EVITAR A MORAL? 1 (DESAFIOS PARA A BOA SOCIEDADE) Luiz Antonio de Castro Santos RESUMO Do ponto de vista da construção democrática, as profundas tensões entre a moralidade privada e a moralidade pública não se resolvem pela sobreposição de uma à outra, mas pela eleição de valores de sociabilidade que funcionem como crivo para a escolha e avaliação de condutas. Tais valores retiram sua legitimidade do próprio projeto democrático. O artigo focaliza o prestígio desfrutado pelos economistas e comentaristas econômicos e o modo pelo qual se valem de supostos imperativos técnicos para fugir às proposições da razão prática e da ética pública. Para ações moralmente responsáveis, tanto privadas como públicas, importa menos a intenção moralista de garantir um "bom governo" do que a criação de padrões de convívio que conduzam à formação da boa sociedade. Palavras-chave: moralidade privada; ética profissional; moralidade pública; razão técnica; razão prática; democracia; Brasil. SUMMARY From the perspective of an ideal democracy, the deep tension between private and public morality may not be eliminated by the predominance of either type of morality, but should be managed by the adoption of certain values of sociability, as a base line for the choice and evaluation of human action. Such values take their strength and legitimacy from the idea of democracy. A highly prestigious professional group — economists and economic news commentators — acting allegedly in the name of technical knowledge, fails to observe basic notions of social ethics. Civil servants, politicians, interest groups and professionals should diminish their concern with the technical requirements of "good government", and attempt to generate a public demand for a good society. Keywords: private morality; professional ethics; public morality; technical reason; practical reason; democracy; Brazil. Não acho que eles façam um jogo limpo — comentou Alice em tom de queixa — e discutem de maneira tão medonha que mal se pode ouvir alguém falar [...] e não parecem ter regra nenhuma; pelo menos ninguém segue nada... (1) presente artigo é uma versão revista e resumida de uma palestra que fiz sobre o tema (Programa de Capacitação cm Seguridade Social, UERJ/Dataprev, 1994). Lewis Carroll, Aventuras de Alice no país das maravilhas I Dois fenômenos constituem a peça central da discussão nesta primeira parte: o surgimento, desde o século XVIII, de uma vocação "imoralista" das KAKAKAKAKAK NOVEMBRO DE 1996 77 EVITAR A MORAL? ciências sociais, particularmente da ciência econômica2, e a entrada em cena, a partir da II Guerra, de um ator coadjuvante junto a políticos, secretários de Finanças, ministros de Estado, dirigentes de corporações, governadores e presidentes: o policy adviser, ou consultor de política econômica, responsável pela formulação de modelos e programas de crescimento, diagnósticos e prognósticos sobre a vida econômica de um país etc. Em torno da dupla "Político & Consultor" alguns novos papéis emergiram em décadas mais recentes, como o de comentarista econômico nas TVs, por vezes com maior penetração na opinião pública do que os economistas que tomam decisões. Pode-se dizer que no século XX, após Keynes, a economia conquista posição definitiva de hegemonia diante das outras ciências humanas, fruto de um arsenal metodológico refinado. Esta posição hegemônica encontra acolhida favorável junto à imprensa e à opinião pública, que vêem nos métodos, análises e previsões econômicas o melhor exemplo da racionalidade técnica. O esoterismo da retórica favorece a posição reverente da opinião pública. Diferentemente dos conselheiros do príncipe no passado, o profissional da economia não detém, hoje, um conhecimento que vá da política à astrologia. Seu conhecimento é "funcionalmente específico", mas goza de uma especificidade em tudo diferente daquelas de outros profissionais. Como a economia é a ciência social hegemônica, o "funcionalmente específico" passa a "difuso", permeando todas as áreas da vida pública. O conselheiro moderno faz de sua ciência um instrumento de poder, a serviço do partido político, da corporação, do governo. Esse cenário tem implicações variadas. Em face da hegemonia do discurso econômico, os cientistas sociais (sociólogos, antropólogos) não participam da formulação de políticas cujos resultados extrapolem o campo econômico e institucional das empresas e do governo3. Alguns exemplos bastarão. Que efeitos de longo prazo sobre a população brasileira terá produzido o confisco da poupança imposto pela equipe econômica de Collor? O componente de confiança da sociedade civil nas regras do jogo de uma democracia foi abalado sob o impacto daquela medida "econômica". Outro exemplo mais recente afeta justamente aquele recurso já exaurido do fator confiança. Foi suprema tolice das autoridades monetárias a decisão de cunhar moedas de um real, num país em que coisas reconhecidamente sem valor "não valem um tostão furado". Se o plano econômico do governo Itamar buscava fazer do real uma unidade monetária simbolicamente valorizada, deveria ter reservado apenas aos centavos a forma de moeda. No final da década de 80 e, particularmente, durante a presente década, aqui como no exterior, as preocupações dos intelectuais (incluindo economistas do porte de Albert Hirschman) passaram a focalizar não apenas a razão técnica, instrumental, mas os sentidos da ação, seus princípios — sua razão prática, a phronesis dos gregos (cf. Bellah, 1983). Em outras palavras, está em questão o significado prático daquele conhecimento técnico, a boa deliberação, a prudência, a sabedoria da ação praticada. De onde vem o KKKKKKKKKK 78 NOVOS ESTUDOS N.