Anales de Trabajos Extendidos e Resumenes IV Workshop Interdisciplinario de Investigación e Indicadores de Sustentabilid Concepción – Chile, 30, 31 de marzo e 01 de abril 2015 Universidad de Concepción Universidade de São Paulo Universidade Positivo Comité Ejecutivo: Oscar Parra Barrientos Jorge Rojas Hernández Ricardo Barra Ríos Fabiola Lara Salinas Tadeu Fabrício Malheiros Sonia Maria Viggiani Coutinho Valdir Fernandes Arlindo Philippi Jr Amanda Silveira Carbone Michelle de Fátima Ramos Patrocinio: 1 ANALES DE TRABAJOS EXTENDIDOS Y RESUMENES ANAIS DE TRABALHOS EXTENDIDOS E RESUMOS PROCEEDINGS - ABSTRACTS AND EXTENDED PAPERS IV Workshop Interdisciplinario de Investigación e Indicadores de Sustentabilid IV Workshop Interdisciplinar de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade IV Interdisciplinary Workshop on Research and Sustainability Indicators Concepción – Chile, 30, 31 de marzo e 01 de abril 2015 Concepción – Chile, 30, 31 de março e 01 de abril 2015 Concepción – Chile, 30, 31st march, 1st april 2015 Universidad de Concepción Universidade de São Paulo Universidade Positivo ORGANIZACION/ ORGANIZAÇÃO/ ORGANIZATION Ricardo Barra Ríos Sonia Maria Viggiani Coutinho Amanda Silveira Carbone Fabíola Lara Salinas Michelle de Fátima Ramos Faculdade de Saúde Pública São Paulo, 2015 2 Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca/CIR da FSP/USP WIPIS (4. : 2015 : Concepción, Chile) Anales de Trabajos Extendidos y Resumenes [do] IV Workshop Interdisciplinario de Investigación e Indicadores de Sustentabilid = Anais de Trabalhos Extendidos e Resumos [do] IV Workshop Interdisciplinar de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade = Proceedings – Abstracts and Extended Papers [of] IV Interdisciplinary Workshop on Research and Sustainability Indicators [recurso eletrônico] / organização Ricardo Barra Ríos … [et al.] . – São Paulo, Chile: UDEC/USP/UP, 2015. Inclui referências bibliográficas ISBN 978-85-88848-16-0 Disponível em: <http://www.eula.cl/doc/Anales_WIPIS_2015.pdf> 1. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. 2. Mudança Climática. 3. Biodiversidade. 4. Saneamento. 5. Ocenos e Mares. 6. Ecossistema. 7. Administração Ambiental. 8. Saúde Ambiental. 9. Políticas Públicas. 10. Qualidade de Vida. 11. Agricultura. 12.Florestas. 13. Indústria Pesqueira. 14. Água. 15. Educação Ambiental. 16. Energia. 17. Mineração. 18. Estudos Interdisciplinares. I. Barra Ríos, Ricardo. II. Título. CDD 333.7 2015.1 3 ORGANIZAÇÃO E TEXTO FINAL Ricardo Barra Ríos Sonia Maria Viggiani Coutinho Amanda Silveira Carbone Fabíola Lara Salinas Michelle de Fátima Ramos COMITÉ CIENTÍFICO Amanda Silveira Carbone (Universidade de São Paulo) Arlindo Philippi Jr (Universidade de São Paulo) Carlos Alberto Cioce Sampaio (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) Edmilson Costa Teixeira (Universidade Federal do Espírito Santo) Fabíola Lara Salinas (Universidade de Concepción) Jorge Rojas Hernández (Universidade de Concepción) Maria do Carmo Sobral (Universidade Federal de Pernambuco) Michelle de Fátima Ramos (Universidade de São Paulo) Oscar Parra Barrientos (Universidade de Concepción) Ricardo Barra Ríos (Universidade de Concepción) Ricardo Ojima (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Sonia Maria Viggiani Coutinho (Universidade de São Paulo) Tadeu Fabrício Malheiros (Universidade de São Paulo) Valdir Fernandes (Universidade Técnica Federal do Paraná) PRODUÇÃO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Rede SIADES - Sistema de Informações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável ORGANIZA Universidad de Concepción, Chile Universidade de São Paulo, Brasil Universidade Positivo, Brasil Facultad de Ciências Ambientales, Chile Centro de Ciencias Ambientales, Chile PATROCINA Centro de Recursos Hídricos para la Agricultura Y la Minería, Chile Faculdade de Saúde Pública, Brasil Escola de Engenharia de São Carlos, Brasil Rede SIADES - Sistema de Informações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável, Brasil INCLINE – Interdisciplinary Cllimate Investigation Center, Brasil 4 AUTORES Adriana Fragalli Alejandra Schueftan Alejandro Daniel Gonzalez Alejandro González Alejandro Villalobos Claveria Alex Abiko Allyne F. Gama Amanda Silveira Carbone Amaya Alvez Andrés Vélez Arisnandes Antônio da Silva Arlindo Philippi Jr Bernardo Arantes N. Teixeira Camille A. Rocha Carla Pérez Carla Pérez Quilodrán Carlos A. Cioce Sampaio Carolina Baeza Carolina Llanos Carolina Sayuri Shiroma Chalissa Beatriz Wachholz Claudio Zaror Cleber Rocha Chiquinho Daniela Concha Denise Zanchetta Diego Rivera Diolande Ferreira Gomes Donald Robert Nelson Edmilson Costa Teixeira Edilia Jaque Castillo Eliana Vergara Emilie Besnier Érica P. Neves Ester Feche Guimarães Fabiola Lara Fabrícia Melo Bonfim Fausto Makishi Felipe Marino Kühl Felix Fuders Fernando Carvalheiro Castro Fernando Márquez Fernando Ochoa Francisco W. de Sousa Frederico Y. Hanai Geny Gil Sá George Satander Sá Freire Gesinaldo Ataíde Candido Giovana Strabeli Giovanni Daneri Grissel Meneses Humberto E. González Iara Negreiros Irene Haddad Ítalo Magno Íthala Saldanha Jacqueline A. Carolino Janaina Leal Jeam Paul Arcón Joan Rieradevall i Pons João Paulo C. Veiga Joel Amaque da Silva Indi Johanna Beltrán John Atkinson; Jorge Rojas Hernández José Becerra José Luis Arumí Juan Carlos Ramírez Flores Juliana Pellegrini Cezare Juvancir Silva Leonardo Agurto Lorena Castillo Lorena Ramos Lucas Parada Lucía Domínguez Águila Luis Alberto Sánchez Ângulo Luís Gustavo de Lima Sales Luis Merino Luiz Panhoca Manon Garcia Mara Adriana Coradello Marcelo Pereira Bales Marco Antonio Saidel María del Valle Barrera Maria Inez Pagani María Isabel Rivera Mariela Yáñez González Michelle de Fatima Ramos. Miriã Camargo Felício Mônica Maria Souto Maior Munira Gomes Sampaio Murilo Alves Zacareli Natália Utikava Nayara dos Santos Egute Niklas Mengel Noemí Muñoz Oscar Parra Oscarina S. Viana Pablo Catalán Patricia González Patricio Cendoya Patricio Díaz Arellano Paula Barría San Juan Paula de Orúe Paula Máximo Torres Paulina Espinosa Rajiv Maher Raphaël Naon Reynaldo Amorim Marinho Ricardo Barra Ricardo Figueroa Ricardo Junqueira Fujii Ricélia Maria Marinho Sales Rita Paradeda Muhle Rivelino M. Cavalcante Roberto Urrutia Edmilson Teixeira Rodrigo Martins Moreira Rodrigo Medina Ruby Criollo Rudrigo Otávio Andrade Araújo Rui Cunha Marques. Sabrina Lissa Leme Sâmila de Paulo Farrapo Sandra Costa de Oliveira Sidnei Pereira da Silva, Silmara Regina da Silva Sonia Maria Viggiani Coutinho Tadeu Fabrício Malheiros Tamiris Ferreira Tanara Lima Tania López Tássia G Temóteo, Tatiana Tenorio Matuk Tércio Ambrizzi Thiago A. Hiromitsu Terada Thibaut Vermeulen Valdir Fernandes Verónica Delgado Viviana Almanza Viviana Mendes Lima Wersângela C. Duaví William Rauen Xavier Gabarrell Ximena Fernández Yanina Kowszyk Yenia Melo Hermosilla 5 Sumário TRABALHOS COMPLETOS ............................................................................................................. 10 TEMA 1: EVALUACIÓN DE LA SUSTENTABILIDAD EN EL CONTEXTO DE LA GLOBALIZACIÓN, LA DISCUSIÓN SOBRE DESARROLLO Y LA SUSTENTABILIDAD EN LAS UNIVERSIDADES: ASPECTOS METODOLÓGICOS DE SU EVALUACIÓN INDICADORES DE SUSTENTABILIDAD Y EVALUACIÓN DE LA SUSTENTABILIDAD. ..... 10 PRÊMIO NACIONAL DE QUALIDADE NO SANEAMENTO E A UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO NO BRASIL.......................................................................................................................................... 10 SUSTAINABLE PRACTICES IN UNIVERSITIES: QUESTIONNAIRES AS AN ASSESSMENT TOOL FOR SUSTAINABLE CULTURE ..................................................................................................................... 24 IMPLEMENTACIÓN Y EJECUCIÓN DEL PROGRAMA DE ECOEFICIENCIA EN LA UNIVERSIDAD CATÓLICA LOS ÁNGELES DE CHIMBOTE – SEDE CENTRAL (I ETAPA: SENSIBILIZACIÓN) ................... 35 INDICADOR DO NÍVEL DE PROCESSAMENTO DAS REFEIÇÕES: CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................................... 46 CONSUMO DE ÁGUA PARA CAMPI UNIVERSITÁRIOS: UMA MEDIDA POSSÍVEL ............................... 59 DESARROLLO DE UN SISTEMA INTEGRAL DE GESTIÓN DE RESIDUOS PELIGROSOS: CASO DE ESTUDIO DE LA UNIVERSIDAD DE CONCEPCIÓN ............................................................................... 73 METODOLOGIA MULTICRITÉRIO PARA SELEÇÃO E DEFINIÇÃO DE INDICADORES SUSTENTABILIDADE APLICADOS A SMARTPARKS .............................................................................................................. 86 ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE HIDROAMBIENTAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE – PB, BRASIL: Uma aplicação do ISHAP ............................................................................................. 99 ECOSSOCIOECONOMIA URBANA: INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE SOCIAL DOS ACIDENTES DE BIKE MESSENGER E MOTOFRETE, EM CURITIBA, BRASIL ................................................................ 114 Gestão de áreas verdes em campus universitário: indicadores e práticas ..................................... 125 TEMA 2: CAMBIOS GLOBALES (E.G., CLIMÁTICO, PÉRDIDA DE BIODIVERSIDAD, ACIDIFICACIÓN DE LOS OCÉANOS) Y SUS EFECTOS EN LOS SERVICIOS ECOSISTEMICOS (PROVISIÓN, REGULACIÓN, DE SOPORTE, CULTURALES) DE LOS SISTEMAS NATURALES Y SUS CONSECUENCIAS SOCIALES Y ECONÓMICAS (RIESGO, ADAPTACIÓN Y VULNERABILIDAD). ........................................................................................ 126 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO AGENTE ATENUADOR DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ..................................................................................................................................... 126 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UM ESTUDO VOLTADO PARA AS COMUNIDADES EM RISCO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB .................................................................................................... 138 Exposição às enchentes e capacidade adaptativa ao longo do tempo: o papel de políticas públicas no processo de adaptação .............................................................................................................. 149 6 TEMA 3: SALUD AMBIENTAL, POLÍTICAS PÚBLICAS Y CALIDAD DE VIDA DE LA POBLACIÓN EN EL AMBIENTE URBANO. ................................................................................. 150 PODE A SOLUÇÃO DE UM PROBLEMA CAUSAR OUTRO?: O USO DE INDICADORES QUÍMICOS NA AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL DAS MEDIDAS DE COMBATE A DENGUE NA COSTA CEARENSE, FORTALEZA-BRASIL. ...................................................................................................... 150 DISMINUCIÓN DE LA CONTAMINACIÓN DEL AIRE Y DE LA POBREZA ENERGÉTICA POR CALEFACCIÓN A LEÑA EN LA CIUDAD DE VALDIVIA ........................................................................ 161 INDICADORES DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL PARA UM CAMPUS UNIVERSITÁRIO ...... 173 ANÁLISE DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA RELEVANTES AO RETROFIT URBANO ......................................................................................................................................................... 183 OS RISCOS A SAÚDE ORIUNDOS DO USO DE PRAÇAS E CALÇADÕES PARA ATIVIDADE FÍSICA EM CIDADES COM ESCASSAS ÁREAS DE LAZER: O CASO DE FORTALEZA-CE, BRASIL. .......................... 194 TEMA 4: AGRICULTURA, FORESTACIÓN, PESCA, AGUA, ENERGÍA, MINERÍA Y AGROTURISMO ............................................................................................................................ 206 SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICA – ANÁLISE DA GERAÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO DE SÃO PAULO - BRASIL............................................................................................................................................ 206 INDICADORES DO GRAU DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIRA E REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO CHILENA ....................................................................................... 217 ANÁLISE SITUACIONAL DA QUALIDADE DA ÁGUA NAS ZONAS DE UMA INSTALAÇÃO DE PISCICULTURA NO CEARÁ – BRASIL ................................................................................................. 232 CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE INDICADORES APLICADO NA AGRICULTURA FAMILIAR NO NORDESTE BRASILEIRO.................................................................................................................... 244 INVENTARIO DE CICLO DE VIDA EN ENERGÍA Y CARBONO DE UNA PRODUCCIÓN AGRÍCOLA CONVENCIONAL EN BRASIL ............................................................................................................. 255 SIMULACIÓN DE LA DISPERSIÓN DE LA FRACCIÓN RESPIRABLE PM10 MEDIANTE ISCT3 EN LAS ACTIVIDADES MINERAS DE LA CANTERA UBICADA EN EL KM 5 AUTOPISTAS BARRANQUILLA PUERTO COLOMBIA......................................................................................................................... 265 EVALUACIÓN DE LA HUMECTACIÓN CON UN MÉTODO CUENTITATIVO DE ÁNGULO DE CONTACTO: UNA PROPUESTA PARA UN INDICADOR DE ESTABILIDAD FÍSICA DEL SUELO ................................. 278 TEMA 5: GOBERNANZA: ROLES DEL ESTADO Y LA ARTICULACIÓN CON ACTORES SOCIALES RELEVANTES DE LA SOCIEDAD CIVIL (ORGANIZACIONES CIUDADANAS, EMPRESAS, SINDICATOS, GOBIERNOS LOCALES, REDES DE COLABORACIÓN). ........... 285 De la educacióm Ambiental hacia la educación para el desarrollo sostenible: um desafio interdisciplinario para el desarrollo de Chile. ................................................................................. 285 RESPONSABILIDAD SOCIAL EMPRESARIAL Y COMPETITIVIDAD: COOPERACIÓN BIRREGIONAL CELAC-UE ......................................................................................................................................... 286 A GESTÃO PÚBLICA DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL: FOMENTOS À SUSTENTABILIDADE ......................................................................................................................... 296 7 GESTÃO PARTICIPATIVA E O CONSELHO CONSULTIVO UNIFICADO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE CORUMBATAÍ E PIRACICABA I, ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL ........................ 308 LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE PARQUES EÓLICOS UMA OPORTUNIDADE PARA O EMPODERAMENTO LOCAL .............................................................................................................. 321 UNIVERSALIZAÇÃO E GOVERNANÇA INCLUSIVA: Novos Conceitos e Indicadores de Saneamento Básico para Áreas de Vulnerabilidade Social................................................................................... 334 TECNOLOGIA SOCIAL E INOVAÇÃO SOCIAL: INTERAÇÃO INDUTORA DO DESENVOLVIMETO SUSTENTÁVEL NOS TERRITÓRIOS RURAIS ....................................................................................... 345 INDICADOR DE RENDA PER CAPITA RURAL E SUSTENTABILIDADE LOCAL: O CASO DAS COMUNIDADES RURAIS EXTRATIVISTAS ......................................................................................... 357 UNA APROXIMACIÓN INTERDISCIPLINARIA AL ESTUDIO DE FLORACIONES DE ALGAS NOCIVAS (FAN) EN LAGOS URBANOS EN CHILE ........................................................................................................ 369 TEMA 6: EDUCACIÓN, INTERDISCIPLINARIEDAD Y DESARROLLO SUSTENTABLE. ..... 383 TRILHAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: A SENSIBILIZAÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO DA ATENÇÃO ................................................................................................................ 383 ÉTICA DO FUTURO EM HANS JONAS: INDÍCIOS DA REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE ........................................................................................................................ 392 HUELLA DE CARBONO DE LA UNIVERSIDAD DE CONCEPCIÓN CHILE.............................................. 400 LA EDUCACIÓN AMBIENTAL COMO UNA COMPETENCIA GENÉRICA EN LA FORMACIÓN INICIAL DE PROFESORES DE LA FACULTAD DE EDUCACIÓN (UDEC). ................................................................ 412 REDES E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM UM CENÁRIO DE MUDANÇAS GLOBAIS ................ 420 DESAFÍOS EPISTEMOLÓGICOS DE LA COMPRENSIÓN INTERDISCIPLINARIA DE LOS SISTEMAS SOCIOECOLÓGICOS QUE SUSTENTAN LA VIDA EN LA ERA GLOBAL Y DE CAMBIO CLIMÁTICO. .... 432 RESUMENES ..................................................................................................................................... 447 TEMA 2: CAMBIOS GLOBALES (E.G., CLIMÁTICO, PÉRDIDA DE BIODIVERSIDAD, ACIDIFICACIÓN DE LOS OCÉANOS) Y SUS EFECTOS EN LOS SERVICIOS ECOSISTEMICOS (PROVISIÓN, REGULACIÓN, DE SOPORTE, CULTURALES) DE LOS SISTEMAS NATURALES Y SUS CONSECUENCIAS SOCIALES Y ECONÓMICAS (RIESGO, ADAPTACIÓN Y VULNERABILIDAD). ........................................................................................ 447 SERVICIOS AMBIENTALES Y SERVICIOS ECOSISTÉMICOS: ¿SINÓNIMOS EN CHILE? ....................... 447 Impacto de LA ACIDIFICACIÓN DEL OcÉANO sobre LA ACUICULTURA DE bivalvos: Implicancias para LA SUSTENTABILIDAD Del sector acuícola en el sur de Chile .......................................................... 449 PRESIONES DE USO SOBRE LOS SISTEMAS LACUSTRES DE ALTA MONTAÑA EFECTOS Y PROYECCIONES: LAGUNA DEL MAULE Y LAGUNA DEL LAJA. .......................................................... 451 TEMA 3: SALUD AMBIENTAL, POLÍTICAS PÚBLICAS Y CALIDAD DE VIDA DE LA POBLACIÓN EN EL AMBIENTE URBANO. ................................................................................. 453 8 INDICE DE DESARROLLO A ESCALA HUMANA: propuesta para un indicador de desarrollo endógeno basado en la satisfacción de necesidades humanas fundamentales. ............................................. 453 INDICADORES DE SUSTENTABILIDAD BASADOS EN EL METABOLISMO URBANO: UN CASO ESTUDIO USANDO LA MORFOLOGÍA DEL MEDIO URBANO CONSTRUÍDO DE LA CIUDAD DE CONCEPCIÓN 456 DESARROLLO DE UN CONJUNTO DE INDICADORES Y CRITERIOS DE SOSTENIBILIDAD URBANA COMO HERRAMIENTA DIGITAL PARA ASISTIR EL DISEÑO DE BARRIOS EN EL CONTEXTO CHILENO ......................................................................................................................................................... 458 TEMA 5: GOBERNANZA: ROLES DEL ESTADO Y LA ARTICULACIÓN CON ACTORES SOCIALES RELEVANTES DE LA SOCIEDAD CIVIL (ORGANIZACIONES CIUDADANAS, EMPRESAS, SINDICATOS, GOBIERNOS LOCALES, REDES DE COLABORACIÓN). ........... 460 CENTRO DE INVESTIGACIÓN EN ECOSISTEMAS DE LA PATAGONIA (CIEP): UNA PROPUESTA ACADÉMICA INTERINSTITUCIONAL E INTERDISIPLINARIA PARA LA SUSTENTABILIDAD DE UN PATRIMONIO AMBIENTAL COMPLEJO DE RELEVANCIA MUNDIAL ................................................. 460 TEMA 6: EDUCACIÓN, INTERDISCIPLINARIEDAD Y DESARROLLO SUSTENTABLE ...... 462 EDUCACIÓN MULTIDISCIPLINARIA EN INGENIERÍA: UN DESAFÍO ESTRATÉGICO EN LA UNIVERSIDAD DE CONCEPCIÓN .............................................................................................................................. 462 9 TRABALHOS COMPLETOS TEMA 1: EVALUACIÓN DE LA SUSTENTABILIDAD EN EL CONTEXTO DE LA GLOBALIZACIÓN, LA DISCUSIÓN SOBRE DESARROLLO Y LA SUSTENTABILIDAD EN LAS UNIVERSIDADES: ASPECTOS METODOLÓGICOS DE SU EVALUACIÓN INDICADORES DE SUSTENTABILIDAD Y EVALUACIÓN DE LA SUSTENTABILIDAD. PRÊMIO NACIONAL DE QUALIDADE NO SANEAMENTO E A UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO NO BRASIL MALHEIROS, T.F*; TEMÓTEO, T.G*; GUIMARÃES, E.F*; CRIOLLO, R**; COUTINHO, S.M.V1*; PHILIPPI JR, A* *Universidade de São Paulo, ** Universidade Nariño/Colômbia tmalheiros@usp, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo O PNQS – Premio Nacional da Qualidade em Saneamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária - ABES e Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental - AIDS é considerado uma importante ferramenta de benchmarking na gestão dos serviços de saneamento do Brasil para melhoria das práticas do setor. Desde 2001, o PNQS adotou o diagnóstico do desempenho das operadoras com base em indicadores. Esses indicadores adotados podem ser empregados também para visualizar o compromisso das operadoras com a universalização. Este fato foi verificado ao analisar os indicadores à luz dos fatores relevantes da prática do setor de saneamento visando à universalização e, especificamente, o atendimento das populações vulneráveis. Verificou-se que 39 dos 79 indicadores existentes permitem avaliar as ações no sentido da universalização, embora exista um desequilíbrio na distribuição desses indicadores entre as dimensões e critérios utilizados. Palabras clave: Benchmarking, Universalização, Indicadores de desempenho, PNQS. The Quality National Award in the Sanitation and the Universal Sanitation in Brazil. 1 Autora financiada pela Fapesp Processo nº 2012/02605-4 10 Abstract PNQS is considered an important benchmarking tool in the management of sanitation services. In 2001, PNQS adopts the diagnostic performance of operators based on indicators. These adopted indicators can be also used to check the commitment service providers to serve water supply and sanitation for all (universalization). This fact was verified on indicators analyze by relevant factors and, specifically, vulnerable populations care. It was found 39 indicators of the 79 existing indicators allow seeing actions toward universalization, although there is an imbalance in the distribution of these indicators between the dimension sand criteria used. Keywords: Benchmarking, water supply and sanitation for all, Performance Indicators, PNQS KeyWords: Benchmarking, water supply and sanitation for all, Performance Indicators, PNQS. Introdução O benchmarking é uma ferramenta de identificação das melhores práticas para serem aplicadas no desempenho da organização. Bhutta e Huq (1999) definem o benchmarking como sendo o reconhecimento das próprias deficiências e a oportunidade de aprender com o outro que esteja fazendo um trabalho melhor, como um ato de humildade. O benchmarking é definido também como uma ferramenta de comparação de ideias e práticas entre organizações e/ou entre partes da mesma organização, com o objetivo de melhorar continuamente o desempenho das mesmas. A comparação é feita por meio de práticas consideradas de desempenho superior - práticas de referência - e propiciam o aprendizado e estímulos a criatividade na implantação dessas melhorias (Slack et al., 2002). No setor de saneamento2, o benchmarking é utilizado para aumentar a responsabilidade, para reduzir custos, conseguir mais com os mesmos recursos e aumentar a qualidade com uma mudança comportamental (Blokland, 2009). Segundo Berg (2007) benchmarking é importante no setor de saneamento, no sentido de documentar desempenhos, estabelecer linhas bases de medição da melhoria da produtividade e fazer comparações entre operadores dos serviços. Segundo Berg (2007) benchmarking é importante no setor da água3, no sentido de documentar desempenhos, estabelecer linhas bases de medição da melhoria da produtividade e fazer comparações entre operadores dos serviços. As classificações podem informar sobre fabricantes, adoção de fundos de investimentos e custos referencia de diferentes utilidades da água. Além de conhecerem melhor a sua própria organização. 2 Saneamento entendido como o abastecimento de água e esgotamento sanitário O Autor utiliza o termo água, mas explica quando descreve seus estudos que a gestão da água inclui águas residuárias 11 3 A ferramenta de benchmarking possibilita a comparação do desempenho constante sobre os usos da água e inclusive comparações de desempenho entre diferentes países. Ocasionando na oportunidade de criar uma ponte entre o distanciamento existente entre as pesquisas acadêmicas e a prática comercial dos operadores dos serviços, além de políticas e programas de incentivo que dialogam com a realidade vivenciada pelos serviços de saneamento (Berg, 2007). Assim, pode ser necessária para promover políticas dentro da organização, mas não suficientes para melhorar o desempenho da organização. É necessário que a organização realize o incremento e a absorção do que foi aprendido, que seja de interesse e prioridade da organização o querer pela melhoria contínua. A regulação dos serviços de saneamento tem adotado modelo de incentivos baseado em benchmarking de indicadores. Nesse sentido, dois tipos de regulação são utilizados: a regulação da competição e regulação por competição, cuja diferença está no grau de interferência do Estado e na sua capacidade de monitorar e reforçar a competição. Os dois modelos requerem o estabelecimento e o fortalecimento da estrutura de governança, sendo que a regulação por competição requer estrutura menos invasiva. No desenho regulatório, a governança incorpora os mecanismos sociais úteis para restringir a ação discricionária do regulador e solucionar os conflitos que essas restrições venham suscitar. A estrutura de incentivos compreende as regras governamentais que definem preços, subsídios, competição e a entrada de novos competidores (Ramalho, 2007). Benchmarking permite quantificar o progresso para os objetivos da organização, verificar organizações com boas práticas para que possam ensinar e permite que reguladores desenvolvam metas e incentivos (Berg, 2007). E assim pode ser caracterizada como uma ferramenta de regulação no setor público, setor que se caracteriza por ser monopolista, o benchmarking mostra-se um caminho as quais as pressões competitivas podem ser exercidas (Blokland et al, 2010). O sistema holandês de abastecimento de água utiliza benchmarking baseado em nomear e envergonhar as ineficiências das companhias, e dessa maneira promover a produtividade. Essa técnica é chamada de regulação por ‘constrangimento’ ou regulação por ‘brilho’. Se as companhias se importam com os efeitos da reputação, os melhores resultados será uma espécie de recompensa (Blokland et al, 2010). As razões econômicas e institucionais também explicam a utilização do benchmarking no setor público. A razão econômica é baseada na eficiência e eficácia no setor, vendo o benchmarking como um substituto das forças do mercado, sentindo pressão em agir no caso de desempenhos ruins em comparação com companhias do mesmo setor. A razão institucional é derivada da teoria de recursos dependentes e principalmente na transparência e legitimidade social (Blokland et al, 2010). PNQS: Prática de benchmarking no setor de saneamento no Brasil. O PNQS foi criado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) visando impulsionar as operadoras de saneamento. Atualmente o prêmio é considerado importante ferramenta de gestão dos serviços de saneamento, tem como foco estimular a 12 busca e aplicação de boas práticas de gestão por organizações do setor, reconhecer organizações de destaque pela utilização das práticas e apresentar resultados competitivos de desempenho, divulgar as práticas das organizações reconhecidas, em seminários e publicações de relatórios de gestão dos casos finalistas e vencedores e promover eventos de capacitação gerencial para essas organizações (PNQS, 2011). A distribuição das organizações é feita em categorias, com propósito de criar degraus à gestão superior. A premiação é distribuída em quatro categorias: Nível I, II e III, onde todo o sistema de gestão da organização é avaliado, além da categoria Nível IV - Inovação da Gestão em Saneamento, que será avaliada como prática de gestão específica que tenha sido introduzida ao longo dos últimos cinco anos (PNQS, 2011, p. 11). As organizações candidatas podem ser provenientes do setor público ou setor privado com ou sem finalidade de lucro.Durante a avaliação é mantido o sigilo pelos membros da banca examinadora, que atuam de forma voluntária e sem remuneração. Os critérios do PNQS têm como meta avaliar a maturidade dos processos gerenciais e os resultados das organizações. Os critérios são conceitos conhecidos internacionalmente e estabelecidos pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) como Fundamentos de Excelência: pensamento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura de inovação, liderança e constância de propósitos, orientação por processos e informações, visão de futuro, geração de valor, valorização das pessoas, conhecimento sobre o cliente e o mercado, desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social. Possui um sistema de pontuação para avaliar o desempenho das organizações e o estado de maturidade em que elas se encontram, baseado em conceitos conhecidos internacionalmente, estabelecidos pela Fundação Nacional da Qualidade. Eles são divididos nas dimensões de processos gerenciais (enfoque, aplicação, aprendizado e integração) e resultados organizacionais (relevância, tendência e nível atual) (PNQS, 2011). As organizações premiadas apresentam as boas práticas de gestão em seminário realizado pela ABES e participam de atividade de benchmarking no exterior, que consiste na visita de organizações referência em gestão do saneamento no mundo, trazendo a experiência ao setor do saneamento no Brasil, podendo contribuir com a melhoria dos serviços e no atingimento do ideal de universalização dos serviços, estabelecidos pela Política Nacional de Saneamento. A universalização é entendida como a condição dos serviços públicos de saneamento serem disponibilizados a todos os usuários. Atendendo esse conceito, as diretrizes da política federal priorizam ações que promovam a equidade social e territorial no acesso ao saneamento, pois condições de desigualdades sociais e territoriais limitam o acesso aos serviços. Assim, no desafio da universalização dos serviços de saneamento é necessário incluir o fornecimento de serviços às populações mais vulneráveis socialmente, ambientalmente e economicamente, e também incluir ferramentas para mensurá-la e avaliá-la. Por isso, indaga-se: os indicadores adotados pelo PNQS, que têm por foco mensurar o desempenho das operadoras, servem também para visualizar como as organizações estão lidando e avançando no sentido da universalização? 13 Objetivo O objetivo desse artigo é verificar se os indicadores do PNQS permitem observar o desempenho das organizações no sentido da universalização dos serviços de saneamento. Metodologia De acordo com a abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa, e permitiu avaliar a complexidade existente no setor de saneamento e a interação entre as diversas variáveis do setor, contribuindo para a compreensão e transformação das situações-problema. Em relação ao objetivo, a pesquisa é exploratória, admitindo maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explícito. A pesquisa foi realizada com o propósito da avaliação dos resultados, atribuindo valores mediante uma comparação ao longo do tempo de existência do PNQS, e a comparação com os fatores da universalização dos serviços. Esses fatores foram utilizados para analisar os indicadores durante 10 anos, iniciando a partir de 2001, quando foi proposta uma inovação no PNQS, o Guia de Referência para Medição do Desempenho (GRMD), que adota um diagnóstico do desempenho atual com base em indicadores, cumprindo com exigências estabelecidas para avaliar o critério Resultados. Anterior a 2001, nos guias entre 1997 e 2001, não foram encontrados indicadores de avaliação que pudessem ser avaliados. Em relação ao procedimento técnico, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica dos fatores relevantes da prática do setor de abastecimentos e esgotamento sanitário visando à universalização dos serviços e, especificamente, o atendimento das populações vulneráveis. A partir desse arcabouço, os fatores foram agrupados em dimensões, que possuem a finalidade de indicar quais os aspectos mais relevantes na prática do setor de saneamento, e posteriormente, com base nas dimensões, foi realizada pesquisa documental dos guias do PNQS entre 1997 e 2011 e feita análise qualitativa dos 79 indicadores do guia, e identificados os que permitem observar o desempenho no sentido da universalização. Resultados Em 2001 o PNQS estabeleceu como “Consagrar-se como um instrumento de referencia na avaliação e condução contínuas dos serviços de saneamento ambiental” a ser alcançado em 2005. Para isso, inseriu novos instrumentos para avaliar o sistema de gestão das organizações. Foi implementado então o Guia de Referência para Medição do Desempenho (GRMD) como base para desenvolver o Diagnóstico do Desempenho Atual das organizações. O GRMD solicita a apresentação de resultados relevantes na forma de séries históricas, com referenciais comparativos pertinentes. Trata-se de assegurar a prática efetiva de um sistema de medição de desempenho aplicável a todas as organizações, de todas as áreas de saneamento. O primeiro GRMD compunha-se de 30 indicadores de desempenho organizados em sete dimensões: indicadores relativos aos clientes e ao mercado, financeiros, relativos às pessoas, relativos aos fornecedores e parceiros, relativos aos produtos e serviços, ao meio ambiente e aos processos de apoio e organizacionais. Esses indicadores deviam se reportar junto com a medida do ultimo exercício, focando nos resultado e valor agregado, além de aferir a situação anterior e posterior à aplicação dos critérios de avaliação (PNQS, 2001). 14 Ao longo do tempo, o GRMD tem sido revisado, complementado e melhorado, levando em consideração as novas políticas e normas nacionais referentes ao saneamento, através da inclusão de novas categorias e indicadores. É o caso da categoria Sociedade e o Indicador de Desenvolvimento Social, que apareceram em 2003 com o propósito de medir o engajamento no desenvolvimento social. Em 2005 são incluídos quatro indicadores a mais na categoria Sociedade, um dos quais é o Índice de comprometimento da renda familiar, que tem o propósito de medir a responsabilidade social quanto impacto social das tarifas. Esse dinamismo tem permitindo maior clareza para os concorrentes além de evidenciar o comprometimento do PNQS com seu propósito de se tornar em um instrumento de referência para atingir a qualidade. Em 2006 foram apontados quais indicadores seriam mandatórios para os níveis I e II do premio e quais indicadores seriam sugeridos. Posteriormente em 2007 surgiu o nível III Quíron Platina, e os indicadores se classificaram em estratégicos, operacionais e sugeridos, com os quais se pretende orientar a tomada de decisões para obter os melhores resultados. Definição da universalização através de dimensões e critérios. A universalização é definida através de critérios da administração, que compõem a dimensão institucional, de gestão, social e financeira, bem como de critérios da engenharia, que compõem a dimensão operacional, de recursos hídricos e de abrangência. A elaboração dos critérios foi feita através de pesquisa bibliográfica da área de esgotamento sanitário e abastecimento de água, os itens foram selecionados analisando as particularidades do setor. A dimensão institucional envolve os mecanismos políticos que responsabilizam os atores, direcionam a priorização na resolução de problemas e na utilização de verbas do estado. Essa utilização de verbas está diretamente relacionada à vontade política, que se mostra central para a universalização do saneamento, pois é necessário querer sanar essa problemática inicialmente, e posteriormente, estabelecer maneiras de agir. Essa vontade política deve estar sempre de acordo com a demanda da sociedade (Morais et al, 1999). As situações vividas pelas populações que não possuem saneamento são, simultaneamente, a exclusão social, habitação e educação deficitária, ausência da qualidade ambiental e da geração de renda (HELLER, NASCIMENTO e PAIVA, 2002; e NASCIMENTO e HELLER, 2005). Esses problemas acontecem de maneira sincrônica e devem ser tratados com iniciativas institucionais que direcionem as decisões e proporcionam ações integradas (Galvão Jr, 2009). É dever da sociedade participar como proponente de melhorias nos processos da gestão do saneamento, e para isso, as operadoras devem estar preparadas para esse novo modelo de convivência, incorporando as opiniões da sociedade, cria-se então a dimensão social. A mobilização social vem em caráter inovador, pois ainda não faz parte da realidade cultural que vivemos atualmente, ainda são incipientes as operadoras que ouvem as necessidades da comunidade, suas queixas, seus pedidos, suas opiniões e as sugestões de melhoria no processo de priorização de atendimento. É necessário que seja feita uma mudança na cultura das organizações para a inclusão e estímulo da participação da população. Considerar que a população é parte integrante do processo e que deve ter o seu poder de fala. Deve ser construído um modelo de gestão com a participação, preparando os funcionários para uma nova convivência, no mundo social e do trabalho, incorporando novos conteúdos, trabalhando em função dos anseios e necessidades da comunidade (Morais et al, 1999, Moisés et.al, 2010). 15 Na dimensão financeira inclui-se o estabelecimento de incentivos que possam subsidiar tarifas dos serviços oferecidos, criação de linhas de financiamento específicas que asseguram recursos permanentes de educação e mobilização social para o saneamento. Os incentivos financeiros devem ser feitos, por exemplo, com a estruturação de fundos de investimento com recursos próprios e controle social (Morais et al, 1999), assegurando recursos que se direcionem a diversidade cultural, ao saber popular e a recursos permanentes de educação em saúde e ambiental e mobilização social em saneamento (Moisés et.al, 2010). Não menos importante do que os itens citados, é o financiamento na expansão, recuperação e inovação de sistemas e de modernização da infraestrutura e gestão (Nascimento e Heller, 2005)A dimensão da gestão constitui a utilização de instrumentos gerenciais, informacionais, de planejamento e a capacitação de recursos humanos para que seja mantida a qualidade da gestão e a constante melhoria dos processos. Assim como, a utilização de sistemas de informação que auxiliem a tomada de decisão, com a construção de indicadores e base de dados que permitam auxiliar a gestão urbana e gestão das águas (Nascimento e Heller, 2005; Morais et al, 1999). Em seguida, os critérios da gestão da administração por dimensão são confrontados com os indicadores existentes no PNQS (Quadro 1). 16 FINANCEIRO SOCIAL INSTITU CIONAL Quadro 1: Critérios da gestão da administração para universalização do saneamento CRITÉRIOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO. A OPERADORA: INDICADORES EXISTENTES DO PNQS Faz parcerias com instituições de habitação, saúde, educação, geração de renda e de melhoria da qualidade ambiental Se integra com as políticas públicas Possui articulação com ministérios que atuam no saneamento Realiza cooperação intermunicipal Possui vontade política da universalização dos serviços Possui programas de construção participativa de modelo de gestão, preparando funcionários para nova convivência social e do trabalho, incorporando novos conteúdos, em função das necessidades da comunidade Possui programas de sensibilização das pessoas Não possui Não possui Não possui Não possui Não possui Atende a demanda social e tem atenção às preferências do consumidor Possui programas de apoio à sociedade para democratizar o controle social em ações sanitárias para a efetiva inserção e intervenção Possui mecanismos de mapeamento da pobreza Possui linhas especificas de financiamento que assegurem recursos permanentes de educação em saúde e ambiente e mobilização social em saneamento Possui eficácia na alocação de recurso e auto-sustentação financeira Possui programa de tarifa social Possui incentivos e facilidades do acesso serviços às populações vulneráveis Possui fundos de investimento com recursos próprios e controle social GESTÃO Possui metodologias para reconhecer as falhas no sistema de gestão e aplicar correções de ações empreendidas Investe na capacitação e melhoria dos recursos humanos Utiliza Instrumentos de aprimoramento de gestão integrado com a gestão e planejamento urbano Utiliza instrumentos de suporte à decisão para a escolha de tecnologias Possui indicadores e base de dados que permitam auxiliar a gestão Não possui Não possui Índice de satisfação dos clientes Índice de favorabilidade da imagem da organização Não possui Não possui Não possui Indicador do Nível de Investimentos Margem líquida de depreciação Índice de Desempenho Financeiro Indicador Dias de Faturamento Comprometidos com contas a receber Não possui Não possui Não possui Índice de reclamações de comunicação de problemas Tempo médio de resposta à reclamação dos cidadãos/usuários Incidência de reclamações sobre falta d’água Continuidade no abastecimento de água Índice de Avaliação do sistema de Gestão Índice de capacitação anual da força de trabalho Índice de cumprimento do Plano de Capacitação e desenvolvimento Índice de eficácia do treinamento Índice de satisfação dos empregados Não possui Não possui Satisfação dos usuários de Informações Fonte: Quadro elaborado pelos autores 17 A dimensão operacional é o desenvolvimento de técnicas que acompanhem os sistemas estabelecidos, como tratamentos diferenciados de esgotos e águas servidas (Nascimento e Heller, 2005; Morais et al, 1999). Além disso, o desenvolvimento tecnológico pode propiciar a eficácia da infraestrutura instalada (Galvão Jr, 2009) que muitas vezes não é bem monitorada e mantida ocasionando desperdícios e funcionamento precário, e quando tratadas em áreas pobres, essa deficiência pode ser ainda maior devido às especificidades dos locais e materiais que são feitas as instalações. Os projetos de saneamento devem estar subsidiados pelo conhecimento do crescimento populacional e as perspectivas de mudança do quadro de usuários dos serviços, pois o crescimento populacional tem sido rápido e o saneamento, se não planejado com vistas nessa característica, pode acarretar obsolescência dos projetos e necessidade de novo planejamento (Nascimento e Heller, 2005). Essas estratégias de planejar, prever, considerar variáveis diversas, pesquisando o sistema de forma complexa é o que pode mostrar o compromisso com a sustentabilidade do sistema. A demanda de água para o abastecimento e a necessidade de se pensar na sustentabilidade desse bem essencial à vida dos seres humanos requer o estabelecimento da dimensão dos recursos hídricos. A responsabilidade pelo uso dos mesmos deve ser extensamente discutida enquanto a sua real necessidade de utilização, importância e escassez. Assim, o controle de perdas, controle e troca de redes envelhecidas, micro e macro medição, inovação de materiais e métodos de recuperação com vantagens econômicas e operacionais significativas são imperativos (Nascimento e Heller, 2005). Outro aspecto a ser considerado é o desenvolvimento de ações do uso consciente da água que requer a transformação no comportamento e costumes cotidianos das pessoas. O uso consciente dos recursos deve está associado a mecanismos de reuso da água, coleta de água de chuva, modificação de peças sanitárias, proporcionando economias, assim como a preocupação com o uso e conservação da água ser ampliado ao uso da terra, em locais produtores de água (Nascimento e Heller, 2005). A dimensão da abrangência busca entender em quais cenários estão acontecendo as interações para que sejam traçados objetivos vindouros. Saber qual é a situação do saneamento: cobertura, formas de tratamentos, caracterização da saúde, renda e educação, qualidade dos serviços e demais influências sobre esse estado (Piza, 2000). Em seguida, os critérios da gestão de engenharia por dimensão são confrontados com os indicadores existentes no PNQS (Quadro 2). 18 Quadro 2: Critérios da gestão da engenharia para universalização do saneamento RECURSOS HIDRICOS OPERACI ONAL CRITÉRIOS DE UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO. A OPERADORA: Utiliza tecnologias sobre redes coletoras, tratamento de esgotos diferenciados Utiliza com eficácia da infraestrutura instalada Projeta e planeja suas ações em vista ao rápido crescimento populacional e urbano Pesquisa, cria e inova suas ações práticas e de infraestrutura Controla perdas, troca redes envelhecidas, faz micro e macro medição, inova em materiais e métodos de recuperação com vantagens econômicas e operacionais Faz controle da disponibilidade hídrica dos mananciais Possui programas de educação ambiental voltados ao uso consciente da água e programas de reuso da água, coleta de água de chuva e busca de água em lugares próximos à captação Possui incentivos com a preservação da terra em locais produtores de água Incentiva a modificação de peças sanitárias para melhor desempenho das instalações Possui o controle da cobertura, da água distribuída e da saturação do sistema produtor ABRANGÊNCIA Utiliza dados socioeconômicos de saúde pública, renda, educação da população Possui o controle da coleta de esgoto e tratamento de esgotos Possui o controle da qualidade dos serviços de esgotamento e fornecimento de água INDICADORES EXISTENTES DO PNQS Não possui Não possui Não possui Índice de criatividade do pessoal Índice de Macromedição Índice de Hidromedição Índice de reparos pró-ativos Indicador de perdas Totais de água por ligação Não possui Não possui Não possui Não possui Índice de atendimento urbano de água Índice de atendimento urbano de esgoto sanitário (Indicador I47do SNIS) Índice de atendimento total de água (indicador I55 do SNIS) Índice de atendimento total de esgotosanitário (indicador I56 do SNIS) Não possui Índice de tratamento do esgoto gerado Efetividade da redução de carga poluente do esgoto coletado na rede Tempo médio de execução de ligação de água Tempo médio de execução de ligação de esgoto Incidência de reclamações sobre qualidade da água Incidência de reclamações sobre falta de água Tempo médio de execução dos serviços (indicador 183 do SNIS) Continuidade no abastecimento de água Incidência de extravasamentos de esgotos sanitários (182 do SNIS) Incidência das análises de cloro residual fora do padrão Incidência das análises de turbidez fora do padrão Incidência das análises de coliformes fecais fora do padrão Índice de conformidade da quantidade de amostras para aferição da água tratada Incidência das análises fora do padrão para aferição da qualidade da água tratada Fonte: Quadro elaborado pelos autores 19 Utilizando os critérios, os indicadores PNQS permitem enxergar a universalização? O PNQS possui 79 indicadores, sendo que 39 desses indicadores, segundo análise realizada, são indicadores que permitem enxergar as ações no sentido da universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Isso significa que 49,4% dos indicadores utilizados pelo PNQS são indicadores da universalização. Dos 33 critérios 10 critérios são atendidos (30,3%). As dimensões melhor atendidas são gestão e abrangência (Tabela 1). O melhor atendimento da dimensão da gestão é devido, evidentemente, ao fato do foco do PNQS ser a qualidade da gestão. Tabela 1. Distribuição da quantidade de critérios, critérios atendidos e indicadores por dimensão Dimensão Quantidade de Critérios Institucional Operacional Recursos hídricos Gestão Social Financeira Abrangência Total 5 4 5 5 5 5 4 33 (100%) Quantidade de critérios atendidos 0 1 1 3 1 1 3 10 (30,3%) Quantidade de indicadores por dimensão 0 1 4 10 2 4 18 39 (49,4%*) *este valor considera que, dos 79 indicadores constantes do PNQS, 39 (ou 49,4%) são considerados para avaliação das dimensões de universalização do saneamento Fonte: Quadro elaborado pelos autores A dimensão da abrangência trata-se da caracterização geral do cenário em que se encontra a operadora, é a dimensão que possui maior número de indicadores do PNQS e também é a que atende maior número de critérios proporcionalmente, apenas um não é atendido. A dimensão institucional não possui indicadores de análise da universalização, dizendo respeito especialmente à vontade política em atingir-se a universalização. Pode-se observar que ainda não existem indicadores de análise dos objetivos, interesses, responsabilidades e metas de universalização. Ainda na dimensão institucional, no critério “Vontade política da universalização dos serviços’ foi analisado o Índice de comprometimento de renda familiar existente no PNQS, como uma evidencia dessa vontade política. No entanto, esse índice mede a porcentagem da renda familiar que está sendo utilizada para pagar os serviços de saneamento, com base na média da renda familiar e não dá visibilidade às áreas vulneráveis. Esse índice poderia ser utilizado se fosse alterado para que mostrasse as especificidades da renda da população por área, de maneira que conseguisse mapear as populações com dificuldade orçamentária, com o objetivo de sanar as debilidades e a ausência de saneamento e também a dificuldade de pagamentos das tarifas. Na dimensão operacional, voltado à universalização, há o Índice de criatividade do pessoal, atendendo ao critério de “Pesquisa, criação e inovação de ações práticas e de infraestrutura”. Esse indicador mede a quantidade de sugestões implantadas pelo número de empregados, no entanto, é necessário o cuidado com o tipo das sugestões, pois para serem consideradas como 20 critério de universalização, não podem ser de qualquer razão, e devem estar relacionadas ao processo e ao produto. Na dimensão dos recursos hídricos, no critério de “Programas de educação ambiental voltado ao uso consciente da água e programas de reuso da água, coleta de água de chuva e busca de água em lugares próximos à captação” poderia ser utilizado o Índice de Desenvolvimento Social, relação entre homens-horas engajados em programas sociais pelo tempo total do período, se os programas sociais fossem especificamente voltados ao uso da água. Nesse sentido, há que se observar que a ineficiência característica do monopólio natural permite que o processo decisório das organizações trate com naturalidade a institucionalização de exclusões por questões legais quando os objetivos ficam sujeitos ao sigilo, promovendo uma sistematização de dados que desconsidera as populações moradoras de áreas irregulares. Assim, identificou-se que o círculo institucional das práticas empresarias parte da avaliação da conexão sob a lente do direito de propriedade. A racionalidade diante dos impedimentos legais para atuação pela operadora nessas localidades, a despeito da intencionalidade de atender a população no seu direito fundamental fica subordinada a coerção do direito administrativo pelo regulador, quando a norma assim determina. Conclusões Considerando que o principal objetivo da Regulação por Incentivos é replicar a ação que as forças de mercado teriam sobre as empresas atuantes em monopólios naturais, de modo a simular o ambiente de um setor competitivocuja finalidade seja produzir fortes incentivos para a redução de custos a um patamar eficiente (ou prudente) e estimular as inovações tecnológicas que elevem a produtividade das empresas, sendo precisamente estes ganhos de produtividade e custos eficientes que devem ser considerados ao se determinar as tarifas pagas pelos consumidores, os indicadores de benchmarking do PNQS podem ser considerados como uma maneira de analisar a universalização através de incentivos de melhoria da gestão, na quantificação da qualidade dos serviços, no incentivo à pró-atividade da força de trabalho. Essas são características necessárias para a melhoria dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário e consequente universalização dos serviços. Considera-se a percentagem de indicadores (49,4%) que permitem avaliar as ações de universalização um valor significativo visto que o PNQS não tem como foco a universalização, mas a qualidade da gestão, embora estejam intimamente relacionados. Essa relação é explicada devido ao objetivo da universalização requerer boa qualidade de gestão, que tem como consequência a possibilidade de investimentos e programas extensivos à comunidade, capacitação da força de trabalho, bem como disponibilidade de tempo para a criatividade dos funcionários das operadoras. No entanto, quando os indicadores foram analisados pelas dimensões e critérios da universalização, observa-se que existe um desequilíbrio na distribuição desses indicadores. A diversidade de entendimentos sobre a universalização colabora no comprometimento da eficiência do benchmarking no modelo regulatório de incentivos. Destaca-se que não há indicadores específicos nos tópicos da população vulnerável, ou seja, existem lacunas 21 importantes do ponto de vista da universalização. Critérios que são necessários de serem atendidos para avaliação não são atendidos por esses indicadores. Ressalta-se que esses indicadores devem estar organizados dentro de metas, programas e sistemas de planejamento visando a universalização para que sejam úteis e efetivos. O modelo e o sistema de indicadores mostraram-se válidos devido à necessidade emergente no tema, e também à qualidade dos mesmos. Esta qualidade obtida por meio do processo de construção do modelo, que buscou utilizar as lentes da sustentabilidade, enfocando indicadores que se vinculassem. O sistema permite ser ao mesmo tempo de simples visualização e mostrar a complexidade, identificando as multidimensões, características dos indicadores de sustentabilidade, só assim sendo possível observar a problemática dos serviços. O modelo de diagnóstico de indicadores de benchmarking para universalização mostrou-se inovador, pois consegue apontar o que outros sistemas ainda não consideram. Se bem analisados e preenchidos os dados permitirão o mapeamento da população vulnerável que não possui atendimento aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. As operadoras e prefeituras muitas vezes possuem esses dados, mas ainda não de forma que possam ser observadas as características específicas que eles demonstrem, muito menos compará-las, como a proposta de benchmarking. REFERÊNCIAS BERG, S. Conflict Resolution: Benchmarking Water Utility Performance. Public Admin. Dev. 27, 1-11. 2007. BHUTTA, K.S.; HUQ, F. Benchmarking – Best practices: an integrated approach. Benchmarking: an international journal, Bradford, v.6, n.3, p.254-268. (1999). BLOKLAND, M.W. Benchmarking for Pro-poor Water Services, 2009. BLOKLAND, M.; SCHOUTEN, M.; SCHWARTZ, K. Rejuvenating a Veteran Benchmarking Scheme: Benchmarking in the Dutch Drinking Water Sector. Competition and Regulation in Network Industries, Volume 11, No. 2, 2010. GALVÃO JUNIOR, A. C. Regulação da Qualidade e Controle Social, p. 161 – 178. In: Regulação: indicadores para a prestação de serviços de água e esgoto. 2 ed. Alceu de Castro Galvão Júnior, Alexandre de Caetano da Silva, Editores. Fortaleza Expressão Gráfica e Editora Ltda, 2006. 204 p. HELLER, L., NASCIMENTO, N.O., PAIVA, J.E.M. Saneamento. In: Minas Gerais do Século XXI. V. 3 – Infra-estrutura: sustentandoo desenvolvimento. Belo Horizonte: Roma, 2002. MOISÈS, M, KLIGERMAN, D.C.; COHEN, S.C.; MONTEIRO, S.C.F.; A política federal de saneamento básico e as iniciativas de participação, mobilização, controle social, 22 educação em saúde e ambiental nos programas governamentais de saneamento. Ciência & Saúde Coletiva, 15(5):2581-2591, 2010. MORAIS, D. J., FORTES, S. A. M., FERREIRA, H. J.de A. Evolução do Sistema de Esgotamento Sanitário no DF e Perspectivas para Universalização dos Serviços. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental p. 701-711, 1999. NASCIMENTO; HELLER, 2005. Nascimento NO, Heller L. Ciência, tecnologia e inovação na interface entre as áreas de recursos hídricos e saneamento. Engenharia Sanitária e Ambiental. 2005;10(1):36–48. PIZA, F.J.deT. Indicador de Salubridade Ambiental – ISA. Trabalho apresentado no Seminário sobre Indicadores de Sustentabilidade do Projeto Redistribuição da População e Meio Ambietne: São Pedro e Centro-Oeste, no período de 10 e 11 de abril de 2000. PNQS 2011. Guia do Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento. Belo Horizonte MG: Comitê Nacional da Qualidade CNQA-ABES, 1997 até hoje. Anual. RAMALHO, P.I.S. (Org.). Relatório Anual de Atividades da Anvisa − 2006. “Regulação e Agências Reguladoras: governança e análise de impacto regulatório”. Brasília: Anvisa, 2007b. v. 1. 424 p. Disponível em: <www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 7 fev. 2009. SLACK, N; CHAMBERS, S; HARLAND, C; HARRISON, A; JOHNSTON, R. Administração da Produção. Atlas, São Paulo. Capítulo 18 - Melhoramento da produção. p. 589 – 626. 200 23 SUSTAINABLE PRACTICES IN UNIVERSITIES: QUESTIONNAIRES AS AN ASSESSMENT TOOL FOR SUSTAINABLE CULTURE MOREIRA, Rodrigo Martins; CASTRO, Fernando Carvalheiro; MALHEIROS, Tadeu Fabrício Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental - EESC – Universidade de São Paulo Email dos autores: [email protected]; [email protected]; [email protected] Abstract To lead society to sustainable paths the various problems to be faced transdisciplinarily, requiring cooperation between several actors from various groups, such as society, academia, private and public initiative, and others. Universities present themselves as spaces of training citizens and show itself as the best place for the discussion of awareness, mobilization and environmental awareness and sustainability practices occur. Questionnaires were administered in two formats: (1) digital forms using Google Drive platform; (2) Forms printed on A4 sheets. The questionnaires are an excellent tool for assessing the sustainability culture within the university, differentiated the responses of undergraduate students, graduate students, faculty and staff. KeyWords: sustainable university, sustainable campus, behavior. Práticas sustentáveis em universidades: questionários como uma ferramenta de avaliação para cultura de sustentabilidade Resumo Para conduzir a sociedade a caminhos sustentáveis os diversos problemas devem ser enfrentados de maneira transdisciplinar, requerendo a cooperação entre diversos atores dos mais diversos grupos, tais como sociedade, academia, iniciativa privada iniciativa pública, e outros. As universidades apresentam-se como espaços de formação de cidadãos e se mostram como o melhor local para que ocorra a discussão de conscientização, mobilização e sensibilização socioambiental e práticas de sustentabilidade. Os questionários foram aplicados em dois formatos: (1) Formulários digitais, utilizando a plataforma Google Drive; (2) Formulários impressos em folhas A4. Os questionários se mostraram como uma excelente ferramenta para a avaliação da cultura de sustentabilidade dentro da universidade, se diferenciado as respostas de alunos de graduação, alunos de pós-graduação, docentes e funcionários. Palavras-chave: universidade sustentável, campus sustentável, comportamento. Introduction 24 The current social modus operandi commits future generations to meet their own needs in terms of zoning, energy feasibility, capacity of the environment’s waste assimilation, unstable economy, and the continuous development of a social culture for excessive consumption. These factors, interrelated, are damaging the sustainable development of society (Dahle; Neumayer, 2001). Therefore, rethinking the planning methodology and application of social strategies to contemplate the civil benefits across the spectrum of society becomes an emergential interest. Direct the society to a more sustainable path is a transdisciplinary problem that requires cooperation between different areas such as society, academia, the private sector and public authorities in order to be contemplate the development of egalitarian policies and tending to social justice, fostering a culture focused on sustainable practices (Kates, 2001). The cultural basis for sustainability has been neglected either through ignorance on the part of political elites, economic and scientific, or due to realization of how radical would be the implications of a strategy for sustainability culture. However, a growing number of cultural actors, in the past recent years, have denounced this situation and started to promote and disseminate cultural strategies for sustainability and advocating the recognition of culture as a fundamental dimension in research processes, teaching and application of sustainability, major efforts to promote this approach have been universities (Kagan, 2010). Universities are presented as academic spaces where occurs the formation of the future leaders, and decision makers of the world, also, are reflected as the best place for the occurrence of discussion of awareness, mobilization for social and environmental awareness and sustainability practices. It is important to sensitize these actors, who, in turn, will be consolidated as the executors of these changes strategies (Lang et al, 2012). It is important to notice the tendency, occurring through the past couple decades, to institutionalize sustainability in universities as a tool to address the inclusion of questions focused on sustainability in the teaching, extension, research and management policies in Brazilian universities (Ruscheinsky et al., 2012, p. 237 , in Leme et al. 2013). The need to train professionals with critical sense, and able to formulate and implement tools aimed at a balanced development of the social system has been encouraged, by all means of life, so that this application is effective and lasting (JUNTTI et al., 2009 ). This is made possible through a university that promotes, in all its pillars, extension, teaching, research and administration, criteria for sustainable development. It is understood, then, at several universities, global and international support level, the formation of offices, councils and committees of sustainability that require changes in the guidelines of campuses, and requesting more dynamic looks of the implementation of sustainability policies. Thus, the body of employees, technical and administrative, teachers, governors, students and research to development agencies has become the application of sustainability, discussion guidelines within universities, a prerequisite for any program, plan or project to be developed. Strategies development that integrates the cultural context and the particularities of a place and community, and promote an approach centered on the human being to develop, are more effective, and capable of producing sustainable results, in inclusive and equitable ways (Isaksson, 2006). Public and institutional policies can boost the process of walk through sustainability of college campuses, but this scenario it is seen fragile, often due to political divergences (RUSCHEINSKY et al., 2012). 25 Nevertheless, to accomplish the effect of these expectations, it is necessary the interaction between the actors inserted in these processes in their various fields, ie, the research conducted on the campuses, senior management engagement in the processes to walk to sustainable campus, monitoring operations with bias prevention - energy consumption, water, waste generation and disposal, etc. -, Feedback and interaction with society and also through curriculum improvement, focusing on sustainability, teachers, administrators, staff and students (Kulig et al., 2010). It is needed, then, institutional arrangements to discuss a systematic implementation of actions that address the entire campus community to have a sustainable culture. These actions should permeate from the top management, to officials responsible for implementation of these policies (Brinkhurst et al., 2011). The objective of this study is to evaluate the capacity of using a questionnaires as a tool to assess aspects related to the behaviors of the university’s community actions related to sustainability. Methodology The method used in this research is the survey type, because it has the three basic characteristics of this type of research listed by Pinsonneault and Kraemer (1993). Questionnaires were created for each of the interest groups: undergraduate students, graduate students, faculty and staff. The questionnaires were administered in two formats: (1) digital forms using Google Drive platform; (2) Forms printed on A4 sheets. Applications were made using questionnaires in two formats: (1) the application made by the interviewer: i) Using Google Drive (where the interviewer applied the questionnaire by phone, tablet, notebook); ii). Using the printed format. (2) Form answered by the interviewee: i) Using Google Drive (answering by phone, tablet, notebook); ii) Using the printed format (the respondent received by email the questionnaire to be completed at another time). At the end of the process the information should be in Google Drive to facilitate analysis and storage of data, so the answers to the questionnaires that were filled in print were used to feed the questionnaires Google Drive. This was a pilot work, in order to see the effectiveness of the questionnaire as a tool, therefore, it does not have any sample validity, since, it is not the work focus. Results The application of the questionnaires identified some problems and possible solutions, of which we can highlight: Problems of the issues and other errors format: Some questions that allowed respondents to file a response in text format, were replaced by objective questions, as this enables a standardization in the answer format and a more direct analysis of the results as well as prevents respondents may make mistakes when entering text. Some questions were added to a better differentiation of the respondents as, whether to conduct most of their activities in the campus area 1 or 2 and in case of faculty and staff, in which institute they work. Finally can be highlighted changes to the questionnaire logic, since some questions should have your fill tied to a previous answer, causing the respondent is directed to a specific question or else continue with the questionnaire avoiding unnecessary padding some issues and facilitating the analysis. 26 Size and format of the questionnaires: Questionnaires where already designed to assess various aspects related to the subjects sustainable culture. Being similar to the questionnaires applied at the University of Michigan (Marans; Shriberg, 2012) and available on the info site platform, “Awareness and sustainability assessment at the University”, the result of cooperation between the University of Sao Paulo and the Autonomous University of Madrid. Given this characteristic, the personal application via paper was not effective because people are unwilling to answer the questionnaires at any time, especially for work or study. Therefore, the application via internet, through Google Forms, allows larger sample answers in less time, higher speed in completing the questionnaires, as well as enables them to fill in more appropriate times for each person, making each one can take the most timely and necessary to understand the questions and think about the answers. Some patterns could be observed within the small sample sizes of the groups and differences between groups became clear. In the sequence, this paper will show the higher percentages of responses in each group obtained from the filling of the forms: Housing H1. Where do you live? Table 1. Percentage of responses about housing Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses Apartament (Frat-house) House (Frat-house) / Apartament (Frat-house) Apartament House Percentage 44% 23% / 23% 58% 81% There were clear predominance between the responses of faculty and staff, 58% live in "apartment" and 81% live in "home". Among the undergraduate and graduate the answers were more distributed, but in the case of largely undergraduate students of responses where "apartment (fraternity house)” with 44%. The fact of living alone, with family or with friends is one factor that can influence the actions of everyday life, and the fact of living in a house or apartment, that due to size differences can lead to different behaviors to be analyzed the culture of sustainability, for example, the fact of living in a house might provide more space to practice composting, and live with friends or parents can influence us to have different actions on sustainability, this coexistence can lead to good the bad influences and, in addition, the division of costs, such as those with electricity and water may end up as waste favoring an individual consumption will increase among all diluted causing it to be masked. Transport T1. During the past 12 months, how often have you used the following means of transport to go to college? Table 2. Percentage of responses about transport Group Undergraduate students Responses Walk (Always) Percentage 74% 27 Graduate students teachers staff Walk (Always) Car (Always) Car (Always) 54% 68% 67% Here as can be viewed, there is a clear difference between students and staff and faculty. Most undergraduate students (74%) and graduate (54%) will always walk to the university while the majority of teachers (68%) and employees (67%) always use the car. T2. Which of the following reasons justify you use the means of transport more often than others? Table 3. Percentage of responses showing the main reasons for the use of cars Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses I have no car or motorbike I have no car or motorbike convenience convenience Percentage 41% 54% 45% 41% Large portions of undergraduates (41%) and graduate (54%) justify the choice of their means of transport for "I have no car or motorcycle" which is due to the fact of a considerable financial dependence on family, ie that seemingly has been more significant factor than using more sustainable transport. As for the teachers also significant portions of teachers (45%) and employees (41%) justify their means of transport for "Convenience", indicating a greater need for improving the quality of the public transportation and awareness. Yet those who do not use car for convenience, possibly would benefit if the quality of transport was better, offering more points of embarkation and stop, as well as providing more bus schedules. T4. What is your opinion about the amount of parking in the area 1 on USP - São Carlos? Table 4. Percentage of responses about the parking quantity on area 1 of USP-São Carlos Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses insufficient enough insufficient insufficient Percentage 54% 46% 47% 71% Large portions of undergraduates (54%), teachers (47%) and employees (71%) consider insufficient number of parking lots in the area 1 of USP - São Carlos, showing that possibly, there is a structural problem on campus, and that is caused by the cars overuse habit. It should be noted that most students will generally going to university, but 41% said they do so because they have no car or motorbike, and on this issue the majority of undergraduate students answered "Insufficient" as the number of jobs, so this value of 54% was probably not due only to the responses of students who use cars, but also by the answers of students who do not have cars, but realize in everyday life that many drivers have trouble finding parking spaces. 28 T1. Overall, people should use public transport, with the bus, even if it is less convenient. Do You: Table 5. Percentage of responses about the use of buses Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses agree agree agree agree Percentage 51% 69% 58% 48% In an interesting contrast to the issues considered in the previous question, the majority of undergraduates (51%), graduate students (69%) and teachers (58%) agree with the statement, "Overall, people should use public transport, as the bus, even if it is less convenient", and most of the employees (48%) as well. This mismatch between what people think and what they do, becomes clear when we see large percentages of teachers and employees who use car, and do so for convenience. On the other hand, the fact that most of the undergraduates and graduate have agreed that public transport should be used even if it is not convenient, indicates that it meets with the information that in general these groups use less car for transportation. T11. Overall, people should ride a bike or walk even if it is less convenient. Do You: Tabela 6. Percentage of responses about the uses of bicycle or walking Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses agree Percentage 62% agree 69% agree agree 68% 52% Again in contrast to the issues discussed above, most of all groups have agreed to the need for means of transportation emitter does not, however, realizes a contrast when related to the number of people who own a car, or when related the amount of people who find the area of insufficient parking. The parking area, for example, could be reduced and used as a bike path and bike racks. On the other hand, large percentages of students who agree indicate that this goes against the fact that in general, these groups use less car, which may mean a greater awareness to sustainable transport theme, however, there is the possibility that the bicycle use is lower among students because of their economic dependence. Food F1. Do you think that the consumption of foods that do not have a negative impact on the environment it is important? Table 7. Percentage of responses about food that won’t impact negatively the environment Group Responses Percentage 29 Undergraduate students Graduate students teachers staff Yes 79% Yes 77% Yes Yes 95% 76% All groups had most of the answers as positive, which indicates a large part of them recognizes the importance of the topic. Waste Prevention and Reduction of Waste Production W.2 When you go to university restaurant (or restaurants around the USP / for teachers and staff), how much you care about food waste? Table 8. Percentage of responses about food waste Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses A lot Percentage 62% A lot 77% A lot A lot 63% 71% All of the groups were concerned with food waste, which is certainly a good indicator of awareness when it refers about waste reduction. In fact, the USP Recicla program has acted to raise awareness and reduction of waste in the University Restaurant, as in the work Brandão et al. (2011), where the reduction observed throughout the period of these activities was 83,1g / tray in June 2006 to 44g / tray in November 2010. This highlights the need for greater institutional support to the project and its disclosure, since their actions generate significant changes in waste reduction, and this is a project that exists since 1994, starting on the campus of São Paulo, arriving in São Carlos in 1995 (EMS USP, 2014). W5. How much do you know about the USP Recicla program? Table 9 Percentage of responses about the level of knowledge about the USP-Recicla program Group Graduate students Postdoctoral students teachers staff Responses little Bit little Bit average average Percentage 56% 62% 37% 48% None of the groups were "Very" aware about the program, as seen at the answers, while the majority of undergraduates (56%) and graduate (62%) said they knew little about the program. 30 Green Areas GA1. What is your opinion about the amount of green areas in the USP-São Carlos? Area 1 and Area 2. Table 10. Percentage of responses about the Green Areas on area 1 and 2 Group Responses Undergraduate students Graduate students teachers staff enough enough insufficient insufficient Percentage area 1 62% 62% 53% 64% Percentage area 2 49% 46% 53% 45% Most students (62%) believes that the amount of green areas in Area 1 of USP-São Carlos is sufficient, since the majority of teachers (53%) and employees (64%) believe that it is insufficient. In none of the cases occurred answers "Insufficient", and both groups, when refered about the area 2, responded predominantly "Never thought about it," possibly due to their lack of knowledge and contact with the area 2. The green areas are important not only for the internal community of USP but also to all others who can, and should, use the space, that is public. Environmental Management EM3. For questions, comments or suggestions on environmental issues of the institution, with whom you communicate with most often? Table 10. Percentage of responses about the communication media related to environmental themes at the institution Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses I do not know teachers I do not know other Percentage 67% 31% 26% 38% In this issue, five alternatives were presented, which made scattered answers, but most undergraduate students (67%) said that they do not know with whom to communicate in situations of utterance. Among the teachers, the alternative with the lowest percentage of replies (26%) was "I do not know". None of them had significant responses to websites or other media, USP, which shows a lack of disclosure of communication channels, or perhaps the lack or poor functionality that, exist. At the University of Michigan occur examples of good practices in the dissemination and communication of environmental issues. In the case for the evaluation of sustainability culture, emails with the addresses to the questionnaires accompanied a letter from Dean inviting everyone to respond and after a while, the unanswered email received a message reinforcing the invitation through a video with the basketball team coach (Wiese, 2013). EM5. Participate in NGO activities is very important. 31 Table 11. Percentage of responses about NGOs participatory activities Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses I agree I agree I agree I agree Percentage 51% 69% 47% 71% All groups, except the teachers (47%) had most of the answers as "I agree", indicating that most of them understand that these activities are required, which is certainly a good indicator of sustainability culture. Climate Changes CM1. Do you think that are occurring changes in climate? Table 12. Percentage of responses about climate changes Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses Yes Yes Yes Yes Percentage 85% 92% 84% 95% All groups responded that they believe that climate change is occurring, similar to what was found in the results of the second administration of the questionnaires at the University of Michigan. Nine out of ten respondents said they believe that climate change is occurring (Marans; Callewaert, 2014) .Maybe this is due not only to a global fact of change, but to the local effects of human activities, such as heat islands (Coast; Peres; Silva, 2010). Sustainability S5. Do you participate / participated or promotes / promoted some kind of environmental activity on your campus? Table 13. Percentage of responses about participation in socioenvironmental pparticipação activities Group Undergraduate students Graduate students teachers staff Responses I do not participate I do not participate I do not participate I do not participate Percentage 51% 62% 18% 38% In all groups, the alternative with the highest percentage of responses was "I do not participate", and few participate in activities in NGOs. S7. In your opinion, what are the difficulties encountered in participating? This question offered the option to answer more than one option, so the options with higher percentages were: 32 Table 14. Percentage of socioenvironmental activities Group Undergraduate students Graduate students teachers staff responses about the Responses Lack of Time / Lack of information Lack of Time / Lack of information Lack of Time / Lack of information Lack of Time / Lack of information difficulties in participating in Percentage 36% / 33% 77% / 46% 48% / 14% 28% / 28% In all groups, the highest percentages indicated that lack of time and lack of information as the main factors that prevent participation in social and environmental activities on campus. These results besides showing the patterns of each group also has shown a greater need for projects of environmental disclosures in the area on campus. Conclusions From the results, it can be seen that the application of questionnaires with questions related to sustainability is an effective tool to clarify researchers on the conduct of sustainability of a given community. However, the questionnaire must be succinct, must not take much time of respondents, must address key research topics and issues, and must be objective, to facilitate data analysis. The best application way was via internet, through Google Forms. It is noteworthy that this was a pilot project to enhance the application of questionnaires to be initially applied in the USP-São Carlos and in the future in other campuses of USP. Some questions needed to be changed, and others were added to obtain a more functional questionnaire. Acknowledgements. – Acknoelodments to the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, process: 165627/2014-0, for the financial support. References BRINKHURST, M.; ROSE, P.; MAURICE, G. Achieving campus sustainability: top-down, bottom-up, or neither? International Journal of Sustainability in Higher Education, v. 12, p. 338-554. 2011. CALLEWAERT, J; MARANS, R.W. SUSTAINABILITY CULTURAL INDICATORS PROGRAM: SECOND YEAR REPORT OVERVIEW. Disponível em:< http://graham.umich.edu/media/files/SCIP-Year-2Overview.pdf >. Acesso em: 28 out. 2014. DAHLE, M.; E. NEUMAYER. Overcoming barriers to campus greening: A survey among higher educational institutions in London, UK. International Journal of Sustainability in Higher Education v. 2, pp. 139 – 160, 2001. DAHLE, M.; E. NEUMAYER. Overcoming barriers to campus greening: A survey among higher educational institutions in London, UK. International Journal of Sustainability in Higher Education v. 2, pp. 139 – 160, 2001. JUNTTI, M.; RUSSEL, D.; TURNPENNY, J. Evidence, politics and power in public policy for the environment. Environmental Science Policy. v. 12, 207–215, 2009. KAGAN, S. Cultures of sustainability and the aesthetics of the pattern that connects. Futures, v. 42, n. 10, p. 1094-1101, 2010. 33 KATES, R.W., 2001. Environment and development: sustainability science. Science 292 (5517), 641–642. LANG, D.J., WIEK, A., BERGMANN, M., STAUFFACHER, M., MARTENS, P., Moll, P., SWILLING, M., THOMAS, C.J. Transdisciplinary research in sustainability science: practice, principles, and challenges. Sustainability Science, v. 7, p. 25–43, 2012. LEME, P. C. S. (Org.) ; PAVESI, A. (Org.) ; ALBA, D. (Org.) ; GONZALEZ, M. J. (Org.). Visões e experiências Ibero-Americanas de Sustentabilidade nas Universidades: desdobramentos do 3º Seminário Internacional de Sustentabilidade na Universidade. 1. ed. Madrid: UAM, 2012. v. 1. 360 p. MARANS, R. W.; SHRIBERG, M. Creating and Assessing a Campus Culture of Sustainability: The University of Michigan Experience. Frankfurt: Peter Lang Scientific Publishers, 2012. SUPERINTEDÊNCIA DE GESTÃO AMBIENTAL. 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Los beneficios de la ecoeficiencia generan incremento de la competitividad, reducción del gasto operativo y mantenimiento de oficinas, minimización del impacto ambiental, de la presión por los recursos naturales y generación de la cultura de la ecoeficiencia en los colaboradores. En enero de 2013 se socializa el proyecto del Programa de Ecoeficiencia con el rector y luego de las sugerencias, es emitida la resolución Nº 0220-2013-CU-ULADECH – Católica, aprobándose el proyecto. El objetivo es sensibilizar, implementar y ejecutar el Programa de Ecoeficiencia con la participación activa de la comunidad universitaria, para lo cual se forma el Comité de Ecoeficiencia. Transcurridos dos años del inicio del proyecto se han suscitado situaciones positivas como la concientización de la comunidad universitaria y negativas como colaboradores que no toman conciencia del beneficio que tiene la implementación y ejecución del programa debiendo seguir con el proceso de concientización, siendo estas últimas las que han generado en los responsables del programa reuniones periódicas para el análisis de estas situaciones y como consecuencia de ello llevar a cabo la mejora continua. Este es un proceso a largo plazo que la comunidad universitaria debe internalizar, de tal manera que los resultados puedan plasmarse a partir de la segunda mitad de 2014. Palabras clave: Ecoeficiencia, impacto ambiental, mejora continua. Implementation and execution of eco-efficiency program at the Catholic University Los Angeles Chimbote - Headquarters (I stage: sensitization) Abstract The implementation of eco-efficiency in the Catholic University Los Angeles of Chimbote respect to the entire university community at all levels of decision. Eco-efficiency in universities is applied in three basic areas: electricity, water and paper. The benefits of eco-efficiency generate increased competitiveness, reduced operating expenses and office maintenance, minimizing environmental impact, pressure on natural resources and generation of a culture of eco-efficiency reviewers. 35 In January 2013 the draft Programme Ecoefficiency socialize with and then rector of the suggestions is issued Resolution No. 0220-2013-CU-ULADECH - Catholic, approving the project. The aim is to raise awareness, implement and execute the program Ecoeficiencia with the active participation of the university community, for which the Committee Ecoeficiencia is formed. Two years after project start positive situations have arisen as awareness of college and negative community as partners do not become aware of the benefit is the implementation and execution of the program must continue the process of awareness, the latter which have generated in charge of regular meetings for the analysis of these situations program and consequently carry out continuous improvement. This is a long term process that the university community must internalize, so that the results can be translated from the second half of 2014. Keywords: Eco-efficiency, environmental impact, continuous improvement. Introducción Instituciones de todo tipo en el mundo pierden mucho dinero debido a un uso ineficiente de recursos naturales, como la electricidad, el agua, los insumos y las materias primas. Un “gerente”, que está demasiado ocupado en su gestión, como para seguir consejos de sentido común referentes al medio ambiente, puede causar altos costos adicionales a la institución (multas, mala imagen corporativa, reducida competitividad, conflictos sociales, etc.), en vez de beneficiarse de las oportunidades que ofrece generar una institución sostenible y ecoeficiente, (Austermuhle, 2012). La ecoeficiencia es una estrategia que permite mejorar la performance ambiental de las empresas e instituciones y al mismo tiempo generar significativos ahorros económicos. La ecoeficiencia aplicada al sector privado es sinónimo de competitividad y calidad del servicio. Dada la magnitud y alcance de los servicios que se ofrecen desde el sector privado, el ahorro de recursos e insumos de trabajo, la eficiencia en el uso de la energía y la minimización de la generación de residuos sólidos son algunas medidas de ecoeficiencia que permitirán una importante optimización de nuestra universidad en beneficio de la competitividad y crecimiento del país. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. La ecoeficiencia forma parte del proceso de mejora continua, profesionalización y compromiso de servicio del sector privado. Por ello, la implementación de la ecoeficiencia en nuestra universidad atañe a todas y cada una de las personas en todos los niveles de decisión y jerarquía. La mejor medida de ecoeficiencia o la tecnología ambiental más avanzada es inútil, si es que los trabajadores y las personas en general no asumen el compromiso de participar y ser parte del cambio. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/9.pdf. La ecoeficiencia en las instituciones del sector privado, no solo es una necesidad de orden ambiental, sino también resulta un imperativo para la gestión privada eficiente y eficaz. Cada día el país se inserta más en un mundo globalizado donde la racionalización y optimización de los costos y presupuestos es un sinónimo de competitividad y buenas prácticas 36 gubernamentales. Esta es una condición indispensable para que el sector privado acompañe el imprescindible proceso de aumento de competitividad general del país a fin de que nuestra economía se inserte ventajosamente en la economía global. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. La política de estado relativa a la ecoeficiencia incluye a los gobiernos locales, instituciones del sector privado y las instituciones del sector público, entre otros importantes actores. La estrategia de la ecoeficiencia ha empezado a calar en el sector público concretamente a partir de la Ley Nº 29289, Ley de Presupuesto del Sector Público para el año fiscal 2009 (11.12.08). Ahí, se requiere a todas las Oficinas Generales de Administración de incluir dentro de sus presupuestos anuales, las respectivas partidas para cubrir los costos iniciales de formulación e implementación de los planes de ecoeficiencia en tres materias cruciales: energía, agua y papel. En tal sentido el sector privado también debe de estar acorde con estas medidas que se están adoptando. http://www.minam.gob.pe/educacion/wpcontent/uploads/sites/20/2013/10/Gu%C3%ADa-Educ-en-Ecoef-en-Word-18-Jul.pdf. En este marco de acción el Ministerio del Ambiente (MINAM) está impulsando el Programa Perú Ecoeficiente el cual involucra a todas las instituciones públicas, y tiene como objetivo fomentar una nueva cultura de uso eficiente de los recursos de energía, agua, papel y recursos logísticos que genere un ahorro importante al Estado, además de propiciar en los trabajadores que son los principales consumidores de estos servicios, el uso ambientalmente responsable a fin lograr el menor impacto en el ambiente. Es en este sentido que el sector privado debe de involucrarse en todo este proceso de tal manera que se proteja el medio ambiente y ahorrar recursos económicos. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. La ecoeficiencia es la ciencia que combina los principios de la ecología con la economía para generar alternativas de uso eficiente de las materias primas e insumos; así como para optimizar los procesos productivos y la provisión de servicios. La ecoeficiencia se aplica a las municipalidades, industrias, empresas de servicios y oficinas administrativas del sector público y privado. La ecoeficiencia permite producir más con menor uso de materias primas e insumos. Con ello, se contribuye con el cuidado del ambiente, la reducción del impacto climático y sobre todo con un significativo ahorro de dinero. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/9.pdf. El costo de la ecoeficiencia varía según el tipo de establecimiento y actividades que se desarrollan y que se desean optimizar. Sin embargo, es necesario destacar que todos los costos o inversiones se recuperan con los ahorros que se generan por la implementación de las medidas de ecoeficiencia. http://diseñoysostenibilidad.com/2012/02/ecoeficiencia. La ecoeficiencia en el sector público y privado forma parte de un proceso de mejora continua que permitirá: promover el ahorro de energía, agua y materiales de oficina en una determinada institución, involucrar a todos los colaboradores de una institución en la implementación de las medidas de ecoeficiencia, incrementar la calidad del servicio que brinda una institución. De forma simple se puede decir que ecoeficiencia es “producir más con menos”. Los beneficios específicos que se derivan en una determinada institución son: aumento de la competitividad de una institución (producir más con menos), reducción del gasto corriente de 37 operación y mantenimiento de las oficinas en una institución, minimización del impacto ambiental local y presión por los recursos naturales, generación de una cultura de la ecoeficiencia en los trabajadores, que puede ser trasladada a sus viviendas con significativo impacto en la economía del hogar. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. El avance en el proceso de ecoeficiencia se puede establecer a través de indicadores objetivamente verificables que son muy sencillos de medir; por ejemplo, la facturación de agua y energía y el consumo de papel, entre otros. El diseño de un plan de ecoeficiencia se puede implementar a través de un Comité de Ecoeficiencia. La ecoeficiencia en instituciones del sector privado, como nuestra universidad, se puede aplicar inicialmente en 3 áreas fundamentales: energía eléctrica, agua, residuos sólidos, especialmente el papel. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. El primer paso es realizar la línea base y un plan de ecoeficiencia. Luego, este Plan se pone en marcha convocando a todos los colaboradores a distinto nivel. Los planes de ecoeficiencia requieren de personas motivadas y capacitadas. El consumo responsable es uno de los factores ambientales más importantes y de mayores retos en los momentos actuales. En el caso del consumo de energía, la explotación de combustibles fósiles ha tenido gran repercusión en el proceso de calentamiento global del planeta. Se debe de tener en cuenta que la energía que usa en las oficinas u hogares puede provenir de plantas termoeléctricas que se usa utiliza combustibles fósiles cuya combustión produce gases de efecto invernadero (1KWh de electricidad producido con una termoeléctrica típica se traduce en 0,545 kg de CO2 emitido). http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf. El consumo de agua aumenta cada día de manera acelerada y si bien el recurso se podría considerar como “renovable”, los problemas de escasez y disponibilidad del recurso hídrico son materia de creciente preocupación. En las oficinas se genera un importante consumo de agua, destacando que más de dos tercios del gasto se originan en los servicios higiénicos, por lo que la utilización de sistemas ahorradores de agua no sólo reduciría dicho consumo, sino que serviría de ejemplo a las personas que trabajan en ellas o las visitan. En el caso del consumo de papel y materiales de oficina se tienen consecuencias altamente nocivas para la calidad de nuestro ambiente. Ello fundamentalmente porque los materiales que se usan a diario han tenido que ser fabricados utilizando recursos naturales como árboles, agua y energía, y en el caso de papel su manufactura implica el uso de compuestos químicos altamente contaminantes como los blanqueadores del cloro o derivados, que generan residuos organoclorados ecotóxicos y bioacumulables. Es necesario recordar que para producir papel se emplean recursos naturales que cada día son más escasos. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/9.pdf. Teniendo en cuenta el compromiso formal que la ULADECH - Católica ha adquirido al formar parte de la “Red Ambiental Interuniversitaria – Interuniversia Perú”, promovida por el Ministerio del Ambiente (MINAM) y la Asamblea Nacional de Rectores (ANR) y como corolario de la participación en el IV Foro Nacional sobre Universidades, Gestión Ambiental y Desarrollo Sostenible a través de la Declaración de Piura que en el ítem 02 insta a las autoridades universitarias a habilitar mecanismos de aseguramiento para la implementación de las medidas de ECOEFICIENCIA normadas y de otras acciones, en el marco de la política 38 de responsabilidad socio-ambiental de la universidad, el Departamento Académico de Responsabilidad Social – DARES a través de la Coordinación del Área de Medio Ambiente ha implementado y está ejecutando el programa de ecoeficiencia en la sede central de la universidad en donde participan activamente todos los estamentos universitarios. El objetivo del presente estudio es sensibilizar, implementar y ejecutar el programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote - Sede Central. I. Metodología Tipo de investigación y desarrollo del proyecto Se trata de un estudio cuantitativo, de tipo descriptivo que permite una primera aproximación al proceso de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. Estrategias Para llevar a cabo el proceso de sensibilización se utilizaron las siguientes estrategias: • Se realizó una reunión de coordinación con el Rector de ULADECH Católica para conocimiento y aprobación del proyecto el viernes 16 de noviembre de 2012. • Se llevó a cabo una reunión de difusión y coordinación con los Decanos de las Facultades de Ciencias Contables Financieras y Administrativas (CCFA), Ciencias de la Salud (CS), Derecho y Ciencias Políticas (CP), Educación y Humanidades (EH) e Ingeniería de la ULADECH Católica con respecto a la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. La reunión con los señores decanos debería de realizarse de manera individual. • Se realizó una reunión de difusión y coordinación con el Jefe de Personal y el Jefe del Área de Contabilidad responsable de las facturas de compra de materiales de escritorio en la universidad con respecto a la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. • Se realizó una reunión de difusión y coordinación con el Jefe de Seguridad y el Jefe de Mantenimiento de la universidad. Dicha reunión debería de realizarse de manera conjunta con respecto a la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. • Se realizó una reunión de socialización con el Jefe y los Coordinadores de Área de las asignaturas del DARES con respecto a la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. Al culminar el IV Foro Nacional de Universidades, Gestión Ambiental y Desarrollo Sostenible realizado los días 27 y 28 de setiembre de 2012 en la ciudad de Piura donde se acordó, entre otros, impulsar medidas para la institucionalización de la dimensión ambiental en las universidades, el compromiso de contribuir en la implementación de las políticas públicas y estrategias orientadas a la adaptación al cambio climático, la ULADECH – Católica pone en marcha (a través de sus representantes ante la Red Ambiental Interuniversitaria – Interuniversia Perú, Mg. Blgo. Mblgo. Luis Alberto Sánchez Angulo y el 39 Q.F. Edison Vásquez Corales), la implementación del Proyecto del Programa de Ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote - Sede Central. Luego de las coordinaciones realizadas entre los representantes de ULADECH - Católica ante la RAI – Interuniversia Perú y haber plasmado el mencionado proyecto, se realiza en el mes de enero de 2013 la socialización del Proyecto del Programa de Ecoeficiencia con el Sr. Rector de la ULADECH – Católica Ing. Dr. Julio B. Domínguez Granda, luego de las sugerencias del caso y el posterior visto bueno es emitida la Resolución Nº 0220-2013-CUULADECH – Católica, a través de la cual se aprueba oficialmente “La Implementación y Ejecución del Programa de Ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote Sede – Central”. Para poder llevar a cabo la implementación y ejecución del mencionado programa se estructura un esquema a través del cual se involucra a toda la comunidad universitaria, de tal manera que se puede socializar como se va a implementar y ejecutar el programa de ecoeficiencia (Fig. 01). Posterior a la socialización del programa de ecoeficiencia con el Señor Rector de la ULADECH – Católica se hace la comunicación vía memorando a los jefes de las unidades operativas con respecto al mencionado programa y se remite el cronograma de capacitaciones que se estará realizando. Es así como con los señores decanos se realiza la socialización el miércoles 27 de febrero de 2013 según la disponibilidad de tiempo de cada uno de los decanos en el horario de 08:00 – 16:00 y de 18:00 – 20:30 horas, previa coordinación con los representantes de la universidad ante la RAI y dentro del mencionado horario. Luego de la socialización se hizo entrega de las correspondientes diapositivas para que los mencionados decanos sean los que realicen el efecto multiplicador en sus respectivas facultades. De esta manera los decanos de cada facultad socializaron el programa de ecoeficiencia con los directores de las respectivas escuelas profesionales. Luego cada uno de los directores hace la réplica con todo su personal administrativo y docente que pertenecen a su departamento académico y finalmente los docentes realizan el mismo proceso con sus estudiantes al empezar el semestre académico 2013 – I. 40 Figura 01. Esquema de ecoeficiencia Con esta capacitación los representantes de la universidad ante la RAI – Interuniversia Perú, dieron a conocer a través de diapositivas a cada uno de los jefes de las unidades operativas, la participación de la institución en el “III Foro de Universidades, Gestión Ambiental y Desarrollo Sostenible” realizado en la ciudad de Chaclacayo en el mes de diciembre de 2010, la participación en el “IV Foro de Universidades, Gestión Ambiental y Desarrollo Sostenible” llevado a cabo en la ciudad de Piura en el mes de setiembre de 2012. Por otro lado se explicó lo que significaba ser parte de la mencionada red y los compromisos que se estaban adquiriendo de manera oficial como institución. Se culminó la socialización con el tema principal “Ecoeficiencia” en donde se detalló todo lo referente al tema, así como también la implementación y ejecución del Programa de Ecoeficiencia en la Universidad Católica los Ángeles de Chimbote Sede – Central”. Es necesario mencionar que el programa de ecoeficiencia en la universidad abarca los temas de ahorro de energía eléctrica, del agua potable y el uso adecuado del papel (residuos sólidos). Con los jefes de seguridad y de limpieza y mantenimiento además de la respectiva socialización se coordinó para poder realizar una capacitación programada con todo su personal ya que dichos trabajadores son la parte medular para llevar a cabo el desarrollo del proyecto en mención de manera satisfactoria. A los trabajadores de seguridad, limpieza y mantenimiento se les explicó de manera detallada en qué consistía su participación a través de las instrucciones que deberían de ejecutar con respecto a la recopilación de papel por parte de los señores de limpieza, control del uso de la energía eléctrica por parte de los señores de limpieza, recopilación del papel reusado por parte de los señores de limpieza y el reporte de fuga de agua por parte de los señores de mantenimiento. Todo este proceso debe de ser controlado por el personal de seguridad de la universidad. Para que se plasmen los hallazgos que se pudieran encontrar en el ahorro de energía eléctrica se hicieron hojas de control que el personal de limpieza utiliza de manera cotidiana en el momento de realizar su trabajo colocando una “x” según corresponda. Posteriormente los mencionados documentos de verificación serán remitidos a las casetas de vigilancia de cada uno de los locales de la universidad en la sede central, en donde los señores vigilantes los acopiaran en un folder para que sean recogidos por los responsables del proyecto y luego de analizarlos se realizaran los “ajustes” correspondientes para la mejora continua del caso. 41 Para un adecuado control de todo el proceso se están realizando supervisiones periódicas (cada tres semanas), a cargo de los responsables de la implementación y ejecución del Programa de Ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote Sede – Central. Ya han transcurrido dos años del inicio del Programa de Ecoeficiencia de la ULADECH – Católica y en este tiempo se han suscitado cosas positivas y también situaciones negativas. Y son justamente estas últimas las que han generado en los responsables directos del Programa de Ecoeficiencia reuniones periódicas para el análisis de estas situaciones problemáticas y como consecuencia de ellos llevar a cabo la mejora continua. Este es un proceso a largo plazo que poco a poco la comunidad universitaria debe de ir internalizando de tal manera que los resultados puedan plasmarse a partir de la segunda mitad del año 2014 tal y como estaba previsto al plasmar la “Implementación y Ejecución del Programa de Ecoeficiencia en la Universidad Católica los Ángeles de Chimbote Sede – Central. La población y la muestra fue la misma, ya que estuvo conformada por toda la comunidad universitaria de la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central. II. Resultados: La sensibilización de la comunidad universitaria se lleva a cabo de la siguiente manera: Formación del Comité de Ecoeficiencia El primer paso que se tiene en cuenta es constituir un Comité de Ecoeficiencia. Dicho Comité está conformado de la siguiente manera: • Coordinador del Área de Medio Ambiente (Coordinador General y representante ante la RAI). • Docente tutor de Medio Ambiente (Adjunto y representante ante loa RAI). • Jefe del Departamento Académico de Responsabilidad Social (DARES). Las principales tareas del Comité de Ecoeficiencia se centran en los siguientes puntos: • Elaborar la Línea Base y Plan de Ecoeficiencia. • Asegurar la correcta ejecución del Plan de Ecoeficiencia. • Monitorear el Plan de Ecoeficiencia. • Fomentar y estimular al personal para que adopte buenas prácticas de ecoeficiencia. Coordinación con el Jefe de Seguridad y el Jefe de Mantenimiento Jefe de Mantenimiento: • Socialización del Programa de Ecoeficiencia de la ULADECH – Católica. • Se coordina la capacitación del personal de limpieza y mantenimiento de la universidad en pequeños grupos según disponibilidad de tiempo y en función al cronograma establecido. • El personal de limpieza: 42 Durante el horario diario de limpieza de las oficinas de la universidad (primeras horas de la mañana y de la tarde) el personal de limpieza verifica y toma nota (según formato) de cuantos equipos de oficina quedan conectados y/o encendidos (computadoras, estabilizadores, ventiladores etc.). • Dichos formatos son llenados según la capacitación que se realiza. • Los formatos son entregados en la zona de vigilancia de cada uno de los locales de la universidad. • Con respecto al uso y control de la utilización del agua potable en los servicios higiénicos y oficinas el personal de limpieza se verifican las perfectas condiciones de uso de las llaves de agua e informan (según formato). • Los formatos son entregados en la zona de vigilancia de cada uno de los locales de la universidad. • El personal de limpieza informa a la brevedad posible, si en caso hubiera, el desperfecto que existe para que sea subsanado inmediatamente por el personal de mantenimiento. • El personal de limpieza recoge las hojas de papel bond que han sido utilizadas en las diferentes dependencias y que estarán colocadas dentro de un folder de color verde con la inscripción de ecoeficiencia. El personal extraerá dichas hojas (dejando el folder verde en su mismo lugar) y son llevados a la zona de vigilancia en cada uno de los locales de la universidad. Jefe de Seguridad: El personal de vigilancia: • Sistematiza la información proporcionada por el personal de limpieza (según formato) y entrega la información semanalmente al Coordinador del Área de Medio Ambiente o al docente adjunto. • En una caja de cartón, el personal de vigilancia recepciona las hojas proporcionadas por el personal de limpieza. • Las cajas de los diferentes locales serán recogidas por la movilidad de la universidad en el momento que el conserje lleva la documentación a los diferentes locales de la institución. • Dichas cajas son recogidas cada quince días y llevadas al Laboratorio de Biología y se coordinará con el asistente del laboratorio (Campus de la Facultad de Ciencias de la Salud) para el acopio respectivo. • El papel recolectado es vendido mediante campañas de reciclaje de residuos sólidos que realiza en DARES (tres por año). IV Discusión: En términos generales el plan de ecoeficiencia forma parte de un proceso de mejora continua. La mejora continua se basa en cuatro aspectos clave: planificar: línea base y determinación de objetivos, hacer: diseño de las medidas de ecoeficiencia (plan de ecoeficiencia) e implementación inicial, verificar: evaluación de las medidas inicialmente implementadas y actuar: Plan de Acción definitivo, monitoreo y retroalimentación. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf 43 El plan de ecoeficiencia consta de cuatro etapas: Etapa 01: planificación y línea base, la preparación de la línea base de ecoeficiencia deberá comprender la recopilación de la información con respecto al consumo de energía, agua y residuos sólidos en especial papel, realizar el inventario de equipos relacionados con el consumo de energía y agua, determinar el nivel específico de consumo de energía y agua en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote Sede Central por cada uno de los locales, así como la generación de papel en forma de residuo sólido, identificar prácticas laborales contrarias a la ecoeficiencia en energía, agua y manejo de papel, integración de la información y conclusiones de la línea base: determinando áreas de oportunidad para la aplicación de las medidas de ecoeficiencia. A continuación la Etapa 2: formulación del plan de ecoeficiencia, en base a las conclusiones de la línea base, el plan de ecoeficiencia identifica de manera específica las medidas a adoptar para minimizar los consumos de energía, agua y generación de residuos de papel. Las medidas u oportunidades de ecoeficiencia van acompañadas de un presupuesto donde se indica el tipo de equipo o tecnología a reemplazar u optimizar y el período de retorno de la inversión. Luego, la Etapa 3: implementación, monitoreo del plan, en la cual se realizan las coordinaciones para implementar las medidas de ecoeficiencia. La implementación del plan supone un fuerte trabajo de concientización y capacitación de toda la comunidad universitaria. Los planes de ecoeficiencia recaen en gran medida en las buenas prácticas que toda la comunidad universitaria pueda adoptar. De nada sirve la tecnología o equipo ecoeficiente más avanzado si la comunidad universitaria no adopta las prácticas más convenientes de ecoeficiencia. Finalmente, la Etapa 4: la retroalimentación que está en función al monitoreo permanente de los indicadores de ecoeficiencia preestablecidos. Los indicadores para cada local de la universidad deben estar referidos en función al consumo de recursos y energía. http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/9.pdf. V. Conclusiones: 1. En esta primera etapa de la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia en la Universidad Católica Los Ángeles de Chimbote – Sede Central se ha realizado la concientización de la comunidad universitaria. 2. Todavía existe colaboradores que no toman conciencia del beneficio que tiene la implementación y ejecución del programa de ecoeficiencia. 3. Se requiere seguir sensibilizando a la comunidad universitaria para poder pasar a la etapa de las mediciones (ejecución). VI. Referencias Bibliográficas: AUSTERMUHLE, Stefan. Sostenibilidad y ecoeficiencia en la empresa moderna. Universidad Privada de Ciencias Aplicadas (UPC). Centro de Información, 2012. 44 MINISTERIO DEL AMBIENTE, Ministerio de Educación. Guía Educación en Ecoeficiencia. Ciudadanía Ambiental. Perú, 2012. Disponible en: http://www.minam.gob.pe/educacion/wp-content/uploads/sites/20/2013/10/Gu%C3%ADa-Educ-en-Ecoef-enWord-18-Jul.pdf. MINISTERIO DEL AMBIENTE. Guía de Ecoeficiencia para Instituciones del Sector Público. Perú, 2009. Disponible en: http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/6.pdf MINISTERIO DEL AMBIENTE. Guía de Ecoeficiencia para Instituciones del Sector Público. Perú, 2012. Disponible en: http://ecoeficiencia.minam.gob.pe/public/docs/9.pdf ROHRSSEN, Pablo. Diseño y Sostenibilidad. 2012. Disponible en: http://diseñoysostenibilidad.com/2012/02/ecoeficiencia. 45 INDICADOR DO NÍVEL DE PROCESSAMENTO DAS REFEIÇÕES: CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE MATUK, Tatiana Tenorio1; UTIKAVA, Natália1; CORADELLO, Mara Adriana1; TORRES, Paula Máximo1; COUTINHO, Sonia Maria Viggiani1 1Faculdade de Saúde Pública E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO Introdução: A substituição de alimentos in natura ou minimamente processados por alimentos com maior extensão de processamento é uma tendência das últimas décadas, especialmente no contexto das grandes cidades. Porém, o processamento de alimentos trouxe diversos impactos sociais e ambientais, como o uso intensivo dos recursos naturais e a perda da diversidade cultural. Objetivo: O presente trabalho propõe o desenvolvimento e a aplicação de um indicador de sustentabilidade para restaurantes de universidades brasileiras. Metodologia: O Indicador do Nível de Processamento das Refeições (INPR) foi desenvolvido com base nas recomendações do novo Guia Alimentar para a População Brasileira. Realizou-se a aplicação do INPR em estudo transversal, conduzido em dois restaurantes da Universidade de São Paulo. Os alimentos foram classificados nas quatro categorias propostas pelo novo guia e a fórmula do INPR foi, então, aplicada. Resultados: Em média, 80% dos alimentos utilizados nos restaurantes no período do estudo foram in natura e minimamente processados, seguido dos ultraprocessados (8.3%), processados (6.6%) e, em menor quantidade, óleos, gorduras, sal e açúcar (5.1%). Apesar disso, os gastos médios com alimentos processados e ultraprocessados foram de 21 a 28% maiores que os gastos com alimentos in natura e minimamente processados. Nos dois restaurantes do estudo, a aplicação do INPR resultou numa proporção adequada entre a utilização das quatro categorias de alimentos. Conclusão: O INPR é um instrumento promissor e simplificado para a redução dos impactos socioambientais e, mesmo, econômicos, em restaurantes universitários. Sugerese a ampliação do uso para outros tipos de restaurantes, institucionais ou comerciais. Palavras-chave: indicadores, processamento de alimentos, restaurantes, sustentabilidade, universidades. Meals Processing Level Indicator: pathway to sustainability ABSTRACT Introduction: The replacement of in nature or minimally processed foods to those more processed is a trend in recent decades, especially in the context of large cities. However, food processing has brought several social and environmental impacts, such as the intensive use of natural resources and the loss of cultural diversity. 46 Objective: This paper proposes the development and implementation of a sustainability indicator to restaurants of Brazilian universities. Methodology: The indicator of Meals Processing Level (INPR - acronym in Portuguese) was developed based on the recommendations of the new Food Guide for the Brazilian Population. The INPR was applied in cross-sectional study, conducted at two restaurants of the University of São Paulo. The foods were classified into four categories proposed by the new guide and the formula of INPR was then applied. Results: On average, 80% of the food used in the restaurants, during the study period, were in nature and minimally processed, followed by ultra-processed (8.3%), processed (6.6%) and to a lesser extent, such as oil, fat, salt and sugar (5.1%). Nevertheless, the average spending on processed and ultra-processed foods was 2128% higher than the expenses on fresh food and minimally processed. In both restaurants, the application of INPR resulted in a proper ratio among the use of the four food categories. Conclusion: The INPR is a promising and simplified tool for reducing environmental impacts and also economic, in university restaurants. Expanded use for other types of restaurants, institutional or commercial, is suggested. Key-words: indicators, food handling, restaurants, sustainability, universities. Introdução O conceito de desenvolvimento sustentável, amplamente propagado a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), trouxe um novo olhar para o desenvolvimento ao advertir a sociedade sobre os impactos negativos de se ter como meta apenas o retorno econômico (Guimarães e Feichas, 2009). Desde então, há uma preocupação crescente com as questões ambientais e sociais em diversos setores da sociedade. No setor alimentício, nota-se uma ampliação no conceito de alimentação saudável para além dos valores nutricionais e higiênico-sanitários, considerando estratégias economicamente viáveis, ambientalmente sustentáveis, socialmente justas e que assegurem a diversidade cultural (Azevedo, 2011). Da produção ao consumo, cada alimento gera impactos ambientais, em graus variados, dependendo da origem (p. ex. local ou importado), tipo (p. ex. in natura ou processado, animal ou vegetal) e técnicas utilizadas (p. ex. consumo de água e energia, utilização de agrotóxicos e empacotamento). Somam-se a estes fatores, os hábitos dos consumidores finais: transporte do alimento até o lar, armazenamento, preparo e descarte final (Preuss, 2009). 