UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARIA DAS GRAÇAS BARROS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: O CASO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A DISTÂNCIA – UAB/UEPB – 2006-2010 JOÃO PESSOA/PB 2011 MARIA DAS GRAÇAS BARROS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: O CASO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A DISTÂNCIA – UAB/UEPB – 2006-2010 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa Ensino e Aprendizagem, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em educação. Orientadora: Profª. Drª Sônia de Almeida Pimenta. JOÃO PESSOA/PB 2011 B277c Barros, Maria das Graças. Concepções e práticas pedagógicas em educação a distância: o caso do curso de administração a distância UAB-UEPB-2006-2010 /Maria das Graças Barros. - - João Pessoa: [s.n.], 2011. 110f. il. Orientadora: Sônia de Almeida Pimenta. Dissertação (Mestrado) – UFPB/CE. 1. Educação. 2. Concepções pedagógicas. 3. Mediação pedagógica. 4. Educação a distância. UFPB/BC CDU: 37(043) MARIA DAS GRAÇAS BARROS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: O CASO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A DISTÂNCIA – UAB/UEPB – 2006-2010 Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa Ensino e Aprendizagem como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Profª Drª Sônia de Almeida Pimenta-UFPB Orientadora _______________________________________ Profª Drª Ana Beatriz Gomes Pimenta de Carvalho-UFPE __________________________________________ Prof. Dr. Luiz Pereira de Lima Júnior- UFPB Aos meus pais pelo começo de tudo! Agradeço a meu Pai pela sabedoria de mundo com a qual nos tornou gente. À minha Mãe (ausente), agradeço pela cumplicidade, amizade e amor incondicional. A UM AUSENTE Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste Carlos Drummond de Andrade AGRADECIMENTOS Se cheguei até aqui foi pelo amor maior de Deus, a quem sempre recorri nos momentos de desânimo, tristeza e de agradecimento. A ele toda minha dedicação e fé. Aos meus pais que sempre tiveram como princípio a educação. Trabalharam para que os filhos alçassem vôos mais altos. Aos meus irmãos que se orgulham e incentivam qualquer iniciativa que contribua para o nosso crescimento. Principalmente, minha irmã Mariene, que teve sensibilidade de sugerir e lutar pela minha vinda para a UEPB. À Profª Eliane Moura, toda minha gratidão, por ter me aceito em seus projetos, com quais aprendi muito. As experiências não só contribuíram para o meu crescimento intelectual, mas, sobretudo, pessoal. Em nome da Profª Marlene Alves, Reitora da UEPB, agradeço a todos os colegas e amigos que fiz nesta instituição, os quais sempre me incentivaram. Às Professoras: Adalgisa Rasia, Divanira Arcoverde, Terezinha Costa, Terezinha Medeiros e Ana Beatriz: queridas companheiras de trabalho que sempre acreditaram no meu potencial. Minha eterna gratidão! À minha querida orientadora, Profª Sônia Pimenta, pelo incentivo e atenção dedicados. Pelas inteligentes intervenções, com as quais pude rever meu projeto e concretizar com sucesso minha pesquisa. Aos Professores do curso de Mestrado pela oportunidade de aprendizagem. Aos professores que participaram de minha pesquisa, meus agradecimentos, pela valiosa contribuição e pela compreensão que têm da pesquisa, enquanto fomento para o debate da qualidade na educação. Aos membros da banca examinadora pelas sugestões que muito contribuíram para o aperfeiçoamento deste trabalho. Às amizades construídas no Mestrado: Clotilde, Jamile, Cláudia Virgínia, Kátia Valéria, Hélida, Ivonice e Eduardo pelo companherismo, pela força! Aos queridos amigos, tutores do curso de Administração a Distância: Mayam, Taises, Paoline, Alexandre e Aubeny, que me acompanharam e me apoiaram nesta caminhada. Aos colegas de trabalhos, meus amigos: Gustavo, Prof. Robson, Carol, Tácia, Michele e Edna por terem sempre compreendido e aceitado minha forma de trabalhar. Enfim, a todos que direta ou indiretamente colaboram com carinho e paciência com o meu trabalho! Não há ensino sem pesquisa. Esses quefazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (Paulo Freire, 1999) RESUMO A Educação a Distância (EaD) vem evoluindo de forma a atender as novas demandas sociais, e se definindo como modalidade que se utiliza hoje de tecnologias mais avançadas para promover a interação e interatividade com vistas à aprendizagem entre sujeitos inseridos em um contexto sócio-histórico. A EaD tem como proposta inserir o indivíduo no processo de produção do conhecimento em rede, colaborativa e coletivamente. São vários os recursos utilizados para este fim, vão desde a plataforma virtual com suas já agregadas ferramentas como chat, fórum, arquivo, tarefa etc até outros artefatos que podem ser inseridos no processo de ensino e aprendizagem como links, e-mails, blogs, twitter etc. Neste trabalho, o objetivo foi o de investigar as concepções teóricas que implícita ou explicitamente norteiam as práticas pedagógicas dos professores do 6º semestre do curso de Administração a Distância da UEPB. Para tanto, foram identificadas as atividades de aprendizagem oferecidas pelos professores e suas respectivas ferramentas, atentando para as concepções subjacentes. Por fim, foram também averiguadas, nos discursos dos professores, a concepção pedagógica que respalda suas práticas. Sob a ótica da ressignificação e reconstrução do conhecimento propõe-se a discussão da abordagem sóciointeracionista de Vygotsky e do conceito de mediação pedagógica por ele evidenciado como referencial de uma prática, que atenda às exigências de uma educação conectada às necessidades atuais de nossa sociedade, de forma que sejam incorporadas as tecnologias em favor da construção coletiva do conhecimento. O estudo teve por base as perspectivas de ensino e aprendizagem que se instauram em cada paradigma, de forma que se pudesse refletir sobre as ações e interações dos professores, a partir delas. A pesquisa constituiu-se num Estudo de Caso de cunho qualitativo, uma vez que pretende descrever e interpretar os significados das falas dos professores, estabelecendo uma articulação entre o referencial teórico e a análise documental do material empírico, representado aqui pelos registros de uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem com suas respectivas ferramentas e o Projeto Político Pedagógico do curso. Os resultados da pesquisa apontaram que os professores investigados não possuem uma concepção pedagógica definida e suas práticas ainda estão presas a concepções pedagógicas tradicionais. Trabalham com as tecnologias digitais na EaD, mas não na dimensão, nem potencialidades que lhes são conferidas, muito menos como meios para a mediação pedagógica. Palavras-chave: Educação a distância. Concepções pedagógicas. Mediação pedagógica. ABSTRACT Distance Education (EaD) has been evolving to meet up with new social demands, and definite as a modality that uses today's most advanced technologies to promote interaction and interactivity to a view of learning among subjects set in a socio-historical context . The EaD's proposal is to insert the individual in the production process of knowledge networking, collaborative and collectively. There are several resources used for this purpose, since virtual platform aggregated with it's tools such as chat, forums, files, tasks, etc. to other artifacts that can be inserted on the process of teaching and learning as links, e-mails, blogs , twitter, etc.. The objective of this task was to investigate the theoretical concepts that implicitly or explicitly guides the teachers' pedagogical practices of the 6th semester of the class of Distance Administration of UEPB. To this, we identified the learning activities offered by teachers and their tools, focusing on the underlying concepts. Finally, we investigated, on the teachers words, the pedagogical concept that supports their practices. From the perspective of redefinition and reconstruction of knowledge is proposed to discuss the approach Vygotsky's social interactionism and the pedagogic concept of mediation as a reference for it evidenced a practice that fills the education requirements connected to the current needs of our society, so that the technologies are embedded in favor of constructing knowledge. The study is based on the perspectives of teaching and learning that are established in each paradigm, so that we can reflect on the actions and interactions of teachers, from that. The research constitutes a case study of qualitative character, since it seeks to describe and interpret the meanings of the words of teachers, establishing a link between the theoretical and the empirical analysis of documents, records represented here by the use of Virtual Environment Learning with their tools and Pedagogical Political Project of the course. The survey results indicate that the teachers surveyed do not have a defined pedagogical concept and its practices are still attached to traditional pedagogical conceptions. They work with digital technologies in distance education, but not on size or potential conferred upon them, much less as a means for the mediation. Keywords: Distante Education, Pedagogical Assumptions, Pedagogical Mediation. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ONLINE ...................................................................... 18 2.1 Conceituação e perspectivas ............................................................................. 18 2.2 EAD e o Ambiente Virtual de Aprendizagem: o Moodle ................................... 27 3 PERSPECTIVAS PARA EAD NO CENÁRIO DAS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS ....... 41 3.1 O Projeto Político Pedagógico ........................................................................... 3.2 As Concepções Pedagógicas ............................................................................ 3.2.1 Pedagogias liberais ............................................................................................ 3.2.2 Pedagogias progressistas .................................................................................. 3.2.2.1 A contribuição de Vygotsky para uma teoria de aprendizagem em EAD ........ 3.2.2.2 A pertinência da mediação pedagógica na EAD ............................................. 41 42 44 46 49 56 4 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................. 65 4.1 Abordagem e tipologia de pesquisa .................................................................. 4.2 O caso .................................................................................................................. 4.3 Os Sujeitos da pesquisa ..................................................................................... 4.4 Técnicas de coleta de dados .............................................................................. 4.5 Método de análise ............................................................................................... 65 66 68 68 69 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................. 71 5.1 Perfil dos Professores ........................................................................................ 5.2 Formação e atuação dos professores em EaD ................................................. 5.3 Ferramentas disponíveis no Moodle usadas pelos professores .................... 5.4 Concepções pedagógicas adotadas pelos professores .................................. 71 73 83 92 6 CONSIDERAÇÕES .................................................................................................. 97 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 101 APÊNDICE A 9 1 INTRODUÇÃO Desde o século XIX, que temos notícias da prática da Educação a Distância. Tudo começou de maneira informal. O ensino era por correspondência e utilizava-se do material impresso. A relação pedagógica se dava entre um professor de um lado e do outro o aluno. Essa é uma história que possui uma trajetória de avanços com acesso à educação em diferentes níveis, permitindo atender a grande massa de aluno. Dos cursos exclusivamente por correspondências, via correios, passou-se a agregar novas tecnologias aos cursos, de forma a atender um maior número de pessoas. Esse foi um salto que segundo Nunes (2009, p. 7) fez com que a Educação a Distância assumisse o seu papel enquanto organização com função de produção e supervisão, mesmo que ainda calcada na ideia de o professor ensinar e o aluno aprender. Hoje, vivemos uma nova fase, que vai desde a apropriação de uma nova tecnologia comunicativa, a telemática (informática com telecomunicação), aos novos conceitos de organização virtual, a rede (NUNES, 2009, p. 7). A Educação a distância, hoje, agrega outros recursos como a internet, softwares educativos que podem propor um ensino baseado na colaboração e na construção coletiva do conhecimento. Essa realidade propõe-se a oferecer cursos a distância em ambientes virtuais, que apontam novos processos de ensino e aprendizagem, uma vez que disponibilizam ferramentas que podem ser mediadas, em favor da construção coletiva do conhecimento, razão que insere a Educação a Distância um valor de ganho no sentido de flexibilizar o ensino independente do espaço e tempo. Aspectos valorizados no ensino presencial. A Educação a Distância (EaD) emerge como uma modalidade de formação, cujo objetivo é atender a uma demanda com dificuldade de frequentar o ensino presencial, seja por se encontrar distante dos grandes centros, seja por não dispor de tempo. A ideia, neste caso, seria dar oportunidade para qualificação profissional, criando uma mão de obra especializada, conforme Moran (2009, p. 2) “No Brasil, a EaD sempre esteve ligada ao ensino técnico ou à formação de mão de obra qualificada e, de uns 12 anos para cá, entrou também no ensino superior, embora a grande expansão do 10 método esteja na formação de professores”. Este último também é resultado das definições do Ministério de Educação e Cultura em seus artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-9394/96, no artigo 52, item II, que exige que pelo menos um terço do corpo docente das instituições de ensino superior tenha titulação acadêmica, e o artigo 62 que exige a formação em nível superior para os professores que atuam na educação básica. A expansão da Educação a Distância no Brasil segue uma tendência mundial que tem como proposta atender, sobretudo, a adultos na sua formação inicial. Acreditase que essa expansão será benéfica, pois, oportunizará a aprendizagem para muitas pessoas, ampliando o acesso e diversificando o campo de aprendizagem, principalmente, no Brasil, que ainda apresenta um quadro muito negativo de pessoas sem acesso ao ensino. Segundo Schwartzman (2010) “no Brasil, apenas 10 milhões de pessoas têm uma graduação (menos de 10% da população adulta) e pouco mais de 5 milhões estão matriculados em uma universidade (menos de 14% da população jovem)”. Esse resultado dimensiona uma realidade que precisa urgentemente de intervenções no sentido de criar mais oportunidade de ensino. A EaD já faz parte de iniciativas de democratização do ensino, mas a maneira pela qual está se dando esse processo tem levado muitos estudiosos a discutir e questioná-la, pela sua crescente ascensão, expansão e universalização em nome da democratização do conhecimento. Segundo Alves (2003, p. 6), “os cursos on-line tornaram-se, assim, espelhos daquilo que há de pior no ensino presencial de hoje, com o agravante de estarem sendo apresentados para a população como uma das grandes inovações educacionais dos últimos tempos”. Essa observação nos leva a pensar a educação a distância sendo tratada como mercadoria, ou seja, a instituição oferece o curso de maior procura, àquele referendado pelo mercado sem a preocupação com a qualidade daquilo que se está oferecendo. Também preocupa-nos o fato de que se utilizem as tecnologias digitais de forma apenas instrucionista, usando a internet apenas como meio para veiculação da informação e os softwares para o estudo dirigido. Nesse sentido, concordamos com Valente (2003, p.139) quando diz da importância da EaD para a formação inicial, no entanto, ele lastima que grande parte desses cursos acabem por fazer uma “imitação 11 das abordagens tradicionais de ensino, viabilizadas porém por meio de recursos tecnológicos digitais”. Segundo Moran (2000, p. 139), quando o ensino se limita a transpor, para o virtual, adaptações do ensino presencial (aula multiplicada ou disponibilizada), a máquina, ou o ambiente virtual de aprendizagem oferece uma interação fria e unideracional com atividades pouco interativas como questionários, rotinas, provas, email, etc. Todavia, hoje caminhamos para uma relação de cooperação ou uma participação coletiva da aprendizagem. Os ambientes virtuais de aprendizagem oferecem possibilidades de construção coletiva de aprendizagem, o que significa que saímos da utilização das mídias unidirecionais como televisão, jornal, rádio para as mídias interativas, a exemplo de televisão educativa, videoconferência, objetos de aprendizagem, redes on-line etc. Por isso, a Educação a Distância, enquanto modalidade de ensino e aprendizagem, evoca uma nova prática que precisa ser estudada e investigada para que compreendamos e possamos incorporar a utilização das tecnologias digitais nas instituições, de forma que a tecnologia venha a contribuir para a construção coletiva e mediada do conhecimento. Necessário, pois, acrescentar um olhar para a aprendizagem de indivíduos conectados em rede, com mediadores que orientem sua aprendizagem, a partir das interfaces que os ambientes de aprendizagem oferecem. A mediação pedagógica, enquanto possibilidade de intervenção que orienta a prática educativa significa que toda atividade do sujeito sobre o objeto deva ser mediada pelo social por meio de signos internos e externos. Pode ser pelo uso da linguagem e/ou pela ação de outro sujeito ou ferramentas. A EaD, especialmente, a online, diferentemente do ensino presencial, apresentase em uma nova cultura, a cibercultura, pela inserção das tecnologias digitais. Segundo Levy (1999, p. 157), a EaD introduz uma nova relação com o saber, uma vez que apresenta novas formas de acesso à informação, novos estilos de raciocínio e de conhecimento, e, sobretudo, novas práticas pedagógicas, portanto, merece um olhar mais criterioso, no sentido de rever gestão, planejamento, metodologia e os papeis de seus atores. 12 Dentre as práticas pedagógicas desenvolvidas em EaD, destacamos aquela em que o processo está focado na aprendizagem do aluno. Neste caso, o aluno deve ser visto em sua singularidade, como sujeito capaz de produzir e socializar conhecimentos. O professor atuaria como mediador do processo, como aquele que orienta as ações e, sobretudo, oferece mecanismos para que o aluno refaça os percursos em direção à ampliação e reconstrução do conhecimento. As tecnologias, especificamente, as digitais, seriam aliadas nesse processo de aprendizagem, uma vez que teriam o papel de fomentar a socialização do conhecimento, como também de promover a aproximação entre os pares, a colaboração entre parceiros, o feedback. As tecnologias digitais permitiriam o refazer dos caminhos em busca de aprimoramento. É nesse sentido que Almeida (2003, p. 203) ratifica a importância das tecnologias digitais em favor da prática pedagógica, O papel interativo do uso da TIC no ato pedagógico se revela na possibilidade de criação dialógica e intersubjetiva propiciada pelas interações entre pensamentos, conceitos, imagens, mídias e idéias, nas quais o sujeito atua de forma consciente com os objetos de conhecimento. Esta é a realidade da Educação a Distância. Temos, pois, um cenário favorável, em que vemos o crescimento significativo da EaD, seja pelo avanço das tecnologias, seja pelo investimento das políticas públicas, especialmente, no Brasil. Todavia, esse boom tem preocupado muitos estudiosos, pois, a quantidade de cursos oferecidos, a extensão territorial atendida, o número de alunos com acesso podem representar uma falsa ilusão de democratização do ensino superior. A quantidade aí representada pode se colocar em detrimento da qualidade de ensino oferecida pelas instituições. É nesse contexto de preocupação que nos inserimos, enquanto estudiosa e partícipe de Programas de Educação a Distância da Universidade Estadual da Paraíba. Mesmo compreendendo que nos encontramos num processo contínuo de aprendizagem, reconhecendo que as instituições estão em processo de adaptação à Educação a Distância, entendemos que muito tem que ser visto e estudado nessa modalidade. Não acreditamos na simples transposição do presencial para o virtual. Por isso, refletimos sobre as políticas de expansão, a estruturação dos cursos, desde os currículos, avaliações a práticas pedagógicas. 13 Nossa experiência leva-nos a questionar objetivos das políticas públicas no que diz respeito à expansão dessa modalidade, a exemplo do curso, objeto de nosso estudo, Bacharelado em Administração a Distância. Curso criado por edital da Universidade Aberta do Brasil, que prioritariamente, tem como propósito a formação de professores, através de curso de licenciatura, mas, que conforme Carvalho (2009, p.131) “causa estranhamento, portanto, que o curso do Projeto Piloto da UAB seja um curso de Bacharelado em Administração e não um curso de Licenciatura”. Curso, especialmente, criado para formar funcionários do Banco do Brasil, realidade que levanta mais questionamentos, uma vez que ele foi elaborado como uma proposta curricular única para atender a todos os funcionários, por isso, considerado por Carvalho (2009, p. 131) “um pacote pronto e acabado que representa muito bem o modelo proposto por Peters (1983) para a educação fordista”. Já com relação à prática pedagógica dos cursos a distância, chama nossa atenção quando observamos, que na maioria das vezes, não existe uma preocupação com estudo prévio voltado para o estabelecimento de uma relação entre o Projeto Político Pedagógico, a realidade dos sujeitos na qual estão inseridos, a concepção pedagógica adotada e a prática educativa, a qual deve ter por objetivo considerar que tipo de sujeito se quer formar e para qual sociedade. Notamos que a prática em EaD fica restrita a um ensino que desconsidera o contexto sócio-histórico, tão real e determinante nas relações. Desconsidera as potencialidades do sujeito e das tecnologias que estão disponíveis na sociedade para atender às necessidades desse sujeito. A comunicação hoje é instantânea, as relações sociais se dão basicamente via internet, pois, hoje, as pessoas compram, vendem, namoram, informam, são informados via internet. Nós estamos construindo uma vida “paralela” pela internet, através das redes sociais, mas a escola parece não enxergar essa mudança. E muitas práticas em EaD parece não levar a sério o que temos aí. Por que o mais óbvio é que se temos uma modalidade de educação que pode atender a mais pessoas com maior flexibilidade, oportunizando mais interação com a tecnologia, favorecendo maior interatividade. Então, por que não procurarmos entender melhor essa modalidade e dela tirarmos o maior proveito em favor de uma educação mais democrática e de maior 14 qualidade? O que nos falta para que tenhamos uma prática pedagógica mais coerente e comprometida? O nosso interesse nessa particularidade tem se fundamentado nas práticas que vêm sendo desenvolvidas em instituições, que se encontram ainda estruturadas, a partir de uma concepção tradicional de educação. Segundo Alves (2003, p. 6), essas práticas, mesmo que se apresentem com um discurso progressista, ainda continuam presas à reprodução do conhecimento. E, ampliando esta visão para EaD, que tem em si agregados os recursos tecnológicos, a preocupação é maior, pois, estes criam perspectivas e apresentam-se como potencialidades para um ensino, cujos objetivos pedagógicos seriam inserir os alunos no processo de reconstrução do conhecimento. Nesse mesmo pensamento, Demo (2000, p. 4) tem a sensibilidade de dizer que a aprendizagem não pode ser vista ou encarada só pela via da razão, até porque a forma de aprendizagem muda de um sujeito para outro. Ele acrescenta que “a sabedoria de lidar com limites e desafios, para que os limites sejam vistos como desafios, e estes como intrinsecamente limitados”. Considerando, pois, a nossa realidade em EaD, gostaríamos de compreender que concepção pedagógica subjaz a prática dos professores do curso de Administração a Distância, curso oferecido pela Universidade Estadual da Paraíba, tomando por base alguns questionamentos, uma vez que assistimos a práticas ainda presas aos moldes tradicionais. Sendo assim, o que justifica as práticas pedagógicas desses professores? As práticas educativas seriam resultados da concepção pedagógica incorporada pelos professores durante sua formação? Quais seriam essas concepções? A base para uma discussão que atente para essas realidades será fundamenta, a partir de uma revisão de literatura em que se tem como parâmetro de educação progressista a teoria interacionista, ou sociointeracionista de Vygostsky, a qual permite embasar uma prática pedagógica com foco na aprendizagem, na construção coletiva do conhecimento e na mediação pedagógica. Nesta perspectiva, nossos objetivos específicos trataram de identificar as atividades oferecidas pelos professores e suas respectivas ferramentas, atentando para as concepções subjacentes; identificar as concepções de ensino e aprendizagem presentes no Projeto Político Pedagógico do curso de Administração a Distância; 15 averiguar, nos discursos dos professores, a concepção pedagógica que respalda sua prática pedagógica. Os nossos sujeitos da pesquisa são os professores, do 6º período do curso de Administração a Distância da UEPB, que no caso são três, os ministrantes das disciplinas: “Gestão de Pessoas”, “Marketing” e “Gestão Ambiental e Sustentabilidade”. A entrevista contemplou questões relativas à atuação dos professores em EaD, sua formação em EaD, e, especificamente, sobre sua prática no curso citado. Na análise do Projeto Político Pedagógico foi identificada a proposta didáticometodológica a que se propõe o curso de Administração a Distância, aspecto que permitiu um feedback com os discursos dos professores referentes à sua atuação em EaD. No ambiente virtual de aprendizagem foram identificadas e analisadas as ferramentas utilizadas pelos professores, considerando a disponibilidade dessas ferramentas como a metodologia adotada pelo professor. Este trabalho está organizado em cinco capítulos. O primeiro, enquanto capítulo de Introdução, traça um perfil da pesquisa, apresentando interesses, objetivos e justificativa para o desenrolar do trabalho. No segundo capítulo, apresentamos a realidade da EaD no Brasil e sua expansão e perspectivas, contando com a vigente preocupação dos teóricos sobre a qualidade do ensino que se está oferecendo. A expansão do ensino no Brasil é necessária, e a EaD torna-se uma alternativa pelo fato de atender a um número bem maior de pessoas, sem necessariamente essas pessoas terem que se deslocar para uma escola física. No entanto, atender a essa demanda sem critérios de qualidade é o que nos leva a questionar esses cursos e atuação dos professores que se submetem a essa modalidade sem de fato estarem preparados para tal. Ainda no segundo capítulo, apresentamos o Ambiente Virtual de Aprendizagem, o Moodle, (Modular Object Oriented Distance LEarning) como uma plataforma que disponibiliza várias ferramentas de uso síncrono e assíncrono, ou seja, aquelas que permitem a interação em tempo real e outras que não, mas que auxiliarão o professor e/tutor a interagirem mais e melhor com os alunos. 