ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 4 INTRODUÇÃO Este caderno pedagógico tem como objetivo conceituar texto, intertextualidade e paródia. As atividades aqui propostas poderão ser trabalhadas em sala de aula, com alunos do Ensino Fundamental e médio. Os textos apresentados são de diferentes gêneros textuais: narrativos, charges, Anúncios Publicitários, Poesias, Provérbios Populares, Quadrinhos e Histórias Infantis. A proposta é diferenciar as aulas de língua portuguesa tornando-as mais agradáveis e produtivas. 5 CONCEITO DE TEXTO A palavra texto provém do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento. Fica evidente assim, que já na origem da palavra encontramos a idéia de que texto resulta de um trabalho de tecer, de entrelaçar várias partes menores a fim de se obter um todo interrelacionado. Daí podemos falar em textura ou tessitura de um texto, que é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade. Para Koch (2009), Na concepção interacional da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores, construtores sociais e o texto passam a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que dialógiamente nele se constroem e são construídos. Dessa forma, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem. Como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. Para Platão e Fiorim, o texto não é um aglomerado de frases. Observe este pequeno texto: Diálogo desencontrado Um garoto pergunta para o outro: - Você nasceu em pelotas? - Não, eu nasci inteiro. Quando o garoto pergunta: - Você nasceu em Pelotas, está se referindo à cidade em que nasceu. O outro garoto entendeu se ele havia perguntado se ele nasceu em pedaços. Toda a Leitura, para não ser equivocada, deve necessariamente levar em conta o que pode vir manifestado explicitamente por palavras ou pode estar implícito na situação concreta em que é produzido. 6 Observe este texto: “Chama o Aurélio” Certos casos de política, de tão inacreditáveis, acabam virando parte do anedotário. Ou vice- versa: algumas piadas traduzem tão bem determinadas características da cultura política que assumem ares de verdade. Em uma das hipóteses se encaixa a correspondência trocada, cerca de 20 anos atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então Secretário estadual do Interior, Ovídio de Abreu. Conta o deputado Elias Murad PSDB- MG) que Abreu sempre gostou de falar difícil. Numa certa ocasião, o secretário recebeu a informação de que Bom Sucesso (MG) sofreria um tremor de terra capaz de quebrar copos e trincar pratos. Preocupado, expediu rapidamente um telegrama ao prefeito: “Movimento Sísmico previsto essa região. Provável epicentro movimento telúrico sua cidade. Obséquio tomar providências logísticas cabíveis”. O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois chegava o telegrama do prefeito: “Movimento Sísmico debelado. Epicentro preso, incomunicável, cadeia local. Desculpe demora. Houve terremoto na cidade. Folha de São Paulo, 24/11/92 Explorando o texto: 1) Há quanto tempo ocorreu o fato narrado? 2) Baseando-se exclusivamente no texto, responda se o fato narrado realmente ocorreu, ou se trata de uma anedota. 3) Pode-se afirmar que houve comunicação entre o secretário e o prefeito? 7 4) Por que razão o telegrama do secretário não foi entendido pelo prefeito? Como pode se notar, a história relatada demonstra a importância do vocabulário nos atos de comunicação. O não conhecimento do significado das palavras pode impedir que as pessoas se comuniquem. E È evidente que comunicar-se não é fazer uso de palavras difíceis que poucos conhecem. Percebemos que, neste texto Abreu não conseguiu transmitir a sua mensagem. Lendo o texto, chegamos à conclusão de que, para entender qualquer passagem de um texto, é necessária confrontá-la com as demais partes que o compõem sob pena de dar – lhe um significado oposto ao que ela de fato tem. Em outros termos, é necessário considerar que, para fazer uma boa leitura, deve-se sempre levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida. Para koch (2009), Para que duas ou mais pessoas possam compreender-se mutuamente, é preciso que seus contextos sociocognitivos sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes. 8 Atividades sobre conceito de texto 1 ) Observe a 3ª placa presente no site Http:///WWW.reporterbrasil.org.br (24/07/2010) a) Qual o problema dessa placa? b) Procure sugerir o que poderia ser feito para evitar a interpretação indesejada. 