45. As novas tecnologias da informação e comunicação tornaram-se uma realidade nas relações sociais contemporâneas e contribuem para a maior integração das pessoas neste início do século XXI. Sobre as alterações nas práticas culturais decorrentes dessas novas tecnologias informacionais, é correto afirmar: a) As pessoas deixaram de contatar as redes sociais já consolidadas e as substituíram por encontros presenciais realizados por meio da rede mundial de computadores. b) As dinâmicas das culturas vinculadas à virtualidade dos meios de comunicação consolidam a cultura popular em detrimento da cultura de massa e da indústria cultural. c) A violência urbana impede que sejam ampliadas as redes e grupos sociais tradicionalmente vinculados ao capitalismo, o que intensifica o uso convencional dos serviços dos correios. d) A educação e a religião estão apartadas do processo de utilização de mídias eletrônicas, e isso causou o afastamento das pessoas das lutas por causas sociais mais amplas. e) As novas tecnologias de informação e comunicação têm sido utilizadas nas ações coletivas de pessoas envolvidas com as demandas dos movimentos sociais. 46. CRUCIFIXO É um crucifixo de marfim Ligeiramente amarelado, Pátina do tempo escoado. Sempre o vi patinado assim. Mãe, irmã, pais meus estreitados Tiveram-no ao chegar o fim. Hoje, em meu quarto colocado, Ei-lo velando sobre mim. E quando se cumprir aquele Instante, que tardando vai, De eu deixar esta vida, quero Morrer agarrado com ele. Talvez me salve. Como – espero – Minha mãe, minha irmã, meu pai. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 270. redor animavam os contendores. A uma investida de Cárdenas, o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no arco de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma, de aladas plantas, rompe entre os adversários atônitos, e conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao belicoso Pinga. (...) Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira de Homero. Mas o estilo atual é outro, e o sentimento dramático se orna de termos técnicos. Carlos Drummond de Andrade, Quando é dia de futebol. Rio: Record, 2002. Ao narrar o jogo entre brasileiros e mexicanos “à maneira de Homero”, o autor refere-se ao estilo a) épico. b) lírico. c) satírico. d) técnico. e) teatral. 48. CAPÍTULO 73 - O Luncheon* O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era dizer as coisas lisamente, sem todos estes solavancos! Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos parece indecorosa, direi que ele é o que eram as minhas refeições com Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos a nossa patuscada, o nosso luncheon. Vinho, frutas, compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma infinidade desses apartes do coração, aliás o verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação. Ela deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir as denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos depois, reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para desatá-la outra vez. Note-se que, longe de termos horror ao método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona Plácida, a sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não aceitava nunca. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. (*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda. Considere as seguintes afirmações sobre o excerto das Memórias póstumas de Brás Cubas, obra fundamental da literatura brasileira: No poema, o eu lírico a) está certo da salvação de sua alma, caso esteja segurando o crucifixo à hora de sua morte. b) se ressente do fato de ter sobrevivido à morte de todos os seus familiares. c) transmite a impressão de que o momento de sua morte está demorando a ocorrer. d) vê-se acometido por um sentimento de nostalgia em relação ao seu passado familiar. e) se vê encurralado pela possibilidade de morrer cedo porque há um crucifixo na parede de seu quarto. I. Depois de haver comparado seu estilo ao andar dos ébrios, o narrador resolve compará-lo também ao “luncheon”, penitenciando-se, assim, dos vícios que praticara em vida – entre eles, o do alcoolismo. II. Nas comparações com o “luncheon”, presentes no excerto, o narrador revela ser o capricho (ou arbítrio) o móvel dominante tanto de seu estilo quanto das ações que relata. III. Na autocrítica do narrador, realizada com ingenuidade no excerto, oculta-se a crítica do realista Machado de Assis ao Naturalismo dominante em sua época. 47. Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A tarde de olhos radiosos se fez mais clara para contemplar aquele combate, enquanto os agudos gritos e imprecações em Está correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 49. LXXVIII (Camões, 1525?-1580) Leda serenidade deleitosa, Que representa em terra um paraíso; Entre rubis e perlas doce riso; Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa; Presença moderada e graciosa, Onde ensinando estão despejo e siso Que se pode por arte e por aviso, Como por natureza, ser fermosa; Fala de quem a morte e a vida pende, Rara, suave; enfim, Senhora, vossa; Repouso nela alegre e comedido: Estas as armas são com que me rende E me cativa Amor; mas não que possa Despojar-me da glória de rendido. CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008. 