5, 6 e 7 de Agosto de 2010 ISSN 1984-9354 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA CIDADE DE MANAUS Iana Cavalcante de Oliveira (COPPE/UFRJ) [email protected] Kaique Falcão Pires de Lima (CIESA) [email protected] Antonio Geraldo Harb (UEA) [email protected] O presente trabalho apresenta uma análise da influência que o programa Bolsa Família desempenhou no Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, das famílias do núcleo habitacional Amazonino Mendes sob a área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10, na zona norte da cidade de Manaus. Apesar de ser considerado um dos motivos para redução da desigualdade de renda, o programa Bolsa Família gera diferentes posicionamentos entre os estudiosos. Enquanto alguns crêem que este é um programa insuficiente, outros o defendem sob a justificativa que a transferência de renda melhorou o bem-estar da população beneficiária. Foram feitas comparações e mensuração do grau de correlação entre os indicadores de educação, expectativa de vida e renda per capita das famílias beneficiárias e as não beneficiárias, e destas com países que se encontram em situação semelhante. Os procedimentos metodológicos utilizados foram os métodos indutivo, comparativo, estatístico e o estudo de caso. Quanto à natureza da pesquisa foi classificada como quantitativa. Os resultados apontaram que o programa Bolsa Família influenciou de modo positivo o índice educacional, porém quanto à análise dos outros indicadores, as famílias não beneficiárias apresentaram melhor desempenho. Palavras-chaves: Desenvolvimento Humano, Programa Bolsa Família, Cidade de Manaus VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 1. Introdução O escritor e jornalista Nelson Rodrigues dizia que “a liberdade é mais importante do que o pão”, tecendo uma crítica contra as ditaduras políticas existentes em Cuba, China, Rússia e que mais tarde, tomaria o Brasil. Nota-se que na época do escritor, a liberdade estava diretamente ligada ao grau de liberdade política de uma sociedade. Assim, esta frase dita há quase meio século, hoje pode assumir uma conotação muito diferente da época em que foi elaborada. O baixo grau de bem-estar dos indivíduos mais pobres atenuou a necessidade de compreender os efeitos do desenvolvimento econômico. Observa-se, que esses indivíduos concentram-se em países de baixo nível de desenvolvimento, porém não deixam de existir em países desenvolvidos. Por consequência, a liberdade comparada ao pão, por Nelson Rodrigues, representa não apenas a democracia, mas também a capacidade que os indivíduos devem possuir de ter seu pão, por meios próprios. O acesso a educação e a saúde é a base fundamental para formação das capacidades humanas, e são essas que agregam aos indivíduos a possibilidade de acesso às oportunidades. Partindo desse princípio, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH torna-se uma eficaz ferramenta para identificar o grau de bem-estar que uma população goza. A preocupação com o bemestar da população vem estimulando muitos governos, a fim de minimizar ou eliminar os bolsões de pobreza que assolam boa parte da população mundial. A proposta do programa Bolsa Família objetiva a transferência de renda para as camadas mais pobres da população, possibilitando o aumento do nível de escolaridade, melhoria dos indicadores nutricionais, elevação da renda per capita e aumento da expectativa de vida da população brasileira. O presente trabalho apresenta uma análise das correlações entre o IDH e o programa Bolsa Família em um núcleo habitacional da cidade de Manaus. 2. Referencial Teórico 2 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 2.1 Considerações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH Segundo Machado e Pamplona (2008) a reconstrução da Europa pós-guerra, o crescimento dos países socialistas e a importância de desenvolver os países do hemisfério sul, aumentaram a preocupação com a questão do desenvolvimento. O reconhecimento que os países exportadores de bens primários eram prejudicados em suas relações comerciais com os países industrializados despertou na Organização das Nações Unidas – ONU, a consciência que os problemas dos países pobres não eram apenas ligados à acumulação de capital físico, mas também a escassez de capital humano. É a partir deste momento que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD ganha papel de destaque na ONU. Samuelson e Nordhaus (2004, p.470) explicam que o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH foi criado pelo PNUD e combina indicadores econômicos e sociais, apoiando-se na abordagem “que o crescimento econômico deve melhorar a saúde e a educação das pessoas, assim como seus salários.”