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Cyan Magenta Amarelo Preto
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A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2006
O ESTADO DE S.PAULO
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Carl Sagan e
a vela na escuridão
O Consenso de Brasília
Expandido
MarcosSawayaJank eRodrigoC. A.Lima
VinodThomas
Há exatos dez anos, em
20/12/1996, morria Carl Sagan,
professor de Astronomia e Ciências Espaciais da Universidade
de Cornell, autor de uma dezena
de livros famosos e um dos maiores divulgadores da ciência moderna. Num de seus últimos livros – O Mundo Assombrado pelos Demônios: a ciência vista como
uma vela na escuridão –, Sagan
nos oferece uma lição de amor à
ciência e à tecnologia como a única forma para combater a ignorância e desfazer mitos, fraudes,
superstições e crendices. O livro
ensina os leigos a pensar de maneira crítica e cética por meio
do método científico, construindo e racionalizando argumentos, válidos e inválidos, que precisam ser provados de maneira independente, racional e lógica.
A obra de Sagan deveria servir de base conceitual para os
trabalhos da Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança
(CTNBio), que neste mês completa um ano de “relançamento” sem ter conseguido aprovar
uma única variedade comercial
de produtos biotecnológicos, algumas delas aguardando libera-
Sua obra deveria
servir de base
conceitual para
a CTNBio
ção desde 1998. A nova CTNBio
surgiu depois de longos dez
anos de discussões e conflitos
que levaram à Lei de Biossegurança. Esperava-se, com a nova
lei, que o Brasil finalmente pudesse colher os primeiros benefícios da biotecnologia. Só que,
infelizmente, o debate da comissão se perde em querelas regulatórias, que, nas palavras do
professor Walter Colli, seu presidente, lembram uma “assembléia-geral”, pautada por falsas
dicotomias entre transgênicos e
orgânicos, pequena e grande
agricultura e outros elementos
que se assemelham ao obscurantismo medieval contra o conhecimento científico.
É fundamental esclarecer
que por trás de cada um desses
pedidos de autorização comercial há muita pesquisa e um rigoroso processo de avaliação de riscos de biossegurança dos produtos, ou seja, de seus impactos sobre o meio ambiente e a saúde
humana, vegetal e animal. Vale
notar que a preocupação com
biossegurança não é exclusiva
de consumidores, ambientalistas e outros grupos sociais, mas,
principalmente das empresas
que investem grandes somas para desenvolver e colocar novos
produtos no mercado. O imbróglio burocrático é tamanho que
algumas empresas já cogitam de
transportar seus campos de experimentação para a Índia, China e outros países que não rejeitam o avanço do conhecimento.
Na agenda da biotecnologia
estão novas variedades de milho, algodão, arroz e soja, produtos mais saudáveis como margarinas livre de gorduras trans,
um óleo de soja rico em Ômega
3, tomates com maior teor de licopeno e propriedades anticancerígenas. Milhões de pequenos
produtores de regiões áridas do
Brasil e do mundo poderiam
ser beneficiados por sementes
transgênicas resistentes à seca.
Sementes e plantas resistentes
a pragas e doenças poderiam reduzir brutalmente o uso de
agroquímicos.
Desde o final da década de
80, famosos queijos franceses
disponíveis nos supermercados
são feitos com enzimas produzidas a partir de bactérias transgênicas. Os diabéticos brasileiros são diariamente tratados
com insulina produzida por bactéria geneticamente modificada
e milhões de crianças recebem
vacinas recombinantes produzidas com a mesma tecnologia recentemente rejeitada pela CTNBio, por 17 votos a favor e somente 4 contra (a aprovação exigiria 18 votos), no caso da vacina
recombinante contra o mal de
Aujeszky, que atinge os suínos.
Como diz seu próprio nome,
a comissão deveria pautar-se
por respostas estritamente técnico-científicas para o tema da
biossegurança dos produtos
transgênicos. Só que motivações político-ideológicas se estão sobrepondo ao debate científico, levando a um flagrante descontrole da questão regulatória,
espelhado na frase do professor
Colli: “O trabalho dos cientistas
que participam da CTNBio tem
de ser respeitado. Eles estudam, ponderam e votam a partir de dados experimentais.” No
entanto, certos grupos de ativistas estão vencendo a batalha,
pois conseguiram vincular o termo “transgênico” a algo nefasto, quase diabólico.
