UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: CULTURA, EDUCAÇÃO E LINGUAGENS - PPGCEL ALANA DOS SANTOS SOUZA POR TRÁS DA VOZ: ANÁLISE SOBRE UM DISCURSO RADIOFÔNICO VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA 2013 ALANA DOS SANTOS SOUZA POR TRÁS DA VOZ: ANÁLISE SOBRE UM DISCURSO RADIOFÔNICO Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagens – PPGCEL, como requisito final e obrigatório para obtenção do título de Mestre em Letras: Cultura, Educação e Linguagens. Área de concentração: Estudos interdisciplinares sobre cultura, educação e linguagens. Orientador: Prof. Dr. Marcus Antônio Assis Lima VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA 2013 ALANA DOS SANTOS SOUZA POR TRÁS DA VOZ: ANÁLISE SOBRE UM DISCURSO RADIOFÔNICO Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagens – PPGCEL, como requisito final e obrigatório para obtenção do título de Mestre em Letras: Cultura, Educação e Linguagens. Área de concentração: Estudos interdisciplinares sobre cultura, educação e linguagens. Vitória da Conquista, Bahia ______/______/_______ ________________________________________________ Prof. Dr. Marcus Antônio Assis Lima - UESB ____________________________________________ Profa. Dra. Ida Lucia Machado – UFMG ____________________________________________ Profa. Dra. Ester Maria de Figueiredo Souza - UESB Para Érico Vieira (esposo) Deixa-me ficar. Permita-me continuar em teu colo e sentir esse calor, Que saindo da tua pele, penetra, apodera-se, esquenta o meu coração. Entenda ainda, e assim aceite, que meu choro não significa inabilidade tua, São lágrimas de uma vida sofrida, mas que considero deliciosa porque tenho você. Acredite, que aquela dor enorme, aquela agonia Se tornava frágil quando esbarrava em você. Você, que me encontrando no chão, me leva às nuvens E me devolve, redobrada, a força. Deixa-me ficar um pouco mais e para sempre ao teu lado. Embora quieta, por vezes muda, Mas... deixa-me ficar! Aqui no teu abraço de paz, com tudo que teu carinho alado me traz, Permita-me sentir o teu amor, Abraça-me! Com a tua proteção e em teu cuidado, Eu vou. Para você, meu filho, porque a grande alegria da minha vida é ser a mãe de Arthur. A ponte se ergue, ignorando a distância entre os pontos que ela une. Lembra uma reta, a despeito dos caminhos tortuosos, das pedras, da correnteza, das águas, que tornavam a travessia impossível. Mas porque está do outro lado, aquilo que é pretendido, Porque o que se quer tem em mim, a força da obstinação, Faz-se do improvável, possível, prático, E se constrói uma ponte. Faz-se do longínquo o próximo, Da ausência e saudade, o brilho nos olhos, O sorriso na face, o presente! E tenho que admitir que às vezes senti o vento frio, o pavor de tudo que a minha vontade deixou agora, Debaixo de nossos pés. Não ignoro o que foi, E a cada dia é necessário vencer nesta travessia. Mas hoje sei que as pedras não são patrimônio das impossibilidades. São feitos de material resistente também, A vontade, o sonho, o milagre. O que me faz encarar a travessia, O que torna possível esta ponte, Que saindo de mim se ergue através de tudo, Majestosa, incontestável, E te alcança, É o meu desejo de te abraçar, É a minha certeza de encontrá-lo, vindo em minha direção, Nesta travessia. Alana Souza AGRADECIMENTOS ... E não se sabe ao certo o motivo, mas de repente pensamos em alguém. E esse pensamento nos traz velhas imagens que revelam sentimentos contemporâneos. E assim, lembrar é, antes de tudo, presentificar, rever. Lembrar é dialogar com o que já não é, mas que se deseja que seja, para sempre. Lembrando, parecemos sorrir sozinhos, mas na verdade aquele riso espontâneo. Se sai de nossos lábios, ainda assim não é nosso, é do outro. O outro que, embora distante, não vai, não desaparece no caminho, não se apaga. É que este outro, já faz parte de nós, nos acompanha, embora, às vezes, nem saiba... E assim, lembrar é pretender ter poderes, é ir buscar... lembrar é um agradecimento silencioso e involuntário, que não apenas reconstrói momentos, mas os cria. Lembrar é também planejar, imaginar a vida futura – e o aplauso da nossa mente a quem apreciamos, é incluí-lo em nossos projetos. Lembrar é silenciar por fora e festejar por dentro, é uma viagem em que passado e futuro se abraçam, é o país das utopias, a pátria do sentimento, o lugar das grandes conquistas, o palco das impossíveis realizações. Lembrar é acender uma vela, iluminar um caminho, é a forma mais discreta de permanecer lado a lado. Lembrar é orar com a alma, voz, corpo, mente ajoelhados, submissos ao desejo do coração. Lembrar é querer bem. Dito isso, faço saber que lembro de: - Deus. Deus, eu já não sei se é lembrança, porque lembrança também sugere que haja, em algum momento, ainda que breve, um esquecimento... Deus... a certeza de que, do primeiro ao último dia, não teria possibilidade de êxito, sem Você. - Érico Vieira (esposo) e Arthur Vieira (filho), como imagem mais nítida em minha mente, saudade mais frequente, amor mais profundo... - Allan Salomão, li certa vez que amigo é alguém que nos leva a fazer tudo que somos capazes... Grande incentivador, sem você o mestrado seria ainda, um plano para o futuro. - Família Mendes (Geovan, Márcia e as meninas – Geovana e Kássia), como um lugar, para onde sempre era possível voltar e aplacar a solidão. Palavra de incentivo, partilha de experiências, sorrisos – alimento para a fé. - Alessandra, como uma irmã gêmea... Um achado. Um sorriso. Que pessoa acolhedora e linda! - Íris, como companhia, certezas e oportunidade de diálogo sobre as incertezas da vida. Um feliz encontro! - Fernanda, como o constante refletir de práticas, o partilhar de vivências e diferenças, ironias e amizade. - Angelita, como ícone de simplicidade e sorriso, além de acolhimento. - Minha família, pai, irmãs, sobrinhos, sogros, primos... Como suporte e abrigo. - Os amigos virtuais (principalmente Samuel e Lenita), como companhia “real” e possível em tempos de solidão. - Marcus, como um olhar confiável, uma indicação segura, na escolha do caminho. Aquele que de forma tão empolgante me apresentou Charaudeau, que eu acabei me apaixonando. - Ester, como símbolo de simplicidade e conhecimento. Acessível, gentil, sábia. - Ida, como um toque de sonho na dureza do processo. Tê-la em minha banca, é um grande privilégio! - FAPESB, por financiar esta pesquisa. Eu lembro de vocês com o coração transbordando de gratidão. …e caiu na armadilha das palavras que você mesmo disse, está prisioneiro do que falou. Provérbios 6:2 RESUMO O objetivo deste trabalho é tornar evidente que a voz radiofônica na notícia política ressalta a subjetividade do locutor, revelando as implicações políticas que norteiam a linha editorial da emissora. Para isso, foi aplicado o modelo de análise do discurso proposto por Patrick Charaudeau (a partir de 1983) em cinco gravações transcritas da apresentação de notícias do programa “Na boca do povo”, que vai ao ar na Rádio Difusora de Itabuna-Bahia, veiculadas nos meses de março e abril de 2012. Com o aporte da teoria Semiolinguística (CHARAUDEAU, 1996; 1999; 2001; 2005; 2006; 2010), procurou-se evidenciar a importância dos elementos da linguagem radiofônica para dar forma à apresentação da notícia e, as estratégias verbais utilizados pelo locutor para captar e fidelizar o público ouvinte. O estudo mostra a importância que o locutor adquire para os ouvintes, por ser uma fonte comprovável de informação e revela que, embutida na notícia, por meio de comentários, provocações e denúncias, por exemplo, estão a vinculação da imagem daquele que fala (Sujeito Enunciador - EUe) e a obtenção dos serviços que aquele que ouve necessita. PALAVRAS-CHAVE: Locução radiofônica; Rádio; Semiolinguística. ABSTRACT The objective of this search is to make clear that the radio voice in political news highlights the subjectivity of the speaker, revealing the political implications that guide the station's editorial line. For this, we applied the model of discourse analysis proposed by Patrick Charaudeau (from 1983) in five recordings transcribed presenting news program "Na boca do povo" which airs on Rádio Difusora of Itabuna-Bahia, aired in March and April 2012. With the contribution of theory Semiolinguistic (CHARAUDEAU, 1996; 1999; 2001; 2005; 2006; 2010), tried to highlight the importance of language elements to form radio news presentation and verbal strategies used by the speaker to capture and retain the listening public. The study shows the importance that the speaker gets to listeners, certified to be a source of information and reveals that embedded in the news, via comments, taunts and complaints, for example, is linking the image of the speaker (Subject Enunciator) and obtaining the services they need one who listens. KEY-WORDS: Radiophonic Speech; Radio; Semiolinguistic. LISTA DE ILUSTRAÇÃOES Quadro 1 – Situação de comunicação 41 Figura 1 – Situação de comunicação 47 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 13 1. 1.1 1.2 1.3 EM SINTONIA: DEFININDO MATERIAIS E MÉTODOS O corpus Método de coleta A transcrição 17 18 19 20 2. 2.1 2.2 2.3 2.4 RÁDIO: HISTÓRIA, SINGULARIDADES E DISCURSO Um olhar sobre a história do rádio Singularidades de um meio cego Linguagem radiofônica: os elementos de um “modo de dizer” O discurso radiofônico 24 24 28 29 32 3. O MODELO: BASES TEÓRICAS ANALÍTICO-DISCURSIVAS 34 3.1 3.2 3.3 3.3. O homem como um ser de discurso O ato de linguagem: usos e definições Os sujeitos da Linguagem Os Sujeitos: Destinatário (TUd), Interpretante (TUi), Enunciador (EUe) e Comunicante (EUc) O contrato de comunicação A encenação Modos de organização do discurso Modo de organização descritivo Modo de organização narrativo Estratégias complementares 34 36 39 ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO DO SUJEITO ENUNCIADOR O rádio e a informação O ambiente A instância de produção As estratégias 52 52 56 58 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS 75 REFERÊNCIAS 78 ANEXOS Transcrição – 06/03/2012 Transcrição – 12/04/2012 Transcrição – 11/04/2012 Transcrição – 09/04/2012 - A Transcrição – 09/04/2012 - B Programação da Rádio Difusora 81 81 84 88 90 92 93 1 3.4 3.5 3.6 3.6. 3.6. 1 3.7 2 4. 4.1 4.2 4.3 4.4 Ane xo 1 Ane xo Ane2 22 3 xo Ane xo 4 Ane xo 5 Ane xo 6 41 43 46 47 47 50 51 INTRODUÇÃO O curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagens - PPGCEL, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Campus Vitória da Conquista, foi aprovado pela Capes, em junho de 2009. O curso agrega pesquisadores do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – DELL, do Departamento de História – DH, e a participação de pesquisadores das áreas de Ciências Humanas e Sociais, com o objetivo de construir um espaço comum de atuação, que vise o fortalecimento da educação pública e possibilite a formação de pesquisadores, com foco na linguagem e na cultura – no aspecto social, estético, histórico, ético e linguístico. A produção de saberes do PPGCEL possui apenas uma área de concentração: Estudos Multidisciplinares sobre Cultura, Educação e Linguagens, mas ocorre em duas linhas de pesquisa: Linguagens e Educação e Linguagens e Práticas Sociais. Com uma abordagem multidisciplinar, os estudos da linha de pesquisa Linguagens e Práticas Sociais se debruçam sobre objetos e práticas culturais, valores e representações associados às múltiplas linguagens humanas. Nessa linha, está situada a pesquisa intitulada Por trás da voz: análise sobre um discurso radiofônico. É importante destacar, a priori, que, quando utilizamos o termo rádio nesta pesquisa, fazemo-lo de duas formas: para designar o dispositivo – o rádio – e para fazer referência ao veículo – a rádio. Nessas ocasiões, estamos nos referindo à estação de rádio, ao modelo hertziano ou ao formato tradicional do meio, sintonizada por meio do dispositivo, através do dial e que utiliza apenas o universo sonoro para comunicar1. Embora hoje possua a função de informar e entreter públicos diversos, o rádio surge no Brasil, em 1922, como um meio de comunicação com tendência elitista, seja pelo alto custo do dispositivo ou pelo conteúdo2 apresentado, e passa por diversas fases 1 Sabe-se que atualmente é possível unir, nas rádios feitas para transmissão via internet, por meio de links, o universo sonoro, ao visual (fotografias, vídeos, texto escrito). 2 Veiculação de óperas e peças teatrais que diferem e muito dos conteúdos apresentados em programas como o “Na boca do povo” que utiliza como estratégia de captação e fidelização do público a apresentação de conteúdos que façam parte da rotina dos ouvintes. que vão, ao longo do tempo, impondo características singulares ao meio, entre as quais destacamos um “modo de falar”, uma linguagem específica. Assim, nosso convite para pensar o rádio tradicional atualmente – que a despeito dos diversos avanços tecnológicos que trouxeram consigo novas possibilidades comunicativas, permanece sendo um importante meio de comunicação de massa – requer um olhar atento sobre a linguagem utilizada por esse veículo. Quando centramos nosso olhar sobre a função jornalística, parte que nos interessa dentro do universo de possibilidades discursivas por meio do rádio, constatamos que essa só pode ser alcançada impondo, tanto ao processo de elaboração como ao de veiculação do discurso radiofônico, determinadas características do meio, como proximidade, intimidade e instantaneidade. Dessa forma, o rádio, que surge quando ainda não era possível ter ao mesmo tempo imagem e som, desenvolve uma linguagem própria capaz de fazer com que cada ouvinte crie imagens mentais a partir de elementos – música, efeito sonoro, palavra e silêncio – que reproduzem o ambiente, mesclando som e silêncio. Um rápido olhar pela história radiofônica nos permitiu observar as mudanças ocorridas nos “modos de dizer” utilizados por esse veículo de comunicação de massa. Destacamos momentos como o seu surgimento, a abertura para a publicidade e as mudanças ocorridas com a chegada da televisão ao Brasil. O interesse pelo discurso, e consequente desejo de analisá-lo, nasceu da crença que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, tanto mecanismo pelo qual o homem percebe o mundo como uma maneira que permite ser por ele conhecido. A escolha de um programa radiofônico “ao vivo” de emissora com amplitude modulada (doravante AM) originou-se no fato desse tipo de programa ser feito de maneira mais livre, menos roteirizada, permitindo maior acesso às ideias do locutor, tendo em vista que ele, ao menos do ponto de vista do analista do discurso, desconhece que está sendo gravado e que será posteriormente analisado. Com isso, ele tende a realizar uma comunicação pautada na instantaneidade, entendendo-a como fugaz. O sujeito3-objeto da análise discursiva, o locutor, é visto aqui como um ser social capaz de transformar, por meio do seu discurso, um acontecimento em notícia. É por meio dele que investigamos os fenômenos discursivos da linguagem radiofônica e buscamos compreender o processo de veiculação da notícia política como prática social. Embora saibamos que a emissão não determina todo o processo de comunicação, radiofônica, ela foi aqui privilegiada por entendermos que é nela que são levantados os problemas sociais que atingem o cidadão comum, em que existe a cobrança pela atuação dos governantes e se assume uma postura de potencial solucionador. Como veremos, assumir essa postura exige dos locutores o uso de determinadas estratégias, marcadas pela mudança na entonação voz ou mesmo mudança de voz (simulando vozes de outras pessoas) e atuação (uma “encenação discursiva”) na apresentação de seus programas, de modo a garantir uma linguagem mais intimista e um maior acesso ao ouvinte. Aquele que ouve, identifica no locutor não apenas uma fonte de informação, mas, também e principalmente, a possibilidade de garantia de obtenção de serviços. Esclarecer as estratégias linguísticas para o estabelecimento dessa relação locutorouvinte (locutor-interlocutor) e evidenciar que a voz radiofônica na notícia política tende a ressaltar a subjetividade do locutor, o que pode revelar as implicações políticas que norteiam a linha editorial da emissora, constitui-se o objetivo principal desta pesquisa. Consideramos relevante, ainda, destacar a importância do locutor para as emissoras de rádio AM, uma vez que ele não apenas oferece informações à comunidade, cumprindo seu papel como jornalista4, mas parece sugerir o estabelecimento de relações de amizade e comprometimento ao expor necessidades, tornar públicos problemas comunitários e propor soluções, assumindo uma postura de defensor, tomando para si a tentativa de solucionar os problemas relatados. Assim, apresentamos a análise sobre um discurso radiofônico específico, que vai além da relação socioeconômica, de resultados previsíveis, e aproxima-se da dimensão 3 Utilizamos no texto as expressões “ser de fala”, “ser de discurso” e “sujeito” para designar aquele que é capaz de produzir discursos. 4 Na prática, o locutor/apresentador, seja em rádio ou TV, não é necessariamente jornalista por formação. psicossocial, como proposta na Teoria Semiolinguística, desenvolvida a partir de 1983, por Patrick Charaudeau (1996; 1999; 2001; 2005; 2006; 2010). Por tratar-se de um modelo pragmático de orientação, o método proposto por Charaudeau para análise do discurso, parece-nos não apenas adequado como suficiente para a realização da pesquisa anteriormente citada, o que explica a quase exclusividade do autor para embasá-la. O primeiro capítulo apresenta e detalha o corpus, o método de coleta utilizado e o modelo de transcrição desenvolvido para permitir que, além da voz, os outros elementos da linguagem radiofônica pudessem ser observados e destacados durante a análise. Para tornar mais clara a compreensão sobre a instância de produção no rádio e sua interação com aspectos políticos, o estudo será dividido em três partes. Imerso nessa realidade de caráter apenas auditivo, que o diferencia de outros meios de comunicação de massa essencialmente visuais – como o jornal impresso e a televisão –, o rádio desenvolveu uma maneira distinta para estabelecer processo comunicativo. Para compreender esse “modo de dizer” radiofônico, faz-se necessária a compreensão das características e da linguagem peculiar do rádio. Essas noções são apresentadas no segundo capítulo. No terceiro capítulo, são reveladas as bases teóricas que fundamentam esta análise discursiva: o sujeito para Charaudeau, as noções de contrato e os modos de organização do discurso e suas estratégias são apresentados aqui. Por fim, o quarto capítulo traz os resultados obtidos, relacionando características e linguagem radiofônica com a teoria proposta por Charaudeau, a partir dos exemplos retirados do corpus. 