21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-032 – BIOFILTRO AERADO SUBMERSO APLICADO AO PÓSTRATAMENTO DE EFLUENTES DE REATOR UASB – ESTUDO EM ESCALA PILOTO COM ESGOTO SANITÁRIO Carlos Hirakawa(1) Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP). Mestre em Saúde FOTO Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública (USP). Engenheiro da CETESB – Companhia NÃO de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Roque Passos Piveli DISPONIVEL Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Mestre em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela EESC/USP. Doutor em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica (USP). Professor Doutor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica (USP). Pedro Alem Sobrinho Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica (USP). Endereço(1): Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 733 – Bloco C – Apto. 121 – São Paulo – SP – CEP: 01317-904 - Brasil - Tel: (011) 232-3418 - e-mail: [email protected] RESUMO O emprego de biofiltro aerado submerso (BAS) no pós-tratamento de efluente de reator UASB ("Upflow Anaerobic Sludge Blanket") foi estudado em uma unidade em escala piloto recebendo esgoto sanitário. Buscou-se no experimento avaliar o comportamento dessa combinacão no tocante à possibilidade de atendimento à legislação ambiental, pois é sabido que apenas o reator UASB não é capaz de promover, com regularidade, remoção de matéria orgânica, expressa em DBO5,20, com eficiência superior a 80%, percentual mínimo exigido para a obediência aos padrões de emissão no Estado de São Paulo. A unidade piloto era constituída, basicamente, por um reator UASB de 604 L seguido por um BAS de fluxo descendente, com leito fixo com 32,7 L de volume aparente. Os resultados obtidos demonstram que o desempenho do conjunto foi satisfatório, com 91% de eficiência média na remoção de DBO5,20 e concentração na faixa de 6 a 17 mg/L no efluente final. Constatou-se, também, que o BAS foi capaz, durante determinado período do experimento, de promover a remoção de nitrogênio amoniacal com eficiência suficiente para manter, a menos de uma amostragem, concentrações inferiores a 5 mg/L no efluente final, valor máximo permitido pela legislação federal. Nesse período, a máxima taxa de aplicação foi da ordem de 4,0 kgDQO/m3.dia. PALAVRAS-CHAVE: Esgoto Sanitário, Tratamento de Esgoto, Biofilme, Biofiltro Submerso Aerado, UASB. INTRODUÇÃO O emprego de reatores UASB no tratamento de esgotos sanitários predominantemente domésticos vem sendo largamento difundido no Brasil, em função, principalmente, da compacidade e baixo custo energético. Sua eficiência, no entanto, tem se mostrado insuficiente para, isoladamente, assegurar atendimento à legislação ambiental. Dessa forma, o efluente de reator UASB necessita ser submetido a tratamento complementar para permitir o atendimento aos padrões de emissão. O biofiltro aerado submerso (BAS) surge como uma promissora alternativa para o tratamento complementar de efluente de reatores UASB. Trata-se de uma modalidade de tratamento cujas principais características são a existência de um leito suporte para a adesão de microorganismos, que pode ser estruturado ou granulado, e de um sistema de aeração por ar difuso. Uma vantagem dessa combinação é o fato de o excesso de o lodo não estabilizado removido do BAS poder ser encaminhado para o UASB, para ser estabilizado por digestão anaeróbia, tornando desnecessária uma unidade especialmente projetada para esse fim. ABES – Trabalhos Técnicos 1 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Dentre as diversas configurações possíveis do BAS foi estudado um reator de fluxo descendente, com leito granulado com material mais denso que a água. O comportamento do conjunto formado pelo reator UASB seguido por BAS foi avaliado em uma unidade em escala piloto alimentada com esgoto bruto derivado do canal de entrada de uma estação de tratamento de esgotos. O experimento durou cerca de um ano, entre junho de 1998 e junho de 1999, com algumas interrupções para manutenção dos equipamentos componentes da instalação piloto. