ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DAS ALIANÇAS INTERNACIONAIS ENTRE EMPRESAS DE TRANSPORTE AÉREO Débora Machado de Souza Silveira DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE TRANSPORTE. Aprovada por: __________________________________________ Prof. Ronaldo Balassiano, Ph. D. __________________________________________ Prof. Respicio Antonio do Espírito Santo Jr., D. Sc. __________________________________________ Prof. Marcio Peixoto de Sequeira Santos, Ph. D. __________________________________________ Prof. Mauricio Emboaba, D. Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL. AGOSTO DE 2007 SILVEIRA, DÉBORA MACHADO DE SOUZA Análise dos Benefícios das Alianças Internacionais entre Empresas de Transporte Aéreo [Rio de Janeiro] 2007 xiv, 143, 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia de Transportes, 2007) Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Alianças Estratégicas 2. Transporte Aéreo Internacional 3. Acordos de code-share I. COPPE/UFRJ II. Título (série) ii "Se metade do orçamento dos gastos militares no mundo fosse investido na educação, os generais se tornariam jardineiros; os policiais, poetas; os psiquiatras, músicos. A violência, a fome, o medo, o terrorismo e os problemas emocionais estariam nas páginas dos dicionários e não nas páginas da vida." " Quais são meus alicerces intelectuais ? Serão os meus sucessos, o reconhecimento da teoria e seu uso em teses de mestrado e doutorado? Não! Meus alicerces são as dores que passei, as inseguranças que vivenciei, as angústias que sofri, a superação do meu caos." Augusto Cury iii Dedico este trabalho À minha Avó Maria, À minha mãe Telma, E ao meu Avô Orlando (in memorian). iv AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todas as pessoas que colaboraram, direta ou indiretamente, na elaboração deste trabalho. Um agradecimento especial aos Professores Respicio Antonio Espírito do Espírito Jr. e Ronaldo Balassiano, meus orientadores, que fizeram com que esta dissertação fosse concretizada. Aos respondentes do questionário aplicado a esta pesquisa e àqueles que também me ajudaram em sua distribuição. Aos funcionários do Programa de Engenharia de Transportes (PET), pela disposição em ajudar-me a todo o momento. A todos os professores do Programa, que me transmitiram ensinamentos valiosos. Pela força, companheirismo e amizade, aos meus amigos do PET: Alejandro Monteverde Juliana Durgante Tolfo Marsela Caipa Parra Patricia Ingrid Coelho Vladimir Lima e Silva Às amigas Marina Carvalho de Vasconcelos e Sônia de Fátima Ribeiro Oliveira, que me apoiaram, me incentivaram e trilharam este caminho comigo. Aos colegas de trabalho da Varig, pela orientação do tema estudado, pelas indicações, pelo material emprestado, pela fé, pela união, e pelo aprendizado humano em épocas de crise, este último o mais importante do qual levarei o resto da minha vida. ...Muito Obrigado Débora Silveira v Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.) ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DAS ALIANÇAS INTERNACIONAIS ENTRE EMPRESAS DE TRANSPORTE AÉREO Débora Machado de Souza Silveira Agosto/2007 Orientadores: Ronaldo Balassiano Respicio Antonio do Espírito Santo Jr. Programa: Engenharia de Transportes O século XX presenciou diversas transformações no mundo e na sociedade. As empresas, com o objetivo de se adaptarem a estas mudanças começaram unir esforços e vários aspectos competitivos passaram a ser encarados como oportunidades. Em vários setores da economia mundial, essa união vem ocorrendo sob várias formas de alianças globais: fusões, aquisições, joint-ventures, dentre outros. A globalização e a liberalização dos mercados mundiais lançaram o transporte aéreo num intenso ambiente competitivo: atualmente, a indústria da aviação é caracterizada por acordos (em sua grande maioria, bilaterais) e grandes alianças. A associação com empresas dominantes em suas áreas geográficas, através de acordos de parcerias é uma estratégia que permite manter a competitividade, a conquista de novos mercados, e presença em mercados onde não opera com suas próprias aeronaves. O propósito desta dissertação de mestrado é identificar e analisar qualitativamente alguns dos principais benefícios das grandes alianças internacionais através dos acordos de código compartilhado (code-share) para as empresas aéreas. Para obter as percepções de especialistas do setor de transporte aéreo e assim identificar as quais são as variáveis mais relevantes para a tomada de decisão pelas companhias quanto à formalização dos acordos de code-share foi realizada uma pesquisa com especialistas do setor. Através dos resultados obtidos e da influência das alianças globais no setor aéreo, cinco variáveis são identificadas e analisadas: receita incremental, abrangência da malha internacional, aspectos de conectividade, fluxos de tráfego de passageiros, visibilidade dos vôos nos canais de distribuição. vi Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirement for the degree of Master of Science (M. Sc.) AN ANALYSIS OF GLOBAL ALLIANCE BENEFITS FOR AIRLINES Débora Machado de Souza Silveira Agosto/2007 Advisors: Ronaldo Balassiano Respicio Antonio do Espírito Santo Jr. Department: Transport Engineering In the 20th Century the dynamic changes have caused many transformations in the world and in the society. In some sectors of the world-wide economy, these transformations have been occurring under some forms of global alliances: mergers, acquisitions, joint-ventures, etc. The globalization and the liberalization of the worldwide economy sectors had launched the air transport into an intense competitive environment as well. To accomplish this, the airlines perceived they need to have foreign partners. Global alliances have developed in response to the economic demand of global markets and to the opportunities provides by deregulation and liberalization initiatives. The association amongst carriers in different geographic areas is a strategy that keeps the competitiveness, the entrance in new markets, to offer service to destinations they do not physically serve, and a way for carriers to mitigate the limitation of bilateral agreements and control regulations. The main objective of this master thesis dissertation is to identify and to analyze qualitatively some of the main benefits of the global alliances through code-shared agreements in the international market. In order to obtain the perceptions and the visions of groups directly influencing the changes in the global alliances and to find out why a codeshare agreement is made between airlines, a short questionnaire-based research was conducted with air transport experts and airline executives. As a result it was identified five main drivers: additional revenues, international networks spread, network connectivity aspects, passenger traffic flows increase and the flights display in the global distribution channel. vii Sumário Resumo vi Abstract vii Lista de Figuras/Quadros xi Lista de Tabelas xiii Lista de Siglas xiv 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1 1.2 OBJETIVO 5 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 6 2. METODOLOGIA 8 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E LEVANTAMENTO DA LITERATURA DISPONÍVEL 8 2.2 LIMITAÇÕES E DIFICULDADES ENCONTRADAS 9 2.3 TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO POR QUESTIONÁRIOS 10 2.3.1 Pré-seleção das variáveis 10 2.3.2 Elaboração dos questionários 11 2.3.3 Pré-seleção dos respondentes 14 2.3.4 Retorno dos Questionários 15 2.4 TRATAMENTO DOS DADOS 16 3. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL 20 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 20 viii 3.2 A CONVENÇÃO DE CHICAGO (1944) 22 3.3 ACORDOS BILATERAIS 24 3.4 “CÉUS ABERTOS” E ABERTURA AO CONTROLE POR ESTRANGEIROS 27 3.5 AMPLIAÇÃO DAS OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS: Criação de Subsidiárias e Aumento da Parcela de Capital Votante 32 3.6 DESREGULAMENTAÇÃO AÉREA EM OUTROS PAÍSES 34 3.6.1 A Desregulamentação nos Estados Unidos da América (1978) 35 3.6.2 A Desregulamentação na União Européia (1997) 41 4. ALIANÇAS 48 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 48 4.2 GLOBALIZAÇÃO 49 4.3 ALIANÇAS GLOBAIS 56 4.4 ALIANÇAS NA AVIAÇÃO 61 4.4.1 Histórico e Formação de Alianças 63 4.4.1.1 As Grandes Alianças Globais 74 4.4.1.1.1 Star Alliance 74 4.4.1.1.2 Oneworld 76 4.4.1.1.3 Sky Team 79 4.4.2 Direcionadores para Formação de Alianças 81 4.4.2.1 Economias de Escala, de Escopo e de Densidade 82 4.4.2.2 Redução de Custos 84 4.4.3 Benefícios aos passageiros 86 4.5 VÔOS EM CODE-SHARE 89 ix 4.5.1 Histórico e Conceitualização 89 4.5.1.1 Northwest Airlines & KLM 92 4.5.1.2 British Airways & USAir 93 4.5.1.3 United Airlines & Lufthansa 94 4.5.2 Tipos de Code-share 95 4.5.3 Impactos na Competição 96 4.5.4 Restrições na Capacidade 98 5. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS 100 5.1 RECEITA INCREMENTAL 100 5.2 ABRANGÊNCIA DA MALHA INTERNACIONAL 103 5.3 ASPECTOS DE CONECTIVIDADE 107 5.4 FLUXO DE TRÁFEGO DE PASSAGEIROS 114 5.5 VISIBILIDADE DOS VÔOS NOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO 120 6. CONCLUSÃO 124 6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 128 7. BIBLIOGRAFIA 131 8. APÊNDICE 137 APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO DE CONSULTA/PORTUGUÊS 138 APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO DE CONSULTA/INGLÊS 140 APÊNDICE 3 – TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO ANUAL 142 APÊNDICE 4 – TOP 30 AEROPORTOS MAIS MOVIMENTADOS DO MUNDO 143 x LISTA DE FIGURAS/QUADROS 1. INTRODUÇÃO Figura 1.1 – Evolução dos Passageiros Transportados no Mercado Doméstico e Internacional Brasileiro.................................................................................................3 2. METODOLOGIA Quadro 2.1 – Estrutura da Primeira Pergunta.............................................................12 Quadro 2.2 – Estrutura da Segunda Pergunta.............................................................13 Figura 2.1 – Categorias Profissionais dos Respondentes............................................16 Figura 2.2 – Nacionalidade dos Respondentes...........................................................16 3. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL 4. ALIANÇAS Figura 4.1 – Volume do Comércio Exterior entre o Brasil e Outros Países(*)......................................................................................................................53 Figura 4.2 – Adaptação do modelo das cinco forças competitivas de Porter.............58 Figura 4.3 – Aplicação do modelo de Porter para as Alianças...................................59 Figura 4.4 – Categorias de Alianças...........................................................................69 Figura 4.5 – Construindo Alianças.............................................................................71 Figura 4.6 – Processo de Gerenciamento de Formação de Alianças Estratégicas na Aviação.......................................................................................................................73 5. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS Figura 5.1 – Exemplo de Rota Interline....................................................................102 Figura 5.2 – Evolução da Malha...............................................................................106 Figura 5.3 – Possibilidade de Itinerários Gerados pelo Code-Share........................110 Figura 5.4 – Market-Share das Alianças Globais.....................................................118 Figura 5.5 – CRS na cadeia produtiva do code-share..............................................112 xi 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES xii LISTA DE TABELAS 1. INTRODUÇÃO 2. METODOLOGIA Tabela 2.1 – Resultado da Tabulação.........................................................................17 Tabela 2.2 – Resultado da Tabulação (Respondentes de Nacionalidade Estrangeira) .....................................................................................................................................18 Tabela 2.3 – Resultado da Tabulação (Respondentes de Nacionalidade Brasileira)..18 3. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL Tabela 3.1 – As “Liberdades do Ar” para o Transporte Aéreo Internacional.............30 Tabela 3.2 – Limites Máximo de Capital Estrangeiro (Capital Votante) em Empresas Aéreas em Alguns Países............................................................................................31 4. ALIANÇAS Tabela 4.1 - Fusões, Aquisições e Parcerias...............................................................55 Tabela 4.2 – Alianças e Empresas-Membro...............................................................80 Tabela 4.3 – Dados Comparativos entre as Três Principais Alianças.........................81 5. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS Tabela 5.1 – Impacto da Conectividade no Tempo Total da Viagem......................112 Tabela 5.2 – Ranqueamento das Alianças / Empresas Aéreas no Tráfego Mundial.....................................................................................................................119 Tabela 5.3 – Evolução do Market-Share das Alianças Entre Empresas NorteAmericanas e Européias nas Rotas do Transatlântico............................................................................................................120 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES xiii LISTA DE SIGLAS ANA All Nipon Airways ANAC ATConf CAA CAB Agência Nacional de Aviação Civil Conferência de Aviação Comercial Civil Aeronautics Authority Civil Aeronautics Board CBA CINA CRS DOT Código Brasileiro de Aeronáutica Comissão Internacional de Navegação Aérea Computer Reservation System Department of Transportation EUA FMI FPP Estados Unidos da América Fundo Monetário Internacional Frequent Flyer Programs GDS GM IATA ICAO/OACI Global Distribution System Guerra Mundial International Air Transport Association International Civil Aviation Organization OMC ONGs PIB PND Organização Mundial do Comércio Organizações Não Governamentais Produto Interno Bruto Programa Nacional de Desestatização SAS SIFL SPA SRI TCAA UE Scandinavian Airlines System Standard Industry Fare Level Special Pro-Rated Agreement Superintendência de Relações Internacionais Transatlantic Common Aviation Area União Européia URSS USDOJ União das Repúblicas Socialistas Soviéticas United States Department of Justice USDOT United States Department of Transportation xiv 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Os fenômenos da globalização e da evolução tecnológica vêm modificando, consideravelmente, as relações comerciais e o ambiente de negócios. Em todo o mundo, a partir do final do século XX, a busca pela flexibilização das fronteiras entre os países tem conduzido a elevados índices de internacionalização na produção de bens e serviços (ESPÍRITO SANTO JR., 2000). Da mesma forma, a acirrada competição, nos mais diversos mercados, demonstra que, para triunfar nesse ambiente dinâmico – e muitas vezes turbulento – é imprescindível que as organizações revisem suas metas e suas estratégias de negócios. O transporte aéreo, desde as últimas décadas do século passado, ocupa posição de destaque no deslocamento de passageiros e cargas no mundo inteiro. O avião, o único meio de transporte capaz de cruzar oceanos e unir continentes em um único dia, devido à sua capacidade de deslocamento veloz, estabeleceu-se como a melhor opção para as rápidas conexões exigidas pelo mundo moderno. Com isso, progressivamente, desenvolveu-se uma expressiva rede de tráfego que, atualmente, cobre um amplo número de países e localidades em todos os continentes. Constituindo-se em um dos maiores negócios integrados, a aviação também é responsável por um enorme impacto econômico no dinâmico ambiente mundial, apresentando estatísticas relevantes (IATA, 2006): Emprega mais de 29 milhões de pessoas especializadas, contribuindo 2 significativamente para o giro econômico da riqueza mundial; Constitui-se em um dos maiores exportadores, sendo responsável por 40% da exportação inter-regional de bens, produzindo expressivos resultados positivos nas contas do comércio exterior; Transportou aproximadamente dois bilhões de passageiros em 2005; Incrementa amplamente a indústria do turismo, que se tornou interdependente do transporte aéreo (40% dos turistas viajam via aérea); Seu impacto econômico (direto, indireto, induzido e catalisador) é estimado em 2,6 bilhões de dólares, o que equivale a 8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No Brasil este panorama não é diferente. Os aumentos nos níveis de tráfego de passageiros e mercadorias vêm ocorrendo pari-passu com o crescimento econômico do país. O transporte aéreo vem apresentando boas taxas de crescimento, representando assim, uma opção cada vez mais relevante na escolha de pessoas e empresas por meios de transporte. Em 2005, o segmento doméstico transportou mais de 35 milhões de passageiros, o que representa um aumento de 21% em relação a 2004, e de 124% em relação ao ano 2000. A globalização e a liberalização dos mercados mundiais geraram no segmento de transporte aéreo de passageiros e cargas a necessidade permanente de estar sempre preparado para responder às pressões competitivas crescentes. Apesar de todo o ambiente de mutações e de incertezas da aviação mundial, esta continua registrando elevados índices de crescimento praticamente em todos os grandes países. No Brasil, por exemplo, o mercado internacional cresceu 7% no ano de 2005 se comparado com o ano anterior, e 147% se comparado a 1990. Ao mesmo tempo, 3 por ser bastante sensível ao ambiente político-econômico e à competitividade dos mercados (tanto o doméstico quanto o internacional) em que está imersa, diversas políticas de flexibilização e modernização têm sido propostas e discutidas para o setor. Evolução PAX DOM e INTL no Brasil (1990-2005) 45,0 38,7 40,0 31,9 35,0 27,7 30,0 31,1 31,8 31,5 29,0 25,0 20,0 29,0 20,2 15,8 16,2 15,2 12,9 15,0 10,0 4,0 4,0 4,7 16,8 17,2 6,2 7,0 13,2 5,0 5,6 7,6 7,9 7,5 8,1 7,6 7,0 7,7 9,2 9,9 5,0 0,0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Tráfego Doméstico (MM) Tráfego Internacional (MM) Figura 1.1 – Evolução dos Passageiros Transportados no Mercado Doméstico e Internacional Brasileiro Fonte: ANAC, anos diversos Um dos principais aspectos discutidos remete-se à capacidade das empresas aéreas reagirem a tais pressões de modo a criar mecanismos de defesa e assegurar sua sobrevivência. Assim, seguindo a mesma tendência da maioria dos diversos setores da economia (como por exemplo, os setores automobilístico, têxtil, farmacêutico, petrolífero, de telecomunicações, dentre outros), as companhias têm adotado a prática de atuar em redes de alianças estratégicas e em parcerias. Atualmente, o setor de transporte aéreo é caracterizado por acordos (em sua maioria, bilaterais) e grandes alianças globais. As empresas, com o objetivo de se adaptarem a estas mudanças, começaram a unir esforços em vários aspectos, até então 4 considerados somente como competitivos, passaram a ser encarados como oportunidades. A globalização e a crise caracterizada pelo encarecimento dos custos de operação das empresas, aliadas ao surgimento de novos meios de comunicação, como por exemplo a Internet, sem contar os atentados de onze de setembro de 2001, as guerras e as crises econômicas fizeram com que os mercados se tornassem cada vez mais vulneráveis a quaisquer movimentos internacionais. Tal conjuntura gerou a necessidade permanente das companhias aéreas estarem preparadas para responder às forças do ambiente externo. Segundo Yergin et al (2000), a formação de alianças se tornou um dos desenvolvimentos mais marcantes que afetou o setor do transporte aéreo e pode ser visto como um marco do processo de globalização. O termo “aliança” é uma expressão ampla para uma variedade de estratégias que as empresas aéreas têm adotado com o objetivo de construir sinergias e de expandir seus serviços junto a outras companhias dentro dos limites impostos pela regulamentação doméstica e internacional. No caso da aviação, especificamente, acordos de cooperação entre as companhias aéreas são intrínsecos ao modal, devido às várias restrições ou limitações que este possui: legais-governamentais, abrangência da malha, viabilidade econômico-financeira das operações, dentre outros. Apesar das várias limitações, a integração da rede de linhas entre empresas pode se dar através de diversas formas de parcerias ou de grandes alianças que se desdobram em: operações interline, acordos em code-share, joint-ventures, dentre outros tipos. 5 Os acordos de code-share – objeto do presente estudo – podem ser considerados, segundo Hennart (1988) apud Lima (2003), como alianças simétricas, onde as empresas parceiras buscam as mesmas vantagens competitivas: ambas as companhias obtêm reduções significativas de custos e posicionamento nos mercados envolvidos. Segundo Espirito Santo Jr. (2000), as parcerias em code-share, principalmente as provenientes de aliança estratégica, são motivadas por crises econômico-financeiras das empresas, pela necessidade de fortalecimento frente à concorrência ou pela necessidade de contornar eventuais restrições e ineficiências regulatórias. As grandes alianças e/ou os acordos de parcerias, visam principalmente complementar as redes das companhias e multiplicar as suas oportunidades de tráfego. Entretanto, para que possam avaliar se devem ou não efetuar operações conjuntas é imprescindível que as empresas aéreas analisem previamente indicadores de desempenho relativos aos benefícios desse tipo de operação conjunta. É importante ressaltar que, ao vislumbrar esse tipo de operação, o planejamento estratégico dessas companhias deve considerar também as implicações dos relacionamentos empresa versus setor. Ou seja, tendo como meta a busca por uma maior vantagem competitiva, as organizações devem analisar as respectivas forças e fraquezas, ameaças e oportunidades que podem influenciar a sua própria conduta organizacional ao efetuarem parcerias e/ou alianças. 1.2 OBJETIVO A presente dissertação terá por objetivo identificar e analisar qualitativamente 6 alguns dos principais benefícios das grandes alianças internacionais, com foco nos acordos de code-share para as empresas aéreas, bem como descrever alguns dos principais aspectos negativos. Pretende-se desenvolver uma análise qualitativa a partir da visão de especialistas do setor de transporte aéreo sobre as variáveis relevantes para a tomada de decisão pelas companhias quanto à formalização dos acordos de code-share. Ainda neste prisma, o trabalho dissertará sobre alguns dos aspectos que influenciam diretamente nas parcerias code-share do transporte aéreo internacional, quais sejam: avaliação da estrutura, relato de características, práticas e formatos e as respectivas limitações e os interesses governamentais envolvidos. A partir da referida análise o presente trabalho ainda tem como objetivo servir como instrumento de referência teórica e no auxilio ao planejamento e administração estratégicos por uma organização privada ou por um órgão governamental quanto à formação de parcerias em code-share. 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO No próximo capítulo – Metodologia será destacada a importância da revisão bibliográfica no levantamento teórico desta dissertação. Além disso, será apresentada a técnica utilizada para a pesquisa - a investigação por questionários – assim como o respectivo tratamento dado aos objetos coletados. No capítulo 3 será feito uma narrativa sobre o Transporte Aéreo Internacional e 7 será destacada a formação da regulamentação ao longo do tempo no mercado internacional de passageiros e como alguns fatores conjunturais têm influência direta no tema desta dissertação. O capítulo também descreverá a desregulamentação do setor de transporte aéreo nos Estados Unidos e como tal processo também transcendeu no continente Europeu. Assuntos pertinentes a este tema como a política dos acordos bilaterais e a abertura de capital ao controle de estrangeiros por estrangeiros também serão relatados. O capítulo 4 – Alianças discorrerá sobre definições gerais básicas tais como: globalização, alianças globais, alianças na aviação e vôos em code-share, com o objetivo de traçar uma relação entre os termos em questão e fornecer (e até mesmo justificar) alguns dos parâmetros atuais relativos ao tema. O capítulo 5 – Análise dos Resultados será feita uma breve analise qualitativa nas principais variáveis apontadas pela pesquisa elaborada. Finalmente, no capítulo 6, será apresentada a Conclusão desta dissertação, algumas considerações finais correspondentes às potencialidades e limitações deste trabalho e, sugestões para pesquisas futuras referentes ao tema. 8 2. METODOLOGIA 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E LEVANTAMENTO DA LITERATURA DISPONÍVEL Esta dissertação teve início a partir da motivação da autora em expandir um assunto ainda pouco explorado em publicações e pesquisas acadêmicas no país: as alianças entre empresas de transporte aéreo e seus impactos. Neste trabalho, o segmento teórico – a parte relativa ao histórico, à evolução e à caracterização do transporte aéreo e dos vôos em code-share/alianças – foi elaborado a partir de consultas a obras bibliográficas, publicações de revistas e manuais especializados e pesquisas via Internet. Para a elaboração da parte teórica foi fundamental a pesquisa bibliográfica direcionada à busca de casos, estudos, artigos, livros e publicações de congressos, revistas especializadas do setor, além de dissertações e teses relacionadas direta e/ou indiretamente ao tema escolhido – e seus subtemas, como estratégias e alianças, transporte aéreo internacional, globalização, formação de alianças etc. – tanto no Brasil quanto no exterior. Em virtude da dinâmica do transporte aéreo mundial, o levantamento de dados relativos ao tema foi praticamente constante durante todo o transcorrer da elaboração deste trabalho. Um dos aspectos observados durante a coleta de dados é a carência bibliográfica de obras dedicadas às alianças, sobretudo as pertinentes aos efeitos destas para a aviação comercial brasileira. Essa escassez faz com que o mérito desta pesquisa também esteja diretamente relacionado aos questionários aplicados junto 9 aos profissionais de empresas aéreas (tanto no Brasil, quanto no Exterior), à comunidade acadêmica e aos órgãos reguladores do Governo brasileiro. 2.2 LIMITAÇÕES E DIFICULDADES ENCONTRADAS As limitações metodológicas provêm do fato do tema em questão referir-se a uma área de pesquisa relativamente nova no campo da estratégia. Por envolver variáveis e relacionamentos complexos em uma rede de alianças estratégicas, constatou-se a existência de poucas obras, especialmente quanto àquelas relacionadas à aviação, publicadas no país. Cabe considerar também, a existência de restrições quanto à divulgação dos dados obtidos. A formação de redes de alianças envolve informações sigilosas das organizações envolvidas. Logo, durante todo o trabalho de pesquisa, o grande objetivo foi correlacionar as informações disponíveis e publicáveis de cada empresa, uma vez que os dados referentes aos indicadores de performance de alianças (como, por exemplo, a criação de valor por meio destas) não puderam ser disponibilizados. O que foi possível dentro do tema proposto foi uma generalização analítica qualitativa, que tem por objetivo contribuir para refinar e desenvolver uma referência teórica que possa servir como um padrão para futuras pesquisas semelhantes, assim como sua aplicação a um estudo de caso específico, por exemplo. Partindo desse princípio, as colaborações do professor orientador e de profissionais da área de Planejamento Estratégico – especialmente Acordos e Alianças – foram fundamentais para a delimitação e o desenvolvimento do tema. A 10 metodologia proposta para o presente projeto teve como base principal o procedimento de hierarquização do grau de importância das variáveis mais relevantes para o processo decisório das empresas aéreas quanto à participação destas em acordos de code-share. 