UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AS DIFICUDADES ESCOLARES DA CRIANÇA Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós – Graduação “Lato Sensu “ em Psicopedagogia Por: Adriana Gonçalves Ferreira Orientada por: Celso Sanchez 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO “ LATO SENSU “ PROJETO A VEZ DO MESTRE AS DIFICULDADES ESCOLARES DA CRIANÇA Este estudo pretende demonstrar que muito antes de pensar e expressa –se, a criança sente , e aprende melhor e mais depressa quando sente –se querida , e é tratada como um ser singular. 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, aos meus pais , minha filha Lorena , meus irmãos e aos professores do projeto “A Vez do Mestre”. 4 DEDICATÓRIA Dedico as minhas três mulheres: Minha mãe Arlene , minha filha Lorena e minha avó filhinha ; que sempre me incentivaram a buscar os meus ideais. 5 RESUMO A psicologia do desenvolvimento e a psicologia da aprendizagem assentaram quatro grandes princípios universalmente aceitos e que , se realmente compreendidos e postos em ação, determinam o nível qualitativo da educação. Esses princípios referem –se : Primeiro , ao crescimento e desenvolvimento humano como processo contínuo , ordenado, gradual , móvel e , sob muitos aspectos altamente individuais; segundo , à aprendizagem como um processo real e eficaz se baseado na experiência ; terceiro, à aprendizagem como uma situação educacional mais produtiva ,mais gratificante e mais humana se apoiada sobre os interesses pessoais e as experiências da criança e quarto , à qualidade ótima do ensino se este desenvolver -se sobre o reconhecimento das diferenças individuais e a criação de condições adequadas para atende - las . A valorização do estudante como um indivíduo singular , destinado a contribuições originais, leva-o naturalmente ao gozo da liberdade e à assunção de responsabilidades. Se compreender e aceitar que a necessidade de autovalorização e autocentração é importante na ação educativa ainda mais espontânea e decisiva será o contacto que o mestre vai manter , daí por diante , com o eu em formação . Isto evidentemente é tarefa ingente que não prescinde o concurso de conhecimentos da Psicologia infantil e juvenil e de um esforço contínuo do professor em direção de seu próprio crescimento pessoal. 6 METODOLOGIA O presente estudo trata das dificuldades encontradas pelas crianças no convívio escolar e a influência do professor , dos pais e da escola no processo da aprendizagem , segundo referências bibliográficas dos diferentes teóricos pesquisados. São eles: B.Andrey, J. Lê Men , G. Mauco, R. A. Rosenthal e L. Jacobson e M. Klein . A aprendizagem é um processo dinâmico e multidimensional . Abrange fatos da vida e áreas de conhecimento sempre móveis , mutáveis , em evolução e transformação. Nada é estático para o ser humano : tudo se caracteriza pela mobilidade e o dinamismo . Assim , a aprendizagem é também um processo vital e sua vitalidade é mutacional , transformadora , evolutiva . A aprendizagem é tão difícil e multidimensional quanto à própria vida. Ela "envolve dimensões de sentimento, interesse, curiosidade, coragem e prontidão", e só esta aprendizagem é realmente duradoura: A que se liga à vida. Infelizmente, em nosso ensino, a ausência de emoção e envolvimento afetivo é tão dramática que é comum ouvir –se, por toda à parte e em todos os níveis de escolaridade, os alunos dizerem que a vida está lá fora, além dos muros da escola , como se aprendizagem e a formação escolar fossem processos não existenciais, definitivamente apartados das naturais alegrias e dificuldades de viver. Um homem novo para um mundo novo é construção não apenas de uma família e de uma nova escola, mas também de uma nova política: Obviamente a que assumir para si a responsabilidade de dar ao homem o único destino que merece, o de viver uma vida realmente digna de ser vivida. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 08 CAPÍTULO I - A fobia escolar .................................................................................. 14 CAPÍTULO II - O fracasso escolar ............................................................................... 20 CAPÍTULO III - O atraso escolar .................................................................................. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 26 ANEXOS .......................................................................................................................... 28 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................. 33 ÌNDICE .............................................................................................................................. 34 FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................................ 35 8 INTRODUÇÃO Para a criança , entrar na escola é entrar em um mundo novo, onde ela deverá adquirir um certo número de conhecimentos (progressivamente mais complexos) que lhe serão necessários em uma dada sociedade , e cujas bases (pelo menos) serão indispensáveis a seu futuro desenvolvimento. É uma novidade , não apenas do ponto de vista psicológico geral – porque a partir daí ela passa de um sistema de conhecimentos livremente adquiridos (em princípio) para um sistema de conhecimentos fundamentados sobre um certo número de regras de aprendizagem - como também do ponto de vista afetivo porque a escola implica a separação do meio familiar novas formas de adaptação social, em razão da necessária integração a um grupo novo , em geral heterogêneo, distinto do meio parental e fraterno . A finalidade da escola é ensinar e a do aluno é aprender ; trata – se aí, em princípio , de uma comunicação através do desejo de saber de um e da necessidade de transmitir do outro; mas existe , até certo ponto , uma oposição entre o desejo da criança e certos objetivos e métodos rígidos no ensino. Com efeito , a criança tem suas necessidades e desejos próprios; a sociedade , através da escola , tenta impor- lhe um modo de ver e de pensar conforme uma estrutura que pertence àquela sociedade . Há algum tempo , alguns pedagogos reagiram contra essa tendência tradicional de transmitir conhecimento de modo autoritário. Eles sempre se chocaram com a oposição do poder estabelecido (quando não com a dos pais , assustados com a novidade) quando se trata de substituir a