TÉCNICA DA
ENTREVISTA NA
PESQUISA SOCIAL
COLOGNESE & MELO;
E outros...
DEFINIÇÃO
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

É uma interação social formal, cujo objetivo
é produzir informações;
Uma conversa interessada, direcionada
pelos objetivos do investigador;
Uma comunicação controlada
pelo
problema de pesquisa e, por mais livre e
espontânea que possa parecer (quase como
uma conversa), na verdade, o pesquisador
sempre está no comando.
CLASSIFICAÇÃO DAS
ENTREVISTAS:




Quanto à padronização:
 Não diretiva;
 Semi diretiva;
 Estruturada.
Quanto a natureza das informações:
 Oral;
 Escrita.
Quanto aos informantes:
 Individual;
 Grupal.
Quanto ao nível de controle:
 Informal;
 Formal.
(OBS: normalmente, fazemos entrevistas semi diretivas, de
natureza oral, para informantes individuais; de modo
formal – que exigem o mínimo de roteiro).
ROTEIRO
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


É orientado pela problemática e pela teoria;
Deve conter todas as perguntas que são
julgadas relevantes para a pesquisa;
Seu objetivo é orientar a entrevista;
Podem ser de dois tipos:
Específico, com questões claramente formuladas;
 Contextual, por tópicos.
(também é necessário realizar um pré-teste deste
instrumento)

ROTEIRO CONTEXTUAL:
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS MEMBROS DA
BANDA
1 – TRAJETÓRIAS DE VIDA DA INFÂNCIA ATÉ O PUNK
2 – RELAÇÕES COM A ESCOLA, FAMÍLIA E AMIGOS
COMO PUNK.
3 – VISÕES SOBRE A CIDADE DE GUARAPUAVA E
SOBRE A CENA LOCAL.
4 – LOCAIS DE ENCONTRO E DE SHOW NA CIDADE.
5 – ATIVIDADES AOS FINAIS DE SEMANA QUE NÃO
TEM SHOW.
6 – HISTÓRIA DAS BANDAS DA QUAL FEZ PARTE.
7 – OS CONTATOS COM A CENA DE CURITIBA
8 – OS VÁRIOS GRUPOS QUE FORMAM A CENA EM
GUARAPUAVA.
R. ESPECÍFICO: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PESSOAS DAS GERAÇÕES DE 1950 - 70.
1 – HISTÓRIA DA FAMÍLIA E DA INFÂNCIA
Seus pais nasceram em Guarapuava? Na Região? No campo ou na cidade?
Onde você nasceu? Onde passou sua infância?
Para quem passou a infância na cidade: pedir uma descrição da cidade naquele período e das
brincadeiras das crianças nos espaços públicos.
2 – A JUVENTUDE.
O que tinha na cidade para fazer nos momentos de lazer e diversão? cinema, espaços de diversão
e encontro, movimento de pessoas e carros... qual era o principal ponto de encontro da
cidade?
Onde você costumava ir? O que acontecia por lá, que músicas tocavam? O que as pessoas faziam
lá? Como vinha para as festas?
No seu grupo de amigos, quais eram as músicas e os filmes predominantes?
O seu grupo de amigos tinha alguma diferença em relação a outros grupos de jovens da cidade?
quais? Como era a relação com os demais grupos?
Onde comprava roupas? De onde vinham as referências de moda? O que era “estar na moda” no
período?
A vida social era feita, sobretudo, em que contexto: familiar, grupo de amigos, da escola, igreja?
3 – OS DIAS ATUAIS.
Hoje você costuma freqüentar “a noite” de Guarapuava? Onde vai? Fazer o que? Com quem?
Costuma freqüentar algum grupo de amigos, associação, reuniões partidárias... enfim, como é sua
vida pública atualmente?
Ouve música? Vê televisão? Vai ao cinema? Aluga filmes para ver em casa? Quais músicas, e/ou
programas de TV e/ou filmes embalam hoje os seus finais de semana?
Comparar a sua geração com a geração de seus filhos e neto...
4 – A CIDADE
Descreva a cidade do seu tempo...
É muito diferente da cidade hoje? Quando você percebeu que as coisas começaram a mudar?
A SITUAÇÃO DE ENTREVISTA
Como processo de interação social, na situação de
entrevista, o pesquisador participa ativamente na
construção da narrativa, influenciando na sua condução
e no seu conteúdo;
 Há uma série de fatores perturbadores, que fogem a
qualquer previsão, de modo que não há normativas quanto ao comportamento correto durante a entrevista;
 É uma interação social assimétrica, em que o entrevistador
sempre está na posição de impor uma problemática;
 Há uma distância sociocultural entre entrevistador e
entrevistado.
(tudo isso remete ao caráter precário da técnica da
entrevista e a considerar que, também nesta metodologia,
dados perfeitos não existem).
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A TRANSCRIÇÃO

