XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DO PALMITO DE AÇAÍ NO ESTADO DO PARÁ BASEADO NOS CONCEITOS DE COMPONENTES DE DESEMPENHO LOGÍSTICO Tammy Monteiro da Costa (UEPA) [email protected] Najmat Celene Nasser Medeiros Branco (UEPA) [email protected] Tulio Franco de Souza (UEPA) [email protected] Marluce Alvares Moreira (UEPA) [email protected] Neste artigo buscou-se aplicar os conceitos envolvendo logística e Suply Chain Management (SCM) a um estudo prático da cadeia produtiva do palmito de açaí, tendo como base uma empresa situada no município de Afuá, localizado na ilha do Maraajó no estado do Pará. Avaliou-se o processo logístico a partir do mapeamento da cadeia produtiva do palmito com o objetivo de analisá-la sob o aspecto das macro-atividades e dos componentes de desempenho logístico, destacando os seus pontos fortes e fracos, de modo a evidenciar possíveis gargalos logísticos e outras limitações que dificultem o atendimento às demandas ou limitem o nível de serviço aos clientes internos ou externos à organização. Com isso, foi possível identificar e propor ações/estratégias que viabilizem a eliminação dos problemas logísticos da cadeia produtiva do palmito de açaí na empresa em consideração. Palavras-chaves: logística; macro-atividades; componentes de desempenho; cadeia produtiva. 1. Introdução A logística, no processo de tomada de decisão nas empresas, tem sido um fator relevante e que ganha cada vez mais importância. Muitos fatores explicam essa tendência. De um lado, há a maior preocupação com os custos nas empresas e de outro, como decorrência da maior competição pelo mercado consumidor, a necessidade de garantir prazos e oferecer um melhor nível de serviço de forma geral. A extração de palmito, embora não se compare às principais commodities do agronegócio (soja, milho e café), é relevante em âmbito nacional, ultrapassando até mesmo o valor da produção de açaí. Dados do IBGE (2007) afirmam que o principal produtor foi o estado do Pará, que concentrou 86,8% da produção nacional. Quanto ao palmito, atualmente, a região Norte detém 94,2% da produção, no qual o maior pólo de produção do país é o Pará, detendo 92,1% da produção nacional. Neste sentido, o estado se enquadra entre os dez maiores municípios produtores de palmito de espécimes nativos, sendo nove paraenses e um catarinense (IBGE, 2007). Durigan e Rodrigues (2007) acreditam que o mercado externo de palmito tem sofrido uma retração, devido à falta de controle de qualidade do produto envasado pelas agroindústrias extrativistas e à competitividade da Costa Rica. Considerando essa realidade, optou-se por realizar um estudo da análise da cadeia produtiva do palmito de açaí no estado do Pará. Portanto, a análise dessa cadeia, considerando suas macro-atividades e seus componentes de desempenho, torna-se relevante para visualizar oportunidades de melhorias e a conseqüente obtenção de vantagens competitivas. 2. Referencial Teórico 2.1 Logística e a SCM A logística pode ser compreendida, de acordo com Ballou (1993), como o canal que permite o elo entre o produtor de bens e serviços, ao consumidor final. A logística atua desde a aquisição dos insumos, passando pela armazenagem e movimentação ao longo da cadeia produtiva, até o ponto de venda ao consumidor final. Assim, conforme Vilela et al. (2010) a logística na empresa está envolvida em atividades que trazem ao produto ou serviço, valor de tempo e lugar. Quando a empresa atende esses componentes e agrega qualidade, esta consegue criar mais valor ao cliente do que o custo percebido pelo mesmo para aquisição de tal produto ou serviço, assim se pode dizer que a empresa tem uma vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. No atual cenário de competitividade instalada no mercado, cada vez mais se faz necessário o melhor gerenciamento do sistema logístico, havendo a preocupação com o mesmo e com toda a sua cadeia, de forma a proporcionar um melhor custo logístico, contribuindo para a criação de uma vantagem competitiva. Portanto, é fundamental o entendimento da SCM (Supply Chain Management). Para Bowersox, Closs e Cooper (2007), a Supply Chain Management pode ser compreendida como o processo de gerenciamento integrado dos processos de negócios, através de um enfoque sistêmico da cadeia de suprimentos, de forma que ao cliente final seja percebido o valor adicionado ao longo da cadeia produtiva. 