UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A MORDIDA ABERTA ANTERIOR NA DENTÍÇÃO DECÍDUA
MARCOS ANTÔNIO DE ALMEIDA SILVA
Orientador
Profª MS Maria da Conceição Maggioni Poppe
Vitória
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A MORDIDA ABERTA ANTERIOR NA DENTÍÇÃO DECÍDUA
Apresentação
Candido
de
Mendes
monografia
como
à
requisito
Universidade
parcial
para
obtenção do grau de especialista em Saúde da
Família.
Por: Marcos Antônio de Almeida Silva
3
AGRADECIMENTOS
....Aos irmãos pela caminhada de todos
os dias...
4
DEDICATÓRIA
Cresci ouvindo os passos e as vozes
de Antônio e de Antônia. Quando
estou feliz e alegre me recordo
deles. E, quando parece que vou
desanimar, reanimo-me no amor e
na fé que havia naqueles passos e
naquelas vozes. A eles dedico.
5
RESUMO
A presente pesquisa bibliográfica foi realizada com o objetivo de
estudar a mordida aberta anterior na dentição decídua, descrever a sua
etiologia, destacar a importância da intervenção precoce ainda na dentição
decídua e destacar a importância de medidas preventivas nas unidades
básicas de saúde através do Programa de Saúde da Família.
A mordida aberta anterior é um maloclusão que se caracteriza pela
falta de contato entre os incisivos superiores e inferiores, quando os demais
dentes estão em oclusão. É uma maloclusão freqüente entre crianças,
observada facilmente na clínica odontológica, podendo se manifestar em idade
precoce e se repetir na dentição permanente, tendo como principais agentes
etiológicos à chupeta e os hábitos bucais deletérios.
Sugerem-se medidas preventivas através de orientações educativas,
dentro do Programa de Saúde da Família através de políticas públicas,
proporcionando aos usuários do Sistema Único de Saúde o acesso à
informação quanto aos danos causados pelo uso da chupeta após os três anos
de idade, como também a necessidade das mães amamentarem seus filhos
até os seis meses de vida do infante, evitando com o hábito de sucção
nutritiva, hábitos bucais deletérios responsáveis pelo desenvolvimento das
mordidas abertas anteriores.
6
METODOLOGIA
Essa revisão bibliográfica teve como ponto de partida a observação de
um grande número de casos clínicos de mordidas abertas anteriores em
crianças em fase de desenvolvimento da oclusão que eram clinicamente
observados na Unidade Básica de Saúde onde trabalho como odontopediatra
em Vila Velha ES, necessitando, inicialmente, apenas de atendimento dentário.
Na anamnese era comum o uso freqüente de chupetas ou a sucção de polegar
associado à maloclusão, diferentemente daquelas que não faziam uso de
sucção não nutritiva, ausentes de mordidas abertas anteriores. Para a
confirmação dos dados observados, foram realizados levantamento da
bibliografia do tema na Universidade Federal do Espírito Santo, na Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, LILACS, e no Centro
Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, BIREME
e no site do Ministério da Saúde - Atenção Básica e Saúde da Família - com a
finalidade de obter resposta à hipótese observada em minhas atividades
clinicas diárias e propor medidas preventivas na unidade básica de saúde,
juntamente com as famílias com o intuito de impedir o início do
desenvolvimento dessa maloclusão que afeta grande número de crianças com
praticas de hábitos bucais deletérios.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I - - Mordida aberta anterior:
11
1.1 Definição da mordida aberta anterior
12
1.2 Etiologia da mordida aberta anterior
12
CAPÍTULO II - Prevalência e necessidade do diagnóstico
18
2.1 A prevalência da mordida aberta anterior
18
2.2 A importância do diagnóstico precoce
24
CAPÍTULO III – A saúde bucal no PSF
27
3.1 A importância da prevenção precoce da maloclusão.
28
3.1 O desafio de mudar a prática
33
CONCLUSÃO
33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
34
BIBLIOGRAFIA CITADA
38
FOLHA DE AVALIAÇÃO
40
INTRODUÇÃO
8
O tema desta monografia é o estudo da mordida aberta anterior. Como
cirurgião-dentista atuando na área de odontopediatria, atendendo clinicamente
criança de zero a doze anos de idade, na Unidade Básica de Saúde de Vila
Garrido, no município de Vila Velha ES, venho observado clinicamente um
percentual considerável de crianças com essa maloclusão, que pode ser
rapidamente visualizada pela falta de contato entre os dentes superiores e
inferiores da região anterior bucal.
Segundo MOYERS (1991), a mordida aberta anterior é um achado
freqüente entre crianças, podendo se manifestar em idade precoce e se repetir
na dentição permanente. Entre os vários fatores que a causam na dentição
podem-se citar: a hereditariedade, deformidades congênitas, hábitos bucais,
acidentes, traumatismos e a cárie dentária.
A questão central deste trabalho é fazer um estudo através da revisão
bibliográfica da mordida aberta anterior. O foco da Odontologia não se deve
limitar ao cuidado com a cárie dental, mas deve-se constituir como um dos
principais
cuidados
à
verificação
da
oclusão
e
suas
intercorrências
(CAMARGO, 1997).
Eventuais problemas relacionados com a oclusão devem ser notados
desde o pós-natal, observando-se as funções do sistema estomatognático1
(sucção, respiração, deglutição, mastigação e fala), os movimentos musculares
e os exercícios funcionais, preservando assim a saúde bucal de nossas
crianças.
1
O Sistema estomatognático identifica um conjunto de estruturas bucais que desenvolvem
funções comuns, tendo como característica constante a participação da mandíbula. Como todo
sistema, tem características que lhe são próprias, mas depende do funcionamento, ou está
intimamente ligado à função de outros sistemas como o nervoso, o circulatório, o endócrino, e
todos em geral, porque não constitui uma unidade separada do resto do organismo, mas se
integra estritamente a ele. Tanto nos estados de saúde como nas de enfermidade, o sistema
estomatognático pode influir sobre o funcionamento de outros sistemas como o digestivo,
respiratório, metabólico-endócrino.
9
O tema sugerido deste trabalho é de fundamental importância porque a
mordida aberta anterior, que é um tipo de maloclusão, constitui o terceiro
problema odontológico, sendo, portanto um problema de Saúde Pública,
segundo os registros da OMS – Organização Mundial de Saúde (1954).
A estratégia do PSF Programa de Saúde da Família prioriza as ações
de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas de forma
integral e continua. Neste sentido, o estudo das características do
desenvolvimento normal da oclusão é uma importante ferramenta para o
conhecimento das necessidades de tratamento de uma população. O
conhecimento do perfil epidemiológico pode ser estratégico, na medida que, as
ações de saúde serão prestadas à resolução dos problemas de maior
significado social em cada comunidade. Neste sentido, a identificação precoce
da mordida aberta anterior é importante para determinar as possíveis
intervenções necessárias para sua correção, ainda em fase precoce do
desenvolvimento dentário.