2) Montagem de um painel com vários tipos de textos a ser montado em sala de aula pelos alunos. ( os alunos poderão escolher os textos em revistas e jornais). Leia o trecho que se segue: Certa vez uma família inglesa foi passar as férias na Alemanha. No decorrer de um dos passeios, viram uma pequena casa de campo, que lhes pareceu boa para passar as férias de verão. Foram falar com o proprietário, um pastor alemão, e combinaram alugá-la no verão seguinte. De volta à Inglaterra discutiram muito sobre a planta da casa. De repente a senhora lembrou-se de Ter visto o WC Confirmando o sentido prático dos ingleses, escreveram imediatamente para confirmar tal detalhe; a carta foi escrita assim: “Gentil Pastor, 9 Sou membro da família inglesa que há pouco visitou-o com o fim de alugar a sua propriedade no próximo verão. Como esquecemos um detalhe, muito agradeceríamos que nos informasse onde se encontra o WC” O pastor, não compreendendo o significado da abreviatura WC e julgando tratar-se da capela da seita inglesa White Chapel, respondeu nos seguintes termos: “Gentil Senhora, Tenho o prazer de comunicar-lhe, que o local de seu interesse fica a 12 quilômetros da casa. É muito cômodo, sobretudo se existe o hábito de ir lá freqüentemente. Nesse caso é preferível levar comida para passar lá o dia inteiro. Alguns vão á pé, outros de bicicletas. Proposta de redação: Continue, dando ao texto uma progressão coerente com o fragmento escrito. 10 Intertextualidade “Um discurso não vem ao mundo numa inocente solicitude, mas constrói-se através de um já dito em relação ao qual toma posição” A poesia não se volta sobre si mesma apenas para discutir sua própria criação e o ofício criador do poeta, ela também se alimenta de temas já explorados em outros textos, procurando estabelecer um diálogo entre diferentes visões do mundo, vale ressaltar que esse diálogo entre poemas e poetas é chamado de intertextualidade. Nesse processo, haverá sempre um texto original, que servirá de ponto de partida, e um texto-produto elaborado com base em alguma atitude com o original. Esse texto-produto pode resultar numa simples imitação, ou pode pretender a paródia, a polêmica, chegando na maior parte dos casos, a repensar o tema investigado segundo uma nova perspectiva histórica, ideológica e estética. Para o entendimento de um texto, frequentemente, acessam-se os conhecimentos prévios, decorrente de leituras anteriores e do próprio cotidiano. Desse modo, a intertextualidade ocorre quando o autor utiliza conteúdos referidos direta ou indiretamente de outros textos. Há varias formas de intertextualidade e cada qual possui suas peculiaridades, tais como: temática, estilística, explícita, implícita, autotextualidade, intertextualidade com textos de outros enunciadores entre outras. Assim, a intertextualidade temática é encontrada em textos científicos de uma mesma área ou corrente do pensamento onde se partilham e servem-se de conceitos e terminologia próprios (SANT’ANNA, 1995). Já a intertextualidade estilística ocorre quando o produtor do texto devido a seus objetivos, repete, imita e parodia estilos ou variedades linguísticas, sendo comuns as reproduções bíblicas. Nesse contexto, Alves (2002) vale-se da passagem bíblica do livro do Novo Testamento. Nessa passagem, o apóstolo Mateus cap. 4, v. 4, 11 relata a resposta dada de Jesus ao diabo, no momento em que é tentado no deserto “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra da boca de Deus” (BÍBLIA, [s. d.] p. 1.214) . A reinterpretação do autor é assim escrita “Não só de repolhos, nabos e batatas viverá o homem, mas também de violetas, orquídeas e rosas [...] (ALVES, 2002, p. 73), ou seja, ao homem não basta o alimento para viver, mas também a beleza, representada pelas flores. Quando o próprio texto menciona a fonte do hipertexto, ou seja, quando