Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
O CUSTEIO ABC COMO FERRAMENTA DE GESTÃO DE CUSTOS E CONTROLE
DOS PROCESSOS GERENCIAIS NO SETOR INDUSTRIAL: UMA DISCUSSÃO
TEÓRICA1
Andréa de Oliveira Lessa2
RESUMO
O atual mercado competitivo, onde as empresas estão inseridas, prioriza que os
gestores dêem maior importância às questões relativas aos custos da organização.
Essa é uma grande preocupação nas empresas do ramo industrial. Os custos
indiretos sempre representaram um fato complicador para as empresas, conseguir
apropriá-los aos portadores finais não é tarefa fácil diante da eterna arbitrariedade
dos sistemas convencionais, portanto, é necessária a implantação de um sistema de
custos em tais empresas, visando à obtenção de informações mais precisas
referente ao rateio de custos, ao processo de produção de seus produtos, aquisição
de mercadorias e venda do produto final. Neste contexto, o Sistema de Custeio ABC
(Activity-Based Costing), é baseado em uma estrutura funcional para alocação dos
custos indiretos de forma mais criteriosa e justa. O ABC é uma ferramenta para ser
utilizada nas empresas industriais, assim como nas comerciais e de serviços (se
necessário for), dessa forma é importante pesquisar sobre a funcionalidade desse
sistema. Neste sentido, o objetivo do artigo é verificar a eficiência da aplicação do
Sistema de Custeio ABC nas empresas industriais para melhor visão gerencial de
seus custos, principalmente relacionadas a tomadas de decisão. Será também
evidenciada a discrepância entre o ABC e o sistema Absorção. Para isso a pesquisa
foi feita de forma descritiva com base em bibliografias e foi dividida em 03 capítulos.
Palavras-chave: Sistema de Custeio ABC. Absorção. Direcionadores.
1
Artigo apresentado à Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe – FANESE, como requisito parcial e
obrigatório para obtenção do grau de bacharel em Ciências Contábeis em 25 de novembro de 2011.
2
Graduação Bacharel em Ciências Contábeis e Pós-Graduação em Auditoria e Controladoria.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – Vol 1 - Nº1 – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
1 INTRODUÇÃO
O campo da Contabilidade de Custos foi desenvolvido para solucionar
problemas referentes à apuração dos estoques das organizações empresariais. À
medida que os progredia a produção e tornavam-se mais complexos os processos,
as antigas práticas de Contabilidade de Custos, que pareciam satisfatórias, já não
conseguiam suprir as necessidades das empresas. A fim de acompanhar a
evolução, as técnicas contábeis passaram a gerar informações para a tomada de
decisões gerenciais.
A complexidade da atividade econômica, com empresas que produzem
em grande escala, com progressiva automação dos processos de manufatura e
diversificação de produtos, realçaram as “falhas” existentes nos sistemas de custos
adotados
pelas
organizações.
Esses
sistemas
mostravam-se
ineficazes,
principalmente em empresas de grande porte, que produzem grande variedade de
bens e serviços e que possuem processos produtivos altamente industrializados.
Com base nos sistemas de custos, os métodos de custeio não chegaram
completos, mas avançaram de acordo com as demandas do mercado, o que deixa
claro que a Contabilidade de Custos e os seus métodos de custeio estão em
constante desenvolvimento. Como todo segmento de apoio administrativo, são
estruturas dinâmicas e, sobretudo, em constante evolução. Essa pesquisa justificase pelo fato do método a ser pesquisado (o ABC) ser abordado na academia de
forma superficial e tão almejado pelas empresas.
O Sistema de Custeio ABC teve origem nos EUA por volta de 1960 e no
Brasil chegou com mais ênfase na década de 90. Esse sistema veio com a proposta
de resolver um dos grandes entraves da Contabilidade de Custos que é
arbitrariedade no critério de rateio dado aos custos indiretos. Sabe-se que o sistema
convencional tem métodos bem mais simples em relação ao ABC. O sistema
apareceu como alternativa de suprir essa nova necessidade de informações de
custos, porém, devido a sua complexidade, não parece viável para qualquer
organização, motivo pelo qual, surge o seguinte problema de pesquisa: quando e em
que circunstâncias o Sistema de Custeio ABC é adequado, ou seja, é eficaz ao
segmento das empresas do setor industrial?