16 No terceiro capítulo, tentamos compreender a atuação dos professores de EaD, a partir de um contexto que surge no século XIX, mas que tem avançado com perspectivas de atuação que vão desde uma abordagem instrucionista à uma atuação progressista com o uso das tecnologias em favor da construção coletiva do conhecimento. Por isso, trazemos uma discussão sobre as concepções pedagógicas de ensino e aprendizagem, destacando a contribuição da abordagem interacionista de Vygotsky para uma prática de Educação a Distância. Discutimos ainda a pertinência da mediação pedagógica na EaD. O quarto capítulo versa sobre a abordagem adotada na pesquisa, detalhando o estudo de caso, sujeitos, método de coleta de dados e método de análise, configurando-se numa abordagem qualitativa, uma vez que se trata de um estudo de caso que tenta compreender as práticas pedagógicas dos professores de EaD e suas respectivas concepções pedagógicas. Faremos uma análise das falas dos professores sobre a temática de Educação a Distância, tecendo uma articulação com o aporte teórico e o Projeto Político Pedagógico. No quinto capítulo, apresentamos os resultados e análise da pesquisa no que se refere à observação do ambiente virtual de aprendizagem e a sua aplicabilidade pelo professor e os resultados da investigação, a partir de uma análise temática. Por fim, pensamos que a relevância desta pesquisa está no fato de querermos compreender qual ou quais concepções pedagógicas norteiam a prática dos professores de EaD, uma vez que entendemos que nenhuma prática emerge sem uma teoria que a justifique e/ou vice-versa. Pois, se a concepção pedagógica for entendida como prática social, esta fará emergir na prática educativa do professor a sua visão de sujeito, e assim sendo, será revelada que tipo de sujeito ele está preparando. Para uma visão progressista sócio-histórica, é imprescindível que se tenha o entendimento de homem numa perspectiva dialética, em que não se pode reduzi-lo a um mero instrumento ou tábula rasa, mas homem no sentido de sujeito que age, se transforma e transforma a natureza. O professor, nessa perspectiva, deve trabalhar como mediador das ações do aluno, percebendo suas particularidades e considerando o conhecimento trazido por ele, a fim de que o aluno consiga superar os conhecimentos existentes e avançar para o patamar das potencialidades. 17 Preti (2009, p. 19) afirma que o autor e professor ao pensar o processo ensino e aprendizagem e que queiram desempenhar seu papel tendo como suporte o livro didático “deve ter claras não somente as bases epistemológicas do que vai ensinar como qual sua ideologia, qual conceito tem de homem, de educação e de sociedade. Pois seu ato é e sempre será político, muito distante da possibilidade de neutralidade”. A este enunciado, acrescentamos que qualquer suporte, não só o do livro didático, que queira o professor utilizar, deve considerar essa possibilidade, a exemplo do uso das tecnologias digitais. Pois, a metodologia usada pelo professor nos cursos a distância com a mediação das tecnologias digitais, seja ela qual for, denunciará a sua concepção de mundo e/ou concepção pedagógica. 18 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ONLINE: CONCEITUAÇÃO E PERSPECTIVAS A Educação a Distância, ao longo do tempo, vem se constituindo enquanto modalidade de ensino a distância online, segundo trajetória marcada pela demanda sócio-econômico-cultural. O avanço da tecnologia, o número de analfabetos que ainda é muito significativo, o mercado exigindo mão de obra qualificada, uma pequena parcela de pessoas com ensino superior, constitui um cenário propício para uma educação que chegue a todos que queiram continuar sua formação ou mesmo se qualificar, independente de seu espaço geográfico. Uma educação que pela flexibilidade minimize a desigualdade social que persiste nos países subdesenvolvidos. Nesse sentido, considera Preti (1996, p.25), “A desigualdade social contrasta com as mudanças tecnológicas e as exigências de qualificação no mundo do trabalho”. 2.1 Educação a distância: uma modalidade que se constrói O termo Educação a Distância (EaD) pode ser conceituado, segundo Alves (2003, p. 2), como “uma modalidade de transmissão e/ou construção do conhecimento sem a presença simultânea dos agentes envolvidos”. Para Preti (1996, p. 25-26), os elementos considerados como constituintes da EaD são a ‘distância’ física entre professor-aluno, a aprendizagem acontece virtualmente; o estudo individualizado e independente, a capacidade de construir seu caminho leva-o ao auditadismo, o processo de ensino-aprendizagem mediatizado pelos materiais didáticos, meios tecnológicos, sistema de tutoria e de avaliação, de forma que promova a autonomia; pelo uso das tecnologias que contribuem para romper com a distância física e contribuir com a aprendizagem colaborativa; e comunicação bidirecional, que busca estabelecer relações dialogais e participativas. Esses elementos citados por Preti (1996) contribuem para uma discussão que pode se estender, neste caso, vislumbrando concepções distintas do processo ensino e aprendizagem, pois, acreditamos que o estudo pode ser individualizado, uma vez que o aluno precisa de momentos a sós para a reflexão, mas a construção do saber deve ser coletiva, e discordamos do elemento independência, pela conotação que traz, no 19 sentido de essa independência levar ao autodidatismo, como o próprio nome deixa claro. Essa terminologia, autodidatismo que supõe alguém ensinar a si mesmo é uma condição que, a nosso ver, desmerece o outro, elemento essencial para a construção coletiva do conhecimento, através da mediação pedagógica A Educação a Distância tem um percurso que inicia com a possibilidade de atender à população, que por várias razões não podia frequentar os estabelecimentos de ensino, os quais sendo instituições formais exigiam a presença física dos alunos (ALVES, 2003, p. 3). A questão, pois, de um ensino voltado para atender a população que não podia frequentar o espaço físico das escolas, tem início com oferecimento de cursos desenvolvidos por correspondência, texto impresso e a instrução. Desde o século XIX até a segunda guerra mundial foram adotadas várias formas de se fazer EaD e as metodologias foram influenciadas por novos meios de comunicação, a exemplo do rádio e do código Morse (NUNES, 2009, p.2). Para Moore e Kearsley (2007, p.27), de início, a EaD era difundida pelo rádio e televisão e fundamentava-se na ideia de se oferecer oportunidade àqueles que não tiveram acesso à escola quando estavam em idade escolar. Associado ao material impresso, o ensino a distância, tornava-se mais acessível e atingia uma grande massa da população. Neste caso, o ensino se caracteriza como unidirecional, as informações são passadas uniformemente, de uma via a outra. Os alunos recebem as instruções, gravam conceitos, respondem aos exercícios propostos e enviam para a central para uma avaliação, que vai lhe garantir a passagem para um próximo módulo. Com a inserção do rádio e da televisão, a EaD concretiza-se enquanto geração analógica, pelo envio de matérias e transmissão via ondas. Com este advento é possível a criação da Universidade Aberta (Open University), que já apresenta uma visão sistêmica da educação, segundo Moore e Kearsley (2007), foi considerada um modelo de sucesso pelo uso de diferentes meios de comunicação e por isso serviu de exemplo para o país. A EaD avança com as redes de computadores, recursos para conferências e multimídia. Segundo Moore e Kearsley (2007, p. 46), o surgimento da internet com base na web provocou um grande avanço para Educação a Distância. O sistema da world 20 wide web permitia o acesso a um documento por diferentes computadores. Foi em 1993, que surgiu o primeiro navegador da web, permitindo aos educadores um novo meio para obter acesso à educação a distância. Este é um momento histórico que permite a universalização do aprendizado como consequência dos avanços tecnológicos. As novas tecnologias de informação e comunicação, a internet, os softwares educativos permitiram criar recursos como áudio, vídeo em uma única plataforma de comunicação. A Educação a Distância sofre influências das mudanças que acontecem na sociedade, mudanças essas que têm sido fruto dos movimentos naturais da história, das relações e das demandas sociais, econômicas, históricas e culturais que emergem. Na contemporaneidade, os avanços se dão, sobremaneira, na área tecnológica, uma reação que exige da sociedade um empenho e maior relevância à área do conhecimento nos processos de produção. Segundo Bernheim e Chauí, (2008, p. 7) “Atualmente, as economias mais avançadas se fundamentam na maior disponibilidade de conhecimento. A vantagem comparativa é determinada cada vez mais pelo uso competitivo do conhecimento e das inovações tecnológicas.” Assim, a EaD se constrói como mais um modo regular de oferta de ensino, perdendo seu caráter supletivo, paliativo ou emergencial, e assumindo funções de crescente importância, principalmente na graduação, seja na formação inicial (ensino superior regular), seja na formação continuada, cuja demanda tende a crescer de modo exponencial, em virtude da obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento (BELLONI, 2001, p. 139). A EaD, hoje, tem a seu favor as tecnologias da informação e da comunicação, as quais podem auxiliá-la para lidar com a complexidade da vida moderna, com a aceleração do progresso de ciência, e tecnologia, mas que não pode prescindir de sua principal característica que é o combate à desigualdade social, econômica e cultural. No Brasil, a EaD está normalizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no artigo 80 que trata desta modalidade de ensino, e também por outros decretos. O decreto 5.622/2005, no seu artigo 1º caracteriza a EaD “enquanto modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e 21 comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. Consideramos esse decreto um avanço na perspectiva de compreender o ensino e aprendizagem como processo de mediação e não como autoaprendizagem como rezava o decreto anterior Com o desenvolvimento desta modalidade de ensino, foi criada oficialmente, pelo Decreto nº 1.917, de 27 de maio de 1996, a Secretaria de Educação a Distância (SEED), entidade vinculada ao Ministério da Educação. Ela atua como entidade de fomento das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem. Com ela foram criados programas como TV escola que tinha por objetivo atualizar e formar professores, através de programas em vídeos. O Proinfo, programa de formação de professores da rede pública para o uso da informática nas ações pedagógicas. Em agosto de 2000, foi criado a UniRede, consórcio que reúne mais de 60 instituições públicas de ensino superior e, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, foi criado o Consórcio Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro CEDERJ, uma parceria entre o governo do Estado com as Universidades públicas e as prefeituras. Segundo Carvalho (2009, p. 82) o CEDERJ tinha a função de operacionalizar os cursos a distância, e a UniRede “de articular as ações de educação a distância desenvolvidas por instituições públicas, mantendo uma interlocução constante com o governo federal no sentido de direcionar as políticas públicas em educação a distância no ensino superior.” No entanto, a primeira ação do governo federal para criação de cursos superiores a distância, foi através de editais com o Programa Pró-licenciatura, publicado em junho de 2004, no qual a Universidade Estadual da Paraíba participa, integrando o Consórcio Nordeste Oriental como Polo dos Cursos de Matemática, Física e Química em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Curso de Biologia em parceria com a Universidade Estadual de Pernambuco, totalizando 240 (duzentos e quarenta) alunos matriculados. Aproveitando sua experiência na implementação destes cursos, a Universidade Estadual da Paraíba se propôs a participar do projeto piloto do MEC com o curso Bacharelado em Administração para ofertar 500 (quinhentas) vagas no estado, distribuídas em quatro Polos de atendimento. A opção por essa modalidade a distância é a de atender a estudantes residentes em 22 regiões sem instituições de ensino superior, como profissionais em serviço que necessitam de formação em nível universitário. O programa Pró-Licenciatura foi substituído pelo Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Segundo Carvalho (2009, p. 132) essa substituição aconteceu de forma radical e não houve uma avaliação prévia ou mesmo uma necessidade de adequação do anterior pela nova proposta. Carvalho (2009), em todo o seu texto faz uma análise dos processos e articulações para a criação de cursos de Formação de professores, a partir de programas como o Pró-Licenciatura, programa constituído como política pública com o objetivo de formar professores em exercício, como também expandir o ensino superior no Brasil. A Universidade Aberta do Brasil-UAB foi criada em 2005 em parceria com o MEC, estados e municípios. Ela tem o propósito de desenvolver pesquisas e oferece cursos de graduação e pós-graduação a distância. Trata-se de uma política pública de articulação entre a Secretaria de Educação a Distância - SEED/MEC e a Diretoria de Educação a Distância - DED/CAPES com vistas à expansão da educação superior. A proposta da UAB é que estados e municípios disponham de Polos Presenciais com a oferta de bibliotecas, laboratórios pedagógicos e de informática, tutores presenciais para atendimento e sala para videoconferência. O Sistema UAB sustenta-se em cinco eixos fundamentais quais sejam: a expansão pública da educação superior, considerando os processos de democratização e acesso; o aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições de ensino superior, possibilitando sua expansão em consonância com as propostas educacionais dos estados e municípios; a avaliação da educação superior a distância tendo por base os processos de flexibilização e regulação implantados pelo MEC; o estímulo à investigação em educação superior a distância no País; o financiamento dos processos de implantação, execução e formação de recursos humanos em educação superior a distância. (UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, 2005) O primeiro edital lançado pela UAB foi em 2005 com cursos, exclusivamente, oferecidos por instituições federais. Em outubro de 2006, num segundo edital, abriramse para todas as instituições públicas. A EaD, através da Universidade Aberta do Brasil, tomou uma dimensão que tem instalado, hoje, em todo território brasileiro 695 polos 23 presenciais de apoio à Educação a distância. São 368 instituições vinculadas ao Programa, sendo 168 universidades públicas. São oferecidos cursos de Bacharelados, Licenciaturas, Tecnólogos e Especializações. Esses cursos são voltados para a formação inicial e continuada de professores de educação básica da rede pública, e para o público em geral interessado (demanda social). As vagas para atendimento da demanda social são acertadas entre as instituições de ensino ofertantes e os governos locais, sendo publicadas nos editais de seleção de estudantes para os cursos. (UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, 2005) A UAB se expandiu, através do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação, ofereceu cursos para professores pela Plataforma Freire, programa de formação de professores, com a criação de 127.633 vagas para o ano de 2010. (UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, 2010). Ela é considerada por Mota (2009, p. 297) como uma “oportunidade para experiências e ações de caráter andragógico [...] como também, ela apresenta as bases para uma educação de adultos que trazem experiências prévias do mundo do trabalho”. Mota (2009) considera que a UAB tem um caráter andragógico pelo fato de oferecer cursos mais específicos para adultos, considerando os conteúdos e procedimentos que levem em conta, que mais do que as crianças, os adultos apresentam características de auto-aprendizagem, e conseguem estabelecer relação dos conteúdos com suas experiências pessoais e profissionais. Diante do exposto, percebemos que as políticas públicas sinalizam a expansão do ensino superior de forma a atender a todos e, sobretudo, aos professores da educação básica para que possuam, no mínimo, uma formação inicial. Essa é uma proposta do governo para interiorizar e universalizar o ensino superior, e a Educação a Distância pode ser uma alternativa. Nesse sentido, os cursos superiores a distância, oferecidos pela UAB, seguem uma dinâmica organizacional com a presença do professor, neste caso específico dos cursos oferecidos pela UAB/UEPB, que pode assumir a função de professorpesquisador, professor-autor e professor-formador para elaborar os materiais didáticos e planejar as estratégias de ensino. Em uma instituição de ensino superior que promova cursos a distância, o professor pesquisador teria a função de estabelecer os fundamentos teóricos do projeto; de selecionar e preparar todo o conteúdo curricular 24 articulado a procedimentos e atividades pedagógicas; de identificar os objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades e atitudes; de definir bibliografia, videografia, iconografia, audiografia, tanto básicas quanto complementares; de elaborar o material didático para programas a distância; de realizar a gestão acadêmica do processo de ensino-aprendizagem, em particular motivar, orientar, acompanhar e avaliar os estudantes; de avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distância (BRASIL, 2007). Já o professor-autor, além da função de elaborar o material didático, pode também assumir a função do professor-formador, aquele que atua apenas durante o desenvolvimento de determinadas disciplinas; apresenta e trabalha os conteúdos, orientando e esclarecendo as possíveis dúvidas; coordena o processo de ensinoaprendizagem nas salas de aula virtuais; elabora as atividades obrigatórias; elabora e corrige as provas presenciais (BRASIL, 2007). Segundo Carvalho (2007, p.8): O foco deste professor é superar as dificuldades dos alunos com o conteúdo específico, buscando alternativas para facilitar o processo de aprendizagem, pensando em momentos presenciais e no formato adequado do conteúdo para ser usado virtualmente. Ao tutor cabe auxiliar o aluno em suas tarefas, mediando suas ações, de forma que solucione seus problemas. Segundo os Referencias “o tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem” (BRASIL, 2007, p. 21). O tutor atua como elo mediador entre os alunos, professores e a universidade; acompanha determinada turma e/ou disciplinas; tem o papel de mediador da aprendizagem, coletando informações sobre os alunos e, especialmente, motivando-os, seja presencial ou virtualmente. No sistema UAB, o tutor pode exercer a função de tutor presencial ou tutor a distância. O tutor a distância atua junto à instituição, acompanhando a atuação dos alunos. Assume o papel de tutor-mediador pelo fato de atuar nos fóruns, tirando as dúvidas de conteúdo e mediando a construção coletiva do conhecimento. Este tutor participa do processo avaliativo juntamente com o professor. 25 O tutor presencial atua no Polo no sentido de auxiliar os alunos em suas dúvidas técnicas e pedagógicas. Ele deve ser conhecedor do Projeto Político Pedagógico e dos conteúdos das disciplinas, um incentivador de aprendizagem e mediador de todas as ações, sejam comunicativas ou pedagógicas, entre alunos e professores. O papel do tutor é de vital importância, pois, caso ele não compreenda a concepção do curso ou não tenha sido devidamente preparado para orientar o aluno, corre-se o risco de um atendimento inadequado e um possível isolamento do aluno. O coordenador de curso tem o papel de acompanhar e coordenar as ações acadêmicas discentes e docentes, planejar e gerir as atividades presenciais e virtuais dentre outras atribuições. O Coordenador de Polo assume a função de acompanhar e coordenar as atividades docentes, discentes e administrativas do Polo. Prover, juntamente com o mantenedor do Polo, as necessidades materiais, de pessoal e de ampliação. Gerencia o espaço físico e material. Zela pela infra-estrutura etc. Com o uso de ambientes virtuais de aprendizagens, aos técnicos cabem sua administração e gerenciamento, a partir das configurações pré-estabelecidas. Esses técnicos em informática orientam e habilitam os professores sobre a configuração do ambiente, considerando impacto de segurança, privacidade, acesso e performance. Prepara os profissionais para a implementação de políticas eficazes de gestão de utilizadores, de organização de disciplinas e de atribuição de papéis aos utilizadores (alunos, professores e outros papéis); ensina a instalar e configurar módulos, blocos, filtros e pacotes linguísticos do Moodle (DIAS, 2009). Fica claro, diante do exposto, o quanto a EaD tem se expandido e avançado em sua estrutura quando incorpora todo esse aparato tecnológico e sistêmico. Mesmo assim, vimos que nesse processo de expansão muitos desafios são postos. Um deles é justamente impor um padrão de qualidade à proposta de EaD, conforme Alves (2003, p. 6), parte desses cursos é estruturada a partir de uma concepção tradicional de educação (muitas vezes velada sob uma roupagem mais avançada), em que o objetivo do processo de aprendizagem é apenas a reprodução de um conhecimento já estabelecido 26 Com ênfase em uma prática pedagógica de EaD fundamentada no processo da mediação pedagógica, vislumbramos essa modalidade como uma alternativa de se democratizar o conhecimento, visto a mediação ser uma prática que respeita o “ser” e o “estar” do sujeito, oportunizando que ele refaça, reveja e produza seu próprio conhecimento. Essa prática deve ser compreendida como uma prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se democratizar o conhecimento. É, portanto, uma alternativa pedagógica que se coloca hoje ao educador que tem uma prática fundamentada em uma racionalidade ética, solidária e comprometida com as mudanças sociais (PRETI, 1996, p. 27). Prática mediatizada porque a EaD utiliza recursos tecnológicos para viabilizar o processo educativo, que imprescinde da mediação pedagógica, ato de intervenção deliberada para a construção do conhecimento. Para além dessa história, o Ministério da Educação-MEC, através da Secretaria de Educação a Distância – SEED, cria um documento que referencia a qualidade para a modalidade de educação de ensino superior a distância. Esse, chamado de Referenciais de Qualidade para a Educação a Distância, circunscrevem-se no ordenamento legal vigente em complemento às determinações específicas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, do Decreto 5.622, de 20 de dezembro de 2005, do Decreto 5.773 de junho de 2006 e das Portarias Normativas 1 e 2, de 11 de janeiro de 2007. Eles têm como objetivo padronizar as normas e procedimentos que regulamentem a oferta de cursos a distância (BRASIL, 2007, p.5). Os aspectos ligados à modalidade de educação a distância, que foram destacados nestes referenciais como norte para que se atinja o padrão de qualidade enunciado pelo Ministério da Educação considera os seguinte tópicos, conforme documento oficial do SEED/MEC (BRASIL, 2007, p.5). a) a caracterização de EaD visando instruir os sistemas de ensino; b) o estabelecimento de preponderância da avaliação presencial dos estudantes em relação às avaliações feitas a distância; c) maior explicitação de critérios para o credenciamento no documento do plano de desenvolvimento institucional (PDI), principalmente em relação aos pólos descentralizados de atendimento ao estudante; d) mecanismos para coibir abusos, como a oferta desmesurada do número de vagas na educação superior, desvinculada da previsão de condições adequadas; 27 e) permissão de estabelecimento de regime de colaboração e cooperação entre os Conselhos Estaduais e Conselho Nacional de Educação e diferentes esferas administrativas para: troca de informações; supervisão compartilhada; unificação de normas; padronização de procedimentos e articulação de agentes; f) previsão do atendimento de pessoa com deficiência; g) institucionalização de documento oficial com Referenciais de Qualidade para a educação a distância. Os Referenciais de Qualidade para EaD consideram que um Projeto Político Pedagógico de um curso a distância deve privilegiar categorias que dêem conta da complexidade sistêmica que é a Educação a Distância, a exemplo destas: Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; Sistemas de Comunicação; Material didático; Avaliação; Equipe multidisciplinar; Infra-estrutura de apoio; Gestão Acadêmico-Administrativa e Sustentabilidade financeira. (BRASIL, 2007, p. 8) Para a concepção de educação, o documento evidencia uma preocupação com o ensino voltado para o sujeito, aquele que constrói o conhecimento, levando em conta a realidade na qual está inserido. Define-se por uma filosofia que, através das tecnologias, garanta maior interação e interatividade, e com isso, os alunos possam socializar e produzir conhecimentos. Fica claro nos Referenciais a preocupação com uma concepção que assegure uma concepção pedagógica voltada para atender aos interesses e necessidades do aluno, atentando para os saberes construídos e o porvir. Daí a importância da educação superior ser baseada em um projeto pedagógico e em uma organização curricular inovadora, que favoreçam a integração entre os conteúdos e suas metodologias, bem como o diálogo do estudante consigo mesmo (e sua cultura), com os outros (e suas culturas) e com o conhecimento historicamente acumulado (BRASIL, 2007, p. 9). 