IDEOLOGIA e ALIENAÇÃO: introdução conceitual Claudia C. Fiorio Guilherme TRABALHO E ALIENAÇÃO Trabalho como PRÁXIS – ação humana que não dissocia teoria e prática. ETIMOLOGIA: trabalho- tripaliare= aparelho de tortura de três paus. Trabalho é condição de liberdade, desde que permita a humanização e que não seja explorado=> trabalho ALIENADO. ETIMOLOGIA- alienare: afastar, distanciar. SOCIEDADE INDUSTRIAL E ALIENAÇÃO O QUE PERMITE QUE A ALIENAÇÃO INFRILTRE NA CULTURA? IDEOLOGIA Conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. SENTIDO PEJORATIVO: discussão oca de idéias abstratas que não correspondem à realidade. IDEOLOGIA É UM CONJUNTO LÓGICO, SISTEMÁTICO E COERENTE DE REPRESENTAÇÕES (IDÉIAS E VALORES) E DE NORMAS OU REGRAS (DE CONDUTA) QUE INDICAM E PRESCREVEM AOS MEMBROS DA SOCIEDADE O QUE DEVEM OU NÃO PENSARA, VALORIZAR, SENTIR, FAZER... ESTUDO DA IDEOLOGIA A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma "teoria geral das idéias". Foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um livro junto com Friedrich Engels intitulado A ideologia alemã. Nessa obra, eles mostram como, em toda sociedade dividida em classes, aquela classe que domina as demais faz tudo para não perder essa condição. Uma forma de manterse no poder é usar a violência contra todos aqueles que forem contrários a ela. Mas a violência pode voltar-se também contra ela: a violência pode gerar a revolta do povo. É, então, muito mais fácil e mais eficiente dominar as pessoas pelo convencimento. NÃO É MENTIRA, MAS OCULTA A VERDADE! Universaliza as idéias e os valores, pois oculta a diversidade, as classes=> lacuna. A ideologia mostra a realidade invertida. O saber ideológico é o saber instituído, petrificado, esclerosado e morto! A ideologia penetra em setores insuspeitáveis: educação familiar e escolar, meios de comunicação de massa, indústrias, etc. FUNÇÃO DA IDEOLOGIA Assegurar uma determinada relação dos homens entre si e com suas condições de existência, adaptando os indivíduos às tarefas prefixadas pela sociedade => assegura a coesão... IDEOLOGIA NA ESCOLA Nos livros didáticos: Mãe (...) é acolhedora, tranqüila, presa firmemente ao solo. Mãe é repouso e sossego. Quando a gente está cansada, ou triste, ou desiludida, ou desanimada, ela nos reconforta. Lúcia trabalha comigo há vinte anos. Faz parte da família(...)Lúcia sabe que vovó Lica e Beto gostam dela. Por isso, Lúcia é uma preta feliz. Era uma vez um marceneiro que trabalhava desde manhã até à noite. Aplainava madeira e cantava. O camponês sempre espera, e a esperança é a melhor e mais verdadeira alegria humana. Na cozinha, a mulher do seu Messias estava fritando bolinhos para a gente comer com café. Outras mulheres já estavam depenando frangos e galinhas. A Lúcia ficou com a vovó e a Dona Elza para ajudar na cozinha. - - - - - - Eu, convidar você para fugir?! – o Lambari riu, apesar de sentir muitas dores na sua boquinha. – Nunca mais! Chega a lição que aprendemos. Se prestássemos atenção às aulas de Dona Piranha, saberíamos que nadar perto de cachoeira é perigoso, por causa da correnteza, das pedras... E saberíamos também – completou o peixinho- o que é anzol e não teríamos sido fisgados. Agora, vou para casa. Se você me prometer ser bom peixinho, continuarei sendo seu amigo. Do contrário, não. -Pode ficar descansado. Nunca mais serei arteiro. Agora, vou também pedir perdão aos meus pais e amanhã cedo, se você concordar, iremos falar com Dona Piranha, contando tudo que nos aconteceu. -Boa idéia- fez o Peixinho todo animado- Então, até amanhã na escola. - Até amanhã – disse o Lambari, nadando para sua casa. E o peixinho nunca mais foi arteiro. Ao contrário, passou a ouvir e a seguir os conselhos de seus pais e, juntamente com o Lambari, foi exemplar no colégio. (Oranice Franco) Era uma vez uma menino maluquinho/Ele tinha o olho maior do que a barriga/tinha vento nos pés/tinha fogo no rabo/umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo)/e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão)./Ele era um menino impossível!/Ele era muito sabido/ele sabia de tudo/a única coisa que ele não sabia/era como ficar quieto/ seu canto/seu riso/seu som/nunca estavam onde ele estava./se quebrava um vaso aqui/logo estava lá(...)E aí o tempo passou./E como todo mundo, / o menino maluquinho cresceuu./Cresceu/ e virou um cara legal!/Aliás,/virou o cara mais legal do mundo!/Mas um cara legal, mesmo!/ E foi aí que todo mundo descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho/ele tinha sido era um menino FELIZ! ( Ziraldo, O menino maluquinho) PROPAGANDA E IDEOLOGIA Juliana está indo de ônibus para o shopping. Como sempre, vai observando a paisagem pela janela, perdida em seus pensamentos. De repente, algo chama sua atenção: um outdoor novo e enorme, todo colorido... uma modelo alta, magra, loura, de olhos azuis posa com uma nova calça da grife "X". Juliana é morena, baixa e até um pouco gordinha, mas fica alucinada com a roupa mostrada no cartaz. Ela precisa comprar uma igual, nem que para isso tenha de fazer um crediário e comprometer seu salário por alguns meses. Já pensou o que suas amigas iriam pensar se a vissem dentro de uma calça como aquela, linda e deslumbrante como a modelo do outdoor? E os garotos, então? Você já parou para prestar um pouco de atenção nas propagandas que bombardeiam nossos olhos e ouvidos a todo momento? Já pensou sobre as mensagens que nos são transmitidas pelos meios de comunicação: TV, rádio, jornais e revistas, outdoors? Vamos ficar com apenas um exemplo por enquanto: a propaganda dos cigarros Free. O centro desses comerciais é a afirmação da individualidade e da liberdade: cada indivíduo é livre e deve afirmar-se por meio de sua criatividade, no entanto, sempre há algo em comum, que é preferência por aquela marca de cigarro. O mecanismo é o seguinte: se você fuma Free, você é um sujeito livre, criativo, autônomo; um dos comerciais mostra uma garota que se afirma livre e que não tentem tirar a liberdade dela, pois ela morde! "Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum", esse é o slogan. Consumir essa marca de cigarro é afirmar sua independência e singularidade.(Prof.Dr.Silvio Gallo ) Propagandas EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, permência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo dos outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente. Carlos Drummond de Andrade. Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Ah, eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Frequenta agora as festas do "Grand Monde" Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro Ideologia Cazuza Contra-ideologia Papel da Filosofia Crítica da Ideologia Nas lacunas é possível encontrar meios de transformar a realidade...