A Abordagem Sindrômica no atendimento às doenças sexualmente transmissíveis João Pessoa, 29 de agosto de 2005 1 Quais as outras formas de abordagem? • Diagnóstico Etiológico - instituição de terapêutica específica, com base nos resultados de exames laboratoriais, visando a identificação de um agente etiológico • Diagnóstico Clínico - instituição de terapêutica eficaz contra uma determinada patologia, baseada na experiência clínica do profissional 2 Abordagem etiológica • Custos altos -aquisição e manutenção de equipamentos -suprimento regular de reagentes -necessidade de pessoal especializado • Tempo requerido para a realização dos exames -inexistência de testes rápidos para diagnóstico “à beira do leito” 3 Abordagem etiológica 1. Validade da técnica: -sensibilidade (percentual de verdadeiros positivos) -especificidade (percentual de verdadeiros negativos) 2. Confiabilidade da técnica: -capacidade de reproduzir resultados semelhantes para uma mesma amostra 4 Abordagem etiológica 3. Factibilidade: -requisitos operacionais para a realização de exames (água, energia elétrica, espaço físico, etc.) 4. Aceitabilidade da técnica: -tipo de amostra necessária para a realização do exame 5 Diagnóstico clínico • Falhas diagnósticas (forma de aquisição de uma DST é a mesma para todas as demais - ato sexual sem proteção) • Desconsidera a ocorrência de infecções mistas • Uma mesma doença pode se manifestar sob diversas formas • Estudos comparativos demonstraram a baixa validade do diagnóstico clínico 6 A Abordagem Sindrômica • Conceito de“síndrome” conjunto de sinais e sintomas que se apresentam para definir uma entidade mórbida que pode, entretanto, ser produzida por causas muito diversas. (Vieira Romeiro, em Semiologia Médica) 7 A Abordagem Sindrômica em DST • OMS - Genebra, 1984 • tratamento imediato e efetivo das doenças sexualmente transmissíveis • recomendação de utilização da abordagem sindrômica no atendimento aos portadores de DST em serviços de atenção primária de saúde 8 A Abordagem Sindrômica em DST • Utilização de fluxogramas para orientação do profissional de saúde quanto ao esquema terapêutico a ser adotado • Esquemas antimicrobianos escolhidos devem ser capazes de assegurar cobertura para os principais patógenos responsáveis por uma determinada síndrome numa área geográfica específica 9 A Abordagem Sindrômica em diversos contextos clínicos • Indicação do início imediato de um esquema • • • • terapêutico com um ou mais antibióticos, visando dar cobertura aos principais agentes etiológicos responsáveis pelo quadro Risco iminente de morte ou perda de funções orgânicas Exemplos: síndrome de irritação meníngea, pneumonias, septicemias, etc. A colheita de exames laboratoriais é feita previamente, quando possível “Diagnóstico epidemiológico” 10 Por que a abordagem sindrômica em DST? • A nível do indivíduo: prevenção de seqüelas e complicações graves • A nível coletivo: necessidade de reduzir o risco do contágio o mais rapidamente possível • Possibilidade do paciente não retornar à consulta • Instituição de tratamento rápido e eficaz 11 Vantagens da abordagem sindrômica em DST • Manejo rápido de casos, no primeiro contato • • • • • do paciente com o sistema de saúde Maior cobertura, por facilitar a implantação ao nível primário Oportunidade de introdução de medidas preventivas e de promoção à saúde Padronização do tratamento, sistema de referência