2.3 TÉCNICA DE INVESTIGAÇÃO POR QUESTIONÁRIOS 2.3.1 Pré-seleção das variáveis Conforme previamente mencionado, esta pesquisa utilizou-se fundamentalmente da técnica de aplicação de questionários. Como ferramenta principal, auxiliou na escolha das variáveis de análise que os tomadores de decisão das companhias aéreas envolvidas teoricamente deveriam considerar ao fazer parte de um code-share. No momento da elaboração do questionário, cabe considerar, que houve a necessidade de identificar um ponto de partida, para que a pesquisa tomasse um formato mais homogêneo. Através da técnica de brainstorming1, foram escolhidas algumas variáveis – consideradas importantes por alguns profissionais de empresas mais próximos e/ou que demonstraram interesse pelos resultados da pesquisa. Estes contatos foram realizados pessoalmente, buscando abrir discussões a partir do um tema escolhido: Como medir os impactos e/ou benefícios de um code-share? Qual seria a rota mais apropriada para realizar esse estudo? 1 O brainstorming, mais que uma técnica de dinâmica de grupo é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de cada indivíduo, colocando-a a serviço do tema em discussão. 11 Ao realizar uma análise, quais são as principais variáveis postas em discussão com a empresa parceira? Previamente ao brainstorming, a autora preparou-se com a leitura de livros, jornais e revistas diversas relacionadas à área específica e também com estudos, análises e percepções do ambiente do mercado aéreo internacional. Como resultado, as variáveis escolhidas foram: Receita incremental; Fluxo de tráfego de passageiros; Variações dos custos de operação; Abrangência da malha internacional (maior oferta de origens e destinos); Aspectos de conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes); Maior facilidade na emissão de bilhetes; Visibilidade dos vôos nos canais de distribuição (CRS); Desempenho econômico-financeiro das empresas envolvidas; Ganho de market-share; Qualidade do serviço oferecido; Imagem da empresa aérea; 2.3.2 Elaboração dos Questionários Os questionários-consulta – encaminhados a especialistas industriado setor do transporte aéreo – foram fundamentais para o levantamento de dados específicos e para a obtenção dos pontos de vistas dos colaboradores. Com o objetivo de obter-se o 12 maior número de retornos possíveis em tempo hábil, houve a preocupação da autora ao elaborar o questionário de forma simples e direta. A estrutura simples do questionário – composto por duas perguntas encadeadas – foi essencial para facilitar a interpretação da análise do colaborador e a análise da autora. A primeira pergunta remete-se à identificação das cinco principais variáveis dentre as dez previamente escolhidas, enquanto que a segunda visa atribuir o nível de importância a estas cinco variáveis. Quadro 2.1 – Estrutura da Primeira Pergunta 1a Etapa: ESCOLHA DAS VARIÁVEIS Por favor, assinale as 5 (cinco) variáveis que julgar mais relevantes dentre as variáveis abaixo e que provavelmente devem possuir influência na decisão das empresas aéreas em efetuarem vôos em code-share (caso queira incluir uma ou mais variáveis, considere-as entre as cinco de sua escolha). ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) Receita Incremental Fluxo de Tráfego de Passageiros Variações dos Custos de Operação Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRSs) Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Ganho de Market-Share Qualidade do Serviço Oferecido Imagem da Empresa Aérea Outros. Especificar: _________________________________ Outros. Especificar: _________________________________ 13 Quadro 2.2 – Estrutura da Segunda Pergunta 2a Etapa: PESO DAS VARIÁVEIS Assinale o grau de importância das 5 (cinco) variáveis previamente escolhidas na primeira etapa. Tais variáveis, após serem tabuladas, serão inclusas para analisar os benefícios e/ou os impactos que os vôos em code-share no mercado internacional podem propiciar às companhias aéreas: Variáveis MI Receita Incremental Fluxo de Tráfego de Passageiros Variações dos Custos de Operação Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRSs) Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Ganho de Market-Share Qualidade do Serviço Oferecido Imagem da Empresa Aérea Outros. Especificar:_________________________________ Outros. Especificar:_________________________________ I M PI Legenda: MI – Muito Importante; I – Importante; M – Média Importância; PI – Pouca Importância; SI – Sem Importância. Para um grau maior de liberdade dos respondentes, o questionário aplicado possui natureza mista. Questionário misto é aquele em que as perguntas são fechadas com alternativas de respostas livres por parte do entrevistado (TACHIZAWA e MENDES, 2000). Além das variáveis pré-escolhidas, o respondente tinha a possibilidade citar outras duas que julgasse importante, valorizando ainda mais a pesquisa. Vide questionário estruturado no Apêndice 1. Uma pesquisa piloto foi testada em analistas de mercado, a fim de verificar a aplicação e as possíveis dificuldades da coleta de dados, bem como confirmar se o questionário estava adequado aos objetivos do estudo no que se refere à clareza de entendimento pelos colaboradores. Houve a necessidade de ajuste em duas variáveis e visando um melhor esclarecimento destas, seus significados foram introduzidos entre parênteses. SI 14 Na pesquisa piloto foram testados seis questionários, o que representa 20% da primeira amostra enviada. O período de aplicação dos questionários foi de agosto a outubro de 2006. 2.3.3 Pré-Seleção dos Respondentes Os questionários foram distribuídos através da rede de relacionamentos da autora e de seus orientadores acadêmicos, de modo a obter as percepções de profissionais diversos da aviação a respeito das variáveis pré-selecionadas e seus relativos níveis de importância. O critério adotado para a seleção dos colaboradores foi o grau de proximidade destes com o tema do estudo. O envio dos questionários restringiu-se às seguintes categorias: Profissionais de Empresas Aéreas (dentre os quais, estão incluídos também os integrantes de comitês de alianças) que lidam diretamente com o assunto abordado, podendo ser assim classificados de acordo com a sua área de atuação. Nível Estratégico: diretorias e gerencias gerais; Planejamento de Redes e Linhas; Otimização de vôos em parceria; Relações com o governo; Alianças e parcerias; Análise de Mercado; 15 Profissionais de Órgãos Governamentais; Assuntos econômicos da ANAC; Secretaria de Direito Econômico; Superintendência de Relações Internacionais (SRI/ANAC); Comunidade Acadêmica; Professores; Pesquisadores com ênfase em Transporte Aéreo; Mestrandos com dissertações em Transporte Aéreo; Doutorandos com teses em Transporte Aéreo; Consultores. 2.3.4 Retorno dos Questionários Foram enviados 139 questionários, dos quais 72 foram respondidos, o que corresponde ao percentual de 52%. Os respondentes, de acordo com sua categoria profissional, pertencem predominantemente às Empresas Aéreas (70%), seguido pela Comunidade Acadêmica (14%), Órgãos Governamentais (12%) e Consultores (4%), conforme demonstrado no gráfico a seguir: 16 CATEGORIAS PROFISSIONAIS GOVERNO 12% CONSULTORIA 4% COMUNIDADE ACADÊMICA 14% EMPRESA AÉREA 70% Figura 2.1 – Categorias Profissionais dos Respondentes Quanto à nacionalidade dos respondentes, 66% são brasileiros e 34% estrangeiros. NACIONALIDADE DOS RESPONDENTES ESTRANGEIROS 34% BRASILEIROS 66% Figura 2.2 – Nacionalidade dos Respondentes 2.4 TRATAMENTO DOS DADOS A etapa de tratamento dos dados teve como objetivo tabular os dados dos questionários, preparando-os para a análise subseqüente. Os estudos e análises das variáveis envolvidas foram conduzidos de forma qualitativa, onde a tabulação dos dados tomou como base uma escala de avaliação itemizada. Nesta escala, foram 17 atribuídos pontos de grau de importância às (cinco) variáveis previamente escolhidas pelos respondentes. A pontuação variou entre 5 e 1, do maior (muito importante) para o menor (sem importância) – dada a percepção do respondente. As respostas às perguntas abertas também foram agrupadas – devido à importância de diferentes visões dos especialistas em transporte aéreo – e terão sua interpretação no decorrer das análises. Na tabela 2.1, encontra-se o resultado da tabulação onde as variáveis são ordenadas de acordo com o grau de importância atribuído. Tabela 2.1 – Resultado da Tabulação VARIÁVEIS PONTUAÇÃO Receita Incremental Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Fluxo de Tráfego de Passageiros Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRS) Variações dos Custos de Operação Ganho de Market-Share Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Qualidade do Serviço Oferecido Imagem da Empresa Aérea Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Outros: Margem Operacional da rota HUB principal. Outros: Disponibilidade de freqüencias no acordo bilateral Outros: Antecipar-se à concorrência na atuação nas rotas envolvidas no acordo Outros: Competição con outras alianças; ultrapassar barreiras de entrada Outros: Oportunidades para desenvolvimento de mercados para futuras operações "online". Outros: Aumento de freqüência de serviço 300 292 MÉDIA PONDERADA 63 68 237 54 164 156 151 132 117 38 37 33 30 26 54 52 9 5 5 4 14 13 2 1 1 1 4 1 3 1 3 1 Devido ao número razoável de respondentes de nacionalidade estrangeira (34% da amostra), surgiu a subdividir a tabulação dos respondentes brasileiros e 18 estrangeiros com o objetivo de identificar (ou não) similaridades quanto ao pensamento do grau de importância das variáveis entre os especialistas do exterior versus o pensamento dos especialistas brasileiros. Na tabela 2.2, encontra-se o resultado da tabulação dos respondentes de nacionalidade estrangeira, e na tabela 2.3 o resultado da tabulação dos respondentes de nacionalidade brasileira. Tabela 2.2 – Resultado da Tabulação (Respondentes de Nacionalidade Estrangeira) VARIÁVEIS PONTUAÇÃO Receita Incremental Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Fluxo de Tráfego de Passageiros Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRS) Ganho de Market-Share Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Variações dos Custos de Operação Qualidade do Serviço Oferecido Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Imagem da Empresa Aérea Outros: Competição com outras alianças; ultrapassar barreiras de entrada Outros: Oportunidades para desenvolvimento de mercados para futuras operações "online". Outros: Aumento de freqüência de serviço 102 92 MÉDIA PONDERADA 21 23 70 65 16 15 49 43 41 12 10 9 32 15 9 6 4 7 5 2 2 1 3 1 3 1 Tabela 2.3 – Resultado da Tabulação (Respondentes de Nacionalidade Brasileira) VARIÁVEIS PONTUAÇÃO Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Receita Incremental Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRS) Fluxo de Tráfego de Passageiros Ganho de Market-Share Variações dos Custos de Operação Imagem da Empresa Aérea Qualidade do Serviço Oferecido Outros: Margem Operacional da rota HUB principal. Outros: Disponibilidade de freqüencias no acordo bilateral Outros: Antecipar-se à concorrência na atuação nas rotas envolvidas no acordo 200 MÉDIA PONDERADA 45 198 172 42 39 110 24 107 94 89 85 46 39 5 5 4 25 22 20 19 11 9 1 1 1 19 Ao comparar o ranqueamento das cinco principais variáveis das respostas dos especialistas de nacionalidade estrangeira com as respostas dos especialistas de nacionalidade estrangeira, verifica-se que a variável “Desempenho EconômicoFinanceiro das Empresas Envolvidas” destaca-se em quarto lugar na opinião dos brasileiros. Tal fato pode ser explicado pela própria situação econômico-financeira das empresas brasileiras que operam no mercado internacional, onde sofrem uma competição voraz nos preços das passagens aéreas das congêneres internacionais. O grau de importância dos especialistas brasileiros atribuído a esta variável pode ser explicada como uma forma de minimizar tais impactos. Como o objetivo primário do questionário era a identificação das cinco variáveis que possuem maior influência para uma empresa aérea ao estabelecer um acordo de code-share, adotou-se como premissa para a análise cinco variáveis que obtiveram a maior pontuação. Fica aqui a sugestão para que outros trabalhos futuros explorem as demais variáveis, sobretudo aquelas identificadas pelos respondentes no campo livre. A seguir, de acordo com o critério de escolha dos respondentes assim como a limitação da autora, serão abordadas no capítulo subseqüente: 1. Receita Incremental 2. Abrangência da Malha Internacional 3. Aspectos de Conectividade 4. Fluxo de Tráfego de Passageiros 5. Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição 20 3. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Para um melhor entendimento do contexto, dos motivos e dos fatores impulsionadores da formação das alianças entre as empresas aéreas, é necessário entender um pouco do histórico, da estrutura e da formação da regulamentação ao longo do tempo no mercado internacional de passageiros e como tais fatores tiveram influência direta no objeto do estudo em questão. Após a I Guerra Mundial (GM) houve o renascimento do interesse do mundo pela aviação comercial. Entretanto, ainda permaneciam sem solução diversos problemas que contribuíam para o atraso no desenvolvimento do transporte aéreo. Dentre estes podem ser destacados (ESPIRITO SANTO JR., 2000): A soberania dos espaços aéreos e a permissão ou não para o seu sobrevôo; Dificuldades lingüísticas nas comunicações (cada país teria o direito de se comunicar com as aeronaves que requisitassem seu sobrevôo, no seu próprio idioma, causando insegurança e mal-entendidos freqüentes); Cartas de navegação despadronizadas (cada país possuía a sua própria forma de representar tudo aquilo que constava nas cartas); Formalidades e exigências aleatoriamente estabelecidas pelos países. A primeira grande tentativa para se organizar o Transporte Aéreo Comercial Internacional foi dada através da Convenção de Paris, em 1919. De forma resumida, dois marcos importantes podem ser destacados: a criação da Comissão Internacional 21 de Navegação Aérea (CINA), que seria o embrião e propiciaria o nascimento da ICAO - International Civil Aviation Organization (Organização da Aviação Civil Internacional, OACI), 25 anos depois; e a vitória da posição britânica sobre a soberania do espaço aéreo em contrapartida às propostas de “livre sobrevôo” defendidas, na época, pelos franceses (CORREA, 2003). A década de vinte assistiria a três formas de organização do transporte aéreo mundial: a Convenção Íbero-Americana de Navegação Aérea, em Madrid, 1926; a Convenção de Havana, em 1928, que tratou sobre os direitos comerciais aéreos e; a Convenção de Varsóvia, em 1929 (a mais importante do período anterior à II GM), tratava de disciplinar as responsabilidades das empresas aéreas pelos danos causados aos passageiros e/ou suas bagagens e, de dar forma aos documentos aéreos, ao padronizar regras, bilhetes de passagem, entre outros) (ESPIRITO SANTO JR., 2000). No Brasil, os segmentos do transporte aéreo podem ser subdivididos entre domésticos e internacionais. De acordo com a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), Portaria no. 569/GC5, de 5 de setembro de 2000, os segmentos internacionais são aqueles que ligam um ponto no território brasileiro a outro no território estrangeiro. Estes devem ser explorados por empresas previamente designadas pelo governo brasileiro nos termos dos Acordos Bilaterais celebrados com os outros governos. As ligações internacionais podem ser: Regionais - ligam o território brasileiro a países da América do Sul e Central. Intercontinentais - incluem as demais ligações aéreas internacionais, inclusive as que se destinam ao México, EUA e Canadá 22 Sub-regionais - são aquelas realizadas sob a égide dos Acordos sobre Serviços Aéreos Sub-regionais de 17 de dezembro de 1996 (Acordo de Fortaleza). Exemplo típico de acordo multilateral, esse acordo regula transporte aéreo entre o Brasil e os países do Mercosul. 3.2 A CONVENÇÃO DE CHICAGO (1944) Em 1944, pouco antes do final da II GM, os Estados Unidos convocam a maior, em importância, convenção de aviação civil internacional. A Convenção de Chicago recebeu aproximadamente mil representantes de 54 países e apesar de também abordar assuntos técnicos (licenciamento internacional para pilotos, certificados de aeronavegabilidade das aeronaves, e coordenação de protocolos de tráfego-aéreo), a política econômica do transporte aéreo internacional teve mais destaque (YERGIN et al, 2000). O regime que norteia a aviação assim como as relações bilaterais entre os governos teve sua origem nesta convenção. Entretanto, quando os representantes reuniram-se ainda havia resquícios pós II GM, e apesar de não declarado, esse pensamento permanece até hoje. Assuntos sobre o controle da seguridade nacional e soberania do espaço aéreo tiveram mais valor do que projetar um sistema que fosse eficiente do ponto de vista econômico (YERGIN et al, 2000). De acordo com Evans (2001), a plataforma sobre a qual as alianças se sustentam hoje existentes é a Conferência de Chicago de 1944 e sua estrutura regulatória para a aviação num mundo pós II GM. A ICAO também formada em 1944 e a IATA (International Air Transport Association) formada em 1945 juntaram 23 recursos e informações e assim harmonizaram a regulamentação da indústria (DONNE, 1995). Sob a coordenação da IATA numa escala global foi criada uma tradição de cooperação entre as empresas aéreas e as cooperações nas rotas atingiu um elevado grau de evolução quanto um grande acordo de pool de receitas entre as empresas operantes. As empresas de âmbito internacional se esforçaram para assegurar a eficiência nas transferências/conexões de passageiros, bagagem, e carga através dos acordos interline. Tais acordos fornecem aceitação mútua das empresas participantes dos bilhetes dos passageiros, cheques de bagagem e documentação de carga, assim como o estabelecimento de normas-padrão nestas áreas (HANNEGAN & MULVEY, 1995). Alguns dos principais resultados alcançados em Chicago podem ser destacados (ESPIRITO SANTO JR., 2000): Ratificação o pensamento britânico sobre a soberania do espaço aéreo, onde, mais tarde, os países tratariam da concessão das “liberdades do ar” em acordos bilaterais, fazendo com que a proposta dos EUA de um ou vários acordos multilaterais, praticamente ao estilo “céus abertos”, fora derrotados; Criação da ICAO, com sede em Montreal/Canadá, em substituição à CINA estabelecida na Convenção de Paris, em 1919; Definição de uma ampla gama de Normas e Recomendações de ordem técnica para disciplinar e padronizar as atividades aéreas internacionais e; Com a criação da ICAO, abriu-se espaço para uma reformulação e o conseqüente renascimento da IATA, desta vez como International Air Transport Association. 24 Isso posto, as discussões ocorridas em Chicago e formalizadas no texto Standard Form of Agreement for Provisional Air Routes, assinado em paralelo à Convenção, abriram caminho para o primeiro grande acordo bilateral, o Acordo das Bermudas, de 1947, celebrado entre os EUA e a Grã-Bretanha. Este acordo e a sua revisão (Bermudas II) constituem as bases para os demais acordos bilaterais assinados desde então. O formato genérico destes acordos indicam as diversas condições a serem impostas ao fluxo de pessoas, bens e serviços entre os Estados signatários (CORREA, 2003). 3.3 ACORDOS BILATERAIS Como já apontando anteriormente, o primeiro acordo bilateral foi assinado em 1947 entre os EUA e a Inglaterra numa Conferência realizada no Triângulo das Bermudas. Os termos comerciais acertados tornaram-se modelo para outros acordos bilaterais posteriores (YERGIN et al, 2000). O formato genérico destes acordos determina as diretrizes das diversas condições a serem impostas ao fluxo de pessoas, bens e mercadorias entre os Estados signatários. De maneira geral, os acordos bilaterais buscam estabelecer: a capacidade e/ou as freqüências, desta forma limitando a oferta de assentos e o espaço disponível para cargas; as localidades a serem servidas (diretamente ou por conexões); as empresas aéreas que estarão autorizadas a realizar os serviços regulares entre os países; e o regime tarifário a ser praticado por estas. De acordo com Chang e Williams (2001), existem quatro elementos-chaves que caracterizam os acordos bilaterais. O primeiro é o acesso aos mercados. 25 Normalmente, um número limitado de rotas e de “liberdades do ar” são especificadas neste primeiro momento para cada empresa aérea. Este fator determina o limite geográfico para cada empresa designada no acordo. O segundo fator é a designação dos países, que envolve a nomeação de uma, duas ou mais empresas a operar a rota internacional acordada. As empresas aéreas designadas normalmente possuem o capital nacional majoritário em sua composição acionária. Este fator decide quantas empresas realmente passarão a operar neste mercado. O terceiro fator-chave seria a capacidade, o que limita a freqüência do serviço ou o número de assentos que cada empresa pode ofertar. Vale lembrar que tal fator também poderá ser influenciado, em um segundo momento, pela disponibilidade de slots (controles de horários permitidos para a saída ou chegada dos vôos nos aeroportos) nos aeroportos e também irá determinar o tamanho dos mercados para as empresas aéreas. O último fator-chave são as tarifas. Os regimes tarifários variam desde os mais restritivos (aprovação dupla dos países) até os mais liberais (dupla desaprovação dos países). Corroborando com Chang & Willians (2001), Espírito Santo Jr. (2003) em sua obra ressalta que os acordos bilaterais acabam restringindo a capacidade de planejamento e de atuação das empresas, bem como a competição direta entre elas. Além disso, definindo as localidades a serem servidas, acabam limitando a acessibilidade do passageiro a vários destinos reais e potenciais (considerando que se tem uma queda no nível de serviço nas ligações que devem ser realizadas via conexões). Com os temores da Guerra Fria, naquela época, os acordos bilaterais exerceram papel de destaque na soberania das nações ocidentais, que exigiam controle total sobre os volumes ingressos e egressos de passageiros e cargas. Além disso, as 26 ferramentas tecnológicas e as estratégias administrativas e econômico-financeiras sendo utilizadas pelas empresas aéreas, combinadas com o início da internacionalização de bens e serviços, ocorridos ainda na década de setenta, começaram a alterar de forma radical os mercados doméstico e internacional. Adicionalmente, a pressão expansionista das empresas aéreas americanas que impulsionadas pela desregulamentação do seu mercado doméstico, começaram a questionar a falta de competição do mercado internacional e os privilégios das empresas aéreas estatais européias, asiáticas, africanas e latino-americanas. Com estes desdobramentos, em menos de meio século, o transporte aéreo internacional tornou-se uma indústria de dimensões e características inimagináveis para as autoridades presentes na Convenção de Chicago em 1944. Em mais de cinco décadas o mundo assistiu à concepção e à utilização dos sistemas de reserva por computador (CRSs), o (re)nascimento dos programas de fidelidade, o surgimento da classe executiva, a prática de code-share e a formação de alianças estratégicas mundiais, a introdução do ticket-less travel, o advento da Internet e do e-ticket e uma crescente onda de alianças, fusões e aquisições (ESPIRITO SANTO JR., 2003). As restrições propiciadas pelo sistema de acordos bilaterais serviram de base para uma rápida expansão de empresas de bandeira. Algumas dessas, como a KLM e a Singapore Airlines surgiram em âmbito mundial, eficientes e rentáveis. Contudo, devido às perdas e a não-sustentabilidade financeira, muitas recorreram à ajuda governamental como forma de evitar a entrada de potenciais competidores em seus mercados. Os ganhos em eficiência foram perdidos desde as restrições dos acordos bilaterais, impedindo as empresas de desenvolverem suas redes numa base simplesmente comercial. A competição e a consolidação entre empresas também ficaram restritas, impedindo-as de se estabelecerem em países estrangeiros e de 27 possuírem a maior participação acionaria ou até mesmo uma fusão com uma companhia aérea estrangeira (YERGIN et al, 2000). Estas limitações eram fundamentais para a organização do transporte aéreo internacional no período pós II GM, quando era necessário um desenvolvimento ordenado e seguro, limitando a competição destrutiva e garantindo os serviços aéreos para nações isoladas (CORREA, 2003). Mas um regime que foi necessário para um determinado período não é necessariamente o mesmo para uma outra época. O sistema regulatório foi progressivamente sendo depreciado pelo crescimento da demanda e pela alta estrutura de custos intrínseca ao transporte aéreo e também pela sobrecarga de leis. Estes fatores aliados foi o que levou à desregulamentação do setor, anos depois, como será discutido mais adiante. 3.4 “CÉUS ABERTOS” E ABERTURA DE CAPITAL E CONTROLE PARA ESTRANGEIROS Desde 1992, o Departamento de Transportes dos EUA conduziu negociações que resultaram em 47 acordos de “Céus Abertos” na Europa, Ásia, América Latina, Oriente Médio e África, treze dos quais foram negociados em 1999. Em 2000, cerca de 60% do mercado de aviação internacional dos EUA enquadrou-se em acordos de “Céus Abertos” ou em acordos modernos e significativamente liberalizados. Uma análise preparada por aquele Departamento demonstra que os acordos de “Céus Abertos” reduziram as tarifas para os consumidores em cerca de 14%, em comparação com menos de 3% nas rotas em países que não têm. Estes acordos abriram o caminho para o serviço aéreo a novas cidades em todo o mundo, criando empregos e valor econômico muito além dos benefícios diretos do serviço (LARSON, 2000). 