Assim, este trabalho tem como objetivo: estudar a mordida aberta
anterior na dentição decídua por representar o terceiro problema odontológico
de Saúde Pública segundo os registros da OMS. Destacar a importância da
intervenção precoce ainda na dentição decídua, garantido conforme o artigo
196 da Constituição Federal que diz “ A Saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a
redução do risco de doença e de outros agravos”; sugerir Políticas Públicas na
área da Saúde Bucal visando assegurar à família o acesso ao direito de
assistência odontológica preventiva de qualidade.
Para a realização dessa revisão bibliográfica baseamos nos estudos
de OLIVEIRA JUNIOR (1991), FERREIRA (1997) e SANTOS et al. (2004) que
nos ofereceram a definição atual de mordida aberta anterior. Nos autores
SILVA FILHO (1986), MOYERS (1991) et al. FERREIRA, (1997) e CARVALHO
(2000) encontramos as principais causas do início do desenvolvimento dos
hábitos bucais deletérios que constituem fatores etiológicos em potencial na
etiologia da mordida aberta anterior. Para o estudo da prevalência que nos
permite compreender o quanto é comum, ou rara, uma determinada doença ou
10
situação numa população, encontramos em SANTANA et al. (2001) e
SIQUEIRA et al. (2002) 14,7% e 71% respectivamente
sua maior e menor
prevalência, corroborando cientificamente de que a prevalência dependerá da
intensidade, frequência e duração do hábito bucal deletério para cada
população estudada. Em KEROSUO et al. (1995) e MACIEL et al. (2003)
encontramos os estigmas sofridos por pessoas que não possuem “aparência
facial melhor”
por apresentarem algum tipo de maloclusão que as tornam
desiguais entre os diferentes, tornando imprescindível a busca por um
diagnóstico precoce com o objetivo de minimizar e diminuir os possíveis danos
à estrutura psíquica de cada cidadão nos serviços ofertados no Programa de
Saúde da Família.
No capítulo I, iniciamos com a definição da mordida aberta anterior e
sua etiologia. No capítulo II, identificamos a partir de dados estatísticos a
prevalência da mordida aberta anterior e tratamos da necessidade do
diagnóstico precoce para a prevenção deste tipo de maloclusão que acomete
grande parte das crianças na fase inicial do desenvolvimento dentário.
E
finalmente no capítulo III, centramos o foco de nossa análise, no desafio de
mudar práticas familiares de hábitos bucais deletérios juntamente com uma
proposta de intervenção política de Estado no âmbito da saúde da família.
CAPÍTULO I
MORDIDA ABERTA ANTERIOR
11
Tradicionalmente, sempre que alguém se refere ao desenvolvimento
anormal da oclusão, utiliza a denominação de maloclusão. De acordo com a
bibliografia
disponível
constatou-se
que
a
o
primeiro
levantamento
epidemiológico das maloclusões na dentição decídua foi realizado em 1915
com o trabalho de campo de CHIAVARO, pela Associação Européia de
Ortodontia. Desde então, o estudo da prevalência das maloclusões na dentição
decídua vem sendo estudada, em várias cidades de diversos países, inclusive
no Brasil, com a finalidade de conhecer e promover ações preventivas nos
diversos tipos de desvios da normalidade ainda num estágio precoce do
desenvolvimento dentário.
Segundo MOYERS (1991), as mordidas abertas anteriores são um
achado freqüente entre crianças, podendo se manifestar em idade precoce e
se repetir na dentição permanente, trazendo inclusive problemas psíquicos na
vida adulta se não tratada em tempo oportuno.
Para BASTOS et al. (1992) um dos maiores desafios dos diferentes
tipos de desvio da normoclusão na saúde pública bucal infantil é a maloclusão
do tipo mordida aberta anterior devido sua alta prevalência nos estágios iniciais
do desenvolvimento da oclusão. Para eles, é de vital importância, um
diagnóstico precoce para que situações originadas por causas funcionais ou
hábitos, não levem a complicações esqueléticas severas em crianças mais
velhas.
1.1 - Definição da mordida aberta anterior
12
OLIVEIRA JUNIOR (1991) define a mordida aberta anterior como uma
discrepância ou falta de contato entre os dentes superiores e inferiores da
2
região anterior bucal, quando a mandíbula está em posição cêntrica .
FERREIRA (1997) conceitua mordida aberta anterior como uma falta
de contato entre os incisivos superiores e inferiores, quando os demais dentes
estão em oclusão3, originando um leve aumento na abertura vertical.
SANTOS et al. (2004) definem a mordida aberta como a dimensão
vertical negativa entre os dentes superiores e inferiores, manifestando-se tanto
na região anterior como na posterior ou, mais raramente em todo arco
dentário.
1.2 A etiologia da mordida aberta anterior.
Ao nascer, a criança tem desenvolvido um padrão reflexo de sucção4,
que é satisfeito no peito materno. Se esta necessidade não for suprida, poderá
resultar
em
hábitos5
bucais
deletérios6,
produzindo
desvios
do
desenvolvimento normal da oclusão.
Segundo SILVA FILHO (1986) et al., FERREIRA, (1997) os hábitos
bucais deletérios, como a respiração bucal, as funções anormais da língua
durante a deglutição, a fonação e a postura da língua na cavidade oral, a
prolongada sucção de dedo e ou chupeta e a interposição labial, constituem
fatores etiológicos em potencial na etiologia ma mordida aberta anterior.
Para MOYERS (1991) a mordida aberta anterior pode ter origem
hereditária, por anomalia congênita ou por anomalia adquiridas.
A
hereditariedade consiste num importante fator na etiologia, mas sabe-se pouco
sobre sua aplicabilidade clínica, pouco se pode realizar em termos preventivos,
2
Posição que a mandíbula é conduzida a posição mais retrusiva em relação ao maxilar
superior, fazendo com que os seus côndilos se acomodem o mais intimamente possível no
interior das respectivas cavidades articulares.
3
Oclusão é o ramo da odontologia que trata as relações de mordida entre as arcada dentária
superior com a inferior e suas implicações em estruturas anexas (dentes, gengiva, ossos,
músculos, ligamentos, articulação temporomandibular).
4
Sucção - instinto dos mamíferos, Quase sempre interrompidos aos 3 ou 4 anos
5
Hábito: disposição adquirida pela repetição de um ato, que se torna inconsciente e passa a ser
incorporada à nossa personalidade.