um outro texto ou fragmento é citado e atribuído a um outro anunciador recebe-se o nome de intertextualidade explícita. As citações, referências, menções, resenhas entre outros é um exemplo claro, tais como: “como diz o povo”, “segundo o povo”, “de acordo com os antigos” (SANT’ANNA, 1995). Na intertextualidade implícita, o produtor do texto introduz em sua obra intertexto de uma segunda pessoa sem mencionar explicitamente a fonte, tendo como objetivo de fazer com que o leitor siga a sua argumentação, orientação ou contraditar, ridicularizar e até mesmo argumentar em sentido contrário (KOCH & CAVALCANTI, 2007). Carvalho (2008, p. 50) aponta que a intertextualidade ocorre apenas quando há “o cruzamento de um texto anterior materializado num novo texto”. Assim, a intertextualidade é implícita quando se introduz, no próprio texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativo, quer de contraditá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar em sentido contrário. Na intertextualidade implícita com valor de subversão, a “descoberta” do intertexto torna-se crucial para a construção do sentido. Por seres fontes dos intertextos, de maneira geral, trechos de obras literárias, de músicas populares bem conhecidas ou textos de ampla divulgação pela mídia, bordões de programas humorísticos de rádio ou TV, assim como provérbio, frases feitas, ditos populares, etc. Esses textos–fonte fazem parte da memória coletiva (social) da comunidade, imaginando-se que possam, 12 em geral, ser facilmente acessados por ocasião do processamento textual, embora, evidentemente, não haja nenhuma garantia de que isso venha realmente a acontecer. Os exemplos são extremamente abundantes, como na publicidade, na música popular, no humor, na literatura e na mídia em geral. (Pensando nos provérbios e ditos populares, temos o “détournement”, segundo Grésillon e Maingueneau 1984), ele “consiste em produzir um enunciado que possui as marcas lingüísticas de uma enunciação proverbial, mas que não pertence ao estoque de provérbios reconhecidos”. O détournement envolve, em grande parte dos casos de subversão, uma contradição ao texto – fonte, por intermédio da negação de uma parte ou do todo, pelo apagamento da negação que aquele encerra, ou, ainda, pelo acréscimo de expressões adversativas. Por meio destas formas de détournement, entre os quais se podem mencionar: a)Détournement de provérbios, frases feitas, títulos de filmes, muito frequente, por exemplo, na publicidade, no humor na música popular, em charges políticas e nos textos humorísticos irônicos. Ducrot (1980, 1984), em sua teoria polifônica de enunciação, postula a existência, de pelo menos dois enunciadores: E1 e E2, ou seja, sob a voz de um único locutor, fazem-se ouvir outras vozes, uma das quais é endossada pelo locutor. E1 representa o enunciador genérico (on), e E2, o enunciador que contradiz o texto fonte, e ao qual o locutor adere ao proceder à retextualização. 13 Atividade sobre intertextualidade 1) Qual o provérbio matriz da paródia? 2) Que recurso sonoro é usado no texto? 3) Qual o significado do desenho que aompanha o texto verbal? 4) Qual recurso gráfico o autor utiliza na paródia? 14 1)Que provérbio matriz inspirou o autor? 2) Qual a intenção desse provérbio? 3) O resultado da paródia é irônico. Que sentido a frase passa a ter? Desafio: Você vai criar uma paródia de um provérbio e também uma ilustração que tenha ligação com o texto. Escolha um entre os seguintes: “ Quem espera, sempre alcança.” “D evagar se vai ao longe.” Leia o texto abaixo: Terezinha de Jesus Deu uma queda e foi ao chão: Acudiu três cavalheiros, Todos três chapéu na mão O primeiro foi seu pai, O segundo seu irmão O terceiro foi aquele que a tereza deu a mão. Da laranja quero um bago, Do limão quero um pedaço, Da morena mais bonita Quero um beijo e um abraço. Terezinha levantou-se, Levantou-se lá do chão, E sorrindo disse ao noivo Eu te dou meu coração. 