Lista alfabética de verbetes acento de valor s. m. Bakhtin Outras denominações: dimensão axiológica, posição avaliativa, valoração. Definição: tratamento avaliativo que constitui todo enunciado. Fonte da definição: BAK95b. Nota explicativa: O acento de valor (apreciativo, avaliativo) acompanha toda forma de enunciação, sendo uma condição para sua existência. Por isso, para uma dada unidade da língua tornar-se enunciado, ela deve receber um tratamento avaliativo, que acontece quando um locutor na relação com o outro toma atitude responsiva frente a uma realidade específica. Logo, todo enunciado compreende uma orientação valorativa que permite a criação de variados sentidos a um mesmo segmento linguístico. Há, assim, uma reavaliação, um deslocamento de uma palavra determinada de um contexto para outro, marcando sua apreciação social e evolução histórica. A materialização dos acentos valorativos impressos nos enunciados pode ser observada pela entonação (entoação) expressiva (como tom amistoso, autoritário, irônico, professoral, demagógico, científico) inscrita em diferentes situações de comunicação discursiva, fazendo os temas variarem. A expressividade do enunciado, situada na fronteira entre o verbal e o não-verbal, o dito e o não-dito, é uma resposta que faz emergir a relação do locutor não só com o próprio objeto do discurso, mas também com os enunciados do outro sobre o mesmo objeto, o que reflete a dialogicidade constitutiva (entre discursos e sujeitos) e a sua dimensão social. Enunciar, dessa forma, é atribuir valor ao que se diz e aos outros dizeres, é se posicionar ideologicamente em relação ao outro. Pela mudança de acento de valor da palavra, podemos observar a pluriacentuação do enunciado, as possibilidades de sentido, sua irrepetibilidade. Nesse contexto, toda palavra utilizada em uma dada interação possui expressividade, valoração, constituindo-se como enun- | 45 | | Lista alfabética de verbetes ciado, cuja dimensão axiológica expressa juízo de valor e posições ideológicas de sujeitos do discurso. Fonte da nota: BAK95b: 107, 132, 134-135; BAK03E; VOL81B. Leitura recomendada: BAK95b; BAK03E; DIF04; PON08. Termos relacionados: enunciação (2), signo ideológico, tema. actante da narração s. m. Greimas V. actante do enunciado actante do enunciado s. m. Greimas Outras denominações: actante da narração Definição: posição narrativa que compreende o ele, indicadora daquele que realiza ou sofre uma ação, independentemente de qualquer outra determinação semântica. Fonte da definição: GRE79a: 3. Nota explicativa: O conceito de actante do enunciado substitui, na Semiótica francesa, o de personagem, porque, de um lado, ele engloba não somente seres humanos, mas também animais, objetos ou conceitos; de outro, é anterior aos investimentos semânticos que constroem as personagens. Fonte da nota: GRE79a: 3-4. Leitura recomendada: BAR02b: 28-43; BER03: 287-303; FIO05: 27-41; GRE08. Termos relacionados: actantes da enunciação, enunciador (5), enunciatário. actantes da comunicação s. m. Greimas V. actantes da enunciação actantes da enunciação s. m. Greimas Outras denominações: actantes da comunicação Definição: parceiros do ato enunciativo que compreende o eu e o tu. Fonte da definição: GRE79a: 3. Nota explicativa: Os actantes da enunciação aparecem em três níveis distintos: 1) o autor e o leitor implícitos, que são pressupostos pela própria existência do enunciado, chamados enunciador e enunciatário; 2) aquele que narra e aquele para quem se narra, que estão projetados no interior do enunciado, denominados narrador e narratário; 3) as personagens que dialogam entre si no interior do texto, nomeados de interlocutor e interlocutário. Fonte da nota: FIO04a. Leitura recomendada: FIO96: 59-72; GRE79a: 3-4; GRE08. Termos