MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA.
CAMPUS JOINVILLE
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO DE ENSINO
LÍNGUA PORTUGUESA V – REALISMO e NATURALISMO (material teórico) PROFESSOR: Samuel Ivan Kühn Aluno(a)______________________________________________ nº _______ Curso________________ Esse material contém trechos do livro “ANDRADE, Fernando Teixeira de. Literatura, I. São Paulo : Centro de Recursos Educacionais, 1987.” 1. LOCALIZAÇÃO HISTÓRICO‐CULTURAL O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são as correntes artísticas mais expressivas da segunda metade do século XIX até o limiar do século XX. Refletem, no plano artístico, a consolidação da burguesia e seu fortalecimento, enquanto classe detentora do poder, em função do triunfo definitivo do capital industrial sobre o capital de comércio, e da implementação do capitalismo avançado e sua expansão às áreas periféricas do sistema mundial, América, África e Ásia. O ímpeto revolucionário e contestatório do período romântico, a exaltação da liberdade individual, da rebeldia, são substituídos por novas palavras de ordem: a CIÊNCIA, o PROGRESSO, a RAZÃO, que interessam à classe dominante, no sentido da estabilização de suas conquistas, de preservação da ORDEM, de maximização da produção industrial. O lema da bandeira brasileira ‘Ordem e Progresso’, extraído de Augusto Comte, sintetiza a proposta do Positivismo, uma das vertentes do pensamento da época. O apogeu da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, o avanço científico e tecnológico marcou profundas transformações na vida, na arte e no pensamento. A situação das massas trabalhadoras nas cidades industriais, a explosão urbana, a eletricidade, o telégrafo, a locomotiva a vapor criam uma nova forma de vida. ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 2. A GERAÇÃO DO MATERIALISMO O desenvolvimento científico da época galvanizou a intelectualidade, que, das cátedras universitárias aos bares boêmios, adere ao CIENTIFICISMO, ao MATERIALISMO, opondo‐se à metafísica, à religião e a tudo que escapasse aos limites da matéria. Algumas doutrinas científico‐
filosóficas da época deixaram marcas visíveis na produção literária: 2.1. O Positivismo Designa o conjunto de doutrinas do francês Augusto Comte (1798‐1857) caracterizado pela orientação cientificista que deu ao pensamento filosófico. O método positivista consiste na observação dos fenômenos, dos fatos, não dando importância à imaginação. As explicações eram baseadas nas coisas práticas e presentes na vida do homem. 2.2. O Evolucionismo Teve no inglês Charles Darwin (1809‐1882) o seu mais eminente sistematizador. A teoria de que o homem é o produto da evolução natural das espécies, e o reconhecimento dos mecanismos pelo qual essa evolução se processou, deu à BIOLOGIA um papel fundamental, e o domínio desse campo do conhecimento passa a influenciar vários outros (Psicologia, Sociologia etc.). O homem passa a ser visto especialmente sob o aspecto biofisiológico, tomado como ser animal, regido pelo instinto biológico, pelas mesmas leis que regem todos os animais. Dessa noção, decorre o gosto dos autores do Naturalismo pelo zoomorfização, que consiste na aproximação, através de símiles, entre o homem e o animal, com o propósito de depreciar o humanismo. Observemos o exemplo abaixo, trecho do livro ‘O Cortiço’, de Aluísio de Azevedo: “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multiplica‐se como larvas no esterco.” (Cap. III) Aqui ocorre a aproximação entre o homem do cortiço e o estado larval, enfatizando, por hipérbole negativa, o primitivismo da condição de vida do homem (larva, verme, minhoca) na habitação coletiva. 2.3. O Determinismo Sistematizado pelo francês Hypolyte Taine (1828‐1893), propõe que o comportamento humano seja determinado por forças biológicas (o instinto, a herança genética), sociológicas e ambientais (ecologia, meio social) e históricas. Todos os fatos psicológicos e sociais são manifestações naturais que nada têm de transcendência. A verdade, o bem e o belo existem nas coisas, independentemente de razões subjetivas. As circunstâncias externas determinam rigidamente a natureza dos seres vivos, inclusive do homem; nem a razão nem a vontade podem agir independentemente de seu condicionamento. Toda a realidade passa por um processo evolutivo, dentro de um sistema de leis naturais absolutamente definidas. ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 3. CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS E ESTILÍSTICAS 3.1. Objetivismo Caracteriza‐se pela preocupação com a verdade, não apenas verossímil, mas exata, através da observação e análise. Na recriação artística da realidade, os autores da época põem em primeiro plano as impressões sensoriais, através da descrição objetiva. Os detalhes são da maior importância e nada é desprovido de interesse. 1