noção de constrangimento pela de motivação ; motivação da criança pela escola e da escola pela criança . Alguns elementos novos foram timidamente introduzidos nas classes tradicionais, mas não parece que isto tenha sido de grande utilidade quanto à situação da escola em geral e, em particular, de um ensino que é preparado e permite satisfazer às exigências de exames do tipo atualmente existentes . O ideal residiria , portanto , em uma mudança completa e concomitante do ensino e das formas de conhecimentos exigidos nas provas (caso estas fossem necessárias). Partindo – se do modelo pedagógico presente , quais são as motivações que sustentam a aprendizagem da criança ? Elas são de ordens diversas, como mostram B. Andrey e J. Lê Men : 9 -Motivações de ordem social (a valorização do conhecimento dependendo de fatores sócio – econômicos e culturais do grupo), motivações em face da família (sendo o esforço escolar considerado como um modo de agradar os pais e os bons resultados em classe constituindo um valor de troca com eles) , motivações dos pais - para quem o modelo proposto à criança é , geralmente , estar um ano adiantado , classificar – se nos cinco primeiros lugares , seguir os estudos sem ininterrupção e entrar para a faculdade aos dezenove anos . Como observam B. Andrey e J. Lê Men , isto é tanto mais lamentável quanto este tipo de bom aluno é quase sempre proposto como o protótipo do bom filho, em detrimento de todo o realismo , já que apenas 10% das crianças têm alguma probabilidade de satisfazer tais desejos. -Motivações individuais da criança ; para alguns, o sucesso acadêmico é essencialmente valorizado em função dos outros alunos do mesmo grupo e importa reações de amor – próprio e vaidade ; geralmente esquecemos que existe também na criança um desejo de saber e um prazer em aprender . Esses autores insistem , igualmente , nas etapas pelas quais passará a criança, que deve sair da brincadeira para o trabalho : _ Até os sete anos , a escola aparece para a criança como um jogo sério, graças ao qual ela imita o trabalho dos adultos . É a idade onde a introjeção da personalidade dos adultos é feita, essencialmente , pela imitação do aspecto exterior do outro. _Entre os sete e dez anos, encontramos as motivações descritas acima , isto é , satisfação de amor – próprio , desejo de agradar , curiosidade; mas elas só permanecem cerca de 25% dos estudantes ; para os outros, a escola é uma corvéia inevitável, com lados agradáveis que se ligam mais ao grupo do que à escola em si. _ A partir dos doze anos, a escola é nitidamente percebida pela maioria dos pré – adolescentes como uma preparação direta para profissão, e o 2º ciclo pode surgir como um meio de acesso à cultura ou apresentar- se sob seu aspecto de valor de troca e de comunicação, mas a característica deste período reside no fato de que o adolescente e o adulto jovem fazem um aclara diferença entre o fim e o meio. Se eles aprovam o fim (acesso à profissão e à cultura), eles criticam os meios , embora os suportem mais ou menos bem. A criança pode, portanto , aceitar a escola seja por interesse, seja pela necessidade de uma certa autonomia, ou considera – lá como um a nova aventura e uma possibilidade de travar 10 novas amizades . Não há dúvida , entretanto, que a separação no início da escolaridade nem sempre é fácil, porque não se trata apenas de deixar o grupo parenta; trata –se de uma adaptação a um mundo novo, com fórmulas mais rígidas,trata – se de tomar consciência de uma nova realidade, da qual, até certo ponto, a vida de fantasia está excluída , “não estamos aqui para sonhar” (mundo de competição , de novos ciúmes, das primeiras humilhações em público), trata –se de assumir suas primeiras responsabilidades, até então desconhecidas . Por algum motivo, nem sempre a criança é aceita pelo grupo escolar no qual penetra ; parece que a aceitação é função não de sua inteligência, mas de seu grau de maturação, de sua capacidade de participação e de uma certa engenhosidade nas relações, o que depende , de fato, da anterior organização afetiva da criança . Por outro lado, as crianças que não são capazes de se adaptar a grupos heterogêneos grandes podem encontrar uma solução na criação de subgrupos homogêneos. Elemento unificador importante no grupo, o professor , que é o adulto no seio desta sociedade nova, representa o conhecimento e a autoridade. A pedagogia deveria procurar articular - se , conforme G. Mauco , tendo por base a expressão simbólica do aluno. Todo aluno chega com seus desejos , sua história , suas insatisfações, expressas por seu simbolismo próprio. Há nele dois personagens : O inconsciente, através do qual se exprimem os desejos profundos , e o consciente , que se expressa no papel social. O professor deve agir sobre esses dois aspectos , mas ele próprio tem também dois papéis : Um é de o de transmitir os conhecimentos de modo pedagogicamente adequado ; o outro é responder às transferências do grupo, ou de cada uma das personalidades deste grupo, em relação a seus próprios problemas. Como diz G. Mauco, a relação aluno – professor dependerá , portanto , em grande parte , de como é o professor inconscientemente , de seu grau de maturidade afetiva ; de suas reações ao comportamento inconsciente da criança resultará a natureza de seu diálogo. A criança é um símbolo carregado de ressonâncias afetivas no inconsciente do adulto, isto é, do professor ; ela atrai inconscientemente aquilo que restou da infância deste; ela suscita o sadismo por sua fraqueza e o autoritarismo por sua passividade ; solicita a libido por sua necessidade de ternura e a ansiedade por sua falta de controle das pulsões ; dá um sentimento de superioridade ao adulto inferiorizado; faz nascer à angústia em um masoquista em luta com sua agressividade . Não é preciso dizer , portanto, que se o professor permanece imaturo ele reagirá inconscientemente à 11 imaturidade natural da criança, mas se tem uma maturidade pessoal que lhe permitiu resolver suas próprias dificuldades, poderá ajudar a criança a viver e a resolver as dela . Como diz ainda aquele autor ,a escolha da profissão de professor foi, em geral, orientada por desejos inconscientes ; alguns tornam – se professores para ficar no mundo da criança e fugir à realidade dos adultos , outro busca uma afirmação mais fácil de si mesmo, alguns