relacionados: enunciador (5), enunciatário, interlocutor. | 46 | Definição: procedimento de instituição dos atores do discurso. Fonte da definição: GRE79a: 8-9. Nota explicativa: A actorialização é um dos componentes da discursivização. É o procedimento pelo qual se instituem os atores do discurso, seja os da enunciação (aquele que fala ou aquele para quem se fala), seja os do enunciado (aqueles de quem se fala). Fonte da nota: FIO96: 117-118. Leitura recomendada: FIO96: 59-126; GRE79a: 8-9; GRE08. Termos relacionados: aspectualização, ator da enunciação, discursivização. agenciamento s. m. Benveniste Definição: processo de organização sintagmática pelo sujeito. Fonte da definição: EBE06. Nota explicativa: Através do agenciamento, o sujeito organiza as formas da língua para transmitir a ideia a ser expressa em seu enunciado. Nota terminológica: agenciamento é um termo dentro da teoria benvenistiana que necessita de atenção por parte do leitor brasileiro. Revendo algumas ocorrências, no texto em francês, de agencement e de agencer e suas formas derivadas, assim como as de agenciamento e do verbo agenciar, no texto traduzido em português, e fazendo um cotejamento entre tais ocorrências, constata-se que o verbo original agencer resulta em quatros formas na tradução: agenciar, arrumar, arranjar e organizar. Ocorre que, quando se traduz agencement por agenciamento, deixa-se de usar um sinônimo natural de organização e se institui um novo termo, diferente da acepção da palavra original. Assim, acontece uma espécie de deslocamento conceitual que, pelo uso específico dentro da teoria, confere o estatuto de termo a agenciamento, isto é, um caráter único frente a todos outros usos que se possa fazer da palavra fora desse contexto. Observando alguns contextos em que aparece o vocábulo agencement, percebe-se que Benveniste o utiliza em combinação com diversas outras unidades: agencement des mots, agencement syntagmatique, agencement des formes, agencement du langage, agencement de la langue, agencement d’un répertoire de termes, agencement de signes, agencement du système des classes sociales. Fonte da nota: BEN95: 230-233. Leitura recomendada: BEN89A. Termos relacionados: apropriação, referência, sintagmatização. alocutário (1) s. m. Ducrot Definição: aquele para quem as palavras do locutor são dirigidas. Fonte da definição: DUC80b; EDU06. | 47 | Lista alfabética de verbetes | actorialização s. f. Greimas | Lista alfabética de verbetes Nota explicativa: O termo alocutário (1) refere-se ao momento em que Ducrot vinculava seus estudos à Pragmática em 1980. Nessa época, postula, na noção genérica de interlocutor, a distinção entre os pares locutor/alocutário; enunciador/ destinatário. Exemplo: no enunciado “A ordem será mantida custe o que custar”, supostamente dita por um ministro de estado, em decorrência de desordens, realiza, segundo Ducrot, dois atos: o de promessa e o de ameaça. O locutor (inscrito no dizer do ministro) dirige-se ao alocutário (representado pelo povo em geral), produzindo os atos de promessa e de ameaça, respectivamente dirigidos a dois destinatários distintos: bons cidadãos e desordeiros. Fonte da nota: DUC80b; EDU06. Termos relacionados: destinatário (1), interlocutor (1), locutor (2). alocutário (2) s. m. Ducrot Definição: aquele que é linguisticamente representado no enunciado como alvo da enunciação. Fonte da definição: DUC87B; DUC88; EDU06. Nota explicativa: O termo alocutário (2) refere-se ao momento em que Ducrot esboça a Teoria da Polifonia em 1984. Alocutário é um ser do discurso distinto do ser empírico (ouvinte). É indicado no enunciado como aquele a quem se dirige a enunciação. Por isso, o alocutário é intralinguístico como o locutor, e o ser empírico (falante ou ouvinte) é extralinguístico. Fonte