° 46 (2) A noção de ciência nãomoralista, preocupada com "o que é" e não com o "dever ser", é criticada em artigo de Albert O. Hirschman (1986; cf. p. 124). (3) Refiro-me a cientistas sociais cujos padrões racionais de trabalho não se balizem unicamente na "racionalidade técnica". LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS espaço para o julgamento da razão prática de uma política econômica e do próprio economista? Fundamentalmente, este espaço se formou pelas brechas abertas nos modelos teóricos que falam de mãos invisíveis da história (à esquerda) ou do mercado (à direita). A crise da razão técnica, da téchne, abriu uma fenda no muro das convicções teleológicas. Estão postos em xeque tanto as dimensões positivistas do marxismo como o discurso econômico de direita, que trabalha com reducionismos colossais da vida social à "força do econômico". Abriu-se um espaço para a autonomia do sujeito. A tensão entre moralidade pública e privada, nestes termos, torna-se evidente. A sabedoria na ação, a realização da phronesis aristotélica, significa que, no dia-a-dia de um sujeito, ele terá que assumir posições éticas nos diversos sistemas normativos em que toma parte em sua rede de sociabilidade. Existe um sistema normativo abrangente que dita regras em cada sociedade. Mas há sistemas de moralidade que não são impositivos. Antes propõem do que impõem regras de conduta. Então, a própria idéia de ética como razão prática foge desde logo do discurso do "controle normativo", da rigidez que emana de certas regras hegemônicas ou impositivas. Diferentemente da idéia de ciência, que supõe o comportamento previsível, quando se fala em ética está se falando daquilo que "poderia ser de outro modo", de possibilidades sempre abertas para o sujeito da ação. Nosso cotidiano, desta maneira, nos oferece múltiplas regras de conduta de caráter propositivo. Não se trata, aqui, de discutir critérios de verdade, como no caso do discurso científico, mas critérios de civilidade, que, exatamente por se pautarem em propostas de conduta — o que é ser "civil" ou sociável, quais são as regras elementares da sociabilidade, como levar em conta as expectativas de outrem —, são passíveis de discussão e raramente provocam graves danos a quem os fere. Nem sempre vale o que está escrito. Há regras escritas — como atestam os livros de etiqueta — que não são consensuais e não acarretam danos aos mal-educados. Há normas não-escritas, no entanto, que têm caráter consensual, ainda que restritas a determinados locais. É o caso de certas regras válidas para o trânsito de Brasília: os motoristas locais sabem que ao entrar nas chamadas "rotatórias" devem ceder a vez aos veículos que já as estão percorrendo. Mas basta um carioca alugar um carro em Brasília e aumenta o risco de acidentes nesses locais. O trânsito denota um sistema de moralidade. A civilidade não é um sistema de ação que decorre de modo automático de um sistema mais amplo, no nível da economia ou da política ou do sistema legal. Quando se fala de moralidade pública ou privada, chama-se a atenção para o fato de que um mesmo sujeito da ação pode ser agente de múltiplos sistemas de conduta moral. Como assinala J. A. Giannotti, os indivíduos não são pontos de convergência dos sistemas de moralidade. Ao contrário, são pontos de fuga dos diferentes dispositivos condutores da ação, embutidos nos vários sistemas de regras4. Lembremo-nos do caso do pândego político paulista Ademar de Barros, criador, no imaginário público, do ditado "rouba mas faz". Na acepção dada kkkkkkkkkkkkkkkkkk NOVEMBRO DE 1996 79 (4) Neste tópico a discussão de José Arthur Giannotti (1992) traz esclarecimentos fundamentais. EVITAR A MORAL? por Giannotti, poderíamos dizer que Ademar seria virtuoso no terreno do "o que fazer", mas, talvez, escaparia dos dispositivos morais no plano do "como fazer". Assim, ao construir um hospital, adotaria procedimentos não-éticos na escolha da empresa construtora, como o uso da "caixinha" etc. O exemplo tem outras implicações. T. Nagel (1978) diria que o eleitorado do político paulista diferenciava dois conteúdos da moralidade. O primeiro, centrado em resultados (o "faz", apesar do "rouba"), seria "consequencialista" — requer que o agente adote condutas que promovam os melhores resultados, independentemente dos meios escolhidos. Nessa ética dos fins últimos, o agente pode passar como um trator sobre princípios de vida virtuosos. O roubar não conta. Nem mesmo a morte de civis no Vietnã, lembraria Nagel. Robert McNamara foi premiado com a presidência do Banco Mundial, apesar de sua responsabilidade na condução brutal da política norte-americana no Vietnã. O "bem" que se buscava — a "luta contra o perigo comunista" — era maior do que o mal que se causava aos civis atingidos pelos bombardeios. Outro princípio de conduta enfatiza os aspectos da moralidade centrados na ação, e seus dispositivos referem-se antes ao ponto de vista do ator do que ao ponto de vista impessoal e "consequencialista". Este princípio pressupõe restrições quanto aos meios adotados pelo agente, a escolha responsável dos meios, de tal modo a não violar o