. Para Paiva (2008) o IDH é uma variável capaz de assimilar melhor as complexidades do desenvolvimento do que o Produto Interno Bruto - PIB. 2.2 Cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH Como observado na figura 1, o Relatório do Desenvolvimento Humano (2004), apresenta as três dimensões básicas necessárias para o cálculo do IDH. 3 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Dimensão Indicador Índice de Dimensão Um nível Uma vida longa de vida e saudável Conhecimento Esperança de Taxa de alfabetização Taxa de escolarização vida ao nascer de adultos Índice de Índice de Esperança de alfabetização em vida adultos bruta (TEB) Índice TEB digno PIB per capita (dól. PPC) Índice do PIB Índice de Educação Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Fonte: PNUD - Relatório do Desenvolvimento Humano (2004, p. 258), com adaptações. Figura 1 – Dimensões, indicadores e índices do IDH. Cada dimensão é sintetizada num índice cujo valor varia entre 0 e 1, encontrada pela seguinte fórmula: Índice de dimensão Valor atual - Valor mínimo = Valor máximo - Valor mínimo Na tabela 1, pode-se observar a definição dos valores máximos e mínimos para o cálculo do índice de cada dimensão. 4 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Tabela 1 – Balizas para calcular os índices. Valores Valores máximos mínimos Esperança de vida ao nascer (anos) 85 25 Taxa de alfabetização de adultos (%) 100 0 100 0 40.000 100 Indicador Taxa de escolarização bruta combinada (%) PIB per capita (dólares PPC) Fonte: PNUD - Relatório do Desenvolvimento Humano (2004, p. 259), com adaptações. 2.3 A criação e o objetivo do Programa Bolsa Família Segundo Klein (2005) durante o governo Fernando Henrique Cardoso, foi instituído o Programa de Proteção Social que incluía os programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, o Auxílio Gás e outros programas de assistência e geração de renda. O Programa Bolsa Escola foi criado com o objetivo de criar um compromisso das famílias em manter seus filhos estudando, sendo esta a contrapartida para receber o benefício. Senna et al (2007) acrescentam que os objetivando não apenas a redução da pobreza, mas sobretudo a eliminação do trabalho infantil. Analisam que a falha dos programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação foi que alguns de seus critérios eliminavam a possibilidade de outras famílias, tão pobres quanto às beneficiárias, receber as transferências. Em virtude disso, em 2003, durante o início do Governo Lula, todos os benefícios foram unificados criando o Programa Bolsa Família. Soares, Ribas e Osório (2007) apresentam dados que incluem esse programa como um dos maiores em transferência de renda do mundo. Segundo esses estudiosos, neste ano o benefício já abrangia um total de 11 milhões de famílias. Segundo Klein (2005, p. 31) o surgimento do Programa Bolsa Família ocorreu sobre bases bem definidas, “a construção de uma democracia social que assegure condições de igualdade aos indivíduos”. O programa Bolsa Família constitui-se numa transferência de Soares, Ribas e Osório (2007) argumentam que a redução, no curto prazo, da privação de renda das famílias mais carentes e a quebra do ciclo de transmissão da pobreza, constitui os dois objetivos básicos do programa. Como mecanismo para o primeiro objetivo, os autores apontam a 5 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 transferência monetária, para o segundo, o cumprimento das condições educacionais e sanitárias. Para o sucesso de sua implantação, Santana (2007, p. 6) observa que foi necessário um Sendo assim, “o Bolsa Família foi pensado como uma política social com gestão participativa da comunidade e por isso deveriam ser criados comitês gestores nos municípios”. Considerando o programa, “um processo de emancipação que parte da família, articula com a comunidade”, Santana (2007) reconhece a Bolsa Família como um meio, não como um fim. Mesmo assim, Senna et al (2007) expõem a fragilidade do controle social do programa, baseando-se nas várias denúncias publicadas em diversos veículos de informação sobre corrupção no processo de cadastramento