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
Diante deste contexto, o objetivo geral da pesquisa será verificar a
eficiência da aplicação do Sistema de Custeio ABC nas empresas industriais para
melhor visão gerencial de seus custos, principalmente relacionadas a tomadas de
decisão. Especificamente, será estudada com intuito de identificar a disparidade
existente entre o Sistema de Custeio Tradicional (Absorção) e o Sistema de Custeio
ABC.
Para atingir os objetivos propostos, será utilizado o método de pesquisa
bibliográfica. A pesquisa desse artigo foi descritiva, tratando da descoberta e
observação dos fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los, observá-los e
qualitativamente apresentando dados que vão gerar interpretação e reflexão. Para
tanto a pesquisa está dividida em três capítulos sendo que o primeiro irá tratar das
Terminologias de Custos e Conceitos afins; o segundo sobre o Custeio por Absorção
e o terceiro capítulo discorrerá sobre o Custeio ABC e o tratamento aos Custos
Indiretos.
2 TERMINOLOGIAS DE CUSTOS E CONCEITOS AFINS
Em primeiro lugar é importante diferenciarmos alguns termos utilizados no
estudo de custos, para facilitarmos o nível de entendimento. Diante disso, segue as
terminologias que utilizamos para o tratamento das informações perante as
organizações:
a) Gasto – Segundo Martins (2003, p.17), “é a compra de um produto ou
serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro para a entidade (desembolso),
sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos
(normalmente dinheiro)”.
b) Custo - De acordo com Neves e Viceconti (2010, p.16) “é gasto
relativo à bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços; são
todos os gastos relativos à atividade de produção”.
c) Investimento – “Gasto ativado em função de sua vida útil ou de
benefícios atribuíveis a futuro(s) período(s)”, conforme Martins (2003, p.17).
Investimento
tem
denominação
abrangente,
de
diferentes
interpretações.
Investimentos podem ocorrer, portanto, com caráter permanente ou não.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
d) Despesa – Para Neves e Viceconti (2010, p.16) “despesa é o gasto
com bens e serviços não utilizados nas atividades produtivas e consumidos com a
finalidade de obtenção de receitas. Bem ou serviço consumido direta ou
indiretamente para a obtenção de receitas”.
e) Desembolso – Segundo Martins (2003, p.17) “é o pagamento
resultante da aquisição do bem ou serviço. Pode ocorrer antes, durante ou após a
entrada da utilidade comprada, ou seja, do bem ou serviço.
f) Perdas – Afirma Neves e Viceconti (2010, p.17) que “são um gasto
não intencional decorrente de fatores externos fortuitos ou da atividade produtiva
normal da empresa”.
g) Custos Diretos – Segundo Crepaldi (2010, p.39) “são os custos que
podemos apropriar diretamente aos produtos e variam com a quantidade produzida.
Sem ele o produto não existiria”.
h) Custos Indiretos – “São os que não podemos identificar diretamente
com os produtos e necessitamos de rateios para fazer a apropriação. É todo custo
que não está vinculado diretamente ao produto, mas ao processo produtivo”, afirma
Crepaldi (2010, p.92).
i) Custos Variáveis – De acordo com Martins (2003, p.33) “são aqueles
cujo comportamento e valores estão diretamente relacionados ao volume de
produção e de vendas”. Graficamente podem ser assim representados:
Fonte: elaborado com base em Martins (2003)
GRÁFICO 1 - Custos Variáveis Totais
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
j) Custos Fixos – Segundo Martins (2003, p.33) “são aqueles cujo fato
gerador e comportamento que impedem do volume de atividades (produção e
vendas), dentro de um intervalo de tempo”. Graficamente podem ser assim
representados:
Fonte: elaborado com base em Martins (2003)
GRÁFICO 2 - Custos Fixos Totais
k) Custo Primário – De acordo com Zanluca [2008?], “compreendem a
soma da matéria-prima com mão-de-obra direta. Não são iguais a Custos Diretos, já
que nos Custos Primários só estão incluídos aqueles dois itens”. Assim, a
embalagem é um Custo Direto, mas não Primário.
l) Custo de Transformação – Segundo Martins (2003, p.34), “é a soma de
todos os Custos de Produção, exceto os relativos a matérias-primas e outros
eventuais adquiridos e empregados sem nenhuma modificação pela empresa
(componentes adquiridos prontos, embalagens compradas etc)”.