2.2 EaD e o Ambiente Virtual de Aprendizagem: o Moodle A tecnologia vem acompanhando o homem desde sua origem, tendo em vista ser ela considerada como recurso que o homem cria para auxiliá-lo no seu dia a dia. O homem cria seus utensílios e ferramentas para que os ajude a resolver e superar seus problemas. Com a tecnologia, o homem se organiza para a convivência na sociedade. 28 Hoje, por exemplo, conforme Kenski (2003, p. 25) “o homem encontra-se diante de um modelo totalmente novo de organização social, baseado na combinação da tecnologia da informação e da comunicação, cuja substância e matéria-prima é totalmente visível: a informação.” A informação, sobretudo, na sociedade capitalista, passa a ser considerada um bem valioso de consumo, tal como afirma Bernheim e Chauí (2008), que chamam nossa atenção para a centralidade que se dá hoje ao conhecimento enquanto sinônimo de poder e riqueza, que é o que resulta em mera mercadoria. A informação, a tecnologia aproxima e exclui os homens, há os que têm e há os que não têm. Segundo Demo (2006, p. 11) “as tecnologias invadem o campo da educação, abrindo, de um lado, oportunidades virtuais praticamente inesgotáveis, e de outro lado, reforçando o cinturão do mercado”. Nesta sociedade, da “informação”, os fenômenos são efêmeros, pois a cada dia novas pesquisas são realizadas e novos produtos substitutos são lançados ao mercado. E o consumidor é levado a consumir e, consequentemente, a obter informações para ser um usuário. O planeta tornou-se realmente uma aldeia global, pelo fato de as barreiras geográficas não serem mais empecilhos para a comunicação e troca de informação. Bernheim e Chauí (2008, p.22) nos conduzem a uma reflexão sobre esta Era em que vivemos, quando dizem que a “informática e a telemática, a revolução nas comunicações, integraram a espécie humana em uma única sociedade universal que, no entanto, é dividida por uma ‘cortina dourada’”. Cortina dourada como um muro que separa aqueles que usufruem da riqueza daqueles que vivem na pobreza e na miséria. É nessa realidade que nos encontramos. As tecnologias da informação e comunicação permitem que as pessoas mesmo distantes fisicamente consigam se organizar e estar conectadas, permitindo que qualquer acontecimento numa parte do mundo tenha reflexos noutra distante geográficamente e assim novos valores são incorporados. Costumes, culturas se perdem e se renovam, em favor de se estar no mundo, em sociedade. Todavia, essa é uma realidade que não se pode negar. Há que se aprender a conviver com ela e considerar a possibilidade de usá-la a nosso favor. Na educação, por exemplo, as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação podem ser 29 utilizadas como incrementos que viabilizem a inserção dos indivíduos a um maior número de informação, favoreçam a comunicação e socialização do conhecimento. Takahashi (2000, p. 71) considera: A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações. O uso da tecnologia pelo processo educativo tem avançado consideravelmente e cada vez mais utilizado das mais variadas ferramentas. A educação vem se adaptando a essa nova sociedade e dela faz uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação De acordo com Primo (2007) as Tecnologias da Informação e da Comunicação vêm contribuindo para a modificação da forma de as pessoas se relacionarem e de construírem conhecimentos, pois elas proporcionam múltiplas disposições à intervenção do sujeito. O fato de as pessoas poderem expor seus trabalhos na internet e receber comentários sobre eles; de produzir textos colaborativamente, de participar de comunidades virtuais, de comunicação instantânea, de espaços para divulgação individual e coletiva, permitem acrescentar que as NTICs surgem como suporte para a Educação a Distância apresentar uma proposta de integração, potencializada por meio de diversos dispositivos disponíveis atualmente. A educação a distância oferecida por meio da internet possui características que a torna peculiar, em muitos casos, mais eficaz e atrativa pelo fato de atender às pessoas, independente de sua localização geográfica, de seu estilo e flexionando o horário de atendimento. A EaD atrai um número muito grande de pessoas que podem se conectar, interagir e produz conhecimento sem estarem necessariamente presas a convenções e burocracia que muitas vezes o ensino presencial exige, e que podem, tal como o ensino presencial, estabelecer compromisso para o desenvolvimento da pesquisa, extensão e ensino Com a tecnologia disponibilizada, a educação a distância oportuniza, portanto, maior interatividade entre professor e aluno, alunos e alunos, todos e máquina, uma vez que são oferecidas ferramentas interativas que permitem ao usuário fazer as conexões 30 que lhes forem convenientes, de forma a atualizarem-se e de produzirem as intervenções que mais lhe convierem em favor de sua formação. Se pensarmos, pois, no termo tecnologia como ferramenta que auxilia as pessoas em suas ações cotidianas, podemos entendê-la como instrumento que pode auxiliar o professor em suas ações pedagógicas, de forma a contribuir para uma metodologia que favoreça o ensino e aprendizagem. E neste caso, trazemos Vygotsky com a analogia do uso dos signos e das ferramentas, enquanto funções que servem como condutoras. A analogia entre signos e ferramentas acontece porque os signos estão para a condução de solução dos problemas psicológicos e as ferramentas conduzem o homem na suas relações com o mundo e com os outros. A invenção e o uso dos signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, escolher) é análogo à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho (VYGOTSKY, 1998, p. 70) Neste sentido, atribuímos ao uso dos signos a mesma função de ferramentas, os dois têm a função de mediar as ações humanas, um no campo psicológico e a outra, no campo da natureza, confirmando que a relação do homem com o meio não é direta, mas mediada. A construção do conhecimento acontece pela interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, mas pela mediação feita por outros sujeitos e/ou por signos e ferramentas. Na Educação a distância online, os cursos são oferecidos por meio de um espaço virtual, que é desenvolvido para permitir maior interação e interatividade entre os pares. Esses Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA - oferecem recursos que reforçam os princípios sóciointeracionistas pelo fato de oportunizarem a comunicação e a intervenção do usuário e entre os usuários durante o processo. Esses recursos disponibilizados no ambiente oportunizam a interação/interatividade dos alunos com os conteúdos e com colegas e professores e podem favorecer a aprendizagem colaborativa. 31 Nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, especificamente, no Moodle destacam-se as ferramentas de interatividade síncronas e as assíncronas. As ferramentas de comunicação síncronas são as que permitem a participação de alunos e professores em eventos marcados, com horários específicos, via internet, a exemplo dos chats. Para esse tipo de interatividade, a comunicação em tempo real, possibilita aos envolvidos uma sensação de grupo, de comunidade, o que pode ser determinante para a continuidade do curso, uma vez que preserva a motivação, a interação em tempo real, o retorno e a crítica imediata, encontros regulares, etc. Já as ferramentas de comunicação assíncronas como o Fórum, o Diário, o Diálogo, a Lição, entre outros, considera-se o fato de elas possibilitarem que o usuário faça sua intervenção de forma mais organizada, uma vez que ele terá tempo e espaço para sistematizar sua opinião, comentários, respostas, etc. Segundo Kenski, (2003, p. 95) “os ambientes de aprendizagem virtual se caracterizam por oferecer condições para a interação (sincrônica e assincrônica) permanente entre seus usuários”. Eles têm uma dinâmica própria para atender ao fazer pedagógico, o qual é orientado no sentido de que se estabelecem metas para o aluno atingir. Outro diferencial é o oferecimento do uso do feedback, relação que se estabelece entre os pares, a partir do momento que se obtém resposta de sua atuação. O feedback independente de ser uma conduta muito conhecida na EaD, ela é considerada uma postura de uma atuação mediada, o seu propósito é mediar o conhecimento do aluno. Feedback é um procedimento que “significa o retorno da informação ou retroalimentação” (MAXIMIANO, 2007, p. 220). É o retorno dado a uma pessoa sobre o seu desempenho, conduta ou eventualidade executada por ela e objetiva reprimir, reorientar e/ou estimular as ações por ela desenvolvidas. O feedback é fundamental para que os alunos e professores possam avaliar se estão atingindo os objetivos estabelecidos para o curso. Orientações pelo feedback são um dos aspectos mais críticos de um ambiente de aprendizagem, pois, se o aluno não recebe comentário sobre as atividades que ele desenvolveu em um curso ele não tem como saber se está ou não atingindo os objetivos estabelecidos. Como exemplos de ambientes virtuais de aprendizagem, apresentamos o Teleduc – ambiente utilizado pelo Núcleo de Informática aplicado à Educação (NIED) e pelo Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e 32 tem como objetivo dar suporte para a formação de professores; a Aulanet – ambiente desenvolvido pelo Laboratório de Engenharia de Software (LES) do Departamento de Informática da Pontífica Universidade Católica (PUC-RJ), para administração, criação, manutenção e participação em cursos a distância; O E-Proinfo é um ambiente Colaborativo de Aprendizagem que utiliza a internet para viabilizar várias ações como cursos a distância, complemento a cursos presenciais, projeto de pesquisa, projetos colaborativos etc. É uma iniciativa da Secretaria de Educação a Distância do MEC. Está disponível para as instituições públicas através de convênios; Blackboard e Webct é um software proprietário, desenvolvido pela Blackboard Inc, utilizados por escolas particulares no Brasil. Além desses ambientes virtuais de aprendizagem, apresentamos o Moodle, que é um sistema gerenciamento para criação de curso online. Esses sistemas são também chamados de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) ou de Learning Management System (LMS). Esse é o ambiente de aprendizagem utilizado na maioria das universidades públicas brasileiras, inclusive pela Universidade Estadual da Paraíba para viabilizar seus cursos a distância, objeto de nosso estudo. Figura 1 - Página inicial do Moodle da UEPB Fonte: AVA - EAD/CIPE/UEPB 33 O Moodle é dotado de uma interface simples, seguindo uma linha de portal. As páginas dos cursos são divididas em três colunas que podem ser personalizadas pelo professor, inserindo elementos em formato de caixas como: Calendário, Usuários Online, Lista de Atividades, dentre outros. Estas caixas são dispostas nas colunas à direita e à esquerda da tela podendo ser deslocadas de um lado para o outro pelo professor. Na Coluna Central encontramos um conjunto de caixas que podem representar a sequência de suas aulas por meio de uma lista de tópicos numerados ou datados semanalmente ou, se preferir, criar áreas para agrupar conteúdos ou atividades semelhantes. O administrador do Sistema de Gerenciamento do Curso é o responsável pela criação, formato e layout da página de abertura, com a tarefa de cadastrar professores e alunos, e criar quantos espaços forem necessários dentro da página do Moodle. Ao professor cabe a tarefa de configurar a sua página, conforme objetivo do curso. (PULINO, 2005) Pelo fato de ser um software livre, gratuito e aberto, o Moodle, pode ser retroalimentado, utilizado, modificado e distribuído. Ele é um projeto de desenvolvimento contínuo, por isso, podemos receber atualizações constantes, tendo também os próprios usuários como seus construtores. Por propor uma aprendizagem colaborativa online, ele é considerado um ambiente baseado numa proposta sócioconstrutivista. Segundo o seu criador Martin Dougiamas, que lidera o projeto até hoje, “não se trata a aprendizagem como atividade social, mas focaliza a atenção da aprendizagem que acontece enquanto construímos ativamente artefatos (como textos, por exemplo), para que outros vejam ou utilizem” (MUZINATTI, 2005). Sendo assim, o Moodle é um ambiente que permite a adequação das necessidades das instituições e dos usuários, e, enquanto ambiente virtual de aprendizagem, foi desenvolvido levando em consideração que a aprendizagem acontece, através da colaboração do conhecimento. Percebemos aqui na filosofia do desenvolvimento do Moodle a expressão das intenções de promover a colaboração e cooperação do outro para com o outro, buscando desenvolver uma cultura baseada em conhecimentos compartilhados entre o grupo. A proposta se desenvolve quando se oferece ferramentas que permitem esse compartilhamento, a exemplo do Fórum, que 34 além de um espaço para comunicação direta pode favorecer a produção de texto, a partir de temáticas problematizadas. O fato de o Moodle ser um ambiente de aprendizagem que possibilita o feedback conduz para que se adote uma concepção social para a compreensão de sua dinâmica de aprendizagem. Pulino Filho (2005, p. 6) comenta a esse respeito que o “termo processo social sugere que a aprendizagem é alguma coisa que se faz em grupos. Deste ponto de vista, aprendizagem é um processo de negociação de significados em uma cultura de símbolos e artefatos compartilhados” Os cursos no Moodle devem ser configurados em três formatos (PULINO FILHO, 2005, p. 40), que são escolhidos de acordo com a atividade educacional a ser desenvolvida. São eles, o formato Social, em que o tema é articulado em torno de um fórum publicado na página principal; o formato Semanal, no qual o curso é organizado em semanas, com datas de início e fim e o formato em Tópicos, em que cada assunto a ser discutido representa um tópico que não tem limite de tempo pré-definido. Para o desenvolvimento das atividades de aprendizagem são utilizadas ferramentas que reforçam os princípios sóciointeracionistas pelo fato de oportunizarem a comunicação e a intervenção do usuário durante o processo. Esses recursos são disponibilizados no ambiente e oportunizam a interação e interatividade dos alunos com os conteúdos e com colegas e professores. Cada uma das ferramentas tem uma função definida no ambiente e com possibilidades limitadas e cabe ao professor selecioná-las, conforme os objetivos de seu curso. Todavia se acrescenta que como o Moodle é um ambiente de construção pública e livre, ele pode ser alterado e novas ferramentas podem surgir e serem agregadas a já existentes. 35 Figura 2 - Ícones das ferramentas do Moodle Fonte: Muzinatti (2005) De acordo com Muzinatti (2005), as ferramentas disponibilizadas no Moodle têm funções específicas, quais sejam: Materiais ou recurso são ferramentas que podem ser arquivos preparados e arquivados via upload no curso, páginas editadas no próprio Moodle ou páginas web externas feitas para serem exibidas como parte do curso. Uma lição, que exibe conteúdo de uma maneira flexível e interessante, baseada em ramificações e rotas de acesso. Consiste num número de páginas que contêm, ao final, uma questão, redirecionando o aluno pelo conteúdo disponível. Pode ser um módulo bastante complexo. Mas é nos fóruns que acontecem as maiores interações dos cursos. Eles podem ser estruturados de formas diferentes, e podem incluir avaliações das postagens efetuadas. Podem também exibir imagens e arquivos anexados. Os participantes podem também solicitar assinatura dos fóruns, recebendo notificações por e-mail. Já as tarefas permitem aos professores dar notas eletronicamente a materiais enviados pelos alunos ou realizadas/entregues pessoalmente em encontros presenciais (tais como trabalhos, apresentações etc.). O Questionário é um instrumento de composição de questões e de configuração de questionários. As questões (verdadeiro-falso, múltipla escolha, associação etc.) são arquivadas por categorias em uma base de dados e podem ser reutilizadas em outros 36 questionários e em outros cursos. Os feedbacks para cada tipo de resposta fornecida podem ser configurados pelo professor. O Chat permite aos participantes uma interação síncrona (bate-papo, discussão, tira-dúvidas) via web. É uma maneira útil para promover a troca de idéias e discussões sobre os assuntos apresentados no curso; SCORM – (Shareable Content Object Reference Model) é um modelo padrão que define como fazer e como executar cursos baseados na web. O SCORM é um conjunto de especificações que, quando aplicadas a um conteúdo de um curso, produz objetos de aprendizagem pequenos e reutilizáveis. Nos glossários, os participantes podem criar e manter uma lista de definições, como um dicionário. As entradas podem se auto-linkar com outros conteúdos do Moodle. Elas podem ser exibidas de várias formas. Um professor também pode editar um glossário próprio de um tema ou para determinado curso, categorizando os termos e bloqueando edições. A Pesquisa de Opinião - O professor propõe uma pergunta, tipo enquete, e disponibiliza múltiplas respostas. Pode ser útil em votações, coleta de opiniões sobre determinado tema, etc. Wiki é uma página web que pode ser editada colaborativamente, ou seja, qualquer participante pode inserir, editar, apagar textos. Oferece suporte a processos de aprendizagem colaborativa. As versões antigas são arquivadas e podem ser recuperadas a qualquer momento. A Pesquisa de Avaliação – são instrumentos de pesquisa já verificados e considerados úteis para estimular o processo de aprendizagem em ambientes educacionais a distância. O Diário - esta atividade é um jornal on-line para o estudante. Cada estudante tem um e o conteúdo só pode ser visto por ele e pelo professor. O Diário pode ser editado pelo estudante e seu conteúdo pode ser aperfeiçoado. Pode-se criar tantos diários quanto desejados: um por semana, um por tópico, um por capítulo etc. Assim, é possível observar evolução do processo de aprendizagem e habilidade de redação de cada estudante. 37 São essas ferramentas tecnológicas, pois, que oportunizam o acesso à informação e à comunicação, e permitem, com o auxílio da internet, e com a criação de um espaço virtual, que o paradigma do espaço-tempo da sala de aula e da comunicação unidirecional entre professor e alunos seja superado. O estar junto virtual, também denominado Aprendizagem Assistida por Computador (AAC), explora a potencialidade interativa das NTICs propiciada pela comunicação multidimensional, que aproxima os alunos dos cursos e permite criar condições para uma aprendizagem significativa e colaborativa. A partir do emprego das NTICs na educação, é possível a criação de ambientes novos com estruturas flexíveis, abertas, integrando várias mídias e possibilitando a interação entre os participantes do processo. Mas o uso da tecnologia reforça a existência de um projeto educativo com definição de perfil de alunos, objetivos, parâmetros pedagógicos, conteúdo e avaliação dos conteúdos que serão ministrados, além de ajustes no decorrer do processo ensino-aprendizagem. E o grau de interatividade presente no processo, em muito, vai depender da mediação pedagógica que subjaz ao processo de ensino e aprendizagem a que se propõe o curso, o professor. Nos AVA’s, os recursos que dão suporte à educação a distância são os mesmos da internet: correio, fórum, chat, conferência, banco de recurso. O gerenciamento desses ambientes engloba diferentes aspectos, dos quais destacamos a gestão das estratégias de comunicação e mobilização dos participantes, a gestão da participação dos alunos por meio de registro das produções, interações e caminhos percorridos, a gestão de apoio e orientação dos formadores aos alunos e a gestão da avaliação. Dentre as ferramentas disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem – Moodle, destacamos o Fórum. Recurso utilizado para a comunicação e interação entre as pessoas. A forma de uso, os seus propósitos e as relações por ele estabelecidas, caracterizam-no como um gênero textual, manifestação comunicativa com definição temática, restrições às digressões e uma agenda de assuntos específicos. O fórum pode ser acionado para discussão simples, ou seja, para apenas uma discussão. A pessoa posta um tópico e pode obter múltiplas respostas de outros participantes, este é um tipo de fórum que pode servir para a discussão de temas 38 relacionados à disciplina desenvolvida em um curso a distância, neste caso, os alunos não podem iniciar novas discussões, mas podem responder a tópicos de discussão. Já no fórum geral, pode-se manter uma ou mais discussão e qualquer um pode iniciar uma discussão, este é ideal para troca de informação. É nos fóruns que acontecem as maiores interações dos cursos. Eles podem ser estruturados de várias formas e podem incluir avaliações das postagens efetuadas. Podem também exibir imagens e arquivos anexados. Nos fóruns de discussão, os participantes podem também solicitar assinatura e receber notificações por e-mail. O uso do fórum como recurso didático nos cursos a distância pode ser eficaz devido ao fato de o texto ficar registrado e isso possibilitar uma progressão de escritas que resultaria no ato da competência linguística, ampliação dos conteúdos, a prática da escrita, e todo esse processo ser mediado pelo professor e o próprio aluno. O feedback é outro aspecto, que quando utilizado no Fórum, pode contribuir para a reflexão da aprendizagem, tendo em vista que os participantes têm nele a oportunidade da réplica, situação que permite o repensar, a reorganização, a reflexão, em fim a ampliação do conhecimento mediado. É justamente, nos eventos comunicativos que as pessoas se constituem como sujeitos, e identidades são construídas. As relações humanas são alicerçadas, ancoradas por textos que têm propósitos, temas, formas e constituição lingüística definidos, e em sendo assim, os sujeitos estão fazendo uso de estratégias que garantirão a sua inserção comunicativa nos grupos sociais. Essas formas comunicativas são denominadas de gêneros textuais ou gêneros discursivos, que segundo Marchuschi (2008, p.155) São os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sóciocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. A produção de gêneros textuais constitui-se em práticas sociais que se manifestam cada vez que queremos intervir linguisticamente em uma situação real. Assim, produzimos receitas, anúncios, cartas, bilhetes, editoriais, telegramas, telefonema, debates, aulas, poemas. São gêneros textuais falados e escritos que 39 possuem características que os definem. Fundamentado em Bakhtin, Marchuschi (2005) considera que gêneros textos “são tipos relativamente estáveis”, significando dizer que não podem ser considerados como modelos estanques, mas podem ser redefinidos ou “transmutados”, pelas necessidades sociais, culturais e históricas. Com isso, pretendemos trazer à tona o gênero textual Fórum como um contínuum do gênero oral discussão, e que é usado pelos cursos a distância com o propósito de promover a comunicação entre professor e alunos e alunos e alunos, construção coletiva do conhecimento, e, sobretudo, oportunizar a mediação pedagógica Por isso, o Fórum educacional se constitui em um gênero que favorece a construção coletiva do conhecimento. Jonassen, Peck e Wilson (apud PAIVA; RODRIGUES JR, 2004, p. 15) reforçam nossa afirmação ao dizerem que: a tecnologia tem um papel fundamental nas comunidades que constroem conhecimentos ao fornecerem os meios para armazenar, organizar, e reformular as idéias geradas pela contribuição de cada membro da comunidade [...] para a comunidade de alunos, o conhecimento representa a síntese de seus pensamentos, algo que eles possuem que os orgulha. Todavia, o uso da ferramenta fórum, como qualquer outro dispositivo didático, para ser acionado, utilizado, precisa antes ser conhecido e reconhecido pelos usuários, ou seja, há a necessidade de se planejar previamente o uso de qualquer ferramenta. No caso específico do fórum, que faz parte ainda de uma tecnologia que nem todos dominam, faz-se necessário uma formação prévia tanto para o professor como para aluno. Outro aspecto importante para o uso do fórum como instrumento de comunicação e reconstrução de sentido é a realização de planejamentos e de gestão, conforme afirma Neves (2003, p. 6), “os Programas, cursos, disciplinas ou mesmo conteúdo oferecidos a distância exigem administração, desenho, lógica, linguagem, acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos e pedagógicos que não são mera transposição do presencial”. Para uma aprendizagem com o uso das tecnologias digitais na perspectiva sociointeracionista, o ambiente virtual de aprendizagem deve permitir que o aluno interaja de acordo com sua zona de desenvolvimento proximal, a chamada ZPD, que significa: 40 [...