da nota: DUC87B; DUC88; DUC95b; EDU06. Termos relacionados: enunciado (1), locutor, sujeito falante (2). aparelho formal da enunciação s. m. Benveniste Definição: dispositivo que permite ao locutor transformar a língua em discurso. Fonte da definição: EBE06. Nota explicativa: Ao apropriar-se do aparelho formal da enunciação, o locutor produz uma referência única e irrepetível, permitindo a semantização da língua. Tal movimento faz emergir os índices de pessoa (a relação eu-tu), os índices de ostensão (este, aqui) e as formas temporais, produzidas na e pela enunciação. Não se pode deixar de acrescentar que a noção de aparelho é recorrente e não sem ambiguidades na teoria benvenistiana. Embora o autor lhe tenha dedicado um texto especial, O aparelho formal da enunciação, de 1970, muitas são as ocorrências do termo no conjunto da obra. Assim, Benveniste, ao fazer a distinção entre a enunciação histórica e a enunciação de discurso, em As relações de tempo no verbo francês, texto de 1959, considera que “o historiador não dirá jamais eu nem tu nem aqui nem agora, porque não tomará jamais o aparelho formal do discurso que consiste em primeiro lugar na relação de pessoa eu: tu” (grifo nosso) (BEN95: 262). | 48 | apropriação s. f. Benveniste Definição: processo de uso da língua pelo sujeito por meio de sua enunciação. Fonte da definição: BEN89: 84; BEN95: 281, 288. Nota explicativa: Benveniste ressalta que o processo de apropriação ocorre com a tomada, por inteiro, da língua. É o estabelecimento pelo sujeito de relações com as formas da língua, de modo a selecionar aquelas que forem compatíveis com a ideia a ser expressa. Cabe lembrar, porém, que o termo apropriação, a exemplo de muitos outros utilizados por Benveniste, pode receber nuances de sentido muito importantes em função do tema ao qual o autor está se referindo. Assim, em Estruturalismo e linguística, entrevista a Pierre Daix em 1968, encontra-se a seguinte passagem: “A apropriação da linguagem pelo homem é a apropriação da linguagem pelo conjunto de dados que se considera que ela traduz, a apropriação da língua por todas as conquistas intelectuais que o manejo da língua permite. É algo de fundamental: o processo dinâmico da língua, que permite inventar novos conceitos e por conseguinte refazer a língua, sobre ela mesma de algum modo” (BEN89: 21) (grifo nosso). Ou ainda em A natureza dos pronomes: “os indicadores eu e tu não podem existir como signos virtuais, não existem a não ser na medida em que são atualizados na instância de discurso, em que marcam para cada uma das suas próprias instâncias o processo de apropriação pelo locutor” (BEN95: 281) (grifo nosso). Fonte da nota: BEN89: 84; BEN95: 281, 288. Leitura recomendada: BEN89C; BEN95A; BEN95B. Termos relacionados: atualização (2), língua (2), subjetividade. argumentação (1) s. f. Ducrot Definição: operação semântico-discursiva em que o sentido do enunciado é construído a partir de um segmento-argumento e um segmento-conclusão, mediados por um lugar-comum argumentativo. Fonte da definição: DUC88; DUC89b; EDU06. Nota explicativa: Essa definição de argumentação apoia-se na Teoria dos Topoi. Segundo essa teoria, a argumentação é construída pela relação entre os segmentos | 49 | Lista alfabética de verbetes | No próprio texto de 1970, é possível deduzir dos contextos de ocorrência do termo certa flutuação conceitual. Observe-se: “Os ‘tempos’ verbais cuja forma axial, o ‘presente’, coincide com o momento da enunciação, fazem parte deste aparelho necessário” (BEN95: 85) (grifo nosso); “Desde o momento em que o enunciador se serve da língua para influenciar de algum modo o comportamento do alocutário, ele dispõe para este fim de um aparelho de funções” (BEN95: 86) (grifo nosso). Fonte da nota: