As migrações, devendo-se a um variadíssimo leque de razões (casamento, mudança de local de trabalho, férias, decisão de viver noutro país...), movimentaram ao longo da História um número infinito de pessoas. Estas movimentações causaram inevitavelmente impactos nos territórios e nas sociedades, afectando profundamente a economia e os equilíbrios inter-regionais. A alteração do volume populacional e as mudanças radicais e bruscas impostas às estruturas sociais existentes causaram muitas vezes agudos conflitos entre as diferentes etnias, uma vez que as recém-chegadas e as minoritárias tendiam maioritariamente a ser segregadas pelas já existentes. Movimento populacional que se desloca do campo para a cidade, o que resulta num grande crescimento urbano e pode levar ao despovoamento dos campos. A migração tem contribuído de forma significativa para o crescimento das áreas urbanas. Desde o século XIX que se verifica nos países industrializados um crescimento urbano, impulsionado pelos progressos da agricultura. O mesmo fenómeno acabou por se verificar também nos países em desenvolvimento, sobretudo após a II Guerra Mundial, tendo-se acentuado nos últimos 20 anos. O êxodo rural constitui, hoje, um dos fenómenos demográficos mais preocupantes destes países, pelas consequências negativas na qualidade de vida das populações urbanas. O crescimento demográfico explosivo da população tem constituído um imenso reservatório de migrantes potenciais nos países em desenvolvimento. São questões económicas que, geralmente, explicam a origem e intensidade destes movimentos: • A redução dos rendimentos agrícolas; • A deterioração da vida nas áreas rurais; • As catástrofes naturais e ambientais; • A insegurança das áreas rurais, nas situações de conflito; • A esperança ou expectativa de emprego nas cidades; • A perspectiva de mais e melhores serviços e comodidades. No Cairo, na Cidade do México, no Rio de Janeiro, em Singapura, em Lagos ou Manila (como em todas as grandes cidades), múltiplos problemas asfixiam o funcionamento das áreas metropolitanas: • Aumento das despesas em infra-estruturas para fazer face aos novos habitantes que chegam todos os dias; • Aumento dos contrastes sociais através do crescimento incontrolado dos bairros da lata; • Degradação das condições de vida de uma grande maioria da população, visível pela insalubridade dos locais onde habitam; • Ocorrência constante de engarrafamentos monstruosos em resultado do aumento do número de viaturas em circulação. • Níveis de poluição que já ultrapassam todos os limites estabelecidos; • Carência de água face ao aumento da procura. • Conflitos sociais resultantes das alterações das estruturas sociais tradicionais, da redução dos laços entre gerações e da coesão familiar; • Aumento da criminalidade, dos tráficos ilícitos e da prostituição. MOVIMENTO DE PESSOAS QUE SAEM DAS GRANDES CIDADES PARA RESIDIR EM ÁREAS RURAIS PRÓXIMAS OU EM CENTROS URBANOS DE MENOR DIMENSÃO. As fronteiras são extremamente permeáveis à migração clandestina da população de países mais pobres, em busca de melhores condições de vida. Mesmo nas situações em que não há contiguidade entre países, a imigração clandestina é um fenómeno difícil de impedir. Para uma população jovem em busca da sobrevivência e da promoção pessoal, a imigração representa uma tentação irresistível. Os fluxos migratórios mundiais são cada vez mais significativos. A emigração legal permanente para os EUA, o Canadá e a Austrália, países tradicionalmente de destino dos emigrantes, ultrapassou na última década 700 mil por ano. A emigração clandestina para estes países também é importante. Só nos EUA estima-se entre 300 e 500 mil o número de imigrantes clandestinos que atravessam as fronteiras deste país, para aí se fixarem. Em resultado de algum desenvolvimento económico e social e da alteração dos mercados de trabalho, os países do sul da Europa, outrora grandes fornecedores de mão-de-obra, conhecem, actualmente, uma vaga de imigração sobre formas diversas: pedidos de asilo, falsos turistas, estudantes, trabalhadores sazonais, reencontros familiares. As migrações internas e internacionais são, antes de mais, a resposta às desigualdades sociais e económicas entre as nações, e correspondem a fenómenos estruturais tão enraizados que se torna difícil de controlar apenas através da vontade política. Após 1993, os movimentos migratórios em direcção aos países desenvolvidos, têm tendência para estabilizar, em resultado da aplicação de medidas restritivas tomadas pelos governos dos países de destino. A vontade de limitar os fluxos imigratórios resulta, em