15 O texto que você vai ler e a letra de uma música composta por Chico Buarque, cujo título é Terezinha. O primeiro me chegou Como quem vem da florista Trouxe um broche de ametista Me contou suas viagens E as vantagens que ele tinha Me mostrou o seu relógio Me chamava de rainha Me encontrou tão desarmada Que tocou meu coração Mas não me negava nada E, assustada eu disse não O segundo me chegou Como quem chega do bar Trouxe um litro de aguardente Tão amarga de tragar Indagou o meu passado e cheirou minha comida Vasculhou minha gaveta Me chamava de perdida Me encontrou tão desarmada Que arranhou meu coração Mas não me entregava nada E, assustada, eu disse não O terceiro me chegou Como quem chega do nada Ele não me trouxe nada 16 Também nada perguntou Mal sei como ele se chama Mas entendo o que ele quer Se deitou na minha cama E me chama de mulher Foi chegando sorrateiro E antes que eu dissesse não Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração. Chico Buarque.”Terezinha”. In: Poesia fora da estante – v.2, coord de Vera Aguiar Porto Alegre: Projeto, 2002. P107. Atividade 1 Compare os textos. a)O que é semelhante em ambos? b)O que é diferente? Atividade 2: a)Perceba o modo como cada texto está escrito, o jeito de descrever e de contar. Qual a finalidade de cada texto? Atividade 3 Nos dois textos, a mulher revela que se apaixonou. Essa revelação é expressa de modo diferente, mas a idéia é a mesma. Que versos indicam isso em. “Terezinha de Jesus.” “Teresinha” 17 Atividade 4 De qual texto você gostou mais? Explique sua preferência. Atividade 5: Observe a tirinha 18 presente no site WWW.monica.com.br comics tirinhas.htm.(29/07/2010) a)Com qual texto esta história em quadrinhos dialoga? b)Explique o que você entendeu da fala da Mônica no último quadrinho. Atividade 6: Observe uma charge política no Jornal e responda as questões propostas: a)Qual o assunto abordado na charge? b)Qual aspecto da realidade brasileira está sendo criticado pela desenhista? 18 O 3° quadrinho sugere que Garfield: a)desconhece tudo sobre arte, por isso faz a sugestão. b)acredita que todo pintor deve fazer algo diferente. c)defende que para ser pintor a pessoa tem que sofrer. d) conhece a história de um pintor famoso e faz uso da ironia. e) acredita que seu dono tenha tendência artística e, por isso, faz a sugestão. 19 Atividade 7 Texto 1 Provérbios do planalto (JÔ Soares) A cargo dado não se olha o dente. Quem rouba um tostão é ladrão, quem rouba um milhão está defasado. Depois da impunidade vem a bonança. Aqui se faz, aqui se pega. Há malas que vem para o bem. A corrupção tem razões que a própria razão desconhece. A comissão faz o ladrão. Uma aliança só não faz verão. Texto 2 Mínimas ( Luís Fernando Veríssimo) Deus ajuda a quem cedo madruga. Pense duas vezes antes de agitar. Em terra de cego, o trânsito deve ser uma loucura. O sol nasce para toldos. Penso, logo hesito. Hoje em dia é mais fácil pegar uma coxa do que um mentiroso. Observe os provérbios de Jô Soares e de Luís Fernando Veríssimo e responda a questão proposta. a)Escolha cinco provérbios e escreva-os na forma original. 20 . Pensando que a paródia é um gênero textual, para Ingedore (2007): O texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente nele se constroem e são construídos. Para a autora, o texto é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e sua reconstrução no interior do evento comunicativo (p. 16). Todo o texto é, portanto, um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical do seu interior, com seu exterior. Dele fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais dialoga que ele retoma a que alude ou aos quais se opõe. Nas palavras de Bakhtin (1982, p. 162): O texto só ganha vida em contato com outro texto (Com contexto). Somente nesse ponto de contato entre textos é que uma luz brilha, iluminando tanto o posterior como o anterior, juntando dado texto a um diálogo. Enfatizamos que esse contato é um contato dialógico entre textos. Por trás desse contato, está um contato de personalidade e não de coisas. Dessa forma, de acordo com este autor, um texto sempre estará impregnado de outros textos, quem fala sempre se apóia em outras falas, assim, o discurso não é neutro, pois traz em seu interior outras mensagens anteriormente internalizadas. 