6
Hábitos bucais deletérios: Interferem no padrão regular de Crescimento facial
13
cabe apenas atuar para impedir que os desvios se agravem. Porém, a grande
maioria dos problemas oclusais não é de origem genética ou hereditária. A
etiologia da mordida aberta anterior pode ter causas diversas, entre eles o
autor aponta: hábito de sucção polegar ou chupeta, respiração bucal,
deglutição atípica e interposição lingual.
BASTOS et al. (1992) postulam que a mordida aberta anterior tem
como causa principal a sucção do dedo e que dependendo da freqüência
7
intensidade e duração da sucção poderá ocorrer protrusão dos dentes superoanteriores ou pode-se desenvolver uma retração postural mandibular e os
incisivos superiores podem ficar inclinados para labial, agravando a
maloclusão.
Para FERREIRA et al. (1997) as maloclusões constituem grandes
desafios aos profissionais da Odontologia e dentre todos os tipos de
maloclusões, a mordida aberta anterior é de grande prevalência em crianças
principalmente naquelas portadoras de hábitos bucais deletérios. Os autores
concluíram, com base nos resultados, afirmando que a intensidade e a
freqüência são fundamentais para a instalação desta maloclusão, sendo
necessário orientação às mães e ou responsáveis com relação ao uso da
chupeta, para evitar ou minimizar o estabelecimento da mordida aberta
anterior.
ALVES et al. (1999) em uma pesquisa de campo concluíram que a
mordida aberta anterior é uma das maloclusões mais freqüentes na dentição
em desenvolvimento e que estão envolvidos em sua etiologia hábitos de
sucção, estando presentes em muitos casos, alterações de tecidos moles e
funções, como interposição de língua, postura anormal de língua e lábios
durante a fase de repouso, hipotonia de lábio superior, fonação e deglutição
atípica.
ENCARNAÇÃO (2000) publicou trabalho quanto aos fatores etiológicos
relacionados com a mordida aberta anterior e constatou que a maior
freqüência para a maloclusão foi para pacientes portadores de hábito de
7
Tríade de Graber: a gravidade da maloclusão depende da interação da frequência,
intensidade e duração do hábito.
14
sucção de chupeta. De acordo com os resultados da pesquisa, concluiu-se que
a mordida aberta anterior é uma maloclusão observada na clínica
odontopediátrica, com maior freqüência no estágio da dentição decídua e que
cabe ao profissional um diagnóstico precoce desta maloclusão, para que se
possa intervir em tempo oportuno, restabelecendo o equilíbrio das funções e
corretas proporções faciais.
CARVALHO
(2000)
em
um
artigo
publicado
descreveu
as
conseqüências que os hábitos de sucção digital e de chupeta podem produzir
sobre a oclusão e os tratamentos para a remoção desses hábitos, evitando-se
assim, maiores danos. Constatou que o grau de desequilíbrio da oclusão
dependerá da interação do padrão de crescimento do indivíduo com as
variáveis freqüência, duração e intensidade do mau hábito e que as
maloclusões freqüentemente encontradas na presença de hábito de sucção
digital ou de chupeta são as mordidas abertas anteriores. A autora conclui que
um mau hábito bucal como a sucção digital e de chupeta pode acarretar
maloclusões significantes sobre o arco dental, produzindo um desequilíbrio no
sistema estomatognático.
Segundo ZUANON et al. (2000) o hábito bucal, causa freqüente da
instalação de maloclusões, são padrões de contração muscular apreendidos,
de natureza muito complexa, um comportamento que, tantas vezes praticado,
torna-se inconsciente e passa a ser incorporado à personalidade. Neste
sentido, os pesquisadores avaliaram a influência de hábitos bucais na
instalação de maloclusões na dentadura decídua de crianças de 3 a 5 anos de
idade numa amostra de 329 crianças. Os autores constaram que a mordida
aberta anterior é a relação mais comum em crianças. A mordida aberta anterior
muitas vezes está relacionadas ao hábito de sucção e que as alterações de
oclusão também podem ocorrer em crianças livres de hábitos, porém em
menor porcentagem.
Concluíram afirmando que a maloclusão depende da
freqüência e da intensidade da pressão exercida durante a sucção, sendo
necessário sua detecção e controle o mais cedo possível.
DOLCI et al. (2001) examinaram 444 crianças de 2 a 6 anos, para
avaliar os efeitos do hábito de sucção no desenvolvimento normal da
15
dentadura decídua, da cidade de Porto Alegre- RS. A seleção da amostra
iniciou-se com a distribuição de uma ficha de coleta de dados com perguntas
referentes ao tempo e ao tipo do hábito de sucção. A amostra foi classificada
em: não-suctores e suctores. Os autores concluíram na pesquisa de campo
que a presença do hábito de sucção está relacionado com a presença de
maloclusões. A sucção de chupeta teve um efeito mais intenso sobre o
desenvolvimento normal da dentadura decídua, quando comparada com a
sucção digital. Os autores sugerem que a remoção do hábito deva ocorrer o
mais cedo possível, visando impedir o desenvolvimento de maloclusões e
permitir a auto correção da mordida aberta anterior.
SIQUEIRA et al. (2002) investigaram a etiologia da mordida aberta
anterior nas arcadas dentárias decíduas em 34 crianças de ambos os gêneros,
dos três aos cinco anos de idade, sendo 17 do gênero feminino e 17 do
masculino. Os autores verificaram um baixo índice de oclusão normal. Os
autores constataram que o uso da chupeta ultrapassa a prática da sucção
digital, que se deve em parte, à postura dos pais como meio de acalmar e
controlar a ansiedade e os distúrbios emocionais de seus filhos. Os autores
concluíram que o aparecimento das maloclusões dento-alveolares na fase da
dentadura decídua, principalmente a mordida aberta anterior, depende do
período e do tempo de atuação do fator etiológico existente e que os hábitos
deletérios por si sós não causam maloclusões, devendo considerar também a
predisposição individual, a idade, as condições de saúde, de nutrição e que a
remoção do hábito deva iniciar-se o mais precoce possível, naqueles pacientes
que apresentarem alterações dentárias e ou esqueléticas evitando o
agravamento da maloclusão.
TOMITA et al. (2002) verificaram a relação entre determinantes sócioeconômico e hábitos bucais de risco para as maloclusões em 618 crianças de
ambos os gêneros na faixa etária de 3 a 5 anos. Foi realizada amostragem por
conglomerado, com escolha aleatória de 30 pré-escolas. Os dados foram
processados através do software Epi Info versão 5.01b. Foram utilizados o
teste do Qui-quadrado e teste Fisher.
