes Vilaça, São Paulo 16 mm filmtransferred to digital, color, sound, 13’ 30’’ limited edition of 7+1 artist’s proof Courtesy of the artist and Galeria Fortes Vilaça, São Paulo Em Canoas, Guimarães encena um coquetel na icônica casa modernista de Oscar Niemeyer, a Casa das Canoas, que ele projetou para si no Rio de Janeiro, na década de 1950. Em meio à aparente frivolidade burguesa da festa e enquanto são servidos por criados e garçons, os convidados discutem o passado do Brasil no que se refere às contradições entre a arquitetura moderna e o projeto social modernista, o trauma da ditadura política e do exílio e as distinções de classe e de raça, mas também a presença de um desejo erótico pelo outro. In Canoas, Guimarães stages a cocktail party at Oscar Niemeyer’s iconic modernist house, Casa das Canoas, which he designed for himself in Rio de Janeiro in the 1950s. Within the apparently bourgeois frivolity of the party, and while being served by servants and waiters, the guests discuss Brazil’s past in terms of the contradictions between modern architecture and the modern social project, the trauma of political dictatorship and exile, and the disparities of class and race, but also the presence of an erotic desire for the other. Tamar Guimarães nasceu em Belo Horizonte em 1967, mora e trabalha em Copenhague. Tamar Guimarães was born in Belo Horizonte in 1967. She lives and works in Copenhagen. Foto 9 / Photo 9 Foto 8 / Photo 8 28 agosto – 9 setembro MANON DE BOER Superfícies vibráteis, 2005 August 28 – September 9 MANON DE BOER Resonating Surfaces, 2005 filme 16 mm transferido para vídeo, cores, 4:3, dolby surround, áudio em francês e português, legenda em português, 38’ Cortesia da artista e Jan Mot, Bruxelas / Cidade do México 16 mm film transferred to video, color, 4:3, Dolby Surround, French and Portuguese spoken, Portuguese subtitles, 38’ Courtesy of the artist and Jan Mot, Brussels / Mexico City Superfícies vibráteis dá voz às memórias pessoais da psicanalista brasileira Suely Rolnik, que, nos anos de 1960, partiu em exílio para Paris por conta da ditadura brasileira e lá estudou com os filósofos franceses Félix Guattari e Gilles Deleuze na década seguinte. O filme é um retrato de Rolnik e de uma atitude em relação à vida e é entrelaçado por diferentes temas: a relação com a diversidade, a conexão entre voz, corpo e poder e, em última instância, a micropolítica do desejo e da resistência. Resonating Surfaces gives voice to the personal memories of Brazilian psychoanalyst Suely Rolnik, who, because of the Brazilian dictatorship, took exile in Paris in the 1960s, where she studied under French philosophers Félix Guattari and Gilles Deleuzethe following decade. The film is a portrayal of Rolnik and of an attitude towards life, and is woven through by different themes: the relation to otherness, the connection between voice, body, and power, and ultimately the micropolitics of desire and resistance. Manon de Boer nasceu na Índia em 1966 e mora e trabalha em Bruxelas. Manon de Boer was born in India in 1966. She lives and works in Brussels. 10 – 20 setembro WENDELIEN VAN OLDENBORGH Bete & Deise, 2012 September 10 – 20 WENDELIEN VAN OLDENBORGH Bete & Deise, 2012 vídeo HD, 41’ Coprodução com If I Can’t Dance, I Don’t Want To Be Part Of Your Revolution (Amsterdã)e Wilfried Lentz Rotterdam. Apoio: Fundação Mondriaan e Programa Cultura da União Europeia HD video, 41’ Co-produced by If I Can’t Dance, I Don’t Want To Be Part Of Your Revolution (Amsterdam), and Wilfried Lentz Rotterdam. With the support of the Mondriaan Foundation and the Culture Programme of the European Union Bete & Deise apresenta um encontro entre duas mulheres num canteiro de obras, no Rio de Janeiro. A atriz Bete Mendes e a cantora de baile funk Deise Tigrona já deram sentido – cada uma à sua maneira – à ideia de voz pública. Juntas, elas falam do uso de suas vozes e posições na esfera pública, permitindo que as contradições que trazem internamente venham à tona. Ao utilizar uma montagem que combina de modo sugestivo as vozes das duas mulheres com suas imagens, Van Oldenborgh nos confronta com reflexões sobre a relação entre produção cultural e política e o poder que pode ser gerado quando questões públicas se entrelaçam com o pessoal. Wendelien van Oldenborgh nasceu em 1962 e mora em Roterdã. Bete & Deise stages an encounter between two women in a building site in Rio de Janeiro. Actress Bete Mendes and baile funk singer Deise Tigrona have – each in their own way – given meaning to the idea of the public voice. Together, these women talk about the use of their voice and their position in the public sphere, allowing the contradictions they each carry within themselves to surface. Through a montage that evocatively combines the voices of the women with their images, Van Oldenborgh confronts us with considerations on the relation between cultural production and politics, and the potential power that is generated when public issues intersect with the personal. Wendelien van Oldenborgh was born in 1962. She lives in Rotterdam. GUILHERME WISNIK Cadê Amarildo Com um passado colonial ainda não inteiramente superado, e uma prática política e social “patrimonialista”, o Brasil não desenvolveu, até hoje, uma esfera pública propriamente sólida e identificável. Por isso não desenvolveu também uma tradição de Arte Pública consistente, a não ser como prática marginal a todo sentido de oficialidade carreada pela noção de espaço público. Exatamente por isso, o trabalho de Arte Pública mais contundente feito no Brasil até hoje não é uma escultura em espaço urbano, e sim uma ação de grafitti móvel sobre objetos próprios ao universo do consumo. Refiro-me ao trabalho Inserções em circuitos ideológicos (1970), de Cildo Meireles, que consiste na gravação de informações subversivas sobre objetos em circulação: notas de dinheiro e vasilhames de Coca-Cola que são preenchidos novamente e voltam ao circuito do consumo. Como em um ready-made às avessas, o trabalho do artista é assim encontrado anonimamente pela população em sua vida cotidiana, fora do circuito especializado da arte. Quer dizer, em um país com fraca tradição pública, a dimensão pública mais verdadeira de um trabalho de arte aparece menos na fisicalidade positivadora de esculturas em parques e praças, e mais no sistema de circulação comercial de produtos, colocando criticamente a dimensão pública em uma espécie de curto-circuito. Mas de que maneira essa reflexão se relaciona às transformações recentes na cidade do Rio de Janeiro com vistas à sua preparação para abrigar os Jogos Olímpicos de 2016? Basicamente, me parece que o conjunto de obras urbanas atuais reforça em grande medida essa mesma relação. É verdade que com a grande quantidade de obras em sua malha urbana o Rio recuperou um dinamismo econômico que já não tinha desde que deixou de ser a capital do país, em 1960. É verdade também que essas obras vêm em geral associadas a uma diminuição expressiva da violência nos últimos anos, atestando o aparente sucesso da política de pacificação das favelas posto em prática pelo governo do estado. As chamadas UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) consistem na ocupação comunitária de áreas antes controladas por grupos ligados ao tráfico de drogas e ao crime organizado. Com isso a cidade do Rio de Janeiro vêm conseguindo reverter a imagem negativa de violência endêmica a que ficou associada, tal como vemos no romance e no filme Cidade de Deus, de 1997 e 2002, respectivamente. Ocorre, porém, que a enorme urgência e escala das obras em questão parece ser um atestado de salvo conduto para a falta de transparência pública das mesmas, marcada pela GUILHERME WISNIK Invisible city IN BRAZIL, PUBLIC SPACE IS HARD TO FIND The nation’s lingering colonial past, in combination with its patrimonial social and political system, has prevented the development of a solid and identifiable public sphere. Private-property ownership remains the prevailing model, with few genuinely collective spaces integrated into Brazilian urban design, while the persistence of a business-as-usual politics of power and influence has tended, at least until recently, to suppress genuine public discourse and discourage grassroots activism. Not surprisingly, then, Brazil also lacks a cohesive tradition of public art. And for this very reason, the most important work of public art ever produced in Brazil is not a sculpture in an urban space but what the artist called a kind of “mobile graffiti” applied to objects borrowed from the universe of consumerism: Cildo Meireles’s Inserções em circuitos ideológicos (Insertions into Ideological Circuits), 