Alterações na composição corporal, tensão arterial e perfil lipídico de crianças e adolescentes participantes no Programa de Intervenção “Projeto ACORDA”. Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de mestre em Atividade Física e Saúde, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto ao abrigo do Decreto de Lei nº. 74/2006 de 24 de Março. Orientadora: Professora Doutora Luísa Aires Co-orientador: Professor Doutor Jorge Mota Orientando: Ronaldo Belchior de Albuquerque Melo Porto, Maio 2013 Ficha de Catalogação Belchior, R.A.M (2013). Alterações verificadas na composição corporal, tensão arterial e perfil lipídico de crianças e adolescentes participantes no Programa de Intervenção “Projeto ACORDA”. Porto: R. Belchior. Dissertação de Mestrado para obtenção do grau de mestre em Atividade Física e Saúde, apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Palavras-Chave: Composição Corporal, Crianças, Adolescentes, Projeto Acorda “Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar, por meio da Educação” Ayrton Senna Agradecimentos - Primeiramente agradeço a Deus pela oportunidade de viver em Portugal, especialmente na cidade do Porto. Por ter me proporcionado conviver com pessoas maravilhosas nesta cidade e pelas maravilhas que aconteceram na minha vida ao longo desses dois anos. - A minha querida e amada mãe Emília Belchior por todos os sacrifícios feitos para me proporcionar esta experiência do Mestrado, por todas as conversas de estimulo. A partir dos seus gestos eu posso sentir e perceber o que é o verdadeiro amor incondicional. Qualquer palavra é incapaz de descrever toda admiração, respeito, carinho, orgulho e amor que sinto por ela. - Aos meus avós Manuel e Maria de Lourdes Belchior por mesmo não concordando com a minha vinda a Portugal não deixaram de ajudar-me no custeio deste projeto, inclusive pagando meu mestrado. E também por eles terem me ensinado o sentido das palavras humildade, serviço, sinceridade e família. Amo-os muito. - Ao meu querido e amado pai Ronaldo Oliveira, minhas irmãs Juliana e Carol, pelo apoio, carinho e demonstração de amor. - A minha esposa Maria Alice Belchior pelo companheirismo, amizade, carinho, dedicação, muita paciência para comigo neste tempo. Sem ela eu jamais teria conseguido realizar esta obra. - A minha orientadora professora Dra. Luísa Aires por toda sua dedicação, apoio e compromisso com os quais me orientou nesta obra. Pela forma paciente com que me orientava sempre me ajudando e respondendo as dúvidas no menor tempo possível. A professora Luísa é uma daquelas pessoas que fazem o trabalho valer a pena, pela alegria, compromisso, justiça e sabedoria com que conduz o projeto. Foi muito gratificante e de grande valia ter sido orientado por ela. Muitíssimo obrigado por tudo. - Ao Dr. Gustavo pelas boas conversas e orientações durante as avaliações e no pátio da FADEUP. v - A toda minha Família Portuguesa, em particular o Manelito e Fátima, as Tias Emilia e Maria, Tio João e toda família de Vila Real e Sabrosa por toda dedicação, carinho e amor que desde miúdo sempre tiveram comigo. - A todos meus colegas de mestrado, especialmente ao Marcus Túlio, Filipa, Cristiana e Leandro pela amizade e companheirismo. - A Alessandra e Gabriel pela amizade e orações. - A todos os professores e funcionários da FADEUP, especialmente os Professores José Alberto Duarte, Jorge Bento, José Carlos Ribeiro, Maria Paula Santos e a Patrícia da Biblioteca por sempre estar a disposição quando precisei solicita-los. - Ao meu co-orientador Jorge Mota pela sua simplicidade, receptividade e rapidez com que respondia minhas questões. - A todos meus ex-professores da UFPE, especialmente os professores Dr. Paulo Carvalho, Pedro, Edilson e Vilde. - A todos os meus amigos em especial Hugo Borba, Marcio, Edgar, Luiz, Felipe, Bruna, Plinio, Edson, Giovanni, Taciana, Bruno, Tiago, Beta, Felipinho, Nanda, Lívia, Carol, Vanessinha, Manu Balbino, Navila, Augusto, Rebeca, Ana Karla E Bruno Simões por todo apoio e incentivo para que eu fosse firme e conseguisse superar todas as dificuldades. - A todos os pais e crianças participantes do projeto ACORDA fica aqui meu reconhecimento que sem a boa vontade, compromisso e renuncia de vocês este trabalho jamais poderia ter sido realizado. Fica um muito obrigado por todos os momentos de aprendizado e alegria durante as avaliações. - A todas as escolas que fazem parte do Projeto ACORDA. - Por fim, mas não menos importante, aos meus cunhados João, Claudio, Aline, Amélia, Luis e aos meus sogros José e Ângela por todo apoio e carinho que sempre demonstraram a mim. - A todas as pessoas que contribuíram para esta obra e por algum motivo eu possa estar esquecendo, fica um muito obrigado. vi Índice Geral Agradecimentos ................................................................................................. v Índice de Figuras ................................................................................................ ix Índice de Tabelas ............................................................................................... x Resumo .............................................................................................................. xi Abstract ............................................................................................................ xiii Lista de abreviações ......................................................................................... xv CAPÍTULO I: ................................................................................................ 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1 1.Introdução ....................................................................................................... 3 CAPÍTULO II: REVISÃO DE LITERATURA ................................................. 5 2. Revisão de Literatura ..................................................................................... 7 2.1 Obesidade Infantil ..................................................................................... 7 2.1.2 Causas e consequências da obesidade ................................................. 9 2.2 Composição corporal .............................................................................. 10 2.2.1 Métodos para avaliação da composição corporal ................................ 11 2.3. Obesidade, Tensão Arterial e Hipertensão. ........................................... 14 2.3.1 Tensão Arterial ..................................................................................... 14 2.3.2 . Tipos de Tensão arterial .................................................................... 14 2.3.3. Hipertensão Arterial ............................................................................ 16 2.3.4. Obesidade e Hipertensão ................................................................... 18 2.4. Colesterol, Triglicerídeos, glicose .......................................................... 18 2.4.1. Definição ............................................................................................. 18 2.4.2. Tipos de diabetes e epidemiologia ...................................................... 20 2.4.4. Consequências e Tratamento da Diabetes ......................................... 22 2.4.5. Colesterol ............................................................................................ 23 2.4.6. Triglicérides ......................................................................................... 25 2.5. Dislipidemia ............................................................................................ 26 2.6. Benefícios e recomendações mundiais para prática de atividade física 27 2.6.1. Benefícios da atividade física .............................................................. 27 vii 2.6.2. Recomendações mundiais para atividade física em crianças e adolescentes ................................................................................................. 28 2.6.4. Dislipidemias, obesidade, e exercício. ................................................ 29 2.6.5. Intervenção ......................................................................................... 30 CAPÍTULO III: OBJETIVOS E METODLOGIA ........................................... 33 3. Objetivos ...................................................................................................... 35 3.1 Objetivo geral do estudo ......................................................................... 35 3.2 Objetivos específicos .............................................................................. 35 4. Material e Métodos ....................................................................................... 36 4.2 Procedimentos para avaliações .............................................................. 36 4.3 Projeto ACORDA .................................................................................... 37 4.3.1 Programa de exercício físico ................................................................ 37 4.4 Procedimentos estatísticos ..................................................................... 38 CAPÍTULO IV: RESULTADOS, DISCUSSÃO, CONCLUSÃO E REFERÊNCIAS ......................................................................................... 41 5. Resultados ................................................................................................... 43 5.1. Caracterizações da amostra .................................................................. 43 5.2. Comparação dos dois momentos de avaliação..................................... 45 5.3 Caracterização do HOMA e análise estatística ....................................... 48 6. Discussão ..................................................................................................... 51 7. Conclusão .................................................................................................... 57 8. Referências .................................................................................................. 59 viii Índice de Figuras - Figura 1. Percentagem da amostra de acordo com o gênero 43 - Figura 2. Alterações no IMC entre a 1ª e 2ª avaliações 44 - Figura 3. Percentagem da amostra por faixa etária 44 - Figura 4. Alterações do HOMA entre as avaliações 49 ix Índice de Tabelas -Tabela 1. Prevalência do peso normal, sobrepeso e obesidade por áreas geográficas em Portugal 8 -Tabela 2. Ponto de corte para perímetro da cintura em crianças Portuguesas 13 -Tabela 3. Classificação da Tensão Arterial 15 -Tabela 4. Classificação do Colesterol Total 24 -Tabela 5. Classificação do Colesterol LDL 24 -Tabela 6. Classificação do colesterol HDL 25 -Tabela 7. Classificação dos triglicerídeos 26 -Tabela 8. Percentagem da amostra de acordo com IMC nos dois momentos 43 -Tabela 9. Caracterização da amostra e comparação das variaveis em estudo separados por gênero 45 -Tabela 10. Comparação de todas as variaveis em estudo nos dois momentos de avaliação 46 -Tabela 11. Comparação das variaveis em estudo de acordo com faixa etária 47 -Tabela 12. Comparação das variáveis entre os grupos etários 48 -Tabela 13. Caracterização da amostra e Comparação do HOMA entre as avaliações 49 x Resumo A obesidade infantil é um grave problema de saúde pública, e está definida como aumento da gordura corporal, acima do qual o risco de doença aumenta. Estima-se que no mundo haja 500 milhões de pessoas com obesidade, desses, 40 milhões são crianças menores de 5 anos. As principais causas da obesidade são sedentarismo e uma alimentação desequilibrada, e está associada a outros fatores de risco como: Hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias, síndrome metabólica, asma, doenças cardiorrespiratórias e psicossociais. Portugal tem uma das maiores taxas de obesidade infantil da Europa. A hipertensão arterial, classificada como a terceira causa na redução da qualidade e dos anos de vida, afeta já uma percentagem preocupante de crianças e adolescentes. O principal objetivo deste estudo