8 tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, 9resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...) E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, 10posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções ,poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte 11 dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos. Aluísio Azevedo, O cortiço. Um traço cultural que decorre da presença da escravidão no Brasil e que está implícito nas considerações do narrador do excerto é a a) desvalorização da mestiçagem brasileira. b) promoção da música a emblema da nação. c) desconsideração do valor do trabalho. d) crença na existência de um caráter nacional brasileiro. e) tendência ao antilusitanismo. 51. Observe e compare as duas imagens: A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema. b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoa e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema. c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema. d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema. e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema. 50. Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e 1tragava dois dedos de parati 2“pra cortar a friagem”. Uma 3transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, 4reviscerando-lhe o corpo e 5 alando-lhe os sentidos, num 6trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil 7patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; Os quadros tratam do mesmo tema, embora pertençam a dois momentos distintos da história da arte. O confronto entre as imagens revela um traço fundamental da pintura moderna, que se caracteriza pela a) tentativa de compor o espaço pictórico com base nas figuras naturais. b) busca em fundar a representação na evidência dos objetos. c) continuidade da preocupação com a nitidez das figuras representadas. d) secularização dos temas e dos objetos figurados com base na assimilação de técnicas do Oriente. e) ruptura com o princípio de imitação característico das artes visuais no Ocidente. 52. O bicho (Manuel Bandeira ) Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 1993. p. 201-202. Quanto aos aspectos semânticos, a leitura de ambos os poemas leva à a) reflexão sobre as disparidades sociais. b) idealização de uma sociedade m,ais igualitária. c) comicidade promovida pelo jogo de palavras no primeiro e o elemento-surpresa no segundo. d) objetividade ao se tratar de temas atuais. e) atitude de imparcialidade dos poetas diante dos temas apresentados. 53. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade, É verdade, Senhor, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido Ofendido vos tem minha maldade. MATOS, Gregório de. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade. In: Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, s.d. p. 299. A profusão dos elementos que compõem as imagens corresponde, nos versos de Gregório de Matos, a uma linguagem a) neologista. b) racionalista. c) rebuscada. d) sarcástica. e) sintética. 54. A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos. c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos. d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas. 55. Leia a tira abaixo. Sobre a argumentação de Calvin, considere as seguintes afirmativas: 1. Ao se dirigir à professora, Calvin faz uma simulação do discurso jurídico, tanto no vocabulário quanto na organização dos argumentos. 2. A argumentação de Calvin está fundada na premissa de que a ignorância é uma condição necessária para a felicidade. 3. Calvin questiona a eficiência da professora quando diz que sua aula é uma tentativa deliberada de privá-lo da felicidade. 4. Ao gritar “Ditadura!” no último quadrinho, Calvin protesta contra o desrespeito à Constituição, que lhe garante o direito inalienável à felicidade. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 56. A conservação de alimentos é a arte de mantê-los o mais estáveis possível em suas características físicas, químicas e biológicas. Existem vários métodos para isso, entre eles, a conservação pelo frio, a irradiação e o uso de conservantes químicos. Com base na figura e nos conhecimentos sobre Andy Warhol, considere as afirmativas. I - Contrariando os meios de comunicação de massa, Andy Warhol adotava a pintura a óleo para representar as personalidades, pois assim reforçaria a ideia de imortalidade e durabilidade dos mitos. II - Seus trabalhos para embalagens de produtos de consumo, bem como a utilização do silkscreen para a reprodução, apontam para sua formação artística advinda da Bauhaus. III - A Arte Pop se coloca na cena artística como um dos movimentos que recusa a separação arte/vida, pela incorporação das histórias em quadrinhos e da publicidade. IV - O artista acreditava que a multiplicação das imagens pelo silkscreen enfatizava a ideia de anonimato e afastava qualquer vestígio de seus gestos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 57. Leia. A modernidade não pertence a cultura nenhuma, mas surge sempre CONTRA uma cultura particular, como