O USO DA SIBUTRAMINA EM PACIENTES OBESOS E SEU
EFEITO SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL
Felipe Jiran Ziller de Noronha Souza1
Carina Rau2
1
Farmacêutico. Aluno de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária pela Pontifícia Universidade Católica de
Goiás/IFAR.
2
Orientadora. Farmacêutica Industrial graduada pela Universidade Federal do Paraná - UFPR; Mestre em
Ciências Farmacêuticas pela UFPR. Professora do Curso de Farmácia do Centro Universitário Campos de
Andrade – UNIANDRADE. Email: [email protected]
Resumo
A obesidade é um sério problema de saúde que está associada a várias comorbidades como a hipertensão,
aterosclerose e insuficiência cardíaca congestiva. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prevalência
global de obesidade é de 8,2% da população. Além dos problemas estéticos relacionados ao excessivo
aumento de peso, há, também, outras patologias associadas como a hipertensão e diabetes.Apesar da perda de
peso ser conseguida através de dietas e exercícios físicos, os pacientes, geralmente, ganham peso novamente
ao final da intervenção. Os tratamentos farmacológicos são uma alternativa para os pacientes com obesidade
exacerbada tentarem reduzir seu peso corporal e assim evitar outros tratamentos mais agressivos e
invasivos.Os moderadores de apetite, como a sibutramina, são comumente utilizados pela medicina para
tratar a obesidade. A sibutramina inibe a recaptação da noradrenalina e de serotonina e dopamina, induz a
saciedade e aumenta o gasto energético termogênico. É uma amina terciária que foi inicialmente
desenvolvida como um antidepressivo. Por causa de seu mecanismo de inibição da recaptação de
noradrenalina, a sibutramina tem o potencial de aumentar a pressão arterial e seu uso em pacientes obesos
hipertensos tem sido questionado, mesmo se a hipertensão estiver bem controlada.
Palavras-chave: Obesidade. Sibutramina. Pressão arterial. Tratamento. Hipertensão. Anorexígeno.
THE USE OF SIBUTRAMINE IN OBESE PATIENTS AND ITS EFFECT ON
BLOOD PRESSURE
Abstract
Obesity is a serious health problem that is associated with various comorbidities such as hypertension,
atherosclerosis and congestive heart failure. According to the World Health Organization, the global
prevalence of obesity is 8.2% of the population. In addition to the aesthetic problems related to the excessive
weight gain, there are also other disorders such as hypertension and diabetes. Despite the loss of weight is
achieved through diet and exercise, patients usually gain weight again at the end of the intervention.
Pharmacological treatments are an alternative for patients with obesity exacerbated try to reduce their body
weight and avoid other more aggressive and invasive treatments. The appetite suppressants such as
sibutramine, are commonly used in medicine to treat obesity. Sibutramine inhibits the reuptake of
norepinephrine and serotonin and dopamine, induces satiety and increases thermogenic energy expenditure.
Is a tertiary amine which was initially developed as an antidepressant. Because of its mechanism of inhibition
of reuptake of norepinephrine, sibutramine has the potential to raise blood pressure and its use in obese
hypertensive patients has been questioned, even if hypertension is well controlled.
Keywords: Obesity. Sibutramine. Blood pressure. Treatment. Hypertension. Anorectic.
INTRODUÇÃO
A obesidade está na raiz das doenças cardiovasculares, atuando diretamente e por
meio de aumento da prevalência de fatores de risco como a hipertensão,
hipercolesterolemia e diabetes (MCMAHON et al, 2002). Com o crescente aumento da
população obesa no mundo, começaram a ser desenvolvidos vários anorexígenos, como a
sibutramina que é um moderador de apetite utilizado de maneira muito comum pela
medicina há pelo menos 15 anos.
Foi desenvolvida inicialmente como antidepressivo no final dos anos 80. Nos
ensaios clínicos foi verificado que o medicamento reduzia o apetite. Então, sob o nome
Meridia®, começou a ser comercializado nos EUA e Alemanha. Em 1999, ganhou o nome
de Reductil®. Em 2010, a EMEA (European Medicines Agency), recomendou a suspensão
da venda de sibutramina, devido ao aumento do risco de acidentes cárdio vasculares. No
Brasil, o medicamento continua a ser vendido, apesar de algumas orientações da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sobre 37 notificações ocorridas em 2009 e a
possibilidade de ocorrência de aumento de pressão arterial e arritmias cardíacas, que já
constam como reações adversas na bula do medicamento, além de diabetes mellitus tipo 2
+ sobrepeso/obesidade + outro fator de risco para problemas cardiovasculares
(MCMAHON et al, 2000).