foi analisar as alterações observadas na composição corporal perfil lipídico, HOMA e tensão arterial em crianças participantes de um programa de intervenção para prevenção e tratamento da obesidade, através do aumento da prática de exercícios físicos regulares. Para isso recolheu-se dados antes e após o programa de intervenção denominado “Projeto ACORDA”. A amostra foi composta por 68 crianças dos 6 aos 19 anos, sendo 42,6% de meninos e 57,4% de meninas. Foram avaliados o peso, altura e perímetro da cintura, a % de massa Gorda e % de gordura do tronco (através do DEXA). Foram também recolhidas amostra de sangue, para análise do perfil lipídico e foi medida a tensão arterial. A partir do T-Test para amostras emparelhadas, foram encontradas diferenças significativas entre as duas avaliações em: altura, peso, perímetro da cintura, % de massa gorda do tronco, tensão arterial sistólica, colesterol total e glicose. Os valores médios da % de massa gorda do tronco, tensão arterial sistólica, glicose e colesterol reduziram significativamente. Os triglicerídeos e tensão arterial diastólica mostraram uma tendência de redução, contudo não foram verificadas diferenças significativas. A partir da ANOVA foram observadas diferenças significativas entre as faixas etárias, (Δ)Delta da Tensão arterial sistólica do grupo de 12-19 anos foi diferente do grupo de 9-11 anos, e o ΔColesterol do grupo de 9-11 anos foi diferente do grupo de 12-19 anos.Os resultados obtidos mostraram que um programa de intervenção com o objetivo de aumentar os níveis de atividade física, pode contribuir para a redução da massa gorda em crianças e adolescentes com excesso de peso e obesidade. Palavras Chave: Obesidade Pediátrica, Composição Corporal, Perfil Lipídico, Tensão arterial, Intervenção xi Abstract Child obesity is a serious public health concern defined as the increase of body fat, contributing to the risk of sicknesses. It is estimated that forty million, from five hundred million obese people worldwide, are children under five years of age. The main causes of obesity are lack of physical exercise and unbalanced eating habits, associated with other risk factors such as: blood pressure, diabetes, dyslipidaemias, metabolic syndrome, asthma, cardiorespiratory and psychosocial diseases. Portugal has one of the highest child obesity rates inEurope. Elevated blood pressure is classified as the third cause in reducing quality and lifetime, affecting a concerning percentage of children and adolescents. The main purpose of this study was to analyse changes between baseline and second evaluation in body composition, lipid profile, HOMA, and blood pressure in children attending an intervention program for obesity treatment and prevention, through the increase of physical exercise in a regular basis. To conduct the study, data were collected before and after the intervention program named “ACORDA Project”. The sample comprised 68 children and adolescents aged 6 to 19 years old, (57,4% girls). Weight, height, waist circumference, percentage of fat mass and percentage of trunk fat (through DEXA) were evaluated. Blood samples were also collected for the lipid profile and the blood pressure was measured. Pared-sample T-Test , was used to analyse differences for: height, weight, waist circumference, percentage of fat mass, trunk fat, systolic blood pressure, glucose and cholesterol. Mean values of the percentage of fat mass, trunk fat, systolic blood pressure glucose and cholesterol decrease significantly. Triglycerides and diastolic blood pressure showed a decreasing trend, however, considerable differences were not verified. ANOVA was used to analyse significant differences between age groups. The (Δ) Delta systolic blood pressure of group 12-19 years was different group of 9-11 years, and ΔColesterol group 9-11 years was different from group of 12-19 years . Our results showed that an intervention program with the purpose to increase levels of physical exercise, could contribute to the reduction of fat mass in obese and overweight children and adolescents. Keywords: Childhood Obesity, Body Composition, Lipid Profile, Blood Pressure, Intervention. xiii Lista de abreviações AVC – Acidente Vascular Cerebral ACORDA – Adolescentes e Crianças Obesas em Regime de Dieta e Atividade Física CIAFEL – Centro de Investigação, Atividade Física, Saúde e Lazer CT – Colesterol Total DCV – Doenças Cardiovasculares DEXA – Dual Energy Xray Absorptiometry EDTA – Ácido Etilenodiaminotetracético Fig – Figura HDL – Lipoproteína de Alta Densidade HOMA – Homeostasis Model Assessment LDL – Lipoproteína de Baixa Densidade LP(A) – Lipoproteína (a) IMC – Índice de Massa Corporal NIH – National Institutes of Heatlh MG – Massa Gorda PC – Perímetro da Cintura SNC – Sistema Nervoso Central SPSS – Statistical Packege for The Social Sciences TA – Tensão Arterial TAD – Tensão Arterial Diastólica TAM – Tensão Arterial Média TAS – Tensão Arterial Sistólica WHO – World Health Organization xv CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 1.Introdução 1.1 Propósito e finalidade do estudo A obesidade é um grande problema de saúde pública, na qual é vista, ao lado do cigarro, como a maior causa evitável de doenças. Associado a ela ocorrem diversas morbidades, tais como: doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e dislipidemias. Contudo há décadas sabe-se que a obesidade é causada por uma maior ingestão de calorias do que o seu dispêndio, no entanto, o fato de conhecer suas causas e consequências parece não implicar na redução do número de obesos. A obesidade infantil também está em crescimento, o que pode ser explicado pelo aumento do comportamento sedentário e maior acesso a alimentos pobres em nutrientes e ricos em gorduras saturadas (Anderson & Butcher, 2006). Estudos mostram a importância de investir em intervenções que visem aumento do dispêndio energético com o intuito de diminuir o comportamento sedentário e, como consequência, tentar reverter ou travar o crescimento da obesidade infantil. Pois, apesar da dificuldade em quantificar e estratificar os riscos da obesidade em crianças, já é certo que há uma tendência das crianças obesas tornarem-se adultos obesos. (de Onis et al., 2013; Freedman et al., 2009). Promover intervenções com este propósito e verificar a fiabilidade dos benefícios encontrados é muito importante para saber quais os melhores procedimentos, duração e intensidade de exercícios a serem inseridos dentro dos programas de intervenção. A principal finalidade deste trabalho foi verificar e analisar as diferenças encontradas após um programa de intervenção com acréscimo de atividade física em crianças, observando principalmente se houve alterações da composição corporal, da tensão arterial e do perfil lipídico. . 3 1.2 Estrutura do estudo Para maiores esclarecimentos e com a intenção de responder aos objetivos antes propostos, o estudo obedeceu a seguinte estrutura: o primeiro capítulo contém uma introdução breve, apresentando de forma sucinta e clara o propósito e a finalidade deste estudo, mostrando de forma resumida sua composição. O segundo capítulo compreende a construção da revisão da literatura, onde são vistos os aspectos principais da obesidade infantil e suas consequências, métodos para avaliar a composição corporal, tensão arterial e hipertensão, glicose e diabetes, colesterol, triglicerídeos e dislipidemia e por fim um breve comentário sobre a intervenção e seus benefícios. No terceiro capítulo encontram-se os objetivos principal e secundário, e todo o material e metodologia utilizada para este estudo. O quarto capítulo diz respeito à apresentação dos resultados e discussão encontrados, seguidos das principais conclusões e por fim as referências utilizadas neste trabalho. 4 CAPÍTULO II: REVISÃO DE LITERATURA 2. Revisão de Literatura 2.1 Obesidade Infantil Durante muitos anos a obesidade foi vista como sinônimo de beleza, bem estar, alto nível social e poder. Hoje, é vista como um importante problema de saúde pública, pelo seu impacto na expectativa de vida e qualidade de vida do obeso. É considerada, ao lado do tabagismo, a principal causa de morte evitável. É a doença crônica de maior crescimento mundial, com graves consequências para todas as faixas etárias e níveis sociais (Viuniski, 2005, p. 1). A obesidade infantil é considerada uma doença crônica, epidêmica e crescente nas últimas décadas, caracterizada pelo aumento da gordura corporal. Em 2008 havia 1,4 bilhões de pessoas com excesso de peso, 200 milhões de homens e 300 milhões de mulheres eram obesos, desse número destaca-se que 40 milhões de crianças menores de cinco anos têm obesidade. 65% da população mundial vive em países onde a obesidade e o sobrepeso é mais letal do que a desnutrição (World Health Organization, 2012). A obesidade é causadora de diversas doenças crônicas como doenças do coração, acidentes vasculares cerebrais, diabetes e doenças respiratórias (Bouchard, 2003, p. 45). Segundo a Organização Mundial da saúde (WHO) essas doenças provocaram 38 milhões de óbitos em todo mundo no ano de 2005, o dobro das mortes provocadas por doenças infecciosas (World Health Organization, 2013d). Um estudo realizado em 25 países relata o crescimento da obesidade infantil ao longo dos anos, mostrando que a América do Norte, a Europa e a Região ocidental do Pacifico têm prevalências entre 20% a 30% de crianças com sobrepeso ou/e obesidade. Países em desenvolvimento como Brasil, México, Egito e Chile obtiveram índices de obesidade infantil semelhantes aos países desenvolvidos, no entanto países do sudeste asiático, África subsaariana, norte da África, Médio Oriente, Américas do Sul e Central 7 tiveram uma menor prevalência de obesidade em crianças (Wang & Lobstein, 2006). Na Europa há diferenças entre regiões e países, na região do mediterrâneo o sobrepeso e obesidade estão presentes em 41% das crianças em idade escolar, enquanto no restante da Europa a prevalência é de 38% (Wang & Lobstein, 2006). Um estudo recente na Espanha aponta para a prevalência de sobrepeso de 23,01% em garotas e 20,81% em garotos de 9 a 17 anos, e na obesidade cerca de 12,70% nas meninas e 4,98% nos rapazes (Aguilar Cordero et al., 2012). Portugal tem uma das maiores taxas de obesidade infantil da Europa (Padez et al., 2004). Em Portugal os valores para sobrepeso são idênticos aos da Espanha, onde a prevalência de sobrepeso e obesidade é cerca de 23,1% e 9,6 nas meninas e 20,4 % e 10,3 nos rapazes respectivamente (Sardinha et al., 2011). No entanto, há diferenças consideráveis entre as regiões, a região do Alentejo e Centro têm 16,4 % de sobrepeso enquanto a Região Norte tem 18,5%, como observado na tabela abaixo (Sardinha et al., 2011): TABELA 1. Prevalência do peso normal, sobrepeso e obesidade por áreas geográficas em Portugal. Região IMC (IOTF) Alentejo n = 1 583 PesoNormal Sobrepeso Obesidade PesoNormal Sobrepeso Obesidade PesoNormal Sobrepeso Obesidade PesoNormal Sobrepeso Obesidade PesoNormal Sobrepeso Obesidade Algarve n =1 823 Centro n =5 144 Lisboa n = 5 376 Norte n =9 122 Total de crianças n (%) 1 246 (78.7) 260 (16.4) 77 (4.8) 650 (78.9) 138 (16.7) 36 (4.3) 4 072 (79.2) 843 (16.4) 229 (4.4) 4 120 (76.6) 901 (16.8) 355 (6.6) 6 988 (76.6) 1 684 (18.5) 450 (4.9) Garotas (%) Rapazes (%) pª 650 (77.9) 142 (17.0) 42 (5.0) 336 (77.2) 76 (17.5) 23 (5.3) 2 125 (80.1) 428 (16.1) 101 (3.8) 2 131 (77.1) 463 (16.8) 169 (6.1) 3 661 (78.2) 824 (17.6) 194 (4.2) 595 (79.7) 118 (15.8) 34 (4.6) 314 (80.7) 62 (15.9) 13 (3.3) 1 947 (78.2) 416 (16.7) 128 (5.1) 1 989 (76.1) 438 (16.8) 186 (7.1) 3 327 (74.9) 860 (19.4) 256 (5.8) 0.69 0.30 0.05 0.33 < 0.001 IMC: índice de massa corporal segundo os pontos de corte propostos pelo IOTF (Internacional Obesity Task Force) a compara os gêneros dentro das regiões com o Teste do qui-quadrado. (Retirado de Sardinha et al, 2011) 8 Na tabela acima é possível observar diferenças entre os gêneros tanto no sobrepeso como na obesidade. Nas regiões de Lisboa, Norte e Centro há maior número de rapazes obesos do que raparigas, porém nas regiões do Alentejo e Algarve acontece o inverso. Há discrepâncias quando o gênero é isolado entre as regiões: a região centro tem uma percentagem de garotas obesas inferior à de Lisboa, e no caso dos rapazes a região da grande Lisboa também tem maior predominância de obesos com 7,1%, enquanto o Algarve são 3,3%. Na Região de Lisboa há a maior predominância de crianças obesas com 6,6% enquanto a Região Norte há maior número de crianças com sobrepeso 18,5 % (Sardinha et al., 2011). 