2.2. Sistemas logísticos ou Macro atividades Segundo Ballou (2006), com este novo modelo de gestão do sistema logístico as empresas devem atentar para os três canais logísticos existentes: suprimento físico, distribuição física e 2 logística reversa. No passado as empresas apenas se preocupavam em gerir de forma eficaz e eficiente o suprimento e distribuição física da empresa. Hoje, devido à maior exigência no âmbito organizacional com a preservação do meio ambiente e com a preocupação existente por parte dos consumidores com os resíduos dos produtos consumidos, fizeram com que as empresas se preocupassem com a gestão adequada da logística reversa. 2.2.1 Inbound ou Suprimento Físico Suprimento Físico é o subsistema logístico que se preocupa com a seleção de fornecedores, capazes de suprir a empresa de insumos adequados à sua necessidade, assim como com o seu transporte, armazenagem e estocagem (BALLOU, 1993). 2.2.2 Outbound ou Distribuição Física Ballou (1993) ainda afirma que a Distribuição Física: “É o ramo da logística empresarial que trata da movimentação, estocagem e processamento de pedidos dos produtos finais da empresa”. 2.2.3 Logistic reverse ou Logística Reversa Para Mueller (2005) a Logística Reversa pode ser classificada como sendo apenas uma versão contrária da Logística que conhecemos. O fato é que um planejamento reverso utiliza os mesmos processos que um planejamento convencional, pois ambos tratam de nível de serviço, armazenagem, transporte, nível de estoque, fluxo de materiais e sistema de informação. 2.3 Componentes de desempenho logístico Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2007), na tomada de decisão estratégica em um sistema logístico três componentes de desempenhos são considerados fundamentais: as instalações, o transporte e o estoque. Figura 1 - Componentes de desempenho logístico (Fonte: Autores) Conforme observado na Figura 1, estes são essenciais para que outros dois componentes sejam atendidos, o serviço ao cliente e a estrutura de custos. Além disso, atuando em uma esfera mais ampla, como uma espécie de integrador, está o componente de desempenho de informação. A seguir serão discutidas a importância de cada um para o sistema logístico. 2.3.1 Instalações Para Bowersox, Closs e Cooper (2007), a localização das instalações tem impacto direto sobre 3 a capacidade e o custo do serviço ao cliente. No planejamento das instalações, alguns aspectos devem ser considerados, como número de instalações, quantidade, tamanho, localização em relação aos principais mercados a serem atendidos e produto a ser estocado e quantidade em cada instalação. 2.3.2 Estoque Este componente de desempenho está diretamente ligado ao componente anterior e ao nível de serviço ao cliente. Gomes e Ribeiro (2004) acreditam que: “deve-se optar pela redução dos níveis de estoques devido a fatores como maior diversidade de produtos, maior número de clientes a serem atendidos, elevado custo de oportunidade de capital e crescente foco gerencial no controle dos custos variáveis”. Sendo assim, o objetivo de uma estratégia de estoque é conseguir o desejado serviço ao cliente com o mínimo de estoque. 2.3.3 Transporte Esta área operacional é responsável pela movimentação e posição dos estoques. Ballou (2006) afirma que: “o transporte é uma área fundamental de decisões no mix logístico. Excetuando os produtos adquiridos, o transporte é, dentre as atividades logísticas, a que absorve a maior percentagem dos custos”. Por isso, sua análise deve ser feita de forma a minimizar o custo total do sistema logístico. 2.3.4 Informação Como citado anteriormente, este componente trabalha como uma espécie de integrador e tem impacto direto nos demais componentes. Confirmando essa idéia, Bowersox, Cooper e Closs (2002) dizem que: “A informação facilita a coordenação do planejamento e do controle das operações do dia a dia. Sem informações precisas, o esforço dispendido no sistema logístico pode ser desperdiçado”. Essa informação pode ser proveniente de funcionários e de sistemas de informação, podendo ser recebida e disseminada em tempo real, conforme as tecnologias atuais. 2.3.5 Estrutura de custo Segundo Ballou (2006), este componente é diretamente afetado por outros três componentes, são eles: instalações, estoque e transportes. Esta estrutura de custo, em geral, pode ser composta por: custos de armazenagem, custos de estoque, custo de transporte e custo de processamento do pedido. 