JOGOS COOPERATIVOS E A INCLUSÃO SOCIAL1 Autora: Adriana Lena Sassi2 Orientador: Inácio Brandl Neto3 RESUMO: Este artigo tem como tema os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física como forma de inclusão social. Seu objetivo é mostrar como as atividades cooperativas podem ajudar na inclusão social, através de jogos e brincadeiras com essa filosofia, que pretende uma revisão de valores em relação aos que já existem que são baseados na competição exacerbada e no desrespeito ao ser humano. A metodologia utilizada foi um questionário com oito questões para os alunos das quintas e sextas séries responderem, sendo cinco questões fechadas e três abertas a opiniões, e a aplicação de uma aula semanal versando sobre o tema, totalizando trinta e cinco aulas. Os resultados de um modo geral indicam uma tendência à melhoria do relacionamento interpessoal, diminuição da agressividade e da exclusão, apontando a relevância das atividades cooperativas na escola. Existe a necessidade de jogar uns COM os outros, superar desafios conjuntos, compartilhar sucessos, vencer juntos e quebrar as barreiras do individualismo. O confronto é minimizado e dá lugar ao encontro, à união das pessoas em prol da mesma finalidade, visando à eliminação do medo e do fracasso individual. Palavras- chave: Jogos cooperativos. Escola. Inclusão social. ABSTRACT: This article is about Cooperative Games which can be used as a form of social inclusion in the Physical Education classes. It uses games with a philosophy that changes the view of the regular games, usually based just on competition and lack of respect to the human being. The methodology used was a questionnaire with eight questions (three of them to answer with personal opinion) directed to students attending the fifth and sixth grade and one weekly class on the subject (totaling 35 classes). The results show a great improvement in the interpersonal relations, a decrease of exclusion and aggressively, what indicates the relevance of these activities at school. . The Cooperative Games uses the necessity of collective actions, everybody playing together to reach a common goal. In these games, there is the necessity of playing WITH and not AGAINST each other, always trying to bit the challenges, sharing the success and winning together. Everything to overcome the individualism. The confrontation is minimized, so takes place the union of the players to reach the same objective, eliminating the fear of the individual failure. Key Words: Cooperative Games. School. Social Inclusion. INTRODUÇÃO O desenvolvimento social é um fator de extrema importância em todos os segmentos da vida, especialmente no que tange à criança e seu processo de aprendizagem, o fator da qualidade do relacionamento interpessoal é primordial para o sucesso ou o fracasso de seu envolvimento no âmbito escolar. É bastante intrigante perceber entre inúmeros paradoxos, aquele apresentado pela escola, no sentido de pretender a interação a qualquer custo, porém, sem investir diretamente na organização de estratégias voltadas a esta finalidade (FREIRE, 1984). 1 Artigo Científico apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Professora de Educação Física da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná, formada pela Universidade de Passo Fundo – RS, Pós-Graduada em Educação Motora pela UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão. 3 Professor de Educação Física da UNIOESTE, Mestre em Educação/Educação Motora. 2 2 Com a entrada da criança na quinta e sexta séries do ensino fundamental, é básico o papel desempenhado por sua identificação no grupo, constituindo-se no elemento chave para a incorporação dos valores que permeiam a vida. Nessa fase as necessidades de expressão dos aspectos afetivo-emocionais estão centradas nas trocas de experiências propiciadas por inúmeras atividades, dentre elas os jogos, a qual representa um dos meios efetivos nesse processo. Nesse sentido, a aula de Educação Física é uma excelente oportunidade de se implementar tais estratégias pedagógicas, que devem ser utilizadas pelo professor com a finalidade de ampliar a reflexão dos alunos sobre a idéia de que se pode ganhar sempre, mesmo sem ter que, necessariamente, vencer, e propiciar a implementação de atitudes éticas durante as relações, lançando desafios que extrapolam os muros das instituições escolares e refletem, inclusive, no âmbito do lazer. A aplicação de propostas de atividades que estejam voltadas às ações cooperativas pode tornar-se um diferencial para a transformação do ambiente de ensino, favorecendo, inclusive, a integração professoraluno-comunidade. Partindo destes pressupostos é que se estruturou este estudo, que visa observar o posicionamento dos alunos em relação às problemáticas apresentadas e à possível inserção dos Jogos Cooperativos no contexto escolar como processo de aprimoramento do relacionamento interpessoal, diminuição da agressividade e da exclusão. Para tanto, foi elaborada uma revisão de literatura sobre os elementos teóricos envolvidos e uma pesquisa exploratória. O estudo foi desenvolvido por meio da oferta de atividades de caráter cooperativo para uma população alvo composta de alunos regularmente matriculados na quinta e sexta série do ensino fundamental de uma escola da rede pública da cidade de Realeza, no Estado do Paraná. Após essas atividades, procedeu-se uma pesquisa exploratória, utilizando-se como instrumento um questionário, contendo perguntas abertas e fechadas. DESENVOLVIMENTO Revisão de Literatura PEQUENA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA No final do século XIX, ano de 1882, Rui Barbosa, deputado geral do Império, afirmaram a importância da ginástica para a formação do cidadão, equiparando-a em 3 categoria e autoridade às demais disciplinas. A partir de então, a Educação Física tornouse componente obrigatório dos currículos escolares. As práticas pedagógicas escolares da Educação Física foram fortemente influenciadas pela instituição militar e pela medicina. A Educação Física se consolidou no contexto escolar a partir da Constituição de 1937, quando objetivava doutrinar, dominarmos e conter os ímpetos das classes populares. Com a Reforma Capanema, Lei Orgânica do Ensino Secundário, em 1942, ampliou-se a obrigatoriedade da Educação Física até os 21 anos de idade, para formar