BEN95; BEN95; EBE06. Leitura recomendada: BEN89C. Termos relacionados: enunciação (4), língua (2), discurso (4). | Lista alfabética de verbetes argumento e conclusão e garantida por um princípio argumentativo, o topos, que estabelece a passagem de um segmento a outro. No exemplo “Pedro é inteligente, portanto é um bom aluno”, a passagem do argumento Pedro é inteligente para a conclusão é um bom aluno é mediada pelo seguinte princípio argumentativo (topos): os inteligentes são bons alunos. Fonte da nota: DUC88; DUC89b; EDU06. Termos relacionados: argumento, conclusão, topos. argumentação (2) s. f. Ducrot Definição: operação semântico-discursiva em que o sentido de uma entidade linguística é construído a partir da interdependência entre os dois segmentos do encadeamento argumentativo. Fonte da definição: CAR01; CAR02a; DUC02a; DUC02b; EDU06. Nota explicativa: Essa definição de argumentação apoia-se na Teoria dos Blocos Semânticos (versão mais recente da Teoria da Argumentação na Língua), pela qual argumentar consiste em construir sentido pela interdependência entre dois segmentos que compõem o encadeamento argumentativo. Nos encadeamentos “Pedro é rico: ele deve ser feliz” e “Pedro casou-se com Maria: ele deve ser feliz”, não se trata da mesma felicidade, já que, no primeiro encadeamento, há interdependência entre felicidade e riqueza e, no segundo, entre felicidade e amor. Fonte da nota: CAR01; CAR02a; DUC02a; DUC02b; EDU06. Termos relacionados: encadeamento argumentativo, segmento, Teoria dos Blocos Semânticos. argumentação externa s. f. Ducrot Definição: pluralidade de discursos que podem seguir uma entidade lexical. Fonte da definição: DUC02a; DUC02b; EDU06. Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão atualizada no discurso/enunciado. Nota explicativa 2: Uma entidade lexical é evocada de modo externo se essa entidade constitui um segmento do encadeamento argumentativo. Se uma entidade lexical, como, por exemplo, ter pressa é o primeiro segmento do encadeamento argumentativo, o aspecto está relacionado a ela de modo externo à direita, e são assinaladas as consequências de ter pressa: ter pressa DC (donc = portanto) agir rapidamente. Se a entidade lexical ter pressa é o segundo segmento do encadeamento, o aspecto está relacionado a ela de modo externo à esquerda: andar rapidamente DC (donc = portanto) ter pressa, em que é indicada a causa de ter pressa. Uma possibilidade de argumentação externa para a expressão ter pressa é ter pressa DC (donc = portanto) agir rapidamente. Nesse caso, a expressão ter pressa participa do encadeamento argumentativo. | 50 | argumentação interna s. f. Ducrot Definição: encadeamento argumentativo que parafraseia uma entidade lexical Fonte da definição: DUC02a; DUC02b. Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão atualizada no discurso/enunciado. Nota explicativa 2: Como a argumentação interna de uma entidade lexical é um encadeamento argumentativo que se constitui numa espécie de reformulação, essa entidade não é, ela própria, um segmento desse encadeamento. Ex.: a argumentação interna de prudente é perigo DC (donc = portanto) precaução, que não contém a entidade lexical prudente. Fonte da nota: CAR99; CAR02b; DUC02a; DUC02b; EDU06. Termos relacionados: argumentação externa, aspecto, encadeamento argumentativo. argumento s. m. Ducrot Definição: segmento do enunciado que orienta para uma conclusão. Fonte da definição: DUC89b; EDU06. Nota explicativa: O argumento é definido como um segmento que juntamente com o segmento conclusão constitui o sentido do enunciado. Essa concepção aparece desde a chamada versão Standard da Teoria da Argumentação na Língua até a versão denominada Teoria dos Topoi. No exemplo “Faz calor lá fora, vamos passear.”, temos um enunciado constituído