1. EM SINTONIA: DEFININDO MATERIAIS E MÉTODOS Explicamos, neste capítulo, o título da pesquisa e descrevemos o percurso metodológico utilizado. O corpus traz esclarecimentos quanto à escolha da emissora de rádio e do programa analisado, enquanto o método de coleta descreve a maneira como foram feitas as gravações; por fim, a transcrição apresenta a necessidade de desenvolvimento de um modelo próprio e o descreve. Por trás da voz: análise sobre um discurso radiofônico revela o desejo de investigar uma espécie de sentido oculto que parece haver por trás das emissões radiofônicas, uma intenção não revelada de difundir ideias a princípio não tão claras, no meio das informações divulgadas diariamente para a sociedade. E, sobretudo, como a relação dita de amizade com o locutor pode colaborar para efetivação dessa influência sobre o ouvinte. Assim, a palavra “voz” utilizada aqui, refere-se ao texto radiofônico apresentado, a tudo aquilo que é possível ouvir através do rádio. Além disso, a análise pretende mostrar muitos outros “não ditos” que ainda assim são veiculados, por meio dessa voz. Tendo como tema a investigação da instância de produção da notícia política no rádio e a interação desse processo com aspectos políticos, a pesquisa utiliza o caminho metodológico da análise semiolinguística do discurso (CHARAUDEAU; MACHADO) e certos conceitos de Maingueneau, para investigar a relação entre locução radiofônica e notícia política. A escolha pelo aporte da Semiolinguística se explica pela possibilidade que ela oferece de permanecer no contexto da problemática linguageira ao mesmo tempo em que trata os aspectos sociais e psicológicos da linguagem. Evidenciar as estratégias utilizadas na prática da locução radiofônica, mostrando a possibilidade de acesso à informação, a despeito das implicações políticas que norteiam a linha editorial das emissoras, é o objetivo principal desta análise. Assim, nosso interesse encontra-se centrado na representação discursiva da locução radiofônica, debruçamo-nos sobre o circuito de fala, o espaço interno. As frases destacadas do corpus no Capítulo 4 evidenciam que aquele que fala, emprega mais tempo e recursos (elementos da linguagem radiofônica) para explicar do que para descrever os acontecimentos. Dessa forma, o lugar ocupado pelo locutor é de superioridade em relação àquele que ouve (o ouvinte), uma vez que aquele possui a informação e este necessita dele para saber, interpretar os fatos e se posicionar em relação a eles. 1.1 O Corpus A escolha por uma rádio em amplitude moderada (AM) deu-se por entendermos que nesse tipo de emissora há um maior espaço reservado para a fala, ou texto, vista aqui como apresentação material de um discurso. Nela, buscamos a apresentação de notícias com enfoque político; esse recorte se dá por entendermos que, nessa modalidade de discurso, seria possível evidenciar as forças que operam “por trás” do discurso. Assim, optamos pela Rádio Difusora (AM 640 KHz) que, embora esteja sediada em Itabuna-Bahia, disponibiliza sua programação on line na internet, possibilitando o acesso de qualquer lugar do mundo. A Rádio Difusora está no ar vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, conforme Tabela 6, anexa. Possui uma grade de programação bastante heterogênea. De segunda a sexta, a duração dos programas varia de trinta minutos a duas horas, dando prioridade à música, ao esporte e às notícias. Aos sábados, a programação é composta de programas voltados para temas de religiosidade, música ou esporte. Aos domingos, destaca-se o esporte, ocupando dez horas e trinta minutos de programação, mas há espaço também para a música e a religiosidade. Dentre os discursos radiofônicos disponíveis na grade de programação da Rádio Difusora de Itabuna, despertou-nos especial interesse o programa “Na boca do povo”, que é um programa jornalístico/político veiculado de segunda a sexta, das doze e trinta às catorze horas, pelo jornalista Gerdan Rosário. O programa traz como principal atração a apresentação de notícias e entrevistas. A participação é permitida por meio de telefonemas, envio de e-mails (que são lidos no ar pelo locutor) ou pela presença do ouvinte no estúdio. 1.2 Método de Coleta Para ter acesso constante ao programa de rádio citado, de modo que permitisse uma análise posterior à veiculação, fez-se necessária a gravação. O acesso ao programa “Na boca do povo” foi possível graças ao site www.radarnoticias.com que, à época hospedava o link da rádio5. Uma vez garantido o acesso, utilizamos o programa Audacity 1.3 Beta6 para realizar as gravações. Ao todo, foram coletadas doze horas de gravação – entre os dias 5 de março e 14 de abril de 2012. Foram gravados seis programas completos (no mês de março: dia 6; em abril, os dias gravados foram: 3, 9, 11 e 12) e cinco incompletos7 (no mês de março, foram gravados os dias 5, 7, 8 e 27; em abril: o dia 4). A escolha pelo período de gravação buscou contemplar o momento que antecedesse o período eleitoral, por conta dos impedimentos legais que poderiam inibir conteúdos ou mesmo modificar o modo de falar do locutor. Acreditamos que, dessa forma, é possível demonstrar a extratemporalidade do fenômeno observado. Selecionamos, a partir do material coletado no programa “Na boca do Povo”, cinco notícias, ou seja, detemo-nos a analisar a encenação realizada no ato de veicular o texto informativo. Optamos por realizar a análise apenas na apresentação de notícias, por entendermos que nesse ato haveria maior possibilidade de evidenciar a relação entre prática de locução e notícia política, já que é composto apenas pela fala do locutor. Acreditamos que a submissão dessas notícias ao método de análise discursiva proposto por Charaudeau, permitirá evidenciar as especificidades da prática de locução radiofônica, por meio de variáveis como: informação, comentário e cobrança. Ou seja, trata-se de uma amostra discursiva homogênea8, e sua relevância está no fato de ser um exemplo de práticas recorrentes. 5 Atualmente disponível no endereço: www.portalsuldabahia.com.br Disponível para download gratuito na internet. 7 Devido a problemas técnicos. 8 Por tratar-se de um fenômeno verificável em qualquer das emissões. 6 Deteremo-nos na análise do texto que vai ao ar, portanto, na encenação do dizer, na instância de produção, ou seja, no “sujeito comunicante” (EUc) e no “sujeito enunciador” (EUe). Grosso modo, por se tratar, aqui, de uma primeira aproximação analítica com nosso corpus, vamos o público ouvinte em i) simpatizantes do grupo político ligado à rádio; ii) não simpatizantes; e, por fim, iii) aqueles que não possuem posição política definida e estão em busca de informação. A escolha da instância de produção deve-se também ao fato de ser nela que ocorre a veiculação dos problemas sociais, a cobrança pela atuação dos governantes e onde o locutor assume uma postura de potencial solucionador dos problemas relatados/informados. 1.3 A transcrição O grande desafio para a transcrição dos dados coletados, isto é, as notícias políticas veiculadas no período pré-estabelecido, deve-se ao fato de tratar-se de material oral e, portanto, requerer uma descrição diferenciada que ao mesmo tempo contemple a voz, suas próprias alterações e os elementos além da voz, que falam tanto quanto (ou mais) do que é dito por meio dela. O texto radiofônico, como todas as outras formas de produção textual, possui singularidades. Características trazidas da linguagem oral como empréstimos linguísticos, improvisação, repetição de palavras ou frases e a criação de novos vocábulos, impõem ao texto radiofônico dificuldades de representação, tendo em vista que é imperativo não atribuir juízo de valor ou interpretação na transcrição. Assim, foi preciso desenvolver formas de dar ao leitor acesso rápido aos dados da transcrição, possibilitando o movimento, no texto transcrito, para buscar elementos do seu interesse e revelar, com a máxima nitidez possível, a performance envolvida na encenação do jogo do dizer. Tratou-se de um exercício de audição crítica e repetitiva das gravações, buscando ouvi-las e “traduzi-las” para a linguagem escrita, em destaque. Para atestar fidelidade na transcrição do material coletado, disponibilizamos, anexo, arquivo em áudio das notícias utilizadas na pesquisa. Logo, diante da necessidade de uma transcrição que pudesse dar conta do corpus de maneira a preservar os elementos da linguagem radiofônica, atendendo à necessidade de evidenciar tanto o dito quanto o não dito (por meio da voz), sem estar preso ao formalismo das transcrições fonética, fonológica e ortográfica, optamos pelo modelo de roteiro radiofônico que utiliza uma tabela composta por duas colunas. A coluna da esquerda é destinada à “técnica”, em que são descritas as informações sobre música, efeito sonoro, ruídos. Essas indicações aparecem alinhadas às que ficam na coluna direita, denominada “áudio” e descreve aquilo que é dito. Acreditamos que, dessa forma, tornamos mais evidente os elementos destacados nesta pesquisa, bem como oferecemos suporte para que outros trabalhos sejam desenvolvidos posteriormente. Para contemplar entonação, autocorreções, trocas de autores na locução, pausas, simultaneidade das falas, interrupções bruscas, efeitos sonoros, ruídos produzidos durante a interação, entre outros fenômenos ligados à comunicação oral, nos aproximamos da realidade radiofônica preservando todos os seus elementos, utilizados desta forma: i. NEGRITO: representa as palavras ou frases que recebem ênfase na locução, expressões que num texto escrito viriam em negrito ou sublinhadas, mas que na linguagem oral são realçadas por meio da mudança de tom na voz. São as palavras que concentram o sentido do texto; ii. Ù: marca o aumento no tom de voz; iii. Ú: marca a diminuição no tom de voz; iv. EFEITO SONORO: acusa a inserção de som gravado da “batida do martelo” para marcar postura de cobrança do locutor. Faz referência à batida do martelo feita pelo juiz ao pronunciar uma sentença; v. BG (background): música de fundo que dá suporte para a fala. Determina o ritmo da fala; vi. SOBE SOM: marca aumento do som da música que esta sendo usada como BG; vii. +: marca fala do locutor-apresentador; viii. ++: marca fala onde locutor-apresentador encena texto fictício como se fosse a fala de um ouvinte imaginário. Fala imaginária. Traz a fala do outro para o seu discurso; ix. +++: marca início da fala onde locutor-apresentador encena texto fictício como se fosse a fala de personalidade (pessoa conhecida) a quem se referia na fala anterior. Fala atribuída; x. u: marca início de fala do locutor-participante. Voz gravada e distorcida que dá a ideia de interação no texto radiofônico. O locutor-apresentador responde as questões impostas por ela; xi. /: indica pausa breve. Marca o momento de pausa para respiração do locutor. Grosso modo, poderíamos dizer que serve para “pontuar” o texto radiofônico; xii. //: pausa que indica conclusão do pensamento formulado. Introduz outro assunto ou uma nova abordagem para o assunto em questão; xiii. ///: marca interrupção abrupta do que estava sendo dito e impõe silêncio proposital; xiv. ][: marca sobreposição de fala. Assim, o desenvolvimento de um modelo próprio de transcrição, tornou possível destacar no “texto” as estratégias utilizadas pelo locutor para atrair e fidelizar o público. Cabe notar que, em alguns casos, foi preciso transcrever o diálogo e não apenas a frase a ser evidenciada. Nessas ocasiões, recorremos ao sublinhado para dar evidência ao que se deseja destacar. Uma vez descrito o percurso metodológico que norteia a pesquisa, debruçamonos sobre o rádio enquanto dispositivo e veículo, para conhecermos mais sobre sua singularidade e trajetória no Brasil e as implicações que os impactos ocorridos em sua história provocaram no modo de dizer radiofônico. Por fim, apresentamos a noção de discurso radiofônico como um todo de significação que contribui para mostrar que ele (o discurso radiofônico) é constituído não apenas do que é dito, mas também pela maneira utilizada (escolhida) para dizer. 2. RÁDIO: HISTÓRIA, SINGULARIDADES E DISCURSO 2.1 Um olhar sobre a história do rádio no Brasil No Brasil, a primeira demonstração radiofônica ocorreu no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência. No ano seguinte, foi implantada, por Edgar Roquette Pinto e Henry Morize, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que é considerada a primeira emissora de rádio do país. O modelo de rádio que temos hoje difere em muito daquele, elitista, que exibia peças teatrais e ópera e que era visto, por entusiastas e colaboradores, a exemplo de Roquette Pinto, como um meio favorável para educação. O rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças, o consolador dos enfermos e o guia dos sãos – desde que o realizem com espírito altruísta e elevado (TAVARES, 1997, p. 8). Financiado por “clubes e sociedades”, não demorou muito para que ficasse evidente que, com as escassas contribuições dos ouvintes, estava cada vez mais difícil manter o meio de comunicação. Como não havia uma equipe para produzir a programação, as emissões não eram regulares e as notícias eram lidas diretamente dos jornais impressos, os comentários eram feitos de maneira improvisada. Nesse período, o papel do ouvinte era o de mantenedor, um “receptor” apenas. Na década de 1930, houve a abertura para a publicidade9 e a consequente popularização, impulsionando uma reestruturação que permitia a perda do caráter amadorístico que até então caracterizava esse meio de comunicação. Essa organização, financiada pelos reclames10, garantiu programação e horários regulares, além da contratação de artistas e produtores, com o objetivo de conquistar cada vez mais audiência e anunciantes. Ao mesmo tempo, “a linguagem radiofônica, aos poucos, vai sendo aprendida. Mais coloquial, mais direta, de entendimento fácil, começa a invadir 9 Decreto 21.111, de 1º de março de 1932, autoriza e limita a propaganda no rádio, primeiro em 10% e chegando a 25% da programação. 10 Denominação dos anúncios da época. todas as emissões” (COSTELLA, 2002, p. 181). Construindo um “modo próprio para dizer”, o rádio passa a ser o principal divulgador de produtos e serviços oferecidos pelo comércio e indústria no Brasil, nesse período. Além disso, “a partir de 1937, Getúlio se utilizou do rádio para fazer propaganda da sua ideologia política e criou o programa A Voz do Brasil, para ser o divulgador oficial do governo, principalmente dos discursos presidenciais”. (PRATA, 2009, p. 18, grifo do autor). E, assim, o rádio passa a atuar na vida política do país, por meio do então Presidente Vargas, que começa a utilizar o rádio para veicular as notícias governamentais percebendo a popularização e o poder de comunicação do meio. O fato é que, a exemplo de Getúlio Vargas, muitos outros políticos têm feito uso desse meio como facilitador para a obtenção de seus interesses eleitorais. Assim, embora nem sempre seja possível identificar sua influência, sabemos que ela vai desde a obtenção da concessão da emissora e a definição da linha editorial até a forma de veiculação das informações. É certo que “qualquer que seja o regime político em vigor, a informação jamais se constitui em atividade totalmente livre” (ORTRIWANO, 1985, p. 60). Nos anos 1940, o rádio havia reconhecido e incorporado novos modos de dizer. E esse voltar-se para o povo, para falar mais próximo a ele, deu vida à “Era de Ouro” das transmissões radiofônicas. Foi o período em que o rádio ocupou o lugar de destaque nas casas e a família se reunia ao seu redor para ouvir as radionovelas. Além disso, foi uma época de populares programas de auditório, em que o ouvinte poderia estar presente no momento da veiculação, acompanhando ao vivo a transmissão, ou ouvir de casa e participar por meio do telefone; é quando surgem as promoções. Paralelamente, o jornalismo se torna uma atividade mais estruturada, surge o “Repórter Esso”11, sintetizando a notícia em frases curtas e diretas. Contudo, com a chegada da televisão no início dos anos 1950, muitos previram a extinção do rádio. Ao aliar imagem e som, a televisão fez de muitos ouvintes, espectadores, e grande número de empresários optou por investir e anunciar nesse novo 11 O mais famoso noticiário do rádio brasileiro, que foi ao ar pela primeira vez em 28 de agosto de 1941e permaneceu por mais de 27 anos no ar. meio. Mas, o rádio mostrou mais uma vez a sua capacidade de adaptação e resistência, tornando-se mais informativo e voltado para acontecimentos locais. Ortriwano (1985, p. 21-22) descreve que O rádio aprendeu a trocar os astros e estrelas por discos e fitas gravadas, as novelas pelas notícias e as brincadeiras de auditório pelos serviços de utilidade pública. Foi se encaminhando no sentido de atender às necessidades regionais, principalmente ao nível da informação. Desse modo, as luxuosas produções foram substituídas por uma comunicação mais econômica, voltada para a notícia e a prestação de serviço, resultando numa ampliação do espaço para o radiojornalismo e para o diálogo com o público. A prática de jornalismo no rádio passa a ser regulamentada em 1962, com a Lei nº 4.11712 instituída no Código Brasileiro de Telecomunicações, que determina em seu Capítulo V que “as emissoras de radiodifusão, [...] deverão cumprir sua finalidade informativa, destinando um mínimo de 5% (cinco por cento) de seu tempo para transmissão de serviço noticioso”. Em meados dos anos 1970 as emissoras ampliam e intensificam os seus serviços, com a utilização das unidades móveis de transmissão e o repórter “ao vivo” informando os acontecimentos da rua. É dificil distinguir a história do jornalismo no rádio da própria história do rádio, uma vez que “o jornalismo esteve presente no rádio desde as primeiras experiências de exploração da radiodifusão. As emissoras, de maneira geral, são inauguradas transmitindo algum evento ou, ao menos, informando sobre sua própria existência” (ORTRIWANO, 2002-2003, p. 67). Assim, o surgimento do rádio traz consigo sua caracteristica de informar tanto “os fatos do mundo como os da casa do vizinho”, como assegura Ortriwano (2002-2003, p. 67). Quanto à chegada do rádio a Itabuna-BA, não foi possível apurar uma data precisa, mas Aquino (1999) afirma que as primeiras iniciativas têm registro no final da década de 30, através do serviço de alto-falante, que funcionava praticamente como uma emissora de rádio daquela época, com programas de música, notícia, esporte, auditório, entre outros. 12 Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962, que institui o Código Brasileiro de Telecomunicações. Outro sucesso era a retransmissão do Repórter Esso, que reunia dezenas de pessoas na Praça da Estação13, para ouvir as últimas notícias da Segunda Guerra Mundial. No entanto, apenas em 20 de outubro de 1956, a primeira emissora de rádio da cidade entrava no ar, a Rádio Clube de Itabuna14. Com maior alcance que a sua antecessora, surge, em 21 de abril de 1960, a Rádio Difusora Sul da Bahia. A segunda rádio a ser instalada na cidade, era voltada para o gosto popular e procurava se valer da proximidade com as camadas mais populares para imprimir seu interesse e divulgar o vínculo político que possuía. Foi dessa forma que o empresário e produtor rural Paulo Nunes “pretendeu e conseguiu pavimentar sua estrada política usando a Rádio Difusora” (AQUINO, 1999, p. 100). Esse fenômeno, contudo, não ocorreu apenas uma vez, como afirmam Celestino; Oliveira; Albuquerque (2009), haja vista que a Rádio Difusora de Itabuna sempre esteve sob o poder de representantes políticos regionais, determinando os conteúdos a serem veiculados, de tal forma que os locutores “mesmo cientes do poder que possui diante do microfone, sabem das restrições e submissões impostas pela linha editorial da emissora” (CELESTINO; OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009, p. 6). Assim, na busca por explicações, credita-se muito da postura de utilização das rádios para fins eleitoreiros a resquícios do coronelismo na região cacaueira, posto que, Na atualidade, apesar da nova reconfiguração social, com a mudança da sociedade eminentemente cacaueira para sociedade baseada na indústria, comércio e serviços, os resquícios da política coronelista ainda podem ser observados nas emissoras das cidades de Ilhéus e Itabuna, quando os candidatos aos cargos públicos de vereador e prefeitos continuam a usar o rádio como meio de propaganda eleitoral (CELESTINO; OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009, p. 6). A ação do rádio para fins políticos ocorreria por meio de um jogo de influência sobre o ouvinte, pautado nas características peculiares de intimidade e aproximação desse meio. O locutor começaria atuando como aquele que entende, divulga as 13 Hoje, Praça José Bastos. Sob a liderança de Ottoni Silva, seu irmão Gerson Souza, Zildo Guimarães, Miguel Fernandes Moreira, Reinaldo Sepúlveda, Joel Nery, Armando Mendes, Altamiro Álvares dos Santos, Raimundo Cravo e Lourival Ferreira, conforme Aquino (1999). 