1.1 Impactos socioambientais do processamento de alimentos A substituição de alimentos in natura ou minimamente processados por alimentos com maior extensão de processamento é uma tendência das últimas décadas, especialmente no contexto das grandes cidades. Estes produtos ganharam espaço ao atender as necessidades do estilo de vida contemporâneo como tempo e trabalho. Os alimentos poupadores de tempo, em geral, possuem alta densidade energética, excesso de açúcar, sódio e gordura. Em contrapartida, tendem a apresentar naturalmente baixo teor de fibras, vitaminas e minerais. Tais características vêm sendo associadas como fatores de risco para o aumento da obesidade e de outras doenças crônicas não transmissíveis (Garcia, 2003; Teo e Monteiro, 2012). Historicamente, o processamento de alimentos trouxe inúmeros benefícios para a sociedade, como maior disponibilidade, melhor controle higiênico-sanitário e preços mais justos. Por 47 outro lado, riscos e incertezas surgiram com o uso de novas tecnologias, a exemplo dos fertilizantes sintéticos, agrotóxicos, irradiação e transgenia (Azevedo, 2011). Do ponto de vista ambiental, o processamento de alimentos tem relação direta com o uso de recursos naturais (consumo de água e energia, poluição, degradação do solo e perda da biodiversidade). Além disso, o consumo desses alimentos pode favorecer as grandes indústrias em detrimento dos pequenos produtores, assim como a perda da diversidade cultural, enfraquecendo as culturas alimentares tradicionais (Monteiro et al., 2010; Brasil, 2014). Os alimentos ultraprocessados são os mais danosos ao meio ambiente. Isto é facilmente perceptível pelas pilhas de embalagens descartadas diariamente no ambiente; pelo incentivo às monoculturas dependentes de agrotóxicos para garantir a necessidade de óleos, açúcares e outras substâncias comuns na fabricação destes alimentos; pelo uso intensivo de fertilizantes químicos; pela emissão de poluentes e gasto de energia devido aos longos percursos de transporte e pelo consumo excessivo de água nas diversas etapas de produção (Brasil, 2014). À luz desse panorama, Monteiro et al. (2010) propuseram uma classificação dos alimentos baseada em seu teor de processamento, dividindo-os em três grandes grupos: (1) alimentos não processados ou minimamente processados (incluem processamentos mínimos, tais como: higienização, porcionamento, moagem, secagem, pasteurização, fermentação e redução do teor de gordura); (2) substâncias extraídas e purificadas de alimentos do grupo 1, como farinhas, óleos, gorduras, açúcar, sal; e (3) alimentos ultraprocessados, que resultam do processamento de ingredientes dos grupos 1 e 2, por métodos de adição de sal ou açúcar, cozimento, fritura, defumação, conservas, além do uso frequente de conservantes e aditivos sintéticos. A nova versão do Guia Alimentar para a População Brasileira, recém-lançada, propõe de forma inovadora, práticas alimentares que contribuem para a sustentabilidade do sistema alimentar, integrando os aspectos ambientais, culturais, econômicos e sociais. Neste guia, os alimentos foram redistribuídos em quatro categorias, sendo: (a) alimentos in natura ou minimamente processados, (b) óleos, gorduras, sal e açúcar, (c) alimentos processados e (d) alimentos ultraprocessados. Nesta linha, o guia recomenda que a base da alimentação seja composta por alimentos in natura ou minimamente processados, como forma de promoção da saúde e minimização dos impactos sociais, culturais e ambientais ocasionados pelo sistema alimentar (Brasil, 2014). 1.2 Indicadores de sustentabilidade Meadows (1998) simplifica o entendimento sobre os indicadores ao defini-los como “uma parte necessária do fluxo de informações que utilizamos para entender o mundo, tomar decisões e planejar nossas ações”. Ainda segundo a autora, os indicadores podem ser instrumentos de mudança, aprendizado e propaganda, pois a maneira como são aplicados influencia o comportamento de indivíduos e grupos. 48 Os indicadores têm sido amplamente utilizados para avaliar sustentabilidade. A Agenda 21, documento resultante da Conferência Rio-92, enfatizou a importância da construção de indicadores de sustentabilidade para a tomada de decisão ao sugerir que os indicadores comumente utilizados, como o Produto Nacional Bruto (PNB) ou as medições das correntes individuais de contaminação, não eram suficientes para avaliar a interação entre os diversos âmbitos do meio ambiente e do desenvolvimento (Siche et al., 2007). Para Guimarães e Feichas (2009), indicadores de sustentabilidade “são um conjunto de sinais que facilitam a avaliação do progresso de uma determinada região na busca pelo desenvolvimento sustentável, sendo ferramentas cruciais no processo de identificação de problemas, reconhecimento dos mesmos, formulação de políticas, sua implementação e avaliação”. No entanto, mensurar a complexidade dos fenômenos socioambientais não é tarefa fácil. Para tanto, é preciso combinar diversos dados (quantitativos e/ ou qualitativos) e interpretá-los conforme a cultura local, aspectos históricos, dentre outros. Além disso, os ciclos da natureza funcionam em ritmo diferente dos processos econômicos e sociais, tornando ainda mais difícil estabelecer parâmetros e relações de causalidade (Guimarães, 1998 apud Guimarães e Feichas, 2009). Portanto, apesar da indiscutível importância desse tipo de indicador para a sociedade moderna, é importante considerar suas limitações e peculiaridades. A escolha de um bom indicador, ou do conjunto deles, é essencial para que se obtenha a informação adequada sobre o que está sendo avaliado, para então, continuar no mesmo caminho ou traçar novas estratégias para chegar onde se almeja. Considerando os pontos aqui levantados, o presente trabalho tem como objetivo desenvolver e aplicar um indicador de sustentabilidade para restaurantes de universidades brasileiras. 2 Metodologia Trata-se de um estudo transversal, com aspectos descritivos e exploratórios. O processo de pesquisa incluiu o levantamento bibliográfico e a coleta de dados. O universo da pesquisa foi composto pelos Restaurantes Universitários (RUs) do Quadrilátero Saúde-Direito (QSD) da Universidade de São Paulo (USP). Os critérios de exclusão compreenderam os restaurantes comerciais e terceirizados, lanchonetes e cafés localizados no QSD. A coleta de dados foi viabilizada com auxílio da equipe da Divisão de Nutrição e Alimentação da Superintendência de Assistência Social (SAS), que administra os RUs da USP. A equipe disponibilizou listagens com todos os alimentos utilizados pelos RUs no mês de abril de 2014. Cada listagem continha a quantidade e o valor gasto para cada tipo de alimento. 49 As quantidades foram padronizadas para a unidade de medida quilogramas, com o auxílio das cotações de preços disponíveis no site da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), na data de 31/10/2014, para alimentos in natura, e da equipe da SAS para alimentos que sofreram algum processamento, mesmo que mínimo, a fim de se consultar os rótulos dos produtos. Não foi possível utilizar a cotação da CEAGESP de abril, pois a mesma não se encontrava disponível. Para alimentos ou bebidas listados em unidade de volume, a conversão para quilogramas foi feita segundo suas respectivas densidades. Todos os alimentos foram, então, classificados nas quatro categorias sugeridas pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, conforme seu grau de processamento (Quadro 1). Bebidas alcoólicas utilizadas nas preparações culinárias não foram categorizadas, uma vez que a classificação proposta pelos autores não contempla estes produtos. Maiores detalhes quanto à metodologia de classificação dos alimentos podem ser encontrados no guia alimentar (Brasil, 2014), disponível na internet. Quadro 1. Classificação dos alimentos segundo grau de processamento. Grupo Descrição Alimentos in natura ou minimamente processados (ex.: cereais, carnes, feijões, leite, A frutas, raízes, tubérculos, vegetais, ovos, castanhas, sementes, café, chá, temperos secos e farináceos). Substâncias extraídas de alimentos não processados ou minimamente processados e que B são utilizadas como ingredientes culinários na preparação das refeições. (ex.: açúcar, óleos, gorduras vegetais e animais, leite de coco). Produtos processados, ou seja, fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar, C ou outro ingrediente culinário, a um alimento in natura ou minimamente processado (ex.: queijos, pães com levedo, conservas de alimentos, frutas em calda). Produtos ultraprocessados pela indústria e prontos para consumo, que são manufaturados pela combinação de ingredientes dos grupos B e C, com pouca ou nenhuma proporção de alimentos do grupo A (ex.: pães e biscoitos industrializados, doces industrializados, D bebidas industrializadas adoçadas, salsichas, carnes salgadas, curadas ou defumadas, refeições prontas enlatadas, congeladas ou desidratadas, molhos prontos, incluindo maionese, peixes e vegetais enlatados, cereais matinais açucarados). FONTE: elaborada a partir dos dados de Brasil, 2014. Após a categorização dos alimentos, foi possível obter a quantidade total (em quilogramas) de cada grupo, aplicar a fórmula do indicador e analisar os dados, conforme descrito nos resultados deste trabalho. Por fim, realizou-se uma análise comparativa entre os restaurantes estudados. 3 Resultados e discussão 3.1 Descrição do universo de estudo O Quadrilátero Saúde-Direito pertence à Universidade de São Paulo, uma instituição pública, mantida pelo Estado de São Paulo. A USP está entre as principais universidades brasileiras. O QSD é formado pela Faculdade de Saúde Pública (FSP), Escola de Enfermagem (EE), Instituto de Medicina Tropical, Faculdade de Medicina e Faculdade de Direito. 50 O QSD possui dois RUs, um localizado na FSP e outro na Escola de Enfermagem. As demais unidades pertencentes ao QSD não possuem RUs ativos. O RU da FSP recebe aproximadamente 350 comensais no almoço e 200 comensais no jantar, totalizando 550 refeições servidas por dia. O RU da Escola de Enfermagem serve apenas almoço e, das 750 refeições que produz diariamente, 400 são transportadas para a Faculdade de Direito. As refeições são destinadas, principalmente, aos alunos das respectivas unidades pelo valor de R$ 1,90/refeição. O cardápio é composto por duas opções de prato principal (proteína animal e uma alternativa vegetariana), prato base (arroz branco ou integral e feijão), guarnição, duas opções de salada, fruta e/ou sobremesa doce, pão francês e suco concentrado. O planejamento das compras de alimentos e insumos para os RUs do QSD é feito pela Divisão de Alimentação e Nutrição da SAS. O objetivo geral da Divisão de Alimentação e Nutrição é o fornecimento de refeições adequadas considerando-se os aspectos higiênicosanitários e nutricionais, a preço e locais acessíveis à comunidade USP (SAS, 2014). Todas as compras e serviços contratados por uma instituição pública devem ser realizados por meio de licitações, conforme preconizado pela Lei Federal nº 8.666 de junho de 1993. A licitação é um procedimento administrativo formal que visa garantir a isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, podendo ser do tipo: Menor Preço, Melhor Técnica, ou, Menor Preço e Melhor Técnica. Para intensificar o cuidado com o meio ambiente, o governo instituiu o Decreto nº 7.746 de junho de 2012, que estabelece critérios, práticas e diretrizes em busca do desenvolvimento nacional sustentável. Este documento permite que as instituições públicas considerem práticas de sustentabilidade na aquisição de produtos, desde que se respeite o caráter competitivo das licitações. O conceito de Compra Sustentável valoriza o planejamento e a eficiência no uso de recursos e o estímulo de práticas sustentáveis entre os fornecedores, minimizando os impactos sociais, ambientais e econômicos e beneficiando a sociedade em geral (Guedes et al., 2014). Na SAS, todas as compras são realizadas pelo processo de licitação do tipo Pregão ou Menor Preço. Até o momento, o planejamento de compras realizado pelo SAS não considera o Decreto 7.746/2012. 3.2 Desenvolvimento do indicador proposto Após extensa revisão bibliográfica acerca das práticas de sustentabilidade em serviços de alimentação de universidades, indicadores existentes na área e desafios encontrados, desenvolveu-se o Indicador do Nível de Processamento das Refeições (INPR). A fórmula do INPR foi determinada pela expressão: 𝐀 𝐈𝐍𝐏𝐑 = 𝐁+𝐂+𝐃 Equação (1) Onde, 51 A: quantidade total (kg) de alimentos in natura ou minimamente processados. B: quantidade total (kg) de óleos, gorduras, sal e açúcar. C: quantidade total (kg) de alimentos processados. D: quantidade total (kg) de alimentos ultraprocessados. Para a interpretação do INPR, utilizou-se a recomendação de Teo e Monteiro (2012) de que a participação dos alimentos in natura ou minimamente processados supere em, pelo menos, três vezes a participação somada das outras categorias de alimentos. Assim, sugere-se que restaurantes universitários que apresentem INPR igual ou maior que 3 estejam adequados quanto à proporção de alimentos in natura e minimamente processados servidos na unidade, contribuindo para a saúde de seus usuários e minimizando os impactos ambientais e sociais relativos ao sistema alimentar. Por outro lado, um INPR menor que 3 indica que o restaurante está investindo mais em alimentos processados e ultraprocessados do que em alimentos in natura ou minimamente processados, além de possivelmente estar usando mais óleos, gorduras, sal e açúcar no preparo de suas refeições. 3.3 Análise dos dados e aplicação do indicador proposto A Tabela 1 apresenta a quantidade média e o valor médio gasto por unidade de quilograma em cada categoria de alimento, segundo o grau de processamento, pelos restaurantes universitários do QSD da USP. Tabela 1. Quantidade média e o valor médio (em Reais) gasto por categoria de alimento pelos restaurantes universitários do QSD da USP, segundo o grau de processamento. São Paulo. Abril, 2014. Categoria A B C D Total Peso (Kg) 7501.19 477.12 615.04 782.26 9375.62 Quantidade média % 80.0 5.1 6.6 8.3 100 DP (Kg) 1639.42 168.22 144.97 194.44 - Valor (R$) 53576.42 1921.97 5333.98 7196.11 68028.47 Valor médio % 78.8 2.8 7.8 10.6 100 DP (R$) 16038.02 695.19 1907.53 2579.01 - A: alimentos in natura e minimamente processados; B: óleos, gorduras, sal e açúcar; C: alimentos processados; D: alimentos ultraprocessados. Nota-se que, em média, os restaurantes do QSD-USP utilizaram como base de suas refeições, no mês de abril de 2014, os alimentos in natura e minimamente processados (80%). Contudo, o segundo grupo mais utilizado foi o dos alimentos ultraprocessados (8.3%), seguido dos processados (6.6%) e, em menor quantidade, os óleos, gorduras, sal e açúcar (5.1%). Na Figura 1, é possível verificar as quantidades de alimentos utilizadas por cada restaurante do QSD, separadamente. 52 A: alimentos in natura e minimamente processados; B: óleos, gorduras, sal e açúcar; C: alimentos processados; D: alimentos ultraprocessados. Figura 1. Quantidade de alimentos utilizada pelos Restaurantes Universitários (RUs) do Quadrilátero Saúde-Direito da USP, conforme o grau de processamento. São Paulo. Abril, 2014. Observa-se que o RU da Enfermagem utilizou, no mês da pesquisa, uma maior quantidade de alimentos in natura e minimamente processados, processados e ultraprocessados que o RU da FSP, o que pode ser explicado pelo volume maior de refeições produzidas por esta unidade. Já o RU da FSP utilizou maior quantidade de óleos, gorduras, sal e açúcar para o preparo de suas refeições, mesmo oferecendo um menor número de refeições (550 refeições) em comparação ao RU da Enfermagem (750 refeições). Em relação ao valor gasto por unidade de quilograma, verifica-se que, apesar dos restaurantes terem utilizado maior quantidade de alimentos in natura e minimamente processados, o maior gasto foi com alimentos processados e ultraprocessados, conforme constata a Figura 2. 53 A: alimentos in natura e minimamente processados; B: óleos, gorduras, sal e açúcar; C: alimentos processados; D: alimentos ultraprocessados. Figura 2. Valor médio (em Reais) gasto por quilograma de alimento pelos Restaurantes Universitários (RUs) do Quadrilátero Saúde-Direito da USP, conforme o grau de processamento. São Paulo. Abril, 2014 A Figura 2 mostra que a cada 1 Kg de alimento ultraprocessado utilizado pelos restaurantes, somaram-se R$ 9.07 ao custo total. Portanto, o quilograma de um alimento ultraprocessado possui gasto 28% superior ao quilograma do alimento in natura ou minimamente processado (R$ 7.08). O mesmo vale para os alimentos processados, que se apresentaram 21% mais caros que os alimentos in natura. Este fato desperta atenção, uma vez que, além de todos os impactos anteriormente expostos, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e processados são mais onerosos para o orçamento dos restaurantes. A aplicação da fórmula do indicador revelou que os RUs do QSD apresentaram, juntos, um INPR médio de 3.98 ± 0.51 no mês estudado. Como espera-se que o INPR tenha um valor maior ou igual a 3, de forma a representar a adequada proporção entre a utilização dos alimentos in natura ou minimamente processados em relação aos alimentos das outras três categorias, os restaurantes se revelaram satisfatórios nesse sentido. A Figura 3 detalha o INPR por restaurante do QSD. Figura 3. Indicador do Nível de Processamento das Refeições (INPR) dos Restaurantes Universitários (RUs) do Quadrilátero Saúde-Direito da USP. São Paulo. Abril, 2014. Conforme mostra a Figura 3, no mês estudado, o INPR do RU da Enfermagem foi maior que o da FSP. Como a fórmula considera a proporção entre os alimentos comprados de cada categoria em relação ao total de cada restaurante, o número de refeições produzidas, nesse caso, não interfere na interpretação dos resultados. Isso significa que, independente da 54 quantidade de refeições produzidas, a proporção do uso dos alimentos das 4 categorias pelo RU da Escola de Enfermagem foi mais adequada que pelo RU da FSP. As Figuras 4 e 5 mostram a distribuição dos tipos de alimentos in natura e minimamente processados utilizados nos RUs do QSD. Figura 4. Distribuição dos tipos de alimento in natura ou minimamente processados utilizados pelo restaurante universitário da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo. Abril, 2014. Figura 5. Distribuição dos tipos de alimento in natura ou minimamente processados utilizados pelo restaurante universitário da Faculdade de Saúde Pública da USP. São Paulo. Abril, 2014. Ao analisar as Figuras 4 e 5, verifica-se que no RU da Enfermagem, os alimentos consumidos em maior quantidade foram carnes e ovos (28,4% no RU da EE vs. 22,0% no RU da FSP). 55 Em contrapartida, o RU da FSP apresentou uma maior utilização de verduras e legumes (26,3% no RU da EE vs. 32,4% no RU da FSP). Esse tipo de detalhamento é de fundamental importância na análise do INPR. Apesar das carnes e ovos contemplarem a categoria dos alimentos in natura ou minimamente processados, a produção desses alimentos é responsável por prejuízos ambientais relevantes, como maior necessidade de uso da terra, da água e de combustíveis fósseis e maior emissão de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Diversos estudos mostram benefícios da redução do consumo de carnes e do aumento do consumo de frutas e vegetais, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente (Steinfeld et al., 2006; McMichael et al., 2007; Joyce et al., 2012). Segundo a World Health Organization (WHO, 2002), a baixa ingestão de frutas e vegetais está entre os dez principais fatores de risco para a carga global total de doenças em todo o mundo. 3.4 Limitações do INPR Algumas limitações relativas ao indicador proposto foram identificadas durante a sua construção e aplicação. A primeira limitação é o fato de que, em geral, alimentos in natura, pertencentes ao grupo A, apresentam mais partes não comestíveis que normalmente são removidas nos procedimentos culinários (p. ex. cascas, talos e partes machucadas). Por outro lado, alimentos dos demais grupos são quase totalmente aproveitados, por já terem sofrido certos procedimentos durante o processamento pela indústria. Com isso, é muito provável que naturalmente os RUs tenham que comprar uma quantidade maior de alimentos do grupo A, e menor de alimentos dos demais grupos. Este fato pode levar a um enviesamento da interpretação dos resultados, superestimando o consumo real de alimentos in natura e minimamente processados. Nos restaurantes analisados por este trabalho, a maior parte das verduras e legumes foi adquirida na forma minimamente processada, ou seja, previamente higienizadas, picadas e sem as partes não-convencionais, o que reduziu as perdas nesse sentido. Já as frutas foram adquiridas in natura, aumentando as perdas durante o preparo. Outra limitação identificada refere-se ao indicador medir apenas o grau de processamento, não abrangendo o ciclo de vida do alimento. Assim, produtores agropecuários diferentes podem produzir impactos distintos para o mesmo produto se este, por exemplo, for produzido de forma convencional ou orgânica. O mesmo acontece entre indústrias alimentícias, que praticam técnicas diversas, algumas com maior consciência socioambiental, outras não. Através do nosso indicador não é possível distinguir esses impactos. Por isso, é importante considerar outros fatores no momento das compras, como exemplo, preferência por produtores locais e alimentos agroecológicos. Mais limitações podem ser identificadas e, portanto, sugere-se uma revisão contínua do indicador proposto para o aprimoramento de sua sensibilidade e especificidade. Futuros estudos serão conduzidos a fim de validar o INPR e torna-lo um indicador padronizado para a gestão de restaurantes. 4 Conclusão 56 O presente estudo demonstrou o desenvolvimento e a aplicação de um indicador de sustentabilidade para restaurantes universitários. Os resultados evidenciaram que o indicador proposto revela-se um instrumento promissor e simplificado para a redução dos impactos socioambientais nesse tipo de instituição. Sugere-se que a adoção do INPR seja realizada por outros restaurantes universitários, em conjunto com outras medidas de sustentabilidade mencionadas no decorrer desse estudo, a fim de contribuir com o desenvolvimento sustentável das universidades brasileiras. O INPR proposto é um indicador de fácil aplicação em qualquer serviço de alimentação, seja ele institucional ou comercial, uma vez que se tenham os registros de quantidades de alimentos comprados num dado período de tempo. Diante disso, propõe-se que o indicador seja aplicado periodicamente para controlar o grau de processamento das refeições que estão sendo servidas na unidade. Assim, o INPR é uma ferramenta que gera a oportunidade da redução gradual dos alimentos processados e ultraprocessados no cardápio dos restaurantes, favorecendo a promoção da saúde e a preservação do meio ambiente. Além disso, o INPR auxilia na gestão do orçamento dos serviços de alimentação, pois, ao identificar uma proporção inadequada dos grupos de alimentos, os gestores poderão planejar as compras, substituindo o uso de alimentos processados e ultraprocessados por alimentos in natura e minimamente processados, os quais demonstram gerar economia ao serviço. Em concordância a isso, é de fundamental importância que se desenvolva um novo olhar no processo de aquisição de alimentos nos restaurantes universitários. Algumas alternativas foram citadas, como por exemplo, a reformulação das licitações de compras considerando o Decreto nº 7.746/2012, de forma a se priorizar a contratação de serviços que considerem critérios e práticas de sustentabilidade. Referências AZEVEDO, Elaine de. Riscos e controvérsias na construção social do conceito de alimento saudável: o caso da soja. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 45, n. 4, p.781-788, 2011. BRASIL. Lei 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da administração pública e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993 p. 8269. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm> Acesso em: 15 de out. 2014. BRASIL. Decreto n° 7746 de 5 de junho de 2012. Regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal, e institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 06 jun. 2012. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p. CEAGESP – COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO. Cotações [Internet]. Disponível em: <http://www.ceagesp.gov.br/cotacoes/> Acesso em: 31 out. 2014. 57 GARCIA, R.W.D. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana. Revista de Nutrição, Campinas, n. 16, v. 4, p.483-492, out./dez., 2003. GUEDES, D.F. et al. Gerenciamento de alimentos no Campus São Carlos – USP. Relatório final. São Carlos: USP, 2014. GUIMARÃES, Roberto Pereira; FEICHAS, Susana Arcangela Quacchia. Desafios na construção de indicadores de sustentabilidade. Ambiente e Sociedade, Campinas, v. 7, n. 2, p.307-323, 2009. JOYCE, A. et al. Reducing the environmental impact of dietary choice: perspectives from a behavioural and social change approach. Journal of Environmental and Public Health. Australia, p.1-7, 2012. MEADOWS, D. Indicators and information systems for sustainable development. Hartland: Sustainability Institute, 1998. Disponível em: <http:// www.iisd.org/pdf/s_ind_2.pdf> Acesso em: 19 dez. 2014. 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A problemática da água tem levado à substituição do modelo de gestão da oferta pelo modelo de gestão da demanda, forma mais coerente quando se considera o conceito de sustentabilidade. Neste sentido, deve-se aplicar mecanismos de otimização em busca do menor consumo possível de água, minimizando perdas e/ou o uso excessivo e maximizando a eficiência do uso, mantendo-se, em quantidade e em qualidade, as atividades consumidoras. Para tanto, o uso de indicadores como parâmetros para medir a ocorrência de eventos que se alteram ao longo do tempo em uma determinada sociedade se configura como uma importante ferramenta, principalmente pelo fato de poderem ser utilizados pelos tomadores de decisões, sejam agentes públicos, privados ou por diferentes setores, seja de atividade de gestão, pesquisa, ensino, serviços, entre outros. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo traçar o perfil de consumo de água para o Quadrilátero Saúde e Direito da Universidade de São Paulo (QSDUSP) através da aplicação do indicador de consumo de água per capita e a sua relação com o uso sustentável da água. Palavras-chave: Água, sustentabilidade, indicador, campi universitários Water Consumption Indicator for University Campuses Abstract: Water scarcity is affecting the population worldwide. Thus, water management is configured as a major challenge faced by contemporary society. The issue of water has led to the replacement of the supply management model for demand management model, more consistent with the concept of sustainability. In this regard, an optmization process should be applied to find the smallest possible consumption of water, thus minimizing losses and / or waste of water and maximizing the efficiency of use, keeping the consumer activities in quantity and quality. Therefore, the use of indicators as parameters to measure the occurrence of events that change over time in a given society is shaped as an important tool, especially because they can be used by decision-makers, both public and private agents or by different sectors, whether management activity, research, education, services, among others. 59 Thus, this study aims to outline the water consumption profile of the Quad Health and Law, University of São Paulo(QSD-USP), by applying the per capita water consumption indicator and its relation to the sustainable use of water. Keywords: Water, sustainability, indicator, university campuses INTRODUÇÃO O conceito do ciclo hidrológico pode equivocadamente sustentar a ideia de que a água é um recurso natural ilimitado, dado que seu volume total estimado no planeta é da ordem de 1,4 bilhões km3. Contudo, é importante lembrar que, deste montante, apenas 2,5% é de água doce, dos quais somente 0,3% estão disponíveis para consumo (em lagos, rios e lençóis subterrâneos pouco profundos), uma vez que o restante está majoritariamente nas calotas polares (UNESCO, 1999 apud Silva, 2004). Muito embora o Brasil abrigue uma das maiores reservas de água doce do mundo, que conta com cerca de 12% da água potável do planeta (Thame, 2000 apud Silva, 2004), o país enfrenta a problemática da disponibilidade hídrica, já que a distribuição da água nem sempre coincide com a distribuição populacional no território, existindo uma maior pressão sobre os mananciais em grandes centros urbanos, além de questões de governança. Ocorre também a diminuição da eficiência do ciclo hidrológico, por conta da perda da qualidade da água decorrente da descarga de poluentes nos rios, reservatórios e no solo, oriundos da própria ocupação e atividade humana. A escassez de água no planeta constitui-se grave problema decorrente da urbanização intensa e desordenada, diversidade de usos da água, impermeabilização e erosão do solo, ocupação de áreas de mananciais e uso inadequado (Silva, 2004). Apesar de o Brasil possuir disponibilidade hídrica de 35.000 m3/habitante/ano, considerada pela Organização das Nações Unidas – ONU como abundante – acima de 20.000 m3/habitante/ano; a Região Metropolitana de São Paulo, localizada na Bacia do Alto Tietê, apresenta disponibilidade hídrica de 200 m3/habitante/ano, valor muito inferior ao que é estabelecido também pela ONU como crítico – menor que 1.500 m3/habitante/ano, o que ajuda a entender o grave problema de escassez de água enfrentado na região (SABESP, 2014). De acordo com Silva (2004), tradicionalmente adota-se o modelo baseado na gestão da oferta da água, ou seja, ante a escassez de água por conta da elevada demanda e da perda da qualidade das águas dos mananciais, promove-se a captação em corpos d’água cada vez mais distantes. Porém, questões econômicas, ambientais e políticas levaram à quebra deste paradigma, no sentido de que tal modelo não se mostra adequado para o contexto atual. Neste sentido, o modelo tradicional tem sido substituído pelo modelo baseado na gestão da demanda da água, que é mais coerente com a ideia de desenvolvimento sustentável indicado na Agenda 21 (CIB, 2000 apud Tamaki, 2003). O uso racional da água enquadra-se como uma cultura multidisciplinar voltada para a gestão da demanda da água, envolvendo diversos atores: sociedade, comunidade técnica e científica, poder público e setor privado. Trata-se de uma 60 otimização em busca do menor consumo possível de água, minimizando perdas e/ou uso excessivo e maximizando a eficiência do uso. Tal medida implica em inúmeros benefícios, dentre os quais se destacam a redução do impacto das estiagens sobre o abastecimento público e a disponibilização de água para um maior número de usuários. Importante destacar que o consumo per capita de água no Estado de São Paulo no ano de 2012 foi de 192,6 litros/habitante/dia (Brasil, 2014), quando a OMS – Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de 110 litros/habitante/dia (Papa, 2014), fato que reforça a necessidade da ampliação das ações voltadas para a gestão da demanda da água. Neste sentido, a implementação de ações para o uso racional da água depende de dados e informações monitoradas e registradas periodicamente, pois subsidiará o desenvolvimento de indicadores, uma ferramenta para a tomada de decisão. A importância do uso de indicadores Indicadores são parâmetros essenciais para a tomada de decisão, uma vez que medem tendências e fatos que podem alterar-se ao longo do tempo em uma determinada sociedade. Meadows (1998) discorre sobre a importância dos indicadores, afirmando que eles são parte fundamental do fluxo das informações que usamos para entender o mundo, tomar decisões e planejar nossas ações. Diz ainda que os indicadores surgem de valores (medimos aquilo que cuidamos) e que também criam valores (cuidamos daquilo que medimos). Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, um indicador deve ser entendido como um parâmetro, ou valor derivado de parâmetros que apontam e fornecem informações sobre o estado de um fenômeno, com uma extensão significativa (OECD, 1993). Caldas e Kayano (2002, p.2) definem indicadores como a descrição de determinado aspecto da realidade e/ou as relações que a compõem através de números, que podem ser agregados de forma ponderada em índices. Considerando a importância dos indicadores e, principalmente, o fato de poderem ser utilizados pelos tomadores de decisões, sejam públicos ou privados, há uma série de questões que precisam ser consideradas quando se constroem propostas de indicadores, entre elas: Objetividade do que se pretende aferir; Disponibilidade das informações a serem avaliadas; Qualidade e exatidão na produção dos elementos que comporão os indicadores estudados; Cautela na interpretação das informações disponíveis levando em consideração a multiplicidade de fontes obtidas; Tempo, custo, viabilidade da execução; Acesso às tecnologias aplicadas; Período de avaliação. 61 Desta forma, adotando técnicas para avaliação e ponderação dos valores, podem ser criados cenários e índices que resumam um conjunto de variáveis a serem medidas, embasados de forma mais robusta e adequada a seus fins. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo traçar o perfil de consumo de água do Quadrilátero Saúde e Direito, da Universidade de São Paulo (QSD-USP), através da aplicação do indicador denominado “consumo de água per capita”, e estabelecer a sua relação com uso sustentável da água na universidade. METODOLOGIA Fundamenta-se a pesquisa em levantamento bibliográfico e documental, contemplando publicações científicas referentes ao tema, junto a bibliotecas, portal de periódicos, bancos de dados internos e externos ao QSD-USP, com finalidade de constituir uma base teórica e de dados, tanto para escolha do indicador a ser usado, como para análise dos resultados. Para isso também foram realizadas visitas ao local de estudo, para obtenção de informações mais detalhadas sobre o consumo de água e a população do QSD-USP. Caracterização da Área de Estudo A Universidade de São Paulo – USP possui estrutura institucional e população que se equipara a uma cidade de pequena dimensão. São 82.000 estudantes de graduação e pósgraduação, além de servidores docentes e não docentes distribuídos em 7 campi, sendo um campus na Capital (São Paulo) e 06 campi no interior (Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos) As Unidades do QSD-USP fazem parte do Campus Capital, mas localizam-se fora da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, possuindo autonomia administrativa e decisória, com uma prefeitura própria. É composto por 5 unidades da USP: Faculdade de Saúde Pública (FSP), Faculdade de Medicina (FM), Escola de Enfermagem (EE), Instituto de Medicina Tropical (IMT) e Faculdade de Direito (FD), distribuídos espacialmente em dois blocos. 62 Figura 1 Figura 2 Figura 1: Área ocupada pelas Faculdades de Medicina, Enfermagem, Saúde Pública e pelo Instituto de Medicina Tropical Figura 2: Área ocupada pela Faculdade de Direito, integrante do QSD - Quadrilátero Saúde e Direito Fonte: Google Maps 2014, adaptado pelos autores Fundada em 1827, a Faculdade de Direito Largo São Francisco é a primeira Faculdade de São Paulo e, consequentemente, a unidade mais antiga da USP, precedendo-a por 107 anos. No começo do século XX fundaram-se as Faculdades de Medicina (1912) e de Saúde Pública (1918). Esses três prédios são parte da arquitetura histórica do Estado de São Paulo e devem, como tal, ser preservados. Pelos anos de existência as construções apresentam dificuldades logísticas relacionadas à manutenção e possibilidades de modernização de equipamentos e estruturas. Em meados do século XX foram construídas a Escola de Enfermagem (1942) e o Instituto de Medicina Tropical (1959). Os principais números de população das unidades do QSD-USP podem ser vistos na Tabela 1. Tabela 1: Número de alunos e servidores das unidades do QSD-USP Nome Grad. Pós-Grad. Docentes Servidores Totais Escola de Enfermagem 412 422 82 139 1055 Faculdade de Direito 2466 1696 158 174 4494 Faculdade de Medicina 1427 2285 380 586 4678 Instituto de Medicina Tropical 0 76 3 72 151 Faculdade de Saúde Pública 474 728 94 420 1716 Totais 4779 5207 717 1391 12094 Fonte: Adaptado do Anuário Estatístico USP – 2013 e do DataSUS Proposta de Indicador para água 63 Para se calcular o consumo de água, aplicou-se uma equação baseada no consumo per capita, definido como o quociente entre o volume de água consumido e o número de agentes consumidores que respondem por este consumo (SILVA, 2004), conforme fórmula a seguir: 𝑉(𝑇) .𝐹𝐶 𝐶𝑃 = 𝑃.𝑁𝐷 Equação (1) (𝑇) Onde: CP: consumo de água per capita; V(T): volume de água consumido no período de tempo T; FC: fator de conversão para transformar a unidade de medida da entrada na unidade de medida pretendida na saída (ex.: de m3 para L, FC é igual a 1000); P: quantidade de agentes consumidores responsáveis pelo consumo (população); ND(T): número de dias contidos no período de consumo (T). Logo, a variável mais importante nessa equação é P (população), que deve ser composta pela parcela mais relevante dos agentes de consumo da edificação que se quer avaliar. Podem-se utilizar abordagens diferentes para o estabelecimento desses agentes de consumo, como “população fixa” ou “população flutuante”. Conforme OLIVEIRA (1999) apud SILVA (2004) suas definições são: População fixa – aquela que é usuária do sistema com frequência e permanência contínua, portanto sem a consideração dos usuários que estão em férias ou afastados; População flutuante – aquela que utiliza o sistema eventualmente, sem frequência ou horários fixos. De forma geral, adota-se a “população fixa” para calcular o consumo per capita, não considerando a “população flutuante”. Adicionalmente à determinação dos consumos per capita de uma edificação, faz-se necessária a identificação de sua tipologia de uso, pois, dependendo de sua utilização, dos processos que são realizados em cada unidade, o consumo de água poderá ser impactado de forma a não permitir a comparação direta entre unidades diferentes. Desta maneira, o consumo per capita pode variar em função das tipologias de uso da água nas unidades. As principais tipologias de uso aplicáveis a uma universidade, de acordo com Silva (2004), são as seguintes: Humano (10 a 20 L/dia/pessoa); Misto (cerca de 50 L/dia/pessoa); Laboratorial (>200 L/dia/pessoa). Os dados apresentados permitem observar que, mesmo realizando a classificação das unidades consumidoras em relação às suas tipologias, a utilização da população fixa para calcular o consumo per capita pode acabar por igualar consumidores que não são iguais, principalmente quando a permanência de certos grupos de usuários varia muito em relação a outros. É o caso típico de uma instituição cujos alunos têm dedicação integral, enquanto outra tem grupos de alunos em turnos alternados. 64 Uma forma de evitar esse problema é a adoção do conceito de “população equivalente”, ao invés de “população fixa”. A população equivalente seria aquela composta por pessoas equivalentes que, na definição de Nakagawa (2009), é o usuário integral que passa 8 horas/dia, durante 5 dias/semana em cada unidade. Baseado nesse conceito, cada grupo de agentes consumidores passa a ser ponderado em relação à sua permanência, de forma que todos são reescritos em termos de pessoa equivalente. A determinação do número de pessoas equivalentes é mais trabalhosa, pois necessita da estratificação dos grupos de agentes consumidores por tipo e por permanência, de forma que seja possível atribuir pesos a eles e calcular a quantidade de pessoas equivalentes para cada um. A Tabela 2, a seguir, mostra exemplo do cálculo para um estudo realizado em uma unidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde os pesos atribuídos referem-se à permanência em relação ao valor base (8 horas/dia, 5 dias/semana). Tabela 2: Cálculo da população equivalente para uma unidade da UFBA Quantidade Peso Total % Estudantes de Graduação 828 0,75 621 66,10 Estudantes de Pós-Graduação 55 0,28 15 1,6 Técnicos administrativos 30 horas 28 0,75 21 2,2 Técnicos administrativos 30 horas 54 1,00 54 5,7 Portaria/segurança 5 1,50 7,5 0,8 Limpeza 9 1,00 9 1,0 Terceirizados - 1,00 - 0,0 Professores 40 horas 74 1,00 74 7,9 Professores 40 horas 46 0,50 23 2,4 Funcionários cantina 7 1,00 7 0,7 Outros 4 1,00 4 0,4 Atendimento diário – 3h/dia 162 0,30 61 6,5 Estágios/pesquisas 85 0,50 43 4,5 939 100,0 TOTAL Fonte: NAKAGAWA, 2009 Considerando apenas os alunos de graduação, que geralmente constituem o grupo mais populoso, ainda é possível chegar a números mais realistas, considerando, por exemplo, que nem todos os alunos matriculados têm aulas em prédio específico durante todo o curso, mas 65 muitas vezes têm aulas ministradas em outras unidades, além da diferença de permanência, conforme já citado acima. Isto posto, Nakagawa (2009) indica que a obtenção da população equivalente para o grupo de alunos de graduação deve considerar, para uma determinada unidade, alunos por horário e por dia da semana, como o exemplo apresentado na tabela 3. Tabela 3: População equivalente considerando a distribuição de alunos por dia da semana e horário 7 às 9 9 às 11 11às 13 13 às 15 15 às 17 17 às 19 19 às 21 Total alunos PE/dia Segunda 86 157 52 64 170 - - 529 132 Terça 129 222 201 131 111 28 - 822 206 Quarta 90 162 107 52 175 81 - 667 167 Quinta 131 133 82 129 124 19 - 618 155 Sexta 19 54 47 12 25 - - 157 39 Sábado - - - - - - - HORAS/DIA 2 2 2 2 2 2 2 POPULAÇÃO EQUIVALENTE - alunos 140 Fonte: NAKAGAWA, 2009 Dado a dificuldade de obtenção dos dados para a determinação da população equivalente, optamos por utilizar um indicador passível de mensuração, qual seja, o consumo de água per capita com população fixa. RESULTADOS Abastecimento e consumo de água no QSD–USP Segundo informações obtidas da Prefeitura do QSD-USP, o abastecimento de água é realizado através das 12 ligações de água. São 4 ligações da Faculdade de Direito, 3 ligações da Faculdade de Medicina, 2 ligações da Faculdade de Saúde Pública, 2 ligações do Instituto de Medicina Tropical e 1 ligação da Escola de Enfermagem. O próximo passo seria a identificação dos prédios abastecidos por suas respectivas ligações, e que tipos de processos de consumo de água se desenvolvem em cada estrutura, mas não foi possível a obtenção dessas informações dentro do tempo de realização desse trabalho, em face dessas informações ficarem sob responsabilidade de outra unidade, fora do QSD-USP. 66 Foi adotado, então, o consumo somado das ligações de água de cada unidade (para aquelas que possuem mais de uma ligação), considerando como população consumidora os números indicados no Anuário Estatístico 2013 da USP, constantes na tabela 1. Com os dados das contas de água, foi possível requerer junto à concessionária de distribuição de água (SABESP) os registros relativos aos consumos compreendidos entre janeiro de 2001 e setembro de 2014. Através da soma do volume de água consumido nos 12 meses de cada ano, para as 12 contas identificadas, foi possível determinar o perfil de consumo anual do QSD-USP (Gráfico 1) Evolução do consumo total anual do QSD (2001/2013) 130000 122797 116522 m3/ano 120000 110000 108523 118255 98878 100000 90000 91799 88605 102647 101441 92423 93402 90749 80000 84753 70000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Consumo total anual Gráfico 1: Consumo total anual do QSD-USP de 2001 a 2013 Fonte: Autores. A linha tracejada em vermelho mostra o ano da implantação de ações vinculadas a um Programa de Uso Racional da Água – PURA da USP, mostrando um resultado consistente com intervenções de uso racional. É possível perceber que há momentos em que o consumo volta a subir, mas, de forma geral, a tendência de queda se manteve ao longo dos anos, tendo 2013 como o ano de menor consumo total: 84.753 m3. Considerando o ano de 2013, pela facilidade em obter os dados de população, o consumo distribuído por unidade do QSD-USP é mostrado no gráfico 2. 67 Consumo total por unidade em 2013 m3/ano 50000 40000 30000 20000 10000 0 EE Consumo total por 7853 unidade FD FM FSP 12844 43778 13959 IMT 6319 Gráfico 2: Consumo total de 2013 por unidade do QSD-USP Fonte: Autores A Faculdade de Medicina desponta como maior consumidor individual do QSD-USP, com mais da metade (52%) do consumo total, enquanto sua população representa 39% da população fixa total. A Faculdade de Direito, por sua vez, apresenta comportamento inverso, sendo responsável por apenas 15% do consumo, mesmo tendo 36% da população fixa total. Não se compara, no entanto, ao consumo do Instituto de Medicina Tropical que, mesmo possuindo apenas 1% da população total, foi responsável por 7% do consumo do ano. Essas discrepâncias certamente estão relacionadas à tipologia de uso de água de cada uma dessas unidades, como veremos mais à frente. Outra questão importante é relativa à variação do consumo das unidades. Quais seriam as causas dessas variações? São cíclicas? Ou aleatórias? Silva (2004) considera que as principais causas de variação no consumo são: Sazonalidade da ocupação em função da distribuição de férias e feriados; Variação no número de vagas nos cursos; Ocorrência de eventos como congressos; Mudança no horário de aula ou expediente; Sazonalidade do uso da água em função do clima; Alteração no uso da água por mudança de atividades desenvolvidas; Reforma, fechamento, ocupação, realocação de edificações, o que implica em alteração na população e no número de equipamentos; Ocorrência de eventos periódicos como enchimento de piscinas, limpeza de caixas d’água, troca de água de tanques de experimentos; Instalação ou desativação de equipamentos de uso intermitente em laboratórios ou outros, como ar-condicionado; Ocorrência de eliminação de vazamentos (em redes, reservatórios ou equipamentos); Alterações da pressão na rede, com reflexos em vazamentos preexistentes e pontos finais de consumo. 68 Considerando a soma dos volumes consumidos pelas unidades do QSD-USP para cada mês de 2013, obtivemos o perfil apresentado no gráfico 3. Perfil de consumo mensal QSD (2013) 9500 8884 m3/mês 8500 7996 8017 7722 7347 7500 7638 7033 6500 6517 6379 6430 5500 4500 5728 5062 jan fev mar abr mai jun Consumo Mensal jul ago set out nov dez Média Gráfico 3: Consumo mensal das unidades do QSD-USP em 2013 Fonte: Autores É possível perceber que, na variação do consumo, há influência direta do calendário letivo, de forma que o consumo nos meses de férias escolares é substancialmente menor que nos demais. Considerando a influência do clima, entretanto, o comportamento é o oposto do esperado, onde o consumo nos meses de março e abril (outono) deveria ser maior que o consumo em agosto e setembro (final de inverno e início da primavera), Aplicação de indicadores de consumo de água per capita no QSD-USP Considerando que no ano de 2013 o consumo de água total do QSD-USP foi de 84.753 m3, que a população consumidora total (população fixa) era de 12.094 pessoas, e que o ano teve 256 dias úteis, aplicando a fórmula para cálculo do consumo per capita apresentada anteriormente, temos: 84753.1000 12094.256 84753000 𝐶𝑃 = 3096064 𝐶𝑃 = 27,37 𝐿/𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎/𝑑𝑖𝑎 𝐶𝑃 = Realizando o mesmo cálculo para cada uma das unidades do QSD-USP, obtivemos os consumos per capita mostrados no gráfico 4. 69 Consumo per capita do QSD-USP L/pessoa/dia 200,00 150,00 100,00 50,00 0,00 Consumo por Unidade EE 29,08 FD 11,16 FM 36,56 FSP 31,78 IMT 163,47 Gráfico 4: Consumo per capita, base 2013, por unidade do QSD-USP Fonte: Autores Os resultados obtidos para o consumo per capita das unidades do QSD-USP permitem agrupá-los em três perfis de consumo distintos: baixo (FD); médio (EE, FSP e FM) e alto (IMT). Como vimos anteriormente, há tipologias de consumo diferentes, associadas aos processos de consumo de água característicos de cada edifício e de cada instituição. De acordo com as tipologias de consumo estabelecidas por Silva (2004), podemos classificar as unidades do QSD-USP da seguinte forma: Faculdade de Direito (11,16 L/pessoa/dia): uso humano; Escola de Enfermagem (29,08 L/pessoa/dia); Faculdade de Saúde Pública (31,78 L/pessoa/dia) e Faculdade de Medicina (36,56 L/pessoa/dia): uso misto; Instituto de Medicina Tropical (163,47 L/pessoa/dia): uso laboratorial. Os resultados e sua respectiva classificação segundo as tipologias de uso foram absolutamente consistentes com as características conhecidas de cada uma dessas instituições. Há considerações a se fazer em relação aos resultados encontrados, seja comparando as unidades do QSD-USP com as unidades da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, seja na comparação apenas entre as unidades do QSD-USP, como veremos a seguir. O consumo per capita de 27,37 L/pessoa/dia encontrado para o QSD-USP, apesar de menor que os 70 L/pessoa/dia da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, precisa ser relativizado em face da menor quantidade de laboratórios e da inexistência de outras tipologias grandes consumidoras de água no QSD-USP; A taxa de permanência dos alunos é diferente entre as unidades do QSDUSP, não sendo possível a comparação direta, mesmo considerando a tipologia de consumo; 70 A caracterização precisa das ligações de água e de sua área de abrangência é fundamental para complementar e balizar os dados calculados; O montante das contas de água do QSD-USP em 2013 alcançou cerca de R$ 2 milhões. CONCLUSÕES O traçado do perfil de consumo de água no Quadrilátero Saúde e Direito da Universidade de São Paulo (QSD-USP), através da aplicação do indicador “consumo de água per capita” possibilita que algumas ações possam ser realizadas para busca do uso sustentável desse bem. Muito embora o indicador contribua significativamente para obtenção de dados estatísticos em relação à variação do consumo de água num determinado período, sugere-se também a adoção do indicador de consumo per capita por pessoa equivalente, uma vez que este indicador permite a redução das variáveis mais relevantes a termos comuns, superando a questão das diferenças entre as taxas de permanência dos alunos das diferentes unidades. Por fim, observou-se que é primordial que os dados utilizados na elaboração de indicadores estejam sistematizados e sejam de fácil acesso, possibilitando, desta forma, uma tomada de decisão mais fundamentada e, portanto, mais efetiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2012. Brasília: SNSA/MCIDADES, 2014. 164 p.: Il CALDAS, E. L.; KAYANO, J. INDICADORES PARA O DIÁLOGO, 2002. 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Programas permanentes de uso racional da água em campi universitários: o Programa de Uso Racional da Água da Universidade de São Paulo. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-12042005-102420/>. Acesso em: 27 out 2014. TAMAKI, H. O. A medição setorizada como instrumento de gestão da demanda de água em sistemas prediais - estudo de caso: Programa de Uso Racional da Água da Universidade de São Paulo. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde12042005-113615/>. Acesso em: 27 out 2014. [USP] – Universidade de São Paulo. Anuário Estatístico <https://uspdigital.usp.br/anuario/AnuarioControle>. Acesso em: 10 set 2014. 2013. Disponível em: 72 DESARROLLO DE UN SISTEMA INTEGRAL DE GESTIÓN DE RESIDUOS PELIGROSOS: CASO DE ESTUDIO DE LA UNIVERSIDAD DE CONCEPCIÓN Daniela Concha1, Carla Pérez1, Carolina Llanos1, Fernando Márquez2 1 Unidad de Desarrollo Tecnológico, Universidad de Concepción, Coronel, Chile. Departamento de Ingeniería Química, Facultad de Ingeniería, Universidad de Concepción, Concepción, Chile. [email protected] (D. Concha), [email protected] (C. Pérez), [email protected] (C. Llanos), [email protected] (F. Márquez) 2 Resumen Dentro de los esfuerzos de las universidades para promover la sustentabilidad de sus espacios, se encuentra el monitoreo de diversos aspectos ambientales, tales como la generación de residuos sólidos, residuos peligrosos, emisiones atmosféricas, entre otros. Este monitoreo se realiza principalmente a través de sistemas de gestión ambiental, donde la gestión de residuos peligrosos es un componente fundamental. Varios desafíos se asocian a la gestión de residuos peligrosos en el contexto universitario. Este trabajo los analiza a través de un caso de estudio de la Universidad de Concepción, en el cual se revelan los factores clave y aspectos críticos que han permitido el desarrollo de un programa de gestión de residuos peligrosos. Se utilizaron entrevistas, una encuesta, y documentos de archivo como fuentes múltiples de evidencia para comprender las cuatro etapas de desarrollo del programa: fase piloto, implementación, revisión y actualización, y mantención. La progresión de este proceso fue facilitada por tres factores principales: (i) apoyo institucional y económico, (ii) comunicación y capacitación continua, y (iii) el trabajo colaborativo entre el personal del programa y los coordinadores y asistentes de cada facultad y centro. La interacción de estos tres factores le permitió al programa alcanzar los tres elementos reportados en la literatura para un sistema integral de gestión de residuos sólidos: (i) infraestructura apropiada, (ii) servicio confiable, y (iii) estrategias para cambios de actitud. Palabras clave: campus sustentable, gestión de residuos peligrosos, residuos peligrosos. Development of an integral management system for hazardous waste: case study of the University of Concepción ABSTRACT Among the efforts made by universities to promote sustainability in their campus are the monitoring of different environmental aspects such as solid waste and hazardous waste generation, emissions into the air and water, among others. This monitoring is commonly made through environmental management systems. Hazardous waste management (HWM) programs are a fundamental component of such environmental management systems. There are several challenges associated with HWM in an educational setting. This paper analyzes them through a case study of the University of Concepción, by unraveling key factors and critical aspects that have allowed the development of this program. Interviews, a survey, and documents were used as multiple sources of evidence for the existence of its four development phases: pilot phase, implementation, revision and update, and maintenance. The progression 73 of this process was facilitated by three main factors: (i) institutional and economic support, (ii) continuous training and communication, and (iii) collaborative work among the program’s staff and faculty coordinators and their assistants. The interaction of these three factors allowed the program to achieve the three reported elements for a comprehensive solid waste management program: (i) appropriate infrastructure, (ii) reliable service, and (iii) behavior change strategies. Keywords: hazardous waste; hazardous waste management; sustainable campus. Introducción La gestión de residuos peligrosos es un aspecto clave a considerar para el desarrollo sustentable debido a su impacto directo en la salud de las personas y en los ecosistemas. Una gestión responsable de residuos peligrosos incluye la prevención de la generación y minimización, reutilización, reciclaje, tratamiento y recuperación, almacenamiento, transporte y disposición final de residuos peligrosos (UNCED, 1992). Las universidades comprometidas con la sustentabilidad de sus actividades han incorporado la gestión de residuos peligrosos usualmente a través de sistemas de gestión ambiental (Clarke y Kouri, 2009). Las universidades tienen un rol significativo en la sociedad debido a que educan a las nuevas generaciones de ciudadanos responsables y tomadores de decisión (Chambers, 2009). Además, su infraestructura y operaciones son comparables a las de una ciudad de tamaño bajo-medio, impactando al medio ambiente de manera directa e indirecta (Alshuwaikhat y Abubakar, 2008). Por esta razón, las universidades están en constante presión en ser un punto de referencia en cuanto a sustentabilidad (Disterheft, 2012). Tomando este desafío, es que algunas universidades han implementado sistemas de gestión ambiental (SGA) para poder operativizar su compromiso hacia la sustentabilidad y responsabilidad ambiental (Clarke y Kouri, 2009). En este contexto, la gestión de residuos peligrosos es un componente esencial de los SGA en las universidades. La gestión de los residuos peligrosos en las universidades es un proceso complejo en comparación a la industria, pues se generan una gran cantidad de residuos peligrosos en pequeñas cantidades, hay una alta rotación de estudiantes y personal de laboratorio (Izzo, 2000), y la organización descentralizada de las universidades hace que los esfuerzos en lograr credibilidad y autoridad ante estudiantes, personal y profesores, deban ser aún mayores (Izzo, 2000; Mooney, 2004). Por estas razones, las universidades se han enfocado en los elementos menos importantes de la gestión de residuos peligrosos (i.e., recolección y transporte), y desafortunadamente, las actividades y estrategias en la cima de la jerarquía de los residuos (i.e., reducción de la generación) usualmente no son una prioridad (Mooney, 2004; Hanna, 2013). Con esta cantidad de desafíos, es usualmente difícil comprender los aspectos claves de una adecuada gestión de residuos peligrosos en el contexto universitario. Esta investigación reporta los resultados de un caso de estudio de 10 años de un sistema de gestión de residuos peligrosos en la Universidad de Concepción, identificando los factores clave y pasos críticos en su desarrollo. En primer lugar, se entrega información general sobre el programa de gestión, seguido de la metodología usada. Los resultados son presentados de manera de describir el desarrollo del sistema, junto con resultados sobre generación de 74 residuos peligrosos y estrategias de minimización. Luego, se identifican los principales obstáculos y factores clave que han contribuido al desarrollo del sistema. Finalmente, se discute sobre los desafíos y futuras direcciones del sistema. Contexto El programa de gestión de residuos peligrosos de la Universidad de Concepción (de ahora en adelante “el programa”) fue establecido el año 2004 para cumplir con la legislación de manejo de residuos peligrosos. Durante los primeros años el enfoque del programa fue el manejo de residuos químicos. En los años posteriores se incluyeron residuos biológicos (infecciosos y no-infecciosos o bio-inertes), radiactivos, electrónicos (contaminados y no contaminados con sustancias peligrosas), peligrosos de oficina (pilas, baterías, cartridge y tóner), y además residuos inertes propios de la actividad de laboratorios como guantes, puntas de pipeta y vidrios. El programa emplea a 9 personas y es coordinado por un profesor de la Facultad de Ingeniería Química. Además, cada facultad o centro que genera residuos peligrosos cuenta con cuerpo de coordinación, compuesto de un coordinador y un ayudante, que facilita la comunicación entre el programa y los generadores de residuos en cada facultad o centro (Figura 1). La principal diferencia entre este programa y otros alrededor del mundo, es que la gestión completa de los residuos hasta su disposición final es hecha con medios propios de la Universidad, sin externalizar ningún tipo de servicio. Vicerrectoría de Asuntos Económ. y Admin. DECANOS / DIRECTORES COORDINADOR INSTITUCIONAL COORDINADOR Y AYUDANTE JEFE DE PROYECTO Laboratorios (Generadores) JEFE UNIDAD RESIDUOS PELIGROSOS JEFE UNIDAD SUSTANCIAS PELIGROSAS JEFE UNIDAD INDICADORES AMBIENTALES JEFE DE OPERACIONES Y EMERGENCIA Personal Apoyo Personal Apoyo Terreno Personal Apoyo Personal Apoyo Ingeniero de Proyecto (1) Operadores (4) Ingenieros de Proyecto (4) Ingeniero de Proyecto (1) Figura 1. Estructura organizacional del programa de gestión de residuos peligrosos de la Universidad de Concepción. Metodología Los métodos de recolección de datos usados en esta investigación se basan en una exploración de archivos, reportes de la Universidad públicos y privados, sitios web y literatura. El caso de estudio se complementó con un set de entrevistas y una encuesta. Un total de 15 personas fueron entrevistadas, incluyendo a antiguos jefes de gestión, coordinadores y ayudantes. Se realizaron entrevistas de preguntas abiertas que buscaron conocer las impresiones y puntos de vista sobre el progreso del programa, sus logros y deficiencias. El criterio para seleccionar a 75 los entrevistados fue el número de años involucrados en el programa, y también su interés y experiencia directa en él. Las entrevistas fueron transcritas y codificadas en temas. La encuesta fue específica para los jefes o encargados de laboratorio y fue completada por 122 personas durante auditorías a los laboratorios. Las preguntas fueron diseñadas de manera de obtener la evaluación del servicio entregado por el programa, su conocimiento sobre la gestión de residuos peligrosos, y sus necesidades de capacitación. Las respuestas fueron indicadas por medio de casillas con espacio para comentarios escritos. Todas las preferencias fueron luego listadas y analizadas de acuerdo a su frecuencia de distribución. Resultados 1. Caso de estudio: Programa de gestión de residuos peligrosos en la UdeC El programa se ha desarrollado en los últimos 10 años en 3 etapas distinguibles (Figura 2), más una primera etapa que no está conectada temporalmente a las siguientes tres, pero que representó el punto de partida para el desarrollo del programa. La Fase II fue intensamente dedicada a la implementación del programa en la universidad completa y la mayoría de las actividades se desarrollaron en esta etapa. Las fases subsecuentes se caracterizan por la revisión, actualización y ampliación del alcance e infraestructura del programa. Fase I: Piloto 1997-1998 • Sistema preliminar de recolección de residuos peligrosos • Retiro de residuos históricos Fase II: Implementación Fase III: Revisión y Actualización Fase IV: Mantención 2004-2008 2009-2010 2011-2014 • Elaboración de un Plan de Manejo • Infraestructura para transporte y acopio temporal de residuos peligrosos • Capacitación intensiva a decanos, profesores y personal • Auditoría de manejo de residuos peligrosos a los laboratorios • Actualización de Plan de Manejo • Reforzamiento de personal, infraestructura y sistema de gestión • Implementación de auditorías anuales de manejo de residuos peligrosos a los laboratorios Figura 2. Fases de desarrollo del programa de gestión de residuos peligrosos de la Universidad de Concepción. 1.1 Fase I: Proyecto piloto (1997 – 1998) En esta etapa se desarrolló un programa piloto que incorporaba tres facultades de la Universidad. El desafío de esta etapa fue implementar medidas de manejo de residuos que hasta ese momento dependían exclusivamente de los encargados del laboratorio. En algunos casos, no existía ningún manejo responsable, y los residuos eran descargados por la alcantarilla o través de los residuos domiciliarios. En otros casos, cuando los residuos eran almacenados, no siempre se velaba por la seguridad del lugar ni de las personas. El proyecto por tanto, incluía la designación de áreas de almacenamiento de residuos peligrosos, un 76 sistema de etiquetado, y la cuantificación y caracterización de los residuos peligrosos generados por los laboratorios participantes del proyecto. El mayor logro del proyecto fue la disposición final de alrededor de 6 toneladas de residuos peligrosos almacenados por décadas en condiciones poco óptimas en distintos lugares de la Universidad. Otro producto de este proyecto fue la primera versión de lo que sería el reglamento interno de manejo de residuos peligrosos de la Universidad. 1.2 Fase II: Implementación (2004 – 2008) A pesar de los logros en la Fase I, el programa no escaló hasta 6 años más tarde. El principal gatillante de la implementación del programa fue la entrada en vigencia de la legislación sobre manejo de residuos peligrosos, D.S. 148/03 “Reglamento Sanitario sobre Manejo de Residuos Peligrosos” (MINSAL, 2004). Esta legislación establece que todas las entidades que generan sobre 12 toneladas de residuos peligrosos al año, o 12 kg de residuos tóxicos al año, deben implementar un Plan de Manejo con todos los procedimientos que garanticen un manejo óptimo de los residuos. En esta misma época, la autoridad sanitaria responsable del cumplimiento de la legislación, hizo una serie de inspecciones dentro de la Universidad con observaciones y requisitos. A raíz de esto, las autoridades de la Universidad decidieron comprometer recursos para implementar el programa, lo que permitió contratar personal, construir infraestructura para el almacenamiento de residuos, y adquirir un vehículo para su transporte. Asimismo, se dio la instrucción de que cada facultad y centro que fuera incorporado al Plan de Manejo, debía nombrar a un coordinador y un ayudante para apoyar la implementación del programa. Durante el año 2005, el Consejo Académico de la Universidad visó el reglamento interno de manejo de residuos peligrosos. La implementación del programa a nivel de laboratorio consistió en la designación de áreas de almacenamiento temporal de residuos peligrosos, entrega de contenedores para el almacenamiento junto con etiquetas de clase de peligrosidad e identificación. El retiro de los residuos hasta las bodegas de almacenamiento dentro de la Universidad, se implementó de manera calendarizada en cada una de las facultades. Luego, el año 2007 se implementó una plataforma web para mantener los registros de generación mensual y anual de residuos peligrosos por tipo de residuo y generador (facultad o centro). Un componente significativo del programa fue la capacitación al personal y la difusión de información. Durante el primer año, se dictó un curso intensivo de 12 horas a los decanos, coordinadores y sus ayudantes, de todas las facultades involucradas. La mayoría del personal de laboratorio también fue capacitado en sesiones de 24 horas. En total, participaron alrededor de 300 personas. Como métodos de difusión de información se lanzó una completa página web, y se distribuyeron posters informativos en todos los laboratorios. 1.3 Fase III: Revisión y actualización (2009-2010) Durante este periodo se realizó una primera auditoría del cumplimiento del manejo de residuos peligrosos en los laboratorios de la Universidad. Los resultados de esta evaluación mostraron que el 90% de los laboratorios cumplían con los requerimientos del programa. El 10% restante no cumplía con las exigencias en cuanto a áreas de almacenamiento temporal de 77 residuos peligrosos, identificación y etiquetado de contenedores o uso indebido de contenedores. Adicionalmente, durante este periodo se envió una revisión y actualización del Plan de Manejo exigido por la autoridad sanitaria, conteniendo las nuevas modificaciones del programa, como nuevos tipos de residuos, nuevos procedimientos y facultades. Durante el año 2010, un terremoto de magnitud 8.8 (en la escala sismológica de magnitud de momento), afectó severamente la infraestructura de la Universidad e impidió su normal funcionamiento por alrededor de 6 meses. La mayoría de los laboratorios se vieron afectados por derrames de reactivos y equipos dañados. Previo a este evento, el programa había adquirido equipamiento para emergencias químicas, tales como equipos de respiración autónoma, trajes protectores y equipos de monitoreo. Este equipo fue luego utilizado para revisar las condiciones atmosféricas dentro de los laboratorios y detectar posibles fugas. Así, el terremoto e incendio demostraron la urgencia de reforzar los equipos de emergencia del programa. 1.4 Fase IV: Mantención (2011-2014) El año 2010 entró en vigencia una nueva normativa sobre almacenamiento de sustancias peligrosas, D.S. 78/09 “Reglamento de Almacenamiento de Sustancias Peligrosas” (MINSAL, 2010). Producto de esto, un nuevo programa de gestión de sustancias peligrosas fue creado y anexado bajo la misma administración del programa de gestión de residuos peligrosos. Su implementación también significó la elaboración de un plan de emergencia, reforzando los esfuerzos hechos tras el terremoto. Durante el mismo año, un programa previo de información ambiental e indicadores también fue anexado a la administración del programa de residuos peligrosos. Durante este periodo hubo un aumento de la demanda de recolección de residuos, presumiblemente por el aumento de la conciencia ambiental de los generadores, pero también debido a que aumentó el número de facultades y centros participantes del programa (de 15 a 28). Por esta razón, fue necesario reforzar el sistema de gestión en varios aspectos. La planificación anual y el control de gastos fueron mejorados, así como el registro de información administrativa. La información recogida a través de la plataforma también fue analizada y utilizada para hacer cambios y optimizaciones en el programa. Por ejemplo, tras analizar las tasas de generación de residuos biológicos y sus costos de tratamiento, se investigó una tecnología alternativa que resultó en el diseño y construcción de una planta de hidrólisis alcalina. 2. Generación de residuos peligrosos La generación de residuos peligrosos ha aumentado a través del tiempo, desde 36.8 toneladas durante el año 2006 a 66.4 toneladas el año 2014 (excluyendo los residuos inertes) (Figura 3). Llevado esto a un indicador de generación de residuos peligrosos, ésta ha aumentado desde 1.8 a 2.8 kg/alumno/año (Tabla 1). El aumento se debe principalmente a que el programa ha ido incorporando nuevos residuos a su plan de manejo, notándose un incremento significativo en la recolección de residuos de artículos eléctricos y electrónicos (RAEE) a partir del año 2012 (Figura 3). El residuo dominante es el de tipo químico, que se compone de residuos 78 tóxicos (40%), inflamables (27%), corrosivos (23%) y reactivos (10%). En total, se produjeron 44.8 toneladas de residuos químicos durante el año 2014. En el caso de los residuos inertes, estos no clasifican como peligrosos, sin embargo están incorporados al programa para evitar que material potencialmente contaminado sea manipulado por personal del laboratorio o personal de los servicios de aseo. Los RAEE también pueden ser considerados residuos no peligrosos, sin embargo se incorporaron al programa de manera de facilitar el reciclaje de componentes de valor, como metales. Así, durante los últimos tres años, se ha logrado reciclar un total de 36 toneladas de RAEE, que en caso contrario hubiesen sido dispuestos en un relleno sanitario. 25.000 70 20.000 Total residuos (t) 60 50 15.000 40 10.000 30 20 5.000 10 0 Número de estudiantes de pregrado 80 Inertes Biológicos Radiactivos Electrónicos Oficina Químicos Número de estudiantes 0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Año Figura 3. Generación histórica de residuos peligrosos en la Universidad de Concepción. Tabla 1. Evolución de indicador de generación de residuos peligrosos en la Universidad de Concepción. Año Indicador (kg/alumno/año) 2006 1,8 2007 1,3 2008 1,7 2009 1,8 2010 1,3 2011 1,9 2012 2,4 2013 2,4 2014 2,8 3. Minimización de residuos peligrosos La implementación del programa incluyó en sus inicios esfuerzos para promover el tratamiento de residuos peligrosos, utilizando técnicas como neutralización ácido-base, precipitación y destilación. También se implementó un sistema piloto de intercambio de reactivos. Este tipo de iniciativas, principalmente de tratamiento de residuos, ha resultado exitosa a pequeña escala (Sales et al., 2006). Desafortunadamente, la variedad y cantidad de residuos peligrosos recolectados por el programa, junto con los altos costos del tratamiento, hizo que esta estrategia fuera insostenible en el tiempo. El sistema de intercambio de reactivos nunca escaló debido al bajo interés y participación de los usuarios, principalmente debido a la desconfianza de usar reactivos usados. Otros programas de intercambio de reactivos también han reportado este tipo de obstáculos, donde además se suma la falta de comunicación y estrategias de publicidad (Weil, 2012). Por lo tanto, se recomienda que un programa de intercambio de reactivos debe asegurar un buen servicio al usuario, proveer información 79 precisa y accesible sobre la disponibilidad de reactivos, y supervisar la calidad de los reactivos ofrecidos e intercambiados (Weil, 2012). Actualmente, el programa promueve y disemina estrategias de minimización principalmente a través de la comunicación directa con los generadores durante visitas a los laboratorios y a través de reuniones bimensuales con coordinadores y ayudantes. En estas reuniones se les informa sobre los costos incurridos en la gestión de los residuos peligrosos, de manera de aumentar la conciencia sobre la generación de residuos. Las entrevistas realizadas en esta investigación revelaron además que los generadores utilizan técnicas de minimización que generalmente no son reconocidas como tal. Por ejemplo, se han implementado tecnologías más eficientes para hacer un mejor uso del tiempo y recursos, o se ha reducido la escala de algunos prácticos y experimentos, o reemplazado con laboratorios virtuales, de modo de ahorrar recursos. En algunos casos se han implementado medidas que reducen la exposición del personal a sustancias tóxicas, como plomo o bromuro de etidio. Se debe enfatizar que estas acciones han surgido como consecuencia de otro tipo de medidas y no como resultado de alguna política o lineamientos claros. Por este motivo muchos generadores desconocen de qué se trata una estrategia de minimización o cuáles son sus beneficios. Es recomendable por lo tanto, preparar una política de minimización, conteniendo todas las responsabilidades, metas y mecanismos de evaluación (Ashbrook y Houts, 2001; Mooney, 2004; Hanna, 2013). El ambiente académico además ofrece oportunidades para diseñar estrategias basadas en la prevención de la contaminación por modificación de los experimentos y ensayos, donde se disminuya la generación de residuos, o donde este mismo residuo pueda ser utilizado para otro procedimiento. Este tipo de enfoques se trabaja desde los conceptos de “química verde” y “química ambientalmente benigna” (Anastas y Eghbali, 2010). Finalmente, la diseminación de información y promoción de las estrategias de minimización es de suma importancia para el éxito de su implementación. Al respecto se ha informado que deben existir canales de comunicación evidentes y efectivos para poder compartir procedimientos y experiencias (Ashbrook y Houts, 2001). 4. Obstáculos en el desarrollo del programa Los obstáculos se dividen en dos categorías: i) sensibilización y comunicación y ii) actividades operacionales. Durante los primeros años los principales obstáculos fueron la limitada infraestructura para realizar las actividades del programa, la falta de información sobre la generación de residuos, y la gran cantidad de residuos históricos que tuvieron que ser retirados. Hoy en día, estos obstáculos han sido superados, sin embargo, un nuevo desafío es mejorar el uso y entrega de contenedores. En relación a los obstáculos relacionados con la sensibilización de los generadores, los principales desafíos fueron cambiar hábitos entre el personal con más antigüedad, la aceptación del personal de sus nuevos roles y responsabilidades, y la corrección de conceptos errados y malos hábitos. Por tanto, los primeros años se enfocaron principalmente en capacitar a los generadores sobre definiciones básicas, riesgos y procedimientos para un apropiado manejo, segregación y recolección de residuos peligrosos, y sobre las exigencias normativas. 80 Actualmente, muchas deficiencias del programa aún se relacionan con la falta de sensibilización. De acuerdo a Wright et al. (2008), las barreras hacia el cambio de prácticas y actitudes en el ambiente de laboratorio se relacionan con la falta de información, limitaciones de tiempo y falta de apoyo, de tipo monetario o administrativo. Una vez que estas barreras son superadas, los cambios de actitud pueden observarse si se refuerzan con estímulos o sanciones. En el caso específico del programa, las barreras se relacionan más con falta de información y tiempo, ya que el apoyo económico y administrativo de la Universidad siempre ha existido. Un desafío mayor para superar estas barreras, es la alta rotación de estudiantes y personal. Aunque el programa ofrece sesiones de capacitación, el número anual de gente capacitada no es tan alto como lo fue durante los primeros años de implementación. Además, como no es una actividad obligatoria, las tasas de participación son usualmente bajas. 5. Factores clave en el desarrollo del programa Los factores que contribuyeron al desarrollo del programa se pueden clasificar en i) apoyo institucional, ii) comunicación y capacitación continua, y (iii) trabajo colaborativo. Una vez que la legislación sobre manejo de residuos peligrosos fue promulgada, la Universidad decidió inmediatamente apoyar el programa contratando personal e implementando la infraestructura necesaria. El apoyo financiero y administrativo se reconoce como un factor clave en el éxito de las iniciativas de gestión de residuos peligrosos (Wright et al., 2008; Weil, 2012). El apoyo institucional fue reforzado por la designación de los coordinadores de cada facultad. El proceso de institucionalización y reconocimiento fue complementado por el desarrollo de una imagen visible y reconocible, a través del uso de un logo en toda la infraestructura, materiales, y vestuario. Esto permitió que los generadores reconocieran la gestión de los residuos peligrosos como un programa especializado y no como un servicio más de la dirección de aseo. Proyectos previos de gestión de residuos sólidos también han reportado el efecto positivo de una imagen atractiva para gatillar el reconocimiento de las iniciativas (Grodzińska-Jurczak et al., 2006). En cuanto al factor de comunicación, durante el primer año de implementación las capacitaciones fueron obligatorias incluso para los decanos de las facultades participantes. Investigaciones previas en la implementación de sistemas de gestión son enfáticas en la importancia de incluir al mayor número de actores en el proceso de capacitación (Sammalisto y Brorson, 2008). Además, se desarrollaron acciones complementarias, como capacitaciones internas dentro de algunas facultades y la cooperación de los comités paritarios. Para la difusión de información se utilizaron diversas estrategias, tales como una nutrida página web, conteniendo todo tipo de instrucciones y procedimientos. También se distribuyó en todos los laboratorios un diagrama informativo y señaléticas. Una de las estrategias más efectivas en la transmisión de información y prácticas hacia los generadores de residuos han sido visitas y auditorías a los laboratorios. Junto con las capacitaciones y la difusión de información, el apoyo de los coordinadores, ayudantes y personal de laboratorio, ha sido fundamental para el desarrollo del programa. Ellos se han involucrado en distinta medida en iniciativas de capacitación, inducción, asistencia, supervisión y acompañamiento. Tal como fue reconocido por los entrevistados, ha ocurrido un proceso de habituación de los generadores, demostrando que los esfuerzos 81 concertados entre los miembros del programa y los coordinadores y su equipo han favorecido el cambio de actitud. Estos resultados son consistentes con los de Zhang et al. (2011), quienes mostraron que un sistema integral de residuos sólidos en un campus universitario comprende tres elementos: (i) infraestructura apropiada, (ii) servicio confiable, y (iii) estrategias para cambios de actitud. El programa ha entregado toda la infraestructura necesaria y suministros para el acopio y recolección de residuos peligrosos. También cuenta con un servicio constante y confiable de recolección, varias vías de comunicación y difusión, y un equipo de personas del programa y de cada facultad, que ha sido capaz de responder a las diferentes necesidades de la comunidad, transmitiendo y promoviendo nuevos hábitos y rutinas, y alentando actitudes ambientalmente sostenibles. 6. Desafíos y futuras direcciones 6.1 Generación y minimización Disminuir la generación de residuos peligrosos continúa siendo un desafío para el programa, y por tanto promover la minimización de la generación debería estar entre sus prioridades. Esta estrategia debiese enfocarse en reducir los residuos más frecuentes, como residuos tóxicos, o aquellos que son más costosos de disponer, como los residuos biológicos. Como las alternativas de minimización varían desde el reemplazo de sustancias y reactivos hasta el uso de nuevas tecnologías, y dependen del número de disciplinas involucradas, es necesario desarrollar un plan de minimización que considere todas las opciones disponibles. Por tanto, se debiesen utilizar diferentes métodos para identificar, evaluar y diseminar las técnicas de minimización. Las reuniones bi-anuales que se realizan con los coordinadores y ayudantes podrían utilizarse para discutir y diseminar técnicas ya existentes. Además, se podría establecer un panel de expertos multidisciplinario que asista en esta tarea. 6.2 Capacitación y comunicación De manera de mejorar las deficiencias en segregación de residuos y uso de contenedores, es importante lograr el cambio de prácticas y actitudes de los generadores, que según Wright et al. (2008) se alcanza reduciendo barreras a través de programas de capacitación adecuados, directrices claras y accesibles, e información sobre lo que se debe hacer y lo que no. Esto es consistente con los resultados de la encuesta aplicada a los jefes de laboratorio (Figura 4), que reveló que ellos demandan capacitaciones frecuentes, capacitaciones para los estudiantes y personal de laboratorio, y capacitaciones especializadas de acuerdo al tipo de residuos generados. Frente a la pregunta de qué tipo de información necesitaba ser diseminada, hubo una preferencia hacia instrucciones sobre segregación de residuos, manejo de residuos específicos de cada laboratorio, e información sobre seguridad. Mejorar la comunicación y retroalimentación fue otra recomendación hecha por los encuestados para mejorar el programa (Figura 4). Esta recomendación es mencionada en varios estudios: el personal de los programas de gestión de residuos peligrosos necesita establecer una relación de asociación con los generadores más que ser percibidos como un obstáculo regulatorio. Para esto, la comunicación debe ser fluida y constante, y a través de diversos medios, como boletines, página web, entrevistas y visitas. Al respecto, Izzo (2000) demuestra que en un ambiente descentralizado como el universitario, un único método de comunicación no es efectivo. 82 Figura 4. Distribución de frecuencia de recomendaciones para mejorar el programa de gestión de residuos (n= 75). 6.3 Repercusiones para la política universitaria El programa de gestión de residuos peligrosos de la Universidad de Concepción se ha desarrollado a lo largo de 10 años, y se ha fusionado con los programas de gestión de sustancias peligrosas y de información e indicadores ambientales, demostrando un gran avance en el desempeño ambiental de la Universidad. Sin embargo, el programa no está ligado a ninguna política ambiental o de sustentabilidad, impidiendo la proyección de cambios y avances en la gestión de los residuos. Asimismo, los indicadores de generación de residuos no se conectan con ningún tipo de meta. Esto se explica comprendiendo que los impulsores del programa corresponden a impulsores de primera categoría, i.e., aquellos que responden a presiones de costos y normativas (Bennet y James, 1999), que en este caso fueron la entrada en vigencia de las normativas de residuos y sustancias peligrosas. Solo una evolución hacia impulsores de segunda y tercera categoría- aquellos que buscan la sostenibilidad de la Universidad -podría conducir hacia el desarrollo de políticas y lineamientos claros, con los respectivos objetivos, metas y estrategias para su implementación. Conclusión La implementación de un sistema de gestión ambiental requiere el reconocimiento de la comunidad universitaria y apoyo de todos los actores. Para el caso específico de un programa de residuos peligrosos, este proceso es aún más complejo debido al carácter normativo en un ambiente donde la investigación y la docencia son la prioridad. Los resultados de esta investigación indican que los principales factores que contribuyeron al desarrollo del sistema fueron el fuerte apoyo institucional y económico, la capacitación y comunicación continua, y el trabajo colaborativo entre los miembros del programa y los coordinadores y sus ayudantes. La interacción de estos tres elementos permitió el desarrollo de un sistema integral que entrega (i) infraestructura apropiada, (ii) un servicio confiable y (iii) estrategias de comunicación que estimulan la adopción de nuevas prácticas. El sistema por tanto puede incorporar nuevas estrategias de trabajo, sobretodo en el área de minimización de residuos, y lograr una gestión aún más responsable de sus residuos. Esta transición debiese ser 83 acompañada de una política ambiental con lineamientos claros, medición de indicadores y metas, de manera de asegurar un avance hacia un campus universitario sustentable. Referencias bibliográficas Alshuwaikhat, H.M., Abubakar, I. An integrated approach to achieving campus sustainability: assessment of the current campus environmental management practices. Journal of Cleaner Production, 16, 1777-1785, 2008. Anastas, P., Eghbali, N. Green Chemistry: Principles and Practice. Chemical Society Reviews, 39, 301-312, 2010. Ashbrook, P., Houts, T. Top ten institutional ways to minimize laboratory waste. Chemical Health and Safety, 8, 27, 2001. Bennet, M., James, P. Sustainability measures: Evaluating and reporting on social and environmental performance. Greenleaf Publishing Ltd, Sheffield, 1999. Chambers, D. Assessing & planning for environmental sustainability - A framework for institutions of higher education. In: Filho, W.L. (Ed.). 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Engenharia da Produção - Universidade de São Paulo EESC/USP; 3. Departamento de Ciências Ambientais - Universidade Federal de São Carlos; 4. ICTA - Universistat Autonoma de Barcelona; 5. ICTA Universistat Autonoma de Barcelona; 6. Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de São Carlos; [email protected]; [email protected]; [email protected], joan.rieradevall@icta-cat; [email protected]; [email protected] Resumo Este trabalho visa apresentar uma metodologia para a seleção de indicadores de sustentabilidade aplicados ao planejamento e à gestão de Smartparks - concepção e abordagem inovadoras de parques industriais e sua cadeia de processos e a relações entre empresas e a região na qual estão inseridos. Planejamento e a gestão exigem procedimentos, instrumentos e a utilização de indicadores específicos, que devem ser adequadamente selecionados e definidos para o processo de tomada de decisões. Assim, o método proposto parte de um inventário de indicadores (Pré-Indicadores) previamente identificados e categorizados em temas específicos (oito temas e vinte subtemas) e orientados à sustentabilidade. Os indicadores são avaliados e selecionados por meio de método de análise baseado em análise multicritério, que permite a seleção criteriosa dos indicadores mais adequados para cada situação e considera as especificidades de sua aplicação, consistindo-se num método adaptável para análise objetiva de várias condições e situações de Smartparks. Palavras-chave: Análise multicritério; indicadores de sustentabilidade; Smartparks Development of Multicriteria Methodology for Selection and Definition of Indicators of Sustainability for Application in Smartparks Abstract This work aims present a methodology for selecting sustainability indicators applied to the planning and management SMARTPARKS. - Design and innovative approach industrial parks and their supply chain processes and the relationships between companies and the region in which they live. Planning and management procedures require instruments and the use of specific indicators, which should be appropriately selected and defined for the process of decision-making. Thus, the proposed method begins with an inventory of indicators (PreIndicators) previously identified and categorized into specific themes (eight themes and subthemes twenty) and oriented to sustainability. The indicators are evaluated and selected through analysis method, based on multiple criteria analysis, which enables judicious selection of the most appropriate indicators for each situation, and considers the specificities of your application, consisting in an adaptive method for objective analysis of various conditions and.smartparks situations. Keywords: Indicators of Sustainability Multicriteria Analysis, Smartparks 86 Introdução O elevado crescimento demográfico e as mudanças cada vez mais rápidas nos padrões atuais de consumo contribuem no aumento dos impactos ambientais que afetam o meio ambiente e a sociedade atual (Ferrão, 2009) nos seus diversos setores, como o industrial, o urbano e o agrícola. Isso pode ser verificado com o crescente esgotamento dos recursos naturais e os desequilíbrios ecológicos, resultantes da poluição gerada pelo modo de vida das sociedades modernas. Desta forma, um dos desafios que se apresenta à Humanidade é a busca por um modelo capaz de conciliar o desenvolvimento econômico com a qualidade do meio ambiente e equidade social. O conceito de Ecoinovação em Smartpark é uma proposta que busca o desenvolvimento da sustentabilidade de forma inovadora e integrada a parques junto aos setores industrial, urbano e agrícola. Nolt (2009) indica que os Smartparks surgiram como uma proposta de um modelo que integra a produção sustentável, agricultura e tecnologias de reciclagem (Sustainable Manufacturing, Agricultural and Recycling Technologies). A sustentabilidade urbana é definida em parte como a capacidade das políticas urbanas se adaptarem à oferta de serviços, à qualidade e à quantidade das demandas sociais, buscando o equilíbrio entre as demandas de serviços urbanos e investimentos em estrutura (Acselrad, 1999). No entanto, também são imprescindíveis para a sustentabilidade urbana o uso responsável dos recursos naturais, a boa forma do ambiente urbano baseado na interação com esses recursos, além das respostas às necessidades urbanas com o mínimo de transferência de dejetos e rejeitos para outros ecossistemas atuais e futuros. Conforme Scussel e Sattler (2004) é possível a partir da temática da sustentabilidade, evidenciar a necessidade da utilização de instrumentos adequados ao tratamento das inúmeras abordagens feitas com este intuito - desde a análise da realidade à proposição de projetos e ações. Os indicadores constituem-se como valiosos e úteis instrumentos para subsidiar o processo de tomada de decisão na gestão de projetos e políticas de desenvolvimento. Permitem a análise objetiva sobre as condições atuais e situações desejáveis e devem ser capazes de mostrar tendências ao longo do tempo dos processos de desenvolvimento, reconhecendo metas e objetivos. Assim sendo, o objetivo desse trabalho foi estabelecer procedimentos capazes de selecionar e definir indicadores capazes de avaliar a sustentabilidade e que pudessem ser aplicados em Smartparks. Contextualizando o projeto de Smartparks O projeto denominado “Ecoinovação em Smartparks: Análises das Metodologias e Estratégias Sustentáveis para Promover a Simbiose Industrial, Urbana e Agrícola no Brasil e na Espanha”, é um projeto iniciado no ano de 2012 e financiado pela CAPES (Coordenação 87 de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior da fundação do Ministério da Educação do Brasil) e pelo governo Espanhol (Ministério da Educação da Espanha), que tem como objetivo geral analisar as metodologias e estratégias sustentáveis para promover a simbiose industrial, urbana e agrícola no Brasil e na Espanha para a Ecoinovação em Smartparks. A gestão deste projeto está organizada, em pacotes de trabalho (PTs), PT 1: Avaliação do Ciclo de Vida e Análise dos Fluxos de Materiais e Energia; PT 2: Planejamento Sustentável e Ecodesign para a Integração Urbana, Industrial e Agrícola; PT 3: Gestão da Água e PT 4: Indicadores Ambientais. A proposta do referido projeto conjunto remete à necessidade de articulação dos estudos desenvolvidos pelas instituições tanto da Espanha como do Brasil, no sentido de compartilhar e aprimorar os saberes científicos específicos e as tecnologias investigadas para a efetiva aplicação e utilização dos resultados obtidos. As ações específicas do Pacote de Estudos (PT4 - Indicadores Ambientais) objetivam identificar, analisar e testar a aplicabilidade de indicadores de sustentabilidade, na gestão simbiótica de parques agrícolas e industriais, reconhecendo e integrando as experiências e as realidades espanholas e brasileiras para estabelecer critérios e padrões para seleção e definição de indicadores ambientais, como por exemplo, de biodiversidade, água e resíduos, aplicados ao contexto de gestão simbiótica de parques com foco nas áreas agrícolas, industriais e urbanas. Conceito de Smartparks Segundo Rennings (2000), a Ecoinovação surge da redefinição do conceito de inovação, visto como a implementação de uma nova ou significante melhoria de processo, de um bem (produto ou serviço) ou da organização, em termos de gestão (OECD, 2005), de modo a integrar o desenvolvimento sustentável. A Ecoinovação refere-se a todas as medidas de atores relevantes (empresas, governo, associações, moradores, gestores, etc) os quais desenvolvem novas ideias, comportamentos, produtos e processos, e sua aplicação e introdução para que possam contribuir a reduzir os encargos ambientais ou a especificar metas de sustentabilidade. Dessa forma, a Ecoinovação pode ser aplicada por empresas ou organizações sem fins lucrativos e sua natureza pode ser tecnológica, organizacional, social e inovação institucional, de modo que busque a diminuição da poluição e redução dos impactos ambientais negativos relacionados ao uso dos recursos (materiais e energia) (Kemp e Pearson, 2008). O modelo de Smartparks de desenvolvimento integrado inclui o compartilhamento de energia, água e até serviços e conhecimento, a fim de otimizar a eficiência, reduzir a utilização de recursos cada vez mais caros, alcançando padrões de baixa ou mesmo zero de emissões, e melhorar contextos sociais, econômicos e ambientais. Kazemersky e Winters (1999) consideram um Smartpark como um modelo inovador projetado para integrar as entradas e saídas de água, energia e fluxos de materiais de várias organizações de forma sustentável e sinérgica. 88 Sustentabilidade Industrial, Urbana e Agrícola A sustentabilidade é apresentada como um conceito sistêmico que visa o balanceamento entre os aspectos ambientais, econômicos e sociais, dimensões que também são conhecidas como Triple Botton Line (Elkington, 2001; Kates et al., 2005). A noção de sustentabilidade implica numa necessária inter-relação entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento (Cavalcanti, 1995; Acselrad, 2001). Desta forma, o conceito de sustentabilidade está sendo, cada vez mais, incorporado no planejamento, substituindo políticas setoriais pelo enfoque integrado de desenvolvimento, ao articular as políticas públicas com os investimentos em saneamento básico, transportes, geração de renda e trabalho e estimulando a melhoria da qualidade de vida nas áreas urbanas. A busca por uma ação ou prática mais sustentável implica numa necessária inter-relação entre eficácia na relação custo-benefício adequadas, equidade social, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento (Acselrad, 2001; Jacobi, 2003). Esse conceito, embora seja de fácil aceitação, a sua aplicação é bastante complexa e controversa, em virtude de exigir mudanças fundamentais na forma de agir, de pensar, de produzir e de consumir da humanidade. Segundo Franco (2001), a sustentabilidade não é um estado de harmonia, mas um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras. De modo geral, há um conjunto de instrumentos e estratégias que, dentro do escopo deste projeto de parceria entre brasileiros e espanhóis, deve ser considerado para a obtenção de uma apropriação do território, por usos antrópicos diversos, que contemple a dimensão ambiental da sustentabilidade. Inicialmente ele remete diretamente aos princípios básicos da responsabilidade ética de todos os agentes sociais envolvidos, especialmente os gestores dos bens coletivos e do território: • Perante a sociedade, concretizada pelo zelo ao patrimônio cultural e na promoção da equidade de oportunidades e de acessibilidade aos equipamentos e serviços coletivos a todos os cidadãos; e • Sobre o meio ambiente, concretizado por meio da conservação do patrimônio natural, considerando o atendimento à capacidade de suporte e à capacidade de resiliência dos recursos naturais. Indicadores de Sustentabilidade e critérios de seleção. A construção de indicadores é importante para dar suporte à tomada de decisão no planejamento futuro de uso e ocupação do solo, evitar a ocupação desordenada e reduzir a utilização de verbas de calamidade, havendo, dessa maneira, um modo mais responsável na utilização dos recursos. É possível, por exemplo, a partir da elaboração específica de indicadores de sustentabilidade relacionados à drenagem urbana e águas pluviais, estabelecer novos procedimentos e análises que funcionarão como suporte as tomadas de decisão de uso e ocupação do solo para que se evitem situações de risco. Outras aplicações dos indicadores podem ser numa melhor gestão sobre a geração de resíduos sólidos, sobre o consumo de recursos na indústria e a perda de biodiversidade devido as atividades agrícolas. 89 Os indicadores são necessários para demonstrar uma representação de uma determinada realidade, dessa maneira, através de uma simplificação numérica é possível avaliar a situação e realizar através de planejamento de ações sua melhoria. Para que se possa avaliar também a o andamento das melhorias e orientar no processo de tomada de decisão são necessários o estabelecimento de metas de desempenho e referencias. Nesse contexto tem-se o indicador como uma ferramenta que contribui com a visualização dos objetivos e resultados alcançados e auxilia no processo de gestão e planejamento (Meadows, 1998; Malheiros, 2000; Segnestam, 2002; Van Bellen, 2005; Magalhaes, 2011). A seleção, o desenvolvimento e a utilização de medidas de mensuração e avaliação da sustentabilidade em qualquer nível devem levar em consideração alguns critérios ou características. Segundo Hardi e Zdan (1997), essas medidas servem como orientações para a avaliação de todo o processo, desde a escolha dos indicadores e sua interpretação até a comunicação dos resultados. Não há um conjunto universal de critérios para a seleção de indicadores que igualmente são aplicados em todos os casos. Entretanto, no sentido amplo, a OCDE (2002) definiu três critérios básicos: pertinência política, precisão de análise e mensurabilidade. Segundo Both e Luccas (2002) em relatório de avaliação sobre os relatórios de estratégia de redução da pobreza (PRSP) do Banco Mundial, questionam o que de fato deveria considerar na seleção de um bom indicador baseando-se nos critérios realizados pelo Banco Mundial, que definem como um “bom indicador” aquele que: • É uma medida direta e inequívoca do progresso – (mais (ou menos) é melhor); • Mede fatores que refletem os objetivos; • Varia entre regiões, grupos, ao longo do tempo, e é sensível a mudanças em políticas, programas, instituições; • Não é facilmente desviado do seu curso por fatores não relacionados e não pode ser facilmente manipulado para mostrar resultados onde eles não existem; • Pode ser melhor monitorado quando já está disponível ou pode ser disponibilizado com facilidade e frequência e a baixos custos. Para indicadores agroambientais a OCDE (2002) usa critérios similares: • Relevância na formulação das políticas públicas; • Validade analítica. Ligações estreitas entre agricultura e condições ambientais e com forte embasamento científico; • Mensurável; • Nível de agregação. (Refere-se à escala adequada) /Acessível aos usuários (Fácil interpretação/comunica informação essencial aos usuários). 90 Para Van Bellen (2005) uma questão importante e muitas vezes negligenciada na utilização e aceitação de sistemas de indicadores, é a necessidade de que sejam compreensíveis. O autor ressalta, ainda, que como meios de comunicação devem ser transparentes e fácil entendimento de seus usuários e, da mesma maneira os usuários devem ser estimulados a compreender sus significado. O autor cita também alguns critérios para a seleção de indicadores: os valores devem ser mensuráveis e observáveis; deve existir disponibilidade de dados; a metodologia para coleta e processamento de dados e a seleção e medição dos indicadores de ser limpa, transparente e padronizada; os meios para construção e monitoramento devem estar disponíveis, incluído capacidade financeira, humana e técnica; devem ser financeiramente viáveis; deve haver aceitação política no nível adequado, legitimados pelos tomadores de decisão. Para Januzzi, (2005) a sensibilidade e especificidade devem ser observadas na escolha de indicadores, pois, é importante e necessário que os efeitos ou não-efeitos de determinadas intervenções sejam observadas com rapidez e facilidade. A escolha de critérios que servirão para a seleção de indicadores é, essencialmente, um processo político, uma vez que como argumenta Januzzi, (2001) não há instrumento perfeito, devendo decidir-se quais aspectos da realidade observada serão privilegiados e quais serão negligenciados. Metodologia Características dos critérios A metodologia utilizada para a seleção de critérios foi adaptada de Rieradevall i Pons et al., (2005), após levantamentos de diversas características e critérios a respeito da seleção de indicadores, como os indicadores apresentam ou demonstram, avaliam e monitoram uma realidade, foi observado a necessidade de que o indicador deve apresentar uma tendência desejada, assim apresentamos as seguintes características selecionadas aos indicadores de Smartparks: • Deve ser quantificável; • Pode ser medido de forma uniforme ao longo do tempo mostrar uma tendência para que se possa comparar os objetivos estabelecidos. Às vezes, a situação inicial é muito menos importante do que a tendência observada, especialmente quando se tenta comparar o comportamento de um indicador em dois lugares diferentes, onde as situações locais específicas impõem situações de partidas/iniciais distintas; • Deve ser representativo do aspecto a ser medido; • Basear-se em dados fáceis de pesquisar ou coletar; • Baixo custo; e • Interpretação dos resultados deve ser feita de forma clara e inequívoca. 91 Metodologia para seleção de critérios Para que a seleção do sistema de indicadores seja metodologicamente correta, cada indicador é validado por uma série de critérios. Estes critérios agem como filtros para o conjunto de indicadores, com o objetivo de selecionar apenas os mais apropriados em um sistema específico, e proporcionar-lhes a melhor qualidade estatística e científica possível. Após a revisão bibliográfica para levantamento de critérios chegou-se a uma seleção de critérios mais proeminentes: • Validade científica do indicador, com base no conhecimento científico do sistema em estudo consistente com os dados e padrões de qualidade disponíveis, métodos de medição e, temporariamente, aprovado e financeiramente viável; • Compreensibilidade, simplicidade e clareza do significado facilita a compreensão de não especialistas; • Capacidade para a seleção de problemas relevantes para as ações de melhoria de prioridade; • Mensurabilidade, e, portanto, a possibilidade de gravar os resultados quantitativos, o que facilita a sua interpretação; • Frequência de medição, uma vez que garante um bom processo de monitoramento e a capacidade de comparar constantemente os resultados; • Sensibilidade para lidar com as mudanças e/ou atividades humanas relacionadas com esta, de preferência, no curto prazo. Em princípio, as variáveis têm que sofrer alterações temporais e, de fato, um indicador manter-se constante ao longo do tempo não indica nada • Comparabilidade inter-regional, o indicador mostra que permitindo mesmo tempo em que é adaptado para o sistema em estudo, e • A capacidade de ser modificado, se necessário atualizar ou não se encaixa exatamente o que queremos medir. Há outros critérios para a concepção de um sistema de indicadores, mas eles estão relacionados com a manutenção da coerência de monitoramento ao longo do tempo. Fases de definição dos indicadores Fase I - inicial O processo de elaboração da proposta de conjunto de indicadores específicos para Smartparks durante a fase inicial ocorre a partir do levantamento de dados e informações históricas relevantes a Smartparks, como os casos de Kalundborg (Dinamarca), de Triangle J. (EUA), Hinton Eco-Industrial Park (Canadá), Kokubo Industrial Park e Ebara Corporation Parque industrial eco-eficiente de Fujisawa (Japão) e Camaçari no Brasil. Entretanto, por ser uma atividade recente, é importante trazer experiências locais com a coleta e compilação de documentações e informações sobre os Smartparks, assim como a experiência dos 92 especialistas brasileiros e espanhóis envolvidos no processo de avaliação de sustentabilidade industrial e urbana. A necessidade da participação de especialistas e a participação ativa das partes interessadas agrega diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável, na utilização de variáveis e estatísticas existentes, o que diminui os custos com levantamento primário de dados. Os resultados dessa fase inicial estabelecem os pré-indicadores expostos em um inventário. Com o inventario de indicadores, são selecionados, junto com os especialistas, os indicadores mais adequados para a seleção dos indicadores respondendo as seguintes perguntas: Os indicadores são aplicáveis em Smartparks? Qual os objetivos dos indicadores? Quais as metas a se atingir? Quais os parâmetros de medição? São de fáceis aplicação e coleta de dados? Qual a escala de aplicação? Dentro da empresa, dentro do parque ou exterior ao parque? Qual a escala temporal? Fase de implantação, operação ou desativação/revitalização? Fase II – Seleção multicritério dos indicadores A seleção de indicadores de sustentabilidade direcionados a Smartparks é realizada adotando-se método de multicritérios, por ser um método simples e global, pois pode ser aplicado em impactos, em aspectos ambientais, socioeconômicos e de saúde. E, especificamente ao trabalho, é valido para alcançar o objetivo de estabelecer indicadores adequados utilizando a lista de inventário de pré-indicadores, a partir da pontuação alcançadas por eles na avaliação (Quadro 2). Cada um dos critérios para a valoração dos pré-indicadores possui um peso relativo, determinada pela importância dada. A escala de pesos está entre 0 (menos importante) e 10 (mais importante). Os pesos individuais de cada critério e a justificativa da fixação dos valores é explicada na Tabela 1. Tabela 1. Pesos relativos dos critérios de seleção dos indicadores. Critério Peso Justificativa Aplicabilidade Temporal 10 Que o pré-indicador seja válido em mais de uma das etapas (implantação, operação, revitalização, desativação) – médio prazo Acessibilidade dos dados 10 A acessibilidade dos dados é um dos critérios utilizados regularmente para seleção de indicadores Viabilidade econômica 9 Os dados referentes ao preindicador deve ser obtida com o mínimo possível despesa 8 As informações apresentadas pelo pre-indicador deve ser fiel à realidade. O objetivo é modelar um sistema que fornece dados de qualidade a evolução da grandeza de medição Especificidade 4 A especificidade tem menos peso do que os critérios anteriores, por todos os pré-indicadores foram adaptados para Smartparks 3 Este critério tem menos peso, embora a existência de uma literatura facilita a Estudos tarefa de medição. Isso se dá por que todos os pré-indicadores vem direta ou Antecedentes indiretamente de estudos anteriores Adaptado de Rieradevall, i Pons et al. (2005). Rigor cientifico 93 Fase III – valoração interna dos pré-indicadores na matriz multicritério. Os pré-indicadores “candidatos” a fazer parte do sistema final de indicadores são avaliados por meio de cada um dos critérios estabelecidos. A escala de classificação é definida entre melhor (5) e pior (0), com exceção da aplicabilidade temporal, avaliado pelo binômio 0 se for de curto prazo e 5 se for de médio prazo. A Quadro 1, demonstra quais são as orientações seguidas para determinar as classificações com base nos critérios. Quadro 1. Valoração interna dos pré-indicadores. Critérios Acessibilidade dos dados Dados facilmente acessíveis aos técnicos sem assistência externa Viabilidade econômica informações obtidas sem custo ou com custo muito baixo 4 Necessidade de apoio cientifico; Estatísticas locais existentes de acordo com a disponibilidade; Dados de ONGs; Dados de pesquisadores de acordo com a acessibilidade 3 Estatísticas locais ou não locais de acordo com sua disponibilidade; Dados de investigadores locais de acordo com sua disponibilidade; Dados com relativa dificuldade técnica de obtenção Dados locais não registrados; Estáticas não locais; Dados de investigadores locais de acordo com a Valoração interna 5 2 Centro de investigação em nível superior; Especialistas ligados ao projeto; Estatísticas públicas registrada. Adaptados a Smartparks Acessibilidade dos dados Estudos específicos aos Smartparks em questão Estudos de campo e/ou custos de laboratórios baixos, sem pessoal remunerado ou a necessidade de viagens Técnicos especialistas do presente projeto; ONGs Adaptado para Smartparks e generalizados para toda a região. Dados específicos previamente obtidos de Smartparks Estudos de campo com custos laboratoriais medianos e sem pessoal remunerado; Deslocamentos distantes Fontes: Entidades Privadas; Informações públicas não registradas segundo seu grau de confiabilidade Válido para qualquer Smartparks ou adaptado parcialmente para os Smartparks de estudo Dados obtidos de outros estudos inespecífico de Smartparks; Dados pontuais sobre Smartparks Pouco adequados para as características do parque, segundo seu grau de adaptação. Agenda (21) local; Estudos de outras áreas ou parques; Referencias e dados pontuais Rigor Especificidade 94 1 0 acessibilidade Dados com grande dificuldade técnica de obtenção Dados com dificuldades técnicas insolúveis Estudo de campo com apoio cientifico e/ou laboratórios com alto custo; Necessidade de várias pessoas assalariadas. Fonte: População local não profissional Custo econômico muito elevado; Obstáculos insolúveis. Confiabilidade nula da fonte de informação Dados pontuais de outras áreas ou parques. Inadaptabilidade das informações Não há informações ou nenhuma informação anterior foi encontrada Adaptado de Rieradevall i Pons et al., (2005).. A avaliação dos indicadores é realizada de duas maneiras: uma quantitativa por meio de um índice numérico de valor de pertinência de cada pré-indicador; e uma avaliação qualitativa comunicada no formato de setas para facilitar a leitura da matriz. As valorações possíveis são: Selecionado Possível alternativa Possível para trabalhos futuros Pouco apto Descartado O Quadro 2 apresenta a matriz multicritério dos pré-indicadores com as análises quantitativas e qualitativas que determinam os indicadores mais favoráveis à seleção. Quadro 2. Matriz multicritério para seleção de indicadores e temas e aspectos avaliados. 3 Estudos antecedentes Avaliação qualitativa 4 Índice de pertinência 8 Especificidade 9 Viabilidade econômica 10 Acessibilidade dos dados Aplicabilidade temporal Indicadores Subtemas Temas 10 Avaliação Rigor cientifico Critérios e pesos 95 Resíduos Água Mobilidade Resíduos sólidos Efluentes Uso racional de águas servidas Manejo de águas pluviais Deslocamentos Acessibilidade Energia Ecossistema e biodiversidade Emissão/redução de CO2 Uso de energias renováveis Eficácia energética Patrimônio Natural Qualidade sanitária e ambiental Integração territorial Qualidade de vida e saúde Dinâmica Econômica Gestão de espaços verdes Interfaces com a malha urbana existente Integração interna Gestão de riscos Controle de poluentes (ar, odores, água e visual) Custo global Controle de encargos Sinergias Dinâmica e desenvolvimento local Segundo Rieradevall i Pons et al., (2005), os pesos individuais correspondentes a cada critério de seleção nos permitem relativizar a pontuação interna obtida por cada préindicador, e resultam em uma avaliação final de cada pré-indicador (índice de pertinência), por ponderação das importâncias de cada critério em relação ao restante. Por exemplo, não é a mesma coisa uma valoração interna de (5) no critério de Acessibilidade de Dados que o critério de Estudos Antecedentes, por que o peso do primeiro (10) é maior que o do segundo (3). Quanto mais elevada são as classificações internas nos critérios mais importantes, maior é o índice de pertinência do pré-indicador analisado. Ainda, no exemplo apresentado, o critério Acessibilidade de dados proporciona (5*10=50 pontos, enquanto o critério Estudos antecedentes proporciona (5*3=15 pontos). Considerações Finais 96 O sistema de seleção de indicadores a partir de análises multicritérios propostos, se apresenta útil na seleção de indicadores de sustentabilidade para avaliação de Smartparks. Os critérios propostos e o sistema de indicadores são aplicáveis para ter uma análise quantitativa em diversas escalas de espaço e de tempo, podendo ser utilizados em diferentes escalas e configurações. Os indicadores ajudam a identificar pontos fortes e fracos de cada nível, utilizando como base para introdução dos indicadores oito temas e vinte subtemas com abordagem a sustentabilidade. Portanto, auxilia as empresas e responsáveis pela tomada de decisões na gestão e no planejamento de ações para eficiência dos processos de produtivos e para melhorias socioambientais. O sistema multicritério de seleção de indicadores poderá ser utilizado em qualquer Smartparks, pois a partir de um inventário de indicadores, permite a seleção criteriosa dos mais adequados para uma determinada situação e localização. Agradecimentos. – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Referências Bibliográficas ACSELRAD, Henri. Sentidos da sustentabilidade urbana. In: ACSELRAD, H. A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A. p28-55. 2001. ACSELRAD, Henri. Discursos da sustentabilidade urbana. 