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p. 112). Esta zona representa o estágio em que o aluno encontra-se, momento singular a cada indivíduo, por isso, a heterogeneidade deve ser respeitada como requisito básico para um ensino focado na aprendizagem do aluno. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem deve oferecer mecanismos para que o professor atue em busca de atingir seus objetivos, favorecendo uma aprendizagem pautada na construção coletiva do conhecimento, e o Moodle pode ser esse ambiente, desde que professores e tutores tenham em sua prática o interesse ou a sabedoria para desempenhar com competência a função de mediadora da aprendizagem. Conforme Pulino (2005) “alunos envolvidos em atividades de prática necessitam feedback para se assegurar de que eles estão realizando seu trabalho de forma correta. Eles precisam, também, de recursos de apoio para ajudá-los a resolver problemas quando não conseguem resolvê-los sozinhos”. 41 3 PERSPECTIVAS PARA A EAD NO CENÁRIO DAS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS Os cursos na modalidade a distância online, como já foi discutido, são oferecidos em ambientes virtuais de aprendizagem e esses ambientes são dispostos e construídos de acordo com a proposta de ensino e aprendizagem apresentada pela instituição. Para tanto, para a construção desse ambiente deve-se considerar o design computacional e o design didático. Para a construção do design computacional, utilizam-se as tecnologias de informação e comunicação, a partir de um planejamento que leva em consideração o design didático, o qual faz uso de estratégias e táticas pedagógicas que são definidas a partir de objetivos e pressupostos teórico-metodológicos pré-definidos. Todavia, tanto o design computacional quanto o design didático de um curso devem ser pensados a partir do Projeto Político Pedagógico (PPP), o qual é elaborado segundo perspectivas e tendências pedagógicas. Assim como no processo de construção da concepção pedagógica de cada educador, também o processo de construção de um Projeto Político-Pedagógico, que segue um processo que considera a práxis como a prática que requer um diálogo entre a realidade de uma sala de aula e as teorias de educação que a fundamenta. 3.1 O Projeto Político Pedagógico O Projeto Político Pedagógico ou mesmo um Projeto Pedagógico de um curso é um documento de exigência política e pedagógica, visto tratar-se de um instrumento construído para atender as demandas da sociedade no que diz respeito a que cidadão se quer formar. Ele é construído sob ações concretas a serem executadas em um determinado tempo, ou mesmo, por tempo indeterminado, quando se projeta as ações de uma instituição educativa, uma vez que a escola é um espaço que conduz um processo, o processo de ensino e aprendizagem, o qual não se tem tempo limite, mas se tem tempo de reflexão e ressignificação das ações. Este projeto é político por considerar a escola ou o curso como espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, com vistas à transformação social. 42 O projeto é pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem, considerando explícita ou implicitamente uma concepção pedagógica, que considera o contexto histórico da escola, o conjunto dos seus currículos, dos métodos, os seus atores internos e externos e o seu modo de vida. (GADOTTI, 2011) O PPP é concebido e elaborado a partir de leituras críticas de documentos e informações sobre as mudanças das diretrizes que norteiam os princípios teóricos e metodológicos da prática educativa e da reflexão sobre a formação e o fazer do pedagogo, considerando o seu compromisso social, sem perder de vista a conjuntura contemporânea. O projeto político-pedagógico dá o norte, o rumo, a direção; “Ele possibilita que as potencialidades sejam equacionadas, deslegitimando as formas instituídas” (VEIGA, 2000, p. 192). Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de plano de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado, mas ele deve ser construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo. Daí a importância da educação superior ser baseada em um projeto pedagógico e em uma organização curricular inovadora, que favoreçam a integração entre os conteúdos e suas metodologias, bem como o diálogo do estudante consigo mesmo (e sua cultura), com os outros (e suas culturas) e com o conhecimento historicamente acumulado. (BRASIL, 2007, p.9). O PPP de um curso, pois, deve ser um instrumento que contemple o contexto educacional e o contexto sócio-histórico no qual a instituição e os atores envolvidos estejam inseridos, de forma que ele seja o referencial para uma prática educativa. 3.2 Concepções Pedagógicas Já as concepções pedagógicas, vêmo-las como teorias que fundamentam as práticas pedagógicas dos professores, ou seja, que representam o modo de operacionalizar metodologicamente o processo de ensino e aprendizagem. Saviani (2005, p. 31) considera que as concepções pedagógicas são consubstanciadas sob os 43 pilares da “Filosofia da Educação”, a qual busca explicitar os valores que expressam uma visão geral de homem, mundo e sociedade com vistas a orientar a compreensão do fenômeno educativo; da “Teoria da Educação”, a qual permite compreender o lugar e papel da educação na sociedade, a partir do momento que sistematiza os conhecimentos disponíveis, sobretudo quando é identificada com a pedagogia que sistematiza métodos, procedimentos e processos, a fim de garantir sua eficácia; da “Prática Pedagógica”, que representa as várias maneiras de se realizar o ato educativo. Saviani (2005, p. 31) completa que podemos compreender “as ‘concepções pedagógicas’ como as diferentes maneiras pelas quais a educação é compreendida, teorizada e praticada” Assim, pois, os professores ao adotarem uma concepção pedagógica, seja de forma consciente ou não, elas podem ser construídas a partir do senso comum, das experiências passadas como alunos ou das experiências de outras pessoas que são passadas de geração para geração. Mas podem ser construídas também nas academias e com a contribuição da prática escolar. Vale ressaltar que as concepções pedagógicas, didaticamente, são apresentadas como movimentos que surgem em determinada época e a partir de eventos que vão se construindo pela e na história. Portanto, elas para serem reconhecidas e caracterizadas necessitam de um olhar para as tendências. Tendências que não se manifestam como algo fechado em si mesmo, mas com influências outras em sua construção. Libâneo (1984, p.65) “esclarece que as tendências não aparecem em sua forma pura, nem sempre são mutuamente exclusivas, nem conseguem captar toda riqueza da prática concreta.” Tampouco essas tendências são assumidas pelos professores de forma pura. As experiências e os estudos os levam a construir sua concepção que se explicada e justificada pode se enquadrar na perspectiva por ele apontada. Todavia, como afirma Solé e Coll (2006, p. 12), necessitamos de teorias que nos sirvam de referencial para contextualizar e priorizar metas e finalidades; para planejar a atuação; para analisar seu desenvolvimento e modificá-lo paulatinamente, em função daquilo que ocorre e para tomar decisões sobre a adequação de tudo isso. 44 Precisamos das teorias porque elas nos ajudam a refletir sobre nossa prática. Elas nos permitem a práxis, a relação ação-reflexão-ação em busca da mudança, da transformação social. Nesse nosso estudo, pois, pretendemos abordar as concepções pedagógicas que autores como Libâneo (1984) e Saviani (2005) conseguem classificar e discutir, a partir dos pressupostos teóricos e metodológicos que as definem. Para Libâneo (1984, p. 21), as tendências pedagógicas podem ser classificadas em Liberais e Progressistas. A terminologia liberal é usada não no sentido de avançado, mais para atender ao sistema capitalista, que tinha como doutrina defender a “liberdade” e “interesses” dos indivíduos na sociedade, por isso a ideia de liberdade. Essa tendência está por trás de várias práticas pedagógicas. A chamada Liberal Tradicional, Liberal Renovada Progressista, Liberal Renovada não-diretiva e Liberal Tecnicista. As tendências progressistas são: Tendência Libertadora, Libertária e Críticosocial dos conteúdos. 3.2.1 Pedagogias liberais As tendências pedagógicas liberais são marcadas pelo ideário capitalista, em o bem maior para sua consolidação e disseminação é defender a liberdade e os interesses individuais como bens maiores do homem. Em nome disso, “cria-se uma organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção. A pedagogia liberal, portanto, é uma manifestação desse ideário capitalista. (LIBÂNEO, 1984, p. 21) Para a tendência Liberal Tradicional, a escola é uma instituição fechada, uma vez que o ensino não tem relação com o cotidiano do aluno. Sua função é preparar o sujeito intelectual e moralmente, de forma que posso desenvolver suas aptidões para atender às exigências da sociedade. A prática escolar, os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com a realidade do aluno e muito menos com as realidades sociais. São conteúdos enciclopédicos e abordados de forma descontextualizada. O professor é autoritário, é a predominância de sua palavra, das regras impostas. O professor é o detentor do conhecimento e 45 repassa-o pela exposição verbal, com ênfase nos exercícios e repetição de conceitos. O ensino é baseado numa aprendizagem mecânica, pela repetição, no treino, retenção, aquele que não consegue acompanhar o processo é retido. Reforço punitivo e preventivo, neste caso, prevenir-se contra o “erro”. Segundo Libâneo (1984, p. 22), “na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço sua plena realização como pessoa”, o que significa que o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa, aquele que não tem “aptidão” (grifo meu) é excluído. A tendência Liberal Renovada Progressivista surge no Brasil com a chegada dos Pioneiros vindos da Europa e dos Estados Unidos, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando Azevedo. Eles traziam em sua bagagem a ideia da escola para todos, contrapondo-se a tendência tradicional. A educação será um instrumento de correção da marginalidade na medida em que contribuir para a constituição de uma sociedade cujos membros, não importa as diferenças de quaisquer tipos, aceitem-se mutuamente e respeitemse na sua individualidade específica. (SAVIANI, 2003, p. 8) Por isso, cabia à escola fazer a adaptação progressiva do aluno ao meio. O foco estava no sujeito, por isso, a escola tinha que suprir as experiências do aluno com uma formação individual. Os conteúdos eram estabelecidos conforme as experiências que os sujeitos vivenciavam frente aos desafios cognitivos. O aluno era levado a desenvolver experimentos, pesquisas, a resolução de problemas, a aprender fazendo. O professor não tinha lugar privilegiado, o seu papel é de auxiliar quando solicitado, estimulava-se, portanto, a auto-aprendizagem, experiência direta sobre o meio pela atividade. Ensino centrado no aluno e no grupo. A proposta era muito interessante e significativa, pois acreditava-se que a educação transformaria o país. No entanto, ela não conseguiu ser implantada efetivamente, devido aos custos elevados. Ela, Escola Nova, organizou-se mais como escolas experimentais. Mas suas ideias foram difundidas e chegaram às escolas públicas. Para Saviani (2003, p. 10) as experiências nas escolas públicas foram mais negativas que positivas “uma vez que provocando o afrouxamento da disciplina e a 46 despreocupação com a transmissão do conhecimento, acabou a absorção do escolanovismo pelos professores por rebaixar o nível do ensino destinado às camadas populares” Já a tendência Liberal Renovada não Diretiva tem seu suporte nas ideias da promoção da auto-realização de Carl Rogers. Acreditava-se que o papel da escola era a formação de atitudes, por isto a preocupação com problemas psicológicos. Havia um esforço em estabelecer clima favorável entre os pares. O professor era um facilitador da aprendizagem do aluno, não havia preocupação com conteúdos, pois mais importante era o bem estar dos alunos. O ensino estava centrado no aluno que deveria ser capaz de aprender a modificar suas próprias percepções. A tendência Tecnicista surge para atender a ordem da sociedade industrial e tecnológica. Esta tendência subordina a educação à sociedade, (LIBÂNEO, 1984). A ideia é preparar mão de obra para atender à sociedade industrial. Por isso, a escola vai ser modeladora do comportamento humano, através de técnicas. Numa sequência lógica e psicológica, os conteúdos são informações, princípios científicos, leis que podem ser mensuráveis e observáveis, preparando os alunos para serem competentes para o mercado de trabalho, fazendo uso de procedimentos e técnicas necessários para que as informações cheguem até o aluno de maneira segura. O professor promove e organiza o ensino e o aluno recebe, aprende. O desempenho do aluno vai depender das condições estimuladoras organizadas pelo professor de forma que saia diferente de como entrou. De acordo com Saviani (2003, p. 12) essa tendência buscava a neutralidade científica, rejeitava o subjetivismo, e sua organização assemelhava-se ao trabalho fabril, objetivo e operacional, “buscou-se planejar a educação de modo adotá-la de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem por em risco sua eficiência”. 3.2.2 Pedagogias Progressistas O que pretendemos chamar de progressistas, quando tratamos de compreender a abordagem dada à educação, são as tendências que compreendem o homem na sua 47 relação com o contexto histórico social, seja de forma engajada ou não, e trata também de questões que traduzem ideias de interacionismo, do construtivismo e da dialética, as quais têm em comum a compreensão do sujeito enquanto agente do processo, este representado pela ação-reflexão ou a práxis, pela ação transformadora. Com essa visão pode-se compreender o sujeito como um ser histórico e social e que o processo de construção do conhecimento faz parte de uma visão de combate, de luta, de mudanças, de transformação da sociedade. Na pedagogia, essa visão é convertida em uma abordagem de análise crítica da realidade social, por isso, progressista. Libâneo (1984, p. 32) entende a escola: como mediadora entre o indivíduo e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado. A prática educativa se volta agora para a aprendizagem do aluno, enquanto ser que pensa. O saber não está só nele, nem ele pode ser considerado uma tábula rasa. É na e pela interação que o conhecimento se constrói. A Tendência Progressista Libertadora tem como precursor e idealizador o Professor Paulo Freire, e o Prof. Moacir Gadotti como o seu maior divulgador até os dias atuais. Ela se contrapõe às tendências anteriores, no sentido de contrariar o sistema capitalista, por uma educação para o povo, popular, que valorizava a experiência vivida pelo sujeito. A prática educativa só faz sentido numa prática social junto ao povo. A escola tem o papel de questionar a realidade, a partir das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando à transformação social. Os conteúdos eram denominados de temas geradores que são extraídos da problematização da prática de vida dos estudantes. Como a aprendizagem se dava mais em grupo, a relação era de diálogo com grupos de discussão, de forma que os sujeitos encontravam-se mediatizados pelo objeto a ser conhecido. A relação professor-aluno dava-se de forma horizontal, elimina-se toda relação de autoridade. Aprender é um ato revolucionário, isto é, o ato de conhecimento da realidade concreta só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. 48 Já a Tendência Progressista Libertária – Maurício Tragtenberg – prima pela autoaprendizagem e luta contra qualquer forma de autoritarismo. Espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos no sentido libertário e autogestionário. Esta tendência prega o antiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como base da relação educativa e a idéia de autogestão pedagógica. Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendizagem grupal (participação em discussões, assembléias, votações) do que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática educativa somente faz sentido numa prática social junto ao povo, razão pela qual preferem as modalidades de educação popular ‘não-formal’. A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança. Os conteúdos não são exigidos, mas importante é o que resulta das experiências vividas pelo grupo. Por isso, a proposta é colocar nas mãos dos alunos tudo o que for possível para que eles se organizem e tomem decisões. O professor é orientador e catalisador das ideias dos alunos. Ele se mistura ao grupo para reflexão. A aprendizagem dá-se de maneira informal e em grupo. Somente o vivido e experimentado é incorporado e utilizável. Um dos maiores representantes desta tendência é Miguel Gonzales Arroyo. (LIBÂNEO, 1984, p. 38) A Tendência Crítico-social dos Conteúdos considera que a ação pedagógica só é possível se inserida no contexto histórico-social. E tem a escola como mediadora da relação sujeito X realidade. A escola representa um espaço de preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Os conteúdos são culturais universais, são incorporados pelos alunos, mas em forma de ressignificação face às realidades sociais. Os conteúdos devem ser ensinados e bem ensinados, mas de forma contextualizada e considerando o saber trazido pelo aluno. Para haver aprendizagem deve-se partir de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora, relacionando a prática vivida com os conteúdos propostos pelo professor. Acredita-se na construção coletiva do conhecimento, e o professor tem o papel de mediador no processo. O foco do ensino e aprendizagem está no processo de aprendizagem do aluno, por isso, a valorização das relações de interação. Estudiosos 49 como Saviani e José Carlos Libâneo têm contribuído com este debate, trazendo à tona a importância do saber construído na e pelas relações sociais Todavia, queremos acrescentar que a pedagogia crítico-social que defende, segundo Libâneo (2011), o papel da escola como espaço de formação cultural, de difusão do conhecimento científico e que quer contribuir com a formação de sujeitos pensantes e críticos, é a pedagogia, a qual acredita que “ensinar a pensar criticamente é fazer a ação docente incidir sobre a capacidade do aluno de apropriar-se de forma crítica dos objetos de conhecimento, a partir de um enfoque totalizante da realidade e de sua problematização”. Essa pedagogia assume hoje a visão histórico-cultural, na tradição da Escola de Vygotsky, a partir de conceitos como: o sujeito tem o papel em sua aprendizagem; o ensino é mediado pela ação do professor e também pelos outros sujeitos envolvidos no processo; desenvolver o pensamento é aprender a pensar por conceitos; aprender a pensar por conceitos requer um ensino que influencie, por meio de conteúdos, no desenvolvimento das capacidades intelectuais do aluno; no ensino há dois processos de mediação indissociáveis, ambos influenciando o desenvolvimento do pensamento do aluno: a mediação cognitiva dos conteúdos e a mediação didática desta mediação cognitiva, providenciada pelo professor (LIBÂNEO, 2011). 3.2.2.1 A contribuição de Vygotsky para uma teoria de aprendizagem em EaD Neste nosso trabalho, a contribuição de Vygotsky interessa-nos muito pelo fato de acreditar em sua teoria como base para a compreensão de como o sujeito aprende e, sobretudo, qual o papel da escola nesse processo, a partir dos conceitos de formação social da mente, e da importância da mediação para o processo de aprendizagem. Vygotsky em sua teoria busca uma síntese para a psicologia a qual integra o homem enquanto ser biológico, enquanto ser social, enquanto membro da espécie humana e participante da espécie humana (OLIVEIRA, 2003, p. 55). Essa síntese compõe os chamados Planos Genéticos, que traduzem a ideia de que o mundo psíquico, o funcionamento psicológico não está pronto previamente, não é inato, não nasce com as pessoas, mas também não é recebido pelas pessoas como um pacote 50 pronto do meio ambiente. Eles, os Planos Genéticos de Desenvolvimento são explicados por Vygotsky como quatro entradas de desenvolvimento que, juntas, caracterizariam o funcionamento psicológico do ser humano. Uma é a Filogênese, que é a história da espécie humana, caracterizada pelos limites e possibilidades de cada espécie animal com suas particularidades; outra é a Ontogênese, que é a história do indivíduo da espécie, do ser de uma determinada espécie, observando sua evolução biológica; outra a Sociogênese, que é a história cultural, do meio cultural no qual o sujeito está inserido, a cultura organiza o desenvolvimento humano; e a Microgênese, que é o aspecto mais microscópico do desenvolvimento por se tratar do que está entre saber uma coisa e não saber. Está ligado à zona de desenvolvimento proximal – ZDP e não determinismo. Essa abordagem, segundo Oliveira (1997, p. 23) está centrada sob três ideias que podem ser consideradas os pilares do pensamento de Vygotsky, quais sejam: as funções psicológicas têm suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral; o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico e a relação homem/mundo que é uma relação mediada por sistemas simbólicos. O processo de aprendizagem pelo qual o sujeito passa quando está diante de um objeto de conhecimento pode ser observado sob várias concepções, todavia, quando se entende que a aprendizagem é um processo ativo que conduz a transformações no homem, o olhar se desvia para uma orientação em que o processo se estabelece pelas relações, sobretudo, pelas relações sociais. Esta ideia nos remete a Vygotsky, para quem a questão da relação entre os processos de desenvolvimento e de aprendizagem é central. Mas é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento, ou seja, o aprendizado precede o desenvolvimento. Quanto mais se oferece condições de aprendizagem mais chance a criança tem para se desenvolver. Com base nos estudos de Vygotsky, apresentamos alguns conceitos que são fundamentais para que se compreenda a formulação da concepção sóciointeracionista e sua influência para a educação, em especial, para a educação a distância. São elas: 51 A teoria da dupla formação das funções psicológicas superiores, a internalização, a mediação e a zona de desenvolvimento proximal. A dupla formação das funções psicológicas superiores, que compreendem a consciência, a intenção e o planejamento, dizem respeito ao estabelecimento das relações sociais que aparecem, e que se modificam pelo processo de internalização das instruções. Em primeiro lugar, aparece no plano social e depois no plano psicológico. As funções presentes no desenvolvimento cultural da criança aparecem duas vezes e em dois planos diferentes. Em princípio, emerge entre as pessoas e como uma categoria interpsicológica, depois, intrapsicologicamente, pelo processo de internalização. Significa, pois, que o conhecimento se dá entre as pessoas, num contexto externo para depois passar para processos intramentais ou individuais. O processo é, neste caso, interno. Portanto, é do social para o individual que o homem se constitui, ou seja, de fora para dentro, o que significa dizer que o ele tem características próprias, mas necessita da experiência do outro para viver melhor. Já o entendimento do processo de internalização, compreende-se que a aprendizagem se dá mediante a reconstrução interna de uma operação externa, ou seja, quando o sujeito consegue reconstruir um conhecimento existente, resultado dos processos interpsicológico e intrapsicológico. Oliveira (1997, p. 39) afirma que: primeiramente o indivíduo realiza ações externas, que serão interpretadas pelas pessoas a seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação é que é possível para o indivíduo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir de mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo. Todos esses processos cognitivos têm como base a mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações. Por último, destacamos o conceito da Zona de Desenvolvimento Proximal, a ZDP, como um dos níveis de desenvolvimento pelo qual a criança passa no processo de aquisição do conhecimento e que serve para indicar o nível de desenvolvimento em 52 que se deve intervir para que a criança avance e aprenda o conhecimento em potencial, ou seja, o conceito de ZDP, diz respeito à distância entre o nível de desenvolvimento real, que representa aquilo que a criança já consegue resolver sozinha, e o nível de desenvolvimento potencial, que é o conhecimento a ser adquirido, caso ela tenha um mediador, o qual atente para esse processo. Segundo Oliveira (1997, p. 59), para Vygotsky, a capacidade de a criança realizar tarefas sozinha, indica o nível de desenvolvimento real, que representa resultado de processos maduros. Neste nível, a criança já tem consolidado o conhecimento. Já o nível de desenvolvimento potencial, significa o conhecimento que está por vir, aquele que pode ser internalizado, e que foi detectado na zona de desenvolvimento proximal. Representa o conhecimento que pode ser alcançado com a ajuda do outro, de um colega, pais, professores, ou mesmo, por qualquer objeto sóciocultural. Por isso, as potencialidades do indivíduo devem ser levadas em conta durante o processo de ensino-aprendizagem, como forma de ativar os seus esquemas cognitivos ou comportamentais nas variadas situações de aprendizagem. Nessa perspectiva, a influência de Vygotsky para uma teoria de aprendizagem que vislumbre o sujeito, enquanto ser social é pertinente, justamente porque ele apregoa que a relação do homem com o meio social acontece mediante a interação. Mas a relação sujeito-objeto, nessa perspectiva, não é de interação, é dialética, é contraditória e é mediada semioticamente. A mediação semiótica, por sua vez, é uma mediação social, pois os meios técnicos e semióticos (a palavra, por exemplo) são sociais. Para Vygotsky (1998), a interação social exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo da criança, uma vez que ele parte do princípio de que o desenvolvimento das formas superiores do comportamento (pensar, relacionar, analisar, comparar, etc.), pressupõe o aprendizado, via ações intra e intermentais, e que essencialmente cria a zona de desenvolvimento proximal. O aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar quando o sujeito interage com outros em seu ambiente, e quando em cooperação com seus companheiros. O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento 53 mental e põe em movimento vários processos que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Segundo Vygotsky “[...] o indivíduo interioriza formas de funcionamento psicológico dadas culturalmente mas, ao tomar posse delas, torna-as suas e as utiliza como instrumentos pessoais de pensamento e ação no mundo” (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992, p.106). Esse é a nosso ver o conceito de autonomia que se pensa numa visão de ensino e aprendizagem voltada para a formação de um sujeito ativo, capaz de construir e produzir conhecimentos. Em termos gerais, Vygotsky trouxe para a educação reflexões que permitem pensar a prática pedagógica sob ótica da aprendizagem, para a que se fazem necessárias algumas considerações. a concepção de ensino-aprendizagem de Vygotsky inclui dois aspectos particularmente relevantes: por um lado, a idéia de um processo que envolve, ao mesmo tempo, quem ensina e quem aprende não se refere necessariamente a situações em que haja um educador fisicamente presente. A presença do outro social pode se manifestar por meio de objetos, da organização do ambiente, dos significados que impregnam os elementos do mundo cultural que rodeia o indivíduo (OLIVEIRA, 2003, p. 57). Com isso, Vygotsky chama a nossa atenção para a importância do outro na relação de aprendizagem, acrescenta que esse outro, não necessariamente tenha que ser o professor, no entanto, sabemos da importância deste no processo de ensino e aprendizagem, pois é dele a responsabilidade de provocar nos alunos avanços que não ocorreriam espontaneamente. É o caso de o professor interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos para provocar o desenvolvimento do aluno em decorrência da aprendizagem ocorrida. (OLIVEIRA, 2003, p.60) Quando Oliveira (2003, p. 60) afirma que “um ser humano que passe toda sua vida no interior de um grupo cultural ágrafo, por exemplo, jamais será alfabetizado”. Ela está discutindo que a aprendizagem só acontece se houver intenções e relações propícias. E mesmo que tenha condições propícias, não haverá aprendizagem se o sujeito não participar de situações e práticas sociais que o leve a aprender. 