28 Atualmente, existem duas correntes ou concepções principais de “céus abertos” (ESPIRITO SANTO JR., 2000): DOT (Department of Transportation) do Governo dos EUA - liberação total dos vôos internacionais, para qualquer par de localidades entre dois países, sem restrições de capacidade, freqüência ou equipamento, com tarifas liberadas (respeitando uma eventual cláusula de double disapproval, quando uma tarifa pode ser negada pelos dois países em comum acordo), mas onde não contempla o direito de cabotagem e da propriedade ou controle majoritário das empresas aéreas de um país por cidadãos ou organizações estrangeiros e; Acordo multilateral entre as nações participantes, segundo o qual seria permitida tanto a cabotagem quanto uma expressiva participação de capital estrangeiro no controle de empresas nacionais. Esta concepção, em parte, é atualmente adotada pela União Européia. Uma das limitações existentes é dada por conta de dois acordos subsidiários, assinados em paralelo à Convenção de Chicago (Two Freedoms Agreement and Five Freedoms Agreement, in Havel (1997) apud ESPIRITO SANTO JR. (2000)): “Each contracting state reserves the right to withhold or revoke a certificate or permit to an air transport enterprise of another state in any case where it is not satisfied that substantial ownership and effective control are vested in nationals of a contracting state.” Dois marcos na história do transporte aéreo comercial podem ser apontados como as bases para o desenvolvimento mais recente das concepções de "céus abertos": a desregulamentação do transporte aéreo doméstico nos EUA, assinada pelo presidente Jimmy Carter em 24 de Outubro de 1978; e a abertura dos céus da Europa Unificada, dando origem a uma forma de desregulamentação internacional, efetivada entre os países participantes, após diversas fases de transição, em 1997. 29 Ainda no conceito de "céus abertos" no transporte aéreo internacional, alguns temas relevantes vêm alterando a dinâmica, os mercados e a regulamentações da indústria: mudança de mentalidade quanto ao protecionismo às denominadas “empresas de bandeira”; as alianças internacionais e a prática do code-share como estratégias alternativas elaboradas pelas empresas aéreas para contornar a falta ou a impossibilidade dos “céus abertos”, e; considerações acerca da soberania do espaço aéreo de uma nação e como esta vem sendo tratada pelos organismos internacionais por ocasião das ações militares (HAVEL, 1997). A Convenção de Chicago não abriu discussão sobre a nacionalidade das empresas aéreas, mas sim para a nacionalidade e/ou o registro das aeronaves. Adicionalmente, o texto (ver Tabela 3.1) não aponta um limite para o controle por nacionais ou estrangeiros, apenas sugere que as partes devem ficar satisfeitas com o controle efetivo e propriedade substanciais apresentados por ocasião da celebração de um acordo internacional. Mesmo assim, a UE (União Européia) regulamenta que cidadãos estrangeiros, fora do bloco, não detenham mais do que 50% do capital de uma empresa aérea européia operando rotas internacionais fora da UE. Entretanto, rotas intra-européias, já consideradas domésticas, podem ser operadas por empresas com qualquer mix de capital de cidadãos pertencentes a este bloco unificado. Além disso, um de seus itens mais controversos, o da “pura” cabotagem (9ª. liberdade), pode ser aceito por intermédio de uma interpretação alternativa do Artigo 7 da Convenção - enuncia que os países poderão recusar os pedidos de uma empresa de outra nacionalidade para operar linhas domésticas e que nenhum Estado signatário se comprometeria em acordar esta espécie de cabotagem de forma unilateral (HAVEL, 1997). 30 Tabela 3.1 – As “Liberdades do Ar” para o Transporte Aéreo Internacional “Liberdades” 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° Definição Direito de sobrevoar o território de um ou mais países sem pousar nos mesmos. O direito de fazer pousos/paradas técnicas no território de um ou mais países, especialmente para reabastecimento e pousos de emergência, excluindo pousos comerciais e descarregamento de mercadorias. O direito ou o privilégio de transportar passageiro ou carga do país de origem da empresa aérea para o território de outros países. O direito ou o privilégio de transportar passageiro ou carga do território de outros países para o país de origem da empresa aérea. Direito ou privilégio de embarcar e desembarcar no território do país parceiro, passageiros e cargas destinados e originados em qualquer outro país. Direito de transportar passageiro ou carga via conexão no país de bandeira da empresa, o tráfego entre dois outros países parceiros. Direito de transportar passageiros ou carga entre dois países através de uma empresa de um terceiro país (o serviço de transporte aéreo não precisa conectar ou ser uma extensão do país de origem da empresa aérea). Direito de transportar passageiros ou carga entre dois pontos domésticos no país parceiro dentro de uma rota que origina ou termina no país de origem da empresa aérea estrangeira (também conhecida como “Direito de Cabotagem”). Direito de transporter o tráfego de cabotagem do país estrangeiro dentro do território do pais de origem da empresa aérea. Fonte: adaptado de Fennes (1997), traduzido pela autora. É fato que a interpretação convencionada tem sido uma das principais causas para a não adoção em larga escala de subsidiárias de empresas estrangeiras operando em mercados domésticos e, principalmente, no tráfego internacional regular. Além disso, diversas discussões envolvendo governos, empresas aéreas, autoridades aeroportuárias, câmaras de comércio locais e membros da academia, têm sido conduzidas no intuito de promover um grande regime de “céus abertos” entre os dois maiores mercados do mundo, os EUA e a UE, na chamada TCAA – Transatlantic Common Aviation Area (HAVEL, 1997; BUTTON, 1998; MURDOCK, 1998; 8th Annual International Aviation Symposium, 1999; BERNSTEIN et al, 2000). Por outro lado, libertas da forma convencionada e restritiva da interpretação retro enunciada, a Austrália e a Nova Zelândia permitem que estrangeiros sejam totalmente donos de empresas aéreas operando ligações domésticas. Como os dois países possuem um acordo bilateral amplo, inclusive contendo a cabotagem em reciprocidade, ligações entre a Austrália e a Nova Zelândia também são consideradas 31 ligações domésticas. Outro país que tem se destacado com suas concepções modernas é o Chile. Para autorizar a operação de uma empresa aérea estrangeira em seu país, apenas estipula-se que esta tenha o seu principal local de negócios no Chile. A Tabela 3.2 apresenta os limites de capital estrangeiro em alguns países. Vale ressaltar o Painel ATRP/9-4 da ICAO, que teve como maior contribuição apontar aos Estados signatários a possibilidade de designar empresas aéreas para serviços internacionais àquelas que não necessariamente estejam sob controle de um outro Estado, mas que tenham sua principal base de negócios neste país. Com isto, um painel de trabalhos da ICAO abria caminho para que pudessem ser permitidas a operar entre dois ou mais países, de forma oficial, empresas aéreas de um dado país com expressiva parte do seu capital de origem estrangeira (ESPIRITO SANTO JR., 2003). Tabela 3.2 – Limites Máximo de Capital Estrangeiro (Capital Votante) em Empresas Aéreas em Alguns Países Países Austrália Brasil Chile China Coréia do Sul EUA Malásia México Nova Zelândia Países da União Européia (EU) Tailândia Limites Máximos 49% para empresas que solicitem ligações internacionais 100% para empresas domésticas (inclusive ligações com a Nova Zelândia) 20% Principal local de negócios no Chile ou em Estado(s) do acordo 35% 50% 25% 45% 25% 49% para empresas que solicitem ligações internacionais 100% para empresas domésticas (inclusive ligações com a Austrália) 100% de qualquer país membro para empresas com ligações intra-UE 49% para empresas que solicitem ligações internacionais fora da UE 49% Fontes: CBA (1986); Chang e Williams (2001). Na esteira do Painel ATRP/9-4 da ICAO, ressalta-se os resultados da 5a Conferência de Aviação Comercial (ATConf/5), realizada em Março de 2003. Em seu documento final – “Consolidated Conclusions, Model Clauses, Recommendations and Declarations” – a ICAO aponta a necessidade natural de os 32 países membros buscarem uma maior flexibilização nas suas legislações referentes à entrada de capitais estrangeiros em suas empresas aéreas, inclusive incentivando seus membros a reformularem suas políticas de concessão e autorização neste sentido (ESPIRITO SANTO JR., 2003). 3.5 AMPLIAÇÃO DAS OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS: Criação de Subsidiárias e Aumento da Parcela de Capital Votante Muito pouco foi feito durante a década de noventa para que a atualização e modernização das legislações aeronáuticas viessem a ser implementada. Três argumentos são básicos para os Estados restringirem a entrada de investimento de capital estrangeiro: soberania nacional, reciprocidade e interesse nacional (ESPIRITO SANTO JR., 2003). Independentemente de seus significados, ao que parece, no Brasil, tais argumentos têm sido o tripé para restringir uma significativa participação de empresas estrangeiros no setor. Para um melhor entendimento, cabe levantar determinadas questões: a primeira seria a permissão da formação de subsidiárias de empresas aéreas estrangeiras no Brasil, com maioria de funcionários brasileiros e sob a égide das legislações brasileiras; a segunda seria a ampliação da parcela de capital estrangeiro no controle acionário com direito a voto nas empresas aéreas brasileiras, dos atuais 20% para algo em torno de 40 a 49%. Infelizmente, diversos profissionais do setor enaltecerão as políticas protecionistas ainda em vigor nos EUA e no Canadá, que limitam em 25% a participação no efetivo controle votante para o capital estrangeiro. No Brasil este limite é de 20%, conforme a redação dada pelo Art.181 do CBA. Pelo fato de o atual Código Brasileiro de Aeronáutica ter entrado em vigor no 33 ano de 1986 (Lei n.º 7565, de 19/12/86), cabe discutir se este já se encontra ultrapassado, nos dispositivos sobre concessão de serviços públicos, com relação a legislações mais modernas sobre livre concorrência e, também, sobre a Constituição em vigor (com suas Emendas posteriores). Aliás, uma discussão e a necessária modernização, é posição do próprio Governo (ESPIRITO SANTO JR., 2003): “O CBA foi promulgado numa época de economia fechada, dos monopólios estatais, dos mercados regulados e preços controlados. A preocupação com a concorrência era marginal e difusa. Obstar a aplicação da Lei de Defesa da Concorrência, que foi publicada para regulamentar o mercado de uma economia aberta, é um retrocesso inadmissível” (Parecer nº008/COGDC-DF/SEAE/MF, de 19 de janeiro de 2001, Ato de Concentração n.º 08012.007398/00-70 – versão pública). Desta forma, segundo o autor supracitado, quando posto frente às novas normas que garantem a atuação do Estado na economia e às mudanças substanciais implementadas a partir da entrada em vigor da Lei Antitruste Brasileira (Lei n.º 8.884/94), que veio dar uma garantia legal ao funcionamento do mercado (na forma da liberdade de agir e atuar livremente, e incentivar a livre concorrência com o combate a manobras tendente à eliminação das competições), o art.181 do CBA pode ser questionável quanto à íntegra da filosofia restritiva de sua aplicação. Assim sendo, ao permitir que empresas estrangeiras tenham uma maior participação acionária de empresas aéreas brasileiras (faixa de 40-49%, no mínimo, para buscar atrair de fato, o interesse de capital estrangeiro não-especulativo), estar-se-ia dando mais uma oportunidade para um salto qualitativo no mercado. As empresas estrangeiras estariam mais comprometidas com o volume de capital investido. Seria uma conseqüência natural os investimentos em desenvolvimentos tecnológicos, incremento e comercialização de novos produtos, bem como a introdução de novas filosofias empresariais, principalmente buscando o aumento da produtividade 34 (ESPIRITO SANTO JR., 2003). 3.6 DESREGULAMENTAÇÃO AÉREA EM OUTROS PAÍSES A desregulamentação do transporte aéreo norte-americano representou, em função de suas características, um marco na questão da regulamentação do setor de transportes mundial. Partindo-se do pressuposto de que a regulamentação econômica existente impedia a entrada de novas empresas e uma maior competição no setor, buscou-se eliminá-la, acreditando-se que assim seria possível reduzir tarifas. O ambiente desregulamentado estimulou a concorrência e desencadeou uma verdadeira guerra tarifária entre as companhias, tanto no tráfego doméstico quanto no internacional. Posteriormente, no início dos anos oitenta, tanto a estrutura do setor do transporte aéreo na Europa quanto as suas operações começaram a sofrer mudanças. Isso ocorreu em função da liberalização gradual nos serviços prestados nas rotas do Atlântico Norte, como conseqüência da nova política liberal norte-americana, implementada domesticamente e levada a efeito em seus acordos bilaterais. Conseqüentemente, esses acordos passaram a ser negociados mais diretamente pelas companhias interessadas. A oferta de assentos tendeu a aumentar, sobretudo nos horários e rotas mais disputadas. A seguir, relata-se detalhadamente como se deu o processo de desregulamentação aérea nos EUA e como este processo se procedeu no Continente Europeu. 35 3.6.1 A Desregulamentação nos EUA (1978) A indústria da aviação norte-americana começou na década de vinte, livre para todos, com pouca regulamentação e quase nenhum papel do Estado. Contudo, quando o governo federal começou a promover o crescimento como uma forma de fornecer serviço de correios, as companhias aéreas assinavam contratos para operarem em determinadas rotas a preços fixos. Subsídios governamentais eram fornecidos para assegurar serviços de transporte aéreo em rotas não-rentáveis. O Civil Aeronautics Act de 1938 criou a base legal da regulamentação. Sendo assim, a desregulamentação significou a retirada gradual de toda a regulamentação econômica, a qual estava submetida a indústria do transporte aéreo. O sistema estava longe de ser perfeito, mas funcionou bem durante um tempo. O setor cresceu rapidamente e de forma ordenada. Um dos desenvolvimentos econômicos mais importantes foi o advento da Desregulamentação Norte-Americana. Desde 1939, o governo regulamentava os setores de energia, financeiro, transportes e comunicações, entre outros. Nestes setores, as empresas americanas estavam entre as maiores e mais fortes, fornecendo os melhores e mais baratos serviços. Mas como a regulamentação tornou-se demasiadamente burocrata, parecia que sua eficiência havia diminuído. Os preços dos serviços de transporte e energia pararam de cair no final da década de sessenta, e começaram a subir em 1972 (YERGIN et al, 2000). A desregulamentação do mercado de transporte aéreo norte-americano foi resultado de um movimento que se iniciou em 1974, sob a tutela do Senador Edward Kennedy. Esta foi implementada através da Lei Pública 95.504, que se tornou efetiva em 24 de outubro de 1978, passando a ser conhecida como Airline Deregulation Act 36 (DAC, 1997). O processo iniciou-se com uma diminuição dos entraves à entrada de novas empresas aéreas no mercado e com uma liberalização das tarifas. Até então, o mercado regulamentado existente pode ser retratado por um ambiente onde as empresas aéreas eram submetidas a uma rígida fiscalização econômica, que se completava por intermédio da permissão de entrada/saída no mercado, do controle das tarifas cobradas e da programação/concessão de rotas/linhas, tudo a cargo do então existente CAB (Civil Aeronautics Board). O CAB, criado em 1938 como CAA (Civil Aeronautics Authority), detinha totais poderes sobre a concessão de linhas e a fixação das tarifas. Com uma política extremamente protecionista, a favor das incumbentes, o poder concedente permitia que a diferenciação entre estas e as possíveis novas entrantes se concentrasse, quase que exclusivamente, na tradição e imagem das grandes empresas, fazendo com que estas levassem vantagem sobre as novas ou as menores companhias. Entretanto, com a entrada de diretores com mentalidade e concepções modernistas no final da década de setenta (Presidente democrata Carter), o CAB, se flexibiliza: em 1977 institui a SIFL (Standard Industry Fare Level) tendo como tarifa de referência a de 1° de Julho de 1977. A SIFL calculava índices pelos custos das empresas e as distâncias de vôo, a partir da chamada “curva Belga”. Além disso, o CAB instituiu uma faixa de flutuação das tarifas domésticas dentro de uma “banda tarifária” de até 50% a partir da tarifa de referência. Em 1977, o CAB libera todas as linhas domésticas de carga, dando início ao processo de desregulamentação (SILVEIRA, 2002). Vale destacar alguns dos principais motivos que culminaram com uma decisão política arriscada de promover a deregulation (ESPIRITO SANTO JR., 2000): A demanda pelo transporte aéreo norte-americano não era elástica - era um 37 transporte elitizado, onde a maioria dos passageiros viajava a negócios; Os mercados intra-estaduais eram desregulamentados e as tarifas cobradas por empresas nestas ligações eram muito menores do que ligações interestaduais de mesma distância. Este contra-senso foi uma grande arma a favor dos políticos estaduais e da comunidade acadêmica, que sugeriram que a SIFL, que utilizava a “curva belga” para o cálculo das tarifas de referência, não satisfazia à realidade do mercado e, por conseguinte, não espelhava a realidade tarifária que o cidadão americano estaria pagando; Os Democratas viam na deregulation uma excepcional oportunidade política e apostavam uma maior abertura econômica; Estudos acadêmicos provavam que a competição direta nos mercados intraestaduais era o motivador das tarifas reduzidas, destruindo a teoria de que as tarifas eram estabelecidas unicamente por custos/distâncias (como enunciava a SIFL e a curva belga); Os consecutivos sucessos das novas formas de redução de custos sendo estudadas e gradualmente implementadas pelas empresas aéreas desde os anos sessenta - Computer Reservation Systems1, redes em hub-andspokes2, entre outros. Com esses fatores em mãos, foi elaborado e implementado o processo gradual de total desregulamentação político econômica sobre as empresas aéreas americanas e seu mercado doméstico. O controle do CAB referente à atribuição de rotas domésticas teve seu fim somente depois de 1981. No começo daquele mesmo ano, 1 Computer Reservation System, os CRS, são sistemas computadorizados de reservas de passageiros. Hub-and-Spoke é uma forma de topologia de rede em que o tráfego é concentrado em alguns aeroportos, os hubs (centros), e depois é distribuído para os aeroportos secundários, os spokes (raios) (Silveira, 2003). 2 38 foi extinto o controle sobre as tarifas, as fusões e as aquisições de companhias. Com o fechamento do CAB, ocorrido em 1985, o Ministério dos Transportes (DOT) assumiu a responsabilidade relativa ao transporte aéreo internacional, juntamente com o Departamento do Estado. O Ministério da Justiça passou então a ser o agente controlador e fiscalizador de práticas antitruste, e a determinação das tarifas de mala postal foi assumida pelo Serviço Postal Americano. Além disso, foram apontados como resultados da desregulamentação americana (SILVEIRA, 2002): A queda geral no nível de serviços ponto-a-ponto oferecidos pelas empresas aéreas, devido à introdução maciça do denominado sistema de hub-and-spoke (a empresa aérea adota um determinado aeroporto como centro de suas operações, tendo suas rotas partindo ou passando por eles); Aumento de atrasos nos vôos, motivado pelo elevado nível de congestionamento nos aeroportos principais; Instabilidade das empresas, pois ficaram sujeitas à concorrência predatória; Dificuldades de planejamento da evolução do sistema de transporte aéreo, e influência dos FFP (Frequent Flyer Programs) na liberdade de escolha dos passageiros, tanto em termos das empresas quanto em relação aos destinos. Iniciado o processo, cresceu o tráfego nas rotas de longa distância, o que justificou a aquisição de aviões com maior capacidade para atender essa demanda. Em relação aos vôos de média distância, houve uma redução do número de passageiros por vôo e, desta forma, nessas rotas, as companhias optaram pela utilização de aviões menores, oferecendo um número maior de freqüências. Nos vôos 39 de curta distância, o volume de tráfego diminuiu, devido ao fato de que o tempo de deslocamento aos aeroportos muitas vezes ultrapassava o tempo de vôo propriamente dito. Além disso, outros modais se reestruturaram: serviços de trens rápidos, operando a velocidades de 200 km/h, por exemplo, tornaram-se competitivos para distâncias de até 500 km (FREITAS, 1996 apud SILVEIRA, 2002). Em relação às tarifas, ocorreu uma diminuição da tarifa média nos vôos entre grandes cidades, onde o tráfego de passageiros era maior. Contudo, as tarifas médias entre pequenas e grandes cidades cresceram em 50% nos vôos a média distância e em 13% nos vôos a curta distância (FREITAS, 1996 apud SILVEIRA, 2002). Nos anos que sucederam imediatamente à desregulamentação, novas empresas aéreas entraram na indústria e as existentes expandiram suas operações. O nível de competição cresceu efetivamente e as tarifas, em média reduziram (nos trechos de maior densidade). Porém, a partir da metade dos anos oitenta a indústria passou por um período de concentração como resultado de diversas fusões e falências. A tendência de concentração colocou em risco o principal objetivo da desregulamentação, que é a redução de tarifas através do aumento da competição. Essa tendência geral, seja na indústria como um todo ou nos hubs3, justifica do ponto de vista do usuário, a entrada de novos competidores no mercado. Com a adoção da desregulamentação, acreditava-se que as barreiras à entrada de novos competidores seriam eliminadas. Essas consistiam basicamente em barreiras físicas, no caso de aeroportos de maior movimento submetidos ao regime de slots, e barreiras decorrentes das estratégias competitivas impostas pelas empresas dominantes, tais 3 Hubs são aeroportos de grande concentração (movimentação) de passageiros e/ou cargas 40 como: sofisticados sistemas de reserva computadorizados, rede de agentes de viagens, programas de fidelidade e operações em código compartilhado (code-share) (SILVEIRA, 2002). Entre os desdobramentos mais importantes da desregulamentação para o mercado doméstico norte-americano, podem ser ressaltados (ESPIRITO SANTO JR, 2000): Proliferação de “guerras de tarifas” e uma grande redução nos lucros; Entrada maciça de novas empresas no mercado e a falência de muitas a curto prazo; Falência de algumas das mega-empresas americanas mais tradicionais (Eastern, Braniff, PanAm); Nos primeiros anos: competição direta, mas sem muito planejamento; Despreparo generalizado das empresas frente à dinâmica da indústria e do mercado, além da total falta de noção quanto à verdadeira apropriação dos seus custos; Despreparo do Governo (CAB, DOT, FAA, etc.) em lidar com a dinâmica imposta pelas constantes e rápidas transformações das empresas sobre a indústria e os mercados; Grande concentração/oligopolização do mercado doméstico americano (consolidação nas chamadas Big-Three: American Airllines, United Airlines e Delta Airlines); Consolidação da Southwest Airlines como ícone e referência das empresas de baixo custo e baixa tarifa (low cost-low fare) e da American Airlines como uma das empresas que mais cresceram e que detém uma grande visão estratégica em 41 termos mundiais; Popularização do transporte aéreo (mais de 81% dos adultos nos EUA já tinham viajado de avião de acordo com uma pesquisa da FAA de 1999). Com isso houve uma significativa mudança do perfil do passageiro, favorecendo o aparecimento das low-cost/low-fare carriers e outras empresas operando em diversos nichos de mercado. Adicionalmente, muitos dos que criticam de forma negativa a desregulamentação ocorrida nos EUA, deveriam atentar para os aspectos positivos. Cabe observar que estes críticos deveriam desenvolver estudos e análises mais profundos e imparciais, uma vez que: não foi um fracasso; ainda atua sobre o mercado doméstico americano e internacional, estando em contínua transformação (CARNAROLI, 1999). 3.6.2 A Desregulamentação na União Européia (1997) Por volta do início dos anos oitenta, tanto a estrutura do transporte aéreo na Europa quanto as suas operações sofreram mudanças devido à liberalização gradual nos serviços prestados nas rotas do Atlântico Norte, como conseqüência da nova política liberal norte-americana implementada domesticamente e levada a efeito em seus acordos bilaterais. Para um melhor entendimento da desregulamentação na UE, a priori, é fundamental traçar alguns paralelos nos processos entre os EUA e a Europa (ESPIRITO SANTO JR, 2000): 42 a) A desregulamentação nos EUA teve início no mercado doméstico, caminhando para uma tentativa de difusão para os mercados internacionais. Como se tratava de mercado doméstico, o Governo americano tomou uma decisão unilateral, impondo a sua deregulation às empresas e ao mercado em si. Na Europa, a abertura do mercado deu-se primeiro na esfera internacional, entre os países membros, e depois ampliou para o mercado doméstico de cada nação. Desta forma, a abertura foi efetivada por intermédio de uma legislação supranacional, originando uma desregulamentação internacional multilateral; b) A etapa média do transporte aéreo intra-europeu está na ordem de 700-800 km, enquanto que nos EUA é de 1300-1500 km. Além disso, importantes corredores de longa distância como Nova York/Los Angeles e Atlanta/Los Angeles ligam os maiores centros sócio-político-econômicos dos EUA, sendo que estas rotas chegam próximo dos 4.000 km. Na Europa, as rotas mais importantes como Londres/Paris, Londres/Amsterdã, Paris/Frankfurt e Roma/Milão estão abaixo dos 700 km. Por esta proximidade o transporte aéreo intra-europeu sofre uma concorrência mais direta dos trens de alta velocidade; c) Nos EUA o tráfego doméstico é de grandes proporções (cerca de 43% do total de passageiros transportados em todo o mundo em 1999), enquanto que o internacional não possui tanta expoência. Em contrapartida, na Europa o volume de tráfego internacional (da Europa para outros continentes e viceversa) é expressivo se comparado ao tráfego intraeuropeu. Por estas características, constata-se que as grandes empresas americanas obtêm a maior parte das suas receitas no seu mercado doméstico, enquanto que as grandes empresas européias obtêm das suas ligações internacionais; d) Todas as empresas americanas são organizações de capital privado, ao contrário das grandes companhias aéreas européias, cuja maioria ainda possui grande 43 parte do controle acionário em poder dos governos dos seus países de origem. O outro fator que ajudou a desencadear essas mudanças foi a tendência, na Europa, de se renegociar Acordos Bilaterais. Os novos acordos sofreram forte influência da política de céus abertos adotada pelos norte-americanos, sendo muito desses estabelecidos com base no acordo Bermudas II – considerado o primeiro a quebrar os padrões até então negociados entre americanos e europeus, permitindo uma maior liberdade de atuação em vôos internos na Europa e, até mesmo, nos EUA. Como conseqüência do Deregulation Act norte-americano, cogitou-se a idéia de implementar a criação de um mercado competitivo único entre os países da UE. Esse processo foi conduzido em três etapas. A primeira iniciou-se em dezembro de 1987. A última, com um maior grau de importância passou a ser implementada em janeiro de 1993. Esta determinou as seguintes regras (SILVEIRA, 2002): Liberdade de regime para o estabelecimento de tarifas; Acesso irrestrito ao mercado, podendo as empresas efetuar vôos entre dois diferentes pontos de qualquer outro Estado da Comunidade Européia, fora de seu país sede; Resguardar o meio-ambiente; Facilitar a coordenação intermodal; Manter rotas e serviços de importância vital para o desenvolvimento econômico de determinadas cidades ou regiões, e; A cabotagem seria permitida somente como extensão de um serviço internacional e a oferta seria de apenas 50% dos assentos nesse último trecho. 