Os resultados mostraram que a
freqüência do hábito de sucção de chupeta apresenta tendência a ser mais
16
freqüente entre as crianças de renda familiar mais baixa (37,9%) decrescendo
com o incremento da renda (24,8%); quanto à escolaridade materna, a
freqüência de crianças que apresentavam o hábito de sucção de chupeta
apresentou tendência decrescente com o incremento da escolaridade materna;
quanto ao trabalho materno a freqüência de crianças com este hábito foi
significantemente maior (38,6%) para aqueles cujas mães estão inseridas no
mercado de trabalho. Os autores concluíram que alguns determinantes sócioeconômicos estão relacionados com maior prevalência de hábitos bucais que
por sua vez estão positivamente associados com a maloclusão.
MARTINS et al. (2003) verificaram a associação entre hábitos de
sucção não nutritiva
8
e a presença de mordida aberta anterior. Foram
examinadas 158 crianças de ambos os gêneros, entre 1 e 5 anos, na fase de
dentição decídua, no Município de Bilac-SP. Os dados foram analisados pelo
índice de Kappa, ótimo (k=0,98). Através das investigações da presente
pesquisa, os autores constataram correlação da existência da presença de
hábitos bucais e maloclusão. Concluíram que os hábitos de sucção não
nutritiva influenciam no desenvolvimento e na manutenção da mordida aberta
anterior, embora não sejam os únicos fatores etiológicos podendo estar
relacionada a outros fatores como; padrão de crescimento, deglutição atípica,
interposição lingual, além de patologias congênitas e adquiridas, e que é
importante que se institua programas de prevenção dos hábitos de sucção não
nutritiva para que esses não sejam fatores desencadeantes de alterações no
desenvolvimento e crescimento das estruturas que compõe o sistema
estomatognático.
17
CAPÍTULO II
PREVALÊNCIA E NECESSIDADE DO DIAGNÓSTICO DA
MORDIDA ABERTA ANTERIOR.
A prevalência permite compreender o quanto é comum, ou rara, uma
determinada doença ou situação numa população. É habitualmente usada em
epidemiologia. Na área da saúde a prevalência ajuda o profissional a conhecer
a probabilidade - ou risco - de um indivíduo sofrer de determinada doença. O
conceito é também muito útil na elaboração e planificação de políticas e
programas de saúde, uma vez que permite organizar os recursos existentes
para os problemas de saúde mais importantes. A mordida aberta anterior é um
problema de saúde pública por representar o terceiro problema odontológico
8
Os hábitos de sucção não-nutritiva de dedo, chupeta ou lábio podem causar alterações à
18
segundo os registros da Organização Mundial de Saúde, pois pode interferir
negativamente na qualidade de vida, prejudicando a interação social e o bem
estar psicológico dos indivíduos acometidos.
2.1 A prevalência da mordida aberta anterior.
VALENTE et al. (1989) postularam que a relação incisal dos arcos
dentais decíduos estabelece-se logo após a erupção dos molares decíduos.
Devido a importância do conhecimento de relação incisal dos dentes decíduos
e sua alteração com a idade, os autores propuseram investigar a prevalência
da mordida aberta anterior em 120 crianças brancas, brasileiras, de ambos os
gêneros com idade entre 2 a 6 anos das escolas pré-primárias de Ribeirão
Preto. Foram selecionadas dentre aquelas que possuíssem dentição decídua
completa e nenhum dente permanente irrompido. Crianças com ausência de
dentes ou com dentes cariados foram excluídas da amostra. O exame dos
arcos dentais, em oclusão cêntrica foi feito na própria escola, utilizando uma
régua milimetrada para a medida das maloclusões. Os resultados mostraram
23,32% da amostra apresentavam mordida aberta anterior.
SOARES et al. (1996) em seu artigo relata que o equilibro facial é de
fundamental importância não só dentro da Ortodontia, mas também para as
outras especialidades. Os autores avaliaram 261 crianças, na faixa etária de 5
a 8 anos, sendo 130 do gênero masculino e 131 do gênero feminino, com a
finalidade de avaliar o tipo de maloclusão, a prevalência da mordida aberta
anterior e hábitos de sucção. Das 261 crianças 86 crianças eram portadoras de
mordida aberta anterior, sendo 41 do gênero masculino e 45 do gênero
feminino e 130 (45,30%) das crianças apresentaram hábitos de sucção. Os
autores concluíram que o tipo de maloclusão é independente do gênero, e
quanto à persistência do hábito, observaram não haver o abandono de hábito
de sucção em idades menores, o que acarretaria numa diminuição da mordida
aberta anterior nos primeiros estágios da dentadura mista e que os escolares
estudados preferem o hábito de sucção digital à chupeta.
oclusão quando mantidos além dos quatro anos da criança.
19
BRANDÃO et al. (1996) iniciam o seu artigo dizendo que as
maloclusões constituem o terceiro maior problema odontológico, segundo
dados da Organização Mundial de Saúde e que poucos trabalhos têm tentado
decifrar a ocorrência dos distúrbios da oclusão em crianças brasileiras. Com
este propósito, os autores realizaram um trabalho de campo, onde examinaram
514 crianças, 285 do gênero masculino e 229 do gênero feminino, todas elas
na fase de dentição decídua completa, variando entre 2 a 6 anos de idade. O
resultado obtido foi de 15,2% da amostra examinada para a mordida aberta
anterior.
FARSI et al. (1996) investigaram a prevalência de hábitos bucais em
583 crianças
da pré-escola de ambos os gêneros e o seu efeito
sob a
dentição decídua. Para o exame da amostra foi realizados um questionário e
exame clínico. A prevalência de hábitos bucais foi de 48,36% com sucção
digital tendo o maior índice. A maioria dos escolares que apresentavam sucção
de chupeta largou o hábito durante os primeiros cinco anos de vida enquanto
que aqueles que apresentavam sucção digital continuavam persistente ao
hábito. Os resultados para crianças com sucção digital apresentaram maior
prevalência para mordida aberta anterior do que crianças sem hábito bucal,
sendo que a maior prevalência das maloclusões foi para a mordida aberta
anterior.
Para FERREIRA et al. (1997) publicaram um artigo, baseado em uma
pesquisa de campo com uma amostra de 261 crianças entre zero a cinco anos
de idade de ambos os gêneros com o objetivo de avaliar a prevalência de
mordida aberta anterior na dentadura decídua, o grupo etário destas, a
amplitude da mordida aberta e o número de crianças que faziam o uso da
chupeta. A pesquisa foi realizada em seis creches municipais na cidade de
Bento Gonçalves, RS. Os resultados mostraram uma prevalência de 45,2%,
ou seja, 118 crianças apresentavam mordida aberta anterior. Destas, 84,7%
tinham idade entre dois e cinco anos. A amplitude da mordida aberta anterior
prevalente ficou entre 1,1mm e 5mm em 72% dos casos estudados e que
100% das crianças que apresentavam mordida aberta anterior tinham como
hábito o uso de chupeta.
