NARRATIVAS EM CONSTRUÇÃO: VISÃO DE JOVENS ALUNOS DE LONDRINA SOBRE A DITADURA MILITAR NO BRASIL. Marco Antônio Pupo Coelho (PIBID/HISTÓRIA/UEL) Raquel Ester Luithardt (PIBID/HISTÓRIA/UEL) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar um relato de nossa experiência em sala de aula, e com base nos relatos de alunos do ensino fundamental, tendo como temática “Narrativas em construção: A ditadura militar no Brasil”. Através de análise do questionário de conhecimento prévio, problematizaremos as concepções dos alunos acerca do tema. Á partir dos relatos colhidos, analisaremos as construções narrativas, a fim de estabelecer um diálogo com o conhecimento prévio dos alunos antes e após nossa intervenção. Conforme a teoria de aprendizagem de Jörn Rüsen, e sua definição de consciência histórica, pensada como uma ferramenta cognitiva de orientação, interpretação e experiência, utilizada em situações reais e práticas dos alunos, no processo de atribuição de significados e interpretações sobre o passado. Para tanto, o passado é tido por nós como experiência e ao mesmo tempo como orientador temporal. Através dessa consciência, segundo o autor, é que construímos uma narrativa do passado, com o objetivo de tornar inteligível o presente. Ainda de acordo com Rüsen, a competência narrativa, possuí quatro categorias, denominadas: tradicional, exemplar, crítica e genética. Essa sequência estrutural corresponde aos estágios da consciência histórica, que apontam para uma “crescente capacidade para ordenar a complexidade” (p.72). Palavras-Chave: História regional, ditadura, ensino, consciência histórica. 2716 O presente artigo tem como finalidade relatar a experiência de estágio no PIBID, Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, coordenado pelo Prof.º Dr. Márcio Santana e supervisionado pela Prof.ª Lusanira Feitosa Moreno, no Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina, José Aloísio de Aragão. Após uma breve contextualização do período histórico abordado – ditadura civil-militar brasileira –, problematizaremos os dados colhidos em sala de aula através das atividades desenvolvidas pelos alunos. O Regime militar brasileiro é compreendido entres os anos 1964 e 1985, e foi o período em que o país foi governado e (in)gerido pelos militares. As justificativas utilizadas pelos militares, centravam-se na ameaça do “ comunismo iminente", o que deixou a sociedade em estado de alerta. Esse receio aumentava ao passo que mais um país aderia à forma de governo comunista soviético, e o ápice desse medo ocorreu durante o governo de João Goulart, por conta das medidas adotadas em seu governo entendidas por ele como reformas de base e bem-estar social principalmente após anunciar essas medidas no Comício dado por ele em 13 de março de 1964 (TOLEDO, 2004). Além disso, em 19 de março de 1964, aconteceu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, reunindo em São Paulo milhares de manifestantes que reivindicavam que as autoridades tomassem providências para frear a “onda vermelha”, que segundo eles, estendia-se pelo país. A marcha teve papel importante na legitimação do golpe ocorrido no dia 31 de março, pois o medo do comunismo instalado na sociedade fez com que parte da população brasileira visse com bons olhos a intervenção dos militares. Durantes os vinte e um anos do regime militar, passaram pelo poder cinco presidentes militares: Humberto de Alencar Castello Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Medici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, cada governo marcado por uma particularidade. Os presidentes da época eram escolhidos a partir de uma indicação do Alto Comando Militar. A população, devia acatar. Nesse contexto surgem os AI's (foram 5), ou Ato Institucional – norma ou decreto que dava aos presidentes militares poderes além dos que estavam na constituição. 2717 Esses Atos Institucionais tinham como objetivo, segundo o texto extraído do preâmbulo do Ato Institucional número 1, manter e instrumentalizar as ações no seio da “Revolução Brasileira”: CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (BRASIL, 1968) O Ato Institucional número cinco (AI-5), instituído em 13 de dezembro de 1969 foi responsável pela aposentadoria de juízes, além de cassação de mandatos, fim do habeas corpus para delitos políticos, e também legitimou e de certo modo aumentou da repressão policial. Nesse período a censura tomou grandes proporções. Toda produção artística, musical, política e cultural estavam subjugadas ao crivo do Estado: nada poderia ser lançado ou publicado sem o aval do regime. O impacto da ditadura civil-militar não foi idêntico em todas as cidades. As capitais foram mais afetadas, seja pelo contingente populacional ou por seus papéis destacados no cenário político nacional. No entanto, cidades como Londrina no norte do Paraná, também foram afetadas pelo governo dos militares. Em nossas aulas-oficina, procuramos lançar luz sobre essa questão e problematizar as compreensões dos alunos sobre a ditadura na própria cidade. Partindo do conhecimento prévio dos