NECESSIDADES DE SAÚDE DE EMIGRANTES SEM DOCUMENTAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE BOLETIM INFORMATIVO - PESSOAS Este boletim informativo foi redigido com base na estrutura de trabalho do projeto EU NowHereland, parte do pacote de trabalho „A Voz dos Emigrantes sem Documentação (ESD)“. O objetivo desse pacote foi obter informações e registrar experiências sobre as necessidades e as estratégias empregadas por emigrantes sem documentação no acesso aos serviços de saúde nos 17 países selecionados da União Europeia. Para obter essas informações, foram realizadas mais de 80 entrevistas telefônicas, estruturadas e confidenciais, com assistentes sociais, médicos, coordenadores de serviços médicos, oficiais de representação, entre outros, que trabalham para organizações não-governamentais ou em locais que oferecem serviços de saúde para ESD ou que lhes facilitam o acesso ao sistema de saúde geral nos países onde a pesquisa foi realizada. Os países estudados foram: Alemanha, Áustria, Bélgica, Eslovênia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Lituânia, Malta, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, República Tcheca e Suécia. As organizações entrevistadas fizeram recomendações para a melhoria da situação dos ESD que acessam os serviços de saúde. Este boletim informativo fornece uma visão geral e concisa dos principais resultados e recomendações detalhadas foram publicadas em 17 relatórios de país e no relatório compilado. AS PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DOS EMIGRANTES SEM DOCUMENTAÇÃO SAÚDE MENTAL Os emigrantes sem documentação (ESD) geralmente sofrem de depressão, ansiedade e problemas relacionados ao sono, provocados por medos e incertezas gerados pela situação irregular em que vivem. Contudo, os serviços de saúde mental, principalmente o atendimento psicológico, são inacessíveis a muitos ESD, em função da situação irregular em que se encontram. DOENÇAS RELACIONADAS ÀS CONDIÇÕES DE MORADIA E DE TRABALHO As doenças são às vezes provocadas e geralmente agravadas pelas condições de moradia dos ESD, que incluem falta de aquecimento, superlotação e ausência de saneamento. Os ESD normalmente adiam a visita ao médico, ainda que apresentem sintomas graves, por causa do risco de perder o emprego quando solicitam folga para essas consultas. Os acidentes de trabalham afetam desproporcionalmente os ESD, pois estes geralmente não têm proteção e trabalham sem regulamentação de segurança. PLANEJAMENTO FAMILIAR E SAÚDE SEXUAL DAS MULHERES SEM DOCUMENTAÇÃO Em diversos países, as mulheres sem documentação não têm direito ao pré-natal e ao parto gratuitos, colocando a saúde tanto da mulher quanto do bebê em grande risco. Elas enfrentam problemas sérios para acessar os serviços de pré-natal e de parto em países onde, teoricamente, esses serviços estariam disponíveis. Na prática, muitas delas têm medo de ir ao médico e adiam os exames, até que estejam entre o 6º e o 8º mês de gravidez. As mulheres sem documentação também têm dificuldade de acesso ao aborto, sendo que algumas acabam empregando métodos precários para interromper a gravidez. AS CRIANÇAS SEM DOCUMENTAÇÃO As crianças sem documentação geralmente não têm direito a serviços de saúde adequados ou acabam não acessando esses serviços, ainda que tenham direito. Mesmo em países nos quais essas crianças têm direito de acesso aos serviços de saúde, elas acabam não recebendo o tratamento preventivo adequado, como exames médicos habituais, e, por essa razão, os problemas de saúde são geralmente detectados tardiamente. 2 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS PARA O ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE RECOMENDAÇÕES O MEDO DE SER DENUNCIADO 1. OFERECER A TODOS O ACESSO À SAÚDE O medo de que seja descoberta sua situação irregular e de que sejam denunciados às autoridades de imigração quando pedem ajuda médica representa um dos fatores mais importantes que impedem o acesso dos ESD ao serviço de saúde. Ampliar a garantia do acesso à saúde pública para os ESD ou criar um financiamento separado. A exclusão do emigrante sem documentação dos serviços de saúde coloca em risco sua vida e bem-estar, aumentando o distanciamento dos emigrantes sem documentação da sociedade civil. FALTA DE INFORMAÇÃO 2. PROMOVER A CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE OS EMIGRANTES SEM DOCUMENTAÇÃO E O DIREITO DE ACESSO AO SERVIÇO DE SAÚDE A falta de conhecimento sobre direitos e benefícios