mão-de-obra fisicamente capacitada para o mercado de trabalho. A partir de 1964, o esporte consolidou sua hegemonia na Educação Física através do método tecnicista, centrado na competição e no desempenho. Nesse período, aos olhos do regime militar, a Educação Física era vista como importante recurso de formação do homem que serviria ao projeto de Brasil. A disciplina estava ligada à aptidão física. (PARANÁ,Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná). Em meados da década de 1980, começou a se formar uma comunidade científica na Educação Física, de modo que passaram a existir tendências, cujos debates evidenciavam severas críticas ao modelo vigente... Entre outras correntes destacam-se as seguintes abordagens: Desenvolvimentista, construtivista, crítico-superadora, críticoemancipatória. Amparadas nestas leituras, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná propõe a inclusão da reflexão sobre as necessidades atuais de ensino e a superação de uma visão fragmentada de homem. Não é possível negar a forte ligação e identificação da Educação Física com o esporte. Conseqüentemente, não é difícil compreender e afirmar que o paradigma da competição esteja tão incorporado e seja quase inquestionável para parte dos professores. Essa concepção reducionista da Educação Física já vem sendo criticada há algum tempo por professores, pesquisadores e autores desta área. Resgatando a origem do esporte percebe-se a supervalorização da competitividade, atendendo aos anseios da sociedade capitalista na qual a Escola está inserida. Se analisarmos um pouco da evolução histórica da humanidade, podemos constatar que o ser humano nasce motivado a aprender, explorar o mundo, adquirir conhecimento, experiências, relacionar-se com pessoas, beneficiando-se de todo este aprendizado. Enquanto somos crianças, aprendemos jogando e explorando o mundo à nossa volta, na medida em que vamos crescendo, vai ocorrendo toda uma formatação da escola, família e sociedade para que nos tornemos pessoas sérias, responsáveis, com uma postura sisuda e rígida. Quando rimos e nos divertimos, há uma libertação dos bloqueios, da seriedade paralisante, da rigidez (moral/social), libertando a consciência, as 4 emoções, o pensamento e a imaginação, que ficam suscetíveis para o aprendizado de novos conhecimentos, tendo o prazer de aprender. No decorrer dos anos, nossa cultura se desenvolveu fundamentada e alicerçada na sociedade capitalista, individualista e competitiva, repassando todos estes valores para população, inventaram instrumentos de medida para ver se uma pessoa era mais ou menos inteligente (QI), estimulavam a disputa, rotulavam os alunos e desenvolviam sentimentos de rancor, intriga, disputa, rivalidade e muitos outros. O TER é mais valorizado do que o SER, caso não ocorra uma mudança em nosso comportamento, bem como na forma de nos relacionarmos com os outros e com nosso planeta, certamente, dentro em breve não haverá mais Planeta Terra. JOGOS O tema referente ao jogo tem sido abordado em áreas distintas do conhecimento humano, evidenciando-se a colaboração da educação física e da educação, entre tantas outras. Os conceitos de jogo são complexos e dependem especificamente da concepção filosófica de suas inúmeras teorias. O termo jogo é associado, muitas vezes, à brincadeira, brinquedo, recreação, no entanto, tem um caráter próprio, favorecendo resoluções de problemas de diversas naturezas, permeadas de simbologia. O jogo é intrinsecamente motivado, espontâneo voluntário e prazeroso, tendo um fim em si mesmo. Para Caillois (1990), o jogo corresponde a uma ocupação voluntária, que ocorre dentro dos limites precisos de tempo e espaço. Já para Carneiro (1995), jogo é tido como um patrimônio do ser humano, tendo sido focalizado sob diversas óticas e significados ao longo da história da humanidade. Huizinga (1971), posteriormente, salientou o papel do jogo no desenvolvimento da satisfação de necessidades vitais. Piaget (1982) evidenciou o papel do jogo no desenvolvimento da inteligência da criança, onde este tem uma evolução que perpassa pela exercitação, no período sensório-motor; jogos simbólicos, com predominância na fase escolar e com forte caracterização da imitação, jogos com regras, pressupondo a existência de parceiros e um conjunto de obrigações, conferindo-lhe um caráter social favorecendo avanços do pensamento e a preparação, a análise e o estabelecimento de relações. Este autor salienta ainda que a motricidade inerente à prática de jogos e brincadeiras intervém nas funções cognitivas nos diversos níveis, onde todos os mecanismos perceptivos têm suas bases. 5 A possibilidade de ativação, especialmente nos jogos motores, evidencia a capacidade de provocar contatos corporais, alternância dos estados de tônus muscular, o desenvolvimento postural e a regulação dos estados afetivo-emocionais, enriquecendo sobremaneira a construção da personalidade, conforme salienta KAMII; DEVRIES (1991). Além dos aspectos motores, aquelas atividades que provocam a aproximação por motivos relacionados à cooperação, são altamente relevantes, uma vez que estas podem catalisar mudanças atitudinais importantes. Os jogos possuem funções essenciais, muito importantes na formação do ser humano, como: - Serve para explorar: o mundo de quem joga, e suas próprias atitudes. - Reforça a convivência: modifica e aprimora o relacionamento interpessoal. - Equilibra o corpo: atua como um circuito auto-regulável de tensões e relaxamentos. - Produz normas, valores e atitudes: o jogo nos forma em direções variadas, cabe a cada um de nós fazer a melhor escolha. - Fantasia: Transforma o sinistro em fantástico. - Induz as novas experimentações: permite aprender através de erros e acertos. - Torna a pessoa mais livre: permite a pessoa conduzir-se ou não frente às dificuldades. No caso o prazer de jogar supera o desejo de vencer No estilo de jogo em que o espírito competitivo é de exclusão faz as equipes jogarem umas contra as outras. Há rivalidade, tensão e sentimento de derrota. Desenvolve-se o egoísmo e o direito aos melhores. A preocupação é com o resultado, que é o que elimina o adversário. No estilo de Jogo em que se compete COOPERANDO, as equipes são parceiras, uma joga com a outra. Ninguém é rejeitado. Desenvolve-se a autoconfiança. Uns contribuem para adequar as possibilidades dos outros dentro do jogo. O resultado é uma ação conjunta e o sucesso é compartilhado. Os Jogos Cooperativos surgiram com a constante valorização dada ao individualismo e a competição das quais foram condicionadas e aprendidas como única e melhor forma de caminho existente. Sendo assim, existem duas definições que foram mal interpretadas e divulgadas durante várias décadas que contribuíram para esse caminho: A primeira é de Charles Darwin, que fala da seleção natural, em que as maiorias das pessoas dizem que o melhor está na sobrevivência do mais forte e mais apto para vencer, afirmando, ainda, que, para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e na cooperação social e não na competição. 