Ocorre que, se o País continuar impedindo o desenvolvimento da ciência e da tecnologia agropecuária, dezenas de
outros países logo estarão na
nossa frente. É triste ver o Brasil perder a liderança numa das
raras áreas em que nos conseguimos colocar à frente do mundo – a pesquisa e o desenvolvimento de genética agropecuária na região tropical. Não é demais lembrar que o desafio de
fazer o Brasil crescer mais rapidamente passa obrigatoriamente pela agricultura e, estrategicamente, pelo desenvolvimento
da biotecnologia.
Em vez de concluir este artigo com a citação das dezenas
de oportunidades da biotecnologia que estão sendo desperdiçadas pelo Brasil, achamos melhor prestar uma homenagem
aos verdadeiros cientistas e à
biotecnologia com algumas frases de Carl Sagan: “A Ciência é
antes um modo de pensar do
que propriamente um conjunto
de conhecimentos.”
“O método da Ciência, por
mais enfadonho e ranzinza
que pareça, é muito mais importante do que as descobertas dela.”
“A ciência está longe de
ser um instrumento perfeito
de conhecimento. Mas é o melhor que temos.”
“Meu ponto de vista é que
não importa quão heterodoxo
é o raciocínio e quão desagradáveis as conclusões, não há
desculpas para tentar eliminar novas idéias.”
“A época mais excitante, satisfatória e estimulante para
se estar vivo é justamente
aquela em que se passa da ignorância ao conhecimento desses assuntos fundamentais; a
época em que se começa na
imaginação e se termina no entendimento. Em todos os 4 bilhões de anos da história da vida em nosso planeta, e nos 4
milhões de anos de história da
família humana, só a uma geração cabe o privilégio de viver
este momento único de transição: essa geração é a nossa.”
Bom Natal e feliz 2007! ●
Marcos Sawaya Jank é professor da FEA-USP e presidente
do Instituto de Estudos do
Comércio e Negociações Internacionais (Icone) – msjank@
usp.br, www.iconebrasil.org.br
Rodrigo Lima é advogado e
pesquisador sênior do Icone
SINAIS PARTICULARES
LOREDANO
Frei Galvão
FÓRUM DOS LEITORES
Obrigado,STF
ra esses mesmos parlamentares
vão trabalhar como nunca, autoconvocando sessão plenária até
na semana do Natal, para aprovar
o aumento por decreto legislativo.
E vem o TSE, em propaganda préeleitoral, dizer que o voto é muito
importante, pois somos nós, eleitores, os patrões? Se eu fosse patrão, já estavam todos demitidos.
O povo brasileiro agradece a
S. Exas. os ministros do Supremo
Tribunal Federal, de todo o coração, por terem derrubado o aumento dos deputados federais e
senadores, que são eleitos para
nos representar e nos defender,
mas estão sempre contra nós e
só a favor deles, que nada fazem
e apenas querem tirar proveito.
EDUARDO BIRAL
CLOVIS JOSÉ RIBEIRO LEAL
[email protected]
[email protected]
São Paulo
São Paulo
Clamorpopular
Finalmente uma decisão do STF
que atende ao clamor da população brasileira, já cansada de ver
seu dinheiro suado sendo usurpado por um bando de ladrões que
ocupam o Poder Legislativo. Ago-
Mercenários
Agora que o STF derrubou por
unanimidade o aumento de 91%
para os srs. deputados e senadores, que tal S. Exas. darem uma
resposta ao povo, não reelegendo
os presidentes das duas Casas
do Congresso, verdadeiros merce-
A China e a Índia, assim como o Brasil, poderão estar entre as seis maiores economias do mundo nas próximas
quatro décadas, de acordo
com algumas projeções. O reflexo disso sobre o bem-estar
das pessoas, contudo, não dependerá apenas da evolução
da renda, mas também de
sua distribuição. Tanto o
crescimento econômico quanto a desigualdade têm grande impacto nos três gigantes
em desenvolvimento.