direito de outros. Segundo Nagel, às instituições e aos homens públicos aplica-se fundamentalmente o princípio consequencialista, dos resultados. A não ser que o crime seja considerado hediondo pelo público — o que exige, segundo Nagel, a "originalidade" criminosa de um Hitler ou um Stalin —, os homens públicos serão poupados de julgamento pelo segundo princípio, por estarem "moralmente encapsulados em seus papéis" (Nagel, 1978). A idéia central que resulta da discussão anterior é que um sujeito não está confinado ao controle de um sistema de moralidade, mas se defronta, como agente, com múltiplos sistemas. A dualidade proposta por Nagel é válida para uma apreciação dos crimes públicos, mas é menos útil sob o ângulo da sociologia do cotidiano pessoal, que apontaria para uma multiplicidade de espaços de moralidade. Esta noção foi apresentada por Giannotti. Outra noção importante é que não nos colocamos diante dos sistemas de conduta passivamente; nós atuamos sobre eles, modificando seus limites, gerando novas expectativas de conduta moral. Como agir com ética na escolha dos fins e meios? Esta questão é das mais controversas. É claro que somos diretamente afetados pelas normas de cada sistema de ação e podemos simplesmente procurar agir por mimese. Ou podemos agir de modo pragmático e adotar uma ação com base na idéia de que, "naquele contexto, parece a melhor coisa a fazer". Mas podemos ainda eleger certos critérios racionais, lemas do tipo "é necessário construirmos uma sociedade democrática, ou uma boa sociedade", que operem como guias maiores de conduta. Os lemas devem funcionar nos bastidores de nossos processos decisórios, como um vetor que programe possibilidades de ação. Nada disso é simples. Não nos esqueçamos de que, como KAKAKAKAKAKA 80 NOVOS ESTUDOS N.° 46 LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS indica Giannotti, os sistemas "atuam" sobre os sujeitos como pontos de dispersão. As regras nunca são integralmente assumidas e nunca deixamos um sistema moral para entrar noutro sem que o primeiro nos deixe "resíduos" de seus dispositivos. Como situar a economia e os economistas nesse contexto? Albert Hirschman lembra que para a economia clássica não havia necessidade de preocupações de ordem moral, pois o conjunto dos atos econômicos individuais, movidos pelo interesse próprio — mesmo quando diretamente anti-sociais —, no limite acabaria por ordenar a economia e a sociedade. Mesmo os vícios privados poderiam gerar benefícios públicos (Hirschman, 1986, pp. 120-121). Os atos profissionais, diria um liberal, podem mesmo ser conduzidos sem um código de ética, porque, ao fim e ao cabo, os erros de uns poucos serão anulados pelos acertos de muitos, ou porque o mercado acabará deixando os maus profissionais sem clientes. Hirschman diria que no caso das profissões o funcionamento do mercado não compensará a falta de informações técnicas dos clientes/consumidores e que o altruísmo e a deontologia profissional serão sempre necessários para evitar práticas médicas desastrosas (ibid., p. 126). Tomemos um caso em que os clientes têm informações suficientes, mas ainda assim as leis do mercado não atuam de modo socialmente compensatório. Trata-se da compra de automóveis novos com ágio sobre o preço de tabela. O argumento neoclássico afirmaria que, se pago um sobrepreço ilegal para "furar a fila" e receber o veículo prontamente, não há danos para a sociedade. O dinheiro circula, um bem produzido foi adquirido, empregos serão mantidos, salários pagos, minha satisfação como consumidor foi garantida... O que se destaca nessa discussão é a decomposição moral do argumento econômico corrente. O ator que vive segundo o enredo neoclássico passa de um a outro sistema de moralidade ocupando-se tão-somente de seus interesses imediatos. Não há razões para divagações éticas. A política da boa sociedade não atrai este tipo de ator. A construção da democracia lhe é tão estranha como uma viagem a Marte. A razão técnica não abre espaços para a razão prática. Este é o desafio para as ciências sociais de modo geral. Como incorporar uma nova concepção de ciência que abrigue a "tensão duradoura" entre as teorias sociais e econômicas e a prática moral? Como fazer da economia uma ciência moral e política? Estes pontos nos conduzem à discussão sobre a (in)tolerância. Passamos, na segunda parte, ao tema da razão prática como o terreno da ética política. Este é o terreno em que a economia ganha contornos que serviriam, por sua vez, como novos parâmetros para a definição de uma ética profissional. II A discussão da tolerância é um ponto importante do texto de Giannotti (1992). Para recolocá-la no presente contexto, é necessário examiná-la do kskskskkkakakaka NOVEMBRO DE 1996 81 EVITAR A MORAL? ponto de vista da razão prática. Como se pode aceitar a diferença e construir o diálogo com o outro? Como se constrói uma ciência social do agir comunicativo? O ponto de partida seria, talvez, a adoção, pelo sujeito, de pontos de referência moral que fossem o lastro de opções morais no cotidiano, de critérios de decisão e avaliação com sintonia mais fina. Por exemplo, da "preferência pelo jogo democrático", como quadro referencial básico, podemos retirar o elogio da diferença, a possibilidade do diálogo entre contrários, a servir como regras de conduta no cotidiano. No caso do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda nos deixou