seguirão o desejo de representar um papel de pai ou o desejo de compensar um ciúme fraterno reprimido. Cada um de nós , na escolha de sua profissão, tem razões inconscientes, mas a tomada de consciência dessa escolha é capital quando se trata do ensino , de assumir a responsabilidade por um conjunto de sujeitos em evolução, que vão viver essas relações transferências com uma agudeza tal, a ponto de transferirem, para o plano escolar , os problemas da atmosfera familiar, para um professor presente por longo tempo, enquanto o pai, em geral, o está apenas episodicamente. O professor torna –se modelo de identificação a partir do momento em que começa uma comunicação entre ele e o aluno, mas isto só é compreendido por meio da relação que provoca; se a um estímulo positivo a criança reage de modo negativo, o professor corre o risco de reagir em função de sua própria fragilidade e de seus problemas pessoais por uma animosidade contra si mesmo, mas igualmente contra o aluno, com as armas que sua posição hierárquica lhe oferece . É desejável que se estabeleça um verdadeiro diálogo entre o professor e o aluno , e nunca um modo de relação falsificada pela crença em uma superioridade do adulto sobre a criança (inconscientemente considerada como inferior), modo de relação hierarquicamente verdadeiro, mas afetivamente falso , onde um é o detentor do saber e o outro é o ignorante. Existe com freqüência , por isso, um período durante o qual o jovem aluno que deseja se manifestar pela independência vê – se confrontado com uma certa ambivalência pessoal em relação ao mestre , que dá e, ao mesmo tempo, impõe e freia sua criatividade, quase sempre desordenada . O professor deve se sentir muito próximo à criança para compreender , mas deve saber,ao mesmo tempo, manter distância para melhor controlar seus afetos e poder analisar sua relação transferencial .em seu estudo “Pigmaleão na escola”, R.A. Rosenthal e L. Jacobson mostram a importância para a criança do preconceito favorável do professor. Os autores colocaram , em cada classe de uma escola , desde o curso preparatório até a sexta série, um grupo de crianças escolhidas ao acaso entre 12 as que chegavam , e as apresentaram a cada um dos professores como sendo capazes de mostrar um desenvolvimento particularmente rápido . O preconceito favorável teve valor de previsibilidade ; as crianças dos grupos experimentais ganharam ,no correr do ano , mais de 12 pontos no Q.I; contra 8 para os grupos - controle. Os melhores resultados foram obtidos na classe preparatória , onde o professor não podia ser influenciado pela opinião dos antigos professores das crianças. Os pais parecem ausentes nesta sociedade nova que é a escola , mas, na verdade , ocorre o oposto. Se para a criança a escola é um campo novo de experiência no qual ela revive e assume seus problemas familiares sob novas formas (e isto constitui um progresso no quadro geral da evolução da personalidade), para os pais , a escolaridade da criança representa uma recolocação de seus problemas pessoais ; eles podem sentir a escolarização como uma separação, como um início de autonomia para a criança , como as premissas da individualização socialmente aceita, como uma transferência de autoridade oficialmente reconhecida (o conhecimento que a criança adquire lhe é oferecido por outra pessoa), e a sociabilidade nova como uma ameaça à unidade do grupo familiar .Isto se reflete, com freqüência , nas atitudes ambivalentes de certos pais – para os quais a criança aprende coisas na sala de aula, mas adquire aí também maus hábitos - e em suas reações frente à personalidade do professor - julgado, às vezes, como muito autoritário e severo, outras vezes como muito permissivo, porque “não conhece a criança o suficiente”. Essas reações, geralmente expressas diante da criança , criam nesta um estado de perplexidade e dúvida, e impedem , com freqüência, uma boa integração. Tal atitude dos pais pode ser utilizada pela criança ,por vezes contra a escola , por vezes contra a família. Além disso, a escolaridade da criança desperta nos pais seus próprios problemas escolares ou trazem à tona , inconscientemente , suas ambições ou desejos insatisfeitos . Projetam sobre a vida da criança sua insegurança , e sobre o professor as dificuldades que eles próprios tiveram na escola em relação à autoridade , ou transferem para o mestre suas dificuldades como pais – daí a exigência de uma boa escolaridade – ou, ao contrário, a desvalorização dos êxitos – com reações por vezes agressivas em relação ao mestre , julgado por demais severo ou permissivo ; o êxito da criança é o ideal do Ego em projeto, que pode se realizar , tornando –se a criança o instrumento desse ideal. Se um fracasso pode ser sentido como uma derrota pessoal, pode ser visto também, de um modo mais ou menos consciente (sobretudo quando 13 não é catastrófico), como uma forma de garantia , da não ultrapassagem das capacidades próprias dos pais. Portanto, estes vão exercer um papel capital no interesse ou indiferença da criança em relação à escola , ou em sua oposição. A participação dos pais no trabalho da criança é útil, quando livremente consentida e quando esta vê na participação um apoio e uma demonstração de afeto; mas esta ajuda pode ser sentida como agressiva , quando é um fruto da obsessão dos pais e uma demonstração de perfeccionismo pessoal; a criança pode , em dado momento, ter necessidade desse auxílio porque foi habituada a ele, mas , ao mesmo tempo, revoltar – se pela impressão que desperta de perda de autonomia. A importância das contribuições culturais familiares tem um papel nas necessidades de aquisição de conhecimentos, mas se a identificação com o pai, válida intelectualmente, é em geral um fator positivo, certos fracassos podem também ser explicados pelo medo de chegar a igualar – se a ele ou pela possibilidade de ultrapassa – lo. Por outro lado, assim como existe uma rivalidade no grupo escolar, podem existir rivalidades quanto à escola no grupo fraterno, podendo os fracassos ou os êxitos ser utilizados entre irmãos como formas contraditórias de relação com pais. 14 CAPÍTULO I A CRIANÇA E A ESCOLA A FOBIA ESCOLAR Apesar de se conhecer há muito tempo o absentismo escolar e a instituição da gazeta na infância , foi apenas em 1941 que A. M. Johnson e colaboradores isolaram a fobia escolar , distinguindo