44 Embora algumas empresas oferecessem resistência à desregulamentação proposta, o resultado foi um passo importante na desregulamentação econômica nos vôos da UE e também nas rotas extra-bloco. As empresas aéreas tinham consciência, a partir da experiência americana, do fenômeno de crescimento da concentração do tráfego de passageiros entre as empresas de maior porte. Assim, alianças, fusões e aquisições seriam importantes para a geração/aumento do tráfego. As companhias também precisavam expandir a participação em seus mercados-base, porque estaria competindo na rota mais densa do mundo (Atlântico Norte) e enfrentando as megacompanhias norte-americanas. Para alcançar benefícios da economia de escala, as empresas européias adotaram as seguintes estratégias (SILVEIRA, 2002): Assegurar a posição dominante no mercado nacional de seu país de origem adquiriram empresas menores. Como exemplo, a aquisição da Netherlines (pequena empresa aérea holandesa) pela KLM e a aquisição da Air Inter (empresa que dominava o mercado aéreo doméstico francês) pela Air France; Obter parte de outro mercado dentro da União Européia - as empresas procuraram adquirir ações das companhias já estabelecidas em outros países. A pioneira a se beneficiar dessa estratégia foi a SAS, que em 1993 adquiriu 40% da britânica British Midland, e; Estabelecer uma presença global - as empresas começaram a realizar alianças com outras externas ao Continente Europeu. O mercado doméstico norteamericano e a área leste da região Ásia-Pacífico foram as que mais atraíram interesse. Atualmente, as empresas aéreas européias buscam alianças em todas as regiões. Como conseqüência dessa estratégia, pode-se citar o surgimento da Star Alliance. 45 Outro ponto principal e de grande interesse por parte das companhias foi a redução de custos. Isso surgiu devido à redução de yield (receita unitária por passageiro-quilômetro) ocasionada pela liberalização das tarifas. As maiorias das empresas aéreas, primeiramente, utilizaram-se da redução de custos trabalhistas para melhorar sua saúde financeira diminuindo o quadro de funcionários. Porém, seus objetivos não foram atingidos e as companhias optaram pela renegociação dos níveis salariais com aqueles que continuaram trabalhando. Uma outra forma para a redução dos custos foi a criação de empresas subsidiárias, tal qual as empresas de vôos charter (fretamento), que aos poucos foram absorvendo alguns vôos regulares com a prevalência do turismo. O principal objetivo da criação destas foi a maior flexibilização nas relações trabalhistas, reduzindo os custos salariais. E finalmente, as empresas européias, cujos salários são relativamente maiores que em outras regiões do mundo, transferiram as suas atividades para países que possuem menores custos trabalhistas. Como exemplo dessa prática, podemos citar a Air France que transferiu a manutenção dos Boeing 737 para a República Tcheca (DAC, 1997). Como já vinha acontecendo, o surgimento de novos entrantes, ou até mesmo a competição entre as empresas já estabelecidas, fez com que tanto empresas novas quanto as tradicionais baixassem os preços das passagens aéreas e diversificassem as suas tarifas. Isso foi possível graças à introdução do sistema de Yield Management, no qual as companhias administram dinamicamente o mix mais adequado das tarifas a serem disponibilizadas. Seguindo o exemplo bem sucedido das companhias norte-americanas, as empresas européias também adotaram os programas de fidelidade com seus passageiros. Os FFP levaram as empresas a inovarem, oferecendo descontos em 46 lojas, hotéis e postos de gasolina em troca de milhas acumuladas nos programas de milhagens. Por fim, outra técnica de marketing que surgiu na desregulamentação européia foi o uso das operações em código compartilhado – o code-share, como veremos mais adiante no breve histórico sobre tais acordos. Migrando do marketing para a área operacional, uma das conseqüências da desregulamentação européia foi o abandono das operações em pool (operação obedecendo a um acordo econômico e operacional, no qual há o compartilhamento de capacidade entre as companhias) o que era muito comum entre empresas da Comunidade Européia. O término do pool deveu-se à conscientização por parte das companhias de que a alta freqüência passou a ser uma das melhores ferramentas de competição, o que ocasionou a redução do tamanho das aeronaves e o aumento das freqüências (mesmo considerando que uma aeronave menor significa custos mais elevados por assento-quilômetro). Essa mudança operacional resultante do processo de liberalização é um fator importante, pois um número maior de freqüências afeta diretamente o problema de espaços nos aeroportos (slots), conseqüentemente aumentando o congestionamento do tráfego aéreo. Outro fator importante que ocorreu na área operacional foi a exploração de novas operações de "quinta-liberdade", pelas companhias aéreas européias. Em janeiro de 1993, todas as restrições ao uso internacional da "quinta-liberdade", ou vôos de cabotagem, dentro da UE foram totalmente abolidas. Como resultado, um grande número de serviços foi introduzido, pois as companhias foram autorizadas a operar em outros setores domésticos dos países da comunidade. Porém, nas linhas 47 internacionais, a oferta nesses trechos era restrita a 50% (DAC, 1997). Conclui-se que o processo de desregulamentação do transporte aéreo na Europa não apresentou resultados que levassem à criação de um mercado livre e competitivo, beneficiando, de certa forma, as empresas aéreas já tradicionalmente estabelecidas e à concentração do mercado, ressaltando assim, a formação de alianças. 48 4. ALIANÇAS 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS De acordo com Oliveira (2005), pode-se situar o fenômeno das alianças estratégicas a partir da terceira onda do processo de mudança econômica do Ocidente, desde a II GM, na década de 40. O intenso crescimento dessas alianças correspondeu, pelo menos em parte, a uma resposta às mudanças do mercado. O que se observou ao longo dessas décadas é que o mundo passou por um processo de rápidas e drásticas mudanças, impactando em uma dinamicidade jamais vista nas relações sócio-econômicas de grupos sociais, empresas e países. No centro dessa turbulência está um fluxo de novas tecnologias e mercados consumidores cada vez mais exigentes e diversificados em necessidades e preferências e altamente competitivos. Essas tendências exigem mudanças organizacionais radicais, forçando as empresas e a sociedade a reverem seus paradigmas tradicionais. As empresas, em particular, buscaram desenvolver novas formas organizacionais com o objetivo de se adaptar às ameaças e oportunidades do novo macro-ambiente econômico. A partir do final da década de 80 e ao longo da década de 90, o tema das alianças estratégicas emergiu com maior intensidade. Durante esse período, a aceleração do processo de integração de mercados concretizado pela formação de blocos econômicos como o Nafta, o Mercosul e o Mercado Comum Europeu, motivou os acordos de cooperação entre empresas dentro e fora dos territórios nacionais (OLIVEIRA, 2005). 49 4.2 GLOBALIZAÇÃO A rigor, as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da História. Mas o movimento histórico a que se denomina globalização é bem mais recente, datando (dependendo da conceituação e da interpretação) do colapso do bloco socialista e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), do refluxo capitalista com a estagnação econômica da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) (a partir de 1975) ou ainda do próprio fim da Segunda Guerra Mundial (WIKIPÉDIA, 2007). Definir globalização é uma árdua tarefa. Contudo, Yergin, Vietor e Evans (2000) estabeleceram fatores chave para a globalização: Mudança no pensamento nas relações entre os governos e os mercados, especialmente nos formatos de desregulamentação e privatização; Fim da Guerra Fria e a mudança de conflito ideológico; Favorecimento da liberalização do comércio e o crescimento do comércio internacional; Investimentos Estrangeiros e o crescimento da interligação dos mercados de capitais; Mudanças Tecnológicas; Integração Regional. Para tentar entender o termo globalização, de maneira geral, as características podem ser assim resumidas (FRIEDRICH, 2001): Orientação do enfoque de todas as atividades para o “mercado”, agora não mais 50 nacionalizado nem regulamentado; Valorização do aspecto financeiro do capital, sem distinção entre mercados financeiros internacionais e nacionais; Atuação maciça dos dinâmicos conglomerados empresariais, resultado da união de várias empresas multinacionais com o objetivo de realizar determinada atividade econômica lucrativa. Esse fator se caracteriza pela flexibilização da estrutura, da produção e do trabalho, pela desterritorialização, da cadeia produtiva, em virtude das concessões feitas pelos diversos países em desenvolvimento para atração dos capitais dessas corporações, e pela intensificação da concorrência internacional; Ampliação da atuação das instituições multilaterais como Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, dentre outras, que apresentam o mesmo aspecto característico de criar regras próprias para a regulamentação mundial das relações comerciais, monetárias e financeiras, exigindo seu acatamento pelos governos nacionais a partir do dever de realizar determinadas atuações internas padronizadas (as metas), tais como: economia em seus orçamentos para pagamento de parte dos juros da dívida pública com esse dinheiro (superávit primário), quebra de monopólios estatais, privatizações, etc; Aparecimento das Organizações Não Govenamentais (ONGs) de vocação tanto mundial quanto local, com o objetivo de suprir demandas não cumpridas pelos Estados em suas relações internacionais e internas; Fortalecimento do papel da mídia facilitando o acesso a informação a um número cada vez maior de pessoas ao mesmo tempo em que os fatos acontecem; Surgimento de um mundo virtual que facilita a divulgação do conhecimento, com a utilização ampla da Internet em todos os domínios; A ecologia passa a ser tema prioritário das preocupações globais, devido à 51 abrangência mundial das conseqüências dos danos ambientais e ao interesse econômico sobre os recursos naturais e biológicos e; O fortalecimento do estudo da ética, em virtude da necessidade de adaptação dos juízos de valor das condutas dos estados, das corporações internacionais privadas, dos organismos interestatais e dos indivíduos. No que tange os modais na discussão sobre o assunto, uma coisa é difícil negar: muito mais que a navegação marítima, que introduziu o homem no comércio internacional, o setor do transporte aéreo é o grande instrumento de consolidação da globalização (ELOS, 2001). A globalização vem mudando a estrutura de trabalho na qual a aviação deve ser vista – de uma perspectiva nacional “primária” para uma perspectiva global, e é através das alianças que o setor vem respondendo às necessidades dos clientes e às forças da globalização. O regime que rege a aviação, originário na Convenção de Chicago de 1944, começou a se adaptar as novas imperativas da globalização. Como em outras indústrias, há uma tensão existente entre as regras existentes e as exigências deste processo, devido às empresas aéreas estarem interligadas com o Estado, principalmente no que se refere à infra-estrutura aeroportuária e ao tráfego aéreo, do qual as empresas dependem. Conseqüentemente, as tensões entre as regras existentes e as necessidades do mercado são grandes. As mudanças trazidas pela globalização, estão levantando questões sobre as empresas aéreas. Agentes reguladores, o setor da aviação e o público que esta serve serão indagados a pensar sobre competição, escala, qualidade do serviço, e consolidação da indústria não apenas sob o tradicional ponto de vista dos seus mercados nacionais mas também sob um ponto de vista global no contexto de 52 competição de redes. Isto não só gera um desafio mas também uma oportunidade num mundo onde as barreiras e fronteiras de todos os tipos tendem a cair, de uma única vez sendo composto de nações unidas e um mercado global (YERGIN, VIETOR, EVANS, 2000). No Brasil, as mudanças que a globalização vem trazendo no país iniciaram com o impacto da transnacionalização da produção mundial após os anos 80, continuaram com a radical abertura do país iniciada em 1990 e, finalmente, consolidaram com a estabilidade monetária e a mudança da política cambial. Conseqüentemente, em pouco tempo, foram demolidas, uma a uma, as bases de sustentação do velho modelo e novos propósitos estratégicos passaram a dar sustentação à economia do país (LORRANGE & ROOS, 1996): 1. Inserção global competitiva, com quebra das barreiras de entrada e dos mecanismos de proteção em praticamente todos os mercados; 2. Desestatização, com amplo desengajamento do Estado empresário. Abriram-se espaços para o Estado regulador e fecharam-se espaços para o Estado produtor; 3. Fim dos monopólios, mesmo os que haviam sido historicamente justificados por razões de soberania e de segurança nacionais e; 4. Modernização institucional A estabilização monetária, o fim do longo ciclo de hiperinflação, as reformas constitucionais de direção liberalizante, a desregulamentação de mercados, a flexibilização das relações econômicas internacionais e a disposição em atrair capitais externos para investimentos produtivos somaram-se aos mais recentes fundamentos 53 estratégicos e implicaram um novo modelo de inserção do país na emergente economia globalizada. Dentro desse contexto se insere um dos mais importantes ciclos de transformação do modelo empresarial brasileiro: o ciclo da reengenharia de negócios, com mudanças nas estruturas de competição dos mercados. As razões centrais desse novo ciclo foram (LORRANGE & ROOS, 1996): 1. Globalização dos mercados reais; 2. Intensificação dos fluxos mundiais de investimentos estrangeiros diretos (ver Figura 4.1) 140.000 22% 120.000 30% 25% 20% 100.000 14% 13% 80.000 3% 60.000 10% 6% -2% -3% 0% 95.310 121.454 2003 2004 1999 85.866 91.459 1998 2002 93.135 1997 91.749 83.062 1996 2001 78.626 1995 91.309 62.744 1994 EXP + IMP (em US$ mi) -5% 2000 51.056 1993 40.217 1990 45.097 41.515 1989 1992 38.315 1988 41.513 31.481 1987 -12% 1991 28.220 -6% 1986 0 5% 0% 40.000 20.000 15% 11% 12% 9% 8% 80.332 12% -10% -15% Variação anual Figura 4.1 – Volume do Comércio Exterior entre o Brasil e Outros Países(*) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2007. Observações (*): África – África do Sul, Angola e Marrocos América Central – Aruba e Porto Rico América do Norte – Canadá, Estados Unidos e México América do Sul – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela Ásia – China, Hong Kong, Índia e Japão Europa – Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido e Suíça. Oriente Médio – Emirados Árabes. 3. Redução dos mecanismos tradicionais de proteção; VARIAÇÃO ANUAL (%) EXP + IMP (em US$ mi) 27% 25% 23% 54 4. Remoção de barreiras; 5. Privatizações. Inverteu-se a tendência histórica. Passou-se de crescimento do Estado Empresário ao desengajamento empresarial do Estado. Definiu-se um Programa Nacional de Desestatização (PND). As primeiras privatizações desses programas ocorreram em 1991, foram quatro de alto impacto: duas no setor siderúgico e duas no ferroviário. Em 1992, aumentaram substantivamente o número de empresas e de setores alcançados pelo programa (14 empresas): dos setores siderúrgicos, petroquímicos e de fertilizantes. Em 1994, o programa estendeu-se para os setores de mineração, de energia elétrica e aeronáutico. Em 1995, a ênfase foi o setor petroquímico. Em 1997, aprofundou-se a privatização no setor elétrico e privatizouse o setor de telecomunicações. Ao todo, somando-s as empresas do PND, as estaduais e as de telefonia, privatizaram no país 91 empresas, com ampla participação do capital estrangeiro nos setores de mais alta atratividade. A tabela a seguir mostra um resumo da relação entre a economia e as empresas e suas mudanças de conceito antes e após as mudanças ocorridas na década de 90: 55 Tabela 4.1 - Fusões, Aquisições e Parcerias A economia e as Empresas 1. A orientação estratégica da economia 2. A postura estratégica e operacional das empresas Décadas Precedentes Nacionalismo de fundo doutrinário: cultura, soberania e segurança como trinômio de sustentação. Protecionismo exacerbado. Modelo de substituição de importações. A nacionalização das cadeias de suprimentos. Propósito estratégico de autosuficiência. Estatização. Ocupação pelo Estado dos “espaços vazios” na estrutura de produção. Cartorização: proteção oficial de interesses privados. Cartelização: coalizões não competitivas. Gerenciamento de baixa eficiência, encoberto pela inflação e pela proteção. Verticalização de negócios: diversificações com baixa escala. Preservação das estruturas de concorrência. Empresa fechada: aversão a alianças, associações e fusões. Respostas à economia fechada: descaso por padrões de excelência e comprometimento da produtividade. Os anos 90 Internacionalismo: inserção do país na economia globalizada Abertura: fim das reservas de mercado. Internacionalização das cadeias de suprimentos intermediárias e finais. Propósito estratégico da integração. Desestatização: desengajamento do Estado empresário e abertura de novos espaços ao setor privado. Desregulamentação: quebra de privilégios cartoriais. Competição: fator de sobrevivência e expansão. Eficiência gerencial: fim dos ganhos não operacionais e especulativos. Focalização: busca por economias crescentes de escala. Entrada de novos players: mudanças radicais nas estruturas de competição. Predisposição a alianças, associações, fusões e aquisições. Respostas à economia aberta: benchmarking e restauração da produtividade. Fonte: BARROS, 2001. A estabilização monetária, o fim do longo ciclo de hiperinflação, as reformas constitucionais de direção liberalizante, a desregulamentação de mercados, a flexibilização das relações econômicas internacionais e a disposição em atrair capitais externos para investimentos produtivos somaram-se aos mais recentes fundamentos estratégicos e implicaram um novo modelo de inserção do país na emergente globalização. Ante o acirramento da competição, em todos os níveis, que veio no bojo da chamada globalização, uma das características dos anos 90, pelo mesmo no setor aeroportuário, foi a busca de alianças, acordos e parcerias para superar dificuldades. 56 Nesse sentido, os objetivos foram: racionalização de sistemas operacionais para evitar a capacidade ociosa e eliminar a superposição de linhas e freqüências; redução de custos administrativos, de operação e manutenção, por meio da padronização de sistemas de gestão, equipamentos de vôo e apoio de terra; maior fluidez no intercâmbio de conhecimento e transferência de tecnologia; criação de novos serviços e vantagens para o cliente; e maior capacidade de apresentar respostas criativas às exigências de qualidade, rapidez e conveniência (BARAT, 2007). No item a seguir será visto com mais detalhe como as alianças globais surgiram e quais são as suas características. 4.3 ALIANÇAS GLOBAIS Foram intensos os fenômenos sócio-econômicos relacionados ao processo de internacionalização da economia mundial que afetaram a condição de competitividade. A partir de meados da década de 70, este processo ganhou impulso com o enorme salto qualitativo ocorrido nas tecnologias de informação, o que induziu à reformulação de estratégias de produção e distribuição das empresas e à formação de grandes networks (redes). A forma de organização da atividade produtiva foi radicalmente alterada para a busca de mercados mundiais, passando assim a ter uma lógica globalizada. As organizações, até então controladas por capital local ou por grandes grupos internacionais que possuíam operações em cada país, passaram a rever toda sua estratégia com base nestes novos paradigmas de competição. A abertura geral dos mercados iniciada nos anos 80 transformou o conceito de internacionalização. Qualquer operação, por mais restrita que fosse a um mercado nacional, passou a ter como 57 competidores concorrentes internacionais em busca de ampliação de seu market-share global (BARROS, 2001). A busca por novos modelos de associações – através de relacionamentos cooperativos entre empresas independentes – é justificada pela necessidade de adaptação a esse ambiente global, em rápida e constante mudança, e pela otimização de recursos escassos. Sob este enfoque as empresas visam a redução de custos e de riscos, uma maior flexibilidade e a construção de vantagens competitivas em torno das suas competências essenciais. Como conseqüência, atualmente há uma maior tendência em firmar os relacionamentos sólidos e de longo prazo com o mercado, em detrimento das práticas e transações com objetivos de curto prazo – as práticas comerciais, então, passam a valorizar este tipo de cooperação. Neste cenário relativamente novo, percebese uma profunda mudança de paradigma nas relações comerciais: torna-se necessário cooperar para competir. As estratégias das empresas deslocaram-se do “posicionamento competitivo” para a “cooperação competitiva” (BARROS, 2001). As alianças representam, em parte, esta mudança de paradigma, pois nelas está implícita a inversão da lógica da competição para a lógica da cooperação. Em um estudo realizado por Hegert e Morris (1988), considerando 839 acordos de colaboração, os autores constataram que a maioria destes acordos ocorreu em indústrias de alta tecnologia (high tech): automobilística (23%), aeroespacial (19%), telecomunicações (17%), computadores (14%) e outras indústrias elétricas (13%). Constataram também alguns resultados interessantes em relação aos tipos de cooperação, quais sejam: (1) A maior participação dos acordos estava em torno de desenvolvimento conjunto de 58 produtos (37,7%); e (2) A grande maioria (71,3%) desses acordos foi formada entre empresas rivais. Como relatado anteriormente, as empresas, com o objetivo de se adaptarem a estas mudanças, começaram a unir esforços e vários aspectos competitivos passaram a ser encarados como oportunidades. Silva Júnior & Ribeiro in: Barros (2001) corroboram essa inversão adaptando o modelo das cinco forças competitivas de Porter (1989) para um novo modelo, conforme ilustrado nas figuras a seguir: Figura 4.2 – Adaptação do modelo das cinco forças competitivas de Porter Fonte: Silva Júnior & Ribeiro in: Barros, B. T. (2001) 59 Figura 4.3 – Aplicação do modelo de Porter para as Alianças Fonte: Silva Júnior & Ribeiro in: Barros, B. T. (2001) Assim sendo, de acordo com a adaptação do modelo de Porter, as alianças estratégicas permitem: A cooperação com concorrentes potenciais; A formação de joint-ventures1 e acordos tecnológicos para o desenvolvimento conjunto de produtos e tecnologias substitutivas; Parcerias com fornecedores e clientes; Contratos com o governo. Uma das características essenciais das alianças é a intenção de mover cada participante em direção a um objetivo estratégico de longo prazo, o que provoca o 1 Joint-Venture: Segundo Kotler & Keller (2006), joint-venture pode ser definida como uma estratégia corporativa onde duas ou mais empresas criam uma companhia independente combinando parte de seus ativos. Na aviação o conceito é similar, a diferença é que as empresas aéreas não criam uma empresa independente. De acordo com Beyholf (1995), joint-venture pode ser definida como a associação de empresas para o desenvolvimento e execução de projetos específicos sem caracterizar sociedade ou nova companhia. O conceito de Beyholf (1995) será utilizado no decorrer desta dissertação. 60 fortalecimento das posições competitivas dos parceiros. Outras são o compartilhamento de objetivos e o comprometimento de recursos de capital e administrativo das partes envolvidas (BARROS, 2001). As alianças estratégicas atualmente são utilizadas extensivamente pelas grandes empresas multinacionais na implementação de seu planejamento. São seis os principais fatores que propulsionaram a formação das alianças estratégicas globais: A crescente internacionalização foi a responsável por uma intensa pressão competitiva intensa decorrente da escala global e/ou das vantagens das economias de escopo. Conseqüentemente, houve a necessidade de trabalho conjunto entre os parceiros para amenizar a escassez de recursos, otimizar o tempo despendido na execução de processos, etc. Apesar da internacionalização, as empresas precisam permanecer fortes em seus mercados nacionais, adaptando-se às necessidades e demandas locais. Conseqüentemente surgiu a necessidade de um parceiro local. O rápido desenvolvimento tecnológico – que conduz a ciclos de vida de produto mais curtos – exige uma considerável resposta à demanda. Como decorrência disso, houve a necessidade de se possuir pesquisa e desenvolvimento em parcerias; Há uma demanda crescente por soluções sistêmicas que envolvam diversos tipos de competências, uma ampla oferta de produtos e/ou serviços etc., para “facilitar” a vida do consumidor. Assim sendo, houve a necessidade de reunir o melhor de vários padrões existentes. 61 A construção de redes de alianças também pode ser considerada uma estratégia de defesa devido à emergência de novos concorrentes em negócios (até então) tradicionais e ao constante reposicionamento pró-ativo existente no mercado. O aumento da competição no mercado internacional resultou numa queda dos níveis de receita, o que consequentemente enfatiza a necessidade das alianças serem mais eficientes economicamente para atender às respostas dos mercados e reduzirem os seus custos. Ainda segundo Kotler & Keller (2006), existem algumas razões de âmbito estratégico para a criação de alianças, quer sejam: Ganhar poder de mercado (reduzir super-capacidade); Ganhar acesso a recursos complementares; Realizar economias de escala; Superar barreiras comerciais; Realizar desafios competitivos dos outros concorrentes; Partilhar recursos para projetos de grande volume de capital; e Aprender novas técnicas de negócios 4.4 ALIANÇAS NA AVIAÇÃO Como relatado nos tópicos anteriores e de acordo com Vowles (2000), os fatores que levam as empresas a formarem alianças é a globalização da indústria e a crescente liberalização dos mercados começando com a desregulamentação norte-americana aproximadamente 30 anos atrás. 62 Desde a desregulamentação do mercado norte-americano, as empresas aéreas vêm passando por um processo de redefinição estratégica de sua forma de atuação. Ao reafirmarem sua vocação de universais – mesmo antes das recentes mudanças políticoeconômicas nas quais o mundo vem presenciando – a própria malha aérea das companhias, devido a seus aspectos de conectividade, já as caracterizavam intrinsecamente como globalizadas. Além disso, é imprescindível também que as empresas ofereçam serviços complementares integrados, disponibilizando-os através de seus canais de distribuição a todos os segmentos de clientes, e, principalmente, sob uma única marca – a das grandes alianças. Segundo Yergin et al (2000), a globalização vem mudando a estrutura de trabalho na qual a aviação deve ser vista – de uma perspectiva nacional “primária” para uma perspectiva global. Tal processo vem contribuindo para uma nova política econômica, na qual envolve um novo equilíbrio entre o Governo e o mercado, o que inevitavelmente vem afetando o papel do setor de aviação que na visão tradicionalista faz parte dos setores estratégicos das economias nacionais. Ainda segundo Yergin et al (2000), é através das alianças que a aviação vem respondendo às necessidades dos clientes e às forças da globalização. O surgimento das alianças além de ser uma resposta ao fenômeno da globalização, também pode ser considerada como uma resposta às particularidades de âmbito regulatório que o setor enfrenta. 