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3.2. Impassibilidade O autor procura uma posição neutra, ausentando‐se da narrativa, desinteressado pelo destino das personagens, que são ‘fotografadas’ por dentro (Machado de Assis) e por fora (Aluísio Azevedo). Procura‐se obedecer a uma lógica rigorosa entre as causas que determinam o comportamento humano; nenhuma atividade da personagem realista é gratuita, há sempre uma explicação lógica e cientificamente aceitável para seu comportamento. 3.3. Personagens esféricas Enquanto no Romantismo as personagens eram lineares, construídas ao redor de uma única ideia ou qualidade (bem x mal, herói x vilão), com atitudes plenamente previsíveis e sem qualquer evolução, reduzindo‐se a tipos (o mocinho pobre bem‐intencionado; a mocinha; o pai tirano; a tia bisbilhoteira; o arrivista), o Realismo valoriza as personagens esféricas, que apresentam simultaneamente várias qualidades ou tendências; são complexas, multiformes, e repelem qualquer simplificação. São dinâmicas, porque evoluem e têm profundidade psicológica. 3.4. Temas contemporâneos A obra realista e naturalista centra‐se no presente, no momento vivido pelo autor. Os temas prediletos são: a crítica social, desnudando as mazelas da burguesia e do clero, e a análise psicológica, voltada para a investigação dos motivos das ações humanas. 3.5. Exaltação sensorial O romântico apreendia o mundo com o coração, com o sentimento, com uma atitude espiritualizante. O realista é, acima de tudo, sensorial: precisa ver, apalpar, experimentar fisicamente. A sensação é elemento fundamental no conhecimento do mundo. Assim, no Realismo, o amor perde a conotação espiritualizante para restringir‐se ao aspecto físico: ocorre o que chamaríamos de sexualização do amor. Ao invés do casamento como epílogo, teremos o adultério como ponto de partida. O sexo torna‐se praticamente obrigatório. 3.6. Elementos da narrativa Realista – Naturalista a) A narrativa é lenta, minuciosa, a ação e o enredo perdem a importância para a caracterização das personagens. b) Predomina a denotação e a metáfora é colocada em segundo plano, cedendo lugar à metonímia. c) Preocupação formal. Busca‐se a clareza, o equilíbrio, a harmonia da composição, além da correção gramatical. ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 4. A CORRENTE NATURALISTA É um desdobramento do Realismo, por isso falamos em período do Realismo‐Naturalismo, pois há muitos pontos comuns entre as duas correntes. Ambas Orientam‐se no sentido do cientificismo e do materialismo, da objetividade; da crítica às instituições burguesas, ao clero, à monarquia. No Brasil, ambas se desenvolvem simultaneamente e coexistem em determinados autores; mas há diferenças a assinalar: a) A visão de vida do Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista; ressalta‐se o aspecto biofisiológico do Homem, visto como um animal, regido pelo instinto e pela fisiologia. b) Por influência do método científico da Medicina Experimental, de Claude Bernard, o naturalista faz do romance uma espécie de laboratório da vida, encarando o homem e a sociedade como um ‘caso’ a ser analisado. c) O autor naturalista, com sua preocupação científica, e seus interesses universais, atém‐se aos fatos e nada que esteja na Natureza é indigno da literatura. Isso implica certa indiferença, certo amoralismo, não importando a opinião sobre os atos, mas os atos em si mesmos. Daí a abordagem de temas escabrosos (sedução, adultério, incesto, homossexualismo, taras e vícios) tão ao gosto de determinados autores. A denúncia dos aspectos degradantes da condição humana faz‐se com o propósito de melhoria das conduções sociais que os geraram. d) As obras naturalistas pecam por esquematismo, presas que estão ao determinismo, à explicação cientificista e esquemática da vida. Restringem‐se, muitas vezes, apenas à exterioridade, aos condicionamentos, incapazes de perfurar essa crosta e contemplar o homem em toda a sua complexidade. 4.1. Quadro comparativo Realismo Naturalismo Romance documental: apoiado na observação e na análise. Arte desinteressada: aspirações estéticas. Análise psicológica: indivíduo. Indireto na interpretação: o leitor tira as suas conclusões. Retrata e critica as classes dominantes, a alta burguesia urbana. Preocupação com o estilo. Autores em destaque: Romance experimental: apoiado na experimentação científica. Arte engajada: denúncia (social e política). Análise social. Direto na interpretação: expõe conclusões, cabendo ao leitor aceitar ou discutir. Espelha as camadas inferiores, o proletariado, os marginais. Focado na denúncia. Autores em destaque: ‐ Machado de Assis. •
Memórias Póstumas de Brás Cubas •
Quincas Borba •
Dom Casmurro ‐ Raul Pompéia. •
O Ateneu ‐ Aluísio Azevedo. •
O Mulato •
Casa de Pensão •
O Cortiço ‐ Adolfo Caminha. •
A Normalista •
Bom‐Crioulo ‐ Visconde de Taunay. •
Inocência 2
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Material teórico - Realismo e Naturalismo