assim, de um lado, as crianças que apresentam distúrbios de conduta , acompanhados às vezes por tendências delinqüentes e, de outro , um grupo de crianças que, por motivos “irracionais”, recusam – se a ir à escola e resistem com reações de ansiedade muito intensas ou de pânico quando se tenta forçá – las . Com efeito , a criança com fobia escolar deseja ir à escola e tem ambições acadêmicas, ao passo que o aluno “gazeteiro” não gosta da escola e prefere vagar pelas ruas. Com freqüência , tem – se colocado no grupo da fobia escolar um certo número de distúrbios que se ligam ao problema mais vasto de inadaptação escolar. A fobia à escola parece mais freqüente no filho único e na menina do que no menino. Se , para certos autores , o status sócio – econômico, a origem étnica e a afiliação religiosa tem pouca importância na sua gênese, cremos , entretanto, que esta fobia aparece com maior freqüência entre filhos de intelectuais e crianças que pertencem a famílias de classe média, onde a necessidade de ascensão social é bastante manifesta. A freqüência da fobia escolar é muito variada e depende de limites fixados pela própria definição dessas fobias. Parece , entretanto, que tem aumentado nestes últimos anos. A idade de aparecimento varia de 5 a 13 anos. A inteligência é, com freqüência, normal ou acima do normal. 1.1 QUADRO CLÍNICO 15 O quadro mais clássico é a crise de angústia aguda ligada às primeiras idas à escola, com raiva , cólera e oposição violenta , que se manifestam seja em casa, no momento de ir para escola , seja na volta . A ansiedade pode se somatizar; é expressa, então, por vômitos , dores abdominais ou cefaléias ; essas manifestações desaparecem se a criança não vai à escola ou quando volta para casa. Esta sintomatologia primária pode ser utilizada secundariamente pela criança de modo mais ou menos consciente. Esta utiliza , igualmente , mecanismos regressivos , como a enurese ou a encoprese. A crise de ansiedade aguda (ansiedade de separação) está ligada , mais freqüentemente , ao início da escolarização; a somatização existe em todos os níveis de idade escolar , mas a verdadeira fobia escolar aparece em uma fase mais tardia , entre uns oito e dez anos. Caracteriza – se seja por uma fobia da aprendizagem , seja por uma fobia à própria instituição , ou uma fobia ao professor ou medo de relações novas com seus companheiros. Neste caso, tem como conseqüência uma escolarização precária com enorme culpa, ou a resolução da fobia , pela aceitação mais ou menos clara do fracasso. É nesta idade que encontramos formas fóbicas associadas à gazeta (CI Launay) , que não se relacionam à simples necessidade de passear, nem a uma atividade lúdica ou um prazer , mas a uma fobia propriamente dita. 1.2 PSICOPATOLOGIA Se às vezes a fobia escolar aparece sob a forma de um medo considerado como relativamente específico, outras vezes ela se revela no próprio quadro da escolaridade, mas trata –se , então , de crianças que apresentam outros tipos de medo – medo de animais, de estranhos, de visitar pessoas de família, inquietude em relação à morte, etc.( H. Barkwin) . Quando o fenômeno da fobia surge durante a fase escolar, é um fenômeno circunstancial, na medida em que representa um problema sociológico novo para a criança ; quando diz respeito a uma ansiedade nascida do medo de deixar a casa ou a mãe, seria preferível denomina -,lá “ ansiedade de separação ‘’, e não fobia . Numerosos autores descreveram fatores desencadeantes, entre os quais podemos citar: mudanças de escolas, mudanças de país, benefícios obtidos pela criança durante uma 16 doença e doença dos pais. Estes são fatores que evidenciam a nostalgia de um certo ambiente anterior , extremamente valorizado, os benefícios secundários que se pode obter da superproteção materna quando se está doente , a ligação mais ou menos intensa em relação aos pais quando estes adoecem. De fato, a fobia escolar só pode ser compreendida em relação à situação quadrangular – escola – pai- mãe – criança - e, sobretudo, em relação à situação triangular pai – mãe – criança . A escola é o pólo psicológico que, tornando – se temido, polariza – se na fantasia a partir da situação triangular e da organização da personalidade da criança . Em 1957, retomando seu estudo de 1941 , A. M. Johnson admite que a fobia escolar aparece no quadro de uma situação de dependência não resolvida entre mãe e filho , coincidindo com fatores precipitantes que provocam uma ansiedade aguda da criança. A formulação de J. Rouart “mãe esmagadora – pai esmagado” é bastante válida para grande número de casos, mas outros autores descreveram outros tipos de padrões triangulares . Assim, L. A . Hersov descreveu 3 tipos principais: mãe superindulgente e pai passivo, dominados por uma criança obstinada e exigente ; mãe severa – dominadora e pai passivo, com uma criança tímida e temerosa , susceptível de se revoltar na adolescência ; pai firme e mãe superindulgente, ligados a uma criança obstinada e exigente. L. Eisenberg, a partir do estudo de uma casuística importante de fobias escolares, observa que todas as mães são ansiosas e ambivalentes. Encontramos em sua anamnese relações precárias com sua própria mãe; elas lutaram para escapar do domínio de uma mãe ou sogra “superprotetora”; teriam apresentado, já numa idade muito precoce , uma hipersolicitude apreensiva em relação ao filho; elas reexperimetam , através do filho, sua própria infância infeliz e sua impressão de solidão e incompreensão.Um grande número dessas mães não tem relações matrimoniais satisfatórias e transferem seus afetos para este ser , filho e amante , que é ao mesmo tempo seu refém e uma armadilha que as prende. Mas neste diálogo, que a mãe desejaria monólogo simbiótico, a criança não é um objeto passivo. Deste ponto de vista , pode – se aceitar a dinâmica mãe – filho como círculo fechado, que se inicia pela superproteção materna e a dependência infantil , continua por uma hostilidade infantil com ansiedade e uma contra – hostilidade e materna, explosões de raiva materna seguidas de sentimentos de culpa, e termina por um novo aumento da superproteção materna . Se, no conjunto, o modo de relação mãe – filho é 17 capital, observa – se que os pais dão pouco apoio à esposa . Eles estão bem mais ligados a seus interesses profissionais que no lar , e seu papel limita – se