em alguns municípios. Por outro lado, reconhecem que o controle social não é um desafio apenas para o Programa Bolsa Família - PBF, mas também para a política pública de forma geral. Silva (2007) esclarece que as diretrizes do programa consideram as famílias que vivem com renda per capita mensal até R$ 60,00, em situação de pobreza extrema. Este grupo recebe uma transferência fixa de R$ 50,00, podendo receber quinze reais por cada filho até quinze anos de idade, atendendo até três filhos, totalizando um teto máximo de R$ 95,00. Famílias cuja renda per capita mensal esteja entre R$ 60,00 e R$ 120,00, recebem até R$45,00, adicionando quinze reais por filho até quinze anos. Senna et al (2007) complementam incluindo que o adicional de quinze reais também pode variar de acordo por cada gestante e nutriz, da família. Sendo que estas devem ter sua rotina nutricional acompanhada e realizar todas as consultas de pré-natal e puerpério, além disso, crianças de 0 a 6 anos devem estar com a vacinação em dia. Soares, Ribas e Osório (2007) afirmam que entre 1995 e 2004, a desigualdade de renda brasileira, medida pelo Índice de Gini, caiu cinco pontos e atribuíram 21% desta queda às transferências da Bolsa Família. Avaliam que esta transferência de renda não retira as famílias da pobreza, porém para àquelas que vivem sobre pobreza extrema, estas transferências representam a maior parte da renda das famílias, quando não a única fonte de renda. Acrescentam também, que o erro de inclusão no programa chega a 49%, porém essas famílias não estão muito acima da linha de pobreza, e o erro de exclusão próximo de 46%. Kerstenetzky (2009), adotando o mesmo fundamento, expõe a expansão do mercado formal de trabalho e os reajustes do salário mínimo, como os dois principais fatores de redução da 6 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 desigualdade no Brasil. Afirma também, que 87% das transferências de renda do PBF foram utilizadas pelas famílias para o consumo de alimentos, o que pode explicar a redução da desnutrição infantil nos últimos anos. Sobre o erro de exclusão, Kerstenetzky (2009) considera este muito elevado e atribui a falta de informações das famílias extremamente pobres um dos motivos do crescimento erro de exclusão. Em consequência, tece uma crítica ao considerar este um paradoxo, uma vez que estas famílias formam o principal alvo da Bolsa Família. Adiciona também a possibilidade de algumas famílias não quererem viver sob o estigma de benefícios sociais, e o fato da lista de beneficiários ser elaborada por informações do governo local e informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, que não é capaz de eliminar o clientelismo por parte de autoridades locais. Silva (2007), por outro lado, apresenta uma visão um pouco menos otimista. Ao reconhecer a importância da Bolsa Família na melhoria dos rendimentos das famílias, aborda que este dificilmente atuará na redução da pobreza e que poderá até ser um regulador da pobreza determinada pelas próprias exigências do programa. Avalia que este deveria ser um redistribuidor de renda entre a população brasileira e não apenas um distribuidor. Finalmente, Silva (2007) conclui que os resultados do programa são modestos frente a necessidade de superação da pobreza e da fome no Brasil. Assim como, Senna et al (2007) preocupam-se com o caráter do Programa, uma vez que não há medidas focadas na geração de emprego e renda, que aliadas às estratégias políticas e socioeducativas, poderiam cooperar com o rompimento do ciclo de reprodução da pobreza. Para os estudiosos, essa pode ser considerada a maior debilidade do PBF, ou seja, a incapacidade de inserir esta população adulta no ciclo produtivo da economia. Em convergência, Kerstenetzky (2009, p. 60) assume que há consenso, mesmo entre os defensores da Bolsa Família, que a criação de “oportunidades sustentáveis para as famílias é realmente crítica”. 3. Procedimentos metodológicos 3.1. Métodos de abordagem O presente artigo utilizou o método indutivo uma vez que pesquisou o caso específico do núcleo habitacional Amazonino Mendes, na cidade de Manaus. Segundo Borba et al (2004), o 7 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 método indutivo parte do particular para o geral e possui como finalidade a acumulação de experiências e observações da realidade. 