2.1.2 Causas e consequências da obesidade A obesidade infantil acontece devido à maior ingestão de calorias em relação ao seu gasto, com desenvolvimento, metabolismo e exercício físico. A ingestão de calorias em quantidade superior às utilizadas para o funcionamento das necessidades do organismo, será armazenada na forma de triglicérides conduzindo progressivamente ao sobrepeso e à obesidade. Há fatores que cooperam para o desenvolvimento da obesidade infantil, como: o ambiente, a predisposição genética e o fator comportamental (Karnik & Kanekar, 2012). Do fator ambiente destaca-se o papel dos pais na condução das dietas e níveis de exercício físico das crianças. Embora não resulte para todas as famílias e crianças, estudos indicam a redução do índice de massa corporal das crianças quando os pais controlam e determinam o estilo de vida, regulando a dieta e promovendo o aumento da atividade física (Heinberg et al., 2010). Os fatores genéticos contribuem para uma maior suscetibilidade da obesidade, pois influenciam o metabolismo. Hoje, são conhecidos mais de 20 genes diretamente ligados a obesidade e outros 100 ainda estão em estudo (Viuniski, 2005, p. 1). 9 Há muitos anos que os riscos da obesidade são conhecidos pela comunidade científica, e são evitáveis, porém de difícil controle e vem se mostrando complicado erradicar, tendo em vista o crescente número de adultos e crianças obesas. As principais consequências da obesidade infantil são: aumento da probabilidade de desenvolver doenças cardíacas, aumento da tensão arterial, maior probabilidade de desenvolver síndrome metabólica, dislipidemia, maior suscetibilidades à Diabetes tipo II, distúrbios psicossociais e de forma indireta, maiores gastos com tratamentos de saúde por parte do estado (Bouchard, 2003, p. 253; McArdle et al., 2007, p. 848). Outro fator preocupante é a correlação da obesidade infantil com a obesidade em adultos, segundo Freedmam et al, (2009) (2007)24% a 90% das crianças com excesso de peso e obesidade serão adultos obesos, e isso é potencializado se a obesidade prevalecer até à adolescência. 2.2 Composição corporal Para enfrentar este problema associado aos fatores de risco das doenças cardiovasculares DCV, sociedade e governo devem ser capazes de monitorar a população e detectar os indivíduos em risco, bem como avaliar a efetividade dos programas de intervenção física e nutricional . Atualmente, há vários métodos disponíveis que permitem avaliar a composição corporal: antropometria, ressonância magnética, bioimpedância elétrica, Hidrodensitometria, pletismografia (Bod Pod), Dual Energy x-Ray Absorptiometry (DEXA), tomografia axial computorizada, entre outros. A seleção destes métodos deverá respeitar o que é pretendido; podem servir para a validação de outros métodos indiretos, para a avaliação global ou parcial do corpo. No entanto, nem todos os métodos são apropriados para a prática no terreno, pois devem ser considerados fatores como os custos, a disponibilidade do equipamento, morosidade e a facilidade de aplicação (Pinto et al., 2005). 10 2.2.1 Métodos para avaliação da composição corporal As várias técnicas de avaliação composição corporal podem ser divididas em diretas e indiretas. A dissecação de cadáveres é uma das técnicas de avaliação direta mais utilizada através da dissolução do corpo em uma solução química para determinar sua mistura de componentes de massa gorda e massa isenta de gordura (McArdle et al., 2007, p. 790), ou dissecando fisicamente a gordura, o músculo e o osso. Pesquisas recentes avaliaram quimicamente a composição corporal em várias espécies animais, mas poucos estudos determinaram diretamente o conteúdo de gordura nos seres humanos. Porém, estas análises exigem um equipamento laboratorial especializado, envolvem questões éticas e obstáculos legais para obter cadáveres com finalidade de pesquisa (McArdle et al., 2007; p. 790). Diversos procedimentos indiretos determinam a composição corporal. Um deles envolve o principio de Arquimedes aplicado à pesagem hidrostática. Esse método calcula o percentual de gordura a partir da densidade do corpo imerso na água. Outros procedimentos permitem prever a gordura corporal a partir da mensuração das pregas cutâneas, dos perímetros da cintura e anca, do Dual-energy X-ray DEXA ou absorciometria de raio-x de dupla energia, da condutividade elétrica corporal (bioimpedância), da interactância quase infravermelha, do ultrassom, da tomografia computadorizada, da pletismografia com ar e do mapeamento por ressonância magnética (McArdle et al., 2007, p. 791; Powers & Howley, 2004, pp. 364-365). O DEXA quantifica de maneira fiável e precisa, a gordura e a massa corporal magra regional não óssea, incluindo o conteúdo mineral das estruturas ósseas mais profundas do corpo. Quando utilizado para composição corporal o DEXA não depende de conjecturas acerca da constância biológica dos componentes “massa gorda” e “massa isenta de gordura”, que são inerentes para a pesagem hidrostática. Pode ainda ser realizado para analisar a osteoporose e possíveis distúrbios ósseos (McArdle et al., 2007, p. 808) . O princípio subjacente de DEXA estabelece que as áreas de ossos e de tecidos moles podem ser penetradas até uma profundidade de aproximadamente 30 cm por dois picos distintos de energia provenientes de 11 uma fonte de isótopos de alta afinidade – gadolínio 153 . A penetração é analisada por um detector de cintilação. O exame deve ser realizado com o indivíduo deitado em decúbito dorsal sobre uma mesa, onde a fonte e o detector são passados através do corpo com uma velocidade relativamente lenta de 1cm/s. Em média o mapeamento do DEXA de todo o corpo pode levar cerca de 12 minutos, conforme o protocolo de avaliação que for executado (de Mello et al., 2005). Apesar dos inúmeros estudos comprovando a eficácia do DEXA para avaliar massa gorda, massa magra e massa óssea (de Mello et al., 2005), esse método apresenta algumas dificuldades para seu uso. É uma técnica com custo elevado, sendo necessária uma pessoa capacitada para manusear o aparelho e interpretar seus dados (Braulio et al., 2010). Dentre os métodos para avaliação da composição corporal destaca-se o perímetro da cintura (PC), que segundo a Sociedade Internacional para o Avanço da Cineantropometria (Fragoso & Vieira, 2011, p. 38) define-se como circunferência obtida no plano horizontal e na zona de menor dimensão entre o bordo inferior da grelha costal e crista ilíaca. Entretanto há diversas formas de avaliar o PC, método este que vem se mostrando fiável na correlação com obesidade, síndrome metabólica, e risco para doenças cardiovasculares (Spolidoro et al., 2013; Vakil et al., 2012; Zhang & Wang, 2013). Em crianças é complicado haver uma classificação mundial para PC como acontece em adultos, tendo em vista as especificidades de cada idade, gênero e população. Apesar desta dificuldade existem vários estudos a determinar pontos de corte para crianças: nos Estados Unidos foi realizado um estudo para definir pontos de corte em crianças afro-americanas, latinoamericanas e europeu-americana (Fernandez et al., 2004). No Reino Unido foi realizado um estudo de ponto de corte para perímetro da cintura em crianças, e concluíram que era necessário e prudente desenvolver padrões representativos em crianças de todas as etnias (McCarthy et al., 2001). Nas crianças o perímetro da cintura pode ser adotado como alternativa, ou auxiliar o IMC na mensuração dos fatores de risco (McCarthy et al., 2001). 12 Em Portugal um estudo de Sardinha et al (2012) estabeleceu pontos de corte de PC para crianças entre os 10-18 anos. Tabela 2. Ponto de corte para perímetro da cintura em crianças portuguesas Idade L M S 5th 10th 25th 50th 75th 85th 90th 95th 10 −0.77 63.9 0.11 53.9 55.8 59.4 63.9 69.1 72.2 74.4 77.9 11 -1.16 65.5 0.11 55.5 57.4 61.0 65.5 70.8 74.1 76.5 80.3 12 -1.50 67.4 0.12 57.5 59.3 62.8 67.4 72.8 76.3 78.8 83.1 13 -1.68 68.9 0.11 59.1 61.0 64.4 69.0 74.5 78.0 80.6 85.0 14 -1.74 70.2 0.11 60.3 62.2 65.7 70.2 75.7 79.2 81.8 86.2 15 -1.75 71.4 0.10 61.5 63.4 66.8 71.4 76.9 80.3 82.9 87.3 16 -1.70 72.3 0.10 62.4 64.3 67.8 72.3 77.8 81.3 83.9 88.1 17 -1,60 72.9 0.10 62.9 64.8 68.3 72.9 78.4 81.8 84.3 88.5 18 -1.45 73.3 0.11 63.1 65.1 68.7 73.3 78.7 82.1 84.6 88.7 10 -1.58 65.5 0.12 55.3 57.2 60.7 65.5 71.3 75.0 77.8 82.6 11 -1.59 66.2 0.11 56.0 57.9 61.5 66.2 72.1 75.8 78.6 83.4 12 -1.65 67.6 0.12 57.3 59.2 62.8 67.6 73.4 77.2 80.0 84.8 13 -1.84 69.3 0.12 59.2 61.0 64.6 69.3 75.2 78.9 81.8 86.7 14 -1.80 71.2 0.10 61.3 63.1 66.6 71.2 76.9 80.7 83.6 88.5 15 -2.00 73.1 0.10 63.5 65.3 68.6 73.1 78.7 82,4 85,2 90.1 16 -1.89 74.8 1.5 65.5 67.2 70.5 74.8 80.2 83.8 86.5 91.3 17 -1.90 75.9 1.9 67.1 68.8 71.8 76.0 81.2 84.6 87.3 92.0 18 -1.99 76.9 1.8 68.5 70.1 73.0 77.0 81.9 85.3 87.8 92.3 (Gutin & Manos) Garotas Garotos Valores percentis de perimetro da cintura medidos em centimetros, especificos para sexo e idade para crianças e adolescentes portugueses. Cada faixa etária foi categorizada pelo ponto médio, ou seja, o grupo de crianças com 10 anos incluiu todas as crianças com 9,50 e 10,49 anos e assim por diante. Apesar do grande número de estudos envolvendo perimetro da cintura em crianças, é preciso precaução na hora de compara-los, tendo em conta que a medição e os pontos de corte são realizados de forma diferente (Sardinha et al., 2012) Encontrar o melhor método em função de diferentes amostras populacionais é uma tarefa difícil, contudo o DEXA continua a ser um dos métodos mais válidos e fiáveis para a avaliação da composição corporal tendo em conta as especificidades e objetivos da investigação em causa. 13 2.3. Obesidade, Tensão Arterial e Hipertensão. 2.3.1 Tensão Arterial A tensão arterial (TA) é o resultado da contração do coração a cada batimento e da contração dos vasos quando o sangue por eles passa. O resultado do batimento do coração é a propulsão de uma quantidade de sangue (volume) através da artéria aorta. Quando este volume de sangue passa através das artérias, elas se contraem como se estivessem comprimindo o sangue para que ele circule normalmente. Esta pressão é necessária para que o sangue consiga chegar aos locais mais distantes, como a as extremidades do corpo (McArdle et al., 2007, p. 316). A TA é igual ao produto do débito cardíaco com a resistência periférica total (McArdle et al., 2007, p. 316). Débito cardíaco é o produto do volume sistólico (quantidade de sangue bombeado por batimento cardíaco) com a frequência cardíaca (FC) (Powers & Howley, 2004, p. 173). A FC é determinada pelo número de batimentos cardíacos por unidade de tempo, geralmente expressa em batimentos por minuto, e pode variar de acordo com a necessidade do corpo para as mudanças de fornecimento de oxigênio, como durante o exercício, repouso e sono. A frequência cardíaca é controlada pelo sistema nervoso simpático e parassimpático (Powers & Howley, 2004, p. 176). 