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XVII, 235p. 98 ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE HIDROAMBIENTAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE – PB, BRASIL: Uma aplicação do ISHAP SALES, Luís Gustavo de Lima 1; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde2; CAROLINO, Jacqueline Alves 3 1 UFCG/CCTA; 2 UFCG/CTRN/PPGRN; 3 Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Urbana, Rural e Ambiental - SURA/UFCG/CNPq E-mail dos autores: [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo A importância da água para as dimensões do desenvolvimento sustentável ganha contornos estratégicos quando o conceito é espacializado. Pensar em desenvolvimento sustentável para áreas como a do semiárido brasileiro perpassa por uma discussão mais abrangente e complexa, como por exemplo, a construção de sistemas de indicadores específicos para auxiliar no processo de planejamento e gerenciamento de recursos hídricos locais. Desta forma, o objetivo geral deste trabalho consiste na aplicação de um Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo (ISHAP) proposto por Sales (2014) na subbacia hidrográfica do Rio do Peixe localizada na região semiárida paraibana, Nordeste, Brasil. Para tanto, foi necessário percorrer três etapas, a saber: 1) uma triangulação de informações para a formatação do sistema proposto através do check-list de indicadores; da caracterização das bacias hidrográficas localizadas no semiárido brasileiro, bem como a caracterização da sub-bacia do Rio do Peixe-PB; 2) a participação das reuniões/ eventos temáticos dos atores sociais e levantamento dos dados primários para a ponderação e validação do sistema e análise dos resultados; e 3) Aplicação do sistema proposto na sub-bacia do Rio do Peixe na Paraíba, para gerar um índice de sustentabilidade hidroambiental participativo. Os resultados obtidos com a aplicação do Sistema ISHAP dividiu-se em dois recortes, o primeiro voltado para a análise da realidade de cada município pertencente a sub-bacia estudada, bem como a realidade da própria sub-bacia e, o segundo, uma análise quanto ao aspecto temático das dimensões analisadas, a saber: Social, Econômica, Ambiental e Institucional. Palavras-Chave: Bacias Hidrográficas, Semiárido Brasileiro, Sistema de Indicadores, Sustentabilidade Hidroambiental. Hydroenvironmental Sustainability Index of Sub-Basin Rio do Peixe - PB, Brazil: an application of ISHAP ABSTRACT The importance of water for sustainable development gains strategic dimensions when the concept is spatialized. Spatialization yields more complex and comprehensive discussions of sustainable development for areas such as the Brazilian semiarid region through, for example, the construction of specific indicators to assist in the planning and management of local water resources. The overall objective of this work consists in the application of a Participatory HydroEnvironmental Sustainability Index (ISHAP in Portuguese) proposed by Sales (2014) for the sub-basin of Rio do Peixe, located in semi-arid region of Paraiba, Northeast, Brazil. The Index was constructed through three stages, namely: 1) a triangulation of information for formatting the system through the check-list of indicators and the characterization of watersheds located in the Brazilian semi99 arid region, as well as the characterization of the sub-basin of Rio do Peixe-PB; 2) the participation of social actors in meetings and the collection of primary data to validate the system and analysis of results; and 3) application of the proposed system in the sub-basin of Rio do Peixe, generating a participatory hydroenvironmental sustainability index. The results from the application of ISHAP system were two-fold. the first focused on the analysis of the reality of each municipality belonging to sub-basin studied , as well as the reality of the sub-basin itself and , second , an analysis on the thematic level the analyzed dimensions, namely : Social , Economic , Environmental and Institutional. Keywords: Brazilian semiarid region, Hydro-Environmental Sustainability Indicators System, Watershed. Introdução: Nos últimos três anos um fenômeno cíclico e de intensidade diferente acontece no semiárido brasileiro provocando grandes impactos sociais, econômicos, ambientais e institucionais: a Seca. As manchetes dos jornais, revistas, internet sobre o fenômeno não cessam. Desde notícias sobre a disponibilidade hídrica da região até conflitos em decorrência da falta de água são veiculadas. Muitas delas compõem o cenário deste trabalho e ilustra os impactos advindos desse fenômeno para a região. A atualidade das notícias contrasta com a repetição das mesmas em períodos de seca anteriores. Diante desses fatos percebe-se um cenário instaurado no semiárido brasileiro de preocupação, riscos e incertezas o que faz com que ocorra um direcionamento das agendas governamentais para enfrentar o problema da escassez hídrica, mesmo que de forma parcial, já que com o término do ciclo de estiagem tudo volta a ser como era antes. A última notícia sobre as chuvas que caem em algumas áreas do semiárido brasileiro renova as esperanças da população que “enfrenta” a seca. Esse “espírito” renovador é típico do processo social, cultural, político e institucional instaurado em regiões propícias a escassez hídrica. Esse ciclo Seca - Enfrentamento da Escassez Hídrica – Chuvas – “Normalidade” – Secas (...), acabou gerando no imaginário coletivo uma sensação de impotência que se materializou no discurso, também coletivo, como o semiárido brasileiro - região problema de terras secas e de misérias. Considera-se nesse trabalho que todo o processo histórico e social da construção desse imaginário coletivo e, posteriormente, a sua materialização acarretou na constituição de atores sociais passivos perante a promoção de um desenvolvimento regional sustentável. Da mesma forma, acredita-se que tal postura passiva diante da realidade favoreceu a ausência de políticas públicas, até pouco tempo atrás, capazes de mudar tal concepção de semiárido “região-problema” e a busca de um desenvolvimento sustentável ficou cada vez mais distante. Porém, é bom frisar que esse cenário de passividade perante o fenômeno da seca e suas consequências para as diversas instâncias da vida vem passando por importantes transformações. A primeira delas talvez seja a paradigmática - a da passagem de uma política voltada única e exclusivamente do “combate a seca” para uma política de “convivência com o semiárido”. Além disso, as intervenções governamentais deixaram de ser apenas com ênfase na questão hidrológica e passou também para uma concepção de gestão compartilhada entre diferentes atores sociais. Todo esse processo de mudança influencia nessa região de escassez hídrica e projeta-se para um futuro, não tão distante, a efetiva participação social no 100 processo de planejamento e de gerenciamento dos recursos hídricos locais. Porém, a necessidade em se ter atores sociais ativos e conhecedores de suas realidades hidroambientais locais é inconteste para o sucesso dessas transformações. Desta forma, o desafio está colocado, qual seja: o de contribuir para a mudança de postura dos atores sociais da região do Semiárido Brasileiro e consequentemente transformar a realidade de tal região. De antemão afirma-se que não se pode planejar, gerenciar e desenvolver de forma sustentável aquilo que não se conhece. Portanto, conhecer a realidade que está se propondo analisar é fundamental. Diante disso, o objetivo geral deste trabalho foi a aplicação de um Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo (ISHAP) proposto por Sales (2014) na sub-bacia hidrográfica do Rio do Peixe localizada na região semiárida paraibana, Nordeste, Brasil. O resultado dessa aplicação é a geração de um índice que seja capaz de auxiliar no processo de discussão, planejamento e gerenciamento de regiões hidrográficas locais. A ideia é de que quanto mais democrático for o processo de construção do conhecimento da realidade hidroambiental de determinada localidade (bacia/sub-bacia/unidade de planejamento hídrico), maior e melhor será o envolvimento dos atores na gestão dos recursos hídricos e, consequentemente maior será a chance de se implantar um projeto de desenvolvimento sustentável para a região. Referencial Teórico: O Sistema ISHAP possui uma história caracterizada pela busca de diferentes sistemas de indicadores de sustentabilidade que têm em suas origens teórico-metodológicas o intuito de captar processos e fenômenos de contextos locais que buscam um nível de desenvolvimento mais sustentável. A diferença existente entre os modelos consiste na questão espacial. Os anteriores tinham como recorte espacial de análise os limites estaduais e/ou municipais enquanto que o que está se propondo é voltado para contextos de bacias e sub-bacias hidrográficas do semiárido brasileiro. A figura 1 revela os caminhos necessários para se chegar até o presente momento. 101 Figura 1. Sistemas de Indicadores de Sustentabilidades anteriores que compuseram o ISHAP Fonte: Elaboração própria a partir da adaptação de Martins e Cândido (2008) e Silva (2008). De acordo com o que pode ser observado na Figura 1, o modelo que deu origem a discussão do ISHAP foi o proposto pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Vale salientar que tal proposta do CDS/ONU (2001) organizou as variáveis do seu sistema (indicadores) segundo dimensões do desenvolvimento, quais foram: ambiental, social, econômica e institucional e estas, em temas e subtemas como foi visto anteriormente. Dentro dessa lógica, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) organizou seu modelo, denominado de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil, o IDS Brasil (2004). Foi a partir do IDS Brasil que Martins e Cândido (2008) desenvolveram um sistema para avaliar o desenvolvimento sustentável numa perspectiva municipal denominado de Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal (IDSM). Tal proposta foi concebida em virtude da necessidade de analisar a situação do desenvolvimento sustentável em nível municipal já que o IDS Brasil abordou a temática apenas numa perspectiva nacional. A organização do modelo do IDSM seguiu a lógica do IDS-Brasil que, por sua vez, seguiu as recomendações do CDS/ONU. Porém, outro modelo foi preponderante para a existência do IDSM de Martins e Cândido (2008), qual seja: o Índice de Desenvolvimento Sustentável para Territórios Rurais (IDSTR). Tal modelo refere-se a uma ferramenta metodológica desenvolvida pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para análise do processo de desenvolvimento sustentável em alguns territórios rurais localizados em países da América Latina. Basicamente, o IDSTR contribui na parte metodológica do IDSMP, referente a transformação de todos os indicadores que compuseram o sistema em índices. A partir da construção, aplicação e análise do IDSM de Martins e Cândido (2008) vários outros modelos vêm sendo construídos e aprimorados. Um deles foi o Índice de Desenvolvimento Local Sustentável (IDLS) de Silva (2008). A contribuição do IDLS para o aprimoramento do IDSM diz respeito a parte estatística, com a introdução das ferramentas de apoio a decisão: Processo Analítico Hierárquico (AHP) e a Análise de Componentes Principais (ACP). 102 A diferença entre os dois modelos IDSM e o IDLS está na ponderação das variáveis e das dimensões que compuseram os mesmos. No IDSM, as dimensões e variáveis tinham o mesmo peso, ou seja, todos possuíam importância igual para analisar o desenvolvimento sustentável municipal. Já no IDLS, Silva (2008) conseguiu trazer à tona a ponderação das variáveis e das dimensões da sustentabilidade do desenvolvimento através da análise multicritério (AHP e ACP). Além disso, o IDLS inseriu também a participação de atores sociais que trabalhavam com a temática em questão para facilitar no processo de valoração das variáveis. O IDSM e o IDLS foram os modelos base para a construção do Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal Participativo (IDSMP) de Vasconcelos, et. al (2010). Esse modelo contribui para a evolução da ferramenta de análise de desenvolvimento sustentável em nível de municípios com a centralização de seus esforços para a participação dos atores sociais. A estrutura teórica do IDSM e a análise multicritério do IDLS fazem parte do modelo do IDSMP. Por fim, chega-se ao momento atual, o da adaptação do Índice de desenvolvimento Sustentável Municipal Participativo (IDSMP) de Vasconcelos et. al. (2010) para atender não mais uma realidade em nível de município, mas sim uma realidade em nível de sub-bacia hidrográfica, chegando-se assim a construção do Índice de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo (ISHAP) para analisar a realidade de sub-bacias hidrográficas localizadas no semiárido brasileiro. Metodologia Para a realização desse trabalho foi necessário adotar alguns procedimentos e técnicas de pesquisa, a saber: a) Pesquisa Bibliográfica que deram suporte para a confecção do check-list de variáveis hidroambientais que compuseram o sistema ISHAP; b) Pesquisa de dados secundários junto aos órgãos estaduais e federais que trabalhavam direta ou indiretamente com as variáveis que compuseram o sistema de indicadores de sustentabilidade hidroambiental; c) Trabalho de campo para a ponderação das variáveis por parte dos atores sociais; e e) Trabalho de Gabinete no qual foram tabulados, processados e analisados todos os dados que compuseram o sistema proposto. Além desses procedimentos, essa parte metodológica abordou o sistema ISHAP proposto, através de sua estrutura, de sua composição e seu funcionamento. Quanto a estrutura o ISHAP, trabalhou se com quatro grandes dimensões da sustentabilidade, a saber: a) a dimensão social; b) a dimensão econômica; c) a dimensão ambiental e; por fim, d) a dimensão institucional. Para cada dimensão dessa existe um ou mais temas tratados. Por exemplo: para a dimensão social, os temas trabalhados foram: Renda, Educação, Saúde, Dinâmica da População e Acesso; Para a dimensão econômica, foram trabalhados os seguintes temas: Participação no PIB, PIB Per Capita e Tarifa; Para a dimensão ambiental foram trabalhos os temas: Controle de resíduos sólidos e líquidos e sua interface com os recursos hídricos, Ambiente e Recurso e; por fim, para a dimensão institucional foi abordado o tema Político-Institucional. Finalizando a estrutura do Sistema ISHAP com suas dimensões e temas, observa-se as variáveis. Cada tema possui uma ou mais variáveis que podem ser vistas na tabela 1. Tabela 1. Composição do sistema ISHAP 103 Dimensão Tema RENDA EDUCAÇÃO SOCIAL (9) SAÚDE DINÂMICA DA POPULAÇÃO ECONÔMI CA (5) ACESSO PARTICIPAÇÃO NO PIB PIB PER CAPITA TARIFA AMBIENTAL (14) CONTROLE DE RESÍDUOS SÓLIDOS E SUA INTERFACE COM RECURSOS HÍDRICOS AMBIENTE INSTITUCIONAL (4) RECURSO Indicador % de pessoas que vivem que vivem abaixo da linha de pobreza Escolaridade superior a 4 anos de estudo Taxa de Mortalidade Infantil (menores de 5 anos) Doenças por diarreia Densidade Populacional Total Densidade Populacional Rural Índice de urbanização % dos domicílios com acesso a rede geral de abastecimento de água % dos domicílios com acesso a rede geral de esgoto Participação da Indústria no PIB Participação da Agropecuária no PIB Participação da Administração Pública no PIB PIB Per capita em R$ Tarifa Média de água (R$/m³) Quantidade de domicílios com coleta de lixo pelo serviço de limpeza Quantidade de domicílios com coleta de lixo através da caçamba do serviço de limpeza Quantidade de domicílios que queimam o seu lixo Quantidade de domicílios que jogam seu lixo em terreno baldio ou logradouro Taxa de conformidade da água em relação a DBO Taxa de conformidade da água em relação ao OD Índice de Qualidade da Água Área ocupada por vegetação nativa na bacia ou sub-bacia Disponibilidade de água superficial Disponibilidade de água subterrânea Demanda de água para abastecimento humano Demanda de água para indústria Demanda de água para irrigação Demanda de água para pecuária Número de conflitos da bacia ou sub-bacia que chegam ao comitê de bacia Número de conselhos municipais que fazem parte da bacia ou sub-bacia POLÍTICO-INSTITUCIONAL Capacidade institucional na bacia ou sub-bacia (incentivos, recursos humanos e interações entre instituições) Fortaleza do Comitê de bacias (Recursos financeiros, objetivos e metas, interações e mobilização social) Fonte: Elaboração própria. Resultados Para a análise das dimensões da sustentabilidade hidroambiental dos municípios, além da geração dos índices das dimensões, os dados foram espacializados. (ver figura 2) A espacialização fornece para os atores sociais responsáveis pela discussão, planejamento e gerenciamento de recursos hídricos locais a oportunidade de visualizar os índices de cada município que compõe a sub-bacia, podendo aferir rapidamente, qual município está melhor ou pior em termos de sustentabilidade hidroambiental. 104 Figura 2. Espacialização dos índices das dimensões que compõem o ISHAP por município. Fonte: Elaboração própria com base em shapefiles fornecidos pela AESA e IBGE Para a dimensão social da sustentabilidade, os dados secundários coletados e ponderados pelos atores sociais revelaram que os municípios de Poço José de Moura e Cajazeiras apresentaram uma Sustentabilidade Aceitável. Já os municípios de Poço Dantas e Bernardino Batista apresentaram uma Baixa Sustentabilidade. O restante dos municípios que compõem o território da sub-bacia do Rio do Peixe apresentou índices de Média Sustentabilidade. Duas questões pesaram para que os municípios de Poços Dantas e Bernardino Batista ficassem com valores abaixo da Média Sustentabilidade, quais sejam: o Tema Renda com a variável porcentagem de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza e o Tema Acesso, cujas variáveis são o Índice de atendimento da população com abastecimento de água, o Índice de atendimento da população com cisternas e o Índice de atendimento da população com esgotamento sanitário. Para a Dimensão Econômica da sustentabilidade, observa-se que os municípios de Sousa e Cajazeiras apresentaram uma Sustentabilidade Aceitável. Já os municípios de Aparecida, Santa Cruz, Lastro, Uiraúna, São João do Rio do Peixe, Triunfo, Santa Helena e Cachoeira 105 dos Índios estão no nível da Média Sustentabilidade. Os municípios de Vieirópolis e Bom Jesus apresentaram uma Baixa Sustentabilidade Econômica. Por fim, os piores resultados, apresentando uma Insustentabilidade Econômica estão os municípios de Poço Dantas, Joca Claudino, Bernardino Batista, Poço José de Moura e São Francisco. Os números, a ponderação e tabulação dos dados mostraram que a piora dos resultados desses índices é provocado principalmente pelo tema TARIFA, composta pelo indicador Tarifa Média de Água medido em R$/m³. O objetivo dessa cobrança não é a arrecadação pura e simples pelo uso da água, mas, a disposição de uma gestão para induzir o uso racional desse bem coletivo e cobrar a devolução da mesma em condições de qualidade satisfatória. Para calcular essa variável é necessário ter o valor da Tarifa média praticada pelos municípios que são disponibilizadas pelo Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). A relação desse indicador foi considerada positiva na análise de conteúdo das filmagens das reuniões e eventos dos atores sociais. Sendo assim, quanto maior o valor melhor será o seu índice e, o contrário, quanto menor o valor do indicador, pior será o índice. De acordo com os dados do SNIS de 2010, o município que praticava a maior tarifa de água é Sousa, 2.27 R$ por m³ de água consumida. Os piores resultados foram os municípios de Joca Claudino, Marizópolis, Poço Dantas, Poço José de Moura e São Francisco que não cobravam pelo uso da água fornecida. Quanto a Sustentabilidade Ambiental em nível de municípios pertencentes a sub-bacia do Rio do Peixe, observa-se que apenas Cajazeiras apresentou um Sustentabilidade Aceitável. Já Santa Helena possui uma Média Sustentabilidade. O município de Aparecida apresentou números Insustentáveis de Sustentabilidade Ambiental e, a maioria dos municípios apresentou Baixa Sustentabilidade Ambiental. A dimensão Ambiental da sustentabilidade hidroambiental é composta por três temas, a saber: 1) controle de resíduos líquidos e sólidos e sua interface com os recursos hídricos; 2) ambiente e; 3) recurso. Os dois primeiros temas possuem uma relação muito forte, principalmente no tocantes as variáveis “Índice de esgoto tratado referido a água consumida” que faz parte do primeiro tem e as variáveis do tema Ambiente que fazem parte da qualidade da água (DBO, OD, Fósforos Totais, Coliformes Termotolerantes e Índice de Qualidade de Água (IQA). Pois bem, no tocante aos índices de esgoto tratado referido a água consumida a situação dos municípios que fazem parta da subbacia é crítico, pois apenas dois deles, dos dezoito pertencentes, possuem parte de seus esgotos tratados, são eles: Cajazeiras, com 21.51% de seu esgoto tratado e Poço José de Moura com 16.90%, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2010. Diante desses números, os índices ponderados dos dezesseis municípios obtiveram o valor de 0.0000, enquanto que Cajazeiras obteve 0.5710 e Poço José de Moura com 0.4486. Esses números incidem diretamente no comportamento dos valores da qualidade da água. De acordo com os atores sociais ligados a Agência Nacional de Águas: “A qualidade da água da bacia Piranhas-Açu é muito influenciada pelos esgotos produzidos pela cidade e o que se observa na área da bacia é a predominância da baixa coleta de esgotos dos municípios. Além disso, percebe-se que apesar de alguns municípios coletarem seus esgotos eles não fazem o devido tratamento da água antes de retorná-la ao rio.” (Dados da pesquisa de campo, Novembro de 2013) Alguns indicadores de qualidade de água estão sendo trabalhados pelos planejadores, gestores e especialista de reservatórios no semiárido brasileiro para verificar a questão da potencialidade dos corpos hídricos da região desenvolverem o problema da Eutrofização. 106 Pela característica local de alta incidência de radiação solar, elevadas temperaturas e poluição das águas pelos esgotos domésticos, observa-se um aumento considerável das taxas de DBO, OD, Coliformes Termotolerantes e o Fósforo Total, Essas variáveis, quando alterados, criam um ambiente propício para a proliferação de algas e de cianobactérias, ocasionando assim a eutrofização do corpo hídrico: “O predomínio do baixo nível de coleta de esgotos da bacia e quando é coletado não é tratado acaba por rebater em alguns números referentes a carga poluidora de alguns parâmetros, por exemplo o Fósforo. Normalmente quando tem-se a presença de águas poluídas por esgoto doméstico tem-se uma produção maior de fósforo que, por sua vez, gera um impacto sobre a qualidade da água dos mananciais e dos rios da bacia. (...) Em praticamente todos os açudes as concentrações médias de Fósforo total foram superiores ao limite de 0.05 mg/L para águas doces de Classe 3 que não é uma classe de qualidade de água tão boa assim. De acordo com resolução do CONAMA (357/2005), a quantidade de fósforo para a Classe de água 2 tem que ser menor do que 0.03 mg/L, para a Classe 3 a carga de fósforo tem que ficar entre 0.03 e 0.05 mg/L e maior do que 0,05 mg/L é uma água de péssima qualidade.” (Dados da pesquisa de campo, Novembro de 2013) Desta forma, mesmo o Índice de Qualidade de água dos reservatórios da sub-bacia estar no nível de Boa para Ótima qualidade, algumas taxas específicas estão fora do padrão estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente, o CONAMA (resolução 357/2005): “Esse é um ponto importante que o Plano de bacia vai ter que enfrentar, essa questão do tratamento dos esgotos das cidades por conta do impacto na prioridade do uso da água que é o abastecimento humano e a dessedentação de animais. Desta forma o tratamento de esgoto tem relação direta com a qualidade de água. É importante observar que a carga poluidora das cidades tem impacto direto sobre a qualidade das águas dos reservatórios estratégicos.” (Dados da pesquisa de campo, Novembro de 2013) Os dados de Fósforo para a sub-bacia do Rio do Peixe fornecido pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba mostram que os principais reservatórios estratégicos que atendem a demanda de água sub-bacia estão com as taxas de Fósforo Totais acima da média. (ver Figura 3) Figura 3. Qualidade da água (Fósforo Total) dos reservatórios que abastecem os municípios analisados. Fonte: SUDEMA - Programa de Monitoramento de Reservatórios, 2009 - 2012 107 Os outros parâmetros ficaram dentro da normalidade. Porém, isso não quer dizer que não há impacto direto dos esgotos jogados nos rios e, consequentemente nos reservatórios. Aliás, é bom lembrar que essa sub-bacia tem como uma de suas características a presença maciça de municípios com até 10.000 habitantes, ou seja, são municípios de pequeno porte segundo a metodologia utilizada pelo MDS e seguido pelo Instituto Nacional do Semiárido (INSA, 2012). Isso quer dizer que se a maioria dos municípios possuísse um contingente populacional maior, consequentemente a produção de esgoto também seria maior e a alteração da qualidade da água seria mais intensa. Outras variáveis fundamentais para a análise hidroambiental da sub-bacia do Rio do Peixe correspondem a Disponibilidade de água e a Demanda Agregada. Esses indicadores estão inseridos no tema Recurso. Para efeito da variável “disponibilidade hídrica superficial da região” foram considerados, primeiro, os reservatórios estratégicos inseridos na sub-bacia do Rio do Peixe, ou seja, aqueles com uma capacidade superior a 10.000.000 m³ e, segundo, foram inseridos os dois reservatórios fora da área da sub-bacia, mas que atendem diretamente aos usos de municípios pertencentes a mesma. Portanto, somando-se os cinco reservatórios estratégicos, quais sejam: Pilões, Lagoa do Arroz, Capivara, Engenheiro Ávidos e São Gonçalo; tem-se como capacidade máxima de acumulação de água o valor de 430.370.577 m³ e no mês de janeiro de 2014 encontravam-se com o volume de 58.409.237 m³, correspondendo a 13.57% da capacidade total. Já para a variável “disponibilidade hídrica subterrânea da região”. Os dados disponíveis só existiam em nível de sub-bacia, limitando assim a comparação pelos municípios. Desta forma, para efeito deste estudo foram considerados a quantidade de poços registrados pelo Censo Demográfico do IBGE em 2010 por município da sub-bacia do Rio do Peixe e multiplicado pela vazão média dos poços da Bacia Sedimentar do Rio do Peixe, que é de 3.7 m³/h ou 1.03 L/s, de acordo com os estudos realizados pela IBI – Engenharia Consultiva S/S, como parte integrante do Plano de Recurso Hídricos da Bacia do PiranhasAçu solicitado pela Agência Nacional das Águas – ANA, 2013. Porém, as variáveis das disponibilidades hídricas superficiais e subterrâneas se relacionam diretamente com a variável da “demanda de água agregada da sub-bacia”. Essa variável é composta pelas somatórias das demandas para o abastecimento humano, irrigação, abastecimento industrial e pecuária. Pelos dados secundários coletados, observou-se que a demanda agregada dos municípios da sub-bacia do Rio do Peixe está em um nível Médio de Sustentabilidade, com exceção ao município de Sousa que é o que demanda de maior quantidade de água, principalmente pelos seus dois projetos de irrigação: o Projeto das Várzeas de Sousa e perímetro irrigado de são Gonçalo. Em termos de sustentabilidade hidroambiental, a dimensão que apresentou os piores números foi a Institucional. Essa dimensão é composta por um único tema, o Político-Institucional que contempla duas variáveis: a) o Índice de Capacidade Institucional e; 2) a Participação do município em Comitês de Bacias Hidrográficas. 108 Os maiores municípios da sub-bacia apresentaram os melhores índices, são eles Sousa e Cajazeiras. Poço Dantas e Bom Jesus apresentaram índices correspondentes a Média Sustentabilidade. Poço José de Moura, São João do Rio do Peixe, Marizópolis, Vieirópolis e Aparecida estão no nível da Baixa sustentabilidade. Por fim, os municípios de Cachoeira dos Índios, Santa helena, Bernardino Batista, Joca Claudino, Uiraúna, Lastro, Santa Cruz e São Francisco. Essa dimensão tem sua importância para o ISHAP, devido ela revelar até que ponto o município está envolvido com a temática dos recursos hídricos. O “índice de capacidade institucional” vai verificar qual município possui uma secretaria exclusiva para o Meio Ambiente e qual município possui um Conselho Municipal de Meio Ambiente e se ele se reuniu com frequência. Ora, se no município possuir uma secretaria que trate de assuntos direcionados ao meio ambiente e possui um conselho ativo, então ele possui um espaço de diálogo fundamental para discutir temas referentes a sustentabilidade hidroambiental municipal. Apenas Sousa e Cajazeiras possuem esses espaços de diálogo e se reunirem com frequência. O município de Bom Jesus apesar de possuir uma secretaria exclusiva ela não possui um Conselho Municipal de Meio Ambiente. Já o município de Poço Dantas, não tem uma secretaria de Meio Ambiente, mas possui o Conselho, porém ele não se reuniu no último ano. O restante dos municípios pertencentes a sub-bacia não possui nem secretaria exclusiva e nem um conselho de meio ambiente, o que denota a falta de um espaço específico para as discussões de questões ambientais e, precisamente, de questões relacionadas a realidade hidroambiental local. Quanto a segunda variável, a participação do município no comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas-Açu, a metade dos municípios fazem parte do comitê, são eles: Aparecida, Bom Jesus, Cajazeiras, Marizópolis, Poço Dantas, Poço José de Moura, São João do Rio do Peixe, Sousa e Vieirópolis. O restante dos municípios não faz parte do referido comitê. A síntese das informações para cada dimensão da sustentabilidade hidroambiental gerou o Mapa do Índice de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo dos municípios analisados, revelando qual o que está com um melhor nível de sustentabilidade hidroambiental, qual é o que está no nível insustentável, etc. (ver figura 4) 109 Figura 4 Mapa do ISHAP dos municípios analisados Fonte: Elaboração própria com base em shapefiles fornecidos pela AESA e IBGE Pelas informações, os dois maiores municípios, Sousa e Cajazeiras possuem uma melhor ISHAP, Cajazeiras ficou com um índice de 0.7911 e Sousa com o índice ISHAP de 0.7311. Já o município com a pior situação foi Bernardino Batista com o ISHAP de 0.1686, Bom Jesus atingiu um ISHAP de 0.5210 e o restante dos municípios ficaram com o ISHAP entre 0.2001 até 0.5000. Por fim, foi gerado o cálculo para todo o território da sub-bacia do Rio do Peixe, ou seja, ela sendo como sendo uma Unidade de Planejamento Hídrico da Bacia Piranhas-Açu. Para calcular o Índice da Dimensão Social, somou-se os temas: Renda, Educação, Saúde, Dinâmica da População e Acesso) e dividiu-se o resultado por 5, ficando da seguinte forma: IDS = (ITrenda + IT educação + ITsaúde + IT din. da pop. + IT acesso) ÷ 5 Equação (1) IDS = (0.7927 + 0.8318 + 0.6608 + 0.4608 + 0.4733) ÷ 5 = 0.6439 Onde, IDS – Índice da Dimensão Social; ITrenda – Índice do Tema Renda 110 ITeducação - Índice do Tema educação ITsaúde - Índice do Tema saúde ITdin. da pop. - Índice do Tema Dinâmica da População ITacesso - Índice do Tema Acesso A Dimensão Social da Sustentabilidade ficou com o valor de 0.6439, melhor resultado entre todas as outras dimensões. Já o resultado da Dimensão Econômica foi de 0.4973. A Dimensão Ambiental, a mais valorizada pelos atores sociais ficou com um índice da dimensão no valor de 0.4080 e, por fim, a Dimensão Institucional ficou com o índice de 0.4336. Por fim, o cálculo do Índice de Sustentabilidade Hidroambiental Participativa da sub-bacia do Rio do Peixe. O ISHAP foi obtido a partir da média dos índices ponderados das dimensões, conforme expressão a seguir. ISHAP = (IDS + IDE + IDA+ IDI) / 4 Equação (2) ISHAP = 0.6439 + 0.4973 + 0.4080 + 0.4 336) ÷ 4 ISHAP = 0.4957 ISHAP – Índice de Sustentabilidade Hidroambiental Participativo IDS – Índice da Dimensão Social IDE – Índice da Dimensão Econômica IDA – Índice da Dimensão Ambiental IDI – Índice da Dimensão Institucional Com base na média dos índices ponderados para as dimensões, obteve-se o ISHAP da Unidade de Planejamento Hídrico da sub-bacia do Rio do Peixe, o qual se encontra em um nível de Baixa Sustentabilidade para a realidade hidroambiental, porém, próxima a Média Sustentabilidade que fica entre os valores de 0.5001 e 0.6999. Conclusão: O resultado final da aplicação do Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Hidroambiental revelou que: 1) O Índice de atendimento da população com esgotamento sanitário é baixo na área de toda a sub-bacia e esse número acaba influenciando em um menor valor no índice da dimensão final, mesmo os valores dos temas Renda e Educação terem sidos dentro dos limites de uma Sustentabilidade Aceitável e Ideal respectivamente, mas os indicadores de dinâmica da população e do Índice de atendimento da população com esgotamento sanitário diminuíram o índice da dimensão social final; 2) Apesar do índice do tema Tarifa está nos limites de uma Média Sustentabilidade os indicadores de Produtos Internos Bruto por setores e per capita acabou por diminuir a escala de sustentabilidade hidroambiental da perspectiva econômica para uma Baixa Sustentabilidade Ambiental. A diferença entre os PIB per capita dos dois maiores municípios em relação aos outros é gritante. Para se ter uma ideia, o PIB per capita de Sousa em 2010 era de 8.910,38 R$ e o de Cajazeiras era de 7.901,97 R$. A média do PIB da Bacia ficou em 4.997,39 R$. O menor PIB da sub-bacia é do município de Vieirópolis com 3.909,15 R$; 3) Na dimensão ambiental, a mais valorizada pela ponderação feita através dos discursos dos atores sociais, observa-se um dos principais problemas não só 111 da sub-bacia do Rio do peixe, mas de toda a Bacia Hidrográfica do Piancó-Piranhas-Açu. Tal problema refere-se a falta de coleta e de tratamento de esgoto, incidindo na qualidade da água. Apesar dos índices estarem dentro dos parâmetros de qualidade da água de Classe 2 de acordo com a resolução 357/2005, as taxas de Fósforo deram altas para todos os reservatórios, revelando assim uma problemática futura, a da eutrofização dos corpos hídricos, caso não seja resolvido a questão do esgotamento sanitários dos municípios da bacia como um todo; e 4) Na dimensão institucional, observa-se um problema que é a falta de espaços institucionais para o processo de discussão, planejamento, gestão de recursos hídricos e ambientais em nível municipal. Falta uma articulação maior entre os municípios da sub-bacia para tratarem dos problemas hidroambientais locais, dos problemas da própria subbacia do Rio do Peixe. A falta de secretarias específicas de meio ambiente e de conselhos municipais de meio ambiente revela a situação da desarticulação política-institucional. Apesar de que metade dos municípios fazerem parte do comitê da bacia do rio PiancóPiranhas-Açu. Por fim, o cálculo do Índice de Sustentabilidade Hidroambiental Participativa da sub-bacia do Rio do Peixe, O ISHAP, foi obtido a partir da média dos índices ponderados das dimensões, ficando com um valor de IDSMP = 0.4957. Um nível de Baixa Sustentabilidade para a realidade hidroambiental, porém, próxima a Média Sustentabilidade que fica entre os valores de 0.5001 e 0.6999. A aplicação do Sistema ISHAP tanto para a realidade de cada município pertencente a subbacia do Rio do Peixe, quanto para a própria sub-bacia analisada revelou-se um instrumento importante para auxiliar nas discussões, planejamento e gerenciamento de realidades hidroambientais locais. Além do mais, a possibilidade de se ter um instrumento que gere um índice voltado para a perspectiva hidroambiental de localidades e que esse instrumento possa apontar para os problemas tanto em nível de escala espacial (do nível de bacia para o nível de sub-bacia e nível municipal) quanto em nível de escala temática (do nível de dimensão da sustentabilidade para um nível temático e de indicadores) é fundamental num processo de geração de informações espacializadas. Assim como bem apontou Silva (2008), a proposta de ISHAP, aqui representada pelas suas dimensões, temas e indicadores, cumpre o objetivo de, além de ordenar as questões da sustentabilidade hidroambiental, ter um forte poder descritivo de fenômenos multivariados, abrindo um “leque” de possibilidades para ampliação do sistema tanto a nível escalar quanto em nível de novas variáveis para compor o sistema proposto. Agradecimentos. Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo auxílio financeiro que possibilitou a realização desta pesquisa. Referências Bibliográficas AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS DO BRASIL (ANA) & IBI ENGENHARIA CONSULTIVA S/S. Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Piranhas-Açu (elaborado segundo o Edital e Termos de Referencia originado do Processo Nº 02501.000225/2011-10 e Contrato nº 042/ANA/2013.) (Em fase de elaboração). CDS/ONU. Indicators of Sustainabel Development: Framework and Methodoloies. New York: DESA/OSD, 2001; 112 CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Alterado pela Resolução CONAMA 397/2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/conama>. Acesso em: 04 set. 2014; INSTITUTO NACIONAL DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2004. Rio de Janeiro: Diretoria de Geociências (Estudos e Pesquisas), 2004; __________ . Censo Demográfico do IBGE. Rio de Janeiro: IBGE, 2010; INSTITUTO NACIONAL DO SEMIÁRIDO – INSA. Sinopse do Censo Demográfico do Semiárido Brasileiro. Campina Grande – PB: INSA, 2012 MARTINS, M. F.; CÂNDIDO, G. A. Índice de Desenvolvimento Sustentável para Municípios (IDSM): metodologia para análise e cálculo do IDSM e classificação dos níveis de sustentabilidade – uma aplicação no Estado da Paraíba. João Pessoa: Sebrae, 2008; SALES, L. G. de L. Indicadores de Sustentabilidade Hidroambiental para bacias hidrográficas do semiárido brasileiro: uma proposta de operacionalização na sub-bacia do Rio do Peixe-PB. Tese (Doutorado em Recursos Naturais – UFCG), campina Grande – PB, 2014; SILVA, M. G. da. 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UFCG, 2010. 113 ECOSSOCIOECONOMIA URBANA: INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE SOCIAL DOS ACIDENTES DE BIKE MESSENGER E MOTOFRETE, EM CURITIBA, BRASIL GARCIA1, Manon; SAMPAIO2, Carlos Alberto Cioce, GONZALEZ3, Alejandro Daniel 1 e 2 Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil; 3 Instituto de Investigaciones en Biodiversidad y Medio Ambiente, CONICET y Universidad Nacional del Comahue, Bariloche, Argentina 1 [email protected]; 2 [email protected]; 3 [email protected] Resumo A cidade é o cenário onde acontece o fluxo da movimentação de mercadorias, no sentido do seu ponto de destino, o que se denomina a última milha (last miles) da logística de distribuição de cargas. Um espaço de trade-off para a gestão urbana que precisa planejar para atender a esta demanda de movimentação, de maneira a assegurar o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável da cidade, sem impactar no espaço público e na mobilidade urbana. O padrão de consumo se alterou, decorrente das negociações de compra de varejo utilizando-se do comércio eletrônico, grandes níveis de negociações acontecem e geram acréscimo na quantidade e frequência de fluxo de mercadorias, na rotina diária dos centros urbanos. Na logística da “última milha” (last Miles logistics) o volume da carga é pequeno e a quantidade de entregas é grande. Este trabalho propõe um estudo de caso “crosscase” de análise dos indicadores sociais de acidentes de trânsito, envolvendo os veículos bicicleta e motocicleta. Foi utilizado como cenário, o contexto da logística urbana de cargas fracionadas, realizada por serviços de bike messenger e motofrete, na cidade de Curitiba, Paraná. Os resultados demonstraram que a atividade de logística urbana de carga fracionada realizada por motofrete apresenta indicadores de alto risco social devido ao número de acidentes. O transporte alternativo por bicicleta, apesar dos dados não fornecerem estatísticas suficiente, possui potencial de melhorar estes indicadores, assim como também indicadores ambientais urbanos. Palavras-chave: acidentes trânsito, ecossocioeconomia, indicadores sociais, logística urbana, motofrete e bike messenger, Urban ecosocioeconomics: social sustentability indicators for motorcycle and bike messenger accidents in Curitiba, Brazil Abstract The flux of commercial goods is a major activity in every city. Regarding the final destination, freight logistics of the last miles have encountered new challenges in the last decades, mainly due to changes in delivery demands. Consumption preferences have shifted to increasing e-commerce, which is usually associated with large number of orders and small parcel deliveries. This kind of service is better accomplished by light weight freight, and as a consequence a steep rise in the use of motorcycles has been observed in the last decades. Urban planning should then consider this particular delivery to find strategies to promote simultaneously economic development and the sustainability of public space and urban mobility. The present work investigates the use of motorcycles and bicycles dedicated to urban freight in the city of Curitiba, State of Paraná, Brazil. Social indicators of traffic accidents for motorcycles (motofrete) and bike messengers were compared. Large incidence of accidents occurring during motorcycle delivery was found, being the indicator of accidents much 114 larger than when motorcycles are used in other activities. Even though data on the use of bicycles were not statistically significant, this alternative light freight showed potential to improve the social indicator, as well as to improve other indicators related to the environment. Keywords: Bike and motorcycle messengers, Ecosocioeconomics, Social indicators, Traffic accidents, Urban logistics Introdução A saúde pública sofre impactos de diversos fatores, em casos associados à mobilidade urbana, não somente doenças, a exemplo as doenças respiratórios (poluição ambiental), mas também por acidentes e lesões (ECF, 2014). Os acidentes de trânsitos estão entre as oito causas de mortes do mundo, são estimados que 1 milhão e duzentos e quarenta mil pessoas morrem por acidentes e outros 20 e 50 milhões são vítimas respectivamente de lesões e invalidez. Os impactos destes indicadores são visíveis em países chamados em desenvolvimento, onde, segundo a OMS, os gastos com os acidentes de trânsito para a saúde pública são de 1 a 2% do PIB (WHO, 2013). A segurança rodoviária com ênfase nos acidentes de trânsito, esta entre as deliberações das políticas ambientais globais sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU, presente na Conferência Rio +20. Dentre as prescrições para as políticas de transportes sustentáveis, esta inclusa a indicação de incentivo a formas não motorizadas de transporte acessível e seguro (IEMA, 2009). A cidade é o cenário onde acontece o fluxo da movimentação de mercadorias, no sentido do seu ponto de destino, o que se denomina a ultima milha (last miles) da logística de distribuição de cargas. Um espaço de trade-off para a gestão urbana, que há necessidade de se planejar para atender a esta demanda de movimentação, de maneira a assegurar a dimensão econômica do desenvolvimento que se deseja sustentável da cidade, sem impactar no espaço público e na mobilidade urbana O padrão de consumo se alterou, decorrente das negociações de compra de varejo utilizandose do comércio eletrônico (e-commerce), grandes níveis de negociações acontecem e geram acréscimo na quantidade e frequência de fluxo de mercadorias, na rotina diária dos centros urbanos (Antún, 2013) Igualmente mudanças podem ser percebidas nas negociações remotas de bens e serviços, com entrega em domicílio (delivery) que cresce rapidamente em volume e popularidade (Browne et al., 2009). É considerada a parte mais cara, ineficiente e poluente da cadeia de suprimentos logísticos, na logística urbana, pois carrega poucos volumes, em pequenas cargas, várias vezes, aumentando o número de viagens realizadas por veículos no espaço urbano (Gevaers et al., 2014) Lima (2003), como vantagem, eficiência e agilidade, sugere a redução do tamanho dos veículos de carga, recomendando a utilização da bicicleta e motocicleta. Cargas com tamanhos reduzidos, pulverização de pontos de entregas, associados ao trânsito urbano demandam estes veículos de transporte de carga, apresentando resultados mais efetivos ao cenário urbano que se apresentam. O uso de motocicleta, como veículo de distribuição urbana de carga, é uma realidade. A agilidade da motocicleta em meio ao trânsito da cidade facilita o transporte de carga que 115 além de precisar de menores veículos de transporte de circulação de mercadoria, necessita de redução no tempo de deslocamento e capacidade para pequenos volumes, sem incrementar aumento nos custos de transporte (Silva et al., 2008). O serviço de motofrete é uma atividade em expansão, o que não deixa de ser uma atividade de risco existente e eminente, mas a movimentação de carga urbana precisa de um veículo com rapidez e agilidade que venha responder a demanda da sociedade, indústria e economia. Porém, a necessidade de agilidade e rapidez exige entregas rápidas em um menor espaço de tempo. Além disso, para atender aos prazos determinados pelas empresas que prestam serviços ou pelos clientes, o motofretista excede a velocidade, segurança e executa manobras arriscadas ou práticas de condução inadequadas para atender o cliente e a pressão por produtividade, que lhe são atribuídas (Silva et. al., 2008). O uso de motocicleta apresenta um alto número de acidentes registrados todos os dias nas grandes cidades, onde estes veículos transitam e compartilham as vias com os automóveis, pedestres e demais veículos. Todavia, a violência dos acidentes envolvendo motocicleta é assunto que deve ser tratado pela saúde pública por se tratar de acidentes com altos índices de morbidade e mortalidade da população (DPVAT, 2014). No sentido da logística urbana, na 8a. Conferência Internacional sobre Logística Urbana - 8th International Conference on City Logistics realizada na Indonésia entre os dias 17 e 19 de junho de 2013, pesquisadores do tema de diversos países abordaram sobre os assuntos relacionados e, o destaque foi à indicação “enfática” do uso da bicicleta como veículo de transporte para carga urbana para a “last miles”. A bicicleta apresenta vantagens ambientais, é um veículo de transporte que não polui (ambientalmente correto), não produz ruído, não utiliza combustível e possui um baixo custo com serviços de manutenção do veículo (economicamente adequado), segundo afirmação da ABRACICLO (2014). Economicamente a bicicleta apresenta vantagens comparativas em relação com outros veículos motorizados, baixos custos de aquisição e gastos subsequentes com manutenção e rotina usual de um veículo, com valores nulos de impostos anuais e taxas de licenciamento de uso de veículo nas cidades (Bacchieri et al., 2005). Os benefícios sociais, pelo uso da bicicleta estão associados ao seu tamanho e agilidade, reduzem o congestionamento, ocupam menor espaço nas vias, contribuindo para a melhor mobilidade nas cidades (Bacchieri et al., 2005). Além disso, a melhoria da qualidade de vida do usuário da bicicleta é inegável. Para Kienteka et al. (2014), são associados à saúde como, melhora cardiorrespiratória, minimização dos riscos de doenças cardiovasculares, sobrepeso e diabetes tipo 2. Em alguns países a bicicleta é utilizada para fazer o transporte de carga urbana de pequeno volumes, as chamadas cargas fracionadas na última minha da cadeia logística, em diversos países chamados de “bike messenger”. Bike messengers são os mensageiros urbanos que executam o serviço de entrega de carga urbana utilizando a bicicleta como veículo. Neste caso, pode ser um profissional autônomo que realiza a entrega ou um funcionário de uma empresa privada de serviços de entrega (courrier), utilizando a bicicleta comum ou caracterizada como de carga para o transporte da carga (Browne, 2003). A pesquisa teve seu foco na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná/Brasil, que se tornou exemplo de cidade moderna (1970) com soluções urbanas criativas e inovadoras. A mídia retrata Curitiba como capital ecológica, cidade modelo com qualidade de vida alta, 116 como consequência de um planejamento urbano bem sucedido (SILVA e BOLLMANN, 2005). Metodologia Este trabalho realiza um estudo de caso múltiplo utilizando-se técnica do cruzamento comparativo dos resultados (”cross-case”), com a finalidade de extrair um conjunto único de conclusões, por meio de indicadores de sustentabilidade qualitativos e quantitativos. A pesquisa foi realizada a partir de dois casos específicos e individuais, os bike messenger (bicicleta) e o motofrete (motocicleta), que estão interligados pelo exercício da mesma atividade (logística de carga fracionada), no mesmo espaço na cidade de Curitiba (urbano) (Yin, 2010). Foi utilizado como base, o conhecimento atual de soluções alternativas que respeitam ao mesmo tempo uma série de questões ecológicas, sociais e econômicas desejáveis, em uma abordagem que considera a complexidade dos subsistemas vinculados, bem como a eficácia além da organização, mas sobre as demandas sociais no território urbano. Os dados utilizados na pesquisa foram coletados em fontes públicas e privadas, por meio de entrevista com as duas empresas de entregas durante o ano de 2014. Em relação aos dados sobre a incidência de acidentes de trânsito na cidade, foi utilizado o relatório estatístico obtido do Corpo de Bombeiro do Estado do Paraná, que é responsável pelo serviço de atendimento a emergências e traumas nas vias públicas, a todos os tipos de acidentes envolvendo ou não veículos. O Corpo de Bombeiros do Paraná tem registrado todos os eventos com data, local, veículos e as pessoas envolvidas. Os dados podem ser acessados online. Resultados e discussão A Autoridade Nacional de Trânsito do Brasil (DETRAN, 2014), informou que em 2014, Curitiba havia uma frota de 1.468.087 veículos dos quais 130.842 se referem a motocicletas. Até agora, os dados sobre o número de bicicletas na cidade não é conhecida por nenhum dado estatístico. Segundo a ANTP (2012), as viagens realizadas por bicicleta representam 4% do total de viagens realizadas no Brasil. Igualmente a motocicleta, também tem a mesma representatividade de 4% das viagens realizadas. Os dados sobre motocicletas em uso para serviços de motofrete não é exato, devido à parcela de informalidade da atividade. Segundo o sindicato dos motoristas de trabalhadores de motocicletas, SINTRAMOTOS (2014), um número significativo de veículos é de propriedade de motoristas / trabalhadores que não possui registro junto a este órgão. O sindicato informou que, em 2013 existiam 12.000 profissionais de motofrete na cidade, porém, estimavam que junto à parcela de profissionais informais, somavam um total de 14.000 motocicletas por dia trabalhando na atividade de entrega de carga. Para o sindicato, as entregas realizadas por bicicletas são efetuadas na maioria das vezes por empresas ou autônomos não formalizados, do que as entregas por motocicleta. Afirmou que muitas empresas realizam entregas por bicicleta e até mesmo, possuem esta atividade como finalidade empresarial, porém não procedem a regularização ou sua formalidade junto aos órgãos e sindicato. As pesquisas exploratórias demonstraram que existem em Curitiba quatro 117 empresas de bike messenger, sendo que a soma de todos os seus funcionários totalizam 41 profissionais na cidade. Na entrevista com o sindicato, este indicou a empresa Ecobike como a única que presta serviços de entrega de cargas utilizando somente a bicicleta como veículo, contendo 18 funcionários registrados para nesta atividade devidamente regularizada junto a este sindicato. Em entrevista com o Ecobike (2014), caracterizada como uma experiência de Ecossocioeconomia, ou seja, uma organização que pratica o desenvolvimento sustentável, com efetividade extraorganizacional em seu território, por meio da sua extrarracionalidade na tomada de decisão da gestão empresarial (Sampaio, 2013), a empresa deu detalhes sobre suas atividades e os problemas de trânsito relacionados ao uso de bicicleta. A Ecobike informou que eles geralmente não usam ciclovias para as entregas, preferem ir por vias normais, de uso dos demais veículos, compartilhando o espaço e este procedimento não prejudica ou impacta negativamente em acidentes ou tempo de entrega. Esta escolha foi justificada pelo seguinte: (i) não há ciclovias por toda a cidade; (ii) as ciclovias não são interligadas; (iii) as ciclovias existentes em sua maioria não estão localizados em áreas centrais ou em áreas de grandes demandas; (iv) as condições da estrada de ciclovias nem sempre são tão boas quando comparada as vias de uso para automóveis. Informou ainda que seus bikes messengers percorrem aproximadamente 75 km por dia, com no máximo 7 kg de carga. Em 2,5 anos de atividade registraram somente um acidente leve (pequenas lesões), não necessitando nem internamento. Em relação às entregas realizadas com a motocicleta, foi realizada uma entrevista com a Empresa de Motofrete que informou possuir 150 funcionários efetivos, possui 10 anos de atividade no mercado de Curitiba, tendo em média 8% de registros de acidentes (18,75) no ano. Os motofretistas percorrem em média 100 km por dia e carregam consigo aproximadamente 20 kg de carga. Em relação à frota de veículos, segundo dados coletados junto ao DETRAN (2014) e DPVAT (2014), que referem ao início do ano de 2014, a representatividade da motocicleta se apresenta pequena. Tabela 1. Frota de veículos X motocicleta Curitiba, 2014 Frota Curitiba (municipal) Veículos 1.458.254 100% Motocicleta Fonte: Adaptado de DPVAT, 2014; DETRAN, 2014. 130.445 9% Em contrapartida, sobre os acidentes de trânsito, segundo dados do DPVAT (2014), as motocicletas representam o 1º. lugar nos indicadores de indenizações pagas por acidentes no Brasil (75%), em relação aos outros modos de mobilidade. Tabela 2. Indenizações pagas no Brasil, 2014. Veículo Quantidade Representatividade Motocicleta 256.387 75% Automóvel 67.906 20% Caminhões e pick-ups 9.789 3% 118 Ônibus/micro-ônibus Fonte: Adaptado de DPVAT, 2014. 6.457 2% Dos 75% de acidentes envolvendo motocicleta, a distribuição das indenizações pagas, apontam altos índices de casos de invalidez em relação à DAMS( despesas de assistência médica e suplementares) e morte. Tabela 3. Distribuição das indenizações pagas por acidentes com motocicletas, Brasil, 2014. Indenizações pagas por acidentes com motocicletas jan. a jun/2014 Invalidez 206.008 80% DAMS 39.380 16% Morte Fonte: Adaptado de DPVAT, 2014. 10.999 4% A faixa etária dos indenizados por morte esta distribuída conforme gráfico abaixo, havendo uma proximidade nos percentuais das faixas etárias de 18 a 24 anos (28%) e 24 a 34 anos (27%). Tabela 4. Faixa etária das indenizações pagas por morte com motocicleta, 2014. Faixa etária das indenizações pagas por morte com motocicleta jan. a jun/2014 Faixa etária 18 a 24 anos Quantidade 3.085 Percentual 28% 25 a 34 anos 3.009 27% 35 a 44 anos 1.885 17% 45 a 64 anos 1.990 18% Outros Fonte: Adaptado DPVAT, 2014. 1.180 10% Em relação às indenizações pagas por invalidez os percentuais das faixas etárias se alteram apresentando um maior índice na faixa etária de 25 a 34 anos (31%). Tabela 5. Faixa etária das indenizações pagas por invalidez com motocicleta, 2014. Faixa etária das indenizações pagas por morte com motocicleta jan. a jun/2014 Faixa etária 18 a 24 anos Quantidade 55.794 Percentual 27% 25 a 34 anos 63.516 31% 35 a 44 anos 40.178 19% 45 a 64 anos 32.994 16% Outros Fonte: DPVAT, 2014, p. 8. 13.526 7% 119 Vale destacar que os dados de acidentes envolvendo ciclistas não são mensurados por estes órgãos (DETRAN/DPVAT). Isso acontece porque a bicicleta não recolhe valores de impostos, assim, não são mensurados neste Boletim Estatístico DPVAT. Desta forma, os dados obtidos sobre acidentes com bicicleta foram fornecidos pelo Corpo de Bombeiros do Paraná (2014), através do controle estatístico dos registros de atendimentos realizados em suas unidades, distribuídas por todo o estado, disponível on-line. Do relatório emitido, foram selecionados somente os dados para esta pesquisa, ou seja, acidentes envolvendo motocicleta e bicicleta, entre o período de tempo de 01/01/2014 a 30/06/2014, no espaço urbano, referente à cidade de Curitiba. Tabela 6. Representatividade dos veículos em ocorrências do SIATE, Curitiba 2014. Veículo da ocorrência Curitiba 3317 Representatividade Automóvel 1850 55,77% Motocicleta 1556 46,91% Bicicleta 280 8,44% Ônibus 127 3,83% Caminhão Fonte: Adaptado de Corpo de Bombeiros Cascavel, 2014. 97 2,92% Total de ocorrências 100,00% Quanto à quantidade de acidentes, envolvendo bicicleta e motocicleta com os demais veículos, segue. Tabela 7. Acidentes atendidos envolvendo Bicicleta e Motocicleta em Curitiba, 2014. Tipo de Ocorrência em Curitiba/PR. Acidente em meio de transporte - Colisão Auto Acidente em meio de transporte - Colisão Bicicleta Acidente em meio de transporte - Colisão Caminhão Acidente em meio de transporte - Colisão Moto Acidente em meio de transporte - Colisão Ônibus Acidente em meio de transporte - Queda Total de Acidentes em meio de transporte Fonte: Adaptado de Corpo de Bombeiros Paraná, 2014. BICICLETA 128 2 5 17 16 112 280 MOTOCICLETA 1107 17 44 49 32 307 1556 Análise de dados No período compreendido nesta pesquisa no intervalo de 01/06/2014 e 30/06/2014 (um semestre), desprezado qualquer inconsistência nos dados obtidos, têm-se as analises dos dados a seguir. 120 Os acidentes envolvendo motocicleta totalizaram 1.556 ocorrências. Se fizer uma relação proporcional com a frota de motocicleta (130.445) existentes em Curitiba, tem-se um indicador do número de veículos por acidentes. Ou seja, para cada 83,34 motocicletas ocorreram 1 (um) acidente, uma proporção de 0,0119% de acidentes por veículo. Tabela 8. Indicador de acidentes de motocicleta Curitiba, 2014. Veículo Motocicleta Fonte: Autores, 2014. Frota Acidentes Representatividade Proporção 1.556 83,834 0,0119 130.445 A mesma relação não é possível ser feita para bicicleta por falta de dados de acidentes, de frota ou número de viagens especificamente para Curitiba, ou até mesmo para o Paraná. Em relação à frota de motofrete e de bike messenger, tem-se que a proporção dos motofretistas é 99,66% maior. Tabela 9. Quantidade de profissionais ativos formalizados em Curitiba, 2014. Prestador de serviço Quantidade Representatividade 12.000 99,66% 41 0,34% Motofretista Bike messenger Fonte: Autores, 2014. A seguir, fez-se para fim de apresentação e dados, elaborou-se uma tabela comparativa, relacionado ao número de acidentes o contingente da frota a que este se refere. Tabela 10. Tabulação dos dados de acidentes X frota Região Acidentes Motocicleta Frota Motocicleta Acidentes Bicicleta Frota Bicicleta Brasil 256.387 22.211.479 - - Paraná 13.587 1.289.804 2.711 - Curitiba 1.556 130.445 280 - Motofrete 6,00 150 - - - - 0,20 18 Ecobike Fonte: Autores, 2014. A partir desta tabela para cálculo do indicador de sustentabilidade, especificamente da Ecobike, em relação à motofrete, foi utilizado como cálculo o número de acidentes (dividido) pelo volume da frota. Tabela 11. Indicador de sustentabilidade social por acidentes Relação acidente por frota Região Indicador 121 Número de acidentes por motocicleta Brasil 0,012 Número de acidentes por motocicleta Paraná 0,011 Número de acidentes por motocicleta Curitiba 0,012 Número de acidentes por motocicleta Motofrete/Curitiba 0,040 Ecobike/Curitiba 0,011 Número de acidentes por bicicleta Fonte: Autores, 2014. Quanto maior o indicador, maior o número de acidentes e, consequentemente, menor a sustentabilidade social. Ou seja, proporcionalmente se existe uma frota com baixo número de acidentes existirá um indicador baixo. Se existe uma frota e com um grande número de acidentes existirá um indicador alto. Desta forma, comparando o indicador da Ecobike e o motofrete, tem-se a tabela 11. Desta forma, a Ecobike apresenta resultado positivo no seu indicador social de acidentes de trânsito comparativamente com o motofrete, por possuir poucos acidentes em relação a sua frota. Mesmo a Ecobike apresentando um melhor desempenho em seu indicador de acidentes, não é possível realizar qualquer afirmação, considerando que não existem dados sobre a frota de bicicleta ou quaisquer outros que possam subsidiar qualquer cálculo estatístico com precisão ou estimativa. Conclusões A motocicleta é a maior causadora dos acidentes de trânsito que geram indenizações pagas, representando 75% entre as modalidades de veículos, sendo que 80% dessas indenizações são por invalidez. A faixa etária dos indenizados encontra-se em idade produtiva, impactando em suas famílias e consequentemente na sociedade. Em Curitiba, os indicadores de atendimento a acidentes de trânsito apontam a motocicleta como a 2ª modalidade de veículo maior causador de acidentes, seguido da bicicleta, ocorrendo um acidente para cada aproximadamente 84 motocicletas existentes. Os motofretistas estão em maior número que os bike messenger e apresentam maior número de acidentes semestralmente, comparado com os bike messengers. No caso de Curitiba, o indicador de número de acidentes por motocicleta é de 0,04. Como não há dados absolutos estimados para o número de bicicletas, utilizou-se para efeito de informação o da Ekobike, que é de 0,01, portanto sendo menor. O que confirma as conclusões também alcançadas por Silva et al. (2008) sobre os riscos associados a prestação de serviços por motocicleta quanto a velocidade, segurança, condução inadequada e pressão por produtividade, quando comparado com o uso da motocicleta para fins de lazer e deslocamento. O que pode deduzir que a motocicleta não é por si só causadora de acidentes, mas sobretudo a modalidade de trabalho dos profissionais que a utilizam para prestar serviços de delivery. O mesmo não se pode afirmar para o uso da bicicleta (bike messenger), visto que os números ainda são insignificantes para fins estatísticos. Porém, salienta-se que, visto os resultados da motocicleta, é preciso incentivar projetos de pesquisa sobre políticas públicas destinadas ao uso da bicicleta como transporte de carga. 122 Como apresentado acima, a bicicleta tem capacidade de transportar 7 Kg de carga por viagem, enquanto a motocicleta pode transportar 20 Kg por viagem. Neste sentido, presumese mercadologicamente, a motocicleta apresenta maior vantagem em razão da sua capacidade de carga, em comparação a bicicleta. Em contrapartida, mesmo que transportando maior carga, conforme este estudo, apresentou maiores índices de acidentes. Assim, como consideração, sugere-se que os órgãos associados ao trânsito elaborem estudos mais aprofundados sobre o uso da bicicleta como um modal para transporte de cargas, utilizando inclusive modelos já estabelecidos em países como Estados Unidos, que não se utiliza a motocicleta para transporte de cargas, decorrente de implicações do seguro social. Agradecimentos: Este trabalho foi resultado das boas condições de trabalho oferecido pelas instituições de vínculo dos autores, PUCPR, FURB, CONICET, Universidade Nacional do Comahue de Argentina e Centro de Estudos Ambientais (CEAM) da Universidade Austral do Chile, e pelo financiamento do projeto de pesquisa Cidade e Soluções: Ecossocioeconomia Urbana pelo editais Universal/CNPq e Programa de Pesquisa Básica e Aplicada/Fundação Araucária (PR). Referências Bibliográficas ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. Anuário da Indústria Brasileira de Duas Rodas 2014. 2014. Disponível em: < http://abraciclo.com.br/anuario-2014>. Acesso em 8 de out. 2014. ANTP – Associação Brasileira de Transporte Público. Sistema de informações da mobilidade urbana: Relatório Geral 2012. 2014. Disponível em: < http://antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2014/08/01/CB06D67E-03DD-400E-8B86D64D78AFC553.pdf>. 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TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO AGENTE ATENUADOR DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Joel Amaque da Silva Indi1; Geny Gil Sá2; Munira Gomes Sampaio3; Reynaldo Amorim Marinho4 1 Universidade Federal do Ceará - Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente; 2 Universidade Federal do Ceará - Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente; 3 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Graduanda em Engenharia de Energia; 4 Universidade Federal do Ceará – Professor da pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Email: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo As questões relacionadas a mudanças climáticas têm se mostrado cada vez mais importantes e a Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) não tem sido bem utilizada para os benefícios que podem prestar, sendo, no entanto, responsável por parte dos problemas ambientais que a sociedade se depara. Neste sentido, a TIC Verde aparece como forma de aliar recursos disponíveis a políticas de sustentabilidade e economia dentro das organizações, gerando benefícios para o meio ambiente e para as empresas. Assim, neste estudo, a TIC será apresentada como um dos recursos viável para confrontar as alterações climáticas, atuando principalmente na redução de consumo energético. Pretende-se, ainda, a partir deste estudo, apresentar as formas pelas quais a TIC pode contribuir com a sustentabilidade. Pois, embora seu uso inadequado cause danos nocivos ao meio ambiente, ainda sim, o setor da TIC é capaz de contribuir na redução dos impactos ambientais gerados por outros setores industriais, ou seja, o uso da TIC é sinônimo de consumo energético e consequentemente emissão de gases nocivos, no entanto, neste trabalho, através de levantamentos bibliográficos será constatada que a TIC é um setor chave para redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), quando atua principalmente nos setores de maior incidência, como: transporte, edifício, indústria e setor energético propriamente dito, podendo reduzir até 15.3% de GEE global. Palavras-chave: Alterações climáticas, eficiência energética, desenvolvimento sustentável, TIC Verde. Título Information Technology and Communication as Agent Fader Climate Change. 126 Abstract The issues related to climate change have become ever more important and the Information and Communication Technology (ICT) has not been well used to the benefits they can provide, with, however, responsible for some of the environmental problems that society faces. In this sense, the Green ICT appears as a way to combine resources sustainability policies and economy within organizations, generating benefits for the environment and for business. In this study, ICT will be presented as a viable resource to confront climate change, working mainly in the reduction of energy consumption. It is intended, yet, from this study, present the ways in which ICT can contribute to sustainability. For although its improper use cause harmful damage to the environment, yet, the ICT sector is able to contribute to the reduction of environmental impacts generated by other industrial sectors, namely the use of ICT is synonymous with energy consumption and consequently emissions of harmful gases, however, in this paper, through literature surveys will be found that ICT is a key sector for reducing emissions of greenhouse gases (GHG), when mainly operates in the highest incidences such as: transportation, building , industry and energy sector itself, can reduce up to 15.3% of global greenhouse gases. KeyWords: Climate change, energy efficiency, sustainable development, Green ICT.. Introdução Após a revolução industrial, que ocorreu na Inglaterra na metade do séc. XVII com a substituição da mão de obra artesanal pelas máquinas inventadas pelo homem, surgiu a Tecnologia da Informação (TI). O termo TI teve origem em um artigo literário que se tornou clássico, “Administrando os anos 80” (LIAVITT; WHISLER, 1958). Diferente do que muitos pensam, a TI não se caracteriza apenas por equipamentos e aplicativos, mas engloba conjuntos de informações, redes de comunicação, banco de dados, sistemas e, o mais importante, os usuários, considerando que é necessária uma adequada cultura quanto ao uso da tecnologia para que seja possível desfrutar de todo potencial inerente à própria tecnologia. Nos últimos anos, vem ocorrendo de forma acelerada a conscientização dos problemas causados pelas emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), coincidindo com a evolução da indústria da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) em termos do desenvolvimento e predominância de produtos e serviços inovadores, dentre os quais, pode-se citar: o alargamento da internet e comunicações móveis. Tudo isso proporciona hoje maior percepção dos impactos industriais na economia. Entretanto, esses impactos e visibilidades aumentaram a responsabilidade da indústria da TIC em participar no combate às mudanças climáticas (APDC, 2010). Razão pela qual, neste trabalho, a TIC será apresentada como uma das soluções para enfrentar às alterações climáticas. Pois, mesmo que o seu uso inadequado cause danos nocivos ao meio ambiente, ainda assim, a TIC é apontada por Orsi (2010); Laitner e Ehrhardt-Martinez (2008); Romm (1999); Pamlin e Szomolanyi (2006); Mallon (2007); Fuhr e Pociask (2008) e ITU (2008), como setor de grande potencial em termos de contribuição na redução dos impactos de outros setores industriais. O uso da TIC consome energia e é de esperar-se que, devido a sua expansão e uso generalizado, ocorram nos próximos anos aumentos consideráveis de consumo energético no setor. Com isso, as próprias emissões globais da indústria da TIC irão aumentar à medida que a demanda por produtos e serviços aumentam. Todavia, estes são estimados em cinco vezes menores do que 127 as emissões que podem ser reduzidas por TIC a nível mundial (GESI, 2008). Em casos isolados como, por exemplo, da indústria da TIC portuguesa, estimam-se que as soluções possibilitadas por este setor tenham potencial de reduzir até 15% das emissões totais de GEE esperadas para o país em 2020, cerca de dez vezes a sua própria pegada ecológica (APCD, 2010). Tenciona-se, com este trabalho, apresentar a TIC como proposta alternativa para enfrentar as alterações climáticas causadas em grande parte pelas emissões de GEE, podendo servir para orientar políticas públicas que promovam tecnologias de informação e comunicação no Brasil. Metodologia Gil (2008) define a pesquisa como processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico, acrescentando que o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. Assim, a caracterização da tipologia da pesquisa deste trabalho é descrita quanto à abordagem, como quantitativa, uma vez que permite mensurar fatos, conceitos, reações, hábitos e atitudes do universo em estudo, por meio de uma amostra que o represente estatisticamente (HAYATI; et. al., 2006; DENZIN; LINCOLN, 2011). Quanto ao objetivo, corresponde a pesquisa exploratória-descritiva, que segundo Gil (2002) objetiva explicitar e descrever, proporcionando maior entendimento de um determinado problema. No que tange aos procedimentos, caracteriza-se como bibliográfica, por buscar familiarização com a literatura existente a respeito da temática abordada (MATOS; VIEIRA, 2001). O trabalho foi desenvolvido com base nos materiais já publicados, compostos principalmente de livros, artigos de periódicos, relatórios de grupos de estudos sobre mudanças climáticas (SMART 2020 e SMART Portugal 2020). A fim de atingir o objetivo proposto foram selecionadas pesquisas relacionadas com os temas de eficiência energética e sustentabilidade, boas práticas da TIC Verde e a redução de emissões e o aumento da eficiência energética através das TIC. A avaliação dos resultados foi feita com base no apanhado dos pontos comuns entre as diversas fontes pesquisadas. Resultados e discussões TIC Verde como parte da solução para o modelo de energia Dada a grande importância exercida pelo setor da TIC na redução de impactos ambientais de outros setores industriais, a Comissão Europeia para o Desenvolvimento e Utilização das TICs agregou o setor como parte do modelo europeu da energia. Com base nisso, a Comissão Europeia, em concordância com o Parlamento, o Conselho e a Comissão Econômica e 128 Social, sugere a criação de um modelo estratégico de desenvolvimento baseado na TIC, através da promoção da investigação e inovação neste setor, maximizando o seu impacto positivo sobre a economia. Para a UE (2009) e Osri (2010), o uso adequado da TIC conduziria à significativa economia de energia em vários setores industriais, principalmente nos maiores consumidores, como por exemplo, edifícios (residenciais/serviços) e transporte. O relatório apresentado pelo Global e Sustainability Initiative (2008) mostra que a pegada ecológica global do setor da TIC representará, até 2020, 2.8% das emissões globais de gases nocivos, entretanto o seu efeito benéfico é estimado, não apenas em economia de energia e reduções de emissões, mas também de forma a aumentar o crescimento econômico e a produtividade. Assim, o potencial da TIC em redução da emissão de GEE em outras áreas da economia é calculado de forma quantitativa em um decréscimo de 15.3%, isto é, 7.8 Giga toneladas de CO2 (GtCO2) até 2020, com base no atual cenário “Business as Usual” (BAU). Esta diminuição é mais de cinco vezes superior à dimensão da pegada ecológica da própria indústria, que seria resultado de iniciativas potenciais possibilitadas pelas TIC em áreas chave, como redes elétricas, edifícios, logística, transporte, entre outras (Figura 1). Figura 2. Pegada Global e potencial de redução de emissões da TIC (GtCO2). Fonte: Adaptado (GeSI, 2008). A Figura 2 representa, de forma quantitativa, os impactos da redução de gases poluentes estimada para o ano 2020, com base no relatório SMART 2020, em diferentes setores da economia através das soluções da TIC Verde. Esta redução é expressa em Giga toneladas equivalentes de CO2 (GtCO2e), indicando de modo geral o percentual de cada setor em relação a redução total estimada. 129 7% 23% 25% Edifícios Energia 14% Indústria 31% Transporte Desmaterialização Figura 3. Representação gráfica da redução percentual de GEE, através da TIC. Fonte: ORSI, 2010. De forma clara pode ser constatada, a relevância da contribuição da TIC Verde em redução dos impactos ambientas de outros setores, contribuindo assim com enfrentamento às mudanças climáticas. Em sequência apresenta-se a análise mais detalhada das soluções que a TIC Verde pode implementar nas áreas representada na figura 2. Gestão energética ou Smart Grid energéticos As redes tradicionais da energia elétrica enviam a todo instante grande quantidade de energia aos consumidores finais, estejam estes necessitando ou não. Este procedimento proporciona uma perda de até 20% da energia distribuída, consequentemente, o seu impacto constitui grande desvantagem para preservação do meio ambiente. Por estas razões, cada vez mais especialistas propõem-se a iniciativas ao redor do mundo em prol do desenvolvimento de redes inteligentes de energia ou Smart Grids, as quais se destinam a substituir atuais redes. Estas infraestruturas do futuro serão mais eficientes e ecológicas. Ou seja, lidar de forma eficaz com a geração intermitente associada a fontes renováveis e com a microgeração só é possível através de uma abordagem smart grid abrangente à gestão de todo o sistema, baseada na utilização das TIC (ORSI, 2010; APCD, 2010). A TIC pode e deve ser utilizada como ferramenta de gestão energética, a fim de, medir, transmitir e processar informações de fluxo de energia, melhorando o monitoramento e o controle da rede elétrica, possibilitando melhor planejamento de trânsito de energia, consequentemente melhorando a capacidade de lidar com grandes volumes de geração intermitente com origem em renováveis ou em microgeração distribuída (APCD, 2010). Para obter boa gestão de consumo energético é preciso reunir um conjunto de características geralmente denominadas Demand Side Management (DSM), que age permitindo maior visibilidade do que é consumido pelo usuário e a transmite em sinais de preço diferenciados, possibilitando atuação direta ou mesmo a interrupção seletiva de circuitos ou dispositivos pelo fornecedor de eletricidade. Ora, se é possível o consumidor visualizar em tempo real o seu próprio consumo e os preços, tendencialmente essa medida resultará numa redução da procura de eletricidade. Entretanto, os benefícios da DSM não se limitam nisso apenas, visto que é possível utilizá-lo na gestão da procura e a redução. Em outras palavras, alisamento de pontas de consumo, também designado por peak shaving, que consiste em redução de perdas e diminuição da necessidade de utilização das fontes mais poluentes, já que as perdas de rede 130 são proporcionais ao quadrado da potência transmitida. Assim, por cada redução de consumo de ponta atingida representará redução mais do que proporcional nas perdas. Estima-se que, com o uso das redes elétricas inteligentes (Smart Grids), as emissões de gases nocivos esperado no setor, para o ano 2020 tendam a sofrer uma redução de até 15% (2.03 GtCO2e) (Figura 3). 1% 14% 44% Redução de perdas na transmissão e distribuição Integração de energias renováveis Redução de consumo através do feedback de usuario DSM: Eliminação de Consumo por Excesso 41% 2.03 GtCO2e (15%) Figura 4. Possíveis reduções alcançáveis até 2020, com redes elétricas inteligentes. Fonte: GeSI, 2008; ORSI, 2010. Esta capacidade de gestão de rede só é possível mediante forte envolvimento da TIC em desenvolver componentes, desde dispositivos físicos de medição para o monitoramento de trânsitos de energia a softwares avançados necessários para a análise de informação em tempo real. Comprova-se então a necessidade da TIC como uma solução integrada em garantir eficiência energética. Edifícios inteligentes Calcula-se que soluções da TIC possibilitem redução de 410 milhões de euros, aumentando eficiência energética e reduzindo emissões em edifícios. Este valor é obtido avaliando apenas as poupanças potenciais resultantes do incremento de sistemas de TIC capazes de monitorar e controlar o consumo de energia dentro do edifício, independentemente da adoção de tecnologias na rede elétrica (APDC, 2010). As soluções básicas possibilitadas pela TIC nos edifícios incidem na regulação de iluminação e ar condicionado com base na ocupação, todavia a TIC ainda possibilita iniciativas mais sofisticadas as quais envolvem o repensar de todos os processos da construção e gestão de edifícios. No entanto, esses processos são implementados desde a fase de concepção, evolvendo engenharia otimizada e ferramentas de softwares de arquitetura, utilizadas para permitir melhor planejamento de energia, até a gestão de energia ativa prevista. Ainda 131 existem outros meios de atuação da TIC nos edifícios de forma a diminuir consumo energético de diferentes aparelhos domésticos como, por exemplo, gestão energética ativa, stand-by de baixo consumo – incluindo sistemas HVAC (Heating, Ventilating and Air Conditioning), de cozinha e outros equipamentos elétricos. Assim, como representado na Figura 4, as utilizações de soluções da TIC nos edifícios e otimização dos seus designs representarão uma redução de 1.68 GtCO2e das emissões até final de 2020, aproximadamente 25% do total. 16% 8% 8% 4% 1.68 GtCO2e (25%) 14% 27% Melhorar a concepção de edifícios em função da eficiência energética BMS: Building Management Systems 23% Otimização da distribuição de voltagem Reformas e economia de espaço Automação de ventilação e iluminação Emissão total Redução total da TIC Aquecimento, ventilação e ar condicionado (HVAC) outros Figura 5. Edifícios inteligentes: projeção do impacto mundial em 2020. Fonte: ORSI (2010). Sistemas Inteligentes de Transporte (SIT) O setor de transporte e logística é uma das áreas com maior impacto ambiental, responsável por 23% do total das emissões de CO2 a nível mundial e suas maiores emissões procedem por meio do transporte e armazenamento de mercadorias (ORSI, 2010). No entanto, a otimização do setor através da implementação de soluções de TIC pode reduzir 1.3 GtCO2 de emissões dos GEE associadas ao transporte e, ao mesmo tempo, diminuir 0.22 GtCO2 relacionados ao armazenamento de mercadorias, como ilustra a Figura 5. 132 12% Otimização da rede logística 22% Otimização de rotas de coleta / entrega 13% Eco Driving (comercial) 15% 21% Otimização da rede aérias Otimização de rede marítimas outros 17% Emissão total 1.52 GtCO2 (15%) Figura 6. Logística inteligente: estimativa do impacto mundial em 2020. Fonte: GeSI (2008); ORSI (2010). A redução dos custos de logística favorece não apenas as empresas associadas ao transporte, mas toda rede comercial, permitindo maior margem de lucro nos produtos, devido à diminuição dos custos associados ao transporte das mercadorias. Ora, entende-se que o ITS (Intelligent Transport System) está altamente vinculado à otimização da logística por meio da TIC, atuando, principalmente, no gerenciamento de questões relativas a veículos, cargas e suas rotas, no intuito de melhorar a segurança e reduzir usos desnecessários, otimizando o tempo e consumo de combustível e, favorecendo a sustentabilidade (GESI, 2008; ORSI, 2010). Como se percebe, grandes são os benefícios proporcionados pela TIC nesse âmbito. Mas é importante ressaltar a importância da criação de ITS que coletem, armazenem, processem e repassem informações relativas à circulação de pessoas ou de mercadorias, permitindo uso de tais dados para melhorar a logística, ou até criar subsistemas de gestão do tráfego, gestão de transportes públicos, informações aos usuários, rotas de emergência, segurança e controle avançado de veículos, pagamento eletrônico, cruzamentos ferroviários inteligentes, operações de veículos comerciais e outros. Eficiência nos processos industriais São grandes os impactos ambientais causados pelas atividades industriais. O setor é responsável por 22% do total das emissões de CO2 a nível mundial. Neste contexto, o conceito de eficiência energética, que consiste da relação entre a quantidade de energia empregada em uma atividade e aquela disponibilizada para sua realização, adquiriu uma grande importância para o setor industrial, buscando por objetivo aperfeiçoar recursos energéticos em suas instalações, contribuindo assim, para o aumento da eficiência dos processos e reduzindo custos, com isso favorecendo a sustentabilidade ambiental (ORSI, 2010). 133 A incorporação das soluções da TIC nos processos industriais pode contribuir para melhorar a produtividade e a eficiência energética e reduzir os custos atrelados à energia, que podem ser contabilizado entre 25% a 50% dos custos totais de produção. Em casos práticos pode-se citar sistema de motor inteligente, que fornece informações do consumo energético do motor e as possíveis economias sobre o mesmo. Tendo em conta que os motores tradicionais podem ser muito ineficientes quando estiverem trabalhando em capacidade máxima, independentemente da carga, ao contrário dos motores inteligentes, suportados pela TIC, que possuem a capacidade de adaptarem-se em função da necessidade de cada momento. Isso é possível utilizando sistema de transmissão variável de velocidade (VSD ou Variable Speed Drive) e um controlador de motor inteligente (IMC) para controlar VSD (ORSI, 2010). Portanto, como foi explanado anteriormente, a inclusão das soluções da TIC nos processos industriais e suas cadeias de abastecimento pode desempenhar um papel muito significativo na melhoria da competitividade de uma indústria através da redução dos custos associados a estes processos, contribuindo simultaneamente para a redução global das emissões de carbono (até 0.97 GtCO2e em 2020). Desmaterialização: soluções para reduzir presença Entende-se por desmaterialização, a substituição de produtos e processos físicos ou viagens por alternativas virtuais, como videoconferência ou comércio on-line. Em outras palavras, é a oportunidade de minimizar objetos materiais que é necessário produzir, substituindo-os por soluções equivalentes virtuais, permitindo que as pessoas possam trabalhar em seus lugares, evitando deslocamento e desperdício de recursos. Através das soluções como tele-trabalho (e-work), videoconferência e processos eletrônicos poderiam reduzir significativamente as emissões globais (até 0.5 GtCO2e em 2020). Na Figura 6, constam as percentagens das reduções possíveis até 2020 por meio das principais técnicas utilizadas no campo da desmaterialização (valores relativos à redução total do setor). 6% 8% 14% Virtualização Comércio Eletrônico 56% 16% Processos sem papel Videoconferência Tele-trabalho (e-work) Figura 7. Percentagens de opções de desmaterialização. Fonte: GeSI (2008); ORSI (2010). Nos últimos meses, em meio à seca causada pela falta de chuva no Brasil e de um plano adequado de investimentos, depara-se frequentemente com indagações como: o Brasil vive 134 ou não uma crise energética? Haverá ou não racionamento? Existem divergências a respeito. Pires (2015) afirma que “o Brasil passa pela pior crise energética da história” que se traduz segundo ele em dois problemas graves: “o financeiro, criado quando o governo renovou as concessões, obrigando as empresas a reduzirem tarifas em um momento em que o custo estava crescendo no mundo inteiro”, e “o incentivo exagerado ao consumo, causando problemas de abastecimento”. No entanto, este estudo, desperta atenção sobre a importância e possibilidades que a TIC Verde tem a oferecer em relação à eficiência energética e enfrentamento às alterações climáticas. Visto que, na atualidade, maior parte das redes elétricas de transporte e distribuição são passivas, isto é, transportam energias produzidas baseando-se em estimativas de consumo, mas estas estimativas são ineficientes dada a carência das informação em tempo real sobre o consumo energético demandado ou a carga da rede necessária e mecanismos de comunicar e ou agir em tempo real sobre o consumo do usuário final. Esta deficiência acarreta perda de até 20% da energia distribuída. Entretanto, a TIC permite melhoria substancial na eficiência global do sistema, fornecendo dispositivos e softwares capazes de monitorar, emitir informações de alerta e preços, bem como agir em tempo real sobre os diferentes elementos da rede e pontos de consumo, de modo que, os consumidores tenham possibilidades de avaliar e repensar o seu comportamento, propiciando-os a utilizarem equipamentos mais eficientes, limitando o consumo ao quanto e quando será realmente necessário. Durante o estudo, constatou-se que a TIC contém boa solução para redução das emissões GEE, principalmente quando atua nos setores de maior incidência, como: transporte, edifício, indústria e setor de energia. Podendo reduzir 51.9 GtCO2 até 2020, ou seja, 15.3% da emissão a nível mundial, distribuídos em percentual nos setores citados (4.4%), (4.62%), (2.12%) e (4.24%) respectivamente. Perante análise dos dados por setores, foi possível averiguar que atuação da TIC no setor de energia, possibilitará reduções de 30% do total de GEE esperado por este setor no final de 2020, exatamente 2.03 GtCO2e das emissões globais, estimado num decréscimo de 79.000 milhões de euros. Enquanto que, a inclusão da automação nos edifícios tornando-os inteligentes, melhorando seus designs, representará uma redução de 1.68 GtCO2e das emissões, esse valor coresponde a 25% do total de GEE esperado no receptivo setor, eliminado um custo de 216.000 milhões de euros até 2020. Com relação ao setor de transporte, o uso correto das soluções da TIC permitirá aperfeiçoar a logística, reduzindo 32% (1.52 GtCO2e) do total da emissão esperado em 2020, suprimindo um custo de 280.000 milhões de euros. Já a redução prevista no setor industrial através de uso da TIC em automatização industrial e usos de motores inteligentes, é avaliada em 0.97 GtCO2e, ou seja 15% do total, economizando 68.000 milhões de euros (GESI, 2008; APDC, 2010; ORSI, 2010; FENERCON, 2011). É importante salientar que, apesar dos impactos ambientais da TIC, estimados para 2020, sejam cinco vezes inferiores em relação aos seus benefícios, ainda sim, não devem ser ignorados. Neste sentido, são necessárias políticas públicas consistentes pra lidar com grandes volumes de lixo eletrônico (e-waste) que a TIC pode acarretar, uma vez que, descartes inadequados destes resíduos após sua vida útil constituem perigo aos seres humanos e ao meio ambiente. Segundo Gomes et al. (2012) estes resíduos trazem em suas composições várias substâncias nocivas como: o alumínio que constitui (14%) de e-lixos, chumbo (6%), cobre (7%), ferro (21%), silício ou sílica (25%) e outros (27%). É conveniente que, os tomadores de decisão incluam este assunto nos planos diretores. Que seja debatido e 135 que principalmente sejam tomadas atitudes cabíveis em direção a uso sustentável da TIC, favorecendo crescimento econômico e produtividade, melhorando eficiência energética e reduzindo emissões de GEE. Conclusões Em virtude dos fatos mencionados, deve-se destacar a crescente importância da TIC verde e a necessidade de adotar e desenvolver soluções que permitam o uso eficiente da energia, aumentando a competitividade da indústria brasileira, oferecendo novas oportunidades de negócios e assim, contribuindo para a criação de empregos, consequentemente o crescimento econômico. A ascensão da TIC Verde e a redução de 15.3% de GEE a nível global, esperado nos próximos anos, serão possíveis mediante iniciativas inovadoras e políticas públicas voltadas para uso sustentável da TIC, tanto no âmbito nacional como na esfera internacional. Pois, torna-se claro, que pequenas mudanças incrementais não serão suficientes para enfrentar às alterações climáticas com o grau e a velocidade necessária para manter o carbono em níveis “seguros” na atmosfera, isto é, nada menos do que mudanças significativas e uma economia global com baixo carbono. Em muitos casos a TIC parece oferecer melhores soluções para isso, todavia, muito mais precisa ser feito para que este setor possa desempenhar o papel com eficácia. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS COMUNICAÇÕES. APDC. SMART Portugal 2020: Reducing Emissions and Increasing Energy Efficiency through ICT, - elaboração. Lisboa, 2010. DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. The SAGE Handbook of Qualitative Research. 4th ed. Thousand Oaks: SAGE, 2011. p. 415 – 545. EUROPEAN UNION (UE). EUR-Lex. A Strategy for ICT R&D and Innovation in Europe: Raising the Game. Service providing legal texts of the European Union. Brussels, 13.3.2009. 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(1999), The Internet Economy and Global Warming, The Global Environment and Technology Foundation (GETF). 137 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UM ESTUDO VOLTADO PARA AS COMUNIDADES EM RISCO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB MAIOR, Mônica Maria Souto; CANDIDO, Gesinaldo Ataíde; IFPB – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba; UFCG -Universidade Federal de Campina Grande E-mails dos autores: [email protected]; [email protected] Resumo O objetivo do artigo foi avaliar o nível de vulnerabilidade socioambiental da população moradora nas comunidades na cidade de João Pessoa/PB, em relação a sua situação de risco ambiental, bem como, da situação socioeconômica geradora desta vulnerabilidade. Sendo assim, para seu desenvolvimento foi considerada as áreas onde existiam um ou mais dos três riscos com frequente periodicidade de ocorrência – enchentes, deslizamentos e desmoronamentos – os quais foram agregados à existência ou não de comunidades; e vinte e nove indicadores socioeconômicos indicaram em quais aspectos a população se encontrava em risco social. Estas duas dimensões foram usadas para apontar os indicadores que, ocasionalmente, afetaram a população em cada comunidade. Os resultados indicaram cinco comunidades com famílias em risco muito elevado de vulnerabilidade socioambiental, demonstrando que a educação, o desemprego, os baixos salários e as famílias chefiadas por jovens representaram o maior peso na dimensão socioeconômica; bem como infraestrutura urbana, condições de habitação e os riscos que representaram o maior peso para a dimensão ambiental. Desta forma, concluiu-se que ações e políticas públicas são necessárias para mitigar e reduzir os riscos socioambientais, que essas famílias foram submetidas. Palavras-chave: Desenvolvimento, indicadores, vulnerabilidade socioambiental. Environmental Vulnerability: a Study Focused on the Communities at Risk in João Pessoa/PB City Abstract The aim of the paper was to evaluate the social and environmental level of vulnerability of the population living in communities in the city of João Pessoa/PB, in relation to its environmental hazards, as well as generating socioeconomic status of the vulnerability. Thus, for its development was considered the areas where there were one or more of the three hazards with frequent occurrence of periodicity - floods, landslides and mudslides which were linked to the existence of communities; and twenty-nine socioeconomic indicators indicate which aspects the population was living at social risk. These two dimensions used to point out the indicators that occasionally affected the population in each community. The results indicated five communities with families at very high risks of socio-environmental vulnerability, demonstrating that education, unemployment, low wages and households headed by young people accounted for the largest weight in the socio-economic dimension; and urban infrastructure, housing conditions and hazards that represented the greatest weight to the environmental dimension. Thus, it concluded that actions and public policies are necessary to mitigate and reduce socioenvironmental risks, which these families were subjected. Keywords: Development indicators, social and environmental vulnerability. Introdução Atualmente a situação de riscos ambientais nos grandes centros urbanos tem tomado proporções catastróficas e vem se intensificando devido às mudanças climáticas e ao uso de 138 terras impróprias a moradia humana perto de áreas de preservação ambiental como rios e encostas. Esse fato caracteriza a segregação territorial geradora da injustiça ambiental e dos fatores de vulnerabilidade socioambiental próprios das populações residentes em grandes centros urbanos, especificamente nas comunidades, porque essas áreas são rejeitadas pelo mercado imobiliário devido a serem de baixa qualidade ou protegidas por legislação ambiental. Considerando que a população segregada nas comunidades sofre maior consequência das incertezas, inseguranças e falta de proteção e neste caso está em situação de maiores riscos socioambientais que a fragilizam. Esta situação redunda à necessidade de mobilização da população para, em parceria com instâncias públicas e governamentais, viabilizar ações de políticas públicas capazes de diminuir tais riscos e, por conseguinte, os seus níveis de vulnerabilidade, trazendo melhoria para sua qualidade de vida. A partir destas considerações, o objetivo do artigo foi avaliar o nível de vulnerabilidade socioambiental da população moradora nas comunidades na cidade de João Pessoa/PB, em relação a sua situação de risco ambiental, bem como, da situação socioeconômica geradora desta vulnerabilidade. Para seu desenvolvimento foi escolhido um conjunto de vinte e nove indicadores socioeconômicos dos principais modelos de estudo da vulnerabilidade socioambiental desenvolvidos no Brasil, os quais estavam presentes na base de dados do censo demográfico do IBGE 2010 com dados especificados por bairro; e cinco indicadores relacionados aos riscos ambientais sobreposicionados a presença ou não de comunidades nestas áreas. Esses trinta e quatro indicadores foram condensados de acordo com as especificidades dos mesmos e quantificados através de sua relação com a vulnerabilidade, se positiva ou negativa, baseado na perspectiva de melhoria do sistema, que visa à diminuição dessa vulnerabilidade. Além deste conteúdo introdutório, o artigo apresenta nos seus demais itens, uma fundamentação teórica sobre vulnerabilidade e suas dimensões, procedimentos metodológicos, os resultados e as conclusões geradas por este estudo. Referencial teórico Vulnerabilidade e suas dimensões O termo “vulnerabilidade socioambiental” começou a ser construído, com o significado que entendemos hoje, entre as décadas de setenta e oitenta, quando, vários pesquisadores avaliaram a importância do significado das condições sociais na incidência, extensão e distribuição das ameaças naturais. Eles mostraram que a perda e a sobrevivência estão relacionadas muito de perto com os padrões e as variações da qualidade de vida material da sociedade, tanto no que se refere à ocorrência de danos e tipos estabelecidos, e onde, como e especialmente a quem afetam. Segundo Cardona (1996) os danos materiais dependem do uso especialmente da terra, padrões de assentamento e à concepção e localização de estruturas construídas e são 139 desproporcionalmente concentradas em determinados grupos etários de acordo com sexo ou ocupação, níveis de renda e de voz política do povo, ou melhor, a falta deles. Na América Latina e nos países em desenvolvimento, devido a uma estrutura política e econômica em constante crise, a ideia de estabilidade não é observada, esta conjuntura dificulta a geração de novas frentes de trabalho, aumentando a instabilidade socioeconômica das famílias, associando a vulnerabilidade à ideia da falta de oportunidades existente frente ao desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza, à falta de proteção social e a fragilidade das relações sociais, que afeta todos de um modo geral. Adicionados aos problemas citados anteriormente, as cidades brasileiras apresentam uma concentração da população de baixa renda de forma desigual numa mesma extensão geográfica onde se encontra a ocorrência de eventos naturais de forma cíclica e periodicamente como enchentes, deslizamentos, desmoronamentos e/ou vendavais, que causam perdas e danos de toda ordem. Assim a vulnerabilidade socioambiental vai trabalhar com duas dimensões específicas, mas entrelaçadas, que juntas provocam perdas materiais e de vida em muitas situações desastrosas para as famílias assentadas nessas áreas de risco. A primeira refere-se à dimensão ambiental que agrega indicadores de riscos ambientais e condições urbanas que conjugam a infraestrutura urbana com as condições domiciliares numa perspectiva unificada, porque onde existem os riscos ambientais, não existem intervenções da melhoria para os outros dois indicadores. A segunda refere-se ao risco social incorporando as situações econômicas e sociais que não permitem as famílias um poder de resiliência e mitigação frente aos riscos ambientais aos quais estão expostas. Kaztman (2000) analisa a vulnerabilidade a partir da existência ou não, por parte dos indivíduos ou das famílias, de ativos disponíveis e capazes de enfrentar determinadas situações de risco. Ele trabalha o conceito de capital para os grupos vulneráveis, que pode capacitá-los a aproveitar as oportunidades disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos e que influencia o estado de respostas frente às situações de risco. Observa-se ainda que os estudos de Kaztman (1999; 2000), não consideram as estruturas de oportunidades como um fator constante ao contrário varia de acordo com a área geográfica e com os fatores temporais históricos, incorporando a ideia de ativo/vulnerabilidade/estrutura de oportunidades o conceito de mobilidade da estrutura, enquanto fator determinante das dificuldades presentes em determinados setores sociais em superar situações de vulnerabilidade, ainda que disponham de alguns dos ativos acima citados. Segundo Cardona (1996) no contexto urbano, as zonas de riscos coincidem com áreas que apresentam condições de marginalidade ou subnormalidade e seus habitantes têm níveis de renda que impossibilita seu acesso a instituições de crédito para habitação quando este existe. D`ercole (1994) afirma que a análise da vulnerabilidade na cidade não pode deixar de contar com uma abordagem sistêmica que inclua fatores socioeconômicos (êxodo rural e especulação imobiliária), fatores psicossociológicos (memória de risco, percepção e cultura de risco), fatores ligados à cultura e à história das sociedades expostas (autoconstrução, 140 lançamento de dejetos), fatores técnicos (prevenção), fatores funcionais (gestão de crise) e fatores institucionais (gestão de risco). Na cidade alguns desses fatores são elementos inerentes ao crescimento urbano e fortemente integrados à dinâmica urbana, principalmente em países em desenvolvimento, onde não há controle nem planejamento; e sim má qualidade da infraestrutura e legislação urbana ineficiente, permitindo a expansão urbana para áreas de preservação e /ou de risco. Neste contexto a vulnerabilidade pode ser entendida como a predisposição intrínseca de um sujeito ou elemento a sofrer danos, devido à possibilidade de ações externas e, portanto, sua avaliação contribui fundamentalmente para o conhecimento do risco por meio de interações do elemento suscetível com o ambiente perigoso (CARDONA, 1996). Para o autor, a caracterização efetiva de um fenômeno que gera uma ameaça é a mesma condição que favorece, que uma vez materializada a ameaça, se causem efeitos severos sobre o contexto urbano, ambiental e social. Assim ele estabelece que um desastre possa ter uma dimensão variada em termos demográficos, temporal e espacial. O nível de vulnerabilidade em que as famílias estão expostas está vinculado à capacidade de respostas e ajustes frente às condições adversas ao meio, seja pela capacidade de mobilizar ativos para enfrentar as adversidades, por pouco capital humano ou pouco acesso à informação, ou seja, pelas poucas habilidades sociais básicas, com falta de relações pessoais e com pouca capacidade para manejar recursos. Nesta perspectiva os problemas socioambientais não geram consequências iguais para todos. Os pobres e miseráveis são frequentemente os que mais sofrem os efeitos e a culpa por esse ônus. Sendo assim, a condição de pobreza de uma determinada população está estreitamente vinculada à condição de riscos e de vulnerabilidade, consequências de um comportamento especulativo do capital imobiliário, e de uma gestão urbana omissa, que impulsiona os pobres a criarem uma cidade ilegal, muitas vezes em áreas públicas ociosas e/ou de preservação ambiental, refletindo a evolução desigual das formas espaciais de uma sociedade e a difusão de um modelo cultural à base de domínios políticos. Assim, a capacidade de mobilização e reivindicação da população passa a ser de grande importância para amenizar os mal-estares e depende das associações feitas com outras pessoas com as mesmas necessidades, a qual gera poder político de negociação e permite tornar coletivas as necessidades que antes eram individuais. Com referência a este quadro teórico, a vulnerabilidade socioambiental se apresenta vinculada a uma variedade de fatores com interveniência forte nas condições de risco das famílias e o conhecimento, desses fatores, serve para vislumbrar soluções especificas em cada comunidade, porque as localidades apresentam problemas específicos frente ao fenômeno da expansão urbana. Sendo assim, se faz necessário identificar os locais onde os riscos se apresentam e conhecer de forma sistemática o nível de vulnerabilidade socioambiental para a realidade da cidade de João Pessoa/PB, especificamente onde se encontra a população mais suscetível a esses riscos, que são as comunidades. 141 Procedimento metodológico Variáveis da pesquisa e tratamento dos dados Para avaliar a vulnerabilidade socioambiental nas comunidades foram utilizadas duas dimensões, buscando-se trabalhar as duas com uma maior integração possível. Como existia uma diversidade tipológica de dados, secundários e primários, requerendo tratamento diferenciado, optou-se por trabalhá-los em etapas, as quais foram analisadas e sobrepostas para um diagnóstico geral da dimensão socioambiental, que considera o sistema socioambiental como um todo. Desta forma foram elencados vinte e nove indicadores relacionados à vulnerabilidade socioeconômica e cinco relacionados com a vulnerabilidade ambiental, podendo ser representados da seguinte forma: Dimensão socioeconômica. - V(1) % de pessoas morando em domicílios próprios ou em aquisição; (V2) % Pessoas morando em domicílios alugados; V(3) % pessoas morando em domicílios tipo casa cedida; V(4) Domicílios inadequados; V(5) domicílios sem banheiros; V(6) Domicílios com 2 ou mais banheiros; V(7) Domicílios sem rede de esgoto; V(8) Domicílios sem abastecimento de água; V(9) Famílias chefiadas por pessoas jovens; V(10) Famílias chefiadas por pessoas idosas; V(11) Chefes de família com 10 anos ou mais não alfabetizados; V(12) Chefes de família sem rendimento mensal nominal; V(13) Chefes de família com rendimento de até 2 SM; V(14) Mulheres jovens responsáveis pelo domicilio; V(15) Mulheres idosas responsáveis pelo domicílio; V(16) Mulheres não alfabetizadas com baixos rendimentos responsáveis pelo domicílios; V(17) Famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge; V(18) Famílias com alta frequência de componentes; V(19) pessoas agregadas da família; V(20) Pessoas menores de idade; V(21) Pessoas Idosas; V(22) Jovens adultos analfabetos; V(23) Pessoas analfabetas de 5 a 14 anos; V(24) Pessoas idosas analfabetas; V(25) Famílias com rendimento de até 2 SM; V(26) Famílias com rendimento de 2 a 5 SM; V(27) Famílias com rendimento de 5 a 10 SM; V(28) Famílias com rendimento de 10 a 20 SM; V(29) Pessoas ocupadas em trabalho informal. Dimensão ambiental. – V(30) Comunidades em presença de 3 riscos ambientais; V(31) Comunidades em presença de 2 riscos ambientais; V(32) Comunidades em presença de 1 risco ambiental; V(33) Existência de comunidade sem risco; V(34) Ausência de comunidade. De acordo com esta metodologia, quando os indicadores são escolhidos deve-se definir o tipo de relação que cada um deles tem com o entorno geral. Existe uma relação positiva se um aumento do valor do indicador resultar em melhoria do sistema, que neste caso é a diminuição da vulnerabilidade, em contrapartida, a relação é negativa se um aumento do indicador resulta numa regressão do sistema, e assim, no aumento da vulnerabilidade. Nesta perspectiva, foram definidos os tipos de relação (positiva ou negativa) que cada indicador pode ser considerado quanto as suas maiores ou menores contribuições para a vulnerabilidade. No que concerne à operacionalização dessa relação positiva (Equação 1) ou negativa (Equação 2), esta foi feita da seguinte forma: Se a relação for positiva, usa-se a seguinte fórmula: 142 (M−x) 𝐼 = (M−m) Equação (1) Se for negativa: (x−m) 𝐼 = (M−m) Equação (2) Onde: I = índice calculado para cada bairro analisado da cidade de João Pessoa x = valor para cada variável em cada bairro m = valor mínimo identificado para todos os bairros M = valor máximo identificado para todos os bairros Devido a tais indicadores se apresentarem com diferentes unidades de medidas, foi necessária a transformação em índices para permitir a agregação nas respectivas dimensões. De posse desse resultado, foi realizada a média aritmética (Equação 3) das duas etapas trabalhadas nesta pesquisa, obtendo-se o índice geral da vulnerabilidade socioambiental por bairros, utilizando a seguinte fórmula: 𝐼𝐺𝑉𝑆𝐵 = IVSB+IVAB 2 Equação (3) Onde: IGVSB – índice geral de vulnerabilidade socioambiental por bairros IVSB - índice de vulnerabilidade socioeconômica por bairros IVSAB – Índice de vulnerabilidade ambiental por bairros Desse resultado, obtiveram-se os níveis de vulnerabilidade socioambiental de todos os 64 bairros estudados, reconhecendo as áreas onde a população de vulneráveis se apresenta no contexto urbano da cidade, que são as comunidades inseridas nesses bairros, e assim também, apresentam as mesmas fragilidades. Resultados O resultado da pesquisa apontou para um conjunto de cinco comunidades com muito alto índice de vulnerabilidade socioambiental: Citex (João Paulo II); Comunidade Boa Esperança (Cristo); São José (São José); Comunidade Santa Clara (Castelo Branco) e Tito Silva (Miramar). A vulnerabilidade socioambiental se destaca, nestas comunidades, pela correlação existente entre os indicadores que exercem grande influência entre si e geram uma situação que dificultam as famílias para uma resposta às ameaças naturais provocadas pelas enchentes, deslizamentos e desmoronamentos, localizadas geograficamente nas áreas periféricas da cidade, onde mora a população de segregados territoriais e dos excluídos socioeconômicos. 143 Consciente de que as variáveis mensuradas em cada comunidade exercem forças de forma equitativa para a situação de vulnerabilidade socioambiental, são especificados, neste item, os pontos fracos nos quais cada uma apresentou vulnerabilidade nos níveis alto e muito alto, destacando sua incidência em comparação com os níveis de 100%, que seria o nível máximo da vulnerabilidade socioambiental. Desta forma, destacam-se os indicadores mais significativos encontrados em cada comunidade estudada. Citex A comunidade Citex apresentou dez indicadores com vulnerabilidade muito alta e alta dos trinta e quatro indicadores considerados para mensurar a situação de vulnerabilidade socioambiental, totalizando 30% de indicadores que comprometem a população no poder de resiliência e mitigação frente a situações adversas, conforme Gráfico 1 a seguir: Gráfico 1. Indicadores que se apresentaram para a comunidade Citex INDICADOR Famílias com rendimento de 10 a 20 SM 0,74 0,65 0,62 0,71 0,60 0,77 0,68 0,75 Famílias com rendimento de 2 a 5 SM Pessoas menores de idade Responsável pelo domicílio com rendimento de até 2 SM Domicílios om 2 ou mais banheiros 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00 0,94 1 1,2 NÍVEL DO INDICADOR Observa-se, pelo resultado dos indicadores, que a população da comunidade Citex apresenta maior vulnerabilidade na situação da renda dos chefes de família e rendimento familiar, demonstrando, assim, fragilidade no mantenimento familiar que, agregado ao muito alto fator de risco ambiental, com a presença dos 3 riscos – alagamentos, desmoronamentos e deslizamentos –, provoca nas famílias uma sobreposição de situações adversas que vulnerabilizam todo o sistema familiar. Outro aspecto preocupante refere-se ao grupo da composição familiar e dependência, que apresentou dois indicadores com alto índice de vulnerabilidade: pessoas agregados da família e pessoas menores de idade, os quais se tornam preocupantes, porque requerem uma situação financeira melhor e desprendimento de tempo para o cuidado com os menores. Diante deste quadro, fazem-se necessárias algumas medidas para a minimização da vulnerabilidade socioambiental da população, a saber: implantação do sistema de esgotamento sanitário, atividades esportivas e artísticas para as crianças e adolescentes, cursos de qualificação profissional, abertura de escolas, aumento das frentes de trabalho, incentivo ao empreendedorismo, programas de controle da natalidade, planejamento familiar e implantação de programas de educação ambiental na comunidade, conferências para alertar os caminhos a serem tomados para minimizar os riscos socioambientais existentes no bairro 144 e solucionar as ameaças de deslizamentos, desmoronamentos e alagamentos presentes nas comunidades. Boa Esperança A comunidade Boa Esperança apresentou seis indicadores com vulnerabilidade alta dos trinta e quatro indicadores considerados para mensurar a situação de vulnerabilidade socioambiental, totalizando 20% de indicadores que comprometem a população no poder de resiliência e mitigação frente a situações adversas, conforme demonstrado no Gráfico 2. INDICADOR Gráfico 2. Indicadores que se apresentaram para a comunidade Boa Esperança Presença de 3 riscos ambientais Famílias com rendiemnto de 10 a 20 SM Famílias com rendimento de 5 a 10 SM Famílias com alta frequência de moradores Responsável pelo domicílio com rendimento de até 2 SM Domicilios com 2 banheiros 1,00 0,79 0,61 0,73 0,65 0,62 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 NÍVEL DO INDICADOR Observa-se que, dos seis indicadores, apenas um exerce influência muito alta para a vulnerabilidade socioambiental: presença de 3 riscos ambientais; os outros indicadores exercem influência alta: domicílios com 2 ou mais banheiros, responsáveis pelo domicílio com até 2 SM, famílias com alta frequência de componentes, famílias com rendimento de 5 a 10 SM e famílias com rendimento de 10 a 20 SM. Os indicadores relativos ao responsável pelo domicílio com até 2 SM, famílias com alta frequência de componentes e riscos ambientais apresentam uma relação negativa com a vulnerabilidade e exercem uma correlação entre si, contribuindo para o quadro da vulnerabilidade na comunidade. Esses indicadores exercem uma correlação que dificulta as famílias na manutenção da qualidade de vida, porque as condições de baixos salários não permitem a satisfação das necessidades diárias dos componentes, a qual é agravada quando as famílias são submetidas às situações de risco. Desta forma, a solução da vulnerabilidade socioambiental precisa ser direcionada à abertura de novas frentes de trabalho, qualificação profissional, incentivo ao empreendedorismo, programas de controle da natalidade, programas de educação ambiental e de capacitação dos líderes em relação à segurança comunitária frente aos riscos ambientais presentes e solucionar as ameaças de enchentes, deslizamentos e desmoronamentos presentes na comunidade. Santa Clara 145 A comunidade Santa Clara apresentou cinco indicadores com vulnerabilidade alta e muito alta dos trinta e quatro indicadores considerados para mensurar a situação de vulnerabilidade socioambiental, totalizando 15% de indicadores que comprometem a população no poder de resiliência e mitigação frente a situações adversas, conforme Gráfico 3. Gráfico 3. Indicadores que se apresentaram para a comunidade Santa Clara INDICADOR Presença de 3 riscos ambientais 1,00 Famílias com rendiemnto de 10 a 20 SM 0,82 Famílias com rendimento de 2 a 5 SM 0,67 Famílias com alta frequência de moradores 0,68 Domicílios com 2 banheiros 0,62 0 0,2 0,4 0,6 0,8 NÍVEL DO INDICADOR 1 1,2 Observa-se que, na comunidade Santa Clara, os indicadores socioeconômicos tiveram pouca expressão para a situação de vulnerabilidade, sendo o mais expressivo o de risco ambiental. Salienta-se que devido à proximidade da comunidade ao Centro Universitário existe uma grande quantidade de moradores advindos do interior do estado, o que ocasiona o alto índice de vulnerabilidade no quesito de alta frequência de moradores. Desta forma, a solução para a vulnerabilidade socioambiental na comunidade Santa Clara precisa ser direcionada para a solução dos riscos ambientais, relativos a enchentes, desmoronamentos e deslizamentos, que fragilizam sua população, urgindo medidas de educação ambiental e de capacitação dos líderes em relação à segurança comunitária frente aos riscos ambientais presentes. São José A comunidade São José apresentou dezoito indicadores com vulnerabilidade alta e muito alta dos trinta e quatro indicadores considerados para mensurar a situação de vulnerabilidade socioambiental, totalizando 60% de indicadores que comprometem a população no poder de resiliência e mitigação frente a situações adversas, conforme Gráfico 4. Gráfico 4. Indicadores que se apresentaram para a comunidade São José 146 INDICADORES Presença de 3 riscos ambientais Trabalho informal Famílias sem rendimento de 10 a 20 SM Famílias com rendimento de 5 a 10 SM Famílias com rendimento até 2 SM Pessoas analfabetas idosas Pessoas analfabetas entre 5 e 14 anos Jovens adultos analfabetos Pessoas menores de idade Pessoas agregados da família Famílias com alta frequência de moradores Famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge Mulheres chefes de família analfabetas e com baixos rendimentos Chefes de família com rendimento mensal até 2 SM Chefes de família sem rendimento Chefes de família com 10 anos ou mais analfabetos Famílias chefiadas por jovens Domicílios com 2 banheiros 1,00 0,79 1,00 1,00 1,00 0,72 0,71 1,00 0,90 0,71 0,61 0,64 0,74 0,97 0,68 1,00 0,96 1,00 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 NÍVEL DO INDICADOR Observa-se que o peso maior da vulnerabilidade na comunidade São José recai sobre os indicadores relativos ao rendimento familiar e educação, refletindo a correlação existente entre esses dois grupos de indicadores, porque estabelecem uma situação de causa e efeito, em que a falta de um reflete na dificuldade de obtenção do outro. Outro fator preocupante refere-se ao tema da composição familiar e dependência, demonstrando que as famílias, além de estarem vulneráveis econômica e educacionalmente, ainda apresentam um grande índice de componentes, dificultando seu mantenimento e sua acomodação no domicílio. O indicador referente ao risco ambiental se apresenta muito alto com a presença de três riscos (alagamento, desmoronamento e deslizamento), porque a localização da comunidade está entre o Rio Jaguaribe e a encosta da barreira do João Agripino, colocando a população dessa área em alerta constante em relação às ameaças ambientais, sendo agravadas pela situação de exclusão socioeconômica que caracteriza sua população. Diante deste quadro, fazem-se necessárias algumas medidas para a minimização da vulnerabilidade socioambiental da população, a saber: alfabetização de jovens e adultos, atividades esportivas e artísticas para as crianças e adolescentes, curso de qualificação profissional, abertura de escolas, aumento das frentes de trabalho na comunidade, incentivo ao empreendedorismo, programas de controle da natalidade, planejamento familiar e implantação de programas de educação ambiental na comunidade, conferências para alertar os caminhos a serem tomados para minimizar os riscos socioambientais existentes nas comunidades e solucionar as ameaças de alagamentos, desmoronamento e deslizamentos presentes. 147 Tito Silva A comunidade Tito Silva apresentou dois indicadores com vulnerabilidade muito alta e alta dos trinta e quatro indicadores considerados para mensurar a situação de vulnerabilidade socioambiental, totalizando 6% de indicadores que comprometem a população no poder de resiliência e mitigação frente a situações adversas, conforme Gráfico 5. Gráfico 5. Indicadores que se apresentaram para a comunidade Tito Silva INDICADOR Presença de 3 riscos ambientais 1,00 Famílias com alta frequência de moradores 0,63 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 NÍVEL DO INDICADOR Observa-se que o peso maior da vulnerabilidade recai sobre dois indicadores: um com muito alta vulnerabilidade, referente à presença de três riscos ambientais; e outro com índice alto, referente a famílias com alta quantidade de componentes. Reconhecendo a importância desses resultados, recomenda-se, para solucionar a vulnerabilidade socioambiental na comunidade, a implantação de programas de controle da natalidade, programas de educação ambiental e medidas que conduzam à minimização ou extinção dos riscos referentes a deslizamentos e desmoronamentos. Conclusões Conclui-se que este trabalho cumpriu seu objetivo quando permitiu através da avaliação da vulnerabilidade socioambiental nas comunidades apontar os principais fatores que necessitam de intervenções, mostrando pontualmente os aspectos que fragilizam a população e a põe em estado de vulnerabilidade frente às situações de riscos, deixando-a sem poder de resiliência e mitigação. Os resultados apontaram que a educação, o desemprego, os baixos salários e as famílias chefiadas por jovens, representavam o maior peso na dimensão socioeconômica; assim como a infraestrutura urbana, as condições domiciliares e os riscos representavam o maior peso para a dimensão ambiental. Observa-se que o processo de vulnerabilidade nas comunidades da cidade de João Pessoa é um processo instável e mutável exposto a fatores externos de risco ambiental demarcando, sempre, um estado de fragilidades que ameaça a estruturação das famílias que se encontram em estado de segregação socioterritorial. 