Realismo-Naturalismo 1881-1893 Contexto histórico ▪ 2ª fase da Revolução Industrial: desenvolvimento capitalista. ▪ Surgimento de teorias cientificistas: ▪ Positivismo: só é válido o conhecimento comprovado cientificamente. ▪ Evolucionismo: “Origem e seleção das espécies”. ▪ Determinismo: o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico. Origem animal do homem "Ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos..." (Aluísio Azevedo, O Cortiço) O homem produto do meio Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos... A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. Esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor... E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...) Valores da sociedade da época ▪ Materialismo ▪ Cientificismo Início ▪ REALISMO: “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado de Assis. ▪ NATURALISMO: “O Mulato” (1881), de Aluísio Azevedo. Características gerais ▪ Análise objetiva da realidade: análise da realidade exterior. ▪ Contemporaneidade: o autor volta-se para o momento que ele estava vivendo. ▪ Ênfase nas descrições: para destacar os defeitos. ▪ Crítica à sociedade da época: à família, à Igreja, ao casamento. ▪ Personagens não-idealizadas: apresentam defeitos e qualidades. ▪ Linguagem direta, denotativa. Diferenças entre Realismo e Naturalismo REALISMO NATURALISMO ▪ Seleciona os temas, busca o ▪ Expõe os aspectos mais ▪ Análise psicológica do ▪ Análise do comportamento ▪ Retrata a burguesia. ▪ Retrata a classe mais baixa. ▪ Machado de Assis. ▪ Aluísio Azevedo. belo: mostra os defeitos, mas com elegância. personagem. degradantes; intensa sexualidade. biológico, patológico. Realismo “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo para fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, - devoção, ou talvez medo; creio que medo. Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos.” Naturalismo “Uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de adeira, sujo, seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas, apregoava em tom arrastado e melancólico: ‘’Fígado, rins e coração. ’’ Era uma vendedeira de fatos de boi. (...) os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar, querendo morder os mosquitos.” Realismo “Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. ” Naturalismo “O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e boemia. Fazia má impressão estar ali: o vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando o ambiente; a louça, que servira ao último jantar, ainda coberta de gordura coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia de contusões e róia de ferrugem. Uma banquinha, encostada à parede, dizia com seu frio aspecto desarranjado que alguém estivera aí a trabalhar durante a noite, até que se extinguira a vela, cujas últimas gotas de estearina se derramavam melancolicamente pelas bordas de um frasco vazio de xarope Larose, que lhe fizera às vezes de castiçal”. Realismo “Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.” Naturalismo “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.” Autores e Obras Machado de Assis: Obra dividida em duas fases Fase Romântica ▪ Romantismo sóbrio, sem exageros. ▪ Presença de análise psicológica das personagens: antecipa características da Fase Realista. Obras: “Ressurreição” “A mão e a luva” “Helena” “Iaiá Garcia” “Helena” “Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes.” Fase Realista ▪ Análise psicológica das personagens ▪ Personagens esféricas: com profundidade psicológica “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.” ▪ Pessimismo, negativismo, niilismo ▪ Ironia “...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.” “...ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” “Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém. Parei e perguntei calado: "Quando seria o dia da criação de Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.” Temas Adultério Egoísmo Vaidade Aparência X essência Jogo de interesse Loucura Conversa com o leitor: “digressões” “O maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param […]" Metalinguagem: o romance fala/explica o próprio romance “Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo.” “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método.” Intertextualidade: “Dom Casmurro” retoma “Otelo”, de Shakespeare “Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência.” Obras “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) “Dom Casmurro” “Quincas Borba” “Esaú e Jacó” “Memorial de Aires” Aluísio Azevedo ▪ Escreveu Romances Românticos e Naturalistas. ▪ Fase Naturalista – Romance de Tese: ▪ Determinismo: o homem tem o comportamento condicionado pelo meio em que vive. ▪ Darwinismo: personagens impulsionados por desejos sexuais. ▪ Crítica ao clero. ▪ Temas: homossexualismo, personagens dominados por instintos. “Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos... A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. Esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor... E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...)” "Ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos..." Obras “O Mulato” (1881) “O Cortiço” “Casa de pensão” Raul Pompeia Obra de destaque: “O ATENEU – CRÔNICA DE SAUDADES” ▪ Presença de traços autobiográficos. ▪ O autor traça o cenário da sociedade brasileira, que experimentava a decadência do regime monárquicoescravocrata. ▪ Obra de difícil classificação: Impressionista, Expressionista, Realista, Naturalista: ▪ IMPRESSIONISTA: Sérgio, adulto, conta as “impressões” da sua infância no internato. ▪ EXPRESSIONISTA: o autor faz uma espécie de “caricatura” na descrição das personagens. ▪ REALISTA: análise da sociedade e da psicologia das personagens. ▪ NATURALISTA: personagens comparados a animais; homossexualidade. "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.” “Aristarco, todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei — o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino publico; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês.” “O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio; o Negrão, de ventas acesas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha, fazendo agrados ao mestre.” “Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais, pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, estão perdidos... Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.”