2.3.2 . Tipos de Tensão arterial Tensão arterial sistólica: é a pressão mais elevada nas artérias durante a fase de sístole do ciclo cardíaco, sendo chamada de pressão máxima. Durante a fase de relaxamento do coração, quando há o fechamento das válvulas aórticas, o recuo elástico do sistema arterial mantém a pressão continua, proporcionando um fluxo continuo de sangue à periferia até a próxima ejeção sanguínea (McArdle et al., 2007, p. 316). Tensão arterial diastólica: durante a fase de relaxamento do ciclo cardíaco ou diástole, a tensão arterial cai para 70 ou 80 mm Hg. A tensão 14 arterial diastólica indica a resistência periférica, ou a facilidade com que o sangue flui das arteríolas para os capilares. Com alta resistência periférica, a pressão no interior das artérias após a sístole não dissipa rapidamente (McArdle et al., 2007, p. 319). Tensão arterial média : é ligeiramente inferior à média aritmética das pressões sistólica e diastólica, devido ao coração permanecer em diástole por tempo superior a sístole. A TAM é, em média 93 mmHg em repouso, e representa a força média exercida pelo sangue contra as paredes arteriais durante o ciclo cardíaco. Pode ser estimada por: TAM= TA Diastólica + 0,333X(TA Sistólica – TA Diastólica) (McArdle et al., 2007, p. 319). A tensão arterial média é importante, pois determina a taxa de fluxo sanguíneo por meio da circulação sistêmica (McArdle et al., 2007, p. 319). Tensão diferencial: representa a característica pulsátil da circulação sanguínea, é calculada pela diferença entre a tensão arterial sistólica e tensão arterial diastólica (McArdle et al., 2007, p. 319). Segundo o American College of Sports Medicine (American College of Sports Medicine, 2010, p. 31) os níveis de tensão arterial são classificados como: Tabela 3. Classificação da Tensão Arterial Classificação da TA TAS em mmHg TAD em mmHg Normal < 120 < 80 Pré - Hipertensão 120-139 Ou 80-89 Hipertensão - estágio 1 140-159 Ou 90-99 Hipertensão – estágio 2 >ou = 160 Ou > 100 TA- Tensão arterial, TAS - Tensão arterial sistólica, TAD – Tensão arterial diastólica Obesidade e sedentarismo são fatores interligados e determinantes para o aumento da tensão arterial, ainda mais quando unidos ao aumento do colesterol LDL e diminuição do HDL, que contribuem para a formação de placas de gordura causando aumento da resistência dos vasos. Esses componentes aumentam, portanto, 15 a probabilidade de desenvolver aterosclerose e arteriosclerose, fatores responsáveis pelo aumento da tensão arterial (McArdle et al., 2007, pp. 25-26) A alimentação também é um fator importante no controle da tensão arterial. Alimentos ricos em gorduras, sal, sódio e o álcool ajudam a aumentar os níveis de TA, portanto evitar ou consumi-los moderadamente é fundamental para o equilíbrio pressórico (Ibrahim & Damasceno, 2012). Outro fator importante e determinante nos níveis pressóricos é a genética. Em alguns casos, a predisposição genética (em especial na população de origem Africana) pode facilitar aumento dos níveis de tensão arterial (Ibrahim & Damasceno, 2012). O estudo de Burt et al (1995) (Burt et al., 1995), concluiu que a prevalência de tensão alta foi duas vezes maior em pessoas negras do que em pessoas caucasianas. 2.3.3. Hipertensão Arterial Por volta de 2000, a prevalência da Hipertensão era de 26,4%, mas prevê-se que este fator de risco para as doenças cardiovasculares aumente para cerca de 29,2% na população mundial em 2025 (Kearney et al., 2005). O número de crianças com hipertensão é estimado em 9,6% (Harrabi et al., 2006). A Hipertensão pode ser classificada de Primária, onde não existe uma causa definida, ou secundária quando pode haver uma causa orgânica (Raj & Krishnakumar, 2012). A hipertensão primária tem uma origem multifatorial: obesidade, resistência à insulina, alteração na homeostasia do sódio no organismo, mudanças na estrutura do músculo vascular liso, níveis de acido úrico no sangue e fatores genéticos podem contribuir para esta patologia (Raj & Krishnakumar, 2012). As causas da hipertensão secundária variam de acordo com a idade: disfunções renais e patologias associadas à artéria aorta são as causas mais comuns de hipertensão em crianças até 6 anos (Mitsnefes, 2006). Nas crianças de 6 a 10 anos a doença renal parenquimatosa é o principal responsável por elevar a tensão arterial. Além disso, alguns tipos de tumores (neuroblastoma, adenocarcinoma renal), 16 disfunções endócrinas (hipertireoidismo, Síndrome de Cushing, hiperplasia adrenal congênita) e aumento da pressão intracraniana podem eventualmente aumentar os níveis de tensão e progredir para Hipertensão (Mitsnefes, 2006). O desequilíbrio pressórico crônico gera um quadro de Hipertensão arterial, caracterizado por valores acima de 140 por 90 de tensão arterial. O aumento da tensão arterial afeta a resistência e elasticidade dos vasos causando problemas no coração, rins e cérebro. Os vasos são recobertos por tecido conjuntivo na porção externa, por tecido muscular liso e pequena porção de tecido conjuntivo elástico na porção média e internamente por uma camada muito fina e delicada de células endoteliais, que é pressionada quando o sangue está circulando com pressão elevada. Com isso, os vasos se tornam endurecidos e estreitos podendo, com o passar dos anos, bloquear ou romper. Quando ocorre bloqueio em vasos que irrigam coração, causa a angina que por sua vez pode ocasionar um enfarto. No cérebro, o bloqueio ou rompimento de um vaso, pode levar a um acidente vascular cerebral (AVC). Nos rins podem ocorrer alterações na filtração até a paralisação dos órgãos (Sociedade Brasileira de Hipertensão, S.d.). Hipertensão arterial é um importante desafio para a saúde pública mundial, devido sua alta prevalência concomitantemente com sérios riscos para os sistemas renal e cardiovascular. É classificada como maior fator de mortalidade, e é a terceira causa na redução da qualidade e dos anos de vida (Kearney et al., 2005). A crescente prevalência de hipertensão em todo mundo contribui para atual pandemia de doenças cardiovasculares, passando da menor importância nas causas de morte do século passado, para um dos principais fatores de mortalidade mundial neste século (Kearney et al., 2005). A hipertensão arterial está projetada para ser uma das maiores causas adjacentes de mortalidade do mundo em 2020. Em 1990, 5,8% das mortes foram associadas a tensão alta, em 2000 este valor já era de 7,2% das mortes no mundo. Em 2020 a hipertensão será o fator de risco mais comum para mortes e invalidez no mundo (Reid & Thrift, 2005). 17 2.3.4. Obesidade e Hipertensão A obesidade é um dos principais fatores evitáveis da hipertensão infantil, Alguns estudos relatam diferenças significativas entre crianças com peso normal e obesas (Kearney et al., 2005; Raj & Krishnakumar, 2012). Um estudo realizado na China em 2012 concluiu que o sobrepeso/obesidade está fortemente associado com hipertensão e pré-hipertensão em crianças estudantes (Zhang et al., 2012).Outro estudo concluiu ainda que além do índice de massa corporal (IMC) o perímetro da cintura (PC) é um forte indicador do aumento da tensão arterial em crianças pré-escolares, especialmente nos rapazes obesos entre 3-6 anos (Chen & Li, 2011). O tratamento da hipertensão associada à obesidade deve concentrar-se em reduzir a massa corporal da criança, modificando o estilo de vida de toda a família. As recomendações dietéticas indicam que deve ser evitado o consumo em excesso de açúcar, gorduras saturadas e sal, e ao mesmo tempo, aumentar o consumo de fibras na forma de frutas, legumes e grãos integrais. Paralelamente, é necessário o aumento dos níveis de exercício físico diminuindo o tempo gasto em atividades sedentárias (Becton et al., 2012). Por vezes, mesmo com a redução da massa corporal o quadro hipertensivo permanece inalterado, fazendo necessário o uso farmacológico no tratamento. Porém as mudanças no estilo de vida devem permanecer mesmo com o uso do fármaco. Os casos com hipertensão sintomática ou causas secundárias e diabetes mellitus, devem ter tratamento farmacológico realizado concomitantemente às mudanças no estilo de vida (Becton et al., 2012). 2.4. Colesterol, Triglicerídeos, glicose 2.4.1. Definição Glicose: é um tipo de carboidrato pertencente à classe dos monossacarídeos, também denominado dextrose ou açúcar no sangue. Consiste em um composto formado por seis carbonos, doze de hidrogênio e seis de oxigênio (C6H12O6) que são formados naturalmente no alimento ou no 18 organismo a partir da síntese de carboidratos complexos. A gliconeogênese sintetiza a glicose principalmente no fígado, a partir dos resíduos de carbonos de outras substâncias (aminoácidos, glicerol, piruvato e lactato) (McArdle et al., 2007, p. 8). Após absorção pelo intestino delgado, a glicose tornar-se disponível como fonte de energia para o metabolismo celular, ou forma glicogênio para armazenamento no fígado e nos músculos ou é transformada em gordura para utilização posterior como fonte de energia (McArdle et al., 2007, p. 8). Para os seres humanos a principal fonte de glicose é o polissacarídeo amido (Waitzberg, 2009, p. 57). A glicose é a principal fonte de energia para grande parte das células do organismo, é protetora de proteínas, ou seja, quando a quantidade de glicose no organismo é suficiente impede que as proteínas assumam o papel de produção da energia, fazendo com as mesmas mantenham-se na sua função de construção dos tecidos (Waitzberg, 2009, p. 58). A quantidade adequada de glicose impede a formação excessiva de cetonas. Caso não haja glicose disponível para utilização, os lipídios serão oxidados, formando grande quantidade de cetonas que poderão causar acidose metabólica, levando ao coma e posteriormente a morte do indivíduo (Waitzberg, 2009, p. 58). Uma das principais funções da glicose é a manutenção de energia para o sistema nervoso central (SNC). Em condições normais o cérebro e suas células usam a glicose sanguínea quase exclusivamente como seu substrato para energia. Em situações normais, os níveis de glicose no sangue são regulados por dois hormônios produzidos pelo pâncreas: insulina e glucagon (McArdle et al., 2007, pp. 12-15). Os níveis sanguíneos de glicose considerados normais são: acima de 45mg/dl de sangue e menores que 100mg/dl de sangue. Abaixo de 45mg/dl o individuo encontra-se em hipoglicemia e acima de 100mg/dl em hiperglicemia (McArdle et al., 2007, p. 15). O aumento progressivo do quadro hiperglicêmico leva à diabetes melittus (Craig et al., 2009). 19 2.4.2. Tipos de diabetes e epidemiologia Diabetes melittus é um grupo de doenças metabólicas, caracterizada por um estado hiperglicêmico crônico resultante da deficiência na secreção de insulina, na resistência da insulina, ou ambos. As anomalias nos carboidratos, gordura, proteína e metabolismo encontrados na diabetes, são resultado da ação deficiente da insulina nos tecidos alvos (Craig et al., 2009). No individuo classifica-se como diabético quando os níveis de glicose sanguínea ultrapassam os 126 mg/dl. Entretanto alguns sintomas como, poliúria, polidipsia, perturbação na visão, perda de peso associado a grandes quantidades de cetonas, ajudam a identificar a doença (Craig et al., 2009). Os exames sanguíneos que confirmam a diabetes são: analisar os níveis de glicose no sangue, na qual o paciente deve realizá-lo com no mínimo oito horas de jejum completo, e o exame pós-prandial, que é verificar os níveis de glicose e insulina no sangue duas horas após uma refeição, geralmente é feito após o almoço (Craig et al., 2009). Em 1985 foi desenvolvido por Matthews et al.,(1985) o Homeostasis model assessment (HOMA), que serve para verificar se há resistência à insulina. A resistência à insulina é o maior fator de risco para desenvolver diabetes tipo 2, e provavelmente um grande fator de risco nas crianças (Keskin et al., 2005). Segundo Keskin et al. (2005) o HOMA tem grande sensibilidade e especificidade para medição da insulina, sendo considerado a ferramenta mais simples, confiável e apropriado para grandes estudos epidemiológicos para verificar resistência à insulina em crianças e adolescentes. No inicio dos anos 2000 havia 151 milhões de pessoas no mundo com diabetes, desses, 136 milhões tinham diabetes tipo II. Em 2011 eram 366 milhões de diabéticos e 329 milhões do tipo II. Após 30 anos, ou seja, em 2030 estima-se que a população de pessoas com diabetes seja mais do que o triplo em 2000, números apontam para 552 milhões de pessoas e 497 milhões com tipo II (Cheng, 