INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES - ITCP/FURB CONSOLIDANDO A ECONOMIA SOLIDÁRIA EM BLUMENAU E REGIÃO
Edinara Terezinha de Andrade
Marilú Antunes da Silva
RESUMO: A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) é um
programa de extensão universitária do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade
Regional de Blumenau, Santa Catarina, criado para implementar ações alternativas de
geração de trabalho e renda na perspectiva da Economia Solidária. A ITCP/FURB atua
com seis projetos de trabalho: 1) Incubagem de Empreendimentos; 2) Cursos de
Capacitação; 3) Rede de Economia Solidária; 4) Assessoria a Gestores Públicos; 5)
Consultoria e Assessoria ao Instituto Consulado da Mulher; e 6) Educação de Jovens e
Adultos (EJA). Além dos projetos mencionados, a ITCP/FURB integra duas redes
universitárias: Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo do
Trabalho (UNITRABALHO) e Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares (ITCPs). Atua como membro fundador do Fórum Catarinense
de Economia Solidária de Santa Catarina e desenvolve pesquisas financiadas pela
Fundação de Apoio Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC) e
pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). Há um extenso campo de
atuação das universidades no campo da Economia Solidária, mas inúmeros são os
desafios a serem enfrentados, sendo um dos principais a necessidade de
direcionamento de recursos públicos para o desenvolvimento dos EES. As demandas
têm sido crescentes em relação aos trabalhadores, tanto na criação de novos
empreendimentos coletivos, como na qualificação continuada dos já existentes. Em
decorrência disso, a ampliação e a capacitação da equipe também se têm mostrado
uma necessidade. Na agenda de discussões das Incubadoras que conformam a Rede
Nacional de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares Universitárias está o
aprofundamento da sua metodologia. Para tanto, estão sendo realizados vários
seminários regionais e nacionais com o intuito de sistematizar as metodologias e
construir uma produção coletiva de conhecimento que culminará com a publicação de
um livro.
PALAVRAS-CHAVE: Economia Solidária, Trabalho e Renda, Incubadora.
INTRODUÇÃO: A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) é um
programa de extensão universitária do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade
Regional de Blumenau, Santa Catarina, criado para implementar ações alternativas de
geração de trabalho e renda na perspectiva da Economia Solidária. Considera-se
economia solidária o conjunto de atividades econômicas - de produção, distribuição,
consumo, poupança e crédito - organizadas sob a forma de autogestão. (Ministério do
Trabalho e Emprego, 2004). Seus principais atributos são:
a) Cooperação: caracteriza-se pela existência de interesses e objetivos comuns, união
dos esforços e capacidades, propriedade coletiva de bens, partilha dos resultados e
responsabilidade solidária sobre os possíveis ônus. Envolve diversos tipos de
organização coletiva: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumidas por
trabalhadores);
associações
comunitárias
de
produção;
redes
de
produção,
comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específicos
(mulheres, jovens etc.); clubes de trocas, etc. Na maioria dos casos, essas
organizações coletivas agregam um conjunto significativo de atividades individuais e
familiares.
b) Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas
de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos
empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e
interesses, etc. Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação
e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros
sujeitos da ação.
c) Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e
recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito,
comercialização e consumo. Envolve, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e
sociais, o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de
eficácia e efetividade.
d) Solidariedade: o caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em
diferentes
dimensões:
na
justa
distribuição
dos
resultados
alcançados;
nas
oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e melhoria das
condições de vida dos participantes; nas relações que se estabelecem com o meio
ambiente, expressando o compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações
que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de
desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com
os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação
com o bem-estar dos trabalhadores e consumidores; e no respeito aos direitos dos
trabalhadores e trabalhadoras. (Ministério do Trabalho e Emprego, 2004)
No Brasil, a economia solidária iniciou como um movimento social compreendendo uma
diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas,
associações, empresas de autogestão, redes de cooperação, complexos cooperativos,
entre outros. Atualmente, faz parte da agenda do Estado que a viabiliza por meio da
implantação de políticas governamentais, municipais, estaduais e nacionais voltadas ao
seu desenvolvimento. Neste sentido, o governo federal criou, em junho de 2003, na
esfera do Ministério do Trabalho e Emprego, a Secretaria Nacional de Economia
Solidária (SENAES). Resultado da proposta apresentada ao Presidente Lula pelo
movimento da sociedade civil, organizado em torno do Grupo de Trabalho da Economia
Solidária, simultaneamente à SENAES, foi criado o Fórum Brasileiro de Economia
Solidária. Nas universidades, o referido tema tem sido trabalhado desde o final do
século XX com a criação das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares
(ITCPs), sendo que, em maio de 1995, foi criada a primeira Incubadora - denominada
de ITCP/COOPE - na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na Universidade
Regional de Blumenau, a ITCP foi criada em 19 de novembro de 1999.