com freqüência a criticar o modo de relação mãe - filho. H. Bakwin aceita uma interpretação bem semelhante , e admite também que a criança não tem , primitivamente, o medo de ir à escola, mas sim o medo de deixar a mãe. Preocupa – se por não estar segura de sua afeição e teme que ela a abandone, ou teme que seu pai, que pode te – la ameaçado, possa fazer – lhe mal. A mãe, por seu lado, liga – se ao filho como principal fonte de satisfação afetiva. O comportamento materno é também parte integrante do quadro clínico. Qualquer que seja a atitude de um ou de outro pai, é sempre ambivalente em relação ao sintoma e mesmo ao tratamento, porque vêem nesta recusa à escola uma prova da ligação da criança . Se Freud já havia notado que no medo aos exames a ansiedade deslocava – se do sexual para o intelectual, M. Klein dedicou –se a valorizar o papel da escola no desenvolvimento libidinal da criança. Esta autora salienta que a escola obriga a sublimar suas energias instintivas; a entrada na escola representa para ela objetos e atividades novos, nos quais deve pôr à prova a mobilidade de sua libido; ela coloca a criança diante da necessidade de abandonar uma atitude feminina, mais ou menos passiva, antepondo – lhe sua atividade. Segundo G. Stewart – Prince, o quadro conceitual sustentado por M. Klein parece corresponder ao conjunto de fatos das fobias escolares, porque a exploração analítica justifica o medo à escola como uma ansiedade de perseguição e o medo de e deixar a casa ( mãe ) como uma ansiedade depressiva. Empregando –se o conjunto de referências formuladas por J. H. Kahn e J. P. Nursten, o fator desencadeante da fobia escolar pode ser julgado como uma constelação de crescentes agressões, que despertam na criança conflitos e ansiedades ligadas, em sua origem, a seus impulsos em direção à mãe. Para S. Agras, a fobia escolar surgiria sobre um fundo depressivo, ansioso, que atinge às vezes a criança, às vezes um dos pais, às vezes os dois. A forma mais freqüente seria a tendência depressiva da mãe, com uma patologia semelhante na criança, dando – lhe uma impressão de abandono e levando, Por sua vez, a uma superproteção materna. Por vezes, é uma depressão primária da criança que leva a esta superproteção. J. H. Kahn J. P. Nursten relacionam o sintoma de recusa à escola com as tentativas de suicídio. Nos dois 18 casos, dizem eles, há um elemento autodestruidor, com o desejo de ferir aquelas pessoas às quais a criança está intimamente ligada. Com efeito, para nós, a fobia escolar descrita em relação ao objeto fóbico, isto é, à escola, correspondente a organização psicológicas diversas. A ansiedade de separação exerce papel importante no início da escolaridade e pode, às vezes, persistir, ou mesmo ser despertada numa idade mais tardia; mas, com freqüência, o medo à escola pode ser ligar a mecanismos mais complexos, seja do tipo reativo e depressivo, ou do tipo neurótico mais organizado ou, mais raramente, pré – psicótico. Quando se admite esta hipótese patogênica, pode – se indagar até que ponto o termo “ fobia escolar ‘’ é adequado, porque, com efeito, o temido não é a escola, mas a separação que desencadeia angústia. Segundo este ponto de vista, alguns autores chamaram a fobia escolar de “angústia de separação “. Esta última hipótese parece correta em um grande número de casos no início da escolaridade, mas a patogenia é bem mais complexa em um período mais tardio, surgindo, nestes casos, durante fases de descompensação depressiva ( em relação à escolarização), sobre uma personalidade do tipo narcísico com elementos histeróides. Para E. J. Anthony, o grupo das fobias escolares é heterogêneo. As fobias escolares da puberdade ou início da adolescência podem manifestar – se por distúrbios graves e psicoses tipo borderline ; ele observa a associação de uma patologia familiar de certa gravidade e, em particular, uma depressão materna. 1.3 ATITUDE A TOMAR E EVOLUÇÃO Se o problema recai no plano das relações mãe – filho, a atitude mais normal a tomar, parece – nos, seria ocupar –se do problema emocional, deixando de lado o escolar ou resolvendo – o por uma escolaridade no grupo familiar. Certos autores pensam, entretanto, que é necessário reintroduzir o mais rapidamente possível a criança no meio escolar normal ou especializado, apto a empreender uma ação psicoterápica com a criança e, se possível , com os pais. Na realidade, o tratamento das fobias escolares depende de suas formas e de suas características evolutivas . M. Sperling ( 1967 ) divide as fobias escolares em formas 19 agudas e crônicas , e em formas induzidas e comuns (traumáticas ), No tipo induzido, o trauma é insidioso e provém, principalmente , de uma relação patológica pais – filho. No tipo comum, o início agudo sobrevém após um trauma ou série de traumas, e assemelha – se a uma neurose traumática, tendo a fobia escolar como sintoma. As indicações sobre o tipo de tratamento a escolher dependem do diagnóstico diferencial e da idade da criança no momento do início da fobia escolar (pré – latência, latência, pré – puberdade ou adolescência ). Esses fatores determinam se é a criança ou o progenitor que deve ser tratado, ou se são os dois; se o progenitor deve ser tratado antes ou ao mesmo tempo em que a criança, pelo mesmo terapeuta ou não; enfim, se o tratamento será uma psicanálise ou uma psicoterapia psicanalítica a curto prazo.Sperling coloca em dúvida o valor do tratamento sintomático e a volta rápida à escola sem tratar a “neurose total ‘’, da qual a fobia escolar é uma manifestação. R. Warnecke menciona uma evolução relativamente favorável, enquanto J. C. Coolidge e colaboradores destacam que, em 49 sujeitos de doze a vinte e dois de idade, consultados por fobia escolar entre quatro e onze anos, a metade continuava a manifestar sintomas como apreensão crônica em relação à escola, apreensão exagerada ou injustificada de modo relativamente satisfatório. Uma das características deste grupo era , aliás, um comportamento passivo e dócil e uma dificuldade para fazer amigos. 