Em março de 2010 e outubro de 2011, através das Resoluções da Diretoria
Colegiada (RDC) nº 13 e 52 respectivamente, a ANVISA adotou novas medidas de
controle da prescrição e dispensação de medicamentos a base de sibutramina. Em 2010 foi
determinada a transferência dessa substância da lista “C1” para a “B2” da portaria 344/98
do Ministério da Saúde. No ano seguinte, além da proibição na comercialização de alguns
anorexígenos, a prescrição da sibutramina passou a ser feita mediante o termo de
responsabilidade do prescritor.
A sibutramina apresenta uma dupla maneira de reduzir o peso: reduz a vontade de
comer promovendo o aumento da saciedade; previne a redução do gasto energético que
acompanha a perda de peso (LEMOS JÚNIOR et al, 2008).
O cloridrato monoidratado de sibutramina é um agente antiobesidade que exerce
primariamente suas ações terapêuticas por meio de seus metabólitos ativos, mono-desmetil
M(1) e di-desmetil M(2), por bloquear de maneira efetiva a recaptação da serotonina (5hidroxitriptamina, 5-HT), norepinefrina, e dopamina. A droga e seus metabólicos se ligam
fracamente
aos
receptores
de
serotonina,
dopamina,
norepinefrina,
benzodiazepina e glutamato. Não possui atividade anticolinérgica ou anti-histaminérgica e
não estimula a liberação de serotonina, norepinefrina ou dopamina.
As doses usuais de sibutramina que estão sendo utilizadas são de 10 mg/dia ou 15
mg/dia. Alguns estudos indicam que pacientes que receberam 10 mg/dia sentiam fome
durante a noite. Assim, o médico faz uma avaliação do tratamento para decidir a dose que o
paciente deve receber (iniciando com uma dose de 10 mg) ou se irá descontinuá-lo, de
acordo com a perda de peso durante o tratamento (MCMAHON et al, 2002).
A sibutramina é indicada para redução do peso, no tratamento da obesidade, e deve
ser usado em conjunto com dieta e exercícios, como parte de um programa de controle de
peso, desde que a orientação alimentar e a atividade física não sejam suficientes para
atingir o objetivo clínico. É indicada em pacientes com Índice de Massa Corporal
(IMC) maior ou igual a 30 kg/m2, ou maior ou igual a 27 kg/m2 associado a algum fator de
risco como hipertensão.
Em estudos clínicos foram observados os seguintes efeitos adversos: aumento de
pressão, taquicardia, palpitações, vasodilatação, constipação, xerostomia, cefaleia, insônia,
parestesia, lombalgia, náusea, dispepsia, sudorese, alteração do paladar, dismenorréia,
alterações visuais (moscas volantes). Houve um número significativamente maior de casos
de infecção de ouvido, sinusite e resfriado comum entre pacientes usuários do
medicamento em relação a usuários de placebo (HALPERN et al, 2002).
Este estudo tem como objetivo avaliar o efeito do fármaco supressor do apetite
sibutramina na pressão arterial de pacientes obesos que já possuem hipertensão arterial ou
mesmo daqueles que são normotensos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada por meio de um estudo descritivo.
Para a fundamentação do arcabouço teórico, foi feita uma revisão da literatura disponível
nos últimos 10 anos sobre a sibutramina e o efeito sobre a pressão arterial. Realizou-se um
busca sistemática da bibliografia publicada nas bases de dados Medical Literature Analysis
and Retrieval System (Medline), na literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), na Biblioteca Nacional do Instituto de Saúde dos Estados Unidos da
América (PUBMED), BIREME e Scientific Eletronic Library Online (Scielo).
As palavras chaves utilizadas para busca nas bases de dados foram: obesidade;
sibutramina; pressão arterial; tratamento; hipertensão; anorexígeno.
DISCUSSÃO
1. Obesidade
Tem havido aumento mundial na prevalência de obesidade, o qual se tornou mais
notório dos anos 80 para os 90. Essa condição deixou de ser problema estético para tornarse importante fator de risco para inúmeras doenças que comprometem o homem
contemporâneo.