3 CUSTEIO POR ABSORÇÃO
O estabelecimento do método de custeio a ser adotado pela empresa
depende de vários aspectos, como o processo de fabricação, a estrutura de
organização interna, a necessidade de informações e outros. Estas variáveis irão
resultar no fluxo de informações a serem processadas e registradas pelo método a
ser adotado.
Basicamente os métodos de apropriação de custos são:
 Custeio por Absorção
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
 Custeio Variável ou Direto
 Custeio Baseado em Atividades (ABC)
Custeio por Absorção é o método derivado da aplicação dos
princípios fundamentais da contabilidade e é no Brasil adotado pela
legislação comercial e pela legislação fiscal. Não é um princípio
contábil em si, mas uma metodologia decorrente de aplicação desses
princípios. Dessa forma, o método é válido para a apresentação de
demonstrações financeiras e obedece a legislação (CREPALDI,
2010, p.229).
Para Neves e Viceconti (2010, p.37) Custeio por Absorção “é um
processo de apuração de custos, cujo objetivo é ratear todos os seus elementos
(fixos ou variáveis) em cada fase da produção”.
Este método é adotado pela contabilidade fiscal e societária e tem como
principal objetivo a valorização dos estoques e a identificação do lucro tributável.
Consiste na apropriação de todos os custos de produção, quer sejam diretos
(matéria-prima) ou indiretos (gastos gerais de fabricação), aos produtos fabricados,
independente de terem sido vendidos ou não.
As seguintes características podem ser identificadas, neste método:
 Utiliza os “princípios contábeis geralmente aceitos” que, apesar de algumas
diferenças, são adotados em quase todos os países do mundo;
 É adotado nas demonstrações contábeis;
 Reflete a visão e os critérios adotados nas áreas de finanças e controladoria;
 Serve como base conceitual para outros métodos de apropriação.
O esquema básico do custeio por absorção é:
Custos
Custos
Indiretos
Indiretos
Receitas
Receitas
Diretos
Diretos
Despesas
Despesas
Rateios
Rateios
Produto A
A
Produto
Produto B
B
Produto
Produto C
C
Produto
Estoque
Estoque
C.P.V.
C.P.V.
Resultado
Resultado
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
Fonte: Crepaldi (2010, p.230), adaptado por Andréa Lessa
FIGURA 1 - Esquema Básico Custeio por Absorção
A execução do esquema básico deve obedecer aos seguintes passos:
Passo 1  classificação e separação dos custos e despesas;
Passo 2  apropriação dos custos diretos diretamente aos produtos;
Passo 3  rateio dos custos indiretos aos produtos fabricados.
Quando se trata do custeio por absorção, uma das etapas para a apuração do custo
do produto é a alocação dos custos indiretos aos produtos, por meio de “rateios”. Uma das
grandes críticas deste método é o fato de que a definição do critério de rateio é normalmente
subjetiva, podendo apresentar distorções ou impactos desfavoráveis aos custos de alguns
produtos.
Mesmo assim, para a escolha do critério de rateio, devem ser considerados os
seguintes aspectos:
 Avaliar a relevância e natureza dos custos, através do levantamento da curva ABC das
categorias apropriadas a cada centro de custos;
 Escolher os critérios mais apropriados para alocar os custos aos produtos ou aos centros
de custos;
 Avaliar o custo-benefício dos controles adotados para orientar a apropriação dos custos
indiretos.
Alguns critérios de rateio que são adotados:
 número de horas trabalhadas (homem/máquina);
 número de peças produzidas;
 horas máquinas;
 área ocupada;
 valor do material direto aplicado.
O sistema de Custeio por Absorção, logo serve para avaliar os estoques das
empresas e ajudar nas decisões de preço para os produtos e serviços, pode auxiliar empresas
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
que conseguem facilmente alocar seus custos aos produtos, devido a uma pequena parcela
para rateio, porém para a tomada de decisão de nível gerencial, necessita de informações
complementares, que poderão ser encontradas no Sistema de Custeio ABC, claro que, de
acordo com cada ramo de atividade empresarial.