20 CAPÍTULO II O FRACASSO ESCOLAR Há, na escolaridade francesa – como indica C. Launay – dois momentos em que a criança entra no círculo do fracasso escolar,seja no curso das primeiras aquisições de base, seja mais tarde, a partir de nove – dez anos. No curso das primeiras aquisições, as crianças fracassam global ou eletivamente na leitura, na escrita ou no cálculo: - O fracasso no curso preparatório pode ter relação com um déficit intelectual e, neste caso, o atraso persistirá ulteriormente; a criança intelectualmente normal pode mais tarde recuperar seu atraso, ou apresentar dificuldades durante alguns anos em uma matéria, como conseqüência de aquisições de base precárias. - Entre oito e dez anos trata –se, sobretudo, de um fracasso global, sendo bem menos freqüentes os fracassos localizados, quer em cálculo, quer na ortografia. Se um certo número dessas dificuldades são por vezes explicados por erros pedagógicos, outros têm relação com fatores de ordem física (fadiga escolar, por exemplo ), ou de ordem psicopatológica. - O ingresso na sexta série não se reduz a uma alteração de turma ; necessita uma modificação do modo de ser e do modo de fazer. Com efeito, o ensino na escola primária é dado por um único professor, exige tarefas precisas, pouca iniciativa, um ritmo de trabalho moderado, enquanto o ensino secundário, ministrado por diversos professores, provocará, apenas por este fato, uma modificação do grupo e do ambiente, pelo relaxamento da vigilância, maior liberdade e ritmo de trabalho mais rápido. Isto provoca fracassos freqüentes. Como observa C. Launay, a maior parte das crianças, que fracassam fica presa em seu círculo vicioso e, independentemente da causa inicial, o fato de fracassar desperta nelas reações que, em geral, dependem sobretudo de seu caráter: apatia, turbulência, instabilidade e oposição. Quaisquer que sejam suas reações , elas correm o riso de manter ou de agravar o fracasso inicial, à medida que os anos passam, sendo que toda a vida escolar futura fica marcada pelas primeiras experiências escolares. 21 Se o fracasso leva às conseqüências que acabamos de indicar, há interesse em conhecer suas causas, a fim de evita - las . Como vimos, estes fracassos podem ser de ordem escolar ou desenvolverem –se a partir de um déficit instrumental; outros podem, também, corresponder a um distúrbio da personalidade em evolução. Foi esta última eventualidade que J. Rouart, R. Narlian e J. Simon estudaram. Estes autores, cujo raciocínio seguiremos, consideram que nestes casos o sintoma escolar é um tipo de substituto de um conflito psíquico menos aparente, mas que afeta a personalidade como um todo. Eles procuram compreender o que o fracasso significa na vida da criança e, através disso, captar as vicissitudes particulares de seu desenvolvimento, em função de seu círculo familiar e social, nesta época da vida. As crianças que são enviadas para consulta em um serviço médico – pedagógico por professores ou pelas famílias ( crianças que antes seriam consideradas como portadoras de retardo mental, preguiçosas ou abúlicas ) são, naturalmente, consideradas como pessoas apresentando dificuldades na aquisição de conhecimentos, gerais ou eletivos, ou problemas na utilização do que foi adquirido. Mais ou menos conscientemente, as famílias ou os professores percebem que o problema escolar, regra geral, é apenas a manifestação de um distúrbio da personalidade. l Este comportamento pode representar : Uma recusa escolar aberta, que por vezes se manifesta tanto no meio familiar quanto no escolar, e outras vezes é vista somente no meio escolar. Com maior freqüência, é uma oposição que parece consciente, sendo considerada como tal pelo indivíduo, embora mal formulada; esta oposição pode ser uma forma camuflada de reação contra os pais, expressa por meio da escola, bastante valorizada por estes. A recusa escolar pode surgir em circunstâncias diferentes ( J. Rouart ) : - No início da escolarização, quando a criança não quer se separar da mãe e reage com “ crises de raiva “, “zangas” ou desinteresse pela escola; esta forma deve ser distinguida da fobia escolar, não apresentando a angústia daquela (por outro lado, a fobia não influencia as matérias ensinadas ) ; - Durante a escolarização com reação a uma ferida narcísica, conseqüência do fracasso em uma criança pouco dotada, ou colocada em uma turma sem ter os conhecimentos de base exigidos; 22 - Pode ser englobada em uma oposição caracterológica , quase sempre reativa a um meio familiar difícil – ou mais constituída, traduzindo uma perturbação mais profunda da personalidade. - Mais tardiamente, no período da puberdade ou na adolescência, a recusa toma o aspecto de uma reação contra a figura paterna, de uma dificuldade em ultrapassar o pai. Uma recusa escolar passiva, que se caracteriza por falta de interesse, a qual provoca uma ausência de iniciativa. É atribuída, geralmente, às dificuldades com professores ou reações a um fracasso, mas pode estar relacionada a posições regressivas que ultrapassam o problema propriamente escolar. Por vezes, trata – se de reações para evitar o fracasso. Esta passividade pode ser global, mas pode – se também observar que a criança apresenta um desinteresse preferencial por tudo que representa aprendizagem . Trata – se de crianças que aceitam escutar e mesmo assimilar por esta via, mas que recusa qualquer aprendizagem imposta e freqüentemente participam de maneira ativa de toda atividade que seja extra – escolar. O desinteresse por certas matérias não é raro; com maior freqüência, por aquelas matérias onde o indivíduo encontra dificuldades ou que os pais consideram como essenciais. Esta atitude passiva pode levar a reações repressivas (por parte dos professores ou da família ), que por vezes satisfazem a necessidade de punição da criança, mas que podem acompanhar – se de uma queda maior, ou seja, os pais passam a ministrar o ensino ( o que a criança às vezes procura ), mas os resultados são, em geral, nefastos, pelo fato de criarem um estado de dependência da mãe em relação ao filho e reações inoportunas, no caso de mães ambivalentes, que vivem esta atividade como uma obrigação e não transigem às menores faltas da criança. Ao lado das formas de desinvestimento da aprendizagem, nas quais o indivíduo está mais ou menos consciente de sua falta de esforço e de seu desinteresse, devemos descrever as síndromes de inibição intelectual, durante as quais, como referem H. Danon – Boileau e P. Lab, a criança sofre por não poder se dedicar a uma atividade intelectual, com freqüência violentamente desejada. O indivíduo tenta trabalhar, dedica – se mesmo, mas chega apenas a