por dois segmentos, sendo o primeiroFaz calor lá fora argumento para o segundo vamos passear. Note-se que o sentido de calor só pode ser apreendido na relação entre os dois segmentos. Assim, calor nesse enunciado é favorável ao passeio. Se tivéssemos Faz calor lá fora, não vamos passear, calor seria desfavorável a um passeio. Fonte da nota: DUC88; DUC89b; EDU06. Termos relacionados: argumentação (1), enunciado (3), sentido. articulador s. m. Ducrot Definição: entidade lexical cuja função é comparar as argumentações que constituem o sentido do segmento que a precede e do que a segue. Fonte da definição: DUC02a; DUC02b; EDU06. Nota explicativa 1: Entidade lexical é concebida aqui como palavra ou expressão atualizada no discurso/enunciado. Nota explicativa 2: Articuladores são entidades lexicais como e, porque e mas, utilizadas para relacionar e comparar enunciados e segmentos no discurso. Assim, | 51 | Lista alfabética de verbetes | Fonte da nota: CAR99; CAR02b; DUC02a; DUC02b; EDU06. Termos relacionados: argumentação interna, aspecto, encadeamento argumentativo. | Lista alfabética de verbetes por exemplo, diante do convite para uma caminhada, o discurso 1 faz bom tempo, mas eu estou cansado argumenta por uma recusa, enquanto o discurso 2 estou cansado, mas faz bom tempo argumenta por uma concordância. Em ambos os discursos, tem-se o mas articulando dois segmentos: o locutor de 1 afirma que os desagrados do cansaço são mais importantes do que os agrados do bom tempo, enquanto o locutor de 2 afirma, ao contrário, que o agrado do bom tempo prevalece. Fonte da nota: CAR01; DUC02a; DUC02b; EDU06. Termos relacionados: argumentação (1), conector, sentido (2). aspecto s. m. Ducrot Definição: classe de encadeamentos argumentativos de um mesmo bloco semântico. Fonte da definição: CAR98; DUC02a; DUC02b; EDU06. Nota explicativa: Um bloco semântico formado por estudar/ser aprovado, por exemplo, pode ser expresso no encadeamento argumentativo sob dois aspectos: o normativo com o conector do tipo geral de donc (= portanto), em que se tem “estudar DC (donc) aprovado”, e o transgressivo com o conector do tipo geral de pourtant (= no entanto), em que se tem “estudar PT (pourtant) não ser aprovado”. São considerados de aspecto normativo os encadeamentos (1) João estudou, portanto foi aprovado; (2) Se Pedro estudou, então será aprovado; (3) João foi aprovado porque estudou. Da mesma forma, são considerados de aspecto transgressivo os encadeamentos: (4) João estudou, mesmo assim não foi aprovado; (5) Embora tenha estudado, João não foi aprovado; (6) Ainda que tenha estudado, João não será aprovado. Fonte da nota: CAR98; DUC02a; DUC02b; EDU06. Leitura recomendada: CAR98. Termos relacionados: bloco semântico, encadeamento argumentativo, regra. aspectualização s. f. Greimas Definição: processo de estabelecimento de um ponto de vista a respeito das categorias de tempo, espaço e pessoa. Fonte da definição: GRE79a: 21. Nota explicativa: O aspecto sempre foi entendido pela Linguística como “um ponto de vista do sujeito sobre o processo”. Ele modula o conteúdo do predicado, ao considerar o processo, inscrito no tempo, como acabado (perfectivo) ou não acabado (imperfectivo), pontual ou durativo. A duratividade pode ser vista em sua continuidade ou descontinuidade (iterativo). Além disso, o processo que tem duração pode ser encarado em seu início (incoativo), em seu desenvolvimento (cursivo) ou em sua conclusão (terminativo). Ainda, a duração pode ser considerada quantitativamente (em horas, dias, meses, anos etc.) ou qualitativamente (rápida, | 52 | ativa compreensão responsiva s. f. Bakhtin V. compreensão (1) atividade linguística s. f. Ducrot Definição: conjunto de processos fisiológicos e psicológicos que tornam possível a produção