14 necessidades da comunidade, cobrando uma atuação por parte dos governantes, depois indicaria alguém mais habilitado para representar o povo – podendo inclusive ser ele mesmo, já que cada radialista tem seu jeito de se comunicar, mas todos os que ingressam no campo político tem objetivos bem definidos ao estabelecer uma comunicação popular: conquistar a confiança do povo. Assim, é implantada na sociedade a máxima de que o radialista, por conhecer as necessidades do povo, seria o melhor representante político, capaz de corresponder com as expectativas do eleitorado, mediante a descrença na classe política tradicional. (NUNES apud CELESTINO; OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009, p. 10). Mas esse não é um fenômeno recente nem restrito à cidade de Itabuna-BA, como revela Moreira (2010, p. 1): A partir dos anos 80 firmaram-se no Brasil dois tipos de relacionamento entre o rádio e a política. De um lado, radialistas com programas de grande audiência que se candidataram a cargos públicos e foram eleitos com os votos dos ouvintes. De outro, políticos que se tornaram donos de emissoras vinculando o seu apoio ao Executivo à concessão de canais AM ou FM. Nos dois casos, os objetivos têm sido, quase sempre, usar o rádio como meio de divulgação pessoal e obter vantagens com isso, principalmente eleitorais. Quem conhece o meio, sabe que a força de convencimento do rádio pode ser sentida como uma espécie de conversa a dois. Se nenhum meio de comunicação se completa sozinho, provavelmente o rádio depende menos dos demais. A fidelidade aos comunicadores é prova disso. Nas mãos da maioria dos políticos, o rádio funciona como forma de manter em evidência o candidato ou grupo que representa. Veremos, a seguir, que elementos ou características esse meio possui, para aproximar-se do ouvinte e de que maneira eles continuam lhe assegurando lugar de destaque, na ótica dos políticos, mesmo em tempos de evolução tecnológica e múltiplas possibilidades de comunicação. 2.2 Singularidades de um meio cego15 Quanto às características do rádio, destacamos a mobilidade, proporcionada por aparelhos cada vez menores, fáceis de serem transportados. A favor do rádio também está o fato de ele não requerer atenção restrita, possibilitando ao usuário ouvi-lo e realizar outras atividades ao mesmo tempo. 15 O rádio é chamado de um meio cego por tratar-se de um meio de comunicação apenas auditivo e por isso direciona sua linguagem de modo a facilitar, nos ouvintes, a criação de imagens mentais. Por ser um meio de comunicação de massa, tratar-se de um meio intimista, fala para todos como se estivesse falando para cada um, pois Ele imprime em cada ouvinte a clara percepção de que é o interlocutor privilegiado da comunicação. É como se houvesse a identificação, no meio da massa de ouvintes, de um indivíduo em particular – e cada ouvinte pode se sentir único no meio da multidão (PIOVESAN, 2004, p. 41). Essa sensação de intimidade (estratégia) – obtida por meio do uso de expressões como “querido ouvinte”, “amigo ouvinte”, sempre ditas no singular – aliada ao preço baixo dos aparelhos receptores em comparação com outros meios de comunicação, fez com que a audiência coletiva da época do surgimento do rádio, quando as famílias se reuniam ao redor do rádio para uma audição conjunta, transformasse-se em uma audição individualizada, por meio de aparelhos portáteis munidos, por vezes, de fones de ouvido. Por possuir um aparato técnico mais simples que os meios audiovisuais, o rádio pode oferecer ao ouvinte a sensação de estar onde os fatos estão acontecendo, por meio de transmissões diretas do local dos acontecimentos enquanto eles ainda estão ocorrendo. Por meio do som ambiente e da descrição oferecida pelo locutor, o ouvinte vai criando na mente uma imagem para os fatos. Esse dinamismo, aliado à possibilidade de adequação da programação, ou seja, sua flexibilidade, possibilita o contato com a notícia quase que como em tempo real. Contudo, se por um lado isso garante velocidade e instantaneidade ao rádio, por outro lado o torna efêmero. Em outras palavras, a mensagem só pode ser recebida no momento da sua emissão, exceto se o ouvinte utilizar o recurso da gravação, como no caso desta pesquisa. Para cumprir sua função de informar, o rádio permite a participação do público e/ou usa a voz do locutor para fazer denúncias, reclamações e solicitar serviços para comunidade. Atua como agente de informação e formação do coletivo. Desde a sua gênese vem se firmando como um serviço de utilidade pública, o qual exerce uma comunicação que em muito contribuiu para a história da humanidade. Deixa como legado princípios como (BARBOSA FILHO, 2009, p. 49). ação, transformação e mobilização Assim, o rádio se regionaliza e encontra seu lugar como meio de comunicação voltado para a comunidade local, sem ignorar acontecimentos nacionais e internacionais. 2.3 Linguagem radiofônica: os elementos de um “modo de dizer” Para pensar sobre o rádio e sua utilização política, precisamos refletir sobre a maneira como os sentidos são construídos, isto é, quais são os recursos disponíveis para que a comunicação radiofônica se efetive e como se organiza essa linguagem em termos discursivos. Para Patrick Charaudeau (2006, p. 104), “todo ato de comunicação se realiza num determinado ambiente físico que impõe restrições para realização deste ato”. Ele alerta que todo dispositivo formata a mensagem e, com isso, contribui para lhe conferir um sentido. Seria uma atitude ingênua pensar que o conteúdo se constrói independente da forma, que a mensagem é o que é independentemente do que lhe serve de suporte (CHARAUDEAU, 2006, p. 105). Assim, o ambiente físico é mais do que apenas um suporte, fazendo com que o texto radiofônico seja absolutamente auditivo e instantâneo – o ouvinte precisa escutar e, quase ao mesmo tempo, (re)significar a mensagem –, o que explica a utilização de um “modo de dizer” simples e objetivo, um falar cotidiano, intimista e claro, que facilita a compreensão. Por esse motivo, causa-nos estranheza quando são lidas notícias de jornais impressos ou blogs, no rádio, pois esses são meios de comunicação diferentes, com elementos de linguagem diferenciados. Por isso, “ao transmitir o texto radiofônico, a clareza é primordial, o locutor deve dar ao ouvinte a impressão de que o radialista está falando com ele e não lendo para ele” (McLEISH, 2001, p. 61). Nas palavras de Alves (2005, p.168), “é preciso ler como se não estivesse lendo, mas apenas conversando com alguém, contando a um amigo as novidades do dia”. Tal atitude evita ruídos na comunicação16 e passa uma ideia de proximidade. 16 Qualquer coisa que possa impedir ou prejudicar a compreensão da mensagem – uma interferência. O uso do silêncio pelo locutor é um importante facilitador para a compreensão do texto radiofônico, posto que impõe ritmo à fala, marca o momento da respiração e se transforma numa espécie de intervalo interpretativo. Por meio do silêncio, é possível, também, estabelecer um clima de emoção, suspense ou expectativa. A importância da entonação e da ênfase vocal não se deve apenas ao fato de dar dinamismo à locução, criando um ritmo que impede que essa se torne cansativa ou monótona; mas, sobretudo porque através dela as emoções são reveladas. Nas palavras de Chantler e Harris (1998, p. 21, grifos dos autores), “esses sons podem transmitir sensações mais fortes do que a leitura de um texto sobre o mesmo acontecimento. Isso porque o modo de dizer é mais importante do que o que é dito”. A música e os efeitos sonoros são utilizados para ilustrar o texto radiofônico, tendo em vista possuírem funções expressivas e descritivas17, criando o “clima” adequado para transmitir a informação. Exemplo disso, a utilização do som ambiente pelo radiojornalismo é “uma maneira de transportar o ouvinte para o local do acontecimento. A matéria deve reproduzir o ambiente, para que não se reduza à mera leitura de um texto com o trecho de uma entrevista” (PARADA, 2000, p. 32), agregando veracidade, emoção e dinamismo à informação. A linguagem radiofônica é, portanto, um “conjunto de formas sonoras e não sonoras representadas pelos sistemas expressivos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio” (BALSEBRE, 2005, p. 329). Embora reconheçamos o potencial comunicativo da música (possibilitando a criação de imagens, descrevendo paisagens ou apelando para emoção do ouvinte); do efeito sonoro (compondo o ambiente, dando uma informação, narrando um acontecimento, dando harmonia ao que está sendo veiculado); e do silêncio (oferecendo pausas interpretativas, momentos de reflexão, ao ouvinte), sublinhamos aqui a importância da voz. Para Charaudeau (2006), a voz “é a principal característica que dá suporte ao rádio” e a sua magia particular está nessa 17 A música e os efeitos sonoros são elementos da linguagem radiofônica utilizados para expressar sensações e sentimentos e descrever ambientes. ausência de encarnação e essa onipresença de uma voz pura. A voz – timbre, entonação, intenção – revela o estado de espírito daquele que fala. Assim ele poderá parecer forte ou fraco, autoritário ou submisso, emotivo ou controlado, frio ou emocionado, tudo isso com que jogam os políticos e profissionais da mídia (CHARAUDEAU, 2006, p. 107). Desse modo, percebemos que a voz e suas reveladoras características têm servido também aos profissionais da mídia quando se trata dos jogos políticos. Nair Prata (2005, p. 242), citando Barthes (1982) e Paiva (1997), lembra que “toda a relação com uma voz é forçosamente amorosa” e que existe um sentimento de identificação entre o ouvinte e a voz da pessoa do rádio, e que, assim, a relação rádioouvinte constrói no emocional um compartilhamento, um espaço singular de relações fazendo com que o rádio atinja os ouvintes em sua intimidade e permite compartilhar sentido. Em se tratando de jornalismo no rádio, a voz parece ter sido associada à credibilidade, de tal forma que o uso dos outros elementos da linguagem radiofônica, para fins informativos, parece distanciar o fato da realidade, aproximando-o da ficção. Assim, convencionou-se, quase que exclusivamente, o uso da voz para dar notícias; uma utilização aquém das potencialidades do meio no jornalismo. 2.4 O discurso radiofônico Talvez, hoje, com tantos meios disponíveis para comunicar e encurtar distâncias, seja difícil pensar no impacto produzido na sociedade brasileira pela chegada do rádio, em 1922. Se lembrarmos que a maioria da população à época era analfabeta, estaremos mais próximos de compreender como um meio que nasce elitista vai aos poucos, com a abertura comercial, adequando-se às necessidades do público, desenvolvendo uma maneira própria de falar, uma linguagem específica, que lhe conferiu o poder de não apenas criar uma relação de intimidade com o ouvinte, mas de vender produtos variados, ensinar lições diversas, entreter, informar, mobilizar e influenciar politicamente. Isso porque, no rádio, a distância fica quase abolida entre a mídia e o ouvinte, pela transmissão direta da oralidade, à qual se acrescentam uma enunciação interpelativa da parte da instância midiática e diversas estratégias de interatividade (telefone, correio eletrônico, sondagens imediatas, etc.), criando intimidade, confidência, até mesmo propício às confissões (CHARAUDEAU, 2006, p. 108). Assim, temos no rádio uma comunicação mais intimista, um falar para todos, como se fosse para cada um, que aproxima locutor e ouvinte, que não apenas possibilita como favorece trocas por meio da linguagem. Essa característica é sublinhada nas emissoras de rádio em amplitude modulada, que apresentam, por vezes, em programas jornalísticos, elementos da interação verbal, como hesitação, interrupção e redundância. Para além de uma simples emissão de palavras por meio da voz, está disponível e nos interessa, no rádio, o discurso. A definição de discurso passa pelo entendimento de que a expressão verbal é apenas uma de suas manifestações, composta por um código semiológico e que se encontra no domínio do dizer, relacionado ao fenômeno da encenação do ato de linguagem. Esta encenação depende de um dispositivo que compreende dois circuitos: um circuito externo, que representa o lugar do fazer psicossocial (o situacional) e um circuito interno que representa o lugar da organização do dizer (CHARAUDEAU, 2001, p. 26, grifos do autor). Assim, o discurso está relacionado a saberes partilhados, ainda que inconscientemente, por indivíduos pertencentes a um dado grupo social. Dessa forma, para a semiótica, o discurso é um todo de significação, a soma de conteúdos e formas, o que se diz e a maneira como é dito, estando a maneira de dizer marcada pela “presença” daquele que se quer alcançar. Ao fazermos nossas as palavras de Jiménez (apud HAYE 2005, p. 348), o qual diz que “o discurso do rádio se diferencia de outros possíveis discursos em função de seus elementos constitutivos e do canal que utiliza para sua produção e recepção”, somos levados, então, a concluir que o discurso radiofônico seria tudo que é emitido pelo rádio, não apenas a voz. Tendo conhecido um pouco da história do rádio, suas singularidades e como é constituído o seu discurso, é importante compreender as bases teóricas analíticodiscursivas propostas por Charaudeau (2006), que nos permitirão compreender o homem como um ser de discurso. Desse modo, somos direcionados à definição de ato de linguagem e consequentemente levados a identificar os sujeitos da linguagem e as possíveis posições ocupadas por ele dentro do contrato de comunicação. A partir daí, passamos a enxergar a fala enquanto encenação discursiva e apresentamos os modos de organização do discurso, destacando o modo descritivo e o narrativo. O capítulo é concluído após a apresentação de estratégias complementares de captação e fidelização de ouvintes. 3. O MODELO: BASES TEÓRICAS ANALÍTICO-DISCURSIVAS A análise discursiva tem por matéria prima a linguagem desapegada das formalidades da língua e estudada a partir de seus usos, de sua apropriação e utilidade na rotina de uma comunidade (estabelecida ou não por limites geográficos). Uma análise a partir de uma situação dada e destacada, um mergulho em um microuniverso discursivo para identificar e revelar estratégias de fala comuns a qualquer discurso (macro). O modelo de análise do discurso proposto por Patrick Charaudeau (1996; 1999; 2001; 2005; 2006; 2010), a partir de 1983, possibilita uma articulação entre os planos situacional e linguístico, por meio da integração entre o macro e microssocial. Trata-se de método capaz de destacar a importância das interações sociais, sem negar a intencionalidade dos sujeitos envolvidos nos atos de linguagem. Admite-se que essa noção tenha nascido com Austin, por meio da publicação How to do things with words, em 1962, que assegura a possibilidade de agir por meio da linguagem (KERBRATORECCHIONI, 2008). Em outras palavras, dizer é ao mesmo tempo “falar” e “fazer”; é agir sobre o outro, o interlocutor, e sobre o mundo. O interesse pelo modelo de análise discursiva, desenvolvido por Charaudeau, deve-se ao fato de ele contemplar não apenas o sujeito (ou os papéis psicossociais que os sujeitos podem desempenhar), no sentido de descortinar intenções e estratégias presentes no ato de falar, ainda que não sejam completamente conscientes, como também o papel destacado da estrutura social, da coletividade, dos fatores externos. Estamos lançando, portanto, um olhar múltiplo e integrado sobre um discurso dado, na tentativa de evidenciá-lo, tanto como construção, produção de uma dada realidade social, como em suas características internas (linguísticas). 3.1. O homem como um ser de discurso Por entendermos que “pensamento e linguagem constituem-se um ao outro numa relação de reciprocidade” (CHARAUDEAU, 2010, p. 68, grifos do autor), instiga-nos, sobretudo, relacionar o uso da linguagem com a sua possível influência sobre os interlocutores. Assim, esta pesquisa está situada no campo da linguagem e a tarefa é transformar um discurso dado, a saber, uma determinada locução radiofônica, em objeto de estudo, de modo a tentarmos perceber a multiplicidade de sujeitos que interagem em um ato de linguagem. Buscamos, ainda, unir as contribuições da semiótica e da linguística para não apenas perceber como revelar intenções, e mostrar a maneira que o universo social intervém sobre elas. Ou seja, esta investigação utiliza o aporte da semiolinguística, que é assim caracterizada por seu principal formulador: [...] uma análise semiolinguística do discurso é Semiótica pelo fato de que se interessa por um objeto que só se constitui em uma intertextualidade. Essa última depende dos sujeitos da linguagem, que procuram extrair dela possíveis significantes. Diremos também que uma análise semiolinguística do discurso é Linguística pelo fato de que o instrumento que utiliza para interrogar esse objeto é construído ao fim de um trabalho de conceituação estrutural dos fatos linguageiros (CHARAUDEAU, 2010, p. 21). Que o homem seja um ser de linguagem, parece ser um ponto pacífico, uma vez que o próprio Charaudeau (2010) define linguagem como uma espécie de poder que o ser humano possui e que lhe dá as condições necessárias para desenvolver o pensamento e a ação, permitindo a vida em sociedade. Desse modo, em sua complexidade, o fenômeno da linguagem requer competências tanto daquele que faz uso dela quanto de quem se propõe a analisá-la. Por meio da competência situacional, pode-se sublinhar a situação em que ela ocorreu, sua finalidade e as identidades dos sujeitos nela envolvidos. Por meio da competência semiolinguística organiza-se a encenação do ato de linguagem, com o auxílio das categorias que a língua oferece. Por sua vez, a competência semântica seria a capacidade de construir sentido, “recorrendo aos saberes de conhecimento e de crença que circulam na sociedade, levando em conta os dados da situação de comunicação e os mecanismos de encenação do discurso” (CHARAUDEAU, 2010, p. 7), revelando não apenas o sentido, mas o vínculo social que os atos de linguagem possuem. Interessanos, então, pensar o homem por meio de sua competência discursiva, pensá-lo como um “ser de/do discurso”. Como dissemos anteriormente, o discurso é, ao mesmo tempo, o mecanismo pelo qual o homem percebe o mundo e a maneira como permite ser por ele conhecido. Mas, para compreender esse mecanismo, é preciso considerar que “a significação é uma manifestação linguageira que combina signos em função de uma intertextualidade particular e que depende de Circunstâncias de discurso particulares” (CHARAUDEAU, 2010, p. 35, grifos do autor). Assim, mais do que o sentido das palavras que é dicionarizado, fora do contexto; estamos interessados no significado (ou significação) do texto radiofônico, que só pode ser extraído enquanto discurso, observando a situação em que foi utilizado, o contexto, a situação dada, de onde emerge suas possibilidades interpretativas. É por este motivo que, sublinhando a importância do discurso, Charaudeau (2010, p. 20) afirma que “o mundo não é dado a princípio ele se faz através da estratégia humana de significação”. Essa diferenciação entre sentido e significado promove a compreensão de que há o saber coletivo e o saber individual e que as circunstâncias em que o discurso ocorre influem na possibilidade e abrangência de partilha entre os sujeitos. Além disso, a ideia que cada protagonista faz sobre os propósitos do outro, ao estabelecer com ele trocas comunicativas, impõem sobre determinado ato de linguagem uma espécie de filtro na construção do sentido. Ou seja, a interpretação é permeada por uma suposição de intenção. 