63 Precedendo os históricos sobre alianças na aviação e a formação dos vôos em code-share, faz-se mister uma breve distinção de conceitos básicos, de forma a facilitar a compreensão por parte do leitor: Aliança: associação entre duas ou mais empresas que empenham recursos comuns para desenvolver em conjunto uma nova atividade; Joint-venture: significa, literalmente, “união de risco”, correspondendo à associação de empresas para o desenvolvimento e execução de projetos específicos sem caracterizar sociedade ou nova companhia; Fusão: União de duas ou mais companhias que formam uma única empresa, geralmente sob controle administrativo da maior ou da mais próspera. Aquisição: compra de controle acionário de uma empresa por outra. Code-Share: Vôos compartilhados entre empresas aéreas. Podem fazer parte de uma grande aliança ou não. Block Space: tipo específico de acordo entre as companhias aéreas que possuem vôos em code-share, onde uma das empresas “compra” determinado número de assentos (assim, bloqueando-os para a utilização que melhor lhe convier) dentro do vôo da empresa parceira. Para um melhor entendimento dos conceitos, recomenda-se a leitura das obras de Lorrange & Roos (1996), Barros (2001) e Beyholf (1995), citados na bibliografia, ao final desta dissertação. 4.4.1 Histórico e Formação de Alianças 64 As alianças representam uma iniciativa das empresas aéreas para racionalizar suas operações e construir uma cobertura mais efetiva de seus mercados. A formação das alianças reflete o esforço da indústria para desenvolver sua rede naturalmente, dentro dos limites impostos pelas regulamentação governamental. Entretanto, segundo Yergin et al (2000) a mudança para o desenvolvimento global está longe de estar completo. De várias formas, as empresas ainda continuam mais propensas e restritas às regulamentações do que ao processo de adaptação às rápidas mudanças que vêm acontecendo. Na segunda metade da década de 90 a setor da aviação foi caracterizada por uma onda de alianças internacionais de vários tipos. O período mais frenético de formação destas foi impulsionado pela deterioração do desempenho financeiro das empresas internacionais. Atingidas, primeiramente, pela crise dos Tigres Asiáticos em 1997 e, posteriormente, pela queda dos Estados Europeus em 1998, as companhias aéreas também sofreram os reflexos da elevação do preço do petróleo em 1999. Constata-se então, a grande influência do ambiente externo para as transformações na forma de gestão organizacional nas empresas aéreas. Alguns anos antes, Michael Porter (1990), referindo-se à indústria em geral, escreveu (DOGANIS, 2001): “Alliances are frequently transitional devices. They proliferate in industries undergoing structural change or escalating competition, where managers fear that they cannot cope. They are a response to uncertainty, and provide comfort that the firm is taking action.” (As alianças podem ser consideradas como um dispositivo para transição. Elas (as alianças) se proliferam em indústrias que passam sob mudanças estruturais ou que buscam aumento de competição, onde os gerentes temem em não corresponder. Elas são uma resposta a um ambiente de incertezas, e mostram que as firmas estão tomando ação frente a esse ambiente.) 65 Na interpretação de Doganis (2001), sobre a afirmação supracitada, as alianças internacionais são caracterizadas como planos de transição, que se proliferaram em um ambiente competitivo e submetido a mudanças estruturais radicais, o que induz o autor aos seguintes questionamentos: As alianças internacionais seriam apenas uma resposta ao ambiente de incertezas que se formava no inicio da década de 90, refletindo a inabilidade gerencial em lidar com a liberalização dos mercados e conseqüentemente a intensificação da competição? ou Seriam estas conseqüências inevitáveis às características econômicas das operações destas em um ambiente onde questões de ordem regulatória não existem mais ou já não são tão rigorosas como antes? As duas indagações do autor são pertinentes, uma vez que o ambiente econômico vem apresentando mudanças desde a década de 90. As questões de ordem regulatória tendem para uma mudança do papel do setor no mercado – a aviação já não cabe totalmente na visão tradicionalista no qual faz parte dos setores estratégicos das economias nacionais, mas também apresenta questões de ordem econômica. Corroborando com o autor previamente citado, Yergin et al (2000) diz em seu artigo que o regime que norteia a aviação apenas começou a se adaptar as novas imperativas da globalização. Como em outras indústrias, há uma tensão existente entre as regras existentes e as exigências do processo de globalização. Devido ao fato de as empresas áreas estarem interligadas com o Estado, no que se refere a infra-estrutura aeroportuária e trafego aéreo, do qual as próprias empresas dependem, as tensões entre as regras existentes e as necessidades do mercado são grandes. 66 As mudanças trazidas pela globalização, normalmente levantaram questões sobre o posicionamento estratégico de vários setores, e com a aviação este cenário não foi diferente: a quem as empresas aéreas devem pertencer? Como devem ser gerenciadas e organizadas? Por exemplo, um crescimento na demanda de passageiros e de volume de cargo impacta uma maior pressão nos terminais aeroportuários, no controle de tráfego aéreo e outras partes essenciais da infra-estrutura aeroportuária. Entretanto, uma questão fundamental é como esses recursos de infra-estrutura são alocados para atender a essa demanda e conseqüentemente às empresas aéreas. Por quase um século, desde a British Aerial Navigation Act, em 1911 e 1913, e a Conferência de Chicago de 1944, as regras que norteiam a aviação civil têm por base a alocação dos recursos disponíveis e não a alocação do mercado. A desregulamentação norte-americana e mais recentemente a criação da Single Aviation Market na Europa podem ser considerados os marcos regulatórios para uma regulamentação mais orientada para as necessidades dos mercados (YERGIN et al, 2000). A ocorrência de fusões e alianças comerciais no setor aéreo não é um fato recente. Em 1978, quando o Congresso Norte-Americano aprovou o Airline Deregulation Act, removeu barreiras de entrada às novas empresas e pela primeira vez em quarenta anos foi concedido às empresas aéreas o direito de determinar tarifas assim como efetuar fusões com outras empresas. No final da década de 1980, o mercado doméstico norteamericano se transformou. Os descontos tarifários aconteceram ao mesmo tempo que novas entrantes e as empresas charter (fretamento) surgiram no mercado. Naquela época, dezoito empresas novas surgiram. Esse “boom” foi logo seguido por uma retração, com um grande número de empresas saindo da indústria – seja através de falências ou sendo adquiridas pelas empresas maiores. No final da década, as empresas 67 começaram um processo de consolidação que eventualmente resultou em seis grandes empresas (American Airlines, Continental Airlines, Delta Airlines, Northwest Airlines, United Airlines e US Airways); uma empresa “super-regional” – a Southwest Airlines; e um número de pequenas empresas regionais (YERGIN et al, 2000). Assim sendo, uma forte onda de fusões e aquisições conduziu a uma grande concentração no setor de transporte aéreo norte-americano, cuja resposta foi a proliferação de alianças. Formava-se então um novo contexto, a partir do qual as alianças começavam a desempenhar um papel de fundamental importância ao proporcionar ganhos de escala, e acesso a mercados cujas operações, até então inviáveis do ponto de vista econômico. De acordo com Flores apud Lima (2003), existem dois principais grupos de motivos para a formação de alianças entre empresas aéreas. O primeiro corresponde à necessidade de manutenção do market-share das empresas em detrimento da maior competitividade proporcionada pela desregulamentação do setor. Já o segundo grupo de motivos remete-se à eficiência, tendo por objetivo aumentar o desempenho operacional e facilitar, ainda que indiretamente, a redução dos custos de companhias menos eficientes. Antes da consolidação das alianças, o que ocorria na prática, ao longo dos anos, era uma ampla gama de acordos interline de forma a atender as necessidades das empresas aéreas. Tais acordos, conforme mencionado, são do período pré-alianças, e foram criados para facilitar as operações e a comercialização dos serviços internacionais. Vale ressaltar que estes tipos de acordo, atualmente ainda encontram-se vigentes, principalmente entre empresas que não participam da mesma aliança. O mais 68 conhecido dos acordos e que vigora até os dias atuais é o denominado acordo de PróRateio (SPA – Special Pro-Rated Agreement). Neste tipo específico de acordo, é fixada a receita que uma companhia deve pagar à outra para transportar seus passageiros em um trecho especifico da malha desta – a qual pode estar ou não dentro de uma rede de alianças. Estes acordos podem ser mais complexos ao inserir o compartilhamento de seus códigos designadores em vôos específicos (ou seja, o próprio code-share). As companhias aéreas também podem compartilhar os seus sistemas de reservas - os CRS -, os seus escritórios de vendas e os seus call centers de reservas e atendimento aos passageiros. Diante da complexidade dos acordos surgiu a necessidade das companhias aéreas começarem a distinguir os acordos de caráter meramente comerciais (como os interline de pró-rateio) daqueles mais estratégicos. Conforme, Dussauge e Garrette (1999) apud Oliveira (2005), alianças estratégicas podem ser definidas como: “ligações formadas entre duas – ou mais – empresas independentes que optam por executar conjuntamente um projeto ou atividade específica, coordenando as habilidades e recursos necessários, ao invés de: executar o projeto ou atividade por conta própria, assumindo todos os riscos e enfrentando a concorrência sozinho; fundir suas operações ou adquirir e se desfazer de unidades de negócios inteiras.” Nigel Evans (2001) define aliança estratégica como “uma forma horizontal de relação intra-organizacional no qual duas ou mais organizações colaboram entre si, sem a formação de uma organização independente, com objetivo de atingir uma ou mais 69 estratégias em comum”. Doganis (2001) complementa essa definição, onde “uma aliança estratégica é aquela caracterizada pelo compartilhamento de ativos2 no qual, a partir da oferta de uma marca em comum e de um serviço padrão, os parceiros almejam um único ou uma ampla gama de objetivos empresariais”. Entretanto, muitos acordos de code-share, associações em programas de milhagens e algumas parcerias de block space podem representar apenas alianças comerciais. Nesses casos, estas não são consideradas estratégicas porque as parceiras continuam a operar e utilizar seus ativos de forma independente, cada uma perseguindo seus próprios objetivos. A figura 4.4 demonstra a evolução do tipo de aliança comercial para a aliança estratégica. Figura 4.4 – Categorias de Alianças Fonte: adaptado de DOGANIS, 2001. As alianças globais normalmente abrangem vôos code-share em um número 2 Ativos compartilhados podem ser exemplificados como facilidades nos terminais aeroportuários, bases de manutenção, aeronaves, pessoal (staff), direitos de tráfego ou recursos financeiros. 70 amplo de rotas. Além das operações dos vôos em si, esse tipo de parceria envolve: coordenação de horários, vendas em comum, serviços aeroportuários (ground handling), manuseamento de bagagens, combinação entre os programas de fidelidade, atividades de engenharia e manutenção, dentre outros mais. Na formação das alianças, ainda segundo Doganis (2001), as empresas aéreas passam por fases de maturação, como ilustrado na figura 4.5. Para ter sucesso na evolução das fases, as companhias parceiras precisam gerenciar cautelosamente sua parceria e assegurar que: Os benefícios sejam amplos em termos de: marketing e geração de receita, redução de custos e sinergia e, redução de competição; A visão e os objetivos de longo prazo da aliança sejam compartilhados por todas as parceiras envolvidas; A visão e os objetivos da aliança sejam comunicados para todos os níveis hierárquicos e compreendidos por todos; A governança seja clara, neutra e forte através de um comitê executivo, onde haja: confiança mútua e um bom relacionamento entre os gerentes/membros das empresas envolvidas; pessoal motivado e preparado para atender aos problemas de todos os clientes (mesmo que sejam gerados pela empresa parceira) e; apreciação mútua de diferenças culturais e organizacionais; Alto nível de serviço oferecido aos passageiros que seja padronizado por todas as empresas. 71 Figura 4.5 – Construindo Alianças Fonte: adaptado de DOGANIS, 2001. Acrescentando o processo de Construção de Alianças desenvolvido por Doganis, Nigel Evans fornece um modelo conceitual do processo de gerenciamento de formação de alianças estratégicas no setor da aviação. Pode-se observar na figura 4.5 que os quatro estágios do processo merecem destaque. O processo envolve, primeiramente, a análise estratégica da organização interna e os principais direcionadores do ambiente externo, os quais atuam como as razões motivadoras para a formação das alianças. O segundo estágio - as alternativas estratégicas - , são postuladas e avaliadas, e consequentemente é escolhida a opção para a formação da aliança estratégica. No terceiro estágio, os assuntos relativos à implementação da aliança devem ser considerados, incluindo as escolhas de parceiros apropriados e a sua relação com a estrutura e com o escopo da aliança. No último 72 estágio, o sucesso da aliança é mensurado e sua a avaliação é retroalimentada dentro do fluxo para que mudanças possam ser incorporadas. 73 Análise Estratégica Formulação Estratégica Identificação e avaliação de métodos de desenvolvimento de alternativas estratégicas Identificação dos direcionadores internos e externos (ambiente) da organização Direcionadores Internos Implementação Estratégica Decisão detalhada contemplando: escolha de parceiros, escopo da aliança e estrutura e consideração de fatores chave que afetam o resultado. Estrutura da Aliança Estratégica Desenvolvimento Orgânico • Compartilhamento de Riscos • Economias de escopo, escala e aprendizado • Acesso aos ativos, recursos e competências •Formato de Competição Direcionadores Externos • Revolução da Informação • Reestruturação Econômica • Competição Global • Marketing • Desenvolvimento Individual Desenvolvimento em Conjunto • Alianças Estratégicas •Franchising • Joint Ventures •Code Sharing • Acordos de Marketing • Acordos de Licenciamento Aliança Estratégica • Com participação igualitária Aliança Estratégica • Sem participação igualitária Escolha dos Parceiros • Capacidade •Compatibilidade • Compromisso • Controle • Fator Geográfico • Produto / Serviço - Integração das Marcas - Marcas permanecem separadas - Adotados sob licença • Sistemas de Computadores - Integrados - Compartilhados - Separados • Equipamentos e Serviços - Equipamentos Compartilhados - Equipamentos Separados - Manutenção Compartilhada - Manutenção Separada Fusões e Aquisições • Fusão com outra (s) empresa (s) aérea (s) •Adquirir outra (s) empresa (s) aérea (s) • Ser adquirido por outra(s) empresa (s) aérea (s) - Code-Sharing - Reciprocidade dos Programas de Fidelidade - Promoções Integradas - Promoções Separadas • Logística Gerenciamento dos Fatores de Sucesso - Escritórios Compartilhados - Escritórios Separados - Terminais Compartilhados - Terminais Separados • Aliança deve adicionar valor aos parceiros • Parceiros devem estar aptos a aprenderem • Parceiros devem estar aptos a proteger suas próprias competências • Parceiros devem estar aptos à flexibilidade Feedback Avaliação da Performance das alianças em termos da melhora da performance e do aprendizado organizacional. Figura 4.6 – Processo de Gerenciamento de Formação de Alianças Estratégicas na Aviação Fonte: adaptado de EVANS, 2001. 74 4.4.1.1 As Grandes Alianças Globais Atualmente, o mundo da aviação é subdivido em três grandes alianças: Star Alliance, Oneworld e Sky Team. Logo abaixo será relatado um breve histórico de cada uma. 4.4.1.1.1 Star Alliance As informações abaixo foram retiradas do Website da Star Alliance (www.staralliance.com.br). Em 14 de maio de 1997, United Airlines, Lufthansa, Air Canada, Scandinavian Airlines System (SAS), Thai Airways International anunciaram o início da Star Alliance. A empresa brasileira VARIG uniu-se em outubro do mesmo ano. É importante ressaltar que antes da oficialização da aliança já havia uma pré-disposição para a sua formação pois, desde o ano de 1992, as empresas-membro vinham realizando vôos em code-share entre si. Iniciava-se, então, uma nova era na aviação mundial: a era das grandes alianças. Dois anos depois, em março de 1999, Ansett Australia e a Air New Zealand tornaram-se membros da Star Alliance. Ainda em outubro de 1999, em um evento em Tókio, foi anunciada a inserção da empresa janponesa ANA (All Nipon Airways). No ano 2000, a Star Alliance presenciou uma grande expansão com a inclusão de mais quatro grandes membros: Austrian Airlines Group (composto pela Austrian Airlines, Lauda Air e Tyrolean Airways) em março, Singapore Airlines em abril, 75 British Midland e Mexicana Airlines em Julho. Em agosto do mesmo ano, foi aberto o Star Alliance Businness Centre em Frankfurt e em setembro foi lançado o StarNet, que pode ser denominado como uma sofisticada solução em tecnologia de informação que une os vários sistemas de reservas das empresas-membro. O ano de 2003 também apresentou significativa expansão. Mais três empresas começaram a fazer parte da aliança: Asiana Airlines (março), Spanair (abril) e a LOT Polish Airlines (outubro). No ano seguinte, quatro acontecimentos marcaram a Star Alliance: (1) No mês de março, houve a saída da Mexicana Airlines da parceria; (2) Em maio, a US Airways juntou-se à aliança; (3) Em agosto, a Star Alliance lançou seu primeiro Website no idioma local (em português para o Brasil); e (4) em setembro, Star Alliance recebeu como membro sua primeira parceira regional – a empresa eslovena Adria. Ainda em 2004, a aliança recebeu mais dois membros regionais: a empresa finlandesa Blue 1 e a empresa croata Croatia Airlines. Em dezembro de 2006, devido à crise na qual se encontrava, a empresa brasileira VARIG deixou de ser membro da aliança. De acordo com Lima (2000), a Star Alliance foi formada de modo a melhor atender às expectativas e necessidades dos viajantes freqüentes. Após extensivas pesquisas junto a seus clientes valiosos, descobriu-se o que estes esperam de uma rede: Reconhecimento mundial de seu status e privilégios; 76 Uma experiência indiferenciada de viagem (“Seamless Travel”); Acesso global conveniente; Ambiente confortável; Foco consistente em segurança 4.4.1.1.2 Oneworld As informações abaixo foram retiradas do Website da Oneworld (www.oneworld.com). Em setembro de 1998, American Arlines, British Airways, Cathay Pacific, Canadian Airlines e Qantas anunciaram a intenção em criar a Oneworld e lançaram um programa intensivo de capacitação e comunicação entre todos os seus funcionários. Algumas observações sobre a Oneworld: Apenas os passageiros de vôos regulares que sejam operados e comercializados (número de vôos que aparece no bilhete aéreo deve ser de alguma das companhias membro) por uma das companhias aéreas membro ou associadas poderiam utilizar os benefícios da Oneworld; No período de pico, acessos a certos lugares podem ser restritos devido à capacidade limitada; Membros da American Airlines AAAdvantage e Britisch Airways Executive Club podem ganhar/acumular milhas, ganhar status, crédito em assentos preferenciais, exceto em: vôos entre EUA e Inglaterra e, no caso de acumular milhas em uma companhia esta não é válida para outra (por exemplo, pontos na AA, não é válido para BA); 77 Em 1°. de fevereiro de 1999, foi formada a Oneworld pela companhias supramencionadas. Em setembro do mesmo ano, mais duas empresas aéreas se juntavam a aliança: FinnAir e a Ibéria. A Lan Chile e a Air Lingus começaram a participar da Oneworld em Junho de 2000. Nesse mesmo ano a central de gerenciamento começou a funcionar em Vancouver. Em novembro de 2001 a rede Oneworld expande com a integração da TWA com American Airlines. Em março de 2002, Cathay Pacific’s Hong Kong hub e Finnair’s Helsinki estão unidas pela primeira vez através dos vôos da Finnair. Em abril do mesmo ano, a American Airlines e Lan Chile expandem o code-share para outras cinco rotas nos EUA. Os destinos servidos pelos vôos da American Airlines crescem cerca de 50%. Em junho, American Airlines e Finnair se tornam as primeiras companhias de continentes diferentes a utilizar o e-ticket (bilhete eletrônico). Em setembro a Oneworld foi reconhecida na indústria de turismo mundial através da premiação Best Airline Alliance. Em outubro, British Airways e Ibéria expandem seus acordos de code-share entre Londres Heathrow-Madrid-Barcelona. Em novembro, cada membro da Oneworld desenvolve especificações em comum com o objetivo de alinhar suas políticas e procedimentos de engenharia e manutenção para compartilhar as melhores soluções. Em março de 2003, quatro companhias aéreas da Oneworld (American Airlines, 78 British Airways, Finnair e Ibéria) inseriram o código *O, permitindo através dos CRS efeturarem reservas de vôos em qualquer empresa-membro. Em setembro, American Airlines e British Airways lançaram seus acordos de code-share. Eventualmente, a American Airlines substitui a British Airways em mais de 110 destinos pelo mundo e, a British Airways em mais de 187 destinos entre Estados Unidos, México, Caribe e América Latina. Em 2004, British Airways e Ibéria incrementam sua cooperação ao operar seus serviços entre Londres Heathrow, Madrid e Barcelona. Em 2005, a Oneworld recebeu como membro a empresa húngara Malev. Em junho de 2006, a Japan Airlines é aceita no grupo. É esperado o início efetivo até o começo de 2007. Em agosto, a Oneworld lança seu website com um mapa interativo mostrando todos os destinos e rotas servidas. Em setembro, os membros da Oneworld começam a operar em Bangkok e o novo aeroporto de Suvarnabhumi é aberto para negócios. Em dezembro a Dragonair, Lan Argentina e Lan Equador são aceitas para unirem-se à aliança no início de 2007. Em janeiro de 2007, os membros da Oneworld consolidam as operações da Japan Airlines. Em fevereiro, se torna a única aliança com um membro pertencente ao continente Sulamericano, pois a empresa brasileira Varig deixou de pertencer à aliança na qual fazia parte, a Star Alliance. Em abril, Japan Airlines, Royal Jordânia 79 entram na aliança. Espera-se que as afiliadas do grupo LAN, Lan Equador e Lan Argetina se tornem membros ainda em 2007. 4.4.1.1.3 Sky Team As informações abaixo foram retiradas do Website da Sky Team (www.skyteam.com). No mesmo ano de formação da Oneworld, em 22 de junho de 1999, a Delta Air Lines e a Air France assinaram um acordo estratégico de longo prazo visando a formação de outra grande aliança global: a Sky Team. Entretanto, a aliança só foi oficializada em junho de 2000 quando os CEO’s da Aeroméxico, Air France, Delta Air Lines e Korean Air se encontraram em Nova Iorque para anunciar a implementação da Sky Team. Em março de 2001, a CSA Czech Airlines oficialmente tornou-se o quinto membro da aliança. Em julho do mesmo ano, a Alitalia tornou-se o sexto membro. Em agosto, Air France, Alitalia, CSA Czech Airlines e a Delta Air Lines conseguiram a imunidade antitruste concedida junto ao U.S. Department of Justice (USDOJ)3 para permitir às quatro companhias a expandirem seus acordos comerciais e desenvolverem ações coordenadas nos processos de marketing e vendas. 3 O efeito na competição é cuidadosamente observada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos - Department of Justice – (USDOJ) no que concerne às violações das práticas antitrustes que possam vir a ocorrer. O Departamento de Justiça se preocupa em distinguir os acordos de code-share que beneficiem o consumidor ao criarem um novo tipo de serviço que oferece custos mais baixos, melhora do serviço existente e aumento da eficiência daqueles acordos que escolhem/alocam os mercados, limitam a capacidade, aumentam tarifas e impedem a entrada de novas empresas (Bingaman, 1996; Nanes, 1998). 80 Três anos depois, em 13 de setembro de 2004, a aliança recebeu mais três ilustres membros: Continental Airlines, KLM Royal Dutch Airlines e a Northwest Airlines. Em 14 de abril de 2006, a Aeroflot foi o décimo membro a se juntar à Sky Team. Com a chegada da Aeroflot, a malha da Sky Team atualmente oferece aproximadamente quinze mil vôos diários aos seus trezentos e setenta e três milhões de passageiros para mais de setecentos e vinte e oito destinos no mundo inteiro. Abaixo, uma tabela-resumo das alianças e seus membros: Tabela 4.2 – Alianças e Empresas-Membro Air Canada Air New Zealand All Nipon Airways Asiana Airlines Austrian Airlines British Midland Lot Polish Airlines Lufthansa Scandianvian Airlines Singapore Airlines South African Airways Spanair Swiss Tap Thai United Airlines US Airways American Airlines British Airways Cathay Pacific Finnair Iberia Japan Airlines LAN Malev Qantas Royal Jordanian Aeroflot Aeromexico Air France KLM Alitalia Continental Airlines CSA Delta Airlines Korean Air Northwest Fonte: Websites das Alianças (www.staralliance.com, www.oneworld.com, www.skyteam.com), 2007. A tabela seguinte apresenta dados comparativos entre as três grandes alianças mundiais: 81 Tabela 4.3 – Dados Comparativos Entre As Três Principais Alianças Fonte: Websites das Alianças (www.staralliance.com, www.oneworld.com, www.skyteam.com), 2007 4.4.2 Direcionadores para a Formação de Alianças De acordo com Doganis (2001), são quatro os grandes fatores que direcionam a formação de alianças: (a) a busca por economias de escala e de escopo; a redução de custos; (b) a necessidade de reduzir a competição – quando a indústria fica mais liberalizada e mais competitiva; e, finalmente, (c) as “leis nacionais” nas quais as fusões e aquisições “além-fronteiras” são impossíveis. Semelhantemente a Doganis, Goh & Uncles (2003) também citam possíveis direcionadores para que as empresas aéreas constituam alianças: (a) acesso a mercados com restrições governamentais; (b) redução de custos e economias de escala, escopo e de densidade; (c) coordenação de horários e de preços com o intuito de otimizar a demanda, e a capacidade para cada vôo; e (d) oportunidades para redesenhar a estrutura da indústria e criar barreiras contra as novas entrantes. Já o autor Nigel Evans (2001) subdivide os direcionadores entre: (a) externos (revolução da informação, reestruturação da economia e competição global) e (b) internos (compartilhamento dos riscos, economias de escopo, escala e aprendizado, 82 acesso a ativos, recursos e competências e formato de competição). Evans (2001) cita em seu artigo que autores como Hamel (1991), Dunning (1993) e Inpken (1998) sugerem que um importante motivador na formação das alianças é o beneficio alcançado das economias de aprendizado (ou experiência adquirida). Um exemplo disso é que empresas tradicionais possuem mais informações sobre os mercados servidos, podendo assim melhor atender às necessidades dos passageiros. As novas entrantes, contudo, teriam que admitir novos recursos para conseguir informações específicas sobre o mercado, com o intuito de obter market-share, enquanto as alianças, além de seu expertise, podem adquirir tais informações da sua própria cadeia de fornecedores. A seguir uma breve descrição de alguns desses direcionadores. 