da fala, pelo indivíduo, em um ponto particular do espaço e do tempo. Fonte da definição: DUC80a; EDU06. Nota explicativa: A noção de atividade linguística diz respeito ao conjunto de processos externos à linguagem que tornam possível a produção da fala por um sujeito falante em dada enunciação. Fonte da nota: DUC80a; EDU06. Termos relacionados: enunciação (5), enunciado (2), sujeito falante (2). ator da enunciação s. m. Greimas Definição: imagem dos parceiros do ato enunciativo dotada de características psíquicas e físicas e de um tom de voz. Fonte da definição: FIO04a. Nota explicativa: O conceito de ator da enunciação aproxima-se do éthos de retórica clássica. É uma imagem dos actantes da enunciação (enunciador/enunciatário; narrador/narratário) constituída de características psíquicas e físicas e de um tom de voz. O enunciador e o enunciatário são o autor e o leitor. Não são, porém, o autor e o leitor reais, de carne e osso, mas o autor e o leitor implícitos, ou seja, uma imagem do autor e do leitor construída pelo texto. Da mesma forma, a ima- | 53 | Lista alfabética de verbetes | lenta). A semiótica estende a noção de aspecto à espacialidade e à actorialidade. A aspectualidade do espaço concerne à distância (lugares acessíveis e inacessíveis), à extensão e aos limiares. Num dos dois poemas denominados Belo Belo, de Manuel Bandeira, o poeta diz: “Quero a solidão dos píncaros/ A água da fonte escondida/ A rosa que floresceu/ Sobre a escarpa inacessível”. Para mostrar que quer o que não pode ser, o poeta aspectualiza o espaço com a distância, a inacessibilidade. A aspectualidade do ator diz respeito à qualidade da realização. Assim, um gesto pode ser elegante ou desastrado, a voz pode ser segura ou hesitante, pode-se falar uma língua estrangeira com fluência ou dificuldade, uma atitude pode ser precipitada ou tomada no momento certo. O aspecto, em semiótica, é sempre uma qualificação do tempo, do espaço ou da pessoa. Quem estabelece esse ponto de vista sobre as categorias da enunciação é o observador. Fonte da nota: GRE79a: 21-22; GRE79b: 19-20. Leitura recomendada: FIO89; GRE08; SIL04. Termos relacionados: actorialização, espacialização, temporalização. | Lista alfabética de verbetes gem do narrador e a do narratário são depreendidas do texto. Quanto à diferença entre elas, pode-se dizer que, enquanto a imagem do narrador e a do narratário são apreendidas num texto singular, a do enunciador e a do enunciatário são captadas na totalidade da obra. Machado de Assis é o enunciador de Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro é seu narrador. A imagem deste é percebida no conjunto dessa obra, enquanto a do enunciador é depreendida da totalidade da obra do autor. Isso permite dar uma definição enunciativa à heteronímia: uma pluralidade de enunciadores na obra de um mesmo autor real. Fonte da nota: FIO04a. Leitura recomendada: FIO04a; FIO04b; DIS03. Termos relacionados: actorialização, ator do enunciado, discursivização. ator do enunciado s. m. Greimas Definição: unidade lexical nominal que condensa os conteúdos semânticos que dão concretude aos seres de quem se fala. Fonte da definição: GRE79a: 8. Nota explicativa: O conceito de ator do enunciado substitui, num cuidado de precisão e de generalização, o de personagem, a fim de tornar possível seu emprego fora do domínio literário (por exemplo, uma indústria ou um ministro religioso). Seu conteúdo semântico básico é a presença do traço de individuação, que o faz aparecer como uma figura autônoma do universo semântico. O ator pode ser individual (Riobaldo), coletivo (o MST), figurativo (concreto, como o lobo) ou não figurativo (abstrato, como o destino). A individuação do ator é frequentemente marcada pela atribuição de um nome próprio (por