pistas esclarecedoras: as dificuldades da razão comunicativa remontam às nossas raízes5. De modo geral, o padrão de sociabilidade do Brasil agrário definiase a partir do pater famílias nas fazendas, do mesmo modo que a vida política e econômica. A moralidade pública e a vida privada entrelaçavamse de maneira espúria: tudo que era visto como legítimo interesse do microcosmo de uma fazenda de café tornava-se causa de interesse público. O privado tiranizava o público. No nível da sociabilidade, os grupos primários preponderavam sobre os secundários. As relações sociais mais amplas pautavam-se pelo sistema normativo imposto pela Casa-Grande. Estas raízes penetraram profundamente no terreno da vida associativa nacional. A história da vida privada e a da vida pública no Brasil se confundem num mimetismo perverso, a segunda controlada pela primeira. Assim, as dificuldades da vida associativa no período republicano remontam, por assim dizer, aos vícios privados de nossa formação histórica. O governo, assim como os mandões da política local, são cordiais — não são civis. Esta noção de cordialidade, central na obra de Sérgio Buarque, indica apenas, para o historiador, relações ditadas pelo coração. O homem cordial age tão-somente por interesses particulares (sejam de amor ou ódio), não consegue mover-se por interesses públicos ou associativos. Ainda que aja em defesa de interesses pessoais, o homem "civil" pode colocá-los entre parênteses para mover-se no espaço público sob regras de conduta distintas. Nesse espaço têm lugar os interesses da cidade. Como bem acentua Angelo Panebianco (1996), as prescrições da ética pública e da moral privada dificilmente coincidem. No momento de votar, o homem "civil" terá de levar em consideração, entre outras, plataformas políticas de construção da cidadania e da democracia. Já o homem cordial fará de seu voto um instrumento de seus interesses imediatos, situando-se como um outsider da sociedade política, da pólis. Não há para ele territórios distintos de moralidade, mas tão-só a moralidade privada. Nas eleições passadas, os eleitores de Enéas, no plano das candidaturas presidenciais, e os do "General", no estado do Rio, votaram "cordialmente" contra a política. O discurso destes candidatos era igualmente "cordial", no sentido de que se apegava aos valores da ordem e da moralidade pública sem qualquer referencial maior, como a defesa da democracia social e política. Desta forma, a fuga à política é um ato publicamente imoral. Teremos de aprender a conviver com diferentes sistemas normativos se quisermos criar as bases da civilidade. Um destes sistemas é o político. kakakk 82 NOVOS ESTUDOS N.° 46 (5) Esta discussão refere-se à sua conhecida obra Raízes do Brasil, publicada em 1936 pela José Olympio Editora, do Rio de Janeiro. LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS Um outro é o sistema normativo profissional. Consideremos agora, para antecipar um ponto que será retomado na terceira parte, a questão profissional. Os servidores da Previdência Social têm um código de ética (ainda que não escrito), um sistema moral que deve balizar sua conduta como servidor. Como se coloca a questão da greve? As balizas morais são as mesmas de um operário de uma indústria de autopeças? Ou existe uma especialização ética que corresponde à própria divisão social do trabalho? Os critérios de legitimidade moral de uma greve dos servidores de um hospital público podem ser os mesmos adotados pelos trabalhadores do setor hoteleiro? Sob que referencial moral seria legítima uma greve dos funcionários do TSE que tornasse as eleições impossíveis? Deve haver balizas, referenciais básicos que estabeleçam aquilo que Nagel chamou de "especialização ética", correspondente à própria complexidade das estruturas sociais. A concepção dessas normas referenciais maiores, bem como das normas especiais, relativas aos diversos sistemas de ação, deve exigir um intenso debate nacional. Debates dessa ordem são formas de participação civil, de construção da cidadania. Renato Janine Ribeiro (1992) discute, a propósito, o tema do descompasso entre a expectativa civilizada dos intelectuais sobre o comportamento eleitoral dos brasileiros e a participação concreta (cordial?) do eleitorado. Por que o descompasso? O que Janine procura demonstrar é que os eleitores querem ainda o "bom governo", enquanto os intelectuais gostariam que desejassem a "boa sociedade". Uma característica essencial da modernidade, diz o autor, é a substituição da justitia pela jurisdição, pela faculdade formal de aplicar leis. Em vez de estabelecer o triunfo da justiça como o valor principal, "a novidade hobbesiana, e nesse sentido moderna, estará em [...] centrar a atenção na pura forma" (Janine Ribeiro, 1992, p. 104). Obedece-se à autoridade, à faculdade de legislar, não à verdade. Os critérios formais democráticos fundam-se precisamente nestas concepções modernas de poder: a igualdade de todos perante a lei, o voto como forma de expressão das preferências dos indivíduos. Houve um salto colossal nas concepções de poder legítimo — da idéia de verdade consubstanciada na pessoa do soberano para a idéia da autoridade de quem foi eleito pelo voto democrático. O que a sociedade moderna pode nos dar é um representante eleito, dotado de autoridade e jurisdição — competência para aplicar uma lei. Observa-se, no entanto, que o eleitorado brasileiro quer um