3.2 O ato de linguagem – usos e definições O ato de linguagem pode ser considerado um duplo objeto constituído tanto explicitamente, por aquilo que manifesta, quanto implicitamente, possibilitando, por meio das circunstâncias de comunicação, múltiplos sentidos. Dessa forma, o ato de linguagem “não reside unicamente na aptidão para representar o mundo por um explícito linguageiro, mas na aptidão para significar o mundo como uma totalidade que inclui o contexto sócio-histórico e as relações que se estabelecem entre emissor e receptor” (CHARAUDEAU, 2010, p. 17). Em outras palavras, esse duplo objeto é composto de um explícito que aponta para a simbolização referencial18, e um implícito que aponta para a significação, a intencionalidade do sujeito falante. Portanto, o sentido não pode ser estabelecido previamente uma vez que [ ...] não se pode determinar de forma apriorística o paradigma de um signo, já que é o ato de linguagem, em sua totalidade discursiva, que o constitui a cada momento de forma específica. Em outras palavras, longe de conceber que o sentido se constituiria primeiro de forma explícita em uma atividade estrutural e, em seguida seria portador de um implícito suplementar no momento de seu emprego, dizemos que é o sentido implícito que comanda o sentido explícito para constituir a significação de uma totalidade discursiva (CHARAUDEAU, 2010, p. 26). Cabe lembrar que, do ponto de vista do sentido, o signo linguageiro possui uma qualificação referencial (designação que atribui valor semântico a uma parte do mundo físico) e uma funcionalidade (atribuída pelo uso, existente apenas no universo de determinado discurso). O que resume a ideia de que o sentido dicionarizado é apenas o registro de uma possibilidade de uso e não a determinação arbitrária de possibilidades. A noção de núcleo metadiscursivo (NmD) é apresentada por Charaudeau (2010), em 1983, como um saber gerado pela sedimentação de sentido de determinado signo, a despeito de seus empregos múltiplos. Assim, apesar de sua complexidade, o signo, analisado a partir de um discurso, apresenta as marcas de um NmD que dá conta de uma determinada expectativa de sentido. Ou seja, há um afastamento das noções de conotação e denotação, não vendo essa como valor básico ou fundamental do signo, nem aquela como um valor secundário ou precedente. Diante da impossibilidade de apreender e definir um significado em uma perspectiva semiolinguística, reconhecendo que cada componente do ato de linguagem contribui para o surgimento do discurso, Charaudeau (2010, p. 37) aponta para o uso do termo marca linguística, que seria 18 A simbolização referencial é a atividade que torna possível referir e conceituar a realidade por meio da linguagem. parte da matéria significante que é testemunha formal provisória de uma jogo de ajustamento entre um sentido mais ou menos estável – resultado de uma atividade metacultural sobre a linguagem (o NmD) – e um sentido específico - construído pelas Circunstâncias de discurso – cuja combinação participa da finalidade ou expectativa discursiva do ato da linguagem. Assim, a origem do sentido do ato de linguagem é dada de maneira individual, por meio da semiotização do mundo pelo sujeito e/ou de maneira coletiva, através das representações sociolinguageiras, em que as marcas NmD de um saber metacultural dariam conta de uma fala coletiva e provisória, enquanto a significação apontaria um saber intertextual, individual e coletivo, que se estabelece no ato de linguagem. Essa relação (emissor-receptor) seria estabelecida por meio da discordância e da concordância. Por meio da discordância, o sujeito falante se constitui como sujeito individual; por meio da concordância, ele se estabelece enquanto sujeito coletivo. Em outras palavras, é “no jogo de agressão e de cumplicidade jogado pelos atores da linguagem, na afirmação de uma especificidade e de um consenso que se interpelam de forma dialética no mesmo ato linguageiro” (CHARAUDEAU, 2010, p. 20, grifos do autor). Utilizamos o termo “discurso” para designar a totalidade de um ato de linguagem particular, uma vez que levamos em consideração que o discurso traz em si características peculiares (MAINGUENEAU, 2008), a saber, uma organização que possibilita sua classificação em gêneros, uma orientação que revela não apenas o tempo em que foi construído, mas a sua finalidade; uma forma de ação sobre o outro, um ato; uma interatividade que se não impõe uma interação oral, requer uma troca implícita ou explicita; uma contextualização já que não se pode atribuir sentido desconsiderando o contexto; uma assinatura ao revelar a subjetividade do locutor; e, por tratar-se de um comportamento social, o discurso é regido por normas e existe enquanto interdiscurso, ou seja, na relação com outros discursos. Assim, o modelo proposto por Charaudeau (2010) permite não apenas entender o discurso dado como resultado da interação (uma via de mão dupla) do plano situacional com o plano linguístico, como também oferece suporte para compreender a maneira como o plano situacional condiciona o plano linguístico, embora não seja determinante. O sujeito, no ato de linguagem, pode assumir vários papéis sendo, por isso mesmo, um sujeito complexo, dividido em suas possibilidades discursivas. Cabe ressaltar que a intencionalidade desse sujeito, que se pretende demonstrar, não é percebida enquanto um ato inconsciente, de dominação, nem de consciência plena, completamente racional e desvinculada de qualquer posicionamento anterior. Ou seja, nota-se aqui que a situação social dos sujeitos envolvidos é um agente condicionador no direcionamento do ato de fala. De acordo com Charaudeau (2010), durante o ato de linguagem, está implícito para os sujeitos um contrato de comunicação, formado por questões relacionadas ao plano situacional e linguístico. O primeiro dá conta da identidade dos parceiros, intencionalidade, objetivos, temas a serem falados, enquanto o segundo está relacionado à comunicação, ao discurso, ao como dizer, de que maneira, por meio de quais estratégias. A priori é importante considerar que o ato de linguagem ocorre entre um sujeito produtor (EU) e um sujeito interlocutor (TU), em que a função do TU vai além de receber informações. É um sujeito que, com base nas circunstâncias de discurso, constrói uma interpretação, ou seja, tenta identificar as intenções do EU. Trata-se de um ato que ocorre por meio de dois processos: produção e interpretação, através de quatro sujeitos, como veremos na seção seguinte. Resumidamente, pode-se dizer que o sujeito, em Charaudeau (1996), encontra-se preso a uma série de limitações relativas às características do contrato e às condições de sua realização. Esses constrangimentos não eliminam, no entanto, uma margem de manobra dentro da qual o sujeito pode agir estrategicamente. 3.3 Os Sujeitos da Linguagem O ato de fala ocorre em dois espaços: interno e externo (conforme Quadro 119). É no espaço interno que encontramos o Sujeito Enunciador (EUe) e o Sujeito Destinatário (TUd), seres de fala, cujo saber está relacionado às representações linguageiras das práticas sociais. Já o Sujeito Comunicante (EUc) e o Sujeito Interpretante (TUi) encontram-se no espaço externo e são considerados seres agentes, já que possuem um saber vinculado ao conhecimento da organização do que se tem por real. Como detalharemos a seguir, os parceiros no ato de linguagem, a saber, o Sujeito Comunicante (EUc) e o Sujeito Interpretante (TUi), externos ao ato, mas nele inscritos, são seres sociais e psicológicos. Os traços identitários que os definem, dependem do ato de comunicação considerado. Por sua vez, os protagonistas da enunciação, Sujeito Enunciador (EUe) e Sujeito Destinatário (TUd), estão localizados no interior do ato de linguagem, são seres de fala, definidos por papéis linguageiros. Charaudeau (2010) propõe um modelo de análise discursiva que nos permite um novo olhar sobre o sujeito (ou os sujeitos) e seu lugar (ou possíveis lugares) no ato da fala, uma vez que 19 QUADRO ENUNCIATIVO (ou Comunicativo) da Semiolinguística, proposto por Charaudeau em 1977/1983, paulatinamente modificado, para sua melhor compreensão, no decorrer do tempo, por membros do NAD/FALE/UFMG. A finalidade do ato de linguagem (tanto para o sujeito enunciador quanto para o sujeito interpretante) não deve ser buscada apenas em sua configuração verbal, mas, no jogo que um dado sujeito vai estabelecer entre esta e seu sentido implícito. Tal jogo depende da relação dos protagonistas entre si e da relação dos mesmos com as circunstâncias de discurso que os reúnem (CHARAUDEAU, 2010, p. 24). A contribuição de Charaudeau, alargando nossa compreensão em relação ao sujeito, vendo-o como abstração que possui lugar variável e particular dentro de cada ato linguageiro, permite concluir que O sujeito não é pois nem um indivíduo preciso, nem um ser coletivo particular: trata-se de uma abstração, sede da produção/interpretação da significação, especificada de acordo com os lugares que ele ocupa no ato linguageiro (CHARAUDEAU, 2001, p. 30). Essa concepção do sujeito enquanto ser que não possui lugar definido ou definitivo no ato linguageiro, vai permear toda a análise, o que aponta para a necessidade de determinar os lugares possíveis e suas implicações. 3.3.1 Os Sujeitos: Destinatário (TUd), Interpretante (TUi), Enunciador (EUe) e Comunicante (EUc) O Sujeito Destinatário (TUd) é uma fabricação do Sujeito Comunicante (EUc), idealizado e adequado a sua enunciação, sendo por ele dominado. É um sujeito imaginário, que participa do ato de produção. Por outro lado, o Sujeito Interpretante (TUi) é responsável pelo processo de interpretação. Como não há transparência entre o Sujeito Interpretante (TUi) e a intencionalidade do Sujeito Comunicante (EUc), estabelece-se, em relação a ele, uma atitude que pode ser de identificação, quando aceita a imagem que ele apresentou ao Sujeito Destinatário (TUd), ou de não identificação, quando a rejeita. Assim, sua interpretação é baseada em suas próprias experiências, agindo independente do Sujeito Comunicante (EUc), embora possa ser por ele influenciado. Por sua vez, o Sujeito Enunciador (EUe) é um ser de fala, que existe no e pelo ato de produção/interpretação e, por isso, está sempre presente no ato de linguagem, ainda que de maneira implícita. Sendo o desdobramento falado a “máscara” de discurso do Sujeito Comunicante (EUc), que ora se configura como transparência ora como ocultação. Em outras palavras o “EUe é somente uma representação linguageira parcial de EUc” (CHARAUDEAU, 2010, p. 49). Por fim, o Sujeito Comunicante (EUc) é o produtor de fala, que cria uma imagem de enunciador EUe, a quem impõe sua intencionalidade, ao mesmo tempo que cria o sujeito destinatário ideal. Por ser o ato de linguagem um fenômeno que se origina de múltiplas intenções conscientes, é importante lembrar que intencionalidade difere de intenção: seria o equivalente a projeto de fala. Ou seja, iria além da transmissão voluntária de intenções comunicativas completamente concebidas, sendo “o conjunto de intenções que podem ser mais ou menos conscientes, mas que são todas marcadas pelo selo de uma coerência pisicolinguageira”. (CHARAUDEAU, 2010, p. 48). O Sujeito Comunicante (EUc) é aquele que está localizado no espaço externo (lugar do fazer) do ato de linguagem, que ele organiza com base em um projeto de fala (ou de influência sobre o interlocutor). Nas palavras de Charaudeau (2010, p. 48), é um sujeito agente que se institui como locutor e articulador de fala [...]. Ele é o iniciador do processo de produção, processo construído em função das Circunstâncias de Discurso que o ligam ao TU e constituem sua intencionalidade. Desta forma, o EUc é testemunha de um determinado real, mas de um real pertencente ao universo de discurso. Havendo a compreensão de que ato de linguagem é operacionalizado pelo Sujeito Comunicante (EUc), mas que o efeito de discurso produzido no Interpretante só surge a partir do Sujeito Enunciador (EUe), percebemos que “a noção de autor de uma frase não é uma noção clara, nem operante, pois, recobre um sujeito duplo: o EUe e o EUc” (CHARAUDEAU, 2010, p. 50). Desse modo, podemos inferir que, ao envolver intencionalidade e não apenas uma intenção e extrapolar a simetria emissor-receptor, o ato de linguagem torna-se mais amplo que o ato de comunicação (no sentido lato da palavra). Sua abrangência se torna visível por meio do reconhecimento dos papéis representados pelos sujeitos da linguagem e das forças que atuam sobre eles, posto que, Ao considerar o ato de linguagem como o encontro de dois processos que envolvem quatro protagonistas, ligados por um duplo circuito (interno e externo), somos levados a constatar que estes sujeitos se encontram por si próprios sobredeterminados pelas circunstancias de fala que os ultrapassam. (CHARAUDEAU, 2010, p. 59, grifo do autor). Seria, então, um ato praticado por um sujeito falante (estando a “fala” aqui desvinculada da oralidade) e um parceiro, o interlocutor, constituindo um espaço de troca, que envolve uma situação de comunicação – enquadramento físico e mental dos parceiros –, que lhes dá uma identidade social e psicológica, ligando-os por meio de um contrato de comunicação. A análise mostra que as notícias veiculadas na Rádio Difusora, são muitas vezes retiradas de jornais impressos ou blogs, cabendo ao “sujeito comunicante” (EUc), por meio de comentários (e do uso da linguagem radiofônica, a saber, voz, silêncio, efeito sonoro e música) sublinhar o posicionamento do sujeito semiótico20 – a rádio. O “sujeito comunicante” (EUc) procura encenar seu discurso em função das expectativas que cria em relação a seu parceiro, o “sujeito interpretante” (TUi). Na emissora de rádio analisada, Rádio Difusora de Itabuna, Bahia, AM 640 KHz, o “sujeito comunicante” (EUc) é uma multiplicidade de sujeitos: o proprietário, o grupo político a que está ligado, os diretores administrativos que, juntos, definem normas e valores que formarão a linha editorial da empresa e esta direcionará tanto o processo de coleta quanto o de veiculação (apresentação) da notícia. É preciso considerar, ainda, que a emissora de rádio procurará atender as expectativas noticiosas do seu parceiro discursivo “sujeito interpretante” (TUi), idealizado, a quem se dirige o “sujeito comunicante” (EUc), uma vez que se trata de um veículo comercial. Ou seja, os projetos de fala são elaborados a partir da linha editorial que o veículo assume. No caso da Rádio Difusora, que foi vendida recentemente21, modificando completamente o direcionamento político, o modo de dizer e a seleção de 20 É preciso considerar que a rádio, enquanto emissora, é uma espécie de organismo que produz fala, emite vozes, narra e descreve, podendo por este motive ser identificada como um sujeito semiótico. 21 A Rádio Difusora, propriedade do ex-prefeito de Itabuna Fernando Gomes, foi vendida em 23 de janeiro de 2012, para o empresário João Lourenço (http://www.radarnoticias.com/noticias/geral/9565/confirmado-radio-difusora-e-vendida-23-01-2012/) notícias se constituem um importante fator para determinar sua (nova) identidade, ainda que para o ouvinte desavisado cause alguma estranheza. 3.4 O contrato de comunicação Para Charaudeau (1999b, p. 6), “o contrato é um quadro de reconhecimento no qual se inscrevem os parceiros para que se estabeleça a troca e a intercompreensão, sendo, portanto, da ordem do imaginário social”. Assim, o contrato de comunicação seria um parâmetro, estabelecido socialmente, daquilo que se pode esperar; são as expectativas que surgem de cada situação. É importante ressaltar que o contrato de comunicação só se efetiva quando o Sujeito Comunicante (EUc) tem seu direito de fala reconhecido pelo Sujeito Interpretante (TUi). E isso só é possível quando o Sujeito Comunicante (EUc) se faz conhecer, identidade, assuntos de que fala e motivação para fala. Quando cria uma imagem adequada do sujeito comunicante, o sujeito interpretante entende sua leitura de mundo e, caso ela seja avaliada como adequada, o contrato é efetivado. Isso porque, para Charaudeau (2010), o ato de linguagem, do ponto de vista de sua produção, pode ser descrito como uma expedição e uma aventura. Expedição no aspecto intencional, posto que o Sujeito Comunicante (EUc) organiza aquilo que virá a ser o ato de linguagem, fazendo isso esperando obter êxito, que ocorre quando há coincidência de interpretação entre o Sujeito Interpretante (TUi) e o Sujeito Destinatário (TUd). Para ser bem sucedido, o Sujeito Comunicante (EUc) faz uso de contratos, isto é, A noção de contrato pressupõe que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a um acordo sobre as representações linguageiras dessas práticas sociais. Em decorrência disso, o sujeito comunicante sempre pode supor que o outro possui uma competência de reconhecimento análoga à sua. Nesta perspectiva o ato de linguagem torna-se uma proposição que o EU faz ao TU e da qual ele espera uma contrapartida de conivência (CHARAUDEAU, 2010, p. 56). E de estratégias, ou seja, A noção de estratégia repousa na hipótese de que o sujeito comunicante (EUc) concebe, organiza e encena suas intenções de forma a produzir determinados efeitos – de persuasão ou de sedução – sobre o sujeito interpretante (TUi) para levá-lo a se identificar - de modo consciente ou não – com o sujeito destinatário ideal (TUd) construído por EUc (CHARAUDEAU, 2010, p. 56). A relevância da notícia política, para esta análise, é sublinhada pela certeza de que “o discurso político se caracteriza por um jogo polêmico, que utiliza constantemente contratos e estratégias para convencer ou seduzir o outro” (CHARAUDEAU, 2010, p. 58). Ou seja, pretendemos, a partir das notícias que compõem nosso corpus, revelar o jogo exercido por meio de palavras, sons e/ou silêncio, que o discurso radiofônico ora oculta ora revela, tendo certeza que [ ...] as estratégias de poder exercidas em uma sociedade são o resultado de um jogo de ser e de parecer entre o estatuto social dos sujeitos do circuito comunicativo (EUc/TUi) e o estatuto linguageiro dos sujeitos que a manifestação linguageira constrói (EUe/TUd) (CHARAUDEAU, 2010, p. 62). Assim, o contrato de comunicação, longe de ser definitivo, é algo que se constrói, por meio de intercâmbios linguageiros, e se estabelece por meio do reconhecimento do direito à fala, sendo um complexo processo de luta que inclui a busca do reconhecimento do saber e do poder; um esforço pela conquista da credibilidade. Quanto à transformação de um fato em notícia, representada na Figura 1, possível por meio do contrato de comunicação midiático, Charaudeau (2006, p. 11, grifos do autor) detalha que ‘o mundo a descrever’ é o lugar onde se encontra o 'acontecimento bruto' e o processo de transformação consiste, para a instância midiática, em fazer passar o acontecimento de um estado bruto (mas já interpretado), ao estado de mundo midiático construído, isto é, de ‘notícia'; isso ocorre sob a dependência do processo de transação que consiste, para a instância midiática, em construir a notícia em função de como ela imagina a instância receptora, a qual, por sua vez, reinterpreta a notícia a sua maneira. Esse duplo processo se inscreve, então, num contrato que determina as condições de encenação da informação, orientando as operações que devem efetuar-se em cada um desses processos. Assim, o contrato de comunicação midiático detalha e explica a maneira como um fato do cotidiano, é interpretado e transformado em notícia, por meio de uma instância midiática, utilizando como recurso uma encenação discursiva que se pauta por uma instância receptora imaginária. 