parte, do decréscimo do crescimento económico e da manutenção do desemprego em níveis elevados. Nesta perspectiva, os estrangeiros têm sido considerados bodes expiatórios de todas as dificuldades e de todas as frustrações. As dificuldades crescentes de inserção dos imigrantes, a sua concentração em bairros degradados/desfavorecidos, a subida do desemprego que alimenta as tentações xenófobas e as diferenças culturais, vão sustentando um mau estar social, muito evidente na Europa Ocidental em relação aos imigrantes. Os países de acolhimento têm manifestado uma preferência pelos movimentos temporários. Em princípio, o recurso a trabalhadores estrangeiros visa a fazer face a carências momentâneas de mão-de-obra ligadas a actividades sazonais, ou a necessidades conjunturais. Particularmente importante tem sido o fluxo de refugiados que não pára de aumentar. O essencial dos fluxos de refugiados encontra a sua origem em conflitos internos, que são agravados por ingerências das grandes potências, como são os casos de Angola, Afeganistão, Bósnia-Herzegovina, Kosovo Ruanda, Somália, Timor Loro Sae ou ex-Zaire. No plano económico os movimentos de refugiados estão directamente ligados à diminuição da qualidade de vida nos países em desenvolvimento. Os novos protagonistas dos fluxos migratórios internacionais, em crescente ascensão, movem-se não apenas por razões de sobrevivência como também, e cada vez mais, por motivos de negócio e lazer. A globalização e a circulação da informação são factores decisivos no acréscimo das migrações de negócio e lazer. A internacionalização dos negócios possui evidentes consequências ao nível dos movimentos dos agentes económicos. Mesmo o crescimento das comunicações virtuais não deixa de evitar os contactos personalizados, as reuniões de trabalho, os seminários e conferências internacionais que tendem cada vez mais a multiplicar-se por grupos de interesse. Neste campo a tríade – EUA, Europa, Japão – detêm indubitavelmente o maior número de fluxos. Quanto às migrações consideradas de lazer, o seu crescimento deve-se a numerosos factores, tais como: • A diversificação dos tipos de turismo; • Aumento do poder de compra e do tempo livre nomeadamente de certos estratos sociais nos países desenvolvidos; • A acção dinâmica deste sector económico – o turismo - , nomeadamente através da actuação de redes de agências a nível internacional, que operam em todos os tipos de mercado direccionando-se fundamentalmente para as regiões especializadas em ofertas turísticas e oferecendo diversas alternativas, “pacotes” e produtos turísticos. As migrações pendulares constituem um fenómeno das grandes cidades. Trata-se de deslocações quotidianas da população entre o seu lugar de residência, situado fora da cidade, e o de trabalho, localizado no centro da cidade. São responsáveis pelos engarrafamentos gerados nas horas de ponta. Hoje, viver no campo e trabalhar na cidade tornouse mais fácil, com o desenvolvimento das vias de comunicação e meios de transporte, sobretudo urbanos. Os novos subúrbios apresentam preços mais competitivos para a aquisição de habitação do que os praticados na cidade, pelo que cada vez mais as pessoas se deslocam num vaivém diário. No contexto actual, os efeitos das medidas restritivas aplicadas por um conjunto de países de acolhimento, sobretudo europeus, não só têm reduzido o fluxo migratório com origem nos países em desenvolvimento, como também têm incentivo o retorno de trabalhadores emigrados. Como já foi referido anteriormente também se tem observado nos últimos anos o retorno de emigrantes em situação ilegal aos países de origem, bem como de indivíduos que, na óptica dos países de acolhimento, constituem ameaça á ordem pública (repatriados açorianos dos EUA). Em relação ao retorno de trabalhadores emigrados, o seu efeito está longe de ser positivo, ao desenvolvimento económico dos países de origem. Se por um lado contribuem para dinamizar certos sectores de actividade (transportes, comercio, bem como o sector da construção), por outro lado, este retorno pode ser difícil. A debilidade do emprego torna delicada a reinserção, ate porque os emigrantes recusam quase sempre os níveis salariais praticados nos países de origem, bem como o regresso ao trabalho da terra. A maioria dos emigrantes regressa ao seu pais tardiamente, normalmente para gozar a reforma e, por isso, sem qualquer participação significativa na via económica. A assimilação dos valores, comportamentos e modos de vida dos países de destino, dificulta a integração dos indivíduos quando regressam; os retardamentos culturais são inevitáveis.