6 Como podemos avaliar, várias pessoas utilizaram à palavra sobrevivência como forma de promover sempre o melhor capacitado por meio de uma competição, da qual somente um ganha e não na forma que deveria ser, ou seja, de compartilhar o papel de cada um numa unidade inter-relacionada. A segunda é do francês Pierre de Coubertin (idealizador da nova era olímpica), que diz que o mais importante não é vencer, mas tornar parte; importante na vida não é triunfar, mas esforçar-se; o essencial não é haver conquistado, mas haver lutado. O esporte tem sua glorificação máxima com a chegada da Olimpíada, cujo ideal é unificar a paz e a união entre todos os povos do mundo. Como sabemos, porém, a cada ano que passa tornou-se uma mera máquina de tecnologia, em que atletas são treinados para ganhar a qualquer custo, mas esquecendo o símbolo que ela representa que é universalizar culturas e raças para gerarem um momento de confraternização pacífica, direcionando para a conquista com dignidade e respeito. Partindo dessas duas visões descritas, buscamos em Brotto (1997, p.33) algumas definições sobre competição e cooperação: COOPERAÇÃO: é um processo onde os objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos. COMPETIÇÃO: é um processo onde os objetivos são comuns, mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns. Neste sentido, podemos constatar que Cooperação e Competição são processos distintos, porém, não muito distantes. As fronteiras entre eles são tênues, permitindo certo intercâmbio de características, de maneira que podemos encontrar em algumas ocasiões uma competição cooperativa e noutras uma cooperação competitiva. Para Orlick (1989,p.118), a principal diferença entre cooperação e competição é que no primeiro todos cooperam e ganham, eliminando-se o medo do fracasso e aumentando-se a auto-estima e a confiança em si mesmo. Ao passo que no segundo, a valorização e reforço são deixados ao acaso ou concedidos apenas ao vencedor, o que gera frustração, medo e insegurança. Sendo assim, podemos afirmar que cooperação e competição são direcionadas a partir de agora em comparações entre as diferenças e atitudes que essas duas palavras podem tomar: 7 COOPERAÇÃO (APRENDE-SE) A compartilhar, respeitar e integras diferenças; A conhecer nossos pontos fracos e fortes; A ter coragem para assumir riscos; Sentimentos e emoções com liberdade; A participar com dedicação; COMPETIÇÃO (INICIA-SE) Com a discriminação e a violência; Com o medo de arriscar e fracassar; Em fazer por obrigação; Pela repressão de sentimentos e emoções; Pelo egoísmo, individualismo e competição excessiva. A ser solidário, criativo e cooperativo; A ter vontade de estar junto. Vale salientar que não são todas as pessoas no mundo que agem dessa maneira. Pelo contrário, trabalham, integrando a cooperação e a competição. O que acontece é que na maioria das vezes somos dirigidos a pensar que a maneira de competir corretamente é aquela que precisamos sempre vencer a qualquer custo. Partindo das diferenças entre cooperar e competir, veremos a seguir alguns tipos de padrões de atitudes de percepção/ação que vivenciamos no dia-a-dia: OBJETIVO O OUTRO OMISSÃO (individualismo) Insuficiência impossível Ganhar sozinho Quem? COOPERAÇÃO (encontro) COMPETIÇÃO (confronto) Suficiência possível Escassez, exclusão Ganhar do outro Inimigo Desconfiança e rivalidade Jogar contra; rendimento Tenso e pesado Vitória MOTIVAÇÃO Jogar sozinho; ser jogado Monótono Individualismo Alienação e indiferença Isolamento Ganhar junto Amigo Parceria e confiança Jogar com troca e criatividade Leve e ativo Compartilhamento Sucesso e compartilhamento Amor RELAÇÃO Cada um na sua SENTIMENTOS Solidão e opressão Alegria, satisfação SÍMBOLO Muralha Ponte PERCEPÇÃO/AÇÃO VISÃO DE JOGO AÇÃO CLIMA DO JOGO RESULTADO CONSEQUÊNCIA Acabar logo o jogo Medo Insegurança, frustração Obstáculo O propósito desse quadro é mostrar que toda e qualquer experiência humana tem diferentes possibilidades para perceber e optar por alternativas que propiciam viver uma mesma situação. Com esta visão, podemos despertar e aperfeiçoar o exercício da escolha pessoal, com responsabilidade e liberdade. 8 No Dicionário Aurélio a palavra competição consta como sinônimo de luta, desafio, disputa, rivalidade. E a palavra Cooperação como comum, colaboração, ajuda, auxílio. Follett, afirma que, ao competirmos, nossas paixões e interesses estão em conflito com paixões e interesses do outro e o "poder-sobre" (se um ganha, o outro perde; se um domina, o outro é dominado; se um se alegra, o outro se entristece; etc.) passa a ser o meio de resolução destes conflitos. Já, em um processo de cooperação, essa relação muda. As paixões e interesses podem até ser diferentes - e normalmente são - mas os conflitos gerados por elas são construtivos (buscam a integração de diferenças), pois sua base está, como cita Follett, no "poder-com": se um ganha, todos ganham, pois este é o poder legítimo, o poder conjunto que traz enriquecimento e progresso para a alma humana. Para cooperar é necessário um alto grau de convivência e de doação, assim como uma boa relação consigo mesmo, o que é um desafio para a maior parte das pessoas, sendo mais fácil colocarem a necessidade de mudança no outro, e com isso se omitir. Como trabalhar em conjunto sem querer ganhar do outro a todo custo? Como podemos nos desenvolver enquanto equipe quando o foco está em competir? A competição dificulta as relações, gerando um clima de medo, dependência, rivalidade, desconfiança e estresse; criando barreiras entre as pessoas. Quando se tem a consciência deste contexto e dos efeitos de ambas as polaridades, Competir ou Cooperar passa a ser uma questão de escolha pessoal. Muitas pessoas desejam de fato cooperar, mas dentro de si têm muitas inibições, barreiras, emoções negativas e terminam voltando ao modelo competitivo. Nesse contexto percebem-se três pontos mais marcantes: 1. A competição é muito forte em nossa sociedade, sendo reforçada a cada instante como natural e único caminho; 2. Quando a pessoa busca um caminho diferente é estimulada, direta e indiretamente a seguir com a maioria e precisa de uma força muito grande para insistir em um caminho alternativo. 