4.4.2.1 Economias de escala, de escopo e de densidade As alianças mais significativas em termos de expansão de rede são aquelas que possuem um escopo global. O objetivo inicial é alcançar todos os benefícios de economias de escopo e de escala ao interligar duas ou mais grandes companhias operando em mercados geograficamente distintos, em continentes diferentes. As economias de escopo ocorrem quando o custo de produzir dois (ou mais) produtos em conjunto é menor do que o custo de produzir apenas um (Evans, 2001). Ou seja, quando os custos unitários do serviço de transporte aéreo caem enquanto o número de mercados servidos pelas companhias crescem. No contexto de uma malha aérea, uma companhia pode reduzir custos unitários apenas ajustando os horários dos 83 vôos com o objetivo de permitir opções de conexão (mantendo seu numero de vôos constantes). Esta opção é bem mais viável economicamente do que a adição de vôos novos à malha. Contrariamente, onde vôos novos são adicionados, é aconselhável novas operações onde as origens e os destinos já eram previamente servidos pela companhia, do que estabelecer novas operações para localidades ainda não servidas. Os dois casos supracitados ilustram como as companhias podem entrar em um novos mercados sem necessariamente aumentar os seus custos unitários. Por exemplo, é possível que o aumento em 10% do número de cidades servidas aumente o custo direto das operações em apenas 5%. Estas economias de escopo são possíveis porque as companhias podem diluir os custos em sua malha. As economias de escala ocorrem quando os custos unitários tendem a diminuir ao ocorrer simultaneamente incrementos na produção – os quais podem resultar de aumentos nas localidades servidas e do aumento da utilização diária da frota. Neste caso, mantêm-se constantes a etapa de vôo, a taxa de aproveitamento médio, e os preços aplicados (SILVEIRA, 2003). As economias de densidade ocorrem quanto os custos unitários de vôos adicionais caem com o aumento de tráfego. Nesta situação, é típico o caso em que é menos expressivo aumentar serviços em uma rede existente do que seria para uma outra companhia fornecer serviços adicionais nas mesmas rotas (CAVES et al, 1984). Por exemplo, uma empresa aérea deve aumentar sua capacidade em um mercado em 25% e percebe que os custos diretos de todos os seus vôos nesta rota aumentaram em apenas 20%. Isto pode acontecer devido ao fato da companhia decidir utilizar uma aeronave maior em uma determinada rota do que incluir um vôo novo. Geralmente, as aeronaves maiores possuem um menor custo unitário por 84 assento-quilômetro do que as aeronaves menores. O uso de qualquer aeronave requer elevados custos fixos, porém há baixos custos incrementais associados em acomodar passageiros adicionais gerados pelo aumento do tráfego. De acordo com Doganis (2001), as economias de escopo/escala pelas alianças propiciam às empresas aéreas: Atração por uma rede (malha) ampla e interconectada que ofereça “todos” os destinos; Domínio de mercado em grandes hubs; Maior poder de pressão sobre os competidores através de mudanças dos horários dos vôos, aumento de freqüência e redução de preços; Conexão do tráfego através de hubs que suportam alto nível de freqüência; Maior capacidade dos sistemas de distribuição através do acesso a numerosos agentes de viagens em vários mercados; Habilidade para maximizar os benefícios em gastos com propaganda; Aptidão para assegurar consistentemente um serviço padrão através de uma malha mundial mesmo se houver trocas de aeronaves e de empresa aérea; Uma malha extensa que crie uma maior fidelidade dos clientes. 4.4.2.2 Redução de Custos O aumento da competição no mercado internacional resultou numa queda dos níveis de receita unitária por passageiro, o que enfatiza a necessidade das alianças em reduzirem custos. As alianças podem obter benefícios em suas estrutura de custos de quatro formas, como melhor agrupado por Doganis (2001): 85 O aumento do poder de mercado criado pela aliança pode gerar um alto volume de tráfego, ocasionando economias de densidade. A habilidade das alianças em construir, mais rapidamente, níveis de tráfego em algumas rotas proporciona economias de escopo, nas quais é possível a redução dos custos unitários através de altos load factors (taxa de ocupação das aeronaves), e também, da alta utilização dos custos fixos das aeronaves (principalmente, as grandes – wide-bodies); As reduções de custos também podem surgir de possíveis sinergias entre as parceiras. Por exemplo, sinergias nas áreas de operações e de marketing permitem aos membros das alianças dividirem e/ou reduzirem custos através da racionalização da malha. As empresas parceiras podem compartilhar escritórios de vendas e facilidades nos aeroportos como a sala vip, por exemplo. Na área comercial, a Swissair e a Austrian Airlines foram as pioneiras ao estabelecer o processo unificado de vendas e ticketing (emissão de bilhetes) em várias partes do mundo, reduzindo o número de escritórios e o staff (recursos humanos) necessários; As alianças podem propiciar, principalmente à parceira maior, os baixos custos de operação da parceira menor. Um grande fator que afeta os custos unitários são os custos trabalhistas, que podem variar significativamente entre países vizinhos e também em companhias do mesmo país se algumas são sindicalizadas e outras não. As diferenças entre custos unitários diferentes entre as companhias significam que enquanto muitas alianças apontam para os benefícios de mercado como um objetivo primário, em muitos casos, os baixos custos de operações da (s) empresa (s) parceira (s) também podem ser considerados como vantagem competitiva; 86 As alianças também podem reduzir custos através de processos de compras em conjunto nas demais áreas. Por exemplo, os membros da Star Alliance compram por volta de U$S 15 bilhões em bens e serviços anualmente. Estimase que este valor pode vir a reduzir os preços de 5 a 7%, o que gera aproximadamente uma economia anual de U$S 1 bilhão. Outro exemplo de redução de custos é o compartilhamento de plataformas de Tecnologia de Informação como o desenvolvimento e a manutenção em conjunto dos CRS ou o desenvolvimento de um único CRS. As dimensões que as grandes alianças internacionais tomaram e seu poder político-econômico altamente concentrador transformaram-nas em verdadeiras potências em excepcional posição não apenas frente às empresas não-integrantes de outras grandes alianças (U.S. GAO, 1998), mas também para dialogar e firmar contratos vantajosos junto a fabricantes de aeronaves (compras em grandes lotes, a custos altamente reduzidos), autoridades aeroportuárias, fornecedores de peças, distribuidoras de combustíveis, empresas de catering etc. (ESPÍRITO SANTO Jr., 2000). 4.4.3 Benefícios aos Passageiros Um executivo sênior da Delta Airlines sintetizou o papel principal dos benefícios das alianças no mercado aéreo: “The reason that alliances are so critical is simple – they allow carriers to place more of their products on more shelves, to expand the scope and reach of networks more efficiently. But we are also in the business to make money and alliances allow us to generate additional revenue with minimal capital outlay". (Lobbenberg, 1999) (O motivo no qual as alianças são pontos focais é simples – elas permitem às empresas a disponibilizarem mais “produtos em suas prateleiras”, a expandir sua malha de forma mais eficiente. Mas também estamos no negócio para fazer dinheiro e as alianças nos permitem a geral uma receita adicioanl com o mínimo de capital despendido). 87 Lobbenberg, corrobora com o fato de que as alianças permitem às empresas a ofertarem seus produtos em grande escala, através da expansão de seu escopo e de sua malha aérea, ofertando assim um maior número de origens e destinos aos seus passageiros. Acrescentando, as alianças permitem a geração de uma receita incremental com o mínimo de capital despendido, podendo proporcionar assim, uma lucratividade extra sobre a rota. Assim como nas empresas aéreas, as alianças também proporcionam benefícios sob a ótica dos passageiros. Alguns deles, são mostrados na pesquisa realizada por Goh & Uncles (2003). A seguir uma breve descrição dos principais benefícios citados na pesquisa dos autores supracitados: Maior acesso aos mercados Kandampully e Duddy apud Goh & Uncles (2003) ressaltam que a fidelidade e a retenção dos passageiros podem ser realçadas ao oferecer um pacote de serviços e produtos associados a uma rede de relacionamentos a qual adicione um “valor” a esta oferta. Seguindo esse raciocínio, as empresas aéreas devem estar aptas a oferecerem um grande valor aos seus clientes ao estender sua rede de relacionamentos com as demais empresas aéreas. O conceito de “seamless travel” O conceito de “seamless travel” advém da crença de que os passageiros desejam o menor grau de inconveniência possível ao realizar conexões. Normalmente, como as transferências incorrem no risco de perda de conexões e de bagagens e, as empresas ao propiciarem uma coordenação conjunta dos vôos (como feito numa aliança 88 global) diminuem a percepção dos passageiros dos ricos aumentando assim a percepção do nível de serviço oferecido. Status de preferência durante as conexões As companhias aéreas têm acordado um tratamento preferencial na prioridade de check-in, manuseamento de bagagem, lista de espera e stand by nos aeroportos, objetivando reter seus clientes mais valiosos. Para o consumidor, o status de prioridade alcançado em uma empresa aérea, é estendido às todas as empresasparceiras da aliança. Acesso às salas vips Antes da formação das alianças, os passageiros somente poderiam usufruir as salas vips pertencentes à empresa aérea na qual estava viajando. As alianças permitem o acesso recíproco às salas vips das empresas parceiras. Benefícios dos programas de fidelidade. Em uma pesquisa realizada pela OAG em 1998, 94% dos respondentes disseram que pertenciam pelo menos a um programa de fidelidade, e 59% pertenciam a três ou mais programas. Em um passado recente, os programas de fidelidade eram “fidedignos” a empresa aérea e “não-transferíveis”. Com a formação das alianças globais, os benefícios dos programas de fidelidade puderam ser acumulados com qualquer empresa parceira da aliança, eliminando a necessidade do passageiro pertencer a programas de fidelidade múltiplos (a não ser que o viajante freqüente deseje ser cliente de mais de uma aliança). Isto significa que os membros dos programas de fidelidade podem atingir um status de prioridade acumulando pontos mais rapidamente. Além do mais, com a expansão da malha oferecida pela aliança, o 89 resgate do bônus de milhagem pode ser realizado por qualquer parceira em grandes variedades de destinos. 4.5 VÔOS EM CODE-SHARE 4.5.1 Histórico e Conceitualização Inserida no contexto das parcerias entre as empresas aéreas está a prática de operação conjunta – o “código compartilhado” ou code-share – que corresponde a acordos operacionais onde as companhias parceiras compartilham a oferta de assentos em suas aeronaves. Neste tipo de aliança, duas ou mais empresas podem estar envolvidas em uma mesma operação comercializando seus vôos do acordo em parceria, sob o mesmo código designador, como se fossem uma só, incluindo práticas de vendas e distribuição. Tal parceria proporciona às empresas vantagens que vão desde a redução dos custos operacionais, até o incremento de vendas para as suas rotas e destinos, e a abrangência da malha. De acordo com a definição da ICAO (1997): “Codesharing is the practice whereby one carrier permits a second carrier to use its airline designator code on a flight, or where two carriers share the same airline designator code on a flight. (...) Codesharing thus involves one airline advertising and selling the services of another airline as its own. Consequently, the use of code-sharing permits the offer and sale of transportation services involving more than one airline as if they were transportation services on one airline.” . (Codesharing é a prática onde uma empresa aérea permite a uma outra segunda a usar o seu código designador em um vôo, ou onde duas empresas compartilham o mesmo código designador em um vôo. (...) Codesharing também envolve a comercialização e a venda dos serviços de uma outra segunda companhia como se fossem da primeira empresa em questão. Consequentemente, a utilização do code-sharing permite a oferta e a venda dos serviços de transportes envolvendo mais de uma empresa como se fossem realizados por uma só) . 90 Com o advento da Desregulamentação Norte-Americana de 1978, as grandes companhias norte-americanas começaram a maximizar as redes em formato “huband-spoke” para tirar vantagem das economias de escopo e de escala; para as médias e pequenas cidades, o acesso aos hubs das grandes companhias era provido pelas empresas de menor porte. As grandes companhias começaram a desenvolver parcerias com as empresas feeder (alimentadoras) através de acordos de code-share. Tal fato permitiu aos parceiros oferecerem um tipo de serviço mais parecido com os serviços online (vôos diretos) do que serviços interline (vôos com conexões) e também permitiu às companhias alimentadoras oferecerem seus serviços sob a marca de uma empresa de grande porte. A prática do code-share entre as empresas de pequeno e de grande porte tomou força na década de 80 no mercado doméstico norte-americano. A desregulamentação também permitiu às empresas oferecerem mais vôos diretos, tanto no mercado doméstico quanto no internacional. Mas em muitos casos os serviços internacionais eram impossíveis por razões econômicas e/ou de ordem regulatória, como as cláusulas nacionais nos acordos bilaterais e as próprias leis locais. Como uma resposta a esses entraves, o code-share foi lançado no ambiente internacional. É importante distinguir o code-share das alianças globais (que além da própria operação conjunta, também envolve outros serviços). O code-share caracteriza-se principalmente ao colocar o código designador de uma companhia aérea no vôo de outra companhia. Ambas companhias continuam a operar independentemente, e a companhia não-operante do vôo (marketing carrier) pode comercializar o vôo da companhia operante como se fosse o seu. As empresas então estabelecem o acordo 91 de pró-rateio para a divisão da receita das vendas dos vôos compartilhados entre a “operating carrier” e a “marketing carrier”. Um aspecto importante do code-share no mercado aéreo internacional é a autorização legal que vários paises exigem antes do acordo ser implementado. Na metade da década de 80, o USDOT4 estabeleceu que o code-share seria permitido em cidades internacionais se a companhia requerente já tivesse a permissão para voar nas cidades envolvidas. Sob esta política, por exemplo, Continental Airlines e SAS começaram o acordo em seus vôos entre os aeroportos de Newark e Copenhagen (SPITZ, 1998). Em 1987, esta política mudou quanto o USDOT começou a exigir a aprovação de todos os acordos de code-share envolvendo empresas americanas e as ligações domésticas naquele país. Esta exigência do USDOT deveu-se ao tamanho do mercado doméstico norte-americano em comparação a outros mercados domésticos (com o advento do code-share, as companhias começaram a procurar por tráfego além gateways5). Por exemplo, se uma empresa dos Estados Unidos e uma da Europa desejam formar um acordo de code-share que envolve serviços de/para cada gateway de cada empresa, assim como os serviços além-gateways, deve haver um equilíbrio nas autorizações e no tráfego afetado. Isto acontece porque os vôos de interesse além-gateways são vôos domésticos para as empresas americanas, e geram um volume de tráfego expressivo. Por outro lado, os vôos domésticos das companhias nacionais européias não gerariam tráfego tão expressivo quanto o norte-americano. 4 Na bibliografia pesquisada sobre o histórico de formação dos primeiros acordos de code-share (Spitz, 1998), o autor cita o Departamento de Trnasportes norte-americano (USDOT) como responsável por controlar as alianças, os acordos e as imunidades anti-trustes naquela época. Atualmente, esse papel é exercido pelo Departmento de Justiça (USDOJ). 5 Gateways podem ser definidos como os principais aeroportos de entrada e/ou saída de passageiros realizando uma viagem internacional. 92 Nas empresas européias, os mercados além-gateways que geram mais tráfego são aqueles voados pelas empresas européias de seu país de destino para os demais gateways internacionais. Mas, para oferecer serviços de code-share além dos gateways europeus, as companhias necessitam da aprovação desses países de destinos internacionais, e esta cooperação raramente acontece. Daí as implicações do USDOT em promover um monitoramento dos acordos naquela época (SPITZ, 1998). Três foram os grandes acordos pioneiros entre empresas americanas e européias. A seguir, um breve histórico: 4.5.1.1 Northwest Airlines & KLM O fato precursor do primeiro grande acordo de code-share internacional deu-se em 1989, quando a KLM, empresa nacional holandesa, investiu quatrocentos milhões de dólares na Northwest Airlines, empresa norte-americana. Posteriormente, no final do ano de 1990, a KLM iniciou suas operações entre os dois grandes hubs da Northwest Airlines (Minneapolis e Detroit) e Amsterdã com a comercialização conjunta dos vôos. Ambas companhias começaram com um acordo de block space (assentos reservados dentro de cada vôo a serem utilizados exclusivamente por outra empresa aérea) nestes vôos, o que permitia a Northwest Airlines a comercializar bilhetes em um número restrito de assentos em cada vôo da KLM e vice-versa. Subseqüentemente, a Northwest Airlines começou a suas operações entre Boston e Amsterdã, e estes três gateways americanos começaram a servir como base para o code-share entre as empresas (SPITZ, 1998). 93 Em 1992, os Estados Unidos e a Holanda assinaram um acordo de “Céus Abertos” (Open Skies) que permitia o code-share de forma ilimitada entre as empresas parceiras. O USDOT também garantiu a imunidade antitruste, permitindo às empresas a coordenarem decisões no que concerne à política de preços e à capacidade ofertada. A garantia da imunidade antitruste foi um aspecto chave dessa aliança, e de outras supostas parcerias envolvendo empresas americanas e estrangeiras. Uma vantagem desta imunidade é que ela permite às companhias comercializarem e divulgarem tarifas como se fossem uma só . Esta vantagem facilita estabelecer a estrutura de tarifas dos mercados além gateways. Na falta da imunidade antitruste, tais mercados seriam gerenciados pelas regras tarifárias da IATA a menos que as empresas negociassem um acordo de preços para tais mercados em parceria de forma individual (SPITZ, 1998). Em 1995, a aliança entre a Northwest Airlines e a KLM se expandiu quando a KLM iniciou operações entre Amsterdã e Memphis (outro principal hub da empresa americana) (SPITZ, 1998). Atualmente, as duas companhias pertencem à mesma aliança: Sky Team. 4.5.1.2 British Airways & USAir Outra grande parceria formada no inicio da década de 90 deu-se entre a British Airways e a USAir (atualmente, US Airways). O objetivo inicial proposto seria formar uma grande aliança em que resultaria na fusão das duas empresas. Porém, tal parceria não foi bem aceita pelas demais empresas resultando assim na revisão do acordo entre as parceiras: a British Airways investiria trezentos milhões de dólares na 94 USAir em troca de 19,9% das ações desta, mas sem planos futuros para uma fusão (SPITZ, 1998). O USDOT, então, aprovou a aliança, mas impôs algumas condições: a USAir teria de vender seus “direitos” de vôos de/para Charlotte, Baltimore e Philadelphia, nos Estados Unidos, para Londres para outras companhias aéreas norte-americanas. A British Airways também teria que atender as requisições do USDOT para estas cidades e também para a cidade de Pittsburgh, dando acesso as demais empresas aos quatro grandes hubs da USAir (SPITZ, 1998). A aliança British Airways e a USAir teve uma característica peculiar onde a British Airways compartilhava os vôos domésticos da USAir através dos principais hubs desta, mas a USAir não compartilhava os vôos além do “gateway” Londres. Assim, a British Airways era responsável somente por comercializar os serviços oferecidos em code-share. Impactos na receita foram estimados em aproximadamente cento e vinte milhões de dólares por ano, grande parte da receita oriunda da British Airways (Australian Industry Comission, 1997 apud SPITZ, 1998). A parceria foi dissolvida em 1997, depois da British Airways anunciar planos de formar uma grande aliança com a American Airlines. O objetivo era o longoalcance das duas companhias dominantes no tráfego do Atlântico-Norte (SPITZ, 1998). 4.5.1.3 United Airlines & Lufthansa 95 A terceira maior aliança formada na década de 90 envolveu a United Airlines e a Lufthansa, empresa alemã. O acordo de “code-share” começou em 1994, depois da garantia da imunidade antitruste concedida pelo USDOT. A Lufthansa possuía acordos através dos gateways de Washington, Chicago e São Francisco, e a United Airlines através do gateway de Frankfurt. Ambas empresas compartilhavam suas operações nos segmentos ponto-a-ponto (gateway-to-gateway) entre os Estados Unidos e a Alemanha (SPITZ, 1998). Anos depois, a United Airlines e a Lufthansa anunciaram uma parceria com SAS, também garantida pela imunidade antitruste concedida pelo USDOT. Ainda nessa linha, estas três empresas anunciaram em 1997 a formação da Star Alliance, incluindo a Air Canada e Thai Airways (a empresa brasileira Varig juntou-se à aliança no final de 1997) (SPITZ, 1998). 4.5.2 Tipos de Code-share Beyholf (1995), baseado num estudo de caso do mercado alemão, cita cinco os tipos de code-share, caracterizados de acordo com o nível de cooperação comercial entre as empresas envolvidas: Free Sale Neste tipo de acordo, a empresa vende uma quantidade ilimitada de assentos da sua parceira, com o seu próprio nome e imagem. Blocked Space 96 Neste caso, uma empresa compra um determinado número de assentos nos vôos da(s) empresa(s) parceira (s) e os “revende”, assumindo o risco inerente de se conseguir a demanda suficiente para o bloqueio de assentos nas congêneres. Wet Lease No acordo de Wet Lease, uma companhia aluga a aeronave e a tripulação de outra empresa, comercializando o vôo sob a sua própria marca. Franchise Um acordo de Franchise é caracterizado quando uma companhia “aluga” a marca de outra empresa aérea. Neste tipo de parceria a empresa-fornecedora da aeronave e da tripulação assume o risco de vender os assentos, mesmo que estes sejam vendidos sob o nome/ marca da outra empresa. Joint Venture A natureza de um acordo de Joint Venture, apesar de ser similar ao Free Sale, apresenta outros aspectos-além: ambas empresas comercializam os assentos do vôo code-share e compartilham a receita total da operação de forma previamente estabelecida no acordo, e pode ser que haja acordos nas tarifas. 4.5.3 Impactos na Competição Da mesma forma como pode vir a ocorrer nas alianças, os acordos de codeshare podem trazer preocupações aos órgãos reguladores sobre a competição desleal. Tais preocupações concernem principalmente companhias aéreas com ampla e crescente participação de mercado. Quando grandes empresas se unem em prol de um acordo – em qualquer tipo de indústria – , conseqüentemente essa união gera 97 amplo poder de mercado que pode vir a restringir e/ou aumentar tarifas, como também eliminar potenciais competidores, levando assim, à concentração de mercado. Assim sendo, assuntos antitrustes devem ser levados em consideração na análise das empresas quando estas procuram combinar suas malhas através do compartilhamento de seus vôos. Restrições de ordem competitiva são mais prováveis de ocorrer (e mais fáceis de serem detectadas) em mercados envolvendo vôos diretos. As empresas parceiras servem aos mesmos gateways, e assim pode-se dizer que o code-share cria uma fusão virtual entre as duas competidoras neste mercado. Voltando ao histórico, essa foi a razão principal na qual a US Airways foi forçada pelas autoridades norteamericanas a desistir de sua rota de Londres em troca da aprovação da aliança com a British Airways. Contrário ao exposto, é possível que a entrada de uma aliança em uma rota específica possa provocar efeitos competitivos e a melhoria do servido oferecido aos passageiros se, por exemplo, o mercado é considerado como monopolista, ou seja, servido apenas por uma companhia aérea. Normalmente, os efeitos anticompetitivos são menos preocupantes nos mercados onde existem serviços equivalentes. No caso de vôos com conexões duplas, a análise sob uma perspectiva antitruste é mais difícil, porque uma aliança envolvendo duas grandes empresas e seus hubs de conexão pode resultar numa ampla combinação de origens e destinos, beneficiando o mercado como um todo. 98 4.5.4 Restrições na Capacidade No mercado internacional, onde não há acordo de “Céus Abertos” (Open Skies), as empresas aéreas estão submetidas às restrições de capacidade ofertada devido aos acordos bilaterais tradicionais realizados entre os países. Estes acordos são (re) negociados periodicamente entre os órgãos reguladores6 e as empresas aéreas cujo interesse é expandir sua malha para o mercado internacional. Nestes encontros de (re) negociação são discutidos tópicos sobre rotas a serem servidas, quais empresas irão operá-las, quais seriam as restrições sobre as freqüências a serem oferecidas (em alguns casos, no lugar de freqüências são negociados a oferta de assentos-quilômetros), os horários permitidos, os direitos de tráfego e metodologias para aplicação das tarifas. Os acordos de code-share podem ser interpretados como uma maneira de driblar as leis estrangeiras. Como mencionado previamente, tais acordos permitem às empresas parceiras atingirem economias de escopo e de escala que em outro caso não ocorreriam. E, ironicamente, são as várias restrições dos acordos bilaterais na capacidade e na forma de competição nas rotas que aumentam o potencial do codeshare a produzir efeitos anticompetitivos. Por outro lado, enquanto o mercado internacional parece estar mais envolvido em conseguir um maior nível de “liberdades” e acordos “mais abertos” entre seus órgãos reguladores, outras formas de restrição na capacidade continuam – sobretudo no acesso aos aeroportos – tanto para empresas parceiras quanto para novas 6 No caso brasileiro, o órgão responsável é a SRI (Superintendência de Relações Internacionais), subordinado à Agência Nacional de Aviação Civil. É na SRI que são discutidos e tratados os Acordos Bilaterais que o Brasil assina com outros países que desejam operar vôos comerciais entre estes e o Brasil. 99 entrantes. Por exemplo, a falta de infra-estrutura aeroportuária adequada – slots (autorizações) para pousos e decolagens, assim como acessos a gates (portões de embarque) nos grandes aeroportos podem impedir a entrada de vôos novos e/ou o aumento de freqüências de vôos já existentes. São exemplos de aeroportos congestionados: JFK (Nova Iorque – EUA), Heathrow (Londres - Inglaterra), Narita (Narita – Japão), O’Hare (Chicago – Estados Unidos), Congonhas (São Paulo – Brasil). 