do sistema de saúde pode fazer com que os emigrantes sem documentação não tenham acesso à saúde, ainda que tenham direito. AUSÊNCIA DE BENEFÍCIOS LEGALIZADOS Sem que haja benefícios determinados por lei, é muito difícil que os emigrantes sem documentação reivindiquem o direito fundamental à saúde. O CUSTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Todo o sistema de saúde, em muitos países, ou alguns serviços além do tratamento de emergência, em outros, estão disponíveis apenas mediante o recebimento de pagamento integral do paciente sem documentação, o que, na prática, torna os serviços inacessíveis. ATITUDES DISCRIMINATÓRIAS Atitudes prejudiciais e discriminatórias dos profissionais que trabalham no sistema geral de saúde também foram registradas como um fator importante, fazendo com que os emigrantes sem documentação evitem procurar os serviços de saúde. É necessário elevar, em caráter de urgência, a conscientização dos trabalhadores dos serviços de saúde sobre as necessidades e os direitos dos emigrantes sem documentação. 3. DAR APOIO SUFICIENTE ÀS ONGS QUE OFERECEM SERVIÇOS AOS EMIGRANTES SEM DOCUMENTAÇÃO Embora as ONGs devam desempenhar uma função complementar na provisão do serviço de saúde, as que oferecem serviços aos emigrantes devem receber fundos suficientes para operar efetivamente. 4. PRESTAR MAIS ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL DOS EMIGRANTES SEM DOCUMENTAÇÃO O atendimento psicológico e a psicoterapia devem ser disponibilizados a todos os emigrantes que precisam de cuidados de saúde mental. 5. SEPARAR O CONTROLE DE MIGRAÇÃO DA PROVISÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE As políticas de saúde do governo devem ser determinadas pelas necessidades de saúde das pessoas e devem se concentrar na forma como essas necessidades serão satisfeitas, em termos de eficiência e de economia. O status de imigração não deve prevalecer sobre a necessidade de saúde durante a avaliação da política de saúde. 6. AUMENTAR A PROVISÃO DOS SERVIÇOS DE TRADUÇÃO E MEDIADORES CULTURAIS EM HOSPITAIS A barreira do idioma talvez dificulte o acesso do ESD aos serviços de saúde, até que seu estado se torne muito grave, podendo aumentar o risco de um diagnóstico incorreto. 3 NO Rights Rights Os emigrantes sem documentação (ESD) vêm ganhando atenção Rights crescente na UE como sendo NO um grupo vulnerável, exposto Rights Rights a altos riscos de saúde, com NO Rights população estimada entre 1,9 e 3,8 milhões de pessoas que Rights residem na União Europeia (representam de 7 a 13% da Rights população estrangeira). NO Embora todos os estadosRights NO membros da União Europeia Rights tenham ratificado o direito humano à saúde, as políticas de saúde nacionais promoveram estruturas diferentes para a provisão Rights do serviço de saúde, o que, em muitos casos, seriamente restringe os direitos de acesso ao serviço de saúde do ESD. Da mesma maneira, a prática que determina como garantir o direito humano à saúde segue lógicas diferentes. MINIMUM Rights MINIMUM MINIMUM NO Rights Rights MINIMUM Rights MINIMUM O projeto europeu intitulado Health Care in NowHereland produziu a primeira compilação das políticas e regulamentações em vigor nos 27 países da União Europeia, na Noruega e na Suíça. É um banco de dados que oferece exemplos das práticas relacionados e insights sobre o „dia-a-dia“ dos ESD e suas lutas para acessar os serviços de saúde. A pesquisa mostra que vários países da UE permanecem em um estado de „ignorância funcional“, ignorando o fato de que os ESD têm um direito humano fundamental negado. As organizações não-governamentais desempenham uma função importante na provisão dos serviços para os ESD e para ajudá-los a acessar o serviço de saúde. Nessa função, as organizações são apoiadas pela solidariedade dos profissionais de saúde e pelos funcionários de apoio, que, na sua maioria, oferecem os serviços voluntariamente (sem custo). IMPRESSÃO © 2010 Eve Geddie, Kadri Soova, Michele LeVoy, Ursula Karl-Trummer, Sonja Novak-Zezula PICUM - Platform for International Cooperation on Undocumented Migrants NowHereland at the Center for Health and Migration/DUK A responsabilidade integral é dos autores do documento. A Agência Europeia não se responsabiliza pelo uso destas informações. PROJETO PATROCINADO POR DG Sanco Fonds Gesundes Österreich Austrian Federal Ministry of Science and Research Barrow Cadbury Trust Para obter mais informações consulte: http://www.nowhereland.info/?i_ca_id=356