exemplo, Aurélia, Iracema, Dona Flor). No entanto, isso não é condição necessária para a existência do ator, pois um papel (por exemplo, o professor, o marido) é suficiente para sua denominação. Fonte da nota: GRE79a: 7-8. Leitura recomendada: GRE79a: 7-8; GRE08. Termos relacionados: actorialização, ator da enunciação, discursivização. atualização (1) s. f. Bally Outras denominações: atualização dos conceitos, atualização dos termos da frase. Definição: processo pelo qual o sujeito transforma a língua em fala. Fonte da definição: BAL65: 77 e s. Nota explicativa: Segundo Bally, para se tornar um termo da frase, um conceito virtual, unidade da língua, deve ser atualizado pelo sujeito, o que o torna um conceito real, unidade da fala. A atualização dos conceitos consiste, então, em fazê-los passar à realidade. É importante destacar que “real” refere-se à realidade para o sujeito, não à realidade objetiva, concreta. Trata-se de uma representação que o | 54 | atualização (2) s. f. Benveniste Definição: processo de inserção do signo em uma dada instância de discurso. Fonte da definição: BEN95: 281-282. Nota explicativa: Benveniste ilustra o processo de atualização com os signos eu e tu. Segundo o autor, tais signos não têm significado como formas objetivas ou virtuais, afinal, eu não designa nada nem ninguém. No entanto, eu, no instante em que fizer parte de uma instância de discurso, é automaticamente atualizado com o sentido que emana da totalidade do significado da enunciação que integra. Assim, o signo, ao ser atualizado, passa a ter existência na língua-discurso. Fonte da nota: BEN95: 281-282. Leitura recomendada: BEN95A. Termos relacionados: apropriação, enunciação (4), língua-discurso. atualização dos conceitos s. f. Bally V. atualização (1) atualização dos termos da frase s. f. Bally V. atualização (1) autocomentário reflexivo s. m. Authier-Revuz V. glosa metaenunciativa autonímia s. f. Authier-Revuz Definição: fenômeno linguístico caracterizado pela menção de um signo como forma de autodesignação. Fonte da definição: AUT95a; AUT95b. Nota explicativa: Authier-Revuz toma a noção de autonímia proposta por ReyDebove (1978: 144), segundo a qual o fenômeno ocorre quando uma palavra fi- | 55 | Lista alfabética de verbetes | sujeito tem da realidade. A atualização tem por efeito inverter a relação entre a extensão e a compreensão dos conceitos. Um conceito virtual é indeterminado em extensão (por não haver como definir o total de possibilidades de uso) e determinado em compreensão (por apresentar um número limitado de caracteres distintivos). Já um conceito atualizado é determinado em extensão (por ser caracterizado em relação a um determinado uso por um sujeito) e indeterminado em compreensão (por referir-se a uma noção individual, à representação de realidade do sujeito que faz uso dele). Fonte da nota: BAL65: 77 e s. Leitura recomendada: CHI85; DUR98; MED85. Termos relacionados: conceito real, conceito virtual, frase (1). | Lista alfabética de verbetes gura no discurso como autodesignação de um signo. Do signo comum (ou “em uso”) ao signo autonímico, há a passagem de um signo de semiótica simples a um signo de semiótica complexa, isto é, o signo autonímico representa um todo com significante e significado, pois o significante integra o significado, como se o signo tivesse dois andares. Ao se tomar um signo e falar dele, ter-se-á uma autonímia. Por exemplo, em “‘compor’ é uma palavra ambígua”, fala-se da palavra “compor”, e não daquilo que ela significa normalmente. Fonte da nota: FLO05: 78-79; REY78: 144; TEI05a: 141-142. Leitura recomendada: AUT96; FLO05: 78-79; FLO08; REY78; TEI05a. Termos relacionados: conotação autonímica, modalização autonímica. autorrepresentação do dizer s. f. Authier-Revuz V. metaenunciação | 56 |