Na Índia, a diferença entre o crescimento das áreas
rurais e urbanas contribuiu
para levar o Congresso Nacional indiano e o primeiroministro Manmohan Singh
ao poder em 2004, apesar do
alto crescimento obtido no
governo anterior, do partido
Bharatiya Janata. No Brasil,
analistas creditam a reeleição do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em parte, à redução da desigualdade, em
vez de ao crescimento. Na
China, a crescente desigualdade regional, assim como entre as áreas rurais e urbanas,
é uma questão cada vez mais
importante para os formuladores de políticas.
China e Índia tiveram um
crescimento três vezes
maior que o Brasil nos últimos anos. E a desigualdade
de renda no Brasil é 75%
maior que a indiana e 33%
maior que chinesa. Uma piora
da desigualdade, contudo, tem
grande impacto negativo nos
dois países asiáticos, dada a escala da pobreza. Os Estados indianos mais pobres e populosos, como Bihar e Uttar Pradesh, cresceram muito menos
que os Estados mais ricos, como Gujarat e Punjab. Na China, também as províncias mais
ricas, como Zhejiang, cresceram mais rapidamente que as
províncias mais pobres, como
Qinghai. Em contraste, as regiões relativamente mais pobres do Brasil, como o Nordeste e o Norte, crescem mais rápido que a média nacional.
Tudo isto levanta a questão:
o aumento da desigualdade é o
preço a ser pago pelo alto crescimento? As evidências no Leste Asiático – por exemplo, na
Coréia do Sul e em Taiwan,
com alto crescimento e uma
distribuição relativamente favorável – sugerem que não.
Mesmo na China a desigualdade avançou mais rapidamente
em períodos de baixo crescimento. Além disso, existe também uma ligação positiva entre
a taxa de crescimento e a distribuição do rendimento: seria difícil para o Brasil sustentar alto crescimento sem a inclusão
dos pobres no processo.
Mas uma análise do desempenho dos países mostra caminhos bem distintos. Na década
passada, a China reduziu a pobreza fortemente por meio do
crescimento, ao mesmo tempo
que a distribuição se agravava.
O Brasil diminuiu a pobreza
melhorando ligeiramente a distribuição de renda, apesar do
lento crescimento. Vários países no Leste Asiático, na Europa e na Ásia Central melhoraram ao mesmo tempo crescimento econômico e distribuição de renda.
É interessante como o esforço do Brasil com progresso social coincide com a maior estabilidade macroeconômica, como em outros países da região.
Mas, tanto na América Latina
como em outras regiões, os planos para melhorar a distribuição, muitas vezes com medidas
inadequadas, historicamente
pagaram um alto preço alto em
instabilidade macroeconômica. Após as crises nos anos 80,
a idéia convencional era de que
a estabilização e a liberalização
deveriam ser a primeira prioridade, deixando ações diretas
de progresso social para depois. Isso foi chamado (em
1990) de Consenso de Washington. Em 2003, o plano do Brasil
de buscar a estabilidade e implementar simultaneamente
programas sociais foi chamado
de Consenso de Brasília.
Mas é possível, na prática,
buscar crescimento e igualdade ao mesmo tempo? Uma medida fundamental nos três países é melhorar a governança e
combater a corrupção nos pro-
cessos econômicos e políticos.
Aumentar a qualidade dos investimentos em educação, saúde e assistência social é uma
outra forma poderosa. O BolsaFamília transfere renda para
famílias pobres desde que as
crianças freqüentem a escola e
visitem os postos de saúde. Se
bem implementadas – por
exemplo, se o desempenho escolar realmente melhorar –, essas transferências podem aumentar os ganhos futuros das
famílias, além da renda atual.
Também é preciso planejar as
portas de saída das pessoas
desses programas.
Para melhorar muito mais
os resultados no Brasil, no entanto, a aplicação do Consenso de Brasília precisa de uma
extensão crucial. Será necessário um maior impulso sobre o
crescimento, por meio de um
melhor clima para investimentos de qualidade e produtividade. Fundamentalmente, isto
requer o apoio de reformas
nas áreas previdenciária, de
tributos e gastos públicos, de
infra-estrutura, no clima de negócios e no mercado de traba-
É possível buscar
crescimento e
igualdade ao
mesmo tempo?
lho. Na China e na Índia, por
outro lado, a urgência para enfrentar as desigualdades deve
ser clara.