148 As medidas mitigadoras necessárias para a minimização dos riscos ambientais devem partir de ações governamentais, de forma a contribuir para o aumento da segurança e da melhoria da qualidade de vida. Essas ações, também, geram consequências na minimização das perdas materiais e humanas geradas pelas catástrofes e desastres. Os riscos socioeconômicos apesar de dependerem de políticas públicas federais, na maioria das ações, podem ser minimizados com ações pontuais de políticas públicas locais, que incentivem a melhoria da educação, da geração de renda e de trabalho, bem como de controle e planejamento familiar, reduzindo os passivos que põem a população em situação crítica frente aos desastres e catástrofes ambientais. Referências Bibliográficas CARDONA, Omar Darío. Manejo ambiental y prevención de desastres: dos temas asociados, ciudades en riesgos, M. A. Fernández (Ed.). La RED, USAID, reimpresión como Cities at Risk, 1996. D´ERCOLE, R. Les vulnérabilités des sociétés et dês espaces urbanisés: concepts, typologie, modes d´analyse. Revue de Géografia Alpine, 1994, v. 82, n. 4, p. 87-96. IBGE. Censo demográfico brasileiro 2010. KAZTMAN, R. et al. Vulnerabilidad, activos y exclusión social en Argentina y Uruguay. Santiago do Chile: OIT, 1999. KAZTMAN, R. Notas sobre la medición de la vulnerabilidad social. México: BID-BIRF-CEPAL, 2000. Exposição às enchentes e capacidade adaptativa ao longo do tempo: o papel de políticas públicas no processo de adaptação 149 TEMA 3: SALUD AMBIENTAL, POLÍTICAS PÚBLICAS Y CALIDAD DE VIDA DE LA POBLACIÓN EN EL AMBIENTE URBANO. PODE A SOLUÇÃO DE UM PROBLEMA CAUSAR OUTRO?: O USO DE INDICADORES QUÍMICOS NA AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL DAS MEDIDAS DE COMBATE A DENGUE NA COSTA CEARENSE, FORTALEZABRASIL. Rivelino M. Cavalcate; Wersângela C. Duaví; Allyne F. Gama Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará-Fortaleza, Ceará-Brasil. [email protected] Resumo Dentre as doenças transmitidas por vetores, podemos destacar a dengue, por ser uma doença de caráter reemergente. Os primeiros surtos de dengue no Brasil ocorreram na década de 1980. Desde então o Ministério da Saúde promove campanhas para controlar o grande número de casos da doença. Para o controle do mosquito Aedes aegypti, opta-se, principalmente, pelo uso de produtos químicos (domissanitários) nas campanhas sanitárias.Os agrotóxicos são usados majoritariamente na agropecuária em zonas rurais, porém também são usados no combate às pragas urbanas, em campanhas de saúde pública, em domicílios e em produtos veterinários. Entretanto, esses usos constituem fonte importante de contaminação dos recursos aquáticos dos centros urbanos. Este trabalho teve como objetivo estimar a contaminação do uso de agrotóxicos e domissanitários no controle de pragas urbanas nas regiões fluvio-estuarinas dos rios Cocó e Ceará localizados na região metropolitana de Fortaleza, Ceará, Brasil. Dos quatro agrotóxicos analisados, apenas malationa e cipermetrina foram detectados e quantificados. As concentrações de malationa variaram de 0.08 a 0.85 ng.g-1, e as de cipermetrina de 6.58 a 134.45 ng.g-1. Domissanitários utilizados no combate a pragas urbanas foram quantificados em sedimentos de áreas urbanas. As fontes desses domissanitários para os ambientes estudados são provenientes da sua aplicação em controle de pragas por meio de produtos de venda livre para uso doméstico, uso em campanhas de saúde pública e controle de pragas urbanas por empresas especializadas. Os dados gerados neste estudo mostram que as atividades domésticas e de controle de pragas urbanas estão contaminando os rios estudados. Assim, políticas públicas de monitoramento em ambientes aquáticos devem ser implementadas, a fim de avaliar os impactos ambientais promovidos por essas atividades, sendo possível tomar providências cabíveis para ambientes semelhantes aos estudados. Palavras-chave: Atividade doméstica; combate a pragas urbanas; poluição urbana. Can the solution of a problem cause another? the use of chemical indicators to assess the environmental impact of measures to prevent dengue in Ceará coast, Fortaleza, Brazil 150 Abstract Among the vector-borne diseases, we can highlight dengue, as a re-emerging disease character. The first dengue outbreaks occurred in Brazil in the 1980s. Since then the Ministry of Health promotes campaigns to control the large number of cases. For the control of Aedes aegypti, is chosen mainly to the use of chemicals (household cleaners) in sanitary campaigns. Pesticides are used mostly in agriculture in rural areas, but are also used in the fight against urban pests in public health campaigns, in households and in veterinary products. However, these uses are an important source of contamination of aquatic resources from urban centers. This study aimed to estimate the contamination of the use of pesticides and household cleaning in urban pest control in the river-estuary regions of Coco and Ceara rivers located in the metropolitan area of Fortaleza, Ceará, Brazil. Of the four analyzed pesticides, malathion and cypermethrin were only detected and quantified. The malathion concentrations ranged 0.08 to 0.85 ng.g-1, for the cypermethrin and 6:58 to 134.45 ng.g-1. Household Cleaning used to combat urban pests were quantified in urban areas sediments. The sources of these household cleaning for the studied environments are derived from its application in pest control through OTC products for household use in public health campaigns and urban pest control by specialized companies. The data generated in this study show that domestic and urban pest control activities are contaminating the rivers studied. Thus, policy monitoring in aquatic environments should be implemented in order to assess the environmental impacts promoted by these activities, and you can take appropriate action to similar to the studied environments. KeyWords: public policy impacts; urban pesticides; urban pollution. Introdução As pragas ou pestes urbanas são espécies que infestam ambientes urbanos, podendo causar agravos à saúde, bem como prejuízos econômicos (Brasil, 2000). O crescimento desordenado dos grandes centros urbanos oferece condições favoráveis ao aparecimento de pragas, dentre essas condições estão: a introdução de espécies exóticas, a ausência de competidores, predadores, parasitas e patógenos, e a disponibilidade e abundância de abrigo e alimentos (Alves Filho, 2002). Algumas pragas causam problemas relacionados à economia, como também prejuízos à saúde pública. Isso porque muitas pragas estão relacionadas ou atuam como agentes etiológicos ou vetores de transmissão de doenças humanas importantes, podendo contribuir para o surgimento de endemias, epidemias e pandemias (PAPINI et al., 2009; OMS, 1988). Dentre as doenças transmitidas por vetores, podemos destacar a dengue, por ser uma doença de caráter reemergente. Anualmente estima-se que 80 milhões de pessoas se infectem, em 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da dengue (BRASIL, 2009). Os primeiros surtos de dengue no Brasil ocorreram na década de 1980. Desde então o Ministério da Saúde promove campanhas para controlar o grande número de casos da doença. 151 No Brasil, para o controle desses vetores, como o mosquito Aedes aegypti, opta-se, principalmente, pelo uso de produtos químicos (domissanitários) nas campanhas sanitárias, sendo os controles físico e biológico, utilizados em menor escala (CÂMARA NETO, 2000; LONDRES, 2011). A utilização preferencial do controle químico ocorre devido a sua eficácia a curto prazo e seu baixo custo frente aos outros tipos de controle. O problema do uso exacerbado desse tipo de controle é que ele seleciona populações resistentes, atinge organismos não-alvo e deixam resíduos no ambiente (ABRASCO, 2012; LONDRES, 2011; PAPINI et al., 2009; PERES; MOREIRA, 2003; OMS, 1988). Segundo o Programa Nacional de Controle da Dengue, a principal estratégia para evitar que o vírus se alastre é combatendo o mosquito Aedes aegypti, por meio da eliminação dos seus hábitats (criadouros), das larvas e do mosquito na fase adulta. Dentre os principais praguicidas usados estão teméfos, cipermetrina, malationa, diflubenzurom e deltametrina. Vale salientar que esses compostos também são usados na erradicação de outras doenças, tais como: Doença de Chagas, malária, leishmaniose (FUNASA, 2001). Devido a larga utilização da malationa e cipermetrina pela Secretária de Saúde Pública do Estado do Ceará (SESACE), esses princípios terão enfoque nesse estudo. Outra motivação para essa escolha foi a falta de estudos que apontem a dimensão do problema desses compostos quando inseridos no meio ambiente. Além disso, a inexistência de políticas públicas que preconizem valores máximos permitidos (VMP) para que esses compostos possam estar presentes no ambiente sem causar nenhum dano ao homem e à biota. Contudo, à nível internacional, foram encontrados alguns estudos que apontam a degradação da qualidade da água e do sedimento de corpos hídricos de importantes centros urbanos causada por esses compostos (AMWEG et al., 2005; AMWEG et al., 2006; WESTON et al., 2005; WESTON et al., 2009; WESTON e LYDY, 2010; KUIVILA et al., 2012). Esses estudos apontam ainda a importância de estudar os domissanitários principalmente em sedimento, devido suas propriedades físico-químicas propiciarem seu acúmulo nesse compartimento. Isso porque esses propriedades podem influenciar fortemente o caráter hidrofóbico desses compostos (BAUMARD et al., 1999). Em virtude da escassez de trabalhos sobre a presença de domissanitários usados em programas de saúde pública em recursos hídricos de zonas urbanas de regiões costeiras tropicais, há a necessidade de pesquisas para melhor compreender o comportamento dessas substâncias em regiões estuarinas. Dessa forma, o objetivo geral desse trabalho é quantificar a contaminação do uso de domissanitários no controle de pragas urbanas nas regiões fluvioestuarinas dos rios Cocó e Ceará localizados na região metropolitana de Fortaleza (RMF). Para isso foi necessário cumprir os objetivos específicos: validar o método cromatográfico; determinar os níveis de domissanitários ("agrotóxicos urbanos") em sedimentos das regiões fluvioestuarinas dos rios Cocó e Ceará; caracterizar o sedimento das regiões fluvioestuarinas dos rios Cocó e Ceará e estimar a forma de deposição dos domissanitários nas regiões fluvioestuarinas dos rios Cocó e Ceará. Metodologia Amostragens 152 As amostras de sedimento superficial foram coletadas nos dias 6 e 30 de novembro de 2012, em recipientes de alumínio, inertes ao analito de interesse, vedadas com saco plástico, etiquetadas e acondicionadas em isopor com gelo para conservação até a chegada ao laboratório. Em cada rio (Cocó e Ceará), foram selecionados três pontos amostrais, distribuídos em um ponto na zona estuarina (CO 1 e CE 1), outro em área de manguezal (CO 2 e CE 2) e o último numa área mais afastada da RMF (CO 3 e CE 3) (Figura 1). Figura 1. Localização da área de estudo e dos pontos de coleta. As amostras foram liofilizadas a -33 °C e a 760 torr (Edwards do Brasil) para a extração dos domissanitários. O tempo da liofilização variou com o volume de amostra colocado nos balões e com as características de cada solo. Em seguida, as amostras foram passadas em peneiras com abertura de 2 mm para a retirada do material grosseiro. Determinação de domissanitários em sedimento A determinação dos domissanitários em sedimento foi baseado no protocolo descrito e validado por Cavalcante et al. (2008). Por se tratar de uma matriz ambiental complexa, a escolha dos tipos e quantidades de solventes usados na técnica de extração e no procedimento de clean-up foi baseada nas propriedades físico-químicas dos agrotóxicos estudados, que ao serem separados da amostra, foram quantificados por cromatógrafo gasosa acoplado ao espectrômetro de massas (CG-EM). 153 Reagentes e soluções Os solventes hexano, acetona, acetato de etila e dicloro-metano (DCM) usados na etapa de extração, clean-up e no preparo das soluções padrões são da marca TEDIA grau HPLC. Os agrotóxicos (alfa cipermetrina 20 % m/v, bendiocarbe 80 % p/p e diflubenzuron 25 % p/p), usados como padrões, foram cedidos pela SESA-CE, enquanto a malationa foi um padrão obtido da AccuStandard®. Os padrões surrogates (acenafteno deuterado, criseno deuterado, perileno deuterado, naftaleno deuterado e fenantreno deuterado) e o padrão interno (azobenzeno), foram adquiridos da Sigma-Aldrich (USA), apresentando entre 99,5 e 99,9% de pureza. O cobre em pó (Cu) e a alumina foram obtidos da Merck (USA), enquanto o sulfato de sódio anidro (Na2SO4) e a sílica gel (70 a 230 mesh) da Vetec. Técnica de extração A partir de 30 g de sedimento liofilizado, foram adicionados 50 µL de padrão surrogate e a extração ocorreu com auxílio de um equipamento de ultrassom (ELMASONIC modelo E 120 H) durante 20 min sob temperatura ambiente. O padrão surrogate consiste em uma ou várias substâncias com propriedades físico-químicas semelhantes aos dos compostos a serem estudados e seu uso serve para medir a eficiência de extração. A mistura de solventes foi selecionada por faixa decrescente de ε°: 30 mL de acetona, 30 mL de acetona e acetato de etila (1:1 v/v), 30 mL acetato de etila, 30 mL de acetato de etila e DCM (1:1 v/v), 30 mL de DCM, 30 mL de DCM e hexano (1:1 v/v) e 30 mL de hexano. O extrato foi recolhido em tubos de Falcon e centrifugados a 4000 rpm por 15 min (centrífuga HermLe modelo Z 360 K). O sobrenadante foi recolhido em balão de fundo redondo de 250 mL e teve seu volume reduzido em rotaevaporador (FISATOM 801) até aproximadamente 1 mL, para a etapa seguinte. Antes da construção da coluna de clean-up, a sílica gel e a alumina foram ativadas em estufa a 200 °C por 12 h. O Cu foi ativado por lavagem com 40 mL de HCl 0,1 M, sendo o excesso aspirado com auxílio de uma seringa; em seguida o mesmo foi feito com 40 mL de acetona, e finalmente, armazenado em hexano. Procedimento de clean-up O procedimento de clean-up é usado na “limpeza” da amostra e separação dos constituintes de interesse (Cavalcante et al., 2008). O clean-up foi realizado utilizando o princípio de cromatografia de adsorção em fase sólida com coluna de vidro aberta (25 cm de altura por 1 154 cm de diâmetro). A coluna foi preparada a partir de slarry de 8 g de sílica gel, seguida de 4 g de alumina em hexano. Em seguida foi colocado 0,5 cm de Cu seguido de 3 cm de Na2SO4. Após a adição dos extratos oriundos da etapa de extração na coluna, ocorreu a eluição das substâncias de interesse. Foram usadas as misturas eluentes: 20 mL de hexano, 30 mL de hexano e DCM (3:7 v/v) e 30 mL de hexano e acetato de etila (4:6 v/v), as quais eram recolhidas em um balão de 250 mL. A escolha dos solventes e as respectivas quantidades e proporções foram selecionadas pela ε° e P°. Os extratos foram pré-concentrados para um volume de 1 mL até a etapa de identificação e quantificação por CG-EM. Determinação dos analitos de interesse Para a determinação dos analitos de interesse, foi utilizado um CG-EM, da marca Shimadzu, modelo QP2010. A coluna capilar (fase estacionária) usada na separação dos analitos de interesse foi obtida da J&W Scientific modelo DB-5 (30 m × 0,25 mm i.d × 0,25 µm espessura de filme). A partir da amostra oriunda da etapa de clean-up, foram adicionados 10 µL de padrão interno e injetados 2 µL no CG-EM no modo de detecção SIM, no modo de injeção splitless com o fluxo de gás de arraste hélio, ambos a um fluxo de 1,25 mL. min-1. As temperaturas dos injetores e dos detectores foram padronizadas em 280ºC e 300ºC, respectivamente. Quantificação dos analitos de interesse A quantificação do analitos de interesse foi realizada por uma curva de calibração usando padronização interna. Para a construção da curva de calibração, foi preparada solução estoque de 1000 ppm individual em acetona, hexano ou acetato de etila. A partir de uma solução de trabalho na concentração de 10 ppm, foram feitas diluições necessárias para obtenção dos pontos da curva de calibração da mistura dos analitos estudados (50 ppb, 100 ppb e 500 ppb) em vials de 1 mL com acetato de etila, hexano e acetona (1:1:1 v/v) e 10 µL de padrão interno. Resultados Distribuição de domissanitários nos rios Cocó e Ceará Os resultados obtidos nessa pesquisa não podem ser comparados com nenhuma resolução nacional vigente, isto porque nenhuma legislação dispõe especificamente sobre os VMP desses compostos em sedimento, uma vez que as legislações vigentes são para água 155 (Resolução CONAMA nº 396 de 07 de abril de 2008 e a Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005) e solo (Resolução CONAMA nº 420 de 2009). Além disso, essas resoluções contemplam um número reduzido de princípios ativos, tendo em vista a enorme variedade de produtos existentes no mercado. No Ceará, só na agricultura são utilizados mais de 200 produtos com 150 princípios ativos diferentes (GAMA et al., 2013). No rio Ceará, o maior nível de domissanitários foi de 134,57 ng.g-1 e o menor de 45,67 ng.g1 , que representam, respectivamente, pontos da foz e o mais a montante. O comportamento da concentração do rio Cocó foi semelhante ao do rio Ceará, porém em níveis mais baixos. A maior concentração no rio Cocó foi de 38,04 ng.g-1 e a menor de 6,68 ng.g-1. Os maiores níveis na foz e menores à montante podem ser justificados devido às propriedades físico-químicas dos domissanitários estudados que favorecem processos de sorção pelo conteúdo de carbono orgânico presente em maior quantidade em solos, sedimentos e material suspenso (Tabela 1). Tabela 1. Propriedades físico-químicas dos agrotóxicos estudados. 0,009 T½ solo*** (d) 60 2 148 0,17 3,1 1,00X10-3 Analitos Koc* (L.kg-1) Kow** Solubilidade (mg.L-1) Cipermetrina 156.250 2,00 X 105 Pressão de Constante de vapor Henry (Pam3.mol-1) (mPa) 0,00023 2,00 X 10 -2 Malationa 1.800 5,62 X 10 Diflubenzuron - 7,76 X 103 0,08 3 0,00012 4,70 X 10-4 Bendiocarbe 385 5,01 X 10 280 3,5 4,6 4,00 X 103 Fonte: Disponível em: <http://sitem.herts.ac.uk/aeru/iupac/>. Acesso em: 21 jul.2012 *Constante de partição de carbono orgânico; **Constante de partição octanol-água; ***Tempo de meia-vida no solo Além disso, as mudanças das condições entre ambientes fluviais e oceânicas, zonas estuarinas, como: temperatura, concentração da matéria orgânica dissolvida e especialmente pH e salinidade, podem afetar a dinâmica dos agrotóxicos, o que torna a variação desses fatores determinante no processo de sorção nos ambientes aquáticos (Tremblay et al., 2005). Em geral, as características das zonas estuarinas favorecem a acumulação dos contaminantes orgânicos no material particulado suspenso. Este, por sua vez, se deposita no sedimento de fundo. A concentração de malationa variou de 0,08 a 0,85 ng.g-1 e a média foi de 0,23 ng.g-1. De modo geral, o malationa apresentou distribuição homogênea, exceto no ponto CO 2, onde a concentração foi muito superior aos outros pontos (Figura 2a). 156 Pontos amostrais Concentração - ng. g-1 Concentração - ng.g-1 Malation a Σ Cipermetrina Pontos amostrais b Figura 2. Distribuição da concentração do domissanitário malationa (a) e cipermetrina (b) em cada ponto amostral. A provável fonte de malationa para os rios estudados é proveniente do uso em campanhas de saúde pública no combate ao mosquito da dengue na fase adulta. Esse adulticida é nebulizado a Ultra Baixo Volume (UBV), por equipamento pesado, popularmente conhecido como “fumacê”. A área de aplicação do fumacê ocorre nos bairros com maior transmissão (%), conforme NT41/2006 (BRASIL, 2009). Dessa forma, apesar do ponto CO 2 não estar localizado em área de grande incidência de casos de dengue, o rio Cocó atravessa bairros com elevado registro de casos, onde o uso do fumacê é mais intenso. Outra explicação para a alta concentração de malationa, especificamente nesse ponto, pode ser justificada pela presença de manguezal. Os manguezais apresentam características que favorecem o acúmulo de contaminantes, como alta produtividade primária, abundância detrítica, condições redutoras e elevado teor de carbono orgânico (Tam et al., 2001). A cipermetrina apresentou concentrações bastante superiores em relação às da malationa (Figura 2b). Isso pode ser explicado por suas propriedades físico-químicas, que propiciam maior hidrofobicidade à cipermetrina, aumentando a sua tendência de estar presente no sedimento. As altas concentrações de cipermetrina em áreas urbanas podem estar ligadas, principalmente, ao seu uso também como adulticida em campanhas no combate a dengue. A cipermetrina foi substituída pela malationa no tratamento espacial (fumacê), sendo atualmente usada em equipamentos portáteis em locais onde o fumacê não consegue ter acesso. Além disso, a cipermetrina é um princípio ativo comumente encontrado em venenos domésticos de venda livre. Os pontos mais a montante (CE 3 e CO 3) tiveram os menores valores de concentração. Dentre os locais de amostragem, os pontos CE 3 e CO 3 são os menos urbanizados, ou seja, sofrem menor pressão das atividades antrópicas. Os demais pontos recebem intensa carga de efluentes domésticos que podem conter esses domissanitários, o que explicaria as mais altas concentrações dos pontos CE1, CE2, CO1 e CO2. No Ceará, os primeiros casos foram registrados em 1986 e desde que foi notificada pela primeira vez, a dengue tem se manifestado de forma endêmica, sendo que os anos de 1987, 1994, 2001, 2008 e 2011 foram registradas epidemias, tendo esse último ano o total de 56.714 de casos registrados (SESA/CE, 2012). Para controlar esses surtos, o uso de inseticida 157 Consumo de malation - (L) malationa foi intensificado nos últimos anos (Figura 3). Esses dados apontam que o controle químico não é suficiente para diminuir os números de casos da doença, provavelmente devido a seleção de populações de mosquitos resistentes, o que demanda o uso de mais inseticidas. Como foi possível verificar, os resíduos sobressalentes de domissanitários atingiram os mananciais, contaminando os recursos hídricos urbano, já escassos na região estudada por estar localizado em clima semiárido. Fortaleza CRES* Anos Fonte: NUVET/SESA (2012). *CRES: Coordenadorias Regionais de Saúde Figura 3. Consumo de malationa grau técnico 96 % nos anos 2009 a 2012. Conclusões Os níveis dos domissanitários estudados apresentaram as maiores concentrações em sedimentos das áreas de manguezais, demonstrando que essas áreas são sumidouras para essas substâncias. Os níveis de malationa são menores provavelmente devido a constante de partição ser favorecida para a fração aquosa, em virtude de suas propriedades físicoquímicas. Inexiste uma lei específica para a proteção ambiental do compartimento em estudo, os sedimentos, e as leis que poderiam ser utilizada como base, como as leis de dragagem, solo e das águas (subterrâneas e superficiais) são muito defasadas em relação ao número de princípios ativos existente, ou seja, contempla um número pequeno de compostos. Os próprios compostos em estudo não são contemplados por essas leis. O controle químico usado em campanhas de saúde pública para combater a dengue não é eficaz para diminuir os números de casos da doença. Dessa forma, não se justifica apenas o uso de inseticidas no controle da dengue, uma vez que esta alternativa abre mão da saúde ambiental e qualidade de vida da população no ambiente urbano. 158 Os dados gerados neste estudo mostram que as atividades domésticas e de controle de pragas urbanas estão contaminando os rios estudados. Assim, políticas públicas de monitoramento em ambientes aquáticos devem ser implementadas, a fim de avaliar os impactos ambientais promovidos por essas atividades, sendo possível tomar providências cabíveis para ambientes semelhantes aos estudados. Referências Bibliográficas ALVES FILHO, J.P. Uso de agrotóxicos no Brasil: controle social e interesses corporativos. São Paulo: Annablume; Fapesp, 188 p, 2002. AMWEG, ERIN L. et al. Use and toxicity of pyrethroid pesticides in the Central Valley, California, USA. Environmental Toxicology and Chemistry, v. 24, p. 966-972, 2005 AMWEG, ERIN. L. et al. 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Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. BRASIL. Resolução nº 396 do Conselho Nacional do Meio Ambiente de 07 de abril de 2008. Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília. Publicação DOU: 03/04/2008. BRASIL. Resolução nº 420 do Conselho Nacional do Meio Ambiente de 28 de dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. BRASIL. Resolução nº 454 do Conselho Nacional do Meio Ambiente de 01 de novembro de 2012. 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Debido a la falta de aislación térmica en los edificios, y a los diseños y modo de operación de las estufas a leña, la ciudad de Valdivia sufre episodios frecuentes de contaminación del aire por exceso de material particulado (MP) en época invernal. En 2014 la ciudad fue declarada saturada de MP10 y MP2.5, lo cual es una emergencia ambiental que conduce a la necesidad de un plan de descontaminación. Existen al presente tres líneas de trabajo: reacondicionamiento térmico de la envolvente de las viviendas, recambio de estufas, y control de la humedad de la leña. En este trabajo investigamos el recambio de estufas en relación a la disminución en el gasto en combustible y en la contaminación. Realizamos un análisis de costo de energía por nivel de ingresos del hogar, y encontramos que el 52% de los hogares gasta por encima del 10% de su ingreso, lo cual los sitúa en pobreza energética. Otro 27% gasta casi 10%, y sólo el 21% no tiene riesgo de pobreza energética. Con nuevos artefactos de calefacción provistos por el programa de recambio, encontramos que la pobreza energética no se aliviaría, aunque la contaminación disminuiría notablemente, si existiera disponibilidad de equipos con las características técnicas propuestas en el recambio. Esto muestra que la renovación de artefactos debe ser acompañada por mejoras térmicas en los edificios, que pueden disminuir a la mitad el consumo, y resolver los dos principales problemas al mismo tiempo. Palabras clave: Calefacción a leña, Contaminación del aire, Pobreza energética, Sector residencial, Valdivia Air quality improvement and poverty alleviation in wood fuel residential heating: cost-effectiveness analysis in the city of Valdivia Abstract Energy use was investigated in the residential sector of the city of Valdivia, located in south-central Chile, which has a high demand of heating due to its cold climate. Firewood is the cheapest available fuel, with a price per unit of energy 5 times lower than bottled gas and 6 times lower than electricity, and used by 95% of households for heating. Due to the lack of thermal insulation in buildings, and the design and mode of operation of firewood heating devices, Valdivia has regular episodes of air pollution due to excessive particulate matter (PM) in winter, which lasts at least five months. In 2014 the city was declared saturated zone for PM10 and PM2.5, which is an environmental emergency that leads to the need for a decontamination plan. There are at present three lines of work: thermal retrofit for the envelope of dwellings, replacement of heating devices, and humidity control of firewood. Here we investigate the replacement of heating equipment in relation to the decrease in fuel costs and pollution. We analyzed the energy cost per household income level, and found that 52% of households spend over 10% of their income, which places them in energy poverty. Another 27% spend nearly 10%, and only 21% had no risk of fuel poverty. By including a new heating appliance according to the requirements of the replacement program, we found that energy poverty cannot be alleviated, but pollution would decrease significantly, if there was availability of equipment with the technical features proposed in the replacement program. This shows that the replacement of heating devices must be 161 accompanied by thermal improvements in buildings, which can greatly reduce consumption and solve two major problems at once. Key Words: Firewood Heating, Air Pollution, Energy Poverty, Residential Sector, Valdivia Introducción La leña es un recurso energético renovable; sin embargo, su uso directo en los hogares presenta desafíos en la implementación de sistemas eficientes que eviten la contaminación del aire, derivada del humo de la combustión. En el caso de una estufa hogareña, el tamaño de la leña es de por sí una desventaja, ya que el aire no puede combinarse eficientemente con la masa de combustible. Los combustibles gaseosos son los que más fácilmente se combinan con el aire y producen menos emisiones. Cuando se usan combustibles líquidos se busca primero gasificarlos o pulverizarlos para que aumente la interacción con el aire en la combustión. En el caso de la madera, al presente, la manera menos contaminante de quemarla en estufas es en forma de pellets compuestos por partículas finas adheridas por presión. En la combustión los pellets se disgregan en partículas que tienen una relación alta de superficie a volumen, aumentando la eficiencia de mezcla con el aire y disminuyendo los contaminantes y humo. Para el mismo principio de funcionamiento de una estufa, y para el mismo contenido de humedad, la combustión de pellets genera entre 3 y 6 veces menos humo y contaminantes que la leña (CNE, 2009). Esta forma de utilizar la madera y sus residuos se ha incrementado en Europa y EE.UU., aunque aun es incipiente en la provisión de dendroenergía en Chile; debido a su costo más alto que la leña no hay suficiente demanda para utilizarlos como fuente de energía. Por el procesamiento para su elaboración, el costo del pellet disminuye mucho cuando aumenta la cantidad demandada; aunque el uso actual de pellets y briquetas en Chile es marginal. En zonas frías, la mala calidad térmica de las viviendas produce alta demanda de energía para calefacción (Schueftan y González; 2013 y 2015). También se ha identificado que el tipo de estufas utilizado, con posibilidad de cierre completo del tiraje de aire, aumenta significativamente las emisiones de MP, aun en estufas modernas de buena calidad (Jordan et al., 2005; CNE, 2009). En una encuesta de 1937 hogares que usan estufas a leña en Valdivia, el 68% informó que usa el tiraje cerrado, el 32% semi-cerrado y no hubo respuestas afirmativas de uso del tiraje abierto (MMA, 2012). Una entrada de aire apropiada oxigenaría la combustión adecuadamente y daría la menor contaminación. Este hecho conduce a la aparente paradoja de que la operación de cocinas a leña como calefactores más antiguos, a pesar de su menor rendimiento térmico produce bajas emisiones. Esto es consecuencia de la mayor disponibilidad de aire en la combustión al ser equipos con menor hermeticidad (CNE, 2009). Por otro lado, estos datos aportados por los diversos estudios citados, muestran la vulnerabilidad de las iniciativas de mejoras tecnológicas que dependen de la operación del usuario. En la combustión de leña en los hogares, entre los elementos identificados como dañinos para la salud humana se encuentran el material particulado (MP) y los compuestos aromáticos policíclicos (PAH por su sigla en inglés) (Sanhueza et al., 2009). El MP se clasifica por su tamaño, el cual determina la incidencia en enfermedades por la penetración que ocurra a través de los pulmones, siendo el de tamaño menor a 2.5 µm (MP2.5) el más 162 perjudicial para la salud, y este es el motivo de esfuerzos cada vez mayores para monitorearlo y controlarlo. Una red nacional de monitoreo de MP en Chile brinda resultados en tiempo real online (SINCA, 2014). Las estaciones de monitoreo se encuentran en las ciudades y sectores donde con equipos móviles se han detectado previamente los mayores niveles. El MP a su vez contiene sustancias derivadas de la combustión incompleta (PAHs), las cuales son bioquímicamente activas. En la ciudad de Temuco, se midió el MP con detalle espectroscópico, encontrándose que cerca del 8% de este se compone de PAHs considerados cancerígenos (Cereceda-Balic et al., 2012). El trabajo de Cereceda-Balic et al. (2012) fue también muy importante para determinar que la mayor parte del MP presente en Temuco en episodios de emergencia atmosférica procede de la leña, con un 93% de contribución de este combustible y corresponde a MP2.5 que causa mayor daño a la salud de las personas. La emisión del parque vehicular y la quema de gas y kerosene también aportan MP, aunque en las ciudades del centro-sur puede observarse en el monitoreo que su incidencia es mucho menor en comparación con las emisiones de la quema de leña, con lo cual el problema de calidad del aire en estas regiones es diferente del de ciudades como Santiago de Chile (Cereceda-Balic et al., 2012). Las principales ciudades del centro-sur de Chile, entre las cuales se encuentran Temuco, Valdivia y Osorno, han sido declaradas en saturación de MP. Esta condición se determina una vez que los valores medidos de MP han sobrepasado las normas de calidad de aire durante tres años consecutivos, y es el paso previo a la implementación de un plan de descontaminación ambiental. Por otro lado, en las regiones del centro-sur hay preferencia cultural por la leña, debido a la abundante disponibilidad histórica del recurso. Además, en la última década el crecimiento económico en Chile ha permitido que los hogares puedan tener mejores condiciones de confort, incrementando continuamente el uso de energía (Mundaca, 2013). Sumado a estos factores, en estas regiones el precio de la leña es mucho más bajo que las otras alternativas de combustibles. Por ejemplo, por unidad de energía, la leña en la ciudad de Valdivia es 4 veces más barata que el gas y 6 veces más barata que la electricidad (Schueftan y González, 2013). La leña es un recurso energético de producción nacional en Chile, ya sea de bosques nativos como de plantaciones, estas últimas mayormente de pino y eucalipto (INFOR, 2012). Sin embargo, aun en el caso de que se logre manejo sustentable de bosques y plantaciones, los efectos en la salud de la contaminación del aire por combustión de leña hacen que el uso del recurso en las condiciones actuales no sea sustentable (GómezLobo et al., 2006). Las actuales políticas para reducir la contaminación se enfocan por un lado en mejorar la vivienda a través de la normativa térmica y el subsidio de reacondicionamiento térmicode la envolvente; y por otro lado en mejorar el sistema de calefacción a través del recambio de estufas y el uso de leña seca. El objetivo de este trabajo es investigar el potencial de mejora en uso de energía y en calidad del aire con el reemplazo de artefactos a leña por los equipos nuevos provistos con el subsidio a recambio de estufas en la ciudad de Valdivia. Se incluye en el estudio el costo del combustible y la evaluación del nivel de pobreza energética, así como también el aumento de temperatura de confort en un escenario de efecto rebote de la mejora en rendimiento térmico y las emisiones de MP para los distintos equipos. Los antecedentes respecto a la calidad constructiva de las viviendas y el potencial de reacondicionamiento de la envolvente fueron estudiados en un trabajo previo (Schueftan and González, 2013). 163 Metodología Se estudió la encuesta de uso de energía en hogares que realizó el instituto Certificación e Investigación de la Vivienda Austral (CIVA) de la Universidad Austral de Chile en Valdivia (140.000 habitantes) para el Ministerio de Medio Ambiente (MMA, 2012). Se encuestaron 2025 viviendas unifamiliares, de las cuales 1937 utilizan leña para calefacción. Se obtuvo el detalle del tipo de estufa y modo de operación, consumo de leña y la modalidad de compra, valor de la propiedad, conocimiento acerca de programas y subsidios relacionados a energía en viviendas, calidad de la construcción y artefactos, e intención de renovación en el edificio y/o artefactos. Este trabajo forma parte de un estudio mayor que involucra otras ciudades del centro-sur de Chile, con la intención de conocer la contribución del sector residencial a los altos niveles de material particulado. En trabajos previos estudiamos algunas variables de una encuesta similar anterior (MMA, 2010) en relación a los programas gubernamentales de subsidio para la mejora de la vivienda y su envolvente (Schueftan y González, 2013). En el presente trabajo analizamos los datos de las 1937 viviendas que usan leña y la reducción en cantidad de combustible y emisiones de MP al aplicar el programa de recambio de calefactores. Este subsidio corresponde al cambio de las cocinas a leña y estufas antiguas por modelos de estufa a leña con un mayor nivel de eficiencia y hermeticidad. Los beneficiarios de este subsidio deben asistir a talleres de capacitación y pagar $100.000 por la instalación de la estufa, lo que corresponde al 74% del salario mínimo neto. El subsidio aplica solo a casas, no departamentos, y puede ser obtenido una sola vez para cada vivienda. Los equipos entregados deben cumplir con la norma para calefactores a leña que regula la eficiencia y permite emisiones de MP entre 2.5 g/h y 4.5 g/h en condiciones de laboratorio (Chile, 2011). Para una potencia máxima de 8000 kcal/h, estas estufas tendrían emisiones de laboratorio por kg de leña quemada cercanas a 2 g/kg. Estas condiciones no se consiguen en la operación real de las estufas debido a que son utilizadas con distintos tiraje de aire, cargas de leña variable, períodos de encendido y apagado, y con condiciones variables de humedad de la leña. El Ministerio de Medio Ambiente de Nueva Zelandia realizó diversos estudios de emisiones de estufas a leña en condiciones reales de uso. Para las estufas que en condiciones ideales de laboratorio debían emitir un máximo de 3 g/kg de leña, se obtuvo una media de distintas mediciones en condiciones reales de uso de 13 g/kg leña; es decir entre 4 y 5 veces más emisiones (Scott, 2005). En otro trabajo, se investigó una estufa de muy bajas emisiones (1.5 g/kg leña en laboratorio), para la cual se obtuvo una emisión promedio en condiciones reales de 4.6 g/kg leña con humedad entre 10% y 20% (Kelly et al., 2007). Para el presente trabajo asumimos una emisión en condiciones reales de las estufas existentes de 13 g/kg de leña, y para las estufas del programa de recambio una emisión de 6.5 g/kg de leña para 25% de humedad de la leña como es permitido y habitual en la ciudad de Valdivia. El valor de 6.5 g/kg se obtuvo de la interpolación en la fig. 2 del trabajo de Kelly et al. (2007). Es de notar que estas estufas, que por diseño de fabricación no posibilitan el cierre total de la entrada de aire, no se encuentran aun disponibles en el mercado de Chile, con lo cual el resultado en reducción de emisiones que se obtenga dependerá de la provisión efectiva de estos artefactos. 164 El consumo de leña se obtuvo de la encuesta CIVA (MMA, 2012), en función del valor de la vivienda. Dado que la encuesta no relacionó los datos con niveles de ingreso del hogar, asumimos que el valor de la vivienda es proporcional al ingreso. Esta suposición es válida por la homogeneidad de la muestra estudiada, que incluye viviendas unifamiliares de valor menor a USD50000. Los consumos de gas y electricidad fueron obtenidos de la Cámara Chilena de la Construcción (CDT, 2010).Esta información corresponde a promedios de todo Chile, que consideramos válidos para Valdivia en el caso analizado de hogares con calefacción a leña, dado que éste es el consumo principal en la región. En la muestra analizada el gas (Gas Licuado de Petróleo, en la región no existe provisión de gas natural) se usa para cocción de alimentos y para agua caliente sanitaria, y la electricidad para artefactos domésticos e iluminación. Los niveles de ingreso por hogar fueron tomados del Instituto Nacional de Estadísticas de Chile (INE, 2013). Resultados Consumos y pobreza energética En la Tabla 1 se resumen los resultados del costo energético anual de hogares en Valdivia, de acuerdo a niveles de ingreso familiar. El uso de leña se cuantificó en m 3st por año (m3st=m3 estéreo, medida de volumen de leña en la compra, en promedio 1 m3st equivale a 1540 kWh de poder calorífico superior) (MMA, 2012), con un costo de $30000 /m3st., el cual incluye $5000 de mano de obra de corte y almacenamiento en el lugar designado en la vivienda.En todo este trabajo $ significa Pesos de Chile. Para el gas envasado se tomó el precio para el balón de 15 kg ($18000) y un equivalente energético de 13.6 kWh/kg de gas basado en el poder calorífico superior, resultando el costo de gas $88 /kWh. El costo de electricidad es de $122 /kWh, incluyendo impuestos y gastos fijos para el servicio residencial. En la Tabla 1 se observa que para todos los niveles de ingreso el gasto en leña es el más alto de los 3 vectores energéticos analizados, aun cuando el costo del kWh de leña es cercano a los $20, muy por debajo del gas y la electricidad. Esto es característico de las regiones frías que utilizan la mayor parte de energía en calefacción. Se identificaron 5 grupos según nivel de ingresos, con el ABC1 siendo el más alto y E el más bajo según la clasificación comúnmente utilizada en Chile. Tabla 1.Consumo y costo anual de energía en hogares de Valdivia de acuerdo a nivel de ingreso del hogar Nivel de ingreso del hogar Leña consumo (m3st./año) leña costo Gas consumo (kWh/año) Gas costo Electricidad (kWh/año) Electricidad costo Total costo energía/ año Ingreso del hogar ABC1 C2 C3 18 13.4 12.3 $ 540000 $ 400800 $ 370200 2056 2427 2419 $ 181314 $ 214065 $ 213333 2882 2150 1736 $ 351543 $ 262337 $ 211804 $ 1072857 $ 877202 $ 795337 $ 38543556 $ 15136296 $ 8066988 D 10.7 $ 319500 1985 $ 175061 1495 $ 182414 $ 676975 $ 4440756 E 10 $ 298500 1861 $ 164106 1311 $ 159881 $ 622487 $ 2024256 165 % del ingreso en energía % of hogares del nivel de ingreso 2.8% 6% 5.8% 15% 9.9% 27% 15.2% 37% 30.8% 15% Las últimas dos filas de la Tabla 1 indican el porcentaje del ingreso total del hogar que se dedica a pagar el costo energético, y el porcentaje de hogares en ese nivel de ingreso, respectivamente. Los niveles más bajos D y E dedican 15.2% y 30.8% del ingreso en energía. En diversos estudios se considera que con un gasto mayor al 10% del ingreso el hogar se encuentra en pobreza energética (Howden-Chapman et al., 2012). Esto no significa que no pueda afrontar el gasto, sino que ese nivel de gasto no permitirá adquirir otros recursos y servicios necesarios para satisfacer las necesidades básicas, y que por lo tanto, con un costo de energía superior a 10% del ingreso existe riesgo de no disponer de la cantidad de energía necesaria para el mínimo confort. Esta situación fue estudiada por Bustamante et al. (2009), quienes informan temperaturas entre 14ºC y 15ºC en el interior de las viviendas del centro-sur de Chile en niveles socio económicos bajos. Del análisis anterior se deduce que 52% de las viviendas se encuentran en pobreza energética, y el nivel C3, con una incidencia muy relevante de 27%, se encuentra con un gasto energético en el límite del 10% del ingreso familiar. Puede observarse que sólo el 21% de las viviendas se encuentran claramente fuera del riesgo de pobreza energética. Recambio de calefactores En la muestra estudiada, 1072 hogares disponen de estufas modernas de combustión lenta (en promedio de 7 años de antigüedad), y estos consumen en promedio 11.5 m3st de leña/año; mientras que 814 hogares disponen de cocinas a leña y 51 hogares de salamandras para calefacción, con un promedio de antigüedad de 12 años. El consumo de leña en el grupo que dispone de salamandras es el menor con 7.5 m3st, y el grupo que utiliza cocinas promedia un consumo de 10.5 m3st/año. Las estufas existentes son similares a las ensayadas en 2006 por SERPRAM en Chile, para las cuales se encontró un rendimiento térmico de 61.4%, promedio de cinco modelos. Para las cocinas a leña, tanto en los estudios en Chile como en Nueva Zelandia se encontraron rendimientos térmicos cercanos a 51% (CNE, 2009), y asumimos este mismo rendimiento para salamandras. Los nuevos modelos propuestos para el recambio de calefactores deberían certificarse a 74% de rendimiento térmico. Este es un valor declarado de eficiencia térmica que aun no ha sido confirmado por ensayos de laboratorio. Para utilizar valores reales de eficiencia de calefactores usamos datos del estudio de 35 modelos de calefactores a leña en Nueva Zelandia, que se obtuvieron para verificar las prestaciones declaradas por los fabricantes (NZ, 2008). En esos estudios, para calefactores de más del 70% de eficiencia declarada, el promedio de valores reales obtenidos fue de 66.7%, el cual utilizaremos en este trabajo como rendimiento real de las nuevas estufas a leña (NZ, 2008). Los resultados obtenidos no pierden generalidad debido a que el valor de eficiencia asumido podrá ser modificado en el futuro cuando se cuenten con ensayos de las estufas entregadas en los programas de recambio vigentes en Chile. Nótese que el consumo actual de leña para hogares con calefactores más modernos es mayor que para aquellos con cocinas o salamandras. Esto puede deberse a que corresponden a los 166 hogares de más bajos ingresos y con menor posibilidad de adquirir el combustible para llegar a un nivel de confort adecuado (Howden-Chapman et al., 2009). Cuando se mejora la eficiencia de artefactos o envolventes, se observa en general un efecto rebote (“rebound effect” en las publicaciones en inglés). Este ya fue observado en otros casos en diversos programas de mejora energética (MINVU, 2013). Es de notar que en la muestra analizada, los sectores que usan cocinas y salamandras son los que menos leña utilizada reportan, y este hecho sugiere que habría efecto rebote en consumo una vez reemplazadas por una estufa moderna. El efecto rebote es consecuencia de un mayor nivel de confort térmico debido a la mayor eficiencia de los equipos, pero que finalmente origina consumos iguales o mayores a los que se tenían con anterioridad a los reemplazos. En el caso de Valdivia, para el promedio de consumo de leña de 11 m3st., la temperatura interior de las viviendas sociales actuales resulta de 14.5 ºC en invierno. Bustamante et al. (2009) han observado temperaturas interiores similares en otras localidades del centro-sur de Chile. Entonces, para evaluar las mejoras en el consumo y el efecto rebote al disponer del recambio de estufas, consideramos una temperatura de base de 14.5ºC y la configuración de artefactos y consumos de la encuesta CIVA detallada más arriba. La Figura 1 muestra (círculos llenos) el costo de la leña en función de la temperatura interior al implementar el programa de recambio de calefactores. El triángulo lleno muestra la situación actual de consumo promedio y temperatura de la vivienda en invierno. Se observa el aumento en la temperatura para el mismo consumo de leña (marcado con la línea segmentada que intercepta la línea de círculos), el cual es cercano a 1ºC en la temperatura de la casa. Se asume que los hogares tomarán esta mejora en confort manteniendo el consumo (gasto); sin embargo, estimamos que es poco probable que se aumente el consumo de leña luego del recambio del equipo debido a la situación de pobreza energética expuesta anteriormente. Por otro lado, manteniendo la temperatura interior en 14.5ºC el recambio de estufa produciría una disminución en el consumo de leña de 17%, con lo cual los grupos D y E no saldrían de la situación de pobreza (ver Tabla 1). 167 650000 Gasto anual en leña ($chilenos por año) 600000 550000 500000 450000 400000 350000 300000 250000 200000 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Temperatura de la vivienda (ºC) Figura 1.Consumo de leña por año en función de la temperatura interior de la vivienda. En la Figura 2 se grafica la relación entre emisiones y temperatura interior al aplicar el recambio de calefactores. Para contar con distintos escenarios de reducción, consideramos dos niveles de emisiones para las nuevas estufas: i) el nivel más bajo de emisiones en operación real, de 6.5 g/kg de leña quemada (Kelly et al., 2007), corresponde a las estufas de muy bajas emisiones (laboratorio 1.5 g/kg) y que no permiten el bloqueo de la entrada de aire; ii) un nivel de emisiones en operación real de 9.7 g/kg de leña quemada, que corresponde a un nivel intermedio entre el equipo propuesto por el programa de recambio y los equipos disponibles actualmente. La alternativa i) se indica en la Figura 2 con cruces, y la alternativa ii) con rombos llenos. La opción de operación con el tiraje de aire totalmente cerrado no está incluida en las opciones consideradas aquí. Aunque es una modalidad frecuente (68% de los hogares declara usar el tiraje cerrado en la encuesta CIVA en Valdivia), las emisiones en estos casos son muy variables de acuerdo a las prácticas del usuario y no se cuenta ni con datos precisos de la cantidad de aire que alimenta la combustión con tiraje cerrado ni con ensayos específicos. A modo de referencia de la magnitud de las variaciones, podemos citar la investigación de Jordan y Seen (2005) en Australia, quienes compararon las emisiones de una estufa moderna de bajas emisiones con una más antigua. Se encontró que las estufas más modernas, con emisiones muy bajas (2.6 g/kg) para tiraje abierto, producen 35 g/kg de MP con el tiraje de aire cerrado. Es importante observar que con los calefactores de mayor antigüedad se obtuvieron cantidades similares de MP con el tiraje cerrado (33 g/kg), aun cuando, en las mejores condiciones de combustión con el tiraje abierto emiten 13.5 g/kg (véase tabla 2 en Jordan y Seen, 2005). Este gran aumento de emisiones con tiraje cerrado fue también medido en estufas chilenas ensayadas en Suiza (ver tabla 3, pág. 31, en CNE, 2009), y debería ser tenido en cuenta en el diseño de las políticas de reducción de emisiones a través del recambio de estufas. Si no se cambia el diseño de las entradas de aire, la posibilidad de una operación errónea del calefactor puede anular las potenciales reducciones de emisión de las estufas 168 nuevas. Por el contrario, como se mostró en trabajos previos, las mejoras en la eficiencia térmica de la vivienda no dependen de la operación del usuario, y son entonces más confiables como estrategias de reducción de emisiones de MP (Schueftan y González, 2015). Emisiones de material particulado (kg / año) 140000 120000 100000 80000 60000 40000 20000 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Temperatura de la vivienda (ºC) Figura 2. Emisiones de la muestra de 1937 viviendas en Valdivia en función de la temperatura interior de la vivienda: los rombos indican estufas de la opción ii), las cruces la opción i), y el cuadrado lleno la situación actual (ver texto). En cualquiera de estos escenarios, con los nuevos equipos propuestos las emisiones son considerablemente más bajas que la situación actual graficada con el cuadrado lleno. En la opción i) aumentando la temperatura a 21.5ºC se llega a los actuales niveles de emisiones; y con la opción ii) el efecto rebote debería llevar la temperatura de la casa a 17.5ºC para igualar las emisiones actuales. En la Figura 2, las flechas muestran, en cada escenario, las emisiones a las que se llega con el mismo consumo de leña actual y una temperatura de 1ºC de efecto rebote (obtenida de la Figura 1). En estas condiciones, las emisiones se reducen aproximadamente a un 51% de las emisiones actuales para la opción i), y a un 76% de las emisiones actuales para la opción de estufas ii). Conclusiones Se investigó el uso de energía en viviendas de Valdivia, y las consecuencias en uso de leña y emisiones de material particulado (MP) del recambio de estufas y cocinas a leña por modelos mejorados. Se encontró que el 52% de la población utiliza más del 15% de su ingreso en gasto energético hogareño, por lo cual se encuentran en niveles de pobreza energética. Un 27% adicional tiene un gasto cercano al 10% de sus ingresos, y solamente el 21% se encuentra claramente fuera de riesgo de pobreza energética. 169 El recambio de estufas mejora moderadamente el rendimiento térmico y disminuiría el consumo de leña de la muestra en 17%, por lo cual el recambio no ataca el problema de pobreza energética que afecta a la mayoría de la población en Valdivia, ni tampoco resolvería la baja temperatura interior observada en las viviendas en invierno. Por otro lado, estimamos que existiría un efecto rebote, que como mínimo mantendría el consumo actual aumentando la temperatura interior de las viviendas en cerca de 1ºC. Este aumento, produciría una mejora moderada en la calidad de vida. A pesar del aumento de la temperatura interior (de 14.5ºC a 15,5ºC), esta se mantendría muy por debajo de los niveles recomendados (más de18ºC), lo que afecta la salud de las personas ya que las enfermedades generadas en invierno no solo son consecuencia de los altos niveles de MP, sino también de las bajas temperaturas al interior de las viviendas. Además, el hecho de que la estufa se ubique solo en una de las habitaciones de la vivienda hace que los ambientes tengan diferencias de hasta 3 ºC. En cualquier caso, el recambio de estufas genera una importante reducción entre 36% y 58% de las emisiones de MP para las mismas condiciones de temperatura interior actuales, y entre 24% y 49% de reducción si se considera el mismo consumo actual con un efecto rebote en aumento de la temperatura interior 1ºC. Este rango de resultados corresponde a la utilización de un equipo disponible con características similares a las propuestas para el subsidio de recambio de calefactores, y a otro que cumple las exigencias más estrictas pero aun no se encuentra en el mercado. Es importante que estos equipos no permitan el cierre completo de la entrada de aire para la combustión, como ocurre en la actualidad. Reducir el aire en la combustión aumenta la duración de la leña (combustión lenta), pero por debajo de cierto nivel puede producir aumento de emisiones en diez veces. Por otro lado, las emisiones ideales que se consignan en las prescripciones para estos equipos se refieren a condiciones de laboratorio, es necesario realizar ensayos en condiciones reales de uso, las cuales dependen fuertemente de la operación del usuario, incluyendo la elección de la provisión de aire a la combustión y la calidad de la leña utilizada. Agradecimientos. Este trabajo se realizó con apoyo de CONICYT (Comisión Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de Chile, proyecto 21120989), LACEEP (Latin American and Caribbean Environmental Economics Program, proyecto IDEA-006), y CONICET (Comisión Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de Argentina, proyecto 3646/14). AG agradece el apoyo de la Universidad Austral de Chile en su estadía de año sabático, en la cual se comenzó esta investigación. Referencias Bibliográficas BUSTAMANTE, W., et al. Eficiencia energética en la vivienda social, un desafío posible, en: Camino al Bicentenario, Propuestas para Chile, Santiago, pp. 253-282, 2009. Acceso junio 2014 http://politicaspublicas.uc.cl/cpp/static/uploads/adjuntos_publicaciones/adjuntos_publicacion.archivo_adjunto.a 4363393f53cc273.436170c3ad74756c6f20395f3039202d204566696369656e63696120656e657267c3a9746963 6120656e2076697669656e646120736f6369616c2e706466.pdf CDT (2010). 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O campus principal da Universidade de São Paulo sofre os problemas relacionados à mobilidade por ser área de passagem e por ter parte de seu solo ocupado por veículos estacionados. O conceito de “mobilidade sustentável” pode ser definido como “forma de mobilidade que promova mudança de paradigma no planejamento dos transportes, capaz de se manter ao longo do tempo sem que suas atividades prejudiquem a saúde humana, o meio ambiente e o bem estar social, promovendo o desenvolvimento econômico, a eficiência da aplicação dos recursos no setor de transporte e os meios de transporte não motorizados”. O objetivo deste trabalho é propor um pequeno sistema de indicadores de baixo custo de operação que ajudará a avaliar a evolução da ocupação de áreas para estacionamento e indiretamente, do uso do transporte motorizado individual por automóvel no Campus da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo. Acredita-se que a utilização desses indicadores poderá trazer aos tomadores de decisões informações de baixo custo e que possam ser implementadas imediatamente, já que opções mais modernas e complexas para diagnóstico não estão disponíveis neste momento. Palavras-chave: Indicadores, mobilidade urbana e sustentabilidade Sustainable urban mobility indicators for an university Campus Abstract 4 Autora financiada pela Fapesp Processo nº 2012/02605-4 173 The term mobility can be defined as the movement of people , goods and services. The main problems related to urban mobility are congestion caused by excess vehicles , conflicts between different modes of transport; pedestrian safety ; the elimination of green areas to enlarge spaces for circulation and parking, the increase in the number of traffic accidents and the levels of noise and air pollution . The main campus of the University of São Paulo suffers the mobility -related problems as a staging area and for part of their land occupied by parked vehicles . The concept of "sustainable mobility" can be defined as " form of mobility that promotes paradigm shift in transportation planning , able to maintain over time without their activities harmful to human health, the environment and social welfare promoting economic development, the implementation of resource efficiency in the transport sector and transport non-motorized means . " The objective of this work is to propose a small system of low-cost operation indicators that help to evaluate the evolution of occupation areas for parking and indirectly , the use of individual motorized transport by car in University City Campus of the University of São Paulo. It is believed that the use of these indicators can provide information that will subsidize decisions as more modern and complex options for diagnosis are not available at this time , not to mention that these indicators are low cost and can be deployed immediately. Keywords: indicators, urban mobility and sustainability Introdução O termo mobilidade pode ser definido como o trânsito de pessoas, bens e serviços. Pode ainda estar relacionado à liberdade de movimentar-se e às possibilidades de acesso aos meios necessários para tal e ao desejo do indivíduo de alcançar determinado destino. A utilização desse conceito ainda é muito recente no Brasil e foi definido pelo Ministério das Cidades, como um atributo relacionado aos deslocamentos realizados por indivíduos em suas atividades. A Lei Federal nº 12.587, sancionada em 3 de janeiro de 2012, é responsável por instituir as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e define mobilidade urbana como a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano”. Outra definição entende que mobilidade é “a capacidade de deslocamento de pessoas e bens no espaço para a realização de suas atividades cotidianas (trabalho, abastecimento, educação, saúde, cultura, recreação e lazer), num tempo considerado ideal, de modo confortável e seguro” (ALMANAQUE DANT, 2014, p.16). Diante dessa problemática está cada dia mais difícil deslocar-se na cidade de São Paulo e nas grandes megacidades do mundo. Um dos principais problemas ligados a mobilidade urbana é o congestionamento causado pelo excesso de veículos principalmente os particulares nas ruas e grandes avenidas das cidades. Outros problemas como: conflitos entre diferentes modos de transportes,; redução na segurança para pedestres,; eliminação de áreas verdes visando ampliar espaços para circulação e estacionamento de veículos, aumento no número de acidentes de trânsito e nos níveis de poluição sonora e do ar podem ser citados. O Campus da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo Armando Salles de Oliveira sofre todos esses problemas relacionados ao meio ambiente e trânsito por ser passagem de um local para outro dentro da cidade, e por ter parte de seu solo ocupado por veículos estacionados em área nobre que serve de estacionamento para pessoas que fazem conexão com o transporte 174 público (ônibus e metrô). Todas essas questões acabam por gerar problemas ambientais seríssimos dificultando a sustentabilidade neste campus. Mobilidade e sustentabilidade estão intimamente ligadas, tanto que já existe o conceito de “mobilidade sustentável” que pode ser definido como “forma de mobilidade que promova mudança de paradigma no planejamento dos transportes, capaz de se manter ao longo do tempo sem que suas atividades prejudiquem a saúde humana, o meio ambiente e o bem estar social, promovendo o desenvolvimento econômico, a eficiência da aplicação dos recursos no setor de transporte e os meios de transporte não motorizados” (MOTTA et al, 2012). O Relatório Final do Working Group on Sustainable Urban Transport Plans – WGSUT destaca que um sistema urbano sustentável deve dar suporte à liberdade de movimento, saúde, segurança e qualidade de vida dos cidadãos, da geração atual e para as gerações futuras (WOLFRAM, 2004). Para alcançar esses objetivos o WGSUT considera importante: Promoção do uso racional do automóvel favorecendo o uso de energia limpa e de combustíveis renováveis; Uso mais eficiente do solo; Desenvolvimento de uma rede de transportes públicos regular, frequente, confortável, moderna, abrangente e com valores competitivos; Fortalecimento do transporte não motorizado, incrementando a caminhada e o uso de bicicleta; Gerenciamento da demanda de transporte pelo desenvolvimento de planos procurando mudança do comportamento e a eficiência no gerenciamento da mobilidade; Gerenciamento integrado da mobilidade com a participação de todos envolvidos no processo; e Quantificação dos objetivos alcançados a curto, médio e longo prazo, através de um efetivo monitoramento do sistema. Entende-se que cada cidade deve desenvolver a sua própria visão de desenvolvimento sustentável e deve incluir estratégias integradas que promovam a redução na necessidade de viajar, a redução no uso do automóvel e de veículos comerciais, incentivando modos alternativos de transporte e procurando melhorar a forma como a rede viária é utilizada e operada. Considera também a adoção de políticas de uso do solo para dar apoio a essas medidas. Essas diretrizes podem ser incorporadas à realidade do Campus da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo “Armando Salles de Oliveira” CUASO e corroboram a escolha em propor indicadores que possam auxiliar na gestão da mobilidade. Um campus universitário é uma área territorial limitada com vias para automotores, prédios, construções e áreas públicas compartilhadas e abertas e ainda privilegiadas aos transeuntes. Nesse sentido, necessitam, constantemente, discutir a busca de um equilíbrio no que se refere ao uso do espaço e mobilidade. Sendo assim, a universidade tem a responsabilidade de gerir aspectos relacionados à mobilidade, garantindo o direito ao acesso, à sustentabilidade, à segurança e à eficiência econômica (BRANDÃO, 2013). 175 Em pesquisa realizada em sites de universidades de outros países, observou-se que diversas instituições citam em seus relatórios de sustentabilidade a questão do transporte e mobilidade. No Brasil, pode-se destacar o Programa Sustentável da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC), que possui um grupo de trabalho voltado à mobilidade sustentável, ressaltando a preocupação institucional com o tema. Esse grupo propôs dois indicadores construídos com base na realidade do campus. O primeiro indicador “Taxa de ocupação de estacionamentos” propõe avaliar a taxa de ocupação pela comunidade EESC na infraestrutura existente de estacionamentos na USP de São Carlos (campi I e II) por meio da comparação entre o quanto a EESC ocupa da infraestrutura de estacionamentos na USP de São Carlos e o quanto a EESC representa em termos de comunidade (número de docentes, funcionários e alunos de graduação e pósgraduação). Nesse caso, a ficha metodológica do indicador demonstra como problemática a falta de espaço para estacionamento no campus. O segundo indicador “Porcentagem de uso de meio de transporte não motorizado” busca apontar a porcentagem correspondente à adoção de cada meio de transporte pela comunidade EESC. Como requisito para aplicação desse indicador, a ficha metodológica indica a necessidade de aplicação de questionário. Nesse caso, o resultado da pesquisa poderia gerar dados mais abrangentes para a formulação de outros indicadores ou até mesmo de um sistema que permitisse uma avaliação mais completa da questão da mobilidade no campus da EESC. A Universidade de Willamette situada no Município de Salem, Estado do Oregon, Estados Unidos, possui um indicador de Área de Estacionamento, proposto para se conhecer qual a proporção da área utilizada para estacionamento frente à área total do campus visando demonstrar a dependência do uso do automóvel pela comunidade. Em função de seu resultado é possível avaliar a prioridade no uso e ocupação do solo. A Universidade Willamette dedica 17,6% de sua área para uso como estacionamento no campus, que poderia ser utilizada, por exemplo, para a construção de 10 campos de futebol, plantio de alimentos que atenderia de 50 a 90 pessoas; construção de 20 novos edifícios acadêmicos ou ainda 10 novas residências estudantis. O uso do automóvel pela comunidade universitária gera 2.343 toneladas de CO2 equivalente, a quase 10% do total da emissão de gases de efeito estufa emitidas pela Universidade de Willamette. O objetivo deste trabalho é propor um pequeno sistema de indicadores de baixo custo de operação que ajudará a avaliar a evolução da ocupação de áreas para estacionamento e indiretamente, do uso do transporte motorizado individual por automóvel no Campus da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo. Sabe-se que existem pelo menos mais dois segmentos que atravessam o campus para evitar o tráfego do entorno, utilizando-se dos três portões situados em pontos extremos e ainda os usuários da Linha 4 Amarela do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que estacionam os veículos no Campus por ser relativamente próximo às estações, possuir vagas gratuitas e com alguma segurança, já que é segregado da área urbana do bairro. A metodologia utilizada foi feita através de pesquisa em sites de universidades de outros países para conhecer as instituições de ensino que construíram indicadores de 176 sustentabilidade e também de literatura existente sobre indicadores para a escolha daquele que se adequasse melhor a proposta de estudo. O termo indicador é originário do latim indicare, que significa descobrir, apontar, anunciar, estimar. Os indicadores podem comunicar ou informar sobre o progresso em direção a uma determinada meta, como por exemplo o desenvolvimento sustentável, mas também podem ser entendidos como um recurso que deixa mais perceptível uma tendência ou fenômeno, que não seja imediatamente detectável (HAMMOND et al, 1995). O SIEST - Sistema de Indicadores para Identificar a Utilização de Áreas de Estacionamento, é composto por três indicadores básicos que ao se complementarem, formam um quarto indicador. Esses indicadores procuram estimar a utilização das áreas do Campus para uso como estacionamento de automóveis. Figura 1: Representação gráfica da evolução do SIEST A tendência negativa do indicador é indicada por uma seta vermelha, a positiva por uma seta verde e a mantida por uma seta amarela (Figura 1). 1 - TOVE: Taxa de ocupação das vias públicas para uso como vaga de estacionamento. Mede a ocupação das vias públicas do campus como vaga de estacionamento de automóvel. Este indicador pode avaliar o correto uso e ocupação das vias, conforme novas intervenções venham a ocorrer no Campus. Permitirá contabilizar o número de automóveis estacionados, o que inferirá nos próximos indicadores desenvolvidos denominados TEU e TAU. A relevância ou pertinência deste indicador está relacionada a seu uso em conjunto com indicador de TOE (Taxa de Ocupação de Estacionamento), pois permite avaliar a demanda por áreas de estacionamento para automóveis. Pode também ser utilizado para estimar o uso do automóvel. Sendo assim este indicador pode ser considerado de pressão que o automóvel exerce no espaço físico ou de estado que este ambiente apresenta pela presença dos automóveis (uso do solo). Ele também mostra a taxa de ocupação das vias. A metodologia “Pressão-Impacto-Pressão (PEIR) é uma estrutura para organização e apresentação das informações ambientais. Representa as pressões, impacto e resposta de um determinado tema em análise. Seus componentes são usados para avaliar e gerir os problemas ambientais. Esta metodologia considera que atividades humanas exerçam pressões sobre o meio ambiente e, por isso, afetam a qualidade e quantidade de recursos naturais, ou o seu estado. Os impactos são os efeitos da degradação ambiental; e as respostas se referem às reações da sociedade para a situação ambiental atual (KRISTENSEN, 2004). Como limitação o indicador não identifica o uso das vias públicas por motoristas cuja destinação não seja o campus, em especial no entorno da Portaria 1 da Universidade de São Paulo-USP, que está próxima à estação Butantã do Metrô e estação da Cidade Universitária da CPTM. 177 Fórmula do Indicador: TOVE = AOC ATV AOC = extensão linear junto ao meio-fio da via pública ocupada por automóveis estacionados. ATV = extensão das vias públicas aptas a receber automóveis para estacionamento junto ao meio-fio. A Cobertura ou Escala do Indicador envolve o Campus Universitário Armando Salles de Oliveira – Cidade Universitária da Universidade de São Paulo-USP (CUASO). A fonte de dados foi documento que contém medição das vias ocupadas por automóveis estacionados juntos ao meio-fio realizada por equipe de campo da PUSP-C – Prefeitura do Campus Universitário. Alguns dos dados qualitativos dependem de levantamento de campo a ser efetuado pela Prefeitura do Campus, e sua periodicidade deve ser anual para melhor eficácia do indicador. Segundo o Plano Diretor 2013 do CUASO, para minimizar o trânsito de passagem e a área de estacionamento de veículos de usuários do transporte público não vinculado à Universidade, é necessário que participe da discussão e da elaboração do Plano de Mobilidade Urbana previsto na Lei Nº 12.587, que tinha prazo para término em meados de 2014 para apresentar alternativas. Essa seria a relação do indicador com os objetivos da Política, Norma ou Metas Ambientais ou de Desenvolvimento Sustentável. O indicador é importante para o gestor avaliar a demanda por vagas, quando usado em complemento com outros indicadores do sistema proposto, a demanda geral por estacionamento no campus e a estimativa de uso de automóvel para acesso ao Campus. 2 – TUSE: Taxa de uso do solo para estacionamento de automóvel. O indicador que mede a área delimitada para uso como vaga de estacionamento de automóvel, tendo em vista a área total do campus. Este indicador pode avaliar o correto uso e ocupação do solo conforme novas intervenções venham a ocorrer no Campus. O indicador é importante para avaliar o quanto da área do CUASO se destina ao estacionamento de veículos em relação à área total do Campus, que é um uso pouco nobre e para o qual o Plano Diretor do campus estabelece limitações, em especial os estacionamentos a céu aberto. A necessidade de expansão da infraestrutura do campus é fator de pressão sobre áreas de uso pouco nobre e sobre áreas não edificáveis (áreas de lazer, preservação entre outras). Permitirá ainda estabelecer o indicador TOE (taxa de ocupação de estacionamento), que permite avaliar a demanda por áreas de estacionamento para automóveis. Este, por sua vez poderá ser utilizado para estimar o uso do automóvel para acesso ao Campus. Sua categoria também é pressão/estado. Este indicador pode mostrar a variação do uso do solo em áreas edificáveis dentro do campus universitário. 178 Como limitação, o indicador não diferencia as vagas reservadas ou fechadas com cancelas. Supõe que todas as vagas podem ser igualmente utilizadas em todas as situações. Avalia apenas o uso da vaga para estacionamento de automóvel, desconsiderando outros veículos, como motocicletas, caminhões e ônibus. Não diferencia os estacionamentos a céu aberto daqueles localizados sob edificações. Fórmula do Indicador: TUSE = ADE ATCUASO ADE= área total das vagas delimitadas, incluindo as vagas sob áreas construídas. Não serão consideradas as vagas demarcadas nas vias públicas. ATCUASO = área total da CUASO, incluindo edificáveis e não-edificáveis. Cobertura ou Escala do Indicador: CUASO – Campus Universitário Armando Salles de Oliveira – Cidade Universitária da Universidade de São Paulo-USP A fonte de dados foi documento que contém medição das vias ocupadas por automóveis estacionados juntos ao meio-fio realizada por equipe de campo da PUSP-C – Prefeitura do Campus Universitário. Em relação à disponibilidade dos dados qualitativos são: a área delimitada para estacionamento: levantamento primário já existente com relação ao número de vagas disponíveis, porém é necessário estimar a metragem total dessas vagas. A periodicidade dos dados é anual. Segundo o Plano Diretor de 2013 do CUASO, existe uma pressão permanente sobre as áreas edificáveis da Cidade Universitária. Até da data de realização deste trabalho, a favorável conjuntura econômica permitia à Universidade construir edifícios e criar novas vagas, institutos, museus e outros. Multiplica-se demanda por área para edificação. Este indicador é relevante para a tomada de decisões porque fornece a dimensão do uso do solo com objetivos que não são os da instituição. Quando utilizado em complemento com outros indicadores do sistema proposto, a demanda geral por estacionamento no campus e a estimativa de uso de automóvel para acesso ao Campus. 3 – TOE: Taxa de ocupação de estacionamento. Mede o uso das vagas destinadas ao estacionamento de automóveis. Este indicador propõe avaliar a taxa de ocupação da infraestrutura existente para estacionamento. Permitirá contabilizar o número de automóveis estacionados, o que inferirá no indicador TEU e TAU. Permite avaliar a oferta de áreas para estacionamento. Quando utilizado em conjunto com o indicador TUSE (taxa de uso do solo para estacionamento de automóvel) permite avaliar a demanda por áreas de estacionamento. Complementarmente, poderá ser utilizado para estimar o uso do automóvel para acesso ao Campus. É um indicador de pressão sobre o espaço físico. Mostra a variação da ocupação das vagas disponíveis em função do uso do automóvel. 179 O indicador não mede o uso das vias como estacionamento, que é medido por outro indicador. Não mede também o eventual uso das vagas por outros tipos de veículos, como motocicletas, caminhões e ônibus. Entretanto, supõe-se que para essas tipologias existem espaços próprios, os quais não serão mensurados por esse indicador. Fórmula do Indicador: TOE = NVO NVD NVO = número de vagas delimitadas ocupadas por automóveis. NVD = número de vagas delimitadas disponíveis para estacionamento regular de automóveis. Cobertura ou Escala do Indicador: CUASO – Campus Universitário Armando Salles de Oliveira – Cidade Universitária da Universidade de São Paulo-USP A fonte de dados foi documento que contém medição das vagas delimitadas e das ocupadas por automóveis nas áreas de estacionamento realizada por equipe de campo da PUSP-C – Prefeitura do Campus Universitário. Já existe disponibilidade dos dados qualitativos do número de vagas, porém o número de vagas ocupadas é um dado ainda inexistente, que depende de levantamento de campo pela PUSP-C. A periodicidade dos dados é anual. O indicador é importante para o gestor avaliar o aproveitamento das vagas. Quando usado em complemento com outros indicadores do sistema proposto, a demanda geral por estacionamento no campus e a estimativa de uso de automóvel para acesso ao Campus. 4 – TEU: Taxa de uso de estacionamento de automóvel por usuário. É um indicador derivado dos indicadores TUSE, TOVE e TOE e mede a taxa de estacionamento de automóveis em função da população estimada do CUASO. Complementarmente, ele estima a taxa de uso de automóvel pela Comunidade, considerando-se que cada veículo estacionado serviu de modo de acesso a essa população. Esse indicador permite estimar o uso de automóvel no Campus sem a necessidade de estudos e pesquisas mais complexas e custosas, ainda que com incertezas inerentes ao modelo proposto. É importante para avaliar o quanto da área do CUASO se destina ao estacionamento de veículos em relação à população total do Campus. Pode estabelecer correlação direta com o uso do automóvel, transporte motorizado individual e não sustentável, para acesso à Universidade. Alguns dos problemas encontrados pelos gestores do CUASO são a demanda por vagas de estacionamento e os congestionamentos junto aos portões nos horários de pico de entrada e saída. O diagnóstico do acesso pelo modal automóvel pode auxiliar medidas de gestão, tanto do uso do solo como para mobilidade dentro do campus. É um indicador de pressão. 180 Mostra o uso de vagas para estacionamento de automóveis. Complementarmente, estima o uso do automóvel para acesso ao CUASO. Não avalia as razões pelas quais os usuários optam pelos meios de transporte adotados. Não mede o uso da carona quando o veículo não permanece no campus nem a carona solidária (quando o veículo fica no campus). Não identifica o acesso da população flutuante. Fórmula do Indicador: TEU = NVE UM NVE = (TOE x NVD) + (TOVE x ATV)/EA NVE = o número de automóveis estacionados deverá ser obtido a partir dos indicadores TOE (taxa de ocupação de estacionamento), TUSE (taxa de uso do solo para estacionamento) e TOVE (taxa de ocupação das vías públicas) já definidos. TOE = taxa de ocupação de vagas NVD = número de vagas delimitadas TOVE = Taxa de ocupação das vías públicas para uso como vaga de estacionamento ATV = extensão das vias públicas aptas a receber automóveis para estacionamento junto ao meio-fio. EA = extensão média de um automóvel = 4,70m (baseado no Código Obras de São Paulo) UN = número da população da CUASO, incluindo alunos, professores, funcionários da USP e prestadores de serviço em caráter permanente ou usual. Cobertura ou Escala do Indicador: CUASO – Campus Universitário Armando Salles de Oliveira – Cidade Universitária da Universidade de São Paulo-USP Fonte dos dados: Indicadores TOE, TUSE e TOVE: PUSP-C Os dados qualitativos se encontram disponíveis no Anuário Estatístico disponível em formato eletrônico no site da Universidade de São Paulo. O indicador estima a ocupação por estacionamento de automóveis, que exerce pressão sobre o uso do solo. Complementarmente, pode estimar o uso de modal mais poluente e mais intensivo em energia. Políticas de restrição ao uso ou estacionamento de automóvel, incentivo ao transporte não motorizado ou coletivo, menos poluentes e que exercem menor pressão sobre o uso do solo podem ser avaliadas. Conclusões Os indicadores propostos podem auxiliar no acompanhamento das ações tendo em vista a complexidade da gestão do Campus. Ainda que com limitações e incertezas inerentes ao modelo proposto, traz a vantagem de facilitar a implantação e operação, podendo ser realizado sem custo de investimento, baixa demanda por hora-homem e sem demandar qualquer interação com as unidades da USP, 181 embora estas interações sejam necessárias para implementação de programas que reduzam o uso de veículo privado. Esse sistema não substitui processos mais precisos para a identificação dos fenômenos da mobilidade. Essa identificação pode ser por meio de pesquisas origem/destino, contagem de veículos, identificação de viagens não destinadas ao campus com o uso de câmeras, entre outras. A utilização desses indicadores poderá trazer informações que subsidiarão decisões, já que opções mais modernas e complexas para diagnóstico não estão disponíveis neste momento. Uma alternativa imediata para minimizar o número de carros que trafegam com apenas uma pessoa, seria a implantação de um programa de carona solidária, organizada de forma sistematizada e segura. Outras medidas que já estão em análise pela PUSP-C, como a melhoria das calçadas, a implantação de novas rotas para pedestres e ciclistas, a implantação de sistema de uso compartilhado de bicicletas podem impactar positivamente na questão da mobilidade e da redução da demanda por áreas de estacionamento no CUASO. Referências Bibliográficas ALMANAQUE DANT. Mobilidade Urbana. Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo-SMS – Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA. Ed 8; 09/2014. BRANDÃO MS. Mobilidade na EESC. In Relatório Científico: Estabelecimento de critérios e indicadores ambientais para a avaliação da sustentabilidade ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Fapesp – São Carlos, 2013, p.108-118. HAMMOND A, ADRIAANSE A, RODENBURG E, BRYANT D, WOODWARD R. Environmental Indicators: A Systematic Approach to Measuring and Reporting on Environmental Policy Performance in the Context of Sustainable Developmen, 1995. KRISTENSEN, P. The Dpsir Framework. In: Workshop Om a Comprehensive/Detalled Assessment Of the Vulnerability of Water Resources To Environmental Change in Africa Using River Basin Approach, 2729, September 2004, Nairobi, Kenya Nairobi: UNEP Headquarters, 2004. MOTTA R.A., SILVA P.C.M., BRASIL A.C.M. Desafios da mobilidade sustentável no Brasil. Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 34 - 2012 - 2º quadrimestre, Págs. 25 a 48. Brasília, 2012. PLANO DIRETOR C.U.A.S.O. 2013 - Plano Diretor da Prefeitura da Cidade Universitária “Armando Salles Oliveira”– 2013. WGSUT - Expert Working Group on Sustainable Urban Transport Plans. Final Report. Germany, 2004. WILLAMETTE UNIVERSITY. Sustainability Indicators Report - 2009-2010 January 2001. Disponível em: http://www.willamette.edu/about/sustainability/pdf/0708IndicatorsReport.pdf acesso em: 23/10/13. 182 ANÁLISE DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA RELEVANTES AO RETROFIT URBANO KÜHL, Felipe Marino1; NEGREIROS, Iara2; ABIKO, Alex3 1,2,3 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo Com o constante crescimento da população mundial, e os recursos limitados existentes no planeta, assim como a procura da obtenção de melhores condições de vida sem o aumento do consumo, faz-se necessária a criação de novos métodos de aproveitamento da estrutura urbana já construída. O retrofit urbano, uma das soluções a este problema, é comumente definido como a ocupação de áreas degradadas inseridas na cidade, otimizando-se o uso de sua infraestrutura disponível através da aplicação de padrões sustentáveis de desenvolvimento de uma gama de áreas, como, por exemplo, ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais. Portanto, torna-se imprescindível a utilização de indicadores que mensurem, monitorem e avaliem tais padrões. Deste modo, este trabalho tem o objetivo de discutir indicadores de sustentabilidade urbana empregados ao redor do mundo, catalogandoos, analisando os temas mais frequentes e abordando exemplos de projetos de retrofit urbano que demonstrem a importância dos índices. O estudo dos indicadores foi feito através de uma pesquisa bibliográfica e da leitura de artigos científicos e sites da internet. Assim, foram identificados e compilados 39 indicadores em várias tabelas e planilhas, identificando suas características relevantes, tais como: instituição de origem, país, data de criação, modelo matemático e suas variáveis envolvidas. Os resultados compreendem um conjunto de histogramas com as variáveis intrínsecas mais utilizadas nos indicadores analisados, classificadas em ambientais, sociais, econômicas e de governança. Palavras-chave: Indicadores, retrofit urbano, sustentabilidade urbana Analysis of urban sustainability indicators relevant to urban retrofit ABSTRACT With the constant growth of the world population, and limited resources on the planet, as well as the pursuit of better living conditions without consumption increase, it is necessary to create new methods of utilization of the urban structure ever built. The urban retrofit, one of the solutions to this problem, is commonly defined as the occupation of degraded areas in town, optimizing the use of its available infrastructure through the application of sustainable development patterns of a range of areas, such as environmental, economic, social, cultural and ethical. Therefore, the use of indicators to measure, monitor and evaluate such patterns becomes imperative. In this way, this article objectives the analysis of urban sustainability indicators around the world, by cataloging them, analyzing the most common themes and addressing examples of retrofit urban projects that demonstrate the indicators importance. The indicators were studied through a bibliographical, scientific articles and internet sites research. Thus, were identified and compiled 39 indicators in multiple tables and spreadsheets, identifying relevant characteristics, such as: institution, country, creation date, mathematical model and its variables involved. The results comprise a set of histograms with intrinsic variables used in the indicators analyzed, classified in social, economic, environmental and governance. KeyWords: Indicators, urban retrofitting, urban sustainability Introdução 183 A população mundial está em constante crescimento, como é comprovado por diversas pesquisas, e, segundo dados de publicações da Organização das Nações Unidas (UN-DESA, 2014), tal fenômeno é acompanhado da expansão de áreas urbanizadas no mundo. Em vista destes dados, segundo Serge Latouche (2009) e demais defensores da teoria do decrescimento, os recursos naturais são limitados e nosso planeta é finito, portanto, não podem coexistir com um sistema baseado em crescimento infinito. A melhoria das condições de vida deve, portanto, ser obtida sem aumento do consumo, mudando-se o paradigma dominante, que prega crescimento e acumulação ilimitados. Seriam necessárias oito mudanças interdependentes para atingir um “círculo virtuoso de decrescimento sereno” (Latouche, 2009). Essas alterações no modo de agir e pensar devem também ser aplicadas no ambiente urbano visando à sustentabilidade das cidades e, são definidas como (Latouche, 2009, p.42): reavaliar, reconceituar, reestruturar, redistribuir, relocalizar, reduzir, reutilizar e reciclar. Por sua vez, a Organização das Nações Unidas, em seu programa para assentamentos humanos (UN-Habitat, 2009), dispôs as oito maiores tendências globais integradas em agendas verdes nas cidades: desenvolvimento de energias renováveis, busca por cidades carbono zero, desenvolvimento de sistemas de distribuição de energia e água, aumento de espaços de fotossíntese como parte da infraestrutura verde, melhoria da eco-eficiência, aumento da sensação de lugar (sense of place), desenvolvimento de transporte sustentável e desenvolvimento de “cidades sem favelas”. Mais recentemente, Newton (2013), resumiu os temas críticos para as cidades, isto é, situações de adversidade que exigem medidas de adaptação e mitigação para impedir uma provável intensificação. Os problemas cruciais seriam: mudanças climáticas, limitação de recursos, mudanças populacionais, mudanças sociais e demográficas, intensificação da urbanização, envelhecimento da infraestrutura, base econômica urbana e incerteza financeira. Para que tais objetivos sejam atingidos, muitos projetos têm sido propostos, dentre eles observa-se o retrofit como um dos mais promissores, uma vez que prevê a utilização de antigas edificações e, a partir delas, realizar uma série de adequações ecológicas e, ou tecnológicas. O retrofit urbano sustentável consiste na alteração dirigida do tecido, forma ou sistemas que constituem o ambiente construído na intenção de melhorar a eficiência energética, de água e de resíduos (Eames, 2011, apud Dixon and Eames, 2013). Entretanto, a escala prevista é a das cidades e, conforme o guia do Living Cities (2010), argumenta-se que a diferenciação entre o retrofit urbano e o termo voltado ao edifício pode ser sintetizada nos seguintes pontos: seu caráter abrangente e de larga escala; sua natureza integrada, exigindo um alto grau de acordos de parceria pública-privada; o caráter sustentável de suas finanças; um conjunto de metas e medidas claramente definido para monitoramento. De acordo com Gonçalves e Duarte (2006), o retrofit urbano almeja, por exemplo, ocupar áreas degradadas inseridas na cidade, otimizando o uso da infraestrutura disponível com base em parâmetros de densidade e uso misto e melhorar a qualidade ambiental da área como um todo. AILA (2010) cita a agenda australiana para retrofit urbano, pontuando como diretriz para os projetos de retrofit a incorporação de processos para estabelecer melhores práticas, metas de desempenho e monitorar e avaliar o progresso em relação a todos as demais diretrizes de retrofit urbano. 184 E, para alcançar tais alvos, é necessário o uso de técnicas de avaliação e monitoramento da eficiência dos métodos aplicados, ponderando assim as características que são modificadas pelo retrofit urbano. A proposta é a aplicação de padrões sustentáveis de desenvolvimento, colocando em foco aspectos que podem estar dentro de uma gama de áreas, como, por exemplo, ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais. Para isso, “torna-se necessário definir indicadores que mensurem, monitorem e avaliem esses padrões sustentáveis, para nortear nossos rumos” (Louette, 2007). Diversas organizações internacionais buscaram a identificação de indicadores e índices comparativos de casos de cidades distintas e o acompanhamento de objetivos em comum cuja intenção era a de melhora da qualidade de vida. Malheiros, Coutinho e Philippi Jr (2012) corroboram com tal afirmação, uma vez que, para os autores, os indicadores “foram construídos para atender cenários específicos de tomada de decisão, cuja replicabilidade em diferentes realidades deve ser analisada com o devido cuidado”, fazendo com que, segundo Malheiros, Coutinho e Philippi Jr (2012), ocorresse desta forma um trabalho extenso nos últimos 20 anos em indicadores urbanos, com “uma significativa profusão de modelos de suporte para análise dos indicadores de sustentabilidade”. Para que seja feita uma pesquisa completa, faz-se necessário que, além de indicadores, sejam analisados modelos e estudos de casos. Desse modo, é possível verificar o processo de utilização prática dos apontadores de sustentabilidade e realizar avaliações para conduzir os devidos monitoramentos, já que a quantidade de tais apontadores é enorme e é imprescindível uma comparação entre eles para que sejam selecionados os mais viáveis e eficientes. Levando-se em consideração que cidades não são iguais, bem como suas subdivisões também apresentam características distintas entre si e, por tal motivo, deve-se ter em mãos indicadores de sustentabilidade que permitam facilitar a visualização dos principais problemas da área urbana em estudo, para que, assim, definam-se as metas e soluções a serem postas em prática através do retrofit urbano. Visando “ilustrar a imensa gama de instrumentos que estão disponíveis, servindo, assim de parâmetro para análise do que está acontecendo ao redor do mundo sob o tema sustentabilidade”, Louette (2007), em seu “Compêndio de Indicadores”, aborda alguns dos principais Indicadores de Sustentabilidade de Nações aplicados no mundo. Recentemente, porém, o relatório técnico ISO/TR 37150 (ISO, 2014) trouxe uma análise de 28 normas internacionais, conceitos e indicadores, bem como de 124 projetos relevantes para infraestruturas de comunidades smart. Isto posto, o objetivo deste trabalho é discutir indicadores de sustentabilidade urbana utilizados ao redor do mundo, catalogando-os, analisando os temas mais frequentes e abordando suas variáveis, do ponto de vista da relevância aos projetos de retrofit urbano. Apesar de não ter como ambição englobar todos os indicadores de sustentabilidade urbana existentes, este trabalho dispõe-se a catalogar a multitude de ferramentas disponíveis com que diz respeito a suas características intrínsecas. 185 Desse modo, é possível verificar o processo de utilização prática dos apontadores de sustentabilidade e realizar avaliações para conduzir os devidos monitoramentos, já que a quantidade de tais indicadores é enorme e é imprescindível uma comparação entre eles para que sejam selecionados os mais viáveis e eficientes. Metodologia A metodologia deste trabalho consistiu no estudo dos indicadores de sustentabilidade urbana, através de uma pesquisa bibliográfica, leitura de artigos científicos e sites da internet. A partir de indicadores de sustentabilidade urbana identificados em Holden (2013), Louette (2007), Malheiros, Coutinho e Philippi Jr (2012) e ISO/TR 37150 (2014), e outros que foram identificados na pesquisa bibliográfica, foi realizado o preenchimento detalhado de tabelas e planilhas em Excel, identificando nos índices listados as seguintes características, quando disponíveis: instituição de origem, país de origem, data de criação, modelo matemático e variáveis envolvidas. Isto posto, foram identificados 59 indicadores de sustentabilidade urbana que apresentam representatividade para o retrofit urbano. Na intenção de analisar as variáveis internas envolvidas no modelo, os indicadores mais conceituais, que não possuem modelagem matemática, foram excluídos do estudo, tais como: Princípios de Bellagio (Canadá), DS – Dashboard of Sustainability (Canadá e outros países), Social Footprint (EUA e Holanda), OECD Environmental Indicators, entre outros. Excluíram-se também aqueles cujas informações relevantes não estavam disponíveis, ou estavam em linguagem de difícil tradução (por exemplo, finlandês). Restaram, portanto, 39 indicadores de sustentabilidade urbana, que foram efetivamente analisados neste trabalho, relacionados na Tabela 1. Tabela 1: Indicadores de sustentabilidade urbana analisados 1 2 Indicadores IDH + IPH + IDG + MPG (Índice Desenv. Humano + Índice Pobreza Humana + Índice Desenv. ajustado ao Gênero + Medida Participação segundo o Gênero) BIP 40 - Baromêtre des Inegalités et de la Pauvreté 3 BCN – Balanço Contábil das Nações 4 Calvert-Henderson Quality of Life Indicators 5 Índice DNA Brasil 6 EF – Ecological Footprint EPI – Environmental Performance Index ESI – Environmental Sustainability Index Indicadores EVI – Environmental Vulnerability Index 7 8 9 Origem País PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento UNDP – United Nations Development Programme Réseau d’alerte sur les inegalites et de la pauvrete FEA, PROCAM e IPEN/USP Inst. Pesquisas Civilização Yoko (IPCY) Calvert Group Instituto DNA Brasil NEPP –Unicamp University of British Columbia Universidade de Yale e Universidade de Columbia Universidade de Yale e Universidade de Columbia Origem SOPAC – Comissão de Geociência Aplicada do Pacífico Sul Ano A partir de 1990 França 2002 Brasil EUA 2000 Brasil 2004 EUA 1993 EUA 1996 EUA País Nova Zelândia, Ano 186 PNUMA 17 18 GPI – Genuine Progress Indicator GSI – World Bank’s Genuine Saving Indicator IDS – Indicadores de Desenvolvimento Sustentável IBGE IEWB – Index of Economic Wellbeing IPRS – Índice Paulista de Responsabilidade Social IPVS – Índice Paulista de Vulnerabilidade Social Isew – Index of Sustainable Economic Welfare ISH – Index Social Health LPI – Living Planet Index 19 WN – The Well-being of Nations 20 22 GEO – Global Environment Outlook Indicators of Sustainable Development Core Set of Indicators 23 Key Environmental Indicators 10 11 12 13 14 15 16 21 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Indicadores de Desarollo Sustentable en Mexico National Environment Indicator Serie: Environmental Signals Millenium Development Goals Indicators GRI – Global Report Iniciative World Development Indicators Sustainable Development Indicators Quality of Life Indicators Sustainable Development Indicators for Sweden The Barcelona Agenda 21 Indicators City of Winnipeg Quality of Life Indicators IQVU – Índice de Qualidade de Vida Urbana Sistema de Indicadores de Desarollo Sustentable en Republica Argentina Redefining Progress Noruega, Irlanda, Itália. EUA World Bank EUA IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Brasil 2002 Centre for the Study of Living Standards Canadá 1998 Fundação Seade Brasil 2002 Fundação Seade Brasil Friends of the Earth CES / NEF Institute for Innovation in Social Policy WWF – World Wildlife Fund IDRC – International Research Centre IUCN – World Conservation Union UNEP CSD – Commission on Sustainable Development – United Nations European Environmental Agency OECD – Organization for Economic Cooperation and Development INEGI – Instituto Nacional Estadistica y Geografia / INE – Inst. Nacional Ecologia Reino Unido EUA Suíca 1987 1999 Canadá 1994 Environment Canada 2003 United Nations World Bank European Environmental Agency EUA 2006 2007 UK Goverment Reino Unido Swedish Environmental Protection Agency Suécia Barcelona Goverment Espanha Winnipeg Goverment Canadá Belo Horizonte – MG Brasil Ministerio de Salud y Ambiente Argentina United Nations Statistical Division Green City Index 37 Vancouver’s Vital Signs Conj. de Indicadores de Sustentabilidade - Empreendimentos EIU – Economist Intelligence Unit in cooperation with Siemens Vancouver Foundation CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável HPI – Happy Planet Index NEF – New Economics Foundation 39 México Canadá 36 38 1996 Alemanha 2010 Canadá 2006 Brasil 2011 Reino Unido 1986 Como dito anteriormente, esta análise não teve a pretensão de cobrir a totalidade dos indicadores de sustentabilidade ambiental existente internacionalmente, mas tão somente 187 analisar os temas mais relevantes, principalmente no que se refere ao retrofit urbano, levando em conta a complexidade de utilização, bem como a facilidade de compreensão dos indicadores selecionados. Resultados Identificados os 39 indicadores de sustentabilidade urbana, foram elaborados alguns gráficos estatísticos, para verificar algumas informações e características relevantes, a fim de analisar sua importância e a melhor expor seus significados. A Figura 1 representa um histograma da distribuição dos indicadores analisados em função do seu país de origem. Percebe-se que a relevância dos indicadores para a sustentabilidade em retrofit urbano se verifica nos EUA, no Brasil e no Canadá. A Figura 2, por sua vez, ilustra a proporção das variáveis envolvidas, os “subindicadores”, que compõem matematicamente o indicador de sustentabilidade urbana, nas grandes áreas-pilares da sustentabilidade. Nota-se uma proporção maior do pilar das questões ambientais (56%), e proporções menores dos demais pilares: sociais (23%), econômicas (11%) e de governança (10%). Figura 1: Número de indicadores analisados por país de origem Figura 2: Proporção das variáveis envolvidas As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam histogramas da distribuição das variáveis intrínsecas dos indicadores analisados, em função do número de indicadores em que elas aparecem, repetidamente. Estas variáveis matemáticas, ou “subindicadores”, em alguns indicadores chegam a 180. Foram identificadas variáveis semelhantes, e associadas algumas variáveis para melhor entendimento. Desta forma, foram identificadas 62 variáveis, sendo 35 ambientais, 14 sociais, 7 econômicas e 6 de governança. 188 A Figura 3 mostra que as variáveis ambientais mais utilizadas se referem à qualidade do ar: concentração de ozônio no ar, e concentração de nitrogênio no ar - ambas aparecem repetidamente em 23 indicadores dentre os 39 analisados. Figura 3: Histograma das variáveis ambientais envolvidas nos indicadores analisados Número de habitantes, taxa de escolarização, expectativa de vida e mortalidade infantil são as variáveis sociais intrínsecas aos indicadores analisados que mais se repetem, conforme ilustra o histograma da Figura 4. 189 Figura 4: Histograma das variáveis sociais envolvidas nos indicadores analisados No que se refere às variáveis econômicas, a renda anual média e o PIB são aquelas que mais aparecem, como mostra o histograma da Figura 5. Figura 5: Histograma das variáveis econômicas envolvidas nos indicadores analisados A Figura 6 mostra que as variáveis de governança mais utilizadas se referem à mobilidade: divisão modal de transporte de passageiros e de transporte de carga. Figura 6: Histograma das variáveis de governança envolvidas nos indicadores analisados A Tabela 2 lista as 30 variáveis envolvidas mais utilizadas, independente da classificação da mesma nas áreas da sustentabilidade (ambiental, social, econômica e de governança). Notase que as ambientais (destacadas em verde) são as que mais se sobressaem. 190 Tabela 2: As 30 variáveis envolvidas mais utilizadas nos indicadores analisados Ranking 1º Número de indicadores que utiliza a variável 23 Variável envolvida Concentração de nitrogênio no ar (óxidos de nitrogênio) 23 Concentração de ozônio no ar 23 Número de habitantes 4º 22 Emissão de dióxido de carbono 5º 20 Concentração de enxofre no ar (dióxido de enxofre) 6º 19 Concentração de CO2 atmosférico 19 Porcentagem de esgoto tratado 19 Renda anual média por educação e gênero 19 Taxa de escolarização 18 Consumo de água 18 Consumo de substâncias destruidoras da camada de ozônio 18 Destino de lixo adequado 18 Disponibilidade de água potável 18 Proporção de áreas cobertas por florestas 17 Consumo anual de energia 17 Concentração de materiais particulados 16 Concentração de chumbo no ar 16 Concentração de monóxido de carbono no ar 16 Expectativa de vida 16 Geração de resíduos 21º 15 Mortalidade Infantil 22º 13 Presença de coliformes fecais em água doce 13 Níveis de oxigênio dissolvido na superfície das águas 13 Proporção de emprego para a população 13 PIB 13 Divisão modal de transporte de passageiros 12 Desperdício de água 12 Tratamento de dejetos 12 Taxa de desemprego por gênero, idade e cor de pele 11 Diferença anual da cobertura florestal 11 Participação de fontes renováveis na oferta de energia Proporção da população vivendo abaixo da linha de pobreza nacional 10º 15º 17º 27º 30º 11 Conclusões 191 Cedano e Martinez (2010) afirmam que é quase impossível, ou ao menos é confuso e consome tempo, comparar todos os indicadores ao mesmo tempo. Este trabalho selecionou indicadores de sustentabilidade urbana relevantes ao retrofit urbano e analisou suas características e variáveis intrínsecas mais representativas. Em contraponto à existência de diversas correntes de pensamentos envolvidas no estudo de indicadores de sustentabilidade urbana, criando assim um grande número de indicadores e caminhos a serem seguidos, verifica-se uma convergência dos mesmos em algumas variáveis adotadas em seus modelos. Este trabalho contribuiu para compreender a origem e avaliar a importância de cada indicador analisado, evidenciando que os estudos e usos mais atuais dos indicadores de sustentabilidade mostram a formação de conceitos e índices de sustentabilidade bastante peculiares. A maior proporção de variáveis ambientais denota que os indicadores analisados são na maioria voltados às questões do meio ambiente, apesar de que os pesos das variáveis intrínsecas não foram analisados neste trabalho. A maioria dos indicadores que explicitamente divide as variáveis nas conhecidas áreas da sustentabilidade afirmam que dão pesos iguais no final para cada um dos temas. Os histogramas observados neste trabalho evidenciam que as variáveis ambientais são mais repetidas. Isso também se deve ao fato da desagregação de algumas destas variáveis, como, por exemplo, as que se relacionam à qualidade do ar. Ao invés de uma variável que aborde um índice de qualidade ou poluição do ar, o indicador de sustentabilidade mensura uma gama de variáveis, tais como concentrações ou emissões de diversos poluentes. Uma das características do retrofit urbano é possuir um conjunto de metas e medidas claramente definido para monitoramento (Living Cities, 2010). Para tal, o uso de indicadores de sustentabilidade urbana faz-se necessário, na intenção de iniciar o processo de transformação do retrofit com o diagnóstico atual da área urbana, para assim definir metas mensuráveis e que permita, inclusive, melhor estruturar investimentos públicos. De posse de indicadores de sustentabilidade atuais e respectivas metas para a área urbana, é possível organizar um conjunto de ações integradas que atendam, passo a passo, o desenvolvimento do retrofit urbano na direção do cenário pretendido. O estudo das variáveis deste trabalho contribui para a compreensão deste diagnóstico e destas metas. Referências AILA - Australian Institute of Landscape Architects. Retrofitting Urban Environments: National Policy Statement. Nov 2010. Disponível em: <http://www.aila.org.au/policies/docs/Urban-RETROFIT.pdf>. Acesso em 12.out.2013. CEDANO, Karla; MARTINEZ, Manuel. Consensus Indicators of Sustainability for Urban Infrastructure. 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Rocha; Francisco W. de Sousa; Oscarina V. de Sousa; Íthala S. de Santiago; Tamiris F. Alves; Tanara L. Silva; Ítalo M. P. Cajazeiras e Rivelino M. Cavalcante Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará-Fortaleza, Ceará-Brasil. [email protected] RESUMO De acordo com a Constituição e com o Estatuto da Cidade, o urbanismo deve ser exercido em favor de todos os habitantes, segundo o princípio da justa distribuição dos benefícios da urbanização, tornando-se uma questão intrínseca ao planejamento da cidade e à sua sustentabilidade. Neste sentido, o objetivo central é avaliar a qualidade ambiental de locais utilizados pela população fortalezense para a prática de atividades físicas e lazer, baseada em três tipos de indicadores ambientais: físicos, químico e biológico, bem como estimar os seus riscos associados. Para tanto, foram escolhidos três locais muito frequentados por praticantes de exercícios físicos em Fortaleza (Calçadão da Beira Mar, Calçadão Crasa e Praça das Flores) e analisados no período de maior movimento destes e de tráfego de automóveis. O Calçadão da Beira Mar apresentou uma qualidade ambiental melhor quanto aos indicadores químicos e biológico, devido, principalmente, ao baixo fluxo de automóveis, logo oferece baixo risco a saúde dos usuários. A Praça das Flores apresentou uma melhor qualidade ambiental quanto aos indicadores físicos, devido, principalmente a maior presença de vegetação. No cenário, de escassos estudos, da diversificação de poluentes e limites máximos permitidos mais rígidos, o presente estudo pode ser usado como subsídio para o conhecimento da situação, fruto do reflexo da ausência de ações, frente ao controle das fontes poluidoras e planejamento urbano, alertando da baixa qualidade ambiental na qual a população é exposta. Apesar do restrito tempo de exposição, porém levando em conta os níveis e sinergismo, bem como a diversidade de poluentes nocivos a saúde humana existentes em centros urbanos, o estudo mostra que os riscos a saúde podem ser consideráveis, uma vez que as áreas usadas para a atividade física e lazer são rodeadas pelo trafego intenso. Palavras-chave: Áreas verdes, Centros urbanos, Poluição ambiental, Saúde ambiental. Risk health arising from use park and boardwalks for physical activity in cities with scarce recreational areas: the case of Fortaleza, CE- Brazil. ABSTRACT According to the Constitution and the Statute of the City, town planning should be exercised in favor of all the people, according to the principle of fair distribution of the benefits of 194 urbanization, becoming an intrinsic issue to the city planning and sustainability. In this regard, the main objective is to evaluate the environmental quality of places used by the population of Fortaleza for physical activity and recreation, based on three types of indicator: physical, chemical and biological, and to evaluate their associated risks. Thus, three sites were chosen very frequented by practitioners of physical exercise in Fortaleza (Beira Mar Boardwalk, Boardwalk CRASA and Praça das Flores) and analyzed in the peak period of these and car traffic. The Beira Mar Boardwalk showed a better environmental quality and the chemical and biological indicators, mainly due to the low flow car, so offers low risk the health of users. The Praça das Flores showed a better environmental quality for physical indicators, mainly due to greater presence of vegetation. In the scenario, a few studies, diversification of pollutants and maximum allowed more rigid, this study can be used as tool for the knowledge of the situation, reflecting the result of the absence of actions, compared to the control of pollution sources and urban planning alerting of low environmental quality in which the population is exposed. Although the limited exposure time, but taking into account the levels and synergy, as well as the diversity of harmful pollutants on human health in existing urban centers, the study shows that health risks can be considerable, since the areas used for physical activity and recreation are surrounded by the intense traffic. Keywords: Green areas, Urban centers, Environmental pollution, Environmental health. Introdução A Constituição de 1988 é um marco na política de sustentabilidade ao incluir um capítulo inteiro, no Título da Ordem Econômica, sobre a Política Urbana. Este capítulo foi resultante de um amplo processo de participação, uma Emenda popular com mais de 130 mil assinaturas. Além de força uma política urbana sustentável, credita ao Poder Público o exercício do urbanismo como função pública. De acordo com a Constituição e com o Estatuto da Cidade, o urbanismo deve ser exercido em favor de todos os habitantes, segundo o princípio da justa distribuição dos benefícios da urbanização, tornando-se uma questão intrínseca ao planejamento da cidade e à sua sustentabilidade. O direito à cidade é um dos pressupostos para a efetivação dos direitos ao lazer, conforme as recomendações da Carta de Atenas (IPHAN, 2015). Sem a cidade estruturada para todos não há como falar na promessa da modernidade, do Estado Social e da efetivação dos direitos fundamentais no meio urbano. A sociedade contemporânea escolheu viver em cidades, sendo a cidade o lócus de maior pressão nos recursos naturais. A maioria das cidades brasileiras tem ordenamentos urbanos caóticos. Cidades-condomínios-fechados se forjam em detrimento da vida comunitária, e avançam sobre espaços verdes, mananciais, áreas necessárias à chamada sustentabilidade urbano-ambiental. Sem sombra de duvidas e de forma imperceptível, na atualidade, o desenvolvimento urbano surge como um tema intensamente necessário, principalmente no enfoque ambiental, tudo devido à expansão desordenada das cidades e a ausência de políticas públicas que favoreçam o bem-estar da população. 195 Segundo Cordeiro et al.(1996, p. 14), “qualidade ambiental se refere às condições ambientais do meio urbano resultante da ação do homem com repercussão na sua qualidade de vida.” A qualidade ambiental de uma cidade pode ser avaliada por indicadores ambientais, como os indicadores químicos, físicos e biológicos. Segundo Minaki (2009, p. 35), “indicadores ambientais significa escolher um elemento pormenorizado, que, em conjunto com outros, indicará na análise do ambiente a situação característica. Esses elementos têm a finalidade de demonstrar a ausência ou suficiência da qualidade questionada.” Na atmosfera de centro urbanos a qualidade do ar pode ser comprometida por diversos parâmetros legislados e não legislados. Um dos gases não legislado mais encontrados na atmosfera urbana são o formaldeído e o acetaldeído, compostos com potencial mutagênico e carcinogênico, conforme a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Já o material particulado respirável (MPR), conhecido também como poeira, são partículas ultrafinas que podem atingir os alvéolos pulmonares e, consequentemente, serem absorbidas. A quantidade de partículas respiráveis e sua composição química são os fatores governantes na periculosidade, em termos de mortalidade, causas de câncer e efeito cardiovascular e respiratório (Kampa; Castanas, 2007). Outro risco à saúde humana são os organismos microbiológicos (OMs), indicador ambiental biológico. O material particulado atmosférico (MP) contém fração significativa (16%) de componentes biológicos (Jaenicke, 2005) que são capazes de desempenhar um importante papel na saúde humana. Bactérias transportadas pelo ar são um dos principais componentes de partículas biológicas na atmosfera em ambiente natural e urbano (Bowers et al., 2011; Brodie et al., 2007; Elbert et al., 2007; Jaenicke, 2005; Jaenicke et al., 2007). Outros vilões em centros urbanos são a poluição sonora (ruido) e o conforto térmico. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2003), a poluição sonora é um dos problemas ambientais que afeta o maior número de pessoas, pois os ruídos excessivos afetam a saúde mental e auditiva. Um dos maiores causadores do aumento da poluição sonora nas cidades são os automóveis (Fiorillo, 2013). Já o conforto térmico é responsável por boa parte do bem-estar da população de uma cidade. Para García (1985, p. 96), “conforto térmico consiste no conjunto de condições em que os mecanismos de auto regulação são mínimos, ou ainda na zona delimitada por características térmicas em que o maior número de pessoas manifeste se sentir bem.” A cidade de Fortaleza e as praias cearenses são conhecidas pelo seu potencial turístico. A cidade de Fortaleza tem em torno de 2.5 milhões de habitantes em uma área de aproximadamente 313km2. Muitos eventos ligados a esportes em praias ocorrem em todo o litoral cearense. Em Fortaleza como em outros centros urbanos do território nacional, as áreas utilizadas para exercícios físicos ou para o lazer, estão sendo substituídas por construções domiciliares ou comerciais. Assim, praças e calçadões são as únicas opções de áreas para exercícios físicos ou lazer. De contra partida, muito destas áreas estão localizadas próximos a avenidas de trafego intenso e rodeadas por altas edificações (prédios comerciais e/ou domiciliares), contribuindo para a diminuição na dispersão das emissões produzidas a partir das atividades urbanas, principalmente emissões veiculares. Com isto a baixa qualidade do ar nesses locais pode apresentar-se como fator nocivo e causador de doenças aos seus usuários (ocupantes), uma vez que muitos dos compostos provenientes da queima de 196 combustíveis fósseis são carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos (Hemminki e Pershagen, 1994; Woodruff et al., 2000). Dessa forma, o objetivo central é avaliar a qualidade ambiental de locais utilizados pela população fortalezense para a prática de atividades físicas e lazer, baseada em três tipos de indicadores ambientais: físicos, químico e biológico, bem como estimar os seus riscos associados. Nesse contexto, o estudo tem o intuito também de chamar a atenção para a necessidade de políticas públicas e ações voltadas para a criação de áreas direcionadas para esporte e lazer em cidades em expansão urbana. METODOLOGIA Área de estudo Este estudo foi realizado em três locais na cidade de Fortaleza. Para a escolha dos locais de amostragem foram utilizados dois critérios: praça e calçadões com grande procura para a prática de atividades esportivas e lazer, aliando à proximidade de avenidas com grande fluxo de automóveis. Os locais de estudo foram os seguintes: 1. Calçadão da Avenida Beira Mar; 2. Calçadão da Crasa e 3.Praça General Eudoro Correia, também conhecida como Praça das Flores. Estratégias de amostragem As amostragens nos três locais de estudo foram realizadas no período seco e chuvoso no ano de 2014, durante os meses de junho e julho (período chuvoso) e setembro e outubro (período seco). Vale ressaltar que o ano de 2014 foi marcado por poucas chuvas, predominando o período seco durante todo o ano. O estudo foi realizado no período da tarde, entre 16:30 e 19:30 horas, pois esse período é considerado o “horário de pico” do trânsito na cidade e também o horário que a maioria das pessoas praticam atividades físicas em locais abertos. As amostragens foram realizadas em triplicata, cada dia em pontos diferentes para evitar possíveis erros. Assim, foram, ao todo, 9 horas de coleta de dados em cada local de estudo. No Calçadão da Avenida Beira Mar, as amostragens do período chuvoso foram realizadas nos dias 04, 05 e 06 de junho e do período seco nos dias 24, 25 e 26 de setembro. No Calçadão Crasa, nos dias 25, 26 e 27 de junho e 01,02 e 03 de outubro. E na Praça General Eudoro Correia, nos dias 02, 03 e 04 de julho e 08, 09 e 10 de outubro. A temperatura do ar, umidade relativa do ar, direção e velocidade do vento e os fluxos de automóveis e pessoas foram medidos simultaneamente em todas as amostragens. Coleta dos dados Nas amostragens foram utilizados dois amostradores ativos (utilizam bomba, medidor gasoso e controladores de fluxo para sugar o ar), um para coleta do MPR e o outro para coleta dos CCs; placas com meios de cultura para coleta dos organismos microbiológicos (fungos e bactérias); um decibelímetro para medir a emissão dos ruídos; e uma estação meteorológica para medir a sensação térmica e dados auxiliares, como temperatura, velocidade e direção do vento e umidade relativa do ar. Depois da coleta dos dados, todos os materiais foram levados 197 ao laboratório para análise, no caso dos CCs e do MPR, e tratados em computador (no programa Excel), no caso dos ruídos, sensação térmica e dados auxiliares. Avaliação do risco à saúde humana A exposição foi estimada baseada na concentração de cada parâmetro e a razão de inalação de pessoas caminhando (US-EPA, 1992). O risco de câncer (RC) foi estimado através da ingestão crônica por tempo de vida (CDI - mg.kg-1.dia-1) multiplicada pelo fator de potência, Slope Factor (SF) de acordo com o sistema de informação de risco integrado (IRIS) (USEPA, 1992, US-EPA, 1996; US-EPA, 2004). Foi utilizado o SF de 0,0455 (mg/kg/dia)-1 para o formaldeído e 0,0077 (mg/kg/dia)-1 para o acetaldeído de acordo com o sistema IRIS (USEPA, 1992; 1996; 2004). RESULTADOS Fluxo de pessoas e veículos Fluxos de veículos e pessoas (por min) No Calçadão da Beira Mar verificou-se o menor fluxo, com 23 automóveis por minuto e na Praça das Flores o maior, com 38 automóveis por minuto. Já o fluxo de pessoas apresentouse de maneira oposta. O maior fluxo verificado foi no Calçadão da Beira Mar e o menor foi na Praça das Flores, 24 e 8 pessoas por minuto, respectivamente (Figura 1). Praça das flores;Praça PC das flores; PS (veículos de (veículos de (veículos passeio); 37 passeio); 34,5 Beira PCCrasa; BeiraPSMar; PS Crasa; PCMar; (veículos de(veículos passeio);de 29,0 (veículos de de passeio); 26 passeio); 22 passeio); 22,0 Beira Mar Crasa Beira Mar; PS Praça das(pessoas); flores 32 Beira Mar; PC (pessoas); 24Crasa; PS (pessoas); Crasa; PC (pessoas); 17flores; PS Praça das 15 dasMar; flores; PS das flores; PC(pessoas); 11 Praça dasMar; flores; PCBeira PSPraça Beira PCPraça Crasa; PSpesados); (veículos (pessoas); 8 Crasa; PCpesados); (veículos (veículos (veículos pesados); 3 pesados); 2 1,5 1 1 0,5 * PC = Período Chuvoso/ PS = Período Seco * Veículos de passeio: movidos à gasolina/ Veículos pesados: movidos à dísel Figura 1. Fluxo de veículos e pessoas em cada local estudado (média por minuto) nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) Material Particulado Respirável As amostragens foram feitas nas três horas do dia com o maior fluxo de automóveis (Figura 2). Comparando os níveis obtidos nas 9 horas amostradas neste estudo com os níveis máximos permitidos pela OMS (2006) e pela US-EPA (2010), 25 e 35 198 Concentração do MPR (µg/m3) µg/m3(médias diárias), respectivamente, as concentrações de MPR na atmosfera do Calçadão Crasa e da Praça das Flores, nos dois períodos, estão acima do permitido pelos dois órgãos. PS; Crasa; 190,11 PC; Crasa; 83,43 PS; Praça das Flores; PC; Praça 99,45 PC das Flores; PS 65,36 PS; Beira PC; Beira Mar; 24,42 Mar; 12,56 Figura 2. Concentração de MPR em cada local de estudo (µg/m3) nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) Compostos Carbonílicos Concentração dos CCs (µg/m3) Comparando o nível máximo permitido pela OMS (61,35 µg/m3; média diária) para ambientes internos, os resultados obtidos neste estudo, para ambientes externos, ultrapassam o limites permitidos por ela, quanto ao formaldeído (Figura 3). Praça das Flores Praça(PS); das Acetaldeido; Flores (PS); Formaldeido; 213,08 Crasa (PS); 191,03 Acetaldeido; 167,75 Praça das Flores Beira Mar (PC) Praça(PC); das Acetaldeido; Flores Crasa (PC) Crasa (PS); Beira Mar (PS); das Flores (PC); Formaldeido; 91,81Praça Praça das Flores Praça das Flores Formaldeido; 77,8775,36 Praça das Flores (PC) Acetaldeido; Beira Mar (PS); 66,32 Crasa (PC); (PS); Crasa (PC); PraçaPraça das Flores (PS); Beira Mar (PC); Beira Mar (PC); (PC); Crasa (PC); Praça das Flores das Flores PraçaPraça das Flores Praça das Flores das Flores Beira Crasa Mar (PC); (PS); (PC); (PS); (PC); (PS); Beira Mar (PC); Formaldeido; 45,93 Beira Mar (PS) Formaldeido; 37,61 Propionaldeído; Acetaldeido; 35,71 (PS); Benzaldeído; Crasa (PS); (PS); (PC); Crasa (PC); (PC); Beira Mar (PC); Crasa Acetaldeido; 29,65 (PS); Propionaldeído; Praça das Flores Beira Mar (PC); Beira Crasa Praça Beira Mar Crasa (PC); (PS); (PC); (PS); das Mar (PC); (PS); Flores (PC); (PS); Beira Crasa Praça (PS); Beira Mar Crasa (PC); (PS); Beira (PC); (PS); das Mar Crasa Beira Flores Mar (PC); (PS); Crasa (PC); (PS); (PC); (PS); Beira Mar Crasa (PC); (PS); o-p-Tolualdeído; (PC); (PS); oMar Praça Beira m(PC); (PS); Crasa m(PC); (PS); das Mar p-(PC); (PS); pFlores (PC); (PS); (PS); Crotonaldeído; (PC); (PS); o-Tolualdeído; m-Tolualdeído; (PC); (PS); 2,5Dimetilbenzaldeí Formaldeido; 19,14 7,73 6,77 Propionaldeído; 4,8 Benzaldeído; 3,9 3,55 3,1 Benzaldeído; 2,61 2,22 Acroleína; 2,17 1,75 1,49 1,34 1,23 1,19 (PS); Acroleína; (PC); 0,91 Acroleína; Crotonaldeído; 00,98 (PC); (PS); Butiraldeído; Benzaldeído; 0Isovaleraldeído; (PC); (PS); 0 Valeraldeído; 02,76 Valeraldeído; 0 Tolualdeído; (PS); Hexaldeído; 0 do;00 0 Crasa (PS) 0Butiraldeído; 0 Tolualdeído; 0 0 0Tolualdeído; 00(PC); 00Hexaldeído; Praça das Flores (PS) Figura 3. Concentração de cada composto nos três locais de estudo (µg/m3) nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) Exposição e risco de câncer ao formaldeído e ao acetaldeído no período chuvoso Os níveis de ED ao formaldeído e ao acetaldeído para homem e para mulher nos três locais estudados ultrapassaram os limites permitidos pela OMS e pela NIOSH e ficaram abaixo dos limites permitidos pela US-EPA e pela OSHA, como mostra a Tabela1. 