100 5. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS A seguir, uma breve descrição das cinco variáveis apontadas pelos especialistas do setor que possuem um maior peso na decisão de efetuar uma parceria em codeshare. 5.1 RECEITA INCREMENTAL A variável receita incremental foi indicada pela pesquisa como sendo a “mais importante” pelos especialistas da aviação ao avaliar-se um acordo de code-share. Quando grandes alianças são formadas, as empresas também se utilizam do code-share para construir uma imagem global. O code-share normalmente é a melhor alternativa para comercializar os serviços que as alianças oferecem. Se a comercialização é bem sucedida, os lucros da empresa aérea podem vir a crescer, assim como a receita incremental sobre a rota do acordo. Isso ocorre devido às vendas ocorridas de/para os destinos offline e a um maior alcance da distribuição dos vôos pelos CRS. Como conseqüência, outros benefícios como ganho de marketshare e o acesso a novos mercados também podem ocorrer. De acordo com McGuigan et al (2004), se o custo incremental for definido como a alteração no custo total resultante de uma decisão e se a receita incremental for definida como a variação na receita total resultante de uma decisão, qualquer decisão da empresa será lucrativa se ocorrerem um dos seguintes resultados (MCGUIGAN, MOYER, HARRIS, 2004): 101 Aumentar a receita mais do que os custos; Diminuir alguns custos mais do que aumentam outros (supondo que as receitas permaneçam constantes); Aumentar algumas receitas mais do que diminuem outras (supondo que os custos permaneçam constantes). Reduzir os custos mais do que a receita. O fato das alianças permitirem às empresas a ofertarem seus produtos em grande escala, através da expansão de seu escopo e de sua malha aérea, oferta assim um maior número de origens e destinos aos seus passageiros. Acrescentando, as alianças permitem a geração de uma receita incremental com o mínimo de capital despendido, podendo proporcionar assim, uma lucratividade extra sobre a rota. A receita incremental advém do incremento de vendas para as rotas e destinos, devido à possibilidade de abrangência da malha através da malha das empresas parceiras. As companhias então estabelecem o acordo de pró-rateio para a divisão da receita das vendas dos vôos compartilhados entre a empresa operante (operating carrier) e a empresa que comercializa para a empresa operante (marketing carrier) Antes da consolidação das alianças, o que ocorria na prática, ao longo dos anos, era uma ampla gama de acordos interline de forma a atender as necessidades das empresas aéreas. Tais acordos, conforme mencionado, são do período pré-alianças, e foram criados para facilitar as operações e a comercialização dos serviços internacionais. Vale ressaltar que estes tipos de acordo, atualmente ainda encontramse vigentes, principalmente entre empresas que não participam da mesma aliança. O mais conhecido dos acordos e que vigora até os dias atuais é o denominado acordo de 102 Pró-Rateio (SPA). Os prós-rateios são os acordos nos preços ou nas tarifas a serem pagas às congêneres para transportar passageiros de outras empresas no seu próprio avião. Neste tipo específico de acordo, é fixada a receita que uma companhia deve pagar à outra para transportar seus passageiros em um trecho especifico da malha desta – a qual pode estar ou não dentro de uma rede de alianças. Tais acordos também contemplam as rotas, os tipos de tarifas (se são tarifas privadas ou publicadas), assim como o tipo de serviço (primeira classe, classe executiva ou classe econômica) e a classe tarifária de reserva designada para o acordo. Em alguns casos podem também contemplar o percentual de incentivo de vendas a ser pago entre as companhias. Considere as rotas mostradas na figura abaixo, a qual representa parte de uma rede. A Empresa 1 fornece serviços entre as cidades A e B, enquanto a Empresa 2 fornece vôos entre as cidades B e C. A Empresa 1 transporta o fluxo de passageiros no trecho AB, e a empresa 2 transporta o fluxo BC, e juntas, as empresas possuem um serviço interline no mercado AC. A cooperação das empresas nas rotas interline significa que foi estabelecida uma tarifa para o trecho AC com o objetivo de ambas empresas maximizarem seus lucros a partir deste mercado. Figura 5.1 – Exemplo de Rota Interline Numa pesquisa realizada por Brueckner (2003) mostra que as empresas 103 membro de alianças e que possuem vôos em code-share podem oferecer tarifas para rotas interline até 27% mais baratas. O code-share entre os membros da Star Alliance geraram em 1999, uma receita incremental de em aproximadamente US$ 20 milhões (BRUECKNER, 2003). Os benefícios em termos de receita proporcionados pelas alianças são substanciais. Foi publicado pela Lufthansa em Outubro de 1997 que suas alianças comerciais com United Airlines, SAS, Thai Airways, South African Airways e Varig estavam gerando receitas aproximadamente de duzentos e setenta milhões de marcos alemãs ao ano (antes mesmo da formação da Star Alliance). Um estudo anterior realizado pelo US General Accounting Office publicou que em 1994 a empresa holandesa KLM aumentou seu tráfego de passageiros em 150.000 como resultado de sua aliança com a empresa americana Northwest, e sua receita cresceu em aproximadamente US$ 100 milhões. Os benefícios para a Northwest foram estimados em um acréscimo de aproximadamente 200.000 passageiros e US$ 175 milhões em receita. Já a British Airways, a aliança com a USAir gerou 68.000 passageiros adicionais e US$ 100 milhões em receitas incrementais (DOGANIS, 2001). 5.2 ABRANGÊNCIA DA MALHA INTERNACIONAL A abrangência da malha internacional identificada como a segunda variável mais importante depois da receita incremental pode ser explicada pelo fato que uma variável retroalimenta a outra. Quanto maior for a abrangência da malha, maior é a probabilidade de se obter uma fatia da demanda que provavelmente não voaria numa determinada rota se não fosse o acordo, o que por ventura pode trazer uma receita incremental associada a esta rota. 104 Conforme definição de Holloway (2001), a malha é o resultado de um esforço para coordenar a disponibilidade da aeronave com a demanda. Seu objetivo primário é a maximização da captura da receita enquanto que, ao mesmo tempo, minimiza os custos unitários diretos da operação. Ainda segundo o autor, o desenho e a estrutura da malha são os direcionadores primários dos custos e da receita de uma empresa aérea, o que requer decisões sobre quais os mercados potenciais a empresa deverá operar assim como quais segmentos de demanda deverá servir. De acordo com Doganis (2001) e Gudmundsson & Lechner (2006), fazer parte de uma aliança pode propiciar às empresas duas grandes vantagens abrangendo a malha. A primeira é a expansão dos mercados existentes através da geração de tráfego pela alimentação da empresa parceira (a um custo relativamente baixo). A segunda vantagem é o desenvolvimento em mercados previamente não-acessíveis. Para exemplificar a segunda vantagem, pode-se citar a aliança entre a United Airlines e a Lufthansa, iniciada em Outubro de 1993 que permitiu à empresa americana o acesso aos mercados da Europa Ocidental via o hub de Frankfurt, nos quais eram previamente impossíveis de operar devido às restrições de direitos de tráfego (ou talvez não seriam viáveis economicamente com operações próprias – vôos diretos). Na linha tronco Chicago-Frankfurt, como resultado das conexões disponibilizadas por ambas as empresas, o tráfego mais do que triplicou. Entre 1993 e 1998 o tráfego diário de passageiros em conexão cresceu aproximadamente de duzentos passageiros/dia para seiscentos. Foi o rápido crescimento deste tráfego de alimentação que permitiu às companhias aumentar as freqüências diárias dos vôos em code-share de dois em 1996 para quatro em 1998 (DOGANIS, 2001). Como visto no parágrafo anterior, no caso das grandes alianças globais e nos 105 acordos de code-share, o alcance da malha aérea de uma empresa pode representar individualmente um grande nível de atratividade e de vantagem competitiva para que esta possa despertar o interesse de outras congêneres vir a fazer parte de um acordo. As alianças mais significativas em termos de expansão de rede são aquelas que possuem um escopo global. O objetivo é alcançar todos os benefícios de economias de escopo e de escala ao interligar duas ou mais grandes companhias operando em mercados geograficamente distintos, em continentes diferentes. Apesar de hubs localizados em diversos continentes serem menos prováveis de se sobreporem ou competirem entre si, o mesmo também deve acontecer quando uma aliança contém hubs na mesma região geográfica. De acordo com Oum e Park (1997), as alianças devem assegurar que os hubs se complementem entre si e consequentemente forneçam benefícios tanto para as empresas aéreas quanto para os passageiros. Estes benefícios podem ser atingidos tanto em termos de redução do tempo da viagem ou geográficos (melhor localização do hub para que a empresa possa atender o fluxo de passageiros oriundos de uma região específica). Por exemplo, a complementaridade da malha pode ser vista através de um hub que oferece conexões na parte da manhã para um determinado mercado enquanto o hub “parceiro” fornece conexões noturnas. Corroborando com Oum e Park, o autor Dennis (2000), possui uma visão semelhante no que se trata à abrangência da malha internacional. As grandes alianças poderão vir a encontrar certa atratividade em várias localidades no mundo que atualmente não são classificadas como sendo grandes hubs para as suas empresasmembro, mas que em contrapartida possuem um mercado com tamanho considerável para determinadas rotas. No que concerne à abrangência da malha a expansão das 106 alianças para hubs secundários pode oferecer desafios para as incumbentes rivais. Ao se definir as prioridades para a confecção e o desenho da malha aérea, os hubs secundários podem desempenhar um papel importante e assim permitir a criação de conexões extras e gerar um incremento no fluxo de passageiros. Um outro fator que pode ser visto como vantagem ao estabelecer operações em hubs secundários são as instalações e os recursos aeroportuários, que apresentam menos restrições de slots e terminais que os grandes hubs. Os tipos de malha, assim como a coordenação de linhas e horários são fatores cruciais para determinar a efetividade da malha aérea da aliança. A competição em si não é mais percebida entre as empresas aéreas, individualmente, mas sim entre os grandes grupos de empresas (networks versus networks) (Gomes-Cassares,1994 apud Gudmundsson & Lechner, 2006). A figura 5.2 ilustra que as mudanças nos tipos de malhas predominantes vêm ocorrendo pari-passu aos acontecimentos macroeconômicos que possuem influencia direta na aviação global. Figura 5.2 – Evolução da Malha Fonte: YERGIN et al (2000) citando Cambridge Energy Research Associates As alianças materializam suas malhas através da coordenação entre os vôos em 107 code-share e as demais conexões existentes. Assim sendo, a “grande” malha (network) deve ter como objetivos a minimização da não-utilização (ociosidade) de suas aeronaves e a oferta de um produto mais valioso aos seus passageiros. Neste caso, dois fatores devem ser levados em consideração (HOLLOWAY, 2001): (a) o tempo de duração e os horários dos vôos propriamente dito, devido principalmente aos aspectos de conectividade como será visto posteriormente, e (b) a quantidade de vôos ofertados, pois do ponto de vista da demanda, um aumento no número de freqüências reduz o tempo de espera do passageiro (isso pode ocorrer não necessariamente na rota em code-share mas sim nos vôos que alimentam essa rota). 5.3 ASPECTOS DE CONECTIVIDADE A terceira variável identificada, aspectos de conectividade é um complemento da variável anterior. Não faz sentido uma empresa expandir sua malha através de uma aliança global ou de acordos de cooperações se suas malhas não estiverem interligadas entre si, permitindo o fluxo eficaz de passageiros e reduzindo os intervalos de conexão. De acordo com Stemmer (2001), os diversos aspectos da conectividade de um sistema são: Endereçamento – dada a possibilidade de interligação, torna-se necessário a definição de uma política de representação de nomes e endereços dos processos, que sejam reconhecidos em qualquer ponto da rede; Encaminhamento das mensagens – é necessário a disponibilização de equipamentos de interconexão; 108 Fragmentação de mensagens, controle de erros, tipo de serviço, nível de interconexão, controle de fluxo, controle de congestionamento, segurança e tarifa de serviço. Na aviação a conectividade pode ser definida com uma rede baseada em centros de convergência de tráfego (hubs) através de uma malha radial (spokes) com destinos primários e secundários. Partindo do princípio de que a escolha do passageiro reflete no tempo de viagem e que esse tempo de viagem pode ser aumentado devido ao número de escalas e conexões do vôo, um outro aspecto de relevada importância é a otimização das conexões de passageiros nas duas pontas de uma determinada rota. A elaboração de hubs (nós) de conexões tem sido desenvolvida por várias transportadoras. Tais hubs derivam de um método eficiente no aumento da amplitude dos mercados aos quais as companhias servem (SILVEIRA, 2002). Um método para se avaliar as possíveis conexões é o da utilização de dados de movimento de aeroportos. Com um relatório de movimento de passageiros nos aeroportos, pode-se observar quais os vôos que chegam e quais os que partem de determinada localidade. A partir de então, considerando-se a restrição de tempo mínimo de conexão (MCT-Minimun Connections Time) do aeroporto em estudo, chega-se ao tempo máximo que o passageiro admitiria esperar por uma conexão. Considerando também outras restrições, são criadas então, as possíveis conexões entre os vôos e as necessárias alterações na malha (SILVEIRA, 2002). Considerando a complexidade da malha de um serviço oferecido com o code- 109 share, os tipos de serviços podem ser classificados como (BEYHOLF, 1995): Vôos gateway-to-gateway; Vôos domésticos conectando com um vôo internacional; Vôos internacionais conectando com um vôo doméstico; Vôos internacionais conectando com outro vôo internacional: (a) dentro de um terceiro país, (b) via um terceiro país. Na figura a seguir, são ilustradas hipoteticamente as opções de tráfego entre os “países” X e Y. Os vôos compartilhados com uma conexão apenas podem ser oferecidos entre A e Y ou entre B e X. As empresas parceiras tentam integrar as suas redes da melhor forma possível para atender as várias combinações de itinerários existentes, como de X para Y, por exemplo. Contudo, a extensão de tal serviço depende da arquitetura da malha em viabilizar as conexões. Além do mais a aprovação de um terceiro país envolvido pode ser requisitada se o segmento alémgateway pertencer a um vôo internacional. Mesmo oferecendo o melhor serviço sob a ótica dos passageiros, esses mercados com dupla-conexão (X-Y) oferecidos pelas parcerias em code-share podem sofrer competição de outras empresas aéreas, através de operações em diferentes gateways. 110 Figura 5.3 – Possibilidade de Itinerários Gerados pelo Code-Share Fonte: adaptado de SPITZ, W. in: Handbook of Airline Marketing (1998) Os vôos compartilhados não dependem somente dos acessos aos hubs, mas também da habilidade de cada parceira em fornecer tempos mínimos de conexão. Às vezes isso não é possível em todos os aeroportos secundários e/ou terciários (alguns deles conectam apenas para um determinado hub) ou em situações onde as conexões não podem ser feitas devido às restrições de horários e slots. De acordo com Dennis (2000), a cobertura geográfica fornecida por cada uma das localidades onde os hubs estão situados é crucial. Há poucos hubs que, sozinhos, podem vir a servir um continente inteiro, como Londres, por exemplo. Apesar de teoricamente servir um grande número de mercados, mega-hubs podem trazer deseconomias devido aos picos excessivos de demanda em horários de grande procura e à extensiva rotatividade de aeronaves e aos tempos de conexão. Acrescentando, passageiros têm aversão a grandes circuitos dentro dos aeroportos, o que provavelmente ocorre nos grande hubs. Pequenos aeroportos podem fazer papel de hub para um pequeno nicho de mercado, como por exemplo, o aeroporto de Lisboa, para o tráfego Europa- 111 América do Sul (CAVES, 1997 apud DENNIS, 2000). Ainda segundo o autor supracitado, a eficiência no qual uma malha é coordenada no hub ao oferecer as melhores conexões possíveis tem um grande impacto na competitividade. A Tabela 5.1 ilustra como uma conexão simples de um trecho “short-haul” (curta distância) para um trecho “long-haul” (longa distância) pode levar 12h de duração na melhor hipótese, incluindo o tempo de transferência de apenas 1h no hub – tempo igual ao Tempo Mínimo de Conexão (MCT) para as viagens internacionais. Com o vôo long-haul operando diariamente e o serviço short-haul a cada 4h, o passageiro irá, contudo, ter de esperar uma média de 2h para pegar o vôo de conexão quando os horários não coincidem. Na pior hipótese, quando os vôos se perdem (não casam), um atraso extra resultará em 4h a mais para pegar a conexão, estendendo o tempo total da viagem para 16h. 112 Tabela 5.1 - Impacto da Conectividade no tempo total da viagem Hipóteses (a) Conexão Simples: A-X X MCT X “Atraso” X-B Total 2 1 0 9 12 (b) Dupla Conexão: A-X X MCT X atrasos X-Y Y MCT Y “Atraso” Y-B Total Boa A-X-B (h) Media Ruim 2 1 2 9 14 2 1 4 9 16 2 1 2 8 1 2 2 18 2 1 4 8 1 4 2 22 A-X-Y-B (h) 2 1 0 8 1 0 2 14 Observações: a) “Atraso”significa o tempo despendido além do tempo necessário para o MCT de 1h. b) Na conexão simples, nas ligações “short-haul” A-X, Y-B assume-se operações a cada 4h. c) Na dupla conexão, nas ligações de “long-haul”, assume-se operações 1 vez ao dia. Fonte: adaptado de DENNIS (2000). Contrariamente à uma malha simples com um único hub, há muitas possibilidades de viagens dentro de uma malha complexa de uma aliança que requer conexões duplas em diferentes hubs, servindo regiões geográficas distintas. Isto pode ser chamado de “valor adicional” da aliança, se comparada às malhas individuais das empresas aéreas. Como um exemplo disso pode-se citar que 40% de todo o tráfego que passavam pelos hubs da aliança KLM/Northwest realizou uma conexão dupla (WHITAKER, 1996). Nesse contexto, uma malha com vôos aleatórios (ou seja, não programados para que possam conectar com demais vôos) comprova uma grande sobrecarga para os passageiros, como mostrado na tabela 5.1 (b). A tabela ilustra o exemplo que uma viagem “long-haul” com um trecho alimentador de curta distância em cada ponta da viagem (A-X-Y-B), utilizando o critério similar a Tabela 1 (a) assumindo Y situado entre X e B. A viagem mais curta possui duração de 14h , com duas transferências de 1h cada. Na hipótese média, a viagem terá 18 horas de duração, e no pior cenário chega a tenebrosas 22 h de duração para uma viagem que 113 possui 12 horas de vôo. É considerável notar que uma viagem de conexão dupla pode atingir o mesmo tempo de uma viagem com conexão simples no cenário médio (14h), o que significa que uma malha intercontinental limitada confeccionada com hubs regionais (secundários) eficientes pode ser eficaz (como apontado no item anterior) ao servir vários pontos através de um grande hub sem aspectos de conectividade. São os hubs que desempenham o papel principal ao integrar as redes de uma aliança (HANLON, 1996 apud DENNIS, 2000). Contrariamente às empresas americanas, que levaram anos para refinar as suas estratégias em seus principais hubs, as demais empresas tendem a concentrar as suas rotas em um único hub em seus países de origem (no Brasil, por exemplo, essa concentração da demanda internacional está no aeroporto de Guarulhos). As alianças internacionais interligam vários hubs situados em lugares diferentes, os quais necessitam funcionar efetivamente, não somente como base individual de cada empresa parceira, mas também fazer parte de uma malha integrada (DENNIS, 2000), como já ilustrado na figura 5.2. O tempo de espera nos hubs pode ser minimizado se a malha possuir um grande número de chegadas de vôos programados em sucessão, seguidas pelo intervalo necessário para redistribuir passageiros e suas bagagens, para um número similar de partidas. Esta estratégia, portanto, torna-se mais importante no contexto da malha de uma aliança do que a estratégia individual dos hubs. Contrariamente a uma tabela de horários de vôos construída aleatoriamente, a malha pode ser desenhada para 114 assegurar que uma gama sistemática de conexões será fornecida entre os mercadosalvo. 5.4 FLUXO DE TRÁFEGO DE PASSAGEIROS A demanda por transportes pode ser definida como um potencial de fluxo de tráfego. Este potencial é relatado por si próprio à produção e consumo das atividades entre A e B, ou ainda, em geral, a qualquer atividade socioeconômica (KANAFANI, 1983). Segundo Novaes (1986): “O consumo de um serviço de transporte é composto por uma série de decisões em cascata, que não pode ser encarado de forma concentrada em um único momento”. Complementando, a demanda por serviços de transporte aéreo é diretamente derivada do nível de atividade econômica e altamente dispersa no espaço e no tempo, podendo, inclusive variar significativamente ao longo de um único dia, o que significa que pode ser amplamente segmentada, permitindo às companhias aéreas ofertar um serviço altamente diferenciado. Novaes diz ainda que, é necessário decompor o processo de decisão em grupos hierárquicos seqüenciais: 1) Se o usuário vai ou não executar o deslocamento 2) Qual o local de destino, ou quais as opções de destino 3) Quando será realizado o deslocamento 4) Qual o meio de transporte a ser utilizado 5) Qual a rota a ser utilizada 115 O entendimento a respeito do comportamento da demanda por transportes é vital tanto para empresas privadas operantes quanto para o Poder Público. No caso das empresas privadas, tal entendimento, quanto mais aprofundada for, mais chance de sucesso terá o planejamento estratégico das empresas. Como o setor aéreo é especialmente marcado pela competitividade, as empresas atuantes precisam antever, da forma mais coerente possível, a evolução da demanda, sob pena de ficarem à margem do mercado (SIMÕES, 2006). No caso das grandes alianças, estas devem estar atentas às verdadeiras origens e aos verdadeiros destinos dos passageiros que realizam a viagem, e não apenas à oferta de vôos nas linhas-tronco. Por essa razão, a conectividade da malha se torna fundamental, a fim de permitir o maior fluxo de passageiros possível. Sob a ótica econômica, GHOBRIAL e KANAFANI (1995) propõem a comparação entre a demanda e o nível de consumo de um serviço ou bem de acordo com a oferta disponível. Assim, um aumento no consumo de passagens propiciará um aumento na oferta de serviços de transportes (SIMÕES, 2006). Como demonstrado anteriormente na figura 5.3, a oferta em vôos em codeshare pode vir a proporcionar várias combinações de rotas além da oferta na linhatronco, dependendo obviamente dos aspectos de conectividade entre os vôos. Se o code-share oferecer benefícios tangíveis aos consumidores, a demanda poderá crescer, e a empresa estará apta a tirar vantagens das economias de escopo e de densidade. Os benefícios podem tomar vários formatos, dependendo de quais atividades as empresas acordaram em oferecer em conjunto com o compartilhamento de códigos designadores. Isto pode incluir mais conexões com um menor tempo de duração devido aos ajustes de horários, facilidade de reservas e emissão de bilhetes, 116 gates (portões) de conexões mais convenientes nos aeroportos, agilidade no manuseamento de bagagens e aumento nos benefícios dos programas de milhagens. As empresas aéreas com uma malha muito extensa possuem influencia direta na demanda refletindo uma maior atratividade para os passageiros que acumulam benefícios nos programas de fidelidade. As alianças oferecem mais oportunidades para o acúmulo de pontos, assim como para gastá-los. Como os programas de fidelidade se tornaram muito populares, a atratividade dessas empresas ao expandir suas malhas através das alianças conjuntamente com vôos em código compartilhado possui destaque na decisão do passageiro. O incremento de demanda pode acontecer tanto no trecho direto (linha-tronco) quanto nos mercados além-gateways (tráfego behind e beyond ou feeder e fed by). As companhias também podem ganhar acesso a mercados entre seus gateways e um número de destinos além-gateway de um terceiro país1. Quando isto acontece, o número de verdadeiras origens e verdadeiros destinos e/ou city-pairs servidos cresce expressivamente. A identificação de uma demanda latente2 através de pesquisas de fluxos de passageiros que podem ser obtidas através de dados da reserva nos CRS (como veremos adiante), que contém as verdadeiras origens e os verdadeiros destinos dos passageiros. Através da identificação desse fluxo, as empresas podem coordenar entre si quais vôos devem ser compartilhados com o objetivo de capturar os tráfegos behind e beyond, ou seja além-gateways. Para ilustrar o que foi mencionado no parágrafo anterior, pode-se citar o caso 1 Isso pode ocorrer, dependendo do tipo de acordo bilateral assinado entre os países signatários. A demanda latente ocorre quando oferece-se subitamente uma nova opção de transporte e a tendência é uma expansão acentuada na demanda. Em geral, este desenvolvimento inicial é muito rápido (SIMÕES, 2003). 2 117 da parceria dos vôos em code-share entre a United Airlines e a Lufthansa antes mesmo de tornarem-se empresas membro da Star Alliance. A parceria entre United Airlines e Lufthansa iniciada em outubro de 1993, permitiu à United Airlines o acesso e a entrada em novos mercados na Europa Oriental via o hub de Frankfurt. Na linha-tronco Chicago-Frankfurt, o tráfego além-gateways mais do que triplicou como resultado das conexões disponíveis tanto em Chicago quanto em Frankfurt. Entre 1993 e 1998 o tráfego diário de passageiros que realizavam conexões cresceu de aproximadamente de 200 passageiros para 600, enquanto que o tráfego local cresceu em proporções menores. Com a identificação do rápido crescimento deste tráfego fez com que a United Airlines e Lufthansa aumentassem seus vôos compartilhados de duas freqüências em 1996 para quatro freqüências em 1998 (DOGANIS, 2001). Acrescentando, alguns estudos prévios realizados pelo USDOT em 1986 (DOGANIS, 2001), mostram que os consumidores acreditam que conexões da mesma empresa aérea: (1) as distâncias entre os portões de embarque nos terminais aeroportuários são mais curtas, facilitando as transferências nas conexões, e (2) é menos provável que ocorra perda de bagagem. Conseqüentemente, os vôos em codeshare tornam-se mais atrativos aos olhos dos passageiros. A partir do momento em que o code-share gera o crescimento do tráfego, as companhias envolvidas podem atingir economias de densidade a carregar mais passageiros, e a gerar o uso intensivo dos custos fixos das aeronaves. Estes resultados alcançados podem reduzir os custos incrementais da implementação de novos serviços aéreos para o mercado internacional. Com as grandes alianças operando em cada região do mundo, a vantagem 118 competitiva pode ser obtida ao oferecer uma ampla gama de destinos, um notável número de freqüências e o tempo mais curto de viagem. Estes fatores, juntos, são fortes direcionadores para o aumento da demanda e o conseqüente aumento de market-share (Proussaloglou and Koppelman, 1995 apud Dennis, 2000). De acordo com a figura 5.4 abaixo, pode-se ter uma idéia aproximada que 64% da demanda mundial de passageiros viajaram através de empresas participantes de alguma das alianças globais (dados anualizados tendo como base o mês de 2005): Outros 12% Star Alliance 25% Oneworld 18% Sky Team 22% Figura 5.4 – Market-Share das Alianças Globais Fonte: WATS – IATA, base maio de 2005 Como é constatado na tabela 5.2, há uma concentração de passageiros entre as empresas que participam das grandes alianças globais, seguidas por mais sete empresas aéreas. Juntas, são responsáveis por transportar 76% fluxo mundial. 