UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
A ÉTICA
E O FAZER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
Tânia Tito Loureiro
Rio de Janeiro, abril de 2002
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
A ÉTICA
E O FAZER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
Tânia Tito Loureiro
Monografia apresentada a Faculdade Cândido
Mendes como requisito parcial a obtenção do
título em Reengenharia e Gestão de Recursos
Humanos, sob a orientação da Professora
Maria Esther de Araujo.
Rio de Janeiro, abril de 2002
DEDICATÓRIA
Com especial carinho, dedico este trabalho as
minhas queridas filhas Marcelle e Danielle. A elas,
o meu amor eterno.
“A virtude consiste pois no viver consoante a
razão; e quem age de acordo com a razão é
feliz.”
Aristóteles (384-322 a. C.)
AGRADECIMENTOS
À Deus que me deu coragem para não desistir.
Aos professores do Curso que contribuíram para minha formação.
Agradeço a todos em geral que, de alguma forma, pensam em mim e querem me ver
crescer.
RESUMO
A presente monografia apresenta aspectos gerais sobre a ética. O trabalho, dividido em
quatro capítulos, aborda aspectos relevantes como a moral, em seu primeiro capítulo.
Em seguida, apresenta sua definição, seu conceito e finalidade, procurando ainda
enfatizar o que mais se relaciona com o tema escolhido. No capítulo três fala sobre ética
profissional, abordando dentro deste capítulo a ética e a deontologia assim como a ética
e a tecnologia. Enfatiza logo após, a ética e ciência e, finalizando, a ética na visão de
Aristóteles. Foram consultadas obras de autores conceituados com opiniões importantes
que se relacionam ao tema deste trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 07
CAPÍTULOS
1 – MORAL .....................................................................................................
1.1 – Conceito Moral .................................................................................
1.2 – Caráter Histórico e Social da Moral ..................................................
1.3 – Caráter Pessoal da Moral ..................................................................
1.4 – Caráter Social e Pessoal da Moral ....................................................
1.5 – Estrutura do Ato Moral .....................................................................
08
08
08
09
09
10
2 – ÉTICA ........................................................................................................
2.1 – Definição, Conceito e Finalidade ......................................................
2.2 – Diferença entre os Problemas Morais e Éticos ..................................
2.3 – Principais Posicionamentos Éticos ....................................................
2.4 – A Importância da Ética no Dimensionamento Humano ....................
11
11
12
13
15
3 – ÉTICA PROFISSIONAL
................................................................
3.1 – Ética e a Deontologia .........................................................................
3.2 – Posicionamento Ético .........................................................................
3.3 – Ética e a Tecnologia ...........................................................................
17
17
18
19
4 – ÉTICA E CIÊNCIA ..................................................................................
24
5 – A ÉTICA NA VISÃO DE ARISTÓTELES ............................................
28
CONCLUSÃO .................................................................................................
31
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................
33
ANEXOS .........................................................................................................
34
INTRODUÇÃO
No trabalho que está sendo apresentado tentamos mostrar o
que significa a ética, no comportamento humano e como as
pessoas podem tentar mudar seu comportamento, para que
possam se integrar a sua comunidade e a sociedade em
geral.
Foram abordados temas importantes como a ética profissional e a
tecnologia. Foram examinados também outros temas que parecem de suma importância
para o trabalho:
a moral, o conceito e a finalidade da ética; ética e ciência; e,
finalmente, a ética na visão de Aristóteles.
Pode-se dizer que a ética profissional nunca ficará desatualizada, sempre
haverá novas informações e será destaque, tanto em jornais e revistas como na própria
televisão. Deixou-se aqui registrado que independente da profissão, das mais simples as
mais complexas, muitos agem corretamente e que a ética está na pessoa, não sendo esta
muito fácil de ser adquirida somente com leituras de livros, e sim pela própria
personalidade e caráter do indivíduo.
A posição de Aristóteles foi examinada já que contribui, de uma maneira
ou de outra, para a realização da moral, mas sem nunca esquecer que o verdadeiro
comportamento moral coloca sempre em ação os indivíduos como tais, pois o ato moral
exige a sua decisão livre e consciente, assumida por uma convicção interior e não por
uma atitude exterior e impessoal.