54 Vygotsky considerou a escola o próprio espaço de atuação da psicologia, porque na escola é que ‘se realizam sistemática e intencionalmente as construções e a gênese das funções psíquicas superiores’. Para ele, essas funções seriam ‘resultado da influência cultural na aprendizagem e no desenvolvimento’ e, para sua explicação seria necessária uma interpretação histórica, situando-as em seu contexto original (FREITAS, 1994). A escola para Vygotsky representa um espaço de atuação onde se pode organizar e sistematizar o conhecimento de forma a privilegiar o conhecimento necessário para o desenvolvimento da criança. “É na escola, portanto, onde o aprendizado é o próprio objetivo de um processo que pretende conduzir a um determinado tipo de desenvolvimento, a intervenção deliberada é um processo pedagógico privilegiado.” (OLIVEIRA, 2003, p. 62) A Educação a Distância, pois, enquanto modalidade de ensino e aprendizagem pode utilizar de dinâmicas participativas de cooperação e de comunicação, regras flexíveis do desenvolvimento da criatividade e da individualidade para compensar a ausência física do professor. Neste caso, o aluno constrói o conhecimento mediado pelo Tutor/Professor, que o ajuda, instiga-o a avançar e aguça a curiosidade. Acompanha o processo de construção do conhecimento do aluno, sempre atento ao fato de que cada ser humano tem sua forma peculiar de aprendizagem, exercendo, assim, papel de mediador da aprendizagem. Como na escola o aprendizado é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explicito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento (OLIVEIRA, 1997, p. 62). A concepção pedagógica vislumbrada por Vygotsky pode ser aplicada em EaD, pois respeita o ritmo do aluno, considerando-o como um ser único, intervindo possibilidades para agir em favor da aprendizagem, e assim poder avaliar constantemente o planejamento para que se necessário for fazer as modificações apontadas na avaliação. O ambiente virtual de aprendizagem colabora para uma aprendizagem cooperativa, orientada pela concepção de Vygotsky, pois, ele oferece possibilidade de acompanhamento da aprendizagem do aluno, através das ferramentas sincrônicas e as 55 assíncronas. Estas permitem o registro das comunicações, da falas dos alunos, situações que podem ser resgatadas pelo professor para as intervenções. Também as ferramentas síncronas que são ideais para que as interações em tempo real aconteçam e as mediações possibilitem a transformação do conhecimento real em conhecimento potencial. O fato de o ensino e a aprendizagem serem veiculados e processados por uma máquina, não minimiza, como já foi dito, o papel do professor que nesta propositura, ele tem a função de mediador e, portanto, será responsável pelo material didático postado no ambiente virtual. De acordo com a concepção interacionista vygotskiana, o material deverá ser atrativo, favorecer o questionamento, a reflexão e, conseqüentemente, a reelaboração do conhecimento. O professor e o material didático deverão prezar pela interação entre os colegas e, por conseguinte, pela socialização do conhecimento. A aprendizagem é, pois, vista como atividade de elaboração conceitual em um ambiente caracterizado pela interação. O professor, ao pensar o processo de ensino e aprendizagem e propor realizar este processo por meio de seu texto didático, necessita ter claras não somente as bases epistemológicas do que vai ensinar, como qual sua ideologia, qual conceito tem de homem, de educação e de sociedade. Pois seu ato é e sempre será político, muito distante da possibilidade de neutralidade (PRETI, 2009, p. 19). As atividades propostas para a educação a distância, portanto, devem considerar a questão da capacidade individual do aluno e por isso, oferecer atividades que venham contribuir com o seu avanço intelectual. Para tanto, deve-se propor atividades que permitam o feedback, ou seja, a devolutiva com as orientações necessárias, de forma que o aluno seja motivado a repensar o conhecimento existente. A proposta deve ser desafiadora e problematizadora. O professor, enquanto mediador, deve avaliar o aluno, a partir de sua capacidade de entendimento e de sua produção oral e escrita. Os conteúdos propostos devem considerar o contexto sócio-histórico-cultural, no qual estão inseridos os alunos e os objetivos do curso. Seguindo o pensamento de Vygotsky, de que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, pensemos uma prática pedagógica em que se tenha a responsabilidade da construção do ser psicológico, aquele que pensa e que pode agir 56 pela ação-reflexão-ação. O ensino, portanto, deve ser planejado a partir de conteúdos criteriosos, pensado no processo pelo qual o sujeito passa quando está diante do objeto de conhecimento. Neste caso, estratégias serão necessárias para que o aluno avance do conhecimento real para o conhecimento próximo. Considerando, assim, o nível de desenvolvimento real do aluno (em relação ao conteúdo) para que os objetivos pedagógicos sejam alcançados. Para o ensino superior, o entendimento da aprendizagem como sendo um processo, corrobora para uma prática educativa voltada para o desenvolvimento do aluno. A educação a Distância funcionará na perspectiva progressista vygotskiana se o professor se propuser ao diálogo com a teoria, respeitando e reconhecendo a idéia da "zona de desenvolvimento proximal" como espaço de aplicabilidade e intervenção, para assim estimular o trabalho colaborativo, de forma a potencializar o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Os ambientes colaborativos de aprendizagem, apoiados em computadores e tecnologias digitais, valorizam este tipo de abordagem, criando um espaço de trabalho conjunto. 3.2.2.2 A pertinência da mediação pedagógica na EaD O ensino a distância online tem sido divulgado como uma alternativa que se configura hoje pela inserção das novas tecnologias de informação e comunicação e junto com elas a idéia da interatividade, conceito que vem sendo muito discutido pelo fato de amparar valores e concepções que têm variado no tempo e na história. Silva (2006, p. 83) tem contribuído com o debate nacional sobre interatividade, ao reconhecer a complexidade e a importância do tema e ao apresentar posições de autores, sobretudo, o debate que se travou na França em meados dos anos 80 sobre o termo interatividade. Silva (2006, p. 9) aponta três reações frequentes ao termo “interatividade”: a) A primeira geração vê como mera aplicação oportunista de um termo ‘da moda’ para significar velhas coisas como diálogo e comunicação. 57 b) A segunda geração, uma reação, interatividade tem a ver com ideologia, com publicidade, estratégia de marketing, fabricação de adesão, produção de opinião pública, aquilo que legitima a expansão globalizada do novo poderio tecno- industrial baseado na informática. c) A terceira geração também reage. São os que dizem jamais se iludir com a interatividade homem-computador, pois, acreditam que, por trás de uma aparente inocência da tecnologia "amigável", “soft”, o que há é rivalidade e dominação da técnica promovendo a regressão do homem à condição da máquina. Mas para Silva, (2006) a terminologia interatividade surge para atender a uma nova modalidade comunicacional, a interativa, a qual se caracteriza pelo modo dialógico com que os usuários interagem uns com os outros. “Ela se apresenta como um potencial de propiciar a interação, mas não como um ato em si mesmo”. (SILVA, 2003, p. 203). A interatividade é vista como um fenômeno que emerge da Sociedade da Informação, que para Asmann (2005, p. 16) “é a sociedade que está atualmente a constituir-se, na qual são amplamente utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e informação de baixo custo”. Assmann também acredita que apenas a disponibilização da informação não caracteriza a Sociedade da Informação, mas o diferencial e o que é mais importante “é desencadeamento de um vasto e continuado processo de aprendizagem” (SILVA, 2006, p. 15). Assim dizemos que as novas tecnologias que permitem a interatividade também promovem uma nova relação do aluno com o conhecimento, com outros alunos e com o professor, a partir do momento em que se propõe um ensino que considera como prioridade as formas de aprendizagens e, consequentemente, os aprendentes. A possibilidade de interagir, através das ferramentas tecnológicas, implica rever todos os papéis dos envolvidos no processo ensino e aprendizagem e como também a metodologia utilizada para a promoção dessa aprendizagem. Para o professor, seu papel se amplia. Ele deve promover, através de uma intervenção pedagógica, a autonomia do aluno, no sentido, de ajudá-lo a reelaborar o conhecimento existente. Ao professor cabe o papel de promotor-interventor. Para o aluno, Silva (2006, p. 13) acrescenta que: 58 as novas tecnologias interativas tendem, por sua vez, a contemplar as disposições da nova recepção. Elas permitem a participação, a intervenção, a bidirecionalidade e a multiplicidade de conexões. Elas ampliam a sensorialidade e rompem com a linearidade e com a separação emissão/recepção. Os alunos, desta forma, deixam de aprender passivamente, como acontece com o ensino instrucionista, no qual a máquina ou o professor transmite ou repassa as informações, e passam a exigir mais, tanto dos proponentes quanto de si mesmos, exigindo liberdade e autonomia. Autonomia, que para Morin significa a capacidade sempre relativa e dependente das relações estabelecidas com o seu entorno. Ou seja, a autonomia do aprendente nos processos educativos se estabelecerá através da interação com o mundo exterior e os outros. O reconhecimento da dependência entre o aprendente e o mundo e o estabelecimento de interações é que permite que este construa sua autonomia (MORAN apud ASSMANN, 2005, p. 43). Se por interação entende-se ação recíproca que se estabelece entre pessoas ou coisas, Primo e Cassol (apud VAN DER LINDEN, 2005, p. 62) afirmam que “interação são as relações e influências mútuas entre dois ou mais fatores, de modo que cada um altera o outro e a si próprio, bem como a relação existente entre eles”. Na visão sociointeracionista, o homem constitui-se como tal, através de suas interações sociais, portanto, ele é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura. Na interação com o outro e com o meio, o indivíduo se deparará com situações conflitantes, que exigirão dele as possíveis soluções, o que possibilitará a aprendizagem e, consequentemente, o seu desenvolvimento intelectual. A aquisição do conhecimento se dará pela interação humana, pois, é da relação do sujeito com o meio, envolvendo nesse processo crenças, valores, atitudes, papéis, normas, tradições etc, que o sujeito se constitui. No contexto de EaD, o favorecimento da interação é marcado pela ação dialógica entre o sujeito e a técnica. Para Hodgson (apud VAN DER LINDEN, 2005, p.63) “o termo interação ao ser incorporado pela internet, transmuta-se em interatividade, traduzindo-se num tipo singular de interação”. Com as tecnologias disponibilizadas, a educação a distância oportuniza, portanto, maior interatividade entre professor e aluno, alunos e alunos, todos e 59 máquina, ampliando, renovando e construindo conhecimentos porque as novas tecnologias comunicacionais permitem ampla liberdade para o usuário fazer as conexões que lhe forem convenientes, de forma a atualizarem-se e de produzirem as intervenções que mais lhe convierem. Assim, temos um movimento entre interação e interatividade que vai além do humano e máquina, uma vez que a interação é relação necessária entre sujeito e objeto para a aquisição do conhecimento, e interatividade, condição sine qua non para a acessibilidade à comunicação em rede, consequentemente, essas relações estão tão imbricadas, que uma não se diz sem a outra em EaD. Belloni (2006) chama-nos a atenção para a questão das relações mediadas pela linguagem e mais tardes pelas mídias enquanto forma de socialização do conhecimento. Embora a experiência humana tenha sido sempre mediada através do processo de socialização e da linguagem, é a partir da modernidade, com o surgimento de suas mídias típicas de massa (o impresso, depois os sinais eletrônicos) que se observa um enorme crescimento da mediação da experiência decorrente destas formas de comunicação (BELLONI, 2006, p. 54). A proposta de Educação a distância que pretende a promoção do sujeito, ensejando que ele aprenda com as novas tecnologias interativas, pretende a sua inclusão social, aproveitando-se dos espaços de interação pela interatividade que os ambientes virtuais de aprendizagem oferecem. O conceito de interatividade, enquanto abertura para mais comunicação, mais trocas, mais e mais participação, possibilita a ampliação no processo de aprendizagem em virtude da intervenção que a interatividade proporciona, favorecendo todos os envolvidos. Todavia, caberá ao professor pesquisar e propor situações e/ou atividades que levem em consideração os recursos que a tecnologia oferece para ampliar o mundo do aluno, numa perspectiva de reconstrução e de aprendizagem colaborativa. Conforme Silva (2006, p. 13), [...] as novas tecnologias interativas tendem, por sua vez, a contemplar as disposições da nova recepção. Elas permitem a participação, a intervenção, a bidirecionalidade e a multiplicidade de conexões. Elas ampliam a sensorialidade e rompem com a linearidade e com a separação emissão/recepção. Sua disposição à interatividade permite ao usuário ser o ator, ser o autor [...]. 60 Nessa perspectiva, trazemos ao debate o conceito de mediação. Para Oliveira (1997), este conceito em Vygotsky representa o ato de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação, pois, deixa de ser direta e passa a ser indireta, mediada por esse elemento. Na mediação pedagógica, o processo segue o mesmo percurso. De um lado temos o aluno, do outro o conhecimento, e o elemento intermediário pode ser o professor, os pais, os colegas ou outros instrumentos que possam fazer o papel do mediador no processo de ensino e aprendizagem. A mediação pedagógica representa uma atitude do outro em relação à aprendizagem do aluno. Na educação, o professor assume esse papel, respondendo às demandas do aluno. Ao professor cabe mediatizar o processo de acordo com o objetivo da proposta educacional. Em caso de uma proposta progressista: a autonomia do aluno em termos de produção intelectual, de amadurecimento individual e coletivo, de análise crítica social e política vai exigir muito do trabalho que será desenvolvido pelo professor, do seu comprometimento e de sua concepção pedagógica. Na EaD, especificamente, temos a ausência física como um aspecto que vai exigir da relação professor/aluno atitudes que superem essa ausência, por isso, o conceito e a efetivação da mediação será tão pertinente e necessária para uma educação de qualidade. Portanto, para que haja maior interação entre os alunos e professores, o uso das ferramentas tecnológicas torna-se imprescindíveis, sobretudo, para favorecer a mediação pedagógica numa educação a distância. Belloni (2006, p. 54) assevera: Na EaD, a interação com o professor é indireta e tem de ser mediatizada por uma combinação dos mais adequados suportes técnicos de comunicação, o que torna esta modalidade de educação bem mais dependente da mediatização que a educação convencional, de onde decorre a grande importância dos meios tecnológicos. Neste caso, as ferramentas podem ser mediadoras da aprendizagem como também podem servir de meios para as intervenções ou mediações dos professores. Elas podem ser qualquer coisa que media as ações entre sujeito e objeto As ferramentas, como também a maneira como elas são usadas, mudam ao longo do tempo, uma vez que adquirem novas formas de se trabalhar conjuntamente, a partir de 61 outros sistemas de atividade, ou inventam novas maneiras, potencialmente transformando a atividade. A introdução dos computadores, da internet, de softwares educativos, por exemplo, tem transformado a ação de ensinar e aprender. A internet, antes de chegar à escola como recurso pedagógico, já é fonte de pesquisa, meio de relacionamento, de entretenimento e veículo de informação para os alunos, o que significa dizer que eles já convivem com essas tecnologias, independente de os professores utilizarem como parte de sua metodologia ou não. Por este e por outros motivos, as tecnologias digitais podem ser aliadas ao ensino, contribuindo para a aprendizagem do aluno. Utilizando-as para flexibilizar, dinamizar, socializar e, sobretudo, horizontalizar o ensino, de forma que o conhecimento seja construído pela integralização dos recursos tecnológico- pedagógicas e pela participação individual e coletiva de alunos e professores. Porém, é necessário discutir como será realizada a mediação dessas ferramentas e sob qual perspectiva elas serão utilizadas. Para a mediação com o uso das tecnologias digitais, segundo uma orientação sóciointeracionista, temos que reconhecer, primeiramente, que elas possuem limitações e por isso imprescindem de uma orientação pedagógica, representada por uma pessoa mais experiente, um professor. Além disto, esta orientação deve estar voltada para aprendizagem do aluno transformando o desenvolvimento potencial do aluno em desenvolvimento real. Por isso, cabe ao professor e/ou tutor intervir no processo para promover a reconstrução do conhecimento como também promover as interações efetivas entre os alunos. É nessa perspectiva que ensinar está além da transmissão de informações, pois implica em levar o aluno a pensar, a acessar informações e apropriar-se de conceitos elaborados de forma que possa desenvolver essa prática para além de sua permanência na escola. Essa concepção destaca a importância do social para o processo de aprendizagem, pois a mediação se dá a partir de ferramentas materiais e imateriais e os processos intelectuais originam-se a partir de experiências, interações e explorações do meio. O professor nos cursos de EaD, na perspectiva de mediador pedagógico, segundo Masetto (2006, p. 168) possui características que fundamentam uma prática 62 voltada para atender às necessidades do aluno. Nesse sentido, ele adquire o seguinte perfil: a) tem de estar voltado para a aprendizagem do aluno, assumindo que o aprendiz é o centro do universo do ensino; b) professor e aluno constituem a célula básica do desenvolvimento da aprendizagem, por meio de ações e relações conjuntas; c) deve haver co-responsabilidade e parcerias nesse processo; d) criação de um clima de mútuo respeito entre professor e aluno; e) domínio profundo de sua área de conhecimento, demonstrando competência; f) criatividade, como elemento de busca e motivação para o surgimento de situações inesperadas; g) disponibilidade para o diálogo; h) subjetividade e individualidade: professor e alunos são seres humanos, com subjetividades e com identidades individuais; comunicação e expressão em função da aprendizagem. A redefinição do papel do professor é fundamental para o sucesso dos cursos a distância, conforme afirma Belloni (2006, p. 82-83). “[...] Sua atuação tenderá a passar do monólogo sábio da sala de aula para o diálogo dinâmico dos laboratórios, sala de meios, email, telefone e outros meios de interação mediatizada [...]” A mediação do professor online é extremamente importante tanto para favorecer a aprendizagem como para aliviar sentimentos de isolamento provocados pela distância física na Educação a Distância online. Para Masetto (2006, p.163) as ferramentas tecnológicas na perspectiva da mediação pedagógica pressupõem: incentivar a participação e o envolvimento do aprendiz, o intercâmbio de informações, de diálogo e de debate entre os participantes, uma utilização de técnicas e máquinas que permita visualizar um problema, sua possível solução, discutir o processo, analisar criticamente a solução desenhada, verificar se ela atendeu ao esperado, revê-la à luz de outras informações e idéias novas, registrar e documentar a experiência, comunicar-se sobre ela, analisá-la e criticá-la. 63 As ações de mediação para Educação a Distância, pressupõem, pois, a intervenção do professor em consonância com as ferramentas tecnologias, considerando perspectivas de aprendizagem em favor da construção do conhecimento. Amaral (2006, p. 72) consegue organizar um quadro que caracteriza uma ação mediadora da aprendizagem, apresentando dimensões e indicadores para mediação pedagógica no ambiente virtual de aprendizagem. Quadro 1 – Ação mediadora da aprendizagem, apresentando dimensões e indicadores para mediação pedagógica. DIMENSÕES INDICADORES Definição dos caminhos da aprendizagem – objetivos e conteúdos segundo as próprias necessidades Escolha do tempo e do local para acessar a informação Autonomia do Aluno Formação espontânea de grupos de alunos Busca de outras bibliografias Comprometimento com sua evolução no processo de aprendizagem e de auto-avaliação Troca e compartilhamento de idéias Conversas, debates entre os participantes Interação e Cooperação Formação de grupos para execução de trabalhos Trocas de materiais – textos, links Estabelecimento de compromissos e tarefas Realização de trabalhos conjuntos. Valorização do conhecimento prévio Apresentação de problemas e de desafios Estratégias didático-pedagógica Contextualização e situação dos conteúdos dentro da realidade Variedade de abordagem do conteúdo Avaliação processual - uso de ferramentas para acompanhar o desenvolvimento do aluno Fonte - Amaral (2006, p. 72) 64 As dimensões aqui apresentadas sugerem elementos que podem contribuir para configuração de uma prática educativa que se dispõe a trabalhar na perspectiva da construção do conhecimento, levando em consideração a mediação pedagógica e os princípios sóciointeracionistas. A mediação pedagógica além de ter o papel fundamental de ampliar as interações, ela será responsável pelas intervenções para garantir as conexões adequadas e de qualidade. A pesquisa para a aprendizagem deve ser estimulada pelo professor como metodologia de aprendizagem, e as intervenções serão estrategicamente usadas para direcionar sua ação educativa, pautada, obviamente numa teorização que o subsidie e que lhe dê fundamentação e viabilidade para uma prática que promova o crescimento pessoal e intelectual do aluno. A avaliação, sob a ótica da mediação pedagógica, deve mediar todo o processo da aprendizagem, mesmo que o nosso sistema educativo ainda esteja preso à avaliação classificatória, o professor pode ter uma prática de avaliação que valorize o feedback como forma de fazer o aluno rever seus conceitos, valores e atitudes. Para Silva (2006, p. 31) no processo de avaliação, o professor precisa converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências, valorizando e possibilitando o diálogo e colaboração entre os participantes da aprendizagem. O professor precisará trabalhar conteúdos de aprendizagem como hipertexto, isto é, como uma escritura não seqüencial, uma montagem de conexões em que, ao permitir e exigir uma multiplicidade de recorrências, transforme a leitura em escritura (SILVA, 2006, p. 31). Por fim, creditamos à mediação pedagógica a ação de articulador entre o ensino e aprendizagem. Os elementos da mediação vão se entrelaçando na ação, expressando, com isto, a integração dos aspectos relacionados às necessidades e interesses dos alunos, bem como aqueles relacionados à intencionalidade pedagógica do professor que pode variar de acordo com o seu envolvimento, compromisso e, sobretudo, de acordo com a sua concepção pedagógica. Pois, se o professor não tiver conhecimento, ou uma prática educativa, em que o foco do processo educacional seja a aprendizagem, talvez ele não tenha a compreensão da importância do mediador nesse 65 processo, e, recaia numa prática puramente instrucionista. O ensino, neste caso, seja apenas transmissão dos conhecimentos, e as tecnologias sejam usadas como modismo, nada vindo a acrescentar em termos de aprendizagem. 