199 Tabela 1. Níveis de exposição diária (ED) em cada local de estudo, no período chuvoso, e permitidos por órgãos regulamentadores (µg/d) ED ao formaldeído ED ao acetaldeído Beira Mar Calçadão Crasa OMS US-EPA OSHA NIOSH 19,18 Praça das Flores 22,55 9,76 7,82 234,66 117,33 2,5 15,12 18,21 31,22 - 34417,18 45889,57 - Risco de câncer Conforme a Figura 4, as estimativas do risco de câncer no período chuvoso foram baixas, comparadas as do período seco (Figura 6), nos três locais de estudo. Nenhum dos locais ultrapassou os limites máximos permitidos por órgãos regulamentadores. Praça das Praça das Flores ; Praça das Praça das Beira Mar Flores Crasa ; ; Crasa ; Beira Mar; Formaldeído Flores ; Flores ; Crasa Beira Mar; Formaldeído Formaldeído Formaldeído Mar;; BeiraCrasa Mar;;BeiraCrasa Formaldeído Mulher; Formaldeído Homem; AcetaldeídoPraça das Flores Acetaldeído Homem; Mulher; Acetaldeído Acetaldeído Acetaldeído Acetaldeído Mulher; 0,0000032 Homem; Mulher; Homem; 0,0000027 0,0000027 0,0000023 Mulher; Homem;Mulher; Homem; 0,00000120,0000014 0,00000075 0,00000064 0,00000044 0,00000037 0,00000036 0,00000031 Figura 4. Estimativa do Risco de Câncer (RC- não possui grandeza) em cada local de estudo, no período chuvoso (junho e julho) Exposição e risco de câncer ao formaldeído e ao acetaldeído no período seco Os níveis de ED ao formaldeído e ao acetaldeído para homem e para mulher nos três locais estudados ultrapassaram os limites permitidos pela OMS e pela NIOSH e ficaram abaixo dos limites permitidos pela US-EPA e pela OSHA, como mostra a Tabela 2. Tabela 2. Níveis de exposição diária (ED) em cada local de estudo, no período seco, e permitidos por órgãos regulamentadores (µg/d) ED ao Beira Mar Calçadão Crasa 23,42 39,71 Praça das Flores 97,43 OMS US-EPA OSHA NIOSH 7,82 234,66 117,33 2,5 200 formaldeído ED ao acetaldeído 38,43 85,55 108,67 - 34417,18 45889,57 - Conforme a Figura 4, as estimativas do risco de câncer no período seco foram mais altas, quando comparadas as do período chuvoso (Figura 4), nos três locais de estudo. O Calçadão da Beira Mar e a Praça das Flores ultrapassaram o limite estabelecido pelo órgão regulamentador NIOSH, quanto ao formaldeído. Risco de câncer Praça das Praça das Flores ; Flores ; Formaldeído Formaldeído Homem; Mulher; Crasa ; Crasa ; 0,000016 0,000019 Formaldeído Praça das Formaldeído Beira Mar; Praça das Beira Mar Mulher; Beira Mar; Flores Crasa Homem; Flores ; Crasa ; ; Formaldeído 0,0000077 Crasa ; Formaldeído Acetaldeído 0,0000067 Praça das Flores AcetaldeídoBeira Mar; LMPBeira NIOSH Mar; Acetaldeído Mulher; Acetaldeído Homem; Mulher; Homem; Acetaldeído Acetaldeído Mulher; 0,0000045 Homem; 0,000004 0,0000035 0,0000031 Mulher; Homem; 0,0000028 0,0000024 0,0000012 0,0000011 Figura 5. Estimativa do Risco de Câncer (RC- não possui grandeza) em cada local de estudo, no período seco (setembro e outubro) Organismos Microbiológicos As UFCs (Unidades Formadoras de Colônias) de bactérias apresentaram-se um pouco elevadas em relação às UFCs de fungos nos três locais amostrados, tanto no período chuvoso quanto no período seco. O Calçadão Crasa foi o local que apresentou os maiores níveis de UFCs de bactérias e de fungos. Enquanto que o Calçadão da Beira Mar obteve os menores níveis, como é mostrado na Figura 6. Bactérias(UFC/ m3); Crasa Bactérias(UFC/ (PS); 4223,44 Bactérias(UFC/ m3); Praça das m3); Crasa Bactérias(UFC/ Flores (PS); Bactérias(UFC/ (PC); 2576,43m3); Praça das Fungos(UFC/m3) 2431,21 Fungos(UFC/m Fungos(UFC/m Flores (PC);m3); Beira Mar Fungos(UFC/m Bactérias(UFC/ Fungos(UFC/m Bactérias(UFC/m3) (PS); 1433,433); Crasa 3); Crasa (PC);3);1390,73 Praça dasFungos(UFC/m Fungos(UFC/m m3); Beira Mar (PS);3); Praça das Flores (PS); 814,96 Flores (PC); 3); Beira Mar 615,06 3); Beira Mar (PC); 678,85 231,77 158,89 (PS); 138,25 (PC); 116,18 201 Figura 6. Níveis de UFC/m3 de fungos e bactérias em cada local de estudo nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) Ruídos A OMS estabeleceu um nível de decibéis máximos que deve ser seguido para não causar nenhum dano à saúde das pessoas. O limite recomendado pela organização é de 50 dB. Já pela US-EPA, o nível permitido é um pouco maior, 55 dB. Os níveis encontrados por este estudo (Figura 7) nos três locais amostrados chegaram a ultrapassar até 19 dB do permitido pela OMS e até 14 dB pela US-EPA. Ruído (dB) PS; Beira PC; Beira Mar;Mar; 67 68 PC; Crasa; PS; Crasa; PC; Praça PS; Praça 69 68 das flores; das flores; 66 65 PC PS Figura 7. Níveis de ruídos encontrados nos locais de estudo (dB) nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) Conforto térmico A maior sensação térmica obtida foi no Calçadão da Beira Mar, nos dois períodos analisados, como pode ser observado na Figura 8, onde há um grande número de edifícios por toda a orla. Já a menor sensação foi observada na Praça das Flores, onde há presença marcante de vegetação. 202 Sensação térmica (°C) PC; Beira PS; Beira Mar;Mar; 33 31 PC; Crasa; PS; Crasa; PC; Praça PS; Praça 31 30,5 das flores; das flores; 30 30 PC PS Figura 8. Sensação térmica encontrada em cada local de estudo (°C) nos dois períodos analisados (chuvoso e seco) DISCUSSÕES As legislações brasileiras vigentes, quanto a Qualidade do Ar e Poluição Sonora são antigas e necessitam serem atualizadas. A velocidade da criação e atualização de normativas que assegurem a Saúde Ambiental é inversamente proporcional a velocidade do crescimento urbano e de seus problemas associados, exigindo do legislador, contínuos esforços de implementações de políticas públicas para garantir o bem-estar em áreas complexas como as de centros urbanos. Apesar da morosidade na atualização de legislações por parte dos gestores públicos brasileiros, avanços estão ocorrendo. Em 2009, "O Governo Federal assumiu o compromisso de trazer à reflexão as necessidades e desafios atuais que visem a proteção da qualidade do ar e da saúde ambiental no Brasil, como parte integrante do Plano Nacional de Qualidade do Ar (PNQA). O objetivo do PNQA é proteger o meio ambiente e a saúde humana dos efeitos da contaminação atmosférica, por meio da implantação de uma política contínua e integrada de gestão da qualidade do ar no país" (Ministério de Meio Ambiente, 2015 ). Nesse sentido os Ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e das Cidades, apresentaram o objetivo de integrar as políticas públicas e instrumentos que se complementem nas ações de planejamento territorial, setorial e de fomento, e na aplicação de mecanismos de comando e controle necessários ao alcance de metas de qualidade do ar temporalmente definidas; Contribuir para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa. Embora seja uma ação inovadora e conte com o envolvimento de três ministérios, detalhes das ações, bem como uma medida prioritária, p.ex.: atualização do Padrão Nacional de Qualidade do Ar, não foram apresentadas, e nesses últimos anos poucas ações foram executadas. Outro fator importante para a qualidade ambiental em centros urbanos, ligado também a gestão pública, é a execução do plano diretor ou sua priorização. A cidade de Fortaleza atualmente sofre com uma especulação imobiliária que nunca se viu antes, seja em bairros nobres e/ou na zona costeira. Dessa forma, áreas da cidade de Fortaleza que poderiam sofrer ações para garantir os espaços de lazer ou da prática de atividades físicas, são tomadas pela iniciativa privada a fim de empreendimentos imobiliários. Nesse contexto, as escassas 203 opções para o esporte e lazer são praças e calçadões, verdadeiros ambientes insalubres, contrariando cada vez mais os direitos respaldados tanto na Constituição Federal de 1988, como na legislação ordinária, tendo como corolário a Lei 6.938/81 que delimita os objetivos, princípios e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Pela primeira vez indicadores que mensuram a qualidade do ambiente foram avaliados no mesmo instante da permanecia ou uso por pessoas em praças e calçadões na cidade de Fortaleza. Os indicadores estão intimamente ligados com as atividades urbanas, especialmente a frota veicular. Pode-se observar que a maioria dos indicadores ambientais analisados, apresentaram-se acima dos limites estabelecidos como seguros à saúde humana, baseados nas escassas e desatualizadas legislações nacionais e nas legislações internacionais. Os resultados mostraram a necessidade de uma maior atenção aos indicadores, especialmente a qualidade do ar (gases, partículas e organismos microbiológicos), a qual é apontada como um dos principais fatores de internação e mortes em cetros urbanos, legado fruto da ausência de políticas no passado (MINAKI, 2009). No cenário, de escassos estudos, da diversificação de poluentes e limites máximos permitidos mais rígidos, o presente estudo pode ser usado como subsídio para o conhecimento da situação, fruto do reflexo da ausência de ações, frente ao controle das fontes poluidoras e planejamento urbano, alertando da baixa qualidade ambiental na qual a população é exposta. Apesar do restrito tempo de exposição, porém levando em conta os níveis e sinergismo, bem como a diversidade de poluentes nocivos a saúde humana existentes em centros urbanos, o estudo mostra que os riscos a saúde podem ser consideráveis, uma vez que as áreas usadas para a atividade física e lazer são circundadas pelo trafego intenso. REFERÊNCIAS BOWERS RM, SULLIVAN AP, COSTELLO EK, COLLETT Jr JL, KNIGHT R, FIERER N. Sources of bacteria in outdoor air across cities in the midwestern United States. Applied and Environmental Microbiology; 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1128/AEM.05498-11>. Acesso em: 10 jan. 2014. 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Governo Federal do Brasil. http://www.mma.gov.br (acessado em 02/02/2015). 205 TEMA 4: AGRICULTURA, FORESTACIÓN, PESCA, AGUA, ENERGÍA, MINERÍA Y AGROTURISMO SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICA – ANÁLISE DA GERAÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO DE SÃO PAULO - BRASIL FUJII, Ricardo Junqueira; SAIDEL, Marco Antonio Grupo de Energia – Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo email: [email protected] [email protected] Resumo A sustentabilidade energética é um elemento fundamental para a sociedade se tornar sustentável. Para se atingir um estado de sustentabilidade energética faz-se necessária a compatibilização da necessidade de recursos energéticos com as limitações ambientais e demandas sociais. Também é necessária a identificação de maneiras para atingi-la e mantêla, considerando-se o contexto social e os recursos econômicos disponíveis. Esse artigo identifica os fatores relevantes na avaliação da sustentabilidade energética, os quais são considerados sob os princípios da economia ecológica. Tais fatores são incorporados em uma metodologia de avaliação de sustentabilidade energética, demonstrada em um estudo de caso no qual é avaliada a matriz de geração elétrica do estado de São Paulo - Brasil. Por fim, são feitas reflexões sobre a robustez, a flexibilidade e as limitações do modelo proposto. Palavras-chave: economia ecológica, EROI, pegada ecológica, planejamento energético, produção de energia, sustentabilidade energética. Energy Sustainability – Analysis of Electricity Production on Sao Paulo State - Brazil Abstract Energy sustainability is a key element to reach the sustainability of society. To achieve a state of energy sustainability is necessary to reconcile the need for energy resources with human needs and environmental constraints. Also necessary is to identify ways to obtain and maintain it, considering the social context and economic constraints. This study identifies the relevant factors in assessing energy sustainability, which are considered under the principles of ecological economics. These factors are used in an energy sustainability assessment methodology, demonstrated on a case study where it is evaluated the level of energy sustainability of Sao Paulo State electricity production, the most populated state of Brazil. Finally, reflections on the sturdiness, flexibility and limitations of the proposed methodology are made. KeyWords: ecological economics, EROI, ecological footprint, energy planning, energy production, energy sustainability. 206 Introdução Diversos estudos são dedicados a avaliar os impactos causados pelo uso dos recursos energéticos; no entanto, há escassez de trabalhos que tentam, efetivamente, identificar os limites para os quais o uso de um recurso é sustentável. As avaliações de desempenho do setor elétrico são baseadas sobremaneira em critérios técnicos e econômicos, pelos quais, normalmente, se maximiza o valor presente dos recursos disponíveis (sejam eles econômicos ou materiais). Tal postura é, conforme discutido por Neumayer (1999), incongruente com qualquer definição de sustentabilidade. É preciso, assim, definir métricas capazes de analisar as práticas e opções tomadas no setor energético sob o prisma da sustentabilidade. Isso permitirá a avaliação do grau de sustentabilidade dos sistemas energéticos e também a indicação de medidas apropriadas para a obtenção e manutenção de níveis adequados de sustentabilidade. O objetivo deste trabalho é apresentar um arcabouço metodológico adequado à análise da sustentabilidade de um sistema energético, entendendo-se como sustentabilidade a manutenção de um estado de equilíbrio perpétuo – ainda que dinâmico – entre os elementos sociais e naturais, com a garantia de níveis mínimos de desenvolvimento humano. Em outras palavras, propõe-se um novo conceito de sustentabilidade energética, englobando a segurança energética, o equilíbrio econômico, o desenvolvimento humano e a preservação ambiental. Para tanto, foram empregados conceitos de economia ecológica e desenvolvimento sustentável para a análise de sistemas energéticos. A metodologia em questão servirá como base para a avaliação da sustentabilidade da produção de energia em diversos níveis. Desde uma empresa planejando a expansão, adaptação e atualização de seus processos energéticos até os responsáveis pela definição de políticas públicas em âmbito regional ou nacional poderão aplicar a metodologia proposta para a análise da sustentabilidade energética. Metodologia O presente trabalho propõe uma metodologia para análise da sustentabilidade energética baseada no cálculo de indicadores. A metodologia é aplicada em um estudo de caso para testar sua robustez e praticidade. Ao final do mesmo são apresentadas conclusões sobre os resultados obtidos e a metodologia criada. Sustentabilidade energética A análise do papel da energia para a sociedade mostra que ela é um insumo fundamental, estando também sujeita às limitações impostas pela necessidade de se preservar os recursos e limitar seus impactos para as próximas gerações. Desse modo, a sustentabilidade da sociedade depende da disponibilidade de energia para atendimento das demandas atuais e futuras da sociedade; em outras palavras, é preciso que a produção e uso da energia também sejam sustentáveis. Assim, define-se neste trabalho a sustentabilidade energética como o suprimento de energia que atenda às necessidades humanas sem comprometer a sustentabilidade da sociedade. Mais 207 especificamente, a sustentabilidade energética engloba a garantia do atendimento das necessidades energéticas da sociedade, de modo economicamente e ambientalmente viável. É importante distinguir a sustentabilidade energética do conceito de energia renovável. Esta é a energia proveniente de processos naturais (como a luz do sol ou a força do vento) que é reposta a uma taxa superior ao seu consumo. Mas a mera utilização não assegura a obtenção da sustentabilidade energética. Em outras palavras, a produção e utilização de energias renováveis não são, necessariamente, sustentáveis; elas podem não ser capazes de suprir, num dado sistema, as necessidades humanas, ao mesmo tempo em que podem afetar os elementos naturais causando danos intoleráveis ao meio ambiente. A economia ecológica, ramo da economia que trata de analisar os efeitos das atividades econômicas no meio natural e a influência desses sobre a própria economia, tem como um de seus princípios a compreensão de que o meio natural não é capaz de prover recursos naturais (como minérios e água, por exemplo) numa escala infinita, sujeitando as atividades econômicas e a própria humanidade a essas limitações (Daly e Farley, 2004). Por essa razão, ela é adotada como referência para a elaboração da metodologia de avaliação da sustentabilidade, pois oferece ferramentas para auxiliar a análise das interações entre economia, sociedade e meio natural. A economia ecológica oferece a conceituação teórica a partir da qual se define os pilares para a sustentabilidade: desenvolvimento econômico, equilíbrio ambiental e bem estar social. Esses pilares são tratados sob a ótica da sustentabilidade energética, constituindo-se nas dimensões econômica, natural e humana, nas quais se baseiam os indicadores. A sustentabilidade, mais que a preservação do equilíbrio dos elementos humanos, naturais e econômicos, compreende a manutenção de níveis toleráveis para todos esses elementos em qualquer momento e local do sistema. Assim, os recursos energéticos devem ser avaliados em seus efeitos individuais e somáticos, identificando-se assim a competição por recursos naturais, humanos ou econômicos, o que diminui o grau de sustentabilidade do conjunto formado pela matriz de recursos energéticos em análise. Avaliação da sustentabilidade energética A metodologia para avaliação da sustentabilidade energética (Figura 1) compreende três dimensões de análise (econômica, natural e humana). Por essa razão, a metodologia define indicadores que contemplam elementos relevantes provenientes das três dimensões, permitindo assim que seja avaliado o grau de sustentabilidade de um sistema energético. 208 Figura 1. Metodologia de avaliação da sustentabilidade. Elaboração própria. A metodologia é composta por: i) definição do sistema energético a ser analisado, ii) inventário dos recursos energéticos em uso, iii) identificação de particularidades do sistema energético e respectiva calibração dos indicadores e iv) cálculo dos indicadores das três dimensões. A despeito de todos os desafios no processo de qualificação e quantificação de indicadores relacionados à sustentabilidade, eles são fundamentais para a análise do grau de sustentabilidade de um dado sistema. A definição de indicadores apropriados é necessária para a aplicação eficaz dos princípios de economia ecológica e de sustentabilidade energética. Cada dimensão de análise possui características próprias, apresentando interações distintas com a energia. Essas dimensões são analisadas em Fujii (2006), a partir de cujo trabalho foram elaborados alguns dos indicadores que permitem analisar todas os quesitos relevantes para a sustentabilidade energética. Outros indicadores são baseados em metodologias já consolidadas, como a Pegada Ecológica e a Energia Obtida Sobre a Energia Investida (também conhecido pela sigla em inglês EROI); a tabela a seguir apresenta os indicadores definidos para avaliação da sustentabilidade energética. Tabela 1. Indicadores de sustentabilidade energética 209 Indicadores Energia obtida sobre a energia investida (EROI) Custo de obtenção e processamento do recurso Duração das reservas disponíveis Possibilidade de substituição por outro recurso Unidade Limite recomendável Abrangência adimensional > 20 regional e global R$ ou US$ < 10% do PIB da região em questão regional e global anos →∞ regional e global sim/não; →∞ regional e global < área biologicamente produtiva disponível < limites legais ou padrões internacionais < limites legais ou padrões internacionais Pegada ecológica hectares globais Poluição atmosférica mg/Nm3 Poluição terrestre m2, km2 ou m3 de dejetos Poluição aquática pH, volume de oxigênio (mg/l) e volume d´água (m3) < limites legais ou padrões internacionais local intolerável/ gerenciável/ negligenciável gerenciável local e regional gerenciável local, regional e global gerenciável local e regional gerenciável local acessível local e regional opõe-se com possibilidade de mitigação local e regional Competição por recursos com outras atividades humanas Impactos na saúde pública Impactos no meio social Violação dos direitos humanos Posse e acesso à fonte energética Oposição ao recurso energético intolerável/ gerenciável/ negligenciável intolerável/ gerenciável/ negligenciável intolerável/ gerenciável/ negligenciável livre, concorrente com outros usos, estatal, privado apoia, apoia com ressalvas, indiferente, opõe-se com possibilidade de mitigação, opõe-se completamente regional e global local local Fonte: Elaboração própria. Os indicadores adotados para análise apresentam forte vinculação ao setor de energia. Muito embora a sustentabilidade energética não esteja desvinculada da sustentabilidade do meio natural e, de forma geral, da sustentabilidade da sociedade como um todo, este trabalho objetiva a análise dos aspectos diretamente associados à produção de energia. A cada indicador está associada uma unidade (a qual pode ser quantitativa ou qualitativa) e o limite recomendável para a garantia da sustentabilidade do sistema energético. É válido observar que alguns indicadores possuem abrangência local, sem repercussão para uma região mais ampla. Por outro lado, alguns indicadores devem ser analisados sob um contexto global; por fim, outros indicadores têm abrangência mista, seja local, regional ou global. Estudo de caso: Estado de São Paulo – Brasil 210 Como estudo de caso é usada a matriz de geração elétrica do estado de São Paulo (Figura 2), que ocupa uma área de 248 mil km2 e está localizado na região sudeste do Brasil. Em 2012 o estado possuía cerca de 42 milhões de habitantes e seu Produto Interno Bruto – PIB correspondia a R$ 1.433 trilhões (US$ 600 bilhões ao câmbio de US$ 1 = R$ 2,4), aproximadamente um terço do PIB do país. Esse conjunto de variáveis torna seu perfil equivalente a vários países, fazendo dele um bom exemplo para testar a consistência e praticidade da metodologia de avaliação da sustentabilidade energética. Figura 2. Localização do estado de São Paulo. Fonte: Mapas de Brasil Utilizou-se como referência para o estudo de caso o ano de 2012, para o qual havia os dados mais recentes. Conforme o Balanço Energético do Estado de São Paulo 2013 - Ano Base 2012, seu consumo de eletricidade foi de 150.7 mil GWh. A produção de eletricidade por fonte de energia, incluindo centrais elétricas de serviço público e centrais elétricas autoprodutoras, encontra-se na tabela 2. Tabela 2. Produção de eletricidade no estado de São Paulo em 2012 (GWh) Centrais elétricas de serviço público Hidráulica 80193.00 Gás Natural 1414.43 Centrais elétricas autoprodutoras Hidráulica 4476.00 Gás Natural 1152.62 Diesel 74.68 Óleo Combustível 350.18 Bagaço de Cana 4288.70 Também foram levantadas as reservas provadas dos recursos fósseis, não renováveis, e os potenciais dos recursos renováveis (tabelas 3 e 4): Tabela 3. Reservas estaduais de petróleo e gás natural em 2013 Reservas Provadas de Petróleo e Gás 211 Petróleo Gás Natural 613 milhões de barris 56.4 bilhões de m3 Fonte: Anuário da Indústria de Petróleo e Gás Natural de São Paulo - 2013. Tabela 4. Potencial de produção de eletricidade a partir de recursos renováveis Potencial Eólico (100 m de altura) Velocidade média Energia anual Potência Área ocupada anual do vento (m/s) (GWh/ano) instalável (MW) (km2) > 6.0 71918 30891 7420 > 6.5 13000 4734 1134 > 7.0 1753 564 138 > 7.5 74 21 5 Potencial Solar Fotovoltaico Radiação solar Energia anual Área ocupada incidente (GWh/ano) (km2) (kWh/m2.dia) 5.61 – 5.70 12000 744 5.51 – 5.60 878000 54064 Potencial da biomassa de cana de açúcar (excedente) Energia anual Área ocupada kWh/tc (GWh/ano) (km2) Atual 8907.92 27 51726 Caldeiras de 90 bar 31342.68 95 51726 Com palha 49488.45 150 51726 Gaseificação 69283.83 210 51726 Potencial hidrelétrico remanescente Energia Anual Potência (GWh/ano) instalável (MW) CGH 9920.26 2059 PCH/UHE 9096.38 1888 Total 19016.64 3947 Fator de capacidade (%) 26.6 31.3 35.5 40.0 Fator de capacidade (%) 55 Fontes: Atlas Eólico do Estado de São Paulo, 2012; Energia Solar Paulista – Levantamento de Potencial, 2013; Plano Paulista de Energia – PPE 2020, 2012. Foram levantadas as áreas ocupadas em território paulista pelos reservatórios das usinas hidrelétricas e pelos cultivos de cana de açúcar, conforme informações cedidas pela Secretaria de Energia do Estado de São Paulo e pela Unicadata (base de dados mantida pela Única – União da Indústria de cana-de-açúcar): Reservatórios de usinas hidrelétricas: 5489.59 km2 (2.21% do território paulista) Plantio de cana de açúcar: 51726.11 km2 (20.86% do território paulista) Para o cálculo dos indicadores foi adotada uma abordagem top-down, utilizando-se os dados agregados sempre que possível; tal abordagem agiliza o cálculo dos indicadores e dispensa a coleta e compilação de dados de cada usina geradora de eletricidade. A seguir são feitas considerações sobre o cálculo de cada indicador. Indicador de Energia obtida sobre a energia investida. – Foram adotados valores médios para cada recurso energético, conforme compilado por Hall et al (2014). Dada a variabilidade de usinas de geração de eletricidade na matriz elétrica foi adotada uma faixa com valores máximo e mínimo. 212 Custo de obtenção e processamento do recurso. – Foram adotados como referência os preços médios dos leilões de venda de energia elétrica de usinas localizadas no estado de São Paulo entre 2004 e 2014. Também foram considerados os preços médios de venda de combustíveis consumidos no estado em 2012. Duração das reservas disponíveis. – Foram consideradas as reservas provadas das fontes não renováveis localizadas no estado de São Paulo, petróleo e gás natural e o consumo atual dessas fontes. Também foram formuladas hipóteses para a substituição das mesmas. Possibilidade de substituição por outros recursos. – Foram analisados os potenciais de geração elétrica das fontes renováveis disponíveis no estado considerando-se as limitações de ordem natural e humana. Pegada ecológica. – Foram calculadas as parcelas da pegada ecológica produzidas pela geração de eletricidade. Em seguida elas foram comparadas com a biocapacidade disponível no território do estado. Poluição atmosférica, terrestre e aquática. – Foram considerados levantamentos, análises e estimativas sobre a poluição emitida pela geração de eletricidade no estado. Competição por recursos com outras atividades humanas. – Foram levantadas as principais atividades que competem ou podem competir pelos recursos utilizados na produção de eletricidade. Impactos na saúde pública. – Foram levantados e analisados os impactos causados à saúde pública oriundos da produção de eletricidade no estado. Impactos no meio social. – Foram identificados os impactos causados no meio social e analisados o grau de impacto que eles causam no estado. Violação dos direitos humanos. – Foram levantadas as violações dos direitos humanos ocorridas na produção de eletricidade e analisadas no contexto do estado. Posse e acesso à fonte energética. – Foi analisada a propriedade das fontes energéticas adotadas na produção de eletricidade no estado. Oposição ao recurso energético. – Foi analisada a oposição aos recursos energéticos empregados na geração de eletricidade no estado. Resultados Os resultados obtidos no cálculo dos indicadores de sustentabilidade encontram-se organizados na tabela 5, a seguir. 213 Tabela 5. Resultados dos indicadores de sustentabilidade na produção de eletricidade no estado de São Paulo. Indicadores Valor obtido Limite recomendável Sustentável? Energia obtida sobre a 60,5 – 93,4 > 20 Sim energia investida Custo de obtenção e 5,52% – 6,66% < 10% do PIB Sim processamento do recurso Duração das reservas 70 Depende do seguinte →∞ disponíveis Possibilidade de Sim (hidráulica, eólica substituição por outro Sim →∞ solar e biomassa); ∞ recurso 0,38 (energia) Pegada ecológica < 1,34 Não* 3,52 (total) < limites legais ou Poluição atmosférica dentro dos limites legais Sim padrões internacionais < limites legais ou Poluição terrestre dentro dos limites legais Sim padrões internacionais < limites legais ou Poluição aquática dentro dos limites legais Sim padrões internacionais Competição por recursos com outras atividades gerenciável gerenciável Sim humanas Impactos na saúde gerenciável gerenciável Sim pública Impactos no meio social gerenciável gerenciável Sim Violação dos direitos gerenciável gerenciável Sim humanos Posse e acesso à fonte acessível acessível Sim energética opõe-se com Oposição ao recurso sem oposição possibilidade de Sim energético significativa mitigação Nota: A sustentabilidade da pegada ecológica deve ser avaliada considerando não apenas a contribuição da energia, mas comparando-a com a pegada ecológica total e a biocapacidade da região em análise. Os resultados obtidos mostram que a produção de eletricidade no estado de São Paulo é sustentável com exceção de um indicador. Contribui para isso a elevada participação de fontes renováveis, notadamente da energia hidráulica. Sua competitividade econômica, elevado EROI e impactos reduzidos sobre o meio natural e humano fazem dela a mais sustentável opção de recurso energético, na maioria dos casos. No entanto, com o esgotamento do potencial hidráulico ainda não aproveitado, a expansão do parque gerador deverá explorar outras opções sustentáveis, entre as quais a energia eólica e a solar. O único indicador que apresenta grau de insustentabilidade é a pegada ecológica; nesse caso, não se pode atribuir a insustentabilidade somente à produção de energia, mas à toda pressão ecológica provocada por toda a atividade humana. A análise detalhada dos resultados desse indicador mostra que a maior parcela da pressão exercida sobre a biocapacidade disponível no estado é proveniente da grande área ocupada pela cana de açúcar (maior que 20% do território). Muito embora a agricultura não figure entre as atividades mais impactantes ao meio natural, é possível que futuramente ocorra competição pela área para o cultivo de outras culturas agrícolas ou, até mesmo, para outras atividades humanas. 214 Os resultados mostram também que, embora a grande maioria dos indicadores apontem níveis sustentáveis, a produção de energia provoca vários impactos ao meio natural e humano. Isso é observável particularmente nos indicadores de abrangência local e regional. Na maioria dos casos, a situação indicada por eles é gerenciável, ensejando cuidado especial dos órgãos responsáveis pela autorização, monitoramento e fiscalização dos empreendimentos. Também é desejável o acompanhamento por parte de terceiros, sejam entidades de classe ou empresariais, organizações não governamentais e sociedade civil. Conclusões Consistência e aplicabilidade da metodologia A metodologia de análise da sustentabilidade energética proposta é suficientemente robusta para permitir a análise de um sistema energético complexo e diversificado como a matriz de geração elétrica do estado de São Paulo - Brasil. Adicionalmente, por se basear em indicadores em sua maioria já estruturados e de domínio comum do meio científico, garantese uma análise com rigor e uniformidade, graças ao arcabouço teórico e disponibilidade de bases de dados para o cálculo dos indicadores. Apesar disso, a metodologia demanda a disponibilidade de uma quantidade significativa de informações sobre o sistema energético em análise e sobre o meio natural e humano com o qual ele se relaciona. Isso é particularmente importante para os indicadores de abrangência local. Recomendações para obtenção da sustentabilidade energética Ao se observar os recursos energéticos disponíveis sob o prisma dos indicadores, percebe-se que nenhum recurso energético reúne, ao menos no momento atual, todas as condições para suprir a demanda de energia de maneira sustentável. Frequentemente, ele é deficiente em pelo menos uma dimensão, em particular quando se considera a necessidade de atender toda a energia demandada pela sociedade. Os recursos com maior competitividade econômica geralmente apresentam limitações para o atendimento de requisitos naturais e humanos para a sustentabilidade, como é o caso dos recursos fósseis e nucleares. Já as fontes renováveis, mais equilibradas sob a ótica do meio natural, via de regra, não possuem tecnologias capazes de garantir toda produção de energia necessária de maneira economicamente sustentável. Por essa razão, é fundamental que sejam contemplados na composição de uma matriz energética todos os recursos disponíveis para sua expansão ou modificação, nos casos em que ela não se revele sustentável. Isso permite que seja elaborada uma carteira de recursos energéticos através da qual as qualidades do conjunto superem as limitações individuais de cada um. É desejável ainda que a carteira de recursos apresente um equilíbrio entre as dimensões econômica, natural e humana, garantindo um estado estável de sustentabilidade. Isso é válido tanto para uma empresa ou entidade quanto para um estado ou um país. Agradecimentos. – Aos meus colegas da Secretaria de Energia do Estado de São Paulo, ao GEPEA – Grupo de Energia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a Fabrício de Campos, pelos subsídios oferecidos para o cálculo da pegada ecológica e à Bernadette Vechia de Mendonça, pelo auxílio na revisão deste trabalho. 215 Referências Bibliográficas DALY, Herman E. FARLEY, Joshua. Ecological Economics – Principles and Applications. Island Press, Washington-DC, USA, 2004. FUJII, Ricardo Junqueira. Modelo de Caracterização Sistêmica das Opções de Oferta Energética para o PIR. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. HALL, Charles. LAMBERT, Jessica G. BALOGH, Stephen B. EROI of different fuels and the implications for society. Energy Policy. Issue 64, pp. 141-152, 2014. NEUMAYER, Eric. Weak versus Strong Sustainability. Edward Elgar Publishing Limited, Cheltenham, UK, 1999. 216 INDICADORES DO GRAU DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIRA E REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO CHILENA SILVA1, Juvancir; RAUEN1,2, William; PARRA3, Oscar; URRUTIA3, Roberto; TEIXEIRA2, Edmilson; FERNANDES1, Valdir Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental, Universidade Positivo, Curitiba/PR – Brasil Laboratório de Gestão de Recursos Hídricos e Desenvolvimento Regional, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES – Brasil 3 Centro de Ciencias Ambientales, Universidad de Concepción, Concepción – Chile [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] 1 2 Resumo A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) brasileira tem como base a Lei Federal 9.433/97. O contexto histórico em que foi elaborada propiciou ao Brasil um modelo de gestão dos recursos hídricos com princípios avançados de participação social e democrática, com as decisões descentralizadas no nível da bacia hidrográfica por meio do comitê de bacia. A PNRH oportunizou às comunidades locais a reflexão sobre como suas ações impactam no nível de qualidade e quantidade dos recursos hídricos. No contexto sulamericano, a legislação brasileira está entre as mais modernas quanto aos conceitos e instrumentos de gestão de recursos hídricos. Contudo, a PNRH tem enfrentado alguns desafios para sua efetivação, tais como a integração entre os setores usuários e a participação popular. Esses entraves vêm impedindo avanços mais significativos na melhoria da qualidade e da quantidade do recurso hídrico. Uma comparação com a situação no Chile revelou uma grande diferença quanto à forma de gestão desse recurso entre os dois países. Este desafio motivou a proposta de indicadores de sustentabilidade para a avaliação do grau de implantação da PNRH. Os indicadores aqui propostos congregam elementos dos indicadores apresentados por ANA (2013) e IBGE (2012), além dos índices WPI, CWSI, WSI e WJWSI. Avaliou-se conceitualmente indicadores existentes, identificou-se lacunas na capacidade de diagnóstico da gestão dos recursos hídricos no nível da bacia hidrográfica e fez-se uma primeira aproximação à criação de indicadores para suprir tal carência. Palavras-chave: Gestão integrada, Indicadores de sustentabilidade, Políticas públicas, Recursos hídricos. Indicators of the Level of Implementation of Brazil´s Water Resources Policy and Reflections on the Chilean Case Abstract Brazil´s Water Resources Policy (BWRP) is based on Federal Law no. 9.433/97. The historical context in which it was conceived allowed Brazil to have an advanced model of water resources management, particularly in relation to opportunities for democratic social participation and descentralised decision making, in the context of the river basin committees. The BWRP opened up opportunities for local communities to reflect upon the impacts of their actions on the quality and quantity of their water resources. In South 217 America, the Brazilian legislation for water resources management is arguably one of the most modern. However, effectively implementing the BWRP has been challenging, due to issues such as integration amongst users and non-existent or ineffective social participation. Such hurdles have prevented the achievement of more significant improvements in water quality and quantity in river basins. A comparison with the situation in Chile revealed a marked difference between the two countries in the way of managing the resource. In this context, this study offers a group of sustainability indicators for assessments of the level of implementation of the BWRP. Such a group involves elements of indicators used by ANA (2013) and IBGE (2012), besides parts of the internationally known indexes WPI, CWSI, WSI and WJWSI. A conceptual analysis of existing indicators was conducted, which was followed by the identification of gaps in their ability of diagnosing current water resources management strategies for their alignment with the BWRP´s principles, objectives and directives, at the scale of the river basin. The development of new indicators to fill such gaps is attempted. KeyWords: Integrated management, Public policy, Sustainability indicators, Water resources. Introdução No Brasil, a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída pela Lei Federal no. 9.433/1997 (Brasil, 1997), que prescreve que a gestão dos recursos hídricos deve ser integrada, descentralizada e participativa. A gestão deve buscar propiciar aos usuários da água a quantidade e a qualidade requerida, e tem, como unidade de gestão, a bacia hidrográfica. Contudo, com o aumento da produção de bens e serviços para atender às necessidades de consumo de uma população em crescimento, a demanda e a degradação dos recursos hídricos têm tornado cada vez mais complexa a sua gestão. No âmbito sulamericano, o Brasil pode exercer uma liderança importante quanto à gestão de recursos hídricos, pelo fato de sua legislação incorporar os conceitos mais modernos de gestão. O Brasil é um país privilegiado, ocupando o primeiro lugar quanto à disponibilidade de recursos hídricos na América do Sul e no mundo, ao passo que o Chile ocupa o 14º lugar. Porém, a maior parte dos recursos hídricos superficiais brasileiros encontra-se em regiões de baixa densidade populacional e industrial, como a região amazônica. Tal situação também se encontra no Chile, onde o recurso hídrico se concentra no extremo sul do território. Isso gera um desafio ao alcance dos objetivos da gestão, principalmente em regiões metropolitanas do sul e do sudeste do país, e em regiões sujeitas a extremos hidrológicos – secas e cheias. A Agência Nacional de Águas (ANA) mantém registro de 441 Unidades de Planejamento Hídrico (UPHs) em território nacional, das quais a maioria encontra-se em regiões metropolitanas com grande demanda urbana e industrial pelo recurso hídrico, e com elevada carga poluidora – principalmente por esgoto doméstico (ANA, 2013). No Chile, a discrepância se dá entre o norte, desértico mas com considerável atividade produtiva, e o sul, com abundância de água mas baixa demanda antrópica. A partir da instituição da PNRH, esperava-se que os problemas de qualidade e quantidade dos recursos hídricos fossem amenizados. Porém, quase 20 anos após a promulgação da lei, nota-se grande defasagem no desenvolvimento de mecanismos eficazes de gestão dos recursos hídricos (Braga et al., 2008; Andreoli et al., 2003; Tundisi, 2008; Philippi et al., 218 2009; Toonen, 2011; Akhmouch, 2012). Entre os mecanismos que precisam ser melhorados está a integração interinstitucional e entre os problemas está o reduzido sistema de coleta e tratamento de esgoto. No caso chileno, mais de 95% dos efluentes urbanos são tratados. O acompanhamento dos avanços e entraves à consecução dos objetivos da PNRH constitui um processo importante para a gestão dos recursos hídricos no Brasil. Estudos demonstram que índices e indicadores são importantes para o acompanhamento de políticas públicas e na aplicação de medidas corretivas (Meadows, 1998; Malheiros et al., 2008; Bellen, 2006; Mattar Neto et al., 2009; Dong et al., 2013; Juwana et al., 2012; IBGE, 2012). Entre os índices utilizados para avaliação dos recursos hídricos e que foram aplicados em bacias hidrográficas estão o Water Powerty Index (WPI) (Lawrence et al., 2002), o Water Sustainability Index (WSI) (Chaves e Alipaz, 2007), o Canadian Water Sustainability Index (CWSI) (Canada, 2007), e o West Java Water Sustainability Index (WJWSI) (Juwana et al., 2012). Nesses índices foram identificados indicadores voltados à avaliação de sustentabilidade associada aos recursos hídricos. Entretanto, ao diagnosticar a existência em potencial de problemas nesse sentido, eles carecem de uma maneira de identificar os motivos de tais problemas. Partindo da premissa que a PNRH fornece o embasamento necessário para a gestão sustentável dos recursos hídricos, pode-se dizer que a insustentabilidade pode advir do não atendimento, ou do atendimento apenas parcial, dos seus fundamentos, diretrizes e objetivos. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo elencar um conjunto de indicadores para análises do grau de implementação da PNRH, no que diz respeito aos seus fundamentos, diretrizes e objetivos, com base na literatura e/ou propostos para preencher lacunas identificadas. De maneira geral, pretende-se contribuir para o diagnóstico dos entraves à implementação da gestão integrada, descentralizada e participativa dos recursos hídricos, com informações que permitam a identificação de aspectos prioritários para os esforços de melhoria das ações de gestão. Breve histórico e contraste entre as situações do Brasil e do Chile No Brasil, a Lei 9.433 de 8 de agosto de 1997 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Entre os avanços da lei estão a bacia hidrográfica como unidade territorial de implementação da PNRH, e a participação dos usuários no processo de tomada de decisão por meio de um sistema de gestão descentralizado e democrático na bacia hidrográfica (Brasil, 1997). Em 2006 o Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH) aprovou o Plano Nacional dos Recursos Hídricos cujo objetivo geral é o de promover, por meio de um pacto nacional, as diretrizes e políticas públicas para a oferta de água de qualidade e em quantidade para as demandas, com o entendimento da água como fundamento para as políticas setoriais na perspectiva do desenvolvimento sustentável (ANA, 2013). O Plano Nacional dos Recursos Hídricos foi norteado pela Lei 9433/97 que estabeleceu os fundamentos, as diretrizes e os objetivos que a gestão deve seguir para a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). 219 Os fundamentos da PNRH preconizam que a água é um bem de domínio público, recurso natural limitado e dotado de valor econômico. Seu uso prioritário deve ser para o consumo humano e a dessedentação de animais. Nesse contexto, a gestão deve possibilitar o uso múltiplo, ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e da sociedade civil organizada na tomada de decisões. As diretrizes da PNRH são a gestão sistemática sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade, a adequação da gestão às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões, a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional, a articulação da gestão de recursos hídricos com a gestão do uso do solo, e a integração da gestão das bacias hidrográficas com o gerenciamento dos sistemas estuarinos e das zonas costeiras. A PNRH tem por objetivos assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável e a prevenção e defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrente do uso inadequado dos recursos (Brasil, 1997). No Chile, o atual marco legal e institucional que rege o uso e manejo dos recursos hídricos está estabelecido na Constituição Política de 1980 e detalhado no Código de Aguas de 1981. Deve-se ressaltar que o início da gestão das águas chilena se deu no período ditadorial. Como consequência disso, ficou estreitamente vinculado à instauração de um modelo neoliberal de gestão. Uma perspectiva econômica similar à brasileira se manifesta na definição do artigo 5° do Código chileno, em que as águas são reconhecidas como um “bien nacional de uso público y se otorga a los particulares el derecho de aprovechamiento de ellas”, o qual as transforma, ao mesmo tempo, em um “bem econômico” (Chile, 1981). Na prática, sua gestão e manejo ficam sujeitos aos critérios do livre mercado e às normas da propriedade privada, gerando, assim, um mercado da água. Os princípios estabelecidos no Código de Águas do Chile, indicados a seguir, diferem daqueles que compõem a PNRH, a saber (Chile, 1981): Separação água-solo: os direitos de uso das águas podem ser objeto de negócios independentes, separados do tipo de uso que é feito do solo adjacente. Não é obrigatório fazer uso efetivo e para o bem público e não é estipulada uma validade ao direito de uso. Livre disponibilidade e aquisição: o proprietário pode dispor do seu direito de aproveitamento das águas como desejar. A intenção era a de deixar o mercado buscar o melhor aproveitamento das águas e fazer o melhor uso do direito, entre alternativas distintas de uso, múltiplo ou não. Regime de propriedade inscrita: os direitos devem estar inscritos de forma similar aos bens, para conferir certeza jurídica à propriedade. Reconhecimento de direitos preexistentes: reconhece-se a existência de direitos adquiridos segundo a legislação anterior, mesmo quando não estão inscritos. Atualmente todos os direitos de uso da água designados pela reforma agrária estão regularizados, devido à operação de um mecanismo de intervenção do Estado. 220 Unidade do recurso: o recurso é administrado considerando as águas superficiais e subterrâneas, conjuntamente. Administração pelos usuários: as organizações de usuários devem cuidar de todas as ações relativas ao aproveitamento do recurso. Segurança jurídica: mediante qualquer ilegitimidade, existem recursos e ações judiciais que permitem defender os direitos de aproveitamento das águas. Pode-se inferir que a principal diferença na outorga de direitos de uso das águas entre o Brasil e o Chile ocorre na definição da propriedade do recurso. As outorgas brasileiras são feitas por período limitado, de até 35 anos, em caráter revogável e renovável, sem que o Estado perca a propriedade do recurso. No caso chileno, a outorga dos direitos de uso do recurso se dá por prazo indefinido, o que configura uma transferência de propriedade e causa o chamado “Mercado de Águas”. A esse respeito, cabe ressaltar que se configurou um verdadeiro monopólio, já que cerca de 90% dos direitos de uso não consuntivo das águas são de propriedade de apenas três grupos econômicos. Adicionando-se o fato que mais de 90% das empresas de saneamento chilenas são privadas, chegou-se ao sistema tarifário de água potável mais caro da América Latina. Por outro lado, no caso chileno é possível outorgar direitos de aproveitamento de águas para usos produtivos, como para irrigação, industrial e de geração hidrelétrica, e para consumo humano (água potável), mas não para outros usos, como culturais, para a conservação e harmonia paisagística, por exemplo. A geração hidrelétrica beneficia milhões de pessoas, mas há uma tendência de concentração do monopólio de uso do recurso hídrico no setor energético. No Brasil, transcorridos mais de 17 anos desde a promulgação da Lei Federal 9433/97, observa-se a prevalência de um panorama negativo em relação à gestão dos recursos hídricos. Braga et al. (2008) e Andreoli et al. (2003), por exemplo, destacaram a desconsideração das interfaces com os setores correlatos e a diversidade não integrada de usuários e suas demandas entre os principais problemas enfrentados. Já Tundisi (2008) apontou a distribuição desigual da água no território, o nível de saneamento, de tratamento de esgotos, a necessidade de recuperação da infraestrutura e dos mananciais e a integração entre os órgãos de governo como aspectos críticos. Phlippi Jr. et al. (2009) citaram a articulação insatisfatória entre o planejamento hídrico, o urbano e o de saneamento. No âmbito internacional, Toonem (2011) destacou a relativa independência dos órgãos de governo nos diferentes níveis para elaborar leis e os papéis justapostos dos órgãos gestores como impedimentos à coordenação de ações e a gestão nos níveis de governo. Tal cenário também foi citado por Akhmouch (2012), como uma dificuldade de coordenação horizontal e vertical entre os órgãos de governos. Tais problemas também são verificados no Brasil. A gestão integrada dos recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável são intentos da Lei 9.433/97. Entretanto, nota-se que avanços neste sentido ainda necessitam de maior empenho dos órgãos gestores e a mitigação de dificuldades legislativas e institucionais. Segundo Lisboa (2013), a gestão integrada dos recursos hídricos na bacia hidrográfica deve estar alinhada com a dimensão social, econômica e ambiental, pelo envolvimento de todos os atores antes e durante as negociações, para a garantia da tomada de decisão em bases confiáveis e levando-se em consideração a vocação potencial das bacias. 221 Indicadores e a gestão dos recursos hídricos Os indicadores permitem que se façam diagnósticos de temas de interesse, o que subsidia o processo de tomada de decisão visando a gestão sustentável (Malheiros et al., 2008). Para Meadows (1998), os indicadores são uma forma de analisar o desenvolvimento sustentável em suas diversas dimensões. Para Mattar Neto et al. (2009), no contexto ambiental os indicadores são parâmetros representativos, concisos e fáceis de interpretar e podem ser utilizados para ilustrar as principais características de uma determinada região, visando à melhoria do meio ambiente ou a mitigação de sua degradação. Em um levantamento feito por Bellen (2006), indicadores são definidos como medidas de um fenômeno, como parâmetros sobre o estado de um fenômeno, como variável operacional de um atributo de um sistema, como variável individual ou como função de outras variáveis, como sinal, sintoma, informação, dado e medida. O índice é definido no levantamento como escalar, um simples número gerado da agregação de dois ou mais valores e esta agregação pode mascarar um elemento que individualmente pode contribuir para medidas pontuais, assim como, os elementos agregados podem não ser da mesma esfera de avaliação. Para o autor “índices condensam indicadores que condensam informações obtidas pela agregação de dados”. E para o desenvolvimento sustentável os indicadores referem-se a valores estabelecidos ou desejados pelo governo ou socialmente dentro de um senso normativo e com valor técnico de referência. Segundo Dong et al. (2013), índices e indicadores têm sido utilizados no planejamento e gestão de recursos hídricos com o intuito de analisar cenários com incertezas associadas ao clima, à demografia e a condições econômicas, sociais, técnicas e políticas que possam afetar o desempenho futuro dos recursos hídricos em sua disponibilidade, demanda e estratégias de gestão. Juwana et al. (2012) consideram que os indicadores auxiliam na compreensão do progresso em direção à sustentabilidade ao longo do tempo, em bacias hidrográficas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publica os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS). Entre os indicadores relacionados diretamente com a questão hídrica, apresentados pelo IDS, estão (IBGE, 2012): o indicador de água doce, que representa a qualidade da água em trechos de rios e represas e é expresso pela Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e pelo Índice de Qualidade da Água (IQA); o indicador de acesso ao sistema de abastecimento de água, que representa a parcela da população abastecida com água por rede geral; o indicador de acesso a esgotamento sanitário, que representa a parcela da população atendida por sistema de esgotamento sanitário; o indicador de acesso a serviço de coleta de lixo doméstico, que representa a parcela da população atendida pelos serviços de coleta de lixo doméstico; o indicador de tratamento de esgoto, que expressa a capacidade de tratar o esgoto coletado; o indicador da destinação final do lixo, que expressa a capacidade de se dar uma destinação final adequada ao lixo coletado. 222 No tocante a avaliações de sustentabilidade que contemplam os recursos hídricos, os índices WPI, WSI, CWSI e WJWSI têm renome internacional. Um breve detalhamento sobre a forma como estes índices abordam a gestão dos recursos hídricos se segue. O WPI foi elaborado com base no Environmental Sustainability Index (ESI) criado no Fórum Econômico Mundial de 2001. O ESI dá importância à estratégia e à forma como os países regulamentam o recurso hídrico (Lawrence et al., 2002). O WPI reflete a gestão dos recursos hídricos por meio do “indicador de capacidade de provisão e gerenciamento da água” (regulação e capacidade gerencial e capacidade de informação). O “indicador de políticas públicas” do WSI reflete a importância do gerenciamento dos recursos hídricos na escala da bacia hidrográfica, ao indicar aspectos como a capacidade institucional implantada e a evolução das despesas com o gerenciamento (Chaves e Alipaz, 2007). O CWSI foi proposto para uso em avaliações da condição financeira, educacional e de treinamento para gerenciar os recursos hídricos (PRI, 2007). O “indicador de política e governança” do WJWSI caracteriza a gestão do recurso hídrico na bacia hidrográfica abarcando a participação pública, o acesso à informação, aspectos econômicos, a estrutura organizacional para a governança e o arcabouço legal (Juwana et al., 2012). A adequação da prática da gestão de recursos hídricos pode ser avaliada de forma apenas parcial com base nesses índices. Por exemplo, a participação popular é abordada somente no WJWSI. Este índice ainda aborda a governança da água que está relacionada com a gestão integrada, o que outros índices não abordam. Uma exceção é a estrutura institucional, que está presente em todos os índices. Em relação ao desenvolvimento sustentável, estes índices abrangem as dimensões ambiental, econômica, política e social, porém, de forma restrita. No Brasil a Agência Nacional de Águas elabora, anualmente, o relatório “Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil”, no qual alguns indicadores permitem a mensuração do grau de implantação da PNRH nas bacias hidrográficas brasileiras. Porém, no relatório, à exceção do Indicador de Gestão, não são usados indicadores que permitam avaliar o grau de implantação da PNRH a partir dos aspectos da estrutura institucional, da gestão integrada, da participação popular e do desenvolvimento sustentável, elementos que constituem os fundamentos, as diretrizes e os objetivos da PNRH. Partiu-se assim, para a elaboração de indicadores que possam preencher as lacunas identificadas na capacidade de indicação do grau de atendimento dos aspectos fundamentais da gestão das águas no Brasil. No Chile, a institucionalidade pública dos recursos hídricos encontra-se dispersa, com conflitos frequentes de competência que dificultam a gestão (Bauer, 1997; Dourojeanni, 2009; Retamal et al., 2013). Além disso, não se utilizam indicadores de sustentabilidade para avaliar a gestão dos recursos hídricos. Quanto ao saneamento, constantemente são utilizados indicadores relacionados à cobertura de abastecimento de água potável e de rede coletora e tratamento de esgoto, os quais superam 95% da população urbana, ou 80% da população total. Metodologia O presente estudo se caracterizou como descritivo quanto ao objetivo, de pesquisa bibliográfica, documental e de análise de conteúdo quanto aos procedimentos técnicos, e teve natureza aplicada e qualitativa. Com a pesquisa bibliográfica, visou-se traçar um panorama 223 das políticas nacionais de recursos hídricos do Brasil e do Chile, e identificar índices e indicadores de sustentabilidade vinculados aos recursos hídricos. A pesquisa e análise documental envolveu os relatórios Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil (ANA, 2013) e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IBGE, 2012). Isso levou à identificação de indicadores aptos para uso em análises do grau de implementação da política brasileira quanto aos seus fundamentos, diretrizes e objetivos, bem como de lacunas na capacidade de representação de tais aspectos por indicadores existentes. Por fim, com um enfoque dedutivo foram propostos novos indicadores para preencher tais lacunas. Resultados: Análise e proposição de indicadores Nesta seção se apresenta um conjunto de indicadores de sustentabilidade para uso em avaliações do grau de implementação da PNRH brasileira, dividos em quatro grupos: Estrutura Institucional, Gestão Integrada, Desenvolvimento Sustentável e Participação Social. Tais indicadores foram selecionados ou criados conforme explicado a seguir. Em cada grupo, são feitos apontamentos a respeito da situação da gestão dos recursos hídricos no Chile, referente ao tema em questão. Estrutura Institucional A estrutura institucional para a gestão dos recursos hídricos é uma preocupação dos idealizadores dos índices WPI, WSI, CWSI e WJWSI. No primeiro, quanto à regulação e capacidade gerencial. No segundo, quanto à capacidade institucional e à evolução em despesas de gerenciamento. No terceiro, quanto à estrutura organizacional para a governança e ao arcabouço legal. No quarto, há a dimensão política e governança com indicadores sobre aplicação da lei e estrutura de governança. No Brasil a ANA (2013) utilizou o Indicador de Gestão (IG) desenvolvido por Maranhão (2007) para verificar a estrutura institucional da PNRH em UPHs que apresentam conflitos pelo uso e disponibilidade de água. Das 441 UPHs brasileiras, 191 foram avaliadas, sendo que 54% estavam em estágio inicial de implantação e 29% estavam em estágio avançado ou muito avançado. A maioria das UPHs encontra-se em regiões metropolitanas, nas quais há grande demanda residencial e industrial com elevada carga de esgoto doméstico lançada no corpo hídrico. O IG é determinado pelo subindicador plano de recursos hídricos (existência de plano interestadual e existência de plano de bacia estadual), pelo subindicador comitê de bacia instalado (comitê estadual e interestadual), pelo subindicador cobrança implantada e pelo subindicador outorga (demanda outorgada/demanda total). Cada item do subindicador é ponderado em sim = 1 e não = 0 com exceção do item 1 do subindicador plano de recursos hídricos, existência de plano interestadual sim = 1, sim = 0,5 na ausência do plano de bacia estadual e não = 0. O somatório é dividido por seis e o resultado é a classificação do estágio da gestão: IG = 0 estágio inicial; 0 < IG < 0,50 em implantação; 0,50 ≤ IG < 0,65 moderada; 0,65 ≤ IG < 0,85 avançada; IG > 0,85 muito avançada. A estrutura institucional requerida para a operacionalização da PNRH nos estados inicia com o órgão gestor estadual, sendoverificado sua existência em todos os estados e no Distrito 224 Federal. Nos estados são criados os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos que está presente em 26 estados e em um estado há uma Câmara Técnica. O planejamento estadual dos recursos hídricos deve ser formalizado por meio de um plano estadual de recursos hídricos, sendo este identificado em 14 estados e em três estados está na fase de elaboração. Como preconiza a lei federal 9.433/97, a gestão da bacia hidrográfica deve ser guiada pelo plano de recursos hídricos da bacia, sendo este verificado em 27 bacias interestaduais e em 94 estaduais. Os planos de bacias interestaduais instalados abrangem cerca de 51% do território nacional. Se forem consideradas as Unidades de Gestão de Recursos Hídricos de rios de domínio da União, a área coberta passa para 62% (ANA, 2013). Cabe ressaltar que o levantamento consultado reflete a conjuntura dos recursos hídricos brasileiros no ano de 2012. Em relação aos comitês de bacia, dos 187 criados, 173 foram instalados por meio de decretos ou lei (CBH, 2014). Segundo IBGE (2012), em relação às grandes regiões geográficas brasileiras, a sudeste e a sul possuem, respectivamente, 85,6% e 63,6% dos municípios com participação em CBHs. Já nas regiões norte, centro-oeste e nordeste esse índice é inferior a 50% dos municípios, sendo de 24,9%, 44,6% e 49,8% respectivamente. Por estes dados é possível avaliar que a PNRH tem tido melhores resultados na implantação dos comitês de bacias nas regiões sul e sudeste, onde estão concentrados os maiores conflitos pelo uso dos recursos hídricos (Rabelo et al., 2014). Alguns dados do IBGE (2012) podem contribuir para avaliar o grau de implantação da PNRH, uma vez que estes encontram-se relacionados com a estrutura institucional da política ambiental brasileira a qual colabora na implantação da PNRH. Entre esses dados está o número de municípios com Conselhos de Meio Ambiente ativos que, em 2001, era de 22,3% e subiu para 39,9%, em 2009. Em relação à presença de organizações de sociedade civil, em 2005, para cada 100 mil habitantes havia 184,4 organizações de sociedade civil. A Agenda 21 Local em 2002 cobria 50,6% da população e, em 2009, caiu para 41,2%. O IBGE justificou tal redução pela falta de recursos financeiros. Porém, a instalação do Fórum da Agenda 21 Local subiu de 22,9% em 2002 para 30,1% em 2009, o que sugere que muitos municípios tenham instalado primeiro o Fórum, para depois implantar a Agenda. Esses dados contribuem para a ideia de que a gestão ambiental no país precisa avançar, tendo reflexos no grau de implantação da PNRH. Para a avaliação da estrutura institucional como medida do grau de implantação da PNRH sugere-se o Índice de Gestão da Bacia Hidrográfica (IGbh) composto por indicadores da presença ou ausência de comitê de bacia, do plano da bacia, da agência de águas, dos instrumentos de gestão em operação (cobrança, outorga, enquadramento, compensação, monitoramento e informação e prevenção) e da representação, no comitê de bacia, dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, de organizações de sociedade civil, da Agenda 21 Local e de articulações interinstitucionais que envolvam os recursos hídricos. A ausência de algum destes elementos do IGbh dificulta a gestão dos recursos hídricos. Assim, por meio desse índice seria possível avaliar se a estrutura institucional para a concretização dos fundamentos, das diretrizes e dos objetivos da PNRH está presente na bacia hidrográfica. No caso chileno, tais aspectos da gestão de bacias hidrográficas são considerados nos contextos teórico e administrativo, mas seguem como uma utopia no âmbito prático. Gestão Integrada 225 A gestão integrada representa a capacidade dos múltiplos usuários atuarem conjuntamente no planejamento das demandas pelos recursos hídricos em qualidade e quantidade ao longo do tempo, no aumento do comprometimento com a manutenção e melhoria da qualidade e quantidade dos recursos hídricos, na visão sistêmica em relação à questão hídrica e na efetivação da integração da política de recursos hídricos com as demais incidentes sobre o território da área de gestão de recursos hídricos em consideração. Portanto, a gestão integrada constitui elemento importante não só para mensurar o grau de implantação da PNRH, mas como indicativo de que as ações sobre os recursos hídricos têm levado em conta a visão sistêmica de que um setor da gestão pública pode afetar outros setores. A ANA mantém iniciativas para avançar na gestão integrada de recursos hídricos que incluem o Programa de Articulação Intersetorial, lnterinstitucional e lntrainstitucional da Gestão de Recursos Hídricos, o Programa de Usos Múltiplos e Gestão Integrada de Recursos Hídricos e os Programas Setoriais voltados aos recursos hídricos (ANA, 2013). Entretanto, a ANA não vem apresentando indicadores sobre estes programas. O IBGE (2012) revela que as articulações interinstitucionais em 2005 no país eram de 6,4%, e passaram para 9% em 2009. Uma vez que ANA (2013) não apresenta dados de articulações interinstitucionais, não é possível inferir sobre seu impacto na implantação da PNRH. Porém, com os dados do IBGE é possível inferir que o incremento do nível de interação entre setores institucionais no Brasil, bem como os respectivos valores absolutos, foram muito baixos entre 2005 e 2008, para um país com mais de 5000 municípios. Portanto, mensurar as articulações interinstitucionais é relevante para avaliar a gestão integrada de recursos hídricos, sendo sugerido o Indicador de Integração Intersetorial da Bacia Hidrográfica (3iBH), por meio do número de articulações interinstitucionais praticadas pelos municípios da bacia hidrográfica e que envolvam recursos hídricos (consórcio público intermunicipal, consórcio público com o estado, consórcio público com o governo federal, convênio de parceria com o setor privado, apoio do setor privado e apoio das comunidades, convênios entre a ANA e o comitê de bacia). A integração intersetorial é ensejada nos fundamentos, nas diretrizes e nos objetivos da PNRH uma vez que estes visam conciliar os usos múltiplos do recurso hídrico. No caso chileno, até o presente não há uma política nacional para a gestão integrada de bacias hidrográficas. Em 2008, no entanto, foi elaborada uma “Estratégia Nacional de Gestión Integrada de Cuencas Hidrográficas”, com o objetivo geral de proteger o recurso hídrico, quanto à sua qualidade e quantidade, para garantir o consumo humano e harmonizar objetivos de conservação dos ecossistemas para o aproveitamento sustentável do recurso para as atividades econômicas. Tal como indicado pela OCDE na Avaliação de Desempenho Ambiental de 2005, um dos desafios do Chile é melhorar a informação e o conhecimento sobre o manejo das águas, com a recomendação de desenvolver um enfoque integrado de gestão de bacias para melhorar o manejo dos recursos hídricos e florestais e para proporcionar serviços ambientais com maior eficiência. Quanto ao uso da bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão, no Chile o que mais se aproxima de tal enfoque é o fato de que algumas organizações de usuários dos recursos hídricos (Juntas de Vigilancia) têm toda uma bacia sob sua jurisdição. Geralmente estas organizações só atuam em seções de um curso de água (Salazar, 2003) e principalmente nas bacias onde os usuários de irrigação estão organizados, entre os rios Elqui e Itata. 226 Participação Social A participação social é entendia como um fator essencial para a a gestão dos recursos hídricos, sendo sua mensuração realizada nos índices WPI e WJWSI. No primeiro, quanto à capacidade de informação. No segundo, quanto à divulgação da informação e à participação pública. A participação social no planejamento e tomada de decisão relacionada aos recursos hídricos constitui um direito do cidadão de acesso à informação e é um instrumento essencial para a gestão democrática. Para a garantia da participação social no sistema de gestão de recursos hídricos, a ANA possui a Câmara Técnica de Educação Ambiental como a responsável pelas ações de educação, capacitação, mobilização social e informação em recursos hídricos, que oferta um treinamento à distância com o tema Educação e Participação Social na Gestão de Recursos Hídricos. Entre as prioridades do Plano Nacional dos Recursos Hídricos 2012/2015 estão metas associadas à informação, à participação social e à formação de recursos humanos. A ANA ainda destaca a importância do estímulo à participação popular no processo de definição de políticas relacionadas com os recursos hídricos (ANA, 2013). A participação popular é um aspecto importante da Política Nacional de Recursos Hídricos, por estar presente nos fundamentos, nas diretrizes e nos objetivos da Lei 9.433/97 devendo ser avaliada de forma mais efetiva. Porém, o relatório elaborado pela ANA em 2013 praticamente não apresenta dados de ações envolvendo as comunidades da bacia hidrográfica. Assim sendo, sugere-se para mensurar a participação social na bacia hidrográfica os indicadores: indicador de participação popular, representado pelo nível de participação da população nas reuniões e nas audiências públicas organizadas pelo comitê de bacia; indicador de presença do comitê na comunidade, mensurado pelo nível de conhecimento do comitê de bacia pela comunidade; indicador de comunicação, representado pelo uso de instrumentos de comunicação social pelo comitê de bacia e o acesso da população a tais instrumentos; indicador de representatividade social, avaliado pela participação igualitária dos setores usuários e da representatividade dos municípios no comitê de bacia. O primeiro indicador pode ser levantado pelo registro do número de pessoas nas reuniões e audiências, o segundo por pesquisa com a comunidade e os demais apenas por constatação da existência ou ausência dos instrumentos correspondentes. Reconhece-se que, além da participação da população nas reuniões do comitê de bacia, é preciso envolver a comunidade nos problemas da bacia por meio de audiências públicas e do uso de meios de comunicação social para divulgação das questões relacionadas com os recursos hídricos e verificação se a população conhece e acompanha o comitê de bacia. Por fim, é preciso avaliar a participação igualitária dos usuários e dos municípios no planejamento e na tomada de decisão dos problemas da bacia hidrográfica. Os indicadores sugeridos podem apontar a presença/ausência e efetividade da participação social na gestão de recursos hídricos. 227 No caso chileno, a participação cidadã está muito restrita às associações de usuários de água, ou seja, usuários de canais e comunidades de águas subterrâneas. Em todos os casos as pessoas que podem participar devem possuir direitos de uso de águas. Quando ocorre um problema social ou ambiental envolvendo o recurso, este modelo não funciona e geralmente gera litígios judiciais. Desenvolvimento Sustentável O recurso hídrico é um elemento essencial para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de uma região. No âmbito da gestão das águas no Brasil, o relatório ANA (2013) apresentou quase que exclusivamente dados ambientais relativos aos aspectos de qualidade e quantidade dos recursos hídricos. Na dimensão econômica, apontou que o plano de bacia deve basear-se na premissa da permanência das condições socioeconômicas descritas no diagnóstico integrado da situação dos recursos hídricos, em termos de qualidade e quantidade. O relatório não apresentou indicadores das relações de interdependência entre o recurso hídrico e as atividades socioeconômicas. Assim, verifica-se que o desenvolvimento sustentável presente nas diretrizes e nos objetivos da Lei Federal 9.433/97 não vem sendo monitorado adequadamente pela ANA. Um indicador de desenvolvimento sustentável sugerido para avaliar a PNRH pode ser calculado pela redução de renda, em valor monetário, em função da limitação da cobrança pelo recurso hídrico devido à sua degradação qualitativa e quantitativa. O cálculo do valor seria a vazão não outorgada multiplicada pelo valor cobrado. Esse indicador permitiria ao município perceber o montante econômico perdido pela degradação ambiental, e o quanto receberia se melhorasse a qualidade e a quantidade do recurso hídrico. Este indicador evidenciaria, de forma objetiva, a importância do recurso hídrico para o desenvolvimento econômico. Como gerador de riqueza o recurso hídrico será melhor utilizado e preservado, garantindo, além do retorno econômico, melhorias na qualidade de vida da população – sendo esta a finalidade do desenvolvimento sustentável. Outro indicador sugerido é a presença e o nível de implantação de programas e ações para o desenvolvimento sustentável envolvendo recursos hídricos nos municípios da bacia hidrográfica. Este indicador, quando aplicado em bacias com mais de um município, poderia ser definido pelo percentual de municípios com programas e ações de desenvolvimento sustentável envolvendo o recurso hídrico. O indicador demonstraria a preocupação do município em buscar alternativas econômicas sustentáveis com o menor impacto nos recursos hídricos. Estes indicadores ajudariam a identificar os avanços no desenvolvimento sustentável e a avaliar, portanto, o grau de implantação da PNRH uma vez que seus objetivos, fundamentos e diretrizes ensejam o desenvolvimento sustentável. No caso chileno, não há um sistema de indicadores de sustentabilidade dos recursos hídricos, devido principalmente a dois aspectos: i) relativa escassez de conhecimento sobre os ecossistemas aquáticos, o que demanda mais pesquisas científicas; e ii) carência de uma Política Nacional de Recursos Hídricos para o Chile. Conclusões O desafio para a efetivação da PNRH aqui destacado é a melhoria da integração governamental e da capacidade de gestão no nível da bacia hidrográfica. Para este intento se 228 faz necessário o acesso à informação por meio de indicadores a todos os níveis de governo e da sociedade, de forma que os gestores e a comunidade reconheçam o estado real dos recursos hídricos e de sua gestão em sua região e possam atuar no planejamento e execução do Plano de Recursos Hídricos em sua bacia hidrográfica. Este desafio motivou a proposta de indicadores para a avaliação do grau de implantação da PNRH, uma vez que a gestão descentralizada e democrática requer um aparato informacional sustentado por indicadores confiáveis para que haja comunicação de qualidade com a sociedade na informação sobre os problemas com os recursos hídricos. O acesso à informação é um direito do cidadão e a sua falta implica diretamente em sua capacidade de tomar decisões que impactarão no seu modo de vida atual e futuro. A lei 9.433/97 aborda questões relevantes como a gestão integrada, o desenvolvimento sustentável e a gestão democrática no nível da bacia hidrográfica, em consonância com as melhores práticas verificadas internacionalmente. Entretanto, foram notadas lacunas na capacidade de diagnosticar, por meio de indicadores presentes nos relatórios oficiais, a realidade da implementação da PNRH quanto à estrutura institucional instalada, gestão integrada, participação social e ao desenvolvimento sustentável. Os indicadores propostos congregam elementos dos indicadores apresentados por ANA (2013) e IBGE (2012), além dos índices WPI, CWSI, WSI e WJWSI. Avaliou-se conceitualmente indicadores existentes, identificou-se lacunas na capacidade de diagnóstico e fez-se uma primeira aproximação à criação de indicadores para suprir tal carência. Assim, vislumbram-se oportunidades de trabalhos futuros na temática de avaliação do grau de implantação da PNRH por meio de indicadores, que poderiam buscar a validação e a extensão da proposta aqui contida. Finalmente, ressalta-se que os indicadores de sustentabilidade associados à gestão dos recursos hídricos requerem uma base de conhecimento científico, a qual, frequentemente, é fraca ou inexistente. Por isso, é necessário que o Estado e o setor privado unam esforços visando o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dessas ferramentas de gestão. Referências Bibliográficas Agência Nacional de Águas (ANA). Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil: 2013. Brasília, DF. ANA. Agência Nacional de Águas (ANA) Comitês de Bacias Hidrográficas. Disponível em http://www.cbh.gov.br. Acesso em 15 de agosto de 2014. AKHMOUCH, A. Water Governance in Latin America and the Caribbean: a Multi-Level Approach. OECD Regional Development Working Papers, 2012. ANDREOLI, C. V.; HOPPEN, C.; PEGORINI, E. 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As coletas para as análises das variáveis físico-químicas e bacteriológicas foram realizadas em seis pontos de amostragens, nos períodos de estiagem e das chuvas. Por meio destas variáveis, o IQA e o IET foram estabelecidos para cada local, nos dois períodos de coleta. Os resultados classificaram a água como de boa qualidade em quase todos os pontos estudados. Isso sugere que a atividade de piscicultura praticada no açude não está comprometendo os múltiplos usos da água do reservatório. Por terem a facilidade de comunicação com o público não técnico através dos seus resultados, os índices podem ser replicados nas regiões com características semelhantes e cada vez melhorados nos estudos posteriores. Palavras-chave: Qualidade da água, piscicultura, índices de qualidade da água. SITUATIONAL ANALYSIS OF WATER QUALITY IN AREAS OF AN INSTALLATION OF PISCICULTURE IN CEARÁ – BRAZIL Abstract The water quality indexes have often been studied, taking advantage of the use of your information as management tools for decision making regarding water resources. This study aimed to assess the variation in water quality indexes (WQI) and trophic state (mTSI) in the areas of influence of an installation to family pisciculture in the weir Pereira de Miranda in Pentecost, Ceará. Data were collected to analysis physicochemical and bacteriological for sampling at six sites in the dry and rainy season). Through these variables the WQI and STI were established for each site in the two collection periods. The water results were classified as good quality in almost all the points studied. This suggests that fish farming activity practiced in the wier are not compromising the multiple uses of the reservoir water. Because they have the ease of communication with the non-technical public through their results, such 232 indices can be replicated in the regions with similar and increasingly improved in features studies. Key-words: Water quality, pisciculture, water quality index. Introdução Durante séculos a humanidade tratou a natureza como uma fonte inesgotável de bens de consumo que poderiam ser utilizados e explorados sem limites. Dentre esses recursos, encontra-se a água, um importante recurso natural indispensável para a sobrevivência não somente humana, mas de muitos outros seres no planeta. Para os seres humanos, a água tem influência direta sobre a saúde, o bem-estar humano e o desenvolvimento do ser humano (OMS, 2001). Enquanto no planeta desempenha um papel ecológico decisivo com respeito à existência e à qualidade de vida (Simões et al., 2007). A qualidade da água se determina em função dos processos de ocupação em uma bacia hidrográfica, sendo modificada por diversos fatores atuantes, como por exemplo, a implantação dos processos agropecuários, lançamento de efluentes domésticos, retirada de mata ciliar, etc. Os problemas de abastecimento hídrico no Brasil decorrem da combinação do crescimento exagerado das demandas localizadas associadas à degradação da qualidade das águas (Oliveira, 2009). Na medida em que cresce a população que faz uso de um determinado recurso hídrico superficial (rio, reservatório, canal ou lagoa), há também um crescimento da demanda, contribuindo para aumentar a frequência com que acontecem períodos de escassez, e uma tendência por aumentar os impactos ambientais, contribuindo por deteriorar a qualidade da água. Simões et al., (2007) complementam que esse quadro é consequência do crescimento urbano desordenado com o desenvolvimento econômico, agrícola, industrial e tecnológico, os quais foram os principais responsáveis pela degradação da qualidade das águas de rios, lagos e reservatórios. Nesta perspectiva, surgiram os índices de qualidade da água visando resumir as variáveis analisadas em um número que possibilitasse analisar a evolução da qualidade da água no tempo e no espaço, facilitando sua interpretação diante de extensas listas de variáveis ou indicadores, otimizando assim, o uso dessas informações como ferramentas gerenciais e na tomada de decisões relativas aos recursos hídricos (Gastaldini e Souza, 1994 apud Oliveira, 2009). Os corpos d’água no Brasil são classificados de acordo com a Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (Brasil, 2005), podendo apresentar 4 classes de qualidade baseados nos parâmetros indicadores de qualidade da água, assim quanto ao uso a que se destinam. Neste trabalho foi usado o critério de classificação para classe 2, tendo em conta que esta classe de qualidade se destina à aquicultura e à atividades de pesca e conforme o Artigo 42, da resolução acima mencionada, enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas doces serão consideradas classe 2. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA, 2009) o IQA foi criado em 1970, nos Estados Unidos, pela National Sanitation Foundation (NSF), tendo São Paulo como primeiro estado a adotá-lo, em 1975, e hoje aceito nacionalmente como principal indicador de qualidade das águas utilizado no país (São Paulo, 2007). Na região Nordeste do Brasil a questão da eutrofização dos açudes é preocupante. Os corpos hídricos ficam submetidos à intensa evaporação e escassas precipitações, concentrando sais e compostos de fósforo e nitrogênio, algo que intensifica o crescimento de microalgas e 233 cianobactérias (Lampareli, 2004) e por sua vez a eutrofização. Para amenizar essa problemática, o IET tem como finalidade classificar corpos d’água em diferentes graus ou níveis de trofia, ou seja, avalia a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito relacionado ao crescimento excessivo das algas ou ao aumento da infestação de macrófitas aquáticas (São Paulo, 2006). Este índice sofreu várias adaptações ao longo do tempo, sendo atualmente calculado em função dos valores médios de fósforo total e clorofila a, e sendo expresso para rios e reservatórios. Conforme a classificação proposta por Toledo (1990), os valores de IET médio podem variar de oligotrófico (IETm ≤ 44) a hipertrófico (IETm > 74). Esta investigação avaliou a qualidade da água nas áreas de influência de uma instalação de piscicultura no reservatório Pereira de Miranda, localizado no município de Pentecoste, no estado do Ceará, por meio da aplicação dos índices de qualidade da água (IQA) e do estado trófico (IET). A pesquisa reveste-se de fundamental importância para a região, na medida em que os índices são fundamentais nos processos decisórios de políticas públicas de qualidade da água nos açudes públicos e no acompanhamento dos seus efeitos. Metodologia O estudo foi realizado no reservatório Pereira de Miranda, construído sobre os leitos dos rios Canindé e Capitão Mor, no município de Pentecoste, no Estado do Ceará (Figura 1). É o maior açude da bacia hidrográfica do sistema Curu, com capacidade de acumulação de 395.638.000 m³ e suas águas têm como finalidades o abastecimento de água, a regulação do rio Curu, a irrigação das terras a jusante, a geração de energia elétrica, a piscicultura e o aproveitamento das culturas à montante, influenciando diretamente o bem-estar humano e ecossistêmico. 234 Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo e de distribuição dos pontos de coleta. Fonte: Sá (2012). Os dados referentes aos parâmetros físico-químicos e bacteriólogicos, que compoem os índices de qualidade da água e do estado trófico, foram coletados no período de estiagem e no período chuvoso, com um total de seis pontos de amostragens. Das 35 variáveis indicadoras de qualidade de água, 9 (nove) foram selecionadas por serem mais relevantes para o tipo de uso desse recurso hídrico - abastecimento público (Tabela 1). Desse modo, foram trabalhadas as seguintes variáveis: 1) oxigênio dissolvido, 2) pH, 3) temperatura, 4) demanda bioquímica de oxigênio, 5) fósforo total, 6) nitrogênio total, 7) sólidos totais, 8) coliformes termotolerantes e 9) turbidez (São Paulo, 2007). O resultado determina a qualidade das águas, que pode variar de péssima (0 < IQA ≤ 20) a ótima (80 < IQA ≤ 100). Tabela 1. Variáveis analisadas no IQA e respectivas metodologias de análises. Parâmetros Métodos analíticos pH Oxigênio dissolvido Peagâmetro Método iodométrico de Winkler modificado pela azida Demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) Incubação (20°C, 5dias), com leituras de oxigênio dissolvido obtido pelo método iodométrico. Oxidação alcalina com persulfato de sódio seguida de método do ácido arcórbico Oxidação alcalina com persulfato de sódio seguida de método da coluna redutora de cádmio Turbidimêtrico com turbidímetro Thermo Orion Fósforo total (PT) Nitrogênio total Turbidez 235 Sólidos dissolvidos totais Clorofila a modelo AD 2010 Gravimétrico a 100 ºC Filtragem e espectrofotometria Coliformes termotolerantes Temperatura Tubos múltiplos Sonda As análises foram realizadas no Laboratório de Geoquímica Ambiental do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará, cujos procedimentos metodológicos foram seguidos de acordo com o Standard Methods (Apha, 2005); Grasshoff et al., (1983) e São Paulo (2006). O cálculo do IQA foi efetuado de acordo com a fórmula abaixo descrita (São Paulo, 2007; ANA, 2009). n IQA qi wi i 1 Equação (1) Onde, IQA: Índice de Qualidade da Água, um número entre 0 e 100; qi: qualidade individual (sub-índice) do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido em função de sua concentração ou medida; wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da sua importância para a conformação geral de qualidade, e n: número de parâmetros que entram no cálculo do IQA. O IET tem como finalidade classificar corpos d’água em diferentes graus de trofia, ou seja, avalia a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito relacionado ao crescimento excessivo das algas ou ao aumento da infestação de macrófitas aquáticas. Este índice sofreu várias adaptações ao longo do tempo, sendo atualmente calculado em função dos valores de fósforo total e clorofila a, e sendo expresso para rios e reservatórios (Cetesb, 2006; Toledo, 1990). O IET é obtido por meio dos valores de fósforo total – IETPtot e da clorofila a – CLa, segundo as equações para reservatórios de Lamparelli (2004), apresentadas a seguir: Ptot = 10 x [6-(1,77-0,42x(ln PT)/ln 2)] Equação (2) CLa = 10 x [6-(0,92-0,34x(ln CL)/ln 2)] Equação (3) Onde Ptot: Fósforo total CLa: Clorofila a Ln: logaritmo neperiano Uma vez disponíveis os dados de ambas variáveis (fósforo total e clorofila a), em todos os pontos analisados, o índice de estado trófico médio (IETm) foi calculado a partir da média aritmética simples dos índices relativos ao fósforo total e a clorofila a, conforme a expressão: 236 IETm = [(PTtot) + (CLa)] / 2 Equação (4) Resultados Os valores de pH variaram entre 7.9 e 8.7 em todos os períodos amostrados, apresentando-se dentro da neutralidade e atendendo aos padrões de qualidade da água de classe 2 da Resolução Conama 357/2005 que estabelece o limite de 6.0 – 9.0 para o pH. Os ecossistemas com elevados valores de pH, segundo Esteves (1998), são encontrados, geralmente, em regiões com balanço hídrico negativo, isto é, quando a precipitação é menor do que a evaporação. No Brasil os açudes nordestinos, especialmente durante o período de estiagem, apresentam valores de pH geralmente superiores a 8.0. No açude estudado foi observada uma nítida diferença sazonal nos valores de pH, mas um leve aumento no período de chuvas, indicando que estas foram insuficientes para causar mudanças. Para o oxigênio dissolvido (OD) o valor máximo obtido nas análises de água foi de 7.5 mg L1 fato ocorrido no período das chuvas no ponto de coleta 2, e o valor mínimo de 4.0 mg L1 ocorreu no período de estiagem no ponto 4. Em alguns pontos amostrados, na estiagem, os valores de OD não apresentaram concordância com o limite estabelecido pela resolução Conama 357/2005 que define uma faixa de ≥ 5 mg L-1. Porém, para a atividade de piscicultura a concentração mínima de oxigênio recomendada deve ser ≥ 4.0 mg L-1 (Arana, 1999). A demanda bioquímica de oxigênio, ou seja, quantidade de oxigênio consumido durante 5 dias (DBO5), apresentou variações com valores mínimos de 1.4 mg L-1O2 tanto no período de estiagem (Pontos 4 e 6) como nas chuvas (Ponto 6), respectivamente. O máximo valor obtido desse parâmetro foi de 3.5 mg L-1O2, corroborando estar dentro dos limites estabelecidos pela Resolução do órgão ambiental responsável (≤ 5 mg L-1). Cabe acrescentar que valores elevados de DBO podem reduzir os níveis de oxigênio na água. Águas com níveis de DBO inferiores a 4 mg L-1 O2 são razoavelmente limpas, já com 10 mg L-1 O2 são consideradas poluídas, uma vez que elas contém grandes quantidades de matéria orgânica (McNeely et al., 1979). Enquanto a redução da matéria orgânica, segundo Esteves (1998), é atribuída à sedimentação e/ ou precipitação ou decomposição da mesma. Quanto ao fósforo total, nenhum dos valores encontrados nos pontos estudados, atendeu ao padrão estabelecido aos teores de fósforo total pela Resolução Conama 357/05 (≤ 0.05 µg L1 ), contudo, não foram verificadas fontes pontuais de poluição antrópica como os esgotos domésticos ricos em compostos superfosfatados presentes em detergentes e matéria fecal. Os valores mais altos do fósforo foram encontrados nas zonas de influência da atividade de piscicultura e no ponto de encontro das águas do rio Canindé e capitão Mor, como por exemplo, nos pontos P-3 (0.20) e P-6 (0.17). Logo, não se descarta a possibilidade de oscilações do teor de fósforo estarem sendo ocasionadas pelo fornecimento de ração aos peixes cultivados, uma vez que ao longo do açude verificam-se outras instalações de piscicultura. A determinação das concentrações de fósforo na água e sedimentos é uma etapa fundamental para o monitoramento e controle da eutrofização artificial, bem como para o conhecimento dos padrões de ciclagem do fósforo em ambientes aquáticos (Esteves, 2011). Wetzel (1993) defende que a variabilidade no comportamento do fósforo na coluna d’água está relacionada ao seu próprio ciclo biogeoquímico que, por sua vez, é fortemente influenciado por fatores ambientais como pluviosidade, temperatura, pH e atividades biológicas. Segundo Esteves 237 (1998), o fósforo é um dos parâmetros mais importantes para a qualidade das águas, devido sua participação no metabolismo dos seres vivos, constituindo num dos principais fatores limitantes para a produtividade primária em ecossistemas aquáticos continentais. A desconformidade dos resultados do fósforo com o estabelecido pela Resolução Conama pode também estar relacionada às características naturais do ambiente, já que as fontes naturais desse nutriente são as próprias rochas da bacia de drenagem onde a sua liberação ocorre a partir da desagregação da forma cristalina dos minerais primários das rochas, dentre estes, o mais importante é a apatita, mineral que contém 95% do fósforo existente na crosta terrestre (Smil, 2000). Portanto, apenas os monitoramentos de longo prazo da qualidade da água em pontos à montante e à jusante das atividades de piscicultura podem contribuir para o esclarecimento da variabilidade no comportamento do fósforo. No período de estiagem os valores de nitrogênio total variaram de 0.30 a 1.21 mg L-1, já no período chuvoso este parâmetro variou de 1.05 a 1.56 mg L-1, valores mínimos e máximos, respectivamente. Nota-se um ligeiro aumento do valor medido de nitrogênio total no período das chuvas, fato que talvez esteja relacionado com o aporte de matéria orgânica carreada pela chuva para o corpo hídrico. Contudo, os valores medidos de nitrogênio total atendem à Resolução Conama (2.18 mg L-1), indicando boa qualidade da água em relação a este parâmetro. Esteves (2011) explica que uma das principais fontes de nitrogênio para os ecossistemas aquáticos continentais são as chuvas, aporte de material orgânico e inorgânico a partir de ecossistemas adjacentes, a fixação biológica de nitrogênio (processo de transformação de N2 em N biológico), além do aporte do de efluentes domésticos e industriais não tratados ou parcialmente tratados nos corpos d’água. A turbidez da água variou de 11 a 19 UNT, valores inferiores ao limite aceitável, ou seja, em todos os pontos amostrados, os valores de turbidez obedeceram ao padrão estabelecido pela legislação vigente, estando abaixo de 100 UNT. Barros et al. (2001) encontraram valores de turbidez na sub-bacia Córrego André, MS, variando de menor (4.3 UNT) ao maior valor (83.2 UNT), porém dentro do limite estabelecido em relação ao padrão de qualidade. A turbidez é um dos parâmetros mais importante nos estudos de qualidade da água devido a grande adsorção de substâncias tóxicas, tanto orgânicas como inorgânicas, às partículas coloidais e em suspensão. De acordo com Vilaginès (2003), em média 90% das substâncias tóxicas são adsorvidas por estas partículas. O sólido total é a matéria que permanece após a evaporação da amostra de água durante um determinado tempo e temperatura. Esses materiais aumentam a turbidez e diminuem a transparência da água e ao longo do tempo causam assoreamento. Os resultados de sólidos totais oscilaram de 0.8 a 11.6 mg L-1 no período de estiagem, e de 2.0 a 18.2 mg L-1 no período chuvoso. Estes resultados explicam os baixos valores de turbidez encontrados em todos os pontos amostrados. Boyd; Tucker (1998 apud Cicigliano, 2009) afirmam que os valores para sólidos totais devem ser inferiores a 30 mg L-1, para o bom desenvolvimento de peixes em tanques-rede. Moraes (2005) realizou no mesmo açude um estudo sobre análise dos aspectos ambientais e descobriu maiores concentrações de sólidos no período de estiagem (2.0 e 43.0 mg L-1) que no período chuvoso, com variações entre 4.4 e 9.6 mg L-1. Os valores encontrados de clorofila a oscilaram bastante durante o período investigado, resultando em valores mínimo e máximo iguais a 0.6 e 18.2 µg L-1 no ponto 2 (período de estiagem) e no ponto 4 (período de chuvas). A concentração desse pigmento é comumente utilizada em estudos limnológicos para estimar a biomassa fitoplanctônica de um corpo hídrico e o seu emprego nestes estudos se refere ao papel como um dos principais 238 responsáveis pela fotossíntese, sendo, portanto, um valioso indicador do estado trófico de um ecossistema aquático. Oliveira (2009) realizou um estudo de qualidade ambiental deste mesmo reservatório por meio de índice do estado trófico, onde encontrou uma grande variação de clorofila a durante a série temporal proposta, oscilando de 0.7 a 48.5 µg L-1. O autor concluiu que a evolução da produtividade primária pode ser uma resposta da comunidade fitoplanctônica com a proximidade da parede do açude, que, por acumular as águas drenadas dos rios, aumenta o tempo de residência e por consequência o tempo de assimilação desses nutrientes disponíveis na água. Os coliformes termotolerantes são indicadores de contaminação de origem fecal. Águas com níveis elevados deste indicador apresentam riscos à saúde humana e ao meio aquático, pois sugerem a presença de patógenos (São Paulo, 2004). De acordo com a resolução Conama nº 357/2005 as águas dos reservatórios não deverão exceder o limite de até 1.000 NMP de coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos seis amostras de água. No resultado apresentado na Tabela 2 não foi detectado o crescimento de nenhuma célula nos pontos analisados, não revelando nenhum risco ambiental. O não recebimento de efluentes industriais podem ter contribuído para este resultado. Portanto, os índices de coliformes obtidos atenderam os limites dos padrões estabelecidos pela legislação vigente. Tabela 2. Resultados das análises de água em diferentes pontos de amostragem no açude Pereira de Miranda para o cálculo do IQA e IET nos períodos de estiagem e chuva. Variáveis Resolução (nº357/2005) Unidades classe 2 Estiagem Chuva P1 P2 P3 P4 P5 P6 P1 P2 P3 P4 P5 P6 Coliformes termotolerantes 1000 (NMP/ 100mL) aus aus aus aus aus aus aus aus aus aus aus aus pH 6.9 – 9.0 − 7.9 7.9 8.0 8.0 7.9 8.0 8.1 8.6 8.4 8.7 8.4 8.3 DBO5 ≤5 mg L-1 2.8 3.0 2.1 1.4 1.6 1.4 3.5 3.0 2.9 3.2 3.0 1.4 Nitrogênio total 2.18 mg L-1 1.2 0.8 1.0 0.9 0.30 0.9 1.5 1.1 1.1 1.1 1.1 1.0 Fósforo total ≤ 0.05 µg L-1 0.1 0.1 0.1 0.1 0.16 0.1 0.1 0.1 0.2 0.1 0.1 0.1 Turbidez ≤ 100 UNT 15.3 16.1 16.3 16 17 11 12 17 19 18 17 16 Sólidos totais − − 5.6 5.4 11.6 0.8 6.1 4.4 2.4 3.1 4.5 18.2 14 2.0 Oxigênio dissolvido ≥5 mg L-1 4.9 4.9 5.4 6.2 4.5 6.0 7.5 6.6 6.7 6.0 Clorofila a 30 µg L-1 6.5 0.6 5.4 12.7 5.2 11.6 19.0 14.7 7.7 18.2 5.9 10.2 Temperatura aus: ausência − ºC 30 28.4 26.5 27.2 4.0 31 7.0 30.9 29.6 27.5 30.5 31.4 29.0 28.1 Com relação à temperatura da água, no período de estiagem os valores deste parâmetro variaram de 27.23 a 31.0 ºC. Já no período chuvoso houve uma variação de 27.46 a 31.57 °C. A temperatura influencia vários parâmetros físico-químicos da água, pois todos os corpos d’água apresentam variações de temperatura ao longo do dia e das estações do ano. Valores semelhantes a estes também foram encontrados por Moraes (2005) no seu estudo sobre análises dos aspectos ambientais do mesmo açude. Gurgel e Fernando (1999) verificaram na mesma área de estudo a circulação da água da superfície ao fundo durante todo o ano, nunca 239 se observando qualquer momento de estratificação térmica. A elevada temperatura do ar e a intensa radiação solar durante todo o ano são responsáveis pelas elevadas temperaturas da água. As pequenas variações de temperatura, observado por Gurgel e Fernando (op cit.) entre as três camadas (superfície, meio e fundo) podem estar relacionadas a esses fatores e a ação dos ventos. Os valores dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos das águas superficiais nos pontos estudados do açude Pereira de Miranda foram utilizados para o cálculo do IQA, sendo realizada uma comparação dos valores obtidos no cálculo com a classificação da qualidade das águas recomendada pela CETESB. Analisando os valores do IQA para os dois períodos em que foram feitas as amostragens, verificou-se que as águas de quase todos os pontos estudados situam-se na categoria de classificação “boa” com exceção do ponto-1 do período de estiagem destacado na categoria de classificação “ótima” (Tabela 3). Tabela 3. Valores do IQA estabelecidos pelos cálculos para os pontos estudados no decorrer da pesquisa. Pontos 1 2 3 4 5 6 Índice médio IQA 81.78 75.93 78.83 72.91 76.43 76.93 77.14 Estiagem Classificação Ótima Boa Boa Boa Boa Boa Boa Chuva IQA 74.78 74.48 74.66 68.98 75.25 66.89 72.50 Classificação Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Quanto aos valores do IETm (Tabela 4), constatou-se que no período de estiagem as águas dos pontos (P4 e P6) classificaram-se como “mesotrófico”, o que significa que há uma produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade da água, porém em níveis aceitáveis, enquanto que os demais (P1, P2, P3 e P5) situaram-se dentro do grau “oligotrófico”, ou seja, existem baixas concentrações de nutrientes e pouca produtividade, logo, a qualidade da água não ocasiona prejuízo aos usos múltiplos do recurso no manancial. Já no período chuvoso, verificou-se, segundo os resultados obtidos nos cálculos, que as águas de todos os pontos analisados classificaram-se como “mesotrófico”. Tabela 4. Valores do IETm estabelecidos pelos cálculos para os pontos estudados no decorrer da pesquisa Pontos 1 2 3 Estiagem IETm 42.55 37.50 42.50 Chuva Grau de trofia Oligotrófico Oligotrófico Oligotrófico IETm 49.13 51.60 49.88 Grau de trofia Mesotrófico Mesotrófico Mesotrófico 240 4 5 6 44.70 43.50 44.75 Mesotrófico Oligotrófico Mesotrófico 50.86 52.23 50.35 Mesotrófico Mesotrófico Mesotrófico Índice médio 42.58 Oligotrófico 50.67 Mesotrófico Conclusões Os parâmetros analisados atenderam, parcialmente, aos padrões dos valores estabelecidos pela resolução CONAMA nº 357/2005 para água classe 2. As variações apresentadas não foram significativas a ponto de refletirem nos resultados finais. O índice de qualidade da água (IQA), observado nos seis pontos estudados, revela que a água teve classificação entre “ótima” (apenas 1 ponto) e “boa”, e isso pode indicar que a atividade de piscicultura não influenciou diretamente na qualidade da água nos períodos em que foi realizado o estudo e consequentemente os usos previstos para água do açude. O índice de estado trófico médio (IETm), observado nos seis pontos amostrados, foi classificado, de acordo com o grau de estado de trofia em “oligotrófico” (baixa produtividade de nutrientes e consequentemente, baixo prejuízo aos usos múltiplos nos pontos amostrados) e “mesotrófico”, indicando que existe uma ocorrência de produtividade intermediária de nutrientes nos pontos em questão, porém em níveis aceitáveis. Ressalta-se que essa é uma condição comum nas águas continentais do estado do Ceará, com ou sem a prática de piscicultura. Além das técnicas citadas neste trabalho para indicar as condições de qualidade da água nos sistemas de criação de peixes, respostas satisfatórias podem ser obtidas através da aplicação de práticas adequadas de manejo. Devem-se levar em consideração diversos estudos que abordam a importância de conhecer a dinâmica de funcionamento do sistema de criação de peixes através de uma visão integrada de meio ambiente e manejo ecológico. Embora Valenti (2008) demonstra, através de indicadores, que a aquicultura brasileira não é sustentável, os efeitos ambientais podem ser minimizados, sendo necessário averiguar a capacidade de suporte das estruturas utilizadas para produção de peixes, monitorando, controlando e aplicando técnicas de manejo compatíveis ao tipo de produção e visando estabilidade das condições ambientais. Assim, concluiu-se que a atividade de piscicultura praticada no açude não está comprometendo os múltiplos usos da água do reservatório. Por terem a facilidade de comunicação com o público não técnico através dos seus resultados, tais índices podem ser replicados nas regiões com características semelhantes e cada vez melhorados nos estudos posteriores, com vista ao equilíbrio entre as necessidades e as limitações do piscicultor com o ecossistema aquático, estabelecendo o princípio de sustentabilidade. Referências 241 AMANCIO, A. L. L.; FARIAS, W. R. L. e SILVA NETO, A.R. da. Balanço de nutrientes da água do açude Pentecoste (Pentecoste, Ceará, Brasil) no período de março a dezembro de 2004. Revista Ciência Agronômica, Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Nº. 2, 340 – 348 p. jul.-dez. 2004. ANA – Agência Nacional de Águas. Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas – PNQA. Portal da qualidade das águas, 2009. ARANA, L. V. Aquicultura e desenvolvimento sustentável: subsídios para a formulação de políticas de desenvolvimento da aqüicultura brasileira. Ed. da UFSC. 310 p. 1999. 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Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa que abordou os seguintes conceitos: desenvolvimento alternativo; desenvolvimento sustentável; e, agricultura familiar. O resultado foi a estruturação e aplicação de 115 variáveis, 03 dimensões e 03 princípios que configurou o sistema de indicadores DASAF. Os resultados obtidos demonstraram que o valor do índice do sistema de indicadores DASAF foi igual a 0,5271. Conclui-se que as práticas, os costumes, os valores que nutrem a existência da agricultura familiar na comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras apresentaram uma vinculação intermediária com o desenvolvimento alternativo e sustentável. Palavras-chave: Agricultura familiar, Indicadores, Nordeste brasileiro. The construction a system of indicators for family farm in Northeast Brazilian ABSTRACT The objective of this study is to propose a model to reveal the levels of binding of family farming with the principles of alternative and sustainable development, structured dimensions, variables, topics and indicators that originated the system of indicators titled DASAF. To this end, an exploratory survey of quantitative and qualitative was performed mainly approached the alternative development, sustainable development, and family farming. The system DASAF has 115 variables, 38 indicators, 3 dimensions and 03 principles that allows you to check the levels of linkage between practices and values of family farming and alternative and sustainable development. The results showed that the index value of the indicator DASAF system was equal to 0.5271. It is concluded that the practices, customs, values that nourish the existence of family farming in Varzea Comprida dos Oliveiras-PB/BR community showed an intermediate binding with alternative and sustainable development. Key Words: Family farming, Indicators, Northeast Brazilian. Introdução 244 A agricultura familiar no contexto brasileiro, historicamente enfrenta entraves gerados pelo sistema capitalista, tanto em relação à estrutura fundiária, quanto nas relações de trabalho. Percebe-se que existe uma força tentando construir caminhos para cooptar as unidades produtivas familiares para serem subservientes ao modelo de desenvolvimento que foi estruturado praticamente enquanto sinônimo de crescimento econômico. Mediante este panorama geral buscou-se apoiar-se em construções teóricas que apresentassem modelos coletivos de desenvolvimento que ajudassem a elucidar as especificidades da agricultura familiar, e em especial daquela que garante o sustento de pessoas que habitam o nordeste brasileiro. Assim, encontrou-se obras de pensadores de reconhecimento nacional e internacional (Abramovay,1992; Santos e Rodríguez, 2002; Altieri, 2002; Wanderley, 2002; Buainaim, Romeiro e Guanziroli, 2003; Sabourin, 2008; McNeel e Scheer, 2009; Guimarães e Feichas, 2009; e, Mazoyer e Roudart, 2010) que convergem no sentido de afirmar que existem caminhos alternativos ao modelo de desenvolvimento historicamente adotado pelos países capitalistas. No modelo coletivo de desenvolvimento, as pessoas precisam pensar nas atividades, mas também em formas de organizá-las, de modo que estas apresentem um viés, mais participativo, visando à integração de todos os envolvidos, direta e indiretamente; que sejam pautadas numa viabilidade; que tenham como foco a solidariedade, tomando o lugar da competitividade e, da obtenção de lucros de modo discriminado. E, que também apresentem um potencial emancipatório, a partir da possibilidade das pessoas serem livres para fazerem suas próprias escolhas, mas sem esquecer o bem maior e a coletividade. Assim, o desenvolvimento alternativo (Friedmann, 1992; Pieterse, 1998; Santos e Rodríguez, 2002) apresenta três dimensões, que funcionam como se fosse o alicerce da construção do pensamento e, também demonstre o caminho para a concretização de unidades alternativas de produção, que são as formas de organização, a viabilidade e o potencial emancipatório. O desenvolvimento alternativo e o desenvolvimento sustentável apresentaram características que os unem e, se posto em prática, poderá vir a ser uma possibilidade de dinamização de espaços rurais. No entanto, Leff (2010) alegou que isto só será possível, através do desenvolvimento sustentável, se houver uma reconstrução do paradigma que norteia a economia. Neste contexto, a sustentabilidade coloca em cheque a produção e o processo econômico, o que demanda a necessidade da criação de novos sistemas de ações, que valorizem acima de tudo a identidade de um grupo de atores que constrói o espaço. Assim, o objetivo deste trabalho foi demonstrar o processo de construção do sistema de indicadores denominado como Desenvolvimento Alternativo e Sustentável na Agricultura Familiar (DASAF) e sua aplicação na comunidade rural Várzea Comprida dos Oliveiras, localizada no município de Pombal-PB, Nordeste brasileiro. A lógica de elaboração deste sistema de indicadores seguiu a proposta de Benasayag e Rey (2012), os quais afirmam que a humanidade precisa ser “reposicionada” e, assim, ter acesso a um pensamento orgânico sobre o mundo, sobre as questões sociais e ambientais. 245 Considera-se que esta é uma proposta metodológica de construção de sistema de indicadores que pode ser aplicada em escalas locais e em unidades produtivas ligadas a agricultura familiar que a princípio apresentem alguma característica semelhante ao que cita a teoria, para se verificar os níveis de vinculações. E, no tocante aos resultados e considerações finais, verificou-se que a aplicação do sistema de indicadores DASAF trata-se de algo viável e que revela os níveis de vinculações entre a base teórica proposta e a realidade da agricultura familiar. O processo de construção do sistema de indicadores – DASAF: uma proposta metodológica No processo de construção do sistema de indicadores – DASAF identificou-se os princípios que são comuns às teorias do desenvolvimento alternativo e do desenvolvimento sustentável. Assim, destaca-se a igualdade, a solidariedade e a proteção à natureza. Verificou-se, então, componentes que são fundamentais para atingir um novo modelo de desenvolvimento que foram considerados como pontos de convergência entre as duas teorias. Os pontos convergentes foram fundamentais para definir as dimensões, daí destacou-se: forma de organização, a viabilidade e o potencial emancipatório. A primeira dimensão Formas de Organização foi construída a partir da identificação de elementos que têm vinculações diretas com a organização e que podem contribuir ou não com o desenvolvimento alternativo e sustentável na agricultura familiar. Na segunda dimensão, denominada de Viabilidade, descreveu-se os elementos que têm relações diretas com a execução da agricultura familiar diante da lógica de um novo desenvolvimento e da sustentabilidade e neste aspecto abordou-se também o processo de integração entre produtor e consumidor. Na terceira dimensão, designada de Potencial Emancipatório, compreendeu-se que a emancipação tem como princípio regulador a democracia participativa. Por sua vez, a participação foi entendida como uma técnica de gestão, mas também um elemento de mudança social. Assim, ela atua em três esferas: pessoal, social e cultural. Por sua vez, as formas de organização pautaram-se nos três princípios, assim como a viabilidade e o potencial emancipatório. Dessa maneira, foram descritos os temas e os indicadores específicos ligados a variável forma de organização que apresentaram vínculos com o desenvolvimento alternativo e sustentável, assim como para viabilidade e para potencial emancipatório; elementos relevantes na construção do sistema de indicadores do Desenvolvimento Alternativo e Sustentável na Agricultura Familiar (DASAF). As dimensões, as variáveis e os parâmetros são resultados das leituras realizadas, e têm como base os princípios do desenvolvimento alternativo e sustentável, pois acredita-se que, desta maneira, seria possível identificar e até mesmo construir indicadores capazes de analisar uma ou mais unidades produtivas do tipo familiar. O sistema de indicador DASAF configurou-se na seguinte estrutura. Três princípios (Igualdade, Solidariedade e Proteção à natureza) que nortearam a constituição de três dimensões (Formas de Organização, Viabilidade e Potencial Emancipatório). A dimensão Formas de Organização estruturou-se a partir de seis (06) temas e dezoito (18) indicadores. A dimensão Viabilidade alicerçou-se em seis (06) temas e seis (06) indicadores. E, a dimensão 246 Potencial Emancipatório pautou-se em cinco (05) temas e cinco (05) indicadores, conforme quadro 1: Quadro 1 – Composição do sistema de indicadores DASAF PRINCÍPIOS DIMENSÕES Formas de Organização Habitação TEMAS INDICADORES Aspectos da habitação Trabalho Planejamento do trabalho Organização Social Atividades sociais, políticas e culturais Influência de políticas públicas assistencialista na unidade produtiva Transporte Relações externas Alianças capitalistas Ações promotoras de políticas públicas Avaliação e atuação do Estado Tecnologia e crédito Assessoria à comercialização por órgãos competentes Identificar elementos simbólico-culturais da comunidade rural Aspectos da democracia participativa Elementos que expressam relações de poder e conflitos Dados sobre coletividade na comunidade rural Tipos de acesso na comunidade rural Relações sociais na habitação Organização do trabalho e na produção Atividades empresariais comunitárias Formação de grupos Atividades de integração Recursos humanos e aspectos das políticas públicas setoriais Agricultores(as) que acreditam na força de seu trabalho Elementos de cooperação entre famílias da comunidade rural Integração e interação nas unidades de produção Participação efetiva Capacidade de articulação em escala local Política Pública Infraestrutura Valorização do Trabalho Cooperação Igualdade Viabilidade Participação Integração na/da Produção Assistência Técnica Identidade Potencial Emancipatório Democracia Participativa Relação de Poder e Conflito Coletividade Acesso Habitação Formas de Organização Trabalho Organização Social Política Pública Valorização do Trabalho Solidariedade Cooperação Viabilidade Integração na/da Produção Participação Atuação/Fortalecimento da escala local Potencial Emancipatório Identidade Ambiente Natural Proteção à Natureza Formas de Organização Organização Social Trabalho Habitação Viabilidade Potencial Emancipatório Infraestrutura Assistência Técnica Coletividade Elementos da identidade da comunidade rural Aspectos físicos/naturais da terra Cuidados com a terra Gestão ambiental e sanitária Educação Ambiental Lazer Agregação de valor a produtos da agricultura familiar Maximização da mercadorização – consumismo e cultura de massa Armazenamento de produtos Assessoria e apoio de órgãos competentes Transformações coletivas na comunidade rural Fonte: Elaboração própria, 2014. 