1 – M ORAL
1.1 – Conceito de Moral
A palavra moral deriva do latim mores, que significa costumes, hábitos,
daí existir a correlação da moral com costumes. Portanto moral é o conjunto de
normas que regulam o comportamento individual e social do homem.1
Moral representa o conjunto de princípios que regem a
conduta, aceita numa época, por determinada comunidade,
onde o desrespeito das regras de conduta pode provocar
tácita ou explicitamente uma atitude de desaprovação por
parte da sociedade.
Moral sempre existiu, pois todas as pessoas possuem consciência moral
que os leva intuitivamente a distinguir o bem do mal no contexto histórico-social em
que vive. A moral surgiu quando o homem passou a fazer parte de uma coletividade, ou
seja, surgiu com a tribo, nas sociedades primitivas.2
1.2 – Caráter Histórico e Social da Moral
Moral é a parte da filosofia que se preocupa com a reflexão
a respeito dos fundamentos da vida moral. Essa reflexão
pode seguir as mais diversas direções, dependendo da
concepção de homem que se toma como ponto de partida.
1
2
VASQUES, Adolfo Sánches. Ética. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990, p. 12.
JÚLIO, Maria da Costa. A ética nos cursos da área das ciências sociais. 1998, p. 31.
Exterior e anterior ao indivíduo, há uma moral constituída, que orienta
seu comportamento por meio de normas. Em função da adequação ou não à norma
estabelecida, o ato será considerado moral ou imoral.3
É de tal importância a existência do mundo moral, que se torna
impossível imaginar um povo sem qualquer conjunto de regras. Podemos dizer que uma
das características fundamentais do homem é ser capaz de produzir interdições, portanto
o comportamento varia espacialmente e temporalmente, conforme as exigências das
condições nas quais os homens se organizam ao estabelecerem as formas efetivas e
práticas de trabalho. E cada vez que as relações de produção são alteradas, sobrevêm
modificações nas exigências das normas do comportamento coletivo.
1.3 – Caráter Pessoal da Moral
À medida que os grupos primitivos abandonam a abrangência da
consciência mítica, iniciando um maior questionamento racional, e à medida que a
criança se aproxima da adolescência, desenvolvendo o pensamento abstrato e a reflexão
crítica, todos os valores herdados são questionados.
O aumento do grau de consciência e de liberdade introduz
um elemento contraditório que irá, o tempo todo, angustiar o
homem: a moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de
regras que determina como deve ser o comportamento dos
indivíduos de um grupo, é também a livre e consciente
aceitação das normas.
Isso significa que um ato só é propriamente moral se passar
pelo crivo da aceitação pessoal da norma. À exterioridade
moral contrapõe-se a necessidade da interioridade, da
adesão mais íntima.
1.4 – Caráter Social e Pessoal da Moral
3
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS , Maria Helena Pires. Filosofando – introdução à
filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p. 303.
Está-se diante de dois pólos contraditórios. Se aceita-se
como predominante o caráter social da moral,
inevitavelmente cai-se no dogmatismo e no legalismo. Ou
seja, atribui-se um valor maior à lei e aos regulamentos,
caracterizando o ato moral como aquele que se adapta à
norma estabelecida. Uma educação moral nesse sentido
residiria apenas em impor-se nas pessoas o medo às
conseqüências da não-observância da lei.
Portanto, é necessário considerar esses dois pólos contraditórios em uma
relação dialética4, ou seja, uma relação ao mesmo tempo de exclusão e de implicação
recíproca; uma relação de determinismo e de liberdade; uma relação de adaptação e de
desadaptação à norma; uma relação de aceitação e de recusa da interdição.
O homem, ao mesmo tempo que é herdeiro, é criador de cultura, e só terá
uma vida autêntica se, diante da moral constituída5, for capaz de propor uma moral
constituinte6, isto é, a que se faz por meio das experiências vividas.
1.5 – Estrutura do Ato Moral
A instauração do mundo moral exige do homem uma
consciência crítica, chamada de consciência moral. Trata-se
do conjunto de exigências das prescrições que se reconhece
como válidas para orientar a nossa escolha; é essa
consciência que vai distinguir o valor moral dos nossos atos.
“Percebe-se, então, que o ato moral é feito de dois aspectos: o
normativo e o fatual.
O normativo são as normas ou regras de ação e os
imperativos que enunciam o dever ser. O fatual são os atos
humanos enquanto se realizam efetivamente.