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma unidade piloto constituída por um reator UASB seguido por BAS montada nas instalações da CETESB, em São Paulo. O esgoto bruto afluente à unidade era bombeado a partir do canal de entrada da estação de tratamento de esgotos da SABESP no bairro de Pinheiros, hoje desativada. O reator UASB foi construído com tubo de PVC com 0,45 m de diâmetro e comprimento total de 3,90 m. A altura útil da unidade era de 3,80 m e o volume, de 0,604 m3. A altura total da zona de reação era de 3,34 m, enquanto o dispositivo para separação dos gases, o decantador e a saída do efluente ocupavam 0,46 m da parte superior do reator. Na zona de formação do manto de lodo foram instalados registros para coleta de amostra a cada 0,50 m, a partir da base. A altura total do BAS era de 3,40 m, e seu diâmetro, de 0,15 m. O leito de material granulado ocupava 1,85 m, e a grelha de aeração foi instalada 0,30 m acima da sua base, de forma a criar uma zona não aerada, com o objetivo de submeter o efluente a filtração física. O material empregado no leito foi argila expandida com diâmetro efetivo de 6,5 mm. Por tratar-se de material heterogêneo quanto à densidade, foi realizada uma seleção prévia para separar e eliminar as partículas menos densas que a água. O ar para o processo de tratamento e para a lavagem do leito filtrante foi tomado do sistema de ar comprimido dos laboratórios da CETESB. Um desenho esquemático da unidade piloto é apresentado a seguir: 2 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 1: Desenho esquemático da unidade piloto A freqüência das coletas de amostras foi semanal. As análises foram realizadas nos laboratórios do Departamento de Saúde Ambiental (HSA), da Faculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo, obedecendo aos preceitos do "Standard Methods for Examination of Water and Wastewater", 19a ed., 1995, da APHA, AWWA e WEF. No planejamento da pesquisa foi estabelecido que o reator UASB receberia vazão constante de 0,093 m3/h, correspondente a tempo de detenção de 6,5 horas, enquanto o BAS seria alimentado com vazões variáveis, com o propósito de submetê-lo a diferentes taxas de aplicação de carga orgânica e de escoamento superficial. Durante a fase inicial de operação dos sistema, no entanto, houve grande dificuldade para manter fixa a vazão ABES – Trabalhos Técnicos 3 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental afluente ao reator UASB, pois, apesar de a tomada de sucção ser protegida por uma tela, ocorria o acúmulo de material particulado no rotor da bomba de alimentação, que levava à redução progressiva da vazão bombeada. Dessa forma, decidiu-se flexibilizar o controle da vazão do UASB, procurando, porém, manter o tempo de detenção entre 4,5 e 8,0 horas. Para a partida, o reator UASB recebeu cerca de 0,24 m3 de lodo proveniente de um dos reatores UASB da ETE de Ribeirão Pires, da SABESP. O BAS foi alimentado com vazões de 0,015 m3/h a 0,046 m3/h, correspondentes a taxas de filtração de 0,85 m3/m2.h a 2,60 m3/m2.h. Problemas operacionais