20
SERRA NEGRA et al. (1997) examinaram 357 crianças na faixa etária
de 3 a 5 anos com dentição decídua completa com o objetivo de associar a
forma de aleitamento com a instalação
de hábitos bucais deletérios e
conseqüentes maloclusões. Para a obtenção de informações sobre o
desenvolvimento das crianças foram enviados questionários para as mães e
posteriormente avaliados. Constatou-se que, há a associação do aleitamento
natural com a não instalação de hábitos bucais viciosos, pois 86,1% das
crianças que não apresentaram hábitos deletérios foram aleitadas por, no
mínimo, seis meses. A associação de hábitos bucais com maloclusões foi
significante, observou-se que as crianças com hábitos viciosos apresentaram,
em maior número, mordida aberta anterior 31,9%. Os autores constataram que
crianças com hábitos deletérios apresentam quartoze vezes mais chance de
desenvolverem mordida aberta anterior. Concluíram que os hábitos bucais
deletérios estão fortemente associados as maloclusões.
TOMITA et al. (1998) realizaram um trabalho com 2139 crianças no
Município de Bauru, SP, entre faixa etária de 3 a 5 anos de idade, de ambos os
gêneros. O objetivo foi avaliar a relação entre hábitos bucais e maloclusão em
pré-escolares. Uma amostra de 618 crianças apresentou resposta ao
questionário sobre hábitos bucais e saúde infantil. Os resultados mostraram
que a prevalência de maloclusão foi de 51,3% para o gênero masculino e
56,9% para o gênero feminino, sem variação quanto ao gênero. Entre as
crianças com o hábito de sucção de chupeta e de sucção digital, 81,2% e
66,6% respectivamente tinham anomalia de oclusão. A maior prevalência de
mordida aberta anterior foi verificada no grupo etário de três anos,
decrescendo significantemente com a idade. Os pesquisadores constataram
que os hábitos bucais devem merecer a atenção do profissional sempre que
perdurem ou se manifestem em crianças com idade acima de três anos,
porque os efeitos dos hábitos existentes antes dessa idade, podem sofrer um
processo de correção espontânea na maioria dos casos, desde que, a criança
abandone o hábito bucal.
ENCARNAÇÃO (2000) publicou trabalho de pesquisa para verificar a
freqüência da mordida aberta anterior em relação à idade, ao gênero, bem
21
como averiguar os hábitos e disfunções orofaciais que estão ligados à etiologia
desta maloclusão. O presente estudo baseou-se no exame clínico de 232
crianças de ambos os gêneros, com faixa etária entre dois e seis anos de
idade, pertencentes à rede de ensino público: Centro Educacional Infantil
Cecília Meirelles, cidade de Vitória – ES; e nas respostas obtidas através de
questionários distribuídos aos pais e responsáveis destas crianças. Os
resultados da pesquisa mostraram que das 232 crianças examinadas, 66
apresentavam mordida aberta anterior relacionada com hábitos bucais
deletérios. A mordida aberta anterior não apresentou diferença significativa em
sua freqüência quanto ao gênero e observou-se que havia um decréscimo na
freqüência desta maloclusão de acordo com o aumento da idade.
THOMAZINE et al. (2000) em pesquisa de campo estimaram a
prevalência de mordida aberta em escolares da rede municipal de Campinas
com amostra de 524 crianças de ambos os gêneros, com idade entre 6 e 9
anos. Os resultados apontaram que 34,10% da amostra possuíam algum tipo
de maloclusão. 71 crianças apresentaram mordida aberta. Dos 71 casos de
mordida aberta, observou maior prevalência no gênero feminino. Estudando a
distribuição de mordida aberta quanto à idade, encontrou-se maior prevalência
entre as crianças de seis anos (25,58%), seguida das crianças de sete anos
(22,63%), oito anos (22,04%) e nove anos (11,32%). Os autores constataram
diminuição da prevalência de mordida aberta com o desenvolvimento do
indivíduo, deixando evidente a redução desta anomalia na evolução da
dentadura humana da fase temporária à permanente. Os pesquisadores
concluíram dizendo que na literatura há uma corrente de estudiosos que
defendem a autocorreção da mordida aberta e que os profissionais
odontopediatras devem buscar restabelecer a normalidade da oclusão,
evitando a instalação de maloclusões mais complexas.
Segundo ZUANON et al. (2000) avaliaram a prevalência de hábitos
bucais na instalação de maloclusões na dentadura decídua de crianças de 3 a
5 anos de idade numa amostra de 329 crianças. Após o exame pôde-se
observar que das 194 crianças que possuíam hábito de sucção, 76,80%
apresentaram alterações de oclusão. Destas 61,34% eram portadoras de
22
mordida aberta anterior. Os autores constaram que a mordida aberta anterior é
a relação mais comum em crianças de 3 a 5 anos, estando muitas vezes
relacionadas ao hábito de sucção e que as alterações de oclusão também
podem ocorrer em crianças livres de hábitos, porém em menor porcentagem.
MORAES et al. (2001) em uma pesquisa de campo verificaram a
prevalência de mordida aberta em uma amostra de 989 crianças, de ambos os
gêneros, entre 2 a 5 anos de idade. Como critérios de inclusão, apenas foram
selecionadas para compor a amostra as crianças que apresentassem dentição
completa e que tivesse o termo de consentimento Livre e Esclarecido assinado
pelos seus pais. Constatou-se que 396 (59,95%) crianças portavam mordida
aberta. Das crianças com mordida aberta anterior 143 eram portadoras do
hábito de sucção de chupeta (37,14%). Os autores verificaram elevado número
de
crianças
que
apresentaram
maloclusão
na
dentição
decídua,
particularmente a mordida aberta, estando esta comumente relacionada à
sucção de chupeta.
DOLCI et al. (2001) examinaram 444 crianças de 2 a 6 anos, para
avaliar a prevalência dos efeitos do hábito de sucção no desenvolvimento
normal da dentadura decídua, da cidade de Porto Alegre- RS. A amostra foi
classificada em: não-suctores e suctores. Os resultados indicaram que as
crianças do grupo dos suctores corresponderam a (38,51%) da amostra
estudada. Para este grupo a mordida aberta anterior foi de 104 (65,4%). O
grupo dos não suctores corresponderam a (61,48%) da amostra. Deste grupo
33 crianças (38,82%) apresentaram mordida aberta anterior. Os autores
concluíram na pesquisa de campo que a presença do hábito de sucção está
relacionado com a presença de maloclusões. A sucção de chupeta teve um
efeito mais intenso sobre o desenvolvimento normal da dentadura decídua,
quando comparada com a sucção digital.