uma fenda, uma fissura no tecido desta. Assim, na Europa, a modernidade não surge como um desenvolvimento da cultura cristã, mas como uma crítica a esta, feita por indivíduos como Copérnico, Montaigne, Bruno, Descartes, indivíduos que, na medida em que a criticavam, já dela se separavam, já dela se desenraizavam. A crítica faz parte da razão que, não pertencendo a cultura particular nenhuma, está em princípio disponível a todos os seres humanos e culturas. Entendida desse modo, a modernidade não consiste numa etapa da história da Europa ou do mundo, mas numa postura crítica ante a cultura, postura que é capaz de surgir em diferentes momentos e regiões do mundo, como na Atenas de Péricles, na Índia do imperador Ashoka ou no Brasil de hoje. (Antonio Cícero. Resenha sobre o livro “O Roubo da História”. Folha de S.Paulo, 01.11.2008. Adaptado.) Com a leitura do texto, a modernidade pode ser entendida como a) uma tendência filosófica especificamente europeia e ocidental de crítica cultural e religiosa. b) uma tendência oposta a diversas formas de desenvolvimento da autonomia individual. c) um conjunto de princípios morais absolutos, dotados de fundamentação teológica e cristã. d) um movimento amplo de propagação da crítica racional a diversas formas de preconceito. e) um movimento filosófico desconectado dos princípios racionais do iluminismo europeu. TEXTO PARA AS QUESTÕES 58 a 61: Conversando com os mortos Neste exato instante em que seus olhos passam por estas linhas, está ocorrendo um pequeno milagre da tecnologia. Não, não estou falando do computador nem da transmissão de dados pela internet, mas da boa e velha leitura, inventada pela primeira vez cerca 1 de 5.500 anos atrás. Para nós, leitores experimentados, ela parece a coisa mais natural do mundo, mas isso não passa de uma ilusão. Ler não apenas não é natural como ainda envolve cooptar uma complexa rede de processos neurológicos que surgiram para outras finalidades. Acho que dá até para argumentar que a escrita é a mais fundamental criação da humanidade. Ela nos permitiu ampliar nossa memória para horizontes antes inimagináveis. Não fosse por ela, jamais teríamos atingido os níveis de acúmulo, transmissão e integração de conhecimento que logramos obter. Nosso modo de vida provavelmente não diferiria muito daquele experimentado por nossos ancestrais do Neolítico. A conclusão é que, de alguma forma, conseguimos adaptar nosso cérebro de primatas para lidar com a escrita. Para Stanislas 2 Dehaene (matemático e neurocientista francês), operou aqui o fenômeno da reciclagem neuronal, pelo qual processos que 3 surgiram para outras funções foram recrutados para a leitura. A coisa funcionou tão bem que nos tornamos capazes de ler com 4 proficiência e rapidez, obtendo a façanha de absorver a linguagem através da visão, algo para o que nosso corpo e mente não foram desenhados. Antes de continuar, é preciso qualificar um pouco melhor esse "funcionou tão bem". É claro que funcionou, tanto que me comunico agora com você, leitor, através desse código especial. Mas, se você puxar pela memória, vai se lembrar de que teve de aprender a ler, um processo que, na maioria esmagadora dos casos, exigiu instrução formal e vários anos de treinamento até atingir a presente eficiência. Enquanto a aquisição da linguagem oral ocorre, esta sim, naturalmente e sem esforço (basta jogar uma criança pequena numa comunidade linguística qualquer que ela "ganha" o idioma), a escrita/leitura precisa ser ensinada e praticada. As dificuldades não são poucas. Começam nos olhos (só conseguimos ler o que é captado pela fóvea) e se estendem por todo o tecido neuronal. Um problema particularmente interessante é o da invariância. Como o cérebro faz para concluir que os caracteres mostrados na figura 1 são a mesma letra, apesar dos diferentes desenhos? Pior, mesmo quando fazemos uma sopa de fontes e misturamos tudo, continuamos decifrando a mensagem com pouca perda de velocidade. Comprove lendo a frase da figura 2. (Adaptado de SCHWARTSMAN, Hélio. Conversando com os mortos. Folha de S. Paulo. 14 jun. 2012.) Sobre quem gosta de ler Quando você vê alguém lendo um livro, presencia uma pessoa às voltas com uma grande exigência. A palavra escrita o põe na parede: pede a ele uma interação e manda às favas a passividade. A leitura fricciona a percepção; é a fricção de duas pedras – fiat lux! Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor. É como uma barriga grávida, num aceleradíssimo tempo de prenhez. A leitura enfia-se no presente, fabrica o que virá. Quem lê é um da Vinci, diagramando os recursos recebidos, aplicando cor. E fazendo. A importância primeira do ato de ler é essa negação da passividade, essa incondicional exigência de ação. É um ato de otimismo intrínseco. (Tom Zé (músico). In: Almanaque Brasil. www.almanaquebrasil.com.br/curiosidades-literatura/7171. Acesso em 11 jul. 2012.) 58. A partir da leitura do texto, considere as seguintes afirmativas: 1. A escrita é um recurso tecnológico, um código, e sua invenção redimensionou o conhecimento humano. 2. Na escrita, observa-se o problema da invariância quando um mesmo sinal gráfico é usado para representar letras diferentes. 