surgidos durante o período de operação do sistema impediram que a vazão de alimentação fosse aumentada de forma a atingir a taxa inicialmente programada de 4,0 m3/m2.h. O ar para o processo de tratamento no BAS foi fornecido com vazão suficiente para manter concentração de oxigênio dissolvido da ordem de 3,0 mg/L no efluente final. A perda de carga indicativa da necessidade de lavagem do leito filtrante do BAS foi fixada em 0,40 m, com base em testes realizados na fase inicial de operação do sistema. A seqüência de operações nas lavagens, também estabelecida após testes na fase de partida do BAS, foi a seguintes: a) interrupção da alimentação do BAS; b) abertura do registro de ar para lavagem; c) início do bombeamento de água no sentido contracorrente, com taxa de lavagem de 81 m3/m2.dia, após dois minutos de revolvimento do leito apenas com ar; d) fechamento do registro de ar e desligamento da bomba 12 minutos após o seu acionamento; e) retomada do bombeamento de efluente do UASB para o BAS. A água resultante da lavagem era acumulada em um tanque, de onde era bombeada para o UASB, à razão de 0,024 m3/h (0,40 L/min). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados obtidos no experimento para os parâmetros DQO, DBO5,20, SST, SSV e Nitrogênio Amoniacal são apresentados na forma de tabelas e correspondentes gráficos de variação de concentração e eficiência em cada estágio do tratamento na unidade piloto. As descontinuidades que se observam na coluna "Tempo de Operação" das tabelas correspondem a semanas em que não houve coleta de amostras. Nas tabelas de nos 1 a 4 são apresentados os resultados das análises dos parâmetros selecionados e figuras mostrando a sua variação ao longo da duração do experimento no esgoto bruto afluente, no efluente do reator UASB e no efluente do BAS. Para os parâmetros DQO e DBO5,20 são apresentadas, também, as curvas de variação da eficiência total do sistema e das eficiências correspondentes a cada unidade componente da estação de tratamento em escala piloto. Tabela 1: Resultados das análises de DQO total no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS e valores da eficiência em cada estágio do tratamento 4 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tempo de Taxa de Operação Filtração no BAS Semanas m3/m2.h 0 3 4 5 9 10 11 12 13 14 15 16 19 22 24 36 37 38 39 41 42 43 46 47 48 49 52 Taxa da Aplicação de DQO no BAS kgDQO/m3.dia 1,43 0,98 1,02 0,98 1,12 1,09 0,92 1,70 1,83 1,73 1,83 1,70 1,70 1,53 1,19 1,09 1,09 1,22 --1,29 1,15 1,36 1,12 1,33 1,70 1,94 0,71 2,604 1,371 1,498 1,402 2,029 2,774 1,305 0,736 3,178 2,171 1,561 1,839 1,865 2,246 2,281 1,698 2,774 1,570 --1,278 1,876 4,105 2,722 2,172 3,705 2,696 2,384 DQO total (mg/L) Esg. Bruto 157 337 206 272 174 287 196 152 192 227 195 147 248 281 252 138 237 114 156 176 247 228 323 291 331 388 322 Efl. UASB 118 90 95 92 117 165 92 28 112 81 55 70 71 95 124 101 165 83 124 64 105 191 157 106 141 90 216 Efl. BAS 47 39 23 18 45 35 58 12 40 38 33 31 4 24 98 61 94 24 24 24 30 24 39 38 59 49 33 Eficiência (%) UASB BAS Total 25 73 54 66 33 43 53 82 42 64 72 52 71 66 51 27 30 27 21 64 57 16 51 64 57 77 33 60 57 76 80 62 79 37 57 64 53 40 56 94 75 21 40 43 71 81 63 71 87 75 64 58 46 85 70 88 89 93 74 88 70 92 79 83 83 79 98 91 61 56 60 79 85 86 88 89 88 87 82 87 90 DQO total (mg/L) Figura 2: Gráfico de variação de DQO total no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS ao longo do experimento 500 Esgoto Bruto Efluente do UASB Efluente do BAS 400 300 200 100 0 0 3 4 5 9 10 11 12 13 14 15 16 19 22 24 36 37 38 39 41 42 43 46 47 48 49 52 Tempo