Pertencem ao âmbito do normativo regras como: ‘Não minta’, ‘Não
mate’. O campo do fatual é a efetivação ou não da norma na
experiência vivida. Esses dois pólos são distintos, porém inseparáveis.
4
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS , Maria Helena Pires. Filosofando – introdução à
filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p. 304.
5
Idem, p. 305.
6
Idem, p. 305.
A norma só tem sentido se orientada para a prática, e o fatual só
adquire contorno moral quando se refere à norma.” 7
2 – ÉTICA
2.1 – Definição, Conceito e Finalidade
A palavra ética vem do grego “ethos” que significa modo
de ser ou caráter, isto é, ética “é a teoria ou a ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é
a ciência de uma forma específica do comportamento
humano”.8
A ética pode ser definida como uma doutrina disciplinadora do costume
ou da boa formação, isto é, uma ciência que cria e consagra os princípios básicos que
regem a conduta, os costumes e a moral dos homens. A ética supõe conhecimentos,
sendo esta maior que a cultura, tendo surgido com Sócrates.
Baseia-se em
conhecimentos que a pessoa adquire investigando que poderão ser de origem científica.
A finalidade da ética é esclarecer e sistematizar as bases do
fato moral, determinando as diretrizes e os princípios
fornecidos por ela. A ética se ocupa de um objeto próprio, o
setor da realidade humana que é chamamos de moral,
formada por um tipo particular de fatos ou atos humanos.
Como ciência, parte de um certo tipo de fatos, tentando
descobrir princípios gerais. Neste caso, apesar de partir de
dados empíricos, isto é, da existência de um comportamento
7
8
VÁSQUEZ, Adolfo Sanchez. Op. cit., pp. 50-51.
VÁSQUEZ, Adolfo Sanchez. Op. cit., p. 49.
moral efetivo, não pode permanecer no nível de uma
simples descrição ou registro dos mesmos, mas o ultrapassa
com seus conceitos, hipóteses e teorias.
Neste sentido, Adolfo Sanches Vasques assim se expressa:
“A ética é uma ciência da moral, ou seja, de uma esfera do
comportamento humano. Não deve confundir aqui a teoria com o seu
objeto: o mundo moral. Devem, as proposições da ética, ter o mesmo
rigor, a mesma coerência e fundamentações das proposições
científicas. Opondo-se, os princípios, as normas ou os juízos de uma
moral determinada não têm o mesmo caráter. Apesar de que a
experiência histórica moral como várias vezes não são conciliados
com os conhecimentos fornecidos pelas ciências naturais e sociais.” 9
Portanto, pode-se afirmar que, se existe uma ética científica,
da moral não se pode dizer o mesmo. A moral não é
científica, porém o conhecimento da moral pode o ser.
Sendo assim, não pode existir uma moral científica
compatível com os conhecimentos científicos sobre o
homem, a sociedade e, em particular sobre o
comportamento humano moral. A ética pode servir,
fundamentando uma moral, sem ser normativa ou
perceptiva. Como a ética não é a moral, não pode ser
reduzida a um conjunto de normas e prescrições, seu
objetivo é explicar a moral efetiva e, nesse ponto, pode
influenciar na própria moral.
O objeto de estudo da ética é formado por tipos de atos
humanos: os atos conscientes e voluntários dos indivíduos
que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais
ou a sociedade em seu conjunto.
9
Idem, p. 13.
2.2 – Diferença Entre os Problemas Morais e Éticos
A diferença entre os problemas morais e éticos é
caracterizada pela sua generalidade. Se na vida real um
indivíduo enfrenta uma determinada situação, deverá
resolver por si mesmo, com a ajuda de uma norma que
reconhece e aceita no seu íntimo. O problema é como agir
de maneira a que sua opção possa ser boa, ou seja,
moralmente valiosa. Será inútil recorrer a ética com
esperança de encontrar nela uma norma de ação para cada
situação concreta, mas ela poderá dizer, em geral, como é
um comportamento pautado de normas, ou em que consiste
o fim visado pela moral, do qual faz parte o procedimento
do indivíduo concreto de todos. O problema do que fazer
em cada situação concreta é um problema prático-moral e
não teórico-ético.10
Os problemas morais são aqueles que referem-se as atitudes
ou ações reais, efetivas, particulares, vividas no cotidiano
em relação com outras pessoas. O que decidir em cada
situação concreta é um problema prático, logo moral.