21 Um Gênero textual : A Paródia O termo paródia tornou-se conhecido a partir do século XVII, por usar o estilo épico para representar os homens não como superiores ao que são na vida diária, mas como inferiores. O dicionário de Literatura de Brewer, apud Sant’Anna (1995, p. 12), define paródia como “uma ode que perverte o sentido de outra ode”. Por meio de seus estudos sobre os efeitos cômicos da paródia, Bakhtin (1998) a considerou como oposição a estilização, dando a mesma um caráter central na literatura. Há segundo Shipley (apud Sant’Anna1995), três tipos de paródia: a verbal que altera uma ou outra palavra do texto, já a formal, o estilo e os efeitos técnicos de um escritor são utilizadas por meio de zombaria; por último a temática que se utiliza da caricatura para expressar a forma de espírito de um autor. Para Hutcheon (1989), a paródia pode ter caráter desestabilizador e/ou transgressor, todavia, também pode ser conservadora já que é naturalmente uma forma de Paródia. A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e, por isso, é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequentemente os discursos de políticos são abordados de 22 maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. Gerzeli et al. (2002) chama atenção para os radicais do termo paródia, no qual nele o elemento ode remete a ode, ou seja, uma composição poética lírica composta de estrofes simétricas. E assim, sua origem remete ao conceito de carnavalização e suas relações com a comédia e consequentemente o riso. Entende-se que “o parodia dor é um inconformista que, paradoxalmente, assume e recusa a própria cultura” (ARAGÃO, 1980, p. 19). É necessário ter em mente de que a elaboração de uma paródia requer entendimento de que ela é uma brincadeira realizada a partir de textos, independente se poemas, letras musicais, provérbios, entre outros, tendo como objetivo a produção do humor. Na paródia, o significado do texto é modificado com o objetivo de produzir o humor. Sendo assim, a paródia é um dos maiores modelos de construção formal e temática de textos, no qual sua a função hermenêutica implica simultaneamente a questão cultural e ideológica (HUTCHEON, 1989), ou seja, como diz Millor Fernandes “em terra de cego quem tem um olho é estrangeiro”, ou melhor, segundo dizia Vicente Matheus (1908-1997), “quem sai na chuva é para se queimar”. 23 Atividades sobre paródia Atividades:Para responder as questóes de 1 a 3, observe as fotos no site: http://www.brasilescola.com/ A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um dos quadros mais famosos do mundo.. O olhar, o meio-sorriso, a postura, a posição das mãos da personagem são alguns dos elementos que têm encantado milhões de pessoas ao longo dos séculos. A personagem retratada, também chamada Gioconda, é um dos símbolos universais da feminilidade. 1) A pintura de Marcel Duchamp, feita quatro séculos depois,evidentemente cita a Mona Lisa renascentista. A) O que essencialmente diferencia o quadro de Duchamp do quadro de Da Vinci? B) Para você que sentido tem a “novidade” introduzida por Duchamp: originalidade, inovação, criatividade, agressão, destruição ou provocação? 2) O quadro de Duchamp mantém um diálogo com o Davinci. a) O quadro de Duchamp também pode ser considerado uma paródia? Justifique a sua resposta. 24 3) Leia os textos a seguir. O primeiro foi escrito no século xIx por Casimiro de Abreu, poeta romântico. O segundo foi escrito por Oswald de Andrade, escritor Modernista do Século xx. Meus oito anos Oh que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores Naquelas tardes fagueiras Á sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais! (Casimiro de Abreu) Meus Oito Anos OH que saudades que tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da rua de Santo Antônio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais. Ambos os poemas se intitulam “Meus Oito Anos”. Compare-os: a) Qual é o tema de ambos os textos? b) Como é o tema abordado no poema de Casimiro de Abreu? c) E como é abordado no poema de Oswald de Andrade? 