soberano dotado de autoridade não apenas para governar e promulgar leis, mas para fazê-lo em nome da verdade. O povo exige, em outras palavras, o bom governo. Daí a indignação e a recusa ao jogo democrático assim que qualquer instância de inverdade se projete da arena governamental. O vazamento, pelas antenas parabólicas de todo país, das declarações "em off" do então ministro Ricupero a um entrevistador não resultou em mais votos para a candidatura de Lula; antes, refletiu-se na vitória dos votos nulos e brancos, na recusa à política. O ministro não era considerado apenas uma autoridade governamental, mas, muito em função de uma estratégia de KKKKKKKKKKKKKKKKKK NOVEMBRO DE 1996 83 EVITAR A MORAL? construção de imagem ilibada, a própria expressão da verdade. Numa política de homens públicos e eleitores cordiais, espera-se de um homem ilibado ria vida privada uma conduta pública ilibada. Em primeiro lugar, a expectativa é infundada por supor a identidade de distintos sistemas normativos. Em segundo lugar, é a identidade entre os dois planos que leva o eleitor a rejeitar a política in totum a partir do primeiro sinal de falseamento daquela suposta identidade. A expectativa frustrada com o episódio Ricupero teria outros desdobramentos se prevalecessem os interesses da civilidade. Um deles, por certo, seria a migração de votos para um partido rival do partido do ministro. Cabe uma analogia entre comportamento eleitoral e cenas da vida privada: o rompimento com uma pessoa amada não deve levar a uma fuga da vida amorosa, nem a briga judicial entre sócios deve conduzir necessariamente à mudança de atividade comercial, nem a suposta traição de um ministro deve conduzir seus eleitores ao exit da vida política. Podemos detalhar melhor o cenário político: um parlamentar faltoso não coloca em xeque o partido a que pertence, não obstante ser um dever da direção partidária zelar pelo comportamento ético dos membros e acatar a crítica por não fazê-lo. A radicalização dos critérios de avaliação da esfera privada para a pública acaba por conduzir à "queda do homem público", à fuga aos papéis que envolvam a prática da civilidade. Como território da ética e da política, a razão prática define jogos de linguagem diferentes para sistemas normativos diferentes. Como já assinalei, pode-se, no entanto, definir um jogo de linguagem que preceda os demais, que estaria pressuposto quando se fala de todos os outros: o jogo da "construção da democracia". A partir daí se definiriam todos os outros jogos de linguagem ou regras de conduta para a vida pública: a vida profissional, partidária, sindical, comunitária etc. Esta é uma perspectiva que se poderia denominar "instituidora", ou "fundacional". O convívio político para construção da democracia pode servir de baliza para os outros sistemas de linguagem. Não se trata de um sistema normativo que abarque os demais, pois, como já ficou dito, há permanentes pontos de fuga entre os sistemas. Esta regra de conduta maior estabelece, no entanto, pressupostos gerais, como o de que atuamos nos vários sistemas morais como agentes/sujeitos argumentativos. O pressuposto maior define o lugar legítimo da diferença, a necessidade da tolerância como forma de atuar no interior de cada sistema normativo e na mobilidade entre sistemas. Nesta proposta já não está presente o discurso da verdade. Deixou de haver aquele farol seguro que iluminava nossas decisões. A afirmação da existência de vários faróis nos exige aceitar a existência da intersubjetividade, sem a qual é impossível convivermos com a aceitação da diferença na vida pública. O comportamento que rejeita essa via pode tomar uma segunda via, a do ofuscamento — em vez da convivência entre diferentes sistemas morais, o embaralhamento dos sistemas e de seus contornos, a idéia de um grande e único sistema moral que abarque todos os demais —, ou a via solipsista e cordial, que elege a vida privada como prisma a partir KKKKKKAAKAKAK 84 NOVOS ESTUDOS N.° 46 LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS do qual todos os sistemas morais que constituem o espaço da pólis são avaliados. Na primeira via (da convivência dos sistemas), a ética transformase em ótica. "Desse ponto de vista", diz Giannotti, "uma ação não é boa ou má, mas adquire esse predicado enquanto assegurar que o agente está se comportando como podendo agir de outro modo e levando em consideração que outra pessoa também esteja mantendo sua condição de sujeito" (1992, p. 241). A segunda via é a via fascista, que faz da vida pública a baliza para a vida privada e do princípio moral da ordem uma regra impositiva para a vida pública. A sociabilidade é travada por uma supernorma em que se dissolvem as identidades dos sujeitos, diante de juízos morais preestabelecidos. A terceira via é a da tirania do privado sobre o público, que conduz à rejeição da política e a uma ética utilitarista. É o terreno infértil da "cordialidade" e da ausência de associativismo. III Focalizemos agora um sistema normativo que envolve indivíduos tipicamente dotados de conhecimento e poder — os profissionais. Em que medida os indivíduos podem ter uma identidade profissional sem deixá-la invadir outros espaços da moralidade, ou sem deixar que outros sistemas morais interfiram ilegitimamente em seu sistema de referência? Há dois importantes problemas morais a esse respeito. Um primeiro problema resulta da dificuldade de