SANTANA et al. (2001) realizaram pesquisa com 216 crianças na
cidade de Aracaju, com objetivo de avaliar a prevalência da mordida aberta
anterior e hábitos bucais indesejáveis em escolares da rede pública e particular
de 3 a 6 anos incompletos de ambos os gêneros. Para o presente trabalho,
foram selecionadas crianças que apresentavam exclusivamente dentição
23
decídua completa e ausência de lesões de cárie extensas que impossibilitavam
a verificação do arco dentário. Os resultados mostraram a presença de hábito
bucal associado com a mordida aberta anterior em 29,8% e
14,7 % das
crianças que não tinham hábito bucal, mas apresentavam mordida aberta
anterior.
LÓPEZ et al. (2001) avaliaram a prevalência da mordida aberta
anterior para a dentadura decídua na faixa etária de 3 a 5 anos. A amostra foi
composta de 567 crianças, sendo 294 do gênero masculino e 273 do gênero
feminino. A seleção das escolas foi feita aleatoriamente através de um sorteio
que reuniu escolas de diferentes bairros. Após, foi elaborada uma carta de
consentimento dirigida aos pais das crianças, e apenas aquelas cujos pais
consentiram o exame participaram do estudo. Neste estudo, os autores
obtiveram um índice de mordida aberta anterior de 38, 80%, próximo a valores
encontrados por outros pesquisadores que investigaram a mordida aberta em
habitantes do continente americano em contraste a países africanos, onde
estudos trazem valores inferiores a 1% para a mordida aberta anterior, o que
pode ser justificado por apresentarem hábitos orais diferentes.
2.2 A importância do diagnóstico precoce.
Definir o tipo de tratamento preventivo de uma maloclusão recai
essencialmente sobre o correto diagnóstico do caso. Para minimizar os desvios
da oclusão, devem-se adotar medidas preventivas e interceptoras bastante
precocemente, tendo em vista que os problemas oclusais podem se
manifestam nos primeiros anos de vida do infante. A indicação para a
intervenção dos desvios da normalidade devem ser definida pelo profissional
após exame clínico e conhecimento da existência de impacto negativo da
maloclusão sobre a qualidade de vida do indivíduo na dentadura decídua.
Nesse sentido, a estética facial tem sido considerada um determinante
significativo quanto à valoração e às atribuições entre a interação que se dá
entre os indivíduos e o olhar social.
24
A maloclusão é uma das alterações que prejudicam a estética facial,
sendo considerada um problema de saúde pública. Essa apresenta alta
prevalência e pode interferir negativamente na qualidade de vida, afetando a
qualidade de vida diária dos acometidos.
Os autores pesquisados nessa revisão bibliográfica destacaram a
importância do diagnóstico e medidas preventivas precoce, porque na grande
maioria das vezes não há a auto correção da mordida aberta anterior, se os
fatores etiológicos não forem removidos ou se não sofrerem a intervenção
precisa por um profissional em tempo oportuno.
BASTOS et al. (1992) concluíram afirmando que as maloclusões do
tipo mordida aberta anterior quando não tratadas adequadamente podem
acarretar sérias alterações no aspecto estético do paciente e nas funções
orofaciais, levando inclusive a condições psicológicas desfavoráveis, tornando
imprescindível um diagnóstico precoce dessas alterações para que o
profissional possa intervir em tempo oportuno, restabelecendo o equilíbrio das
funções e proporções faciais.
BONI et al. (1997) avaliaram o comportamento da mordida aberta
anterior, após a remoção do hábito de sucção em 20 crianças de 4 a 6 anos de
idade, de ambos os gêneros, portadores de hábito de sucção de chupeta e ou
mamadeira que apresentavam a maloclusão. Os pacientes foram submetidos
ao método de conscientização e de reforço positivo, com a finalidade de
remoção do hábito de sucção. Os autores constataram diminuição ou mesmo
fechamento da mordida aberta anterior, após o abandono do hábito de sucção
de chupeta e ou mamadeira, através do método de conscientização e reforço
positivo.
TOMITA et al. (1998) verificaram que a chupeta é um fator de risco à
maloclusão de maior intensidade que a sucção digital por ser um bem de
consumo de preço reduzido, amplamente acessível à população e que sua
utilização é estimulada pelos pais, frente ao choro infantil, e que, sociedades
onde a chupeta não está disponível apresentam menores taxas de maloclusão
que aquelas que utilizam. Os pesquisadores constataram que os hábitos
bucais devem merecer a atenção do profissional sempre que perdurem ou se
25
manifestem em crianças com idade acima de três anos, porque os efeitos dos
hábitos existentes antes dessa idade, podem sofrer um processo de correção
espontânea na maioria dos casos, desde que, a criança abandone o hábito
bucal.
ALVES et al. (1999) afirmaram que o objetivo principal do hábito é
identificá-lo, pelo exame clínico, observação direta e anamnese e como o
hábito se torna uma atitude mental inconsciente, é então razoável, que o
tratamento se faça com o uso de dispositivo que permita a conscientização do
ato. Quanto ao controle dos hábitos, os autores enfatizam a importância de um
diagnóstico de causa precisa e observação das alterações para conduzir de
maneira favorável o tratamento, com ajuda ou não de profissionais de outras
áreas como fonoaudiólogos, psicólogos e psicoterapeutas.
CARVALHO (2000), ZUANON et al. (2000), DOLCI et al. (2001)
sugerem que a remoção do hábito deva ocorrer o mais cedo possível, visando
impedir a perpetuação da mordida aberta anterior, permitindo com a remoção
do hábito à sua auto correção.
Para SIQUEIRA et al. (2002) as maloclusões constituem grandes
desafios aos profissionais da Odontologia e dentre todos os tipos de
maloclusões, a mordida aberta anterior é de grande prevalência em crianças
principalmente naquelas portadoras de hábitos bucais deletérios. Os autores
concluíram, com base nos resultados, afirmando que a intensidade e a
freqüência são fundamentais para a instalação desta maloclusão, sendo
necessário orientação às mães e ou responsáveis com relação ao uso da
chupeta, para evitar ou minimizar o estabelecimento da mordida aberta
anterior.
Para o estudo da prevalência que nos permite compreender o quanto
é comum, ou rara, uma determinada doença ou situação numa população,
encontramos em SANTANA et al. (2001) e SIQUEIRA et al. (2002) 14,7% e
71%
respectivamente
sua maior e menor prevalência, corroborando
academicamente de que a prevalência dependerá da intensidade, frequência e
duração do hábito bucal deletério para cada população estudada. Como a
mordida aberta anterior pode haver várias causas como fator etiológico, tendo
26
a sucção de chupeta e dedo a causa mais comum, há que se considerar
também a presença de outros profissionais – fonoaudiólogos, psicólogos,
otorrinolaringologista – no tratamento, juntamente com o cirurgião-dentista,
que irão propor
através do diagnóstico preciso e
em tempo oportuno a
resolutividade dessa maloclusão.