25 d) Na opinião de Oswald de Andrade, como seria uma infância de verdade no Brasil? Os poemas que seguem são três canções do exílio. A primeira é de Gonçalves Dias; a segunda, de Murilo Mendes; a terceira de Carlos Drummond de Andrade. Texto1 Canção do Exílio (Gonçalves Dias) Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores. Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá, Sem que desfrute os primores Que tais não encontro eu cá, Sem que inda aviste as palmeiras Onde canta o sabiá. Texto 2 Canção do Exílio (Murilo Mendes) Minha terra tem macieiras da Califórnia Onde cantam gaturamos de Veneza Os poetas da minha terra 26 São pretos que vivem em torres de ametista, Os sargentos do exército são monistas, cubistas Os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir Com os oradores e os pernilongos. Os sururus em Família têm por testemunho a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas Nossas frutas são mais gostosas Mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade E ouvir um sabiá com certidão de idade. Texto 3 Nova Canção do Exílio (Carlos Drumond de Andrade) Um sabiá na Palmeira, longe. Estas aves cantam Um outro canto. O céu cintila Sobre flores úmidas. Vozes na mata, E o maior amor. Só, na noite, seria feliz: Um sabiá, Na palmeira, longe Onde tudo é belo E fantástico, 27 Só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e Voltar, para onde tudo é belo e fantástico: A palmeira, o sabiá, O longe. Questão 1 Qual das estrofes da canção do texto1 é lembrada no Hino Nacional Brasileiro por uma citação parcial? Questão 2 No primeiro texto, a oposição e a distância são marcadas por dois advérbios insistentemente repetidos ao longo do poema. Quais são eles e o que cada um representa? Questão 3 Há passagens do poema de Murilo Mendes que lembram outras do poema de Gonçalves Dias. Comprove esta afirmação transcrevendo do texto de Murilo trechos similares aos de Gonçalves Dias. Questão 4 No poema de Murilo Mendes Há também exaltação da pátria como no poema de Gonçalves Dias° 28 Questão 5 A “Nova Canção do Exílio” (texto três), de Drummond, contém como a de Gonçalves Dias, cinco estrofes. È possível afirmar que ambas são semelhantes sob o ponto de vista de metrificação? Questão 6 Os dois versos de Gonçalves Dias “Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabiá” vêm retomados por dois versos da “Nova Canção do Exílio”, os quais se repetem várias vezes no percurso do poema. De que verso se trata? Proposta de redação: 1) Observe os textos: “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias e “meus oito Anos” de Casimiro de Abreu.” Escreva uma paródia baseando-se num destes textos. Não esqueça, sua paródia deverá ter: Crítica, humor e originalidade. 29 Leia o texto abaixo: CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA - Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica. - Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que é que houve? 22 - Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, heim? - Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Tá tão esquisito, vovó. - Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue. - Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto. - Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? - Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval? - Se lembro, se lembro... - Vovó, sem querer ser chata. Ora, diga. - As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó! - Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde á se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me 30 desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta juventude está perdida mesmo. - Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. O que é isso? - Também tenho que entrar na moda, não é minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo ao programa da Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas? Chapeuzinho pula para trás: 23 - E esta boca imensa???!!! A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: - Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! Atividade 1 Assim como outros autores, você pode criar uma versão diferente e divertida de uma história infantil que você conheça. 31 REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 4. ed. 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