3. O aprendizado da leitura é análogo ao da oralidade: ambos dependem de instrução formal e treinamento. 4. A escrita não possibilita apenas a ampliação da memória humana, mas também a interligação e o compartilhamento de informações. Corresponde(m) ao ponto de vista de Schwartsman no texto a(s) afirmativa(s): a) 1 apenas. b) 2 apenas. c) 2 e 3 apenas. d) 1 e 4 apenas. e) 1, 3 e 4 apenas. 59. Para a adequada interpretação do texto, é necessário identificar a que informações apresentadas previamente correspondem algumas expressões de sentido vago empregadas pelo autor. Considere as seguintes correspondências: 1. "Isso" (ref. 1) refere-se à existência de leitores experientes. 2. "Aqui" (ref. 2) refere-se à adaptação do cérebro para o uso da escrita. 3. "A coisa" (ref. 3) refere-se ao fenômeno da reciclagem neuronal. 4. "Algo" (ref. 4) refere-se ao deslocamento de processos de sua função original para possibilitar a leitura. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira. b) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. 60. Compare os seguintes trechos extraídos dos textos “Conversando com os mortos” e “Sobre quem gosta de ler”: — “Não, não estou falando do computador nem da transmissão de dados pela internet [...]”. (Schwartsman) — “Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor”. (Tom Zé) Em ambos os casos, os autores usam reiteradamente a negação para: a) questionar possíveis inferências que o leitor possa fazer a partir de afirmações anteriores. b) retificar afirmações feitas em trechos anteriores dos textos. c) dar ênfase aos trechos, destacando sua relevância na exposição do ponto de vista dos autores. d) inverter o sentido das frases, já que duas negações equivalem a uma afirmação. e) responder questões formuladas pelos próprios autores ao longo dos textos. 61. Os textos de Hélio Schwartsman e Tom Zé têm um tema em comum: a leitura. Sobre a abordagem desse tema pelos dois autores, é correto afirmar: a) Os aspectos neurofisiológicos da leitura são abordados em ambos os textos, embora os autores adotem pontos de vista diversos. b) Os aspectos interativos da leitura são abordados em ambos os textos, sendo sinalizados pelo título do texto de Schwartsman e tratados como tema central por Tom Zé. c) Ambos os autores têm como interlocutores principais as pessoas que não gostam de ler e apresentam argumentos para convencê-las da importância da leitura. d) Os dois autores focalizam as dificuldades relacionadas ao processo de aprendizagem da leitura, tema que tem a mesma relevância em ambos os textos. e) A contribuição do leitor na construção do sentido do texto é um tema recorrente nos dois textos, com maior ênfase no texto de Schwartsman. 62. Aquele bêbado — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio. — Curou-se 100% de vício — comentavam os amigos. Só ele sabia que andava bêbado que nem um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de exalcoólatras anônimos. ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991. A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”. b) aproximação exagerada da estética abstracionista. c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem. d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”. e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas. 63. A partida Acordei pela madrugada. 1A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. 2Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. 4Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor. Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. 3 Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. 5Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus? LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003. No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho: a) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir” (ref.1). b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco” (ref. 2). c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama” (ref. 3). d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor” (ref. 4). e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...” (ref. 5). Why Bilinguals Are Smarter Speaking two languages 5rather than just one has obvious practical benefits in an increasingly globalized world. But in recent years, scientists have begun to show that 10the advantages of bilingualism are even more fundamental than being able to converse with 11a wider range of people. Being bilingual, it turns out, makes you smarter. It can have a profound effect on your brain, improving cognitive skills not related to language and even protecting from dementia in old age. This view of bilingualism is 1remarkably different from 12the understanding of bilingualism through much of the 20th century. Researchers, educators and policy makers long considered a second language to be an interference, cognitively speaking, that delayed a child’s academic and intellectual development. They were not wrong about the interference: there is ample evidence that in a bilingual’s brain both language systems are active even when he is using only one language, thus creating situations in which one system obstructs the other. But this interference, researchers