3.2. Métodos de procedimentos A pesquisa utilizou os métodos: comparativo, estatístico e estudo de caso. O método comparativo compara dados entre gêneros e diferentes grupos. Gil (2002) define o método comparativo como aquele que se dá pela investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, cuja finalidade é ressaltar as diferenças entres estes. Neste caso, o estudo comparou os indicadores do IDH das famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família com as não beneficiárias e com alguns países periféricos. Segundo Fachin (2003) o método estatístico se fundamenta nos conjuntos de procedimentos apoiados na teoria da amostragem e, como tal, é indispensável no estudo de correlação entre dois ou mais fenômenos. Os procedimentos estatísticos utilizados no presente trabalho foram a regressão linear para estabelecer a expectativa de vida da região, as análises de correlação para verificar o grau de correlações entre os beneficiários do Programa com os indicadores do IDH e a estatística descritiva que objetivou a descrição dos dados quantitativos da pesquisa. Borba et al (2004), definem o método de estudo de caso como uma profunda avaliação de um objeto restrito, que possui importância por suas relações com a totalidade da qual faz parte, ou como caso típico de uma população de fenômenos da mesma espécie. O estudo de caso ocorreu no núcleo habitacional Amazonino Mendes na zona norte da cidade de Manaus. 3.3. Natureza da pesquisa Martins e Theóphilo (2007) consideram a pesquisa quantitativa aquela em que os dados numéricos colhidos são organizados, sumarizados, caracterizados e interpretados. A presente pesquisa é considerada de natureza quantitativa uma vez que foi aplicado um instrumento de pesquisa com perguntas fechadas para colher dados numéricos para consubstanciar o tratamento estatístico empregado neste trabalho. 3.4. Quanto aos fins Vergara (2000) afirma que a pesquisa descritiva demonstra especificidades de certas 8 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 populações ou fenômenos, podendo construir correlações entre variáveis e definir seu caráter, não tendo a obrigação de elucidar os fenômenos que descreve, mesmo que possa servir de apoio para tal explicação. O estudo em lide descreve as correlações das variáveis pesquisadas sem a interferência dos pesquisadores. 3.5. Quanto aos meios Quanto aos meios a pesquisa foi bibliográfica e de campo. Para Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é fundamentada em livros e artigos científicos, ou seja, em um material já elaborado e publicado. A pesquisa também é de campo. Segundo Vergara (2000) esta pesquisa é uma investigação empírica num determinado local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno, pode-se conter entrevistas, questionários, testes e observação participante ou não. 3.6. População e tamanho da amostra A população do núcleo habitacional Amazonino Mendes, na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10, é de 4.056 pessoas divididas em 966 domicílios. Explica-se que para a pesquisa fez-se necessário a aplicação de questionários nas residências, uma vez que sua proposta era subsidiar o trabalho de informações para o cálculo do IDH. Assim, a amostra calculada resultou em 216 residências, considerando um erro de 6%. Por meio da fórmula proposta por Stevenson (1981), calculou-se o tamanho da amostra, onde n é o tamanho da amostra, N o tamanho da população. n = (N x no) / (N + no) no = 1/E² 9 Sendo: E = erro Considerando: Erro = 6,0% Domicílios = 966 Calculando: no = 1 / (0,06)² = 277,77 ≈ 278 n = (966 x 278) / (966 x 278) = 215,8 ≈ 216 domicílios 4. Resultados e discussões O cálculo do índice educacional do IDH é composto pela taxa de alfabetização e a taxa de escolarização bruta, com respectivas ponderações de 2/3 e 1/3. Na tabela 2, observam-se os dados educacionais do núcleo habitacional Amazonino Mendes, divididos entre aqueles que recebem e não recebem o programa Bolsa Família. Tabela 2 – Dados educacionais do núcleo habitacional Amazonino Mendes na cidade de Manaus no ano de 2009. Recebem Não recebem Bolsa Bolsa Família Família 96,32% 96,80% 95,77% 75,00% 78,51% 70,00% Todas as Dados educacionais famílias Taxa de Alfabetizados Taxa de Escolarização Bruta Aplicando-se o cálculo deste indicador sobre as taxas de alfabetizados e escolarização bruta, considerando as balizas mínimas e máximas de 0 e 100, encontram-se os seguintes valores: Indicador de Alfabetizados (Todas as famílias) Indicador de