2005). Estudo de (Gardete-Correia et al., 2010) realizado com 5167 pessoas entre 20-79 anos, diz que em Portugal a prevalência de diabetes seja de 11,7% 20 da população total. Entretanto há diferenças entre os gêneros, os homens com diabetes são 14,2% e mulheres 9,5%. Interessante ressaltar que 2,4% das pessoas entre 20 – 39 anos tinham diabetes II, os valores aumentavam com o passar da idade. Foi verificado que 30,9% são considerados pré- diabéticos e 5,5% dos diabéticos não sabiam que tinham diabetes. Os tipos de diabetes mais frequentes são: diabetes tipo I (insulinodependentes) e diabetes tipo II (não insulinodependentes). A distribuição de diabetes tipo I é bastante heterogênea entre os países (Cheng, 2005). Quanto à Diabetes tipo II aproximadamente 90% dos casos de diabetes são tipo II ou não insulina dependente. Ocorre geralmente em pessoas obesas com mais de 40 anos, embora atualmente comprometa a saúde de pessoas cada vez mais jovens. Está diretamente associada ao estilo de vida sedentário, aos maus hábitos alimentares e stress da vida moderna. Os fatores genéticos (histórico familiar) e ambientais também influenciam a diabetes tipo II (Vaidyanathan et al., 2012). A homeostase da glicose sanguínea é mantida em equilíbrio por uma atuação conjunta entre a ação da insulina e a secreção de insulina. O funcionamento regular do pâncreas e das células beta responde à necessidade fisiológica de aumentar a secreção de insulina quando os níveis de glicose no sangue aumentam. Quando há perda parcial de função das células beta, acaba por perder-se a resposta ao índice glicêmico (Vaidyanathan et al., 2012). A disfunção destas células é a principal causa da diabetes tipo II. No entanto o organismo reconhece uma ação não normal da insulina e aumenta a ação das células beta para manter a homeostasia. Este desequilíbrio entre a secreção de insulina e sua ação ocorre devido à resistência à insulina, geralmente associada à obesidade e sedentarismo. Alguns hormônios, citosinas e ácidos graxos livres podem interferir na ação da insulina em adipócitos (Cheng, 2005; Vaidyanathan et al., 2012). Deve ser ainda considerada também uma forte componente hereditária: 80% dos ínvidos com diabetes tem algum familiar com diabetes (Craig et al., 2009). 21 2.4.4. Consequências e Tratamento da Diabetes A Diabetes mellitus é um dos maiores problemas de saúde pública em todo o Mundo. As consequências desta patologia afetam diversos sistemas e levam a incapacidades graves e consideráveis custos de saúde (Neville & Sidawy, 2012). Considerando as complicações que podem ocorrer com os seres humanos, a diabetes é a principal causa de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, insuficiência renal, retinopatia e amputação dos membros inferiores não traumáticos (Neville & Sidawy, 2012). De acordo com o National Diabetes Information Clearinghouse foram feitas 65 mil amputações com origem não traumática em diabéticos nos Estados Unidos, o que representa 60% deste tipo de amputação (Neville & Sidawy, 2012). Nos diabéticos, a neuropatia, o comprometimento vascular e susceptibilidade a infecção são fisiopatologias que convergem para lesões na pele dos pés, chamado de pé diabético (Neville & Sidawy, 2012). A diabetes também gera um alto custo para os sistemas de saúde dos países. No ano de 2007 estima-se que foram gastos 174 bilhões de dólares com diabetes e suas complicações. Deste valor 116 bilhões foram gastos com despesas médicas e 58 bilhões gastos com custos indiretos, tais como a deficiência, faltas ao trabalho e mortalidade prematura. As despesas médicas das pessoas com diabetes custam o dobro em comparação com as pessoas não diabéticas (Neville & Sidawy, 2012). Dieta, administração de insulina, exercícios físicos e medicação oral são a base e a melhor forma de gerir o tratamento para diminuir os níveis de glicose no sangue. Para sobreviver pessoas com diabetes tipo I devem ter insulina administrada regularmente (Department of Health and Human Services e Centers for Disease Control and Prevention, S.d.) 22 2.4.5. Colesterol O colesterol é um álcool em sua forma molecular, porém no organismo é considerado um lipídio, apesar de não conter ácidos graxos compartilha de algumas características físicas e químicas dos lipídios. O colesterol é encontrado na membrana plasmática de todas as células, origina-se por meio da dieta (colesterol exógeno) ou pela síntese celular (colesterol endógeno). Entretanto forma-se mais colesterol endógeno a partir da dieta rica em ácidos graxos saturados e ácidos graxos trans, que facilitam a síntese de colesterol LDL no fígado (McArdle et al., 2007, p. 25). O fígado sintetiza 70% do colesterol corporal, no entanto as paredes das artérias e os intestinos também sintetizam este composto. O colesterol é de extrema importância para o organismo, pois participa de diversas funções, como por exemplo: ajuda na construção das membranas plasmáticas, funciona como percursor na síntese da vitamina D, dos hormônios das glândulas suprarrenais, e dos hormônios sexuais estrogênio, androgênio e progesterona. Também é importante para a síntese da bile (emulsificador dos lipídios durante a digestão) e desempenha um papel crucial na formação dos tecidos, órgãos e das estruturas corporais durante o desenvolvimento fetal (McArdle et al., 2007, p. 25). As principais fontes de colesterol exógeno são: gema do ovo, carnes vermelhas e vísceras (fígado), os crustáceos particularmente o camarão e os produtos lácteos (queijos cremosos, manteiga, e leites) (McArdle et al., 2007, p. 25). O colesterol não pode dissolver-se no sangue, é transportado para as células por lipoproteínas. Lipoproteínas de baixa densidade (LDL) ou colesterol ruim e lipoproteína de alta densidade (HDL) ou colesterol bom são os dois tipos de lipídios que juntamente com triglicerídeos e o colesterol Lpa quantificam os valores do colesterol total, aferido por meio de analises clinicas ao sangue (American Heart Association, S.d.-a). O LDL é uma lipoproteína que leva normalmente 60 a 80% do colesterol sérico total e possui grande afinidade com as células da parede arterial. O LDL conduz o colesterol até o tecido arterial, onde as partículas LDL são oxidadas 23 alterando suas propriedades físico-químicas, e são captadas pelos macrófagos no interior da parede arterial, com isso se dá o inicio da formação da placa aterosclerótica (McArdle et al., 2007, p. 24). Consequentemente também haverá formação de coágulos que poderão levar ao acidente vascular cerebral e infarto (American Heart Association, S.d.-a). Há também a Lipoproteína que é uma variação genética do LDL. Níveis elevados de Lpa no sangue é um fator de risco elevado para o desenvolvimento prematuro de depósitos de gordura nas artérias (American Heart Association, S.d.-a). O HDL é uma lipoproteína de alta densidade responsável por carregar 25% a 30% do colesterol, é conhecido como colesterol bom porque níveis elevados de HDL protegem o organismo de doenças cardiovasculares. Em contrapartida níveis de HDL inferiores a 40 mg/dl aumentam o risco de doenças do coração. Isto acontece porque o HDL tende a levar ao fígado o colesterol presente nas artérias, reduzindo seu acúmulo na placa arterial (American Heart Association, S.d.-a). Segundo o Instituto Nacional de Saúde (NIH) as categorias que definem os valores de colesterol nos adultos são: Tabela 4. Classificação do Colesterol Total (National Heart, 2012b) Nível de colesterol total Categoria de colesterol total Menor que 200 mg/dl Desejável Entre 200-239 mg/dl Alterado 240 mg/dl ou acima Elevado Tabela 5. Classificação do Colesterol LDL (National Heart, 2012b) Nível de Colesterol LDL Categoria do LDL Menor que 100 mg/dl Ótimo Entre 100 – 129 mg/dl Levemente alterado Entre 130 – 159 mg/dl Alterado Entre 160 – 189 mg/dl Alto 190 mg/dl ou acima Muito alto 24 Tabela 6. Classificação do Colesterol HDL (National Heart, 2012b) Nível de colesterol HDL Categoria de HDL Menor que 40 mg/dl Risco para doença cardíaca aumentado Entre 40 – 59 mg/dl Menor risco para doença cardíaca 60 mg/dl ou acima Considerado protetor contra doenças cardíacas Em crianças os níveis de colesterol total não devem passar o limite de 170 mg/dl e o HDL deve ser maior que 40 mg/dl em crianças até 10 anos e maior que 38 mg/dl em adolescentes de 10 a 19 anos (National Heart, 2012b). As principais causas para problemas associados com o colesterol são: uma dieta não equilibrada rica em gorduras saturadas e trans, excesso de peso, sedentarismo, hereditariedade, idade e sexo (National Heart, 2012a). 2.4.6. Triglicérides Os lipídios são armazenados na forma de triglicérides, moléculas de três ácidos graxos (saturados, monossaturados ou poli - insaturados) acoplados a um álcool (glicerol) para constituírem reservas de energia. O armazenamento de triglicérides ocorre principalmente no tecido adiposo, um tipo de tecido conjuntivo que tem como função principal armazenar energia (Waitzberg, 2009, p. 131). O tecido adiposo está distribuído amplamente no tecido subcutâneo. O fluxo sanguíneo para este tecido varia de acordo com o peso corporal e estado nutricional, elevando-se durante o jejum (Waitzberg, 2009, p. 131). O excesso de peso, obesidade e sedentarismo, e uma dieta rica em carboidratos (mais de 60% da dieta) estão associados a elevados níveis sanguíneos de triglicérides. Por vezes níveis altos de triglicérides coincidem com colesterol total alto, alto colesterol LDL e baixo HDL. Excesso de triglicérides está associado a doenças cardiovasculares, diabetes e síndrome metabólica (American Heart Association, S.d.-a). 25 Tabela 7. Classificação das triglicérides (American Heart Association, S.d.-b): Nível de triglicérides Categoria Menor que 100 mg /dl Entre 100 – 149 mg/dl Entre 150 – 199 mg/dl Entre 200 – 499 mg/dl 500 mg/dl ou acima Valores estabelecidos para adultos e crianças. Ótimo Normal Levemente alto Alto Muito alto 2.5. Dislipidemia Dislipidemia significa que existem níveis de colesterol e triglicérides em excesso no sangue. Portanto é causada devido a uma dieta rica em gorduras e colesterol, quando o organismo produz colesterol e triglicérides em demasia ou ambas as situações (Instituto Procardiaco, 2007). Assim, a dislipidemia pode estar associada à obesidade, dieta inadequada, sedentarismo, entretanto é possível não ter nenhum desses fatores e desenvolver dislipidemia por questões genéticas. Doenças metabólicas como diabetes melliuts e hipotireoidismo, e alguns medicamentos como corticoides podem favorecer o desenvolvimento da dislipidemia (Instituto Procardiaco, 2007). O tratamento da dislipidemia consiste na manutenção do peso ou perda de peso, se necessário, prática regular de exercício físico, não fumar, ingerir bebida alcoólica com moderação, ingerir alimentos com menor teor de gordura saturada e trans, e no caso de elevado triglicérides diminuir a ingestão de carboidratos. Por vezes pode ser administrado medicamento para reduzir o colesterol e triglicérides, ou para controlar a diabetes e doenças do coração (Instituto Procardiaco, 2007). 