OBJETIVOS: 1) Estimular a formação de empreendimentos de economia solidária no
município de Blumenau e região como forma de geração de trabalho e renda e de
desenvolvimento da prática autogestionária e do espírito empreendedor; 2) promover a
capacitação de cooperados/empreendedores por meio de cursos de qualificação
profissional continuada; 3) prestar assessoria e acompanhamento nas áreas social,
educacional, jurídica, administrativa, de mercado, contábil, econômica, tecnológica,
entre outras; 4) sensibilizar e mobilizar a sociedade local no sentido de apoiar as
iniciativas cooperadas; 5) motivar o meio acadêmico para a reflexão, a discussão e a
produção de alternativas para equacionamento de problemáticas ligadas ao
cooperativismo e a novas relações de trabalho, vinculando pesquisa, ensino e
extensão; 6) construir novas formas de relação entre a Universidade e as Organizações
Sociais por intermédio da socialização do conhecimento entre os setores excluídos da
população; 7) desenvolver ações junto ao poder público e iniciativa privada visando à
criação de políticas públicas de efetivação do direito ao trabalho e ao apoio à economia
solidária; e 8) articular os empreendimentos de economia solidária já existentes na
região para que constituam uma Rede Solidária fortalecedora dos mesmos.
METODOLOGIA: A ITCP/FURB atua com seis projetos de trabalho: 1) Incubagem de
Empreendimentos; 2) Cursos de Capacitação; 3) Rede de Economia Solidária; 4)
Assessoria a Gestores Públicos; 5) Consultoria e Assessoria ao Instituto Consulado da
Mulher; e 6) Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além dos projetos mencionados, a
ITCP/FURB integra duas redes universitárias: Rede Interuniversitária de Estudos e
Pesquisas sobre o Mundo do Trabalho (UNITRABALHO) e Rede Universitária de
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs). Atua como membro
fundador do Fórum Catarinense de Economia Solidária de Santa Catarina e desenvolve
pesquisas financiadas pela Fundação de Apoio Científica e Tecnológica do Estado de
Santa Catarina (FAPESC) e pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES).
O desenvolvimento dos projetos e atividades mencionados é concretizado por uma
equipe
interdisciplinar
formada
por
profissionais
da
área
da
Administração,
Antropologia, Ciências Sociais, Direito, Economia, Psicologia e Serviço Social. A
atuação da equipe é direcionada para a intervenção na complexidade do dia-a-dia dos
trabalhadores junto aos empreendimentos, levando em consideração os aspectos
sociais, políticos, econômicos e educacionais. Além disso, desenvolvendo uma
metodologia de trabalho coletivo, busca, constantemente, intensificar a troca de
experiências nas perspectivas da economia solidária e de uma produção coletiva do
conhecimento. Para sistematizar a sua atuação, a ITCP constituiu quatro equipes que
atuam simultaneamente. São elas:
-
Equipe de Mobilização: realiza a sensibilização e motivação do público-alvo,
estudando os contextos sociais, econômicos e culturais do mesmo, com
avaliação de demandas e desencadeamento de processos participativos.
-
Equipe de Capacitação: desenvolve todas as atividades relacionadas ao
processo de educação continuada que, por sua vez, compreende a qualificação
técnica, profissional, a educação formal e certificada, a formação política e para
a autogestão do grupo, bem como de seus componentes individualmente.
-
Equipe de Viabilidade Econômica: atua na identificação das fontes de
financiamento, no levantamento de gastos fixos, na elaboração de preços, na
sistematização de documentos/registros internos para controle contábil, na
elaboração de projetos de viabilização econômica e social e na assessoria ao
desenvolvimento tecnológico da produção.
-
Equipe de Organização e Gestão: presta assessoria nas áreas de
planejamento, jurídica, contábil e administrativa e orientação para assegurar a
gestão cooperativa e autogestionária.