66 4 METODOLOGIA DA PESQUISA Este capítulo trata da apresentação da metodologia adotada para o desenvolvimento de nossa pesquisa, que teve por objetivo investigar as concepções teóricas que implícita ou explicitamente norteiam as práticas pedagógicas dos professores do 6º semestre do curso de Administração a Distância da UEPB. As nossas escolhas foram tomadas frente às demandas que o nosso objeto de estudo exigia, mas que a nosso ver respondem e/ou atendem às questões metodológicas aqui inquiridas. 4.1 Abordagem e tipologia da pesquisa: Para desenvolver esta pesquisa adotamos a abordagem qualitativa, através de um Estudo de Caso, tendo como instrumentos de levantamento de dados as entrevistas com os professores do curso de Administração a Distância, a análise documental do uso das ferramentas do Moodle pelos professores e do Projeto Político Pedagógico. A pesquisa é qualitativa porque entende que os sujeitos envolvidos em um processo de investigação tendem a evidenciar posições que analisadas a partir de recortes de seus entendimentos, nos remeterão a uma análise subjetiva de seus discursos, os quais nos ajudarão a entender a realidade, ou parte da realidade que nos interessa, enquanto pesquisador. Para Minayo, (1998, p. 134) A pesquisa qualitativa torna-se importante para: a) compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos; b) para compreender as relações que se dão entre atores sociais tanto no âmbito das instituições como dos movimentos sociais; c) para avaliação das políticas públicas e sociais tanto do ponto de vista de sua formulação, aplicação técnica, como dos usuários a quem se destina. Compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos acontece mediante uma relação entre o sujeito, ou o que ele pensa, e o mundo real, perspectiva que possibilita a investigação sobre o que os professores pensam sobre o processo de ensino e aprendizagem e como se dá sua prática pedagógica. 67 A participação dos professores no processo de ensino e aprendizagem não conduz a uma realidade única, pois, as atuações diferem de professor para professor, de curso para curso e assim sucessivamente. Por isso, será realizado um estudo de caso de cunho descritivo, que segundo Ludké e André (1986, p. 17) escolhemos fazer “quando queremos estudar algo singular, que tenha valor em si mesmo” O Estudo de Caso possui peculiaridades que o define enquanto pesquisa qualitativa, desde que represente situações ricas em descrições e permitam a flexibilidade. Para Ludké e André (1986), o estudo de caso apresenta características que merecem destaque porque visa à descoberta, quando ele avança e novos elementos emergem; porque “interpretação em contexto”. Neste caso, deve-se considerar toda situação que envolve a problemática; porque retrata a realidade de forma completa e profunda, o que permite uma visão imbricada dos fatos. Os eventos são considerados em suas relações, nada pode ser visto isoladamente. Os Estudos de Caso procuram representar os diferentes e, às vezes, conflitantes pontos de vista presentes numa situação social. Neste tipo de estudo, o pesquisador deve apresentar, caso haja, os diferentes pontos de vista existentes. Ao leitor cabe escolher aquele que mais lhe convier. A linguagem é utilizada de forma mais acessível para que todos tenham acesso às informações. 4.2 O caso: Tratamos, neste Estudo de Caso, de investigar a concepção pedagógica que subjaz a prática educativa dos professores do curso de Administração a Distância, curso oferecido pela Universidade Estadual da Paraíba. Este caso tem início com a parceria entre a Universidade Aberta do Brasil, instituições Públicas Federais e Estaduais e o Banco do Brasil, que consolida a política do governo federal de ampliar o acesso ao ensino superior, com a criação do curso piloto de Administração a Distância. A Universidade Estadual da Paraíba adere ao projeto, e, juntamente, com outras 68 instituições, dá início ao curso no primeiro semestre de 2006, com, aproximadamente, 480 alunos matriculados, distribuídos nos quatros polos, Polo de João Pessoa, Catolé do Rocha, Itaporanga e Campina Grande. O processo seletivo foi especial já que não obedeceu ao calendário do vestibular regular e abrangeu conhecimentos das áreas de Língua Portuguesa e Matemática. O curso tem duração de quatro anos e meio divididos em nove módulos. A carga horária total do curso é de 3000 horas/aulas mais 300 horas/aulas de estágio supervisionado perfazendo um total 3300 horas/aula, sendo parte ministrada presencialmente e parte ministrada a distância. De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso, as áreas de formação são “Estudos de Formação Básica”, “Estudos de Formação Profissional” e de “Ciência aplicada à Administração” e “Estudo de Formação Complementar”. A proposta epistemológica e metodológica e a dimensão política promovem o debate das grandes áreas do conhecimento, ao mesmo tempo, em que definem objetivos a serem alcançados durante o seu desenvolvimento. Mas, evidenciando a capacidade de o curso possibilitar conhecimento teórico e prático para uma visão estratégica dos negócios, tendo sempre como referência o compromisso ético de construção de uma sociedade mais justa. Para o desenvolvimento da estrutura curricular são oferecidos, dentre outros, os seguintes recursos didáticos: a) Módulos impressos por áreas de conhecimento; b) Ambiente Virtual de Aprendizagem; c) Videoconferências; d) Teleconferências; e) Encontros Presenciais; f) Estudos a distância; g) Sistema de Acompanhamento ao Estudante a Distância (tutoria local e a distância). Os alunos que se matricularam neste curso têm um perfil específico, pois, são funcionários do Banco do Brasil que ainda não possuíam o curso de graduação ou/e não tinham especificamente esta formação em administração de empresas. Diferentemente da grande maioria das instituições públicas que integram o consórcio, a 69 Universidade Estadual da Paraíba optou por destinar 30% das vagas para a demanda social, considerando, pois, como único requisito para o ingresso no curso que as pessoas tivessem concluído o ensino médio. Comprovamos que a maioria dos alunos que ingressou neste curso foi, na realidade, da demanda social, e que têm um perfil específico, seja o de funcionário do Banco do Brasil, ou de demanda social. Com características peculiares e próprias, são pessoas adultas, que trabalham, porém tinham parado os estudos. Para este estudo de caso, consideramos os sujeitos da pesquisa, através de suas falas e sua prática pedagógica, visibilizada pelo ambiente virtual de aprendizagem. 4.3 Os Sujeitos desta pesquisa Os sujeitos de nossa pesquisa foram os professores que ministraram as disciplinas do 6º módulo do Curso de Administração a Distância. Esses professores ministraram as disciplinas “Gestão de Pessoa”, “Marketing” e “Gestão Ambiental e Sustentabilidade”. A razão da escolha desse número de participantes foi pela ocasião da pesquisa no Ambiente Virtual de Aprendizagem, que foi realizada no 2º semestre do ano letivo de 2009, época em que foram oferecidas as citadas disciplinas. Os semestres anteriores, já tinham sido retirados do ambiente e os posteriores não estavam disponíveis no ambiente na ocasião. 4.4 Técnicas de coleta de dados: Uma das técnicas utilizadas, nesta pesquisa, foi a entrevista semi-estruturada, a qual possibilita “uma relação que se cria de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.33). Especificamente, a entrevista semi-estruturada permite que haja intervenção de ambas as partes, que haja esclarecimentos, correções e adaptações, o que a torna mais democrática e eficaz na obtenção das informações. Conforme Minayo (1998, 70 p.108) “a entrevista semi-estruturada combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador”. A técnica da análise documental foi utilizada porque os documentos constituemse numa fonte de informações que podem fundamentar as declarações do pesquisador (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39). Portanto, esta técnica foi utilizada para a análise do Projeto Político Pedagógico do curso em questão. Nele observou-se qual proposta pedagógica foi sugerida para o curso, implícita ou explicitamente. Para o estudo do Ambiente Virtual de Aprendizagem foram analisados os documentos que registraram a participação dos professores e alunos no uso das ferramentas tecnológicas do Moodle. A análise foi realizada posteriormente ao término do 6º módulo, a partir dos relatórios do Moodle. Análise documental é uma técnica valiosa porque ela pode completar outras e pode trazer dados novos. Ela “busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse” (CAULLEY, 1988 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38). Neste caso, o propósito foi identificar quais ferramentas foram utilizadas pelos professores e investigar como elas formam utilizadas. 4.5 Método de análise A análise, adotada nesta pesquisa teve como propósito “descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado [...]” (MINAYO, 1998, p. 209). Com a construção do instrumento da entrevista semi-estruturada foi estabelecido um conjunto de categorias descritivas que têm como objetivo reunir, “[...] numa mesma tarefa interpretativa, os temas como unidades de fala [...]” (MINAYO, 1998, p. 211). Assim sendo, elencamos algumas categorias que começaram a ser configuradas junto com os objetivos de nossa pesquisa, mas se concretizam enquanto categoria com a análise do corpus, a partir da revisão bibliográfica, e a análise documental. As categorias configuraram-se em: perfil do professor; a formação e atuação dos professores em Educação a Distância; o uso das ferramentas disponíveis no Moodle; e 71 as concepções pedagógicas que permeiam a prática educativa do professor. Estes temas articulados ao referencial teórico, à análise documental e os discursos dos professores deram respaldo para o alcance dos objetivos da pesquisa. Quando Minayo (1998, p. 230) diz que “uma boa análise interpreta o conteúdo ou o discurso dentro de um quadro de referências onde a ação e ação objetivada nas instituições permitem ultrapassar a mensagem manifesta e atingir os significados latentes”, nós nos aproximamos desse debate sobre método de análise na abordagem qualitativa, pois, nossa intenção é estabelecer uma relação entre a teoria posta sobre concepções pedagógica, a documentação empírica, no que diz respeito aos registros de uso do Moodle pelos professores, o Projeto Pedagógico do curso e as falas dos professores sobre sua prática em Educação a Distância. É, portanto, a partir desse recorte que se investigou sobre as concepções pedagógicas que permeiam a prática educativa dos professores do curso de Administração a Distância, oferecida pela UEPB, a partir do quadro teórico que orientou esta pesquisa, articulando-o com material empírico. 72 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Os dados desta pesquisa estão apresentados de forma a estabelecer articulação entre o que foi discutido no referencial teórico à realidade empírica dos documentos referentes ao Projeto Político Pedagógico e aos registros de uso das ferramentas do Moodle pelos professores, através das categorias: perfil dos professores; formação e atuação dos professores em Educação a Distância; ferramentas disponíveis no Moodle usadas pelos professores e as concepções pedagógicas que permeiam a prática educativa do professor. O nosso texto foi construído, tendo como viés de análise o referencial teórico, o qual contextualiza a Educação a Distância, como modalidade, que se fortalece enquanto Política Pública; as concepções pedagógicas como tendências, as quais influenciam a prática de sala de aula do professor; o Projeto Político Pedagógico como o documento que institucionaliza o curso e oferece respaldo pedagógico e norte para a nossa investigação; e as falas dos professores registradas, através das entrevistas realizadas. 5.1 Perfil dos Professores Para melhor identificarmos os professores que participaram desta pesquisa e sem ter que revelar suas identidades, chamá-los-emos de Professor 1 (P1), Professor 2 (P2) e Professor 3 (P3), números que correspondem à ordem em que eles foram entrevistados. Este tópico tem por objetivo identificar que são os professores que atuam na EaD, na UEPB, e em que condições eles atuam, considerando que os professores que trabalham em EaD, conforme (BRASIL, 2007, p.18) “devam ser vinculado à própria instituição, com formação e experiência na área de ensino e em educação a distância”. (P1) possui titulação de doutor e tem graduação em curso de Bacharelado. Ele é professor efetivo e exclusivo da UEPB com situação funcional de 40h. Tem idade entre 50 e 65. Já trabalha na UEPB há mais de 15 anos. 73 (P2) tem o título de mestre e possui, além do curso de Bacharelado em Administração, o curso de Pedagogia. Ele também é efetivo e exclusivo da UEPB, com carga funcional de 40h. Tem idade entre 30 e 40 anos. Trabalha na UEPB há menos de 5 anos. (P3) é doutor e possui o curso de Bacharelado. Professor efetivo e exclusivo da UEPB. Sua situação funcional é de 40h e atua entre 5 e 9 anos como professor. Tem idade entre 30 e 40 anos. Diante do perfil destes professores, destacamos vários aspectos que merecem nossa consideração. Todos os professores trazem uma experiência de docência significativa. Possuem dedicação exclusiva na instituição, e estão disponíveis para atuarem nas dimensões ensino, pesquisa e extensão. Todos são bacharéis, ou seja, são profissionais que têm por função o exercício em sua área de conhecimento, a exemplo dos bacharéis de administração, que estão aptos a serem administradores, mas no nosso caso, os nossos professores bacharéis possuem titulação de mestre e doutor, portanto, aptos para o magistério, para docência do ensino superior. P2 possui além de bacharelado, possui licenciatura em Pedagogia. Diante destes fatos, questionamos se os cursos de pós-graduação habilitam mesmos esses profissionais a exercerem a docência. Em muitos casos, percebemos que a pós-graduação restringe seus interesses à pesquisa em detrimento do ensino. Se esses cursos, mesmo os de graduação e/ou de pós-graduação, não estão habilitando satisfatoriamente as pessoas a atuarem como professores, vemos com grande preocupação essa realidade, pois, são as IES, as responsáveis por tal demanda. São elas que devem garantir, seja na formação inicial ou na formação permanente que o professor tenha consciência de seu papel na sociedade e, a partir daí, possa refletir sobre sua prática com base em teorias que dão suporte a uma atuação mais efetiva em favor da aprendizagem do aluno. Mas para isso, precisa conhecer, estudar as teorias para que se tenha elementos para discutir e refletir sobre a realidade. Para Masetto (2003, p. 27), não podemos falar de profissionais de educação que não dominem, no mínino, os quatro grandes eixos do processo de ensino e aprendizagem: “o próprio conceito de processo de ensino-aprendizagem, o professor como conceptor e gestor de currículo, a compreensão da relação professor-aluno no 74 processo, e a teoria e prática básica da tecnologia educacional”. Esses eixos aqui apresentados por Masseto precisam ser incorporados pelos profissionais dentro de uma certa coerência, de forma que possa oferecer respaldo pedagógico, político e social aos professores. 5.2 Formação e atuação dos professores em EaD Para analisar a Formação e Atuação dos professores em EaD, procuramos identificar sua trajetória nesta modalidade. Para tanto, elaboramos questões que fornecessem esse norte. Essas questões atentam para a idéia de que os professores devem estar preparados para atuar especificamente em Educação a Distância, uma vez que esta modalidade de ensino e aprendizagem tem suas especificidades e por isso requer uma formação específica, requer habilidades específicas como o domínio das tecnologias digitais ou das tecnologias aplicadas no processo de ensino e aprendizagem. O que podemos observar diante dos registros dos professores, neste primeiro bloco, é que eles tiveram a primeira experiência como docentes em Educação a Distância com este curso de Administração. Portanto, de maneira geral, tudo é muito novo e as experiências são muito parecidas. [...] já tinha feito um curso a distância, e por isso, conhecia o ambiente virtual de aprendizagem com suas ferramentas pedagógicas. (P1) [...] não, minha primeira experiência foi como professor do curso de Administração a Distância- UEPB. (P2) [...] não, a primeira experiência foi no curso de Administração a Distância. (P3) Fica evidente que estes professores não possuíam experiência com a EaD, portanto, a necessidade de investir na formação para que eles tenham consciência das especificidades da EaD, e, a partir desse momento, refletir sobre como lidar com tudo o que viu no seu projeto pedagógico. E é a instituição que deve investir para o 75 amadurecimento do professor. A formação dos professores não deve se restringir ao uso da plataforma, o Moodle, ou seja, a saber o que seja uma plataforma virtual, como ela funciona, seus limites e possibilidades, como editar etc, pois esta é uma questão mais técnica, e adquire-se mais com a prática, com o exercício. Essa foi o tipo de formação recebida pelos professores conforme fala abaixo: [...] recebi ligeiras instruções e que o foco das orientações foi, ou seja, de como usar o moodle [...]. (P1) [...] sim, fizeram um treinamento na realidade, como entrar no ambiente, quais as ferramentas que íamos usar, com é que íamos usar e pediu até que nós pudéssemos em casa praticar. (P2) [...] sim. Técnico e pedagógico. (P3) Para uma formação em EaD, numa perspectiva sociointeracionista, ou sóciohistórica, seja ela inicial ou continuada, o foco do processo deve ser a aprendizagem do aluno, e, no caso de EaD, como usar as ferramentas tecnológicas, de forma a promover maior interação e interatividade entre os participantes, a entender, com isso, quais ferramentas permitem um maior feedback e que ofereçam oportunidade de acompanhar o avanço do aluno em favor de sua aprendizagem. Para essa discussão, concordamos com Almeida (2003, p. 203) quando ela nos permite pensar que “os desafios da EAD são congruentes com os desafios do sistema educacional em sua complexidade, cuja análise implica identificar que educação se pretende realizar, para quem se dirige, com quem será desenvolvida e com o uso de quais tecnologias”. [...] esse ligeiro treino, em termo, como eu já tinha experiência como aluno, para mim foi mais ou menos suficiente, eu tive muitas dúvidas depois, o que eu tinha dúvidas eu perguntava [...] porque foi muito por cima, muito light. (P1) [...] foi satisfatória, pois nos deixou a par desse novo processo e nos inteirou mais digamos assim. (P2) [...] boa. Ajudou a conhecer o sistema e a entender que tipos de métodos de ensino poderiam ser utilizados. (P3) Essas colocações, portanto, mostram a pouca informação e de discussão que esses professores possuem a respeito do que seja trabalhar Educação a Distância. 76 Este fato fica claro quando foi o foco da capacitação. A fala do professor ao se referir à formação “como um ligeiro treino”, dá-nos a dimensão do que foi oferecido. Esta é a fala do P1, o único que tinha uma experiência com EaD. Ele tinha feito um curso a distância e pela plataforma Moodle. Portanto, ele possui mais elementos para avaliar a formação. Talvez a própria instituição ainda não tenha incorporado esta modalidade com suas especificidades, pois, coloca a disposição dos professores apenas a equipe da administração do Moodle. Não se pensa na importância de um profissional que pense a EaD, a partir de princípios teórico-metodológicos, que juntamente com a equipe técnica possa formar os profissionais, segundo uma perspectiva de ensino e aprendizagem. Embora os professores demonstrem possuir ainda limitações quanto à prática na Educação a Distância, eles acreditam na modalidade e a tem como alternativa de inclusão social, conforme seus depoimentos. [...] possibilitou ver essa modalidade como coisa muita séria. [...] é uma educação do futuro, que já está presente. E que no ensino presencial, ele já utiliza muitas ferramentas, faz orientação de trabalhos a distância, diz até que o ensino presencial devia ter 30% a distância. (P1) [...] eu achava muito interessante, uma coisa é você ver lá de fora né? E aí outra coisa é você ter a oportunidade de trabalhar com ela, e aí você pode sentir realmente os pontos positivos e os pontos negativos. Ponto positivo dessa modalidade é que você pode a qualquer momento estar ali trabalhando e estudando, no momento que você esta no seu trabalho, no momento de descanso, você pode abrir a tela, aí vê o que esta postada [...] (P2) [...] sempre achei que era uma forma para que mais pessoas tivessem acesso ao ensino superior. E hoje da mesma forma. (P3) Estes depoimentos são preciosos, no sentido de que esses professores têm compromissos com a Educação, acreditam nela, mas, talvez por falta de uma orientação não tenham conhecido todo o potencial que um Ambiente Virtual de Aprendizagem pode oferecer. Contudo, quando questionados sobre como avaliam a aprendizagem dos alunos na EaD, eles simplificam a questão com as expressões: “têm alunos excelentes, médios e fracos... tem aluno interessado em EaD e tem aluno interessado no ensino presencial” (P1). Outro professor: “tem alunos mais interessados e têm os que não são tão 77 interessados” (P2). O terceiro professor: “alguns alunos acham que não precisam estudar no EAD”(P3), conforme os depoimentos abaixo transcritos. [...] eu avalio assim como o presencial também têm alunos excelentes, os médios e os fracos, então é da mesma forma do presencial, porque o aluno interessado do presencial e como do aluno interessado da EaD, ele vem atrás, ele busca o conhecimento, e vai buscar a biblioteca, ele estuda. (P1) Eu acho que isso vai variar de aluno para aluno, tem alunos mais interessados, tem alunos que não são tão interessados, agente nota pelas atividades, tem aluno que constantemente ficam ali executando as suas atividades, entrando nos chats para tirar suas dúvidas [...]. (P2) Boa. Mas acredito que alguns alunos acham que não é preciso estudar no EAD [...]. (P3) Por essas colocações, pensamos que para esses professores o processo didático é visto como caminho de única via, o caminho só do ensino, acompanhado da premissa de que tudo que é ensinado logo é aprendido, ou seja, o professor ensina, não aprende aquele que é desinteressado. Saviani (2003, p. 6) quando fala da pedagogia tradicional e diz que “a escola organiza-se como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos”, ele nos traz uma reflexão de que ainda temos muito arraigado em nós a cultura do processo ensinoaprendizagem centrado no professor. Já quando perguntamos sobre como os alunos aprendem em EaD, os professores são evasivos, e confundem teoria de aprendizagem com estratégias de ensino. É o que observamos em seus comentários. Os alunos não aprendem com os Chats, estes são ferramentas, que de acordo com a concepção e a proposta de uso pode favorecer a aprendizagem. Os alunos aprendem, através da mente, pela cognição. Agora como se dá esse processo, isso é explicado pelas teorias de aprendizagem. No entanto, os professores não conseguem explicar, como vemos em seus depoimentos. 