de Operação (Semanas) Figura 3: Variação das eficiências total, do UASB e do BAS na remoção de DQO total ABES – Trabalhos Técnicos 5 Eficiência na Remoção de DQOtotal (%) 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 100 80 60 40 UASB BAS TOTAL 20 0 0 3 4 5 9 10 11 12 13 14 15 16 19 22 24 36 37 38 39 41 42 43 46 47 48 49 52 Tempo de Operação (Semanas) Os gráficos acima mostram que o BAS atuou de forma a complementar a remoção de DQO iniciada no reator UASB. Na Figura 3 constata-se que, embora os gráficos relativos às eficiências do UASB e do BAS tenham apresentado grande amplitude de valores, a eficiência global do conjunto manteve-se numa faixa relativamente estreita, com a maior parte dos valores entre 80% e 90%, a menos do período entre a 24a e a 37a semanas de operação, quando se verificou um desequilíbrio no sistema. Tabela 2: Resultados de análises de DBO total no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS e valores da eficiência em cada estágio do tratamento Tempo de Taxa de Taxa da Operação Filtração no Aplicação de DBO total (mg/L) Eficiência (%) BAS DBO no BAS Semanas m3/m2.h kgDBO/m3.dia Esg. Efl. Efl. UASB BAS Total Bruto UASB BAS 0 1,43 1,479 103 67 17 35 75 83 3 0,98 0,533 193 35 9 82 74 95 4 1,02 1,371 138 87 7 37 92 95 5 0,98 0,625 146 41 10 72 76 93 9 1,12 1,561 141 90 17 36 81 88 10 1,09 1,547 203 92 9 55 90 96 12 1,70 0,525 129 20 6 84 70 95 13 1,83 2,667 134 94 11 30 88 92 20 ----117 89 14 24 84 88 36 1,09 1,244 92 74 12 20 84 87 37 1,09 1,160 91 69 6 24 90 93 Figura 4: Gráfico de variação de DBO no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS DBO total (mg/L) 250 Esg. Bruto Efl. UASB Efl. BAS 200 150 100 50 0 0 3 4 5 9 10 12 13 20 36 37 Tempo de Operação (Semanas) Figura 5: Variação das eficiências total, do UASB e do BAS na remoção de DBO 6 ABES – Trabalhos Técnicos Eficiência na Remoção de DBO (%) 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 100 80 60 40 UASB BAS Total 20 0 0 3 4 5 9 10 12 13 20 36 37 Tempo de Operação (Semanas) Nas Figura 4 e 5, verifica-se com maior clareza o papel exercido pelo BAS no conjunto, no tocante à remoção de matéria orgânica. No primeiro gráfico, nota-se que mesmo com a grande variação das concentrações de DBO no efluente do UASB, entre 20 e 94 mg/L, os valores no efluente final foram reduzidos à faixa de 6 a 17 mg/L. E no segundo gráfico, observa-se que a cada queda na eficiência do UASB correspondia uma melhoria no desempenho do BAS, de modo que a eficiência total do sistema manteve-se relativamente estável, variando de 83% a 96%. Conclui-se, assim, que, nas condições do experimento, os valores de concentração de DQO ou de DBO no efluente final e de eficiência do BAS foram influenciados mais pela qualidade do efluente do reator UASB que pela taxa de aplicação ou pela taxa de filtração no BAS. Tabela 3: Resultados das determinações de SST e SSV no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS Tempo de Taxa de Operação Filtração no BAS Semanas m3/m2.h 0 3 4 5 6 9 10 11 12 13 16 17 19 20 24 37 42 43 45 47 48 49 52 Tempo após lavagem do filtro Horas 1,43 0,98 1,02 0,98 0,98 1,12 1,09 0,92 1,70 1,83 1,70 1,56 1,70 --1,19 1,09 1,15 1,36 1,56 1,33 1,70 1,94 0,71 ABES – Trabalhos Técnicos 48 72 21 96 96 48 45 76 9 21 31 31 26 46 25 24 32 1 20 57 33 23 54 SST (mg/L) Esgoto Bruto 45 70 70 45 75 55 45 55 110 70 95 90 75 50 55 85 95 85 139 95 100 125 60 Efluente Efluente do UASB do BAS 25 0 30 0 25 0 10 0 60 0 15 5 15 1 25 2 20 20 50 10 30 5 20 10 15 3 40 4 10 4 15 5 15 3 65 18 45 34 28 21 38 12 30 20 20 15 SSV (mg/L) Esgoto Bruto 15 10 60 40 60 55 40 