um profissional em conviver com a difícil tensão entre moralidade privada e pública, dificuldade que se traduz frequentemente na transferência de vícios privados para a arena pública. A imprensa noticia fartamente exemplos de irresponsabilidade moral de servidores do Poder Judiciário que fazem uso de sua função e autoridade para obter vantagens aos familiares e prebendas pessoais. O segundo problema se dá no interior da própria arena pública, quando um profissional extrapola os limites de seu território funcional para tentar alterar as regras de conduta vigentes em outros territórios. Isto acontece tipicamente com profissionais da área econômica, cujo saber, considerado mais "forte" no interior das ciências sociais, permite um permanente trespassing dos campos de trabalho de outras profissões. A existência de um código de ética não basta para reduzir os graus de ambiguidade moral no desempenho de uma atividade profissional. Independentemente das regras de conduta institucionais — ditadas pelo código de ética ou por prescrições consensuais não-escritas —, os profissionais deveriam procurar pautar-se por máximas de conduta (a que chamei instituidoras ou "fundacionais") que sejam prévias, por assim dizer, à própria especialização ética. Uma moralidade fundacional pautada pela defesa do jogo democrático estabeleceria um balizamento que, sem eliminar tensões de caráter moral, poderia reduzi-las e torná-las compatíveis com as necessidades de um sistema social democrático e solidário. NOVEMBRO DE 1996 85 EVITAR A MORAL? Entretanto, a não ser que essa regra máxima de conduta tenha um caráter inaceitável, de tipo imperial, haverá sempre tensões a enfrentar no cotidiano de uma agência governamental ou corporação, pois o profissional deve situar-se diante de três regras de conduta: a primeira põe em pauta as relações de autoridade (não de "verdade", repita-se) entre subordinados e superiores hierárquicos; a segunda diz respeito ao dever moral de elaborar a melhor política, de coletar a melhor estatística etc; a terceira é a procura do melhor processo de trabalho (transparência na formulação e aplicação de uma política pública, busca de espírito de equipe, participação popular etc.)6. Isto significa que, mesmo que o ministro da Fazenda tenha formulado um programa de privatização de empresas públicas que ele considera o melhor possível, a responsabilidade moral do ministro — como economista — não será integralmente assumida se a decisão for tomada de modo imperial, sem consulta à sociedade civil organizada. Além disso, os dispositivos morais de diferentes planos de ação podem colidir. O comentarista econômico de televisão que, em nome da transparência das informações, decida afirmar que tal ou qual medida do governo, ainda que correta, poderá conduzir a uma corrida aos supermercados estará criando um fato consumado. Uma via possível de superação das colisões morais reside no recurso a um jogo de linguagem que seja o crivo de todos os outros, um jogo de edificação moral permanente que inclua o projeto democrático como seu mais importante elemento7. Ou seja, na deliberação sobre os constantes dilemas morais que se colocam diante da vida profissional é possível a adoção de certas máximas de conduta instituidoras, prévias a todas as outras regras de conduta ou à totalidade da especialização ética. Assim, caminhamos do terreno profissional às questões de moralidade pública, discutidas nas seções anteriores. Estamos de volta ao terreno da civilidade, da ética pública e da solidariedade social. Repõe-se a necessidade de que o universo do privado — marcado por um campo legítimo de preocupações éticas — não colida com os interesses da pólis. A corrupção, o nepotismo, a troca de favores escusos são formas inaceitáveis de invasão do público pelo privado. Já a elevação da produtividade para a obtenção de promoção ou funções gratificadas é uma forma aceitável de balizamento da administração pública pelo interesse privado. Nota-se, pois, que, diferentemente das dimensões da razão técnica, estamos no terreno do possível, agimos na incerteza quanto às consequências de nossos atos como agentes morais. Mas há consequências facilmente previsíveis de alguns de nossos atos no campo da razão técnica. Tomemos como exemplo a entrevista à televisão de um professor de economia do Rio de Janeiro que, dias antes da mais recente mudança do padrão-moeda no Brasil, afirmava ser "normal" que as pessoas e as empresas estocassem produtos diante da possibilidade de um aumento de preços provocado pela nova moeda. Ora, a declaração "acadêmica", feita na TV, projetava-se para a arena pública e assumia, num contexto de comunicação de massa, implicações de funesta profecia: é claro que, diante da entrevista de impacto, a conduta dos agentes econômicos não kkakakcmskcmks 86 NOVOS ESTUDOS N.