Muitos dos mecanismos fisiopatológicos que levam à obesidade são ainda
desconhecidos. Entre alguns fatores causais, podem ser citados hábitos alimentares
incorretos, inatividade física, obesidade secundária a alterações neuroendócrinas (síndrome
de Cushing, hipotireoidismo, hipogonadismo), a medicamentos (glicocorticoides,
antidepressivos tricíclicos), obesidade genética e fatores ambientais como sedentarismo e
inadequações na composição da dieta (CORRÊA et al, 2005).
A obesidade pode ser definida como todo aumento de peso corporal por excesso de
tecido adiposo ou todo excesso de gordura corporal que origina risco para a saúde
(GUIMARÃES et al., 2006). Sobrepeso e obesidade são determinados pelo IMC, expresso
pela divisão do peso (em kg) pela altura ao quadrado (em m2). Valores de 25 a 29,9
indicam sobrepeso, de 30 a 35, obesidade e superiores a 35, obesidade grave. De acordo
com o IMC, a obesidade é classificada por gravidade e riscos de morbidade e mortalidade.
Adultos com IMC superior a 30 apresentam risco 5 a 100% maior de morte prematura em
comparação aos que têm IMC entre 20-25 (HALPERN et al, 2002).
A classificação segundo o IMC avalia eficientemente a obesidade em grupos
populacionais e estima seus riscos associados. Mesmo assim, devem ser consideradas
variações entre indivíduos e populações (CORRÊA et al, 2005).
Sobrepeso e obesidade determinam risco maior de adquirir diferentes enfermidades
e alterações metabólicas como o diabetes melito, dislipidemias, aterosclerose,
hiperuricemia, esteatose e hipertensão arterial.
A atividade física colabora modestamente para a perda de peso. O monitoramento
contínuo aumenta a perda de peso, devendo ser combinado com restrição calórica e
aumento da atividade física (TZIOMALOS et al, 2009). Tratamentos cirúrgicos são
eficazes e possivelmente custo-efetivos, mas devem restringir-se à obesidade mórbida
(IMC = 40) e aos pacientes em que o aumento de peso (IMC entre 35 e 40) associa-se a comorbidade. Recebem essa indicação pacientes incapazes de manter perda de peso depois
de adequadas medidas não-cirúrgicas, sem contra-indicações para anestesia e cirurgia e
devidamente motivados para engajar-se em longo seguimento. A cirurgia supera as demais
intervenções na manutenção de longo prazo de perda de peso, mas acarreta potenciais
complicações operatórias e em longo prazo.
2. Tratamento farmacológico da obesidade
Medidas medicamentosas promovem modestas perda e manutenção de peso em
indivíduos obesos com grande chance de recuperar o peso após o final da intervenção e são
uma medida comum na prática médica. O balanço entre potenciais benefícios e riscos deve
ser feito antes da indicação de medicamentos com o objetivo de diminuir apetite e peso.
Até hoje há limitada evidência sobre eficácia e segurança de longo prazo, sendo assim, os
fármacos moderadores de apetite, como a anfrepamona, femproporex, mazindol e
sibutramina, são considerados como medidas coadjuvantes das modificações de estilo de
vida, sendo indicados para pacientes selecionados: IMC ≥ 30 (obesos) ou IMC entre 25 e
29,9 (sobrepeso) com doenças relacionadas a obesidade. A maioria dos estudos que
avaliam os medicamentos usados no controle da obesidade mantém os pacientes em dieta e
exercício físico. Esses medicamentos não são indicados em gestante e nutrizes, pois há
insuficiente evidência de segurança nessas condições (LEMOS JÚNIOR et al, 2008;
ZANELLA et al, 2009).
3. Sibutramina
A sibutramina inibe a recaptação da noradrenalina e, em menor proporção, de
serotonina e dopamina, induz a saciedade e aumenta o gasto energético termogênico
(MENEZES et al, 2010). Devido a essa característica, a sibutramina poderia estar mais
bem classificada como um agente com efeitos na saciedade ao invés de um agente
anorexígeno (COUTINHO, 2009). Os efeitos sobre a saciedade envolvem ações centrais
nos adenoreceptores alfa-1 e beta-1, receptores de serotonina 5-HT2c e, provavelmente, 5HT2a (FRASSETO et al, 2010). O tratamento crônico com a sibutramina minimiza a
redução adaptativa no gasto de energia de repouso, contribuindo com o aumento
metabólico para a perda de peso. Seu uso em pacientes obesos e hipertensos tem sido
questionado, mesmo quando a hipertensão está bem controlada (MCMAHON et al, 2002).