3.5 A encenação É com base na finalidade do ato de comunicação que o sujeito falante organizará o seu discurso, ou seja, definirá se a matéria linguística será apresentada de forma argumentativa, descritiva, narrativa ou enunciativa. A apresentação do discurso é o texto, “resultado material do ato de comunicação e que resulta de escolhas conscientes (ou inconscientes) feitas pelo sujeito falante dentre as categorias de língua e os Modos de organização do discurso, em função das restrições impostas pela Situação” (CHARAUDEAU, 2010, p. 68, grifos do autor). Ou seja, a noção de texto que trazemos aqui, vai além. Fazemos nossas as palavras de Charaudeau (2010, p. 77), ao afirmar que “texto é a manifestação material (verbal e semiológica: oral, gráfica, gestual, icônica, etc.) da encenação de um ato de comunicação, numa situação dada, para servir ao Projeto de fala de um determinado locutor”. É importante pontuar também que, em se tratando de ato comunicativo, situação e contexto não são sinônimos, como a princípio pode parecer, tendo em vista que a situação dá conta do ambiente físico e social do ato, sendo externa a ele, a despeito de oferecer as condições para a sua realização; por sua vez, o contexto se refere ao ambiente textual, sendo interno ao ato de linguagem, e isso independe da forma como o ato comunicativo é apresentado: verbalmente, graficamente, por meio de imagens, etc. O locutor, mais ou menos consciente das restrições e da margem de manobra proposta pela Situação de comunicação, utiliza categorias de língua ordenadas nos Modos de organização do discurso para produzir sentido, através da configuração de um Texto. Para o locutor, falar é, pois, uma questão de estratégia (CHARAUDEAU, 2010, p. 68). Em outras palavras, ele (o locutor) organiza o seu texto com base em sua própria identidade, na imagem que constrói do interlocutor e naquilo que já foi dito. Pormenorizando, diríamos que, uma vez que a finalidade das situações de comunicação e dos projetos de fala pode ser reunida e apresentada em forma de texto, esse texto, ao apresentar constantes, permite a classificação em gêneros textuais. 3.6 Modos de organização do discurso Charaudeau faz distinção entre os tipos de textos – publicitário, didático, jornalístico, literário, etc. – e os modos de organização do discurso – narrativo, descritivo, argumentativo e enunciativo. Ou seja, enquanto para ele, os modos se referem a diferenças estruturais e são baseados na organização interna do texto, tendo em vista função típica de cada um, os tipos equivalem a um ramo da atividade humana, não podendo estar dissociados da situação comunicativa (extratextual). Tipos e gêneros textuais diferem, embora estejam envolvidos numa relação de parte e todo, já que cada tipo abriga certo número de gêneros textuais. Em outras palavras, os gêneros são subcategorias dos tipos. É por esse motivo que o tipo de texto literário, por exemplo, inclui os chamados gêneros literários. Fizemos aqui a opção por trabalhar com o modo de organização descritivo e com o narrativo, tendo em vista que eles contemplam as estratégias argumentativas que permeiam esta análise discursiva. Reconhecendo que há uma intima ligação entre descrição e narração, abordaremos aqui as especificidades desses modos de organização. É importante lembrar que um texto é sempre heterogêneo, do ponto de vista de sua organização. Ele depende, por um lado, da situação de comunicação a qual e para qual foi concebido e, por outro lado, das diversas ordens de organização do discurso que foram utilizadas para construí-lo (CHARAUDEAU, 2010, p. 109, grifos do autor). Enquanto a situação de comunicação está vinculada ao contrato e direciona a finalidade do texto, o modo de organização do discurso se utiliza das categorias da língua e o gênero do texto baseia sua finalidade nos interesses em jogo na situação de comunicação. 3.6.1 Modo de organização descritivo Charaudeau (2010), comparando as atividades de linguagem de descrever e contar, revela que, Enquanto contar consiste em expor o que é da ordem da experiência e do desenvolvimento das ações no tempo, e cujos protagonistas são seres humanos, descrever consiste em ver o mundo com o “olhar parado” que faz existir os seres ao nomeá-los, localizá-los e atribuir-lhes qualidades que os singularizam. Entretanto, descrever está estreitamente ligado a contar, pois as ações só têm sentido em relação às identidades e às qualificações de seus actantes (CHARAUDEAU, 2010, p. 111). Essas três ações (nomear, localizar e qualificar) compõem o modo de organização descritivo, sendo ao mesmo tempo autônomas e indissociáveis. Ao nomear, o sujeito falante faz com que um ser exista, reconhecendo tanto as diferenças quanto as semelhanças com os outros seres. É uma forma de classificação que marca o “poder” que o sujeito tem em construir e estruturar uma visão de mundo. Charaudeau resume em que consiste a atitude de descrever, da seguinte forma: Descrever consiste, então, em identificar os seres do mundo cuja existência se verifica por consenso (ou seja, de acordo com os códigos sociais). No entanto, essa identificação é limitada, e mesmo coagida pela finalidade das Situações de comunicação nas quais se inscreve, e relativiza, tornando-se até mesmo subjetiva, pela descrição do sujeito descritor (CHARAUDEAU, 2010, p. 113, grifos do autor). O exemplo a seguir, extraído da Notícia 1 (ver Anexo 1), apresenta o secretário de Saúde fazendo o uso da ironia para relacionar a função por ele desenvolvida e sua formação. + Eu queria chamar à atenção do professor de história/ secretário de saúde de Itabuna/ Geraldo Magela/ que veio assim como se fosse a salvação da lavoura/ foi recebido com fogos de artifício/ com folguedos... pra resolver a questão da saúde itabunense que estava na UTI e/ até agora ‘necas de pitibiribas’/// Localizar é situar o lugar que o ser ocupa e o quanto depende desse lugar e tempo, onde está para sua própria existência. O exemplo seguinte, extraído da Notícia 5 (Anexo 5), mostra como a localização de tempo e lugar na votação, serve ao objetivo de evidenciar a eleição do prefeito como Judas do ano, pela terceira vez. + Prefeito de Itabuna/ Capitão Azevedo do DEM/ o DEM é o mesmo partido do Demostenes/ né? Do que tá envolvido com Carlinhos Cachoeira? O homem do... O rei do dos [sic] caça-níqueis e do videopocke [sic] / foi escolhido o Judas do ano ao receber 43 das citações de candidatos a traidor de 2012// Até as 23 horas e 47 minutos/ de ontem/ de sexta pra sábado/ Ele teve quase o dobro do segundo votado/ o 2º mais votado/ Justificativa mais recente para explicar a indicação de Azevedo é que ele teria/ no entendimento dos comentaristas votantes/ traído os mais de 52.000 eleitores/ ao não cumprir promessas de campanha/ o prefeito itabunense é eleito, aliás o Judas pelo 3º ano seguido pelo site viu? Para Charaudeau (2010, p. 115), qualificar significa atribuir, explicitamente, uma qualidade que caracteriza e especifica um ser e revela o imaginário e a visão de mundo do sujeito falante: A descrição pela qualificação pode ser considerada a ferramenta que permite ao sujeito falante satisfazer seu desejo de posse do mundo: é ele que o singulariza, que o especifica, dando-lhe uma substância e uma forma particulares, em função da sua própria visão das coisas, visão essa que depende não só de sua racionalidade, mas também de seus sentidos e sentimentos. O exemplo a seguir, retirado da Notícia 4 (Anexo 4), mostra como o sujeito falante revela sua visão sobre a qualidade no serviço de transporte público, ao descrever os veículos utilizados. + E ainda tem gente que diz: Ah! Itabuna tem ônibus novo/ Ônibus novo uma ova!// Os carros quando não prestam em Porto Seguro/ vem pra aqui/ quando não presta em Salvador vem pra aqui// carrinhos/ parece uma lata de sardinha Em resumo, os componentes da organização descritiva do discurso são assim apresentados por Charaudeau (2010, p. 117, grifos do autor): - O componente nomear, que faz com que um “ser seja”, suscitando procedimentos de identificação. - O componente localizar, que faz com que um “ser esteja” (isto é, esteja em algum lugar, em determinado momento), suscitando procedimentos de construção objetiva do mundo. - O componente qualificar, que faz com que um “ser seja alguma coisa” (através de suas qualidades e comportamentos), suscitando procedimentos de construção ora objetiva, ora subjetiva do mundo. E servem ao texto em variadas funções: seja para fazer conhecidas ou reconhecidas as identidades, que auxiliem na compreensão do fato ou argumentações; seja para construir uma visão de verdade, evidenciando marcas verificáveis; seja para explicar, contar, partilhar experiências ou mesmo incitar. Assim, é importante notar que essa descrição pode ser subjetiva e representar o estado de espírito do sujeito falante; a situação é descrita a partir de sua opinião, emoções, sentimentos. Em outras palavras, além de satisfazer a necessidade de informação do ouvinte, a maneira como a notícia é apresentada no programa “Na boca do povo”, é uma estratégia de captar, seduzir o ouvinte, instaurando um jogo cujas regras são: “Eu te seduzo e te informo, você me escuta”. 3.6.2 Modo de organização narrativo A princípio, é importante considerar que contar vai além de descrever, uma vez que Charaudeau explica as condições para a existência de uma narrativa da seguinte forma: Para que haja narrativa, é necessário um “contador” (que se poderá chamar de narrador, escritor, testemunha, etc.), investido de uma intencionalidade, isto é, de querer transmitir alguma coisa (uma certa representação da experiência de mundo) a alguém, um “destinatário” (que se poderá chamar de leitor, ouvinte, espectador, etc.), e isso, de uma certa maneira, reunindo tudo aquilo que dará um sentido particular a sua narrativa. Evidentemente, não estão excluídas dessa intencionalidade todas as significações não conscientes das quais o contador poderá ser o portador involuntário (CHARAUDEAU, 2010, p. 153, grifos do autor). É preciso considerar ainda que para contar é preciso que o fato já tenha acontecido, é sempre algo do passado. Por outro lado, ao contar, faz-se surgir outro universo, o universo contado. Ao descrever, o sujeito pode assumir o papel de observador, mostrando conhecimento sobre o assunto e capacidade para apresentar elementos ao fato, identificando, nomeando e classificando, agregando para si a imagem de sábio. Isso pode ser evidenciado neste trecho extraído da Notícia 1 (Anexo 1) + Dados atualizados já registraram 593 casos de dengue entre 1º de janeiro e 1º de março/ dois meses/ pouco mais de 60 dias/ porque fevereiro foi de 29/// Mas, o sujeito, ao narrar, torna-se uma testemunha, revela a experiência vivida, os seus atos, como nos mostra o exemplo retirado da Notícia 2 (Anexo 2): + Da licitação/ da limpeza pública/ Ùeu comprei o edital / Úpaguei acho que 500 reais fizeram um edital / calçaram o edital pra pra pra [sic] “Marquise” ganhar e eu disse na TVi22, na época eu apresentava o “Comando Geral”, eu disse na TVi que a licitação era carta marcada. Comprei o edital, levei para o promotor Clodoaldo Anunciação, eu disse: doutor/ esse edital é carta marcada/ quem vai ganhar a licitação é a “Marquise”. 22 TVi – TV Itabuna: http://www.tvitabuna.com.br/ TV paga com programação local, disponível também pelo Assim, ao utilizar o modo de organização narrativo, o locutor traz ao discurso uma flexibilidade de fala que possibilita uma dinâmica maior ao discurso e agrega a presença das vivências próprias, antes individuais agora socializadas. 3.7 Estratégias complementares Lochard e Boyer (1998) apresentam, no Capítulo 6 de La communication médiatique, as restrições e estratégias utilizadas no discurso informativo. A informação, como se sabe, tem lugar de destaque no discurso midiático, por ser uma necessidade do público, assim a oferta de informações no rádio, serve para captar audiência. Mas é importante considerar que a informação disponível nas rádios é limitada, restrita, pelos acordos implícitos pela política editorial, os critérios de noticiabilidade (como proximidade e atualidade), pelas prioridades e censura que ocorre na própria emissora. Assim, para captação (sedução, neste caso de ouvintes) e para dar credibilidade às notícias, se faz necessário o uso de estratégias complementares Quel que soit type d'événements (rapportés ou provoqués), la mise en discours de l'information donne lieu, toujours selon l'analyse de Charaudeau, au développement de deux types de stratégies discursives visant à conférer une crédibilité à l 'instance de production informative, tout en lui maintenant un certain pouvoir de séduction (LOCHARD ; BOYER, 1998, p. 33)23. Em resumo, enquanto as estratégias de credibilidade agregam à notícia um efeito de verdade e autenticidade, por trazer em si a possibilidade de verificação, as estratégias de sedução proporcionam ao ouvinte um espetáculo baseado em suas emoções, por meio de um efeito de ficção, dramatização. Essas estratégias discursivas se apresentam no texto radiofônico de diversas formas, nem sempre sendo possível, ao ouvinte, identificar com clareza a verdade da dramatização. 23 Qualquer tipo de evento (relatado ou provocado) a verbalização de informações dá origem, de acordo com a análise proposta por Charaudeau, ao desenvolvimento de dois tipos de estratégias discursivas para dar ao mesmo tempo, credibilidade ao processo de produção informativa e manutenção de um certo poder de sedução (tradução livre). 4. ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO DO SUJEITO ENUNCADOR Apresentamos, neste capítulo, a importância da informação para a captação e fidelização dos ouvintes, as características do ambiente físico e social que envolve os atos de comunicação que compõem o corpus, a instância de produção, fornecendo e incentivando o consumo das informações e as estratégias discursivas que atuam nesse processo. Os comportamentos textuais ou estratégias utilizadas pelo ser de fala, Sujeito Enunciador (EUe) e a maneira como a relação de troca entre o sujeito falante e o interlocutor se define (características físicas, identitárias e contratuais), são apresentadas aqui por meio da reafirmação teórica e apresentação de exemplos extraídos do corpus. 4.1 O rádio e a informação A informação no rádio é um importante fator de aproximação entre locutor e ouvinte, e, embora a voz seja o elemento da linguagem radiofônica mais utilizado quando se trata de notícias, o corpus torna evidente que é possível agregar a música, o silêncio e os efeitos sonoros, sem que haja prejuízo em relação à credibilidade do que está sendo dito e favorecendo a compreensão dos fatos e a construção de imagens a partir de estímulos sonoros mais variados. Para Charaudeau (2006), o rádio une as características da oralidade, da sonoridade e da transmissão direta para criar duas cenas de fala: descrição e explicação. No que concerne à descrição dos acontecimentos, o ouvinte, que não dispõe de imagens, as reconstitui graças a seu poder de sugestão, de evocação, favorecendo uma reconstrução imaginada livre, com o auxílio de associações pessoais (o que não é o caso da televisão que mostra, e, portanto, impõe). No que concerne à explicação, o ouvinte, que não dispõe do suporte escrito que lhe permite fazer um vai-vem em sua leitura, deve pôr em funcionamento um tipo de compreensão particular que se baseia numa lógica “de justaposição” (bem diferente daquela da leitura) pelo fato de que o desenvolvimento explicativo do discurso não pode proceder, como na escrita, por subordinação e encaixe de argumentos (CHARAUDEAU, 2006, p. 108). Assim, verificamos que o locutor pode assumir diversos papéis, como o papel daquele que informa. Vale lembrar que quando falamos em informação jornalística entendemos que ela está presente em diversos formatos de programas e não apenas naqueles essencialmente noticiosos, a exemplo dos radiojornais: A informação radiofônica aparece como algo fluido e flexível, um todo dentro da sucessão de mensagens radiofônicas diárias, não é algo isolado dentro da programação, com horário mais ou menos fixo e duração determinada. (ANGEL, ano apud ORTRIWANO, 1985, p. 89) A informação veiculada no rádio possui características próprias, embora o conteúdo seja o mesmo apresentado por outros meios de comunicação. É o meio interferindo na mensagem, que precisa se adequar à linguagem disponível (radiofônica). Na tentativa de responder à questão “o quê é notícia?”, Parada (apud Boyd, 2000, p. 23-27) apresenta os critérios de noticiabilidade, ao descrever os elementos das “grandes notícias”: proximidade, relevância, imediatismo, interesse, drama, entretenimento, hora certa, emergências, denúncias, atos do governo, conflitos e debates, saúde, reclamações de ouvintes, dá pra resolver, previsão do tempo, esportes, transito e estradas – a notícia será o fato que é de interesse do ouvinte, observando a relevância, as questões nas quais ele está inserido, uma vez que o que é informado deve ter utilidade, do contrário pode abalar a credibilidade do locutor e consequentemente a sua audiência. Assim, a história contada, apresentando seus contos dramáticos, sem contudo faltar com a veracidade dos fatos, é apresentada como um fator positivo. Mais que isso, que o ouvinte busca mais que apenas assuntos “sérios”, ele quer companhia, quer saber a hora certa, o que está acontecendo no momento, quer poder participar, fazer denúncias, saber e entender o que as autoridades estão ou deveriam estar fazendo; ele quer ouvir opiniões de diversos especialistas, ainda que gere debate ou levante polêmicas. Informações sobre o tempo, esportes e as campanhas de saúde, orientação sobre prevenção e cuidados com as doenças são sempre bem-vindas, além de propostas para resolução de problemas sociais. Neste estudo, o “texto” selecionado para análise apresenta os seguintes enfoques: A. A Notícia 1 (Anexo 1) – aborda uma questão de saúde pública, especificamente o aumento dos casos de dengue no município; B. A Notícia 2 (Anexo 2) – Aborda a questão da limpeza pública, especificamente o valor pago pela coleta de lixo e a insatisfação em relação ao serviço prestado; C. A Notícia 3 (Anexo 3) – aborda a questão do transporte público, especificamente o valor cobrado, a tarifa. D. A Notícia 4 (Anexo 4) – aborda a questão da preservação do patrimônio público e a função da guarda municipal. E. A Notícia 5 (Anexo 5) – aborda uma eleição popular realizada via internet. Esses critérios, entretanto, estão subordinados àquelas pessoas que têm o poder de selecionar. Assim, “a notícia sofre uma série de triagens, em que os critérios de seleção reais estão voltados em primeiro lugar para os aspectos jurídicos, políticos e econômicos” (ORTRIWANO, 1985, p. 105, grifo nosso). Além disso, observamos que o discurso informativo no rádio tem privilegiado a voz em detrimento dos outros elementos da linguagem radiofônica, pois, como afirma Baumworel (2005, p. 343), “alguns temem que a utilização de recursos como a música, o silêncio ou os efeitos sonoros no jornalismo possa prejudicar a credibilidade da mensagem”, contudo, “o rádio informativo também pode causar uma verdadeira emoção estética, se reutilizar a linguagem radiofônica como um autêntico instrumento de comunicação e expressão” (BAUMWOREL, 2005, p. 345). O locutor faz uso de todos os elementos da linguagem radiofônica para informar: a voz – alta, baixa, grave conforme requeria mensagem dada; a música – como BG ou em “sob som”, dando ideia de passagem, causando tensão; o efeito sonoro – “batida do martelo”, quase uma assinatura do locutor, uma marca; e o silêncio – fazendo refletir. Assim, o Sujeito Enunciador (EUe) pode assumir também o papel daquele que comenta. Isso porque a função de comentar fica a cargo, teoricamente, de um jornalista especializado no tema abordado, uma vez que é o “dizer” do comentarista que revelará a linha editorial do programa. Embora, na prática, nem sempre aconteça dessa forma24. Em outras palavras, “cabe-lhe a interpretação dos fatos da atualidade para que o ouvinte possa compreendê-los melhor, ou, então, a emissão de opiniões sobre esses fatos. Deve abordar os assuntos mais importantes, improvisando suas falas” (ORTRIWANO, 1985, p.102). Existe ainda a possibilidade de o locutor assumir outro papel, o daquele que cobra uma atitude. Há na fala do locutor um claro chamamento para resolução das questões que afligem o público ouvinte, que teoricamente representa o povo ou a sua parcela menos favorecida e sem condições de por si só, garantir seus direitos. Assim, o locutor se coloca no lugar de “amigo” e “porta-voz do povo”, para representá-lo, para falar diretamente às autoridades competentes e “exigir” delas atitude. E isso de forma aparentemente destemida, uma vez que reconhece os riscos de sua atitude (fala): - Notícia 2 (Anexo 2) + Quer me processar? Me processe! Eu estou me borrando de medo de vocês// + Tô descendo 2 horas/ tô descendo 2 horas// Não adianta me ligar/ me ameaçar/ vai me pegar? Tô me borrando de medo de vocês// É possível verificar, também, que falam por meio do discurso radiofônico diversos sujeitos da linguagem, conforme sugere o modelo de análise proposto por Patrick Charaudeau. Esses sujeitos, uma vez identificados, levam a uma compreensão mais alargada do dizer, cujas intencionalidades, o discurso radiofônico, ora esconde, ora revela. 