Alfabetizados (Recebem Bolsa Família) Indicador de Alfabetizados (Não recebem Bolsa Família) = = = = (Todas as famílias) Indicador de Escolarização 100,00 – 0,00 96,80 – 0,00 100,00 – 0,00 95,77 – 0,00 100,00 – 0,00 = 0,963 = 0,968 = 0,958 = 0,750 = 0,785 75,00 – 0,00 Indicador de Escolarização Bruta 96,32 – 0,00 = 100,00 – 0,00 78,51 – 0,00 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Bruta (Recebem Bolsa Família) 100,00 – 0,00 Indicador de Escolarização 70,00 – 0,00 Bruta = (Não recebem Bolsa Família) 100,00 – 0,00 = 0,700 Consequentemente aplica-se as respectivas ponderações para cada um dos dois indicadores, para encontrar o índice educacional. Indicador de Educação (Todas as famílias) = 0,892 Indicador de Educação (Recebem Bolsa Família) = 0, 907 Indicador de Educação (Não recebem Bolsa Família) = 0,872 Ressalta-se que o indicador de educação das famílias que não recebem Bolsa Família é inferior ao indicador das famílias que recebem devido à baixa taxa de frequência escolar bruta. Mesmo que para esta taxa a ponderação seja menor, ela está mais de 0,1 abaixo das famílias que recebem. Considerando que o índice varia entre 0 e 1, esta diferença torna-se um peso negativo para as famílias que não recebem. Observa-se na tabela 3, que se considerando o núcleo habitacional Amazonino Mendes uma região isolada do resto do Brasil, ele ocuparia o 55º posicionamento no mundo, ordenado pelo índice de educação. Porém, as famílias que recebem Bolsa Família ocupariam o 51º posicionamento, enquanto as famílias que não recebem 63º. Neste caso, a comparação com o resto do mundo torna-se uma maneira de identificar a lacuna existente entre os dois grupos. O grupo beneficiário encontra-se 12 posições a frente do outro. Ressalta-se, que este indicador é uma medida meramente quantitativa e não mensura a qualidade do ensino fundamental, médio e superior, ou se o indivíduo alfabetizado possa ser um analfabeto funcional. Tabela 3 – Posição do núcleo habitacional Amazonino Mendes a alguns países, segundo o índice de educação. 12 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Posicionamento Posicionamento Índice de pelo IDH-E pelo IDH 56 84 Armênia 0,909 - - Amazonino Mendes (Beneficiários) 0,907 57 109 Turcomenistão 0,905 63 39 Bahrain 0,893 - - Amazonino Mendes 0,892 64 113 Bolívia 0,892 90 76 Bósnia e Herzegovina 0,874 - - Amazonino Mendes (Não Beneficiários) 0,872 91 31 Kuwait 0,872 Países Educação 4.1 Dados de renda per capita No referencial teórico foi exposto o cálculo realizado para encontrar o índice de renda per capita para compor o IDH e as balizas do mesmo. Adverte-se, porém, que o PNUD Brasil para este cálculo, não utiliza a renda per capita em dólares PPC, e sim, a renda per capita mensal, além de transformar as balizas mínimas e máximas. Sendo assim, o valor de 100 dólares é modificado para 3,90 reais, enquanto o valor de 40.000 dólares é modificado para 1560,17 reais. Assim como os dados educacionais, a renda per capita mensal foi divida entre as famílias que recebem e as que não recebem o benefício do programa Bolsa Família. Índice de Renda per capita (Todas as famílias) Índice de Renda per capita (Recebem Bolsa Família) Índice de Renda per capita (Não recebem Bolsa Família) = = = log (163,35) - log (3,90) log (1560,17) - log (3,90) log (121,52) - log (3,90) log (1560,17) - log (3,90) log (224,38) - log (3,90) log (1560,17) - log (3,90) = 0,628 = 0,533 = 0,676 Ao contrário do que ocorre no indicador educacional, o índice de renda per capita das famílias que não recebem Bolsa Família é bem superior em comparação com as famílias beneficiadas. Na tabela 4, encontra-se o posicionamento destas famílias em relação a alguns 13 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 países periféricos. Tabela 4 – Posição do núcleo habitacional Amazonino Mendes em relação a alguns países periféricos, segundo o índice de renda per capita. Índice de Posicionamento Posicionamento pelo IDH-R pelo IDH Países Renda per capita 104 95 Maldivas 0,659 - - Amazonino Mendes (Não Beneficiários) 0,658 105 128 Namíbia 0,658 118 130 Marrocos 0,620 - - Amazonino Mendes 0,613 119 112 Honduras 0,607 126 121 Cabo Verde 0,570 - - Amazonino Mendes (Beneficiários) 0,566 127 114 Guiana 0,555 4.2 Dados de expectativa de vida A expectativa de vida em uma região é calculada pela média aritmética dos óbitos por idade. Porém, esses dados são calculados com maior frequência em