3. O condicionamento para a competição está de tal forma instalada dentro do ser humano que quando ele percebe (se é que percebe), já foi. A questão do condicionamento está ligada ao nosso sistema de crenças e valores e este sistema rege o comportamento humano. Verificar quais as crenças que nos norteiam, ou seja, que tipo de programação existe dentro da pessoa é fundamental para qualquer realização e mudanças que se deseje. 9 Se analisarmos nossa sociedade, fica facilmente evidenciado a sua competitividade, porém, este não é o grande desafio do ser humano, pelo contrário, não ganharemos com a derrota do outro, sobrepujando-o em habilidade, força ou inteligência, mas sim conseguindo conviver e trabalhar com o outro, apesar de suas diferenças, exercitando o diálogo, a empatia e o respeito. Em suma, eles constituem um instrumento lúdico, capaz de provocar uma ruptura em nossa subjetividade individualista e competitiva e, com isso, provocar uma revisão de valores e condutas permeadas em nosso cotidiano, caminhará em direção de um mundo mais cooperativo, justo e solidário (um caminho para a paz). JOGOS COOPERATIVOS Segundo Orlick (1989), como jogamos na sociedade em que vivemos, o jogo serve para criar o que é refletido. Muitos valores importantes e modos de comportamento são aprendidos por meio dessa experimentação. Com base nas falas registradas aqui, os Jogos Cooperativos têm como conceito procurar a ensinar e aprender a rever nossas experiências e reciclar pensamentos, sentimentos, intenções e emoções para que reconheçamos e valorizemos nosso próprio jeito de jogar e respeitar o dos outros, em seus diferentes modos de ser. E mais, descobrir que jogando com os outros podemos buscar o crescimento do eu dentro de cada um de nós. Os jogos cooperativos nasceram há milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se reuniam para celebrar a vida em volta de uma fogueira. Segundo Barreto (apud SOLER,2003, p.21), “Jogos Cooperativos são dinâmicas de grupo que tem por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, mostrar que a cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais: em segundo lugar, promover efetivamente a cooperação entre as pessoas, na exata medida em que os jogos são, eles próprios, experiências cooperativas”. Devem-se enaltecer então os valores que surgem numa situação de cooperação, como a amizade, sensibilidade, ajuda mútua, a intercomunicação de idéias e o orgulho em pertencer ao grupo, que são características das crianças. Na Educação, novos paradigmas estão mostrando formas diferentes de ver o ser humano e o mundo, como é o caso da corporeidade, da complexidade e da teoria sistêmica, que são perspectivas mais humanas. Capra (1996) escreve sobre duas tendências atuais. A primeira seria a “auto-afirmativa” (cartesiana, tradicional, exclusiva, 10 competitiva, diretiva) e, a segunda a “integrativa” (abrangendo as novas perspectivas). Numa revisão sobre valores ele cita a competição como pertencente à primeira tendência e a cooperação como pertencente à segunda. Brotto (2002, p.27) nos traz algumas idéias sobre cooperação e competição. Segundo ele, a cooperação, “é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações compartilhadas e os benefícios distribuídos para todos”. E a competição, “é um processo de interação social em os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas as outras e, os benefícios são destinados somente para alguns”. Soler (2003, p.23) explica que “os jogos cooperativos são uma abordagem filosófica pedagógica criada para promover a ética da cooperação e a melhoria da qualidade de vida para todos, sem exceção”. Nos jogos cooperativos, os participantes jogam um com os outros e, não uns contra os outros, buscando a participação de todos, sem que alguém fique excluído, pois possuem o objetivo e a diversão centrados em metas coletivas e não individuais. Ganhar e perder, só serve para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Os jogos cooperativos, conforme Soler (2003), tem várias características libertadoras, coerentes com o trabalho em grupo: - Libertam da competição: participação de todos para uma meta em comum. - Libertam da eliminação: buscam a integração de todos: - Libertam para criar: as regras são flexíveis e, todos podem contribuir para mudar o jogo. - Libertam da agressão física: todos trabalham juntos, então não podem brigar. Também podemos desenvolver algumas atitudes nos jogos cooperativos: - A empatia: Pôr-se no lugar do outro: - A cooperação: trabalhar em prol de uma meta comum: - A estima: reconhecer e expressar a importância do outro: - A comunicação: Diálogo, intercâmbio de sentimentos, conhecimentos, problemas e perspectivas. Segundo Barreto (apud SOLER,2003, p.24), os jogos se baseiam em cinco princípios fundamentais: - Inclusão: trabalhar com as pessoas no sentido de ampliar a participação e a integração delas no processo em curso: - Coletividade: conquistam e ganhos que somente conseguem coletivamente: 11 - Igualdade de direito e deveres: responsabilidade de todos pela decisão e gestão, como a repartição dos benefícios promovidos pela atividade cooperativa. - Desenvolvimento humano: o aprimoramento do ser humano enquanto sujeito social: - Processualidade: A cooperação privilegia os meios, cada passo é dado levandose em conta os anteriores. Como ensinar a jogar de forma cooperativa: A pedagogia dos jogos cooperativos, para Brotto apud SOLER (2003:20) é apoiada nessas três dimensões de ensino-aprendizagem: 1) Vivência: incentivando inclusão de todos: 2) Reflexão: Incentivar as pessoas a refletir sobre as possibilidades de modificar o jogo, para melhorar a aprendizagem de todos. 