Finalmente, essas três economias necessitam de um cuidado muito maior com o meio
ambiente. Estima-se que o custo econômico da devastação
ambiental na China e na Índia
esteja entre 4% e 9% do PIB
anual. O Brasil também enfrenta tais custos, porém com uma
consideração adicional: se as altas taxas de desmatamento em
Mato Grosso e em outros Estados forem evitadas e, conseqüentemente, se a floresta for
protegida, esse desmatamento
evitado poderá eventualmente
ser convertido em créditos de
carbono, com enorme valor de
mercado para o País.
Então, as projeções de crescimento da China, da Índia e,
possivelmente, do Brasil são
realistas? Elas podem bem ser.
A China e a Índia estão a caminho, com alto crescimento. Enquanto o Brasil precisa de
ações vigorosas, mas possíveis,
para retomar o crescimento
com qualidade. Nos três países, um Consenso de Brasília
Expandido – combinando crescimento e igualdade com desempenho ambiental – parece
ser o caminho adiante. ●
Vinod Thomas, economista,
é autor do livro O Brasil Visto
por Dentro: Desenvolvimento
em uma Terra de Contrastes
ENDEREÇO
FAX:
E-MAIL:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
011 3856-2920
[email protected]
nários da política nacional?
[email protected]
AVALDIR D’ALESSANDRO
Extrema (MG)
[email protected]
São Paulo
Balão-de-ensaio
Aposto uma moeda: os salafrários
de Brasília vão recuar para um
aumento de “apenas” 50%, que
ainda é o dobro da inflação reclamada no período sem reajuste.
Aí todo mundo vai dizer: “Ufa! Ainda bem, né?” E tomem os trouxas
brasileiros, principalmente os
que ainda ontem deram seu voto
a Aldo Rebelo e Renan Calheiros.
Somos ou não somos uma nação
de trouxas? Fosse em outro país,
o povo já teria invadido a Câmara
e o Senado e expulsado esses ladrões do suor do povo.
ODAIR PICCIOLLI
Brindeà miséria
Quero tornar público o meu protesto e a minha indignação com a
possibilidade, cada vez mais real,
da efetivação desse execrável
aumento de salários para deputados e senadores. Também externo
minha indignação com o sr. Aldo
Rebelo, que, ao apoiar tal atitude,
se torna uma vergonha para aqueles que defendem um país menos
desigual e mais justo para todos.
Infelizmente, a assim chamada
“esquerda festiva”, mais viva do
que nunca, continua brindando à
miséria nacional com champanhe!
MARCELO LAPUENTE MAHL
[email protected]
Assis
Crueldade
É cruel o modo como o presidente
da Câmara trata o povo. Como
tem a coragem de propor ao País
a extinção de uma coisa que nunca deveria ter sido implantada,
como é o caso do 14.º e do 15.º
salários dos congressistas? Dizer
que é para custear os gastos com
a mudança do deputado que se
elege pela primeira vez ou que
não consegue novo mandato não
pega, pois, desde que seja candidata, qualquer pessoa sabe que
terá de arcar com essa despesa.
Do desconto de salário daqueles
que não comparecem à sessão às
segundas e às sextas-feiras e de
acabar com as férias duplas de
janeiro e julho, nisso o presidente
da Câmara não toca. Mas insiste
em que o aumento de 90,7% no
salário dos parlamentares já está
decidido e que não tem nenhuma
intenção de recuar. O povo (crueldade!) terá agora de dar mais
sangue para sustentar a ganância
de quem já nem sabe mais onde
colocar tanta regalia.
TOSHIMITSU ITOKAZU
[email protected]
São Paulo
Esclarecimento
Diante da afirmação contida no
artigo Justiça comanda o acinte
(25/11, A2), por volta das 15 horas compareci pessoalmente ao
Fórum de Taboão da Serra, a fim
de apurar o alegado “revezamento de faltas” entre as juízas. Na
ocasião, encontrei audiências em
curso nas três Varas. Pude constatar, em exame das pautas, que
as magistradas designam elevado
Download

[br - 2] estado/opinião/páginas 20/12/06