° 46 (6) Estas considerações se devem ao trabalho de Michael S. McPherson (1983). (7) Veja-se Lara, 1992. Agradeço a Carlos A. Plastino a indicação deste trabalho. LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS seria outra senão estocar! Essa distinção banal entre diferentes contextos de discurso, ignorada pelo economista, fez de sua declaração um ato moralmente condenável (pouco importando, no caso, se a declaração tivesse ou não "base científica"). Em equívoco semelhante incorreu Lillian Witte Fibe, comentarista da TV Globo. No dia 2 de junho de 1994, declarava em seu programa: "O governo diz que estocar é desnecessário. Os economistas [sic] pensam diferente e afirmam que os estoques são a garantia contra os preços altos depois do Real". A declaração de Witte Fibe, profissional respeitada, teve efeitos previsíveis: no dia 4 de junho, os jornais e TVs noticiavam a formação de enormes filas de pessoas nos supermercados. O Jornal do Brasil indicava um aumento de cerca de 30% no consumo para "proteção dos preços na virado do real" (Caderno Negócios, 4/6/94, pp. 1,6). Um exemplo perfeito de self-fulfilling prophecy. No dia 14 de junho, a mesma comentarista da TV Globo noticiava o aumento dos preços da carne bovina e "possível escassez" nos açougues e supermercados, declarando em seguida: "Depois, quando avisamos aos telespectadores que deviam prevenir-se, fomos chamadas de irresponsáveis". Ora, o "aviso aos telespectadores" de 2 de junho gerou antecipadamente um fato consumado. Esses são exemplos de comportamento profissional moralmente inaceitável, sob o ângulo da razão prática. São exemplos de consequências sociais adversas previsíveis — adversas para a sociedade em geral e particularmente para as camadas de baixa renda, que não têm como estocar preventivamente. Há, também, o uso moralmente irresponsável do argumento econômico com fins políticos, que permanecem ocultos para o leitor ou telespectador. Ibrahim Eris, ex-diretor do Banco Central no governo Collor, afirmava à TV Globo em 2 de agosto de 1994 que, se a candidatura presidencial de Lula despontasse, o Plano Real teria problemas sérios, pois a população "iria reagir preventivamente". A "população" ou alguns empresários assessorados por esse profissional? Como declarações desse tipo não foram avaliadas criticamente pela própria mídia, ficou no ar a equação "candidatura do PT = catástrofe econômica". O uso político da razão técnica é, em tais casos, moralmente indefensável. Poder-se-ia argumentar que, no caso dos comentários sobre os estoques preventivos, tanto o professor como a jornalista estariam agindo em conformidade com uma regra de conduta moral — a necessidade de transparência, de discutir com a população o processo de formação de um programa econômico (seu conteúdo, suas implicações etc.). Ocorre, entretanto, que a regra maior do bem público foi ignorada em nome de uma regra menor. Os atos aqui discutidos fizeram com que um programa de governo, que naquele momento parecia o melhor programa possível de controle inflacionário e contava com amplo apoio popular, gerasse consequências adversas para as camadas mais pobres da população e intranquilidade injustificada para todos. O comportamento profissional no interior da mídia, das universidades, das empresas de consultoria, dos sindicatos, das ONGs e das instâncias de kkakakkakakakk NOVEMBRO DE 1996 87 EVITAR A MORAL? governo deve ser visto como um dos campos mais sensíveis da interface entre a moralidade pública e a construção de uma sociedade democrática e solidária. Nos exemplos acima discutidos, o impacto da mídia foi destacado não por acaso: é que as qualidades da razão prática, como modo de construção da boa sociedade, não dependem apenas de indivíduos como agentes de sistemas morais privados, mas resultam, hoje em dia, particularmente do tipo de razão técnica — mais ou menos manipulativa — utilizado pela mídia. O domínio que seus profissionais têm da expressão corporal e verbal e dos meios de persuasão faz deles uma fonte de "verdade", no sentido em que a discuti na segunda seção. Uma frase dita por um comentarista econômico tem o dom da profecia que se cumprirá: "Compre, porque os preços vão subir". Dita na TV por um profissional da mídia, os resultados serão muito mais previsíveis — corrida para os supermercados, alta dos preços — do que se partisse de um líder da CUT. A responsabilidade desses profissionais — obviamente, também do líder sindical — afeta o próprio campo da ética pública, em que regras fundacionais devem sobrepor-se às regras de conduta do exercício profissional. IV Alguns pontos devem ser agora retomados, para concluir. Um primeiro comentário refere-se à tensão permanente entre moralidade pública e ética profissional. O profissional tem diante de si a possibilidade da tolerância como regra de conduta democrática. Aprender a conviver com diferentes sistemas de moralidade significa construir um padrão de sociabilidade que afete positivamente a economia, a política e a vida profissional em seu conjunto. As pessoas podem entrar ou sair desses sistemas normativos, desligar-se de alguns dos dispositivos condutores da ação no interior de cada sistema, mas, pondera Giannotti, "sem se comprometerem inteiramente com o tipo de individualidade de agente requerida por cada sistema" (1992, p. 241, grifo meu). Ou seja, a conduta ética é aquela em que o sujeito constrói sua integridade no conjunto de sistemas de normas com os quais deve conviver de modo civil. O que se espera, do ponto de vista da ética, é que se mantenha íntegro justamente mantendo sua condição de agente de diferentes sistemas normativos. O segundo comentário é uma tomada de posição diante das noções do "bom governo", na acepção apresentada por Renato Janine Ribeiro. Uma das tarefas mais difíceis na construção de uma democracia solidária é o combate à persistência de tais noções no imaginário político nacional. Tratase de debater, no espaço político, a noção de que não existe um jogo de linguagem que defina a verdade na política. Colocar-se diante desta noção não significa evitar a política, como bem acentua Panebianco (1996), mas assumi-la em sua dureza. Longe de procurar levar a "verdadeira moral" à atividade política, o cidadão deverá cobrar dos políticos responsabilidade kakkakxkdkamckam 88 NOVOS ESTUDOS N.