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Segunda-feira
7 de dezembro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Economia
INDÚSTRIA
Mesmo na crise, ‘Embraer teve ano excelente’
EMBRAER/DIVULGAÇÃO/JC
Guilherme Kolling,
de São José dos Campos (SP)
[email protected]
Com mais de 80% de sua receita vinda do exterior, a Embraer prevê números positivos e até
crescimento em 2015 e 2016, anos
em que se projetam PIBs negativos
para o Brasil. A gigante nacional
da aviação – que fabrica aeronaves comerciais, executivas, agrícolas e atua também em defesa e
sistemas – mantém seus projetos
mesmo em meio à crise.
Na aviação comercial, o foco
nos próximos anos é entregar ao
mercado, a partir de 2018, a segunda geração de jatos comerciais,
o E-2, que já tem 267 exemplares
contratados, um negócio de cerca de US$ 15 bilhões. Na semana
passada, a Embraer comemorou a
marca de 1.200 unidades vendidas
da primeira geração do jato, o E-1.
Os aviões comerciais da Embraer E-1 e E-2 são menores, com
capacidade entre 78 e 124 passageiros. No Brasil, a Azul foi a empresa
aérea que apostou nos E-Jets, como
são chamados esses modelos – tem
88 unidades do E-1 e já contratou
30 novas aeronaves do E-2. E não
por acaso, a unidade 1.200 do E-1
foi para a companhia brasileira.
A entrega ocorreu na semana
passada na sede da Embraer em
São José dos Campos (SP), onde,
depois da cerimônia, o presidente
e CEO da Embraer Aviação Comercial, Paulo Cesar Silva, falou ao Jornal do Comércio sobre os planos
da empresa e comentou o bom momento. “É um dos melhores anos
da Embraer em termos de vendas,
tem sido um ano excelente.”
Até o fim do ano, serão entregues entre 95 e 100 aeronaves
comerciais – 60% do faturamento total da Embraer em 2015 virá
da aviação comercial. O ano teve
boas vendas, sempre feitas com
grande antecipação: foram comercializados 165 aviões. Nesta entrevista, Silva também fala da possibilidade de futuras negociações
com a Gol e a TAM e analisa a expansão da aviação regional.
Presidente da Embraer Aviação Comercial, Paulo Cesar Silva diz que empresa vendeu 165 aviões em 2015
Jornal do Comércio - A crise afeta menos a empresa com
essa cotação do dólar?
Paulo Cesar Silva - Não é pelo
dólar; é, sim, pelos nossos clientes. A maioria não está no Brasil.
Na aviação comercial, 90% da receita da Embraer vem de fora. Temos clientes nos Estados Unidos,
na Ásia, na Europa, então isso
ajuda a ter uma diversificação.
Hoje, alguns países emergentes
estão encontrando dificuldades,
mas, por outro lado, tem os Estados Unidos, voltando a crescer e
comprando novos aviões.
JC – Então, 2015 e 2016, anos
em que se projeta PIB negativo
para o Brasil, não serão períodos de números negativos para
a Embraer?
Silva – Não vão ser números
negativos, vão ser anos bons, em
que a empresa pode apresentar
um crescimento.
JC – A Embraer tem um
planejamento de longo prazo.
Além dos jatos E-2, o que mais
está previsto para os próximos anos?
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Silva – Nossos investimentos
estão focados nos jatos E-2, vamos
fazer o primeiro voo no segundo
semestre de 2016, e a primeira entrega vai ser em 2018. O E-2 é um
upgrade dos E-Jets atuais, vai trazer uma eficiência ainda maior,
redução no consumo de combustível da ordem de 15%, melhorias
técnicas, e vai vir já com uma maturidade elevada. Então, o foco é
terminar o projeto e começar a
entregar os aviões no prazo. Hoje,
o programa está em dia, estamos muito satisfeitos de que, em
2018, vamos começar a entregar
os aviões.
JC – Quantos aviões E-2 já
estão contratados pela Azul?