26 2.6. Benefícios e recomendações mundiais para prática de atividade física 2.6.1. Benefícios da atividade física Atividade física é definida pela organização mundial da saúde, como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer gasto energético. A inatividade física ou sedentarismo é identificado como quarto principal fator de risco para mortalidade geral, causando aproximadamente 3,2 milhões de mortes a nível mundial (World Health Organization, 2013a). Os atuais níveis de sedentarismo são em parte devido às pessoas dedicarem de forma insuficiente às horas de lazer a prática de atividades físicas, e pelo aumento do comportamento sedentário em atividades ocupacionais e domesticas. Da mesma maneira o aumento da utilização de meios passivos de transporte também está associado com declínios nos níveis de atividade física (World Health Organization, 2013c). O aumento da urbanização nos países resultou em diversos fatores ambientais que podem ter desencorajado a pratica do exercício físico, tais como (World Health Organization, 2013c): - Aumento da violência urbana. - Excesso de tráfego, especialmente em grandes cidades. - Piora da qualidade do ar e poluição. - Poucos parques, calçadas adequadas e desporto de recreação ao ar livre. Politicas publicas de diversos setores, multidisciplinar precisam ser implementadas para aumentar a pratica de atividade física a nível mundial (World Health Organization, 2013c). O sedentarismo e a falta de aptidão física estão associados com aumento do risco de doenças cardiovasculares, e vários tipos de doenças metabólicas, tais como: distúrbios lipídicos, elevada pressão arterial e resistência à insulina (Mota et al., 2012). Os baixos níveis de atividade física durante a infância são conhecidos atualmente como um importante fator coadjuvante no aumento da prevalência da obesidade na adolescência e fase adulta (Aznar et al., 2011). O aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade tem sido associado com ambientes favoráveis ao comportamento 27 sedentário. Crianças portuguesas estão entre as mais obesas e as menos ativas de toda União Europeia (Janssen et al., 2005; Sardinha et al., 2011). Exercício físico regular e de intensidade moderada, como caminhar, andar de bicicleta, ou praticar esportes traz benefícios importantes para a saúde. Pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, câncer do cólon, câncer de mama, diabetes e depressão. No mais, níveis regulares e adequados de atividade física reduzem a probabilidade de fraturas do quadril e coluna vertebral, pois ajudam a fortalecer os ossos, e são ainda um forte aliado na manutenção do peso saudável (World Health Organization, 2013a). Nas crianças e adolescentes a prática de atividade física auxilia a (World Health Organization, 2013b): - Desenvolver os tecidos do sistema musculoesquelético (ossos, músculos e articulações). - Desenvolver o sistema cardiovascular (coração e pulmões). - Desenvolver a consciência neuromuscular (coordenação e equilíbrio). - Manter o peso saudável Também é associada a benefícios psicológicos, melhorando o controle sobre ansiedade e depressão. Da mesma forma, pode ajudar no desenvolvimento social dos jovens, auxiliando a construção da autoconfiança, interação social e integração. Jovens fisicamente ativos adotam mais facilmente outros comportamentos saudáveis (evitam álcool, drogas e tabaco) e demonstram elevado desempenho escolar (World Health Organization, 2013b). 2.6.2. Recomendações mundiais para atividade física em crianças e adolescentes A Organização mundial da saúde e o Colégio Americano de Medicina Desportiva apresentam diretrizes semelhantes no que diz respeito à prática de atividade física para crianças e adolescentes. Para crianças e jovens o exercício físico deve incluir brincadeiras, jogos, esportes, atividades de recreação e aulas de educação física na escola e comunidade. As 28 recomendações para melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde óssea, os marcadores biológicos da saúde cardiovascular e metabólica são (American College of Sports Medicine, 2010, p. 128; World Health Organization, 2011): - Crianças e adolescentes dos 5-17 anos devem realizar, 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa, 3-4 vezes por semana, mas de preferência diariamente (World Health Organization, 2011). - Se a quantidade for maior que 60 minutos, terá melhores benefícios para saúde da criança (World Health Organization, 2011). - O treino aeróbico deve ser preponderante, inclusive em alguns momentos deve ser intenso, entretanto devem ser incluídas atividades que fortalecem os músculos e ossos, ao menos três vezes por semana (American College of Sports Medicine, 2010, p. 128; World Health Organization, 2011). As crianças e adolescentes devem praticar atividade física regular, porém é preciso respeitar as individualidades, requisitos de segurança e deve ser orientada e supervisionada por um profissional de educação física (American College of Sports Medicine, 2010, p. 128). Crianças com sobrepeso, obesas ou fisicamente inativas podem não ser capazes de realizar 60 minutos de exercício físico diário. Portanto para um melhor bem estar da criança e melhores resultados, o treino deverá progredir de forma gradual no que diz respeito à frequência à duração e intensidade (American College of Sports Medicine, 2010, p. 128; World Health Organization, 2011). Os pais devem estimular seus filhos a reduzir atividades que sejam sedentárias (assistir televisão, utilizar a internet e jogar videogames), e promover atividades que favoreçam a aptidão física, como caminhar, correr e pedalar (American College of Sports Medicine, 2010, p. 128). 2.6.4. Dislipidemias, obesidade, e exercício. O exercício regular melhora o perfil lipídico em muitos indivíduos, porém as modificações não acontecem em todas as pessoas. Contudo o exercício é 29 importante para controlar outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, e deve ser um dos componentes para introduzir um estilo de vida saudável (American College of Sports Medicine, 2010, p. 164). O treinamento com exercícios deve ser de intensidade moderada, e quando possível progredir para intensidade vigorosa, obtendo melhores resultados para a saúde e aptidão cardiorrespiratória (American College of Sports Medicine, 2010, p. 165). 2.6.5. Intervenção Com a evolução tecnológica e a crescente utilização dos fast foods nos hábitos alimentares fizeram elevar rapidamente os níveis de obesidade e sedentarismo em diversos países, especialmente nos desenvolvidos e em desenvolvimento. Por isso, a preocupação da comunidade cientifica é cada vez maior em aumentar os níveis de atividade física nas crianças, utilizando a intervenção como forma recorrente a este processo. Entretanto, para uma melhor eficácia na redução de massa gorda e do sedentarismo, é necessário aumentar os níveis de atividade física concomitantemente com a intensidade da mesma. (Metcalf et al., 2012). O Estudo do Pate et al. (2002), verificou que crianças até os 7-8 anos cumpriam as diretrizes do United Kingdom Expert consensus group para quantidade de exercício físico semanal. Contudo a percentagem de crianças ativas segundo as recomendações caia a medida que aumentava-se a idade, passando de 89,7% aos 10 anos, para somente 29,4% dos adolescentes com 15 anos conseguiu cumprir as diretrizes para exercício físico. Contudo houve diferenças entre os gêneros, pois dos meninos com 15 anos 34,1% realizava atividades físicas satisfatoriamente e nas meninas de 15 anos apenas 25,1% conseguiram atingir as recomendações. Este estudo sugere o programa de intervenção para todas as idades, no entanto o foco deve ser na idade onde a percentagem de crianças ativas cai drasticamente. 30 Sabemos que as intervenções são bem recebidas pelas crianças e atuam na percepção da atividade física, promovem relações sociais, estimulam a aprendizagem motora e reduzem o tempo dedicado a atividades sedentárias (Salmon et al., 2005). Estudos sugerem que a família tem um papel importante no dispêndio energético e nos níveis de atividade física da criança; quando os pais participam e promovem atividades de lazer ajudam a reduzir o tempo de atividades sedentárias e aumentam o gasto energético semanal de toda a família (Rhodes et al., 2010). 31 CAPÍTULO III: OBJETIVOS E METODLOGIA 3. Objetivos 3.1 Objetivo geral do estudo - Analisar as alterações verificadas através do aumento da prática de exercícios físicos regulares em crianças participantes de um programa de intervenção para prevenção e tratamento da obesidade. 3.2 Objetivos específicos Analisar as alterações verificadas antes e após intervenção através da prática do exercício físico: a. na tensão arterial sistólica e diastólica. b. nos níveis do perfil lipídico. c. na composição corporal – IMC, PC, % massa gorda Total e % massa gorda do tronco. d. no HOMA como indicador de resistência à insulina. 35 4. Material e Métodos 4.1 Caracterização da amostra O estudo de caráter longitudinal de um ano letivo incluiu uma amostra de 68 crianças e adolescentes, com 42,6% de rapazes e 57,4% de meninas, entre 6 e 19 anos, X=10,40+3,53. 4.2 Procedimentos para avaliações O peso foi avaliado usando uma balança digital de marca Seca 708, com aproximação às centésimas. Os valores foram registados em kg com aproximação a 0,1kg. O procedimento para a avaliação da altura consistiu na medição da distância entre o vertex e o plano de referência do solo, mantendo a atitude antropométrica firme e estável. Foi posteriormente categorizado em peso normal, sobrepeso e obesidade de acordo com os pontos de corte de Cole, (Cole et al., 2000). A percentagem de Massa Gorda (%MG) foi avaliada através do aparelho dual energy xray absorptiometry DEXA - modelo QDR 4500A; Hologic, Bedford, M. As amostras sanguíneas foram recolhidas para realização de hemograma e dosagens de glicose, colesterol total CT, lipoproteína de alta densidade HDL, lipoproteína de baixa densidade LDL e triglicérideos. O sangue foi obtido por punção venosa em ácido etilenodiaminotetracético EDTA recolhido em tubos. Foram feitas alíquotas de plasma e imediatamente armazenadas a - 70°C. A pressão arterial foi medida através do aparelho Colin, (modelo BP 8800p Colin Medical Instruments Corporation—San Antonio, TX, USA). As primeira e segunda medidas foram feitas depois de 5 e 10 min de repouso. Se estas duas medições diferissem 2 mm Hg, o protocolo seria repetido (duas novas medições que não podiam exceder 2 mm Hg). O HOMA foi calculado de 36 acordo com (Matthews et al., 1985) e foi realizado o ponto de corte de (Keskin et al., 2005). 4.3 Projeto ACORDA As crianças e adolescentes que constituem a amostra participaram no programa de intervenção denominado PROJECTO ACORDA (Adolescentes e Crianças Obesas em Regime de Dieta e Atividade Física). Este projeto inserese num estudo longitudinal aplicado aos jovens com excesso de peso e obesidade, cujo principal objectivo visa a alteração de comportamentos proporcionando o acesso facilitado à prática da Atividade Física orientada, associando a supervisão alimentar e clínica. 4.3.1 Programa de exercício físico Todos os participantes obesos foram encorajados a modificar seus hábitos de vida e a participar num programa de intervenção para proporcionar exercício físico regular. O programa foi introduzido e desenvolvido em cinco escolas de ensino básico primário do agrupamento de Santa Bárbara em Fanzeres (Gondomar), na Escola Secundária Valongo e na Faculdade de Desporto – Universidade do Porto. O programa teve a duração de oito meses, correspondendo ao período do calendário escolar. O programa ACORDA consistiu em completar 5 sessões de exercício físico por semana. Todas as sessões foram supervisionadas por estagiários da Faculdade de Desporto e dois licenciados em Atividade Física e Ciências do Desporto, sob a supervisão de dois doutorados. Cada sessão de exercício físico tem a duração de 1 hora e é planeada para desenvolver resistência aeróbica, força, flexibilidade, coordenação e equilíbrio, através de jogos com bolas, arcos, cordas, exercícios calisténicos, ginástica e treino de força. O programa de exercício também foi destinado a desenvolver o prazer e consciência corporal. Mensagens sobre hábitos alimentares saudáveis foram entregues aos alunos e encarregados de educação ao longo do programa. 37 Todas as crianças e adolescentes não apresentavam qualquer tipo de doença, nem estavam sujeitos a qualquer tipo de medicação. As avaliações foram realizadas na parte da manhã, entre às 9.30h e 13.30h, no centro de investigação, Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Estas avaliações foram efectuadas sempre pelos mesmos observadores, no sentido de reduzir os possíveis erros interobservados. Todos os alunos foram informados que deveriam estar presentes em jejum de 12 horas, podendo apenas beber água, após o jantar do dia anterior. O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Revisão do Conselho Científico da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e de acordo com o tratado de Helsinque. Duas semanas antes das avaliações foi enviada uma carta aos pais, com informações detalhadas e pedido de consentimento por escrito. Apesar do Projeto ACORDA ser um programa de intervenção cujo principal objetivo é intervir em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, por questões éticas as crianças com peso normal que quiseram participar foram também aceites neste projeto. 