45 80 60 70 70 50 20 44 80 90 65 106 90 65 80 55 Efluente Efluente do UASB do BAS 10 0 5 0 15 0 5 0 40 0 15 5 15 1 25 2 10 5 45 10 20 5 15 8 5 3 15 2 10 4 5 5 15 3 60 10 30 20 25 16 15 5 13 10 18 11 7 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 6: Gráfico da variação de SST no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS SST (mg/L) 150 Esgoto Bruto Efluente do UASB Efluente do BAS 100 50 0 0 3 4 5 6 9 10 11 12 13 16 17 19 20 24 37 42 43 45 47 48 49 52 Tempo de Operação (Semanas) SSV (mg/L) Figura 7: Gráfico da variação de SSV no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS 120 100 80 60 40 20 0 Esgoto Bruto Efluente do UASB Efluente do BAS 0 3 4 5 6 9 10 11 12 13 16 17 19 20 24 37 42 43 45 47 48 49 52 Tempo de Operação (Semanas) Na Figura 6 observa-se que, a menos de dois valores, todos os demais foram iguais ou inferiores a 20 mgSST/L, demonstrando que nas condições do experimento o conjunto produziu um efluente de boa qualidade também quanto à concentração de sólidos em suspensão totais (SST). Para taxas de filtração entre 0,71 a 1,94 m3/m2.h a que o BAS foi submetido, a influência do tempo decorrido desde a última lavagem até o momento da coleta não foi significativa. A Tabela 4 fornece os resultados das análises de nitrogênio amoniacal no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS e os valores da taxa de aplicação de DQO correspondentes a cada amostra, apresentados em forma de gráfico de variação nas Figuras 8 e 9. 8 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 4: Resultados de análises de nitrogênio amoniacal (N-NH4) no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS Tempo de Operação Taxa de Aplicação de DQO N-NH4 (mg/L) Semanas kgDQO/m3.dia Esg. Bruto Efl. UASB Efl. BAS 14 2,171 8 14 3 15 1,561 11 14 13 16 1,839 7 10 3 19 1,865 13 14 5 22 2,246 20 20 12 24 2,281 14 15 5 39 3,030 13 15 1 41 1,278 11 16 6 42 1,876 14 15 1 43 4,015 20 20 3 46 2,722 15 16 1 47 2,172 19 11 3 48 3,705 16 18 8 49 2,696 17 12 5 50 5,181 17 17 13 51 5,217 14 14 13 52 2,384 16 16 15 Figura 8: Gráfico da variação de nitrogênio amoniacal (N-NH4) no esgoto bruto e nos efluentes do UASB e do BAS N-NH4 (mg/L) 25 Esg. Bruto Efl. UASB Efl. BAS 20 15 10 5 0 14 15 16 19 22 24 39 41 42 43 46 47 48 49 50 51 52 46 47 48 49 50 51 52 Tempo de Operação (Semanas) Taxa de Aplicação (kgDQO/m3.dia) Figura 9: Gráfico da variação da taxa de aplicação (TA) no BAS 6 5 4 3 2 1 0 14 15 16 19 22 24 39 41 42 43 Tempo de Operação (Semanas) O gráfico da Figura 8 mostra que o BAS apresentou melhor desempenho na remoção de nitrogênio amoniacal no período compreendido entre a 39a e a 47a semanas, em que, dos seis resultados obtidos, apenas um superou ABES – Trabalhos Técnicos 9 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 mgN-NH4/L. Nesse período, a máxima taxa de aplicação foi da ordem de 4 mgDQO/L. Pela leitura dos dois gráficos, nota-se que a eficiência do BAS na remoção de nitrogênio amoniacal diminuiu sensivelmente para taxa de aplicação de 5,2 mgDQO/L. Nas tabelas de nos 5 a 7 são apresentados os valores das taxas de aplicação e de remoção dos parâmetros DQO, DBO5,20 e SST no reator BAS e os correspondentes gráficos, apresentando, além da reta que melhor se ajusta aos dados levantados, a sua equação e o valor do coeficiente de aderência R2. Tabela 5: Taxa de remoção (TR) de DQO no reator BAS em função da taxa de aplicação (TA) Tempo de Efl. UASB Efl. BAS Vazão BAS Taxa de TA TR Operação Filtração Semanas mgDQO/L mgDQO/L L/m m3/m2.h kgDQO/m3.d kgDQO/m3.d 0 118 47 0,420 1,43 2,604 1,567 3 90 39 0,290 0,98 1,371 0,777 4 95 