1970, which consists of subversive messages inscribed on circulating banknotes and mass-produced goods, such as glass Coca-Cola bottles (the latter were modified by the artist before being redeemed for their deposit, refilled, and redistributed). Like readymades in reverse, these pieces were anonymously discovered by members of the public over the course of their daily lives rather than encountered within the specialized domain of art. Meireles’s practice suggests that in a country with such a weak tradition of public engagement, a work of art achieves something like a true public dimension not through the insistent physicality of monuments in parks and city squares but through ephemeral effects — critical interventions that might short-circuit economic and governmental systems and thereby forge new, different, and more powerful modes of urban experience and social interaction. But where does such ideological critique stand today, as Brazil’s cities are undergoing profound physical transformation — and none more so than Rio de Janeiro, which is gearing up for the World Cup this summer and for the Olympics in 2016? Rio lost much of its postwar economic dynamism in 1960, when it ceased to be the country’s capital, and has been plagued by sprawling slums and increasing violence ever since. In preparation for hosting these mega-events, the city has recently undertaken a series of major infrastructure and urbandevelopment projects aimed at regaining economic momentum and improving its beleaguered reputation. The city will need to significantly reduce violence for these projects to succeed — some are in fact being built on sites of cleared slums and have been brandished by developers and politicians as proof of the success of the favela- ausência de concursos de projeto, pela falta de consulta à sociedade, e pela pouca divulgação do que se fará ou se está fazendo agora. Tal falta de transparência, no entanto, parece poder ser compensada por uma simpatia tácita a obras icônicas e com grande apelo de marketing. É o caso tanto do chamado “Porto Maravilha” quanto do Teleférico no Complexo do Alemão, dois pilares importantes da imagem do novo Rio urbano. O primeiro, é o nome dado à região portuária da cidade, que através da conversão de edifícios industriais em novos usos ligados à cultura e aos negócios pretende restabelecer uma conexão entre centralidade urbana, turismo e paisagem, na forma de uma imagem pregnante. O segundo, é um complexo de favelas na zona norte da cidade, que em 2010 sediou uma verdadeira guerra entre a polícia militar e facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Hoje, após receber um imponente teleférico que permite a ligação entre os diversos morros ocupados por favelas, inspirado no exemplo bem sucedido de Medellín (Colômbia), o Complexo do Alemão já pacificado virou um dos novos cartões postais da cidade. Com efeito, a imagem de uma cidade pacificada e consensualmente unida em torno dos benefícios urbanos e sociais dessas obras não passa de uma quimera. Como epítome das cidades brasileiras hoje, o Rio de Janeiro talvez seja uma bomba relógio prestes a explodir durante os megaeventos esportivos dos próximos anos. Manifestações contundentes de oposição popular a alguns dos pilares dessa política de marketing urbano apareceram, por exemplo, na reação dos moradores da Favela da Rocinha – a maior da cidade – à construção, ali, de um teleférico equivalente ao do Alemão. “Saneamento sim, teleférico não”, foi o lema do movimento, ecoando uma consciência lúcida sobre o verdadeiro direito à cidade que veio à tona com as impressionantes manifestações de junho de 2013 a favor do transporte público de qualidade, e que se espraiaram para uma série de outras contestações sociais. Outro fato recente de grande relevância foi o caso de Amarildo Dias de Souza, um ajudante de pedreiro que desapareceu durante uma ação da UPP em julho de 2013. Tudo leva a crer que Amarildo tenha sido morto pela polícia, o que desacreditou em grande medida a imagem das UPPs, e provocou grande comoção social. Sintomaticamente, o artista Cildo Meireles, por ocasião desse fato, atualizou o seu trabalho de 43 anos antes, e passou a carimbar em notas de dinheiro as seguintes perguntas: “Cadê Amarildo?”, e “O que aconteceu com Amarildo?”