É a transposição da linguagem oral para a
linguagem escrita, o que não se faz sem
perdas;

Quem deve executar o processo?

Transcrição ou tradução?
ORGANIZAÇÃO DOS
RESULTADOS
As entrevistas devem ser lidas (relidas) individualmente,
para que sejam analisadas em si mesmas;
 Nesta análise pode-se estabelecer categorias pelas quais a
entrevista será analisada (buscando nas entrevistas aquilo
que interessa à pesquisa). Isso é particularmente relevante
para certos tipos de pesquisa. Análise do discurso
 Categorização, como forma de comparar entrevistas entre
si: orientados pela problemática, pela teoria e pelo próprio
roteiro, busca-se nas entrevistas questões previamente
definidas;
 Mas, também pode-se realizar uma “escuta” (leitura) atenta
das entrevistas, para ver o que ali tem de conteúdo sobre o
qual ainda não se havia problematizado. – ver as categorias
que aparecem).
(Neste momento, a construção de quadros comparativos é
importante, sobretudo para alguns tipos de pesquisa) – EX.

INTERPRETAÇÃO DAS
ENTREVISTAS
Momento de produção de um conhecimento novo;
 Elaboração do roteiro de redação;
 Confronto entre teoria e entrevistas, mediadas
pelos conceitos;
 as conclusões da pesquisa devem ser demonstradas
como exemplos dos trechos das entrevistas –
qualquer afirmação deve ser comprovada com um
trecho – os trechos mais significativos.
(além de confrontar as entrevistas com a teoria, pode-se
também produzir novas teorias a partir da
interpretação das entrevistas e, então, confrontar
estas teorias com aquelas que fundamentaram a
pesquisa até então)

ALGUNS ASPECTOS
PRÁTICOS

A escolha do informante







Pressupõe-se que o informante tem informações
relevantes e que está disposto a falar;
Uso do gravador – antes e durante;
A permissão para gravar;
O tempo e o lugar da entrevista;
O diário de campo da entrevista;
Usos do roteiro;
Dados socioeconômicos do informante.
ASPECTOS ÉTICOS



Consentimento informado;
Proteção do informante contra qualquer dano que a
pesquisa possa lhe trazer;
Alguns princípios básicos:
Preservar a identidade do informante;
 Respeitar os informantes e seu desejo de cooperar ou não
com a pesquisa – os acordos devem ser cumpridos;
 Nunca gravar sem autorização;
 Ser fiel aos dados que a pesquisa foi capaz de produzir –
nunca forjar dados, nunca distorce-los.
(mesmo estes princípios devem ser confrontados com as
situações específicas e fazer prevalecer o bom senso)