247 A aplicação do sistema de indicadores – DASAF: o caso da comunidade rural de Várzea Comprida dos Oliveiras – Pombal/PB – Nordeste brasileiro Pombal é um município localizado no Nordeste brasileiro, no estado da Paraíba e, mais precisamente na microrregião de Sousa, que enfrenta períodos irregulares de chuvas. Este elemento natural é algo que se soma à falta de infraestrutura adequada para manter a regularidade da agricultura familiar e até mesmo da própria sobrevivência humana. No entanto, sabe-se que estes aspectos naturais não irão sofrer mudanças ao longo do tempo, daí a necessidade de encorpar as discussões sobre como conviver com estes elementos da natureza e, como criar alternativas que garantam a sobrevivência no semiárido. O município destaca-se pelo fato do Rio Piancó entrecortar seu território, bem como por apresentar em número absoluto uma população rural de 6.357 habitantes (IBGE, 2006), que resiste a dificuldades sociais, econômicas e ambientais. Dentre estes habitantes, pode-se verificar que 70,8% das pessoas têm relação de trabalho nos estabelecimentos da agricultura familiar. Segundo o IBGE, ao realizar a contagem populacional em 2006, cuja divulgação aconteceu no ano de 2007, eram aproximadamente 4.500 trabalhadores rurais, ou seja, naquela data, aproximadamente 14,26% da população do município tinham sua ocupação na zona rural. Um levantamento realizado pelo IBGE (2010), no ano de divulgação do último Censo Demográfico, apresenta como setor censitário da zona rural de Pombal-PB a localidade de Várzea Comprida dos Oliveiras. Identificou-se que geograficamente houve uma divisão territorial que inclui outros sítios que extrapolam a concentração de estabelecimentos rurais e de famílias vinculadas à agricultura, que têm atuação na Associação Rural de Várzea Comprida dos Oliveiras e compõem o universo desta pesquisa. Para uma simples demonstração, o universo da pesquisa são 40 representantes familiares que têm inscrição e participam ativamente das atividades da associação. Nos dados do IBGE (2010), existe um total de 104 pessoas que são responsáveis pelos domicílios, sendo a população total residente da localidade são de 396 habitantes, o que representa 1,23% da população total do município de Pombal (32.110 hab.). Neste contexto, a densidade demográfica de Várzea Comprida dos Oliveiras é de 6,58 habitantes por quilômetros quadrado. Em Várzea Comprida dos Oliveiras, os agricultores e as agricultoras familiares estão acreditando na potencialidade da produção orgânica. Atualmente são registrados e atuam na Associação Rural da localidade 40 agricultores/agricultoras (universo da pesquisa) que trabalham com suas famílias no cultivo de Alface, Berinjela, Cebolinha, Coentro, Couve, Pimenta, Pimentão e Quiabo. No entanto, nem todos os 40 agricultores cultivam estes produtos. Verificou-se que o coentro é cultivado por todos os agricultores, mas a alface é cultivada por 97,5% dos agricultores, a cebolinha por 75%, o quiabo por 42,5%, a couve por 35%, o pimentão por 20%, a pimenta por 12,5% e a berinjela é cultivada por apenas 2,5%. Estas informações foram obtidas durante a realização do diagnóstico rural participativo. A pesquisa revelou que 55% dos agricultores estão desenvolvendo a agricultura seguindo os moldes tradicionais, 18% afirmaram que se encontram em um processo de transição para a orgânica, 15% asseguraram que já seguem totalmente os princípios e práticas da agricultura 248 orgânica, 7% revelaram que se encontram no processo de transição para a agroecológica e, 5% garantiram que já se adequaram totalmente às práticas da agricultura agroecológica. Mediante este contexto foi realizada a estruturação do sistema de indicadores DASAF (Desenvolvimento Alternativo e Sustentável da Agricultura Familiar) que possibilitou verificar a realidade vivenciada pelos agricultores familiares e os níveis de vinculação com o desenvolvimento alternativo e a sustentabilidade. A etapa seguinte referente à aplicação permitiu que fossem calculados os índices por temas, por dimensão e para o sistema de indicadores DASAF. Isto demonstra os níveis de vinculação entre as teorias, as práticas e os valores dos agricultores e das agricultoras familiares de Várzea Comprida dos Oliveiras – Pombal/PB. Deste modo a tabulação dos dados foi construída de modo ordenado e articulado visando a facilitação da interpretação e da análise. Quanto à análise dos dados, foi construída de modo integrado, para que haja uma descrição e uma interpretação das informações, apontando os aspectos mais relevantes e, também aqueles que são reveladores enquanto entraves rumo ao processo do desenvolvimento alternativo e sustentável. Construiu-se uma tabela que relacionou os valores numéricos aos níveis de vinculação e também as cores, como pode ser visto na tabela 01. Tabela 01 – Relação entre os índices, as cores e os níveis de vinculação do DAS Índice ( 0 – 1) 0.0000 – 0.2000 Coloração Nível de Vinculação DAS Nenhuma Vinculação 0.2001 – 0.5000 Pouca Vinculação 0.5001 – 0.6999 Vinculação Intermediária 0.7000 – 0.8000 Muita Vinculação 0.8001 – 1.0000 Totalmente Vinculado Fonte: Adaptado de SALES, 2014; MARTINS; CÂNDIDO, 2008. Para tanto, buscou-se o auxílio de ferramentas computacionais para a formatação, para os cálculos estatísticos e, para a visualização de todos os instrumentos de base numérica e gráfica que resultou na geração dos índices que compõem à análise dos componentes do sistema de indicadores DASAF. Em relação à análise de cada princípio ligado às dimensões, pôde-se verificar que o índice do princípio Igualdade foi de 0,4589, demonstrando que a comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras apresentou pouca vinculação com o desenvolvimento alternativo e sustentável, como demonstrado na tabela 02. Tabela 02 - Índices das dimensões Formas de organização, Viabilidade e Potencial emancipatório responsáveis pelo índice do princípio Igualdade ÍNDICE DO PRINCÍPIO IGUALDADE Formas de Organização Viabilidade 0,4786 0,4673 Fonte: Sistema de indicadores DASAF, 2014. Potencial Emancipatório Valor do Índice 0,4307 0,4589 Quanto ao princípio Solidariedade, identificou-se que a dimensão Formas de organização destacou-se por apresentar o melhor índice, que foi de 0,6875, ou seja, tratou-se de uma 249 vinculação intermediária. No entanto, isto não foi o suficiente para alavancar o índice do princípio, uma vez que as dimensões Viabilidade e Potencial Emancipatório demonstraram índices referentes a pouco vínculo com a teoria. No total, o índice de Solidariedade foi de 0,4968, demonstrando pouca vinculação com o desenvolvimento alternativo e sustentável, como é possível identificar na Tabela 03. Tabela 03 - Índices das dimensões Formas de organização, Viabilidade e Potencial emancipatório responsáveis pelo índice do princípio Solidariedade ÍNDICE DO PRINCÍPIO SOLIDARIEDADE Formas de Organização Viabilidade Potencial Emancipatório Valor do Índice 0,4270 0,4968 0,6875 0,3759 Fonte: Sistema de indicadores DASAF, 2014. O terceiro e último princípio denominado Proteção à Natureza demonstrou uma diversidade de índices ligados a cada dimensão. A dimensão Formas de organização apresentou o valor do índice igual a 0,5481, que interpretou-se como a existência de uma vinculação intermediária. A dimensão Viabilidade teve o pior desempenho, apresentando um índice igual a 0,4968, destacado como pouca vinculação. A dimensão Potencial Emancipatório foi a de melhor desempenho, com um índice igual a 0,8378 (Totalmente vinculado), contribuindo significativamente para o aumento do índice final, ou seja, o referente ao princípio que foi igual a 0,6256, demonstrando vinculação intermediária com o desenvolvimento alternativo e sustentável, como é possível identificar na Tabela 04. Tabela 04 - Índices das dimensões Formas de organização, Viabilidade e Potencial emancipatório responsáveis pelo índice do princípio Proteção à natureza ÍNDICE DO PRINCÍPIO PROTEÇÃO À NATUREZA Formas de Organização Viabilidade Potencial Emancipatório Valor do Índice 0,8378 0,6256 0,5481 0,4910 Fonte: Sistema de indicadores DASAF, 2014. Quanto ao índice DASAF, viu-se que o princípio que mais contribuiu com a elevação do valor do índice final foi Proteção à Natureza, apresentando um valor igual a 0,6256. O valor do sistema de indicadores DASAF foi de 0,5271 (Tabela 05), o que significa que as práticas, os costumes, os valores que nutrem a existência da agricultura familiar na comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras apresentaram uma vinculação intermediária com o desenvolvimento alternativo e sustentável. Tabela 05 - Índices dos princípios Igualdade, Solidariedade e Proteção à natureza que foram responsáveis pelo índice do sistema de indicadores DASAF PRINCÍPIOS E SISTEMA DE INDICADORES IGUALDADE ÍNDICE SOLIDARIEDADE ÍNDICE PROTEÇÃO À NATUREZA DASAF Fonte: Sistema de indicadores DASAF, 2014. ÍNDICES 0,4589 0,4968 0,6256 0,5271 250 No contexto geral, pode-se perceber que o valor do índice do sistema de indicadores DASAF foi igual a 0,5271. Com isto, demonstra-se que as práticas, os costumes, os valores que nutrem a existência da agricultura familiar, na comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras, apresentaram uma vinculação intermediária com o desenvolvimento alternativo e sustentável. Considerações Finais O sistema DASAF levou em apreço a necessidade de revelar especificidades vinculadas com o desenvolvimento alternativo e sustentável, principalmente porque as unidades produtivas da agricultura familiar apresentam um caráter híbrido e holístico, no que tange à organização da produção e do trabalho, e precisam assegurar as dinâmicas cotidianas ligadas aos aspectos ambientais, culturais, sociais, afetivas e, políticas. O sistema DASAF permitiu uma avaliação que levou em consideração a complexidade que é própria das atividades relacionadas à agricultura familiar, porque foi construída a partir de princípios que podem nortear o trabalho, a produção e também o modo de vida dos atores sociais que vivem na comunidade rural. Uma das características do sistema de indicadores DASAF que merece destaque é a possibilidade de enaltecer a relevância da inclusão e valorização da participação social em construção de sistemas de indicadores, podendo ressaltar que foram geradas informações com caráter muito mais qualitativos do que puramente quantitativos e, respeitando as limitações de trabalhar com princípios que não pertencem à lógica do sistema econômico vigente. Portanto, as unidades produtivas precisam ser avaliadas com cautela. A recomendação de cautela na avaliação das unidades produtivas está interligada à existência de conflito entre o paradigma dominante e a própria sobrevivência. No entanto, durante o processo de construção do sistema de indicadores DASAF, isto foi levado em consideração, por isso, os usuários poderão desagregar os valores das variáveis até a escala da unidade produtiva. Para reforçar a coletividade optou-se por realizar as análises dos resultados de modo coletivo, chegando a constatação de que o DASAF demonstrou que a comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras – Pombal/PB tem uma vinculação intermediária com os princípios do desenvolvimento alternativo e sustentável, através das práticas, valores e costumes dos(as) agricultores(as) familiares. Alguns elementos necessários e fundamentais para aumentar o nível de vinculação da comunidade rural de Várzea Comprida dos Oliveiras – Pombal/PB com o desenvolvimento alternativo e sustentável fazem parte de elementos apresentados nas teorias que são: necessidade de formar e fortalecer uma rede de apoio mútuo e de colaboração entre unidades produtivas; extensão da democracia do campo político ao campo econômico, destituindo os papéis autoritários e evoluindo para a democracia participativa; a atuação em escala local visando contribuir com o desenvolvimento local integrado; possibilidades de sinergia com outras esferas da economia e da sociedade através de relações complementares, buscando viabilizar e solidificar o potencial da unidade produtiva. Do mesmo modo, foram identificados alguns elementos que contribuíram com o melhor desempenho do índice e que tem relação direta com as duas teorias, tais quais: o 251 reconhecimento dos atores sociais quanto à necessidade do Estado desempenhar um papel de mobilização de recursos em favor de setores populares, mas respeitando e mantendo a integridade das unidades produtivas, sem causar dependências seja quanto aos ciclos políticos seja quanto aos favorecimentos; incentivo à participação das mulheres nas unidades produtivas; cautela nas avaliações dos êxitos e fracassos da unidade produtiva, pois se trata de um processo gradual; e sugere-se a construção de um paradigma do conhecimento a partir da realização de pesquisas que identifique a existência das unidades produtivas vinculadas ao desenvolvimento alternativo. O mais importante na aplicação do modelo DASAF foi verificar que a comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras demonstra um processo inicial a partir do trabalho de cada um dos(as) agricultores(as) e de suas famílias. Os(as) agricultores(as) estão semeando mais do que sementes de hortaliças, eles(as) estão dando vida a elementos contrários ao que prega a hegemonia capitalista do individualismo e da busca do lucro pelo lucro. Como acontece em qualquer processo em estágio inicial, identifica-se elementos que contribuem mais ou menos com a vinculação entre o sistema de indicadores e as teorias e, outros que são ainda inexistentes. Verificou-se que agricultura familiar é um elemento importante na construção da identidade da comunidade de Várzea Comprida dos Oliveiras e que retrata o modo de vida do sertanejo situado no estado da Paraíba, mais precisamente no espaço rural do município de Pombal. Nota-se que é muito forte a relação entre a construção do espaço sertanejo e a agricultura familiar e que o papel de uma associação que realmente seja atuante é fundamental para ajudar a melhorar a forma de organização, a viabilidade e o potencial emancipatório das unidades produtivas da agricultura familiar, podendo estabelecer laços firmes de igualdade, solidariedade e proteção à natureza. Constatou-se, então, que o sistema de indicadores DASAF e consequentemente a teoria do desenvolvimento alternativo e sustentável possibilitaram identificar características específicas da comunidade analisada ao passo que se verificou que a organização do trabalho e da produção na agricultura familiar pode contribuir com a configuração do espaço rural e, dependendo da adoção dos princípios Igualdade, Solidariedade e Proteção à natureza, é possível diminuir as desigualdades, as injustiças e aumentar a cooperação e a autonomia. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, R. 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Salvador – BA: UFBA, 2006. 254 INVENTARIO DE CICLO DE VIDA EN ENERGÍA Y CARBONO DE UNA PRODUCCIÓN AGRÍCOLA CONVENCIONAL EN BRASIL Adriana Fragalli 1; Alejandro González (de contacto)2; Luiz Panhoca 3 1) Departamento de Contabilidade, UEL Universidade Estadual de Londrina (Brasil); 2) Instituto de Investigaciones en Biodiversidad y Medio Ambiente (INIBIOMA, CONICET y Universidad Nacional del Comahue, Bariloche, Argentina; 3) Departamento de Contabilidade, Universidade Federal do Paraná, UFPR. (Brasil) Email: [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumen La sustentabilidad alimentaria es relevante porque se trata de un sector productivo imprescindible, el cual soporta cada vez mayor presión en escenarios futuros de crecimiento poblacional y limitación de recursos. El sector alimentario involucra procesos biológicos, químicos y físicos que impactan en el medio ambiente en diversas formas: uso de energía y gases de efecto invernadero (GEI), uso y contaminación del agua, eutrofización, pesticidas y productos farmacéuticos, desforestación y desertificación, entre otros. Debido a esto, el análisis de impactos ambientales y sustentabilidad de la producción y consumo de alimentos presenta desafíos particulares de su complejidad. En este trabajo estudiamos el uso de energía y la emisión de GEI en producción de maíz, soja y trigo por métodos convencionales con agroquímicos en el Estado de Paraná, Brasil. Se obtuvieron datos de los insumos y maquinaria utilizada, y se realizó el inventario de ciclo de vida. Los resultados muestran que el mayor impacto energético y de gases de efecto invernadero se encuentra, para maíz y trigo en el uso de fertilizantes, y para la soja en el uso de herbicidas. El combustible utilizado en la maquinaria agrícola es el tercero en importancia tanto en energía como en GEI. Se evalúo además la mano de obra en la finca, determinando que su incidencia es mínima comparada con otros impactos. Los resultados por kg de producto en puerta de embarque en la finca muestran valores similares a los obtenidos en producciones comparables de Europa y EE.UU. Del análisis se concluye que la sustentabilidad de la provisión alimentaria actual depende fuertemente de insumos externos a las fincas. Palabras clave: Ciclo de vida, Energía utilizada, Gases de efecto Invernadero, Producción alimentaria, Energy and carbon life cycle inventory of a conventional agricultural production in Brazil Abstract Food sustainability is important because it involves an essential sector, which is under great pressure due to growing population and resource scarcity. The food sector involves biological, chemical, and physical processes affecting the environment in different ways: energy demands, greenhouse gas (GHG) emissions, eutrophication, pesticides and pharmaceuticals, deforestation and desertification, among others. Thereby, the environmental impacts and sustainability of the production and consumption of food have challenging complexity. In the present work, we studied energy use and GHG emissions in the production of maize, wheat and soybeans by current conventional methods using agrochemicals in the State of Paraná, Brazil. Detailed data on inputs and machinery were obtained and life cycle inventories performed. The results show that fertilisers contribute with highest impacts for maize and wheat production, while herbicides contribute the most for soybeans. Diesel use in the machinery operation is third in relevance in energy and GHG emissions. Farm labour was also assessed and the impact was found negligible for these productions. Impacts per kg of harvest at farm gate showed similar values as operations in the US and Europe. We conclude that the sustainability of the major present human food supply depends very strongly on the use of out-farm resources. Keywords: Energy use, Food production, Greenhouse gases, Life cycle inventory 255 Introducción La sustentabilidad alimentaria depende de diversos factores, y en cada región estos tienen importancia relativa distinta. Los factores directos que afectan la sustentabilidad son la disponibilidad de tierra cultivable, el agua, y los insumos y energía necesarios para la producción. Existen también factores indirectos, que afectan al medio ambiente y con ello tienen potencial para afectar la producción, aunque en ocasiones no en la misma región donde se produce los impactos. En esta categoría se encuentran los gases de efecto invernadero (GEI). En las últimas dos décadas se comenzó a entender la importante contribución de la producción alimentaria al cambio climático global. Este sector no sólo es gran consumidor de energía sino que genera gases de efecto invernadero (GEI) adicionales a los energéticos, y originados en los procesos biológicos y químicos que hacen posible la producción agropecuaria (Gerber et al., 2013; Carlsson-Kanyama y González, 2007; Carlsson-Kanyama, 1998). La producción y comercialización de alimentos es responsable de alrededor de 30% del total de GEI emitidos, incluyendo CO2, CH4 y N2O. La mayor parte de las emisiones en producción alimentaria corresponde a CO2 (ca. 57%), la cual se afecta fuertemente por la baja eficiencia en la producción animal (González et al., 2011). Se estima que sólo la producción animal es responsable del 14.5% del total de emisiones globales (Gerber et al., 2013). Estas producciones resultan en productos cárnicos y lácteos de diversas especies, y de sus derivados. La alimentación actual es muy intensiva en el consumo de estos productos, lo cual queda reflejado en las cifras de impacto en energía usada y en GEI emitidos. En trabajos recientes, se ha investigado también el impacto en energía y GEI de la obtención de nutrientes esenciales en la dieta humana, proteínas y calorías alimentarias (Hallström et al., 2014; Pradhan et al., 2013; Carlsson-Kanyama y González, 2009, Stehfest et al., 2009), y su relación con la salud humana (McMichael et al., 2007; Duchin, 2005). El objetivo de este trabajo es estudiar el impacto en energía y gases de efecto invernadero (GEI) de una producción agropecuaria de cereales y leguminosas en Brasil, y comparar los resultados con promedios de cultivos similares en otras regiones. Metodología Se consideró una propiedad agrícola con 23 ha cultivadas, cuya elección se basó en la disponibilidad del productor a colaborar con la información detallada que se necesita para el ICV. De acuerdo al volumen bruto de ventas, esta finca se encuentra clasificada como pequeño productor (Marion, 2012). Obtención de datos y asignación de impactos Las entrevistas para colecta de datos comenzaron en mayo de 2013. Cada visita resultó en una tabla de insumos agrícolas por clase y cantidad, y sus costos. El análisis de los datos 256 parciales y la búsqueda de información en energía y GEI asociados generaron nuevas consultas en la finca con dudas y profundización en el inventario. Algunos ítems relevantes son: herbicidas, fertilizantes, combustibles, fungicidas, pesticidas, y semillas. Los nombres de los productos químicos fueron obtenidos de los envases y las cantidades fueron obtenidas de las facturas de compra de los últimos tres años. Estos insumos abarcan seis períodos productivos entre febrero de 2010 y febrero de 2013. La información obtenida sobre la maquinaria utilizada fue confirmada a través de las declaraciones de impuestos de la finca para los años 2010 al 2012. El consumo de combustible, las horas de mano de obra, las horas de utilización de maquinaria, y el valor de venta de la producción fueron informados por el propietario en las entrevistas. Por otro lado, el productor sigue las recomendaciones de los organismos oficiales de Brasil para la época de siembra y cosecha, por lo cual la producción estudiada puede considerarse como caso testigo de la mayoría de pequeños agricultores que practican los métodos convencionales basados en laboreo con maquinaria y agroquímicos (AGEITEC, 2013). En la Tabla 1 se muestran las cantidades de semilla utilizadas y la producción de granos obtenida, así como también el combustible diesel usado en la maquinaria agrícola y las horas de mano de obra empleadas en cada período. Tabla 1. Uso de semilla, diesel, mano de obra y cosechas obtenidas en los períodos estudiados Maíz Soja Maíz Maíz Trigo Soja Fecha siembra (kg) Fecha cosecha Feb. 2010 Sept. 2010 Feb. 2011 Sept. 2011 Abr. 2012 Sept. 2012 480 1800 500 480 4000 1680 Ago. 2010 Feb. 2011 Ago. 2011 Mar. 2011 Ago. 2012 Feb. 2013 Rendimiento Diesel Mano de (kg /ha) (Litros) obra (horas) 102660 4465 694 196 75900 3301 838 209 100800 4385 719 188 188100 8182 846 202 58500 2545 550 171 78660 3421 818 202 (kg) Dado que la producción se entrega en el depósito de una cooperativa local para su posterior comercialización, se considera que las cantidades producidas fueron obtenidas con baja incertidumbre. Existen dos períodos de cultivo característicos, el de invierno, entre febrero y agosto, y el de verano entre septiembre y febrero. Nótese que para maíz se obtuvo rendimiento similar en las dos cosechas de invierno, pero casi el doble en la cosecha de verano. Los rindes para soja fueron similares en las dos cosechas, y dentro de los valores estándar obtenidos tanto en Brasil como en Argentina. El productor utiliza herbicidas y fertilizantes químicos al momento de la siembra y en distintas etapas del crecimiento vegetativo. El maíz y el trigo demandan mayor cantidad de fertilizante que la soja. Para maíz y trigo en cosechas de invierno el promedio utilizado de fertilizante fue de 300 kg/ha; y para maíz en cosecha de verano 500 kg/ha. En soja se aplicaron 240 kg/ha de fertilizante nitrogenado y 90 kg/ha adicionales de fertilizante de potasio y fósforo. La soja demanda mayor cantidad de fósforo que los demás cultivos. Se utilizaron herbicidas atrazina, glifosato, primóleo en cantidades variables de 5 a 9 litro/ha, con el agregado de 2 litro/ha de RoundUpReady en el caso de la soja, que utiliza semilla transgénica tolerante a este herbicida. En la Tabla 1 nótese la regularidad y consistencia en el uso de combustible y mano de obra para los distintos períodos de cada grano. Esta 257 regularidad se debe tanto a que el productor es experimentado en el tipo de cultivos, como a que los procedimientos en este tipo de agricultura convencional están bien definidos para cada semilla y región agrícola. Las cantidades de cada insumo fueron transformadas en MJ (MegaJoule) de energía utilizada y en kg CO2eq. (kg de CO2 equivalente) de emisión de GEI utilizando datos de diversas fuentes (Lal, 2004; IPCC, 2006; Carlsson-Kanyama y González, 2007, Williams et al., 2010; González et al., 2011). No se cuentan con datos de energía y GEI debidos a la fabricación de insumos brasileros. Sin embargo, aunque algunos productos sean de fabricación local los preparados son estándar, están adecuados a normas internacionales, y en particular las empresas que los producen en su mayoría son las mismas estudiadas en Europa y EE.UU. Por lo tanto, los valores considerados para impactos de insumos pueden tener una incerteza adicional por la diferencia en la matriz energética de Brasil con respecto a otros países, aunque la diferencia no es significativa. En los inventarios de GEI nacionales, el IPCC recomienda que ante la falta de datos locales se usen datos globales de default, con la precaución de que cada producto o servicio tenga similitud con el investigado en otras regiones (IPCC, 2006). Por ejemplo, este es también el caso del consumo de combustible de la maquinaria y del transporte por camión, para los cuales en Brasil se utilizan modelos similares y de las mismas marcas que se utilizan en Europa o EE.UU. Esto simplifica los inventarios de impactos y los hace posible para países o regiones para los cuales no hay estudios específicos de sus producciones de insumos. En el caso de los fertilizantes nitrogenados, además de los impactos en la fabricación se consideró la emisión de óxido nitroso (N2O) producida en el suelo por actividad bacteriana aeróbica (Carlsson-Kanyama y González, 2007). El potencial de calentamiento global de este gas es 298 veces el de CO2, por lo cual la emisión de 1 g de N2O tiene el equivalente de 298 g de CO2eq. (IPCC, 2006). Para tener en cuenta el impacto de las semillas se usó un método de iteración, por el cual primero se obtiene el inventario energético y de carbono sin incluir la semilla, y el valor de impacto obtenido se utiliza en un segundo cálculo completo. Aumentando el número de iteraciones se disminuye el error; aunque, dado que la importancia relativa de la semilla es muy baja, con solamente una iteración se obtiene un error por debajo del 2%. En estas producciones también se utilizaron pesticidas y fungicidas siguiendo las prácticas estándar. Las cantidades fueron consideradas en el inventario, pero no se detallan aquí por limitaciones de espacio y porque su incidencia en energía y GEI no es significativa. Impacto de la mano de obra En trabajos previos, se estimó la mano de obra considerando la energía per cápita total que se utiliza en el país (Pimentel, 2009; González, 2014). Este criterio supone que toda la energía se usa en la manutención de la capacidad de trabajo que tiene el país, y por lo tanto puede asumirse como contribuyendo a la capacidad laboral. Para el caso de Argentina, con este criterio se estimaron valores de 9.6 MJ/cap.hora para la energía involucrada en la mano de obra, y 0.5 kg CO2/hora (González, 2014). Estas estimaciones se realizan considerando 24 horas por día para distribuir la energía usada en todas las actividades humanas. 258 Para Brasil, el consumo de energía per cápita en 2012 fue de 1.42 tep/cap.año (toneladas equivalente de petróleo), y las emisiones de GEI en 2011 fueron 2.22 tons/cap.año (IEA, 2014). Cada tep equivale a 41.87 GJ de energía. Entonces resultan 163 MJ/cap.día y 6.8 MJ/hora de mano de obra considerando 24 horas para distribuir la energía en todas las actividades humanas. El valor de energía por hora obtenido con este criterio es mayor al reportado por Campos et al. (2004), que ha tenido en cuenta solamente la necesidad nutricional de una alimentación básica promedio de 2200 kcal por persona y por día (impacto de la mano de obra sería 0,39 MJ/hora), pero excluye los requerimientos energéticos indirectos que usa el trabajador en su vida cotidiana. Esta demanda energética total hace posible su capacidad laboral, por lo cual se considera una estimación más realista y que además captura las particularidades energéticas y de emisiones del país donde se realiza la mano de obra (Pimentel, 2009). De la misma forma, teniendo en cuenta el total de emisiones de Brasil, los gases de efecto invernadero resultan 0.25 kg CO2eq./hora de mano de obra. Este valor es la mitad del encontrado previamente para Argentina. Esto en parte se debe a la mayor incidencia de las energías renovables en la matriz energética brasilera. Resultados Gases de efecto invernadero En la Tabla 2 se muestra el resultado de emisiones de GEI por insumo necesario para la producción agrícola convencional considerada. La semilla (con excepción de trigo), insecticidas, fungicidas, y mano de obra no son ítems importantes, aportando muy poco a las emisiones. En maíz y trigo el insumo asociado a las mayores emisiones son los fertilizantes, superando en varias veces al combustible y a los herbicidas. Para producción de soja los herbicidas son los que más impactan. Esto se debe a que la soja necesita menos fertilizante por ser una leguminosa; la cual, adecuadamente inoculada, desarrolla en las raíces núcleos bacterianos que sintetizan nitrógeno del aire y lo dejan en el suelo disponible para la planta. Tabla 2. Emisión de gases de efecto invernadero, en kg CO 2eq., en la producción de granos en las distintas cosechas estudiadas Maíz Soja Maíz Maíz Trigo Soja Insumos feb - ago set 2010 feb - ago set 2011 mar - ago set 2012 2010 feb 2011 2011 mar 2012 2012 feb 2013 Semillas 139 129 80 64 1044 153 Herbicidas (1) 2515 5833 2244 3268 2072 7339 Insecticidas (1) 35 314 89 89 15 241 Fungicidas (1) 156 36 39 107 56 Fertilizantes (2, 3,4) 10288 3026 12774 20888 11705 1122 Diesel (4) 2005 2421 2077 2444 1589 2363 Mano de obra 47 50 45 48 41 48 Total de cada cosecha 15029 11929 17345 26840 16574 11322 kg CO2eq. / kgcosechado 0.15 0.16 0.17 0.14 0.28 0.14 259 Fuente : (1) Lal, 2004; (2) Williams et al., 2010; (3) Carlsson-Kanyama y González, 2007; (4) IPCC, 2006 Es interesante notar que en todos los casos el uso directo de combustible para la maquinaria no constituye el impacto principal, sino que éste se debe a uso indirecto de energía en la fabricación de insumos fuera de la finca. Esta es una diferencia conceptual relevante en el balance total de emisiones de GEI cuando se compara con otros sectores de las actividades humanas, como transporte, industria o edificios, para los cuales los combustibles fósiles son los que más contribuyen al calentamiento global. En la última fila de la Tabla 1 se resumen los valores de emisiones por kg de grano cosechado. En todos los casos las emisiones son similares a las encontradas para el mismo tipo de producciones en EE.UU. y Europa, y son muy bajas comparadas con emisiones encontradas para otros productos alimenticios (González et al., 2011). Las emisiones por kg para trigo resultan mucho mayores que para maíz y soja debido al bajo rendimiento por hectárea que presentó este cereal en la cosecha estudiada. De aquí resultaron significativas las emisiones correspondientes a la semilla de trigo, con un inusual 6% del total. Uso de energía De la misma forma, se obtuvieron las energías necesarias para disponer de cada insumo, lo cual se resume en la Tabla 3. Los ítems de semilla, insecticidas, fungicidas, y mano de obra son menos relevantes que herbicidas, fertilizantes y combustible. Para las cosechas de maíz y trigo, los fertilizantes son los más demandantes en energía, seguidos de los herbicidas y en tercer lugar el combustible diesel para maquinaria. Para soja los herbicidas son los más demandantes en energía, seguido de los fertilizantes y en tercer lugar el combustible diesel. En la cosecha de soja de 2013 la energía demandada en fertilizantes es significativamente mayor que en la de 2011, y no guarda relación con las emisiones de GEI. Esto se debe a que en 2012 el productor aplicó fertilizante de Calcio para mejora de suelo, el cual no produce emisiones pero requiere de energía. Tabla 3. Energía asociada a cada insumo, en MJ, para las distintas producciones de granos estudiadas Maíz Soja Maíz Maíz Trigo Soja Insumo Semilla Herbicidas (1) Insecticidas (1) Fungicidas (1) Fertilizantes (2) Diesel (3) Mano de obra Total de cada cosecha MJ /kgcosechado feb–ago 2010 set 2010 feb 2011 feb–ago 2011 set 2011 mar 2012 mar–ago 2012 set 2012 feb 2013 1266 34053 253 100335 27066 1274 2705 78960 4252 1468 40960 32682 1359 691 30374 1214 496 95780 28041 1222 532 44241 1214 531 154940 32994 1313 9003 28046 202 1452 90595 21450 1112 2097 99337 3262 759 85379 31902 1313 164247 162386 157818 235765 151860 224049 1.6 2.1 1.6 1.3 2.6 2.9 Fuentes : (1) Lal, 2004; (2) Williams et al., 2010; (3) IEA 2007 260 Los valores de energía obtenidos por kg de cosecha muestran una dispersión baja entre años de cultivo, salvo para el maíz de verano comparado con maíz de invierno que difieren en rendimiento por causas climáticas. Las energía usadas por kg de producto son similares a otras producciones similares en EE.UU. y Europa (Williams et al., 2010). Incidencia de cada insumo Dadas las diferencias estacionales y de aplicación de algún insumo distinto entre cosechas, consideramos el promedio de las cosechas de maíz y soja. En las Figuras 1 y 2 se muestran las incidencias de cada insumo en el impacto promedio de cosechas, para GEI y energía, respectivamente. 0.2% 0.5% 11.0% 0.4% 13.6% 1.2% GEI en soja GEI en maíz 20.7% 0.4% 0.2% Semillas Semillas Herbicidas Herbicidas Insecticidas Insecticidas Fungicidas Fungicidas Fertilizantes Diesel Fertilizantes Diesel 17.9% Mano de obra 56.9% 74.4% Mano de obra 0.9% 2.4% Figura 1. Incidencia de distintos insumos en GEI en maíz (promedio de 3 cosechas) y soja (promedio de 2 cosechas) En GEI se observa una dependencia de insumos distinta en maíz y soja. En maíz, las tres cuartas parte de las emisiones de GEI se deben a fertilizantes. En soja, más de la mitad de las emisiones son contribuidas por la dependencia de los herbicidas, y el porcentaje de emisiones del combustible diesel es mayor para soja que para maíz. 0.7% 15.8% 0.4% 0.7% Energía en maíz 1.2% Energía en soja 16.7% 19.5% 0.5% 46.1% Semilla 0.3% Herbicidas Insecticidas Insecticidas Fungicidas Fungicidas Fertilizantes Fertilizantes Diesel Diesel Mano de obra 62.9% Semilla Herbicidas Mano de obra 32.7% 0.6% 1.9% Figura 2. Incidencia de distintos insumos en la demanda de energía en maíz (promedio de 3 cosechas) y soja (promedio de 2 cosechas) 261 En la comparación de la Figura 2 observamos que los porcentajes de uso de diesel son similares en ambos cultivos. Cerca de dos tercios de la energía usada en maíz se deben a fertilizantes; mientras que en soja cerca de la mitad de la energía necesaria se debe a herbicidas. Sustentabilidad y métodos de cultivo alternativos Debido a que el método convencional de cultivo estudiado tiene dependencia del uso de agroquímicos, es interesante comparar los resultados con estudios similares para cultivos orgánicos, que no utilizan agroquímicos de síntesis. En general, la energía usada y los GEI emitidos en cultivos orgánicos es similar a los convencionales. En cultivo de trigo en Dinamarca, Chirinda et al. (2010) encontraron que no existen reducciones en emisión de N2O en cultivos orgánicos fertilizados con abono animal. Estos autores investigaron distintas alternativas de cultivo orgánico y compararon con el cultivo convencional con fertilizantes químicos, concluyendo que el menor rendimiento por ha en cultivo orgánico determina mayores emisiones por kg cosechado, que es la variable relevante en el balance de satisfacer la necesidad de alimento con la menor emisión de GEI posible. Williams et al. (2010), muestran que para el Reino Unido, la producción de trigo orgánico requiere 17% menor energía pero produce 14% más de GEI; mientras que en cultivo de papas el método convencional tiene impacto algo menor en energía y GEI. En la comparación de los inventarios de ciclo de vida de los dos métodos, las reducciones en uso de agroquímicos en cultivo orgánico se compensan por menores rendimientos (entre 20% y 50% menor según el cultivo) y por aumento del uso de maquinaria. Este es un aspecto importante a tener en cuenta en análisis de sustentabilidad, ya que, con la necesidad de mayor producción de alimentos para satisfacer el aumento de población, el rendimiento de los cultivos es esencial. Por otro lado, al presente, los cultivos orgánicos tienen gran dependencia del estiércol animal como fertilizante. En escenarios con posibles dificultades para satisfacer la necesidad alimentaria, se ha demostrado que las mayores reducciones en uso de recursos e impactos se lograrían a través de un cambio de dieta, orientada a una dieta con notable menor cantidad de productos de origen animal (Pradhan et al., 2013; González et al., 2011). Esto produciría una disminución de recursos fertilizantes para cultivos orgánicos, con lo cual disminuirían los rendimientos aún más y los impactos por kg de cultivo serían mayores. Los cultivos estudiados aquí son también usados en alimentación animal. Thomassen et al. (2008) investigaron la producción de leche en Holanda con alimentación de granos de agricultura convencional (incluyendo soja de Brasil) y con granos de cultivo orgánico. Por litro de leche producida encontraron que la energía usada es menor en sistemas orgánicos, los GEI son similares, y el uso de tierra cultivable (medido en m2 por litro de leche) es mucho mayor con métodos orgánicos. Nuevamente en este ejemplo, el rendimiento en litros de leche por ha resultó mayor con métodos convencionales. La sustentabilidad alimentaria depende del uso eficiente de la tierra, ya que no es posible compensar un aumento de la demanda con mayor superficie de tierra cultivable. Conclusiones 262 Se obtuvieron datos muy detallados de las condiciones de cultivo y los insumos utilizados para maíz, soja y trigo en una finca de 24 ha en el Estado de Paraná, Brasil. Con esta información se realizó un inventario de ciclo de vida en energía y gases de efecto invernadero (GEI) con el objetivo de analizar la sustentabilidad del cultivo de alimentos convencional y compararlo con otras producciones. Para maíz y trigo, se encontró que los fertilizantes son el insumo crítico, mientras para soja los herbicidas demandan casi la mitad de la energía total usada y son responsables de más de la mitad de los GEI emitidos por kg de grano cosechado. El combustible diesel es tercero en importancia en cualquiera de los casos, y los requerimientos energéticos y GEI correspondientes a la semilla, los pesticidas, los fungicidas, y la mano de obra son de importancia mucho menor. Se observa gran dependencia de este método de cultivo con insumos ajenos a la finca, lo cual podría mejorarse con métodos de cultivo orgánico. Sin embargo, otros autores han mostrado que estos métodos también presentan desafíos para la sustentabilidad: son más demandantes en combustible para maquinaria, usan abono animal proveniente de producciones intensivas externas a la finca, y los rendimientos en kg por m2 de suelo cultivable son menores; con lo cual los inventarios de energía y GEI dan resultados similares a los obtenidos en producciones con agroquímicos. Una estrategia de cambio de dieta, desplazando el énfasis desde los productos de origen animal hacia los de origen vegetal parece tener mayor potencial para mejorar las condiciones de sustentabilidad de la demanda de alimentos. Agradecimientos. Este trabajo ha sido posible gracias al apoyo de CNPq, FINEPE e ITCP/UFPR de Brasil, CONICET y Universidad Nacional del Comahue de Argentina, y CEAM de la Universidad Austral de Chile. AG agradece la hospitalidad y el apoyo a la investigación en su año sabático en la Universidad Austral de Chile. Referencias Bibliográficas CHIRINDA et al. Emissions of nitrous oxide from arable organic and conventional cropping systems on two soil types. Agriculture Ecosystems and Environment v.136, pp.199-208, 2010 DUCHIN, F. Sustainable consumption of food: a framework for analyzing scenarios about changes in diets. Journal of Industrial Ecology v.9, pp.99-114, 2005 AGEITEC. 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Mgter Ciencias Ambientales, Aspirante a Titulo de Ingeniera Ambiental, Aspirante a Título de Ingeniero Ambiental, Candidato a Doctorado en ciencias y tecnológicas ambientales Email de los autores: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumen El PM10, o material particulado de diámetro aerodinámico igual o inferior a 10 µm, es uno de los seis contaminantes criterios regulado por la Agencia de Protección Ambiental de los Estados Unidos (USEPA) y de acuerdo con el Programa de Naciones Unidas para el Medio Ambiente (UNEP), es el contaminante de mayor importancia en las ciudades más pobladas del mundo En cuanto a las actividades con la minería, este es generado principalmente durante los procesos de perforación y voladura (en cantera) y a la trituración y molienda (en planta), que generalmente es caracterizado como un polvo de color gris. En el departamento del Atlántico - Colombia, a pesar de la existencia de estas actividades mineras, se presenta muy pocos estudios en cuanto a la calidad de aire, y los que existen son de carácter particular. Es por ello que surge la necesidad de utilizar herramientas predictivas para la toma de decisiones en el marco de la protección del ambiente. Se pretende generar un conocimiento sobre la variación temporal y espacial de la fracción respirable PM 10 emitido por estas actividades mineras utilizando un modelo gaussiano ISCT3 (Industrial Source Complex Short Term) como de aplicación regulatoria para la estimación de concentraciones ambientales. Palabras clave: Cantera, ISCT3, Material Particulado PM10, Minería. Simulation of dispersion of respirable fraction pm10 by ISCST3 in mining quarry located in the 5 km highways Barranquilla – Puerto Colombia Abstract The PM10, or particulate aerodynamic diameter less than or equal to 10 microns, is one of the six criteria pollutants regulated by the United States Environmental Protection Agency (USEPA) and according to the United Nations Program for the Environment (UNEP), is the pollutant of greatest importance in the most populated cities in the world as for activities to mining, this is primarily generated during the process of drilling and blasting (quarry) and the crushing and grinding (on ground) , which is generally characterized as a gray powder. In the department of the Atlantic - Colombia, despite the existence of these mining activities, few studies looks very concerning air quality, and those that exist are of particular character. That is why there is the need to use predictive tools for decision-making in the context of environmental protection. It aims to generate knowledge about the temporal and spatial variation in the respirable fraction PM10 emitted by these mining activities using a Gaussian model ISCST3 (Industrial Source Complex Short Term) as a regulatory application for estimating ambient concentrations. KeyWords: Quarry, ISCST3, Particulate Matter PM10, Mining. Introducción La presente investigación busca simular el comportamiento del material particulado PM10 en una cantera ubicada en el municipio de Puerto Colombia (Atlántico). El material particulado 265 se presenta en diferentes tamaños y las fracciones más pequeñas (PM2.5 y PM10) se consideran perjudiciales para la salud humana y los ecosistemas. La generación de éste contaminante en la cantera se debe precisamente a las actividades que se llevan a cabo dentro de ésta ya que requiere de un suelo sin capa vegetal para realizar la extracción y trituración de los materiales para luego ser transportados. El interés de llevar a cabo ésta investigación surge primero, por conocer la variación temporal y espacial del contaminante y así identificar el área de influencia del mismo a nivel local; segundo, ser uno de los primeros en realizar investigación en modelación de aire en el departamento del Atlántico y ser el punto de partida para proyectos futuros en el tema. La investigación se realiza en cuatro fases. Fase I, recolección de referencias bibliográficas para conocer el estado del arte de la modelación de PM10 a nivel global, nacional, regional y local. Fase II, constituye la medición en campo de PM10 en la cantera con el equipo Partisol 2000®, el cual recolecta las muestras del contaminante en un filtro. La Fase III comprende la modelación en el programa ISCST3® de la variación espacial y temporal del PM10 al alimentarlo con las concentraciones obtenidas y los datos meteorológicos de la zona. Fase IV, es la simulación en el programa Surfer Golden® por medio de los datos obtenidos en la fase anterior para determinar el área de influencia del contaminante. Descripción del Problema Figura 1. Esquematización de la Problemática Identificada. Contaminación Atmosférica y Material Particulado La contaminación atmosférica es el fenómeno de acumulación o concentración de contaminantes en el aire en un tiempo determinado como resultados de actividades humanas o procesos naturales (IDEAM, 2012). Las emisiones a la atmósfera pueden ser de varios tipos: gases, partículas, ruido, olores o corrientes a alta temperatura (IDEAM, 2001). El PM10, o material particulado de diámetro aerodinámico igual o inferior a 10 µm, es uno de los seis contaminantes criterios regulado por la Agencia de Protección Ambiental de los Estados Unidos (USEPA, por sus siglas en inglés) y de acuerdo con el Programa de Naciones Unidas para el Medio Ambiente (UNEP, por sus siglas en inglés), es el contaminante de mayor importancia en las ciudades más pobladas del mundo (Baroutian et. al., 2006). Este 266 tipo de partículas son emitidas principalmente por procesos industriales (minería, manufactura de cemento, construcción, producción de cerámica y ladrillos, etc.), el tráfico de vehículos y los procesos de combustión (combustión domestica de carbón, incineradores industriales, centrales térmicas, etc.) (Abril & Diez, 2006). En cuanto a las actividades relacionadas a la producción del cemento, el material particulado (PM) es generado principalmente durante los procesos de perforación y voladura (en cantera) y a la trituración y molienda (en planta). El PM emitido en este tipo de actividad es generalmente caracterizado como un polvo de color gris de diámetro aerodinámico que varía entre 0,05 y 5 µm (Yang et. al., 2003). En Colombia, los índices de contaminación atmosférica de varios de los municipios que en mayor grado presentan este problema se encuentran relacionados con actividades mineras. Actividades Mineras Canteras 1 2 PERFORACIÓN Se perfora el terreno por medio de tracks drilling y martillos neumáticos. TRANSPORTE INTERNO Y EXTERNO Se perfora el terreno por medio de tracks drilling y martillos neumáticos. VOLADURA En las perforaciones se introducen explosivos para fragmentar las rocas. 5 BENEFICIO: TRITURACIÓN Trituración del material a tamaños de granzón, grava, triturado, gravilla y arena gruesa. 3 CARGUE El material fragmentado es cargadoo con retroexcavadora. 4.2 BENEFICIO: CLASIFICACIÓN 4.1 Clasificación del material proveniente de los frentes de explotación. Figura 2. Diagrama de Proceso General de las Actividades Mineras Canteras. Modelos Matemáticos Hoy en dia para determinar la concentración de material particulado en el aire se estan utilizando modelos de dispersión, estos usan técnicas matemáticas y numéricas para simular los procesos físicos y químicos que afectan a los contaminantes cuando se dispersan y reaccionan en la atmosfera (Alcaide López de la Manzanara, 2000).Un modelo es una representación que conlleva a la finalidad de predecir qué efecto tendrá una cierta acción sobre un sistema físico. Dado que lo se quiere es predecir una respuesta futura del sistema. (Moreno, et al., 2003). La realidad se puede representar por medio de un modelo y de acuerdo a la forma en que se desee representar la realidad, existen varios tipos de modelos: Modelo físico, de datos, empírico y matemático. Un modelo matemático es una descripción matemática con frecuencia mediante una función o una ecuación de un fenómeno del mundo real, como por ejemplo el tamaño de una población; el propósito de este modelo es entender el fenómeno y quizás hacer predicciones con respecto al comportamiento futuro (Stewart, 2007). En el caso de los modelos de calidad de aire, éstos usan técnicas matemáticas y numéricas para simular los procesos físicos y químicos que afectan a los contaminantes cuando se 267 dispersan y reaccionan en la atmósfera (Alcaide López de la Manzanara, 2000). Los modelos de dispersión de contaminantes resuelven las ecuaciones de difusión en forma aproximada y obtienen resultados muy rápidamente (Sanín Cortés, 2002). La ecuación de difusión gaussiana relaciona los niveles de inmisión en un punto con la cantidad de contaminantes vertidos a la atmosfera desde el foco emisor, teniendo en cuenta las condiciones de emisión de PM10, y las características climáticas y topográficas del medio receptor (Manzur, et al., 2012). Se considera que el viento, la humedad, la temperatura y las precipitaciones tienen un papel importante en el aumento o disminución de la contaminación (Orozco Barrenetxea, et al., 2008).El modelo de cálculo de dispersión de contaminantes ISCST3® está basado en un logaritmo Gaussiano (Espert Alemany & López Jiménez, 2000) en el cual se asume que la dispersión de contaminantes sigue una distribución estadística normal. Figura 3. Proceso de modelación y simulación del ISCST3. Metodología Para el desarrollo de este proyecto de investigación se utiliza un método experimental. Se inicia con la identificación del problema y su área de influencia; pasando por una revisión bibliográfica que permita la recolección de antecedentes y estudios; diseño de un plan experimental; mediciones en campo, modelación matemática para la determinación la dispersión de la fracción respirable PM10. El método experimental en este proyecto se evidencia en el cumplimiento de los objetivos específicos, estos se ejecutaran de la siguiente manera: Objetivo 1.- Determinar la variación temporal de la fracción respirable PM10 en la actividad minera (canteras). Localización del sitio de muestreo Para el desarrollo de esta investigación se tendrán en cuenta: Factores macro y microclimáticos, Factores geográficos. Para la ubicación del equipo de medición se tendrán en cuenta varios aspectos: ubicarse en una zona abierta, donde no existan estructuras que impidan la circulación del aire, y eviten la sedimentación de la materia, el suministro de energía eléctrica sea disponible para el buen funcionamiento de los equipos a utilizar, que en este caso es el Partisol-2000i y buscar que el equipo no se encuentre expuesto a personal no autorizado que puedan causar daños a la parte operativa y física del mismo. 268 Figura 4. Localización del Partisol 2000i dentro de la Cantera. Equipos y mediciones en campo Se utilizara un muestreador Partisol. Este equipo permite recolectar partículas PM10. Siguiendo el estándar EPA 40 CFR Pt. 50 App. J, se colectaran muestras en un periodo de 24± 1 hora en filtros de fibra de cuarzo; los filtros serán pesados antes y después del muestreo. Figura 5. Proceso del pesaje antes y después del muestreo. Frecuencia de los monitoreos Las mediciones se ejecutaran durante cuatro (4) meses del presente año. El esquema de muestreo consiste en tomar datos cada tercer día después de la primera medición. Como el interés de esta investigación es corroborar la eficacia del modelo ISCST3 para estimar la calidad del aire proveniente de actividad minera en este caso cantera, se utilizara solo una estación de muestreo (sotavento) la cual permitirá calibrar los datos reportados por el modelo con los recolectados en campo. Para poder determinar las concentraciones de fondo (barlovento) se utilizara la distribución de frecuencia acumulativa lognormal la cual es una herramienta eficaz para estimar este tipo de concentraciones. Cabe anotar en esta investigación los datos meteorológicos serán tomas de la estación IDEAM de la ciudad, no obstante el equipo de medición reporta datos de presión ambiental, temperatura ambiental, velocidad y dirección del viento. 269 Figura 6. Toma de muestra en campo (Cambio de filtros). Analisis y presentación de la información Para calcular las concentraciones de PM10 se usaran los datos del peso del filtro, el caudal del equipo y el tiempo de muestreo. La concentración en µg/m3 de PM10 se calculará, dividiendo el peso del filtro sobre el caudal y multiplicándolo por el tiempo de muestreo (Ecuación 1). En una tabla se expondrán las fechas con las concentraciones más altas y más bajas durante todo el periodo de muestreo con la respectiva desviación estándar, la media aritmética y el coeficiente de variación temporal. 𝑃 +𝑃𝑖 𝐶𝑡 = 𝑄𝑓∗𝑡 𝑓 𝑚 Ecuación (1) Dónde, Ct: Concentración de masa de PM10 [µg/m3]. Pf: Peso final colectada en el filtro de fracción de partícula fina [µg]. Pi: Peso inicial del filtro de fracción de partícula fina [µg]. Qf: Flujo volumétrico [m3/min]. tm: tiempo de muestreo [min]. Se compararán los resultados obtenidos, en cuanto a concentración del contaminante, con la normativa vigente de emisiones de PM10 a la atmosfera, la resolución 610 de 2010. Objetivo 2.- Establecer la variación espacial fracción respirable PM10 en la actividad minera (canteras) utilizando el modelo ISCST3. Modelación en el ISCST3 Para realizar la modelación en el ISCST3 se alimenta el modelo con las concentraciones de PM10, la información meteorológica de los días de muestreo, distancia desde la fuente del emisor al receptor, altura del vertido del contaminante y promedio de emisión de contaminante. A continuación, la ecuación que define al modelo: 270 𝜒= 𝑄 2𝜋𝑢𝑠 𝜎𝑦 𝜎𝑧 𝑦 𝐻 𝜎𝑦 𝜎𝑧 [𝑒𝑥𝑝 〈^ − 0.5 ( )〉] [𝑒𝑥𝑝 〈^ − 0.5 ( )〉] Ecuación (2) Dónde: X: Concentración de contaminante [µg/m3]. Q: Promedio de emisión de contaminante [g/s]. Vs: Velocidad del viento a la altura de descarga del contaminante [m/s]. y: Distancia desde la fuente del emisor al receptor [m]. H: Altura de vertido del contaminante [m]. Validación del modelo ISCST3 Para validar los resultados obtenidos por los modelos se utilizara la determinación del error entre los datos de las series de tiempo de las mediciones y las simulaciones realizadas mediante la utilización del modelo ISC, se determinará mediante la cuantificación del error de la raíz media cuadrática RMS. 1 2 1⁄ 2 RMS = { ∑N i=1[m − d ] } N Ecuación (3) Donde; m = Valores medidos con los equipos. d = Valores obtenidos mediante el modelo. N= Número de datos horarios con que cuentan las series de tiempo y d . Corresponde a la media temporal de las concentraciones simuladas. Objetivo 3.- Identificar las áreas de influencia de la fracción respirable PM10 generadas las actividades mineras (canteras). Para determinar el área afectada por la emisión y dispersión de partículas PM10 se tomaran los resultados de la medición y la modelación para establecer el nivel de la concentración en los receptores en una grilla de 200 X 200 m. Se determinará un promedio de 9 datos por mes de PM10. Con esta información reportada se construirá el plano de isopletas para PM 10 utilizando el Software Golden Surfer® 11.0 que interpola datos en XYZ empleando el método Kriging. A partir de estos planos se determinará el área de influencia en función de las emisiones. Resultados Datos meteorológicos de estación Ernestos Cortissoz A continuación se presenta la información meteorológica del área de estudio durante los cuatro meses de muestreo. 271 Gráfica 1. Temperatura. La temperatura promedio que se presentó en el área de estudio durante los cuatro meses de muestreo es 28.3 °C. La temperatura máxima y mínima son respectivamente 29.7 °C y 26.6 °C. La desviación estándar es igual a 0.8. Gráfica 2. Humedad. La humedad promedio que se presentó durante los cuatro meses de muestreo es 81.2%. La humedad máxima y mínima son respectivamente 88.5% y 72.3%. La desviación estándar es igual a 2.8. Gráfica 3. Presión atmosférica. La presión atmosférica promedio del área de estudio es igual a 757.1 mmHg durante los cuatro meses de muestreo. La presión atmosférica máxima y mínima son respectivamente 759.5 mmHg y 736.7 mmHg. La desviación estándar es igual a 2.1. 272 Gráfica 4. Precipitación. Durante los cuatro meses de muestreo no se presentaron precipitaciones (0 mm) por lo que el análisis estadístico arrojó valores igual a cero para promedio, desviación estándar, valores máximo y mínimo. Gráfica 5. Roseta de viento. Los vientos se dirigen desde el NE hacia el SO con una velocidad promedio de 4.2 m/s. Así mismo, se presentó velocidad máxima igual 8.6 m/s y mínima de 2.8 m/s. La desviación estándar de la muestra es igual a 1.0. Calculo de concentración de la Fracción Respirable PM10 Para estimar la concentración de PM10 se realizó pesaje antes y después de muestrear con el Partisol 2000i, se descargaron los datos de flujo volumétrico y tiempo de muestreo por medio del DataLogger integrado. Posteriormente se determinaron valores máximo, mínimo y promedio para comparar con la normativa. ESTACIÓN Concentración Mínima 3 (µg/m ) Concentración Máxima 3 (µg/m ) Promedio Aritmética 3 (µg/m ) CANTERA MUNARRIZ 4.23 72.0 36.9 Cumplimiento de Norma 24 Horas 3 (µg/m ) Cumplimiento de Norma Anual 3 (µg/m ) 100 50 CUMPLE CUMPLE Tabla 1. Concentración máxima y mínima de PM10; y cumplimiento de la Norma. 273 A continuación se muestra la gráfica de la concentración de PM10 en µg/m3 contra las fechas de medición. En las fechas 16/03/2014 la cantera presento fallas eléctricas y para las fechas que van de 09/05/2014 a 21/05/2014 las instalaciones eléctricas estuvieron en mantenimiento por parte de la entidad prestadora de servicio lo cual no permitió realizar las mediciones. Figura 7. Concentración de la Fracción Respirable PM10 durante los cuatro (4) meses de medición. En la gráfica se hace uso del límite diario de 100µg/m3 y el límite Anual de 50µg/m3 establecido por la resolución 610 del 2010 del Ministerio de Ambiente, Vivienda y Desarrollo Territorial de Colombia. Se observa que el límite diario durante los cuatro (4) meses de muestreo no fue superado en ninguna instancia. Con referencia al límite anual para el mes de marzo se presentaron 4 muestra que superaron este límite, además, el día 7 es la más alta concentración de todos los muestreos con 71.9µg/m3; para el mes de abril presenta cuatro (4) muestras que superan el límite anual y el día 15 tiene la mayor concentración con 62.37µg/m3; con respecto al mes de junio se observa que en cuatro (4) fechas se superan el límite anual y el día 17 es la mayor concentración con 68.50µg/m3. Conclusión Se tienen como conclusiones parciales los avances del primer objetivo planteado. Se define el tiempo y frecuencia de monitoreos de PM 10 en el área de estudio y se localiza el equipo de medición en un lugar que cumple con los requisitos técnicos y de seguridad para iniciar la medición. Al finalizar el monitoreo en campo se cuenta con la primera información para alimentar el modelo que corresponde a las concentraciones del contaminante. De dicha información se puede determinar que el promedio es igual a 36.9 µg/m3 de PM10 y los valores máximo y mínimo son 72 y 4.23 µg/m3, respectivamente. 274 Al comparar las concentraciones de contaminante con la resolución 610 de 2010 se observa que de un total de 35 muestras, que representan el 100%, todas cumplen con el límite máximo permisible diario y anual. Es preciso recordar que las mediciones en campo se llevaron a cabo durante época seca. Posiblemente al llegar la época de lluvias los resultados serían concentraciones mucho menores ya que, además de que se suspenden actividades, el arrastre de las partículas por la lluvia (efecto scrubber), disminuye la concentración del contaminante y su capacidad de transportarse por el aire. A pesar de los resultados favorables de las concentraciones de PM10 en el ambiente, se debe tener en cuenta el impacto que el contaminante puede generar en las poblaciones aledañas, tanto enfermedades respiratorias como deterioro de cuerpos de agua cercanos que sean suministro de la población. Las poblaciones más vulnerables son las que están en dirección SO. Además, las condiciones meteorológicas de la zona pueden aumentar la generación de material particulado por la presencia de más fuentes cercanas a las poblaciones. Lo cual promueve un monitoreo de calidad de aire a las poblaciones aledañas para evaluar el impacto de las diferentes fuentes hacia las poblaciones. Referencia Bibliográfica ABRIL, G., & Diez, S. (2006). Modelado de la dispersión de material particulado PM10 mediante la estimación de las tasas de emisión considerando la influencia de la meteorologia local. FCEF, CONICET, CIQA y UTN FRC. Cordoba - Argentina. ALCAIDE LÓPEZ de la Manzanara, M. T. (2000). 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Dado que el nivel de humectación se relaciona a la presencia y características de la materia orgánica, esta variable puede considerarse como un potencial indicador de estabilidad física del suelo. En la presente investigación se aplican dos variantes metodológicas de un método cuantitativo para evaluar el nivel de humectación (Plato de Wilhelmy, WP), en un suelo con establecimiento de Ballica perenne con diferentes tratamientos de fertilización con urea y superfosfato. (N: 48, 16 tratamientos con 3 réplicas). Se tiene como objetivo determinar la consistencia de resultados entre ambas variantes de WP, así como con respecto a los tratamientos de fertilización. Todas las muestras se encontraron en el rango subcrítico de repelencia, siendo el mayor valor de ángulo de contacto (CA) igual a 80.6°. Ambas variantes metodológicas mostraron una correlación (R2) moderada-alta en sus resultados (R2 de 0.75 a 0.81). El valor de R2 de ambas variantes metodológicas respecto a las dosis de fertilizante fue moderado-alto (R2 de 0.65 a 0.83), confirmando así su validez como una alternativa para la estimación indirecta del CA. Se concluye que si bien la humectación evaluada con WP y los efectos de la fertilización en el suelo pueden relacionarse para definir un posible indicador de estabilidad física, otros factores del sustrato o métodos utilizados afectan también las estimaciones de CA. Futuros experimentos se enfocarán en relacionar otras propiedades físicas del suelo a los resultados obtenidos, tal como la textura y tasa de infiltración. Palabras clave: ángulo de contacto, hidrofílico, superfosfato, urea. Evaluation of wettability by a quantitative contact-angle method: a proposal for an indicator of physical stability of soil ABSTRACT Soil wettability plays a significant role in processes like aggregation, water distribution and erodibility. Since wettability is related to the presence and characteristics of organic matter, this property can be considered as a potential indicator of soil physical stability. In the present research, two approaches of the Wilhelmy Plate Method (WP) to determine wettability are tested. A soil with establishment of Ballica perenne and different fertilization treatments (Urea and Superphosphate) was evaluated (N: 48; 16 treatments with 3 replicates). The goal of this research is to determine the agreement between both WP 278 approaches, as also in relation to the different fertilization treatments. All samples were located in the subcritical range of repellency, with the highest contact angle value being 80.6°. Both WP approaches showed a moderate-high correlation when compared (R2 from 0.75 to 0.81). Respect to fertilization treatments, both approaches were in the range R2 0.650.83 when compared independently to fertilization doses, confirming their suitability as an alternative for CA determination. We conclude that although CA and fertilization can be linked to define an indicator of soil physical stability, other soil or method factors affect the final CA result. Further research will focus on extending these experiments to other soil physical properties, like texture and infiltration rate. KeyWords: contact angle, hydrophilic, superphophate, urea. Introducción La humectación juega un rol significativo en diferentes procesos relacionados al régimen hídrico, del suelo, influyendo así en aspectos tales como la agregación y erodabilidad, así como también en la disponibilidad de agua para las plantas (Ramírez et al., 2010). Dado que las partículas minerales son normalmente altamente hidrófilas, el nivel de humectación del suelo es determinado principalmente por la presencia de ciertos compuestos orgánicos hidrófobos provenientes de la vegetación, tal como resinas y ceras. Estos compuestos, presentes incluso en muy pequeñas cantidades en el perfil y distribuídas alrededor de las partículas minerales del suelo, son capaces de inducir potencialmente una alta repelencia al agua (Bachmann et al., 2006). Ellies et al. (1996) concluyó que el grado de humectación en el perfil no depende solamente de los aspectos cuantitativos de la materia orgánica, sino también de aspectos cualitativos, entre los que se incluye el origen de los componentes que inducen repelencia y su distribución a la microescala (agregados) y macroescala (perfil de suelo). Aunque autores como Buczko et al. (2002 y 2005) han observado que un elevado grado de repelencia puede afectar seriamente el proceso de infiltración, lo que conlleva un riesgo de ocurrencia de erosión superficial, un suelo demasiado hidrófilo posiblemente sufra de procesos de dispersión, disminuyendo su estabilidad física (Dörner et al., 2013). Por ello, con frecuencia un cierto nivel de repelencia en el suelo es deseable, ya que se disminuye la posibilidad de dispersión de los agregados en condiciones de elevada humedad (Ellies et al., 1996). Dada la relación existente entre el grado de humectación y las características de la materia orgánica, es posible relacionar esta propiedad con el manejo o tipo de uso del suelo, tal como determinaron Ellies et al. (2002 y 2003). De esta manera, esta propiedad del suelo puede constituir un potencial indicador de estabilidad física. Ello resulta especialmente relevante en condiciones de uso agrícola intensivo, ya que con frecuencia estos suelos son los que poseen un mayor riesgo de sufrir erosión en comparación a suelos con cobertura vegetal permanente (Ramírez et al., 2008). Diferentes métodos se han propuesto para evaluar el nivel de humectación del suelo, todos con sus respectivas ventajas y desventajas. Uno de los métodos más conocidos es el llamado Water Drop Penetration Time (WDPT). Como regla general, un suelo se clasifica como hidrófobo cuando el tiempo de infiltración de una gota de agua es mayor a 5 segundos. Si bien WDPT es un método sencillo de aplicar tanto en campo como en laboratorio, éste presenta la desventaja de tratarse de un método cualtitativo, en donde se 279 determina el tiempo que requiere la gota para infiltrar en la muestra (Doerr, 1998). Una alternativa propuesta inicialmente por Bachmann et al. (2003) para su aplicación en suelos es el método del Plato de Wilhelmy (WP). WP es un método dinámico cuantitativo, donde el valor del ángulo de contacto (CA) de la muestra se determina de manera indirecta, en la medida que se mide el cambio de peso de la muestra a medida que se sumerge en un medio líquido (Ramírez et al., 2010). El presente trabajo proponer evaluar el grado de humectación por medio de WP en un suelo agrícola con diferentes niveles de fertilización de nitrógeno y fósforo, aplicando dos variantes metodológicas. El objetivo principal de este trabajo es determinar la consistencia de resultados de CA obtenidos entre ambas variantes de WP, así como con respecto a los diferentes tratamientos de fertilización aplicados, como un primer paso para la definición de un protocolo de uso de WP como un indicador de estabilidad física del suelo. Metodología El área de estudio corresponde al predio experimental Maquehue, de propiedad de la Universidad de La Frontera. Este predio se ubica a 10 km al SO de la ciudad de Temuco (Región de La Araucanía) (38° 46’ S, 72° 38’ O). El clima de la zona es templado cálido lluvioso con influencia mediterránea (Temperatura media anual: 12°C; Precipitación media anual: 1324 mm). El suelo del predio posee historial de uso intensivo, principalmente de tipo agrícola en sectores de lomajes suaves, con presencia de relictos de bosque nativo de roble o hualle (Nothofagus obliqua) en quebradas aledañas. En la Tabla 1 se entrega una descripción general del suelo superficial del área de estudio.Se tomaron muestras de un ensayo de fertilización de Ballica perenne. Los tratamientos corresponden a diferentes dosis de aplicación anual de nitrógeno (urea) y fósforo (superfosfato). Este ensayo fue iniciado en el marco de un Proyecto de investigación previo, y consiste de 16 tratamientos con 3 réplicas (N: 48, superficie de unidad experimental: 9.2 m2). Las dosis de fertilización con urea fueron de 0 (control), 90, 180 y 270 kg ha-1 y con superfosfato fueron de 0 (control), 80, 160 y 240 kg ha-1. Para los análisis de humectación, en la época de invierno se obtuvo de cada unidad experimental, una muestra compuesta de suelo superficial (0-8 cm de profundidad) (peso promedio por muestra: 300 g). Tabla 1. Descripción del suelo superficial (0-8 cm) en el ensayo evaluado. Textura Estructura Franco limoso Granular a grano simple Densidad aparente (g cm-3) 0.66 porosidad (%) 74.3 raíces finas (n° dm-2) <10 materia orgánica (%) 16 La humectación (ángulo de contacto, CA) se evaluó aplicando el Método del Plato de Wilhelmy (WP) (Bachmann et al., 2003). Se utilizó un tensiómetro digital (DCAT 11, DATA PHYSICS; resolución: 10-5 g), aplicándose el protocolo descrito por Ramírez et al. (2010). La muestra a la cual se le evalúa el CA consiste en un portaobjetos cubierto en un extremo con una cinta adhesiva de doble cara, sobre la cual se aplica una fina capa de material (suelo). Esta muestra es luego sumergida en agua a una profundidad y velocidad específica (profundidad máxima de inmersión: 5 mm; velocidad: 0.2 mm s-1), determinándose el cambio de peso de la muestra debido al proceso de humectación, en la medida que ésta se sumerge (30 mediciones por segundo). Para cada muestra compuesta se 280 realizaron cinco réplicas. El CA de cada réplica se determinó mediante dos variantes metodológicas aplicadas al mismo set de datos de inmersión (mm) y peso (g). Las variantes son las siguientes: WP1: determinación del CA en función de la variación del peso de la muestra (g) a medida que avanza el frente de humectación (mm). En esta variante, el CA dinámico se calcula de acuerdo a la solución analítica de Bachmann et al. (2003), a partir del cálculo de la fuerza neta de humectación (mN). Los datos utilizados en esta variante corresponden a una profundidad de inmersión de la muestra en el rango 3-4.8 mm. WP2: determinación del CA en función del peso máximo de la muestra (g). En experiencias previas se observó que el peso máximo es proporcional al nivel de humectación de la respectiva muestra. Se realiza una regresión entre los pesos máximos de las muestras más hidrófila e hidrófoba del set, evaluadas con WP1. Con esta ecuación de regresión se obtienen los ángulos de contacto del resto de las muestras. Los datos utilizados en esta variante corresponden a una profundidad de inmersión de la muestra en el rango 0-1 mm. En la Figura 1 se muestra un ejemplo de una curva de humectación obtenida con el método del Plato de Wilhelmy. R0-1 R3-4.8 Figura 1. Ejemplo de una curva de humectación obtenida con el método del Plato de Wilhelmy R0-1: rango de datos entre 0 y 1 mm (variante WP2), R3-4.8: rango entre 3 y 4.8 mm (variante WP1). Resultados La Figura 2 compara los valores de humectación (ángulo de contacto, CA) obtenidos con las variantes metodológicas WP1 y WP2. Como se observa, todas las muestras se encuentran en el rango subcrítico de repelencia (CA<90°) (Bachmann et al., 2003; Ramírez et al., 2010), es decir, con un carácter principalmente hidrófilo. Al mismo tiempo, la mitad de las muestras (25) 281 presenta un CA=0° medido con WP1 (Figura 1A). La muestra con CA promedio más alto fue de 80.6°, con el máximo valor individual de 112° (altamente hidrófobo). Estos valores se midieron en una muestra fertilizada con 160 y 180 kg/ha de urea y superfosfato, respectivamente. El coeficiente de correlación (R2) entre ambas variantes es moderado a alto (0.75), siendo levemente superior cuando se remueven del análisis las muestras con CA=0° (0.81) (Figura 1B). Ramírez et al. (2010) observaron que WP, si bien es un método confinable y de buena resolución para la medición de CA, pueden existir problemas para evaluar muestras altamente hidrófilas, por lo que con cierta frecuencia se puede determinar un CA=0° para muestras que tengan un CA intrínseco en el rango de 1 a 20° (Ramírez et al., 2013). Si bien esto puede ser poco relevante para evaluaciones que tengan como objetivo establecer categorías de humectación, sí podría constituir una limitante metodológica cuando se desee determinar el CA con alta precisión. Por lo anterior,la variante metodológica WP 2 surge como una propuesta alternativa para la determinación del CA, ya que ésta se basa en la proporcionalidad que suele exhibir el CA con el avance del frente de humectación durante el primer milímetro de inmersión de la muestra en el líquido, por lo cual es posible estimar un valor de CA ≠ 0°. Ello resulta útil cuando se evalúan muestras que tienden a ser altamente hidrófilas. Una condición que plantea WP2 es que el set de muestras correspondan a un mismo tipo de suelo, especialmente en lo que respecta a su textura, ya que el sistema poroso juega un rol determinante en el comportamiento de humectación (Ramírez et al., 2008). De esta manera, contar con un set de muestras de la misma textura permitirá aislar su efecto de la humectación, incrementando la confiabilidad de esta propiedad como un indicador de estabilidad física. Figura 2. Comparación entre los valores de ángulo de contacto (CA) obtenidos con las variantes experimentales WP1 y WP2. A: Set de datos original. B: Comparación entre las variantes experimentales luego de eliminar las muestras con CA= 0° determinados con la variante WP1. La Figura 3 muestra las correlaciones existentes entre los ángulos de contacto obtenidos con ambas variables metodológicas (WP1 y WP2) y las dosis de fertilizantes (nitrógeno y fósforo) 282 aplicadas. Como se observa, en todos los casos el valor de R2 es moderado-alto (rango 0.65 a 0.83), siendo levemente mayor en WP2, confirmando así su validez como una alternativa para la estimación indirecta del CA, ya que evita obtener muestras con CA=0° como resultado. Existe una relación inversa entre la humectación y las dosis aplicadas de urea (nitrógeno) (Figura 3A), y una relación directa con respecto a las dosis aplicadas de superfosfato (fósforo). En este ultimo caso, ello puede explicarse ya que una mayor disponibilidad en el suelo de un nutriente normalmente limitante en los suelos volcánicos jóvenes del sur de Chile como lo es el fósforo, tenderá posiblemente a estimular el desarrollo de la cobertura vegetal y la microbiota edáfica, las que a su vez son fuente de compuestos orgánicos que reducen la capacidad de humectación (INIA, 2001; Bachmann et al., 2006; Conforto et al., 2012). En el caso de la fertilización con nitrógeno, la relación inversa podría relacionarse a una posible saturación del suelo con este nutriente, posiblemente por sobre el rango de tolerancia de la microbiota, inhibiendo así la producción de compuestos orgánicos y reduciendo el CA a mayor dosis de aplicación. Figura 3. Relación entre la dosis de aplicación de fertilizantes y los valores de ángulo de contacto obtenidos con cada variante experimental. A: Aplicación de nitrógeno (urea). B: Aplicación de fósforo (superfosfato). Conclusiones Las tendencias observadas demuestran que ambas variantes de WP pueden relacionarse de manera confiable con aspectos del suelo relativos a su estabilidad física, especialmente respecto al comportamiento de las fuentes de compuestos orgánicos en el suelo, los que a su vez juegan un rol fundamental en su capacidad de agregación. Si bien la humectación evaluada con WP y los efectos de la fertilización en el suelo pueden relacionarse para definir un indicador de estabilidad física del suelo, otros factores del sustrato o métodos utilizados afectan también las estimaciones de ángulo de contacto, y deben considerarse para obtener resultados confiables. Futuros experimentos deben enfocarse en relacionar otras propiedades 283 físicas del suelo a los resultados obtenidos, tal como experimentos de estabilidad de agregados e infiltración. Agradecimientos Esta investigación fue financiada por el proyecto DIUFRO DI14-0012, Universidad de La Frontera (Temuco, Chile). 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De la educacióm Ambiental hacia la educación para el desarrollo sostenible: um desafio interdisciplinario para el desarrollo de Chile. 285 RESPONSABILIDAD SOCIAL EMPRESARIAL Y COMPETITIVIDAD: COOPERACIÓN BIRREGIONAL CELAC-UE Yanina KOWSZYK (autor de contacto); Emilie BESNIER; Irene HADDAD; Rajiv MAHER; Grissel MENESES Investigadores asociados a Forum Empresa Email: [email protected] RESUMEN La I Cumbre CELAC-UE de 2013 (7ma Cumbre EU-LAC) culminó con la Declaración de Santiago, cuyas prioridades fueron incluidas en el Plan de Acción CELAC – UE 2013-2015. La CELAC, Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños, fue creada en 2010 y representa para la UE una nueva oportunidad de articular con un homologo. El capítulo 8 del Plan, llamado “Inversiones y Emprendimiento para el Desarrollo Sustentable”, inciso I, aborda el tema de la Responsabilidad Social de las Empresas (RSE) que se considera como un factor clave para la competitividad de las economías, y por ello, un ámbito sobre el cual repensar la cooperación birregional. La II Cumbre UE-CELAC tendrá lugar en Bruselas en junio de 2015. En este contexto, la Fundación EU-LAC (creada por los países de la UE y la CELAC) solicitó un estudio a la Red Forum Empresa para conocer el nivel de inclusión de la RSE en la esfera pública, tomando en cuenta las leyes, las políticas públicas, los incentivos públicos y las instituciones asociadas al tema. El presente artículo se inspira de esta investigación, que se publicará en la página web de la Fundación EU-LAC a partir de abril de 2015. Se propone un análisis de los mayores avances y desafíos observados en la UE y en la CELAC en cuanto a las políticas públicas de RSE, y algunos elementos para una posible hoja de ruta birregional en materia de políticas y planes de acción que, de acuerdo con lo comprometido en el Plan de Acción CELAC – UE 2013-2015, apoyen la incorporación de prácticas corporativas que favorezcan la competitividad y la sostenibilidad de las empresas en las dos zonas. Palabras clave: Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC), Cooperación Birregional, Políticas Públicas, Responsabilidad Social Empresarial (RSE), Unión Europea (UE). Corporative Social Responsibility and Competitiveness: CELAC-EU Birregional Cooperation ABSTRACT The 1st EU-CELAC Summit of 2013 (7th Summit CELAC-EU) culminated with the Santiago Statement, which priorities were included in the Action Plan CELAC-EU 2013-2015. The CELAC, Community of Latin American and Caribbean States, was created in 2010 and represents a new opportunity to construct with a counterpart for the European Union. The 8th Chapter of the Action Plan, called “Investments and Entrepreneurship for Sustainable Development”, 1st subsection, deals with Corporate Social Responsibility (CSR). This matter 286 is considered as a key factor for business sustainability and competitiveness of national economies, and thus as a field to rethink the birregional cooperation. The 2nd EU-CELAC Summit will take place in Brussels in June 2015. In this context, the EULAC Foundation (created by the countries of the EU and the CELAC) put in for a study to the network Forum Empresa in order to know the level of CSR inclusion in the public sphere, evaluating the laws, public policies and incentives, and institutions dealing with this matter. The present article is inspired by this study, which will be published on the EU-LAC Foundation website from April 2015. The present article sets out an analysis of the greatest advances and challenges existing in the EU and the CELAC concerning CSR public policies, and presents some components for a potential birregional roadmap on policies and action plans which, according to the Action Plan CELAC-EU 2013-2015, may support the inclusion of corporative practices able to favor competitiveness and sustainability of firms in the two areas. Key Words: Birregional cooperation, Community of Latin American and Caribbean States (CELAC), Corporate Social Responsibility (CSR), European Union (EU), Public Policies. Introducción La Responsabilidad Social Empresarial (RSE) ha tomado un rol protagónico en el desarrollo económico y social a partir de los años 1990. Las crisis financieras, sociales y climáticas de los últimos años en combinación con el creciendo empoderamiento de los consumidores se han traducido en un escenario donde se experimenta un permanente escrutinio público sobre los modelos de gestión de las empresas, exigiéndoles mucho más que vender a precios razonables y generar empleo. El concepto de Responsabilidad Social Empresarial (RSE) se asocia al concepto de desarrollo sostenible. No se trata únicamente de la actuación empresarial que intenta reducir las externalidades negativas de su actividad, sino que incluye un rango de responsabilidades mucho más amplio. Así, la Comisión Europea define este concepto en los siguientes términos: “Integración voluntaria, por parte de las empresas, de las preocupaciones, sociales y medioambientales en sus operaciones comerciales y sus relaciones con sus interlocutores” (Comisión Europea, 2002). Comprende una dimensión interna, básicamente la relación con los colaboradores y el modelo de gestión, y una dimensión externa, la relación con las comunidades, otros stakeholders, y los impactos ambientales de las operaciones. Ahora bien, podemos decir que la situación de la RSE en cualquier país está determinada por el entorno en el cual opera la empresa, condiciones que están creadas entre otros por el poder político. En otras palabras, “las líneas de actuación públicas constituyen una de las fuerzas socio-ambientales que influyen en la conformación del entorno en el que opera la empresa y una de las presiones externas” (Gonzalez-Morales y Fátima León, 2013). Por eso, el presente estudio se enfoca específicamente en las políticas públicas que promueven la RSE. Contexto y objetivo del trabajo 287 La I Cumbre CELAC-UE de 2013 (7ma Cumbre EU-LAC) culminó con la Declaración de Santiago, cuyas prioridades fueron incluidas en el Plan de Acción CELAC – UE 2013-2015. El capitulo 8, llamado “Inversiones y Emprendimiento para el Desarrollo Sustentable”, inciso I, aborda el tema de la Responsabilidad Social de las Empresas (RSE): “incluir pautas y principios reconocidos a nivel internacional sobre responsabilidad social empresarial en la definición de políticas y planes nacionales, con el fin de promover el buen comportamiento empresarial, promover políticas públicas que fomenten la transparencia por parte de las empresas en materia social, ambiental y de derechos humanos”. Adicionalmente, menciona el objetivo de presentar informes sobre los “Planes Nacionales de Acción” sobre RSE en la próxima cumbre (en junio de 2015 en Bruselas), y señala la importancia de realizar reuniones birregionales sobre el tema, específicamente sobre asuntos sociales, medioambientales y derechos humanos. El tema de la RSE se considera como un factor clave para la sostenibilidad de los negocios y la competitividad nacional. En este contexto se presenta este estudio, cuyo objetivo es compartir el estado de los avances de los países de la UE y la CELAC en la construcción de sus “Planes Nacionales de Acción” (en adelante, PNA) o bien, en la integración de la RSE en sus políticas públicas, y proponer algunos lineamientos para una hoja de ruta birregional en materia de cooperación dentro de cada zona y entre ambas regiones estudiadas. Definiciones preliminares En el presente artículo, nos enfocamos en las políticas públicas entendidas como “el conjunto de actividades de las instituciones de gobierno, ya sea de forma directa o por medio de agentes o asociaciones, y que van dirigidas a tener una influencia determinada sobre la vida de los ciudadanos” (Pallares, 1998). Está claro que las leyes, reglamentos, decretos y resoluciones son el instrumento de actuación del Estado por excelencia. Pero también se incluyen en este análisis las políticas, planes, programas, proyectos e incentivos, así como las instituciones públicas que promueven el desarrollo de la RSE. En torno al concepto de Responsabilidad Social Empresarial (RSE), existe una gran diversidad de definiciones y enfoques. En este estudio, tanto el concepto como las materias que incluye la RSE se basan en las definiciones que realiza la ISO 26000, por ser una guía de gran aceptación a nivel mundial, como por los lineamientos de la “Estrategia 2011-2014 de la Unión Europea para la RSE”, por ser un enfoque de relevancia para este estudio. Quizá la definición más sintética y a la vez comprensiva de lo que intenta expresar la RSE es de la Comisión Europea, a saber, "la RSE se refiere a la responsabilidad de las empresas por su impacto en la sociedad". Metodología La investigación se basó en el análisis de fuentes secundarias académicas, institucionales y periodísticas, y del análisis de 70 entrevistas en profundidad con responsables de organismos públicos o expertos en el tema seleccionados por país. En la UE, el análisis se enfoco en 6 países con diferentes años de antigüedad dentro de la Unión: Alemania, Dinamarca, España, Francia, Republica Checa y Rumania. En la zona CELAC, se realizó un análisis por país mediante el apoyo de expertos nacionales. En la mayoría de los países se desarrollaron 288 entrevistas con funcionarios del gobierno quienes entregaron y/o confirmaron informaciones sobre su país por escrito, excepto en el caso del Caribe en que se entrevistó a un grupo de representantes gubernamentales pero no obtuvo la confirmación de la información escrita. Resultados: línea de base de los avances en la zona UE y CELAC en materia de políticas públicas y RSE Estado de los avances en la Unión Europea En el año 2010 la Unión Europea enmarcó sus grandes líneas de acción en la estrategia “Europa 2020” para un crecimiento inteligente, sostenible e integrador. Asimismo, la Comisión expresó su postura sobre la RSE en 2011 en el documento “Una estrategia renovada para la UE para la RSE 2011-14”. En este contexto, los Estados de la Unión Europea fueron invitados a crear un Plan Nacional de Acción de RSE. En junio de 2014, 15 Estados miembros de la UE tenían PNA en materia de RSE, cinco tenían su plan a punto de finalizar y/o en discusión en sus parlamentos nacionales, y siete estaban en el proceso de desarrollo de los mismos, lo que no implica la ausencia de iniciativas de RSE ya en marcha. La excepción es Luxemburgo, el único país en el cual ningún proceso de elaboración de PNA ha sido iniciado. Las diversas instituciones y las políticas regionales han fomentado el avance de los Planes Nacionales de Acción y han elevado el entendimiento de la RSE hacia un concepto más homogéneo a nivel comunitario. Para ello fue de gran utilidad el tratamiento de la RSE de manera transversal a través de diferentes Direcciones Generales (DG) de la Comisión Europea y de mecanismos de financiamiento que la incluyeron entre sus líneas de trabajo (destinados a programas para Pequeñas y Medianas Empresas (PYMES), la incorporación del tema en la educación, el intercambio de buenas prácticas entre regiones de diferentes países). Otras instituciones incorporaron también este tema en su agenda, como el Parlamento Europeo y el servicio de relaciones exteriores con países no miembros de la UE como los que integran la CELAC. En cuanto a los contenidos, cabe mencionar que la elaboración de cada PNA se coordina a nivel nacional por entes públicos ad-hoc y con perspectivas propias. Por ejemplo, algunos países como Alemania y Dinamarca cuentan con una larga tradición de concertación entre los diferentes grupos de interés lo que puede llevar a una prolongación del proceso de elaboración de las políticas públicas. Este es el caso de Francia también, que tras largas horas de discusión, se encuentra actualmente en las últimas etapas para la aprobación de un ambicioso Plan Nacional de Acción RSE. El mismo busca integrar las opiniones de los diferentes interlocutores sociales, en un proceso de co-construcción de políticas inteligentes que combinen el carácter voluntario y obligatorio, según la fórmula de « smart-mix » propuesta en la Estrategia Europea de RSE 2011- 2014. No obstante, e independientemente de la fase de elaboración del plan de RSE, los países también tienen algunos aspectos en común. Así, a continuación se destacan algunos puntos principales, en base al Compendio del año 2014 “Corporate Social Responsibility National Public Policies in the European Union” (Williamson et al, 2014), con foco en los seis países escogidos. 289 Primero, cabe destacar que la mayoría de los países adhieren a las Directrices de la OCDE para las Empresas Multinacionales, lo que significa que cuentan con un Punto Nacional de Contacto donde se puede hacer un reclamo sobre la conducta irresponsable de una empresa multinacional que actúa en ese país y que no cumple con dichas Directrices. Estos Estados miembros se esfuerzan también en señalar su compromiso con el tema de los impactos negativos que generan las empresas, es decir con los Principios Rectores de Empresas y Derechos Humanos de la ONU. El tema de las PYMES es clave en Europa. Muchos países han dedicado bastantes recursos al fomento de la RSE dentro este segmento empresarial. Por ejemplo, Alemania ha invertido cerca de cuarenta millones de euros (incluyendo la financiación del Fondo Social Europeo) para capacitar empleados de PYMES con respecto a la RSE y financiar programas de investigación sobre PYMES y RSE. La mayoría de los países cuentan con algún ejemplo de buena práctica en materia de política social y empleo. Por ejemplo, Alemania, España, Francia y República Checa llevan a cabo programas de financiación de proyectos para la inserción laboral de ciertos actores vulnerables (incluyen a mujeres, jóvenes, ancianos e inmigrantes). En materia de reportes de RSE, Francia se destacó durante algunos años por una ley que desde 2001 obligó a las grandes empresas a rendir cuentas sobre sus formas de abordar cuestiones sociales y ambientales. Sin embargo, desde 2014 la nueva directiva de la UE afecta a todos los países y empresas que operan en la UE, que a partir de 2017 estarán obligadas a informar sobre sus impactos a los derechos humanos y sobre toda su cadena de abastecimiento. En cuanto a la educación, los planes nacionales de acción de RSE por ejemplo de Alemania, España y Francia contienen una estrategia importante en materia de inclusión del desarrollo sostenible en todos los niveles de educación dirigida a los alumnos y docentes en todo el país. Otro tema clave tiene que ver con las compras públicas sostenibles, punto sobre el cual los avances son muy diversos según los países. Por ejemplo, en Alemania y República Checa existen legislaciones especiales para que el sector público compre de manera sostenible y responsable. En cambio, en Dinamarca se hace de manera voluntaria, no obstante, el 20% de las compras públicas en este país pasaron por la Alianza entre las Municipalidades y Gobierno mediante el programa de “Compras Verdes”. En el tema de la Inversión Socialmente Responsable, Francia es uno de los lideres puesto que cuenta con una legislación (Grenelle II, 2010) que exige a todas las empresas de Gestión de Activos (Asset Management en inglés) rendir cuentas sobre la consideración de criterios de desarrollo sostenible antes de tomar decisiones de inversión. En cambio, en Dinamarca y Alemania, el tema sigue en el plano voluntario con la promoción de ciertos principios orientadores, como por ejemplo, los UNPRI (United Nations’ Principles for Responsible Investment). 290 En cuanto a la corrupción, solamente España y Francia han tomado medidas para reducir la brecha salarial entre la alta gerencia y los trabajadores en las empresas públicas. Finalmente, en cuanto al cambio climático y el medio ambiente, se destaca Dinamarca que está desarrollando modelos de negocios “verdes” para su sector agrícola y los negocios en general. Quizás el mejor ejemplo aquí viene desde Rumania y su programa Eco-Emerge (2009–2011), que busca crear conciencia sobre la sostenibilidad, las tecnologías eficientes, los mercados verdes y la creación de una plataforma para la compra del sector público de bienes y servicios sostenibles. Al parecer, los seis países están conscientes y comprometidos con los diferentes estándares globales de RSE y en particular con los Principios Rectores de Derechos Humanos y Empresa de la ONU. Además, se percibe que los Planes Nacionales de Acción de RSE son cada vez más homogéneos en torno al “crecimiento económico” conforme con el objetivo de la Comisión Europea. La mayoría de ellos también tienen un buen desempeño en las prácticas de inserción laboral de los grupos más vulnerables. En efecto, en el contexto de crisis económica actual, este tema es una de las grandes prioridades de los gobiernos europeos que se preocupan de manera particular en la inserción de los jóvenes al mundo laboral desde una perspectiva de RSE. Los gobiernos esperan que sus políticas sociales y de empleo generen una situación “ganar-ganar” tanto para el bienestar de sus ciudadanos como para buen estado de sus economías. Las diferencias entre los PNA analizados se concentran fundamentalmente en el nivel del detalle y las líneas de acción establecidas como prioritarias. Cabe mencionar que algunos países tienen recursos para crear iniciativas de mayor impacto que otros, debido al tamaño de sus economías y los recursos financieros disponibles que acompañan a dichos programas. Estado de los avances en la zona CELAC En la mayoría de los países latinoamericanos y caribeños, la Responsabilidad Social Empresarial (RSE) sigue siendo relativamente débil. El tema inicialmente se asoció a una tradición filantrópica, que ha ido poco a poco evolucionando hacia una perspectiva más estratégica, tanto hacia dentro como hacia fuera de la empresa. La RSE ha avanzado ante todo por las demandas sociales no satisfechas, la pobreza y la desigualdad. Por lo tanto, muchas de las alianzas publico-privadas que se pueden observar en la región, tratan de proveer infraestructuras básicas, o corregir las fallas en la provisión de servicios públicos (por ejemplo agua potable o electricidad en comunidades vulnerables) (Gonzalez-Morales y Fátima León, 2013). No obstante, otros sub-temas de la RSE son cada vez mas difundidos en América Latina y el Caribe, como la protección del medio ambiente y la mejora en las prácticas laborales. En esta materia, cada Estado de la zona CELAC en forma individual promueve y realiza actividades dentro de su país, pero es poca la actividad en conjunto y casi inexistente la comunicación entre los países. Las únicas iniciativas de cooperación que existen sobre la temática son aquellas coordinadas por organismos sub-regionales tal como la CAN 291 (Comunidad Andina), el MERCOSUR (Mercado Común del Sur), la OEA (Organización de Estados Americanos) y la SIECA (Secretaria de Integración Económica Centroamericana), que coordinan esfuerzos que van desde contar con una agenda común hasta desarrollar una dinámica más asociada a la integración regional con un objetivo claro, como es el caso de la SIECA. No obstante, si bien estas iniciativas regionales influyen el diseño de algunas políticas públicas nacionales, sus resultados no son vinculantes y por lo tanto su impacto sigue siendo disperso y limitado. A nivel nacional, las políticas de los Estados son muy heterogéneas. La mayoría de ellas son políticas que distan de ser integrales, siendo más bien enfocadas por sector económico o subtema de la RSE. En cada país existe una realidad compleja y específica (Arroyo Laguna, 2012). También cabe destacar que en muchos países de la zona, todavía existen redes del sector privado que consideran necesario y aun prioritario seguir “promoviendo al promotor” (Arroyo Laguna, 2012), es decir seguir promoviendo que el Estado promueva la RSE. América del Sur (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Colombia, Ecuador, Paraguay, Perú, Uruguay, Venezuela) es el grupo de países de la CELAC con mayor impulso a la RSE, al estar más insertos en la dinámica de la economía mundial. En esta subregión, se ha trabajado bastante sobre las inequidades pero también sobre el medio ambiente, dado la predominancia de las actividades de extracción de materias primas en su economía. Los países con mayores avances a nivel del sector público son Brasil, Chile y Colombia. Chile y Colombia están avanzando hacia instrumentos parecidos a un Plan Nacional de Acción (PNA) de RSE, mientras que Brasil desarrolla múltiples iniciativas ambiciosas a nivel federal y local, sin que exista un mecanismo de planificación centralizado y transversal como un PNA. Uruguay fue en un momento pionero en la región, con la creación de un Consejo Nacional sobre la Responsabilidad Social en 2010, pero actualmente se encuentra casi sin avances. La tendencia en este grupo de países, no es a la regulación sino a la promoción voluntaria de la RSE, excepto en dos de ellos: Bolivia, que se distingue por planificar la publicación de una ley de RSE durante el presente año 2015, y Venezuela, país en el cual, de manera general, se multiplican las leyes orientadas a ampliar la regulación del sector empresarial. Por su parte, América Central se apoya sobre la Secretaría de Integración Económica de Centroamérica (SIECA) para promover una integración económica regional enfocada sobre temas de RSE, con la colaboración del Centro Vincular y de la red de promotores INTEGRARSE (que incluye las organizaciones de RSE de Panamá –SUMARSE-, Costa Rica –AED-, Nicaragua –UNIRSE-, Honduras- FUNDAHRSE-, Guatemala –CENTRARSE, y El Salvador – FUNDEMAS-). Es el único caso de cooperación internacional sobre RSE en la CELAC. En este contexto, el país que más se distingue por el momento es Costa Rica, que fue precursor a nivel continental en crear un Consejo Consultativo Nacional de Responsabilidad Social ya en el año 2008, y que está ahora el único país de la CELAC en fase de elaboración concreta de un Plan Nacional de Acción de RSE. En el Caribe, se desarrollan pocos incentivos para fomentar el tema, aunque existen iniciativas dispersas en las economías más grandes de la zona como Republica Dominicana y Jamaica. Cabe destacar que la mayoría de los países del Caribe son demasiado vulnerables (como es el caso de Haití por ejemplo) o que acogen muy pocas empresas grandes (como es el caso de la mayoría de las pequeñas islas, excepto Trinidad y Tobago en el cual se extrae 292 petróleo) como para que exista una dinámica relevante de dialogo público-privado sobre el tema de la RSE. En concreto, los tres ejemplos más destacables en la CELAC son Chile, Colombia y Costa Rica, que están avanzando hacia instrumentos parecidos a un Plan Nacional de Acción de RSE (PNA): -Chile: se planifica elaborar un PNA por el Consejo Consultivo Nacional de Responsabilidad Social (2013), pero todavía no se inició el proceso. Este Consejo, creado por decreto, incluye actores públicos como privados y está encabezado por el Ministerio de Economía. Funciona con mesas de trabajo y reuniones generales (8 en 2013-2014): por ahora avanza más concretamente por sub-temas de RSE, pero con la idea de llegar a lineamientos para elaborar un marco general. -Colombia: se diseña una política pública de RSE desde el Ministerio de Comercio, Industrias y Turismo, en adelante, MINCIT (cuya adopción se espera para el 2015). A principios del año 2014, el MINCIT inició una alianza con el Pacto Global de Colombia, algunas universidades, el Ministerio de Relaciones Exteriores y el Ministerio de Minas y Energía para hacer un diagnostico de lo existente en materia de RSE en el país. Se organización 12 talleres participativos, a partir de los cuales se están estableciendo los lineamientos de dicha política. -Costa Rica: la elaboración del PNA de RSE está coordinada desde el Ministerio de Economía, Industria y Comercio, en adelante MEIC (se espera su adopción en 2015). En 2014, el MEIC inició un gran proceso de consulta orientado hacia los actores privados y públicos, incluyendo la cooperación internacional. Se organizaron distintas actividades de consulta y sensibilización, con el apoyo de la Asociación Empresarial para el Desarrollo (AED), con el objetivo de crear una primera versión del PNA para buscar retroalimentación y su publicación definitiva en 2015. En relación al uso de estándares internacionales, cabe destacar el caso de Colombia por ser el único país que tiene un plan nacional sobre derechos humanos y empresas (inspirado como en todos los casos, en el trabajo elaborado para Naciones Unidas por el Profesor John Ruggie en 2008). También hay que tener en cuenta que Argentina, Brasil, Chile (país miembro), Colombia, Costa Rica, México (país miembro) y Perú reconocen las Directrices de la OCDE para empresas multinacionales, lo que favorece la adopción de incentivos públicos para la RSE en esos países. Por otra parte, existen redes locales del Pacto Mundial en Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Ecuador, México, Panamá, Paraguay, Perú, Republica Dominicana, y Uruguay, lo que colabora no sólo con la difusión de los principios del Pacto, sino también el conocimiento de la ISO 26000 y el GRI como estándares y guías de referencia en esos países. Comentarios sobre el estado de avances a nivel birregional Así, los avances en materia de políticas públicas sobre RSE en la UE y en la CELAC son profundamente distintos, en primer lugar porque en la UE los PNA son una obligación coordinada por instituciones regionales, mientras en la CELAC no existe ningún mecanismo de coordinación que permita armonizar las iniciativas. 293 Conclusiones Las grandes diferencias observadas entre los bloques UE y CELAC se pueden encontrar principalmente a partir de sus diferentes niveles de institucionalización. Así, el primer eje potencial para profundizar los avances sobre RSE en la CELAC es generar mecanismos de cooperación dentro de la zona, para que se puedan transferir conocimientos y compartir experiencias tal como en Europa. Efectivamente, sin lugar a dudas, el nivel de institucionalidad de la Unión Europea ha sido crucial para el avance en la creación de planes nacionales y para la aproximación al tema en los diferentes países, sobre todo en aquellos donde la temática no había sido tratada como tal hasta su ingreso a la Unión. Además, una mayor institucionalización sobre RSE a nivel CELAC permitiera facilitar la cooperación birregional con la UE. Algunos desafíos comunes a ambas zonas son: -la creación de instancias de dialogo público-privado -la reducción de las desigualdades y la inclusión social -el caso de las PYMES, predominantes en las economías de la CELAC -la creación de valor compartido en la cadena de valor -las políticas de compras sostenibles. Para lograr avances en estas áreas, se puede por ejemplo proponer la creación de un grupo de trabajo a nivel CELAC (con liderazgo posible por ejemplo de los 3 países avanzando hacia un PNA y la PPT-CELAC, que en 2015 es Ecuador). Otra idea sería orientar el dialogo alrededor de una agenda de RSE propia a la CELAC (en tal caso existe la posibilidad de contar con apoyo de la ALAARS (Agenda Abierta Latinoamericana de Responsabilidad Social), iniciativa del MERCOSUR que habría que compartir con los Estados de la CELAC no miembros del MERCOSUR). A nivel de la cooperación birregional, se podría desarrollar una cooperación específica sobre los PNA entre ministerios nacionales encargados de dichos planes, con el objetivo de realizar una transferencia de conocimientos y buenas prácticas, apoyo técnico sobre como concretar una estrategia nacional y con qué tipos de incentivos, soporte sobre temas de sensibilización y comunicación (por foros, grupos de trabajo…). Tal cooperación ya se realizó entre Costa Rica y España, por ello, se podría profundizar y multiplicar. Más allá de la cooperación específica sobre los PNA, distintos temas podrían ser ejes prioritarios para analizar posibles enlaces, como por ejemplo las PYMES (dado su peso en las economías de las dos zonas y su baja inclusión en la dinámica de la RSE), o bien, las compras públicas sostenibles (que son incipientes en las dos zonas). Un tema de potencial trabajo común que es particularmente interesante también tiene que ver con la economía social y solidaria: la cooperación podría generar aportes similares para los dos bloques, UE y CELAC, puesto que las dos zonas están recién comenzando a avanzar en el tema. El programa EUROSociAL podría ser clave para promover mas la cooperación birregional entre CELAC y UE sobre este tema específico, puesto que ya trabaja sobre asuntos tales como la inclusión social y la creación de valor compartido. 294 También se pueden destacar otros actores que podrían facilitar la cooperación birregional sobre RSE, como el Centro de Formación para la Integración Regional (CEFIR) del MERCOSUR, que trabaja sobre la temática de la RSE desde hace años y tiene socios europeos, y el Centro Latinoamericano para las Relaciones con Europa (CELARE), que tiene experiencia en cuanto a la cooperación birregional a nivel gubernamental y ya apoyó la organización de la I Cumbre CELAC-UE en 2013 en Santiago. Tal vez el actor más potente para el tema sería la Asamblea Parlamentaria Euro-Latinoamericana (EuroLat), que ya trabaja en forma birregional entre Europa y América Latina sobre temas relacionados a la RSE. Existe por ejemplo, la Comisión de Desarrollo Sostenible, Medio Ambiente, Política Energética, Investigación, Innovación y Tecnología, a través de la cual se podría realizar una cooperación estrecha entre ambas regiones en material de RSE. Además, el EuroLat ya ha discutido el tema de las políticas públicas acerca de la RSE y los Principios Rectores de Derechos Humanos y Empresa, por lo tanto sería una instancia apropiada para canalizar la cooperación birregional sobre la temática. En junio de 2015, la II Cumbre EU-CELAC tendrá lugar en Bruselas con la Cumbre Empresarial el día anterior, una oportunidad de dialogo birregional público-privado para redinamizar la cooperación sobre RSE entre las dos zonas. Agradecimientos Se les agradece a todas las personas entrevistadas durante esta investigación por su colaboración para la realización del estudio, en particular a los socios de Forum Empresa que nos han facilitado el contacto con responsables de cargos públicos en sus respectivos países, y a dichos funcionarios públicos en la zona CELAC y en la zona UE. Referencias bibliográficas Arroyo Laguna, Juan, ”Promover al Promotor: el Estado ante la Responsabilidad Social Empresarial”, Centrum Católica’s Working Paper Series N°2012-09-0004, Septiembre de 2012 Gonzalez-Morales Olga, y de Fatima Leon María, “Responsabilidad Social Empresarial: Aproximación a las Líneas de Actuación Públicas de la Unión Europea, América Latina y el Caribe”, Actualidad Económica N°79, Enero-Abril 2013 Pallares Francesc, “Las políticas públicas: El sistema político en acción”, Revista de Estudios Políticos N°62, 1998 Williamson, N.; Stampe-Knippel, A., Weber, T., “Corporate Social - Responsibility National Public Policies in the European Union - Compendium 2014”, European Commission Directorate-General for Employment, Social Affairs and Inclusion Unit C.1, 2014 Páginas web: Comisión Europea, Comunicación de la Comisión de 2.7.2002 relativa a la responsabilidad social de las empresas, 2002: http://europa.eu/legislation_summaries/employment_and_social_policy/employment_rights_and_work_organis ation/n26034_es.htm 295 A GESTÃO PÚBLICA DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL: FOMENTOS À SUSTENTABILIDADE STRABELI, Giovana I. (1); NEVES, Érica P. (2) (1) UFSCar; (2) UNESP [email protected]; [email protected] Resumo As preocupações no que tange às questões ambientais e de sustentabilidade, ainda que vistas em teorias, acabam sendo exponenciadas quando as sociedades são gravemente expostas a grandes impactos ambientais. Em vista disso, o presente estudo se constitui em uma pesquisa bibliográfica objetivando reconhecer, bem como discutir, as ferramentas públicas adotadas por alguns municípios brasileiros acerca do gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil (RCC), uma vez que esses representam entre 40% a 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos. Para tanto, foram levantadas e analisadas diretrizes legislativas aplicadas atualmente nesses municípios, buscando-se verificar suas aplicabilidades e suas contribuições no avanço das políticas sustentáveis dentro do país. Salienta-se que tal problemática se agrava quando considerado que 50% dos RCC são depostos em locais irregulares e impróprios, sendo esse panorama agravado pela escassez de espaços e de tratamentos adequados. Em paralelo, focando maiores esclarecimentos, alguns modelos e ferramentas inerentes ao Sistema de Gestação dos RCC nos canteiros de obra, baseados, particularmente, na experiência do Sindicato da Indústria da Construção Civil no estado de São Paulo – SIDUSCON-SP foram evidenciados e discutidos. Logo, mediante tal panorama, a responsabilidade dos principais atores da sociedade – o Estado, a Sociedade e o Mercado – torna-se imperativa, mediante a conscientização destes com relação, entre outros fatores, à promoção de pesquisas pertinentes – cada vez mais assertivas – acerca do correto gerenciamento de RCC, assim como sua requalificação. Palavras-chave: Sustentabilidade, Gestão Pública, Resíduos da Construção Civil. Public management of civil construction waste in Brazil: fostering sustainability ABSTRACT Concerns regarding environmental and sustainable issues, even from the theoretical stand point, are highlighted whenever society is severely exposed to environmental threats. For this reason, this review acknowledges these issues and discusses tools in use by some Brazilian cities to manage Civil Construction Waste (CCW). CCW is important as it represents 40% to 70% of total solid waste generated by any city. For this end, current legal guidelines were collected and analyzed so as to assess possible applications and improve 296 sustainable policies in Brazil. The way 50% of CCW is ditched by improper manners is troubling; the problem gets even worse when we account for the lack of space and adequate facilities to manage waste. At the same time, we focused on clarifying and discuss a few models and tools from the WCC Management System applied to construction sites, more specifically, the outcomes from Sao Paulo State Civil Construction Union (SIDUSCON-SP). Facing these facts, the responsibility of key elements - The triad state-society-market - is brought to light. They should be shown the importance of assertive studies regarding proper CCW management and the importance of constant update. KEY WORD: Sustainability, Public Management, Waste Construction. INTRODUÇÃO O crescimento da Indústria da Construção Civil no Brasil, apesar de mais fraco ao longo dos últimos anos (Ayres, 2013, 2014), refletiu significativamente sobre o meio ambiente por meio da geração de grande quantidade de Resíduos da Construção e Demolição (RCD). Tal realidade expõe as cidades às problemáticas ambientais decorrentes do acúmulo exacerbado de tais resíduos, intensificadas, principalmente, pela deficiência no serviço de coleta e disposição final devido às escassas e precárias áreas de descarte. Essa realidade revela o despreparo da gestão pública e privada quanto à reciclagem e ao planejamento sustentável dos entulhos gerados pelo grande número de obras espalhadas entre os municípios brasileiros. Frente a tal processo de degradação ambiental, fazem-se necessárias intervenções cada vez mais assertivas tanto por parte do poder público quanto por parte da iniciativa privada, as quais promovam ações e soluções sustentáveis para a coleta, reciclagem e destinação final dessa tipologia de resíduo. A conscientização a respeito dos recursos naturais bem como acerca das ferramentas e tecnologias de reutilização e reciclagem dos entulhos, tornam-se aspectos inerentes ao desenvolvimento sustentáveis das cidades, o qual pode ser gerido e administrado por meio de legislações pertinentes e adequadas que assegurem a preservação do ambiente concomitantemente aos interesses evolutivos e expansivos das unidades municipais. Salientase, no entanto, que para a efetividade da aplicação de tais ferramentas, as ações devem permear a triangulação de poderes entre setor produtivo, setor público e a sociedade em geral. Trata-se de uma união de deveres e interesses que devem estar corretamente direcionados a uma mesma meta: a sustentabilidade. Evidenciada essa realidade complexa, o presente estudo teve por objetivo reconhecer e discutir as ferramentas públicas adotadas por alguns municípios brasileiros acerca do gerenciamento dos RCD, uma vez que esses representam entre 40% a 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos (RSU) (PINTO 1999). Para tanto, foram levantadas e analisadas diretrizes legislativas aplicadas atualmente nesses municípios, buscando-se verificar suas aplicabilidades e suas contribuições no avanço das políticas sustentáveis dentro do país. 297 298 CONTEXTUALIZAÇÃO Panorama Geral dos Resíduos da Construção Civil Viana (2009) expõe que anteriormente, quando não havia preocupações ambientais, os resíduos eram destinados a terrenos e a cursos d’água, locais muitas vezes próximos aos centros populacionais. Com a expansão demográfica e o adensamento dos centros urbanos, a questão relacionada à disposição destes resíduos tornou-se evidente, uma vez que áreas disponíveis e localizadas perto dos centros de geração estão cada dia mais escassas (SISINNO, 2000). No contexto da Indústria da Construção Civil, como destaca Souza et. al (2004), uma parcela considerável de materiais diversificados é consumida, chegando a superar a indústria automobilística entre 100 a 200 vezes mais, além disso, o fato se agrava quando levado em consideração, que por se tratar de resíduos predominantemente inseridos e despejados dentro dos limites urbanos os RCD, são caracterizados como (RSU) e 50% destes – o entulho – não são acondicionados ou depostos de maneira regular (PINTO, 1999). Carneiro (2005, apud VIANA, 2009) afirma que a preocupação com os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), no Brasil, começou a ser percebida somente nas últimas décadas, quando os problemas causados pelo mau gerenciamento dos resíduos passaram a influenciar negativamente na qualidade de vida da população. Para Blumenschein (2007), o gerenciamento dos RCD (Resíduos da Construção e Demolição) deve se tornar intrínseco ao canteiro de obras, qualquer que seja o porte do empreendimento, a fim de otimizar a qualidade na gestão ambiental das cidades. A autora ainda corrobora que esses resíduos devem ser monitorados desde a fase projetual até a sua deposição final; esse controle é indispensável à mitigação de impactos ambientais. Paralelamente ao esgotamento de aterros sanitários devido ao seu grande volume, esse resíduo pode provocar a obstrução do sistema de drenagem urbana, a contaminação de rios e córregos e consequente assoreamento, o bloqueio de passeios e vias públicas e a proliferação de animais peçonhentos e roedores (BLUMENSHEIN, 2007; PINTO, 2005). Os desperdícios são originados devido a um conjunto de fatores tais como, falhas de projeto, carência de assistência e acompanhamento técnico, mão de obra pouco qualificada, falta de planejamento e gerenciamento dos processos, ausência de organização em canteiros e estações de trabalho, utilização de ferramentas incompatíveis, entre outros, que, voluntaria ou involuntariamente, acabam gerando cada vez mais impactos ambientais (OLIVEIRA, 2010). Neste contexto, Tozzi (2006) observa que os aspectos ambientais referentes aos RCD têm gerado bastante interesse nos últimos anos, tanto no Brasil como no exterior. O surgimento de leis, normas, resoluções, decretos e planos tem como objetivo valorizar os RCD e incentivar o seu reaproveitamento (JOHN e AGOPYAN, 2000). 299 Porém, Marques; Oliveira; Picanço, 2012 ponderam que: A maioria dos trabalhos encontrados em literatura sobre a caracterização dos RCD refere-se ou sobre a disposição dos resíduos no município, ou sobre obras de grande porte. Embora estejamos na era do conhecimento, as pequenas e micro empresas, mesmo representando grande parte do setor, parecem estar sem acesso e distantes das novas metodologias gerenciais sustentáveis, fato preocupante, uma vez que a maior parte dos despejos residuais é proveniente das pequenas construções e reformas (MARQUES NETO, 2004). Legislações Atualmente, o poder público lança mão de leis federais, estaduais e municipais para verbalizar a preocupação nacional acerca dos direitos e deveres dos cidadãos bem com das gerações futuras perante a preservação ambiental (OLIVEIRA, 2010). Tal como consta na Constituição Federal de 1988, Capítulo VI (do Meio Ambiente), art. 225: “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Blumenschein (2007) observa que em torno de 80% de uma caçamba é totalmente reciclável, podendo se tornar matéria prima para novos processos produtivos, o que corrobora a responsabilidade dos geradores no estímulo ao processo de reciclagem dos RCD; ou seja, o empreendedor e os colaboradores envolvidos devem assegurar a qualidade da triagem dos materiais descartados e consequente segregação de acordo com a Resolução vigente do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA. Para Marques Neto (2009), o alicerce de qualquer ingerência no âmbito da gestão dos RCD seria a discussão de políticas pontuais no que tange o saneamento básico municipal, políticas estas que devem ser fundamentadas em referenciais técnicos. O autor ainda expõe alguns exemplos como: “[...] a implantação de ecopontos (áreas públicas para recebimento voluntário de pequenos volumes de entulho provenientes de pequenos geradores), de usinas de reciclagem de entulho e de aterros de inertes, além de melhor controle da produção através de projetos de gerenciamento dos geradores.”