are finding out, isn’t so much a handicap as a blessing in disguise. It forces the brain to resolve internal conflict, giving the mind a workout that strengthens its cognitive muscles. Bilinguals, 2for instance, seem to be more adept than monolinguals at solving certain kinds of mental puzzles. In a 2004 study by the psychologists Ellen Bialystok and Michelle Martin-Rhee, bilingual and monolingual preschoolers were asked to sort blue circles and red squares presented on a computer screen into two digital bins — one marked with a blue square and the other marked with a red circle. In the first task, the children had to sort the shapes by color, placing blue circles in the bin marked with the blue square and red squares in the bin marked with the red circle. Both groups did this with comparable ease. Next, the children were asked to sort by shape, which was more challenging because it required placing the images in a bin marked with a conflicting color. 13The bilinguals were quicker at performing this task. 6 The collective evidence from a number of such studies suggests that the bilingual experience improves the brain’s 3socalled executive function — a command system that directs the attention processes that we use for planning, solving problems and performing various other mentally demanding tasks. These processes include ignoring distractions to stay focused, switching attention willfully from one thing to another and holding information in mind — like remembering a sequence of directions while driving. 14 Why does the fight between two simultaneously active language systems improve these aspects of cognition? Until recently, researchers thought 7the bilingual advantage was centered primarily in an ability for inhibition that was improved by the exercise of suppressing one language system: this suppression, it was thought, would help train the bilingual mind to ignore distractions in other contexts. But that explanation increasingly appears to be inadequate, since studies have shown that bilinguals perform better than monolinguals 4even at tasks that do not require inhibition, like threading a line through an ascending series of numbers scattered randomly on a page. The bilingual experience appears to influence the brain from infancy to old age (and 8there is reason to believe that it may also apply to those who learn a second language later in life). In a 2009 study led by Agnes Kovacs of the International School for Advanced Studies in Trieste, Italy, 7-month-old babies exposed to two languages from birth were compared with peers raised with one language. In an initial set of tests, the infants were presented with an audio stimulus and then shown a puppet on one side of a screen. Both infant groups learned to look at that side of the screen in anticipation of the puppet. But in a later set of tests, when the puppet began appearing on the opposite side of the screen, the babies exposed to a bilingual environment quickly learned to switch their anticipatory gaze in the new direction while the other babies did not. Bilingualism’s effects also extend into the twilight years. In a recent study of 44 elderly Spanish-English bilinguals, scientists led by the neuropsychologist Tamar Gollan of the University of California, San Diego, found that individuals with a higher degree of bilingualism — measured through a comparative evaluation of proficiency in each language — were more resistant than others to the beginning of dementia and other symptoms of Alzheimer’s disease: the higher the degree of bilingualism, the later the age of occurrence. Nobody ever doubted the power of language. 9But who would have imagined that the words we hear and the sentences we speak might be leaving such a deep imprint? Adapted from http://www.nytimes.com/2012/03/18/opinion/sunday/thebenefitsof-bilingualism.html 64. The psychological study done in 2004 (3rd paragraph) showed that a) the children in preschool had the same performances in both tests. b) bilingual children were more efficient in the most complex test. c) monolinguals are better at solving mental puzzles. d) blue and red are confusing colors for both groups. 65. The last two sentences of the second paragraph mean that the interference of bilingualism a) was considered positive in the past, but nowadays this view has changed. b) has always been a problem, since the brain has to solve an internal conflict. c) brings to the brain an internal conflict that improves its cognition. d) has proved to increase the disabilities of the brain and reduce the blessings it can have. 66. Mark the INCORRECT option. According to the text, recent researches prove that bilingualism a) causes general cognitive development. b) enables people to communicate better in both languages only. c) prevents people from suffering from problems related to memory and other mental disorders or delay these problems. d) is seen as positive cognitive interference. 67. Based on the text, it is NOT correct to state that bilingualism a) delays the symptoms of diseases related to old age. b) has effect on children’s brains. c) develops the ability of performing difficult tasks. d) is irrelevant for the elderly.