TERMO DE CONSENTIMENTO DE USO DA ENTREVISTA
A Pesquisa Espaços e Tempos da Sociabilidade Juvenil em Guarapuava visa investigar as
juventudes guarapuavanas quanto aos seus locais de encontro e diversão, suas referências
culturais, suas músicas preferidas, para compreender como a juventude aconteceu e acontece em
Guarapuava em cada período histórico – anos de 1950, 1970 e 2000. Para isso, pretende-se
escutar pessoas de gerações diferentes que viveram sua juventude em Guarapuava, para captar
as transformações que se processaram nas formas de ser jovem e nas formas de acontecer das
juventudes guarapuavanas.
Os dados dos depoimentos estarão sob sigilo ético e não deverão ser divulgados até o momento
de publicação da pesquisa, de modo que ela não oferece nenhum risco ao/a informante.
O pesquisador responsável pela pesquisa é o Professor Nécio Turra Neto, do Departamento de
Geografia da UNICENTRO, doutorando em Geografia pela UNESP de Presidente Prudente, que
se compromete a esclarecer todas as dúvidas dos/as informantes, antes, durante e depois das
entrevistas. Podendo ser contatado pelos telefones: (_______________); ou ainda pelo correio
eletrônico:_________________
Eu,
_______________________________________,
portador/a
do
documento
_____________________,
residente______________________________________________,
declaro para os devidos fins que cedo os direitos da minha entrevista para que seja transcrita,
analisada e utilizada, no todo ou em partes, no âmbito da pesquisa acima citada. Da mesma forma,
autorizo que seja usada posteriormente por terceiros vinculados à UNICENTRO, que ficará com a
guarda do material após o término da pesquisa.
Também informo que ( ) permito a citação do meu nome na redação final da pesquisa ( ) não
permito a citação do meu nome na redação final da pesquisa.
Guarapuava, ______________________ de 20___.
__________________________________
__________________________
Participante da Pesquisa
Prof. Nécio Turra Neto
DADOS DO/A ENTREVISTADO/A
Nome Completo: ________________________________________
Local e data de nascimento: _________________________________
Endereço atual: ____________________________________ no. _______
Bairro: _______________ Cidade: ______________ Fone: _______________
e-mail: ______________________________
Profissão Atual: ________________________________________________
Profissões Anteriores: ___________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Escolaridade: _________________________
Renda: ______________________________
Religião: ____________________________
Estado Civil: ______________________
9) Mora com: ( ) filhos
( ) marido/esposa
( )sozinho/a
( ) amigos/as
( ) filhos + marido/esposa
( ) pais
( ) tios e/ou avós
Entrevista com o Sr. J. de F. No Trianon, na casa dele, no dia 07 de Agosto de 2006.
-Bom Seu J., me diga, pra gente começar a entrevista, se o senhor é daqui de Guarapuava, a
família do senhor é daqui.
-Sou.
-Tudo daqui?
-Tudo.
-Aham. Então o senhor nasceu em Guarapuava?
-Nasci.
-Em 1936?
-Em 1936.
-Aham. E me conta um pouco da infância do senhor. O senhor nasc... morou na cidade, morou
no... no interior?
-Nasci, onde eu nasci foi ali na frente no quartel, do 26º Batalhão. Dali, com 4 anos mais ou menos
nós mudamos aqui pro bairro, hoje é bairro Santa Cruz. Aí nós mudamos pra cá. Aqui, ali eu me
criei mesmo naquel... no bairro Santa Cruz. Só que na época minha era... era Vila Guaíra, o nome,
não era Santa cruz, era Vila Guaíra.
-E como que era assim esse lugar? Tinha... não era muito habitado nos anos 30...
-Não, não era.
-Guarapuava era o que, era o centro só?
-É só o ce... e olha lá ainda não é... muito poquinha coisa que tinha... então era... olha... eu posso
dizer pra você que tudo aqui pro lado da Santa Cruz, ali onde tá a faculdade ali, nós com... eu
com... quer ver... em... em... nos anos 44... eu tava com 7 anos... eu já pegava a carroça e ia
buscar lenha ali onde... onde hoje tá a faculdade né. Era matão rapaz, era mato pesado. Então
ali... ali na toda aquela Santa Cruz era um matão. Pra você ver, pra chegar ali em casa, era... pra ir
pro Jordão tudo era... carreador que nós dizíamos, né. Os caminhos fundo onde só passava
carrocero, cavalero...
N-A XV que você fala do movimento da XV não era lá ainda né?