É um fármaco que garante a perda de peso associada à diminuição da circunferência
abdominal e redução das taxas lipídicas no sangue (HALPERN et al, 2002).
A noradrenalina, dopamina e serotonina são monoaminas mediadores de grande
importância para todo o sistema nervoso central, pois são responsáveis por movimentos
que refletem coordenação motora, comprometimento cognitivo e comportamento
exploratório do indivíduo. A noradrenalina e serotonina desempenham um importante
papel no controle da energia e estão envolvidas na sintomatologia relacionada à obesidade,
depressão e ansiedade (FEIJÓ et al, 2010). As vias metabólicas dessas aminas têm sido
bastante estudadas com especial atenção a agentes antiobesidade e antidepressivos
(FRASSETO et al, 2010).
4. Hipertensão arterial
A hipertensão arterial é considerada o principal fator de risco cardiovascular, uma
vez que potencializa a ocorrência de diversas doenças cardiovasculares, de forma que seu
diagnóstico
precoce
pode
ser
uma
importante
estratégia
de
saúde
pública
(CHRISTOFARO et al, 2011). É um problema de saúde comum que pode ter
consequências devastadoras, frequentemente permanecendo assintomática até uma fase
tardia de sua evolução. A hipertensão pode ter como consequências doença arterial
coronariana, acidentes vasculares cerebrais, hipertrofia cardíaca e insuficiência cardíaca,
dissecção aórtica e insuficiência renal.
É amplamente reconhecido que a hipertensão constitui um distúrbio complexo,
multifatorial, que possui determinantes genéticos e ambientais. As vias moleculares
subjacentes às variações da pressão arterial foram recentemente elucidadas, dando origem
a possíveis alvos de intervenção terapêutica (CHRISTOFARO et al, 2011).
A pressão arterial, assim como a altura e o peso, é considerada uma variável de
distribuição contínua, e a hipertensão essencial representa um dos extremos desta
distribuição, em vez de uma doença distinta. Os efeitos prejudiciais da hipertensão arterial
aumentam conforme a pressão se eleva, e não há um limite rígido definido para distinguir
níveis seguros e arriscados da pressão arterial. Ainda assim, considera-se que pressão
diastólica persistente maior do que 90 mmHg, ou pressão sistólica superior a 140 mmHg,
constituem hipertensão. De acordo com estes critérios, programas de triagem revelam que
25% dos indivíduos da população geral são hipertensos. A hipertensão atinge mais de 800
milhões de indivíduos em todo o mundo. A prevalência e a vulnerabilidade quanto às
complicações da doença aumentam com a idade e, por razões desconhecidas, são mais
elevadas em afro-americanos. Dados epidemiológicos indicam que a pressão arterial
sistólica é mais relevante como determinante de risco cardiovascular do que a pressão
arterial diastólica, exceto em indivíduos jovens (MCMAHON et al, 2002).
A redução da pressão arterial reduz drasticamente as taxas de incidência e morte
causadas por cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca e acidente vascular encefálico.
No entanto, mais de um quarto daqueles com hipertensão não sabem que possuem a
doença, e em até três quartos dos indivíduos conscientes de portar a doença as condições
podem ser controladas de maneira insuficiente.
Um pequeno número de pacientes (cerca de 5%) possui doença renal ou adrenal
subjacente (como aldosteronismo primário, síndrome de Cushing, feocromocitoma),
estenose da artéria renal, geralmente por placa ateromatosa (hipertensão venovascular) ou
outra causa identificada, chamada de hipertensão secundária (GEORGETTI et al, 2007).
Contudo, cerca de 95% das hipertensões são idiopáticas. Esta forma de hipertensão
geralmente não provoca complicações em curto prazo; especialmente quando controlada, é
compatível com uma vida longa e permanece assintomática, a menos que haja ocorrência
de infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico ou outra complicação. Assim, este
subgrupo é frequentemente chamado de hipertensão benigna.
Uma pequena porcentagem dos hipertensos, talvez 5%, apresenta pressão arterial
com rápida elevação, que, quando não tratada, pode levar à morte dentro de 1 ou 2 anos.
Denominada hipertensão maligna ou acelerada, sua síndrome clínica é caracterizada por
hipertensão grave (pressão sistólica superior a 200 mmHg e pressão diastólica superior a
120 mmHg), insuficiência renal e hemorragias e exsudatos retinianos, com ou sem
papiledema. Pode ocorrer em pessoas que apresentavam pressão arterial normal
anteriormente, porém mais frequentemente se sobrepõe a hipertensão benigna preexistente,
seja essencial ou secundária (MARTINELLI et al, 2010).