. Enquanto isso, o prefeito Eduardo Paes transformava um segmento de viga metálica do Viaduto Perimetral, demolido nas obras do Porto Maravilha, em escultura minimalista posta no jardim da sua casa. Como se vê, o imbricamento entre as práticas patrimonialistas e a incompreensão da esfera pública continuam vigorando no Brasil de hoje. Texto publicado originalmente em inglês em: Artforum, Nova Iorque, maio de 2014, Vol. 52. No. 9, páginas 279-281. pacification plan undertaken by the state government. Under this initiative, so-called Unidades de Polícia Pacificadora or UPPs (Police Pacification Units) enable local communities to reclaim areas previously controlled by drug traffickers and organized crime. If Rio has long been characterized by endemic violence — as famously depicted in Paulo Lins’s 1997 novel Cidade de Deus (City of God) and the graphic images of urban decay and gang warfare in the 2002 film adaptation — the new plan is helping the city slowly overcome such associations. But as welcome as a steady decrease in crime may be, reclaiming and redeveloping urban territory is not necessarily the same thing as establishing an active public sphere. Indeed, however such projects may be labeled, their execution reveals them to be far from public. All too often, their speed of construction and monumental scale are a distraction from their lack of transparency. They have not been commissioned through open competition: Little information about them has been made available, and, partly as a consequence, there has been no surrounding public dialogue. This is the case with the so-called Porto Maravilha and the Teleférico, two pillars of Rio’s urban makeover. The first is a sweeping transformation of the city’s port area, where industrial buildings have given way to cultural and business centers in an attempt to reestablish the connection between the city center, tourism, and the city’s distinctive shoreline. The second is a major infrastructural addition to the Complexo do Alemão, a group of favelas on the north side of the city where a sustained war broke out between police and drug traffickers in 2010. Because the favelas are cut off from public transportation networks, with no train and little bus service, those who live there are profoundly isolated even though they are not geographically distant from much more affluent neighborhoods. This sad irony, common to so many cities, is particularly apparent in Rio, thanks to the city’s mountainous topography. While slums are often pushed to the periphery, Rio’s favelas are distributed throughout the city, dotted along the many hills that are too steep to be desirable for other development. Inspired by the successful example of a similar project in Medellín, Colombia, a massive gondola lift was built to connect the Complexo do Alemão to one of Rio’s main train lines — a strange, if also ruthlessly efficient and highly cost-effective, attempt to solve the neighborhood’s transportation problems. For neighborhood residents working elsewhere in the city, what was previously an arduous and dangerous commute on foot is now a gondola ride of some twenty minutes. Today, the peaceful Complexo do Alemão has become one of the city’s new postcard images. Yet the picture of a calm and quiet city united around the urban and social benefits of these public works is but a will-o’-the-wisp. Despite being held up as a symbol of the regeneration of Brazilian cities, Rio could well be a time bomb set to explode during the World Cup or Olympics. The Brazilian public itself clearly remains unconvinced by this semblance of transformation, perhaps even finding its voice in opposition to the city’s urban-marketing campaign. In June 2013, for instance, residents of Favela da Rocinha, the city’s largest slum, opposed the construction of a gondola lift similar to the one in Alemão. “Sanitation yes, gondola no” was the slogan of the movement. The protesters voiced a lucid awareness of the fact that such iconic infrastructural projects do more than simply offer a link to surrounding neighborhoods; they also grant the city a tangible boost to its image, while basic services such as trash removal remain almost nonexistent, even though they have a far greater effect on living conditions. Indeed, by literally lifting favela inhabitants out of their neighborhoods without addressing underlying social