Silva - São 30 aviões. Para a
Azul, vai ser em 2020. O mercado
brasileiro está vivendo agora um
momento mais difícil, mas a gente acredita que, no futuro, vai sair
um País melhor disso tudo.
JC – Como estão as vendas?
Silva – Já temos muitas encomendas, lançamos o programa E-2 há dois anos, já estamos
com 267 aviões vendidos, firmes,
e com potencial de chegar a 650
quando se adiciona as cartas de
intenção e as opções. Ou seja, é
um programa que já tem um sucesso grande, mesmo com o fato
de que ainda não voamos com
esse avião.
JC – Que empresas estrangeiras já fizeram compras?
Silva – Temos vários clientes
nos Estados Unidos — a Skywest,
a AirCastle, uma empresa de leasing —; a Azul aqui no Brasil;
a maior empresa de leasing do
mundo, a Aercap; e temos, na
China, a Hainan entre os clientes
do E-2.
JC – É viável expandir a
aviação regional no Brasil, o
que ajudaria a Embraer?
Silva – Sim, a aviação regional no Brasil é implícita, quer dizer, em um país com a dimensão do nosso, com regiões novas
e carentes de serviços, é natural
“Não é pelo dólar;
é, sim, pelos nossos
clientes. Na aviação
comercial, 90% da
receita da Embraer
vem de fora”
que a aviação regional cresça. O
Antonoaldo (Neves, presidente
da Azul) deu um número interessante: recentemente, apenas 11
milhões de brasileiros voavam,
hoje já são 20 milhões, um número ainda muito pequeno, ou
seja, tem uma taxa de aderência
(para novos passageiros) grande. E na medida que o Brasil volte a crescer, não tenho dúvida de
que essas regiões novas também
vão crescer e terão a necessidade
de aviação.
JC – Hoje, a Azul trabalha
com aviões da Embraer. Se for
expandida a malha da aviação regional, com a criação de
novas linhas, existe a possibilidade de negociações futuras da
Embraer também com outras
empresas, como Gol e TAM?
Silva – Acho que sim, o mercado brasileiro, a geografia do
País favorece muito aviões menores, que trazem a possibilidade de
as empresas aéreas serem mais
eficientes em rotas que não têm a
densidade suficiente para encher
aviões maiores. Então, o que os
E-Jets trazem é um avião menor,
com um nível de conforto maior
do que o de aviões maiores, porque não tem assento no meio (são
duas poltronas de cada lado, por
fileira), e os passageiros gostam
muito disso. Para a companhia
aérea, é mais eficiente, porque
é mais barato para voar, o custo
operacional é mais baixo. E o Brasil tem muitas rotas que podem
ser operadas pelos E-Jets.
JC – O senhor quer dizer
que há bastante linhas que poderiam ser implantadas...
Silva – Exatamente, então
qualquer empresa brasileira aérea aqui pode adotar esse modelo,
e acho que eles estão analisando,
olhando, porque hoje a situação
está mais complicada aqui no
Brasil. É um modelo que naturalmente vai ser olhado pelas outras
empresas também.
JC – Nessa atual conjuntura,
é difícil buscar ajuda do poder
público. Mas o que o governo
federal poderia fazer para alavancar a aviação regional?
Silva – O grande ponto para
desenvolver mais a aviação regional é investimento em infraestrutura, nas pistas e aeroportos. Isso
é o mais importante nesse momento para que a aviação regional tenha um impulso maior.
JC – Equipar os terminais?
Silva – Isso.
JC – E a possibilidade de
o governo garantir a compra
de parte das passagens, como
já foi feito em outras épocas
para desenvolver a aviação
regional? Seria viável na atual conjuntura?
Silva – Como um modelo de
incentivo para que haja uma demanda maior em algumas regiões do Brasil, talvez seja interessante durante alguns anos. Mas
isso não vai acontecer agora, as
prioridades no Brasil mudaram,
estamos vivendo uma crise econômica e política muito grande,
então, não vai ser nesse momento
que um modelo como esse vai ser
implantado. Entretanto, na parte
da infraestrutura, o governo poderia melhorar os aeroportos regionais e as pistas.
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Embraer teve ano excelente