4.4 Procedimentos estatísticos Depois de analisar a normalidade das variáveis através do teste Kolmogorov-Smirnov, foi realizado o T-Test de amostras emparelhadas para analisar diferenças observadas nos valores da tensão arterial, %MG total, %MG tronco, PC, perfil lipídico e HOMA antes e depois do programa de intervenção, para amostra total, por género. Posteriormente foram feitas analises emparelhada com separação por faixas etárias. Foi usada a análise da variância - ANOVA para testar as diferenças entre os grupos das faixas etárias seguidos dos testes post-hoc Bonferroni. Para os cálculos dos deltas, foi calculada a diferença entre a segunda e a primeira avaliação de todas as variáveis em estudo. 38 O nível de significância foi colocado em 0,05 (5%). Para o tratamento de dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Packege for the Social Sciences) versão 20.0. 39 CAPÍTULO IV: RESULTADOS, DISCUSSÃO, CONCLUSÃO E REFERÊNCIAS 5. Resultados 5.1. Caracterizações da amostra A amostra foi composta por 68 crianças e adolescentes entre os 6 e 19 anos, na qual 57,4% eram meninas (Figura 1). A média de idade foi de 10,4 anos no total da amostra, sendo de 9,80 nos rapazes e 10,85 nas meninas. Segundo a classificação de Cole et al., (2000) para o IMC, nesta amostra 38,2% eram obesos, 29,4% apresentavam sobrepeso e 32,3% tinham peso normal na primeira avaliação. Na segunda avaliação verificou-se que 39,7% eram obesos, 26,5% tinham sobrepeso e 33,8% peso normal (tabela 8). Após a segunda avaliação, 82,35% dos indivíduos mantiveram a mesma categoria de IMC, 8,82% passaram a uma categoria inferior e 8,82% passaram a uma categoria superior de IMC (Figura 2), contudo houve diminuição da média dos valores de IMC da segunda avaliação em relação à primeira. Na categorização das faixas etárias, 30,88% eram crianças de 6-8 anos, 42,65% situavam-se entre 9-11 anos e 26,47% entre 12-19 anos (Figura 3). Figura 1. Percentagem da amostra de acordo com o gênero. Tabela 8. Percentagem da amostra de acordo com IMC nos dois momentos Avaliações N Peso Normal N Sobrepeso N Obesidade 1ª 22 32,4% 20 29,4% 26 38,2% 2ª 23 33,8% 18 26,5% 27 39,7% 43 Fig 2. Alterações no IMC entre avaliações Fig 3. Percentagem da amostra por faixa etária No grupo das meninas houve redução significativa dos valores médios na tensão arterial sistólica e glicose (p<0,001), contudo houve aumento significativo no perímetro da cintura. Nos meninos houve uma redução significativa na %MG do tronco, tensão arterial sistólica e glicose. Além disso, observou-se que, de forma geral, os valores médios da %MG no tronco e total bem como o IMC eram mais baixos nos meninos em ambas os momentos de avaliação. Porém, as meninas apresentaram menores valores médios de perímetro da cintura do que os meninos (Tabela 9). 44 Tabela 9. Caracterização e comparação da amostra separada por géneros Meninas Variáveis Altura Peso IMC PC % MG tronco % MG total TAS TAD Glicose Triglicérideos Colesterol Total HDL LDL N 39 39 39 34 24 24 35 35 32 31 32 32 32 1ª avaliação (DP) 1,40 (0,13) 47,48 (19,39) 23,22 (5,65) 76,54 (16,65) 36,22 (7,79) 38,71 (5,86) 112,14 (16,23) 58,28 (10,41) 82,25 (7,48) 83,64 (40,96) 167,68 (29,97) 50,87 (7,86) 88,57 (24,70) 2ª avaliação (DP) 1,42 (0,13) 49,33 (19,92) 23,36 (6,00) 78,81 (17,63) 35,79 (7,49) 38,62 (5,84) 105,14 (10,83) 58,77 (6,49) 77,62 (6,05) 87,77 (40,23) 163,15 (27,90) 52,89 (9,36) 86,60 (26,49) t -6,006 -3,865 -0,556 -2,226 0,663 0,223 3,154 -0,191 3,762 -0,755 1,328 -1,548 0,717 p 0,000 0,000 0,581 0,033 0,514 0,825 0,003 0,850 0,001 0,455 0,194 0,132 0,479 Delta -0,02 -1,84 -0,13 -2,27 0,42 0,09 7,00 -0,28 4,62 -4,12 4,53 -2,02 1,96 p 0,000 0,146 0,029 0,098 0,018 0,088 0,002 0,633 0,029 0,261 0,012 0,802 0,340 Delta -0,02 -0,72 0,45 -1,54 1,64 0,82 7,60 0,85 7,00 7,68 17,40 0,72 -2,29 Meninos Altura Peso IMC PC %MG tronco % MG total TAS TAD Glicose Triglicérideos Colesterol Total HDL LDL N 29 29 29 26 24 24 28 28 25 25 25 25 24 1ª avaliação(DP) 1,39 (0,16) 46,83 (23,39) 22,82 (6,35) 77,67 (19,28) 33,84 (11,21) 36,51 (9,51) 112,64 (13,84) 60,85 (8,35) 84,80 (8,11) 80,48 (32,74) 176,36 (27,50) 57,02 (12,29) 89,70 (24,05) 2ª avaliação(DP) 1,42 (0,15) 47,55 (22,94) 22,35 (6,19) 79,21 (19,01) 32,19 (10,25) 35,69 (9,32) 105,03 (11,87) 60,00 (7,30) 77,79 (12,81) 72,80 (31,69) 158,96 (38,77) 56,30 (15,45) 92,00 (25,43) t -6,503 -1,495 2,302 -1,721 2,552 1,781 3,418 0,483 2,319 1,151 2,723 0,254 -0,974 IMC- Índice de massa corporal, PC- Perímetro da cintura, TAS- Tensão arterial sistólica, TAD- Tensão arterial diastólica, T teste de amostras emparelhadas. Delta – diferença entre o valor médio da 2ª avaliação e 1ª avaliação. 5.2. Comparação dos dois momentos de avaliação A altura, peso, perímetro da cintura, %MG do tronco, tensão arterial sistólica, colesterol total e glicose apresentaram diferenças significativas entre as avaliações. Contudo altura e peso aumentaram o que contribuiu, porém de forma não significativa, para acréscimo do IMC. O perímetro da cintura que é um forte indicador para doenças cardiovasculares obteve um acréscimo 45 significativo, no entanto aconteceu o inverso com o valor da %MG no tronco avaliada pelo DEXA. Foi observada uma diminuição significativa da tensão arterial sistólica (p< 0,001), do colesterol total e da glicose (p<0,001). Os níveis médios de HDL e LDL, triglicerídeos e tensão arterial diastólica não apresentaram diferenças significativas. Tabela 10. Comparação de todas as variáveis em estudo entre os dois momentos de avaliação para a amostra total. 1ª avaliação(DP) 1,39(0,14) 47,20(21,02) Variavéis N Altura Peso 68 68 IMC 68 23,05(5,92) PC 60 77,03(17,70) % MG Tronco 48 35,03(9,71) % MG total TAS 48 63 TAD 2ª avaliação(DP) 1,42(0,14) 48,58(21,11) T p Delta -8,830 -3,930 0,000 0,000 0,03 1,36 22,93(6,05) 0,737 0,463 -0,12 78,99(17,57) -2,823 0,006 1,95 33,99(9,02) 2,253 0,029 -1,03 37,61(8,04) 112,36(15,02) 37,15(7,68) 105,09(11,05) 1,475 4,634 0,147 0,000 -0,45 -7,26 63 59,53(9,41) 59,31(6,72) 0,195 0,846 -0,22 Glicose 57 83,36(7,80) 77,69(9,52) 3,812 0,000 5,67 Triglicerídeos 56 82,23(37,22) 81,08(37,12) 0,267 0,790 1,14 Colesterol HDL 57 57 171,49(28,98) 53,57(10,41) 161,35(32,86) 54,38(12,39) 2,935 -0,566 0,005 0,574 10,17 -0.81 LDL 56 89,06(24,21) 88,92(25,94) 0,074 0,941 0,13 TAD- Tensão arterial diastólica, TAS- tensão arterial sistólica, PC- Perímetro da cintura, IMC- Índice de massa corporal; MG – Massa Gorda. T teste de amostras emparelhadas. Delta – diferença entre o valor médio da 2ª avaliação e 1ª avaliação Após separar a amostra por faixas etárias foram encontradas diferenças significativas entre as duas avaliações (Tabela 11). No que consta ao grupo dos 6 aos 8 anos, verificaram-se diferenças significativas na altura (p<0,001), peso e glicose (p<0,05). Entre os 9 e 11 anos, verificamos que a altura , o CT, (p<0,001), o peso, a TAS, o LDL e a glicose apresentaram-se significativamente diferentes entre as avaliações (p<0,05). E no grupo dos 12 aos 19 anos houve diferenças significativas na altura, PC, colesterol total e TAS (p<0,05). 46 Tabela 11. Comparação das variáveis em estudo entre os dois momentos de avaliação de acordo com faixa etária. Variáveis N Altura Peso IMC PC % MG tronco % MG total TAS TAD Glicose Triglicérideos Colesterol total HDL LDL 21 21 21 19 14 14 20 20 16 16 16 16 16 N Altura Peso IMC PC % MG tronco % MG total TAS TAD Glicose Triglicérideos Colesterol total HDL LDL 29 29 29 25 21 21 27 27 22 22 22 22 21 N Altura Peso IMC PC % MG tronco % MG total TAS TAD Glicose Triglicérideos Colesterol total HDL LDL 18 18 18 18 13 13 19 19 19 18 19 19 19 6-8 anos 1ª avaliação(DP) 2ª avaliação(DP) 1,26(0,05) 29,93(8,25) 18,50(4,04) 64,18(12,24) 30,51(10,72) 33,66(9,15) 104,35(10,57) 55,80(8,72) 83,18(10,46) 78,81 (28,97) 173,62(39,03) 53,70(10,34) 94,43(28,87) 1,30(0,06) 31,28(9,92) 18,23(4,55) 65,10(12,15) 29,30(10,52) 33,10(9,18) 100,40(9,73) 57,60(7,59) 78,31(7,08) 76,06(28,57) 165,00(32,58) 53,91(10,78) 89,56(25,43) 9-11 anos 1ª avaliação(DP) 2ª avaliação(DP) 1,36(0,05) 43,09(9,94) 22,79(4,01) 75,04(12,38) 36,21(7,87) 38,88(6,35) 110,00(11,98) 59,59(8,08) 86,22(6,32) 86,54(45,69) 174,13(21,09) 55,15(11,69) 93,23(17,41) 1,39(0,06) 44,10(9,75) 22,47(3,86) 76,82(11,80) 34,94(6,90) 38,38(5,35) 105,92(11,54) 60,48(6,21) 80,36(5,32) 82,40(36,76) 174,59(22,61) 54,63(11,38) 100,67(20,89) 12-19 anos 1ª avaliação(DP) 2ª avaliação(DP) 1,59(0,09) 73,98(18,53) 28,76(5,68) 95,40(15,15) 37,99(9,96) 39,81(8,64) 126,37(15,73) 64,12(10,81) 80,21(5,56) 80,00(33,50) 166,63(27,33) 51,63(9,05) 79,91(25,00) 1,61(0,08) 75,95(16,94) 29,14(5,21) 98,86(14,59) 37,51(9,00) 39,53(8,58) 109,56(10,82) 61,43(5,93) 74,09(13,58) 83,94(45,09) 142,84(35,92) 54,50(15,16) 75,39(26,04) t p Delta -5,71 -2,66 1,10 -0,87 1,41 1,01 1,59 -0,71 2,154 0,301 2,073 -0,089 1,571 0,000 0,015 0,284 0,394 0,181 0,331 0,127 0,482 0,048 0,768 0,056 0,930 0,137 -0,03 -1,35 0,27 -0,92 1,21 0,55 3,95 -1,80 4,87 2,75 8,62 -0,20 4,87 t p Delta -8,22 -2,61 1,39 -1,59 1,26 0,50 2,18 -0,62 3,533 0,608 -0,127 0,428 -2,261 0,000 0,014 0,175 0,124 0,056 0,297 0,038 0,536 0,002 0,550 0,901 0,673 0,035 -0,026 -1,004 0,319 -1,780 2,033 1,070 4,070 -0,888 5,86 4,13 -0,45 0,51 -7,43 t p Delta -2,43 -1,95 -0,97 -2,36 0,45 0,42 4,84 1,00 1,678 -0,580 2,952 -0,784 1,874 0,026 0,067 0,343 0,032 0,661 0,679 0,000 0,332 0,111 0,569 0,009 0,443 0,077 -0,012 -1,972 -0,379 -3,462 0,476 0,284 16,812 2,687 6,11 -3,94 23,78 -2,87 4,52 PC- perímetro da cintura, IMC- índice de massa corporal, TAS- tensão arterial sistólica, TAD- tensão arterial diastólica, MG- Massa gorda. T teste de amostras emparelhadas. Delta – diferença entre o valor médio da 2ª avaliação e 1ª avaliação 47 Para calcular as diferenças entre grupos etários, foi usada a ANOVA (tabela 12) e os resultados mostraram diferenças significativas na variação (Δ) da TA sistolica entre os grupos de 6-8 anos e 12-19 anos (p=0.004) e entre 911 anos e 12-19 anos, ΔColesterol entre 9-11 anos e 12-19 anos (p=0.008), ΔLDL entre 6-8 anos e 9-11 anos (p=0.018) e ΔLDL entre 12-19 anos e 9-11 anos (p=0.015). Tabela 12. Comparação das variáveis entre os grupos etários ΔIMC ΔPC Δ% MG Grupo de 6-8 anos N Média DP 21 -0,27 1,14 19 0,92 4,59 14 -1,21 3,21 Grupo de 9-11 anos N Média DP 29 -0,31 1,23 25 1,78 5,58 21 -1,26 2,85 Grupo de 12-19 anos N Média DP 18 0,37 1,64 16 3,46 5,86 13 -0,47 3,82 tronco Delta % MG 14 -0,55 2,06 21 -0,50 2,14 13 -0,28 2,41 total -16,81* 20 -3,95 11,07 27 -4,07 9,68 16 13,87 ΔTAS 20 1,95 10,42 27 0,22 7,43 16 -3,68 9,22 ΔTAD 16 -4,87 9,05 22 -5,86 7,78 19 -6,11 15,88 ΔGlicose 16 -2,75 36,59 22 -4,13 31,90 18 3,94 28,84 ΔTG 0,45** -8,62 16,44 22 16,84 19 -23,78 35,12 ΔColesterol 16 16 0,20 9,26 22 -0,51 5,63 19 2,87 15,97 ΔHDL 7,43*** 16 -4,87 12,41 21 15,06 19 -4,52 10,51 ΔLDL Comparação post Hoc Bonferroni: *Grupo de 12-19 anos diferente dos grupos de 6-8 e 9-11 anos. **Grupo de 9-11 anos diferente do grupo de 12-19 anos. *** Grupo de 9-11 anos diferente dos grupos 6-8 e 12-19 anos. IMC- índice de massa corporal, PC- perímetro da cintura, MG . Massa Gorda, TAS- Tensão arterial sistólica, TAD- Tensão arterial diastólica, TGtriglicérideos. 5.3 Caracterização do HOMA e análise estatística No que diz respeito ao índice de resistência à insulina, não há diferenças significativas nos valores médias entre duas avaliações (tabela 13). Os valores médios do HOMA apresentaram uma tendência de redução mais acentuada nas meninas após a segunda avaliação (tabela13). 