ficha 14 Baixa Idade Média A Europa se transforma A partir do século X a Europa Ocidental passou por uma sucessão de acontecimentos e transformações que abalaram o sistema feudal. A esse período denomina-se Baixa Idade Média. Uma série de melhorias técnicas possibilitou o aumento da produção agrícola. Com isso as pessoas passaram a se alimentar melhor, tornando-se mais saudáveis e vivendo mais. Esse fator, somado ao fim das invasões bárbaras, provocou um sensível aumento da população a partir do século XI. O desenvolvimento comercial e urbano Com o aumento da produção agrícola, começaram a sobrar alimentos. Os agricultores passaram então a comercializar o excedente, estabelecendo pontos de venda em locais de grande visitação, as chamadas feiras. Nelas ocorria não só a circulação de produtos, mas também o transito de diferentes moedas e pessoas. Por causa dos riscos de assaltos, os comerciantes e artesãos – que fabricavam produtos, como tecidos, para serem vendidos nas feiras – passaram a morar e instalar seus negócios dentro das muralhas dos feudos. Em troca, pagavam impostos aos senhores feudais. Essas aglomerações formaram núcleos urbanos que foram chamados de burgos, e seus habitantes de burgueses. O excesso de obrigações feudais e a esperança de novas oportunidades levaram muitos camponeses a migrar para os burgos. Para garantir sua segurança, os comerciantes passaram a se organizar em grupos para viajar. Formaram assim organizações que, com o passar do tempo, estabeleceram regras e direitos para seus membros. Essas associações foram chamadas de guildas. Os artesãos também criaram as corporações de ofício, que tinham por objetivo controlar a formação de novos profissionais, o preço dos produtos e até dar assistência às famílias dos associados. Cidades da península Itálica, como Gênova e Veneza, desenvolveram mais seu comércio em razão da proximidade com o mar e com os povos do Oriente. Os burgos tornaram-se não só centros comerciais, mas também polos culturais e financeiros. No século X foi fundada na cidade italiana de Salerno a primeira universidade europeia e outras foram criadas pelo continente durante a Baixa Idade Média. Os burgos cresceram desordenadamente, com graves problemas de saneamento básico e higiene, o que facilitava a transmissão de doenças. Estima-se que um terço da população europeia tenha morrido no século XIV em decorrência de uma epidemia de peste bubônica, chamada na época de peste negra. Inovações técnicas no campo Uma das técnicas usadas pelos camponeses medievais consistia em dividir as terras de plantio em três partes, fazendo a rotação de cultura. Por meio dessa técnica, a cada ano cultivam-se produtos diferentes em duas das três partes, deixando sempre uma delas em repouso. Isso permite que a terra reponha seus nutrientes, melhorando a qualidade da colheita. Outra importante invenção foi a charrua peitoral para arar a terra, que consistia em um instrumento de ferro preso ao peito do animal. Antes feita de madeira e presa ao pescoço, a charrua era menos resistente, além de sufocar o animal e diminuir sua força de tração. Trabalhadores do campo durante a Idade Média. No primeiro plano, está a charrua. Ilustração de Simon Bening para o Flämischer Kalendar, c. 1520-25, Munique, Alemanha. ficha 14 As Cruzadas e os diferentes interesses em jogo Alguns burgueses realizavam atividades financeiras, como emprestar dinheiro a juros para comerciantes. Miniatura espanhola do século XIII. As cruzadas A região da Palestina, chamada de Terra Santa, foi conquistada pelos islâmicos no século VIII. Porém, no século XI, Jerusalém – considerada sagrada por cristãos, muçulmanos e judeus – foi tomada, e os cristãos foram expulsos e proibidos de visitar a cidade. Em 1095 o papa Urbano II incitou os cristãos a retomar Jerusalém. Reis, nobres, camponeses e comerciantes aderiram à expedição militar, que foi chamada de Cruzada. Os católicos romanos tinham o apoio do imperador bizantino, que temia o avanço territorial dos muçulmanos. Entre os séculos XI e XIII ocorreram oito Cruzadas oficiais e várias não oficiais. Apesar de conseguir tomar Jerusalém por duas vezes, a região continuou sob domínio muçulmano. Nessas Cruzadas, os europeus puderam ter contato com novos locais, rotas comerciais e produtos. Isso possibilitou uma dinamização do comércio do Ocidente. Muitos conhecimentos e técnicas orientais chegaram até a Europa, o que iria transformar aos poucos a mentalidade europeia. Representação do saque a Jerusalém após sua tomada pelos cristãos, em 1099. Miniatura de Jean de Courcy, 1440. Biblioteca Nacional da França, Paris. Embora a motivação religiosa tenha sido um fator importante para as Cruzadas, havia outros, envolvendo diferentes grupos sociais: a luta contra os muçulmanos representava uma oportunidade de o papado submeter o Ocidente à sua liderança; para os reis, as Cruzadas representavam uma estratégia para se