3) Transformação: ajuda a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso. Podemos dizer que o processo do jogo cooperativo é dividido em: Ação – Reflexão – Ação melhorada. Conforme Brotto (1997, p.16) os Jogos Cooperativos vêm com a intenção de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para correr riscos com pouca preocupação com o fracasso e sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, e todos podem participar autenticamente, onde ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Dentro desta visão, podemos concluir o raciocínio que os Jogos Cooperativos são uma forma de integrar os valores humanos e a convivência dos indivíduos no desenvolvimento de uma aprendizagem, de forma a estar jogando uns com os outros ao invés de uns contra os outros. Os jogos cooperativos são novas formas de jogar em que todos posarem “vencer” (o neologismo “vencer” significa vir a ser consigo mesmo e com os outros). Os Jogos Cooperativos, podem servir como um instrumento da Cultura da Cooperação, trabalhando o indivíduo na sua integralidade e a sua interdependência com os demais colegas de sua escola, fazendo com que ele experimente e vivencie os jogos, nos quais uma nova proposta e um novo paradigma são propostos: o de somar esforços em prol de um objetivo comum. Os jogos cooperativos não são apenas uns fins, isto é, simples técnicas de facilitação ou recreação do trabalho grupal, mas sim os meios através dos quais poderemos promover experiências portadoras de um significado, que irão dar novos 12 sentidos à prática coletiva. Desta forma, podemos trabalhar com os jogos cooperativos de várias maneiras, desde as práticas grupais, os encontros de estudos e debates, os festivais, a mesa do bar, o churrasco de final de semana e a partida de vôlei ou futebol, elementos que servem como instrumento para nos ajudar a levar a cooperação para a construção de um mundo melhor. Frente a este novo caminho surgido, foi dado início a aplicabilidade dos jogos como ferramenta pedagógica de ensino, eis que são versáteis, com regras flexíveis e por isso adaptam-se a todo o tipo de pessoas, grupos, espaços e competência. A ludicidade garante o divertimento e o prazer, o aspecto sócio-afetivo de estar com o outro e não contra o outro, possibilitando trabalhar a idéia de equipe, e uma oportunidade de incluir e não excluir as pessoas. Há o resgate de valores que até então, estavam esquecidos, caminhando para direção de construção de uma sociedade mais cooperativa, emancipadora, democrática, solidária, justa, alegre, permeada por emoções autenticas e verdadeiras. Por estes motivos, a educação em valores está plenamente vinculada aos jogos cooperativos, pois há a participação de todos, cada qual com suas competências, não existindo cobranças, nem julgamentos, pois o que importa, é o todo, o trabalho do grupo, o processo, resgatando valores esquecidos pela sociedade capitalista/competitiva. O mais importante é ajudar as pessoas a verem a si mesmas e os outros como seres humanos igualmente valiosos, tanto na vitória, como na derrota, introduzindo valores adequados no jogo, tais como, ganhar, perder, sucesso, fracasso, rejeição, jogo limpo, amizade, companheirismo, aceitação, cooperação e competição sadia. Na realização destas atividades, inúmeros são os sucessos pessoais que podem ser oferecidos e desenvolvidos, o qual não tem nada a ver com ganhar, tais como, melhorar as destrezas, novos movimentos, jogos, exercícios, formações, melhorar o autocontrole, controlar o temperamento, relaxar-se, melhorar o relacionamento com os companheiros, professores, superação dos erros, discussão dos resultados, contraposição de idéias enfim, uma infinidade de benefícios agregados à aplicabilidade dos jogos cooperativos, por estes palpáveis motivos, creio que a referência para construção de um mundo melhor é a cooperação. Sabemos hoje o quanto os jogos de uma forma geral podem aguçar sensibilidades e competências como o pensar, criar, tocar, ver, mover-se, etc. Os educadores cada vez mais utilizam os jogos como método pedagógico de ensino. Entendo que os Jogos Cooperativos e a Pedagogia da Cooperação estão perfeitamente alinhados com as idéias de Gardner quanto ao desenvolvimento das Múltiplas Inteligências em muitos aspectos. 13 Os Jogos Cooperativos são versáteis, com regras flexíveis e por isso adaptam-se a todo tipo de pessoas, grupos, espaços e competências. Facilitando inclusive a utilização de mesmas estruturas para diferentes disciplinas sem perder o desafio do jogo. De forma geral, os jogos têm uma estrutura simples, o que permite certa facilidade na aplicação, e profundidade no momento da exploração do jogo e relação com o conteúdo que se deseja trabalhar de forma ampla, auxiliando na construção do conhecimento, e também de valores e identidade. São Jogos Inclusivos, ou seja, reforçam competências existentes e desenvolvem outras de forma respeitosa, sendo exatamente a inclusão, um dos princípios fundamentais da Pedagogia da Cooperação e do Jogo Cooperativo. Todos participam, cada qual com suas competências, naquele momento, e não existem cobranças ou julgamentos, pois nessa proposta o que importa é o todo, o trabalho do grupo e não a comparação individual como nos jogos competitivos. O processo é muito mais valorizado que o resultado. Se existe alguém com uma limitação que impediria sua participação, esse é um desafio para que o grupo encontre alternativas onde o jogo seja possível para todos, e ao mesmo tempo o jogo seja interessante e desafiador. Nos Jogos Cooperativos, valoriza-se quem joga, muito mais do que o jogo e desta forma pode-se experimentar o verdadeiro VenSer. Vivenciando os Jogos Cooperativos, pode-se sentir essa diferença e analisar qual situação é mais compensadora, qual postura é mais interessante, tornando-se consciente do fato e optando-se por uma direção. As pessoas buscam seu bem estar a todo o momento, mesmo quando estão proporcionando o bem estar ao outro. Os jogos cooperativos foram organizados de maneira a atenderem à necessidade de promoção de habilidades interpessoais e de auto-estima, possuindo uma estrutura que favorece o jogo com o outro e não contra o outro, conforme evidencia BROTTO (2001). Este autor acrescenta que os jogos cooperativos representam uma abordagem filosófico-pedagógica criada para a promoção de uma nova ética de cooperação, visando à melhoria da qualidade existencial.A principal característica destes é o