4 CUSTEIO ABC E O TRATAMENTO AOS CUSTOS INDIRETOS
Segundo alguns autores o Sistema de Custeio ABC já era conhecido e utilizado
por contadores em 1800 e inicio de 1900. Outros registros históricos certificam que originouse efetivamente em trabalhos desenvolvidos na General Eletric, nos primeiros anos da década
de 60, nos Estados Unidos e no Brasil chegou com mais ênfase na década de 90.
De acordo com Martins (2003, p.60) o Custeio Baseado em Atividades, conhecido
como ABC (Actívity-Based Costing), “é uma metodologia de custeio que procura reduzir
sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos”.
Esse Sistema de Custeio Baseado em Atividades surge para reduzir as
distorções causadas pela arbitrariedade do rateio dos custos indiretos de fabricação.
O método ABC é uma estratégia empresarial de custeio que está provocando
mudanças radicais na área de custos das empresas, principalmente das empresas industriais de
grande porte. Sua utilização do Sistema de Custeio ABC está intimamente associada ao bom
senso e ao estímulo à criatividade.
Martins (2003, p.60) afirma que “o ABC pode ser aplicado, também, aos custos
diretos, principalmente à mão-de-obra direta, e é recomendável que o seja; mas não haverá,
neste caso, diferenças significativas em relação aos chamados “sistemas tradicionais”. A
diferença fundamental está no tratamento dado aos custos indiretos”.
Fundamentalmente, o Sistema de Custeio ABC parte da premissa de que as
diversas atividades desenvolvidas pela empresa geram custos, e que os diversos produtos
consomem/utilizam essas atividades.
Na operacionalização desse sistema, estabelece-se a relação entre atividades e
produtos, utilizando-se o conceito de “cost drivers” ou “direcionadores de custos”. Apurase o custo das diversas atividades, que serão apropriados aos produtos através desses
direcionadores específicos.
É importante salientar que uma das contribuições geradas pelo método de custeio
ABC é o fato de não trabalhar com “rateio”, que é uma forma subjetiva e arbitrária de alocar
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
os custos indiretos aos produtos. Ao contrário, o Sistema de Custeio ABC identifica, por meio
do “rastreamento” a relação entre os custos e as atividades, através de direcionadores de
custos (cost drivers).
4.1 Rastreamento e Direcionadores
Segundo Neves e Viceconti (2010, p.142) no Custeio ABC, “o objetivo é rastrear
quais as atividades da empresa que estão consumindo de forma mais significativa seus
recursos”. Os custos são direcionados para essas atividades e destas para os bens fabricados.
O rastreamento de custos que está implícito no método de custeio ABC é um
processo muito mais complexo e sofisticado do que o simples rateio dos CIF
aos produtos. É necessário elencar as atividades que a empresa efetua no
processo de fabricação, verificar quais os recursos que estão sendo
consumidos por elas, direcionar os custos para essas atividades e delas para
os produtos (NEVES e VICECONTI, 2010, p.142).
Martins (2003, p.67) fala que “direcionador de custos é o fator que determina o
custo de uma atividade. Como as atividades exigem recursos para serem realizadas, deduz-se
que o direcionador é a verdadeira causa dos seus custos”.
Os direcionadores de custos orientam sobre forma de alocar os custos às
atividades e por consequência aos produtos. De acordo com a finalidade, os direcionadores de
custos podem ser divididos em duas categorias:
Direcionadores de recursos→ determinam a forma de alocar os custos de cada departamento
às atividades.
Direcionadores de atividades→ orientam sobre a forma de alocar os custos de cada
atividade aos produtos.
De acordo com Martins (2003, p.67) para efeito de custeio de produtos, “o
direcionador deve ser o fator que determina ou influencia a maneira como os produtos
“consomem” (utilizam) as atividades”. Assim, o direcionador de custos será a base utilizada
para atribuir os custos das atividades aos produtos.
O custeio por atividade utiliza o conceito de direcionadores de custo, os
quais devem ser definidos como aquelas atividades ou variáveis que
determinam os custos das atividades, ou seja, são as causas principais dos
custos das atividades. Com a utilização dos direcionadores de custo, o ABC
objetiva encontrar os fatores que causam os custos, isto é, determinar a
origem dos custos de cada atividade para, dessa maneira, alocá-los
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
corretamente aos produtos, considerando o consumo das atividades por eles
assim determinados (CREPALDI, 2010, p.325).