municípios, estados e países. Por este fato, não foram encontrados dados para o cálculo da expectativa de vida para o núcleo habitacional Amazonino Mendes. Observa-se que poderia ser empregado o dado relativo à cidade de Manaus, porém este não é uma garantia confiável. Para solucionar esta limitação da pesquisa, a expectativa de vida da região foi calculada por meio de regressão linear, com base na correlação da expectativa de vida com o índice do PIB per capita de todos os países analisados no Relatório do Desenvolvimento Humano (2009). Antes de mensurar o dado, justifica-se a correlação do índice do PIB per capita, após a analisar o grau de correlação da expectativa de vida com mais outros três indicadores, conforme se observa na tabela 5. 14 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Tabela 5 – Grau de correlação de quatro indicadores com a expectativa de vida. Indicador Grau de correlação Índice do PIB per capita 0,796 Índice de educação 0,783 Taxa de escolarização bruta combinada 0,771 Taxa de alfabetização 0,734 Apesar dos quatro indicadores apresentarem forte grau de correlação, o índice do PIB per capita é o que está mais bem correlacionado com a expectativa de anos vividos. Na figura 2, observa-se a equação da reta, onde: y = Índice do PIB per capita x = Expectativa de vida Considerando: yB = Índice do PIB per capita das famílias beneficiárias yN = Índice do PIB per capita das outras famílias yT = Índice do PIB per capita de todas das famílias xB = Expectativa de vida (em anos) das famílias beneficiárias xN = Expectativa de vida (em anos) das outras famílias xT = Expectativa de vida (em anos) de todas das famílias 15 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Figura 2 – Correlação entre o índice do PIB per capita com a expectativa de vida (em anos). xB = xN = xT = yB + 0,4586 0,0168 yN + 0,4586 0,0168 yT + 0,4586 0,0168 = = = 0,533 + 0,4586 0,0168 0,676 + 0,4586 0,0168 0,628 + 0,4586 0,0168 = 59,0 = 67,5 = 64,7 Destaca-se a grande diferença de anos vividos das famílias beneficiárias e as outras. Em média as primeiras vivem 8,5 anos a menos que as segundas, causando, consequentemente, uma forte diferença no índice de expectativa de vida. Índice de Expectativa de Vida (Todas as famílias) Índice de Expectativa de Vida (Beneficiárias) = = 64,7 - 25 85 - 25 59,0 - 25 85 - 25 = 0,662 = 0,567 16 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Índice de Expectativa de Vida (Outras) = 67,5 - 25 85 - 25 = 0,708 Na tabela 6, observa-se que a diferença de anos vividos distancia as famílias beneficiárias das outras em 29 posições. Porém, ambas as famílias apresentam dados ainda muito inferior em relação aos países mais desenvolvidos. Tabela 6 – Posição do núcleo habitacional Amazonino Mendes em relação a alguns países periféricos, segundo o índice de expectativa de vida (em anos), 2009. Posicionamento Posicionamento Índice de Países Expectativa pelo IDH-V pelo IDH 120 127 Tajaquistão 0,691 - - Amazonino Mendes (Não Beneficiários) 0,691 121 144 Nepal 0,688 133 133 Lao 0,659 - - Amazonino Mendes 0,646 134 134 Índia 0,643 139 149 Haiti 0,600 - - Amazonino Mendes (Beneficiários) 0,599 140 162 Timor-Leste 0,595 de Vida 4.3 O IDH do Núcleo habitacional Amazonino Mendes na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10 Após calcular os três indicadores, expõem-se na tabela 7 os resultados e o IDH, divididos entre as famílias beneficiárias e as outras, além do cálculo do IDH do núcleo habitacional Amazonino Mendes na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10. Tabela 7 – O IDH do núcleo habitacional Amazonino Mendes na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10, 2009. 17 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Indicadores Todas as famílias Famílias que Famílias que não recebem Bolsa recebem Bolsa Família Família Índice de Expectativa de Vida 0,662 0,567 0,708 Índice de Educação 0,899 0,905 0,887 Índice de Renda per capita 0,623 0,574 0,676 IDH 0,730 0,668 0,757 Nota-se, que é no índice de educação que o núcleo habitacional Amazonino Mendes apresenta seu melhor desempenho, sendo o único indicador que as famílias beneficiárias do programa Bolsa Família demonstram melhor resultado. Nos outros dois indicadores, as famílias beneficiárias estão muito abaixo do desempenho das outras. Porém, pelos critérios do PNUD, ambas estão classificadas como nível de desenvolvimento médio. Na tabela 8, observa-se o posicionamento do núcleo habitacional Amazonino Mendes perante países estudados pelo PNUD (2009). Tabela 8 – O IDH do conjunto Amazonino Mendes perante o mundo. Posicionamento Países IDH 102 Sri Lanka 0,759 - Cj. Amazonino Mendes (Não Beneficiários) 0,757 103 Gabão 0,755 112 Honduras 0,732 - Cj. Amazonino Mendes 0,73 113 Bolívia 0,729 129 África do Sul 0,683 - Cj. Amazonino Mendes (Beneficiários) 0,668 130 Marrocos 0,654 18 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 No resultado final, o Índice de Desenvolvimento Humano das famílias beneficiárias encontrar-se-iam vinte e sete posições atrás das não beneficiárias. 