Analisar, porém, as razões das nossa decisões, fundamentálas ou formular juízos a respeito delas, é um problema ético
ou teórico.
Os problemas teóricos e os práticos, se distinguem, mas não
estão separados por uma barreira. As soluções dadas aos
teóricos não deixam de influir na colocação e na solução dos
práticos, ou seja, na prática moral os problemas surgidos
pela moral prática, assim como as suas soluções, constituem
a matéria de reflexão, o fato ao qual a teoria ética deve
voltar constantemente para que não seja uma especulação
estéril, porém sim a teoria de um modo efetivo, real, do
comportamento humano.
2.3 – Principais Posicionamentos Éticos
Da mesma forma que não existe uma ética universal em estrutura e
conteúdo, também não poderá existir um valor central único. O valor central situa-se em
10
Idem, pp. 5-9.
Deus (Ética Cristã), no Estado (Ética Autoritária) ou no próprio ser humano (Ética
Humanística).11
Partindo dos valores considerados centrais, far-se-á uma rápida
apresentação dos principais posicionamentos éticos. Não se tem a intenção de indicar
este ou aquele posicionamento ético, pois ética é opção, feita com conhecimento
fundamentado, gerando convicção.
O objetivo é demonstrar como se pode e como se deve
adquirir um posicionamento ético e quanto isto é importante
para uma pessoa em sua visão histórico-social, em sua
atuação a um posicionamento ético, mais autêntico em face
da concepção de vida que escolhe.
É importante lembrar que uma formação ética autêntica
supõe uma incorporação, racional e consciente, dos valores
que irão estruturar o caráter da pessoa, e deve ainda ser
prática, isto é, traduzir-se em ações e atitudes, compatíveis
com o ideal de vida que assumiu.
a) Ética Cristã
A ética cristã baseia-se em um conjunto de valores com
implicações de ordem religiosa, pois para os espiritualistas,
em particular os cristãos, o fim último da pessoa humana é
Deus. Esta teve origem nos dez mandamentos revelados ao
profeta Moisés, no Monte Sinai. Existe uma ciência que
estuda a existência de Deus pela razão – Teodicéia, que
apresenta provas metafísicas e até morais da existência de
Deus.
A ética cristã é o conhecimento de Deus pela fé e a ciência,
que ocupa este estudo, denomina-se Teologia. Pode-se dizer
que a ética cristã é profundamente humanística, mas nem
toda ética humanística é cristã.
b) Ética Autoritária
Tem como valor central o Estado, e como atribuições a defesa interna,
administração geral e aplicação da justiça, passa a assumir as funções culturais políticas
e sociais. A ação estatal pode intervir também nos órgãos privados da sociedade,
assume uma tarefa educadora, desenvolvendo um trabalho ideológico.
11
MOTTA, Nair de Souza. Ética e a vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1994, pp. 30-
O bem resume-se aos interesses do Estado, e como a pessoa humana vive
em função do todo, a sua auto-realização terá que ser em função do Estado, sendo sua
liberdade, encarada como o seu maior bem. O Estado seria o “fim último” a ser
atingido e não um “meio” para a auto-realização da pessoa humana.
A ética autoritária, além de impedir a liberdade do homem, anula as suas
capacidades criativas, restringe o crescimento de sua personalidade.
A autoridade, desde que justa no cumprimento de suas funções, é
legítima e indispensável à sobrevivência da pessoa humana e da sociedade civil.
c) Ética Humanística
Tem como valor central o homem, considerado pelos
humanistas como a medida de todas as coisas.
Diferentemente da Ética Autoritária, a concepção
humanística admite que só a pessoa humana estabelece o
que é bom ou mau para ela, só o homem é capaz de criar
valores, inclusive os éticos.
O fim último é a auto-realização do ser humano, excluída
qualquer influência transcendental, sua meta é viver a vida
em toda a sua plenitude.
Os valores éticos são apoiados na autonomia e a razão que
os estabelece, independente de qualquer outro poder. A
ética humanística tem a capacidade de valorizar a pessoa
humana, com o objetivo de definir o ser humano, sua
natureza, sua evolução e seu fim. Não admite a natureza
como fixa em sua essência, ou seja, que os homens são
todos iguais em sua natureza, para os humanistas natureza
humana é um objetivo.