São exemplos de direcionadores de custos: horas gastas para a realização de uma
atividade, quantidade consumida de recursos variáveis, quantidade de funcionários, área
ocupada, quantidade de faturas emitidas, quantidade de processo de compras, ou seja, poderão
ser definidos como direcionadores de custo qualquer variável do processo que possa ser
medida.
4.2 Vantagens do Custeio ABC
Segundo Crepaldi (2010, p.323) “o Sistema ABC surgiu para fornecer
informações mais precisas. Essa metodologia permite um controle mais efetivo dos gastos, e
os custos indiretos não são tratados mais por produtos, mas, sim, por atividade”. Dessa forma,
elencamos abaixo algumas vantagens do Custeio ABC:
 informações gerenciais relativamente mais fidedignas por meio da redução do
rateio;
 menor necessidade de rateios “arbitrários”;
 obriga a implantação, permanência e revisão de controles internos;
 identifica onde os itens em estudo estão consumindo mais recursos;
 identifica o custo de cada atividade em relação aos custos totais da entidade;
 pode ser empregado em diversos tipos de empresas;
 pode, ou não, ser um sistema paralelo ao sistema de contabilidade;
 possibilita a eliminação ou redução das atividades que não agregam valor ao
produto;
 identifica os produtos e clientes mais lucrativos;
 melhora significativamente sua base de informações para tomada de decisões.
4.3 Desvantagens do Custeio ABC
“O sistema tem um alto custo na sua implantação, necessitando de elevado nível
de controle interno e revisão constante. Muitos dados são de difícil obtenção e, para tanto, a
empresa deve estar plenamente organizada antes de sua implantação” Crepaldi (2010, p.324).
Para tanto, as desvantagens do Sistema ABC são:
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
 gastos elevados para implantação;
 alto nível de controles internos a serem implantados e avaliados;
 necessidade de revisão constante;
 levar em consideração muitos dados;
 informações de difícil extração;
 dificuldade de envolvimento e comprometimento dos empregados da empresa;
 necessidade de reorganização da empresa antes de sua implantação;
 dificuldade na integração das informações entre departamentos;
 falta de pessoal competente, qualificado e experiente para implantação e
acompanhamento;
 necessidade de formulação de procedimentos padrões;
 maior preocupação em gerar informações estratégicas do que em usá-las;
 não é aceito pelo fisco, gerando a necessidade de possuir dois sistemas de
custeio.
4.4 Custos ABC & Absorção
O grande diferencial do método ABC, em relação aos demais, está na forma de
como alocar os custos indiretos aos produtos.
Os custos indiretos, no ABC, são calculados de forma que estes sejam atribuídos a
um objeto onde realmente tenham sido consumidos, através da análise de uma relação de
causa e efeito, e do rastreamento das causas que deram origem a aqueles custos.
Para que o processo de adoção do Custeio ABC tenha resultados, é necessário
atender as seguintes questões principais:
 ter o suporte da alta administração;
 apresentar um desenvolvimento de fácil entendimento;
 ser de fácil acesso ao usuário, para tomada de decisões;
 obter o envolvimento de pessoas e equipes, fazendo com que se sintam
responsáveis pelo gerenciamento das atividades e dos custos;
 entrevistar e discutir com os administradores das atividades consideradas
críticas, quais os direcionadores de custos (cost drivers) de cada atividade;
 discutir a base de dados que deve ser formada para o custeio através do ABC,
com todos os comprometidos na sua atualização e controle.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
A alta administração deve comprometer-se em discutir o desenvolvimento do
sistema e liberar o tempo necessário para o estudo e implementação do programa de custeio.
Um diferencial do Sistema de Custeio ABC em relação ao de Absorção, é que a
sua utilização, por exigir controles minuciosos, proporciona o acompanhamento e correções
devidas nos processos internos da empresa, ao mesmo tempo em que possibilita a implantação
e/ou aperfeiçoamento dos controles internos da entidade.
Segundo Nakagawa (2001), existem significativas diferenças entre os dois tipos
de custeio, na forma de apropriação dos custos indiretos aos produtos. No custeio por
Absorção assume-se como pressuposto, que são os produtos que consomem os recursos para
fabricá-los ou comercializá-los. Já no sistema de custeio ABC assume-se como pressuposto
que os recursos de uma empresa são consumidos por suas atividades e não pelos produtos que
ela fabrica. Os produtos surgem como conseqüência das atividades estritamente necessárias
para fabricá-los e/ou comercializá-los e atender as necessidades dos clientes.