issues, the gondola projects imply that—at least in the government’s view—these residents do not have the same right to the city enjoyed by those who live in less blighted areas. The Rocinha movement echoed the massive, citywide protests that erupted that same month in response to the escalating cost of public transportation and soon expanded to embrace other social demands, including more government transparency and reduced corruption. At the same time, favela residents expressed growing displeasure with the de facto occupation of their neighborhoods by government forces. In July 2013, a mason’s assistant named Amarildo Dias de Souza disappeared during a sweep by a UPP. All available evidence seems to indicate that he was killed by the police, which has largely discredited the UPPs and sparked further unrest. In response, Meireles updated his forty-four-year-old project and began passing out banknotes stamped with the questions WHERE IS AMARILDO? and WHAT HAPPENED TO AMARILDO? If Meireles’s original work — produced during the most repressive years of Brazil’s military dictatorship —perhaps inevitably met with limited public response, his latest intervention may find a broader resonance within the genuine public sphere that seems to be emerging in the face of the current government’s attempts to co-opt the future of Brazil’s cities. Meanwhile, Mayor Eduardo Paes has used a metal beam from the Perimetral — a highway overpass demolished during the construction of Porto Maravilha —to make a minimalist sculpture for the garden of his home. This surreal conversion of infrastructure into sculpture reminds us that Brazil’s patrimonial powers will always prefer architecture as sanitized image and art as inert monument, rendering acts like Meireles’s more urgent than ever. Guilherme Wisnik is a professor of architecture and urbanism at Universidade de São Paulo. Translated from Portuguese by Wendy Gosselin. Text originally published in: Artforum, New York, May 2014, Vol. 52. No. 9, pp 279–281. © Artforum, May 2014, “Invisible City,” by Guilherme Wisnik. FOTOS / PHOTOS FOTO 1 / PHOTO 1 Alfredo Jaar Cultura = Capital, 2011-2015 Cortesia do artista, Nova York e da Galeria Luisa Strina, São Paulo Courtesy of the artist, New York, and Galeria Luisa Strina, São Paulo FOTO 2 / PHOTO 2 Cildo Meireles Inserções em circuitos ideológicos 2 – Projeto Cédula – O que aconteceu com Amarildo?, Insertions into Ideological Circuits 2 – Banknote Project – What happened to Amarildo?, 1970-2013 FOTO 3 / PHOTO 3 Beto Schwafaty Still de vídeo que integra o projeto Remediações, 2010-2014 Still from a vídeo from the Remediations project, 2010-2014 FOTO 4 / PHOTO 4 Vestígios do II Tribunal do Júri (Justiça Civil do Rio de Janeiro), que funcionou entre 1956 e 1978, no edifício que hoje é conhecido como Casa França-Brasil; imagem de 13 de setembro de 1985 Arquivo Casa França-Brasil foto: Otavio Magalhães (Agência O Globo) Remains of the 2nd Law Court (Civil Justice System, Rio de Janeiro), which operated between 1956 and 1978 in the building that is now Casa França-Brasil; photo from September 13, 1985 Casa França-Brasil archive photo: Otavio Magalhães (Agência O Globo) Installation of the exhibition, French Artistic Mission and Travelling Painters: France and Brazil in the nineteenth century, curated by Jean Boghici; photograph from 1990. Casa Franca-Brasil archives. photo: Francisco da Costa. GOVERNO DO RIO DE JANEIRO / RIO DE JANEIRO GOVERNMENT FOTO 7 / PHOTO 7 Tamar Guimarães Still do filme Canoas, 2010 Cortesia da artista e Galeria Fortes Vilaça, São Paulo Still from the movie Canoas, 2010 Courtesy of the artist and Galeria Fortes Vilaça, São Paulo SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA / RIO DE JANEIRO STATE CULTURE SECRETARIAT VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO / VICE-CHAIRMAN OF THE BOARD Fabio Szwarcwald SECRETÁRIA DE ESTADO DE CULTURA / STATE SECRETARY OF CULTURE Eva Doris Rosental DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO / ADMINISTRATIVE AND FINANCIAL DIRECTOR Artur E. P. Miranda SUBSECRETÁRIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / UNDERSECRETARY OF INSTITUTIONAL AFFAIRS Olga Maria Esteves Campista GERENTE DE PROJETOS E EVENTOS / PROJECT AND EVENT MANAGER Marcus Wagner FOTO 8 / PHOTO 8 Manon de Boer Still do filme Superfícies