O homem não é autor de sua vida, logo não pode ser a fonte
da moralidade. Pelo exposto, vê-se que a ética humanística
difere da ética cristã, esta ética é válida, pelo fato da sua
preocupação com a valorização da pessoa humana.
2.4 – A Importância da Ética no Dimensionamento Humano
34.
A concepção de vida é algo que todo o ser humano precisa
ter, para que possa cumprir com os seus deveres, defender
os seus direitos, isto é, agir com segurança e firmeza no
meio sócio-cultural em que vive.
O que a ética pretende mostrar ao homem é o que somos como criatura
humanas, para que vivemos, ou seja, qual a finalidade de nossas vidas, nos leva a uma
terceira premissa de real importância: como agir, que se traduz em uma hierarquia de
valores, que se resume no que foi definido como o bem.
Importante a afirmação de Mario Gonçalves Viana:
“A vida de um ser humano possui peculiaridades especiais
e diferentes de outros seres vivos. Vive em sociedade, a
qual deve garantir-lhe direitos que lhe são inerentes,
cobrando-lhe, outrossim, deveres os quais ele se obriga
pelas exigências da vida grupal.
A correlação homem-sociedade é um fato real, evidente, indispensável
à auto-realização do homem e a sobrevivência de qualquer tipo de
sociedade humana.” 12
Por ser a ética muito controvertida o homem precisa ter dela um
conhecimento mais profundo, pois só assim um ser terá a capacidade de contribuir para
o seu bem-estar e do seu próximo, garantindo uma convivência social autêntica, em face
de qualquer momento histórico.
Ao homem, ser criador, social e histórico, cabe orientar as mudanças ou
reformas sociais, alterando os rumos da história.
Entretanto, é o seu dever estar
capacitado moralmente para esta esfera, pois a sociedade em que vivemos é o resultado
de esforços anteriores, representa um patrimônio pelo qual o homem tem o dever de
zelar, aperfeiçoando cada vez mais, repartindo-o com os seus contemporâneos e não o
dilapidando ou esvaziando-o dos seus valores básicos.
A ética ao levar a pessoa humana a um ideal na sua maneira de viver,
contribui para que sua participação seja mais efetiva e a sua atuação mais eficiente no
seu momento histórico.
12
VIANA, Mario Gonçalves. Ética geral e profissional. Porto Figueiras, s/d, p. 18.
A luta pelo dimensionamento humano tem sido uma tônica através dos
séculos, a ética integra esta luta pela relação do “ser” da pessoa humana com o seu
“dever ser”.
Os vários tipos de humanismos surgiram em conseqüência
desta preocupação constante da história, a qual chegou até a
nossa época.
3 – ÉTICA PROFISSIONAL
3.1 – Ética e a Deontologia
Imédio Nerici, em seu livro Didática – Uma Introdução – assim define a ética:
“Ética profissional pode ser definida como sendo o conjunto de
prescrições que diz respeito ao comportamento funcional de
determinada profissão. Ou, em outras palavras, deve haver uma
modéstia, um respeito digno para com a própria profissão.
A ética profissional é o compromisso de o homem respeitar os seus
semelhantes, no trato da profissão que exerce.” 13
O objetivo da ética profissional é o relacionamento do profissional com o
seu cliente e vice-versa, tendo em vista, principalmente a dignidade do homem e o bemestar do contexto sócio-cultural em que atua a sua profissão.
A ética profissional atinge todas as profissões das mais simples as mais
complexas, ou seja, a de servente, motorista, digitador, professor, médico, etc.
Entretanto, sua extensão aumenta à medida que seu contato seja diretamente com a
pessoa humana. Todavia, o aspecto dimensional da ética profissional não diminui a
responsabilidade dos profissionais, cada um em sua área de atuação.
“A deontologia é a parte da ética que estuda os deveres de certa
profissão, é considerada a ciência dos deveres. Esta fornece os
elementos ou os métodos para adaptar a conduta dos profissionais.
Esses deveres estão nos códigos de ética de cada classe profissional,
organizadas pelos órgãos representativo de cada classe.” 14
Acerca do tema, Rui de Azevedo Sodré assim se expressou:
13
14
NERECI, Imédio G. Didática – Uma introdução. São Paulo: Atlas, 1989, p. 116.
Idem, p. 117.