RESULTADOS: Com relação ao primeiro projeto - Incubagem de Empreendimentos-, a
ITCP/FURB já efetivou seis incubagens de Empreendimentos de Economia Solidária:
COOPERCRISTAL (produção), COOPERMÚSICA (serviços), UNIFRETE (transportes
de cargas), COOPERVIAGENS (viagens turísticas), COOPERBLU (serviços) e
ESTRELA AZUL (confecção). Acompanha, ainda, oito empreendimentos cuja
abordagem volta-se para o enfrentamento de dificuldades referentes à viabilidade
econômica dos mesmos e àquelas decorrentes do processo coletivo de organização.
Os Empreendimentos Incubados são: Fino Toque Têxtil Cooperativa, cujo processo de
incubagem foi iniciado em 2003; Associação Participativa Recicle de Indaial (APRI);
Associação de Agricultores Amigos da Árvore (Quatro As); Cooperativa de
Terraplenagem e Transporte (COOPERTTRAN); Associação dos Artesãos Alternativos
Blumenau e Região; Coletivo Popular Aeroporto; Grupo Imigrante; e Tear Coletivo.
Análise dos Grupos dos Incubados:
1) Fino Toque - Empreendimento coletivo que surgiu no setor têxtil e atua com
confecção de produtos para área de esporte e malhas. Conta com a associação
de 12 mulheres, sendo duas na produção e dez na comercialização
personalizada na residência do consumidor. Suas maiores dificuldades,
enquanto organização coletiva, são: comercialização; superação e diferencial
do produto para atender ao mercado; incorporação do conceito de autonomia
nas relações de trabalho; redução da subordinação nas relações; carteira de
produtos; ergonomia do processo de produção; e capital de giro.
2) APRI - Associação que agrega 18 famílias atuando com a coleta e reciclagem
de resíduos sólidos no município de Indaial. Desenvolve um projeto de
reciclagem junto ao poder público municipal. Tem como prioridades emergentes:
ampliar sua relação com outros sócios e transformar a gestão jurídica para
cooperativa a fim de que seus direitos operativos sejam garantidos na
perpetuação do projeto para além da parceria com o poder público municipal;
desenvolver tecnologia para atuar com resíduos molhados; reduzir sua
comercialização com os atravessadores, garantindo, assim, maior lucratividade.
3) Quatro AS - Associação agro-ecológica que atua na produção e comercialização
de produtos agro-ecológicos em feiras livres e integra o movimento agroecológico do Vale do Itajaí. Dificuldades: ampliação do número de famílias
participantes da associação, descentralização de gestão, ampliação da
produtividade e trocas de tecnologias agro-ecológicas.
4) COOPERTTAM - Cooperativa com 160 cooperados que atua com transportes
ou fretamento rodoviário de produtos sólidos com caminhões coletivos e executa
terraplanagem com maquinários próprios. Dificuldade: fortalecer a gestão
contábil e jurídica.
5) Associação de Artesãos Alternativos - Composta por 22 sócios, tem um perfil
anárquico e migra de acordo com as temporadas de veraneio no sul do país. Os
seus sócios produzem artefatos com fios, sementes, couro e madeira, bem
como produtos reciclados, e os comercializam em espaços públicos, praças ou
calçadas. Prioridades: qualificar o produto e ampliar a comercialização, o
espaço fixo para a produção, a capacitação continuada em análise de mercado
e a lei municipal de feiras alternativas.
6) Coletivo Popular Aeroporto - Está iniciando a incubagem com 80 famílias que
ocuparam um loteamento irregular e uma fábrica desocupada. A atuação da
ITCP está direcionada para a construção de um centro coletivo de reciclagem
para gerar trabalho e renda para os seus integrantes. Demandas: Curso de
Cooperativismo para conhecimento de outras experiências coletivas.
7) Grupo Imigrante: Início de incubagem de nove famílias que pretendem atuar na
forma jurídica de associação para organizarem um empreendimento de
reciclagem na área industrial.
Demandas: análise de mercado e todo o
processo de incubagem.
8) Tear Coletivo: Grupo composto por 32 artesãos na área de tecelagem. Os
componentes estão realizando o curso de cooperativismo e pretendem iniciar
uma cooperativa para produção e comercialização coletiva, estando, portanto,
em processo inicial de incubagem.