A seguir, quadro mostrando diferenças entre os Custeios ABC & Absorção:
TABELA 1 - Diferenças entre Custeio ABC & Absorção
Item de custo
Absorção
ABC
Custos Variáveis
Diretos
Alocados diretamente às
unidades produzidas
Alocados diretamente às
unidades produzidas
Custos Variáveis
Indiretos
Alocadas às unidades
produzidas por meio de
rateios
Alocados às atividades e
posteriormente aos produtos,
por meio de rastreamento.
Custos Fixos
Despesas Fixas
Alocados às atividades e
Alocados às unidades
posteriormente aos produtos,
produzidas por meio de rateio
por meio de rastreamento.
Lançadas como despesas do
período.
Lançadas como despesas do
período.
Exemplo de aplicação no ABC:
Fonte: Martins (2003), adaptado por Andréa Lessa
A empresa de Telefonia Lessa dedica-se à prestação de dois serviços principais:
Chamadas Locais (A) – Receita Líquida no Período $790.715
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
Consertos em Domicílio (B) – Receita Líquida no Período $994.620
Em determinado período, foram constatados os seguintes Custos Diretos:
TABELA 2 - Custos Diretos
Depreciação de Veículos
Salários e Encargos Sociais (MOD)
Depreciação da Planta Básica
Material p/ Reparos
Energia Elétrica
Total dos Custos Diretos
A
0
200.000
100.000
0
155.000
455.000
B
90.000
130.000
0
50.000
0
270.000
Os Custos Indiretos, comuns aos dois serviços, foram de $ 500.000 para o mesmo período.
Por meio de entrevistas, análise de dados na contabilidade, verificou-se que os Custos
Indiretos referiam-se às seguintes atividades:
TABELA 3 - Atividades
Atividade
Manutenção Preventiva de Equipamento (1)
Manutenção Corretiva de Equipamento (2)
Supervisionar Serviços (3)
Controlar Qualidade dos Serviços (4)
Total
$
150.000
180.000
70.000
100.000
500.000
Lista de Direcionadores de Custos:
TABELA 4 - Direcionadores de Custos
Nº Horas de Manutenção Preventiva (1)
Nº Pedidos de Manutenção Corretiva (2)
Tempo dedicado pelos Supervisores (3)
Nº Pontos de Inspeção de Controle de Qualidade (4)
Quantidade de Consertos Realizados em Domicílio (B)
Quantidade de Minutos de Uso (A)
Calcular:
A
1.000
5
25%
20
0
30.000
B
5.000
20
75%
80
300
0
a) o valor dos custos indiretos, por tipo de serviço, segundo o rateio com base no Custo
Direto.
A- CDA = $455.000 (65%)
CIA = 0,6275 CI = 0,6275 x 500.000 = $ 313.750
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
B- CDB = $270.000 (37,24%) CIB = 0,3724 CI = 0,3724 x 500.000 = $ 186.200
b) o valor dos custos indiretos, por tipo de serviço, segundo o rateio com base no Custo
de Mão-de-Obra Direta.
A- MODA = $200.000 (61%)
CIA = 0,61CI = 0,61 x 500.000 = $ 305.000
B- MODB = $130.000 (39%)
CIB = 0,39CI = 0,39 x 500.000 = $ 195.000
c) o valor dos custos indiretos, por tipo de serviço, segundo o Custeio Baseado em
Atividades (ABC).
A-
1- $ 25.000 = (1.000/6.000) x 150.000
2- $ 36.000 = (5/25) x 180.000
3- $ 17.500 = 0,25 x 70.000
4- $ 20.000 = (20/100) x 100.000
CIA = $ 98.500
B-
1- $ 125.000 = (5.000/6.000) x 150.000
2- $ 144.000 = (20/25) x 180.000
3- $ 52.500 = 0,75 x 70.000
4- $ 80.000 = (80/100) x 100.000
CIB = $ 401.500
d) A margem bruta de lucro, porcentagem da receita, por tipo de serviço, segundo cada
uma das abordagens.