É importante, para o profissional, que conheça as regras de conduta e
os privilégios de seu ofício; pode-se dizer que observar o código de
ética profissional é dever inerente ao exercício de profissão. 15
Em se tratando de profissão, os termos Moral, Ética e
Deontologia são empregados indistintamente. Na França,
por exemplo, usam o termo Deontologia, porém existem
nacionalidades que preferem chamar de Código de Moral.16
A maioria das profissões, porém, prefere a expressão
“Código de Ética”. Sendo a ética o estudo dos fundamentos
da moral, o termo ética por sua essência, é o mais adequado.
3.2 – Posicionamento Ético
Embora a ética tenha variado com os diversos tipos de cultura, porque
não pode ser dissociada do momento histórico-social em que o homem vive, o mínimo
que se pode exigir de um profissional é que ele tenha um posicionamento éticohumanístico. A pessoa humana pela sua inteligência, pela sua liberdade e pelas suas
capacidades terá que ser o centro do contexto histórico-cultural em que se acha inserida.
Como ser capaz de participar e até de orientar o processo histórico-cultural, é vital o seu
engajamento que só estará garantido, mediante um posicionamento ético cristão ou
humanístico. Como a ética Cristã possui fundamentos de ordem religiosa, o mínimo
que se pode desejar das Universidades é que se preocupem com a formação humanística
dos futuros profissionais, por meio de uma segura formação ética.
A formação ética de um profissional, entretanto, não se liga apenas aos
valores que lhe são transmitidos mediante uma profissão; a sua estrutura ética pessoal
terá que ser levada em conta, embora ele não tenha o direito de transmitir ou impor
valores éticos aos outros. Não se pode deixar de considerar que, independente da
profissão a que se propõe exercer, toda pessoa com maturidade suficiente, já possui um
15
SODRÉ, Rui de Azevedo. O advogado e a ética profissional. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1967, p. 83.
16
Idem, p. 85.
posicionamento ético em face da vida, isto é, o porque das suas ações e das suas
atitudes, enfim um comportamento moral em face da sociedade em que vive.
A formação ética, especificamente ligada à profissão, seria a
incorporação de novos valores, indispensáveis ao bom exercício profissional, valores
estes que viriam reforçar o procedimento ético, uma vez que já existe um conhecimento
fundamentado dos valores então incorporados, uma convicção na maneira de agir, uma
conscientização maior da importância da ética na atuação profissional.
Esta incorporação de novos valores só será válida, se eles forem, de fato,
aceitos e interiorizados pelo profissional, e não encarados como meros conceitos
abstratos.
É bom ressaltar que a ética, por si mesma, já impõe um
conjunto de valores que constituem a sua essência e que não
poderão ser relegados, principalmente pelos profissionais,
que servem também ao bem-comum, não obstante as
diferenças culturais por que tem passado a humanidade.
3.3 – Ética e a Tecnologia
Máquinas e aparelhos substituem as pessoas no trabalho industrial, nas
pequenas atividades domésticas, fazem operações matemáticas, registram a memória
das pessoas, em suma, preenchem uma série de funções que até então eram executadas
pelos próprios homens. O homem como que transfere à máquina uma grande quantidade
de trabalhos que o ligavam diretamente à terra, à produção e mesmo à criação artística.
Estamos numa era em que todos esses artefatos, que foram num certo
momento considerados prolongamento dos homens, seus utensílios, ferramentas,
máquinas, ocupam de tal maneira o cotidiano das pessoas que constituem quase que
uma certa vastidão dominante. Isso quer dizer: o homem, no momento em que transfere
suas funções às máquinas, abre mão também de grande parte de sua autonomia em
relação ao controle de suas coisas.
Segundo Nair de Souza Motta:
A época é marcada por uma nova relação dos homens diante das
máquinas. Nas grandes indústrias, por exemplo, os sistemas
computadorizados são os que definem quais os empregados que
poderão ser dispensados e quais mantidos, quais são os mais
operantes, quais os mais eficazes. Em vez de pessoas avaliarem,
agora são os aparelhos que o fazem. E os aparelhos, como se sabe,
não têm qualquer tipo de relação subjetiva, emocional, de
envolvimento afetivo com as pessoas. Agem a partir de pontos de vista
estritamente técnicos e impessoais. Desaparecem os demais
julgamentos baseados num componente humano, a saber, seu
empenho pessoal em fazer a coisa, sua simpatia pelo trabalho, sua
idade, sua facilidade psicológica com a função. 17
No mundo tecnocêntrico, o homem submete-se a esse controle
generalizado das máquinas, comportando-se, ele próprio, também, como uma espécie de
máquina, tendo um número, uma função, vendo seu trabalho tornar-se componente
maquínico de todo sistema.