23 0,300 1,02 1,498 1,135 5 92 18 0,290 0,98 1,402 1,128 9 117 45 0,330 1,12 2,029 1,249 10 165 35 0,320 1,09 2,774 2,186 11 92 58 0,270 0,92 1,305 0,482 12 28 12 0,500 1,70 0,736 0,420 13 112 40 0,540 1,83 3,178 2,043 14 81 38 0,510 1,73 2,171 1,152 15 55 33 0,540 1,83 1,561 0,624 16 70 31 0,500 1,70 1,839 1,025 19 71 4 0,500 1,70 1,865 1,760 21 119 65 0,400 1,36 2,501 1,135 22 95 24 0,450 1,53 2,246 1,679 24 124 98 0,350 1,19 2,281 0,478 36 101 61 0,320 1,09 1,698 0,673 37 165 94 0,320 1,09 2,774 1,194 38 83 24 0,360 1,22 1,570 1,116 39 124 24 0,465 --3,030 2,443 40 156 28 0,460 1,56 3,771 3,094 41 64 24 0,380 1,29 1,278 0,799 42 105 30 0,340 1,15 1,876 1,340 43 191 24 0,400 1,36 4,015 3,510 44 331 41 0,320 1,09 5,566 4,876 46 157 39 0,330 1,12 2,722 2,046 47 106 38 0,390 1,33 2,172 1,394 48 141 59 0,500 1,70 3,705 2,154 49 90 49 0,570 1,94 2,696 1,228 50 290 113 0,340 1,15 5,181 3,162 51 292 55 0,340 1,15 5,217 4,234 52 216 33 0,210 0,71 2,384 2,019 10 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental TR (kgDQO/m 3.dia) Figura 10: Taxa de remoção (TR) de DQO no BAS em função da taxa de aplicação (TA) 6,0 TR = 0,8409 x TA - 0,4377 R2 = 0,8481 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 3 TA (kgDQO/m .dia) Tabela 6: Taxa de remoção (TR) de DBO no reator BAS em função da taxa de aplicação (TA) Tempo de Efl. UASB Efl. BAS Vazão BAS Taxa de TA TR Operação Filtração Semanas mgDBO/L mgDBO/L L/min m3/m2.h kgDBO/m3.d kgDBO/m3.d 0 67 17 0,420 1,43 1,479 1,103 3 35 9 0,290 0,98 0,533 0,396 4 87 7 0,300 1,02 1,371 1,261 5 41 10 0,290 0,98 0,625 0,472 9 90 17 0,330 1,12 1,561 1,266 10 92 9 0,320 1,09 1,547 1,396 12 20 6 0,500 1,70 0,525 0,368 14 94 11 0,540 1,83 2,667 2,355 36 74 12 0,320 1,09 1,244 1,043 37 69 6 0,320 1,09 1,160 1,059 TR (kgDBO/m 3.dia) Figura 11: Taxa de remoção (TR) de DBO no BAS em função da taxa de aplicação (TA) 2,50 2,00 TR = 0,9139 x TA - 0,0899 R2 = 0,9830 1,50 1,00 0,50 0,00 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3 TA (kgDBO/m .dia) Tabela 7: Taxa de remoção (TR) de SST no reator BAS em função da taxa de aplicação (TA) ABES – Trabalhos Técnicos 11 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tempo de Operação Semanas 0 3 4 5 6 9 11 12 13 14 16 17 19 21 22 24 37 40 42 45 47 48 49 50 51 52 Efl. UASB Efl. BAS Vazão BAS mgSST/L 25 30 25 10 60 15 25 20 50 30 30 20 15 60 25 10 15 135 15 45 28 38 30 250 100 20 mgSST/L 0 0 0 0 0 5 2 20 10 15 5 10 3 10 3 4 5 85 3 34 21 12 20 16 18 15 L/min 0,420 0,290 0,300 0,290 0,290 0,330 0,270 0,500 0,540 0,510 0,500 0,460 0,500 0,400 0,450 0,350 0,320 0,460 0,340 0,460 0,390 0,500 0,570 0,340 0,340 0,210 Taxa de Aplicação m3/m2.h 1,43 0,98 1,02 0,98 0,98 1,12 0,92 1,70 1,83 1,73 1,70 1,56 1,70 1,36 1,53 1,19 1,09 1,56 1,15 1,56 1,33 1,70 1,94 1,15 1,15 0,71 TA TR kgSST/m3.d 0,552 0,457 0,394 0,152 0,914 0,260 0,355 0,525 1,419 0,804 0,788 0,483 0,394 1,261 0,591 0,184 0,252 3,263 0,268 1,088 0,574 0,998 0,899 4,466 1,787 0,221 kgSST/m3.d 0,552 0,457 0,394 0,152 0,914 0,173 0,326 0,000 1,135 0,402 0,657 0,242 0,315 1,051 0,520 0,110 0,168 1,209 0,214 0,266 0,143 0,683 0,300 4,181 1,465 0,055 Figura 12: Taxa de remoção (TR) de SST no BAS em função da taxa de aplicação (TA) TR (kgSS/m3.dia) 5,0 4,0 TR = 0,7621 x TA - 0,0658 R2 = 0,8208 3,0 2,0 1,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 3 TA (kgSS/m .dia) O conjunto formado pelo reator UASB e pelo BAS apresentou, de modo geral, bons resultados na remoção de matéria orgânica e de sólidos em suspensão. Nas condições em que foi testado, com taxas de aplicação de 0,74 a 4,02 kgDQO/m3.dia, o BAS