2.3.6 Nível de serviço ao cliente Este componente é a relação entre desempenho versus satisfação do cliente. Para a sua melhor compreensão é necessário entender o conceito de responsividade e eficiência. A responsividade pode ser entendida como o indicador de um alto nível de serviço, enquanto que a eficiência indica custos reduzidos. De acordo com Chopra e Meindl (apud SILVA et al., 2007), para cada decisão estratégica usando o aumento da responsividade, existem custos adicionais que reduzem a eficiência. As cadeias de suprimento variam entre as que focam na responsividade e as que focam na eficiência com o objetivo de produzir e suprir com os menores custos possíveis. Os mesmos autores ainda representam a relação de responsividade e eficiência, existente nas operações internas e na cadeia de suprimento, conforme a Figura 2. 4 Figura 2 - Espectro de responsividade (CHOPRA E MEINDL, 2003) Para uma empresa melhorar o desempenho de sua cadeia de suprimento em termos de responsividade e eficiência, deve-se examinar os demais componentes de desempenho. Então, dependendo da cadeia de suprimento, seus agentes deverão se ajustar para melhor compreender qual o tipo de cadeia de suprimentos que estes estão inseridos e assim ajustar seus componentes de desempenho, a fim de satisfazer e fidelizar seus clientes. 3. Metodologia O trabalho foi realizado em duas etapas: levantamento da cadeia logística através das macroatividades e análise da cadeia tomando por referência os componentes de desempenho logísticos. Considerando a primeira etapa, inicialmente o grupo entrou em contato com a gerente de produção da empresa analisada de onde se obtiveram informações gerais do processo produtivo executado, dos fornecedores de insumos e serviços e dos clientes finais. Com isso, pode-se esquematizar o fluxograma dos elos da cadeia logística do palmito de açaí na qual a empresa está inserida. Partindo do fluxograma, foi feita a análise dos fluxos de informações e de bens e serviços na cadeia, considerando as macro-atividades: suprimento físico, distribuição física e logística reversa. Tendo mapeada a cadeia logística, a segunda etapa inicia-se com uma avaliação individual de cada um dos seis componentes de desempenho logístico, apontando as qualidades, defeitos e principalmente as oportunidades de melhoria. 4. Estudo da cadeia logística 4.1 Logística de Entrada Dentre as três macro atividades logísticas, a primeira, chamada de Logística de Entrada (também conhecida como Logística de Materiais, Logística de Abastecimento, Logística de Suprimentos, Inbound Logistic...), aborda as relações com fornecedores, compras, estoques e armazenamento de materiais (SOUZA, 2006). Podemos considerar ainda o componente transporte, que embora seja um fornecedor, neste caso de serviços, iremos analisar separadamente. Dessa forma analisamos a logística de entrada conforme o comportamento e as implicações estratégicas ao longo da cadeia de suprimentos. O Suprimento Físico da empresa está representado sucintamente conforme Figura 3. 5 Figura 3 - Fluxo simplificado da logística de entrada (Autores, 2009) Na presente cadeia, o fornecimento de palmito é feito pelos ribeirinhos presentes na região do Marajó. As instalações desses ribeirinhos se restringem às suas propriedades, onde estão localizados os plantios dos açaizais. A extração é realizada de forma artesanal, e a mão-deobra utilizada é o próprio ribeirinho e seus familiares. Não existe nenhum tipo de técnica de estoque, pois a entrega de matéria prima para as fábricas é realizada de acordo com a necessidade de limpeza para a manutenção dos açaizais existentes em suas propriedades. Isso pode trazer implicações como indisponibilidade de matéria prima para a empresa. Existe ainda a sazonalidade causada pela safra do açaí, que pode diminuir a disponibilidade desse insumo. O transporte da matéria prima do palmito até a indústria é de responsabilidade do ribeirinho, sendo realizado através do barco próprio do mesmo. Este modal é escolhido devido ser o único meio que este tem acesso. Por ser um meio de transporte mais lento gera um tempo de re-suprimento maior, aumentando a necessidade de estoques de insumos na fábrica. Estoque este que é limitado pela alta perecibilidade da cabeça de palmito in natura. Com relação ao fornecimento dos vasilhames, este é feito por uma empresa localizada na região metropolitana de Belém. A empresa trabalha com um sistema do tipo MTS (Make to stock), conseguindo um alto nível de serviço. Dessa forma, quando há necessidade de entrega de vasilhames à fábrica em Afuá, esta somente é acionada em uma média de 5 dias antes da sua necessidade. O transporte utilizado pela empresa é bimodal, ou seja, para que seja possível a entrega deste insumo na