24 Na prática, as rádios possuem cada vez menos pessoas desempenhando uma quantidade maior de papéis. Ocorre que o mesmo locutor apresenta e comenta notícias sem que haja uma “capacitação prévia” para isso. Assim, fica evidente que o locutor traz em sua fala diversas outras, determinadas pela linha editorial do veículo em que trabalha, colocando-se para o ouvinte como uma espécie de representante, assumindo a condição de porta-voz – da empresa que representa ou do público ouvinte, conforme a conveniência ou a situação. Isso, parecenos, revela que o lugar do sujeito no ato de linguagem não é pré-determinado ou fixo. 4.2 O ambiente Quanto ao ambiente físico e social que envolve os atos de comunicação analisados, podemos destacar as seguintes características: I) Físicas – os parceiros: • Uma vez que os atos de comunicação ocorrem através de um meio de comunicação de massa, o rádio, os parceiros não estão fisicamente presentes – um em relação ao outro, embora o programa analisado seja apresentado ao vivo e permita a participação, em tempo real, via telefone, por exemplo; • O locutor é um, mas não é único, uma vez que representa falas de ouvintes e personalidades do meio político; além da fala gravada em voz distorcida, de autoria desconhecida, que dialoga com o locutor durante a apresentação do “Na boca do povo”. O ouvinte, embora tenha assegurada sua “presença” (voz) individual, por meio da participação sempre creditada, representa o coletivo: é a fala de alguém do povo, buscando simbolizar o pensamento do povo – intencionalmente ou não, estabelecese uma representação. Cabe ressaltar que essa intenção refere-se tanto a de representar quanto a de se fazer representado. Mesmo havendo a possibilidade do indivíduo que não se vê representado pela opinião dada requerer a palavra e utilizar sua própria voz para emitir uma opinião própria, ele estará limitado ao tempo destinado ao programa e/ou ao tempo destinado à fala de ouvintes. Por outro lado, sabe-se que, por esse mesmo motivo, é impossível que todos os ouvintes tenham oportunidades de fala em um mesmo programa radiofônico, o que ressalta a ideia de representação, ainda que haja na fala do ouvinte a declaração de ideia própria e não coletiva; • Não poderíamos dizer que os parceiros estão dentro de uma mesma área geográfica, embora as notícias analisadas deem conta de fatos ocorridos na cidade de Itabuna-BA, uma vez que a rádio está disponível via internet, podendo ser ouvida de qualquer lugar do mundo, havendo também a possibilidade de interação. Entretanto, no período analisado, as participações foram creditadas a pessoas da referida região; • O ato de comunicação ocorre de forma indireta, já que acontece por meio do rádio, é media; já que os sujeitos envolvidos não estão face a face; • O canal é oral e o código semiológico utilizado é composto por voz, música, efeito sonoro e silêncio. II) Identidade dos parceiros: • Sociais: 1) Gerdan Rosário é jornalista, crítico e polêmico, já apresentou programas em diversas TVs e rádios. E tem como marca reconhecida o uso de frases feitas, linguagem cotidiana e popular. O público que participa do programa refere-se a ele com frequência para pedir ajuda; ocorre também debates por telefone quando as opiniões são divergentes; 2) Não havendo pesquisas de audiência disponíveis, na região, agrupamos, grosso modo, os ouvintes em i) simpatizantes do grupo político ligado à rádio; ii) não simpatizantes; e iii) aqueles que não possuem posição política definida e estão em busca de informação. Participam do programa, geralmente por meio de ligação telefônica, para fazer denúncias e cobrar, dos governantes, solução para os problemas (geralmente do bairro onde moram). III) Contratuais • O contrato, conforme dito anteriormente, admite troca. Ou seja, locutor e ouvinte têm reconhecido o seu direito à fala. Para o locutor, esse direito é reconhecido mais amplamente tendo em vista que cabe a ele informar, apresentar os temas, fazer argumentações, críticas, cobranças. É preciso destacar, mais uma vez, que essa fala está pautada pelos interesses da emissora. O ouvinte pode participar via telefone, email, visita aos estúdios e, de maneira mais indireta, por meio de sua audiência. A sua participação é permitida e mediada pelo locutor, que determina o tempo e o tema a ser abordado. Ao ouvinte, reserva-se o direito de sugerir pautas e emitir opinião sobre os temas apresentados. Há, portanto, uma hierarquia na fala; • Assim, como não há a presença física dos parceiros num mesmo ambiente, o locutor não tem a percepção imediata das reações do seu público, exceto quanto alguém o representa por meio da participação (ao vivo – telefone, ou posterior, por e-mail, por exemplo). Dessa forma, o locutor organiza sua fala para que ela seja compreensiva, da maneira como acredita que seu público imaginário a compreenderia e faz uso de música, efeito sonoro e simula diálogo para alcançar este fim. 4.3 A instância de produção Charaudeau (2006) apresenta dois papéis para a instância de produção, foco desta análise: fornecer informação e incentivar o consumo das informações, necessitando, para alcançar essa finalidade, organizar o conjunto do sistema de produção e da enunciação discursiva da informação. A produção da comunicação midiática é uma entidade composta que compreende vários atores: os da direção do organismo de informação que cuidam da saúde econômica da empresa e de sua organização competitiva; os da programação, ligados aos precedentes de maneira a fazer com que as informações escolhidas tenham um certo sucesso junto ao público; os da redação das notícias e os operadores técnicos, que escolhem tratar a informação conforme sua linha editorial. Todos contribuem para fabricar uma enunciação aparentemente unitária e homogênea do discurso midiático, uma coenunciação, cuja intencionalidade significante corresponde a um projeto comum a esses atores e do qual se pode dizer que, por ser assumida por esses atores, representa a ideologia do organismo de informação (CHARAUDEAU, 2006, p. 76). Assim, caberiam ao jornalista duas funções: i) de “pesquisador-fornecedor”, aquele que coleta, trata e transmite a notícia; ii) de “descritor-comentador”, que pode ser facilmente observada no “texto”, uma vez que o locutor, Sujeito Enunciador (EUe), faz uso de textos extraídos de outros meios de comunicação, como jornais impressos e blogs, para apresentar, por meio da leitura e comentários do que está sendo dito, a notícia. Quando se trata de fornecer informação, a questão central está no tratamento que se dá às fontes de informação, uma vez que essa atitude determinará a imagem do veículo de comunicação. Quando se trata de descrever e comentar, o perigo é tender para cientificidade, historicidade ou didática. Corre-se o risco também de, na tentativa de elaboração de um discurso que possa ser compreendido de maneira rápida, o jornalista se coloque como mero fornecedor de informação, esquecendo-se da sua função de comentar. Em nome da credibilidade, o jornalista se coloca como simples fornecedor de informação, simples mediador entre os acontecimentos do mundo e sua encenação pública, assumindo-se como a testemunha mais objetiva possível. Noutras vezes, porém, ele se apresenta como “revelador da informação oculta e, nesse sentido, assume o papel de adversário dos poderes instituídos e de aliado do público, procedendo a interrogatórios, instruindo questões, aspirando papéis de juiz ou de detetive” [...] Em outros momentos o jornalista se apresenta como intérprete dos acontecimentos, buscando-lhes as causas e situando-os. (CHARAUDEAU, 2006, p. 78, grifos do autor). É importante notar que ao exercer suas duas funções básicas, “pesquisadorfornecedor” e “descritor-comentador”, o jornalista naturalmente alterna sua “performance”, atuando de diferentes formas conforme a intencionalidade de sua fala. Se ele tenta agir de modo uniforme, tende a produzir um discurso enfadonho e ineficaz. 4.4 As estratégias Charaudeau (1992, p. 760) considera um “efeito de ficção”, a ocorrência de uma narrativa finita, que possibilita uma visão da totalidade dos acontecimentos, impossível na vida real, que estabelece uma visão subjetiva do mundo. Por sua vez, o “efeito de realidade” resultaria de uma soma de fatores que levam à construção de uma visão objetiva do mundo, um consenso social, marcado pelo que pode ser percebido, sendo passível de verificação, parte da experiência. Os efeitos de real e os efeitos de ficção podem ser identificados no texto radiofônico em diferentes combinações, embora seja identificado normalmente como gênero jornalístico, que se define pela “objetividade”. O efeito de real convida e cativa o ouvinte, que reconhecendo no texto radiofônico a cidade em que vive, torna-se parte, vê-se envolvido. Por outro lado, o efeito de ficção o “prende”, por se figurar como alternativa para idealizar um real diferente, construído a partir deste que aí está. Em outras palavras, o locutor fará uso de estratégias diferenciadas, ora com foco na credibilidade, objetivando e apontando o que pode ser verificado, ora estará focado na captação, fazendo uso do humor, polemizando, abrindo espaço para as emoções, mas sempre a partir de um fato. Assim, o Sujeito Enunciador cria um universo de discurso, um ambiente marcado pela tensão, identificada pela escolha e uso do BG em tempo integral, apelo à tomada de decisão marcada pelo uso da batida do martelo; vinculação do uso da batida do martelo ao sob som do BG, criando um espaço de silenciamento da voz, mas não do discurso. É possível verificar também o uso da voz na estratégia de tensão por meio das diferentes entonações utilizadas e o uso da elevação da voz na cobrança por atitude. Não se pode negar, porém, que a chamada para avaliar os fatos apresentados é feita também por meio de frases inacabadas e silêncios. Há ainda o uso do humor e das chamadas “frases feitas” para atrair o ouvinte. Para dar ao seu “texto” credibilidade, o locutor analisa a situação da cidade e apresenta a “Itabuna dos sonhos” a partir das suas experiências. Nesse ambiente, é possível conhecer e reconhecer fatos do cotidiano da cidade onde o ouvinte (imaginário) mora, ele tem a opção de comprovar os fatos, são próximos a ele, o toca, o atinge, relaciona-se com seu cotidiano. O locutor, então, dá um passo além da apresentação da informação, ele comenta os fatos e se posiciona diante deles, admitindo os riscos desse ato, mas o faz na tentativa de ser reconhecido como representante do povo diante do seu público. A partir daí, ele cobra dos responsáveis, atitudes. A combinação dos efeitos de real e de ficção caracteriza o contrato global de real proposto pelo Sujeito Enunciador. No programa “Na boca do povo”, são trazidas de outros meios de comunicação informações transformadas em notícias. Há fontes confiáveis e verificáveis, como jornais impressos e blogs ou mesmo o ouvinte, representante do público, que liga e dá com sua própria voz, as informações. Há, contudo, a simulação de diálogo, feita por meio da gravação de voz e recursos sonoros, e o próprio locutor atribui voz, inventa falas. Embora esses recursos sejam utilizados “sem máscaras”, sabe-se ser ficcional, não deixa de ser uma estratégia para aproximar o ouvinte e levá-lo a uma compreensão de real global e não apenas das partes reconhecidamente reais. Como vimos no Capítulo 1, no Subtítulo 1.3, na página 16, que caracteriza a transcrição, foi desenvolvido um modelo próprio de transcrição, com o objetivo de destacar no “texto” as estratégias utilizadas pelo locutor para atrair e fidelizar o público; o recurso sublinhado é utilizado para destacar, dentro do diálogo transcrito, o que se deseja evidenciar: + Hoje a equipe do Jornal Nacional está às voltas na cidade e o secretário José Alencar está tentando explicar o inexplicável// aliás/ vai vir aqui amanhã/ se tiver coragem/ se vestir calça de macho/ ele vai vir aqui amanhã/ Se vestir calça de macho, vai vir aqui amanhã// (Notícia 2, Anexo 2) Apresentamos, a seguir, análise em treze categorias que demonstram a encenação discursiva, destacando em cada uma delas uma estratégia de linguagem utilizada, comprovada por meio de exemplo: A. Apresenta a informação – o locutor divulga dados e cita fontes sobre questões de interesse da população. Esta é uma importante estratégia para atrair e fidelizar ouvintes, já que agrega credibilidade à fala. - Notícia 1 (Anexo 1) + Dados atualizados já registraram 593 casos de dengue entre 1º de janeiro e 1º de março/ dois meses/ pouco mais de 60 dias/ porque fevereiro foi de 29/// + Deste ano/ meu amigo// Em 2011 foram registrados 57 notificações/// - Notícia 2 (Anexo 2) + Hoje/ aliás ontem/ que não pra minha surpresa/ mas pra surpresa de alguns itabunenses desavisados/ o Jornal Nacional deu destaque/ dizendo que Itabuna é suja// Notícia 5 (Anexo 5) + Prefeito de Itabuna/ capitão Azevedo do DEM/ o DEM é o mesmo partido do Demostenes/ né? Do que tá envolvido com Carlinhos Cachoeira? O homem do... O rei do dos Caça níqueis e do videopocke/ foi escolhido o Judas do ano ao receber 43 das citações de candidatos a traidor de 2012// Até as 23horas e 47 minutos/ de ontem/ de sexta pra sábado/ ele teve quase o dobro do segundo votado/ o 2º mais votado/ Justificativa mais recente para explicar a indicação de Azevedo é que ele teria/ no entendimento dos comentaristas votantes/ traído os mais de 52 mil eleitores/ ao não cumprir promessas de campanha/ o prefeito itabunense é eleito aliás o Judas pelo 3º ano seguido pelo site, viu? B. Uso de frases feitas, de domínio popular – o locutor faz uso, com frequência, de frases que são utilizadas pelo público ouvinte, que fazem parte do seu universo discursivo. Esta é uma estratégia de aproximação, já que toma por empréstimo uma fala que já é do público e a “devolve” diluída em sua própria fala. Apontamos aqui, também, breve possibilidade interpretativa para as frases utilizadas pelo locutor. Notícia 1 (Anexo 1) + Eu queria chamar a atenção do professor de História/ secretário de saúde de Itabuna/ Geraldo Magela/ que veio assim como se fosse a salvação da lavoura... A expressão “A salvação da lavoura” é nacionalmente conhecida, muito utilizada na região talvez devido a crise na lavoura cacaueira que servia de base para economia local. No contexto, podemos apontar como significado a solução emergencial para crise. + foi recebido com fogos de artifício/ com folguedos... pra resolver a questão da saúde itabunense que estava na UTI e/ até agora necas de pitibiribas/// O termo neca vem do latim nec, e equivale a nada, não. Pitibiribas é tipicamente brasileiro. A expressão é usada comumente para designar nada ou coisa alguma. + “Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu”// Esta é uma das expressões mais utilizadas pelo locutor quando quer demostrar sua indignação frente à aparência de bondade dos políticos e à realidade vivida pelos menos favorecidos. Notícia 2 (Anexo 2): + Tem gente que gosta / até se engasga / mas eu não tomo sopa de letra pra não comer “h”// Expressão utilizada para fazer referência ao fato de não se deixar enganar por ninguém. + “pobre/ pobre/ pobre de marré marré marré deci” Parte da cantiga popular infantil, tem sido utilizada para expressar pobreza quase que absoluta: muito, muito pobre. Ù eu não passo manteiga no focinho do gato/ Esta expressão tem sido associada à mudança de pensamento, já que, de acordo com o senso comum, deve-se passar manteiga no focinho do gato, durante uma mudança, para que ele esqueça o cheiro da casa velha e consiga se adaptar a uma nova residência. O locutor faz uso também de outras frases, aparentemente feitas por ele, repetidas continuamente, exemplo: + Compra uma esteira e passa o fim de semana com ele/ + Não tenho o rabo preso com sacripanta nenhum/ eu tenho dito aqui, há dois anos, que existe uma máfia no lixo/ que existe um operador no lixo/ Notícia 3 (Anexo 3): + Itabuna cara tá no rabo da piaba // + Tem um operador do sistema/ que leva todo mês uma quantia/ e o povo dançando o melô do Titanic// Notícia 4 (Anexo 4): + mas não leva o povo no bico como se fosse cegonha// C. Insere voz gravada para simular diálogo – o locutor utiliza o recurso técnico de uma voz gravada e distorcida para “dialogar” com ele durante o programa. Esta é uma estratégia de atração de fidelização do ouvinte, já que dá um leve tom de humor e ironia ao programa. Notícia 2 (Anexo 2) + Eu tô dizendo isso há dois anos/ Eu tô dizendo isso há dois anos! E dizendo que Itabuna é suja/ que Itabuna, o lixo é caro/ que Itabuna, não se tem responsabilidade com relação ao aterro sanitário/ que o chorume do lixo é jogado no Rio Colônia// u “E ele é tão bom!” + Compra uma esteira e passa o fim de semana com ele/ u “O que é isso rapaz?” + E a esteira só serve se for de tábua// + e o vento da Globo sempre sopra na tesouraria da casa// e eu não quero tratar a notícia como notícia econômica/ quero tratar como notícia jornalística// o lixo de Itabuna, além de ser um lixo ruim/ uma coleta horrível/ uma cidade suja/ fétida// Ainda tem coisas piores/ existe um operador do lixo de Itabuna/ e pasmem os senhores/ a metade é desviada// u “Que é isso rapaz?” + Quer me processar? Me processe! Eu estou me borrando de medo de vocês// u “Eu não aguento mais”/ Notícia 3 (Anexo 3) + E ainda tem gente que diz: Ah! Itabuna tem ônibus novo/ Ônibus novo uma ova!// Os carros quando não prestam em Porto Seguro/ vem pra aqui/ quando não presta em Salvador vem pra aqui// carrinhos/ parece uma lata de sardinha// u “E é assim?” + É assim, sim senhor, e você sabe que é assim e tem uma caixa preta no transporte// u “Eu não aguento mais”// + Tem um operador do sistema/ que leva todo mês uma quantia/ e o povo dançando o melô do Titanic// D. Fala de si, partilha experiência Notícia 2 (Anexo 2) + Olha/ nós temos falado aqui quase que diariamente e eu sou crítico ferrenho/ eu sou crítico ferrenho... Quando da publicação do edital/ + E quando eu falo/ ah! Esse cara grita demais/ Esse cara é grosseiro/ bate o martelo// bate o martelo uma ova!