Os mecanismos múltiplos da hipertensão constituem aberrações da regulação
normal da pressão arterial. A hipertensão arterial ocorre quando a relação entre o débito
cardíaco e a resistência periférica total é alterada. Em muitas das formas secundárias de
hipertensão, estes fatores estão razoavelmente bem compreendidos. Por exemplo, na
hipertensão renovascular, a estenose da artéria renal provoca um decréscimo no fluxo
glomerular e da pressão da arteríola aferente do glomérulo. Isto induz a secreção de renina,
iniciando a vasoconstrição mediada por angiotensina II e resistência periférica elevada, e
eleva a reabsorção de sódio, por conseguinte elevando o volume sanguíneo através do
mecanismo da aldosterona. No feocromocitoma, um tumor na glândula adrenal, as
catecolaminas produzidas por células tumorais provocam vasoconstrição, desta forma
induzindo hipertensão (GEORGETTI et al, 2007).
A pressão arterial é proporcional ao débito cardíaco e à resistência periférica
vascular. De fato, o nível da pressão arterial é uma característica complexa determinada
pela interação de múltiplos fatores genéticos, ambientais e demográficos, que influenciam
o débito cardíaco e a resistência vascular. Os principais fatores que determinam a variação
da pressão arterial dentro de uma população e entre populações incluem idade, sexo, índice
de massa corporal (IMC) e alimentação, principalmente o consumo de cloreto de sódio
(MARTINELLI et al, 2010).
O débito cardíaco é altamente dependente do volume sanguíneo, e este é
amplamente influenciado pela homeostase do sódio corporal total. A resistência vascular
periférica é determinada principalmente no nível das arteríolas, sendo afetada por fatores
neurais e hormonais. O tônus vascular normal reflete o equilíbrio entre as influências
vasoconstritoras humorais (incluindo angiotensina II, catecolaminas e endotelina) e
vasodilatadoras incluindo quininas, prostaglandinas e Óxido Nítrico (NO). A resistência
dos vasos também exibe auto-regulação, através da qual o fluxo sanguíneo elevado
provoca a vasoconstrição para proteger contra a hiperperfusão tecidual. Outros fatores
locais, como o pH e hipóxia, e os sistemas adrenérgicos α e β, que influenciam a
frequência cardíaca, a contração cardíaca e o tônus vascular, podem ser importantes. A
função integrada destes sistemas garante uma perfusão adequada de todos os tecidos,
apesar das diferentes demandas regionais (MARTINELLI et al, 2010).
5. Sibutramina x Pressão arterial
]
A sibutramina foi aprovada em 1998 e desde então é utilizada em inúmeros
experimentos. Dessa maneira, a pressão sistólica e diastólica tem variado tanto para mais
como para menos. Em relação à frequência cardíaca, há relatos de aumentos em torno de 4
batimentos por minuto (COUTINHO, 2009).
Segundo Godoy-Matos e colaboradores (2004), em estudo com adolescentes, a
sibutramina foi bem tolerada e não apresentou alterações no eletrocardiograma dos
indivíduos participantes. Todavia, Kim (2003) citado por Godoy-Matos et al. (2004),
mostrou que o aumento da pressão diastólica e sistólica foi maior quando ao pacientes
possuíam peso corporal maior que 92 kg e idade menor que 44 anos.
Tratamentos com sibutramina geralmente são bem tolerados (MCMAHON et al,
2000). Ao contrário de alguns agentes de ação central causarem a liberação de serotonina
dos neurônios, a sibutramina não está associada à valvulopatia cardíaca. No entanto, a
sibutramina tem sido associada a aumento de pressão diastólica e sistólica de 1 a 3 mmHg
em pacientes normotensos (MCMAHON et al, 2000). Em outro estudo, McMahon e
colaboradores (2002) observaram que a pressão arterial dos indivíduos manteve-se
controlada nas 52 semanas de duração dos testes mesmo com a dose diária de 20 mg de
sibutramina. No estudo realizado no ano 2000 levantou-se a tese de que a sibutramina
poderia estar associada a um aumento na pressão diastólica e sistólica em pacientes com
tendência a hipertensão, porém não foi possível avaliar essa questão (MCMAHON et al,
2000). Segundo esse autor, pouco se sabe como a sibutramina pode aumentar a pressão
arterial em pacientes obesos com hipertensão controlada. A presença de uma alta atividade
adrenérgica pode ser um fator de interferência nos benefícios decorrentes da perda de peso
pelo uso do medicamento (FARIA et al, 2002).