fábrica, primeiramente a empresa realiza o transporte terrestre até o porto São Cristóvão em Belém-PA, e então o transporte é feito por outra empresa, por meio de barcos até o porto existente na própria fábrica em Afuá. Este trajeto tem uma duração média de 48 horas. Apesar da menor velocidade do transporte aquaviário, analisando de forma sistêmica, o custo total envolvendo o estoque é compensado pelo baixo custo de transporte, além do que, haveria somente uma alternativa de realizar este transporte, que seria de forma aeroviário, o que acarretaria em maiores custos de transporte, não compensado por sua rapidez. Referente ao fornecedor dos rótulos, a impressão dos mesmos só ocorre a partir do pedido por parte da empresa. Para isso é necessário solicitar com antecedência de 3 dias, sendo 1 dia para 6 cada dois milheiros de rótulo solicitados e 2 dias para o transporte, que em geral é realizado junto com os vasilhames, conforme apresentado anteriormente. Internamente, o processo conta com quatro tipos de estoques: cabeças de palmito (matéria prima bruta), vasilhames e rótulos (matéria prima bruta), estoque em processo e o estoque de produto acabado, que podem ser visualizados na Figura 4. Figura 4 - Representação dos Estoques Internos à Fábrica (Autores, 2009) Cada um dos estoques é analisado abaixo: a) Matéria Prima Bruta (Cabeças de Palmito) – É o menor estoque existente na fábrica, característica essa em virtude da alta perecibilidade da cabeça de palmito in natura. Elas ficam estocadas por um curto período de tempo enquanto é feita a vistoria da matéria prima e separação das cabeças por qualidade e diâmetro interno. Funciona através do método FIFO. b) Matéria Prima Bruta (Vasilhames e Rótulos) – Este estoque tem depreciação próxima de zero, por isso não é necessário seguir exatamente um método como o FIFO. Há, entretanto, que se considerar que mesmo com a baixa depreciação, ainda assim representa capital imobilizado. c) Estoque em Processo (Produto Semi Acabado) – Neste, os potes e latas são estocados para o período de quarentena (40 dias) com intuito de se verificar a ocorrência ou não do estufamento das latas. Este estoque é importante visto que este estufamento interfere diretamente na aceitação dos produtos pelos clientes, podendo ocasionar a logística reversa. É o maior estoque na fábrica e utiliza exatamente o modelo FIFO. d) Estoque (Produto Acabado) – Quando o produto passa pelo período de quarentena, o processo de fabricação é finalizado e o produto já pode ser direcionado para o estoque de produtos acabados. Neste ponto, a perecibilidade do produto é bem pequena, durando de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Este estoque é a transição entre a fábrica e o ponto principal de estocagem dos produtos, o Centro de Distribuição das Indústrias (CDI) em AnanindeuaPA, por isso não é tão grande. Este estoque usa o método FIFO. O controle dessas informações referentes aos estoques é feito por uma tecnologia ERP de informação que reúne todos os setores envolventes. Essa tecnologia engloba não somente os estoques como também todos os componentes de desempenho dos diversos setores da empresa, interligando-os. 4.2 Logística de Saída A Distribuição Física se refere às etapas que vão desde a saída do produto na fábrica até sua entrega ao consumidor final. No caso em estudo, os produtos prontos são deslocados de barco 7 da fábrica até o porto São Cristovão, onde serão carregados em caminhões e enviados ao CDI. Deste, são transportados para os clientes finais, em Belém (por meio de veículos rodoviários pequenos), ou para o Centro de Distribuição (CD) no Rio de Janeiro (por meio de veículos rodoviários pesados), para posteriormente seguir para os clientes finais da região sul e sudeste (através de veículos rodoviários pequenos). A importância dos Centros de Distribuição (CDs) é que viabilizam de forma competitiva o fluxo de mercadorias vindas da fábrica, até os seus diversos graus de capilaridade distributiva. A Figura 5 descreve simplificadamente o processo de distribuição da empresa. Figura 5 - Fluxo de saída de mercadorias (Autores, 2009) Para a análise mais detalhada desta macro atividade, a dividimos em 4 (quatro) etapas (Representadas com os algarismos romanos na Figura 5). Na primeira etapa (I), os potes e latas de palmito são acondicionados em caixas para que sejam deslocados da fábrica para o CDI, em Ananindeua-PA. Nessa etapa o transporte é bimodal, inicialmente os produtos são levados da fábrica para o porto São Cristóvão em Belém (PA), por meio de transporte fluvial, e em seguida são carregados em caminhões e enviados ao CDI. Como a fábrica se localiza na região do Marajó, o transporte fluvial, apesar de ocasionar uma alta quantidade de estoque em processo e de ser o mais lento, é o que apresenta o melhor custo benefício para este tipo de região, cercado de ilhas fluviais. Para isso a empresa contrata um barco, utilizando a estratégia de carga fechada, reduzindo os custos unitários do produto. No caso da entrega ao CDI, foi escolhido o transporte rodoviário, sendo a transferência realizada por carga fechada, por ser o mais rápido e o menos custoso, pois o município de Ananindeua fica à uma hora do porto São Cristovão, além de representar o principal acesso à cidade de Belém. Ainda conforme a Figura 5, na segunda etapa (II), a empresa analisada realiza a distribuição dos produtos acabados, no Pará, apenas para restaurantes, sendo feita a partir de transporte rodoviário, por meio de veículo próprio. A empresa utiliza, de acordo com Novaes (2007), o sistema de distribuição “um para um” (transferência de produtos), no qual o veículo é totalmente carregado no depósito da fábrica e transporta a carga para outro ponto de destino 8 (no caso restaurante). Para isso a empresa utiliza uma picape de pequeno porte, devido às condições de trânsito e de manobrabilidade do centro urbano, além da necessidade de maior freqüência nas entregas dos produtos aos restaurantes. Considerando a terceira etapa (III), a empresa contrata uma transportadora que desloca os produtos via transporte rodoviário, para o CD do representante no Rio de Janeiro, utilizando o mesmo sistema de distribuição “um para um”. Finalmente, na quarta etapa (IV) a empresa oferece total autonomia para que o representante escolha o sistema de distribuição mais adequado, visando atender os prazos estabelecidos e satisfazendo seus consumidores finais. É importante destacar que no CD do Rio de Janeiro é utilizada a estratégia de cross-docking, na qual as mercadorias ficam em torno de 12 horas no depósito antes de serem entregues aos clientes finais. Isso representa um grande avanço logístico, por diminuir consideravelmente a necessidade com instalações e com estoques. Neste caso o estoque é estruturado de acordo com o método FIFO. 4.3 Logística Reversa De todas as atividades que fazem parte diretamente da logística reversa, a empresa em estudo trabalha mais com a administração de devoluções. A maioria dessas devoluções decorrem de atrasos durante o transporte das mercadorias devido a quebra de caminhões, problemas nas estradas que interligam os estados, entre outros. Podem existir ainda devoluções dos insumos para os fornecedores. A Figura 6 representa os dois principais fluxos de retorno na cadeia. Figura 6 – Representação dos fluxos de logística reversa (Autores, 2009) Quando por qualquer motivo a mercadoria chega ao consumidor final em estado “danificado”, mais especificamente, quando as latas chegarem amassadas ou os potes quebrados, é feita a devolução para a fábrica em Afuá. Se for diagnosticado que a culpa foi da transportadora, a mesma arca com os custos de trazer a mercadoria de volta ao ponto de origem. Caso o problema seja de estufamento do palmito, devido alguma falha no processo de fabricação, o cliente encaminha à transportadora responsável pela entrega do produto e a mesma faz o descarte, separando as tampas e o produto em si dos vidros e das latas (coleta seletiva de lixo). Em relação ao processamento do palmito, algumas etapas precisam ser cuidadosamente executadas, pois interferem diretamente na aceitação dos produtos pelos clientes, podendo, quando má executadas, ocasionar a logística reversa, são elas: preparo da salmoura, etapa na qual é preciso usar as medidas exatas de sal e ácido cítrico, para evitar um possível estufamento do produto e também a etapa de recravamento, ou seja, o momento de 9 recravar as latas, para que não haja perda de salmoura e o espaço seja mantido em no máximo 10% do volume. É importante ressaltar que a empresa não reutiliza os vasilhames, o que acontece com a maioria das empresas que tradicionalmente ainda não se sentem responsáveis pelos seus produtos após o consumo. No entanto, existe uma clara tendência de que a legislação ambiental caminhe no sentido de tornar as empresas cada vez mais conscientemente responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos. Essa visão de reutilização dos “resíduos”, ou seja, as iniciativas relacionadas à logística reversa, tem trazido consideráveis retornos para as empresas que as utilizam, trazendo como vantagem para a empresa, entre outras, a redução de custos, economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com reaproveitamento de materiais para a produção. 