O segundo projeto - Cursos de Capacitação - já contabiliza cinqüenta e oito cursos
entre os anos de 1999 e 2005. Tais cursos são dirigidos para a formação de
trabalhadores em cooperativismo e associativismo, bem como em gestão de empresas
autogestionárias e políticas públicas nas áreas de trabalho e renda. Os cursos têm, em
média, de 50 a 60 horas de duração e obedecem à grade curricular apresentada na
Figura 1.
DISCIPLINA
Transformações no Mundo do Trabalho
CONTEÚDO
História das transformações da sociedade
e o impacto no mundo do trabalho
Autogestão, Cooperativismo e Segmentos História do cooperativismo e princípios do
Cooperativistas
cooperativismo, segmentos
cooperativistas
Rede de Economia Solidária
Participação e fortalecimento de redes
solidárias
Relações Interpessoais
Relações no grupo de trabalho,
motivação, processo grupal
Perspectiva de Gênero
Questões de gênero
Processo de Tomada de Decisão Coletiva Instrumentos para a tomada de decisão:
reunião, assembléia
Gestão Coletiva
O processo de gerenciamento e a
administração da cooperativa
O Aparato Jurídico em Associações e
Leis que regulamentam o cooperativismo,
Cooperativas
tributação, trâmites para a constituição de
cooperativas, estatuto e regimento interno
Viabilidade Econômica para Cooperativas Formação de preço, cálculo de custos,
formação de orçamentos
Organização Contábil
Organização da documentação, controles
internos (livro caixa, ficha de estoques,
ficha de clientes, ficha de fornecedores),
etc.
Figura 1 - Grade Curricular dos Cursos de Cooperativismo e Autogestão da
ITCP/FURB.
Aprofundar conceitualmente as interfaces da gestão como apropriação autônoma das
implicações da mesma no resultado da produção coletiva é tarefa árdua no período da
incubagem, trazendo, por isso, vários “nós” teóricos e pragmáticos. Entre eles, está o
processo de partilha dos saberes e poderes construídos com o grupo que pratica a
metodologia coletiva na capacitação continuada. A formação inicial oportunizada pelo
curso de cooperativismo desencadeará uma rede de demandas contínuas e suas
fragilidades cotidianas que serão sanadas no processo de formação continuada.
Entende-se que a formação constrói o próprio processo de incubagem no qual estão
disponíveis os recursos técnicos universitários aos empreendimentos solidários. Porém,
a linguagem dos integrantes do grupo pode ser um instrumento de barreira na
reelaboração do conhecimento. Compreende-se esta barreira como a ruptura da
educação formal em alguma fase de suas vidas em função do trabalho tarefeiro e
subordinado.
No que diz respeito ao terceiro projeto - Rede de Economia Solidária (RESVI) -, o
mesmo recebe, desde a sua criação em março de 2000, assessoria da ITCP/FURB
com o objetivo de definir estratégias de articulação a partir do princípio de que a
Economia Solidária se constitui em rede. A RESVI pode ser compreendida como um
movimento em rede por se constituir de ações coletivas desenvolvidas por
organizações
populares
na
perspectiva
de
retroalimetar
o
movimento
dos
Empreendimentos de Economia Solidária (EES) na garantia de cidadania e
acessibilidade aos direitos sociais. A metodologia de ação da RESVI caracteriza-se por
reuniões mensais, coordenadas por uma comissão executiva que fica responsável pela
RESVI durante um mês. Essa comissão é formada, em cada reunião mensal, por
integrantes dos grupos e EES participantes da Rede e tem como atribuição coordenar e
planejar a reunião mensal, bem como todas as atividades que competem à RESVI
durante aquele mês. Até o momento, já foram realizadas cinqüenta (50) reuniões
mensais da RESVI. Uma das mais importantes conquistas desse movimento é a
construção da cidadania ativa dos trabalhadores que se transformam em sujeitos de
processos políticos participativos e conquistam o direito a uma vida mais digna
permeada por interações de cooperação. Outra importante conquista foi o debate
estabelecido sobre o papel do poder público municipal na construção de políticas de
geração de trabalho e renda, com eixo na economia solidária, que desencadeou ações
favoráveis à mesma. É possível informar que, até o momento, o processo de
empoderamento da RESVI se deu nos seguintes pontos: a) participação no 1º Encontro
Catarinense de Empreendimentos de Economia Solidária, no 1º Encontro Nacional de
Empreendimentos de Economia Solidária e na 5ª edição do Fórum Social Mundial; b)
representação de membros da RESVI no Fórum Catarinense de Economia Solidária a
partir de agosto de 2004; apresentação da RESVI em sessão ordinária na Câmara de
Vereadores de Blumenau; c) participação em programas de TV e Rádio; d) participação
como membro efetivo na comissão de interlocução do Fórum Catarinense de Economia
Solidária com o Governo do Estado, o qual tem o objetivo de discutir e propor uma
política de economia solidária para o estado de Santa Catarina; e) participação em
Feiras de Economia Solidária em âmbitos local, estadual e nacional; f) audiências
públicas com representantes dos governos municipal, estadual e federal para tratar de
assuntos relativos à Economia Solidária.