resultados decepcionantes. Acriança sente – se como que bloqueada diante da tarefa a cumprir ; em desespero, tenta em vão recomeçar mas, 23 como se um outro, ou um outro ele, trouxesse um julgamento sobre sua capacidade de realização ou planificação, ela se sente réu e testemunha de sua ineficácia; isto leva, no momento da atividade, a um estado de tensão angustiante acompanhado, geralmente, de fadiga e cefalalgia, que só fazem aumentar sempre que retoma a atividade. Por vezes, ela se refugia no devaneio, foge da realidade, tem um ar ausente. A inibição intelectual tem um significado diferente conforme a idade e as estruturas da personalidade. A inibição pode ser vivida como um fenômeno parasita do pensamento ( obsessão ) ou como um acidente vindo do exterior ( fobia e histeria ), ou ser identificada com uma diminuição do indivíduo como um todo, traduzindo uma ferida profunda e irreparável na pessoa e acompanhando os estados depressivos ( H. Danon – Boileau e P. Lab ).Distúrbios como problemas de fixação ou deficiência na atenção podem ser, por vezes, reações de fuga ao processo de inibição. Deve –se dizer, porém, que esses, dois tipos de distúrbios estão geralmente ligados à instabilidade psicomotora - a qual pode dever –se à conjunção de uma necessidade motora um tanto exuberante e de uma forma escolar muito coercitiva, do ponto de vista motor (C. Launay), ou pode representar um modo de defesa contra a ansiedade que caracteriza a relação com o outro ( sendo a agitação um meio de fugir ao contato com estes outros ); a labilidade de concentração parece resultar, então, de uma certa deficiência energética, provocada por conflitos manifestos com meio ou por conflitos internalizados ( R. Rouart ), estando este potencial energético mobilizado para tentar conter a atenção. Mas, por vezes, esta labilidade da fixação ou da atenção pode ser episódica, ocorrendo por volta do final do curso, e pode estar relacionada à fadiga. Deve – se dar igual importância às dificuldades escolares por distúrbios do caráter, que se acompanham com freqüência de turbulência, cólera, reações contra os mestres e contra os colegas. Pode – se descrever, como J. Rouart, duas formas desses distúrbios : - Forma que responde a uma reação ante um conflito atual, a uma situação que o indivíduo suporta mal e cuja elucidação pode ser feita com rapidez; tem bom prognóstico, desde que algo seja modificado. - Forma com descarga emocional verdadeiramente incoercível, manifestações psicossomáticas que traduzem mecanismos muito arcaicos ( detectados durante o 24 exame da criança ), culpa geralmente intensa, associada a provocações destinadas a desencadear reações punitivas por parte do outro e de um meio familiar mal estruturado, tendo um controle emocional transtornado. Entre as crianças baderneiras, deve- se descrever um tipo particular , o da criança discordante, que assume o papel de palhaço e cuja atitude ‘clownesca ‘ é apenas uma reação de asseguramento e exibição, por trás da qual encontramos uma ansiedade extremamente forte, com um medo de desintegração do tipo pré – psicótico. Quando se estuda as dificuldades e os fracassos escolares, verifica –se que aquilo que se observa neste novo universo, que é a escola, assemelha – se bastante ao descrito como exterior a ele. Se o grupo escolar assemelha – se em numerosos aspectos ao grupo familiar, e caso se esteja de acordo com o fato de a criança poder reproduzir na escola as atitudes que tem com a família e, ainda, se a professora pode ser vivida simbolicamente como exercendo o papel de mãe e os outros alunos como tendo papel de irmãos, isto não impede que a criança considere que esses papéis não são equivalentes :ela geralmente separa os assuntos escolares dos da casa; embora possa viver o papel da professora como se fosse o da mãe, ela se encontra freqüentemente dividida pela existência carnal de duas mães simbólicas, o que, no plano da relação, deve despertar problemas ( particulares em si, e diferentes dos da mãe boa e da mãe má na idade pré – escolar ) ; a atração natural de uma e de outra pode ser sentida como diferente. Se por vezes encontra – se aí confusão ou oposição entre uma e outra, é comum haver, também, divisão. Da mesma forma, as relações com os colegas não têm as mesmas características de grupo que as da atmosfera fraterna. Se a criança representa na escola a mesma comédia ou a mesma tragédia familiar, ela a representa em um novo plano, com hábitos diferentes e regras particulares. Quando revive seus conflitos impulsivos no plano escolar, o campo de experimentação é diferente.É evidente que a desadaptação que ela sofre não se relaciona apenas ao plano escolar, longe disso.O plano onde se desenvolvem os conflitos desempenha, com freqüência, um papel menos importante que a modificação introduzida pela escolaridade e pela idade em que esta ocorre. 25 CAPÍTULO III O ATRASO ESCOLAR O atraso na escola pode depender do potencial intelectivo de um determinado indivíduo, mas nem sempre este é o caso. Deve – se notar a existência de uma discordância freqüente entre o nível intelectual e o nível escolar, salientada por testes especializados. Por razões sociais, o atraso na escola tornou - se um verdadeiro problema familiar. Quando se encontra uma discordância entre o nível intelectual e o nível escolar, tem –se atualmente a tendência de atribuir esta defasagem a um distúrbio afetivo ou de funções ditas instrumentais, embora um grande número desses atrasos esteja relacionado a : - falta de continuidade no ensino ( mudança de escola, absenteísmo, mudança de professor ), levando a uma insuficiência de conhecimentos de base que a criança não pode compensar com sua inteligência. - Métodos de ensino precários ou falta de individualização do ensino (muitas vezes necessária para certas crianças), em razão de turmas extremamente numerosas. É certo que a utilização de métodos mais adequados, a diminuição do número de alunos nas turmas, uma ajuda particular em certas matérias para aquelas crianças que não apresentam suficiente base e a valorização da profissão de professor permitirão, por meio de uma pedagogia válida, dar à educação novamente seu sentido e à reeducação os seus limites. 