Marcante em todo tipo de sociedade, associado à questão da ampla
difusão da técnica e dos sistemas eletrônicos, estende-se agora um grande sistema que
servirá de meio para produzir as informações e os comunicados às pessoas: os meios de
comunicação eletrônicos, que realizam a própria rearticulação de toda a sociedade.
Estamos numa era em que as pessoas na Terra passam a viver a ilusão de
que podem tudo: interferir na natureza, na própria sociedade, em todas as relações
grandes e pequenas entre homens, animais, objetos e mundo circundante. Trata-se de
um sujeito que se assenhora de tudo e acredita que tudo existe pura e simplesmente por
sua obra. É sua razão que define quando, como e por que as coisas surgem e
desaparecem.
Esse sujeito apropria-se do caráter divino de sobrepujar o mundo, a
cultura e definir-se como único. A tal característica dá-se o nome de transcendência e o
indivíduo que se crê superdotado, capaz de uma interferência fantástica em todo o
mundo, foi chamado na filosofia de sujeito transcendental.
Ele
é
marcado
pela
fantasia
megalomaníaca
de
poderes
excepcionalmente grandes nas suas mãos. De certa maneira, incorpora de forma quase
17
MOTTA, Nair de Souza. Op. cit., p. 45.
automática um poder outrora atribuído a Deus e se acha por isso capaz de realizar as
mesmas obras extraordinárias.
O filósofo existencialista alemão dos anos 30, Martin Heidegger,18 dizia
que o homem dos tempos atuais é enfraquecido, debilitado. Somente assim é que
podemos encará-lo, conta um personagem que se acreditava forte, mas que diante das
circunstâncias tem que reconhecer necessariamente seu papel de coadjuvante no teatro
dos acontecimentos da sociedade.
Isso não quer dizer que as máquinas passem a assumir a posição que na
sociedade tecnocêntrica era de Deus e na antropocêntrica era do homem. De alguma
forma, as coisas, ou seja, as máquinas e os objetos de forma geral, não devem ser
imaginados como tão dominados e manipuláveis. Se aceitamos a idéia de que os
homens estão mais debilitados, emagrecidos, isso significa realçar um pouco mais a
importância de certos objetos.
O que ocorre na sociedade tecnocêntrica é que as pessoas já não formam
idéias sobre seu meio, seu país, sua sociedade a partir de impressões pessoais ou de
relatos vindos dos mais velhos, ou seja, da transmissão direta, mas sim a partir das cenas
transmitidas pelos meios de comunicação. E se os meios de comunicação – cinema e
literatura – já ilustravam esse imaginário das massas no início do século com cenas
mitológicas e histórias, hoje eles fecharam o circuito fornecendo todas as informações
sobre todos os mundos. Para trabalhar o passado, eles selecionam cenas, juntam-nas e
criam uma nova montagem novelística de determinada época. A montagem adquire uma
certa coerência e apresenta-se como a versão oficial.
Em outras épocas, quando a velocidade não ocupava lugar tão decisivo e
a motorização não havia se expandido de forma tão ampla, a cidade significava o local
de encontro e cruzamento das pessoas; ali elas cumprimentavam-se, viam-se,
certificavam-se da presença do outro e de que o mundo continuava o mesmo. Era a
marca de uma fixação representada pelas construções. Os edifícios sempre significaram
um certo tipo de enraizamento na paisagem urbana. São construções feitas para durar,
para ter uma vida que atravesse gerações.
Pelo menos esse foi o princípio da arquitetura, o de testemunho das vidas
anteriores por que passou a cidade, do conjunto arquitetônico como uma espécie de
18
HEIDEGGER, Martin, In MOTTA, Nair de Souza. Op. cit., p. 27.
museu. Através dele, as novas gerações tomam contato com o visual que as gerações de
antecessores deixaram e com ele se acostumam. Nele há uma concepção de espaço, de
estética, de ocupação de território; é representação do outro lado, do lado público de
cada indivíduo.