O quarto projeto de atuação da ITCP/FURB é a Assessoria a Gestores Públicos. Esse
projeto se efetiva por meio de convênios com prefeituras da região para a constituição
de Incubadoras de Cooperativas Populares (uma no município de Gaspar) e atua junto
aos próprios empreendimentos de economia solidária e a equipes técnicas dos
municípios para os quais oferece cursos de capacitação e assessoria jurídica na
elaboração de legislações pertinentes à economia solidária. Até o momento, já foram
realizados convênios com as prefeituras de Blumenau, Gaspar e Indaial.
O quinto projeto é desenvolvido na cidade de Joinville, Santa Catarina, com o Instituto
Consulado da Mulher e tem como produto a incubação de uma incubadora de projetos
sociais e geração de trabalho e renda. Na consultoria e assessoria ao Instituto
Consulado da Mulher, está sendo desenvolvida uma proposta metodológica de
incubagem de incubadoras que atuam com a responsabilidade social de organizações
privadas. Neste contexto, iniciou-se como projeto-piloto incubando o Consulado da
Mulher que é um espaço voltado para o desenvolvimento de atividades que estimulam
a cidadania da mulher. Esta iniciativa desenvolve ações que melhoram a qualidade de
vida das comunidades de sua cidade, tais como: centros de informática - acesso à
informação e conhecimento; projetos de geração de trabalho e renda; oficinas que
estimulem novas maneiras de organização do trabalho; oficinas de arte e cultura - pela
beleza, harmonia e a qualidade de ser. A coordenação do Consulado da Mulher, por
meio de um levantamento, chegou à conclusão de que, para mediar a condição das
mulheres na sociedade local, seria necessário ampliar as possibilidades de geração de
trabalho e renda para as mesmas e suas famílias. Diante disso, foi feita a opção por
uma consultoria da ITCP, implementando sua metodologia de incubagem coletiva para
com as demandas do consulado. Há registro dos avanços e conquistas obtidos, bem
como de casos de referência que adotam os recursos da responsabilidade social da
empresa mantenedora do Instituto para políticas de implementação de trabalho e renda
coletivos atuado com três cooperativas de produção cooperando 50 famílias.
O último projeto - Educação de Jovens e Adultos na Economia Solidária - tem como
produto a assessoria para as secretarias de educação municipais de Gaspar e Indaial
na formulação de currículos educacionais pautados nos temas da Economia Solidária e
a formação continuada de educadores nesta temática. Até o momento, já foram
capacitadas oito turmas de professores e seis em supletivo do ensino fundamental. A
formação continuada e o processo pedagógico social no processo de apreender a
aprender e a empreender na autogestão ocorrem com uma metodologia de
aprendizagem na intimidade do sujeito. O processo de construção do conhecimento dáse na diversidade e na qualidade das interações do sujeito no mundo de seu trabalho.
A ação educativa da incubadora com esse(a) trabalhador(a) deve incluir conteúdos
curriculares específicos, como suporte e complementação ao trabalho a ser
desenvolvido em sala de aula com os currículos regulares de modo a atingir os
objetivos traçados na Economia Solidária. Também se torna indispensável oferecer aos
(às) trabalhadores(as) condições para interagir com o "mundo do letramento formal”,
despertando neles(as) interesses, necessidades e desejo de se apropriarem do saber e
do saber fazer na sociedade. O EJA preconiza uma construção do conhecimento em
que os
atores
sociais
se apropriam de instrumentos
socioeducativos
que são
reelaborados a partir de sua mediação com a realidade. Os cursos de capacitação
técnica e de letramento dentro da incubadora são “instrumentos” metodológicos
facilitadores da apropriação do saber coletivo socialmente validado como gestão
coletiva que elaboram, a partir do diálogo, diferentes pensamentos e abrem um leque
com várias possibilidades de compreensão das realocações do trabalho nos
empreendimentos coletivos ou particulares.