alunos, utilizando a análise documental temos aqui a ferramenta mediadora do processo de aprendizagem, criando assim um debate abrangendo o contexto político do Brasil durante o Regime Militar a partir de uma breve reflexão sobre a memória que é evocada através dos monumentos, de acordo com Le Goff: “monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação[...]O monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas.” (LE GOFF, 1996) 2718 O objetivo é dar conta do que é o cerne do projeto PIBID: propor novas maneiras de aprendizagem e ensino da História, pautando-se na proposta da aula-oficina de Isabel Barca, visando um olhar crítico dos alunos em relação às várias narrativas acerca de um evento ou período. A partir dessa proposta faremos um relato parcial de nossa regência e sobre nossas dificuldades e percepções. Relato de experiência O nosso plano de aula tinha como objetivo, propor uma reflexão sobre os artefatos da cultura material que evocam uma memória sobre determinado personagem, no caso específico de Londrina, a estátua do presidente Castelo Branco, localizado na rotatória da avenida de mesmo nome com a Av. Maringá e o no caso de Curitiba, onde o busto do ex-reitor da UFPR e ex-Ministro da Educação, Flávio Suplicy de Lacerda, localizado na reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná), relacionando essas figuras com e as recentes manifestações decorrentes do aniversário de 50 anos do Golpe Civilmilitar em 2014. Na primeira aula, pedimos que os alunos do 9º respondessem a um questionário de conhecimento prévio, para termos uma noção dos conhecimentos da nossa turma sobre a ditadura no Brasil, no entanto, os dados coletados nesse questionário não serão problematizados aqui, visto que seria necessário um artigo para tratarmos apenas das questões relativas às percepções prévias dos alunos. Após contextualização do período, explicamos aos alunos o conceito de socialismo e capitalismo, para que pudéssemos falar da polarização política no contexto pós Segunda Guerra, e do reflexo desse embate no Brasil, culminando na intervenção civil-militar, depôs e exilou o então presidente, João Goulart. O planejamento da aula oficina precisou ser alterado na hora por conta da falta de recurso de mídia necessário para a apresentação de um vídeo. Com isso foi trabalhado apenas o material de fotos de monumentos que sofreram intervenção popular em protesto à memória da Ditadura Militar no Brasil. As fotos foram expostas aos alunos por meio do uso de data show. Fomos 2719 discutindo o assunto com os alunos conforme as imagens e baseando as respostas naquilo que os alunos comentavam, dando abertura para que eles questionassem e pudessem esboçar seus pensamentos acerca do período. Após essa apresentação das imagens seguida de uma explicação sobre os protestos e a discussão com os alunos sobre o que eles pensavam a respeito do ocorrido com os monumentos de líderes do regime militar, foi designado aos alunos desenvolvessem uma atividade com o valor de 2,0 pontos. A atividade poderia ser feita de duas formas, e o aluno deveria escolher uma delas para trabalhar, a primeira, consistia em criar uma charge crítica acerca da ditadura militar e que esboçasse a opinião pessoal do aluno sobre o que ele aprendeu do conteúdo apresentado. A segunda, o aluno poderia elaborar um texto explicativo sobre o que ele aprendeu sobre o tema, contendo um mínimo de 15 linhas de texto. A participação dos alunos foi razoável, alguns se mostraram mais interessados sobre o assunto, esboçando suas opiniões e levantando argumentos sobre suas visões políticas. Sobre as atividades notamos que de modo geral a turma obteve uma compreensão básica do contexto da Ditadura Militar. Considerações finais Levando em consideração diversos aspectos da nossa experiência em sala de aula, podemos compreender melhor a importância de se trabalhar com a análise de imagens, e proporcionar aos alunos uma discussão acerca da cultura material que faz parte do nosso cotidiano e que mesmo assim costuma passar despercebida. Acreditamos que essas aulas-oficina nos proporcionaram uma visão mais ampla das possibilidades em termos de recursos que podem ser utilizadas como prática de ensino pelos professores, imagens, vídeos, músicas, podem ser veículos de desenvolvimento prático do ensino que englobam o discurso de aprendizagem do próprio aluno que passa a ser envolvido pelo professor no processo de desenvolvimento do conhecimento histórico. Cabe ao professor estar atento e disposto a enxergar a riqueza desse tipo de material e disponibilizá-lo a seus alunos. 2720 Referências Biliográficas ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Fazer defeitos nas memórias: para que servem o ensino e a escrita da história? In: GONÇALVES, Márcia de Almeida et. al. Qual o valor da história hoje? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012 BARCA, Isabel. (2001) Concepções de adolescentes sobre múltiplas explicações em História. In: BARCA, Isabel (Org.). Perspectivas em Educação Histórica. 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