. Souza (2007) destaca que, até pouco tempo atrás, a gestão dos RCC era responsabilidade da administração pública, o que não ocorre com as demais indústrias, que são compelidas ao tratamento de seus resíduos. Essa realidade significava grandes custos aos cofres públicos, custos estes que foram transferidos aos geradores através das novas políticas públicas de gestão de RCC. 300 A solução para essa problemática da partiu da criação de uma legislação específica: a Resolução n.º 307 do CONAMA, de 05 de julho de 2002, alterada três vezes, estando a última versão – a Resolução n.º 448/12 – vigente até o momento, e que fornece as principais diretrizes para a Gestão dos RCD a fim de mitigar e/ou extinguir os impactos ambientais causados por eles a partir da premissa que prioriza a não geração de resíduos; define e disciplina os principais agentes geradores dos RCD, sejam eles públicos ou privados, físicas ou jurídicas. Além desse norteamento, a Resolução n.º 448/12 identifica e classifica os RCD e estabelece os procedimentos necessários quanto à triagem e à destinação final. Neste contexto, a Resolução institui a implantação de Planos Integrados de Gerenciamento de RCC direcionada aos municípios e, também, Projetos de Gerenciamento por parte dos geradores (MARQUE NETO, 2009; OLIVEIRA, 2010; SOUZA, 2007). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), também fornece ferramentas regulamentadoras que visam normatizar as atividades e ações inerentes à geração e manipulação dos RCD. As normas destacam diretrizes para: apresentação de projetos de aterros sanitário de resíduos sólidos urbanos (NBR 8.419/1992); Classificação de resíduos sólidos (NBR 10.004/2004); Procedimentos adequados para agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil (NBR 15.115/200); Coleta de resíduos sólidos (NBR 13463/1997), entre outros. Outros complementos legislativos a serem citados são as leis: nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação, e dá outras providências; nº 7.347 de 24 de julho de 1985 – Dispõe sobre Ação Civil Pública de Responsabilidade por Danos ao Meio Ambiente e outros; nº 7.735 de 22 de fevereiro de 1989 – Dispõe sobre a extinção de órgão e de entidade autárquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e dá outras providências; nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Pinto (2005) ainda considera o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras, do Programa Brasileiro da Produtividade e Qualidade do Habitat – PBPQ-H, que “prevê, em seu escopo, a necessidade da ‘consideração dos impactos no meio ambiente dos resíduos sólidos e líquidos produzidos pela obra (entulhos, esgotos e águas servidas), definindo um destino adequado para os mesmos’, como condição para qualificação das construtoras no nível ‘A’”. Percebe-se, nesse panorama, que os agentes regulamentadores têm buscado caminhos mais assertivos com relação ao gerenciamento dos resíduos aqui evidenciados. Salienta-se, no entanto, que todas as ferramentas legislativas devem estar inerentes às atividades rotineiras das pequenas, médias e grandes atividades construtivas. A fiscalização deve partir inicialmente de atitudes internas aos empreendimentos, e, por conseguinte, dos órgãos fiscalizadores públicos. 301 GESTÃO DO RCD Um estudo realizado por Miranda; Ângulo; Careli (2009) apresentou o número de construtoras de grande e médio porte, em diversos estados, que foram assistidas de alguma forma por empresas de consultoria e outras instituições conhecidas para a implantação do gerenciamento de RCD em seus canteiros e constatou que elas representam apenas 1% do total das empresas construtoras nacionais com mais de cinco funcionários. Blumenschein (2007) afirma que alguns estudos desenvolvidos em programas de pósgraduação em diferentes universidades no Brasil e por alguns Sindicatos da Indústria da Construção, classificam as perdas em seis grupos: • Perdas inevitáveis decorrentes de fatores climáticos; • Perdas inerentes ao processo construtivo; • Perdas agregadas resultantes de materiais aplicados para sanar in-correções de projetos ou incompatibilidade entre os mesmos; • Perdas de produtividade referentes ao uso indevido do tempo de trabalho; • Perdas evitáveis decorrentes de desperdício. Souza (2007) mostra que, em estudo realizado no material desenvolvido pelo Projeto WAMBUCO (Waste Manual for Building Constructions) em países europeus, observou-se que o maior diferencial da proposta metodológica está no planejamento e envolvimento dos profissionais anteriormente à construção, ainda na fase de projeto. Esse projeto ainda apresenta os passos para a gestão otimizada de resíduos: • Estudos iniciais e planejamento da gestão de resíduos em obra (legislação vigente, prevenção da geração de resíduos, plano de recolhimento e destinação); • Contrato para o recolhimento dos resíduos (definição de quantidades, cláusulas contratuais para separação e tratamento, análise financeira da gestão dos resíduos); • Gestão de resíduos durante o período de construção (definição dos responsáveis pela coleta, treinamento das empresas subcontratadas, controle da separação, organização dos contentores e do transporte interno, externo e tratamento dos resíduos); • Documentação de tratamento de resíduos (comprovantes de tratamento adequado). O domínio das complexidades dos processos construtivos é inexorável a uma gestão eficiente e eficaz dos resíduos gerados em canteiros de obras, sendo oportuno citar algumas delas (BLUMENSHEIN, 2007): • O volume do resíduo produzido (que justifica todo o esforço para a redução de sua geração); • O número de participantes no processo construtivo (que torna o fluxo de informação falho); • O número de agentes do setor produtivo, setor público e terceiro setor que compartilham a responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos (quando o setor público não cumpre com a sua responsabilidade enfraquece as ações e os esforços do setor produtivo e do terceiro setor); • Os recursos escassos para financiamento de projetos de pesquisa de novos materiais produzidos pela reciclagem de resíduos; • Os recursos escassos dos municípios para atacarem os problemas de gestão ambiental; 302 • • • O potencial de reciclagem (desperdiçado) dos resíduos sólidos ori-undos do processo construtivo (em torno de 80% dos resíduos de uma caçamba são recicláveis); A necessidade e responsabilidade do setor público de instituir instru-mentos que controlem e estimulem a gestão dos resíduos gerados em canteiros de obras; A responsabilidade e o compromisso do setor produtivo em atender às legislações referentes ao tema. O manual: Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil – SIDUSCOM-SP, coordenado por Pinto (2005) e orientado pela metodologia Obra Limpa, propõe uma sequência de atividades a construtoras que decidam por instituir um programa de gestão de RCC em seus processos construtivos: • • • • Reunião inaugural – destinada às direções técnicas e de obras, envolvendo todos os agentes, além dos colaboradores responsáveis pela qualidade, segurança do trabalho e suprimentos; tem como principal objetivo atualizar os participantes sobre os impactos gerados pelo RCD e pela falta de gerenciamento, apresentar as leis e diretrizes pertinentes ao RCD, propor a nova metodologia, seus benefícios e implicações; Planejamento – realizado a partir da observação dos canteiros a fim de identificar os principais dados como número de funcionários, área de construção, layout do local, fluxos de materiais e resíduos, entre outros; Implantação – deve ser iniciada desde que todos os acessórios estejam disponíveis e os funcionários tenham sido treinados e instruídos a respeito dos novos processos e ações referente ao tratamento dos resíduos, priorizando a triagem e correto armazenamento temporário do RCD. Nessa fase, os agentes de controle, tanto administrativos como operacionais, já devem estar cientes sobre os novos procedimentos; Monitoramento – tem como principal objetivo os desempenhos da obra e dos colaboradores através de documentação detalhada, que servirá como base de comparação às avaliações futuras, além de instrumento para intervenções corretivas de imediato. Deve-se cuidar nessa fase, também, que novos colaboradores sejam treinados ao ingressar na obra. O manual ainda propõe a identificação e a qualificação dos agentes envolvidos tais como fornecedores de dispositivos e acessórios; empresas transportadoras responsáveis pela destinação correta e legal do RCD; e o cadastramento dos locais destinados aos resíduos. Ressalta-se que qualquer um dos agentes envolvidos é imprescindível a apresentação das licenças e registros bem como da formalização dos contratos de serviços a serem prestados. Souza (2007) propõe em seu estudo a realização de uma segunda atividade como complemento ao Sistema de Gerenciamento de RCD, que se trata da realização de um levantamento de dados para a determinação de Indicador de Geração de Resíduo (IGR), que deve ser elaborado para algumas etapas da construção (demolição, alvenaria e acabamento) e para alguns materiais utilizados nos serviços executados (tijolos cerâmicos, argamassa de revestimento, gesso e placas cerâmicas). A autora ressalta que “o item demolição foi escolhido por se tratar de uma fase única, em curto período de tempo e com grande geração de RCD [...]”. Essa prática é fundamental para estimar a quantidade de RCD gerado, representativo, nos canteiros de obra. (Figura 1.) 303 IGR – Indicador de Geração de Resíduo Alvenaria (tijolos cerâmicos) Demolição 1. Levantamento da área total a ser demolida 2. Levantamento dos resíduos retirados 3. Definição do indicador de geração 1. Caracterização da obra e da tecnologia construtiva 2. Prévia marcação da amostra de tijolos 3. Contagem dos tijolos assentados na execução da alvenaria Acabamento (Gesso, argamassa de revestimento e cerâmica) 1. Levantamento da área a ser revestida. 2. Pesagem dos resíduos gerados Figura 1. Fluxograma da proposta de metodologia para estimativa de IGR. Fonte: Souza, 2007 – adaptado pela autora. Acondicionamento dos Resíduos Inicialmente, os resíduos devem ser armazenados no mesmo local de geração. Materiais com pequenas dimensões, como plásticos, madeiras, papéis e metais podem ser acondicionados em bombonas plásticas de 50 litros (Figura 2) ou outro recipiente aberto e resistente, que podem ou não conter um saco de ráfia compatível ao tamanho que proporcione rapidez e agilidade na coleta para destinação final. Já os destinados a resíduos orgânicos, necessariamente, precisam de tampo e sacos apropriados (BLUMENSHEIN, 2007; PINTO, 2005; SOUZA, 2007). Figura 2. Bombonas de plástico. Fonte: Souza, 2007 Já para o acondicionamento final dos resíduos devem ser providenciados recipientes que facilitem sua retirada e destinação final. O armazenamento precisa assegurar que o RCD seja mantido separado. Como exemplos, pode-se citar: 304 • • • Big bags: utilizados no acondicionamento de papéis, plásticos e outros materiais leves. O tamanho recomendado para os bags é de 90cm x 90cm x 120cm. O local dos bags deve ser coberto e protegido de chuva. Os bags precisam estar instalados em suportes metálicos ou de madeira que não os deixem suspensos. (Figura 3). Baias: sendo quantificadas e dimensionadas em conformidade com a necessidade de utilização na obra (Figura 4). Caçambas estacionárias: costumam ter capacidade de 4.5 a 5.5m³. Seu uso deve ser determinado de acordo com a necessidade de cada obra, normalmente para acondicionamento de resíduos de madeira e/ou classe “A”. (Figura 5) Figura 3. Big Bags. Fonte: Souza, 2007 Figura 4. Baias. Fonte: Souza, 2007 Figura 5. Caçambas Estacionárias. Fonte: Souza, 2007 Artifícios como os sacos de ráfia devem ser usados para a manteneção dos resíduos segregados, facilitar seu transporte e coleta. Além disso, é necessário garantir visualização clara e objetiva dos locais de destinação dos resíduos, como adesivos e placas de sinalização, que devem ser padronizadas com as cores e sinais indicando os materiais referenciados pelas normas pertinentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS As preocupações a respeito às questões ambientais, apesar de antigas, somente são valorizadas quando afetam o bem estar das sociedades. Sendo de responsabilidade do Estado, da Sociedade e do Setor econômico, a preservação do meio ambiente deve ser o principal estímulo no que tange ao interesse por pesquisas e estudos que visam a melhoria e a otimização de ferramentas, metodologias e instrumentos acerca do gerenciamento dos recursos naturais. É imprescindível ao Poder Público, em todos os seus níveis hierárquicos, o exercício da fiscalização e a promoção de novas políticas locais de Sistema de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição, já que referências pontuais podem refletir melhor a realidade de cada cidade. A sociedade, apesar de há tempos se eximir da sua colaboração e participação neste cenário como geradores de RCD, precisa ampliar sua percepção quanto aos impactos gerados por suas decisões, desde alterações de projeto durante a obra até a escolha consciente de materiais reciclados e recicláveis. Quanto ao mercado, cada vez mais competitivo e global, necessita aprimorar seus sistemas de gerenciamento, incluindo projetos, processos, controles e custos. 305 A partir do desenvolvimento e da prática de novos sistemas de gestão e de qualidade no setor da construção civil, será possível reduzir desperdícios e, consequentemente, a geração do RCC, já que por sua quantidade e volume se mostram tão problemáticos no espaço público. Pode-se concluir que apesar das inúmeras dificuldades apresentadas por Blumenshein (2007) como: a falta de áreas específicas para recebimento dos resíduos Classe A, espaços reduzidos em canteiros de obras, falta de agentes coletores na malha urbana com capacidade de coletar resíduos classe B, falta de preparo de agentes coletores e recicladores, falta de incentivos aos agentes coletores, envolvendo capacitação, falta de integração de agentes, a não prioridade na agenda dos municípios para a destinação de áreas e integração de agentes, a dificuldade em envolver alguns agentes, líderes nos canteiros de obras, sejam engenheiros, mestres e encarregados, a dificuldade de envolver os trabalhadores terceirizados, a canteiros muito grandes tendem a apresentar focos de resíduos inadequados. Ainda é possível segundo a mesma autora observar os benefícios da aplicação de um SGRCD como: melhoria no ambiente de trabalho, limpeza e organização do canteiro – obras mais limpas, pessoal operacional mais educado, redução de acidentes na obra com melhores condições de saúde e segurança, imagem positiva da empresa no mercado, menor impacto ambiental e social que pode ser capitalizado em marketing, maior empenho da diretoria em buscar novas tecnologias, menor custo pela redução de desperdício, redução de RS depositados em aterros e meio ambiente – 60% a 80%, redução do número de caçambas – 50%, subsídio à empresa no atendimento às Normas 14000; PBQP-H nível A e Resolução 307 do CONAMA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOPYAN, V., JOHN, V. M. O desafio da sustentabilidade na construção civil. Série Sustentabilidade, v.5, n.8, p. 867-875, ago. 1985. AMBROZEWICZ; P. H. L. et al. Qualidade Na Prática: Conceitos E Ferramentas. 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Metodologia simplificada de gerenciamento de Resíduos sólidos em canteiro de obras. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana e Ambiental. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 2009. 307 GESTÃO PARTICIPATIVA E O CONSELHO CONSULTIVO UNIFICADO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE CORUMBATAÍ E PIRACICABA I, ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL PAGANI, M. I1.; ZANCHETTA, D2., CHIQUINHO, C. R3. 1- UNESP, Campus Rio Claro; 2- Instituto Florestal; 3- Rede Pública Ensino de Cananéia [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo Unidades de Conservação (UC) são territórios com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal. A necessidade de sustentar ou restaurar UCs vem transformando os programas de gestão e manejo em processos conjuntos e participativos entre os técnicos e a sociedade civil de seu entorno. A categoria de Unidade de Conservação do presente estudo é denominada Área de Proteção Ambiental (APA) que tem por objetivo proteger a diversidade biológica, conciliando a sustentabilidade socioterritorial com o desenvolvimento humano dentro de seu território. O presente trabalho teve por objetivo analisar e avaliar a atuação do Conselho Gestor Unificado das APAs Corumbataí e Piracicaba I, período de 2009 a 2013, como instrumento participativo fundamental para a sua gestão. A metodologia de natureza qualitativa consistiu de pesquisa documental, questionário com perguntas abertas e fechadas, e também a observação participante. Os principais resultados encontrados foram a diversidade de assuntos tratados pelo conselho como a elaboração do regimento interno; capacitação dos membros; palestras; análises de estudos de impacto ambiental; vistorias; moções; elaboração do termo de referência para o plano de manejo, entre outros. O Conselho contribuiu muito para que as APAs avançassem nos seus objetivos, porém ainda há muitos desafios a vencer no processo participativo, quanto aos princípios de governança e o monitoramento. Palavras chave: Áreas Protegidas, Governança, Uso Sustentável PARTICIPATIVE MANAGEMENT AND THE UNIFIED ADVISORY COUNCIL OF THE CORUMBATAÍ AND PIRACICABA I ENVIRONMENTAL PROTECTED AREAS, STATE OF SÃO PAULO – BRAZIL ABSTRACT Conservation Units (UCs) are areas with significant natural features, legally instituted by the Federal, State or Municipal Government. The need to maintain or restore UC is changing programs of management and are including participative processes between experts and civil society. The category of protected area in the present study is known as Environmental Protection Area (APA) and aims to protect biological diversity, reconciling socioterritorial sustainability with human development within their territory. This study aimed to analyze and evaluate the performance of the unified Advisory Council of the Corumbataí and Piracicaba I APAs, in the period 2009-2013, as fundamental tool in the participative management. The methodology consisted of documentary research, questionnaire with open and closed questions, as well as participant 308 observation. The main results were the diversity of issues addressed by the council as the drafting of bylaws, training of members; lectures; analysis of environmental impact studies; field inspections; propositions of motions; drafting the terms of reference for the plan of management, among others. The Council contributed greatly to the APAs move ahead in their goals, but still has many challenges to overcome in the participative process, in relation to the principles of governance and monitoring. KeyWords: Governance, Protected Areas, Sustainable Use Introdução Unidades de Conservação (UCs) são territórios com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) é a lei federal que organiza e normatiza as unidades de conservação no Brasil em dois grandes grupos, quais sejam: Proteção Integral, que permitem uso indireto da Natureza e Uso Sustentável que permitem uso direto (Brasil, 2000; Brasil, 2002). A necessidade de sustentar ou restaurar UCs vem transformando os programas de gestão e manejo, definidos anteriormente só por técnicos e especialistas, em programas oriundos de processos conjuntos e participativos entre aqueles e a sociedade civil de seu entorno. O manejo participativo de UCs é uma diretriz que já vem sendo utilizada por muitos países, onde essa aliança já encontra-se efetivada. Muitos profissionais envolvidos nesta empreitada estão conscientes de suas potencialidades e limitações (Souza et al., 2002). A participação da sociedade civil no planejamento, manejo e em especial na defesa das UCs é, evidentemente, essencial tanto a médio como a longo prazo para benefícios de ambas as partes, social e ambiental, como discute Borrini-Feyerabend (1997) e Faria (2004). De todos os países da América Latina, o Brasil é o que tem os melhores mecanismos participativos para UCs, em especial a partir da aprovação da Lei do SNUC e seu decreto de regulamentação. No Brasil há participação da sociedade civil através do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), no mais alto nível de decisões ambientais do poder executivo; participação garantida com as audiências públicas previstas para a criação de novas UCs, com exceção de Reservas Biológicas e Estações Ecológicas e ainda, participação na elaboração de planos de manejo. De acordo com o SNUC estão previstos também os conselhos de gestão (Consultivo ou Deliberativo) para cada UC, com obrigatoriedade para aquelas do Grupo de Proteção Integral. Ainda que estes mecanismos não estejam completamente implantados, os resultados têm se mostrado muito bons onde estão sendo aplicados (Dourojeanni e Pádua, 2001; Brasil, 2004). A participação e o envolvimento dos atores sociais interessados, inclusive das comunidades locais, consolidaram-se como necessários na gestão das UCs no Brasil a partir da década de 1990. Mesmo a prática da cogestão não é tão recente, e existem vários casos, inclusive no Brasil (Maretti, 2003). 309 A categoria de UC objeto do presente estudo é denominada Área de Proteção Ambiental (APA), classificada no grupo de Uso Sustentável do SNUC, em seu artigo 15 e na categoria VI da IUCN, área protegida para gestão de recursos (IUCN, 2008) e tem por objetivo proteger a diversidade biológica, conciliando a sustentabilidade socioterritorial com o desenvolvimento humano dentro de seu Território. O parágrafo 5º do citado artigo prevê a formação de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente (Brasil, 2000; Brasil, 2002). Respaldados pelas normas legais de criação e regulamentação das APAs Piracicaba JuqueriMirim - Área I e Corumbataí–Botucatu-Tejupá; pelas normas federais de criação e regulamentação do SNUC; pelo Decreto Estadual que dispõe sobre a criação e funcionamento dos Conselhos Gestores das APAs no Estado de São Paulo foi criado o Conselho Gestor Consultivo e Unificado das APAs Corumbataí-Botucatu-Tejupá - Perímetro Corumbataí (APA Corumbataí) e Piracicaba Juqueri-Mirim – Área I (APA Piracicaba I). O presente trabalho teve por objetivo analisar e avaliar a dinâmica de atuação do Conselho Gestor no período de 2009 a 2013, como instrumento participativo fundamental para a gestão da APAs Corumbataí e Piracicaba I. Metodologia Áreas de Estudo A APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá foi criada pelo Decreto Estadual nº. 20.960, de 8 de junho de 1983 e visa a proteção das Cuestas Basálticas, dos Morros Testemunhos das formações geomorfológicas locais, dos recursos hídricos e o patrimônio arqueológico, além da vegetação natural, representada pela Mata Atlântica e o Cerrado e sua fauna associada. As cuestas são o principal atributo motivador da criação desta Unidade de Conservação. Sua existência possibilitou a conservação de significativos fragmentos da biota nativa, bem como a contínua e abundante produção hídrica de boa qualidade para a sociedade, que se beneficia deste patrimônio. Estas formações tanto em suas frentes como em seus reversos são integralmente compostas de cabeceiras de drenagem de importantes bacias hidrográficas estaduais. O perímetro Corumbataí (APA Corumbataí) abrange 272.692 ha e está inserido em porções territoriais de quinze (15) municípios paulistas, sendo eles: Analândia, Barra Bonita, Brotas, Charqueada, Corumbataí, Dois Córregos, Ipeúna, Itirapina, Mineiros do Tietê, Rio Claro, Santa Maria da Serra, São Carlos, São Manuel, São Pedro e Torrinha. Nele se destaca a proteção de parte das cabeceiras de drenagem da margem direita do baixo rio Piracicaba e cabeceiras das bacias dos rios Jacaré-Pepira e Jacaré-Guaçu; áreas de afloramento, recarga e descarga do Aquífero Guarani; geomorfologia local formada pelas Cuestas arenito-basálticas do leste da bacia sedimentar do Paraná que constituem a borda do planalto residual de São Carlos e demais testemunhos do processo erosivo diferencial das camadas do embasamento geológico local; sítios arqueológicos e construções históricas mais recentes; remanescentes 310 de vegetação natural, compostos por fragmentos de fisionomias dos biomas Cerrado e Mata Atlântica, bem como toda a fauna nativa associada (São Paulo, 2015 a). A APA Piracicaba Juqueri-Mirim criada pelo Decreto Estadual nº. 26.882, de 1987 e Lei Estadual nº. 7.438, de 16 de julho de 1991 visa proteger a Mata Atlântica, matas ciliares e vegetação de várzea, com destaque para a área I que abrange 107.596 hectares dos quais, grande parte da área encontra-se justaposta a APA Corumbataí e tem como objetivo ampliar a proteção das Cuestas Basálticas, Morros Testemunhos, Aquífero Guarani, recursos hídricos superficiais destinados ao abastecimento público, sítios arqueológicos e construções históricas mais recentes dos municípios. Também objetiva proteger os remanescentes de vegetação natural composta por fragmentos de fisionomias de Cerrado e da Floresta Estacional Semidecidual e Decidual, bem como toda a fauna nativa que ocorre nestes ambientes (São Paulo, 2015 b). O Conselho Gestor das APAs Corumbataí e Piracicaba foi constituído conforme as diretrizes do Decreto Estadual no 48.149 de 09/10/2003 que dispõe sobre a criação e funcionamento dos Conselhos Gestores das APAs, sendo portanto um órgão consultivo formado por 24 membros no máximo e no mínimo de 12; paritário entre Sociedade Civil (50%) e Poder Público 50% (25% Estado e 25% Municípios). Este Conselho tem como principais atribuições articular os órgãos públicos, organizações da sociedade civil e iniciativa privada para a concretização dos planos, programas e ações de proteção, recuperação e melhoria dos recursos ambientais presentes nas APAs e ainda acompanhar a elaboração do seu Plano de Manejo. De acordo com seu regimento interno foram realizadas reuniões ordinárias bimestrais e abertas a todos os interessados e reuniões extraordinárias agendadas sempre que necessárias. Métodos A pesquisa é de natureza qualitativa (Martins, 2004). O trabalho desenvolvido pelo Conselho no período de 2009 a 2013 foi avaliado por meio do questionário abaixo, aplicado aos seus membros (Rizzini et al., 1999), que combinou perguntas abertas e fechadas e foi analisado segundo os critérios de avaliação da gestão participativa em UC (IBASE, 2006). 12345678- Nome da entidade: Data de criação: Área de atuação: Desde quando está envolvido(a) com a APA? Com essa mesma representação? Já desenvolveu ou está desenvolvendo algum projeto na APA? Em que área? De que forma a participação da sociedade civil é importante para os objetivos de criação e manejo das APAs? Quais seriam as atividades necessárias para ampliar essa participação da população e suas organizações? Como ocorre a discussão/avaliação dos investimentos financeiros aplicados nas APAs nas reuniões do Conselho Gestor? (TCCA, adiantamentos, etc.) 311 9- Discorra sobre a importância do Plano de Manejo para a gestão das APAs. 10- Aponte os aspectos positivos e os negativos das reuniões do Conselho Gestor. 11- Com relação aos artigos 29 do SNUC- Lei 9985/2000 e 17 do Decreto n° 4.340/2002, no que se refere à presidência do Conselho Consultivo ser de competência do órgão responsável pela administração da UC, quais as implicações para o Conselho? 12- Na escala de 0-10, qual é o nível de participação da população nos processos de tomada de decisão sobre as questões relativas às APAs? 13- Existe alguma ação que o Conselho possa desenvolver ou tenha desenvolvido para um maior interesse e participação da população no Conselho das APAs? 14- As atividades desenvolvidas durante a Gestão do Conselho das APAs atingiram o objetivo de proteger os atributos naturais dessas áreas protegidas? ( ) Sim ( ) Não 15- Como você avalia o trabalho do gestor? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Insuficiente 16- Em sua opinião, qual é o principal objetivo a ser alcançado pelo Conselho Gestor? 17- Outros comentários: A pesquisa documental também fez parte do presente estudo (May, 2004). Assim, foram utilizados dados documentais e bibliográficos produzidos durante o período para determinar o histórico de desenvolvimento do Conselho. Dentre esse acervo encontram-se as atas das reuniões ordinárias e extraordinárias, as moções consensuadas pelos membros do Colegiado e os pareceres com a manifestação acerca da viabilidade ambiental de empreendimentos a serem licenciados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA). Para a elaboração desses pareceres foi criado um mecanismo para apresentação dos empreendimentos nas reuniões Plenárias do Colegiado e formados Grupos de Trabalho (GT) para análise mais detalhada do assunto. O GT apresentava então uma Minuta para a deliberação que era submetida ao Plenário. Além da pesquisa documental e da aplicação do questionário, a observação participante (Mayan, 2001) das duas autoras do presente trabalho nas reuniões ordinárias e extraordinárias contribuiu para o acompanhamento e análise dos dados encontrados nesta pesquisa, bem como para a avaliação do grau de governança do Conselho Gestor. Resultados e Discussão: Foram realizadas 27 reuniões ordinárias e extraordinárias em distintos municípios com representação no Conselho. Essa dinâmica objetivava viabilizar a participação do maior número possível de representantes das comunidades, de órgãos governamentais, da sociedade civil organizada (ONGs) e de clubes de serviços. 312 As reuniões do Conselho Gestor sempre foram muito produtivas, com intensa participação de todos os seus representantes. A diversidade de formação e saberes dos membros enriqueceram todos os processos de discussão e tomadas de decisão em qualquer tema relacionado às APAs em estudo. O comportamento destes conselheiros difere da maioria daqueles apresentados por autores que trataram o assunto. Oliva e Costa Neto (2000) na avaliação de alguns Núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) e Chiquinho (2005) para o Parque Estadual da Cantareira, identificaram como um problema enfrentado pelos Conselhos, a falta de regularidade das entidades participantes e das reuniões. Dias (2008) também reiterou, para a Estação Ecológica de Angatuba, que a participação dos conselheiros nas reuniões do Conselho Consultivo apresentou escassa representatividade, bem como frequência irregular nos encontros bimestrais. Os principais assuntos tratados nas reuniões do Conselho Gestor foram: Eleição e Composição do Conselho: Em 2009 e 2012 as entidades interessadas se cadastraram para concorrerem às vagas no Conselho e houve eleição entre os segmentos da sociedade civil e governo municipal e estadual, de forma muito democrática e de colaboração para que o maior número de instituições cadastradas fizesse parte deste organismo participativo. O Conselho Gestor Unificado das APAs do presente estudo é composto por 24 representantes titulares e 24 suplentes. Regimento Interno do Conselho Gestor: A elaboração do regimento interno do Conselho teve início em 2009 e foi concluído em 2010 e posteriormente alterado em junho de 2012, com eleição da Diretoria Executiva. Grupo de Trabalho de Educação Ambiental e Comunicação: Elaboração do folder e do logotipo das APAs Corumbataí e Piracicaba I. Capacitação: Os membros foram capacitados nos seguintes temas: 1- Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, onde foram apresentados os objetivos e diretrizes da conservação, assim como as categorias de unidades de conservação; 2- Gestão de Resíduos Sólidos nas APAs Corumbataí-Piracicaba I: O tema contemplou a legislação federal sobre a política de resíduos sólidos (Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010), experiência do município de Corumbataí e os planos municipais de gestão dos resíduos sólidos dos municípios pertencentes às APAs . 3- Planos de Manejo: Curso de capacitação dividido em quatro eixos: A- Áreas protegidas, dos compromissos internacionais às normas nacionais de conservação e monitoramento ambiental; B- Patrimônio natural das APAs Corumbataí e Piracicaba I; CPlanejamento e gestão territorial ambiental – conceitos, experiências, exemplos e possibilidades; D- Roteiro metodológico para elaboração de plano de manejo das APAs -SP. Estudo de Impacto e Relatório de Impacto Ambiental: Grupos de trabalho para atividade de campo visando à análise de muitos empreendimentos de significativo impacto ambiental nos limites das APAs, a saber: mineração de areia para utilização industrial; pedreira para utilização industrial; ampliação das atividades de duas usinas de cana de açúcar e álcool; construção do poliduto oeste paulista; construção do terminal intermodal Itirapina/ COSAN operadora portuária; duplicação de malhas ferroviárias; instalação de linha de transmissão de 500 kV. Os grupos de trabalho aprofundaram-se também nos conteúdos dos relatórios de impacto ambiental elaborando minutas de pareceres que eram apresentadas nas reuniões de 313 plenárias, com discussão das consequências desses empreendimentos e o laudo final a ser encaminhado ao órgão licenciador. Palestras: Vários foram os temas de palestras nas reuniões do Conselho para a formação dos representantes. Entre eles: O licenciamento ambiental no estado de São Paulo e suas relações com as UCs; A importância das reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) para a conservação e a recuperação da natureza nas APAs Corumbataí e Piracicaba I; Expedição ao rio Jacaré – Pepira; Instrumentos econômicos para a conservação da natureza: ICMS Ecológico – realidade e perspectivas; Proteção ao patrimônio natural no estado de São Paulo – Ações e atribuições da Diretoria de Fiscalização e Monitoramento - Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (DFM/CBRN); Uma abordagem sobre os aquíferos; Controle e monitoramento do fogo no estado de São Paulo. Vistorias: Além dos trabalhos de campo para análise dos processos de licenciamento ambiental já comentados, também houve outra atividade para levantamento da área impactada pelo rompimento de cavas de mineradora sobre as bacias de um Córrego na região das APAs. Termo de Referência para Elaboração do Plano de Manejo das APAS: Outra preocupação do Conselho sempre foi a elaboração do plano de manejo que, até o momento, não ocorreu. Este tema demandou muitas reuniões do Conselho e do Grupo de Trabalho criado, pois a verba para sua elaboração, resultante de um termo de compromisso de compensação ambiental (TCCA), não é tão alta e muitos estudos são imprescindíveis para estabelecer o zoneamento. Moções: As moções aprovadas pelo Conselho foram encaminhadas ao Governador do estado de São Paulo, uma para a transformação do Conselho Consultivo em Deliberativo e a outra com posição contrária ao projeto de Lei no. 249/13 que autoriza a Fazenda do Estado a conceder o uso remunerado de áreas de manejo e de conservação das UCs inseridas nas APAs. Na literatura ainda são poucos os artigos que tratam do monitoramento do processo participativo na atuação do conselho gestor; a maioria dos trabalhos existentes versa sobre a avaliação do processo participativo só na criação de unidades de conservação (Dias, 2008); na elaboração de planos de manejo (Zanchetta et al., 2009) e na criação dos conselhos gestores (Costa et al., 2012; Guerra et al., 2012). Santos (2008) apresenta o funcionamento dos conselhos gestores de APAs do Distrito Federal; Costa et al. (2012) o funcionamento dos conselhos gestores do estado de Mato Grosso. Vieira (2011) analisou a atuação do conselho gestor da APA de Itupararanga considerando os cinco princípios de governança propostos por Grahan et al. (2003) para áreas protegidas: legitimidade e voz; direcionamento; desempenho; prestação de contas e imparcialidade. Bussolotti et al. (2013) avaliaram a consolidação do conselho consultivo do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia. Nesses trabalhos os princípios da gestão participativa (Brasil, 2007), ou seja: diversidade de saberes; mais colaboração do que competição; consenso que atenda a diferentes interesses; responsabilidades e direitos sobre o uso dos recursos naturais; desenvolvimento da justiça social e respeito e igualdade ainda não estão presentes em sua totalidade na atuação desses Colegiados. 314 No caso do Conselho Gestor Unificado das APAS Corumbataí e Piracicaba I uma abordagem qualitativa foi realizada, com análise da percepção dos conselheiros em relação aos avanços, sucessos e fracassos do instrumento participativo no seu funcionamento. Foram recebidas respostas de organizações não governamentais (ONGs), Centro de Pesquisa, Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos (SSRH) e de algumas Prefeituras perfazendo 45,45% da representação da sociedade civil e 54,54% do Poder Público Estadual e Municipal. As entidades ora apresentadas possuem atuação em atividades nas áreas socioambiental; manutenção e proteção do patrimônio natural, histórico e cultural municipal; segmento agrícola e animal sob a filosofia da produção natural; elaboração, execução e acompanhamento de projetos de saneamento em alguns municípios; agricultura e abastecimento e meio ambiente de um dos municípios, entre outras. A caracterização dessas entidades através das questões 1, 2, 3, 4 e 5 do questionário; permitiram levantar que além da representação nos Conselhos das APAs, a maioria delas desenvolve projetos no âmbito dessas unidades de conservação (UCs) e participam de grupos de trabalho para aprofundamento dos pareceres sobre os assuntos submetidos ao Conselho. Esse envolvimento da representação do Conselho expandindo-se além da gestão das UCs, mesclando seus próprios objetivos em projetos que envolvem as UCs é muito pouco recorrente em outros conselhos avaliados. Bussolotti et al.(2013) relataram que em 2000 foi apontado um indicador que reflete a falta de integração entre Unidade de Conservação e municípios do entorno, ou seja, a dificuldade de desenvolvimento de projetos conjuntos com as Unidades de Conservação, principalmente com as prefeituras locais. Esses indicadores, assim como os demais estão descritos no Quadro 1. Quadro 1. Avaliação qualitativa dos indicadores de governança do Conselho Gestor Unificado das APAs Corumbataí e Piracicaba I Critérios Legitimidade decisão Desempenho Indicadores Questões Avaliação Participação 6 e 12 Média Descentralização 11 Baixa Efetividade da gestão 7, 13 e 14 Alta Parte da 10 e 15 Baixa para Relação entre a Accountability administração pública e sociedade 315 (Campos, 1990) Eficácia e eficiência da gestão Equidade Prestação de Contas 8 Baixa Eficácia 9 e 16 Média para Alta Dinâmica de atuação do Conselho Parte da 10 Alta O critério legitimidade compreendeu os indicadores participação e descentralização nas formas de atuação da sociedade civil nos objetivos de criação e manejo das APAs. Nas respostas dadas pelos conselheiros, a representatividade do Conselho é interpretada como mais importante para assegurar a legitimidade social das ações e decisões que envolvem as APAs. Quanto a participação da população nos processos de tomada de decisões sobre assuntos relativos às APAs (Questão 12), a avaliação foi considerada como média, uma vez que permaneceu predominantemente no intervalo entre 0 e 5, numa pontuação máxima de 10, com exceção para dois valores isolados, um 7 e um 8. As opiniões são de que ainda faltam alternativas de comunicação e conscientização para que a população participe ativamente das tomadas de decisão. Bussolotti et al., 2013 afirmam desde o final da década de 1990 que planejamento participativo é termo-chave para a política pública do Estado de São Paulo, apesar de demonstrar em suas avaliações que a adaptação dos membros ao sistema de gestão participativa ainda não é satisfatória, seja para os avaliadores institucionais, como para comunidade representada nos seus conselhos. Na sequência, o indicador descentralização nas deliberações teve uma avaliação baixa, pois houve a indicação por 90,91% das respostas da necessidade de reverter-se o artigo 29 do SNUC- Lei 9985/2000 e artigo 17 do Decreto n° 4.340/2002, no que se refere à presidência do conselho consultivo ser de competência do órgão responsável pela administração da UC. Este resultado para o indicador descentralização deve-se ao fato do Conselho ter vivenciado uma troca repentina de Gestor das APAs, imposta pelas instâncias superiores do órgão administrador sem qualquer comunicação ao colegiado, bem como a interrupção por diversos meses dos trabalhos do Conselho, devido a não convocação de seus membros para reuniões ordinárias ou extraordinárias pela nova gestão. Apontam que o Conselho deveria ser um órgão autônomo nas suas decisões e no processo de sua organização interna, podendo haver um elemento coordenador dos trabalhos burocráticos no âmbito da Fundação Florestal, órgão que administra as APAs, sem necessariamente deter a presidência do Conselho. No critério desempenho, que avalia a efetividade da gestão através da capacidade da chefia da unidade e dos(as) conselheiros(as) em coordenar os esforços entre os parceiros e setores sociais, foram mencionadas como necessárias ações para ampliar a participação da população na gestão das APAs. No entanto, houve a indicação pela maioria das entidades que as atividades desenvolvidas durante a Gestão do Conselho das APAs atingiram o objetivo de proteger seus atributos naturais, pontuando o indicador com uma avaliação alta. . No critério accountability, que demonstra a relação do poder público com a sociedade, a gestão foi avaliada através dos resultados alcançados, atividades planejadas e executadas e o bom emprego dos recursos disponíveis ressaltados pelos conselheiros como aspectos positivos das reuniões do Conselho Gestor. No entanto, essa ponderação ficou extremamente prejudicada e 316 foi considerada baixa, devido a postura desrespeitosa e autocrática do Órgão responsável pela administração das APAs em relação ao Conselho e ao processo democrático e participativo previsto em lei vigente da gestão de UCs por ocasião da substituição da chefia das APAs que não ocorreu de forma democrática e nem respeitosa, fator que praticamente descaracterizou muito do trabalho realizado e das ações participativas para com estas UCs. investimentos financeiros que serão aplicados na APA como, por exemplo, os termos de compromissos e compensação ambiental e os adiantamentos, a grande maioria considerou como pouco participativa, sendo sugerida a criação de um Grupo de trabalho dentro do Conselho para estudar e apresentar sugestões à plenária nesse sentido. Assim, este indicador teve uma avaliação baixa, porém acredita-se que com a criação do Sistema de Informação e de Gestão de Áreas Protegidas (SIGAP) do Estado de São Paulo, que define a obrigatoriedade legal de apresentar o Plano de Metas Anual das Unidades de Conservação, os projetos tenderão a ter maior aprofundamento de análise pelos Conselhos. Quanto à discussão dos O indicador eficácia teve uma avaliação média para alta, tendo em vista a participação da população na elaboração dos instrumentos de gestão, como o regimento interno e a existência e emprego de um plano anual de gestão, bem como do Termo de Referência para elaboração do plano de manejo. Na visão do Conselho, por unanimidade, o Plano de Manejo foi considerado um processo de vital importância para a gestão das APAs e seu entorno, sendo também consenso que sua elaboração deve ocorrer através de processo participativo para tornar-se um documento norteador do uso e ocupação territorial. A equidade foi atribuída somente no que diz respeito à imparcialidade na aplicação de normas, sem aferir a relação com o entorno das UCs e teve uma pontuação alta, com destaque para a transparência da gestão, dinâmica das reuniões com pauta, horário e calendário definidos, bem como na oportunidade de participação nos encontros devido ao caráter itinerante dos mesmos em municípios integrantes e demais entidades do Conselho. Outros apontamentos como, por exemplo, o retorno a um conselho atuante e participativo, bem como a continuidade das práticas desenvolvidas no período de sua atuação e a diversidade de entidades representadas foram considerados como fundamentais. Também foi reiterado que a credibilidade e o respeito são necessários à atuação do Conselho das APAs e para o avanço do processo participativo. Conclusões Dentre os inúmeros desafios que essa categoria de Unidade de Conservação (UC) enfrenta no estado de São Paulo para sua efetiva implantação têm-se: ser instituída ou reconhecida pelo poder público; ter um órgão responsável administrativamente e um gestor designado para a função; ter um conselho em atividade e um plano de manejo com seu zoneamento e programas implantados. A criação e funcionamento do Conselho Gestor das APAs Corumbataí e Piracicaba I no período de 2009 a 2013 inegavelmente deve ser considerado um exemplo de gestão participativa, contribuindo de forma significativa para que essas UCs avançassem quanto aos seus objetivos de proteção da diversidade biológica, disciplinamento do processo de ocupação do solo, garantindo a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. 317 Referências Bibliográficas BORRINI-FEYERABEND, Grazia. Manejo participativo de áreas protegidas: adaptando o método ao contexto. Quito: UICN-SUR, 1997. 67p. (Temas de Política Social). BRASIL. 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O processo de licenciamento ambiental de parques eólicos é regulado pelo estado e pode se transformar em um importante instrumento de desenvolvimento socioeconômico e cultural desde que os estudos ambientais e os condicionantes para a implantação de empreendimentos sejam elaborados e implantados de acordo com as necessidades locais e não a partir de um procedimento geral institucionalizado pelo estado, que não considera as especificidades locais. O subaproveitamento de esforços e o desencontro entre políticas locais e condicionantes do licenciamento ambiental têm sido eleitos como alguns dos motivos pelos quais a chegada de empreendimentos de alta monta de investimento ainda não promoveu nestes espaços, mudanças substanciais nas comunidades normalmente enquadradas na área de influência destes empreendimentos. Apresentar-se-á ao longo do presente artigo algumas iniciativas previstas pela área de sustentabilidade de algumas das empresas investidoras. Estas podem ser o início de um processo de mudança. A maturação de ações e programas desenvolvidos em comunidades envolvidas no processo de implantação de empreendimentos, tendo como objetivo a apropriação e participação social possibilitará a criação de parâmetros para uma análise futura, dos impactos socioambientais causados nessas comunidades. Palavras-Chave: Comunidades Locais, Energia Eólica, Licenciamento Ambiental, Nordeste do Brasil 321 Local communities empowerment of challenges when linked to environmental licensing of wind farms. The case of the state of Bahia - northeast Brazil. Abstract The Brazilian regions that provide the greatest potential for a diverse Brazilian energy matrix are mostly located in the Northeast of Brazil. These sections of Brazilian territory are marked by exploratory and exclusive economic cycles that legitimized, over the years, the condition of social marginality of most of the population who inhabit these areas and who live below the poverty line. The environmental licensing process of wind farms is regulated by the state and can become an important socio-economic and cultural development tool provided that environmental studies and the conditions for the implementation of the projects are developed and implemented according to local needs and not from a general procedure institutionalized by the state, which does not consider the local peculiarities. The underutilization of efforts and the imbalance between local policies and environmental licensing conditions have been selected as one of the reasons why the arrival of high level investment projects have not yet been promoted in these areas, the substantial changes in the communities usually constituted in the area of influence of these enterprises. It will be presented throughout this article some initiatives planned for the area of sustainability of some of the investing companies. These could be the beginning of a process of change. Key Words: Environmental licensing, sustainability, local peculiarities Introdução O Desenvolvimento da Energia Eólica A também denominada energia dos ventos pode ser explicada, em termos físicos, como a energia cinética formadas nas massas de ar em movimento. Seu aproveitamento é feito por meio da conversão de energia cinética de translação em energia cinética de rotação. Para a produção de energia elétrica são utilizadas turbinas eólicas, também conhecidas como aerogeradores. As primeiras experiências para geração de eletricidade por meio dos ventos surgiram no final do século XIX. Em 1976, foi implantada na Dinamarca, a primeira turbina eólica comercial ligada à rede elétrica pública. Atualmente, existem mais de 30.000 MW de capacidade instalada no mundo. A maioria dos projetos está localizada na Alemanha, na Dinamarca, na Espanha e nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros anemógrafos computadorizados e sensores especiais para medição do potencial eólico foram instalados no Ceará e em Fernando de Noronha (PE) no início dos anos 1990. A capacidade instalada atualmente no Brasil é da ordem de 247 MW, representando apenas 0,18% do potencial estimado brasileiro de 143,5 GW (Amarante et al., 2001). Tal subaproveitamento deve-se ao alto custo de instalação de parques eólicos no país. Ainda segundo Amarante (2001), do potencial eólico brasileiro, 4,7 GW já foram autorizados, dos quais 247 MW estão em operação. As áreas com maior potencial eólico encontram-se nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste. Estima-se que o potencial eólico bruto 322 mundial seja da ordem de 500.000 TWh/ano do qual, estima-se que no mínimo 10% seja tecnicamente aproveitável, o que corresponde a cerca de quatro vezes o consumo mundial de eletricidade. A geração de energia elétrica por meio de turbinas eólicas constitui uma alternativa para diversos níveis de demanda. As pequenas centrais podem suprir pequenas localidades distantes da rede, contribuindo para o processo de universalização do atendimento. As centrais de grande porte têm potencial para atender uma significativa parcela dos Sistemas Nacionais com importantes ganhos, contribuindo para a redução da emissão pelas usinas térmicas, de poluentes atmosféricos, reduzindo a necessidade da construção de grandes reservatórios ou minimizando o risco gerado pela sazonalidade hidrológica. Outro benefício desta fonte renovável, que pode vir no futuro a contribuir para viabilizar estes projetos, refere-se à perspectiva de venda de créditos de carbono por ser uma tecnologia de geração limpa de energia. Não obstante tais vantagens, a regulamentação setorial em vigor concede ainda descontos nas tarifas de uso dos sistemas de distribuição/transmissão tanto para a usina eólica quanto para o usuário de sua energia, caso este seja um consumidor livre ou incentivado, nos termos da regulação da ANEEL. Outro fator relevante para a recente evolução deste mercado é o desenvolvimento de novas tecnologias que permitem a produção de turbinas de maior potência. O presente artigo tem como objetivo promover a reflexão sobre as possibilidades de sinergia entre as demandas exigidas, pelo órgão ambiental do Estado da Bahia, para o licenciamento ambiental de complexos eólicos e os planos e programas de sustentabilidade e de responsabilidade sociais inerentes às políticas coorporativas dos grupos investidores. Ao longo do artigo serão visualizados de forma breve elementos caracterizadores da energia eólica e do processo de licenciamento ambiental no estado da Bahia, considerando-se algumas visões relacionadas aos estudos exigidos para a aquisição das licenças, sendo elas: Licença Prévia (LP); Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO). Apresentar-seá aspectos relacionados à caracterização socioeconômica das comunidades que fazem parte das áreas de influência destes empreendimentos, como forma de provocar o pensamento de que eles necessitam muito mais do que as condicionantes comumente solicitadas de forma genérica e sem considerar os fatores endógenos promotores do desenvolvimento. Na sequência demonstra-se a importância das tentativas de associação de medidas mitigadoras e compensatórias, do meio socioeconômico, com os programas de sustentabilidade inerentes às estratégias de gestão dos grupos investidores, através de um estudo de caso do Programa ECOAR que ocorre no município de Campo Formoso localizado no estado da Bahia. Uma breve reflexão sobre o processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de energia eólica no Estado da Bahia - Brasil 323 Os processos de licenciamento ambiental demandam diversos estudos de variados campos do conhecimento e, consequentemente as análises pertinentes a cada um destes campos. No caso específico deste artigo serão tratados aspectos pertinentes à área social que dialoga sempre com as questões ambientais de caráter mais técnico. As normas que definem os procedimentos do licenciamento ambiental de empreendimentos eólicos na Bahia são reguladas pelo INEMA Instituto de Meio ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia. Essas normas convergem para necessidade do desenvolvimento de estudos socioambientais que a depender da magnitude do impacto a ser gerado pelo empreendimento são enquadrados como EIA RIMA - Estudo de Impacto Ambiental com seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental ou RAS – Relatório Ambiental Simplificado. Os conteúdos comumente presentes nos estudos mais solicitados que são o EIA RIMA e o RAS devem considerar aspectos específicos dos meios biótico, físico e socioeconômico. A principal diferença entre os dois tipos de estudo se da pela necessidade legal que o EIA RIMA possui no que toca à convocação de reuniões com comunidades afetadas e audiências públicas. No caso do Estado da Bahia, para processos de licenciamento ambiental chegou-se a exigir que o empreendedor realizasse três (3) oficinas públicas para que a quarta se configurasse como audiência pública. Após a análise e participação pública, viabilizada pelas reuniões, os técnicos do órgão ambiental concediam a primeira licença denominada Licença Prévia (LP). As discussões geradas nas reuniões prévias antecipam uma séria de questões normalmente problemáticas nas audiências públicas. Este método foi eficaz para promover a interação entre as populações afetadas e os gestores do empreendimento, porém, tal método, não atende aos tempos necessários para execução dos encontros públicos e análises por parte dos técnicos do INEMA versus cronograma dos investidores. Portanto, fica claro o descompasso entre a determinação do Estado e a necessidade do investidor. Se por um lado o Estado não possui técnicos em quantidade suficiente para atender todas as demandas de vistorias e participação em reuniões, por outro lado, os investidores sempre precisam atender as datas dos leilões de energia apresentando como requisito a primeira licença ambiental. Em alguns processos realizados através do RAS, também foram exigidas reuniões públicas sendo estas realizadas em um formato no qual a marcação e a coordenação destas reuniões ficou a cargo somente do empreendedor e sua equipe. Se por um lado, este formato pode ocorrer de forma mais ágil, por outro o empreendedor fica descoberto pela ausência do órgão ambiental. Estas reuniões são sempre tensas, pois reúnem uma diversidade de percepções dos envolvidos no processo. Por essa razão, estes momentos devem ser sempre acompanhados pelo órgão ambiental uma vez que este passa a ser um mediador das discussões, principalmente quando são apresentados os impactos gerados. Além da Licença Prévia (LP), são demandadas outras duas licenças ambientais: a Licença de Instalação (LI) e a Licença de Operação (LO). Para a Licença de Instalação são exigidas a elaboração e implantação de Planos e Programas Socioambientais, a serem direcionados para as comunidades da (ADA) Área Diretamente Afetada e da AID (Área de Influência Direta). 324 Os planos devem ser implementados pelo requerente da licença seguindo as determinações das equipes de análise dos órgãos ambientais. Normalmente os programas solicitados são os mesmos para todos os empreendimentos. Em seguida, alguns comumente solicitados para o meio socioeconômico: Programa de Educação Ambiental, Programa de Educação Sexual, Programa de Combate ao Uso de Drogas, Programa de Valorização Histórico Cultural, Programa de Comunicação Social, Programa de Contratação de Mão de Obra. Os programas citados são implementados em conjunto com demais planos direcionados para os meios físico e biótico, tais como: Afugentamento e Monitoramento de Fauna, Planos de Recuperação de Áreas Degradadas, Plano de Monitoramento e Emissão de Particulados etc. Após a implementação dos Programas que ocorre concomitante à instalação do empreendimento o investidor apresenta ao órgão ambiental o atendimento das condicionantes (execução de Planos e Programas Socioambientais) e então requere a última Licença que é a Licença de Operação (LO). Ora, se para que o empreendedor receba a Primeira Licença (LP), é necessário elaborar estudos que compreendam o meio físico, biótico e socioeconômico, independentemente de outro empreendimento já tê-los elaborado, uma vez que é muito comum diferentes empreendedores requererem licenças para áreas localizadas próximas umas das outras, supõe-se que diversos estudos socioambientais são elaborados considerando as mesmas áreas/territórios nos quais os projetos pretendem se instalar. O mesmo ocorre para a implementação e planos e programas, pois se estes estão sendo implementados seguindo as mesmas solicitações para diferentes empreendedores, supõe-se que as mesmas áreas de influência receberão a implementação de programas iguais ou muito semelhantes. A recorrência da implantação de programas socioambientais em áreas semelhantes esgota os participantes das ações e estas terminam por ficar sem eco, passam a ser executadas somente para constarem dos relatórios que subsidiarão a solicitação da Licença de Operação. Neste contexto, se faz necessária a reavaliação das exigências direcionadas para a elaboração dos estudos ambientais e das condicionantes que comumente são solicitadas para os processos de licenciamento. É importante que o INEMA passe a avaliar a similaridade de estudos já elaborados e comece a exigir para os processos de licenciamento a análise das mudanças ocorridas desde que o último estudo foi executado em determinada região. Com relação às condicionantes se faz necessário avaliar o grau de importância delas para a região que ela deve ser executada e principalmente associá-las às demandas locais e aos programas de sustentabilidade que a maioria dos investidores possui. O capital das empresas de energia eólica que investem no Brasil é normalmente advindo de outros países, nos quais as ações de sustentabilidade se encontram em outro patamar quando comparados ao Brasil. Realidade socioeconômica de comunidades caracterizadas como áreas de influência de complexos eólicos na Bahia Analisadas em seu conjunto as comunidades já estudadas pelas autoras no sertão do estado da Bahia totalizam aproximadamente sessenta (60) aglomerações populacionais. Através dos 325 estudos e vivências de campo constata-se que estas vivenciam realidades semelhantes, caracterizadas mais pela permanência do que pela mudança. Essa permanência se expressa no tempo de residência, nas ocupações predominantes, nas formas de execução das atividades produtivas, nas memórias e nas expectativas das populações que ali vivem. A composição atual dessas comunidades se deveu a processos migratórios prioritariamente intra regionais, com uma indicação de estabilidade dos grupos residentes antigos, mas que, no entanto, tem apresentado uma forte tendência de renovação ao longo de tempos mais recentes, principalmente pelos fluxos migratórios determinados pela motivação dos jovens para trabalhar no corte da cana e colheita do café, no sudeste do país. Identificou-se uma grande preocupação das pessoas das comunidades com o seu futuro profissional e de seus familiares e com a melhoria da qualidade de vida da comunidade. As opções de lazer são restritas, assim como são limitadas as condições materiais em que vivem quanto à posse de bens de consumo duráveis e de padrões mínimos de habitabilidade. Em níveis variados, há problemas infraestruturais que necessitam de uma solução mais definitiva, no que tange ao saneamento básico, principalmente ao abastecimento de água e à conservação do meio ambiente, nos aspectos relacionados ao descarte de lixo. A renda média mensal informada pelos entrevistados é muito baixa, há uma grande dependência dos programas de transferência de renda do Governo, notadamente o Bolsa Família, e as ocupações mais comuns não são formalizadas, deixando esses trabalhadores à margem dos benefícios do sistema previdenciário. Outra característica marcante quanto à ocupação dessa população é a prevalência de atividades realizadas nos próprios domicílios, voltadas para o auto sustento e tradicionais, a exemplo do cultivo agrícola. O nível de escolaridade dos moradores não contribui para o desenho de um cenário mais favorável, com um alto índice de analfabetismo e, dentre os que tiveram algum acesso à educação formal, tiveram poucos anos de estudo. Essa limitação é reconhecida por eles e tida como principal obstáculo para uma eventual e desejada mudança de vida. A melhoria no sistema educacional é uma necessidade emergencial, presente nos desejos de todas as comunidades, independente da sua localização. Quanto aos demais aspectos relacionados aos serviços públicos, percebe-se que a iluminação pública e abastecimento de água são serviços mais críticos segundo os integrantes do conjunto de localidades investigadas. O trabalho em outras atividades é um desejo manifesto, embora restrito a fronteiras da realidade conhecida. A pouca oferta de oportunidades, e trabalhos de pouca remuneração e ainda muito primários, como pode ser visualizado na Figura 1, faz com que a chegada de novos empreendimentos se apresente como uma oportunidade bem vinda quanto aos efeitos que pode trazer para o conjunto das comunidades, notadamente no que se refere à geração de emprego e renda. Mas o mesmo não acontece quando se analisa a perspectiva individual de inserção dos moradores nessas novas oportunidades. 326 A despeito de todas essas limitações, trata-se de uma população que se considera feliz com o pouco que tem e otimista quanto ao seu futuro, o que demonstra a necessidade de que essa realidade experimentada e conhecida não seja subitamente alterada pelos ciclos futuros de desenvolvimento que venham a se processar na região. Figura 1 – Tipo de trabalho realizado por mulheres no sertão da Bahia 2013 A importância da associação das medidas socioambientais exigidas no licenciamento às políticas de sustentabilidade dos grupos investidores – o caso da cidade de Campo Formoso – Bahia - Brasil Ao se tratar do tema de sustentabilidade, se faz necessária uma definição das linhas mestras que nesse artigo definem esse conceito. De acordo com Kronemberger (2011), os campos de pensamento e atuação do desenvolvimento sustentável devem ser buscados em conjunto, dentre dos seguintes objetivos: economia sustentável; conservação ambiental; equidade social; melhoria do convívio social; melhoria da qualidade de vida O diferencial da atuação no que toca à implantação do Complexo Eólico Morrinhos, no município de Campo Formoso, Estado da Bahia, se dá em decorrência da tentativa de interação das condicionantes vinculadas ao processo de licenciamento ambiental ao Programa de Sustentabilidade da empresa (Atlantic Energias Renováveis) denominado ECOAR. O Programa Ecoar de Sustentabilidade, demonstrado no folder ilustrativo da Figura 2, surgiu para agrupar em sinergia a execução dos programas socioambientais que fazem parte das condicionantes de implantação do Parque Eólico Morrinhos, no município de Campo Formoso. A diretriz norteadora deste programa é promover a potencialização dos fatores positivos inerentes às comunidades que integram a área de influência do Complexo Eólico Morrinhos. Através do Ecoar a Atlantic Energias Renováveis, através da Marrikah Consultoria, marca o início de um relacionamento de longo prazo como agente fomentador do desenvolvimento 327 territorial, através de um modelo endógeno de desenvolvimento e que considera o ator local como elemento principal para o alcance dos objetivos do Plano de Responsabilidade Socioambiental da Companhia. Figura 2 – Encarte do Programa ECOAR As estratégias de implementação do ECOAR perpassam pelo mapeamento das demandas locais para que a legitimidade, entendida como um processo construtivo, dos projetos socioambientais que compõem a atuação seja o ponto de partida na construção das redes sociais em prol do desenvolvimento local. O ECOAR começou a ser implantado através do Programa Ao Som do Vento (Figura 3), que por sua vez é um programa de comunicação, exigido como condicionante, mas que foi implantado dois anos antes de ser exigido pelo órgão ambiental. 328 Figura 3 – Encarte do Programa Ao Som do Vento Impulsionado pela necessidade de atendimento de condicionantes o ECOAR seguiu algumas etapas conforme apresentado a seguir: O Primeiro Passo – Mapeamento de Steakholders - nos anos de 2010 e 2011 foram realizados estudos socioambientais contemplando os meios físico, biótico e socioeconômico. A partir dos dados gerados pelos estudos mencionados foram identificadas pessoas, organizações, entidades e demais interessados para que fosse apresentado, em reunião pública, às partes interessadas o planejamento de implantação do Complexo Eólico de Morrinhos. O Segundo Passo – Mobilização para a Elaboração do Diagnóstico Socioeconômico, foram realizadas reuniões nas comunidades da AID através das Associações de Produtores Rurais ou Associações Comunitárias como forma de construir o instrumento de coleta para ser aplicado de forma censitária nas comunidades da AID. A Aplicação do instrumento de Coleta ocorreu após teste de amostra. Após a aplicação os resultados foram apresentados nas comunidades em devolutivas públicas e transmitidos via rádio no programa Ao Som do Vento. O Terceiro Passo – Estruturação dos Comitês de Interlocução do Empreendimento – esses comitês objetivam promover a participação local de forma legítima e ainda comunicar as iniciativas do empreendimento para as populações das comunidades. Isso se dá através da participação de membros das comissões, eleitos pelos seus pares, em reunião pública marcada antecipadamente especificamente para este fim. 329 O Quarto Passo – Elaboração dos Projetos Socioambientais e pactuação destes com as comunidades, INEMA – Instituto de Meio-Ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia e organismos municipais. O Quinto Passo – Implementação dos Programas e Criação do ECOAR, listados na Figura 4: Figura 4 – Programas implementados A metodologia adotada para a implementação das iniciativas é a do Desenvolvimento Comunitário, baseada na potencialização de recursos locais e no fomento a práticas de empoderamento local a partir do reconhecimento de talentos individuais e consequentemente comunitários. Nas figuras 5 e 6 a seguir temos a demonstração da apresentação dos projetos em reuniões públicas. Figuras 5 e 6 – Reuniões públicas Uma das inovações inerentes aos programas é a tratativa de todos os conteúdos que compõem o ECOAR via rádio. O direcionamento da comunicação através deste tipo de mídia, se deu em função da maioria da população em idade ativa ser limitada com relação ao uso da leitura e escrita. Partindo deste contexto os técnicos que desenvolvem o ECOAR realizaram sondagens junto às populações afetadas de forma a verificar a rádio local mais ouvida e quantos domicílios não possuíam aparelhos de rádio. Com os resultados das 330 sondagens foi realizada uma parceria com a fábrica de aparelhos de rádio denominada Lenox e os aparelhos foram distribuídos para os moradores que não possuíam o aparelho. Desta forma, estava garantida a possibilidade de escuta das informações que a Atlantic Energias precisava transmitir. Outro aspecto inovador que compõe as estratégias de atuação do ECOAR é a atuação parceira e legítima da comunidade através dos Comitês de Interlocução do Empreendimento, pois se trata de um espaço criado para a escuta e para as trocas necessárias à atuação em comunidades. A relevância da estratégia adotada para a gestão do ECOAR é a proposição endógena do desenvolvimento das atividades. Ao longo dos anos que se investigaram as características socioculturais das comunidades, foram mapeados os recursos e talentos locais através da metodologia de mapa de talentos. Atualmente estes grupos lá identificados são os parceiros de execução dos trabalhos na medida em que participam dos repasses de metodologias e elaboram ações que apoiam o desenvolvimento dos programas supramencionados. Um exemplo disso é o grupo local de teatro Arte em Cena, que atua como multiplicador nas oficinas do programa de Educação para a Saúde, em parceria com o psicólogo contratado para este fim, que trata da temática direcionada para as consequências do uso de drogas e os danos associados. As estratégias conseguem calibrar a atuação parceira entre o poder público e o empreendedor, já que esta é uma relação difícil de ser administrada e calibrada, mas a metodologia que fundamentou a criação do ECOAR foi decisiva para manter os papéis e os limites da atuação dos parceiros. Outro recurso em uso pela equipe do ECOAR são os versos que trazem na linguagem cultural local (repentes e trovas nordestinas) temática muitas vezes não falada e muito presente na realidade socioeconômica da população do sertão. Dentre outros temas destacase nesta perspectiva o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes e o combate à violência contra a mulher. O conhecimento prévio das comunidades associado a uma postura socialmente responsável do empreendedor em consonância com o respeito às características regionais são por si só instrumentos que fomentam a inovação, as técnicas que permeiam o dia a dia das ações socioambientais nas comunidades são pautadas na flexibilidade metodológica que tem a intenção de calibrar o que é planejado e implantado nos contextos plurais nos quais os projetos são desenvolvidos. Ainda assim enfrentamentos foram necessários, pois dificuldades se apresentam no dia-a-dia da implementação das iniciativas constantes no ECOAR. A principal dificuldade para a implementação do Programa foi conquistar a confiança do público alvo dos projetos, pois a descontinuidade de projetos anteriormente implantados por outros atores externos e a atuação 331 sem “licença social” experimentada pelas populações ali residentes são elementos que promovem a descrença e desconfiança na atuação de qualquer projeto de natureza social. Outra dificuldade que merece atenção, uma vez que atrapalha e desconstrói pactuações préestabelecidas entre os fomentadores das iniciativas e os públicos alcançados, é o fato de que alguns atores com interesses escusos promovem atuações equivocadas e mobilizações que não são compatíveis com a filosofia e estratégias de implementação de iniciativas que o empreendedor pretende implantar. Sublinha-se que a produção local é iminentemente rural fato que promove uma ampla atuação dos sindicatos rurais. Alguns resultados podem ser observados e outros já foram materializados. Foram produzidas 17 cartilhas de Valorização Histórica do Município, como pode ser visto na Figura 7, um caderno de contos e lendas. Estes projetos foram concretizados com o envolvimento dos professores e alunos das escolas municipais. Figura 7 – Cartilha de contos e lendas Nas ações de saúde cerca das 700 pessoas que participaram das oficinas aproximadamente 8% buscaram encaminhamento junto ao psicólogo para atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde). Conclusões Diante do que foi exposto, percebe-se que alguns enfrentamentos comuns aos impactos gerados pela construção de empreendimentos podem ser solucionados através do diálogo e da aplicação ou intensificação de medidas mitigadoras pelo empreendimento. 332 No contexto que envolve interesses econômicos, locais e comunitários, a gestão das relações dos envolvidos se torna o principal fator de criação de um ambiente harmônico e de gestão participativa. A transformação da realidade social demanda a articulação de uma série de variáveis que não permite uma mudança em curto espaço de tempo. Foi verificado que alguns aspectos relacionados à renda da população se modificaram uma vez que foram gerados empregos diretos, e as relações de consumo de materiais para a construção do empreendimento ocorrem no próprio município. Por outro lado, os temas abordados nos projetos socioambientais mudam a rotina e as formas de tratar questões crônicas como a violência sexual infantil e a violência contra a mulher. Os relatos das comunidades deixam claro para a equipe desenvolvedora do ECOAR que a Atlantic Energias tem promovido iniciativas que de fato geram reflexões e que as informações passadas são úteis para a comunidade. Certamente com o amadurecimento das ações e dos programas será possível gerar indicadores que mensurem as transformações pretendidas por cada um dos planos implementados. Referências Bibliográficas AMARANTE, Odilon A. Camargo do; ZACK, Michael Brower e John; SÁ, Antônio Leite De. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA/CEPEL. 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Em que medida esses cidadãos são considerados e como a gestão dos serviços de saneamento está preparada para atendê-los? Os desafios da urbanização requerem inovação de mecanismos capazes de suprir demandas por serviços essenciais às populações em contextos vulneráveis. Para a medição e visualização desse cenário é necessária inovação de conceitos, indicadores e ferramentas de governança capazes de capturar as condições de exclusão do ser humano. A inovação foi feita atuando-se na interface teórica e prática para a construção participativa de requisitos de governança que foram testados em 8 municípios metropolitanos do Brasil. Foram identificadas as dimensões essenciais para a construção da governança que considere singularidades dos mecanismos de exclusão, e de indicadores voltados à atender o direito fundamental de acesso à agua e aos serviços de saneamento pelas populações vulneráveis. Por meio de 11 oficinas com atores do setor de diferentes atribuições, bem como usuários e sociedade civil organizada, após o mapeamento de controvérsias, construiu-se dois conceitos com respectivos indicadores: Universalização Inclusiva e Governança Inclusiva, e para testá-los desenvolveu-se um Modelo de Plano de Negócio Inclusivo para áreas de vulnerabiliade social. Palabras clave: Universalização Inclusiva, Governança Inclusiva, Plano de Negócio Inclusivo, Indicadores. Abstract UNIVERSAL AND INCLUSIVE GOVERNANCE: New Concepts and Sanitation Indicators Basic Social Vulnerability Areas Summary Since the economic development that took place in Brazil at the end of the last century, the country has suffered a disorderly growth in urban areas. The need for sanitation of socially vulnerable people, often located in irregular areas, is the topic of this article. To what extent are these citizens considered? Is the management of water services prepared to serve them? The challenges of urbanization require innovative mechanisms capable of meeting demands for essential services to populations in vulnerable contexts. For the measurement and visualization of this scenario it is necessary to find innovative concepts, indicators and governance tools able to capture the exclusion of conditions of human beings. This proposition was made acting on the theoretical and practical interface for the preparation of regulatory requirements tested in eight metropolitan municipalities of Brazil. The essential 334 dimensions for the construction of governance that considers singularities of exclusion mechanisms were identified along with indicators geared to meet the fundamental right of access to water and sanitation services to vulnerable populations. Through 11 workshops with actors of different sectors as well as with users and members of the civil society, and after the mapping of disputes, two concepts were built along with the indicators Universal Comprehensive and Inclusive Governance which were tested in a Living Business Plan Template for an Informal City. Key words: Universalisation Inclusive, Inclusive Governance Indicators, Alive business plan. INTRODUÇÃO Diante da realidade do uso e ocupação do solo existente no Brasil, marcada pela heterogeneidade de renda, de condições sociais entre bairros e distritos, pelo aumento do favelamento nas grandes metrópoles, evidencia-se uma sociedade cada vez mais segregada (Torres, 2004). Somado a esta segregação habitacional, está todo o crescimento populacional ocorrido de maneira concentrada em áreas urbanas. Este e outros fatores geram transformações nas estruturas das cidades, acentuando conflitos referentes ao uso e ocupação do solo. Tais conflitos requerem agilidade para suprir demandas por serviços de infraestrutura, incluindo-se, o fornecimento dos serviços de abastecimento de água e e a prestação do serviço de esgotamento sanitário (SAA&ES). Neste sentido, a universalização dos serviços consiste em estender a toda população, independentemente de contribuição financeira de cada indivíduo, o usufruto dos serviços apropriados às suas necessidades e à sua integralidade (Malheiros et al., 2006). E, conforme colocado por Heller (2009), a população menos atendida com os serviços, previsivelmente, é a de baixa renda, que vive em situação de maior vulnerabilidade social, ambiental e econômica (Ribas, 2007). Estes aspectos têm impacto importante na universalização dos serviços de saneamento, nos usuários e no entorno político e institucional de uma região. Deve-se destacar que o conceito de universalização do saneamento nas práticas do setor, é restrito ao acesso aos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em áreas regulares. Além disso, universalização é um conceito dinâmico que é alterado ao longo do tempo, devido a melhoria contínua, que exige saltos de acordo com os objetivos alcançados. No Brasil, considera-se no primeiro momento, a disponibilidade de redes de distribuição de água, em um segundo momento conexão às mesmas, em terceiro qualidade da agua, em quarto fornecimento sem interrupções; em todos os momentos, espera-se atendimento comercial acessível e tarifas módicas. Os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário já possuem indicadores desenvolvidos e empregados historicamente para medição dos serviços. Identifica-se sistemas de indicadores que apoiam contratos de concessão e reguladores, como o Sistema Nacional de Informação do Saneamento (SNSA, 2010), e Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, com base de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Muito embora seja feita a utilização rotineira de indicadores pelas agências reguladoras, prestadores e Poder Público para mensurar o desempenho dos serviços, esta mensuração tem sido utilizada na eficiência técnica e eficácia social para áreas jurídicamente regularizadas. Deste modo, nota-se que há lacunas, quando estes indicadores destinam-se a medir e monitorar a universalização dos serviços nas áreas de vulnerabilidade, áreas de invasão e 335 moradores em situação de rua. Percebe-se que indicadores para os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário voltados às populações vulneráveis não foram definidos e nem testados. O objetivo deste artigo é abordar as novas preocupações trazidas pelos direitos fundamentais preconizados aos serviços essenciais, auxiliando no esclarecimento e identificação das complexidades de interesses e relações e propor equacionamentos. Nesse sentido, buscou-se construir, conforme Juliano et Al. (2012), conceitos do saneamento quanto ao modo de operar, vinculados aos mecanismos, não apenas de implantação das políticas públicas, e saberes técnicos, mas também dos que provém das relações sanitaristausuário, para a população em vulnerabiliade social. Cada uma delas expressa processos produtivos, cujo modelo singular de construção será dos saberes que surgirão dessa relação, evidenciando a relevância da participação e controle social. Onde o usuário tem condições de, ao serem empoderados, promover soluções, que seria a construção de modelos de operar de forma participativa com o usuário. O Brasil tem 3.224.529 domicílios ocupados por 11.425.644 pessoas em situação de favelização. 77% desses estão em Regiões Metropolitanas, que abrigam 73,1% da população das áreas informais identificadas. Os locais mais procurados para o estabelecimento dos aglomerados subnormais são as margens de córregos, rios ou lagos/ lagoas, sendo 12% dos domicílios do País. Segundo o IPEA, a quantidade de pessoas morando em favelas aumentou 6% nos últimos dois anos (IBGE 2008, 2011; IPEA, 2013). É nesta perspectiva que surge a necessidade de um mecanismo que forneça informações sobre atingimento de metas, entendendo o potencial de uma adequada governança. Urge aos reguladores, municipalidades, operadores e sociedade, apropriarem-se de ferramentas que promovam maior credibilidade, transparência e aceitabilidade da gestão dos serviços essenciais às populações em situação de vulnerabilidade social. Ao mesmo tempo, novos conceitos e indicadores possibilitam avaliar e pressionar políticas públicas e ações mais efetivas no planejamento, regulação, controle e participação social. Cidadania sócio-ecológica e governança democrática constroem a nossa capacidade de aplicar os princípios de sustentabilidade através de um pacote de práticas de tomadas de decisão, melhor esclarecidas e melhor integradas no âmbito administrativo, de mercado e individual (nível pessoal/habitual) (Gibson, 2001). A questão dos procedimentos e práticas governamentais na execução de suas metas adquire relevância, incluindo aspectos como o formato institucional do processo decisório, a articulação público-privada na formulação de políticas ou ainda a abertura maior ou menor para a participação dos setores interessados ou de distintas esferas de poder (WORLD BANK, 1992). Ferramentas devem promover o mecanismo de controle e participação social e beneficiar tanto operadoras na escala do seu desempenho interno voltados ao atendimento às populações vulneráveis, como a instrumentalização de políticas públicas, por meio do regulador, incentivando e disseminando as boas práticas dos serviços voltadas às populações vulneráveis. Para vencer este desafio, entre as diversas ações a serem implementadas, é fundamental a estruturação de um plano de negócio, apoiado em conceitos, indicadores, custos reais e receitas provenientes de tarifas sociais, que permitam explicitar e abranger as singularidades dessa situação e auxilie no processo de planejamento dos serviços. 336 Deste modo, o presente artigo coloca a seguinte pergunta: Quais são os mecanismos que conseguem avaliar a prestação de serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário às populações vulneráveis? A governança, conforme Fluxo 1, considera atos de gestão que os legitima no alcance de seus objetivos. A governança, na qual o Estado pode utilizar as ferramentas que são aplicáveis no setor privado, inclui as práticas de governança corporativa, e chega na capacidade dos governos de planejar, formular e implementar politicas e cumprir funções. Os princípios que servem como base para as boas práticas da governança são transparência, equidade, accountability (prestação de contas) e responsabilidade corporativa. Assim, a governança surgiu para criar mecanismos de controle e monitoramento dos negócios, não somente pelos gestores, mas também pelos acionistas, possibilitando identificar e solucionar conflitos de agência (OCDE (2005), BIRD (1992), IBGC (2004), Malacrida & Yamamoto (2006)). Figura 1: Objetivos e Resultados de governança Fonte: Elaboração da autora baseada na Economic and Social Comission of United Nations (2013) METODOLOGIA Tendo em vista a complexidade do contexto, adotou-se metodologia qualitativa de pesquisa e recursos metodológicos multivariados de coleta de dados: pesquisa bibliográfica; pesquisa documental; pesquisa de dados êmicos; discussão de grupo (Bauer e Gaskell, 2002; Denzin, 1970a; Denzin, 1970b; Denzin, 2000; Kvale, 1996; Quivy e Van Campenhoudt, 2003; Triviños, 1995). A Interpretação dos dados coletados foi realizada mediante emprego da triangulação múltipla (Adorno e Castro, 1994; Denzin, 2000; Minayo et al, 2005; Patton, 2002). A incorporação também de análise temática como procedimento interpretativo para aprofundamento de resultados obtidos foi realizada por meio da estratégia da triangulação (Bardin, 1995; Minayo, 2004). O horizonte de tempo considerado nas projeções do Plano de Negócios para a Cidade Informal foi de 2014 a 2020. Para as projeções foi considerado como ano base o ano de 2013. As referências e projeções adotadas foram com nível de desagregação de dados de municipalidade. RESULTADOS As oficinas de conceitos, indicadores, visitas à campo e de planejameno permitiram a confrontação dos conceitos da política pública, contratos de concessão e convênios entre entes federados, normas regulatórias e procedimentos empresariais para universalização. O 337 entendimento de como os recortes ocorrem para exclusão de áreas favelizadas foram identificados. Conforme Guimarães et al. 2014, no Brasil considera-se superior o direito de propriedade ao direito humano fundamental de acesso à serviços públicos. A racionalidade que apoia a decisão de apenas domicílios regulares serem conectados às redes públicas está nas ações judiciais que foram movidas contra os gestores que promoveram a ligação de água em domicílios de assentamento irregular em áreas urbanas por todo o Brasil. Nesse sentido é mandatório garantir a pró-atividade de agentes públicos, poder concedente, legislativo para gestão da concessionária em atos de gestão menos alienados e mais inclusivos. Durante as oficinas as controvérsias socio-técnicas (Latour, 2012) foram mapeadas pelos atores envolvidos na temática. Os eventos realizados obtiveram uma frequência representativa por atividade, além da diversidade de instituições, regulador, concessionária, poder público e sociedade civil. Os resultados das oficinas participativas de saberes, a sistematização das informações obtidas num simulador, possibilitaram a estruturação de um Plano de Negócios para as áreas de exclusão partindo-se de construção de conceitos e indicadores que capturam a condição da prestação dos serviços às populações excluídas. Este Plano é chamado de Plano de Negócio Inclusivo. Três etapas de oficinas foram organizadas: 1. Oficina de Construção dos Conceitos Inicialmente, o diagnóstico e mapa de controvérsias (construido em 3 oficinas) permitiu diagnosticar-se dois principais problemas que impedem a efetividade do processo e resultado da ação: O índice de atendimento dos domicílios urbanos com água apresenta alguma incerteza em virtude das situações de ilegalidade no que tange o uso e ocupação do solo; Os processos e procedimentos de governança não capturam as áreas de assentamento precários, clandestinos e irregulares por estarem na ilegalidade e exclusão pelo fundamento jurídico de direito de propriedade. Em resposta à questões colocadas, diversos conceitos foram criados, mas por meio de triangulação com Banco de Dados da Concessionária e entrevistas a especialistas do setor em diferentes posições, identificou-se que somente dois respondiam às controvérsias do atendimento às populações em áreas de exclusão. Respostas frente às perguntas apresentadas aos grupos de Políticas Públicas e Práticas empresariais foram tabuladas (Quadro 1). Quadro 1: Consolidação da Construção dos Conceitos Construção do Conceito a. Conceito Construído para a efetividade do resultado Quem faz? O que é? O como O Por quê Para quê? Concessionária em parceria com os demais segmentos da sociedade e com a poder concedente Porque a população Atender 100 Por meio de residente em % da ações Para áreas população integradas e universalizaçã irregulares tem (regular e arranjos sócioo inclusiva direito ao irregular) técnicos acesso ao saneamento Métrica Indicador Domicílios atendidos nas % de Áreas atendimen irregulares / to Todos os inclusivo Domicilios . contados 338 b. Conceito Construído para a eficiência do processo Todos: Prestador Poder Concedente Regulador sociedade civil Garantir o cumpriment o de atribuições dos envolvidos na provisão do serviço essencial Elaboração de: contratos, leis, normas e procedimentos detalhados com responsabilida des dos atores envolvidos Os contratos atuais não incluem essas áreas e atuação do regulador fica limitada Para garantir a universalizaçã o dos serviços essenciais de água e esgoto em áreas excluídas Estabelecimen to de indice representativos (numero absoluto) Para o atendimen to das etapas de real governanç a Elaboração: os autores A redação proposta para os conceitos construídos: a. Conceito Construído para a efetividade do resultado: chamou-se de Universalização Inclusiva, o resultado do processo realizado pela concessionária, em parceria com os demais segmentos da sociedade e com a poder concedente, para atender toda a população de áreas de exclusão social, por meio de ações integradas, junto a população residente em áreas irregulares para que tenha acesso ao saneamento básico. Construiu-se nas oficinas o Indicador de Universalização Inclusiva – IUI, que será o número de ligações realizadas nessas áreas dividido pelo número total de habitações nelas existentes, objeto de Estudo em regime regulado. b. Conceito Construído para a eficiência do processo: chamou-se de Governança Inclusiva, que é o processo para garantir o cumprimento das funções do poder concedente, concessionária, regulador e entidades governamentais, por meio de instrumentos institucionais, com atribuições e competências claras e detalhadas de todos os atores para a universalização inclusiva dos serviços de saneamento, que promovam a participação social e permitam o controle social. 2. Oficina de Indicadores Indicador é uma ferramenta que permite a obtenção de informações sobre uma dada realidade. Deve ser simples de entender, possuir quantificação coerente e comunicar o estado do fenômeno observado. Um índice revela o estado de um sistema ou fenômeno, podendo ser construído para analisar dados através da junção de um jogo de elementos com relacionamentos estabelecidos (Khanna, 2000; Mitchell (1996); Prabhu et. Al (1999); Shields et al, 2002). Segundo o Tribunal de Contas da União no Brasil para se alcançar os objetivos de um financiamento deve-se estabelecer um Indicador de Estrutura, que atua no plano das condições legais para verificação da existência de mecanismos institucionais necessários para facilitar a realização do objetivo em questão, e Indicadores de Resultados mensuráveis estão diretamente relacionados aos objetivos do Agente financiador. É desejável um Indicador de Externalidades – Outcomes. A partir dos conceitos, adotou-se como principios para definição dos indicadores o universo de comparação como relevo, status da urbanização, conceito, métrica, frequência, fórmula e sentido para resultados esperados. Identificou-se que dois Indicadores são necessários e suficientes para a eficiência do processo e a efetividade do resultado, os quais foram construidos: a. Para a efetividade do Resultado, o Indicador de Universalização Inclusiva medirá a população em condição de exclusão, que foi conectada às redes para acessar com autorização legal ou judicial, para atendimento aos serviços públicos essenciais de saneamento de uma concessionária. Nesse indicador, são considerados exclusivamente os domicílios em áreas irregulares ou clandestinas invadidas (Quadro 2). Quadro 2: Universalização Inclusiva 339 Descrição dos Indicadores/Indices Métri ca Freq Fórmula Sent ido Indicador de Universalização Inclusiva Objetiva medir os domicílios em aglomerados subnormais conectados à rede pela concessionária, em parceria com Poder Concedente e demais segmentos da sociedade, para gradativamente atender toda a população da Cidade Informal, por meio de ações integradas, para que a população residente em áreas de exclusão venha ter acesso ao saneamento básico. % Anu al População da Comunidade atendida / População total da Cidade Informal ↑ Elaboração: os autores b. Para a eficiência do processo, o Índice de Governança Inclusiva deverá garantir a medição de todas as etapas para o cumprimento das atividades do poder concedente, concessionária, regulador e entidades governamentais, por meio de instrumentos institucionais com atribuições e competências claras e detalhadas, para a universalização inclusiva dos serviços de saneamento, que promovam a participação social e permitam o controle social (Quadro 3). As etapas identificadas nas oficinas de práticas e políticas públicas, para garantia da universalização inclusiva, são: 1.) Levantamento periódico e permanente das populações em situação de exclusão; 2.) Planejamento Participativo Periódico para atendê-los; 3.) Programa e projeto de Universalização amplo para as áreas com continuidade; 4.) Recursos Orçamentários empenhados continuamente; 5.) Análise anual de resultados positivos e negativos e 6.) Realimentação anual do processo. Essas etapas são os estágios para uma governança inclusiva. Desta forma, a governança inclusiva deverá garantir a integração da gestão aos atuais modelos socioeconômicos, mensurar o compromisso da gestão com a comunidade, contemplar a interdisciplinaridade sócio-técnica do assunto, fortalecer a resiliência das comunidades nas suas áreas de assentamento, estabelecer estratégias inclusivas de rede, gerar valor socioambiental, e transformar a condição de vida do usuário, equacionando as deficiências das Políticas Públicas. Incialmente, ele sairá de níveis mínimos, considerando que a mobilização social terá um período para sua articulação e engajamento até atingimento de sua plenitude, como o índice igual a 1, partindo de uma situação muito desfavorável em todos os estágios até chegar à muito favorável em todos eles. Quadro 3: Índice de Governança Inclusiva e seus estágios Descrição de Indicadores/Indices do Processo Índice de Governança Inclusiva mede o processo de governança, que deve garantir o cumprimento das funções do poder concedente, concessionária, regulador e entidades governamentais por meio de instrumentos institucionais com atribuições e competências claras e detalhadas de todos os atores para a universalização inclusiva dos serviços de saneamento, que promovam a participação social e permitam o controle social. Métrica Freq Fórmula Sentido 𝟔 Percentual (0-100) PESO DAS ATIVIDADES DA GOVERNANÇA INCLUSIVA (P) Anual 𝟔 ∑ ( ) 𝑬𝑷 𝟏 𝟏 PESO (%) 340 ↑ O estabelecimento do peso do estágio de governança na comunidade de 5 à 20 em percentual 1. Levantamento periódico e permanente das populações 20 2. Planejamento Participativo Periódico 20 3. Programa de Universalização dessas áreas amplo e com continuidade 20 4. Recursos Orçamentários 30 5. Análise de resultados positivos e negativos 5 6. Realimentação do processo 5 Total ESTÁGIOS DA GOVERNANÇA INCLUSIVA (E) 100 Favorabilidade O estabelecimento do grau de governança na comunidade ocorrerá com a definição de quatro intervalos de valores, para o respectivo índice, que varia de 0 à 1. Foram definidos 4 quartis , com variãções, de acordo com intervalos de resultados dos índices obtidos e definem 4 condições em relação à governança inclusiva muito desfavorável, desfavorável, favorável e muito favorável Muito desfavorável - Atividade não iniciada 0 à 0,25 Desfavorável - Atividade iniciada com execução de até 50% 0,26 à 0,50 Favorável - Atividade não concluida, mas tem mais de 51% e menos de 75% do previsto X realizado 0,51 à 0,75 Muito Favorável - Atividade concluida ou com mais de 76% do previstoXrealizado 0,76 à 1,00 Total 1 Elaboração: os autores Em cada estágio da governança inclusiva avalia-se o desempenho do estágio pela favorabilidade, e aplica-se o peso estabelecido pela importancia do mesmo. Como exemplo: 1.) Levantamento periódico e permanente das populações: 20 (Peso) X 0,51 (Atividade não concluída) = 10,2; 2.) Planejamento Participativo Periódico: 20 (Peso) X 0,5 (Atividade com execução até 50%) = 10; 3.) Programa de Universalização dessas áreas amplo e com continuidade: 20 (Peso) X 0,25 (Programa em construção) = 5; 4.) Recursos Orçamentários: 30 (Peso) X 0 (Não há recursos) = 0; 5.) Análise de resultados positivos e negativos: 5 (Peso) X 1 (Analise realizada) = 5; 6.) Realimentação do processo: 20 (Peso) X 5 (Realimentação do Processo) = 5; Totalizando no exemplo um Indice de Governança Inclusiva de 35,2%, que deverá ter um esforço para chegar a 100% nos anos seguintes do Plano de Negócio. O Plano de Negócio Inclusivo apresenta informações que subsidiam o planejamento participativo e o engajamento socio-técnico. Com base no Indicador de Universalização Inclusiva, Projeção de Demanda por Serviço foi desenvolvido um simulador de Plano de Negócios organizado em 5 grupos de informações: domicílios, volumes, perdas, redes (água e esgoto) e informações financeiras. O Indicador de Governança Inclusiva medirá o esforço da sociedade organizada para a Universalização Inclusiva. DISCUSSÃO O fato de concessionárias e reguladores não obterem dados relevantes para o atendimento das populações vulneráveis mostra que a regulação deve dar foco em sanar essa lacuna, no 341 propósito de atender os objetivos da regulação no sentido da eficácia social. E, deste modo, emerge a inovação do regulador de serviços essenciais a dirimir as falhas do mercado. O diagnóstico promovido pelas oficinas de saberes, para conceitos e indicadores contribuiram à construção que contemplasse visões sócio-técnicas conforme os autores Guimarães et al. (2014), Latour (2012), Bossel (1999), Santos (2004); Irar (2005), Malheiros et al (2006) e Reed (2008). Para avaliar uma situação tentando aproximá-la da realidade dos serviços, no tocante à qualidade e fornecimento às populações vulneráveis, é necessário observar as diversas relações existentes, e para lidar com tantas informações e reconhecer quais realmente são mais relevantes, é preciso o auxílio do plano de negócios com indicadores e conceitos, para poder-se visualizar sob o olhar das dimensões, e de forma que a gestão tenha mecanismos mais simples de avaliação. O plano, indicadores e conceitos de incluso propostos e validados conseguiram alcançar o propósito de: ter uma visão integrada do funcionamento dos serviços de saneamento nas áreas de exclusão; e expor as fragilidades da gestão e avaliar os fatores que orientam as ações para a Universalização Inclusiva; elaborar um plano de ação comparticipação social; e criar um plano de investimentos. A pressão exercida por diversas partes envolvidas, o impacto das ações de mudança e as respostas a partir de determinadas ações são objetos de uma governaça inclusiva. O plano foi organizado utilizando-se de novos paradigmas de diversas práticas de gestão, autores, listando diferentes problemas para considerar o direito fundamental aos serviços essenciais, a sobrevivência humana por cidadãos que estão em condição de exclusão. Nesse sentido, a construção de um modelo de dimensões fundamentais, permite identificar os quesitos para um diagnóstico de gestão menos alienada e mais inclusiva para universalização dos serviços essenciais de saneamento em áreas de exclusão. CONCLUSÕES A universalização inclusiva somente é alcançada por um esforço conjunto de entes públicos, privados, sociedade civil e comunidade científica. Faz-se mandatório revisitar conceitos, considerar saberes das diversas comunidades, rever metas e indicadores que encobrem as exclusões. Os técnicos-sanitaristas vivem em áreas de conflitos sociais, em algumas, com risco de morte. O saneamento deve estar apoiado em procedimentos e atos para promover o acesso aos serviços a todo ser humano, independentemente de sua condição social ou legal. Nesse sentido, pontos relevantes foram equacionados. A assimetria de informações, mediante as ferramentas da Governança Inclusiva, favorece a eliminação do mecanismo de exclusões das redes apoiada pelo Indicador de Universalização Inclusiva, pela inovação na forma de planejar e atender áreas vulneráveis, reforçando a participação e controle social, independentemente de programas de urbanização, apoiados por mecanismos judiciais de regularização. Deve-se, porém, considerar que essa metodologia promove a qualificação à participação de agentes públicos e cidadãos contribuindo com seus saberes, e favorecendo o empoderamento de todos os atores. REFERÊNCIAS ADORNO, R. C. F.; CASTRO, A. L. 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Os resultados apontam que inovação social e tecnologia social são dois fenômenos interdependentes e complementares que dentro de uma dinâmica de evolução sociotécnica se legitimam reciprocamente, refutando as visões reducionistas do determinismo social e tecnológico ao tempo em que geram uma ambiência socioeconômica capaz de induzir o desenvolvimento sustentável nos territórios rurais. Palavras-chave: desenvolvimento rural sustentável, evolução sociotécnica, inovação social, tecnologia social, território rural. Social Technology and Social Innovation: Inductor Interaction of Sustainable Development in Rural Territories Abstract The work is a theoretical essay in order to propose a framework that allows to observe the role of social technologies, taken as alternatives to conventional/ capitalists technologies, and social innovations, as vectors of social change, in the processes of sustainable development of Brazilian rural territories. The results show that social innovation and social technology are two interdependent and complementary phenomena that within a dynamic socio-technical evolution legitimize each other, rejecting reductionist views of social and technological determinism, at the time that generate a socioeconomic ambience able to induce sustainable development in rural territories. KeyWords: rural territories, social innovation, social technology, socio-technical evolution, sustainable rural development. Introdução 345 O desenvolvimento sustentável caracteriza-se por uma mudança de prioridades por parte da sociedade, com a incorporação de uma nova ética centrada na consecução dos interesses coletivos, e da sua estrutura de produção e consumo como forma de inverter o quadro de degradação ambiental e miséria social resultante do crescimento econômico. Notadamente, as tecnologias desempenham um papel central nesse processo, pois a resolução da problemática da pobreza, do desemprego, da exclusão social e do subdesenvolvimento não pode ser analisada sem levar em conta a dimensão tecnológica. Assim, dentre os muitos modelos tecnológicos disponíveis, a reversão desse quadro depende da incorporação de novos conceitos e valores no processo decisório. O movimento da tecnologia social parte desse princípio para desenvolver tecnologias alternativas às convencionais que incorporem desde a sua concepção uma intencionalidade de inclusão social e de um desenvolvimento social, econômico e ambiental sustentável, devendo ser definida de acordo com o contexto, pela relação particular entre a tecnologia e a sociedade e o envolvimento dos atores interessados (Fonseca, 2010). Por outro lado, a inovação social é tida como um processo de mudança social voltada ao atendimento das necessidades sociais, à inclusão social e ao empoderamento dos indivíduos e comunidades potencial ou efetivamente sujeitos aos processos de exclusão social ou marginalização (André e Abreu, 2006). Diversos estudos empíricos têm evidenciado indiretamente essa capacidade das tecnologias sociais para contribuir com o desenvolvimento sustentável nos espaços rurais brasileiros, seja através da mitigação das mudanças climáticas e da promoção do desenvolvimento humano (Ventura; Garcia; Andrade, 2012), da geração de emprego e renda (Catharin e Sachuk, 2011), Costa et al., 2014), da responsabilidade social (Bonilha e Sachuk, 2011) ou do atendimento de necessidades básicas da população (Rodrigues e Barbieri, 2008). Todavia, o papel da inovação social nesse processo vem sendo negligenciado por estudiosos e pesquisadores das temáticas do desenvolvimento rural sustentável e da tecnologia social. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é apresentar um framework que permita observar o papel das Tecnologias Sociais (TS) e das Inovações Sociais (IS) nos processos de desenvolvimento sustentável dos territórios rurais brasileiros. O trabalho se constitui num ensaio teórico que se apoia nas contribuições de Veiga et al. (2001), MDA (2003), Sepúlveda et al. (2003), Belmar e Loguércio (2006) e Sepúlveda (2008) para abordar o enfoque territorial como uma nova e atual estratégia empreendida na busca pelo desenvolvimento rural sustentável, enfatizando seus principais objetivos e características, assim como a imprescindibilidade de uma nova dinâmica socioeconômica para sua consecução. Com base nos trabalhos de André e Abreu (2006), Mulgan et al. (2006), Westley (2008), Howaldt e Schwars (2010), Neumeier (2012), Cajaíba-Santana (2014) ressaltou-se a natureza imaterial da inovação social e o seu papel enquanto vetor de mudança social e de uma dinâmica social que favorece o desenvolvimento de tecnologias alternativas. A discussão em torno da temática da tecnologia social, por sua vez, está assentada nas contribuições de ITS (2004), Fonseca e Serafim (2009), Novaes e Dias (2009), Thomas (2009), Freitas (2012) ressaltando o seu papel enquanto tecnologia alternativa à convencional com forte potencial para promover a inclusão tecnoprodutiva das parcelas mais pobres da população. 346 A partir dos recortes delineados, o trabalho foi dividido em seis seções, incluindo esta seção introdutória. Na segunda, terceira e quarta seções são abordados os fundamentos teóricos da pesquisa relacionados aos temas Desenvolvimento Rural Sustentável, Inovação Social e Tecnologia Social. Em seguida é explicitado o framework proposto e na sequência as considerações finais, onde constam novas inferências acerca do trabalho como um todo, além das contribuições e das limitações da pesquisa. Desenvolvimento Rural Sustentável sob o enfoque territorial O conceito de Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS) surge como tributário dos princípios instituidores do Desenvolvimento Sustentável (DS), sobretudo no que tange ao uso racional dos recursos naturais. Isso se deve não apenas pelo fato dos recursos naturais serem um elemento fundamental de qualquer estratégia de desenvolvimento, mas porque se constituem num dos ativos mais importantes do meio rural. O DRS, portanto, é orientado pela visão integral do DS (multidimensional e intertemporal) no tratamento dos problemas que afetam o meio rural; é parte do DS, mas ambos devem ver-se como aproximações complementares no tratamento de problemas como a deterioração dos recursos hídricos, a perda da biodiversidade, a desertificação, a luta contra a pobreza e a integração de grupos sociais excluídos (Sepúlveda, 2008). O enfoque territorial representa uma estratégia empreendida na busca pelo DRS, pois constitui uma nova forma de entendê-lo e abordá-lo ao encarar seus obstáculos e desafios a partir da perspectiva do território, através de uma análise dinâmica e integral que inclui as distintas dimensões que atuam nele como a sociocultural, a econômica, a ambiental e a político-institucional (Belmar e Loguercio, 2006). No Brasil, esse enfoque insurge em resposta à insuficiência das políticas públicas que, implementadas nas últimas décadas e voltadas à promoção do desenvolvimento rural, não foram efetivas no objetivo de generalizar melhorias na qualidade de vida e nas oportunidades de prosperidade das populações que habitam o interior do país, ou por serem setoriais (MDA, 2003) ou por basearem-se na dicotomia entre o rural e o urbano (Veiga et al., 2001) ou, ainda, pela combinação de ambos. Os pequenos e médios centros urbanos da maioria dos municípios brasileiros gravitam em torno do trabalho, da produção, da cultura e dos demais recursos rurais, de modo que seus espaços rurais e urbanos são interdependentes. Além disso, possuem a mesma matriz sociocultural, econômica e político-institucional, razão pela qual devem ser articulados e integrados para que se criem soluções que articulem as diversas faces da mesma realidade e sejam definitivas para os seus problemas. Nessa perspectiva, os territórios rurais passam a representar mais do que uma simples base física, na medida em que têm vida própria, possuem um tecido social e uma teia complexa de relações com raízes históricas, políticas e de identidades diversas que vão muito além de seus atributos naturais (MDA, 2003). Sepúlveda et al. (2003) definem território como um construto social historicamente construído, que lhe confere um tecido social único, dotado de uma determinada base de recursos naturais, certos modos de produção, consumo e intercâmbio, e uma rede de instituições e formas de organização que se encarregam de dar-lhe coesão ao resto dos 347 elementos. Nesta perspectiva, a noção de território sugere, mais do que uma aproximação espacial entre o campo e a cidade, uma aproximação funcional entre ambas as categorias, onde as zonas urbanas e rurais se constituem em espaços integrados que compartilham e intercambiam grupos populacionais, complexos produtivos, serviços, recursos naturais e instituições. Essa relação funcional avulta a necessidade de que o desenvolvimento rural sustentável seja pensado numa perspectiva sistêmica e integral, que considere tanto fatores endógenos quanto exógenos relacionados ao desenvolvimento dos territórios. Uma iniciativa de destaque nesse sentido é denominada Desenvolvimento Rural Sustentável com Enfoque Territorial (DRSET). Proposta pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), essa iniciativa foi concebida como um processo que visa à transformação da dinâmica de desenvolvimento do território mediante uma distribuição ordenada das atividades produtivas, em conformidade com seu potencial de recursos naturais e humanos, pondo em marcha no território políticas econômicas, sociais, ambientais e culturais sustentadas em processos descentralizados e participativos. Essas características reforçam a adoção de um tratamento sistêmico e integral da realidade pelo DRSET, considerando, sobretudo, a multidimensionalidade e intertemporalidade dos processos de desenvolvimento. Por conseguinte, um sistema territorial é representado por quatro dimensões do desenvolvimento sustentável, sendo o espaço de interação entre elas aquele no qual se dá o desenvolvimento rural sustentável (Sepúlveda, 2008). Essas dimensões e seus respectivos objetivos principais e conceitos chave podem ser visualizadas no quadro abaixo: Quadro 1. Dimensões, objetivos e conceitos chave do Desenvolvimento Rural Sustentável com Enfoque Territorial Dimensão Sociocultural Econômica Ambiental Políticoinstitucional Objetivos principais Gerar acesso a oportunidades para toda a população rural; Fortalecer a organização e o desenvolvimento dos atores sociais; Estimular processos de coesão social. Desenvolver o sistema produtivo do território; Fortalecer os encadeamentos e as economias de escala através das cadeias agroalimentares e os clusters; Estabelecer sistemas de produção eficientes e de qualidade. Conservar os recursos naturais existentes; Proteger os ecossistemas ambientais incluindo os seres humanos; Recuperar os sistemas ambientais degradados. Fortalecer a participação cidadã na tomada de decisões; Incentivar a governabilidade democrática; Promover planos de desenvolvimento articulados entre os diferentes níveis de governo: local, regional e nacional. Conceitos chave Equidade; Atores sociais; Diversidade cultural. Competitividade; Cadeia agroalimentar; Clusters; Heterogeneidade; Capacidade de gestão; Sustentabilidade; Manejo integrado dos recursos naturais; Sistema ambiental; Problemas ambientais; Participação cidadã. Governabilidade; Participação cidadã; Transparência; Governos locais. Fonte: Elaborado pelos autores com base em Sepúlveda (2008, p. 12-22) Do exposto, é possível concluir que a proposta do enfoque territorial é a promoção de um novo estilo de desenvolvimento capaz de gerar transformações que melhorem as condições de vida das populações rurais. Para tanto, mostra-se imprescindível a participação social, a formação alianças entre os setores público e privado e o desenvolvimento de sistemas produtivos que sejam amigáveis com o meio ambiente, além da incorporação explícita do 348 desenvolvimento rural nos planos de desenvolvimento nacional, promovendo a harmonização entre as políticas e inversões dos diversos setores e a sinergia entre estes e os atores sociais envolvidos. Trata-se, portanto, de uma proposta cuja concretização depende de um amplo processo de mudança social baseada na incorporação de novos valores e a adoção de novos comportamentos pela sociedade. É neste contexto que a inovação social adquire papel fundamental na geração de mudanças capazes de melhorar de forma mais abrangente o desenvolvimento. Inovação social como vetor de mudança social O estudo da inovação iniciou-se no campo da economia no início do século passado, notadamente nos estudos de Schumpeter (1934), que a concebeu inicialmente como o lançamento pioneiro de bens e serviços inéditos ou aperfeiçoados no mercado. A inovação, nessa perspectiva, envolve a apropriação de ideias materializadas em invenções ou por descoberta de coisas novas existentes na natureza, capazes de modificar de forma mais ou menos drástica a base de conhecimentos utilizada na produção. Para o autor, o conceito de inovação tem evoluído separadamente em diferentes tradições científicas. Para Cajaíba-Santana (2014), foi o primeiro autor a propor uma distinção teórica entre a invenção técnica e a social foi Obburn em 1969, ao afirmar que o uso do termo invenção não se aplica apenas às invenções técnicas em nosso contexto, mas em vez disso compreende invenções sociais, como a invenção de um ritual religioso, um alfabeto, o dinheiro, o sufrágio universal, as leis e o Estado moderno, por exemplo. Assim, a inovação tem sido presente na história da humanidade como uma manifestação de seu poder criativo e dos esforços empreendidos para desenvolver respostas para suas necessidades e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida. A capacidade de mudar, de reinventar e reinventar-se, portanto, é um pré-requisito indispensável para a evolução das sociedades. A ideia de inovação social surge no cerne dos problemas ambientais e sociais na medida em que advém da crescente complexidade nos processos de exclusão e desigualdade social que, em última análise, são responsáveis pela erosão dos recursos naturais. É comum o uso do termo associado às iniciativas do terceiro setor direcionadas ao combate à exclusão social, com pesquisas empíricas especialmente direcionadas aos cuidados com a saúde, à ação social, à alimentação, à imigração e à integração ao mercado de trabalho. Uma ideia bastante difundida na literatura é que a inovação social é um processo que se desenvolve fora do mercado, sem a intervenção direta do Estado, visando, prioritariamente, à inclusão social. Como consequência, a principal diferença entre as inovações sociais e as inovações tecnológicas reside no resultado pretendido, pois enquanto os fatores determinantes para a inovação tecnológica estão associados à criação de valor econômico, conforme definido por Schumpeter desde o início do século passado, a inovação social traz à tona a mudança social que não pode ser construída com base em práticas estabelecidas. Ainda que alguns resultados possam se sobrepor, a finalidade pretendida por ambos os tipos de inovação é fundamentalmente diferente. 