apresentou com regularidade bons resultados na remoção de matéria orgânica (DQO e DBO5,20) e de sólidos em suspensão totais (SST) e voláteis (SSV). Em relação aos parâmetros DQO e DBO5,20, inclusive, sua eficiência foi ditada mais pela qualidade do efluente do reator UASB que pelas taxas operacionais a que foi submetido. No período em que a eficiência média do reator UASB na remoção de DQO total foi de 59%, a contribuição média do BAS foi de 64%, removendo em conjunto 85% da DQO total do esgoto bruto. Em seguida à reposição parcial dos sólidos, quando a eficiência média do UASB diminuiu para 44%, a parcela removida no BAS aumentou 12 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental para 69%, propiciando eficiência global de 87%. Mesmo na fase de menor eficiência do reator UASB, com percentuais inferiores a 30%, o BAS conseguiu manter em praticamente metade desse período desempenho capaz de assegurar percentual mínimo de 80%. A eficiência na remoção de matéria orgânica expressa em DBO5,20 variou de 83% a 96%, percentuais que possibilitam obediência à legislação ambiental do Estado de São Paulo quanto a esse parâmetro. A concentração de sólidos em suspensão totais (SST) variou de 0 (zero), nas primeiras semanas de operação do sistema, a 34 mg/L, com valor médio de 9 mg/L. Observou-se a remoção de nitrogênio amoniacal, tendo ocorrido nitrificação parcial no BAS. Os melhores resultados foram obtidos para taxas de aplicacão de até 4,0 kgDQO/m3.dia, aproximadamente. O período de maior eficiência iniciou-se após cinco meses de operação da unidade piloto e foi encerrado quando ocorreu uma súbita elevação da taxa de aplicação de DQO. Nesse período, que durou cerca de dois meses, o valor médio de nitrogênio amoniacal no efluente final foi de 2,7 mg/L, com apenas um pico de 6,0 mg/L. As concentrações inferiores a 5 mgN-NH4/L foram obtidas para afluentes ao BAS com concentrações de até 16 mgN-NH4/L. CONCLUSÃO Os resultados obtidos no experimento permitem concluir que o BAS possui, do ponto de vista técnico e operacional, condições para promover o tratamento complementar de efluente de reator UASB com a eficiência requerida para atender aos padrões de emissão definidos na legislação ambiental, em particular a do Estado de São Paulo. A eficiência do BAS na remoção de matéria orgânica expressa em DQO total variou de 21% a 94%, com valor médio de 63%. A concentração de DQO total no efluente final variou de 4 a 98 mg/L, com valor médio de 39 mg/L, sendo que três dentre as 27 amostras apresentaram valores superiores a 60 mg/L. Em relação ao parâmetro DBO5,20, referência na legislação ambiental para a concentração de matéria orgânica, os resultados obtidos variaram na faixa de 6 a 17 mg/L, que significa um efluente com boa qualidade. Para taxas de aplicação de até 4,0 kgDQO/m3.dia, o BAS mostrou-se capaz de promover uma nitrificação com eficiência suficiente para manter, na maior parte dos casos, concentração de nitrogênio amoniacal inferior a 5,0 mg/L no efluente final do conjunto UASB-BAS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. ALEM SOBRINHO, P., KATO, M.T. (1999). Análise crítica do uso de processo anaeróbio para o tratamento de esgotos sanitários. In: CAMPOS, J.R. (coord.), TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS POR PROCESSO ANAERÓBIO E DISPOSIÇÃO CONTROLADA NO SOLO. p. 301-320. ABES. Rio de Janeiro.ARVIN, E., HARREMOËS, P. 1990). Concepts and models for biofilm reactor performance. Water Science and Technology, v.22, p.171-192. CANLER, J.P., PERRET, J.M. (1993). 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