S-Não a XV ela ia dum trajeto da Saldanha até o hotel Guarapuava...
N-Certo...
S-Que é uma quadra pra frente da praça da igreja...
N-Certo...
S-Então existia mais... Pois a, pois a XV vamos dizer até o Komilão era de paralelepípedo depois
era estrada de chão... Era mato, não tinha cidade, a cidade acabava ali daí lá na frente tinha
umas casas... Era curta a cidade...
N-E o movimento se concentrava então ali em torno?
S-Daí era essa quadra da igreja e mais três quadras até a Saldanha...
N-Aham, e nesses sábados a noite só dava jovens ou ia famílias? É... os pais passear com os
filhos?
S-É também iam sim um tempo que o pessoal saía...
N-Aham, mas até uma certa hora...
S-Ah quando chegava nove horas da noite tava deserto tudo já...
N-É?
S-Não tinha mais nada...
Entrevista com S. C.
N-Nem vocês ficavam na XV?
S-Nem nós... Não tinha o que fazer mais na cidade...
N-Vocês iam dormir cedo? (chega a esposa do S. Ouvem-se risos)
S-É não...
N-Mentira dele? (risos)
S-É a gente não ia dormir cedo...
Esposa-Eu acho que não ia dormia cedo...
S-Porque a gente freqüentava ai os bailes ai que tinha na, na noite aqui em Guarapuava, tinha
uma, uma, uma quantidade de bares aí que ficavam abertos até de manhã, até as 7 horas da
manhã... E não eram poucos sabe; então tinha uma vida noturna aqui...
ENTREVISTA COM H. e C. – 19-06-06
Conforme combinado. Hoje era o dia de nos encontrarmos nas escadas da Casa Real, na XV. 15
horas.
Antes de ir, já havia decidido que levaria algo planejado pra não ficar sem saber o que dizer. Caso
falte assunto, tenho a entrevista e daí direciono o diálogo em torno das questões que me
interessam. Levei também uns xerox de zines meus para ter algo em torno do que falar. Separei
um que fala sobre rodeio e voto nulo, pois parece ser o assunto do momento no meio, um que fala
sobre feminismo, que tem a ver com o que elas discutem e o Poezine do Tatu de SP, que enfim, as
poesias são lindas!
Preparei quatro assuntos em torno dos quais conversar: trajetórias individuais até o punk; os locais
de encontro na cidade; representações sobre a cidade; relações com a escola e a família.
[...]
Sentamos numa mesa fora, no sol. [...] Falei então que tinha quatro assuntos para gente
conversar. E listei os assunto pra elas, pra que decidissem por onde começar. A decisão foi por
seguir a ordem que estava já estabelecida.
Então joguei uma primeira pergunta: como vc conheceu o punk?
[poxa, deveria ter perguntado depois se teve um momento em que ela disse pra si mesma: eu a
partir de hoje vou me definir como punk.]
A H. então começou...
Perto da sua casa tinha uns caras de banda. Ela muito menina via aqueles caras grandes, - “acho
que aquela paixão de menina” – e começou a se interessar pelo que eles faziam. Um primo dela
também começou a tocar em banda. Era rock, não punk ainda.
[...] Na época eram poucos os shows. Nos shows começou a fazer amigos. Amigos que só se
encontravam nos shows. Mas era muito esporádico, pois os shows eram poucos. Agora que tem
mais show, mesmo sendo emo, é que se encontram mais. Com a criação da banda também
começou a se encontrar mais com as amigas.
C.: Conheceu o punk pela mídia. Tinha 11 anos e já escutava Ramones na MTV. Daí começou a ir
atrás de outras bandas pela net. [...]
Outros exemplos:
-entrevista com usuário do Facebook – sobre o check-in;
-Entrevistador 1: você acha que isto, não pra você, mas para outras
pessoas, pode ser um fator importante, ter internet? Porque lá no
Butiquim, por exemplo, quando a gente foi, a gente via que o pessoal
sempre tava comentando na hora mesmo: ‘tá tendo uma festa aqui’, ‘tá
legal’; gente postando fotos, ‘estamos aqui’. Você acha que isto daí
influencia esse público?
-Entrevistador 2: fazer o check-in...
-Entrevsitado: Ah?
-Entrevistador 2: o check in que o pessoal costuma fazer...
-Entrevistador 1: você faz check-i às vezes, ou não?
-Entrevistado: não... Pelo celular não, vou direto lá na empresa mesmo, no
guichê da empresa, agora eu compro pela internet.
-Entrevistador 1: Agora, no geral, dos espaços da noite... Deixa-me ver
aqui... Antes do Butiquim, onde você costumava ir, seu grupo de amigos?
-Entrevista com moradora de bairro periférico – em busca da
comunidade...
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