5. Considerações Finais Analisando a cadeia logística sob a ótica dos seis componentes de desempenho logísticos, podem-se inferir melhorias no processo, visando sua eficiência, sua otimização e, conseqüentemente, aumento na qualidade. Considerando o componente “instalações”, a cadeia está bem estruturada. Todas as funções necessárias são atendidas e o suprimento e a demanda estão alocados apropriadamente. Um exemplo é a localização da fábrica à beira do rio facilitando, com isso, o recebimento dos insumos. Há, porém que se considerar que caso a empresa aumente seu portfólio de clientes, expandindo para outras regiões, a quantidade e localização dos centros de distribuição serão insuficientes. Uma estrutura que se destaca é a de cross-docking, utilizada pela empresa no CD do Rio de Janeiro, que acarreta em reduções de estoque e melhora o nível de serviço. Em relação ao transporte, a empresa poderia adotar o princípio de maximização da unidade veicular no momento do envio dos vasilhames e rótulos do porto em Belém até a fábrica em Afuá, com intuito de se reduzir os custos, visto que ao retornar da fábrica o barco poderia trazer os produtos acabados, já que este, hoje, realiza este trajeto estando vazio. Sendo necessária uma segunda viagem para o carregamento dos mesmos. Apesar disso, os modais utilizados são bem aplicados, pois cada transferência de material tem sua particularidade de transporte. Assim, nas cidades se utilizam veículos leves ou pesados, enquanto que no transporte entre portos, é mais vantajosa a via fluvial. Outro ponto importante seria em relação à logística reversa a qual não ocorre de fato, visto que não há o retorno dos produtos à empresa, uma vez danificados durante o transporte e devolvidos pelos clientes. Considerando os estoques ao longo de toda a cadeia, podemos analisar sobre três aspectos: o dos fornecedores, da fábrica e dos Centros de Distribuição. Quando nos referimos aos estoques dos fornecedores de palmito, não observamos a existência de cabeças de palmito já tiradas. O que ocorre é um estoque de “plantação”, que representa um insumo a ser processado (no caso com o extrativismo) pelo fornecedor para somente então se tornar um estoque de produto acabado (cabeça de palmito). Isso limita a velocidade e a disponibilidade de insumos para a fábrica em Afuá. Os estoques da fábrica estão bem dimensionados, assim como o dos centros de distribuição. Em relação ao componente informação, a empresa se encontra bem estruturada, visto que faz uso de uma eficiente tecnologia de informação de ERP, chamada Microsiga. Possui, portanto, todos os seus setores interligados, facilitando com isso o acesso às diversas informações da empresa. 10 O serviço ao cliente foi melhorado consideravelmente nos últimos anos visto que a empresa passou a adotar uma nova estratégia de transporte e entrega das mercadorias, onde uma transportadora leva a mercadoria até a região Sudeste deixando a cargo do representante a distribuição dos produtos, o qual tem interesse no cumprimento do prazo não somente pela sua comissão, mas, principalmente, pela satisfação e possível fidelização do cliente. A estrutura de custos da cadeia considera o custo de armazenagem, que tem apresentado uma relação custo/benefício pequena. São necessários investimentos que visem agregar valor ao cliente, garantindo as condições ideais de consumo do produto. Outro custo relevante são os de estoque, que se mostraram dentro dos padrões quando comparados a outras empresas do ramo. A principal dificuldade são os custos de aquisição de insumos, que são elevados se for considerado o custo de imobilização de capital. Essa imobilização ocorre porque o fornecedor recebe o pagamento antecipadamente e nem sempre cumpre com o pedido integral. A mesma dificuldade ocorre com os ribeirinhos, porém não acontece com os fornecedores de vasilhames e rótulos. Referencial BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2006. BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1993. BOWERSOX, D. J., CLOSS, D J. e COOPER, M. B. Gestão da cadeia de suprimentos e logística. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2007. CHOPRA, S. e MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Prentice Hall, 2003. GOMES, Carlos F. 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