119 Tabela 5.2 – Ranqueamento das Alianças / Empresas Aéreas no Tráfego Mundial Alianças / Empresas RPK (000) (%) Star Alliance 752.698 25% Sky Team 642.305 22% OneWorld 529.614 18% Japan Airlines International 94.806 3% China Southern Airlines 54.090 2% Emirates 48.749 2% Air China Limited 46.052 2% Malaysia Airlines 42.661 1% America West Airlines 37.524 1% Virgin Atlantic 30.223 1% 2.278.722 76% Top 10 2.987.324 Total IATA Fonte: WATS – IATA, base maio de 2005. Tráfego Doméstico e Internacional Ranking 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A tabela 5.3 mostra a evolução do market-share de algumas rotas entre a Europa e os EUA na década de 90. É evidente a perda de fatia de mercado da empresa American Airlines nas quatro rotas enumeradas abaixo, quando esta sofre concorrência direta da parceria da United Airlines e Lufthansa nas rotas de ChigagoDusseldorf e Miami-Frankfurt. No primeiro caso a empresa perde 100% do tráfego. Em Miami-Frankfurt o comportamento é um pouco diferente, pois observa-se que as empresas parceiras já operavam nesta rota. A American Airline, decide entrar para concorrer, porém não obteve muito êxito, resistindo até 1997 com uma baixa fatia do mercado. Em 1998, a referida empresa deixa de operar nas quatro rotas, perdendo gradualmente o mercado para as empresas que operam em parcerias. Apesar de não estar voltada para os dias atuais, a idéia dessa tabela é mostrar o que acontece com o tráfego de passageiros antes e depois da entrada de uma aliança em uma determinada rota, e o impacto na mudança do comportamento do fluxo de passageiros e na concorrência entre as empresas. 120 Tabela 5.3 – Evolução do Market-Share das Alianças Entre Empresas NorteAmericanas e Européias nas Rotas do Transatlântico Mercado 1994 1995 1996 1997 1998 (%) (%) (%) (%) (%) Chicago - Dusseldorf American Airlines 100 100 0 0 0 United/Lufthansa 0 0 100 100 100 Miami - Frankfurt American Airlines 0 36 15 0 32 United/Lufthansa 95 64 85 100 68 Nova Iorque (JFK) - Zurich American Airlines 38 29 28 0 2 Delta/Swissair 62 71 72 100 98 Nova Iorque (JFK)-Bruxelas American Airlines 43 44 18 0 27 Delta/Sabena 45 49 71 87 61 Outras Cias 12 7 11 13 12 Fonte: DOGANIS (2001), citando Merrill Lynch (1999), grifos da autora. 5.5 VISIBILIDADE DOS VÔOS NOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO A visibilidade nos canais de distribuição foi a quinta variável apontada como mais importante para as empresas ao optarem fazer parte de um code-share. Essa variável está intrinsecamente interligada com todas as quatro descritas acima, pois é através dos sistemas canais de distribuição (mais conhecidos como CRS) que os vôos são disponibilizados (oferta: abrangência da malha e aspectos de conectividade) e comercializados aos passageiros (permite ver a disponibilidade para o fluxo de passageiros behind e beyond que por sua vez gera uma receita incremental), mesmo que indiretamente (via agentes de viagem). Os CRS ou GDS (Global Distribution System) são sistemas mundiais de distribuição, os principais canais de vendas de bilhetes das companhias aéreas e de outros produtos turísticos, como por exemplo, a acomodação em hotéis, locação de veículos, pacotes turísticos, cruzeiros marítimos, em um ambiente automatizado. São 121 caracterizados como redes compartilhadas com milhares de usuários que constituem um segmento específico (fornecedores, agentes de viagens e viajantes) (COLLIER, 1989). O conceito de distribuição no transporte aéreo pode ser definido como a oferta dos produtos da empresa aérea em vários pontos do mundo, mediante a sua participação nos CRS existentes. O crescimento do número de passageiros transportados, no final da década de 50, obrigou as companhias aéreas a criar e a aperfeiçoar mecanismos que permitissem controlar a ocupação do espaço a bordo (assentos disponibilizados para venda). Os CRS criaram estes mecanismos proporcionando a automatização das companhias aéreas, e como conseqüência, ofereceram seus sistemas internos aos agentes de viagens (canal alternativo de distribuição naquela época) (COLLIER, 1989). As informações, tais como: horários, disponibilidades, cotação de tarifas de serviços turísticos em todo o mundo; reservas de assentos e alimentação especial; venda e emissão de bilhetes aéreos; podem ser encontrados pelos clientes nas agências de viagens através dos CRS. Além disso, as companhias aéreas as combinam para desenvolver informações completas de vendas, por agências, para cada mercado específico, podendo assim estimar seu market-share e determinar políticas comercias de vendas. Tais informações também permitem saber o fluxo turístico de passageiros para diversas origens e destinos no mundo, e conseqüentemente, as empresas podem planejar com mais precisão sua malha de programação de vôos de forma a melhorar sua conectividade e atender com mais 122 eficiência aos passageiros. Os CRS fizeram com que a comercialização dos bilhetes aéreos tivesse grande capilaridade. A necessidade de atingir um número cada vez maior de passageiros aliada à automatização dos agentes de viagem, criando uma grande rede, fez com que os pontos de vendas se multiplicassem pelo mundo inteiro, inclusive em lugares em que a companhia aérea não tinha o seu próprio ponto de representação de vendas. Desde o surgimento dos CRS, as companhias aéreas revelam alto grau de dependência, tanto por ser o melhor sistema para organizar o processo de reservas em tempo real, quanto pelas grandes facilidades e oportunidades de geração de receita que esses sistemas possuem. Antes do seu surgimento, as empresas aéreas efetuavam a distribuição de seus produtos apenas por intermédio de suas lojas, de sua central de atendimento de reservas e demais setores de vendas. Nos CRS são encontradas informações como a complexidade da política de preços (pricing) das companhias aéreas: diferentes tarifas para diferentes itinerários; restrições tarifárias; mudanças contínuas nas tarifas; mudanças contínuas nas malhas e nas disponibilidades de assentos; programas de milhagens; conexões e; principalmente os vôos em code-share. São nos CRS que as empresas colocam o produto de suas parcerias para o mercado. Os sistemas CRS desempenham um importante papel no processo intermediário da cadeia produtiva de um vôo em code-share, como ilustrado na figura 5.5: 123 Negociações da parceria do code-share Criação dos Vôos ou Inserção dos Códigos Designadores Disponibilidade Compra e Realização dos Vôos para a Emissão dos do venda nos CRS Bilhetes Vôo Figura 5.5 – CRS na cadeia produtiva do code-share Na prática, através dos CRS, o code-share também pode ser usado para mostrar conexão de vôos entre duas empresas como se estas oferecessem um único vôo, e disponibilizar para vendas esses vôos objetivando atender às preferências dos passageiros ao reservarem vôos de conexão na mesma companhia aérea (Hannegan & Mulvey, 1995 apud Evans, 2001), mesmo que fisicamente isso não seja verdade. Assim sendo, a empresa interline (aquela que não oferece a ligação direta) é exibida como sendo online, como se oferecesse o vôo direto, sem conexões. Uma grande vantagem do code-share é acentuar a posição dos vôos de conexão nos CRS. Desde que (foi descoberto) que a maioria das reservas realizadas por agentes de viagens são feitas na primeira tela de exposição do sistema, e acrescentando ao fato de que os vôos são listados numa ordem lógica do menor tempo de viagem existente para o maior (com vôos diretos mostrados primeiramente, seguidos por vôos com escalas intermediárias, posteriormente por vôos de conexão, seguido por outros serviços), o tempo mais curto de conexão dos vôos que compartilham o mesmo código designador são movidos para as primeiras posições nas listas dos CRS, fornecendo assim poderoso incentivo de vendas (FRENCH, 1997 apud EVANS, 2001). 124 6. CONCLUSÃO Buscou-se efetuar, na presente dissertação, uma investigação qualitativa dos principais motivos que conduzem as companhias aéreas a realizarem acordos de código compartilhado, ou code-share, dentro do contexto da formação de alianças globais no mercado internacional de passageiros. Tal análise foi motivada pelas mudanças a qual a aviação mundial vem passando devido às mudanças sócioeconômicas e seus respectivos impactos. O século XX presenciou diversas transformações no mundo e na sociedade. A globalização e a liberalização dos mercados mundiais lançaram o transporte aéreo num intenso ambiente competitivo: atualmente, a indústria da aviação é caracterizada por acordos (em sua grande maioria, bilaterais) e grandes alianças. A associação com empresas dominantes em suas áreas geográficas, através de acordos de parcerias é uma estratégia que permite manter a competitividade, a conquista de novos mercados, e a presença em mercados onde as empresas aéreas não operam com suas próprias aeronaves. O surgimento de alianças estratégicas entre empresas aéreas decorreu, principalmente, da desregulamentação no mercado norte-americano em 1978, quando as companhias perderam, em parte, a suposta proteção dada pelo governo ao setor. E a partir de um novo contexto que se formava naquela época, as alianças começaram a desempenhar um papel de fundamental importância, proporcionando ganhos de escala, e acesso a mercados cujas operações não seriam viáveis do ponto de vista econômico. Já no Continente Europeu, o grau de concentração se intensificou (a partir da experiência norte-americana as empresas européias tinham 125 ciência do fenômeno de crescimento da concentração do tráfego de passageiros entre as empresas de maior porte) devido à própria formação de alianças entre as companhias européias, à aquisição acionária, à compra de empresas menores e à idéia de implementar um mercado competitivo único entre os países da União Européia para fazer frente aos Estados Unidos na rota mais densa do mundo – o Atlântico Norte. Com o objetivo de posicionar-se globalmente, as empresas européias começaram a faze alianças com outras empresas externas ao bloco econômico. Assim sendo, o processo de desregulamentação européia contribuiu fortemente para a formação e consolidação das grandes alianças globais. Como ocorre também em outros setores, na aviação há uma forte tensão existente entre as regras existentes e as exigências do novo mundo globalizado. Tal fato deve-se à interligação das empresas aéreas com o Estado, principalmente no que concerne à infra-estrutura aeroportuária e ao tráfego aéreo, do qual as empresas dependem. As tensões entre as regras existentes (o regime que norteia a aviação internacional teve suas origens na Convenção de Chicago de 1944) e as necessidades do mercado são grandes. As mudanças trazidas pela globalização estão levantando questões sobre as empresas aéreas: agentes reguladores, o setor da aviação e o público que esta serve são indagados a pensar sobre competição, escalas, qualidade do serviço, concentração e consolidação da indústria não apenas sob o tradicional ponto de vista dos seus mercados nacionais como também sob um ponto de vista global no contexto de competição entre grandes redes. A formação das alianças reflete o esforço da empresas para desenvolverem suas redes naturalmente, dentro dos limites impostos pela regulamentação governamental. Os obstáculos regulatórios inerentes ao setor impedem o acesso a recursos e a 126 mercados globais por meio de aquisição de instalações de aeroportos ou de empresas domésticas de transporte aéreo em outros países. Conseqüentemente, as alianças tornaram-se um mecanismo crucial para que as empresas de transporte aéreo absorvessem essas externalidades na forma de fluxos de tráfego internacional (LAZZARINI & JOAQUIM, 2004). Como uma resposta a esses entraves regulatórios, o code-share foi lançado no ambiente internacional. Vale ressaltar mais uma vez que os acordos de code-share podem ser operacionalizados não necessariamente entre empresas-membro da mesma aliança global. Entretanto, o formato em code-share é a estratégia mais utilizada para a “materialização” de uma aliança. Atualmente, existem três grandes alianças globais – Star Alliance, Oneworld e Sky Team –, que envolvem 37 empresas, transportam aproximadamente 1,05 trilhões de passageiros ao ano e concentram 64% do tráfego aéreo mundial. O objetivo dessa dissertação foi identificar e analisar qualitativamente as variáveis relevantes para a tomada de decisão ao efetuar operações em code-share no mercado internacional. Para a elaboração desta pesquisa foram enviados questionários a especialistas do setor atuantes em diversas áreas na aviação. Previamente, foram enumeradas dez principais variáveis as quais os respondentes necessitavam escolher cinco delas. As conclusões obtidas na tabulação dos questionários apontaram, nesta ordem, para: receita incremental, abrangência da malha internacional, aspectos de conectividade, fluxo de passageiros e visibilidade nos canais de distribuição. Não é de se estranhar que a variável receita incremental tenha obtido o maior grau de 127 pontuação. Observando por esse ângulo, é possível argumentar que se as empresas conseguem uma negociação atraente com as demais congêneres e/ou parceiras, por conseguinte há: a expansão de sua oferta com uma maior abragência de atuação em novos mercados; uma malha que possua boas conexões para os demais destinos permitindo um fluxo de alimentação de passageiros nas duas pontas (e o conseqüente aumento do tráfego na rota), e; a visibilidade do “seu produto” em várias partes do mundo devido à grande capilaridade dos sistemas globais de distribuição (permitindo um incremento nas vendas tanto na rota principal quanto nos trechos behind e beyond), os benefícios dos acordos serão quantificáveis em termos da receita incremental trazida pela parceria. Nesse sentido é importante atentar também para o custo de oportunidade ao tomar a decisão de transportar um passageiro viajando na rota principal em detrimento daquele que irá continuar sua viagem e realizar conexões com as empresas parceiras. Há que salientar que as conclusões obtidas no trabalho são muito específicas visto que essa dissertação é orientada para os profissionais das empresas aéreas (que correspondem a 70% dos respondentes da pesquisa). Cabe ressaltar também que um maior detalhamento das variáveis não foi possível devido à falta de estudos realizados, no Brasil, referentes ao tema deste trabalho e também à necessidade de dados de pelo menos duas empresas aéreas que estivessem envolvidas em um codeshare no mercado internacional envolvendo rotas brasileiras. A discussão assim se tornaria mais rica e mais consistente, podendo haver inclusive uma análise quantitativa. Contudo, mesmo com tais limitações encontradas em seu desenvolvimento, esta dissertação busca também servir como referência teórica para estudos futuros. Uma lista de sugestões é apresentada a seguir. 128 6.1. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS No decorrer desta dissertação foi possível detectar algumas dificuldades ou lacunas, que poderiam vir a tornar-se temas de trabalhos futuros. Na percepção da autora, são listadas a seguir algumas sugestões para a realização de trabalhos semelhantes ou complementares a este: Devido às dificuldades de se obter dados relativos a uma rota específica, recomenda-se que a análise qualitativa das cinco variáveis seja aplicada a um estudo de caso específico em uma ou mais rotas internacionais que sirvam ao mercado brasileiro; Como analisado no capítulo 5, os acordos de parcerias visam principalmente complementar as redes das companhias e multiplicar as suas oportunidades de tráfego e de geração de receita. Entretanto, para avaliar se devem ou não efetuar operações conjuntas, recomenda-se um estudo que proporcione a quantificação das variáveis apontadas pelos especialistas, sobretudo indicadores de desempenho que mensurem os benefícios desse tipo de operação conjunta. Ao mensurar-se o desempenho de uma aliança estratégica, os resultados em termos de vendas e lucratividade tornam-se cruciais. Sem a devida mensuração, fica subentendida a questão se a aliança é ou não competitiva. Recomenda-se também um estudo de caso, onde seja elaborada uma análise comparativa (com os valores quantificados) das variáveis apontadas nesta pesquisa, assim como os impactos do “antes” e “depois” de uma ou mais rotas ao fazer parte de um code-share, quer sejam: benefícios para os passageiros; benefícios para as empresas aéreas; aumentos ou decréscimos das tarifas; concentração do tráfego e evolução do market-share e no capacity-share das 129 empresas; intervenção governamental, dentre outros. Além das variáveis, é recomendado um estudo onde seria avaliado o impacto do code-share nas economias de escala, escopo e de densidade nas empresas parceiras; Um aspecto não retratado na dissertação, mas que é válido salientar para trabalhos futuros é o novo formato de competição. Vale ressaltar que mesmo em parceria, as companhias ainda apresentam certo grau de rivalidade. O compartilhamento dos vôos gerou uma nova forma de competição não mais por rotas, mas sim pela força de vendas de cada empresa. A nova estratégia de competição pode vir a revelar indícios de uma melhor coordenação da política comercial. Já que a freqüência de vôos passou a ser acordada para os trechos em acordo (dentro das cláusulas dos acordos bilaterais), a disputa entre as companhias pelos mercados pode ser acirrada através de variações nos níveis de preços finais aos passageiros e também pela diferenciação de outros atributos do produto oferecido por cada empresa, como por exemplo, pontualidade, a regularidade, a qualidade dos serviços percebidos pelos passageiros, a facilidade na aquisição das passagens aéreas, programas de milhagens, dentre outros mais. No âmbito da regulamentação internacional, é recomendado avaliar o impacto da criação de subsidiárias em outros países, como por exemplo, o Grupo LAN que atualmente abrange a LAN Chile, a LAN Peru, a LAN Equador e a LAN Argentina e que também pertence a uma grande aliança global (Oneworld). Qual seria o papel desempenhado por um grupo menor ou regional dentro de uma aliança global? Qual a influência desse tipo de aliança dentro da América do Sul para o tráfego internacional de passageiros brasileiros? Tomando como exemplo do que recentemente aconteceu no continente 130 europeu, recomenda-se também avaliar o impacto de uma fusão entre duas empresas (Air France e KLM) pertencentes à mesma aliança (Sky Team). Será que futuramente as fusões seriam o próximo passo para uma concentração ainda maior da aviação mundial em uma época pós-alianças? Como as alianças e as prospectivas fusões irão interagir? Ou melhor: irão interagir? É recomendado explorar o ponto de vista dos passageiros. Quais são suas percepções? As alianças lhes proporcionam mais benefícios do que num cenário onde as empresas competiam entre si? Ou a oferta de mais destinos proporcionados pelas alianças possui um peso maior na sua percepção? É importante ressaltar que as recomendações propostas não são estanques, uma vez que o transporte aéreo está intimamente interligado com as oscilações econômicas mundiais e é altamente dependente da regulamentação internacional. Contudo, há a necessidade do desenvolvimento de pesquisas que possam não só aprofundar as questões aqui levantadas, mas que possam também desenvolver novas idéias para a sustentabilidade do mercado internacional brasileiro principalmente pelas empresas nacionais. Desde a ruptura das redes internacionais devido à crise financeira presenciada pela empresa que possuía a maior fatia do mercado internacional dentre as companhias nacionais, há a forte probabilidade de que o tráfego internacional tenha migrado para as congêneres estrangeiras. Esta possível migração, provavelmente vem impactando no comportamento do fluxo de passageiros e na projeção de atuação das alianças nos mercados de/para o continente sul-americano. 131 7. BIBLIOGRAFIA AIR TRANSPORT WORLD (2007). 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Disponível em: <http//www.skyteam.com> 137 APÊNDICE 138 Apêndice 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COORDENAÇAO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA PROGRAMA DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES – PET/COPPE/UFRJ DÉBORA MACHADO DE SOUZA SILVEIRA Mestranda em Engenharia de Transportes Dissertação de Mestrado: ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DAS ALIANÇAS INTERNACIONAIS ENTRE EMPRESAS DE TRANSPORTE AÉREO QUESTIONARIO DE CONSULTA A ESPECIALISTAS OBJETIVO: O presente questionário tem como objetivo tomar conhecimento acerca das opiniões de especialistas em transporte aéreo sobre quais variáveis teriam um maior peso para analisar os benefícios que uma aliança global (Star Alliance, One World, Sky Team) pode propiciar às companhias aéreas. O estudo terá como referência/delimitação os vôos em code-share no mercado internacional de passageiros. I M P O R T A N T E: Os colaboradores desta consulta NÃO SERÃO IDENTIFICADOS na tabulação dos dados, na análise e tampouco na dissertação. DATA PARA RETORNO DO QUESTIONARIO RESPONDIDO: Pede-se que o questionário seja enviado a autora em até cinco dias após a data de recebimento do mesmo. SUA PARTICIPAÇAO É FUNDAMENTAL !!! Coloco-me à inteira disposição para eventuais dúvidas. Antecipadamente, agradeço a atenção, o tempo dedicado e sua participação nesta consulta. Atenciosamente, Débora Machado de Souza Silveira 139 1a Etapa: ESCOLHA DAS VARIÁVEIS Por favor, assinale as 5 (cinco) variáveis que julgar mais relevantes dentre as variáveis abaixo e que provavelmente devem possuir influência na decisão das empresas aéreas em efetuarem vôos em code-share (caso queira incluir uma ou mais variáveis, considere-as entre as cinco de sua escolha). ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) Receita Incremental Fluxo de Tráfego de Passageiros Variações dos Custos de Operação Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRSs) Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Ganho de Market-Share Qualidade do Serviço Oferecido Imagem da Empresa Aérea Outros. Especificar: _________________________________ Outros. Especificar: _________________________________ 2a Etapa: PESO DAS VARIÁVEIS Assinale o grau de importância das 5 (cinco) variáveis previamente escolhidas na primeira etapa. Tais variáveis, após serem tabuladas, serão inclusas para analisar os benefícios e/ou os impactos que os vôos em code-share no mercado internacional podem propiciar às companhias aéreas: Variáveis Receita Incremental Fluxo de Tráfego de Passageiros Variações dos Custos de Operação Abrangência da Malha Internacional (maior oferta de origens e destinos) Aspectos de Conectividade (diminuição dos tempos de conexão e sincronização de redes) Maior facilidade na Emissão de Bilhetes Visibilidade dos Vôos nos Canais de Distribuição (CRSs) Desempenho Econômico-Financeiro das Empresas Envolvidas Ganho de Market-Share Qualidade do Serviço Oferecido Imagem da Empresa Aérea Outros. Especificar:_________________________________ Outros. Especificar:_________________________________ Legenda: MI – Muito Importante; I – Importante; M – Média Importância; PI – Pouca Importância; SI – Sem Importância. MI I M PI SI 140 Apêndice 2 FEDERAL UNIVERSITY OF RIO DE JANEIRO TRANSPORTATION ENGINEERING PROGRAM DÉBORA MACHADO DE SOUZA SILVEIRA Master Science Candidate in Transportation Engineering Master Science Dissertation Theme: AN ANALYSIS OF THE BENEFITS OF INTERNACIONAL ALLIANCES TO AIRLINES QUESTIONNAIRE TO FOREIGN AVIATION EXECUTIVES AND SPECIALISTS OBJECTIVE: The main objective of this questionaire is to canvas the opinion of Foreign Aviation Executives and Air Transportation Specialists concerning which variables would be important in analysing the impacts and/or benefits that a Global Alliance (Star Alliance, One World, Sky Team) can provide to the Airlines. This study focuses on code-share flights in the international passenger market. IMPORTANT: Respondents to this questionairre do not need to identify themselves nor will they be identified in the dissertation. RETURN DATE: Please try to send completed questionnaires to the author within 5 (five) days of receipt. YOUR PARTICIPATION IS CRUCIAL FOR THIS RESEARCH !!! I would like to thank you in advance for your assistance. Yours sincerely, Débora Machado de Souza Silveira 141 1st Step : VARIABLE CHOICE Please mark 5 (five) variables that, in your opinion, are the most relevant of the variables listed below and which have the largest influence on the decision-making process regarding codeshare agreements between airlines. (If you would like to suggest other variables, please feel free to add them to the list, but include them in your five choices). ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) Increased Revenue Passenger Traffic Flows Savings In Operating Costs International Network Expansion (increase on number of city-pairs served) Connectivity Aspects (diminishing of connection times and network sincronization) Ticket Issuing Facilities Flight Visibiliy on Sales Distribution Channel (CRSs) Economic / Finanacial Performance of Airlines involved Market-Share Gain Quality Service Level Offered Airline Image Others. Specify: _________________________________ Others. Specify: _________________________________ 2nd Step: ATTRIBUTES OF THE VARIABLES Please mark the level of importance of the 5 (five) variables previously chosen by you in the fisrt step. The level of importance indicated will be used to analyse the benefits and/or impacts that code-share flights bring to the international aviation market, as well as the actual companies involved in the code-share.: Variáveis Increased Revenue Passenger Traffic Flows Savings In Operating Costs International Network Expansion (increase on number of city-pairs served) Connectivity Aspects (diminishing of times conection and network sincronization) Ticketing Issuing Facilities Flights Visibiliy on Sales Distribution Channel (CRSs) Economic / Finanacial Performance of Airlines involved Market-Share Gain Quality Service Level Offered Airline Image Others. Specify: _________________________________ Others. Specify: _________________________________ Legend: HI – High Importance; I – Important; M – Medium Importance; LI – Low Importance; NI – No Importance. HI I M PI NI 142 Apêndice 3 Taxa Média de Crescimento Anual – Brasil e o Mercado Internacional Fonte: WATS, IATA (2005) 143 Apêndice 4 TOP 30 Aeroportos Mais Movimentados no Mundo Fonte: AIR TRANSPORT WORLD, Fevereiro de 2007