CAPÍTULO III
A SAÚDE BUCAL NO PSF
Nos primeiros anos de implantação do Sistema Único de Saúde, este
sistema não encontrou respaldo nas políticas governamentais e o aporte de
recursos necessários ao desenvolvimento deste processo não foi realizado,
agravando a crise do modelo assistencial que perdurava desde os anos 80.
Para RONCALLI (2000) apud PEREIRA (2007) o modelo de
assistência à saúde que ainda predominava no País caracterizava-se pela
prática hospitalocêntrica, individualista e de alto custo gerando alto grau de
insatisfação em gestores, profissionais de saúde e usuários do sistema. Desta
forma, a rede básica de saúde, constituída pelos centros, postos e unidades
básicas de saúde se encontrava desqualificada e os níveis seguintes de
atenção secundário e terciário se tornavam à porta de entrada do sistema.
Deste modo, para reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e
substituir o modelo tradicional levando a saúde para mais perto das famílias foi
criado o Plano de Saúde da Família. O plano de Saúde da Família teve seu
início em 1994 para dar seqüência à estratégia de Saúde da Família que
começou com o Programa de agentes comunitários de Saúde em 1991, o qual
tinha como unidade de ação a família e na época já apresentava bons
resultados, particularmente na redução dos índices de mortalidade infantil.
Segundo o Ministério da Saúde a estratégia do PSF tem como base os
princípios
do
SUS;
integralidade,
universalidade,
descentralização
e
27
participação da comunidade, sendo que a estruturação operacional se dá a
partir da Unidade Básica de Saúde da Família e que apresenta como
característica a integralidade e hierarquização, isto significa dizer que, a
Unidade de Saúde da Família está inserida no primeiro nível de ações e
serviços do sistema local de assistência, denominado atenção básica. Deve
estar vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral
aos indivíduos e famílias e que sejam asseguradas à referência e a contra
referência para clínicas e serviços de maior complexidade, sempre que o
estado de saúde da pessoa assim exigir.
O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a
busca permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos
entre os integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente
Comunitário de Saúde. As equipes são compostas, no mínimo, por um médico
de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes
comunitários de saúde. Quando ampliada conta ainda com: um dentista, um
auxiliar
de
consultório
dentário
e
um
técnico
em
higiene
dental.
Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de, no máximo, 4
mil habitantes, sendo a média recomendada de 3 mil habitantes de uma
determinada área, e estas passam a ter co-responsabilidade no cuidado à
saúde. A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de
saúde, nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se:
como porta de entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde.
3.1 A importância da prevenção precoce da maloclusão.
Entende-se por prevenção conjunto de ações que visam evitar a
doença na população, removendo os fatores causais, ou seja, visam à
diminuição da incidência da doença.
Como cirurgião dentista, atuando na área de odontopediatria no setor
público e como ortodontista na área privada há mais de dez anos, tenho
28
presenciado relatos de pessoas que sofreram ou sofrem diariamente com o
estigma da diferença por possuírem os dentes fora do padrão coletivo,
socialmente aceito. Não é raro mães virem à Unidade Básica de Saúde ou à
clínica particular com os filhos, sofrendo algum tipo de discriminação nas
escolas com o rótulo de serem chamadas
de “Mônica” personagem
de
história em quadrinhos criado por Mauricio de Sousa no ano de 1959, ou; que
o amiguinho da escola
identifica o filho como “boquinha de peixe”. Como
conseqüência do conflito social as mães dizem: meu filho parou de sorrir, ou
quando sorri põe a mão sobre o rosto como, tentando esconder-se de si
mesmo, ou; o rendimento e a atenção na escola caíram, ou mais grave; ele
não quer mais freqüentar a escola. Sob uma perspectiva sociológica perversa,
o aluno foi identificado, classificado e sob ele exercido o controle da diferença,
9
produzido pela desigualdade do olhar etnocêntrico .
Muitas dos casos clínicos do dia-a-dia presenciados por mim e a
revisão bibliográfica do tema por nós abordado destacaram que a maioria das
mordidas abertas anteriores podem ser facilmente corrigida através de uma
simples
prevenção
ou
intervenções
precoces
durante
a
fase
de
desenvolvimento da oclusão dental, evitando ou minimizando dessa maneira
conflitos sociais futuros nos lares e na vida civil.
Os indivíduos com melhor aparência dental são considerados pelos
seus pares como mais inteligentes, além de mais bonitos, em relação às
pessoas que apresentam algum tipo de problema oclusal, principalmente as
faces com posicionamento incorreto dos incisivos (BALSWIN, 1908).
KEROSUO et al. (1995) relataram que, em um júri simulado, as
pessoas com aparência facial melhor foram consideradas menos “culpadas” ou
merecedoras de uma “pena mais leve”, quando comparadas com pessoas
cujas faces eram consideradas pobres em estética. O impacto psicológico
provocado por certas maloclusões é tanto maior quanto mais severo for o
problema, sempre evocando nas pessoas uma tendência a se tornarem
9
Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou avaliação que um
indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social diferente do seu é apenas baseada nos
valores, referências e padrões adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo
fazem parte.
29
caricaturas, ridículas aos olhos alheios e um estímulo às provocações. Essa
agressão psicológica pode causar desordens no comportamento e desajustes
na personalidade. E essas pessoas seriam mais resignadas e estóicas,
comportando-se mais passivamente diante das situações desfavoráveis, como
se as agressões sociais as moldassem e as mobilizassem.
MACIEL et al. (2003) afirmaram que sob o aspecto social e cultural as
maloclusões podem ser incluídas entre as alterações bucais que mais
interferem na qualidade de vida da população, pois afetam a estética facial,
causam prejuízos à mastigação, à fala e à interação social e diminuem o
sentido de bem estar. Entre as crianças, a percepção das desfigurações
dentofaciais é extremamente relevante nos relacionamentos interpessoais, até
mais do que as outras deficiências físicas.
Para os autores as questões
culturais são decisivas neste aspecto, pois crianças e adultos têm uma
tendência maior de rejeição a problemas crânio faciais que, por exemplo, ao
uso de uma cadeira de rodas ou outras deformidades. Estudos no campo da
psicossociologia indicam que a atratividade da face é fator preponderante na
interação social. As pessoas com melhor aparência facial são consideradas
mais atrativas, mais amistosas e com maior facilidade de iniciar um
relacionamento afetivo. E há evidências do efeito que a região oral detém
sobre a estética facial como um todo.
SHAW (1991), apud MACIEL (2003) et al. relatou que é de grande
importância uma infância satisfatória com relações normais entre os colegas,
para que se tenha uma vida futura com sucesso social e equilíbrio emocional.