° 46 REFERÊNCIAS Bellah, Robert N. "Social science as practival reason". In: Callahan, D. e Jennings, B. (orgs.). Ethics, the social sciences and policy analysis. New York: Plenum Press, 1983 (The Hastings Center Series in Ethics). Giannotti, José Arthur. "Moralidade pública e moralidade privada". In: Novaes, A. (org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. Hirschman, Albert O. "Moralidade e ciências sociais: uma tensão duradoura". In: A economia como ciência moral e política. (Trad. Carlos Nelson Coutinho). São Paulo: Brasiliense, 1986. Janine Ribeiro, Renato. "O retorno do bom governo". In: Novaes, A. (org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. Lara, María Pía. La democracia como proyecto de identidad ética. Barcelona: Editorial Anthropos; México: Universidad Autónoma Metropolitana-Iztapalapa, 1992. McPherson, Michael S. "Imperfect democracy and the moral responsibilities of policy advisers". In: Callahan, D. e Jennings, B. (orgs.). Ethics, the social sciences and policy analysis. New York: Plenum Press, 1983 (The Hastings Center Series in Ethics). Nagel, Thomas. "Ruthlessness in public life". In: Hampshire, S. (org.). Public and private morality. Cambridge: Cambridge University Press, 1978. Panebianco, Angelo. "Evitar a política?". Novos Estudos. São Paulo: Cebrap, 45, julho de 1996, pp. 51-57. Recebido para publicação em 20 de agosto de 1996. Luiz Antonio de Castro Santos é sociólogo, professor adjunto da UERJ e pesquisador (licenciado) do Cebrap. Já publicou nesta revista "O espírito da aldeia" ( 27). LUIZ ANTONIO DE CASTRO SANTOS (no sentido em que se discutiu aqui) e compromisso com a democracia. Passa-se, então, da ilusão do bom governo (diante de uma população inerte) à luta possível pela construção da boa sociedade. Nesse terreno, já se vê, não se está tampouco evitando a moral. Os códigos, regras e normas da ética pública são justamente o terreno em que medra ou definha a política. No interior deste campo minado — onde os grandes crimes são crimes públicos (cf. Nagel, 1978) — deverá situar-se a moralidade pessoal e profissional. NOVEMBRO DE 1996 89 Novos Estudos CEBRAP N.° 46, novembro 1996 pp.77-89 estudos em Avaliação Educacional Fundação Carlos Chagas jul-dez - 1995 - n° 12 Fundação Carlos Chagas Av Prof Francisco Morato 1565 05513 São Paulo SP Brasil (011) 813 4511 Telex (11) 83823 CHAF BR Caixa Postal 11478 Assinatura 1994 (n° 9 e 10): R$ 12,00 Número avulso: R$ 7,50 CADERNOS DE PESQUISA Fundação Carlos Chagas MAIO 1996 Nº 97 ARTIGOS DEWEY E PIAGET NO BRASIL DOS ANOS TRINTA Marcus Vinícius da Cunha TRABALHO, SOCIEDADE E POLÍTICAS SOCIAIS Cristina Almeida Cunha Filgueiras A ECONOMIA DO ENSINO BÁSICO: O CASO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Antônio Aguirre ENSINO COM PESQUISA: A PRÁTICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO Maria Isabel da Cunha RELAÇÃO COM O SABER E COM A ESCOLA ENTRE ESTUDANTES DE PERIFERIA Bernard Charlot O CAMPO DAS PRODUÇÕES SIMBÓLICAS E O CAMPO CIENTÍFICO EM BOURDIEU Maria Manuela Alves Garcia TEMAS EM DEBATE A CRIAÇÃO DE UM TESAURO PARA ESTUDOS DE GÊNERO Danielle Ardaillon Sandra Ridenti REFLEXÕES ACERCA DA FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL Silvia Helena Vieira Cruz CORTEZ EDITORA Rua Bartira, 387 05009 - São Paulo - SP Tel: (011)864-0111 Assinatura 1994 (n° 88 a 91): R$ 24,00 Número avulso: R$ 7,50 revista estudos feministas é uma revista acadêmica, de caráter pluridisciplinar, que tem por objetivo ampliar o campo dos estudos de gênero no Brasil. revista estudos feministas é um projeto coletivo da comunidade acadêmica e um canal de expressão do movimento feminista. Necessitamos de apoio. As doações beneficiam-se da Lei Rouanet. Informe-se! revista estudos feministas é semestral (junho e novembro) e está aberta a colaborações na forma de artigos, resenhas, ensaios e dossiês. Informações de interesse geral sobre o tema serão divulgadas na rubrica agenda. tomo 1 vol.0 n.0/92 (esgotado) tomo 2 vol. 1 n. 1/93 (esgotado) tomo 3 vol. 1 n.2/93 (esgotado) tomo 4 vol.2 n.l/94 tomo 5 n° especial/94(esgotado) tomo 6 vol.2 n.2/94 tomo 7 vol. 3 n. 1/95 tomo 8 vol.3 n.2/95 tomo 9 vol.4 n. 1 /96 (julho) tomo l0 vol.4 n.2/96 (novembro) A S S I N A T U R A (ANUAL) 2 números Nacional ....................................................................................................... Internacional .............................................................................................. Internacional (Institucional) ......................................................................... Avulsos........................................................................................................ R$ U$ U$ R$ Envie o cupom abaixo com cheque nominal à Fundação Universitária José Bonifácio, endereçado para revista estudos feministas IFCS/UFRJ Largo de São Francisco, 1 sala 427 Centro 20051 070 - Rio de Janeiro - RJ Brasil TeL: 221-0341 r.403/252-5457 FAX: (5521)221-1470 Assinante: Endereço: Bairro: Cidade País: E-mail: Estado: Telefone DDI: CEP: Fax: 40,00 40,00 60,00 22,00