78 [...] a aprendizagem vai acontecer através das aulas dos fóruns e os chats, que uma grande falha que eu achei enquanto professora desse curso, foi que no curso que eu fiz como aluna havia uma grande interação nos chats a gente conversava com os professores, tinha hora do professor ta ali esperando a gente, a gente chegava para conversar, e como professora eu não tive quase aluno que chegou no chat, então a nossa cultura do nosso curso aqui foi praticamente zero na questão de chat, pelo menos na minha disciplina foi. (P1) [...] na realidade a forma que eles aprendem é a mesma forma que os alunos presenciais, porque as aulas que a gente passa pra eles no meio virtual não é? As atividades são passadas no meio virtual e como é que elas podem aprender? Através dos livros, através da bibliografia que é disponibilizada pela própria instituição e as outras que estão disponíveis na biblioteca. (P2) [...] através da disciplina e da compreensão e flexibilidade por parte de alunos e professores. (P3) Os professores confundem estratégias de ensino com teoria de aprendizagem. Estratégias como atividades ou recursos que auxiliam o professor a atingir seus objetivos pedagógicos. Teorias da aprendizagem são modelos que tentam explicar como o sujeito adquire o conhecimento, como aprende. A Psicologia Educacional estuda essa área do conhecimento classificando-as em teorias do condicionamento, esta entende o aprendiz como um ser que responde a estímulos do meio exterior, não levando em consideração o que ocorre dentro de sua mente durante o processo. A aprendizagem é interpretada somente como mudança de comportamento, e as teorias cognitivistas enfatizam o processo da cognição, compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação. Ocupa-se dos processos mentais. Ao professor cabe escolher aquela que para ele dará mais resultado, considerando em que perspectiva se vai trabalhar: que aluno se quer formar, para quê e como formar. O Projeto Político Pedagógico do curso de Administração define, mesmo que implicitamente, sua opção de abordagem teórica sobre teoria de aprendizagem, quando fala explicitamente sobre currículo. Para o PPP “o curso deve incorporar a compreensão de que o próprio currículo e o próprio conhecimento devem ser vistos como construções e produtos de relações sociais particulares e históricas” (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, 2005, p. 11). Esta visão de currículo está apoiada na concepção pedagógica sociointeracionista, uma vez que referencia currículo 79 como resultado das relações sociais, e o conhecimento como resultado da construção. A concepção que subjaz este Projeto é a sociointeracionista, pois acredita na construção coletiva do conhecimento e tem como articulador do processo de ensino e aprendizagem a mediação pedagógica. No entanto, no curso em questão observamos que o professor não se vê como parte deste processo, mas assume uma posição distante, própria da concepção tradicional, na qual o aluno é condicionado a atingir, pelo próprio esforço o conhecimento definido como útil. É a predominância da palavra do professor e das regras impostas. Todavia, numa visão sóciointeracionista, ele assumiria a posição de mediador, aquele que tentaria entender o porquê da falta de interesse, para poder intervir, tornando o ensino mais atrativo e significativo. Quanto ao uso das tecnologias agregadas à EaD, os professores concordam com a sua importância para promover maior interação entre todos. No entanto, quando falam do uso dessas ferramentas eles parecem tímidos e evasivos, como vemos a seguir. [...] o uso do material didático é muito importante porque você tem que trabalhar de forma que o aluno realmente você converse com ele através do seu material [...] mas era como se tivesse conversando, e ele quando lê tem de sentir isso, então é importante essa questão de toda parte de ferramenta que a gente tem para poder dar esse sentido de haver uma interação, embora distante. (P1) [...] eu acho fantástico, eu acho que só veio realmente contribuir, agregar com a internet e facilitar o conhecimento. (P2) [...] cada uma favorece chegar mais perto dos alunos. (P3) Estas respostas parecem ser de pessoas que não encontram fundamentação que expliquem sua prática em EaD, pois, as ferramentas tecnológicas têm um papel muito importante, a de promover a interação e interatividade entre os pares no processo de ensino e aprendizagem. Interatividade como um movimento que vai para além do conceito de interação, isto porque a interatividade vai permitir a aproximação dos agentes que estão distantes fisicamente. Para Silva (1998, p. 29) a interatividade se concentra “na disposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção”. A fala do 80 P3 quando diz que “cada uma favorece chegar mais perto dos alunos” é uma afirmativa considerada evasiva, por que todas as ferramentas tecnológicas podem aproximar os alunos, podem promover a interação, mas o que pensamos sobre educação de qualidade em EaD, vai além da aproximação. Uma educação de qualidade tem por objetivo oferecer um ensino em que a aprendizagem sirva para o desenvolvimento do sujeito, sirva para o seu amadurecimento, no que diz respeito a sua participação na sociedade. Alguém que lê, escreve, interpreta e está preparado para conviver com as exigências sociais. As ferramentas podem sim contribuir para este processo, se elas forem utilizadas com o propósito da produção e socialização do conhecimento. Quando os professores foram questionados sobre o uso das ferramentas do Moodle e o porquê da limitação ou da restrição por algumas ferramentas, eles relatam: [...] quando eu preparava as aulas eu me reportava às ferramentas que eu tinha para pode utilizar, né? [...] não... não tive e confesso que não tive a orientação de alguém que me mostrasse como utilizar, foi falta justamente de orientação. (P1) [...] trabalhei com filme, que a gente pediu para que eles assistir filme, para que a gente levantasse uma discussão acerca do conteúdo que foi trabalhado, o chat que é o momento que você está lá conversando e debatendo com os alunos, os fóruns também são bem interessantes, ele levanta o questionamento e cada um dá a sua opinião a respeito daquele tema daquela palavra chave que você joga ali, então tem N coisas que são colocadas ali que vem contribuir com o nosso trabalho. (P2) [...] fórum, chat e Questionário. Muitas vezes essas outras ferramentas são utilizadas, mas não tem o feedback esperado. (P3) O (P1) ao relatar que não teve orientação de alguém para mostrar como utilizar as ferramentas, pode querer dizer que não teve uma formação pedagógica adequada para o trabalho com EaD, porque as poucas ferramentas utilizadas poderiam ter dado maior resultado, se tivessem sido utilizadas, sob uma perspectiva participativa, colaborativa, em que os alunos fossem autores e co-autores de suas produções. Consideramos que os professores poderiam ter melhor aproveitado as ferramentas para diminuir a distância física entre eles, professores-alunos, alunosalunos, através do Chat, por exemplo, que pode dar bons resultados se for planejado, conjuntamente. Para o uso do Chat tem que haver um estudo prévio entre professores 81 e alunos. Não se pode oferecer um encontro no Chat com muitas pessoas usando-o ao mesmo tempo. Por isso, a necessidade de uma orientação do uso das ferramentas para os alunos, porque quando utilizada adequadamente, esta ferramenta pode promover o debate e em tempo real. A dúvida do aluno fica registrada, por exemplo, ela não se perde como na oralidade da sala de aula presencial. Outro colega pode revê-la e/ou transformá-la, refutá-la, ratificá-la etc. O professor pode intervir e sua intervenção também ficar registrada para ajudar outros. Mas é importante um planejamento para seu uso. O ideal é que se programe os encontros por grupos de alunos, e não como acontecia, neste curso, com todos os alunos ao mesmo tempo. Para o uso do fórum, ambiente de debates, de discussões, em que o mediador pode fazer o aluno avançar em suas reflexões, bem como orientá-lo na organização de suas ideias. O professor pode ser “um motivador para o aluno realizar as pesquisas e os relatórios, que crie condições contínuas de feedback entre aluno-professor e alunoaluno” (MASETTO, 2003, p. 30). Esta ferramenta, assim como o chat, poderia ser melhor utilizada, se ao invés, de frases para serem completadas ou perguntas e respostas, o professor elaborasse questões problemas, em que o aluno se sentisse desafiado a dialogar com os textos. Também se o professor assumisse o papel de mediador do processo, intervindo para provocar, para instigar, para fazer o aluno repensar suas colocações etc. Chamou nossa atenção, quando perguntados sobre as vantagens e desvantagens da EaD o fato de os professores elegerem como desvantagens a pouca interação, a questão do interesse ou não por parte do aluno, a falta do contato físico como vemos em suas falas. [...] as vantagens são as possibilidades de pessoas de idade mais avançada e/ou que trabalham, voltarem a estudar, a flexibilidade de horário. Quanto à desvantagem, ele diz que talvez seja a pequena interação , quando eu falei que o aluno ele busca quando ele é interessado, mas alguns que talvez não liguem muito para este aspecto e deixem de lado e não vão tirar do professor o que ele podia tirar. (P1) [...] a vantagem é a praticidade não é, qualquer momento, você professor já tem, sua aula pronta, você posta e no momento que você tiver disponibilidade você coloca sua hora disponível e abre um chat com esses alunos para tirar dúvidas e receber questionamentos deles 82 questionamentos. E as desvantagens é realmente esse contato físico, que a gente sente, infelizmente, não que não tenhamos, nós temos um contato presencial mais talvez seja muito pouco e até pelo número de alunos você ter um ou dois contatos com 300, 350 alunos é muito diferente de você ter uma turma com 20,30, 40 alunos, essas seriam as desvantagens. (P2) [...] vantagem, o acesso de um número maior de pessoas. Desvantagem, a falta de uma interação mais efetiva. (P3) Destacamos estas falas porque os professores continuam transferindo a responsabilidade ora para o aluno, ora para a modalidade. Considerar como desvantagem para a Educação a distância a pouca interação e a distância física, significa dizer que ainda não entendemos esta modalidade. Educação a Distância, segundo Alves (2003, p.3) “compreendemos a Educação a Distância como uma das modalidades de ensino-aprendizagem, possibilitada pela mediação dos suportes tecnológicos digitais e de rede, seja esta inserida em sistemas de ensino presenciais, mistos ou completamente [...] a distância”. Esta colocação nos faz lembrar que a Educação a Distância que nós adotamos é a distância mesmo, porque os encontros presenciais foram criados neste curso para apresentação dos professores, mas isso não se constituiu numa regra. Daí que para se vencer esta distância física, usaríamos dos artifícios tecnológicos para promover a interação, se não está sendo possível, se não está havendo interação ou participação dos alunos nos eventos, vamos refletir e estudar para descobrir onde está o problema. Este é o papel do mediador pedagógico. Diante das colocações dos professores, foi perguntado que estratégias eles utilizaram para superar essa ausência física na EaD. Como respostas, destacamos os trechos dos professores respectivamente: “é porque não tinha ponto”; “eu não sei o que eu te responder o que é que eu poderia colocar”; “tentativas de diálogos nos fóruns”, conforme suas respostas: [...] como eu usava muito como aluna e tinha na minha turma uma bastante participação nos fóruns e nos chats eu estranhei muito e tinha desse jeito que eu fiz, de jogar as questões para que eles comentassem no fórum, eu acho que é porque não tinha ponto, porque justamente agora que eu me lembro que eu não cheguei a oferecer ponto porque eu não tinha autorização de coordenação para fazer isso né? (P1) 83 [...] sinceramente eu não sei o que eu te responder o que é que eu poderia colocar para chamar a atenção deles porque assim as ferramentas que eu coloquei eu não tive resposta e aí agente fica se questionando[...] (P2) Discussões postadas nos fóruns e tentativas de diálogos nos fóruns. (P3) Quando o professor sugere que oferecendo pontos aos alunos, talvez eles participassem mais dos fóruns ou chat, ele manifesta uma cultura escolar que se encontra arraigada em nossas práticas, cultura esta representada pela concepção pedagógica tradicional, em que os pressupostos teóricos se baseiam em “uma aprendizagem receptiva e mecânica, para o que se recorre frequentemente à coação” (LIBÂNEO, 1984, p. 24). Ao invés de coação, existe a possibilidade da orientação, da mediação pedagógica em favor da autonomia do aluno. A avaliação escolar aparece reduzida a um instrumento destinado unicamente a definir os merecedores dos prêmios e das punições, sendo assim associada à exclusão, à punição, ao castigo. Demo (2006, p. 29) comenta que “a obsessão pelo ensino é o signo maior das instituições educacionais instrucionistas”, esta é uma assertiva bem colocada, pois numa perspectiva sociointeracionista, o processo é inverso, o foco está na aprendizagem. A perspectiva é de oferecer, por exemplo, oportunidades para o aluno se acostumar com as novas práticas, ser modelo de participação, oportunizar debates significativos e não frases para serem completadas como vimos professores colocar em alguns Fóruns Temáticos. Estas tentativas fracassadas dos professores em promover uma maior interação entre os alunos devem-se ao fato de eles desconhecerem concepção e metodologia pedagógicas que os orientassem nesse sentido. Há que se considerar também a responsabilidade da instituição que, enquanto mantenedora e ofertante dos cursos a distância, deveria oferecer uma formação adequada e satisfatória para o trabalho na EaD, pois, fica claro nos depoimentos dos professores a hesitação, a dúvida e suas limitações. Situações que poderiam ter sido minimizadas com a iniciativa do professor em entender-se como um profissional em permanente processo de formação e a intervenção da coordenação do curso, pois a ela cabe a função de acompanhar e coordenar as ações acadêmicas discentes e docentes, planejar e gerir as atividades 84 juntamente com os professores. A coordenação de curso em EAD deverá estar apta para articular, promover e operacionalizar cursos de capacitação aos docentes, a partir da identificação das necessidades específicas do curso e estar atenta acompanhando cotidianamente os processos de produção de conteúdo e as estratégias de aprendizagem no âmbito do curso. Sobre o que os professores responderam quando perguntados quais os aspectos restritivos ou limitadores em sua prática no curso de Administração a Distância, eles repetem aspectos que já foram tratados noutros episódios, quais sejam, a falta de participação dos alunos nos eventos comunicativos, o pouco uso das ferramentas e a escassos encontros presenciais. Esses dados são pertinentes, uma vez que eles não conseguem enxergar que o processo de ensino e aprendizagem é um acontecimento bidirecional, caminho de mão dupla, onde todos os segmentos envolvidos têm seu papel definido. O papel do professor é de mediador do processo ensino e aprendizagem, já o papel do aluno é o de sujeito atuante na construção do conhecimento de maneira que se possa colocar-se em contato com a herança histórica do saber humano; e o papel da escola é o de apontar as necessidades de transformação das relações sociais em todas as suas dimensões. Conforme vimos, numa perspectiva sociointeracionista, ao professor cabe definir os caminhos da aprendizagem – objetivos e conteúdos segundo as próprias necessidades dos alunos; escolher o tempo e o local para acessar a informação; formar espontaneamente os grupos de alunos, oferecer outras bibliografias e comprometer-se com a evolução no processo de aprendizagem e de auto-avaliação do aluno. (AMARAL, 2006) 5.3 Ferramentas disponíveis no Moodle usadas pelos professores Para a análise do tópico Ferramentas disponíveis no Moodle usadas pelos professores, fizemos um cruzamento do material de registro do uso das ferramentas utilizadas pelos professores; da página principal, como foi organizada; o registro dos chats abertos; os fóruns temáticos abertos com as participações dos professores e alunos, além do que foi relatado pelos professores na entrevista. 85 O Ambiente Virtual de Aprendizagem utilizado pela Universidade Estadual da Paraíba seguiu o padrão simples com a distribuição de três colunas. Nas colunas laterais informações periféricas como calendários, mensagens etc. A coluna central com a disposição das disciplinas com os recursos de comunicação oferecidos como fóruns, vídeos, atividades obrigatórias etc. A sala do professor, ou seja, a página, onde é oferecida a disciplina é organizada com a identificação do professor na coluna lateral e na coluna central a disposição dos elementos que darão suporte efetivação da disciplina. Assim sendo, as disciplinas, objeto de nosso estudo, foram organizadas obedecendo a seguinte estrutura: apresentação da disciplina, espaço de interação, material didático e material complementar. Esta estrutura foi criada pelo administrador do ambiente. Ele é responsável por quaisquer alterações na configuração da sala ou página. A ele também cabe a postagem de material, atividades etc. O nosso professor não constrói sua própria sala virtual, isto é de responsabilidade dos administradores. Ele ainda não consegue pensar, ou não lhe é dada essa opção, a de organizar sua sala virtual como sua sala de aula presencial, onde ele é autoridade e tem autonomia para criar e apresentar sua própria metodologia de ensino e assim fazer as configurações que mais lhe convier, ou melhor, convier à aprendizagem do seu aluno. Conforme figura, a seguir: Figura 3 - Página do Professor - Moodle da UEPB Fonte: AVA - EAD/CIPE/UEPB 86 De acordo com as observações nas páginas dos professores1, constatamos que dentre as ferramentas oferecidas pelo Moodle, os professores utilizaram estas que estão abaixo demarcadas. O que significa dizer que dentre tantas e mais outras que podem ser agregadas ao Moodle, apenas as ferramentas materiais, glossário, chat, fórum e questionário foram usadas pelos professores do 6º semestre do curso de Administração a Distância da UEPB. Quadro 2 - Tipo de ferramentas do Moodle utilizadas pelos professores no decorrer das disciplinas. FERRAMENTAS PROFESSOR1 (P1) PROFESSOR2 (P2) PROFESSOR3 (P3) Materias x x X Glossário - - X Chat X x X Fórum X x X Diário - - - Questionário x x X Tarefa - - - Lição - - - SCORM - - - Trab. com revisão - - - Pesq, de opinião - - - WIKI - - - Fonte: Quadro criado mediante resultado da pesquisa (entrevista). A ferramenta Materiais ou Recurso foi utilizada pelos professores para arquivar plano de curso, cronogramas, conteúdo da disciplina em slides e material complementar. Todos os nossos professores usaram-na com essa finalidade, mas P3 acrescentou material complementar. Este professor ofereceu links e outros textos para ampliar as leituras dos alunos, de forma que o aluno não ficasse apenas com uma fonte 1 É a sala virtual onde o professor gerencia a sua disciplina. 87 de informação. Neste caso, o livro didático, livro este preparado por uma equipe, “o material didático do Curso de Administração será produzido pelos professores das universidades que fazem parte do consórcio”, (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, 2005, p. 26), existiu uma equipe especialista para produzir o livro didático, que depois era encaminhado às universidades. A estratégia de oferecer outros materiais, links, sites, livros desenvolve uma cultura nos alunos de que eles devem ir além do livro texto. Ela estimula a pesquisa que é uma recomendação quando se há interesse em formar alunos para a busca da autonomia, conceito que tem por princípio na teoria de Vygotsky, o entendimento de que o sujeito ao internalizar o conhecimento, através das relações sociais, ele é capaz se conduzir e estabelecer novas relações. Glossário é uma ferramenta que ajuda os alunos a não terem que sair da página em busca de significado das palavras. O glossário traz o significado das palavras-chave que estão sendo discutidas no texto estudado. Para nossa análise, observamos que só o P3 fez uso dessa ferramenta, que pode ser considerada como dispositivo instrucionista, não contribui para uma prática de construção de significados, mas o seu uso também pode ser um diferencial, se utilizada para chamar atenção dos alunos quanto à questão da necessidade de enriquecer o vocabulário. No entanto, o glossário poderia sim constituir para uma prática interacionista, se ela fosse usada como proposta de produção coletiva com os alunos, a partir de suas dúvidas e descobertas. Quanto ao uso do Chat, houve algumas tentativas por parte dos professores de utilizar esta ferramenta para estabelecer uma ponte de comunicação com os alunos, a fim de que este espaço fosse útil, sobretudo, para tirar dúvidas de conteúdo. P1, conforme depoimento, disse que só usou essa ferramenta uma vez, fala: “eu ficava lá plantado e não aparecia ninguém”. Perguntado por que só usou uma vez, ele responde: “pode ser que os alunos tenham entrado outro dia e eu não estava e isso tenha gerado desinteresse”. Ele afirma que a interatividade e interação vão acontecer, através da ferramenta Chat, pois, quando ele era aluno do curso a distância, havia uma grande interação por meio dela, “a gente conversava com os professores, tinha hora do professor tá ali esperando a gente, mas como professora eu não tive quase aluno que chegou ao Chat, então a nossa cultura do nosso curso aqui foi zero”. 88 P2 em depoimento diz que “é uma desvantagem que eu vejo, muitas vezes você marca um chat e eles não comparecem e outras vezes eles comparecem, mas não focam, eles estão ali para bate papo informal e não direcionam para a disciplina”. P3 também usou o chat uma única vez. Sobre a participação dos alunos, ele diz “que uns participaram outros não e que não sabe o motivo da não participação”. Interessante a constatação do pouco uso da ferramenta Chat, por que ao serem perguntados sobre as ferramentas que permitem maior interação e interatividade, todos os professores responderam que o Chat é uma delas, pois ela permite uma comunicação em tempo real e ali os alunos podem tirar suas dúvidas. Realmente, essa é a posição de Masetto (2006) quando afirma que esta é uma técnica que possibilita conhecer o que os alunos pensam, como eles se expressam, situação que possibilitará ao professor um diagnóstico para posterior intervenção. Todavia, Masetto (2006, p. 157) acrescenta que este processo “vai exigir um acompanhamento muito atento por parte do professor, seja para poder, depois de um certo tempo, orientar a atividade para o que se espera, seja para se policiar e não entrar a todo momento nas manifestações dos alunos”. Assim, pensamos que o não sucesso dela, deva-se à falta de maior e melhor conhecimento sobre essa ferramenta por parte de professores e alunos, pois, ela como qualquer outra ferramenta para ser utilizada carece de um planejamento estratégico, de gestão. O chat ao ser utilizado por muitas pessoas ao mesmo tempo leva à desorganização, e se não houver uma mediação, provavelmente haverá a dispersão, e pode ocorrer de o sistema não suportar e cair quando todos estiverem acessando sem um certo tipo de controle. O Fórum foi a ferramenta que mereceu, por parte dos professores, maior destaque, como o Chat, que segundo eles, permite uma maior interatividade. No entanto, a frequência de uso dela, sobretudo quando utilizada como Fórum Temático, foi muito pouca como veremos. Mas, enquanto Fórum de discussão foi muito bem aproveitada, pois, era lá que as notícias, dúvidas sobre o curso, notas, comunicados eram divulgados. Houve uma participação intensa dos alunos e, sobretudo, dos tutores. Mas aqui chamamos a atenção para o Fórum Temático, espaço criado e já deixado aberto pelos administradores do Moodle, para que fosse utilizado após cada unidade de conteúdo trabalho. Então se o professor dividisse o conteúdo de sua 89 disciplina em 8 unidades, poderiam ser abertos 8 Fóruns temáticos. Este fórum, especificamente, tem como função discutir os conteúdos abordados nas disciplinas. Espaço de impacto maior para a efetivação da mediação pedagógica, onde todos os atores do processo, professor, alunos e tutores, podem interagir em favor da aprendizagem. A ferramenta Fórum “tem por objetivo fazer uma discussão que avance os conhecimentos, as informações ou as experiências, para além da somatória de opiniões, de tal forma que o produto deste trabalho seja qualitativamente superior às idéias originais” (MASETTO, 2006, p. 157). O Fórum Temático (FT) foi utilizado pelos três professores envolvidos na pesquisa como vemos no quadro acima. O professor 1 abriu um tópico para cada unidade. Neste caso, foram 8 fóruns. No primeiro fórum, houve a participação de 4 alunos e em todas elas, os alunos emitem sua opinião ao tópico iniciado pelo professor. O professor, a cada participação, faz um comentário do tipo: é isso mesmo..., É verdade..., Isso é verdade... Nos outros fóruns, dessa disciplina, as participações dos alunos vão se reduzindo a duas ou nenhuma participação. Quando há, o professor aparece para concordar com a opinião do aluno. Vale ressaltar que nós tínhamos, na época, aproximadamente 400 alunos matriculados nas disciplinas, distribuídos nos 4 Polos. Quando esse professor foi questionado sobre a pouca participação dos alunos no Fórum, ele sugere que “se houvesse pontuação” a cada participação podia levar os alunos a participarem mais. Ele comenta: “como eu usava muito como aluno e tinha na minha turma bastante participação nos fóruns e chats, eu estranhei muito”. E era desse jeito de jogar as questões para que ele comentasse no fórum, “eu acho que é porque não tinha ponto”. Questionado sobre o que faria hoje para que os alunos participassem mais no fórum, ele acrescenta que em sua sala de aula presencial: “tudo que eu faço em sala de aula eu digo, olhe esse exercício vocês vão ter ponto”. Por isso, sugere que as participações dos alunos no fórum valham pontos, ou seja, o professor acredita que sendo punido ou premiado o aluno dê mais valor à aprendizagem. O professor, como já foi comentado, se isenta do processo. Já P2 distribuiu sua disciplina em 08 unidades, por conseguinte, 08 Fóruns Temáticos foram disponibilizados. No primeiro Fórum, o professor apresentou um tópico 90 para discussão, a participação dos alunos foi relativamente boa, 15 alunos participaram, o professor fez uma intervenção para parabenizar os alunos pela participação e chamando a atenção deles para um equívoco de conceituação. No segundo fórum temático aberto, o professor colocou um tópico que tinha como enunciado: complete a frase. Nele, 13 alunos participaram completando a frase, por sinal, o último aluno completou, ironizando a questão. O professor interviu também para parabenizar os alunos pela participação. O terceiro Fórum, também com um tópico que pedia para que os alunos completassem a frase, houve a participação de 02 alunos, e nenhuma participação do professor. O quarto FT teve a abertura de um tópico, mas não houve participação. O quinto ainda houve a participação de um aluno, mas para tirar Dúvidas, e nos demais FT abertos não houve nem abertura de tópicos, nem participação. Perguntado sobre o que faltou para uma maior participação dos alunos no fórum, o professor responde que talvez seja por falta de interesse “porque é assim muitas vezes eu chegava com a questão: vejam o que é que vocês acham sobre propaganda e publicidade? Eu queria que vocês comentassem qual a propaganda no momento atual que chamou a atenção de vocês, por quê? E eles ficavam calados então em termos tinha quem se lançava um questionamento, mas eles responderem...” A abertura do Fórum Temático pelo Professor 3 aconteceu em 11 unidades das 12 criadas. Em