Vibráteis, 2005 Cortesia da artista e Jan Mot, Bruxelas / Cidade do México Still from the movie Resonating surfaces, 2005 Courtesy of the artist and Jan Mot, Brussels / Mexico City FOTO 9 / PHOTO 9 Still do filme Bete & Deise, 2012 Coprodução com If I Can’t Dance, I Don’t Want To Be Part Of Your Revolution (Amsterdã) e Wilfried Lentz Rotterdam Apoio: Fundação Mondriaan e Programa Cultura da União Europeia Still from the movie Bete & Deise, 2012 Co-produced by If I Can’t Dance, I Don’t Want To Be Part Of Your Revolution (Amsterdam), and Wilfried Lentz Rotterdam With the support of the Mondriaan Foundation and the Culture Programme of the European Union GOVERNADOR / GOVERNOR Luiz Fernando Pezão VICE-GOVERNADOR / LIEUTENANT GOVERNOR Francisco Dornelles SUBSECRETÁRIO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO / UNDERSECRETARY OF PLANNING AND MANAGEMENT José Elano de Assis Júnior EXPOSIÇÃO / EXHIBITION CONVERSA / TALK Presidente / President Marcio Botner CURADORIA / CURATOR Pablo León de la Barra PRESIDENTE DO CONSELHO / CHAIRMAN OF THE BOARD Paulo Albert Weyland Vieira COCURADORIA E PESQUISA DO ARQUIVO 25 ANOS / CO-CURATOR AND RESEARCHER FOR 25 YEAR ARCHIVE Natália Quinderé CFB: Perspectivas históricas e projeções futuras / Historical perspectives and future projections Domingo, 20 de setembro, às 16h Sunday, September 20, 4 p.m. GERENTE ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO / ADMINISTRATIVE AND FINANCIAL MANAGER Rosana Ribeiro CASA FRANÇA-BRASIL ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION ADVISOR Rachel Korman COORDENADORA-GERAL / GENERAL COORDINATOR Jeanine Toledo ASSESSORIA DE IMPRENSA / PRESS RELATIONS CWeA Comunicação DESIGN GRÁFICO / GRAPHIC DESIGNER Studio Manuel Raeder (Manuel Raeder, Miglė Kazlauskaitė) COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION Gisela Ramos Natassja Menezes FOTOGRAFIA / PHOTOGRAPH Pedro Agilson REVISÃO DE TEXTO / PROOFREADING Rosalina Gouveia TRADUÇÃO / TRANSLATOR Rebecca Atkinson LEGENDAGEM SUPERFÍCIES VIBRÁTEIS / SUBTITLING RESONATING SURFACES BVaz Idiomas PRODUÇÃO / PRODUCTION Lívia Ferraz SINALIZAÇÃO / SIGNAGE Profisinal GERENTE ADMINISTRATIVO, PATRIMÔNIO, SERVIÇOS GERAIS / ADMINISTRATIVE AND HERITAGE MANAGEMENT, GENERAL SERVICES Marcos Braga IMPRESSÃO / PRINTING Sidnei Balbino ADMINISTRAÇÃO / ADMINISTRATION Fabiana Oliveira Selma Fraiman FOTO 5 / PHOTO 5 Vista interna do edifício, antes de sua restauração; imagem de 10 de setembro de 1985 Arquivo Casa França-Brasil foto: Agência O Globo MANUTENÇÃO / MAINTENANCE TEAM José Rosa Pires Valdeci Costa Lima Victor Ferreira Marcelo Gonçalves Inside of the building before its restoration; photo from September 10, 1985 Casa França-Brasil archive photo: Agência O Globo PROGRAMA EDUCATIVO – COORDENADORA DE FORMAÇÃO E PESQUISA / EDUCATION PROGRAM – RESEARCH AND TRAINING COORDINATOR Cristina de Pádula FOTO 6 / PHOTO 6 Montagem da exposição “Missão artística francesa e os pintores viajantes: França-Brasil no século XIX”, com curadoria de Jean Boghici. Imagem de 1990. Arquivo Casa Franca-Brasil. foto: Francisco da Costa OCA LAGE IMPRESSÃO BANNERS / PRINTING OF EXHIBITION POSTERS Multispace MONTAGEM / EXHIBITION ASSEMBLY Rogério Silva Victor Monteiro NEON / NEON Neon Visual AGRADECIMENTO / ACKNOWLEDGEMENTS Artforum Frederico Morais Galeria Fortes Vilaça Galeria Jan Mot Galeria Luisa Strina If I Can’t Dance, I Don’t Want To Be Part Of Your Revolution Lisette Lagnado Roberto Tavares, Simone Tomé, Tina Velho Studio Alfredo Jaar Suely Rolnik VISITAÇÃO / VISITING HOURS 15 de agosto a 20 de setembro de 2015 Terça a domingo, das 10 às 20 h August 15 – September 20 Tuesdays – Sundays, 10 a.m. – 8 p.m. Rua Visconde de Itaboraí, 78 – Centro 20010-060 – Rio de Janeiro Tel. [21] 2332-5120 www.casafrancabrasil.rj.gov.br Entrada franca / Free admission CINEMA TAMAR GUIMARÃES MANON DE BOER WENDELIEN VAN OLDENBORGH design gráfico /graphic design: Studio Manuel Raeder JARDIM DE INVERNO: ARQUIVO 25 ANOS WINTER GARDEN: 25 YEAR ARCHIVE www.casafrancabrasil.rj.gov.br BETO SHWAFATY Remediações Remediations CONVERSA TALK CFB: Perspectivas históricas e projeções futuras / Historical perspectives and future projections Domingo, 20 de setembro, às 16h Sunday, September 20, 4 p.m. CI LDO M E I R E LE S Cédulas Banknotes ALFREDO JA AR Cultura = Capital Culture = Capital