TABELA 5 - Margem Bruta de Lucro por Serviço
Absorção – CD
Absorção – MOD
ABC
Margem Bruta de Lucro por Serviço
A
B
Valor Abs ($)
%
Valor Abs ($)
21.965
2,77
538.420
30.715
3,88
529.620
237.215
30
323.120
%
54,13
53,24
32,48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o decorrer do tempo as empresas industriais, em seus diversos segmentos
vêm crescendo mais e mais, passando a ocupar maiores espaços no moderno mundo dos
negócios. Devido ao aumento da competitividade e da evolução econômica, passaram a
buscar novos conceitos em informações gerenciais para que pudessem acompanhar este
mercado cada vez mais exigente.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
O exemplo comparativo entre o Custeio de Absorção e o Custeio Baseado em
Atividades (ABC) citado neste artigo, demonstrou
que o Sistema ABC utilizado nas
indústrias é uma ferramenta de grande importância para controle de gestão dos custos e para o
processo de tomada de decisões. Sabe-se que para a sua implantação se faz necessários bons
investimentos, mas que os mesmos retornarão em forma de melhor apropriação dos custos,
precisa-se também da implantação de um sistema de informações adequado e pessoal
qualificado para atuarem em conjunto no processo de apuração e análise dos custos.
Diferentemente do Custeio por Absorção, onde seu método é válido para a
apresentação de demonstrações financeiras e obedece a legislação (arbitrariedade), o Sistema
de Custeio ABC apresenta a possibilidade de melhor análise das despesas e overhead (são
despesas envolvidas no custeio ABC, são despesas para administração), voltando assim a
atenção da gerência às atividades, as quais geram os custo e apoiando as decisões de longo
prazo (estratégias).
Mas vale sempre lembrar que: é melhor ser aproximadamente correto do que
precisamente incorreto! Portanto, o Custeio ABC por ter a apropriação das atividades aos
produtos por meio de direcionadores tem a vantagem de mensurar custos aparentemente mais
precisos, bastando que os contadores de custos, para alcançarem essa precisão, observem com
atenção todas as suas limitações.
Diante deste contexto, o Sistema de Custeio ABC é eficaz ao segmento das
empresas do setor industrial, visando principalmente a melhoria de análises
gerenciais de seus custos e tomadas de decisão.
Dessa forma, fica evidente que as empresas que tem altos valores em
custos indiretos em relação ao custo total da empresa necessitam de um sistema
deste porte, existindo assim a viabilidade da implantação do ABC e que a
organização tenha interesse em fazer os investimentos necessários para a aquisição
do sistema, seleção e treinamento de pessoal qualificado.
REFERÊNCIAS
CHING, Hong Yuh. Gestão Baseada em Custeio por Atividades. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2001.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Revista Eletrônica da FANESE
ISSN 2317-3769
CREPALDI, Silvio Aparecido. Curso Básico de contabilidade de Custos. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
NAKAGAWA, Masayuki. Custeio Baseado em Atividades. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
NEVES, Silvério das/Viceconti, Paulo Eduardo V. Contabilidade de Custos: um enfoque
direto e objetivo. 9. ed. São Paulo: Frase, 2010.
UBIRAJARA, Eduardo. Guia para trabalhos acadêmicos. Aracaju: FANESE, 2010.
(caderno disponível nas coordenações de graduação e de pós-graduação)
ZANLUCA, Júlio César. Manual Prático de Contabilidade de Custos - 2008. Disponível
em <http:// www.portaltributario.com.br/downloads>. (acessado em 03 de out.2011).
Custeio por Absorção X Custeio ABC. III Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia
– SEGET 2006. Disponível em <http://www.aedb.br/seget/artigos06/871>. (acessado em 10
de out.2011).
Método de Custeio ABC. Disponível em <http://www.pucrs.campus2.br>. (acessado em 25
de set.2011).
O Método de Custeio ABC como Instrumento de Gestão.
<http://www.aedb.br/seget/artigos06/784>. (acessado em 06 de out.2011).
Disponível
em
Revista Contabilidade & Finanças – USP, São Paulo, n. 30, p. 7-18, setembro/dezembro,
2002.
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE - FANESE – ARACAJU – SERGIPE
REVISTA ELETRÔNICA DA FANESE – ANO I - VOL I – DEZEMBRO 2012
Download

Revista Eletrônica da FANESE