aperfeiçoamento das habilidades de relacionamento e, com estas, a possibilidade de afetar toda a sociedade, transformando atitudes, uma vez que a vida em sociedade representa um grande exercício de solidariedade e de cooperação (ORLICK, 1989; BROTTO, 2001). A base dos princípios que regem a ação cooperativa é centrada na inclusão e no processo de compartilhamento de ações, onde os resultados apresentam-se de forma benéfica a todos, repercutindo positivamente na concepção de um grupo, no momento da ação e posteriormente, com a disseminação destes valores no âmbito da vida diária, o que salienta sua importância no contexto escolar.Com base nestas perspectivas, o estudo 14 centrou a atenção, então, na possibilidade de ressignificação destes valores no âmbito da educação escolar, na perspectiva de promoção de novas atitudes. Para a realização de um processo de conscientização e de redução da competição e da exclusão é necessário que algumas estratégias, relativas ao universo de atuação profissional e pessoal referentes a uma melhor estruturação social e de mudanças dos valores disseminados, sejam repensadas. Neste âmbito, aparecem como elemento decisivo, as fundamentações das atividades profissionais do professor de Educação Física, os quais, por meio de uma adequada seleção dos objetivos e conteúdos pedagógicos, podem sugerir atividades de conscientização, integração e cooperação, que sejam mais efetivas e preventivas no combate destas ações de violência. Este profissional tem inúmeros recursos para incentivar atitudes inclusivas e fomentar a interação social entre os alunos, pelo fato de lidar com o corpo em movimento, o que vai ao encontro das expectativas e necessidades biopsíquicas e sociais de todas as faixas etárias e pela riqueza de exploração do universo lúdico. É neste contexto que aparecem os Jogos Cooperativos como um dos recursos sugeridos, possível de serem implementados na Educação Física, por apresentarem uma estrutura alternativa aos jogos formais, os quais são baseados apenas em atitudes antagonistas, como ganhar e perder. METODOLOGIA Baseada nas idéias dos autores citados e na experiência de vinte anos de trabalho com turmas, foi selecionada uma escola de ensino fundamental da rede pública da cidade de Realeza, estado do Paraná através de uma autorização (termo de consentimento) do diretor permitindo que o estudo pudesse ser desenvolvido no estabelecimento de ensino. A escolha das turmas a vivenciar as atividades ocorreu dentre duas classes de 5ª série e três classes de 6ª Série desta escola, conforme compatibilidade de horário. Ao todo, foram 150 alunos distribuídos entre as 5 turmas. Foram ministradas 35 aulas de 50 minutos durante o ano letivo envolvendo atividades cooperativas. Estas aulas, ministradas pela professora de Educação Física, consistiam de brincadeiras, jogos e conversas baseadas em autores já citados na revisão. Após a consulta da literatura, alguns jogos foram selecionadas e adaptados ao contexto da escola e às características dos alunos. Foi realizada uma pesquisa exploratória, como complemento à literatura revisada. Foi 15 aplicado um questionário contendo 8 perguntas mistas, aos alunos participantes do estudo. O questionário tem as funções de descrição e de medição da proposta apresentada, tendo como vantagem proporcionar aos participantes maior liberdade e tempo de reflexão para o preenchimento das respostas em relação a outros instrumentos de coleta de informações (RICHARDSON, 1989). O questionário foi elaborado junto com o orientador, baseado em outros já existentes. Mesmo assim ele foi testado com um grupo de alunos que não participaram da pesquisa. Ele se mostrou consistente, não necessitando de mudanças. As perguntas relacionaram-se à visão dos alunos quanto ao perfil das aulas de educação física e o conhecimento sobre jogos cooperativos. Dentre os 150 alunos pesquisados, 85 deles pertenciam às classes de 5ª séries e 65 educandos eram das 6ª séries do ensino fundamental da Escola Estadual Dom Carlos Eduardo. A idade média dos alunos era de 10 e 11 anos. Com base nas respostas obtidas por meio dos questionários, procedeu-se à Técnica e Análise das respostas como recurso interpretativo para se atingir os objetivos propostos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A seguir serão apresentados gráficos relativos a cada questão apresentada no questionário (em anexo) e discutido os resultados obtidos. A primeira pergunta é relativa ao gostar das aulas de Educação Física. Dos alunos pesquisados, 99% responderam que gostam por que faze bem a saúde, é divertido, é alegre, gostam de praticar esportes enfim, associaram as aulas a diversão, alegria, esportes e saúde. Apenas 0,1% responderam que não gostam por que são deixados de lado nas aulas, isto é, sentem-se excluídos. O gráfico 1 está relacionado às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física. 16 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Esportes Jogos e Brincadeiras Dança Ginástica Não opinaram 1ª 2ª 3ª 4ª atividade atividade atividade atividade Com relação às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, dentre os alunos entrevistados, 86% enumeraram os esportes como atividade mais trabalhada; 24% enumeraram os jogos e brincadeiras como atividade mais trabalhada; 80% citaram os jogos e brincadeiras como segunda atividade mais trabalhada, 8% citaram os jogos e brincadeiras, 4,6% citaram a ginástica, 3,4% citaram a dança e 4,0% não opinaram; 62% enumeraram a ginástica como terceira atividade mais trabalhada; 24% citaram a dança; 10% citaram os jogos e brincadeiras como terceira atividade; 2,0% indicaram os esportes como terceira atividade e 2,0% não opinaram; 64% enumeraram a dança como quarta atividade mais trabalhada; 22,7% enumeraram a ginástica; 4,0% citaram os jogos e brincadeiras; 9,3% não opinaram. O gráfico 2 está relacionado à prática de esportes com as regras oficiais. 70 60 Praticam esportes com regras oficiais 50 Às vezes praticam com regras oficiais 40 Não praticam com regras oficiais 30 20 Não praticam com regras oficiais 10 Não opinaram 0 Com relação à prática ou não de esportes com as regras oficiais nas aulas de Educação Física verificam-se no gráfico acima que 67% dos alunos entrevistados responderam que praticam esportes com as regras oficiais; 15,3% responderam que às vezes praticam esportes com as regras oficiais; 14,6% responderam que não praticam esportes com as regras oficiais; 3,1% dos alunos não opinaram. 