todos os FT, o professor apresentou um tópico. No primeiro Fórum, houve a participação de 17 alunos e uma intervenção do professor, por sinal, muito bem colocada, uma vez que ele faz com que os alunos compreendam a realidade, questionem essa realidade e pensem novas possibilidades. No FT 2, há apenas a participação de 3 alunos e 2 intervenções. Nos demais FT, o professor lança tópicos de discussão, mas os alunos não participam. Este professor diz sobre a participação dos alunos no fórum: “alguns alunos participam, outros não”. “Por que eles não participaram eu não sei”. Portanto, de acordo com o que está exposto, observamos que os três professores trabalharam com a ferramenta tecnológica Fórum Temático, e deram a ela o status de gênero textual, uma vez que o formato, a propositura, a forma de participação e estilo foram preservados. A produção de gêneros textuais constitui-se em práticas sociais que se manifestam cada vez que queremos intervir linguisticamente em 91 uma situação real. Assim, produzimos receitas, anúncios, cartas, bilhetes, editoriais, telegramas, telefonema, debates, aulas, poemas, fóruns, etc. Segundo Marchuschi (2008, p.155) “são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sóciocomunicativos característicos, definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas”. Fórum, enquanto, ferramenta tecnológica tem em seu favor o propósito da discussão dos conteúdos trabalhados pelas disciplinas. Gênero, que enquanto formato virtual tem como suporte o computador, a internet, mas que têm a mesma função do gênero Fórum de discussão oral. Segundo Paiva (2011) “um dos gêneros que emergiram com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação foi o fórum eletrônico, também chamado de Newsgroup ou UseNet group, que tem como função dar suporte a uma comunidade discursiva”. A interação verbal, em muitos desses fóruns, aconteceu entre professor e alunos mediante o uso de expressões que evidenciam uma organização e estrutura observadas nas discussões orais, mas por se tratar de um fórum de discussão virtual, tais expressões são colocadas mais para que os participantes marquem sua presença e respondam a um chamamento. Tanto por parte do professor como por parte dos alunos. Exemplos: Olá pessoal, vamos...,Olá professora...,Olá galera.. Observamos que a relação entre os participantes dos fóruns em geral era de respostas ao tópico do professor. Não houve participação de um aluno a partir do que foi dito por outro colega. Quanto às intervenções dos professores, observamos que apenas uma participação pode se caracterizar como mediação pedagógica, esta entendida como atitude do professor em favor da reflexão ou do repensar às questões, opiniões, a partir de um contexto real onde os conteúdos estudados devem estar inseridos. A essa questão, observamos o que diz Masetto (2006, p. 158) sobre Fórum: “Não se trata de uma situação de perguntas e respostas entre os participantes e o professor, mas sim de uma reflexão contínua, de um debate fundamentado de ideias, com intervenções do professor a fim de incentivar o progresso dessa reflexão [...]” Os elementos que nos indicaram a interação presente nos discursos ou enunciados dos participantes evidenciam que tanto alunos quanto professores ainda não conseguem interagir com espontaneidade, eles têm dificuldades de participar, 92 sejam por inibição ou por terem dificuldades em organizar o pensamento de forma escrita. Registramos a pouca participação dos alunos nos fóruns como um fator que precisa ser analisado. Pode ser por uma questão ainda cultural, ou eles não estão sendo devidamente formados ao ponto de entenderem a importância dessa ferramenta para a troca de informação e de socialização do conhecimento, aqui representado pela falta de uma mediação que leve o aluno a encontrar sentido naquilo que está fazendo. Talvez os próprios professores não tenham formação e consciência suficientes para planejarem e gestarem essa ferramenta em favor da ampliação do conhecimento. Especialmente, o Fórum que pode funcionar como meio para se estabelecer o diálogo. Dialogismo que na visão de Bakhtin, significa pensarem relações com enunciados já constituídos e, portanto, anteriores e passados (FIORIN, 2006). Um enunciado se constitui em relação aos enunciados que o precedem e que o sucedem na cadeia de comunicação. Um enunciado solicita uma resposta, uma resposta que ainda não existe, seja ela uma concordância ou uma refutação. Por tudo isso, o Fórum no ensino a distância, pode se constituir em estratégia didática de grande valia para incrementar, dinamizar a prática do professor e promover a autonomia do aluno. Destacamos a importância de uma definição por uma concepção pedagógica, que respalde a prática educativa com foco para a aprendizagem do aluno, não fizesse o professor entender que a falta de interesse do aluno, como tanto foi alegada pelos professores, não pudesse ser uma forma de o aluno dizer que o que se está oferecendo, ou como se está oferecendo não seja interessante. Até por que decorar o conteúdo para responder as atividades obrigatórias e as provas presenciais não precisa, necessariamente, está visitando os fóruns com participação mais efetiva, acrescentando suas considerações sobre o tema. Pois ler e decorar o livro texto ou as apostilas será suficiente para responder aos questionários. A outra ferramenta mais utilizada pelos professores foi o Questionário. Para todas as atividades obrigatórias eram usada esta ferramenta, a qual se caracteriza por ser elaborada por meio de perguntas e respostas, por questões com respostas de verdadeiro ou falso ou de múltiplas escolhas. Para questões deste tipo, memorizar o conteúdo é essencial para se obter sucesso. Esta ferramenta não considera o 93 conhecimento prévio do aluno e não permite que haja uma mediação, uma vez que o Questionário não oportuniza o feedback. Esta é uma ferramenta que limita a atuação do professor e, sobretudo, do aluno. O P3, ao ser questionado por que usava essa ferramenta e não outras, ele responde: “muitas vezes essas ferramentas são utilizadas, mas não tem o feedback esperado”. O próprio professor reconhece a limitação desta ferramenta. Ferramenta considerada como uma prática de respaldo super tradicional, conforme acrescenta Libâneo (1984, p. 24) “a retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria”. 5.4 Concepções pedagógicas que permeiam a prática de educativa do professor Compreender que concepção respalda a prática dos professores pesquisados na Educação a Distância será um exercício de interpretação, porque as declarações não são postas claramente como respostas a essa questão, portanto, a análise nascerá dos anúncios realizados pelos professores em sua prática, a partir dos registros de uso das ferramentas do Moodle e das entrelinhas em suas falas. Quando os professores foram perguntados sobre qual metodologia melhor contribui para a aprendizagem do aluno na EaD, nós nos reportávamos ao entendimento de que a metodologia “deve estar teórica e metodologicamente fundamentada numa concepção de sociedade, de homem, de educação e de ensino e aprendizagem” (MOURA, 2009, p. 25). Eles, então, declararam: [...] por que por exemplo meu curso foi tão distante que eu só fui duas vezes no polo né? Mas aqui você tem essa vantagem pelo menos duas vezes sei lá durante o curso ter a presença do professor isso foi uma grande interação também, que eu esqueci de falar no inicio, de ir aquele encontro presencial de você tirar a duvida ali você já conhece todo mundo, todo mundo já lhe conhece, então assim esses encontros presenciais, pelo menos um em cada unidade, eu acho que isso é importante demais, [...] Que a gente vai fazer um resumo das aulas que deu mesmo assim assuntos que ele já conhecia, mas eles tiram duvidas então aquele é o momento da grande interação, então eu acho que naquela questão da interação você pode acrescentar isso, a grande interação realmente é nesse encontro presencia.l (P1) [...] eu acho que eles até faziam isso né, eles traziam filmes se reuniam no momento de cinema assistiam o filme e depois ficavam 94 debatendo eu acho isso muito necessário, eu acho que a metodologia seria essa mesmo eu não enxergo outra a priori não. (P2) [...] um conjunto delas. (P3) Fica evidente nestas declarações que os professores não conseguiram identificar uma metodologia que respaldasse sua prática. A metodologia de ensino como sendo o conjunto de métodos aplicados a situação didático-pedagógica, é o caminho escolhido pelo professor para organizar as situações de ensinoaprendizagem. Libâneo (1984, p. 40) denomina como metodologia de uma pedagogia crítico-social aquela que não leva em consideração os conteúdos de uma saber artificial, “depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas da relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora”. Como também está assegurado no Projeto Político Pedagógico do curso que “o desenvolvimento metodológico deverá ultrapassar a mera inserção das técnicas e a partir delas promover um verdadeiro processo de emancipação”. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, 2005, p.19). Neste caso, o professor proverá ações que considerem a heterogeneidade própria dos alunos e sugira sequências didáticas que promovam desafios, leve-os a pensar, a elaborar questionamentos em razão do seu avanço intelectual. Processo que acontecerá mediante a mediação pedagógica. Libâneo (1984) diz que boa parte dos professores baseia sua prática em modelos pedagógicos que viraram senso comum. Acreditamos que esse seja o caso de muitos professores. A sua prática, normalmente, é reproduzir o que traz o livro didático. Tanto é verdade, que a preocupação que esses professores tiveram foi fazer um resumo, quando muito, do livro didático e postar no ambiente em slides. Muitos professores não se dão nem ao trabalho de resumir, tiram trechos do livro e postam no ambiente. Essas atitudes são condizentes com uma prática atrasada, de desconhecimento de uma pedagogia que contemple um ensino voltado para a aprendizagem do aluno. Parece até que não têm a preocupação de procurar entender o processo, refletir sobre ele. Parece ser mais cômodo encontrar culpados. 95 Por fim, perguntamos aos professores como eles concebiam ensino e aprendizagem. Aqui compreendida como a maneira como o sujeito pensa o mundo, suas ações, o contexto no qual está inserido. Esta percepção leva a construção de uma concepção de ensino e a aprendizagem, que será manifestada pelo modo como os professores organizam seu trabalho, a partir de pressupostos teórico-metodológicos, que explícita ou implicitamente referenciam sua prática de sala de aula. (LIBÂNEO, 1984) [...] o ensino e aprendizagem, você sabe, também é um caminho de via dupla, e eu acho que, às vezes, como uma professora amiga dizia, dependia 33% do professor, 33% do aluno e 33% dos recursos, aí faz os 100%. (P1) [...] eu sempre gosto de dizer aos meus alunos o seguinte que em sala de aula seja virtual ou presencial a gente tá num jogo de troca troca, onde existe o aluno e existe o professor,(...) o professor está ali para esclarecer alguma coisa, mas o aluno também na sua experiência ele pode contribuir e muito para o professor, então é o momento em que o conhecimento passa do professor e a aprendizagem vai pro aluno, mas da mesma forma que o conhecimento muitas vezes está com aluno em determinado aspecto de vivencia dele e que aquele conhecimento vai servir de aprendizado para o professor. (P2) [...] é um processo interativo que depende de disciplina e motivação. (P3) A partir dessas declarações dos professores percebemos que eles não possuem um discurso manifesto por teorias que fundamente sua prática pedagógica. Eles não conseguiram durante a entrevista elaborar falas respaldadas em teorias da aprendizagem, muito menos em tendências pedagógicas. Demo (2006, p. 28) diz que “não simplesmente transferência de informação. Envolve um leque complexo de interações sociais no qual o estudante interage não só com o professor, mas com outros estudantes, o ambiente e objetos possivelmente também, por exemplo, livros!” No entanto, conseguimos compreender que suas falas são marcadas por um discurso com resquícios tradicionalistas, em que o foco da discussão está no fracasso ou no sucesso do aluno. O professor se isenta do processo, quando muito distancia-se do aluno para julgar a formação recebida para o uso das ferramentas e da plataforma virtual de aprendizagem. Como diz Libâneo (1984) a nós nos parece que a prática desses professores baseia-se ainda na prática do senso comum, adquirida quando de 96 sua passagem pela escola. O uso das tecnologias digitais, enquanto ferramentas que contribuam para a construção do conhecimento ainda não foi incorporado pelos professores que fazem a Educação a Distância. Quando P3 diz que o que entende por concepção de ensino e aprendizagem é o processo interativo que depende de disciplina e motivação. Ele não explica. Mas será que a Disciplina por si só explica e contribui para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem? E quanto à Motivação? Essa é uma estratégia muito própria da Concepção Liberal Renovada Não-Diretiva, a qual privilegia o esforço do professor para facilitar a aprendizagem do aluno. O professor é apenas um facilitador que ajuda o aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização (LIBÂNEO, 1984). Na verdade, existem várias concepções pedagógicas, que ao longo dos tempos têm fundamentado as práticas dos professores. No entanto, a concepção que respeita o aluno e trabalha com um olhar para o conhecimento trazido pelo aluno é aquela que tem por eixo norteador o conceito de mediação pedagógica, em que o papel do professor só será efetivado quando ele compreender que o ensino se dá, a partir do nível de conhecimento real do aluno, e não nas etapas intelectuais já alcançadas, por isso, o ensino deve se constituir em desafios para os alunos, e o professor o interventor desse processo (OLIVEIRA, 1997). O processo de desenvolvimento cognitivo estaria centrado justamente na possibilidade de o sujeito ser constantemente colocado em situações problema que provoquem a construção de conhecimentos e conceitos, a partir da zona de desenvolvimento proximal. Ou seja, o sujeito necessita usar os conhecimentos já consolidados, desestabilizados por novas informações, que serão processadas, colocadas em relação com outros conhecimentos, de outros sujeitos, num processo de interação, para só então, serem consolidadas como um conhecimento novo. Esta concepção contempla o próprio Projeto Político do curso quando ele afirma que a Educação a Distância requer tratamento e considerações especiais em alguns aspectos. 97 Primeiro, porque um dos objetivos fundamentais da Educação a Distância deve ser a de obter dos alunos não a capacidade de reproduzir idéias ou informações, mas sim a capacidade de produzir conhecimentos, analisar e posicionar-se criticamente frente as situações concretas que se lhes apresentem. Segundo, porque no contexto da EaD o aluno não conta, comumente, com a presença física do professor. Por este motivo, faz-se necessário desenvolver métodos de trabalho que oportunizem ao aluno: buscar interação permanente com os professores e com os tutores todas as vezes que sentir necessidade; obter confiança frente ao trabalho realizado, possibilitandolhe não só o processo de elaboração de seus próprios juízos, mas também de desenvolvimento da sua capacidade de analisá-los (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, 2005, p.35). Consideramos, pois, que as falas dos professores podem ser reflexos de uma falta de ingerência por parte das instituições formadoras, no sentido de rever posturas e atitudes dos professores, pois, na maioria das vezes, as ações se projetam pela inabilidade ou pela falta de um diálogo que conduza a reflexão da prática educativa. 98 6 CONSIDERAÇÕES “A liberdade possível e desejável só pode ser relativa, sem ser relativista, para que seja factível ouvir todas as vozes” (Pedro Demo) A Educação a Distância como modalidade de ensino e aprendizagem, mesmo já existindo desde os séculos XVIII, continua sendo uma modalidade de muitos desafios para todos nós. Assim, concordamos com a urgência em pensarmos a EaD não mais nos modos do ensino tradicional ou como uma alternativa educacional, mas como modalidade instituída que carece de projetos concretos que efetivem uma aprendizagem colaborativa, construída a partir do potencial das tecnologias digitais. Todavia, vimos pelas nossas pesquisas que os professores que atuaram no 6º período do curso de Administração a Distância da UEPB não receberam formação adequada para o seu ingresso como docente no curso citado. Uma das razões que nos levou a essa constatação é que eles mostraram conhecimento limitado sobre o uso das ferramentas do Moodle e, sobretudo, limitações no que diz respeito à uma concepção pedagógica que eleve Educação Distância a um status de educação de qualidade, assumindo, para isso, uma concepção pedagógica progressista, com vistas à aprendizagem do aluno. Com a análise das entrevistas e a análise documental constatamos que os professores desconhecem ou não conseguem elaborar um discurso sobre a teoria que fundamenta suas práticas. E fica evidente, mesmo em suas falas que suas ações pedagógicas estão mais voltadas para a concepção tradicional de ensino. Citamos como exemplo o uso do Questionário como única estratégia para aplicar instrumento de avaliação de aprendizagem por esses professores em suas atividades obrigatórias. Estratégia que é caracterizada como exercícios à base de perguntas e respostas, e, por isso, possui limitações, no que diz respeito a levar o aluno a refletir, elaborar e/ou produzir novos conhecimentos, uma vez que basta o aluno memorizar o texto para responder as questões. O uso restrito de outras ferramentas como o Chat e o Fórum pelos professores indica que suas práticas estão pautadas em tendências pedagógicas tradicionais. Em 99 nenhum momento de nossa pesquisa observamos a prática da mediação pedagógica, aspecto tão evidenciado pelas concepções pedagógicas progressistas. Também não ouvimos dos professores palavras que compusessem um discurso inovador para o exercício de Educação a Distância, a exemplos de mediação pedagógica, interatividade, perspectivas feedback, produção coletiva, ensino colaborativo, interacionistas, etc. Portanto, esses fatos nos conduzem à constatação de que os professores não foram e não estão formados para trabalhar com Educação a Distância na perspectiva prevista pelos Referenciais de Qualidade para Educação a Distância, nem tampouco pelos ditames do Projeto Político Pedagógico do curso. Com relação às perguntas relativas às metodologias utilizadas e concepções pedagógicas adotadas, os professores não conseguiram organizar falas que traduzissem esse conhecimento, o que nos confere concluir que esses professores não estão envolvidos com uma perspectiva focada na aprendizagem do aluno, nem tão pouco na qualidade do ensino, visto se restringirem a práticas reprodutivistas. Essas constatações nos fazem apontar para a responsabilidade da IES, enquanto instituição de fomento de informações científicas, acadêmicas e extraacadêmicas para alunos, professores e outros profissionais para o exercício da interdisciplinaridade e da formação para a cidadania. Esses indicadores nos mostram instituições que ainda não se envolveram efetivamente com a política colaborativa da EaD e os professores, por conseguinte, seguem o exemplo. A gestão é um aspecto fundamental para a consolidação de ações educativas. Não há como desenvolver ações individualizadas, essa é uma prática da escola tradicionalista, onde cada um faz o seu trabalho. Alguns são premiados, outros são rechaçados. Essa prática da fragmentação, que é tão própria da modernidade, em que competência é sinônimo de individualismo, que pode ser sinônimo de sucesso ou fracasso, resulta em ações que só contribuem para o empobrecimento e o esfacelamento da sociedade. Todavia, sob a perspectiva sociointeracionista, a exigência é a do respeito à pluralidade, a heterogeneidade, a produção coletiva do saber. Portanto, para ações dessa natureza, recorremos à contribuição de Vygotsky, no que diz respeito ao 100 processo da aprendizagem desencadear o desenvolvimento intelectual do sujeito pela sua relação com os outros. Chamamos a atenção para o compromisso que o profissional deve ter ao assumir uma profissão. É também sua a responsabilidade de se prover, de se formar e de estar em permanente formação. Sobretudo, quando tratamos da Educação a Distância, pelo uso das tecnologias digitais, que estão sempre à frente de nós, professores, mas não estão à frente dos alunos. Estes já as dominam, nasceram com elas e vão chegar à escola usando-as. Por isso, a necessidade de uma formação continuada até para que entendamos e saibamos analisar o que é válido e/oportuno para se trabalhar. Não é por que a tecnologia constitua-se numa novidade para alguns ou que seja de ponta, que pode ser considerada como boa estratégia educacional. As técnicas ou estratégias são oportunas e viáveis se potencializarem uma aprendizagem significativa para os alunos, condizente com os propósitos e concepção assumida por cada educador. Não são as tecnologias por si só que vão provocar mudanças na educação, mas o uso que se faz delas, através da interação e interatividade que elas podem oferecer. É pela mediação pedagógica que essas tecnologias podem ajudar os alunos a desenvolverem uma consciência crítica, e a aprenderem a desconstruir e a reconstruir sua aprendizagem. Por fim, enfatizamos a importância das Instituições de Ensino Superior, no que diz respeito ao seu dever de indicar uma política de capacitação e atualização permanente destes profissionais, conforme os próprios Referenciais de Qualidade para o Ensino Superior a Distância, que estabelecem que é de competência da instituição preparar seus recursos humanos para o desenho do projeto de EaD ou para a mediação multimidiática do conhecimento, estabelecendo uma política de capacitação e atualização permanente destes profissionais (BRASIL, 2007, p. 20). Se quisermos, pois, uma educação de qualidade precisamos investir na formação permanente do professor de forma que lhe dê condições de refletir sobre sua prática educativa, fundamentada em teorias de ensino e aprendizagem, que sustentem ações voltadas para a formação do sujeito-aluno, sujeito consciente de seus atos e capaz de compreender o contexto sócio-histórico-cultural no qual está inserido para a possibilidade de ações interventoras em favor de uma sociedade melhor. 101 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Educação a distância no Brasil: diretrizes políticas, fundamentos e práticas. 2003. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ep /v29n2/a10v29n2.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2009. ______. Educação, ambientes virtuais e interatividade. In: SILVA, Marco (Org.). Educação online. São Paulo: Loyola, 2003. ALVES, Lynn; NOVA, Cristiane. Educação a Distância: Limites e Possibilidades. In: ______. Educação a distância: uma nova concepção de aprendizado e interatividade. 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Sua titulação mais alta é: ( ) Doutor ( ) Mestre ( ) Especialista ( ) Graduado 2. Curso de graduação realizado ( ) Pedagogia ( ) Outra Licenciatura ( ) Bacharelado 3. Sua situação funcional na UEPB é: ( ) T20 ( ) T40 ( ) Substituto ( ) Outro 4. Idade: ( ) entre 22 e 29 anos ( ) entre 30 e 40 anos ( ) entre 41 e 50 anos ( ) entre 50 e 65 anos ( ) mais de 65 anos A questão 5 pode ter mais de uma opção: 5. Você atua na ( ) Universidade ( ) Escola de Educação Básica ( ) outras 6. Trabalha na área educacional (presencial): ( ) Há mais de 15 anos ( ) Entre 10 e 15 anos ( ) Entre 5 e 9 anos ( ) Há menos de 5 anos 7. Já havia exercido a função docente na modalidade, Educação a Distância, mesmo que só pela internet? ( ) Sim ( ) Não 8. Você recebeu capacitação para trabalhar com EAD, especificamente para o curso de Administração a distância oferecido pela UEPB? 109 8. a)Qual foi o foco desta capacitação? (pedagógico, técnico?) 8. b)Você poderia avaliar esta capacitação? justifique 9. Antes de atuar como professora de Educação a Distância, o que você pensava desta modalidade? 10. E hoje, depois da experiência com a UEPB, como você vê a Educação a distância? 10. a) Como você avalia a aprendizagem do aluno na EaD? Justifique. 10. b) Para você, como acontece a aprendizagem na Educação a Distância? 11. Na sua concepção quais as vantagens e desvantagens para o ensino na modalidade a distância? 12. Como você vê o uso das tecnologias digitais (internet, software) agregados a ead? 13. E quanto ao Ambiente Virtual de Aprendizagem, o moodle, usado pela UEPB, ele atende às necessidades de ensino e aprendizagem (designer, ferramentas, interação, interatividade)? Por que? 14. Consta no sistema que você usou com maior freqüência as ferramentas questionário, qual o motivo desta escolha? E as outras por que não utilizou? 15. O que você pode dizer sobre a pontecialidade para a aprendizagem de cada uma das ferramentas utilizadas? 16. Dentre as ferramentas utilizadas pelo moodle, qual você acredita propiciar maior interação e interatividade? Por quê? 17 E que você acha da ferramenta Fórum? Você a usou? Os alunos participaram? Por que sim, por que não? 18. Você chegou a utilizar algum outro recurso tecnológico, além dos oferecidos pelo Moodle? A exemplo do twiter, blogs, googledocs, etc...) 19. Que estratégias você utilizou na Educação a distância para superar a ausência física dos alunos? 20. Como promover uma maior e melhor participação dos alunos no ambiente e com qualidade nas participações? 21. Quais os aspectos que você considera terem sido restritivos/limitadores em sua prática no curso de Administração a distância? Justifique a resposta. 22. Que metodologia você acredita contribuir para uma maior aprendizagem em EaD? 23. Como você concebe o ensino e a aprendizagem?