e notificação Redução de custos Satisfação da clientela 12 Desvantagens da abordagem sindrômica • Utilização de antimicrobianos para tratamento de mais de uma doença em pacientes com apenas uma patologia ou até sem uma infecção passível de tratamento: - Custo do tratamento - Pressão seletiva para desenvolvimento de cepas resistentes 13 Limitações da abordagem sindrômica • pacientes com infecção subclínica ou assintomáticos • pacientes que não costumam procurar os serviços de saude, apesar de sintomáticos 14 Medidas adicionais necessárias • informação da população sobre as manifestações, riscos, transmissão e prevenção das DST • melhora do atendimento nos serviços públicos • tratamento presuntivo dos parceiros • triagem de indivíduos e populações sob risco 15 Modelo operacional: papel dos serviços de saúde no manejo de casos de DST População com DST Percebem os sintomas Procuram atendimento Correto diagnóstico Tratamento correto Tratamento completo Cura 16 Modelo operacional: papel dos serviços de saúde no manejo de casos de DST População com DST Percebem os sintomas Procuram atendimento Correto diagnóstico Tratamento correto Tratamento completo • Promoção da busca por atendimento •Melhoria na qualidade da assistência • Atitudes dos profissionais Cura 17 serviços de saúde no manejo de casos de DST População com DST Percebem os sintomas Procuram atendimento Correto diagnóstico Tratamento correto Tratamento completo • Abordagem sindrômica • Medicamentos essenciais • Dose única • Aconselhamento (adesão) Cura 18 Modelo operacional: papel dos serviços de saúde no manejo de casos de DST População com DST Percebem os sintomas asymptomatic STD Procuram atendimento Correto diagnóstico Tratamento correto Tratamento completo •Convocação de parceiros • Busca ativa de casos • Screening • Tratamento de massa Cura 19 A abordagem sindrômica em países industrializados • suspeita de DIP • epididimite • úlcera genital onde o cancro mole é endêmico • terapia dupla para gonococo e clamídia em casos de infecção gonocóccica (MMWR, 2002) 20 As síndromes Síndrome Corrimento vaginal Etiologias vaginite: cervicite: -tricomoníase -candidíase -vaginose bacteriana -gonorréia -infecção por clamídia Corrimento uretral gonorréia clamídia Úlcera genital sífilis cancro mole herpes simples donovanose LGV Desconforto ou dor pélvica gonorréia clamídia infecção mista por anaeróbios 21 Os fluxogramas • desenvolvidos por cada país • fatores a serem considerados: -síndromes e etiologias mais prevalentes -demanda que as DST acarretam sobre os serviços de saúde -importância de suas complicações -vulnerabilidade às ações de controle -contexto socio-econômico e político -profissionais que utilizarão 22 O fluxograma ideal • sensível • específico • factível • prático • custo-efetivo • relevante • adaptável, conforme necessário 23 A abordagem sindrômica em DST no Brasil • 1993 • CN DST/Aids • fluxogramas: corrimento uretral masculino, corrimento vaginal, úlcera genital e desconforto ou dor ´pélvica • modelos atuais 24 FLUXOGRAMA PARA ÚLCERAS GENITAIS PACIENTE COM QUEIXA DE ÚLCERAGENITAL ANAMNESE E EXAME FÍSICO HISTÓRIA OU EVIDÊNCIA DE LESÕES VESICULOSAS ? SIM TRATAR HERPES GENITAL NÃO TRATAR SÍFILIS E CANCRO MOLE ACONSELHAR OFERECER ANTI-HIV E VDRL ENFATIZAR ADESÃO CONVOCAR PARCEIROS NOTIFICAR AGENDAR RETÔRNO LESÕES COM MAIS DE 4 SEMANAS ? NÃO SIM FAZER BIÓPSIA E INICIAR TRATAMENTO P/ DONOVANOSE 26 27 ÚLCERA GENITAL (História sugestiva de Herpes genital) HERPES GENITAL ACICLOVIR PRIMOINFECÇCÃO * 400 mg, VO, 8/8 h RECORRÊNCIA ** 400 mg, VO 8/8 h VALACICLOVIR 1 g, VO, 12/12 h 500 mg, VO 12/12 h FAMCICLOVIR 125 mg, VO 12/12 h 250 mg, VO 8/8 h *7 a 10 dias **5 dias 28 Úlcera genital CANCRO DURO (SÍFILIS) CANCRO MOLE Penicilina G Benzatina 2, 4 Azitromicina 1 g VO dose única OU milhões UI, IM - dose única (1,2 milhões UI em cada nádega) OU Eritromicina (estearato) 500 mg VO, 6/6 horas 15 dias (pacientes comprovadamente alérgicos) Ceftriaxone 250 mg, IM, dose única OU 29 Úlcera genital LESÕES COM MAIS DE 4 SEMANAS DE EVOLUÇÃO? • REALIZAR BIÓPSIA E INICIAR TRATAMENTO PARA DONOVANOSE • Doxiciclina 100 mg VO, 12/12 horas * OU • Sulfametoxazol/ Trimetropim (800 mg/160 mg), VO 12/12 horas * OU • Eritromicina (estearato) 500 mg VO, 6/6 horas * * no mínimo 3 semanas ou até cura clínica das lesões 30 FLUXOGRAMA PARA CORRIMENTO URETRAL ANAMNESE E EXAME FÍSICO BACTERIOSCOPIA DISPONÍVEL NA CONSULTA? NÃO SIM DIPLOCOCOS GRAM NEGATIVOS INTRACELULARES PRESENTES? SIM TRATAR GONORRÉIA E CLAMÍDIA NÃO TRATAR CLAMÍDIA ACONSELHAMENTO VDRL E OFERECER ANTI-HIV AGENDAR RETORNO CONVOCAR PARCEIRO(S) NOTIFICAÇÃO 31 32 CORRIMENTO URETRAL CLAMÍDIA Azitromicina 1 g, VO, dose única * OU Doxiciclina 100 mg VO 12/12 hs – 7 dias OU Eritromicina (estearato) 500 mg VO 6/6 hs - 7 dias GONORRÉIA Ofloxacina 400 mg VO, dose única * OU Ciprofloxacina 500 mg VO dose única OU Cefixima 400 mg, VO, dose única OU Ceftriaxone 250 mg IM dose única. *Parceiros 33 CORRIMENTOS VAGINAIS Paciente com queixa de corrimento vaginal Fatores de riso Parceiro com corrimento uretral Idade menor de 20 anos 1 Novo parceiro nos últimos 6 meses Mais de 1 parceiro nos últimos 3 meses 1 Sem parceiro fixo Anamnese (determinar escore de risco) Exame clínico-ginecológico Mucopus endocervical ou colo friável ou escores de risco maior ou igual a 2. Sim Escore 2 1 1 Não Corrimento vaginal presente ? Tratar Gonorréia ou Clamídia Sim Não Microscopia disponível na consulta ? Sim Não Teste p H vaginal e ou teste das aminas disponíveis ? Não Tratar tricomoníase, V.B e Cândida Sim pH menor que 4 Tratar Candidíase pH maior que 4,5 ou teste do KOH positivo Tratar tricomoníase e vaginose bacteriana Hifas esporos micélios Tratar Cândida negativo Investigar causa fisiológica e/ou não infecciosa Organismos flagelados e móveis Tratar Tricomonas Clue cels ou ausência de lactobacilos Tratar V. Bacteriana Investigar causa fisiológica e/ou não infecciosa Coletar material para paranicolaou e oferecer VDRL, Anti-HIV e Aconselhar 34 35 CORRIMENTOS GENITAIS CLAMÍDIA mais Azitromicina 1 g VO dose única * OU Doxiciclina 100 mg VO 12/12 hs OU Eritromicina (estearato) 500 mg VO 6/6 hs - 7 dias GONORRÉIA Ofloxacina 400 mg VO, dose única * OU Ciprofloxacina 500 mg VO dose única OU Cefixima 400 mg, VO, dose úmica OU Ceftriaxone 250 mg IM dose única OU *Parceiros GESTANTES Clamídia: Amoxicilina 500 mg VO 8/8 hs, 7 dias, OU Eritromicina (estearato) 500 mg, VO 6/6 hs, 7 dias, ou 250 mg VO 6/6 hs, 14 dias (sensibilidade gástrica) OU Azitromicina 1 g VO dose única Gonorréia:Cefixima 400 mg VO dose única OU Ceftriaxone 250 mg IM dose única OU Espectinomicina 2 g IM dose única TRICOMONÍASE VAGINOSE Metronidazol 2 g VO * Metronidazol 500 mg VO 12/12 hs, 7 dias Tinidazol 2 g VO * Metronidazol 2 g VO * TRICOMONÍASE VAGINOSE CANDIDOSE (tópico) Metronidazol 500 Miconazol creme 2% 1x/d 7 dias mg VO 12/12 hs, 7 dias Metronidazol 2 g VO Miconazol ovulos 100 mg 1x/d 7dias * Tinidazol 2 g VO * Miconazol óvulos 200 mg 1x/d 3 dias Metronidazol 500 mg Tinidazol 2 g VO * VO 12/12 hs, 7 dias OU Secnidazol 2 g VO * Secnidazol 2 g VO * Secnidazol 2g VO * Metronidazol gel 0,75% 2x/d, 5 dias Clindamicina 300 mg VO 12/12 hs 7 dias Clindamicina creme 2% 1x/d 7 dias *Dose única Tioconazol reme 6,5% ou óvulos 300 mg * Isoconazol creme 1% 1x/d 7 dias Terconazol creme 0,8% 1x/d 5 dias Clotrimazol creme 1% 1x/d 6-12 dias Clotrimazol óvulos 500 mg * Clotrimazol óvulos 100 mg 2x/d, 3 dias Clotrimazol óvulos 100 mg 1x/d, 7 dias Nistatina 100.000 UI 1x/d 14 dias 36 FLUXOGRAMA PARA DOR PÉLVICA ANAMNESE E EXAME CLÍNICO-GINECOLÓGICO (DETERMINAR O ESCORE DE RISCO) SANGRAMENTO VAGINAL OU ATRASO MENSTRUAL OU PARTO/ABORTO RECENTE ? SIM NÃO QUADRO ABDOMINAL GRAVE: DEFESA MUSCULAR OU DOR À DESCOMPRESSÃO OU FEBRE > 37,5º C? SIM NÃO DOR À MOBILIZAÇÃO DO COLO E DOR À PALPAÇÃO? NÃO SIM MUCOPUS ENDOCERVICAL, OU FRIABILIDADE, OU ESCORE MAIOR OU IGUAL A DOIS ? INICIAR TRATAMENTO PARA DIP;AGENDAR RETORNO PARA AVALIAÇÃO APÓS 3 DIAS OU ANTES, SE NECESSÁRIO SIM FLUXOGRAMA DE CORRIMENTO VAGINAL ENCAMINHAR NÃO HOUVE MELHORA? SIM NÃO INVESTIGAR OUTRAS CAUSAS MANTER CONDUTA E ADESÃO AO TRATAMENTO - ACONSELHAR, OFERECER VDRL E ANTI-HIV, CONVOCAR PARCEIRO(S), NOTIFICAR, AGENDAR RETORNO 37 DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA TRATAMENTO ESQUEMA 1 ESQUEMA 2 ESQUEMA 3 Ceftriaxone 250 mg IM dose única Cefoxitina 2 g IM dose única Ofloxacina 400 mg VO 12/12 hs 14 DIAS MAIS MAIS MAIS Doxicilina 100 mg VO 12/12 hs 14 dias Probenecida 1 g VO dose única Metronidazol 500 mg VO 12/12 hs 14 dias MAIS Doxiciclina 100 mg VO 12/12 hs 14 dias 38 DOENÇA INFLAMATÓRIA 1 PÉLVICA • DIP - estágio inicial, achados à laparoscopia: útero e trompas edemaciadas. (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 39 DOENÇA INFLAMATÓRIA 2 PÉLVICA • DIP severa: achados à laparotomia. Abscessos tubo-ovarianos bilaterais. (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 40 DOENÇA INFLAMATÓRIA 3 PÉLVICA • Aderências em forma de “cordas de violino”, em caso de DIP e perihepatite por clamídia. (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 41 DOR PÉLVICA CRÔNICA • Relação entre o número de episódios de DIP e a ocorrência de dor pélvica crônica. (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 42 INFERTILIDADE Relação entre o número de episódios de DIP e a ocorrência de infertilidade (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 43 GRAVIDEZ ECTÓPICA Visão laparoscópica de uma gravidez ectópica: trompa edemaciada. (Mandell and Rein, Atlas of Inf. Diseases, vol 5 Sex Trans Dis) 44 ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO •Associação DST / HIV: OFERECER teste •Associação entre as DST: OFERECER sorologias Sífilis/Hepatites •Orientar sobre como comunicar parceiros •Adesão ao tratamento •Interromper atividade sexual •Preservativo em todas as relações •Notificar •Agendar retorno 45 Qual o papel do laboratório na abordagem sindrômica? • Nível de referência secundária e terciária • Monitorização das prevalências das principais etiologias das síndromes • padrão local de susceptibilidade da N. gonorrhoeae aos antimicrobianos • distinguir infecções simples das mistas em qualquer um dos níveis do sistema 46