A rejeição por seus pares pode influenciar toda a vida futura da criança. Uma
aparência facial particularmente influenciada pelos dentes, que evoque
julgamentos sociais desfavoráveis, é muito importante para a estabilidade
psicológica da criança, pois pode impor a ela situações que a marcarão.
Não há dúvidas de que uma política pública de saúde bucal no PSF
que inclua a prevenção deva levar em conta os aspectos psicológicos, sociais
e culturais, garantindo e protegendo as crianças de estigmas que as
desigualdades socioculturais podem ocasionar pela falta de acesso à
30
informação aos pais e ou responsáveis às crianças em fase de crescimento do
uso prolongado de chupeta após os três anos de idade.
3.2 O desafio de mudar a prática.
Processo saúde doença
10
é dinâmico. Há, portanto, várias variáveis
que podem determinar o início do desenvolvimento da maloclusão ainda no
estágio inicial do desenvolvimento oclusal. Medidas preventivas além de ter o
custo menor em relação às medidas curativas são capazes de intervir no
processo saúde doença antes mesmo do aparecimento de uma possível
maloclusão.
A mordida aberta anterior que é um tipo de maloclusão que pode se
desenvolver nos primeiros anos de vida tem como etiologia principal, o uso de
chupetas, uma invenção cultural ou hábitos bucais deletérios.
Constatou-se na bibliografia pesquisada que ao nascer, a criança tem
desenvolvido um padrão de reflexo de sucção, que é satisfeito no peito
materno. Se esta necessidade não for suprida, poderá resultar em hábitos
bucais deletérios, produzindo desvios do desenvolvimento normal da oclusão e
que, há a associação do aleitamento natural com a não instalação de hábitos
bucais viciosos. Crianças que não apresentam hábitos deletérios foram
aleitadas por, no mínimo, nos primeiros seis meses de vida.
Há que se
considerar também que uso da chupeta ultrapassa a prática da sucção digital,
que se deve em parte, à postura dos pais como meio de acalmar e controlar a
ansiedade e os distúrbios emocionais de seus filhos. Como a frequência, a
duração e a intensidade do hábito – Tríade de Graber – estão diretamente
relacionados como o início da etiologia e à perpetuação dessa maloclusão,
sendo o uso da chupeta não ortodôntica consideravelmente a mais prejudicial
às anomalias dentárias do que a sucção digital.
A intervenção desse processo no PSF requer reformulação na política
pública ao acesso à informação, por parte do usuário quanto aos danos
causados pelo uso da chupeta após os três anos, como também a
10
O processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis que
envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas estão interligadas e
são conseqüência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito, a determinação do estado de
saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve diversos fatores.
31
necessidade das mães amamentarem seus filhos até os seis meses de vida do
infante.
A saúde bucal preventiva no PSF é de fácil aplicabilidade prática, têm
baixo custo operacional e não requer a utilização de nenhum aparelho
ortodôntico, sendo, na realidade, uma prevenção que pode ser realizada pela
própria equipe do PSF, seja nas Unidades Básicas de Saúde ou nos
domicílios, promovendo atividades educativas e preventivas em saúde bucal.
O grande desafio que temos à frente é que durante anos a assistência
à saúde que predominou no Brasil caracterizou-se por uma prática
hospitalocêntrica, individualista e de alto custo, gerando alto grau de
insatisfação entre os usuários e o sistema. Práticas e intervenções fortemente
marcada por medidas curativas ao invés da preventiva. O problema a enfrentar
é estrutural que não se muda de um dia para o outro. Como proposta para o
impasse na saúde pública foi criado o Programa de Saúde da Família
implantado pelo SUS que teve início em 1994 como forma de reorganizar a
prática da atenção à saúde básica em novas bases, substituindo o modelo
tradicional, levando a saúde para mais perto as famílias brasileiras. Além de
ser necessária a continuidade da expansão do número de Equipes de Saúde
Bucal no PSF, é premente a melhor qualificação dos profissionais que atuam
nestas equipes com o objetivo de levar educação preventiva necessária às
principais intercorrências que acometem o sistema estomatognático.
32
CONCLUSÃO
Tendo em vista a bibliografia consultada, pode-se concluir que:
A mordida aberta anterior é um maloclusão que se caracteriza pela
falta de contato entre os incisivos superiores e inferiores, quando os demais
dentes estão em oclusão, sendo um achado freqüente entre crianças, podendo
se manifestar em idade precoce e se repetir na dentição permanente.
Na presente revisão da bibliografia encontramos em SANTANA et al.
(2001) e
menor
SIQUEIRA et al. (2002) 14,7% e 71% respectivamente
prevalência
para
a
mordida
aberta
anterior,
maior e
corroborando
academicamente de que a prevalência dependerá da intensidade, frequência e
duração do hábito bucal deletério para cada população estudada. Como a
mordida aberta anterior pode haver várias causas como fator etiológico, tendo
a sucção de chupeta e dedo a causa mais comum, há que se considerar
também a presença de outros profissionais – fonoaudiólogos, psicólogos,
otorrinolaringologista – no tratamento, juntamente com o cirurgião-dentista,
que irão propor
através do diagnóstico preciso e
em tempo oportuno a
resolutividade dessa maloclusão.
Sob o aspecto social e cultural as maloclusões podem ser incluídas
entre as alterações bucais que mais interferem na qualidade de vida da
população, pois afetam a estética facial, causam prejuízos à mastigação, à fala
e à interação social, diminuindo o sentido de bem estar.
Sugere-se medidas preventivas através de orientações educativas
dentro do Programa de Saúde da Família através de políticas públicas
proporcionando aos usuários do Sistema único de Saúde o acesso à
informação quanto aos danos causados pelo uso da chupeta após os três anos
de idade, como também a necessidade das mães amamentarem seus filhos
até os seis meses de vida do infante.
33
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http://dab.saude.gov.br/atencaobasica.php
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA
4
38
RESUMO
5
METODOLOGIA
6
SUMÁRIO
7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I
Mordida Aberta Anterior
11
1.1 – Definição da Mordida Aberta Anterior
12
1.2 – Etiologia da Mordida Aberta Anterior
12
CAPÍTULO II
Prevalência e necessidade do diagnóstico
18
2.1 A prevalência da Mordida Aberta Anterior
18
2.2 A importância do diagnóstico precoce
24
CAPÍTULO III
A Saúde Bucal no PSF
27
3.1 A importância da prevenção precoce da maloclusão
28
3.2 O desafio de mudar a prática
31
CONCLUSÃO
33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
34
BIBLIOGRAFIA CITADA
38
ÍNDICE
39
39
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: A Mordida Aberta Anterior na Dentição Decídua
Autor: Marcos Antônio de Almeida Silva
Data da entrega:
Avaliado por: Profª MS Maria da Conceição Maggioni Poppe Conceito:
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