destacarem como líderes políticos e militares; os filhos mais jovens da nobreza encontravam a possibilidade de conquistar terras, riqueza e prestígio (à época apenas o filho mais velho tinha direito de receber herança familiar); para os nobres guerreiros, que travavam lutas sangrentas por terras, lançar-se em um movimento militar em direção ao Oriente possibilitava o restabelecimento da paz no Ocidente; para os mercadores das cidades da região da península Itálica, especialmente os de Veneza, financiar as Cruzadas possibilitava assumirem o controle das rotas comerciais do mar Mediterrâneo, até então monopolizadas por muçulmanos e bizantinos. ficha 14 Atividades 1 Leia os dados da tabela abaixo. População europeia (séculos XI ao XIV) Ano Habitantes 1050 46 milhões 1150 50 milhões 1200 61 milhões 1300 73 milhões Fonte: <http://www.brasilescola>. Acesso em: 3 fev. 2009. a)Pelos dados da tabela, que fenômeno se observa? b)Que fatores possibilitaram esse fenômeno? c)Relacione os fatores que possibilitaram o renascimento comercial na Europa Ocidental durante a Baixa Idade Média. 2 Pela leitura do texto a seguir é possível conhecer um pouco do cotidiano em Santiago de Compostela durante o século XII. Santiago de Compostela na Idade Média Nesta venerável basílica de Santiago de Compostela repousa, segundo a tradição, o corpo venerado de santo Iago, por baixo do altar-mor [...]. O pavimento do adro é de pedra; é aí que se vendem aos peregrinos pequenas conchas de mariscos, que são insígnias do santo; e também odres de vinho, sapatos, bolsas, cintos, todas as espécies de ervas medicinais e outras drogas. Guia do peregrino de Santiago de Compostela (século XII). Citado por Gustavo Freitas. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977. p. 153. a)A que atividade econômica o texto faz referência? b)Onde essa atividade ocorria? Por quê? Descreva-a. c)Com base no texto, faça uma ilustração que mostre o aspecto destacado. Depois, exponha seu desenho na sala de aula. 3 O texto a seguir é parte do depoimento de um jornalista e escritor da atualidade. As Cruzadas As Cruzadas foram um fracasso, do ponto de vista do conjunto, em virtude dessa atitude de conversão a ferro e fogo. O sentimento de unidade do Islã contra os invasores se acentuou. As Cruzadas contribuíram mais para o desenvolvimento do islamismo, que também pretendia ser universal, e que partiria, um dia, à conquista do mundo. Jacques Duquesne. Fundamentalismo cristão. Revista História Viva, São Paulo, Duetto, ano II, n. 15, jan. 2005. p. 43. a)Faça uma lista das motivações que levaram às Cruzadas. b)Entre as motivações que você citou, qual delas o texto acima menciona? Segundo o ponto de vista do autor, as Cruzadas foram bem-sucedidas? Explique. c)O que o autor quis dizer com “conversão a ferro e fogo”? Respostas Ficha 14 Baixa Idade Média 1 a)O grande aumento da população europeia no período compreendido na tabela. b)O desenvolvimento de técnicas na agricultura, que levaram à maior produção de alimentos. A população, mais bem alimentada, também aumentou. c) Vários fatores possibilitaram o crescimento do comércio, entre eles a necessidade de se vender o excedente da produção agrícola, o desenvolvimento das feiras e as Cruzadas. 2 a)Ao comércio. b)Na basílica de Santiago de Compostela. Os comerciantes vendiam suas mercadorias em pontos de grande circulação de pessoas, como os locais de peregrinação religiosa. c) Resposta pessoal. Professor, antes da realização da atividade, mostre aos alunos imagens que retratem o período medieval, de modo que percebam, por exemplo, como eram feitas as representações de pessoas e lugares e quais técnicas de pintura eram empregadas. Para isso, veja a possibilidade de desenvolver um trabalho conjunto com o professor de Arte. Conduza a apreciação das ilustrações dos alunos, destacando aspectos trabalhados no texto, como o tipo de atividade realizada, de mercadorias comercializadas e o local onde o comércio era praticado. 3 a)Entre as motivações, os alunos poderão citar: 1) religiosa (os cristãos queriam retomar Jerusalém dos muçulmanos); 2) política (o papa buscava submeter todo o Ocidente à sua liderança; os reis buscavam destacar-se política e militarmente; a ação dos nobres guerreiros nas Cruzadas poderia restabelecer a paz na Europa); 3) econômico-social (filhos mais jovens da nobreza tinham a chance de conquistar riquezas e prestígio; os mercadores europeus podiam obter o controle das rotas comerciais do mar Mediterrâneo). b)O texto destaca a motivação religiosa das missões. Segundo o autor, esse objetivo não foi atingido, visto que a reconquista de Jerusalém pelos cristãos não se efetivou. Em vez disso, os conflitos acabaram contribuindo para a união dos povos muçulmanos contra os cristãos. c) A expressão “a ferro e fogo” significa “à força”, ou seja, as Cruzadas pretendiam converter os não cristãos à força, daí advém parte de seu fracasso.