Educação de Jovens E Adultos é um projeto que parte da premissa de que a
fragmentação da educação formal torna precárias as relações de apropriação da
gestão interna e externa de um coletivo produtivo solidário. As diferentes tecnologias
icnográficas são linguagens universais que exigem uma leitura padronizada, com um
saber construído pelo cumprimento de etapas da educação formal, sendo que, uma vez
não cumprindo essas etapas, o sujeito fica à mercê da sua realidade excludente no
processo de produção econômica. Segundo o documento Ação Educativa do Ministério
da Educação e Cultura, a Educação de Jovens e Adultos pretende “[...] compreender as
relações que os homens estabelecem entre si no âmbito da atividade produtiva e o
valor da tecnologia como meio de satisfazer necessidades humanas”. Assim, o projeto
de Educação na Economia Solidária prioriza entender as relações de trabalho como
processo educativo e curricular com abordagem pedagógica participativa em que as
trocas simbólicas são fundamentais para a apropriação do letramento social como
instrumento de avanço social com a Economia Atual. Na economia solidária da ITCP,
as
mediações
de
Educação
Formal
de
trabalhadores(as)
apresentam
duas
características básicas relacionadas à Educação de Jovens e Adultos. De um lado,
estão as mediações que sofrem flutuações cíclicas persistentes, numa seqüência
quase interminável de elevações e quedas nas taxas de crescimento dos níveis de
alfabetização de curto prazo dos(as) trabalhadores(as). Essa flutuação, ao longo do
ciclo educacional para esse público, é tão mais intensa quanto maior for o grau de
incertezas prevalecentes nas suas formas de gerar trabalho e renda para o seu
sustento. Do outro lado, esses ciclos ocorrem em um contexto caracterizado por uma
tendência de crescimento do modo do(a) trabalhador(a) se apropriar da gestão de seu
empreendimento coletivo na Economia Solidária no longo prazo, o qual é quase sempre
lento, mas recorrente. O crescimento socioeconômico é, de fato, a característica
marcante do incubado(a), à medida que ele(a) se apropria de sua cidadania educativa
formal na Educação de Jovens e Adultos observada em séries concluídas do projeto.
Assim, esse jogo de influências recíprocas, de ciclos de elevação de escolaridade para
os(as) trabalhadores(as) adultos(as) na Economia Solidária, é uma tendência marcante
de crescimento na apropriação dos instrumentos metodológicos e políticos do
movimento.
CONCLUSÕES: Há um extenso campo de atuação das universidades no que se refere
à Economia Solidária, mas inúmeros são os desafios a serem enfrentados, sendo um
dos principais a necessidade de direcionamento de recursos públicos para o
desenvolvimento dos EES. As demandas têm sido crescentes em relação aos(às)
trabalhadores(as), tanto na criação de novos empreendimentos coletivos, como na
qualificação continuada dos já existentes. Em decorrência disso, a ampliação e a
capacitação da equipe também se têm mostrado uma necessidade. Na agenda de
discussões das Incubadoras que conformam a Rede Nacional de Incubadoras
Tecnológicas de Cooperativas Populares Universitárias, está o aprofundamento da sua
metodologia. Para tanto, estão sendo realizados vários seminários regionais e
nacionais com o intuito de sistematizar as metodologias e construir uma produção
coletiva de conhecimento que culminará com a publicação de um livro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2005.
Ministério do Trabalho e Emprego. Sistema Nacional de Informações em Economia
Solidária - SIES, Termo de Referência, Brasília. 2004.
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OLIVEIRA, Adriana Lucinda e PEDRINI, Dalila Maria. Muitas mãos tecendo juntas: a
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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU, Núcleo Local da UNITRABALHO,
Instituto de Pesquisas Sociais - IPS, Pró-Reitoria de Extensão e Relações
Comunitárias. Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares. Blumenau,
2000. (Projeto de Extensão aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão CEPE, parecer nº 247/2000, sob a Coordenação da Dra. Dalila Maria Pedrini).
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU. Relatório de sistematização da
metodologia da ITCP/FURB elaborado para o Projeto Incubadoras de Cooperativa
Populares - ICCO/UNITRABALHO. Blumenau, 2000.
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ITCP/FURB - Unioeste