48 Tabela 13. Caracterização da amostra e comparação de acordo com o HOMA 1ª Avaliação N Média DP Meninos 21 1,558 (1,00) Meninas 30 2,438 (1,58) Total 51 2,076 (1,43) T teste de amostras emparelhadas. HOMA 2ª Avaliação N Média DP 21 1,557 (0,86) 30 2,188 (1,74) 51 1,928 (1,47) Delta – diferença entre o t 0,009 0,702 0,673 valor médio p Delta 0,993 0,001 0,488 0,25 0,504 0,14 da 2ª avaliação e 1ª avaliação Apesar de haver uma tendência na redução média dos valores, somente 3,92% das crianças e adolescentes diminuíram o risco de HOMA enquanto 5,88% passaram a ter risco. 11,76% mantiveram o risco para resistência à insulina, entretanto a maioria da amostra não apresentou risco para a resistência a insulina (Fig 4). Fig 4. Alteração do HOMA entre as avaliações 49 6. Discussão O objetivo deste estudo foi analisar as diferenças encontradas após 8 meses de um programa de intervenção, com foco no aumento dos níveis habituais de atividade física em crianças e adolescentes no que diz respeito à composição corporal, tensão arterial, perfil lipídico, glicose e resistência à insulina. Os principais resultados apresentados neste estudo foram: redução da percentagem de gordura no tronco de acordo com do DEXA, diminuição da tensão arterial sistólica, do colesterol e glicose. Os dados da composição corporal seguiram uma tendência encontrada no estudo de Semiz et al.,(2007), onde a gordura corporal e indice de massa corporal são superiores nas meninas. Entretanto de forma geral o peso corporal e altura foram significativamente (p<0,01) maiores na segunda avaliação do que na primeira, ou seja, após a intervenção. Isto aconteceu devido os individuos da amostra situarem-se em plena fase de desenvolvimento tecidual, ósseo e muscular. Apesar do crescimento do peso corporal houve redução do IMC, o que implica uma maior influência da altura em detrimento do peso corporal. O perimetro da cintura que é um importante indicador para doenças cardiovasculares não seguiu a mesma tendência da % de massa gorda do tronco, e aumentou após a segunda avaliação em todas as três faixas etárias, no sexo masculino, e de forma significativa nas meninas e na amostra total, resultados não esperados, pois era biologicamente espectavel uma redução do PC após o periodo de intervenção, como acontece nos estudos de Lazzar et al., (2007) e Klein-Platat et al., (2005). Estes resultados são muito importantes, pois altos valores de perímetro de cintura têm correlação com aumento da tensão arterial ainda na infância e especialmente nos rapazes (Chen & Li, 2011; Lu et al., 2013; Zhang & Wang, 2013). No entanto vale a pena ressaltar e levar em conta a redução significativa (p<0,05) dos valores médios da % de massa gorda no tronco, corroborando com os estudos de Batch (2005), Jauregui et al.,(2012), Dencker et al.,(2006) , 51 Farpour-Lambert et al.,(2009) e Watts et al.,(2004) que sugerem a importância do exercício físico regular na diminuição da massa gorda, evitando assim o desenvolvimento de diversas comorbidades associadas a obesidade, pois há forte correlação de doenças cardiovasculares com a gordura total e abdominal desde a infância (Dencker et al., 2012) Promover o aumento dos níveis de atividade física com o intuito de elevar a aptdão cardiorespiratória pode auxiliar na redução da massa gorda como também na manutenção da mesma (Batch, 2005; Jauregui et al., 2012). Pois niveis baixos de aptidão cardiorespiratória estão fortemente associados à obesidade em crianças, destacando-se o aumento da aptidão como fator protetor na juventude (Aires et al., 2010). Lee & Arslanian (2007) também observou em seu estudo que alto condicionamento cardiorespiratório está associado a baixos valores de gordura abdominal, e sugere que crianças e adoelscentes devem ser estimuladas a participar de programas que promovam atividades fisicas. Nassis et al.,(2005) concluiu que as crianças com sobrepeso e obesidade com elevado condicionamento cardiorespiratório tinham menos gordura abdominal e total, comparado as crianças de mesmo IMC com baixos niveis de aptidão. No entanto para uma melhor eficácia na redução de massa gorda abdominal é importante a prática de atividades fisicas concomitantimente ao controle alimentar (Togashi et al., 2010). No que diz respeito à tensão arterial houve semelhanças nos valores médios da tensão arterial sistólica entre os meninos e meninas na 1ª e 2ª avaliações, havendo após a intervenção uma redução significativa (p<0,01) do valor médio da tensão arterial sistólica, indicando uma coerência com estudos encontrados na literatura, na qual os niveis de tensão arterial estão associados à obesidade e baixos niveis de atividade física, ou seja, após a promoção de programas cujo objetivo é aumentar a atividade física regular e reduzir a massa gorda corporal, reduz-se gradativamente a tensão arterial em repouso (Duncan et al., 2011; Farpour-Lambert et al., 2009; Reinehr et al., 2009; Silva et al., 2009). Farpour-Lambert et al,(2009) verificou ainda que as maiores mudanças na TA ocorreram em crianças com maiores valores de TA independentemente 52 da redução da gordura corporal, e após um periodo maior de intervenção ocorreu outra diminuição da TA. No estudo de Gaya et al, (2009) concluiram que niveis de atividade física moderada e baixos niveis de sedentarismo estão associados com menores valores da tensão arterial sistólica, Leary et al.,(2008) também observou que altos niveis de atividade fisica está associado a baixos valores de tensão arterial, sugerindo que o volume pode ser mais importante do que a intensidade. Contudo a TAS não reduziu uniformemente em todas as faixas etárias, pois no grupo de 6-8 anos não foram encontradas diferenças significativas entre as avaliações. Este resultado pode ser explicado pela ausência de tensões elevadas em crianças saudáveis até os 10 anos (Mitsnefes, 2006). Fato este que também explica o porquê da variação da tensão arterial, do grupo de 12-19 anos ter sido significativamente superior ao grupo de 6-8 anos e 9-11 anos. A promoção de atividade física moderada ou vigorosa nas crianças e adolescentes também está associada com a redução dos niveis de colesterol, sendo um grande fator protetor para futuras doenças cardiovasculares (Moschonis et al., 2013). Neste estudo houve redução significativa dos niveis médios de colesterol total após a intervenção: na amostra total, no grupo de 1219 anos e no grupo dos meninos. Resultados que foram semelhantes ao estudo de El Ansari et al. (2010), após a intervenção os valores totais e do grupo dos rapazes reduziram significativamente. No entanto a variação do colesterol total do grupo de 12-19 anos entre as avaliações foi significativamente inferior ao grupo de 9-11 anos, o que acabou acontecendo pelo aumento significativo do LDL deste último grupo, já que o LDL é um dos componentes do colesterol total (McArdle et al., 2007, p. 25) Diversos estudos indentificam uma menor probabilidade de desenvolver patologias associadas ao colesterol em crianças e adolescentes ativos, pois se acredita que jovens ativos terão menos chances de desenvolver hipercolesterolemia na infância e posteriormente na idade adulta, evitando ou diminuindo a ocorrência de doenças cardiovasculares (Bailey et al., 2012; El Ansari et al., 2010; Moschonis et al., 2013). 53 Não foram encontradas diferenças significativas para tensão arterial diastólica e triglicerideos. Contudo o aumento da tensão arterial diastólica advém pelo acréscimo da resistência periférica (McArdle et al., 2007, p. 319) geralmente causado pela presença de placas de gordura nas arterias e capilares, juntamente com valores baixos de HDL e alto LDL (McArdle et al., 2007, pp. 25-26), o que dificilmente ocorre em crianças saudáveis. Talvez por isso a tensão arterial diastólica não apresentou diferenças significativas, com baixos valores médios nas duas avaliações em todos os grupos estudados. No caso dos triglicérideos a explicação plausivel para não ocorrência de significância entre as avaliações se dá pelo fato dos triglicéridos serem a forma de armazenamento das gorduras, o que não ocorre de forma intensa na infância e adolescência, incidindo posteriormente na fase adulta (Waitzberg, 2009, p. 131) devido ao sedentarismo e consumo excessivo de carboidratos (American Heart Association, S.d.-a). Os valores de HDL aumentaram e o LDL diminiu como era plausivel e biologicamente espectavel com acréscimo da atividade fisica, no entanto os resultados não foram significativos. Pórem no estudo de Cordova et,al. (2012) também não foram encontradas diferenças significativas de colesterol HDL e LDL entre os grupos dos sedentários, ativos e praticantes de esportes. No que diz respeito à resistência à insulina, verificou-se que após a segunda avaliação 5,88% das crianças mudaram de categoria para HOMA “risco”, 3,92% passaram a categoria “sem risco” e 11,76% mantiveram o “risco de resistência á insulina”. No entanto a grande maioria das crianças (78,43%) não apresentou valores de risco nas duas avaliações. Após a intervenção observou-se uma tendência na redução dos valores médios, indicando de forma geral uma diminuição da resistência à insulina, porém essa diminuição do HOMA não foi significativa. Esta tendência pode ser explicada pela redução significativa da glicose e da massa gorda no tronco, pois na medida em que há menos glicose circulante no sangue e menos gordura também há uma convergência para redução da resistência à insulina. Alguns estudos sugerem que a intervenção com 54 atividade física moderada ou vigorosa é benefica para reduzir os niveis de glicose e resistência à insulina, especialmente em crianças obesas (Bell et al., 2007; Macias-Cervantes et al., 2009; Mirza et al., 2012). Apesar dos excelentes resultados encontrados e discutidos acima, este estudo longitudinal apresenta algumas limitações: por um lado a amostra é reduzida dificultando a separação por grupos e diminuindo o poder da análise e por outro lado a não existência de um grupo controlo, impedindo de verificar a verdadeira eficácia do programa. Contudo tratava-se de um programa apoiadopelo Ministério de Educação com o fim de assistir uma comunidade, tornando difícil eticamente formar um grupo de controlo. No entanto, este estudo tem pontos fortes a salientar, como a avaliação objetiva de todas as variáveis com especial destaque para a utilização do DEXA para avaliar a composição corporal, O DEXA permite estabelecer a % de massa gorda caracterizando a obesidade com maior precisão e fiabilidade. 55 7. Conclusão Os resultados do presente estudo indicam que o programa de intervenção ”Projeto ACORDA” parece ter contribuído para a redução da percentagem de massa gorda, dos níveis de tensão arterial sistólica, do colesterol total e da glicose em crianças e adolescentes. Em síntese, este estudo reforça as atuais evidências sobre a importância dos projetos de promoção da atividade física na prevenção e tratamento de crianças adolescentes com excesso de peso/obesidade. Os inúmeros benefícios biológicos que as crianças conquistam com a perda de peso, através da prática da atividade física justificam largamente o investimento em programas de intervenção o mais cedo possível. De fato, programas de intervenção vêm se mostrando uma importante ferramenta na promoção de hábitos de vida saudáveis desde a infância até a idade adulta. 57 8. Referências Aguilar Cordero, M. J., Gonzalez Jimenez, E., Garcia Garcia, C. J., Garcia Lopez, P., Alvarez Ferre, J., Padilla Lopez, C. A., & Mur Villar, N. (2012). [Comparative study of the effectiveness of body mass index and the body-fat percentage as methods for the diagnosis of overweight and obesity in children]. Nutr Hosp, 27(1), 185-191. Aires, L., Silva, P., Silva, G., Santos, M. P., Ribeiro, J. C., & Mota, J. (2010). Intensity of physical activity, cardiorespiratory fitness, and body mass index in youth. J Phys Act Health, 7(1), 54-59. American College of Sports Medicine. (2010). 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