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação está, hoje, programada mais para a descoberta e a autoconstrução do que para a aquisição de conhecimentos e habilidades pura e simples, a Psicologia Educacional ocupa, agora, um lugar especialmente relevante no embasamento teórico e estrutural das tecnologias e filosofias contemporâneas de ensino. Neste momento de acelerada expansão da tarefa educativa por todo o País, tornou – se indispensável ao professor, mais que o domínio das matemáticas ou da física, da Biologia ou da História, das Línguas ou das Técnicas, o conhecimento completo e integrado de tudo quanto compõe um ser humano em formação. Isto significa que, antes de conhecimento específicos, o profissional de ensino deve, necessariamente, saber das motivações humanas, intuir as necessidades vitais do educando e conhecer com largueza as diversas fases da evolução psico – física da criança e do adolescente para, enfim, ter condições de explorar suas potencialidades de uma forma sensível e lúcida. O mundo cresceu vertiginosamente nos últimos vinte anos. O uso tecnológico e científico do átomo não contribuiu apenas para a ocorrência dessa explosão em termos de universalidade de conhecimentos e aumento da demografia mundial. Nesse processo irreversível e incontido, o átomo rompeu com os distanciamentos humanos.O que, há dez anos, era longínquo ou remoto, até misterioso, para a maior parte dos adultos de hoje, agora é parte comum do dia – a – dia, invade o lar e a escola, e se constitui parcela irremovível do universo mágico das crianças contemporâneas. Se as distâncias, no tempo e no espaço, nem sempre ocasionaram, no passado, o binômio ação – reação, atualmente qualquer ação humana, por mais simples e particular que seja, envolve uma resposta imediata e de natureza social. Até mesmo a omissão constitui um envolvimento psicológico e uma ação conseqüente, muitas vezes perigosa. Nos nossos dias, “o homem pode viver com uma consciência de si sem precedentes e seu dever é fazê – lo’’ ( Arnheim, sobre a capacidade do ser humano de vincular – se artisticamente com vida ). E se há, na sociedade, um indivíduo virtualmente agenciador desta consciência em termos coletivos, esse é o profissional de ensino. Consciente de si e dos outros, o professor deveria torna – se o mais promissor agente de mudanças sócio – culturais de um país. 27 Para tanto, além da formação técnico – cultural específica e do espírito de investigação e aventura que devem condicioná- lo a atualizar – se sempre num impulso natural, permanente e renovador, o professor precisa transcender o caráter profissional de sua relação com o aluno, tornando – o mais pessoal e mais humana. Para isso, o mestre deve estar apto a dirigir o desenvolvimento, a aprendizagem e o ajustamento indispensável à formação integral do educando, não só para elevar a qualidade de seu trabalho, mas sobretudo para, concreta e finalmente, tentar promover uma melhor qualidade de vida humana. A descoberta de si e do universo constitui para a criança uma de suas maiores alegrias. Motivada pela curiosidade, ela se sente feliz ao enfrentar ‘’ os desafios’’ do ambiente. Enfrenta – os com alegria e tenacidade. Com a mesma extraordinária determinação com que defende seu inalienável direito de descobri – los sozinha. Criança livre é um ser – indivíduo, um ser único que se determina, se auto – regula, se valoriza e se respeita. Criança livre é invariavelmente criança alegre, para a qual a liberdade inclui um vasto poder de expressão, a capacidade de fazer escolha entre diferentes opções e uma franca aceitação de responsabilidades. Outra satisfação à qual a criança não renuncia é a aprovação social. Sentir – se amada e efetivamente segura constitui sua mais profunda alegria. Estar ao lado da criança não significa deixar que ela faça tudo quanto lhe venha à cabeça. Não significa deixar que ela se arruíne. Significa confiar nela e é esta fé distingue liberdade de permissividade . “No lar disciplinado, afirma NEIILL, a criança não tem direitos. No lar fraco, ela tem todos os direitos. No lar sadio e na escola sadia, ela e os adultos têm direitos iguais’’. Se o ambiente que a circunda for repressor, se lhe proibir de forma sistemática fazer isto ou aquilo, a criança perderá sua natural alegria de viver. Em conclusão, o caminho para a alegria é mais questão de planejamento social que de circunstâncias e opções individuais. Este trabalho se destina diretamente a pais, professores , orientadores pedagógicos , direção escolar e a todos quantos, funcional, circunstancial ou espontaneamente lidam com crianças e adolescentes. Para compreenderem o comportamento do homem durante seus anos de formação. 28 ANEXOS 29 ANEXOS 30 ANEXOS 31 ANEXOS 32 ANEXOS 33 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Rodrigues, M. - Psicologia Educacional – uma crônica do desenvolvimento humano .Editora Mcgraw – Hill do Brasil ltda, 1976 Ajuriaguerra, J. - Manual de Psiquiatria Infantil. Editora Masson do Brasil ltda. Carmichael, L. – Manual de Psicologia infantil - Librería el Ateneo, Buenos aires, 1957. Cardoso, O.B. – Problemas da infância - Editora Melhoramentos, São Paulo, 1967 Cardoso, O B. – Problemas da Família, Editora Melhoramentos, São Paulo, 1968 Cardoso, O B. – Medo e Angústia na infância, Editora Conquista, Rio de Janeiro, 1969 Mussen, P. – O desenvolvimento Psicológico da criança, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1970. Mednick, A S. – Aprendizagem, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1969 Leif, J. e Delay, J. – Psicologia da Educação, Livraria Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1965 34 ÍNDICE Assunto Pág. FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 14 (TÍTULO) A FOBIA ESCOLAR 14 1.1 - Quadro clínico 14 1.2 - Psicopatologia 15 1.3 - Atitude a tomar e evolução 18 CAPÍTULO II (TÍTULO) O FRACASSO ESCOLAR 20 CAPÍTULO III (TÍTULO) O ATRASO ESCOLAR 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS 26 ANEXOS 28 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33 ÍNDICE 34 FOLHA DE AVALIAÇÃO 35 35 FOLHA DE AVALIAÇÃO NOME DA INSTITUIÇÃO : UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES TÍTULO DA MONOGRAFIA : AS DIFICULDADES ESCOLARES DA CRIANÇA CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU “ EM PSICOPEDAGOGIA AUTORA: ADRIANA GONÇALVES FERREIRA ORIENTADOR: CELSO SANCHEZ DATA DA ENTREGA : AVALIADO POR: CONCEITO : AVALIADO POR: CONCEITO: AVALIADO POR: CONCEITO: CONCEITO FINAL :