Tziomalos e colaboradores (2009) consideraram que a sibutramina aumenta a
pressão arterial devido a um efeito simpatomimético periférico. A sibutramina estimula a
expressão dos genes adrenoreceptores alfa-2 e beta-1 no tecido adiposo e aumentam os
níveis de adrenalina e noradrenalina no plasma. Nesse estudo, a sibutramina não aumentou
a pressão arterial em pacientes hipertensos que utilizavam Inibidores da Enzima
Conversora de Angiotensina (IECA).
Nos ensaios clínicos de pacientes normotensos tratados com sibutramina, a pressão
sistólica tende a se manter estável ao passo que a pressão diastólica pode ter uma pequena
variação de até 5mmHg quando comparada ao grupo placebo (HALPERN et al, 2002).
6. Legislação pertinente à sibutramina e outros inibidores de apetite
A ANVISA lançou em 2010 e 2011 duas resoluções com o intuito de manter um
rigoroso controle sobre a venda dos inibidores de apetite. A RDC 13/2010 remanejou a
sibutramina da lista de medicamentos “C1” para a lista “B2”, onde passou a ser necessária
a prescrição desta substância em uma notificação de receita com numeração de série
autorizada pela vigilância sanitária (BRASIL, 2010).
Já a RDC 52/2011 (BRASIL, 2011) foi mais incisiva ao proibir o uso das
substâncias anfepramona, femproporex e mazindol. Já para a sibutramina não houve
proibição, mas foi introduzido o “termo de responsabilidade do prescritor para uso do
medicamento contendo a substância sibutramina”. Nesse termo, o profissional deve
esclarecer ao paciente sobre os riscos inerentes ao tratamento com a sibutramina para que
haja um controle adequado da pressão arterial e de outros fatores de risco.
Essas medidas adotadas pelo governo brasileiro têm sido alvo de inúmeras críticas
pelos profissionais médicos. O argumento levantado pelos prescritores é em relação a falta
de uma outra alternativa para o tratamento da obesidade. A conduta médica para com os
pacientes com IMC elevado é restrita ao medicamento anorexígeno até que se decida em
realizar o tratamento cirúrgico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sibutramina é um inibidor da recaptação neuronal de 5-hidroxitriptamina (5-HT),
noradrenalina e dopamina nos locais do hipotálamo que regulam a ingestão de alimentos.
As principais ações da sibutramina consistem em reduzir a ingestão de alimentos e
produzir perda de peso dose-dependente, estando a perda de peso associada a uma redução
dos fatores e risco associados à obesidade. Aumenta a saciedade, e foi relatado que ela
produz uma redução da circunferência da cintura, diminuição dos níveis plasmáticos de
triglicerídeos e lipoproteínas de densidade muito baixa, porém elevação das lipoproteínas
de alta densidade. Além disso, são observados efeitos benéficos sobre a hiperinsulinemia e
a taxa de metabolismo da glicose.
Há evidências preliminares de que a perda de peso está associada a um maior
consumo de energia, possivelmente através de um aumento da termogênese mediado pelo
sistema nervoso simpático.
A redução do peso corporal obtida com a sibutramina isoladamente não é
facilmente mantida. Para ser eficaz como terapia contra a obesidade, pode ser necessário
combinar a sibutramina com outras medidas contra a obesidade. Quanto à sua influência
sobre a pressão arterial, não se pode observar nos artigos tomados como base, um aumento
significativo nos índices diastólicos e sistólicos. Uma possível explicação poderia ser o
pequeno tamanho da amostra, dose de sibutramina abaixo do esperado durante o período
de tratamento e a própria redução do peso corporal. O que se pode observar foi uma
discrepância entre os vários estudos pesquisados na elaboração deste artigo de revisão. Não
se sabe sobre os motivos pelos quais os estudos mostraram que a sibutramina é segura em
pacientes obesos com hipertensão ou mesmo com tendência a evoluir essa patologia. Podese apenas sugerir que o tamanho da amostra e o tempo de observação dos experimentos foi
insuficiente para determinar com exatidão se essa substância é realmente capaz de gerar
um aumento significativo na pressão diastólica e sistólica a ponto de se tornar uma
hipertensão arterial com efeitos nocivos comprovados para o paciente.
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