17 O gráfico 3 refere-se às mudanças nas regras oficiais para que a turma jogue melhor. 70 60 50 40 30 Alunos que concordam com mudanças nas regras para que a turma jogue melhor Não concordam com mudanças nas regras 20 10 0 Cconcordam em parte com mudanças nas regras De acordo com o gráfico no que se refere a mudanças das regras oficiais dos esportes para que a turma jogue melhor verifica-se que 69,3% concordam que as regras podem ser mudadas para que a turma jogue melhor; 22.6% não concordam com as mudanças nas regras; 4.6% concordam em parte com a mudança nas regras; 0,4% não opinaram. O gráfico 4 refere à forma pedagógica aplicada nas aulas de Educação Física, se o trabalho é realizado mais individualmente ou mais em grupos. 100 80 60 40 Alunos que citam o trabalho em grupo como o mais trabalhado Trabalho individual como o mais trabalhado 20 0 De acordo com os dados da pesquisa referente à forma de trabalho nas aulas de Educação Física ser realizado mais individualmente ou mais em grupos, verifica-se que 98% dos alunos entrevistados citaram o trabalho em grupo como o mais trabalhado; 2% citaram o trabalho individual como o mais trabalhado. O gráfico 5 refere-se ao que mais se busca nas atividades realizadas nas aulas de Educação Física: a competição ou a cooperação. 18 50 Alunos que acham que busca-se mais a competição 40 30 Alunos que acham que busca-se mais a cooperação 20 Não opinaram 10 0 Com relação ao que se pretende nas atividades realizadas nas aulas de Educação Física, se se busca mais a competição (onde alguém ou uma equipe sempre sai vencedora) ou mais a cooperação (onde todos brincam ou jogam, ou tocam na bola, ou trocam de equipes, e saem sentindo-se vencedores – contentes alegres – sendo mais importante brincar, jogar e aprender, do que vencer), verifica-se que, 50% dos alunos responderam que se busca mais a competição; citaram a competição; 46.7% responderam que se busca mais a cooperação; 3.3% não responderam. O gráfico 6 é relativo ao sentir-se excluído (a), deixado (a) de lado, triste, desmotivado (a) para participar das aulas de Educação Física. 70 60 50 40 Sim 30 Não 20 10 0 De acordo com os dados obtidos com relação a sentir-se excluído e desmotivado para participar das aulas de Educação Física nota-se que, 34,7% dos alunos já se sentiram excluídos por diversos motivos como: preconceitos, não serem “atletas”, terem dificuldades nas atividades físicas e brigas entre outros; 65,3% não se sentem excluídos por que jogam bem, todos são amigos e se gostam, todos se ajudam por que são alegres, as aulas são legais, todo mundo participa em equipe, a professora não deixa ninguém sem participar entre as respostas mais citadas. 19 O gráfico 7 é referente ao gostar de participar de jogos onde todos se divertem, aprendem, melhoram e saem vencedores, e ainda podem participar da elaboração das regras do jogo ou criar um. 100 80 60 40 Sim Não 20 0 Com relação ao gostar de jogos onde todos se divertem e aprendem e a possibilidade de participar da elaboração de um jogo, 99,3% respondeu que sim; 0,7% responderam que não. O gráfico 8 refere-se à opinião dos alunos sobre para que servem as aulas de Educação Física. 60 50 40 30 20 10 0 Exercitar, se divertir, faz bem a saúde além de adquirir novos conhecimentos Educar e ensinar jogos diferentes Ter um futuro melhor Sair da sala de aula e desestressar das outras matérias Correr, brincar, melhorar a coordenação, aprender a trabalhar em grupo e cooperar Estudar, ensinar, aprender a perder, aprender as regras dos jogos Melhorar o físico, aprender a fazer ginástica e exercícios antes de jogar Estimular a educação do corpo e mente, além de realizar atividades coordenadas com o nosso corpo 20 Com relação aos dados referentes à pergunta para que servem as aulas de Educação Física, 58.7% responderam que as aulas de Educação Física servem para nos exercitarmos, faz bem a saúde, nos divertirmos e adquirir novos conhecimentos; 14,0% responderam que as aulas servem para educar e ensinar jogos diferentes; 4% responderam que as aulas servem para ter um futuro melhor; 2% responderam que as aulas servem para sair da sala de aula e desestressar das outras matérias; 16.0% responderam que servem para correr, brincar, melhorar a coordenação, para aprender a trabalhar em grupo, aprender cooperar; 7.3% responderam que as aulas de Educação Física servem para estudar, ensinar, aprender a perder; para aprender as regras dos jogos; 6.0% responderam que as aulas servem para melhorar o físico, aprender fazer ginástica e exercícios antes de jogar; 2,7% responderam que as aulas servem para estimular a educação do corpo e mente e realizar habilidades coordenadas com o nosso. Análise geral dos resultados encontrados A diminuição da agressividade e da exclusão foram as principais diferenças sentidas nas aulas onde foram empregados os jogos cooperativos, devido ser, o elemento mais importante deste tipo de proposta exatamente o fato de um ajudar o outro. Ainda que dificilmente os alunos cheguem a brigar durante as aulas, as crianças apontaram que houve uma diminuição das brigas em função os jogos cooperativos. Este resultado corrobora com as idéias de Orlick (1989), quando este salienta que a introdução de comportamentos e valores, utilizando-se como recursos os jogos e brincadeiras, poderão afetar a sociedade como um todo, para além do momento exclusivo da quadra ou do espaço o jogo.Da mesma maneira, os estudos de Weinstein e Goodman (1993) indicam que os modelos cooperativos no jogar podem oferecer melhores condições de lidar com a competitividade e exclusão que envolve a vida cotidiana.Há menor agressividade nas aulas de jogos cooperativos em relação às aulas tradicionais de Educação Física. Apontando esta diferença entre os aspectos cooperativos e competitivos, Deutsch (apud Rodrigues 1972) evidencia haver alguma indicação de que a competição é mais geradora de insegurança pessoal e de expectativas hostis e agressivas do que no âmbito das atividades cooperativas, confirmando, desta maneira, o s resultados da aulas onde foram aplicados os jogos cooperativos. Os alunos concordaram que as aulas de jogos cooperativos favoreceram a reflexão sobre como respeitar os demais. Além do respeito, os alunos perceberam a importância da colaboração entre os colegas. 