// Eu quero que vocês escutem a verdade/ que vocês insistem em colocá-las embaixo do tapete/ Itabuna volta a ser objetivo de matéria em rede nacional e novamente Ùde forma negativa// Notícia 5 (Anexo 5) + Se eu fosse eleito Judas do rádio eu estaria com a cara no esgoto! Eu ia embora/ pegava minha mala e me picava/ E. Avalia a situação da cidade, expõe sua visão de mundo – o locutor expressa sua opinião sobre o tema abordado fazendo uma avalição sobre a situação da cidade, expondo sua opinião. É uma estratégia que contribui para a fidelização do ouvinte já que o locutor se apresenta como alguém que capaz de apresentar e sustentar sua opinião, a partir das notícias apresentadas. Notícia 2 (Anexo 2) + Eu tô dizendo isso há dois anos/ Eu tô dizendo isso há dois anos! E dizendo que Itabuna é suja/ que Itabuna, o lixo é caro/ que Itabuna, não se tem responsabilidade com relação ao aterro sanitário/ que o chorume do lixo é jogado no Rio Colônia// + Mais uma vez/ meus amigos e minhas amigas/ Itabuna aparece na mídia/ na grande mídia/ como problema/ não como/ como/ como solução// + Outro dia mostramos o salário do prefeito de Itabuna/ é maior do que o governador// que a educação de Itabuna é combalida/ os professores ganham mal/ que a saúde não existe// as pessoas esperam horas a fios para medir uma pressão arterial/ não é essa cidade que a gente quer pra viver/ Não é essa cidade que a gente quer criar os nossos filhos ÙNão é essa cidade Úque deveria ser uma cidade cidadã// + E quando eu falo/ ah! Esse cara grita demais/ Esse cara é grosseiro/ bate o martelo// bate o martelo uma ova!// Eu quero que vocês escutem a verdade/ que vocês insistem em colocá-las embaixo do tapete/ Itabuna volta a ser objetivo de matéria em rede nacional e novamente Ùde forma negativa// + Não tenho o rabo preso com sacripanta nenhum/ eu tenho dito aqui há dois anos que existe uma máfia no lixo/ que existe um operador no lixo/ Atenção, senhores promotores/ tem promotoria no Brasil inteiro só não tem em Itabuna// Tô dizendo aqui que o lixo é caro/ Itabuna gasta mais de um milhão de reais/ e a cidade é suja/ a cidade é imunda/ a cidade é fétida// + que, aliás, deveria ser o destino final do lixo/ que, aliás, deveria a prefeitura fazer uma campanha para separar o lixo: vidro é vidro/ lixo orgânico é orgânico/ papel é papel/ plástico é plástico/ ÙMas não fazem! Porque não querem gastar/ porque o saco desta gente não tem fundo e o lixo/ pasmem meus amigos de Itabuna/ é um dos lixos mais caros do Brasil// + e o vento da Globo sempre sopra na tesouraria da casa// e eu não quero tratar a notícia como notícia econômica/ quero tratar como notícia jornalística// o lixo de Itabuna além de ser um lixo ruim/ uma coleta horrível/ uma cidade suja/ fétida// Ainda tem coisas piores/ existe um operador do lixo de Itabuna/ e pasmem os senhores/ a metade é desviada// + Esta é a verdade nua e crua/ Itabuna tem um lixo caro e a cidade é suja// F. Expressa o que acredita que pensam dele – o locutor atribui fala a outras pessoas para retratar o que acredita que pensam dele: uma pessoa grosseira, crítica e interessada em tirar proveito financeiro por meio do que diz. Notícia 2 (Anexo 2) + E quando eu falo/ Ah! Esse cara grita demais/ Esse cara é grosseiro/ bate o martelo// bate o martelo uma ova!// Eu quero que vocês escutem a verdade/ que vocês insistem em coloca-las embaixo do tapete/ Itabuna volta a ser objetivo de matéria em rede nacional e novamente Ùde forma negativa// + Sabe o que é que eles fazem?/ Eles mandam me criticar// +++ “ele quer dinheiro/ eu não vou dar dinheiro não”// Me respeite! // G. Cobra atitude – o locutor, após apresentar a notícia, coloca-se na posição de defensor do povo e cobra das autoridades competentes, a resolução das questões. Notícia 1 (Anexo 1) + E eu gostaria de poder chegar aqui e dizer: Olha, Itabuna não tem dengue / Também Itabuna... // Cadê os ...os agentes, né?... não são agentes? Cadê? / + Cadê o fumacê? / Notícia 2 (Anexo 2) + Hoje a equipe do Jornal Nacional está às voltas na cidade e o secretário José Alencar está tentando explicar o inexplicável// Aliás/ vai vir aqui amanhã/ se tiver coragem/ se vestir calça de macho/ ele vai vir aqui amanhã/ Se vestir calça de macho, vai vir aqui amanhã// + Não tenho o rabo preso com sacripanta nenhum/ eu tenho dito aqui há dois anos que existe uma máfia no lixo/ que existe um operador no lixo/ Atenção senhores promotores/ tem promotoria no Brasil inteiro só não tem em Itabuna// Tô dizendo aqui que o lixo é caro/ Itabuna gasta mais de um milhão de reais/ e a cidade é suja/ a cidade é imunda/ a cidade é fétida// Notícia 3 (Anexo 3) + Eu queria chamar atenção do Ministério Público/ Aliás, tem promotor de Justiça no Brasil inteiro, só não tem em Itabuna// ou se tem faz de conta que tem/ ou se tem dá o ouvido de mercador, porque tem uma planilha/ viu, doutor promotor? O senhor é advogado do povo/ o senhor é pago pra issoÙo senhor é pago pra isso// Notícia 4 (Anexo 4) + Polícia neles!// + Polícia né... Cadê a Guarda Municipal? Pra que que serve a Guarda Municipal? É pra ficar na porta do gabinete? Guarda Municipal é pra ficar tomando conta do patrimônio público/ porque tá no estatuto da guarda// quantos guardas tem em Itabuna? + Quanto a prefeitura paga de folha pro pros guardas? Que não tem culpa/ ele tem que ser escalado para lá/ Ora/ + Então vamos botar lá// quem é o chefe da guarda?/ + Quem é o comandante da guarda?/ + Vamos botar mais guarda municipal lá 24 horas/ para poder inibir a ação de vândalo/ porque a guarda é pra isso// agora não pode porque/ por questões sei lá/ de economia/ por questões de apadrinhamento não colocar a guardar pra tomar conta da quadra/ tá lá a quadra abandonada// + eu queria pedir ao senhor prefeito/ + eu sei que o senhor não joga bola/ mas tem gente que quer jogar bola// como é que vai combater a violência? Não adianta falar em combater a violência se nós não temos condições pra pra pra [sic] apresentar a essas crianças/ pra esses jovens/ adolescentes// é instrumento para que não deixe que eles migrem pra pra [sic] violência. + A quadra de esporte do... de onde mesmo? Do Monte Cristo/ tá abandonada/ prefeito/ se o senhor não pode recuperar/ se a prefeitura é “pobre/ pobre/ pobre de marré deci”/ que eu não acredito nisso/ H. Faz denúncias – o locutor parece reagir ao que vê acontecendo na cidade e ao que sabe (as notícias apresentadas) e faz denúncias. Notícia 1 (Anexo 1) + Porque a saúde de Itabuna está agonizando/ Aliás, a saúde do Brasil e Itabuna não é diferente/// + Dados atualizados já registraram 593 casos de dengue entre 1º de janeiro e 1º de março/ dois meses/ pouco mais de 60 dias/ porque fevereiro foi de 29/// + Deste ano/ meu amigo// Em 2011 foram registrados 57 notificações/// Notícia 2 (Anexo 2) + e o vento da Globo sempre sopra na tesouraria da casa// e eu não quero tratar a notícia como notícia econômica/ quero tratar como notícia jornalística// o lixo de Itabuna além de ser um lixo ruim/ uma coleta horrível/ uma cidade suja/ fétida// Ainda tem coisas piores/ existe um operador do lixo de Itabuna/ e pasmem os senhores/ a metade é desviada// Notícia 3 (Anexo 3) + Vô/ ó// Eu tive na Alemanha/ nós estamos em 2012? Em 2009/ eu cruzei a Alemanha toda de trem-bala/ de metrô/ paguei 60 centavos de euro// aqui você desce... cê [sic] pega aqui no/ no/ no aqui no canal e desce na rodoviária/ paga 2,20// Não tem tarifa diferenciada// os ônibus ambulantes// sujas/ fétidas/ uma vergonha// são verdadeiras ratoeiras + E ainda tem gente que diz: Ah! Itabuna tem ônibus novo/ Ônibus novo uma ova!// Os carros quando não prestam em Porto Seguro/ vem pra aqui/ quando não presta em Salvador vem pra aqui// carrinhos/ parece uma lata de sardinha I. Faz provocações, incita – o locutor, parece querer incitar, fazendo provocações. Ele deixa questões em aberto que parecem necessitar de uma resposta, deixando para aqueles a quem se refere, a decisão de responder ou não. Notícia 1 (Anexo 1) + Eu não sei quem é o padrinho do senhor/ Eu não sei quem indicou o senhor/ + Eu queria saber do senhor/ se o senhor tem conhecimento dos dados da SESAB/ Secretária de Saúde do Estado da Bahia?/// Notícia 2 (Anexo 2) + Quer me processar? Me processe! Eu estou me borrando de medo de vocês// + Tô descendo duas horas/ tô descendo duas horas// Não adianta me ligar/ me ameaçar/ vai me pegar? tô me borrando de medo de vocês// Notícia 3 (anexo 3) + Eu queria falar rapidinho aqui/ daqui a pouco eu vou conversar com a Associação dos Deficientes Visuais de Itabuna/ aliás,/ vitória ontem na assembleia/ hein? Até o deputado cara de pau Ronaldo Carleto votou a favor// + Ficou com medo de perder os votos dos ceguinhos/ rapaz/ ano eleitoral/né? + Mas não tem Ministério Público/ viu Promotor// vê lá a planilha/ Vai ao ar um estudo mais detalhado. A passagem de Itabuna devia custar hoje 1,60/ devia custar 1,60/ mas prefeito não anda de ônibus/ prefeito não anda de ônibus/ vereador não anda de ônibus// + Vereador não anda de ônibus// Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu// Notícia 4 (Anexo 4) + Ô prefeito vem cá/ deixa eu falar com o senhor/ rapaz/ + O senhor sabe onde fica o Monte Cristo? O senhor conhece o Monte Cristo? Sabe? Se não sabe me pergunte que eu digo onde é/ Hein, prefeito? O senhor sabe onde fica o Monte Cristo? O senhor mora em Itabuna ou mora na lua? Se mora na lua, se precisar de um binóculo eu empresto para o senhor// + Agora/ que é uma baita sacanagem/ é// Quanto custa fazer uma quadra? Não é fazer porque a quadra tava lá/ a quadra foi feita com o dinheiro do povo// + Vem aqui na Difusora/ viu? Que eu faço uma campanha/ consigo aí 10 sacos de cimento/ consigo aí umas latas de tinta/ consigo uns alambrados e a gente conserta essa joça// Notícia 5 (Anexo 5 ) + O senhor foi eleito pela 3ª vez Judas do ano/ que vergonha hein? Eu vou ler rapidinho aqui... Viu Barroso? + Que vergonha, hein, prefeito? Que vergonha hein? Se eu fosse prefeito de uma cidade/ eu contrataria uma equipe de marqueteiro pra ver a minha posição diante da população// Porque ser eleito/ já pensou se eu fosse eleito Judas do rádio? Hein, Fábio? Hein, Fábio? + Agora ser eleito Judas do ano pela 3ª vez... Ô o senhor não presta/ ô o povo que votou não sabe votar/ né? Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu// J. Atribui voz a ouvinte imaginário – o locutor simula diálogo com ouvinte imaginário atribuindo-lhe um discurso, na tentativa (estratégia) de passar a ideia de conversa com o público. Noticia 4 (Anexo 4) ++ “Ah! Gerdan/ mas a população/ os vândalos quebraram”// ++ “ó Gerdan, no bairro tal/ nós temos mais violência/ no bairro tal/ mais vândalo/ no bairro tal os vândalos quebram a quadra”/ L. Atribui fala a autoridades – o locutor atribui um discurso às autoridades de quem cobra atitude. Há aqui o uso da ironia e do humor, como estratégia de fidelização. Notícia 4 (Anexo 4) + Então o senhor vem pra cá/ pedi ajuda aqui// +++ “ó Gerdan, me ajude/ eu sou um prefeito pobre/ eu não sei muito administrar a cidade/ eu tenho muito assessor preguiçoso/ eu tenho muito fantasma na prefeitura/ eu não consigo administrar/ me ajude Gerdan a recuperar a quadra” M. Mescla a notícia com o comentário – o locutor, ao mesmo tempo em que apresenta notícias, comenta os fatos, sem clara distinção entre o que ocorreu e sua opinião. Notícia 1 (Anexo 1) + Porque a saúde de Itabuna está agonizando/ Aliás, a saúde do Brasil e Itabuna não é diferente/// + No mesmo período/ e os dados são alarmantes// Enquanto tem gente aí preocupado com o telefone que não foi aberto/ numa entrevista pra perguntar ao deputado se gostava ou não de Geraldo/ se gostava de Azevedo/ se gosta de Roberto/ de de de [sic] Rui Machado/ não sei... Itabuna tem casos Ùmais sérios/// + Meus amigos/ existem mais de dois mil pneus amontoados lá lá lá [sic] n’ADEI, pneus velhos... Não sei pra que/ Acumulando água, servindo de criadouros/ de foco pra dengue...// + Considerando que em fevereiro tivemos 29 dias/ nós temos 59 dias/ menos que dois meses/ quando, no mesmo período no ano passado, tivemos 57 casos/ 900% de aumento/ Isso é assustador!// Notícia 5 (Anexo 5) + Prefeito de Itabuna/ Capitão Azevedo do DEM/ o DEM é o mesmo partido do Demostenes/ né? Do que tá envolvido com Carlinhos Cachoeira? O homem do... O rei do dos caça-níqueis e do videopocke [sic]/ foi escolhido o Judas do ano ao receber 43 das citações de candidatos a traidor de 2012// Até as 23 horas e 47 minutos/ de ontem/ de sexta pra sábado/ ele teve quase o dobro do segundo votado/ o 2º mais votado/ Justificativa mais recente para explicar a indicação de Azevedo é que ele teria/ no entendimento dos comentaristas votantes/ traído os mais de 52 mil eleitores/ ao não cumprir promessas de campanha/ o prefeito itabunense é eleito, aliás, o Judas pelo 3º ano seguido pelo site viu? N. Se coloca como porta-voz do povo – o locutor assume o papel de porta-voz do povo e, em primeira pessoa, fala “no lugar” do povo. Notícia 1 (Anexo 1) + Eu queria chamar a atenção do professor de História/ secretário de saúde de Itabuna/ Geraldo Magela/ que veio assim como se fosse a salvação da lavoura/ foi recebido com fogos de artifício/ com folguedos... pra resolver a questão da saúde itabunense que estava na UTI e/ até agora ‘necas de pitibiribas’/// + Eu queria saber do senhor/ se o senhor tem conhecimento dos dados da SESAB/ Secretária de Saúde do Estado da Bahia?/// + E aí eu queria saber do senhor secretário/ que o senhor é empregado do povo/ o senhor recebe salário do povo... Porque Ùo prefeito também é empregado do povo. O que é que Itabuna está fazendo de fato e de direito pra amenizar a questão da dengue nessa cidade// + Aí eu pergunto: Cadê o Ministério Público/ Ù cadê o promotor de Justiça?/// + Que não vê isso. Ah! Gerdan, mas o promotor precisa ser provocado. Pronto, eu tô provocando a Promotoria agora/ + ÙEu Gerdan Rosário, em carne e osso, tô dizendo: Ùdoutor! /// Demostramos aqui o uso de estratégias que permeiam todo o discurso radiofônico analisado e que são utilizadas na tentativa de captação e fidelização do público ouvinte. Com graus maiores ou menores de consciência por parte do locutor e dos ouvintes, essas estratégias compõem o universo discursivo na rádio e servem tanto aos interesses da linha editorial da emissora quanto à necessidade de entretenimento e informação do público. CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos a pesquisa Por trás da voz: análise sobre um discurso radiofônico, explicando que o título se refere à intenção de revelar outras possiblidades de fala, no rádio, além da voz, bem como evidenciar estratégias de fala aparentemente ocultas, diluídas no meio da notícia. Para isso, apresentamos o percurso metodológico que seria utilizado, por meio do detalhamento dos motivos que levaram à escolha do programa “Na boca do povo”, veiculado pela Rádio Difusora de Itabuna AM 640 KHz, e a utilização do programa Audacity 1.3 Beta, para realizar as gravações da apresentação de notícias. Apresentamos, ainda, a necessidade de desenvolvimento de um modelo próprio de transcrição e o descrevemos. Uma vez descritos os materiais e métodos utilizados na pesquisa, lançamos um breve olhar sobre a história do rádio, a partir de momentos como a possibilidade de uso de publicidade na programação e a chegada da televisão no Brasil, enfocando a importância destes períodos para o desenvolvimento de um modo próprio de dizer, uma linguagem radiofônica. Quanto às notícias veiculadas pelas rádios, vimos que nem sempre estão agrupadas num mesmo programa de formato clássico, como rádio jornal ou rádio documentário, uma vez que elas podem permear os mais diversos formatos e estilos de programação, como é o caso das notícias analisadas. Mas, seja pelo cumprimento da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962, que institui o Código Brasileiro de Telecomunicações e determina, no Capítulo V, que “as emissoras de radiodifusão, [...] deverão cumprir sua finalidade informativa, destinando um mínimo de 5% (cinco por cento) de seu tempo para transmissão de serviço noticioso”, seja como estratégia de captação e fidelização de ouvintes, a oferta de notícias no rádio é uma constante. Tendo conhecido as singularidades do rádio e como é constituído o seu discurso, tornou-se imperativo compreender as bases teóricas analítico-discursivas propostas por Charaudeau a partir de 1983, que enxerga o homem como um ser de discurso. Esta visão nos direcionou à definição de ato de linguagem, como um duplo objeto constituído tanto explicitamente, por aquilo que manifesta, quanto implicitamente, possibilitando, por meio das circunstâncias de comunicação, uma multiplicidade de sentidos. Em seguida, fomos levados a lançar um novo olhar sobre os sujeitos da linguagem – Destinatário (TUd), Interpretante (TUi), Enunciador (EUe) e Comunicante (EUc) – e os lugares por eles ocupados no contrato de comunicação, que é uma espécie de parâmetro, estabelecido socialmente, daquilo que se pode esperar; são as expectativas que surgem de cada situação de comunicação. Naquela oportunidade, ressaltamos que o contrato de comunicação só pode ser efetivado quando o Sujeito Comunicante (EUc) tem seu direito de fala reconhecido pelo Sujeito Interpretante (TUi), quando ele (EUc) se faz conhecer. A partir daí, passamos a enxergar a fala enquanto encenação discursiva, e sublinhamos a finalidade do ato de comunicação como base para organização do discurso do sujeito falante, apresentamos os modos de organização do discurso, destacando o modo descritivo – suscitando procedimentos de identificação, procedimentos de construção objetiva e/ou subjetiva do mundo – e o narrativo – quando lembramos que, para contar, é preciso que o fato já tenha acontecido e que, ao contar, faz-se necessário surgir um outro universo, o universo contado – e evidenciamos, ainda, as estratégias complementares para captação e fidelização de ouvintes. Ademais, destinamos espaço para considerar as restrições impostas pela linha editorial da emissora e os artifícios utilizados por elas para seduzir os ouvintes. Nesse ponto, a importância da informação para as rádios foi sublinhada, e as características do ambiente físico e social que envolve os atos de comunicação na apresentação de notícias no programa “Na boca do povo”, foram destacadas. Por fim, fizemos uso de treze categorias de análise: 1) apresenta a informação; 2) uso de frases feitas de domínio popular; 3) insere voz gravada para simular diálogo; 4) fala de si, partilha experiência; 5) avalia a situação da cidade, expõe sua visão de mundo; 6) expressa o que acredita que pensam dele; 7) cobra atitude; 8) faz denúncias; 9) provoca, incita; 10) atribui voz a ouvinte imaginário; 11) atribui fala a autoridades; 12) mescla a notícia com o comentário; 13) coloca-se como porta-voz do povo – utilizadas pelo locutor, para demonstrar como a instância de produção cumpre seu duplo papel de fornecer e de incentivar o consumo de informações por ela produzidas, e as estratégias discursivas que atuam nesse processo, independentemente do nível de consciência que locutor e ouvintes tenham delas. Assim, o estudo mostrou que, além da voz, outros elementos da linguagem radiofônica compõem o discurso radiofônico, dando forma às estratégias de sedução utilizadas pelo locutor. Esta análise discursiva mostrou ainda a importância que o locutor adquire para os ouvintes, por ser uma fonte de informação. Isso porque as notícias são comprováveis pela verificação visual, já que se trata de fatos da cidade, bairro ou comunidade, ou consultando a fonte, já que ela é revelada (site, blogs, jornais impressos). A pesquisa é concluída com a comprovação que, nos excertos da apresentação de notícias do Programa “Na boca do Povo”, estão embutidas na notícia, por meio de comentários, provocações e denúncias, etc., a vinculação da imagem daquele que fala (Sujeito Enunciador – EUe) e a obtenção dos serviços que aquele que ouve necessita. Quando destacamos que esse fenômeno é atemporal e pode ser constatado em outras emissoras da cidade, região ou mesmo do país, estamos, em outras palavras, dizendo que a voz radiofônica na notícia política ressalta a subjetividade do locutor, que acaba por revelar as implicações políticas que norteiam a linha editorial da emissora que a veicula. REFERÊNCIAS ALVES, Rosental Calmon. Radiojornalismo e a linguagem coloquial. In: MEDITSCH, Eduardo (org.). Teorias do Rádio. Vol. I. Florianópolis: Insular, 2005. AQUINO, Ramiro. De tabocas a Itabuna: 100 Anos de Imprensa. Itabuna: Agora, 1999. BALSEBRE, Armand. A linguagem radiofônica. In: MEDITSCH, Eduardo (org.). Teorias do rádio – textos e contextos vol.1. Florianópolis, Insular, 2005. BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. 2ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2009. BAUMWORCEL, Ana. Armand Balsebre e a teoria expressiva do rádio. In: MEDITSCH, Eduardo (org.). Teorias do rádio – textos e contextos vol.1. 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TÉCNICA ÁUDIO Música + Eu queria chamar a atenção do professor de história/ suspense/tensão em secretário de saúde de Itabuna/ Geraldo Magela/ que veio BG durante toda a assim como se fosse a salvação da lavoura/ foi recebido apresentação com fogos de artifício/ com folguedos... pra resolver a notícia da questão da saúde itabunense que estava na UTI e/ até agora ‘necas de pitibiribas’/// + Eu não sei quem é o padrinho do senhor/ Eu não sei quem indicou o senhor/ + ÙEu não sei de quem o senhor é operador// + Porque a saúde de Itabuna está agonizando/ Aliás, a saúde do Brasil e Itabuna não é diferente/// + Então eu queria saber do senhor/ se o senhor tem conhecimento dos dados da SESAB/ Secretaria de Saúde do Estado da Bahia?/// + Dados atualizados já registraram 593 casos de dengue entre 1º de janeiro e 1º de março/ dois meses/ pouco mais de 60 dias/ porque fevereiro foi de 29/// + Deste ano/ meu amigo// Em 2011 foram registrados 57 notificações/// + No mesmo período/ e os dados são alarmantes// Enquanto que tem gente aí preocupado com o telefone que não foi aberto/ numa entrevista pra perguntar ao deputado se gostava ou não de Geraldo / se gostava de Azevedo/ se Sob som - música gosta de Roberto/ de de de [sic] Rui Machado/ não sei... Itabuna tem casos Ùmais sérios/// + E aí eu queria saber do senhor secretário/ que o senhor é empregado do povo/ o senhor recebe salário do povo... Porque Ùo prefeito também é empregado do povo. O que Sobe som – música é que Itabuna está fazendo de fato e de direito pra amenizar a questão da dengue nessa cidade// + Meus amigos/ existem mais de dois mil pneus amontoados Sob som – música lá na na n’ADEI [sic], pneus velhos... Não sei pra quê/ Acumulando água, servindo de criadouros/ de foco pra dengue...// + Aí eu pergunto: Cadê o Ministério Público?/ Ù cadê o promotor de Justiça?/// Sob som – música + Que não vê isso. Ah, Gerdan, mas o promotor precisa ser provocado. Pronto eu tô provocando a Promotoria agora/ + ÙEu Gerdan Rosário em carne e osso tô dizendo: ÙDoutor! /// Efeito sonoro - + Aliás, na minha terra doutor era penico/ Minha avó dizia: “Ô Batida de martelo menino, pega esse doutor embaixo da cama que eu quero beber água”/ + Minha vó dizia isso na roça/// Sob som – música + Eu queria chamar a atenção do promotor de Justiça/ Por que que não vê isso/ Itabuna não tem lugar pra internar gente com dengue/ os hospitais tão Ùlotados/ As pessoas tão Sob som - música morrendo de dengue. E a prefeitura// + Porque eu não queria falar de prefeito, mas como não falar de prefeito se ele é responsá [sic]...// se ele é a Ùautoridade máxima administrativa da cidade/ + Prefeito, tapa nas costas e dente aberto não é bem-querer/ E o senhor sabe o que é bem-querer?/ Se o senhor não estudou muito, vá no Dicionário Aurélio que o senhor sabe Efeito sonoro – o que é bem-querer/ É preciso ter coragem para dizer a batida de martelo verdade// Itabuna atravessa uma fase agonizante/ (2x) complicada/ vexatória, e é preciso que alguém faça alguma coisa, e esse secretário... secretário Geraldo Magela /// + O senhor realmente.../// + O senhor realmente...// como dizia minha avó: assim também é demais também// + Itabuna tem / meus amigos / 593 casos de dengue Ùregistrados, oficializados cadastrados na SESAB/ Secretaria de Saúde do Estado da Bahia / isso de Ù 1º de janeiro a 1º de março / + Considerando que em fevereiro tivemos 29 dias/ nós temos 59 dias/ menos que dois meses/ quando no mesmo período no ano passado tivemos 57 casos/ 900% de aumento / Isso é assustador!// + E eu gostaria de poder chegar aqui e dizer: Olha, Itabuna não tem dengue/ Também Itabuna...// Cadê os ...os agentes né?... não são agentes? Cadê?/ + Cadê o fumacê?/ ++ Ah! Mas não tem óleo diesel. Não tem o o o [sic] não tem o veneno que mata mosquito // + “Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu” // Anexo 2. Transcrição da notícia - Programa “Na boca do povo”, Rádio Difusora de Itabuna AM 640 KHz, dia 12.04.2012. TÉCNICA ÁUDIO Música + Eu não tomo sopa de letra pra não comer “h”/ suspense/tensão em BG durante toda a apresentação da notícia Efeito sonoro batida de martelo – + Tem gente que gosta/ até se engasga/ mas eu não tomo sopa de letra pra não comer “h”// + Olha/ nós temos falado aqui quase que diariamente, e eu sou crítico ferrenho/ eu sou crítico ferrenho... Quando da publicação do edital/ 2x - Efeito sonoro – + Da licitação/ da limpeza pública/ Ùeu comprei o edital/ batida de martelo Úpaguei acho que 500 reais, fizeram um edital / calçaram o edital pra pra pra pra [sic] Marquise ganhar e eu disse na TVi , na época eu apresentava o “Comando Geral”, eu disse na TVi que a licitação era carta marcada. Comprei o edital, levei para o promotor Clodoaldo Anunciação, eu disse: Doutor/ esse edital é carta marcada/ quem vai ganhar a licitação é a Efeito sonoro batida de martelo – Marquise. + “Pobre/ pobre/ pobre de marré marré marré deci”/ Tarso Jereissati/ e disse até que o operador era Sérgio Pessoa e que tava tudo certo para que ele ganhasse a licitação e que Itabuna Efeito sonoro batida de martelo – tinha o lixo mais caro do Brasil// ÙPague os senhores! + Eu tô dizendo isso há dois anos/ ÙEu tô dizendo isso há dois anos! E dizendo que Itabuna é suja/ que Itabuna o lixo é caro/ que Itabuna não se tem responsabilidade com relação ao Efeito sonoro batida de martelo Efeito sonoro batida de martelo – aterro sanitário/ que o chorume do lixo é jogado no Rio Colônia// – u “E ele é tão bom!” + Compra uma esteira e passa o fim de semana com ele/ u “O que é isso rapaz?” + E a esteira só serve se for de tábua// + Hoje/ aliás, ontem/ que não pra minha surpresa/ mas pra surpresa de alguns itabunenses desavisados/ o Jornal Nacional deu destaque/ dizendo que Itabuna é suja// + Mais uma vez/ meus amigos e minhas amigas/ Itabuna aparece na mídia/ na grande mídia/ como problema/ não como/ como/ como solução// + Outro dia mostramos o salário do prefeito de Itabuna/ é maior do que o governador// que a educação de Itabuna é combalida/ os professores ganham mal/ que a saúde não Efeito sonoro batida de martelo – existe// as pessoas esperam horas a fios para medir uma pressão arterial/ não é essa cidade que a gente quer pra viver/ Não é essa cidade que a gente quer criar os nossos filhos ÙNão é essa cidade Úque deveria ser uma cidade cidadã// + E quando eu falo/ Ah, Esse cara grita demais!/ Esse cara é grosseiro/ bate o martelo// bate o martelo uma ova!// Eu quero que vocês escutem a verdade/ que vocês insistem em colocá- Efeito sonoro batida de martelo Efeito sonoro batida de martelo Efeito sonoro – las embaixo do tapete/ Itabuna volta a ser objetivo de matéria em rede nacional e novamente Ùde forma negativa// – + Hoje a equipe do Jornal Nacional está às voltas na cidade e o secretário José Alencar está tentando explicar o – inexplicável// Aliás/ vai vir aqui amanhã/ se tiver coragem/ batida de martelo + Se vestir calça de macho/ ele vai vir aqui amanhã/ + Se vestir calça de macho vai vir aqui amanhã// Ù Eu não passo manteiga no focinho do gato/ Efeito sonoro batida de martelo – + Não tenho o rabo preso com sacripanta nenhum/ eu tenho dito aqui há dois anos que existe uma máfia no lixo/ que existe um operador no lixo/ Atenção, senhores promotores/ tem Efeito sonoro – promotoria no Brasil inteiro só não tem em Itabuna// Tô batida de martelo Efeito sonoro dizendo aqui que o lixo é caro/ Itabuna gasta mais de um – milhão de reais/ e a cidade é suja/ a cidade é imunda/ a cidade batida de martelo Efeito sonoro batida de martelo Efeito sonoro batida de martelo é fétida// – + Sabe o que é que eles fazem?/ Eles mandam me criticar// – +++ “Ele quer dinheiro/ eu não vou dar dinheiro não”// Me respeite! // + Vagabundos! // + Cidade é suja, sim/ e a Globo só vai mostrar hoje a noite o Efeito sonoro batida de martelo – que nós estamos dizendo na imprensa há dois ou três anos/ e não é só eu não/ a imprensa toda dessa cidade/ a imprensa que se respeita/ que faz jornalismo sério está dizendo aos quatro Efeito sonoro batida de martelo – cantos de Itabuna/ que Itabuna tem problemas sérios e um deles é o lixo// hoje/ a equipe do JN que eu digo que a Globo é o 4º poder/ está às voltas/ tentando vê se acha um aterro Efeito sonoro batida de martelo – sanitário/ + que aliás deveria ser o destino final do lixo/ que aliás deveria a prefeitura fazer uma campanha pra pra separar o lixo: vidro é vidro/ lixo orgânico é orgânico/ papel é papel/ Efeito sonoro batida de martelo – plástico é plástico/ ÙMas não fazem! +Porque não querem gastar/ porque o saco desta gente não tem fundo e o lixo/ pasmem meus amigos de Itabuna/ é um dos lixos mais caros do Brasil// + E amanhã/ depois que o Brasil inteiro tomar conhecimento Efeito sonoro batida de martelo – do que a gente está dizendo há três anos/ que essa licitação/ Aliás, a Globo não vai falar sobre isso// que a Globo não mete a mão/ o braço na cumbuca alheia/ apesar de ser um fato jornalístico a Globo não vai emitir opinião porque a Globo sempre foi murista/ a Globo ela/ ela gosta de de andar onde o 2x - Efeito sonoro – vento sopra/ batida de martelo + e o vento da Globo sempre sopra na tesouraria da casa// e eu não quero tratar a notícia como notícia econômica/ quero tratar como notícia jornalística// o lixo de Itabuna, além de ser um lixo ruim/ uma coleta horrível/ uma cidade suja/ fétida// Ainda tem coisas piores/ existe um operador do lixo de Itabuna/ e pasmem os senhores/ a metade é desviada// u “Que é isso rapaz?” + ÙQuer me processar? Me processe! Eu estou me borrando de medo de vocês// u “Eu não aguento mais”/ + Tô descendo duas horas/ tô descendo duas horas// Não adianta me ligar/ me ameaçar/ vai me pegar? Tô me borrando de medo de vocês// + Esta é a verdade nua e crua/ Itabuna tem um lixo caro e a cidade é suja// Anexo 3. Transcrição da notícia - Programa “Na boca do povo”, Rádio Difusora de Itabuna AM 640 KHz, dia 11.04.2012. TÉCNICA ÁUDIO Música + Eu queria falar rapidinho aqui/ daqui a pouco eu vou suspense/tensão em conversar com a Associação dos Deficientes Visuais de BG durante toda a Itabuna/ Aliás/ vitória ontem na Assembleia/ hein? Até o apresentação da deputado/ até o deputado cara de pau Ronaldo Carleto votou a notícia favor// Efeito sonoro – batida de martelo + Ficou com medo de perder os votos dos ceguinhos/ rapaz/ ano eleitoral/né? + Eu não conheço um dono de ônibus pobre/ você conhece? + Eu não conheço um dono de ônibus pobre/ eu não conheço// eu trabalhei no sistema três anos// compra carro com o dinheiro do FAT/ com o dinheiro do BNDES/ pagam com três/ quatro anos/ prestações suaves/ não tem SERASA para Efeito sonoro – dono de ônibus/ cobra passagem cara e vende à vista// batida de martelo + Estão todos de barriga cheia/ cê [sic] puxa a chupeta ele Efeito sonoro – chora como se fosse um menino/ de barriga cheia/ chorão// batida de martelo + Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu// + Eu queria chamar atenção do Ministério Público/ Aliás tem promotor de Justiça/ eu soube que os promotores tão retados comigo/Tô me borrando de medo de você/ tem promotor no Brasil inteiro só não tem em Itabuna// ou se tem faz de conta que tem/ ou se tem dá o ouvido de mercador porque tem uma planilha/ viu doutor promotor? O senhor é advogado do povo/ 2x - Efeito sonoro – o senhor é pago pra isso batida de martelo Ùo senhor é pago pra isso// + Uma planilha há na mão do prefeito Capitão Azevedo/ onde os empresários querem reajuste da tarifa/ eles mandaram para lá uma tarifa/ uma planilha/ aliás, pedindo reajuste para 2,70// Como é que pode/ rapaz? Mais de um dólar! Passagem em Itabuna vai custar 1 euro// como diz o europeu: 1 oiro/ 2x - Efeito sonoro – Itabuna, cara, tá no rabo da piaba// batida de martelo + Vô/ ó// Eu tive na Alemanha/ nós estamos em 2012? Em 2009/ eu cruzei a Alemanha toda de trem-bala/ de metrô/ paguei 60 centavos de euro// Aqui você desce... cê [sic] pega aqui no/ no/ no aqui no canal e desce na rodoviária/ paga 2,20// Não tem tarifa diferenciada// os ônibus são verdadeiras 2x - Efeito sonoro – ratoeiras ambulantes// sujos/ fétidos/ uma vergonha/ uma batida de martelo bagunça// + E ainda tem gente que diz: Ah! Itabuna tem ônibus novo/ Ônibus novo uma ova!// Os carros quando não prestam em Efeito sonoro – Porto Seguro/ vem pra aqui/ quando não presta em Salvador batida de martelo vem pra aqui// carrinhos pequenos/ parece uma lata de sardinha u “E é assim?” + É assim, sim senhor e você sabe que é assim e tem uma caixa preta no transporte// Sob som u “Eu não aguento mais”// Efeito sonoro – + Tem um operador do sistema/ que leva todo mês uma batida de martelo quantia/ e o povo dançando o melô do Titanic// + Mas não tem Ministério Público/ viu Promotor// vê lá a Efeito sonoro – planilha/ batida de martelo + Faz um estudo mais detalhado. A passagem de Itabuna devia (2x) custar hoje 1,60/ devia custar 1,60/ mas prefeito não anda de ônibus/ prefeito não anda de ônibus/ vereador não anda de ônibus// + Vereador não anda de ônibus// Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu// Anexo 4. Transcrição da notícia - Programa “Na boca do povo”, Rádio Difusora de Itabuna AM 640 KHz, dia 09.04.2012 - A. TÉCNICA ÁUDIO Música + Ô prefeito vem cá/ deixa eu falar com o senhor/ rapaz/ suspense/tensão em BG durante toda a apresentação da notícia 2x - Efeito sonoro – + O senhor sabe onde fica o Monte Cristo? O senhor conhece batida de martelo o Monte Cristo? Sabe? Se não sabe me pergunte que eu digo onde é/ Hein, prefeito? O senhor sabe onde fica o Monte Cristo? O senhor mora em Itabuna ou mora na lua? Se mora na lua se quiser de um binóculo eu empresto para o senhor// Efeito sonoro – + Agora/ que é uma baita sacanagem/ é// Quanto custa fazer batida de martelo uma quadra? Não é fazer porque a quadra tava lá/ a quadra foi feita com o dinheiro do povo// ++ “Ah! Gerdan/ mas a população/ os vândalos quebraram”// + Polícia neles!// Efeito sonoro – + Polícia né... Cadê a Guarda Municipal? Pra quê que serve a batida de martelo Guarda Municipal? É pra ficar na porta do gabinete? Guarda Municipal é pra ficar tomando conta do patrimônio público/ porque tá no estatuto da guarda// quantos guardas tem em 2x - Efeito sonoro – Itabuna? batida de martelo + Quanto a prefeitura paga de folha pro pros [sic] guardas? Que não tem culpa/ ele tem que ser escalado para lá/ ora/ ++ “ó Gerdan, no bairro tal/ nós temos mais violência/ no bairro tal/ mais vândalo/ no bairro tal os vândalos quebram a Efeito sonoro – quadra”/ batida de martelo + Então vamos botar lá// quem é o chefe da guarda?/ Efeito sonoro – + Quem é o comandante da guarda?/ batida de martelo + Vamos botar mais guarda municipal lá 24 horas/ para poder inibir a ação de vândalo/ porque a guarda é pra isso// agora Efeito sonoro – não pode porque/ por questões sei lá/ de economia/ por batida de martelo questões de apadrinhamento não colocar a guardar pra tomar Efeito sonoro – conta da quadra/ tá lá a quadra abandonada// batida de martelo + eu queria pedir ao senhor prefeito/ + eu sei que o senhor não joga bola/ mas tem gente que quer jogar bola// como é que vai combater a violência? Não adianta falar em combater a violência se nós não temos condições pra pra pra [sic] apresentar a essas crianças/ pra esses jovens/ sob som adolescentes// é instrumento para que não deixe que eles migrem pra pra [sic] violência. + A quadra de esporte do... de onde mesmo? Do Monte Cristo/ tá abandonada/ prefeito/ se o senhor não pode recuperar/ se a Efeito sonoro – prefeitura é “pobre/ pobre/ pobre de marré deci”/ que eu não batida de martelo acredito nisso/ + Vem aqui na Difusora/ viu? Que eu faço uma campanha/ consigo aí dez sacos de cimento/ consigo aí umas latas de tinta/ consigo uns alambrados e a gente conserta essa joça// Efeito sonoro – + E eu não quero ser candidato a nada/ viu? Eu não sou batida de martelo candidato a nada/ Efeito sonoro – + Eu não sou candi... [sic] Eu não quero seu voto/ eu quero é batida de martelo sua audiência + Então o senhor vem pra cá/ pedi ajuda aqui// +++ “ó Gerdan, me ajude/ eu sou um prefeito pobre/ eu não sei muito administrar a cidade/ eu tenho muito assessor Efeito sonoro – preguiçoso/ eu tenho muito fantasma na prefeitura/ eu não batida de martelo consigo administrar/ me ajude, Gerdan, a recuperar a quadra” Efeito sonoro – ÙPeça! batida de martelo + mas não leva o povo no bico como se fosse cegonha/ peça prefeito + mas não leva o povo no bico como se fosse cegonha// Anexo 5. Transcrição da notícia - Programa “Na boca do povo”, Rádio Difusora de Itabuna AM 640 KHz, dia 09.04.2012 - B. TÉCNICA ÁUDIO Música + O senhor foi eleito pela 3ª vez Judas do ano/ que vergonha suspense/tensão em hein? Tá aqui/ Eu vou ler rapidinho aqui viu Barroso? BG durante toda a + Prefeito de Itabuna/ capitão Azevedo do DEM/ o DEM é o apresentação notícia da mesmo partido do Demostenes/ né? Do que tá envolvido com Carlinhos Cachoeira? O homem do... O rei do dos Caça níqueis e do videopocke [sic]/ foi escolhido o Judas do ano ao receber 43 das citações de candidatos a traidor de 2012// Até as 23 horas e 47 minutos/ de ontem/ de sexta pra sábado/ Ele teve quase o dobro do segundo votado/ o 2º mais votado/ Justificativa mais recente para explicar a indicação de Azevedo é que ele teria/ no entendimento dos comentaristas votantes/ traído os mais de 52 mil eleitores/ ao não cumprir promessas de campanha/ o prefeito itabunense aliás é eleito Efeito sonoro – alias o Judas pelo 3º ano seguido pelo site, viu? batida de martelo + Que vergonha, hein, prefeito? Que vergonha, hein? Se eu fosse prefeito de uma cidade/ eu contrataria uma equipe de marqueteiro pra ver a minha posição diante da população// Efeito sonoro – Porque ser eleito/ já pensou se eu fosse eleito Judas do rádio? batida de martelo Hein, Fábio? Hein, Fábio? Efeito sonoro – + Se eu fosse eleito Judas do rádio, eu estaria com a cara no batida de martelo esgoto! Eu ia embora/ pegava minha mala e me picava/ + Agora ser eleito Judas do ano pela 3ª vez... Ô o senhor não presta/ ô o povo que votou não sabe votar/ né? Todo mundo é bom, mas meu chapéu sumiu// Anexo 6 - Programação da Rádio Difusora 25 SEGUNDA A SEXTA HORÁRIO PROGRAMA 4AM - 5AM Despertar da Minha Terra 5AM - 6AM Programa Espírita Guardião das Sete Chaves 6AM - 7AM Esportes em Destaque 7AM - 9AM Panorama 6.4.0 9AM - 12PM Programa Cacá Ferreira 12PM - 12:30PM RD Esportes 12:30PM - 2PM Na Boca do Povo 2PM - 4PM Programa Antônio Carlos 4PM - 6PM O Crime não Compensa 7PM - 8PM A Voz do Brasil (EBC) 8PM - 10PM Bailão Sertanejo 10PM - 11PM A Hora da Vitória 11PM - 12AM Portas de Sião SÁBADO HORÁRIO PROGRAMA 4AM - 6AM Sertanejão RD 6AM - 7AM Esportes em Destaque 7AM - 10AM Panorama 6.4.0 10AM - 12PM Sementes de Luz 12PM - 12:30PM RD Esportes 12:30PM - 2PM Túnel do Tempo 2PM - 3PM Religioso Evangélico 25 Esboço da programação está disponível em http://tunein.com/radio/Rádio-Difusora-640-AM-s155975/ 3PM - 4:30PM Musical RD 4:30PM - 6PM A Hora da Vitória 6PM - 6:30PM A Voz Mariana 6:30PM - 7PM RD Esportes 7PM - 9:30PM Musical Sertanejo/Seresta 9:30PM - 12AM Programa Cristo é a Vitória DOMINGO HORÁRIO PROGRAMA 4AM - 6AM Sertanejão RD 6AM - 7AM Missa Igreja Gorete 7AM - 9AM Flashback 9AM - 7:30PM Esportes na Difusora 7:30PM - 10PM Musical RD 10PM - 12AM Programa Cristo é a Vitória