349 Nesta perspectiva André e Abreu (2006) apontam que a inovação social passou a ser entendida como uma resposta nova e socialmente reconhecida que visa e gera mudança social, ligando simultaneamente três atributos: (i) satisfação de necessidades humanas não satisfeitas por via do mercado; (ii) promoção da inclusão social; e (iii) capacitação de agentes ou atores sujeitos, potencial ou efetivamente, a processos de exclusão/marginalização social, desencadeando, por essa via, uma mudança, mais ou menos intensa, das relações de poder. Segundo as autoras, uma vez admitida a ideia de que a inovação social não só visa, mas também gera mudança social, contribuindo para a alteração das relações de poder, excluemse do campo de atuação do conceito os efeitos dos processos de inovação tecnológica ou organizacional. Portanto, distintamente das inovações tecnológicas, as inovações sociais são orientadas para as práticas sociais e o social não se limita apenas às práticas de comportamento ou à relação humana envolvida no processo de inovação e difusão, mas assume um entendimento mais amplo com base na criação de um bem comum maior (Howaldt e Schwars, 2010). Zapf (1989), citado por Neumeier (2012), já defendia que as inovações sociais eram sinônimas de novas práticas sociais, especialmente novas formas de organização e novas formas de regulação, novos estilos de vida que mudam a direção da mudança social, resolvem problemas melhor do que antigas práticas e, portanto, valem a pena serem imitados e institucionalizados. Nesse sentido, três aspectos importantes da inovação social são destacados: (i) novidade especial na percepção subjetiva dos indivíduos envolvidos; (ii) uma concentração de mudanças de atitude (em contraste com a inovação técnica); e (iii) a aplicação prática que está ligada com uma certa superioridade em comparação com os métodos tradicionais, de modo que a imitação do novo método ou solução pareça fazer sentido. Outra importante característica da inovação social é a imaterialidade ontológica do fenômeno; seus resultados materiais são apenas um resultado suplementar e não se concentram em necessidades, mas na construção de ativos. Essa percepção é compartilhada por Mulgan et al. (2006), Westley (2008) e Cajaíba-Santana (2014) ao mencionar que a inovação social é, fundamentalmente, uma mudança social, devendo ser esta a principal característica posta em evidência. Segundo os autores, a inovação social atende as necessidades sociais prementes na medida em que mudam profundamente a rotinas básicas, recursos e fluxos de autoridade ou crenças do sistema social em que ocorrem, ou seja, representam efetivamente uma mudança social. Os sistemas sociais são meios organizados de recursos, crenças e procedimentos unidos e regulados pela interação ou interdependência para realizar um conjunto de funções específicas e, em função de seus elementos múltiplos e interativos, são complexos e sua sobrevivência depende de sua capacidade de adaptarem-se às necessidades que emergem dos subsistemas – indivíduos ou organizações. Podem variar em tamanho, podendo ser pequenos como uma família ou envolverem todo o globo, no entanto, o que define um sistema social não é o seu tamanho, mas a sua cultura (crenças, valores, artefatos e símbolos), sua estrutura política e econômica (o padrão de distribuição de poder e recursos) e suas interações sociais (leis, procedimentos, rotinas e hábitos que governam a interação social e a torna praticável) (Westley, 2008). A combinação destes três elementos constitui as “instituições”. 350 Ao tratar da ambiência propícia ao surgimento da inovação social, André e Abreu (2006) salientam a ideia da plasticidade do meio – lugar ou espaço-rede – resultante da conjugação de três condições: (i) a diversidade, que assegura a abertura ao exterior e a entrada de ideias, atitudes e práticas novas; (ii) a tolerância, que permite o risco, possibilitando, dessa forma, a emergência de inovação e; (iii) a participação, que promove o debate e o envolvimento dos atores. Assim, distintamente da inovação técnica, as inovação social não pode ser diretamente planejada e produzida; ela só pode ser estimulada através da criação de um ambiente propício para o surgimento de inovações. No entanto, é necessário considerar que é esse mesmo ambiente criativo, inovador e participativo que gera as condições necessárias para que inovações técnicas alternativas como as Tecnologias Sociais (TS) sejam desenvolvidas. Tecnologia Social como alternativa tecnológica Dentre as diversas concepções assumidas pelo termo “tecnologia social” desde que emergiu no meio acadêmico (Henderson, 1901), a que nos interessa para efeito deste trabalho é aquela segundo a qual a Tecnologia Social (TS) é uma tecnologia alternativa à tecnologia convencional ou capitalista, cujo objetivo explícito é responder à problemática de desenvolvimento comunitário, de geração de serviços e de alternativas tecnoprodutivas em cenários socioeconômicos caracterizados por situações de extrema pobreza (Thomas, 2009). Considerada em oposição à tecnologia convencional, a TS se caracteriza por ser adaptada a pequenos produtores e consumidores de baixo poder econômico; não promover o tipo de controle capitalista, segmentar, hierarquizar e dominar os trabalhadores; ser orientada para a satisfação das necessidades humanas; incentivar o potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários; ser capaz de viabilizar economicamente empreendimentos como cooperativas populares, assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e pequenas empresas; além de ser ambientalmente amigável. Além disso, a TS estaria mais imbricada às realidades das comunidades locais, gerando respostas mais adequadas aos problemas inerentes a um determinado contexto (Novaes e Dias, 2009). No âmbito da construção de um arcabouço teórico para a TS, o Centro Brasileiro de Referência em Tecnologia Social (CBRTS) sistematizou as primeiras reflexões acerca do tema em quatro eixos (ITS, 2004). O primeiro eixo é composto por quatro princípios da TS, os quais são concebidos como proposições que nos servem de base e que, dessa forma, permeiam as ideias relacionadas à TS, quais sejam: Aprendizagem e participação são processos que caminham juntos: aprender implica participação e envolvimento; e participar implica aprender; A transformação social implica compreender a realidade de maneira sistêmica: diversos elementos se combinam a partir de múltiplas relações para construir a realidade; A transformação social ocorre na medida em que há respeito às identidades locais: não é possível haver transformação se não a partir das especificidades da realidade existente; Todo indivíduo é capaz de gerar conhecimento e aprender: a partir do momento que está inserido numa cultura e em contato com o mundo, todo indivíduo produz conhecimento e aprende a partir dessa interação (ITS, 2004, p. 26). 351 O segundo eixo refere-se ao próprio conceito de TS, estabelecido como um “conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida” (ITS, 2004, p. 26). A conjugação dos princípios e do conceito formulado reforça uma das características mais importantes da TS que é o seu potencial de consolidação de processos de aprofundamento da democracia, na medida em que tem como fundamento a geração coletiva do conhecimento e a participação dos usuários no seu desenvolvimento, objetivando a construção de um novo estilo de desenvolvimento mais inclusivo e participativo (Fonseca e Serafim, 2009). No terceiro eixo estão consignados os parâmetros que são definidos como elementos centrais para atribuir às experiências o caráter de Tecnologia Social, os quais podem ser consolidados em três focos ou preocupações distintas e dependentes que são propósito, pessoas e processo (Freitas, 2012). Relacionado ao propósito estão os parâmetros “quanto à sua razão de ser” e “quanto à sustentabilidade”, dizendo respeito ao fim da TS de solucionar problemas e demandas sociais concretas vividas e percebidas pela comunidade mediante ações que visem a um desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável. Por fim, o quarto eixo compreende as implicações que do conceito formulado decorrem, cujo desdobramento lógico é o entendimento de que a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) devem ser de vasto conhecimento da sociedade e amplamente demandada por esta e a TS emerge como instrumento de indução de um novo modelo de desenvolvimento científico e tecnológico que possibilite a inclusão de toda a sociedade no acesso e produção do conhecimento, levando-se em conta que a inovação surge a partir da participação social. As TS ocupam um espaço estratégico no fortalecimento do elo entre a sociedade e os centros de produção de CT&I, pois, ao promoverem a participação dos diversos atores sociais na construção de soluções efetivas para os problemas sociais e econômicos da população, configuram-se num importante eixo em torno do qual gravitam novas possibilidades de relacionamento entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, aproximando os problemas de sua solução e promovendo o empoderamento da população na medida em que possibilita a apropriação do conhecimento por parte desta. Destaca-se, dessa forma, que o processo de construção social da tecnologia é ponto central para o conceito de TS, o que se evidencia tanto nos princípios quanto no conceito, nos parâmetros e nas implicações. Tecnologias Sociais e Inovações Sociais no contexto do Desenvolvimento Rural Sustentável A partir das considerações realizadas é possível concluir pela aproximação conceitual e analítica entre Inovação Social (IS) e Tecnologia Social (TS) em diversos aspectos, pois ambas possuem objetivos comuns de inclusão social e resolução de problemas sociais; desenvolvem-se fora do mercado; estão associadas às iniciativas do terceiro setor; são frutos de construção coletiva; visam e geram transformação social e; visam à sustentabilidade econômica, social e ambiental. Adicionalmente, os aspectos inerentes à IS, citados por Neumeier (2012), também se fazem presentes no contexto da TS, especialmente quando colocadas em contraposição às 352 Tecnologias Convencionais (TC), pois: 1) a TS, em virtude de seus propósitos de inclusão social e melhoria da qualidade de vida das pessoas, representa uma novidade em relação à TC com reais possibilidades de transformação social; 2) para que seja eficaz, a TS não prescinde da incorporação de determinados valores por parte dos atores que dela participam, tais como solidariedade, cooperação, participação, cidadania e democracia, causando uma mudança de comportamento generalizada e; 3) no contexto dos excluídos, a aplicação prática das TS gera resultados mais satisfatórios que a TC e, por essa razão, gera uma percepção coletiva de que é uma prática que vale a pena ser copiada. Quanto à iniciativa para sua geração, tanto a TS quanto a IS pode ser iniciada por uma ampla gama de atores, incluindo ONGs, grupos comunitários, instituições, governos, empresas, acadêmicos, filantropos ou combinações destes grupos (Biggs; Westley; Carpenter, 2010). Entretanto, distintamente da TS, a IS não pode ser diretamente planejada e produzida. Isso se deve precipuamente à natureza imaterial da IS, a qual não poderia em nenhuma hipótese abarcar a materialidade das inovações técnicas desenvolvidas no contexto da TS, sendo estas apenas um resultado suplementar da mudança social produzida por aquelas. Portanto, trata-se em verdade de dois fenômenos interdependentes e complementares que dentro de uma dinâmica de evolução sociotécnica se legitimam reciprocamente. Ou seja, a IS enquanto mudança social produzida no interior de um meio inovador e criativo produz a ambiência necessária para que tecnologias alternativas (no caso, as TS) sejam desenvolvidas e socialmente legitimadas e, no caminho inverso, estas novas tecnologias induzem uma nova e legítima mudança social, a qual seria improvável com a utilização de tecnologias convencionais. Assim, IS e TS coevoluem e se constituem mutuamente, refutando as visões reducionistas do determinismo social e tecnológico, ao tempo em que geram uma ambiência socioeconômica capaz de induzir o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais. A partir dessa perspectiva foi possível a formação do framework exposto na figura 1 abaixo. Figura 1. Framework proposto Fonte: Elaborado pelos autores 353 O framework proposto evidencia que novas ideias materializadas nas ações dos diversos atores têm o poder de mudar as instituições. Do ponto de vista institucional, a legitimidade dá validade às ações que modificam os sistemas sociais e, por conseguinte, geram uma inovação social que legitima o desenvolvimento de uma nova tecnologia social, dando inicio ao processo de evolução sociotécnica, cujo princípio básico é o condicionamento da sociedade pela tecnologia e vice-versa, onde ambas necessariamente devem compartilhar dos mesmos objetivos e valores. Através da mudança social gerada pela IS valores como participação, cidadania, democracia, solidariedade, equidade, justiça social e responsabilidade ambiental são incorporados à sociedade, gerando uma ambiência social favorável ao DRSET. Por outro lado, os propósitos comuns de inclusão social, resolução dos problemas, demandas e necessidades da sociedade, melhoria das condições de vida da população, proteção e conservação dos recursos naturais e de promoção de um novo modelo de desenvolvimento social, econômico e ambiental sustentável dependem da materialização dessa mudança social em produtos, processos, práticas, técnicas ou metodologias que incorporem esses novos valores ao tempo em que dinamizam a economia do território, sendo este o papel das tecnologias sociais. Em síntese, o framework proposto busca evidenciar a complementaridade e interdependência dos fenômenos inovação social e tecnologia social, e a sua interação (evolução sociotécnica) como elemento transversal e multidimensional que gera a dinâmica socioeconômica necessária à indução do desenvolvimento sustentável nos territórios rurais brasileiros. Considerações Finais A proposição de um framework para analisar a relação entre as Inovações Sociais (IS) e Tecnologias Sociais (TS) no contexto do Desenvolvimento Rural Sustentável com Enfoque Territorial (DRSET) proporcionou relevantes contribuições teóricas e práticas. No campo teórico, ampliam-se sensivelmente as discussões em torno do marco analítico e conceitual da TS na medida em que se propõe uma nova perspectiva analítica que leva em consideração a sua complementaridade e interdependência em relação à IS, devendo esta ser interpretada como um fenômeno que precede àquela. No que concerne ao DRSET, o trabalho insere na discussão teórica um olhar inovador que o concebe como resultado do processo de evolução sociotécnica decorrente da interação entre inovação social e tecnologia social, perspectiva esta não considerada por Sepúlveda (2008) ao tratar do tema. No campo prático, a correta compreensão desses fenômenos e suas interações pode contribuir significativamente para o aperfeiçoamento das práticas dos diversos atores sociais e institucionais que desenvolvem atividades relacionadas ao planejamento, desenvolvimento, aplicação e difusão de tecnologias sociais ao tempo em que auxilia os técnicos e gestores públicos na formulação, monitoramento e avaliação das políticas de desenvolvimento rural baseadas nesse tipo de tecnologia. Por outro lado, em se tratando de um ensaio teórico, o presente trabalho apresenta como principal limitação a ausência de aplicação empírica para confirmação das relações ora apontadas, o que será objeto de estudos subsequentes. Referências Bibliográficas ANDRÉ, I.; ABREU, A. Dimensões e Espaços da Inovação Social. Finisterra, v. XLI, n. 81, pp. 121-141, 2006. 354 BELMAR, E. C.; LOGUERCIO, N. G. Ordenamiento Territorial: Una Herramienta para el Desarrollo Rural Sostenible. Experiencias y aprendizajes. 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Soziale Welt, v. 40, n. 1–2, pp. 170–183, 1989. 356 INDICADOR DE RENDA PER CAPITA RURAL E SUSTENTABILIDADE LOCAL: O CASO DAS COMUNIDADES RURAIS EXTRATIVISTAS VEIGA, João Paulo Cândia1; MAKISHI, Fausto2; ZACARELI, Murilo Alves3; LEME, Sabrina Lissa4; TERADA, Thiago Augusto Hiromitsu5 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e Instituto de Relações Internacionais (IRI) – Universidade de São Paulo (USP); 2Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) – Universidade de São Paulo (USP); 3Instituto de Relações Internacionais (IRI) – Universidade de São Paulo (USP); 4Instituto Beraca; 5Instituto Beraca E-mail dos autores: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; 5 [email protected] 1 Resumo A governança ambiental segue uma tendência global de criação de indicadores e Standards locais, seja para auxiliar as políticas públicas, seja para melhorar a efetividade das ações e dos programas de ONGs e empresas. A proposta é a de desenvolver indicadores para aferir o bem estar de populações locais, em linha com o Índice de Desenvolvimento HumanoMunicipal (IDH-M) e com o Índice de Progresso Social (IPS). O indicador de renda per capita é utilizado e amplamente consagrado por governos e organismos internacionais como um parâmetro de riqueza nacional. Contudo, ele aumenta artificialmente a renda de comunidades rurais ao misturá-la com a renda daqueles que vivem na área urbana do município. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é o de apresentar um Indicador de Renda Per Capita Rural (IRPC Rural) para famílias extrativistas em áreas rurais de quatro municípios: Salvaterra (PA), Bragança (PA), Breves (PA) e Cristino Castro (PI). São três os drivers que orientam o presente estudo: 1. Explicar por que a renda das famílias extrativistas que vivem em áreas rurais é mais baixa do que aquelas que vivem na área urbana do município; 2. Tomando-se dois subconjuntos (as famílias mais ricas e as mais pobres de cada localidade), busca-se correlacionar a renda com o uso de um recurso natural, mais especificamente um Recurso Florestal Não Madeireiro (RFNM) que pode ser uma semente ou um fruto da biodiversidade brasileira; 3. A partir dos resultados alcançados, especula-se a respeito da efetividade de duas políticas públicas, o Bolsa Família e o Bolsa Verde. A metodologia mistura métodos qualitativos e quantitativos, e as fontes primárias de dados são os questionários abertos semiestruturados aplicados a cada família extrativista das quatro localidades, respeitando uma amostra representativa da população total. Os resultados apresentados relacionam o IRPC Rural aos impactos sociais e às externalidades ambientais. Palavras-chave: IRPC Rural, PFNMs, Políticas Públicas, Renda, Sustentabilidade. Sustainability Indicators and Local Governance: The Case of Extractive Rural Communities 357 Abstract The governance of environmental issues follows a trend that involves the creation of local indicators and Standards either to assist public polices or to improve the effectiveness of the actions of NGOs and business programs. The aim of this proposal is to develop indicators to measure the well-being of local populations, in line with the Municipal Human Development Index (MHDI) and the Social Progress Imperative (SPI) indicators. The per capita income indicator is used and widely consecrated by governments and international organizations as a parameter of national wealth. However, it artificially increases the income of rural communities to mix it with the income of those living in the urban area of the municipality. In this sense, the objective of this work is to present a Rural per capita income indicator (Rural PCII) for extractive families in rural areas of four locations: Salvaterra (PA), Bragança (PA), Breves (PA) and Cristino Castro (PI). Three concerns are presented: 1. Explain why the income of extractive families living in rural areas are lower than those living in the urban area of the municipality; 2. Taking two subsets (the richest and poorest families in each location), it is possible to correlate the income with the use of a natural resource, specifically a Non-Timber Forest Product (NTFP) that can be a seed or a fruit; 3. From the results obtained, the effectiveness of two public policies is speculated: the Bolsa Família and the Bolsa Verde. The methodology is qualitative and quantitative. Primary data is obtained from open semistructured questionnaires conducted among the extractive families, which respects a representative sample of the total population. In the interview, the householder reveals the sources of income of the family that live in the same household in a given period of time. The presented results relate the Rural PCII, the social impacts and the environmental externalities. KeyWords: IRPC Rural PCII, NTFPs, Public Polices, Income, Sustainability. Introdução Em sua primeira entrevista depois de assumir o ministério da Agricultura Brasileiro (MAPA), Kátia Abreu indicou as prioridades da pasta para os próximos anos. Depois de uma conversa com a presidente Dilma Rousseff para planejar os eixos de atuação do MAPA, o pedido da chefe de Estado à nova ministra foi muito claro: trazer as famílias das classes D e E de áreas rurais e levá-las para a classe média, ou seja, para a C. As classes D e E abarcam 70% dos produtores rurais, e só na D existem cerca de 1.4 milhão deles. São famílias que moram em áreas rurais de municípios de porte pequeno e médio, entre 20 e 100 mil habitantes. Ademais, são famílias que vivem de renda média anual entre R$ 10 e R$ 22 mil reais em um ambiente de poucas oportunidades de trabalho e de baixa escolaridade, apesar de todos os esforços do governo em proporcionar melhorias através dos programas de transferência de renda (Bolsa Família, Seguro Defeso, Bolsa Verde e Aposentadoria Rural). Uma parte dessas famílias pode ser classificada como pobres (classe E). Uma grande parte delas vive da aposentadoria rural, e não são necessariamente agricultores familiares cadastrados no PRONAF (Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar). Vivem da agricultura de pequena escala (subsistência) conjuntamente com outras atividades de prestação de serviços (moto táxi, trabalhos domésticos em casa de terceiros, artesanato, e uso de recursos naturais – pesca, sementes, folhas e frutos). Em entrevista ao Jornal Valor Econômico (2015), a ministra Kátia Abreu afirmou ainda que “a classe D tem 1,4 milhão, é atrás deles que eu vou, sobretudo da D superior! 358 Temos que apostar nas novas gerações no campo, com educação” teria dito a nova ministra à presidente Dilma”. O primeiro problema que a ministra do MAPA vai enfrentar é a ausência de indicadores confiáveis acerca da renda familiar rural para fins de classificação. A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar) contabiliza a renda familiar do campo mas o governo federal não divulga os dados de forma direcionada. Ademais, os indicadores de desenvolvimento, mesmo aqueles que trazem variáveis de sustentabilidade socioambiental, utilizam a métrica tradicional da renda per capita municipal (IDH-M e IPS). Nesse caso, divide-se o produto pelo número de habitantes, sem especificar a renda dos que vivem no campo. Sabe-se que a renda das famílias de áreas urbanas é mais elevada que a de áreas rurais. Dessa forma, o indicador de renda per capita local superestima a renda familiar das famílias que vivem no campo. Como resultado, as políticas públicas podem não trazer os resultados esperados quando o objetivo é reduzir a pobreza do trabalhador rural, como parece ser o objetivo estratégico do MAPA para o próximo mandato da presidente Dilma. O presente estudo procura apontar um caminho para preencher essa lacuna e oferece um indicador de renda per capita rural, em especial para as famílias das classes D e E. A amostra inicial está baseada em áreas rurais de dois municípios do estado do Pará, Salvaterra e Bragança. São famílias que aferem rendimentos de três fontes diferentes, quais sejam, a agricultura (além do comércio e da prestação de serviços), o extrativismo (folhas, frutos e sementes) e os programas de transferência de renda do governo federal mencionados. Complementar aos programas de transferência de renda do governo federal estão as ações de empresas e ONGs que oferecem uma oportunidade de geração de renda às famílias através da coleta de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNMs). Para melhor dimensionar os esforços governamentais, o impacto das ações e programas de ONGs e empresas através dos PFNMs para mudar a realidade das famílias no campo, o presente estudo desenvolveu uma nova ferramenta: o indicador de Renda Per Capita Rural (ou simplesmente, IRPC-Rural). A criação de um indicador mais preciso vai ao encontro das necessidades de garantir maior adequação e aderência às estratégias públicas de desenvolvimento rural conforme a discussão desenvolvida por Thompson e Scoones (2009). A ‘segmentação’ de um indicador já consolidado, no caso, o indicador de renda per capita, oferece uma possibilidade de melhor contextualização de ações tomadas em um nível macro para o nível local, inclusive iluminando ganhos sinérgicos com a iniciativa privada e do terceiro setor. Ademais, pode-se mensurar a efetividade da política pública, se os instrumentos de ‘comando e controle’ trazem os benefícios esperados. No caso específico da Amazônia (local onde concentra-se a parte empírica do presente estudo), acredita-se que a preservação da biodiversidade está fortemente atrelada ao incremento potencial de renda em comunidades agroextrativistas desenvolvedoras de atividades econômicas ambientalmente responsáveis (WELLS, 1992; BENCHIMOL, 1992; NAUGHTON-TREVES; HOLLAND; BRANDON, 2005; STARITZ, GEREFFI & CATTANEO, 2011; HUMPHREY & SCHMITZ, 2000; 2002). Tal questão remete à antiga discussão sobre a queda de renda no meio rural, cujos efeitos são a expulsão do trabalhador do campo, o consequente inchamento urbano com todos os problemas sociais já conhecidos, além do avanço de sistemas de produção de larga escala como são os casos da pecuária e agricultura de monocultura, muitas vezes de forte impacto ambiental (WORLD BANK, 2000; FITTER; KAPLINSKY & MORRIS, 2000; 2001; KAPLINSKY, 2004; 2005; 2010; SAES, 2008). 359 1. Metodologia e Procedimentos da Pesquisa O novo indicador de Renda Per Capita Rural (IRPC-Rural) foi calculado da seguinte forma: foram aplicados questionários abertos semiestruturados em 84 famílias (Salvaterra) e 106 (Bragança). Outros dois municípios também tiveram a aplicação de questionários com o mesmo procedimento metodológico e terão os indicadores desenvolvidos e comparados na próxima versão do presente estudo. São eles Breves (PA) e Palmeira do Piauí (PI). Um perfil detalhado da composição de renda de cada família foi registrado considerando fontes formais e informais de receita. Somadas todas as fontes de renda divide-se o total pelo número de familiares domiciliados naquela habitação rural. Não foram feitas perguntas acerca de atividades ilícitas geradoras de renda como o tráfico de drogas e a prostituição. Os dados quantitativos foram anualizados dado que a geração de renda pela agricultura e extrativismo obedece a ciclos sazonais, assim como o seguro da pesca é transferido em um período específico do ano (Defeso, que marca o período reservado à reprodução das espécies). Adicionalmente, informações qualitativas completam a análise em profundidade a que se propõe o presente estudo e corroboram para as conclusões apresentadas sobre a necessidade de indicadores mais precisos para a orientação e a mensuração de estratégias públicas e privadas voltadas ao desenvolvimento rural. O cálculo amostral para a definição do número mínimo de entrevistados, assim como a seleção de famílias para o cálculo do IRPC Rural (30 de renda mais alta e 30 de renda mais baixa) contemplam as exigências metodológicas para a acuidade da análise. 2. O Desenvolvimento Rural na Prática: O IDH-M dos Municípios Em 2012, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD Brasil, O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA e a Fundação João Pinheiro adaptaram a metodologia do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH global para calcular o IDH Municipal - IDH-M dos 5.565 municípios brasileiros a partir de dados do Censo Demográfico de 2010, de 2000 e 1991. O IDH-M brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global – expectativa de vida, longevidade, educação e renda, mas vai além e procura adequar a metodologia proposta pelas Nações Unidas ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais existentes. Assim, o IDH-M – incluindo seus três componentes, IDH-M Longevidade, IDH-M Educação e IDH-M Renda – conta um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões do desenvolvimento humano durante duas décadas da história brasileira (entre 1991 e 2010). A criação do IDH partiu de um esforço do PNUD de buscar medir o desenvolvimento a partir das capacidades e liberdades humanas, e separá-lo dos indicadores de riqueza (PIB e PIB per capita). O IDH permite compreender com maior clareza a diferença entre as fontes de renda, escolaridade e a expectativa de vida, ele resulta da média geométrica da multiplicação dos três indicadores – renda, escolaridade, e longevidade. A partir dos três indicadores, é possível caracterizar municípios muito ricos, mas com baixos índices de bem estar e, o contrário, aqueles cuja população é considerada pobre (ou remediada), mas que goza de boa qualidade de vida. Para traçar o perfil dos municípios do Pará existem duas características importantes. A primeira é a de que a grande maioria dos municípios do Estado teve um baixo crescimento 360 de renda entre 1991 e 2010. Os que fugiram à regra são aqueles que receberam investimentos em grandes projetos e/ou que possuíam um porte de médio para grande, o que significa que já dispunham de economia local relativamente diversificada. A renda cresce menos ainda naqueles municípios de menor porte, localizados em áreas remotas. A segunda diz respeito ao impressionante crescimento dos índices de escolaridade, principalmente a partir de 2000, com o impacto dos programas de bem estar social (Bolsa Família). No entanto, como o indicador de escolaridade partiu de níveis muito baixos, mesmo com as elevadas taxas de crescimento da última década, eles permanecem abaixo do indicador de renda per capita. O resultado final na composição do IDH-M é o de que o indicador de escolaridade reduz o IDH-M total da grande maioria de cidades do Pará. Optouse por adicionar outros municípios paraenses para que se possa comparar os indicadores. No caso do IDH-M de renda (per capita), apenas três municípios apresentam um IDH-M de renda superior a 0,700, considerado alto. São eles Belém (0,751), Parauapebas (0,701) e Novo Progresso (0,709) e apenas os dois primeiros possuem um IDH-M total acima de 0,700, Belém (0,746), e Parauapebas (0,715), além de Ananindeua (0,718) (tabela 1). Tabela 1: IDH – Municipal – Perfil De Renda Per Capita dos Municípios 0,800 – 1 (Muito alto) ----0,700 – 0,799 (Alto) Belém, Parauapebas e 3 Novo Progresso (PA) Castanhal, Marabá e 38 0,600 – 0,699 (Médio) Santarém (PA) Salvaterra, Bragança e 91 0,500 – 0,599 (Baixo) Breves (PA) e Palmeira do Piauí (PI) Afuá e Cachoeira do Piriá 11 0 – 0,499 (Muito baixo) (os dois mais pobres em renda per capita no Pará) Fonte: Atlas Brasil e elaboração dos autores, www.atlasbrasil.com.br. Há dois perfis nos municípios paraenses. Aqueles que sediam um grande projeto (infraestrutura, mineração, etc.) como Altamira, estão no entorno da capital (Barcarena, Abaetetuba), especializaram-se em uma atividade (Salinópolis com o turismo) ou ao contrário, são cidades de médio porte que diversificaram suas atividades (Castanhal, Marabá, Santarém). São também cidades em que os níveis de escolaridade são mais elevados e não puxam para baixo a média final, todos apresentam IDH-M total acima de 0,600. São 24 municípios com esse perfil. Contudo, há outros 14 municípios com renda per capita considerada média (acima de 0,600), mas com escolaridade mais baixa, o que faz com que o IDH-M final fique entre 0,500 e 0,599, considerado baixo na tabela 2. Tabela 2 – Perfil de Municípios – Renda Per Capita Municípios Renda per Capita Escolaridade 0,500 - 0,599 14 (PA) 0,500 < 0,599 0,400 < 0,500 Salvaterra, Bragança e + 40 IDH-M (R) Baixo Baixo 361 (PA) 0,300 < 0,400 Baixo Breves + 23 (PA) < 0,300 Baixo Jacareacanga, Portel, Anajás e Chaves + 7 (PA) 0,400 < 0,500 Baixo Palmeira do Piauí (PI) Fonte: Atlas Brasil e elaboração dos autores, www.atlasbrasil.com.br. Mais de 2/3 dos municípios apresentam indicadores de renda per capita considerados baixos (entre 0,500 e 0,599) ou muito baixos (entre 0 e 0,499). São 102 municípios com esses dois perfis de um total de 143 municípios no Pará. Em comum a eles está a combinação de um lento crescimento de renda de 1991 a 2010, e uma elevação vertiginosa da escolaridade, principalmente entre 2000 e 2010. Nesse grupo, há quatro perfis diferentes. Em primeiro lugar, aqueles municípios de baixa renda, com baixa escolaridade, com os dois indicadores próximos, entre 0,500 e 0,599. Em segundo lugar, estão aqueles municípios de baixa renda com escolaridade muito baixa, ou seja, em que pese o crescimento vertiginoso de matrículas de crianças na escola, eles permanecem muito baixos em 2010 (entre 0,400 e 0,499). Salvaterra, Bragança, Breves e Palmeira do Piauí estão nesse grupo. Há ainda um terceiro grupo de municípios de renda baixa e com escolaridade ainda mais baixa (entre 0,300 e 0,399), onde se encontra Breves, e aqueles com escolaridade baixíssima (abaixo de 0,300). Nesse último grupo estão Anajás, Portel, Jacareacanga e Chaves, esse último com o indicador de escolaridade mais baixo do Pará (0,234). Os municípios em tela encontram-se em um ambiente de poucas oportunidades de trabalho. Como níveis de escolaridade tão baixos, esses municípios não conseguem romper o ciclo de pobreza se não houver incentivos que criam oportunidades de geração de renda para as famílias e uma externalidade positiva para que as crianças permaneçam na escola. Especificamente no caso de Salvaterra e Bragança, os respectivos IDH-Ms encontram-se abaixo do IDH do próprio Estado do Pará que passou, em 20 anos, de um IDH baixo para médio (0,646 em 2010). Nesse período, apesar do IDH subir em termos absolutos, os outros Estados da federação subiram proporcionalmente mais, o que coloca o Estado do Pará em 24° lugar do Brasil. Os dois municípios apresentam uma trajetória semelhante, passando de um IDH – M baixo para médio em vinte anos, diferentemente de Breves e Palmeira do Piauí que permanecem com um IDH – M baixo, conforme tabela 3. Tabela 3: Evolução Do IDH-M IDH-M Bragança (PA) Salvaterra (PA) Breves (PA) 0,325 0,391 0,284 1991 0,458 0,478 0,372 2000 0,600 0,608 0,503 2010 Fonte: AtlasBrasil e elaboração dos autores, www.atlasbrasil.com.br. Palmeira do Piauí (PI) 0,279 0,428 0,557 362 Eli da Veiga (2005) (Tabela 4) sugere a constituição de quatro grupos de municípios para mostrar os problemas que envolvem a criação do indicador de desenvolvimento humano. A renda per capita não é o melhor indicador para evidenciar a riqueza porque ele não aponta o alcance de sua distribuição. A renda per capita pode ser elevada e estar concentrada, o que deveria reduzir o indicador de desenvolvimento humano. Como não existe esse indicador para renda, o efeito concentração de renda precisa ser captado pelos indicadores de escolaridade e expectativa de vida. Por esse motivo, há municípios com renda per capita elevada e baixa escolaridade e longevidade, o que os coloca na categoria de ‘atrasados’. Da mesma forma, há municípios ‘saudáveis’ com renda per capita baixa. Tabela 4 – Perfil de Municípios Municípios com alto Apresentam bom desempenho nos três indicadores com desenvolvimento a média > 0,700 – 0,799 (alto); ou 0,800 – 1,000 (muito humano alto) Apresentam renda acima de 0,700 (alto ou muito alto) mas Municípios ricos mas com indicadores de escolaridade e longevidade médios ou atrasados baixos < 0,600 – 0,699 (médio); ou 0,500 – 0,599 (baixo) Apresentam bons indicadores de escolaridade e expectativa Municípios saudáveis de vida (acima de 0,700) mas têm renda média ou baixa mas de renda (<0,699) média/baixa Apresentam médio/baixo desempenho nos três indicadores Municípios com < 0,600 baixo/médio desenvolvimento humano Fonte: Eli da Veiga (2005). Salvaterra, Bragança, Breves e Palmeira do Piauí não se encaixam em nenhuma das categorias. Apresentam baixa renda e escolaridade e possuem alta expectativa de vida. Como qualificar municípios com baixa escolaridade e renda e como alta expectativa de vida? Qual a relação entre renda e escolaridade, no caso de municípios amazônicos do Pará? No caso da escolaridade, são municípios com alto percentual de população vivendo em áreas rurais, onde os serviços de educação não chegam às famílias. São famílias que vivem da agricultura (e criação de animais), do extrativismo, e dos programas sociais, onde os incentivos para o trabalho precoce são elevados, o que dificulta a adesão dos jovens ao estudo regular. A escassez de oportunidades de trabalho acaba trazendo a criança e o adolescente a contribuir com as necessidades de obtenção de renda pela família. Tabela 5 - Comparativo de Indicadores IDH-M IDH 1991 2000 BRAGANÇA 0,463 0,522 Renda per capita 0,569 0,662 Longevidade 0,130 0,278 Escolaridade SALVATERRA 0,515 0,514 Renda per capita 0,677 0,745 Longevidade 2010 0,589 0,755 0,486 0,580 0,793 363 0,286 0,488 BREVES 0,467 0,491 0,524 Renda per capita 0,623 0,706 0,778 Longevidade 0,079 0,148 0,312 Escolaridade PALMEIRA DO PIAUÍ 0,352 0,485 0,570 Renda per capita 0,605 0,648 0,704 Longevidade 0,102 0,250 0,431 Escolaridade Fonte: Atlas Brasil e elaboração dos autores, www.atlasbrasil.com.br. Escolaridade 0,171 Para corrigir esses problemas na análise de dados, deve-se refletir acerca da criação de um índice de Renda Per Capita Rural (IRPC Rural) cuja contribuição é a de proporcionar uma melhor dimensão da situação das famílias no campo e, ao mesmo tempo, apontar as externalidade ambientais nos municípios em tela. O indicador proposto possui grande potencial porque busca aproximar mais os dados de análise do perfil das quatro localidades, uma vez que, apesar de consagrados, os indicadores tradicionais (IDH-M) agrupam a população urbana e a rural. O foco deste trabalho é na dimensão renda destes indicadores. 3. O Índice de Renda Per Capita Rural (IRPC Rural) O perfil de renda apresentado pelo IRPC Rural proposto a seguir realça a diferença entre as famílias de áreas rurais e urbanas dos municípios em tela. Entendemos que o IRPC Rural é muito mais preciso que o IDH-M ao simular o conjunto de atividades geradoras de renda local. Ao mesmo tempo, traz orientações a respeito de como melhor dimensionar e ajustar as políticas públicas (Bolsa Família, Seguro Defeso, Bolsa Verde, Aposentadoria Rural). As populações que vivem na zona rural possuem menos oportunidades de trabalho quando comparadas com a população urbana. Os índices de escolaridade são mais baixos do que as pessoas situadas no núcleo urbano. Entre a escolaridade e a renda no campo há um círculo viciado onde a baixa escolaridade limita as oportunidades de desempenhar atividades mais bem remuneradas, como observado nas entrevistas. Ao mesmo tempo, a renda mais baixa no campo exerce forte pressão para que os familiares abandonem os estudos e comecem a desempenhar atividades remuneradas, mesmo que de baixos rendimentos. Romper essa correlação entre renda e escolaridade depende de incentivos tanto públicos quanto privados, de mercado. Comparando-se os municípios de Salvaterra e Bragança chega-se, em primeiro lugar, a um indicador chocante: há grande desigualdade de renda entre as famílias que vivem no campo, e é muito maior do que se imaginava. As mais ricas aferem mais de 100% da renda das mais pobres, uma diferenças impressionante se considerarmos que os domicílios são próximos e fazem parte da mesma comunidade rural, ou seja, todos têm, teoricamente, oportunidades similares. Em segundo lugar, percebe-se que a renda familiar obtida com os programas de transferência de renda é quase a mesma, ou seja, é grande e impactante a penetração dos programas. Ao mesmo tempo, indica também que novos incrementos de renda por parte das famílias não virá mais dos programas sociais porque eles cumpriram o seu papel. O aumento de renda virá de políticas públicas de mais longo prazo (aumento do acesso e qualidade do ensino médio e fundamental) ou dos incentivos de mercado. 364 Tabela 6 - Médias Salvaterra (PA) Pesca R$ 30 famílias com renda mais 1.773,33 alta R$ 30 famílias com renda mais 1.043,33 baixa Fonte: elaboração dos autores. Bolsa Família R$ 1.644,40 R$ 1.897,60 RPC Rural R$ 4.310,66 R$ 2.006,56 Renda Total R$ 18.494,50 R$ 6.848,83 Figura 1: Salvaterra (PA) R$ 20,000.00 R$ 18,000.00 R$ 16,000.00 R$ 14,000.00 R$ 12,000.00 R$ 10,000.00 R$ 8,000.00 R$ 6,000.00 R$ 4,000.00 R$ 2,000.00 R$ - 30 famílias com renda mais alta 30 famílias com renda mais baixa Pesca Bolsa Família RPC Rural Renda Total Fonte: elaboração dos autores. No caso das externalidades ambientais produzidas pela renda para Salvaterra, percebe-se que tanto as famílias mais ricas quanto as mais pobres dependem da pesca para sobreviver. Em termos absolutos as famílias mais ricas retiram mais pescado. No entanto, em termos relativos, as famílias mais pobres dependem mais do pescado para compor a renda. O pescado representa 9,5% da renda das famílias mais ricas, e 15,2% da renda das famílias mais pobres. Isso significa que se aumentarem as oportunidades de outras fontes de renda para as famílias, o alívio sobre o uso do recurso natural virá mais rápido das famílias mais pobres. No entanto, não conhecemos o limite de extração de pescado. Se existisse um, poderíamos classificar as famílias que consomem o pescado de forma sustentável, e aquelas que extraem do oceano mais do que o limite para garantir a reprodução das espécies de peixe. Em Bragança, continua chocante a diferença de renda entre as famílias. As famílias dependem brutalmente da produção de farinha de mandioca para a composição da renda total por domicílio. Contudo, são as mais pobres que dependem mais da agricultura para a produção de farinha (36,4% contra apenas 9,6% das famílias mais ricas) na composição da renda total. A produção de farinha é incentivada, principalmente junto às famílias mais pobres, por outra política pública, o PRONAF (Programa Nacional Para a Agricultura Familiar). Sabe-se que a agricultura de subsistência na Amazônia brasileira é um forte 365 indutor de desmatamento ou de ocupação de áreas degradadas, utilizadas pelo Incra para a promoção da reforma agrária. Tabela 7 - Médias Bragança (PA) Farinha R$ 2.738,00 R$ 30 famílias com renda mais 3.323,60 baixa Fonte: elaboração dos autores. 30 famílias com renda mais alta Bolsa Família R$ 863,07 R$ 2.073,53 RPC Rural R$ 9.293,12 R$ 1.464,85 Renda Total R$ 28.261,27 R$ 9.125,80 Figura 2 – Bragança (PA) R$ 30,000.00 R$ 25,000.00 R$ 20,000.00 R$ 15,000.00 30 famílias com renda mais alta R$ 10,000.00 30 famílias com renda mais baixa R$ 5,000.00 R$ - Farinha Bolsa Família RPC Rural Renda Total Fonte: elaboração dos autores. Bragança do Pará é o quarto maior produtor de farinha do Brasil, o produto tem alta liquidez no mercado local, é ‘quase moeda’ tal o volume comercializado e os mecanismos de escoamento da produção – fácil acesso, características de um mercado spot (à vista). As três políticas públicas (PRONAF, Bolsa Família e Reforma Agrária) juntas produzem, de fato, um extraordinário incremento de renda. Contudo, a externalidade ambiental negativa, ou seja, a expansão da agricultura sobre a floresta, pode ir contra os esforços de redução do desmatamento. Várias famílias entrevistadas afirmavam receber o Bolsa Verde, ou seja, tinham que aderir às regras para evitar o fogo sobre o roçado e assim diminuir as chances de incêndio, além da proibição do desmatamento. No caso do fogo, o programa é bem sucedido. Nas entrevistas, a grande maioria das famílias relatou que não coloca mais fogo no roçado para o plantio. No entanto, no caso do desmatamento, as famílias são incentivadas a aumentar a área de plantio, o que acaba acontecendo sobre as áreas de floresta secundária, e degradadas. A diferença da média do IRPC Rural das famílias com renda mais elevada e com renda mais baixa é grande e está relacionada às diferenças em termos de oportunidades de trabalho 366 remunerado. As famílias com renda mais baixa exercem um número menor de atividades, sendo que grande parte da renda é composta pela produção de farinha e pelo Bolsa Família, contra um número maior de atividades geradoras de renda realizadas pelas famílias com renda mais elevada. Tais evidências corroboram a ideia de que a diversificação das atividades geradoras de renda e de subsistência representa uma alternativa para aumentar a resilência junto a produção rural de pequena escala como observado por Barrett, Reardon e Webb (2001), Ellis (2000) e Reardon (org.) (2008). Além dos ganhos sociais e ambientais decorrentes da fixação do pequeno produtor no campo, a diversificação das atividades pode contribuir com externalidades ambientais positivas, como a integração de culturas agroextrativistas e agroflorestais, e viabilizando atividades de forte impacto preservacionista (extração de oleaginosas, por exemplo) uma vez que essas atividades isoladamente não garantes a manutenção da renda, mas combinadas apresentem ganhos sinérgicos junto às políticas públicas. Considerações Finais Ao contrário do senso comum (e também por falta de indicadores confiáveis), há uma enorme desigualdade de renda familiar na população rural não levada em consideração na implementação das políticas públicas, especificamente no caso dos programas de transferência de renda. Isso é ainda mais chocante quando se considera que essas famílias vivem em comunidades locais rurais próximas dos núcleos urbanos. Como já foi apontado, os indicadores de renda per capita tradicionais não conseguem apreender essas disparidades de renda entre as famílias que vivem no campo. Acreditamos que o indicador de renda per capita rural (IRPC Rural) é um caminho importante para preencher essa lacuna na medida em que ele for disseminado em um número maior de localidades nas regiões mais pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil. A comparação entre apenas dois municípios já foi suficiente para perceber as contradições no que diz respeito às políticas públicas. No caso de Salvaterra, incentivos públicos e de mercado poderiam aliviar o uso do recurso natural ‘pescado’ na região que já vem tendo uma diminuição significativa nos estoques pesqueiros. Já no caso de Bragança, os incentivos para a elevação de renda, positivos do ponto de vista da sustentabilidade social, podem trazer prejuízos para o meio ambiente, com a ocupação de áreas de floresta pelo cultivo da farinha. Acreditamos que as políticas públicas podem ser mais efetivas se existirem indicadores locais mais precisos como o IRPC Rural proposto por esse trabalho. Ademais, entendemos que o aumento das oportunidades de renda para as famílias, seja pelo aumento da escolaridade (longo prazo), seja pelo aumento dos incentivos de mercado (curto prazo) constituem-se no verdadeiro caminho para alinhar a sustentabilidade social e a ambiental através de sinergias entre as políticas públicas e os incentivos de mercado. Referências Bibliográficas BARRETT, C. B., REARDON, T., & WEBB, P. (2001). Nonfarm Income Diversification and Household Livelihood Strategies in Rural Africa: concepts, dynamics, and policy implications. Food Policy, 26(4), 315331. 367 BRASIL, P. N. U. D. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2014. DA VEIGA, José Eli. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Editora Garamond, 2005. ELLIS, F. (2000). 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Competitive Commercial Agriculture in Africa (CCAA), Brazil Case Study: draft terms of Reference. 2000. 368 UNA APROXIMACIÓN INTERDISCIPLINARIA AL ESTUDIO DE FLORACIONES DE ALGAS NOCIVAS (FAN) EN LAGOS URBANOS EN CHILE Oscar Parra (1), Carolina Baeza (1), Viviana Almanza (1), Roberto Urrutia (1,4), Ricardo Figueroa (1,4)), Ximena Fernández (2), Paula de Orúe (2), Patricia González (1), Johanna Beltrán (1), José Becerra (3), Fabiola Lara (1), Lorena Castillo (1) y Noemí Muñoz (1). (1) Centro de Ciencias Ambientales, EULA-Chile, (2) Facultad de Medicina, (3) Facultad de Ciencias Naturales y Oceanográficas, (4) Centro de Recursos Hídricos para la Agricultura y la Minería, Universidad de Concepción [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumen Las cianotoxinas producidas por floraciones algales nocivas (FAN), de algas verde azules (Cyanophyceae) o Cianobacterias, presentes en cuerpos acuáticos urbanos o peri-urbanos, constituyen un alto riesgo para la población, que usan estos ecosistemas como aguas recreacionales o de consumo en condiciones de emergencia. Estas cianotoxinas se clasifican como hepatotóxicas, neurotóxicas y dermatotóxicas, con antecedentes a nivel mundial de enfermedades y muertes de personas. Actualmente, se ha reportado un incremento de las FAN debido al aumento de la eutrofización y al cambio climático. En Chile se han detectado cianobacterias capaces de producir toxinas en varias regiones del país, sin embargo, no existe información desde las autoridades hacia la comunidad o desde los servicios públicos con responsabilidades en el control y protección de la salud de la población, como tampoco se dispone de reglamentación al respecto. Se plantea que no es posible estudiar la ocurrencia y efectos de los FAN sólo desde la perspectiva limnológica, sino se aborde desde la multi- e interdisciplina para enfrentar los desafíos que demanda esta problemática ambiental compleja. El carácter interdisciplinario de esta investigación enfrentada desde la ingeniería sanitaria, química, ecotoxicología, salud pública y educación ambiental, permitió establecer las condiciones ambientales que gatillan estas floraciones, su comportamiento, evaluar el riesgo de sus toxinas sobre la salud de los habitantes del Gran Concepción, generar material educativo y por último, formular una propuesta de norma que permita enfrentar esta problemática ambiental. Palabras claves: Interdisciplina, Cianobacterias, Cyanophyceae, algas verdes azules, cianotoxinas, lagunas urbanas, medidas de mitigación y adaptación, normativas ambientales. Abstract Cyanotoxins produced by harmful algal blooms (HABs), blue-green algae (Cyanophyceae) or cyanobacteria, occurring in urban or peri-urban water bodies constitute a high risk to inhabitants that use these ecosystems as recreational waters or as a source for drinking water. These cyanotoxins have been classified as hepatotoxic, neurotoxic and dermatoxic. There are 369 international precedents of public illness and deaths due to cyanotoxins. Currently, an increase of HABs has been reported related to an increased in eutrophication and climate change. In Chile, cyanobacteria that can produce toxins have been detected in various regions of the country. However, in Chile there is no information to the community from the public authorities and services responsible for controlling and protecting health, safety, and welfare of persons, as neither has a regulation in this regard. In this sense, it is argued that it is not possible to study the occurrence and effects of HABs only from the limnological perspective, but should be approached by a multi- and interdisciplinary view to address the challenges of this complex environmental problem. Therefore, was necessary to associate researchers comprising an interdisciplinary group considering the nature of this research involving the following areas: sanitary engineering, chemistry, ecotoxicology, public health and environmental education. This approach allowed this study to establish the environmental conditions that trigger these blooms, behavior, assess their toxins risk on the inhabitant’s health of “Gran Concepción”, produce educational materials and conclude with the formulation of a proposed guideline or standard to allow national address of this environmental problem. Keywords: Interdisciplinarity, Cyanobacteria, Cyanophyceae, blue green algae, cyanotoxins, urban lakes, mitigation and adaptation, environmental regulations. Introducción Gran parte de los problemas ambientales que implican deterioro de la calidad de vida y riesgos para la salud de la población, deben abordarse desde una perspectiva multi- e interdisciplinaria, debido a que las acciones humanas sobre los ambientes naturales y construidos adquieren una dimensión diversa y compleja que requiere la conformación de equipos de trabajos de diversas disciplinas y la interacción con instituciones públicas (con competencias ambientales y de salud pública) y privadas que poseen competencias en los ámbitos de interés. La interdisciplina o la interdisciplinaridad se definen como la interacción entre dos o más disciplinas, la cual puede ir desde la comunicación y la confrontación de ideas hasta la integración mutua en la organización de los conceptos, metodologías, procedimientos, la epistemología, la terminología, los datos y la organización de la investigación y la educación en un amplio rango de temáticas. Un grupo de investigación interdisciplinario está formado por personas capacitadas en diferentes áreas del conocimiento o disciplinas con conceptos, métodos, datos y términos, organizados en un esfuerzo común y con la intercomunicación sostenida en el tiempo entre los participantes de las diferentes disciplinas. La interdisciplina es un gran reto para la investigación mundial actual y busca responder, con mayor diversidad y riqueza de enfoques, que desde uno monodisciplinar a problemas complejos de la sociedad como por ejemplo la pobreza, la salud, el medioambiente, entre otros. El reto no solo se asocia a la naturaleza compleja de los problemas que se buscan solucionar, sino también porque los investigadores involucrados deben analizar de forma dialógica, entendiendo los aportes de cada disciplina, desarrollando un lenguaje académico transversal, compartiendo metodologías de investigación común y comprometiéndose a hacer 370 públicos, de forma conjunta, los resultados de sus investigaciones (Broido, 1977; Gusdorf 1977; Klein, 1990). Un problema global, complejo y actual es la falta de agua, siendo uno de los principales gatillantes del incremento progresivo de la eutrofización (incremento de la concentración de nutrientes, principalmente fósforo y nitrógeno en sistemas acuáticos), la cual desencadena cambios importantes en las redes tróficas y una disminución de la biodiversidad acuática (Giannuzzi, 2011), además de cambios en la composición taxonómica y abundancia del fitoplancton, aumentando la frecuencia y densidad de las floraciones (Parra et al., 1986). Cuando estas floraciones se desarrollan en cuerpos de agua destinados a diversos usos humanos (servicios ecosistémicos), como fuente de agua potable, recreación, pesca deportiva, entre otros, ocasionan importantes perjuicios desde el punto de vista sanitario, económico, ambiental y estético. Por otro lado, diversos estudios señalan que el cambio climático agravará más esta situación, al alterar los patrones de precipitación, afectando los caudales de ríos e incrementando la temperatura y periodos de sequía (Hudnell & Dortch, 2008; Unesco, 2009). Específicamente, las microalgas pertenecientes a la clase Cyanophyceae, algas verde-azules, o Cianobacterias, son conocidas por su potencial producción y liberación de compuestos tóxicos de diversa naturaleza química que reciben el nombre general de cianotoxinas, las cuales son sintetizadas como metabolitos secundarios y sus efectos varían según la especie dominante de la floración, su nivel de toxicidad, el tipo de toxina y las características del organismo afectado. Las cianotoxinas son relativamente estables y resistentes a la hidrólisis y oxidación por lo que pueden perdurar por largos períodos en el cuerpo de agua (Paerl, 1996). Las FAN implican un alto riesgo para los seres humanos por contacto o por consumo de agua, a consecuencia de exposiciones agudas o crónicas a estos ambientes con presencia de estas toxinas (Fig. 1). Los mecanismos de toxicidad de las cianotoxinas varían desde efectos hepatotóxicos, neurotóxicos, dermatotóxicos, promoción de tumores, hasta la inhibición general de la síntesis proteica, muerte por fallo hepático (Unesco, 2009; Giannuzzi et al., 2009) y trastornos respiratorios y digestivos en personas sensibles (Echeñique et al., 2006). Otros impactos incluyen la pérdida de los espacios de recreación, de recursos pesqueros (alimenticios o recreativos) e incrementos en los costos de tratamiento del agua destinada al consumo humano. Probablemente muchos casos de enfermedades causadas por las cianotoxinas no fueron bien documentadas, ya que los pacientes y/o los médicos no asocian los síntomas con estos microorganismos y sustancias. Los primeros registros de alteraciones gastrointestinales resultantes del contacto de la población datan de 1931, con el reporte de gran cantidad de casos de gastroenteritis en varias ciudades a orillas del río Ohio en los EEUU, en donde se había producido un intenso florecimiento de cianobacterias en uno de los afluentes del río (Giannuzzi et al., 2009). En Sudamérica se produjo un caso severo de gastrointeritis en Brasil en el año 1988, luego de la instalación de la represa de Itaparica, donde fueron informados cerca de 2.000 afectados en un período de 42 días, 88 de los cuales resultaron fatales siendo los afectados principalmente niños. Las evidencias se relacionaron este problema sanitario con un florecimiento de cianobacterias de los géneros Dolichospermum y Microcystis. Otros ejemplos de malestares gastrointestinales relacionados con la presencia de FAN de diversos géneros de cianobacterias han sido descritos en Estados Unidos, Europa y Australia. La intoxicación humana más grave reportada por agua contaminada con toxinas de los géneros Microcystis se presentó en 1996 en la ciudad de 371 Caruaru, Brasil, en 130 pacientes renales crónicos sometidos a tratamiento de diálisis y la posterior muerte de 70 de ellos (UNESCO, 2009; Azevedo et al., 1994). En Chile, hasta el presente, no se han generado reportes de intoxicación de seres humanos, sin embargo, se ha informado de la presencia de cianobacterias capaces de producir toxinas desde la II a la X región, incluyendo la Metropolitana, en cuerpos de agua utilizados para consumo humano y recreación (Campos et al., 1999, 2005, 2007; Delherbe et al., 2009; Parra et al., 1980; Parra & Dellarossa1987; Parra et al., 1986, Parra et al., 1989; Zuñiga & Carvajal, 1990), otros informes se concentran en la región del Biobío (Tabla 1), como una floración tóxica de Microcystis aeruginosa que generó la muerte de cientos de peces durante el año 1985 en la laguna Redonda (Parra et al., 1986; Parra &Dellarossa, 1987). Nimptsch (2012) ha citado la presencia de cianotoxinas en algunos lagos Nord-Patagónicos en la zona Valdiviana. Por otro lado, durante los últimos tres años, se ha evidenciado la formación de diferentes floraciones de M. aeruginosa en las lagunas de Lo Galindo, Tres Pascualas y Grande de San Pedro, algunas de ellas de naturaleza tóxica (Almanza et al., 2013). Más del 80% del agua potable en la región del Biobío (en términos de población total atendida) proviene de fuentes de agua superficiales y en general, los cuerpos de agua dulce se utilizan extensamente para una variedad de actividades recreativas, por lo que estas floraciones de algas verde azules podrían tener importantes impactos en la salud, y a nivel económico y social.La toxicidad de estas FAN y el posible riesgo que estas podrían causar a la población de las ciudades de Concepción y San Pedro de la Paz, cobra especial relevancia al considerar que la población está en contacto directo con estos cuerpos de agua al estar inmersos en la ciudad y hacen uso de los mismos para recreación, navegación, esparcimiento y/o para fuente de agua potable en condiciones de desabastecimiento del recurso, situación ocurrida en el periodo de emergencia surgido después del terremoto del 27 de Febrero del 2010(Andrés et al., 2012). El objetivo general del proyecto de investigación “ Identificación, monitoreo y evaluación del riesgo de la población del gran Concepción ante la presencia de cianobacterias y cianotoxinas”, fue evaluar el riesgo de la presencia de floraciones de Cyanophyceae o Cianobacterias y sus cianotoxinas en cuerpos de agua utilizados por los habitantes del “Gran Concepción”, mediante un enfoque interdisciplinario, desarrollado a través de los siguientes objetivos específicos: (1) Identificar floraciones algales nocivas de Cyanophyceae (cianobacterias) en los lagos urbanos del Gran Concepción, las toxinas presentes y su concentración, estableciendo un protocolo de monitoreo (ej. analíticos y de muestreo), (2) Evaluar los niveles de riesgo de la población potencialmente expuesta de acuerdo a su perfil sociodemográfico y las principales rutas de exposición, (3) Determinar los efectos de las cianotoxinas sobre diferentes organismos, principalmente sobre los que son utilizados para elaborar normas de calidad de agua, (4) Realizar una propuesta de educación sanitarioambiental para la población y las instituciones responsables, que permita tener una población informada sobre acciones de prevención y control del fenómeno y,(5) Proponer una norma de calidad ambiental para permitir la prevención y manejo de las FAN. 372 Figura 1. Floración de Microcystisaeruginosa en la laguna Lo Galindo de Concepción. 373 Tabla 1. Presencia de floraciones algales de Cyanophyceae o Cianobacterias en lagos y lagunas de Chile. Laguna Lo Méndez Redonda Lo Galindo Lo Méndez Grande de San Pedro Laguna Aculeo Lago Rocuant Region Biobío Biobío Biobío Biobío Biobío Metropolitana Biobío Año 1976 1985 1985 1985 1985 1998 1995-1996 Cianotoxinas No determinado No determinado No determinado No determinado No determinado Microcistina-RR Microcistina-RR, LR. Microcistina-RR, FR, LR, YR. Sin Información No determinado No determinado Microcistina-RR Concentración Sin información Sin información Sin información Sin información Sin información Sin información Sin información Microcistinas totales 13 µg/g Sin Información Sin información Sin información Sin información Tres Pascualas Biobío 1998 Microcystis sp. Lago Peñuelas Laguna Aculeo Laguna Posada Lago Peñuelas Valparaíso Metropolitana Biobío Valparaíso 1990 2005 2005 2005 Microcystis sp. Microcystis sp. Microcystis sp. Microcystis sp. y Dolichospermum sp. Lago Peñuelas Valparaíso 2005-2006 Microcystis sp. y Oscillatoria Microcistina-RR, LA Sin información Embalse Los Aromos Valparaíso 2005-2006 Microcystis sp. Microcistina-LR, RR, YR, Sin información Nodularina Tranque Recreo Valparaíso 2005-2006 Oscillatoria, Dolichospermum sp. Microcistina-LA Sin información Lago Rapel Lago Villarica Lago Caburga Lago Calafquen Lago Ranco Lago Panguipulli Lago Puyehue O'Higgins Araucania Araucania Araucania Los Rios Los Rios Los Rios Microcistina-LR, RR, YR Microcistina-LR Microcistina-LR Microcistina-LR Microcistina-LR Microcistina-LR Microcistina-LR Sin información 3,5 µg/L 0,1 µg/L 0,1 µg/L 0,1 µg/L 0,3 µg/L 0,6 µg/L 2010 2012 2012 2012 2012 2012 2012 Género/Especie Aphanizomenon flosaquae Microcystis aeruginosa Microcystis aeruginosa Microcystis aeruginosa Microcystis aeruginosa, M. wesenbergii Microcystis sp. Microcystis sp. Microcystis sp. Dolichospermumsp. Sin informacion Sin informacion Sin informacion Sin informacion Sin informacion Metodo de determinación Sin información Ensayos con raton Sin información Sin información Sin información Sin información Sin información Espectofotometríua de masas (MALDI-TOF-MS) Sin Información Sin información Sin información Sin información Espectofotometríua de masas (MALDI-TOF Espectofotometríua de masas (MALDI-TOF Espectofotometríua de masas (MALDI-TOF Genetica-fragmentos de gen ELISA ELISA ELISA ELISA ELISA ELISA Usos del lago Recreación Recreación Recreación Recreación Recreación Recreación Sin información Referencia Parra et al. (1980) Parra et al. (1985), Parra & Dellarossa (1987) Parra &Dellarossa (1987) Parra &Dellarossa (1987) Parra (1989) Peñaloza et al. (1990) Campos et al. (1999) Recreación Neumann et al. (2000) Potable, recreación Sin información Sin información Potable, recreación Zuñiga& Carvajal (1990) Campos et al. (2005) Campos et al. (2005) Vera (2005) Potable, recreación Campos et al. (2007) Potable, recreación Campos et al. (2007) Potable, recreación Campos et al. (2007) Recreación Recreación Recreación Recreación Recreación Recreación Recreación Delherbe et al. (2010) Nimptsch et al. (2012) Nimptsch et al. (2012) Nimptsch et al. (2012) Nimptsch et al. (2012) Nimptsch et al. (2012) Nimptsch et al. (2012) 374 Metodología Modelo conceptual de la investigación Las consecuencias ecológicas, económicas y sociales de las FAN en las comunas de Concepción y San Pedro de la Paz fue el tema central de la investigación, las cuales tienen un patrimonio lacustre único en Chile en cantidad y magnitud de estos cuerpos acuáticos, siendo la mayoría de ellos prestadores de diversos servicios ecosistémicos de gran relevancia ambiental, social y económica. Desgraciadamente la mayoría de estos cuerpos lacustres han incrementado su nivel trófico, siendo la mayoría de ellos eutróficos y otros hipereutróficos, por lo tanto, con condiciones ecológicas aptas para el desarrollo de FAN. Se constituyeron subgrupos de investigación con objetivos específicos, pero con la visión de compartir y transferir información entre los grupos que permitiera un análisis integrado. La figura 2, ilustra la concepción interdisciplinaria de la investigación efectuada. La investigación se estructuró considerando las siguientes etapas: (1) Análisis de la información disponible en el país y en el extranjero, (2) Identificación y monitoreo de FAN en las lagunas urbanas de Concepción a través de inspecciones visuales periódicas, obtención y análisis de muestras en terreno, (3) Caracterización del riesgo en la salud de la población asociado a las FAN, lo cual comprendió identificar la población potencialmente afectada, las principales rutas de exposición y la vulnerabilidad de la población, determinación del tipo de vinculación de actividades antrópicas de la laguna a través de una metodología mixta cualitativa y cuantitativa, así también se trabajó en determinar los efectos tóxicos de las cianotoxinas sobre organismos acuáticos e, (4) Identificación de estrategias de control y prevención de las cianobacterias sobre la salud humana, para lo cual se estableció un protocolo de monitoreo en las lagunas y sistema de alerta a la población (árboles de decisión), elaboración de una propuesta de educación sanitario-ambiental (charlas, talleres seminarios y material educativo) y propuesta de norma de calidad de agua para microcistinas. Figura 2. Esquema conceptual de la investigación multi- e interdisciplinaria. 375 Conformación del equipo de investigación: multi- e interdisciplinario e intersectorial La formulación y ejecución del presente proyecto fue de carácter multi-e interdisciplinario e incluyó profesionales de la ficología, limnología, químicos, ingenieros (sanitario y químicos con experiencia en salud) y especialistas en Educación Ambiental, del Centro de Ciencias Ambientales y de la Facultad de Ciencias Naturales y Oceanográficas y, profesionales de la salud (psicólogo, matrona) del Departamento de Salud Pública de la Facultad de Medicina. Lo anterior facilitó el trabajo y la discusión interdisciplinaria del problema investigado, como en el análisis e interpretación de los datos, resultados y la formulación de las conclusiones finales del proyecto. Paralelamente se posibilitó la formación y entrenamiento de recursos humanos, a nivel de las carreras de pregrado (ingenieros ambientales, sociólogos y estadísticos) y postgrados (Doctorado en Ciencias Ambientales), ya sea como participantes en los cursos, seminarios y talleres dictados o como tesistas. Asimismo, el Centro EULA-Chile cuenta con el laboratorio de fitoplancton y fitobentos dotado de equipos e instrumental necesarios, así como una biblioteca especializada. Igualmente dispone de un laboratorio de química del agua, equipamiento de terreno completo y un laboratorio especializado en bioensayos. El Laboratorio de Química de Productos Naturales de la Facultad de Ciencias Naturales y Oceanográficas, cuenta con los equipos e instrumental necesarios para la detección y caracterización química de las cianotoxinas. La participación intersectorial correspondió a las Municipalidades de Concepción y de San Pedro de la Paz y a una empresa privada del sector sanitario, ESSBIO S.A. Los aportes de estas instituciones se destinaron prevalentemente a la elaboración del Programa de Educación Sanitario-Ambiental, que estuvo orientada a la transferencia del conocimiento generado por el proyecto hacia las autoridades de salud, educación y medio ambiente competentes, como hacia la comunidad en general. Además existió un aporte del Centro de Ciencias Ambientales EULA-Chile que cuenta con instalaciones, contactos institucionales y personales que facilitaron el desarrollo de la transferencia del conocimiento generado por el proyecto, así como de la Facultad de Química de la Universidad de Concepción. Actividades de transferencia de conocimiento, actividades de educación ambiental y difusión A lo largo del proyecto se realizó una intensa interacción con los respectivos departamentos de Medio Ambiente de las Municipalidades de Concepción y San Pedro de la Paz y también con los responsables de las áreas de Educación y Salud Pública. En el hecho, los profesionales municipales del área ambiental y de la Empresa sanitaria participaron en los monitoreos de las FAN en las lagunas localizadas en sus territorios, para lo cual se formuló un protocolo y se entrenó al personal designado para su aplicación. La difusión del proyecto se inició mediante la elaboración de página web (www.eula.cl/fonis), a través de la cual se ha informado de todas las actividades y resultados obtenidos. Además se realizó en conjunto con autoridades regionales, municipales y de salud pública, un curso de FAN de agua dulce, dirigido a profesionales del sector salud, ambiente y educación. Al curso fueron invitados investigadores de alto prestigio internacional de Brasil y Uruguay, quienes relataron sus experiencias en el tema. 376 RESULTADOS Se ha actualizado la condición ecológica y el nivel de eutrofización en que se encuentran los sistemas lacustres de ambas comunas al año 2014. En la tabla 2 se hace una síntesis de las condiciones limnológicas actuales de las 9 lagunas estudiadas. Los resultados obtenidos hasta el momento (Tabla 3) muestran la presencia de algas verdeazules formadoras de FAN en todas las lagunas urbanas, con siete eventos en los lagos de Lo Méndez, Lo Galindo, Tres Pascualas y Grande de San Pedro, las que se forman principalmente en verano cuando la temperatura del agua asciende sobre 200C. En Lo Galindo han sido observadas consecutivamente durante los últimos tres años siendo principalmente Microcystis el género responsable. Asimismo, a partir del año 2013 se comenzó a realizar la detección de microcistina mediante el kit comercial ELISA, empleando la muestra directamente y constatando los resultados por HPLC. Evaluación de efectos sobre los organismos que habitan los cuerpos de aguas Los resultados de bioensayos de toxicidad aguda y crónica realizados con aguas provenientes del lago Lo Galindo durante un periodo de floración, con dos especies de organismos bioindicadores, muestran que para Daphnia magna no existe efecto agudo ni crónico de las cianotoxinas, mientras que para D. obtusa solo se observaron efectos crónicos en la reproducción del organismo, expresado en el tiempo de la primera puesta y el número de camadas. Evaluación del riesgo para la salud La evaluación de riesgo - entendido riesgo como “Probabilidad de consecuencias perjudiciales o pérdidas esperadas (muertes, lesiones, propiedad, medios de subsidencia, interrupción de actividad económica o deterioro ambiente) resultado de interacciones entre amenazas naturales o antropogénicas y condiciones de vulnerabilidad”- constó de dos elementos: caracterización de la amenaza y la vulnerabilidad de la población, entendida desde el punto de vista físico, social, económico y ambiental (EIRD, 2004). La probabilidad de ocurrencia e intensidad de las FAN se obtuvo a partir de la información entregada por los especialistas (limnólogos, ecotoxicólogos) y la vulnerabilidad mediante la caracterización de las poblaciones que habitan en el área de influencia de los lagos urbanos de las comunas de San Pedro de la Paz, cuyos usos son principalmente recreacionales y Concepción cuyos usos están asociados al entorno a las lagunas, sin contacto directo con el agua. Además, cómo elemento clave a considerar en la evaluación del riesgo, se consideró la percepción del riesgo de dicha población, la cual permite no sólo adecuar los programas enfocados a la educación ambiental, sino también a la generación de acciones de gestión y mitigación de los riesgos a la salud generados por la presencia de FAN (Slovic, 1980). 377 Tabla 2. Síntesis de las condiciones limnológicas de los sistemas lacustres (valores promedios 2011-2014). Laguna Chica de SP Grande de SP Posada Quiñenco Lo Galindo Lo Méndez Redonda Tres Pascualas Lo Custodio Temperatura (°C) 17.5 17.5 17.3 16.7 18.5 18.5 18.1 17.3 17.0 Sechi (m) 3.8 6.1 2.0 2.4 0.3 1.1 2.5 1.5 0.6 Conductividad (μS/cm) 87.5 92.7 53.7 47.0 276.2 269.6 258.0 316.0 166.3 pH 7.73 7.38 7.64 7.98 8.26 7.77 7.96 8.11 7.88 Oxígeno (mg/L) 8.6 8.3 6.5 7.0 7.7 8.1 6.8 7.9 6.6 Nitrógeno total (mg/L) 0.17 0.33 0.16 0.18 1.90 1.40 0.71 1.89 1.40 Nitratos (mg/L) Sin dato 0.16 Sin dato Sin dato 1.12 0.73 0.19 1.60 0.04 Nitritos (mg/L) 0.02 0.02 0.02 0.02 0.07 0.02 0.03 0.03 0.02 Amonio (mg/L) Sin dato 0.10 Sin dato Sin dato 0.10 0.21 0.21 0.35 0.40 Fósforo total (mg/L) 0.02 0.05 0.25 0.04 0.23 0.08 0.03 0.14 0.11 Ortofosfato (mg/L) <0.04 <0.04 <0.04 <0.04 0.18 0.31 0.33 0.06 <0.04 Tabla 3. Presencia de FAN y cianotoxinas en los cuerpos lacustres (O: oligotrófico, m: Mesotrófico, E: Eutrófico, H: Hipereutrófico; MP: Número de muestras positivas para microcistinas, kit ELISA). Lago Redonda Lo Mendez Tres Pascualas Lo Custodio Lo Galindo Grande de San Pedro Chica de San Pedro La Posada Quiñenco Presencia de cianobacterias Chroococcus Merismopedia Microcystis Dolichospermum Aphanizomenon Nodularia Oscillatoria Pseudoanabaena Planktothrix Limnothrix X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Estado Total MP trófico Muestras M-E E-H E-H E-H E-H M-E M M-E M Total 18 18 18 18 18 18 18 4 3 133 4 8 7 9 15 8 3 2 1 57 378 La relevancia de incorporar aspectos culturales como creencias, tradiciones y capacidad de enfrentar las adversidades, aporta al equipo multi- e interdisciplinario una mirada amplia de la problemática y lineamientos para intervenir desde los propios territorios y los actores sociales parte de ellos. En éste sentido, la toxicología intuitiva, plantea que no siempre la percepción entre legos e inexpertos es coincidente, lo que para el caso de la mayoría de las lagunas en estudio, no fue confirmada, un ejemplo de ello, es el siguiente esquema (figura 3) trabajado participativamente con la comunidad de la laguna Lo Galindo, la cual presenta altas concentraciones de Microcystis. Este presenta “un mapa mental”, donde la parte superior expresa las causas de la contaminación de la laguna y en la parte inferior, los efectos de dicha contaminación, donde podemos observar que existe una clara percepción de riesgo para la salud, asociado también a riesgos de tipo social y ambiental. Figura 3.- Mapa mental causas y efectos del estado trófico de Lo Galindo. DISCUSION Y CONCLUSIONES Un enfoque multidisciplinario se basa en aportes paralelos de distintas disciplinas, sin que existan necesariamente instancias de consulta o integración entre ellos. El enfoque interdisciplinario, implica una interacción de diferentes disciplinas en relación con el problema que se investiga a través de todo el proceso y necesariamente, a partir de la definición del problema, en este caso, el riesgo a la salud de la población por la presencia de FAN en sistemas acuáticos lacustres localizados en los territorios urbanos de las Comunas de San Pedro de la Paz y Concepción, está última la capital de la región del Biobío. Según Van Dusseldorp (1992) los principales componentes y etapas de la investigación y el análisis interdisciplinario serían: (1) estudio del mismo objeto, (2) al mismo tiempo o contemporáneamente, (3) por investigadores de distintas disciplinas, (4) que trabajen en estrecha cooperación, (5) con un continuo intercambio de información, y (6) obteniendo un análisis integrado del objeto de estudio. A lo anterior se agrega que el hecho de traspasar las fronteras disciplinarias en las investigaciones en desarrollo, no implica perse la integración de las disciplinas en cuestión. El objetivo es aunar o integrar puntos de vistas e información provenientes de diferentes ámbitos disciplinarios, facilitando la cooperación entre individuos de campos diferentes sin 379 afectar el valor de sus aportes específicos. La pregunta entonces es ¿se ha cumplido en esta investigación con los criterios indicados? (1) Estudio del mismo objeto: todos los investigadores intentaron responder interrogantes asociadas a las FAN, ¿cómo se puede identificar las floraciones y las condiciones ambientales que permiten su desarrollo?, ¿cuándo las lagunas constituirían una amenaza y un riesgo a la población?, ¿de qué manera educar a la población e informar a las autoridades competentes y alertar a la población?; (2) al mismo tiempo: en el hecho todos los investigadores participantes lo hicieron desde el inicio hasta el final del proyecto; (3) por investigadores de distintas disciplinas: el estudio se realizó no solo a nivel de investigadores de distintas disciplinas, sino de facultades de la Universidad e instituciones públicas y privadas; (4) en estrecha cooperación: los investigadores fueron organizados en grupos para resolver temáticas específica del problema; el trabajo de integración se hizo en reuniones de trabajo coordinados por el investigador principal y/o el investigador alterno del proyecto FONIS; (5) con un continuo intercambio de información: el proyecto se planificó en etapas y en todas ellas se coordinaron reuniones de trabajo para el intercambio de la información generada, la que posteriormente se compartía en reuniones grupales a través de presentaciones formales, entrega de documentos y a través del sitio web del proyecto y (6) obteniendo un análisis integrado del objeto de estudio: desde el principio el grupo de investigación sabía que el reflejo del trabajo interdisciplinario debía manifestarse en los productos del proyecto, es decir, en las publicaciones científicas con participación del grupo y en actividades y publicaciones de transferencia hacia la comunidad. Además, se trabajó con las instituciones asociadas, utilizando el aporte logístico y realizando actividades de transferencia de conocimiento, a través de seminarios y talleres dirigidos a las autoridades, servicios públicos y a la comunidad en general. Al formular el proyecto de investigación se tuvo presente los nuevos escenarios que se proyectan por los efectos del cambio climático, de manera particular sobre los recursos hídricos, que en el caso chileno serán dramáticos, con una menor disponibilidad de agua por disminución de las precipitaciones y por ende, con efectos sobre la salud ecológica de estos sistemas (mayor eutrofización) e incremento de la temperatura, lo cual redundaría en un incremento de las FAN. Fue necesario para el grupo de investigación, entender si las FAN en las lagunas urbanas podrían constituir una amenaza y un riesgo para la salud humana, ya sea como recurso agua por su consumo ante una situación de emergencia o como ecosistema para recreación, evaluando la toxicidad de las mismas y las condiciones bajo las cuales se desarrollan. Lo anterior fue fundamental para identificar acciones que eviten o reduzcan los efectos de la contaminación y eutrofización de las lagunas con énfasis sobre la salud poblacional en el Gran Concepción. De esta forma, se contribuye al desarrollo de políticas públicas, tanto en el contexto preventivo como en la identificación y desarrollo de acciones que impidan el desarrollo de estas floraciones. Esto es relevante cuando en Chile no existen normas que controlen la presencia de toxinas o microorganismos que las generen. La OMS señala que cuando la abundancia de las cianobacterias alcanza a las 100.000 cél./ml, se debe iniciar un análisis de toxicidad y monitoreo del cuerpo de agua con mayor frecuencia para evitar afectaciones sanitarias de mayor riesgo y estableciendo como límite máximo de Microcistina-LR en el agua potable de 1 μg/L (Unesco, 2009). En Brasil, se ha desarrollado una de las normativas más completas para lagos y reservorios de agua 380 potable, con valores estándar para Microcistinas (1 μg/L), Saxitoxinas (3 μg/L) y Cylindrospermopsinas (15 μg/L) (Brasil 2004). En Canadá, el valor guía para la Microcistina-LR es de 1,5 μg/L. El Instituto Uruguayo de Normas Técnicas (UNIT) estableció el valor de 1 µg/L MC-LR en la norma de calidad de agua potable N° 833:2008 (Unesco 2009). En este contexto, los resultados del proyecto se enmarcaron dentro de los objetivos sanitarios establecidos por el Ministerio de Salud Chileno, para el periodo 2010-2020 referente a riesgos ambientales y enfocados a agua potable (prevención y control de las enfermedades transmitidas por el agua) y a aguas de recreación con contacto directo, así como, en los lineamientos generales de la convocatoria del Programa FONIS, es decir, proyectos que permitan sustentar con evidencia científica las intervenciones de promoción de la salud y de control de los factores de riesgo de la población en Chile, específicamente lo referido a evaluaciones de impacto de políticas públicas dirigidas al control de factores de riesgo para la salud. Agradecimienos: Se agradece el aporte financiero de los Proyectos VRID N° 212310062-10 y Proyecto FONIS/CONICYT SA 13I20, a las instituciones asociadas al Proyecto FONIS, la Ilustre Municipalidad de Concepción, la Ilustre Municipalidad de San Pedro de la Paz, la Empresa Sanitaria ESSBIO S.A. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Almanza, V., Parra, O., Beltán J., Becerra, J. &Urrutia,R.Ocurrencia y monitoreo de floraciones de algas verde azules (Cyanobacteria) en ecosistemas de aguas continentales de Chile. Reunión Latinoamericana sobre Algas Nocivas. Florianopolis, Brasil.23 pp, 2013. Andrés, E., Almanza, V., Baeza, C., Parra, O., Vidal, G., Urrutia, R., Caamaño, D. & Rossner, A. Lagunas urbanas en Concepción: ¿Una fuente de agua para enfrentar emergencias?. Revista AIDIS, Capítulo Chileno Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitaria y Ambiental. 42. 2012. Azevedo, S., Evans, W.R., Carmichael, W.W.&Namikoshi, M. 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TRILHAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: A SENSIBILIZAÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO DA ATENÇÃO Wachholz, Chalissa Beatriz; MUHLE, Rita Paradeda Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Brasil [email protected]; [email protected] Resumo De forma cada vez mais intensa as questões referentes ao meio ambiente vem sendo discutidas em diferentes esferas da sociedade contemporânea. Não alheias a isso algumas universidades estão se engajando na construção de campus mais sustentáveis. O presente artigo faz referência à trilhas realizadas no campus central da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e no Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza - Pró-Mata para identificação da percepção ambiental dos participantes. Baseado em duas dissertações de mestrado, o artigo apresenta o uso das trilhas relacionando com aspectos da educação ambiental e psicologia ambiental, enfocando a educação da atenção e o conceito de affordances. A percepção que o indivíduo tem do ambiente pode contribuir para compreensão dos problemas ambientais, influenciando no maior envolvimento e participação dos indivíduos ou grupos nas questões ambientas. O trabalho visa contribuir com estratégias que poderiam ser sugeridas para o fortalecimento das relações pessoa-ambiente nos espaços da universidade. Uma abordagem mais sensibilizante, como a prática das trilhas, mostrou ser uma ferramenta de forte alcance para estas questões. Palavras chave: Educação Ambiental, Percepção Ambiental, Trilhas. Trails of environmental education at university: awareness of starting education of attention Abstract Increasingly intense issues relating to the environment have been discussed in different spheres of contemporary society. Not alien to that some universities are engaging in building more sustainable campus. This article refers to the tracks performed on the central campus of Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul and Research Center and Nature Conservation Pró-Mata to identify the environmental perception of the participants. Based on two masters dissertations, the paper presents the use of trails linking with aspects of environmental education and environmental psychology, 383 focusing on the education of attention and the concept of affordances. The perception that the individual has the environment can contribute to understanding environmental problems, influencing the greater involvement and participation of individuals or groups in ambientas issues. The work aims to contribute to strategies that could be suggested to strengthen person-environment relationships in the spaces of the university. A more sensitizing approach, as the practice of trails, proved to be a powerful tool to reach these issues. KeyWords: Environmental Awareness, Environmental Education, Trails. Introdução O meio ambiente é hoje uma das maiores preocupações da população mundial, tanto pelas mudanças provocadas pela ação humana na natureza quanto pela resposta que ela dá a essas ações. E na medida em que o ambiente sofre intervenção para a satisfação das necessidades e anseios da humanidade, surgem os inúmeros conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos naturais disponíveis. Segundo Guimarães (1995), nas sociedades atuais o ser humano afasta-se da natureza. O individualismo, acrescido pela ganância, chegou ao extremo e o ser humano, totalmente desintegrado do todo, não se percebe mais como parte da natureza, agindo de forma totalmente desarmônica no ambiente e sendo protagonista em um cenário de grandes desequilíbrios ambientais. No âmbito científico, os pesquisadores, em suas diversas áreas de atuação, têm contribuído de várias maneiras na tentativa de estudar e mitigar as alterações ambientais que as atividades humanas causaram no mundo moderno e contemporâneo. A questão da interação entre o homem e ambiente se complexifica, portanto, consideravelmente, revelando uma visão que ultrapassa as fronteiras disciplinares e conceituais e desabrocha na consideração de que, para estudar essa interação homemambiente é fundamental que a percepção, que vem sempre acompanhada da atribuição de valores e tomada de posições, seja analisada tanto do ponto de vista cognitivo, como afetivo. Desta forma, os problemas humanos mais importantes emergem de fenômenos que não podem mais ser estudados apenas por uma abordagem científica objetivista, já que resultam de uma atividade perceptiva das pessoas em relação às condições ambientais criadas por e para elas. Nesse sentido, a distinta percepção e postura diante da problemática ambiental procede das diferentes maneiras de se compreender a questão ambiental. Raynaut (2004, apud Corona, 2006) afirma que é necessário reconhecer que o conceito “meio ambiente” refere-se, primeiramente, à relação homem e o meio físico, biótico e suas interações e, em segundo lugar, que é uma noção multicêntrica, pois ela se aplica aos diferentes olhares dos especialistas, com diferentes escalas de espaço e tempo, com vários níveis de organização, entre outros aspectos. Dessa forma, o conceito que as pessoas têm do ambiente constitui um dos aspectos mais importantes nas análises psicosociológicas e filosóficas dedicadas à questão ambiental, pois influenciam a forma como as pessoas percebem e agem no meio ambiente e podem explicar as atitudes e os comportamentos da complexa inter-relação humano - ambiente (Nosso Rio, Nossa Gente, 1998). Os conceitos, bem como a percepção que o indivíduo tem do ambiente 384 pode contribuir para compreensão dos problemas ambientais, influenciando no maior envolvimento e participação dos indivíduos ou grupos nas questões ambientas. Este artigo é um recorte dos resultados das pesquisas de mestrado das autoras, que trabalharam a temática de sustentabilidade na Universidade, realizando e acompanhando trilhas de educação e percepção ambiental no campus universitário e em uma área de conservação ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com o objetivo de identificar em que medida estas áreas são percebidas pelos seus usuários como paisagens que incluem elementos naturais e busca nortear-se pelos objetivos da sustentabilidade ambiental, bem como compreender, a partir das contribuições da educação ambiental, da psicologia ambiental e da estética, estratégias que poderiam ser sugeridas para o fortalecimento das relações pessoa-ambiente nos espaços da universidade. Paisagem Universitária: Fortalecendo laços entre pessoa-ambiente [...] As trilhas conectam a experiência de imersão no ambiente com as crenças e aspirações que as pessoas trazem para o ambiente. Um processo de aprendizagem que encontra no corpo e na paisagem circundante o seu solo privilegiado. [...] Elas são um recurso privilegiado, por meio do qual a atividade pedagógica dos educadores ambientais torna plausível o ideário ambiental de recuperação e preservação de espaços degradados pela ação inconsequente dos seres humanos. A imersão nessa paisagem propicia uma experiência sensorial com o lugar, estabelecendo uma comunhão [...] (Steil et al., 2010, p.56). A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, localizada na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul (RS), é uma das maiores e mais conceituadas instituições de ensino superior do Brasil. Possui mais de 50 anos e um complexo universitário com mais de 55 hectares, oferecendo uma série de conveniências à comunidade acadêmica e aos visitantes. A infraestrutura completa permite atender aos mais de 30 mil alunos, 1500 professores e 5 mil técnicos administrativos, incluindo o Hospital São Lucas. Sua área construída é ampla, superando 350 mil m², onde funcionam 22 faculdades, 10 institutos, 08 órgãos suplementares e uma biblioteca. São oferecidas 55 opções de cursos na graduação e, através de ações estratégicas de gestão, de diversas iniciativas nas suas unidades acadêmicas e na mudança na sua estrutura espacial, tem buscado afirmação na implantação de medidas de sustentabilidade. Possui um campus central que dispõe de ampla área verde, com agradáveis espaços para estudo, lazer e integração dos seus frequentadores. 385 Figuras 1 e 2: Campus central PUCRS Trilha de educação ambiental no campus Diante desta paisagem acadêmica, a elaboração de uma trilha de percepção ambiental pelo campus se deu a partir de três questões fundamentais: Como os usuários percebem o campus? Como eles se apropriam das ações sustentáveis que acontecem na Universidade? Como é o comportamento ambiental destes usuários no âmbito de sua formação? Foi na busca por estas respostas que surgiu a ideia de, junto com o levantamento de dados da Universidade, referente a ações ambientais em todos os eixos, elaborar uma trilha de educação e percepção ambiental pelo campus, abordando os aspectos de fauna e flora e os projetos ambientais realizados em cada unidade acadêmica da Universidade. A ideia desta trilha foi trabalhar o que Ingold (2010) chama de “educação da atenção”, onde “o movimento corporal do praticante é, ao mesmo tempo, um movimento de atenção, onde ele olha, sente e ouve, mesmo quando trabalha.” (Ingold, 2010, p.13). As disciplinas que foram disponibilizadas para esta intervenção eram da Faculdade de Educação, sendo uma de pós-graduação e outra de graduação. No entanto, sem ter sido feita escolha alguma, estas disciplinas eram eletivas e transversais, sendo as turmas compostas por alunos de diferentes cursos, implicando em diferentes olhares sob uma mesma abordagem, o que enriqueceu os resultados. A atividade foi realizada com 83 alunos e teve duração média de 40 minutos, percorrendo grande parte do campus central. Como a pesquisa envolveu um espaço que sofreu profundas transformações ao longo dos anos, a atividade partia de uma pequena fala de apresentação às turmas em sala de aula, antes da caminhada. Um momento importante de apropriação dos alunos com a pesquisa, onde foi apresentado algumas imagens que datavam de 1950 a 2012, mostrando como o campus desta universidade foi se constituindo e transformando-se. A trilha começava na entrada da Universidade, trazendo um pouco da transformação histórica daquela paisagem e percorria diferentes pontos do campus, com pausas no movimento para desfrute de alguns espaços, apropriação da paisagem e discussões relevantes sobre a arquitetura deste cenário, o crescimento dos estacionamentos, o 386 pequeno bicicletário e sobre as ações ambientais realizadas pela Universidade. Todas as trilhas foram realizadas no período da noite, devido à disponibilidade das turmas e muitas perguntas surgiram ao longo do percurso. A trilha no CPCN Pró-Mata O Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza - Pró-Mata (CPCN Pró-Mata), localizado no Município de São Francisco de Paula (RS), é uma área de conservação pertencente à PUCRS que possui mais de três mil hectares de grande beleza cênica. Inaugurado em 1996, possui sua maior parte composta por campos nativos preservados, florestas primárias e secundárias. Ele também abriga, pela ocorrência natural, espécies de flora e fauna que encontram-se atualmente ameaçadas de extinção, algumas inclusive de caráter endêmico. Como seu objetivo principal é a pesquisa e a conservação ambiental, recebe grupos de estudantes, professores, pesquisadores e visitantes credenciados que frequentam o local para aulas práticas, coleta de dados e amostras, pesquisas e também para conhecimento e contemplação. Nos últimos quatro anos o CPCN Pró-Mata tem aberto suas portas para projetos de educação ambiental, recebendo alunos da rede básica de ensino que fazem uma imersão de três dias no local. Figuras 3 e 4: CPCN Pró-Mata – PUCRS. As trilhas realizadas no CPCN Pró-Mata são as atividades mais procuradas e executadas, tanto para os alunos da educação básica e alunos universitários, quanto para pesquisadores e professores. Caminhando para uma otimização, o local já conta com algumas trilhas demarcadas que possuem diferentes intensidades de acesso e percurso, além de possuírem objetivos didáticos diferenciados. Durante a pesquisa de mestrado sobre a percepção ambiental dos frequentadores do PróMata, foram acompanhados nove grupos de significativa relevância para o local (alunos da rede básica de ensino, alunos de graduação e pós-graduação, visitantes, pesquisadores e funcionários), totalizando 200 pessoas. Cada grupo buscava o Pró-Mata com objetivos de atividades diferentes: aulas práticas de botânica, zoologia e ecologia para os estudantes de graduação, saídas de campo para 387 coletar dados para os pesquisadores, atividades práticas para quem participava do projeto de educação ambiental e até mesmo para quem ia ao local para conhecê-lo e contemplá-lo. Entretanto, a realização das trilhas, apesar das diferentes expectativas, foi um elemento em comum entre todos os grupos. As trilhas realizadas pelos alunos que iam participar do projeto de educação ambiental eram guiadas pelos biólogos responsáveis, que ao longo do percurso explicavam aspectos botânicos e ecológicos dos elementos que iam surgindo. Quando as trilhas eram realizadas pelos estudantes de graduação e pós-graduação, um professor também os acompanhava, ressaltando aspectos de interesse da disciplina em questão. O mesmo aconteceu com demais grupos, apesar dos objetivos das trilhas serem diferenciados, sempre havia um direcionamento, podendo ser para diferentes aprendizagens e vivências. Esta espécie de contrato estabelecido entre os grupos e as atividades que irão desempenhar e vivenciar no local pré condiciona o olhar dos integrantes para aquilo que se quer direcionar. Este acordo prévio direciona as expectativas e poderia ser considerado parte da educação da atenção (Ingold, 2010). Aqui o aprendizado humano não recairia sob uma simples transmissão de informações, mas uma espécie de redescoberta orientada. Para este autor, um indivíduo não aprende e apreende as coisas da vida simplesmente por questões da capacidade e competência, mas sim através de um processo complexo do indivíduo por inteiro em um ambiente e sua experiência nele. O conhecimento não é comunicado ou transferido, mas construído quando o indivíduo segue os caminhos direcionados pelos professores-predecessores. Este direcionamento pode ser tanto para questões científicas, como no caso dos alunos que foram realizar atividades práticas das disciplinas, quanto dos alunos que foram aprender como preservar o Planeta – depoimento coletado de inúmeros interlocutores sobre suas expectativas com a ida ao Pró-Mata. Quando o professor-mediador mostra ao aluno como se faz algo fazendo, este irá copiá-lo. Copiar no sentido que Ingold (2010, p. 21) desvela: [...] copiar não é fazer transcrição automática de conteúdo mental de uma cabeça para outra, mas é, em vez disso, uma questão de seguir o que as outras pessoas fazem. O iniciante olha, sente ou ouve os movimentos do especialista e procura, através de tentativas repetidas, igualar seus próprios movimentos corporais àqueles de sua atenção, a fim de alcançar o tipo de ajuste rítmico de percepção e ação que está na essência do desempenho fluente (Gatewood, 1985). [...] Este copiar, como já mostrei, é um processo não de transmissão de informação, mas de redescobrimento dirigido. Na educação da atenção o professor assume o compromisso de criar situações ao mostrar e instruir coisas ao aluno, onde o iniciante pode apreendê-las diretamente, seja olhando, ouvindo ou sentindo e desenvolver suas próprias habilidades incorporadas de percepção e ação (Ingold, 2010). Neste contexto, tanto o Pró-Mata, quanto o próprio campus central da PUCRS mostram-se como um locais ideais para questões de sensibilização ambiental instruídas por educadores/educadores ambientais. Os affordances da paisagem universitária: o efeito do comportamento humano sobre o ambiente natural e deste sobre o comportamento humano 388 A paisagem e sua ação sobre o horizonte perceptivo humano tem um papel de fundamental importância para que possamos compreender melhor as inter-relações entre humanos e ambiente não humano, bem como as expectativas, satisfações e insatisfações, críticas e condutas sociais. Buscando interpretar esta agência do ambiente, Yázigi (2001 apud Elali, 2009, p.9) afirma que cada lugar possui características peculiares, uma “personalidade própria” que se ancora no conjunto de suas especialidades, como sua história, seus mitos, sua arquitetura, seus componentes humanos e não humanos, sua forma linguística, além de seus fatores abióticos peculiares (clima, temperatura). E ainda os lugares com aspectos semelhantes, possuem um diferencial relacionado ao uso que a comunidade faz do conjunto, o que produz diferença e cria a identidade do lugar. E assim, as pessoas ou grupos associam sentidos culturais e afetivos ao ambiente, ficando ligadas a ele, tanto cultural, quanto emocionalmente. É a partir desse enlace com o ambiente, considerando a bagagem que ele carrega em seus limites, que o comportamento ambiental vai se configurando no indivíduo ou grupo estabelecido em determinado local. O campus universitário é um espaço plural de inter-relações entre os humanos que por ele transitam e os não humanos que deste espaço se ocupam. Possui seus próprios significados, sua história, suas características singulares, sua arquitetura e paisagismo e forma, nesta teia, sua própria identidade. No entanto, a relação que cada usuário possui com o campus é individual e depende de alguns fatores pré-estabelecidos. Tuan (1980) traz esta discussão a respeito da percepção do meio ambiente à luz da subjetividade e da experiência. Para ele, o foco de nossa atenção, aquilo que valorizamos ou admiramos “é um acidente do temperamento individual, do propósito e das forças culturais que atuam em determinada época”. (1980, p. 129). Contudo, para compreender melhor o efeito do comportamento humano sobre o ambiente natural, é importante analisar como fatores contextuais influenciam na promoção de comportamentos pró-ambientais (Corral-Verdugo, 2002), como por exemplo, alguns fatores ambientais físicos, como a escassez de recursos naturais, que fazem crescer a motivação para a conservação destes, afetando positivamente o status do ambiente. Em outras palavras, “ao se estudar o efeito do comportamento sobre o ambiente, é necessário estudar junto que tipo de influências ambientais promovem, de forma significativa, os comportamentos sustentáveis”. (Corral-Verdugo, 2005). Alguns exemplos revelam como os pesquisadores poderiam e deveriam unir aspectos da percepção ambiental e de influências contextuais com o efeito do comportamento humano sobre o ambiente. Um desses exemplos envolve a noção de affordance de Gibson (1977 apud Corral-Verdugo, 2005), que “descreve como propriedades estimuladoras do ambiente levam as pessoas a mostrar respostas efetivas”. Gibson (1986, apud Gonzales e Moroni, 2010, p.125) criou o termo affordance para designar a informação disponível no ambiente para a ação, e, a partir desse novo entendimento, a ideia de que podemos “perceber as coisas”, ou, mais do que isso, podemos “aprender a percebê-las”. Ele é uma propriedade relacional que emerge da relação dinâmica e mútua entre organismo e ambiente ecológico e indica a possibilidade de ação que o ambiente disponibiliza aos organismos, não dependendo das necessidades particulares dos indivíduos. “Os valores e significados são percebidos diretamente 389 através da informação, a qual, por sua vez, estimula as sensações e está presente no ambiente de luz”. (Gibson, 1986 apud Gonzales e Moroni, 2010, p.130). Superfícies possibilitam locomoção, fogo possibilita aquecimento, cadeiras possibilitam descanso e jardins expressam affordance na fruição de sentidos. De maneira geral, affordance expressa a possibilidade do meio ambiente estimular os organismos no processo de percepção, assim como a capacidade do agente em perceber o que está disponível a ele no ambiente. (Moraes, 2000 apud Gonzales e Moroni, 2010, p.123). De acordo com Gibson, algumas características dos estímulos ambientais promovem ações adaptativas ou soluções de problemas (Gibson, 1977 apud Corral-Verdugo, 2005, p.74). Autores como Steele (1980) e Corral-Verdugo (1994) sugerem que tal perspectiva é uma explicação possível de ações pró-ambientais, e atribuem a esses comportamentos de solução de problemas o termo “competências ambientais” (CorralVerdugo, 2005, p.75) e propõem que tais affordances podem ser consideradas como requisições pró- ambientais. Affordances ou requisições, assim como a escassez de recursos, são instigadores significativos de competência ambiental. (Corral-Verdugo, 2005, p.75). Para este autor, a competência ambiental é “auto-percebida”, gerando a "motivação da competência", um sentimento auto-recompensador que resulta de ser competente e que promove outros comportamentos de conservação (Corral-Verdugo, 2005, p.75). Há uma cadeia de efeitos mútuos entre ambiente e comportamento, onde a todo momento percebe-se que o ambiente afeta o modo como percebemos, sentimos e agimos aos fatores contextuais físicos e que as percepções, sentimentos e ações afetam os componentes sócio-físicos do ambiente. “Se a vida é um processo de conhecimento, os seres vivos constroem esse conhecimento, não a partir de uma atitude passiva e sim pela interação. Aprendem vivendo e vivem aprendendo”. (Maturana e Varela, 2005, p.12). Considerações finais A partir deste enfoque, a questão da interação entre o homem e ambiente se complexifica mostrando uma visão que vai além das fronteiras disciplinares e conceituais e revela que, para estudar essa interação Homem- ambiente é fundamental que a percepção, acompanhada da atribuição de valores e tomada de posições, seja analisada, essencialmente, sob os pontos de vista cognitivo e afetivo. Desta forma, os problemas humanos mais importantes emergem de fenômenos que não podem mais ser estudados apenas por uma abordagem científica objetivista, pois resultam de uma atividade perceptiva das pessoas em relação as condições ambientais criadas por e para elas. Portanto, o entendimento destas diferentes percepções sobre o ambiente tem um importante papel na compreensão de conflitos que envolvem o planejamento e a gestão ambiental, a utilização de recursos naturais e a educação ambiental para mudar o cenário atual. Isso faz com que a caracterização de concepções sobre o meio ambiente existente dentro de um mesmo modelo cultural ganhe importância na pesquisa, de forma a auxiliar na elaboração de propostas educativas e de políticas ambientais que auxiliem na construção de sociedades mais sustentáveis. (Hoeffel et al., 2008). 390 Referências CORRAL-VERDUGO, V. ¿Mapas cognoscitivos o competencias ambientales? [Cognitive maps or environmental competencies?]. Acta Comportamentalia, 2, 25-55, 1994. In: CORRAL-VERDUGO, V. Psicologia Ambiental: Objeto, “Realidades” Sócio-Físicas e Visões Culturais de Interações AmbienteComportamento. Psicologia USP, 2005, 71-87. _____________________. A structural model of pro-environmental competency. Environment & Behavior, 34, 531-549, 2002. _____________________. Psicologia Ambiental: Objeto, “Realidades” Sócio-Físicas e Visões Culturais de Interações Ambiente-Comportamento. Psicologia USP, 2005, 16(1/2), 71-87. GIBSON, J. J. (1977). The theory of affordances. In: CORRAL-VERDUGO, Victor. Psicologia Ambiental: objeto, "realidades" sócio-físicas e visões culturais de interações ambiente-comportamento. Psicol. USP vol.16 no.1-2 São Paulo, 2005. GIBSON, J. J. The Ecological Approach to visual perception. New Jersey: Lawrence Earlbaum Associates, Inc, 1986. In: MORONI, Juliana; GONZALEZ, Maria Eunice Quilici. 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M.; PASTORI, E. Educação Ambiental no Rincão Gaia: pelas trilhas da saúde e da religiosidade numa paisagem ecológica. Revista Educação. Porto Alegre: PUCRS, v.33, p. 54-64, 2010. ÉTICA DO FUTURO EM HANS JONAS: INDÍCIOS DA REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE 1 MUHLE, Rita Paradeda 1Programa de Pós-Graduação em Educação Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Email: [email protected] RESUMO As preocupações com as problemáticas ambientais estão cada vez mais sendo incorporadas nos pensamentos e nas ações da sociedade contemporânea. Uma postura passiva parece se mostrar não mais suficiente para atender aos desejos de um cidadão engajado ambientalmente. Quando sensibilizadas, algumas pessoas podem pasar a assumir comportamentos pró-ambientais, desfazendo-se de antigas posturas. Podemos perceber neste movimento um esgotamento do principio da reciprocidade homem/natureza. Alguns indícios apontando para um principio de responsabilidade, na perspectiva de Hans Jonas, que puderam ser identificados em depoimentos de interlocutores que demonstraram suas vontades de salvar e ajudar o Planeta. As contribuições de Hans Jonas podem ser de grande inspiração para se trabalhar com educação ambiental. Palavras chave: Educação Ambiental, Ética Ambiental, Princípio da Reciprocidade. ETHICS OF THE FUTURE IN HANS JONAS: EVIDENCE OF ACHIEVEMENT OF THE PRINCIPLE OF LIABILITY ABSTRACT Concerns about environmental issues are increasingly being incorporated in the thoughts and actions of contemporary society. A passive attitude seems to show no 392 longer sufficient to meet the desires of an engaged citizen environmentally. Once sensitized, some people may pasar to take pro-environmental behaviors, disposing of old attitudes. We can realize this movement a depletion of the principle of reciprocity man / nature. Some evidence pointing to a principle of responsibility, from the perspective of Hans Jonas, who could be identified in interviews with interlocutors who have demonstrated their will to save and help the planet. The contributions of Hans Jonas can be of great inspiration to work with environmental education. 1 KeyWords: Environmental Education, Environmental Ethics, Principle of Reciprocity. Introdução Uma ética que pense no futuro Ainda que ele atormente ano após ano a terra com o arado, ela é perene e incansável; ele pode e deve fiar-se na paciência perseverante da terra e deve ajustar-se ao seu ciclo. Igualmente perene é o mar. Nenhum saque das suas criaturas vivas pode esgotar-lhe a fertilidade, os navios que o cruzam não o danificam, e o lançamento de rejeitos não é capaz de contaminar suas profundezas. E, não importa para quantas doenças o homem ache cura, a mortalidade não se dobra à sua astúcia (JONAS, 2006, p. 32). Difícil ler as palavras supracitadas sem que seja despertado certo desconforto. Fora de um contexto, fica incoerente o entendimento da citação de Hans Jonas frente a uma sociedade que a duras penas está reconhecendo seus limites relacionados a essa natureza enquanto recurso ambiental. Reconhecemos que a terra arada para grandes monoculturas, tratada com fertilizantes artificiais, agrotóxicos e outros insumos agrícolas sintéticos, apesar de poderem proporcionar números grandiosos nas safras, já não é o caminho mais seguro para nossos alimentos. Essas grandes produções cansam e contaminam a terra, uma vez que o ser humano dificilmente consegue respeitar o seu ciclo. Não é a toa que os alimentos orgânicos – produzidos em escala muito menor, com adubos naturais e sem nenhum tipo de químicos – estão ganhando espaços em nossas refeições. Da mesma forma já sabemos que o comportamento megalomaníaco do homem, com suas intermináveis frotas para a pesca industrial, está pondo em risco a biodiversidade existente nos mares. Já presenciamos também eventos catastróficos de vazamentos de óleos e combustíveis de gigantescas embarcações, poluindo as águas e causando a morte de espécimens que ali residem. Nossos rejeitos não tratados estão sim, contaminando as profundezas de diversos cursos d`água (RELATÓRIO PLANETA VIVO, 2014). E é inegável a força da medicina em buscar curas para nossas enfermidades, mas da mesma forma, a sociedade em que vivemos está imersa em novas síndromes, crises de pânico, de estresse, de ansiedade e depressões. Ao escrever as palavras que iniciaram o texto, Hans Jonas fazia referência ao canto do coral da Antígona de Sófocles, que fazia alusão a construção de uma civilização 393 primórdia, inicial, onde o ser humano criara a cidade para sua existência. Ao justificar as expressões utilizadas, que hoje nos parecem insustentáveis, Jonas reforça que elas foram pensadas para um modelo de sociedade que pretendia retirar da natureza somente aquilo que era necessário para subsidiar suas conquistas. Assim se deu pelo menos no início. Entretanto, com o avanço das inteligências e inventabilidades, a técnica humana evoluiu de forma a permitir o que foi considerado o progresso. Restrito a sua cidade civilizada, o ser humano deteve sua responsabilidade somente ao que acontecia no seu interior, ou seja, nas interações intra-humanas. Assim afirma Jonas (2006, p. 33), A natureza não era objeto da responsabilidade humana – ela cuidava de si mesma e, com a persuasão e a insistência necessárias, também tomava conta do homem: diante dela eram úteis a inteligência e a inventividade, não a ética. Mas na “cidade”, ou seja, no artefato social onde homens lidam com homens, a inteligência deve casar-se com a moralidade, pois essa é a alma de sua existência. É nesse quadro intra-humano que habita toda ética tradicional, adaptada às dimensões do agir humano assim condicionado. Assim chegamos, de forma bastante direta e simplória, no cerne onde o artigo pretende se inserir: o esgotamento de uma ética tradicional para suprir as necessidades éticas e morais que vivenciamos agora e que necessitam prover também um futuro imprevisto (JONAS, 2006). As éticas ditas tradicionais contribuíram de forma incomensurável para afinar e refinar as relações entre os seres humanos. É inegável que sem as normativas criadas pelos preceitos de moral e ética ainda viveríamos em tempos de barbáries e irracionalidades – muitos poderão dizer que vivemos ainda em tempos assim, de fato isso não é por inteiro refutável, mas as noções de bem e de mal foram estabelecidas e se não são seguidas é por que o comportamento humano as ignora ou burla por um motivo ou outro. Valores do que era considerado o bem e o mal modificaram-se-se ao longo da história das civilizações e as éticas tradicionais foram criadas para mediar as relações humanas. Os imperativos de Kant levam em conta uma postura que deve ser assumida pelo indivíduo frente a outro humano. Quando Kant diz seu imperativo categórico: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 1999, p. 223), esta máxima refere-se a um dever humano a ser avaliado e pesado frente a um mundo exclusivamente humano. Em outra passagem presente na Crítica da Razão Pura, onde Kant defende o dever por um valor moral, é possível vermos o que parece retratar a postura desta ética tradicional com os elementos e seres extrahumanos (KANT, 1999, p. 229): Os seres cuja existência depende, não em verdade da nossa vontade, mas da natureza, têm contudo, se são seres irracionais, apenas um valor relativo como meios e por isso se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, porque a sua natureza os distingue já como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que não pode ser empregado como simples meio e que, por conseguinte, limita nessa medida todo o arbítrio (e é um objeto de respeito). A ética em Kant presume um valor em si mesmo dentro das humanidades, onde os imperativos não podem enquadrar o ser humano simplesmente como um meio utilizado 394 para um determinado fim. Esta preocupação moral de se utlizar o ser humano como meio para se atingir um fim individual ficava restrita a uma relação intra-humana. Da mesma forma isto não era pensado com os elementos extra-humanos que poderiam servir de meios para satisfazer as vontades e necessidades humanas. Para Jonas (2006), as éticas tradicionais são antropocêntricas, uma vez que, conforme pudemos perceber um exemplo nas palavras de Kant, para todas elas a significação ética faz respeito ao relacionamento exclusivo do homem com homem, inclusive do homem com ele próprio. Hans Jonas não vai se deter apenas no exemplo de Kant para fazer sua crítica à uma ética do presente. O autor vai chamar de Ética da consumação do mais além uma ética de caráter religioso, que muitos poderiam afirmar que pregaria uma preocupação com o futuro. O religioso teria uma vida de sacrifícios e abnegação visando uma qualificação aos olhas de Deus, uma espécie de preparação para uma vida que o esperaria após a morte. Contrariamente a isso, Jonas sustenta que ainda assim essa ética recairia na simultaneidade e imediaticidade de uma ética que ainda sim teria uma postura individual de benefício próprio. O despreendimento do ser humano durante sua vida visando um bom futuro ao lado de Deus nem seria de fato objetivo, pois é algo que nos fugiria a comprovação. O que Jonas busca é uma ética para um futuro real, antiutópica e não escatológica. A responsabilidade do estadista e do legislador com um futuro imanente é de fato verídica, mas desde que suas obras possam ser vislumbradas na atualidade. Por seu caráter político, o estadista irá criar projetos que favoreçam o presente, mas que também sejam capazes de perdurar no fututo, provando sua eficácia. Obras essas que são pensadas em um futuro como o qual conhecemos hoje, sem procurar prever mudanças. Segundo Jonas (2006, p. 54): A ação política possui um intervalo de tempo de ação e responsabilidade maior de que aquele de caráter da ação privada, mas, na concepção prémoderna, a sua ética não é nada mais do que uma ética do presente, embora aplicada a uma forma de vida de duração mais longa. Sem levar em conta os elementos extra-humanos e as relações que estão imbricadas dentro deste cósmos, estas éticas parecem apresentar-se hoje em dia de forma incompleta e insuficiente para lidarmos com problemas de responsabilidade que não eram pensados antes. Nosso imperativo deveria se estender em direção a um previsível futuro concreto, que constitui a dimensão inacabada de nossa responsabilidade (JONAS, 2006). A techne desenvolvida pelo ser humano permitiu a ele o uso e o domínio da natureza, a produção e o desenvolvimento de melhorias nas mais diversas esferas das sociedades e seus efeitos não foram previstos a longo prazo. Inclusive projetos utópicos, como prolongamento de vida e alterações genéticas, vislumbram um futuro muito próximo. Já enxergamos agora a possibilidade destes avanços prejudicarem a vida no Planeta. Na perspectiva de Jonas (2006, p. 39), “isso impõe à ética, pela enormidade de suas forças, uma nova dimensão, nunca antes sonhada, de responsabilidade”. Segundo Jonas (2006), os valores prescritos pela ética ao próximo – as prescrições da justiça, da misericórdia, da honradez, etc. – continuam válidos dentro da intimidade e imediaticidade das interações humanas, mas esta única esfera de interação torna-se 395 empobrecida pelo crescente domínio do fazer coletivo, no qual ator, ação e feito não são mais os mesmos da esfera próxima, uma vez que o ser humano passou a reconhecer que suas ações não possuiam apenas efeitos imediatos e calculados. Faz necessário reconhecer que os novos tipos e limites do agir humano necessitam de uma ética capaz de levar em conta a previsão destes atos e uma noção de responsabilidade para os delimitar. O sentimento de responsabilidade com o modo como usufruimos dos recursos providos pela natureza já está presente no conceito original de sustentabilidade, preocupado com um manejo que permita às gerações futuras o necessário para sua vida – não apenas sua sobrevivência. Jonas (2006, p. 63) vai dizer que nossa grandeza tecnológica também irá nos incumbir de uma responsabilidade, não levada em conta pela ética até então, para com um futuro não previsto: Quando, pois, a natureza nova do nosso agir exige uma nova ética de responsabilidade de longo alcance, proporcio