21 Sobre estes aspectos, Deutsch (citado por Orlick, 1989) evidencia que é a atmosfera de cooperação e não a de competição que leva à maior coordenação de esforços, maior diversidade de contribuições dos membros, maior produtividade, atenção, amizade, respeito e colaboração. O aspecto mais importante das aulas de jogos cooperativos sentido pelo grupo foi o fato de um ajudar o outro. A maioria das crianças afirmou que recebeu ajuda dos demais durante as aulas. Além da ajuda mútua, os alunos indicaram a união entre os colegas como elemento importante destas aulas. Brown (1994) salienta que, em situação cooperativa, ampliam-se as possibilidades de se ver as coisas a partir da perspectiva do outro, sustentando um clima de trocas e de minimização de situações hostis. Em todos os aspectos explorados na avaliação sobre o relacionamento entre os alunos, os participantes justificaram a união, a cooperação, a ajuda mútua e a ausência de exclusões como benefícios advindos das aulas de jogos cooperativos. Com base na perspectiva de articulação de uma ética cooperativa no contexto escolar, Fontanella (1995) salienta a necessidade de co-articular a potencialidade do jogo com o exercício da cidadania, no sentido de se encontrar os caminhos para uma educação com maior preocupação como respeito sobre a unicidade humana. A maioria dos alunos afirmou que o relacionamento da classe foi modificado com as aulas de jogos cooperativos. Brotto (2001) salienta que cada pequeno passo em direção à atmosfera cooperativa representa um extraordinário avanço sentido por aqueles envolvidos e que,paulatinamente, reverbera por outros espaços e contagia outras pessoas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo teve por finalidade a implantação de jogos cooperativos nas aulas de educação física com o objetivo de inclusão social e uma nova visão a respeito da competição. Os resultados do estudo indicam uma tendência à melhoria do relacionamento interpessoal, na visão dos alunos, apontando a relevância das atividades lúdicas cooperativas nas mudanças axiológicas, dentro do contexto escolar. A dimensão cooperativa, mostrou-se eficiente no processo de aprimoramento de relacionamentos interpessoais, apontando para a necessidade de criação de modelos 22 cooperativos que possam potencializar tais valores e atitudes dentro do âmbito da escola, capazes de aprimorar na sociedade uma ética pautada na solidariedade. Sugere-se a implementação de projetos e ações que maximizem a aplicação deste tipo de atividades no contexto escolar, tendo em vista as constatações referidas às possibilidades de interferências positivas nas mudanças de atitudes e valores que perpassam o ambiente escolar, compossíveis reverberações em todo o contexto da dinâmica social. A visão holística ou do todo, é o que exatamente nos permite visualizar um mundo de recursos e possibilidades praticamente inesgotáveis. Precisamos privilegiar modelos pedagógicos que incentivem as pessoas a olhar além, a buscar outras possibilidades que obrigatoriamente passarão pelo desafio da convivência, da conquista da confiança e da celebração conjunta da vitória. Como fantástico instrumento do exercício de valores positivos para uma nova sociedade, estão os Jogos Cooperativos, que através da criação de "mini-sociedades" através do exercício do jogo, podem exercitar modelos de relacionamentos, produção e distribuição de bens que gostaríamos de viver em nosso mundo real e elaborar estratégias para ampliar o horizonte do nosso jogo, do quarto para a casa, da casa para o quarteirão, do quarteirão para o bairro, a cidade, o estado, o país, o planeta. Deve-se acostumar com determinadas expressões como "visão holística" e "visão global, ação local", sem entretanto exercitarmos seu ensinamento, que vale lembrar o ditado Zen: "- Saber e não fazer, é ainda não saber". Percebeu-se os jogos cooperativos como um meio eficaz para a construção de uma relação pedagógica alicerçada numa educação em valores humanos. Viu-se que, tanto os jogos cooperativos quanto a Educação em valores humanos, podem ser contemplados na formação de novos professores de Educação Física, com vistas a uma inclusão e participação de todos os alunos. Os resultados sugerem que é preciso mais que novas propostas pedagógicas, mas uma efetiva qualidade de relacionamento entre os seres humanos na exaltação do valor à vida no espaço de sala de aula. Assim compreender a Educação Física sob um contexto mais amplo significa entender que ela é composta por interações que se estabelecem na materialidade das relações sociais, políticas, econômicas e culturais dos povos. Portanto é importante reconhecer as maneira como o modo de produção capitalista influencia as formas de pensar e agir sobre o corpo e os seus efeitos diretos na prática pedagógica da Educação Física. 23 Embora a constituição histórica dos conteúdos da disciplina nem sempre estivesse relacionado à lógica da sociedade de classes, sempre sofreu uma abordagem pedagógica vinculada às relações de poder. Pode-se afirmar que, em muitos casos, tais conteúdos continuam subordinados às contradições sociais, o que indica a necessidade de tratá-los criticamente para a sua superação. REFERÊNCIAS BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte com um exercício de convivência. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001. BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir o fundamental é cooperar. Ed. Renovada, Santos, SP: Projeto Cooperação,1997. DEACOVE, Jim. Manual de Jogos Cooperativos. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2004. BROWN, Guillermo. Jogos Cooperativos: Teoria e prática. São Leopoldo RS: Sinodal Editora, 1994. FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física. São Paulo, SP: Scipione, 1991. CORREIA, M. M.Trabalhando com jogos cooperativos. Campinas: Papirus Editora, 2006. ALBERTI. H.; ROTHENBERG. O ensino dos Jogos Esportivos. Rio de Janeiro. Ao Livro Técnico, 1984. RANGEL, I. C. A.; DARIDO. S. S. C. Jogos e brincadeiras. In Darido, e Rangel, I. C. A (coordenadoras). Educação Física na Escola: Implicações para a prática pedagógica, Rio de Janeiro, Guanabara Doogam, 2005. PARANÁ – DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁ – Educação Física – SEED/CURITIBA/2006.