5. Conclusões Nas análises dos resultados constatou-se que o núcleo habitacional Amazonino Mendes na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde N-10 não apresentou melhorias nos indicadores de desenvolvimento humano. Com exceção do índice educacional, os outros dois indicadores, expectativa de vida e renda per capita, estão muito abaixo dos índices de países altamente periféricos. A distância do IDH das famílias beneficiárias com as famílias não beneficiárias comprova os recentes estudos sobre transferência de renda no Brasil, ou seja, o Programa Bolsa Família não é capaz de retirar as famílias da linha de pobreza, e sim gerar uma melhoria na vida dessas famílias, no curto prazo. O ponto positivo desse programa foi a melhoria nos indicadores quantitativos sobre a educação, pois a obrigatoriedade em manter as crianças matriculadas nas escolas, teve relativo impacto nos resultados deste estudo. Os dados para o cálculo do IDH não levaram em consideração a qualidade dessa educação, esses são apenas quantitativos e talvez essa característica seja a grande falha do índice. A frequência escolar por si só, não é garantia que as crianças estejam recebendo qualificação suficiente para expandir suas capacidades e ter acesso a melhores oportunidades no futuro. Quando a análise foca nos índices de expectativa de vida e renda per capita, é perceptível que o Programa Bolsa Família não é capaz de igualar a diferença em relação às famílias não beneficiárias. Evidencia-se que quando se trata das capacidades humanas, o Programa só conseguiu atingir no que tange a educação, o mesmo não ocorre em relação aos anos vividos, que denota melhores condições de habitação, saneamento básico, acesso a água potável, entre outros aspectos relevantes, mas não considerados no presente estudo. Outro aspecto a considerar, é que a diferença de renda entre os dois tipos de famílias estudadas apontam melhores oportunidades para as famílias não beneficiárias do programa. Com efeito, considerando a base do desenvolvimento as capacidades agregadas pelos indivíduos e as oportunidades que os tornam aptos a aproveitar, conclui-se que o núcleo habitacional Amazonino Mendes, não apresenta um ritmo de desenvolvimento capaz o 19 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 suficiente para tirar suas famílias da linha de pobreza. Neste raciocínio, não se inclui apenas as famílias beneficiárias, por mais que os dados das famílias não beneficiárias sejam melhores, ainda assim, não são suficientes para qualificá-las com um nível de desenvolvimento compatível com a cidade de Manaus. Conclui-se que os problemas identificados no núcleo habitacional Amazonino Mendes são típicos de uma cidade cujo crescimento ocorre de forma acelerada e desordenada. A insuficiência de serviços básicos na região estudada é um problema que apenas um planejamento adequado é capaz de solucionar, sendo de responsabilidade do poder público investir nessa adequação, da sociedade em cobrar melhorias contínuas e das instituições que estimulem estudos desses elementos para que se tornem explícitos à sociedade. 6. Referências BORBA, J. T. et al. Monografia para economia. Org. João Ildebrando Bocchi. São Paulo: Saraiva, 2004. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. GIL, A. C. Técnicas de pesquisa em economia e elaboração de monografias. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. KERSTENETZKY, C. L. Desigualdade e pobreza: lições de Sen. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, nº 42, p. 113-122, fev. 2009. KLEIN, C. A produção da maternidade no Programa Bolsa Família. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 1, nº 13, p. 31-52, jan-abr. 2005 MACHADO, J. G. R.; PAMPLONA, J. B. 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