A sociedade tecnocêntrica é aquela em que o espaço público atrofia-se e
isso se vê também no papel das cidades. Elas não funcionam mais como local do
encontro, do cruzamento. Primeiro, porque tornaram-se muito grandes, fantasticamente
inchadas pelas migrações de outras regiões, pelo crescimento vegetativo da população e
pela tendência contínua de esvaziamento do campo. É a cidade da revolução urbana,
impessoal, desconhecida.
No começo do século XX, o grande espetáculo das massas das principais
metrópoles eram os cinemas. Verdadeiras multidões freqüentavam as salas de
espetáculo, e a atividade repousante de exibição de cenas, histórias e aventuras oferecia
um contraponto à atividade (maçante, desgastante, exaustiva, monótona) do trabalho de
uma fábrica.
Da mesma forma funcionava o rádio, também como um tipo de
entretenimento, que chegava aos lares em que as famílias se entretinham consigo
mesmas após um jantar, a leitura de um jornal, mas não se reuniam necessariamente em
torno de algum objeto. Quando o rádio aparece e torna-se a grande novidade, junta as
pessoas pela primeira vez em torno de uma única fonte e de uma emissão: um discurso,
uma música, um relato de curiosidades ou um passatempo qualquer.
A televisão, apesar de ter sido inventada antes, impôs-se, de fato, no pós
guerra. É a partir dos anos 50 que começa a receber altos investimentos econômicos e
que a indústria começa a fabricar aparelhos em massa, tornando-se cada vez mais um
objeto obrigatório nas residências. Ela rouba o público do cinema e do rádio; chega
mais rápido em matéria de notícias, do que o jornal e abarca uma série de outros meios.
Por outro lado, ela é um meio completo, por ser tanto imagem quanto
som, tanto fala quanto música. Daí ela conquistar rapidamente os demais meios e
apresentar de uma forma mais ou menos substituta os mesmos programas que se poderia
ter nos outros meios: a televisão transmite uma peça de teatro, um filme, um noticiário,
apesar da grande pobreza de reprodução na sua primeira fase de existência.
4 – ÉTICA E CIÊNCIA
Ao ser definida como um conjunto sistemático de conhecimento
racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral, a ética se nos
apresenta com um objeto específico que se pretende estudar cientificamente. Esta
pretensão se opõe à concepção tradicional que a reduzia a um simples capítulo da
filosofia, na maioria dos casos, especulativa.
A favor desta posição se propõem vários argumentos de importância
desigual, que conduzem à negação do caráter científico e independente da ética.
Argumenta-se que esta não elabora proposições objetivamente válidas, mas juízos de
valor ou normas que não podem pretender essa validade. Mas, como isso se aplica a um
tipo determinado de ética – a normativa – que se atribui a função fundamental de fazer
recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais; mas esta objeção
não atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da
moral, relacionando-a com as necessidades sociais do homem.
De acordo com Battista Mondin:
“Um código moral, ou sistema de normas, não é ciência, mas pode
ser explicado cientificamente, seja qual for o seu caráter ou as
necessidades sociais às quais corresponda. A moral não é científica,
mas suas origens, fundamentos e evolução podem ser investigadas
racional e objetivamente; isto é, do ponto de vista da ciência. Como
qualquer outro tipo de realidade – natural ou social – a moral não
pode excluir uma abordagem científica. Até mesmo um tipo de
fenômeno, seja cultural ou social como dos preconceitos não é uma
exceção no caso; é verdade que os preceitos não são científicos e que
com eles não se pode constituir uma ciência, mas é certamente
possível uma explicação científica dos preconceitos humanos pelo
fato de constituírem parte de uma realidade humana social.” 19
19
MONDIN, Battista. Introdução a filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p. 47.
Na negação de qualquer relação entre a ética e a ciência se quer basear a
atribuição exclusiva da primeira à filosofia. A ética é então apresentada como uma parte
de uma filosofia especulativa, isto é, construída sem levar em conta a ciência e a vida
real. Esta ética filosófica preocupa-se mais em buscar a concordância com princípios
filosóficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento histórico e
real, donde resulta também o caráter absoluto e apriorístico das suas afirmações sobre o
bom, o dever, os valores morais, etc. Certamente, embora a história do pensamento
filosófico esteja repleta deste tipo de éticas, numa época em que a história, a
antropologia, a psicologia e as ciências sociais nos proporcionam materiais
valiosíssimos para o estudo do fato moral, não se justifica mais a existência de uma
ética puramente filosófica, especulativa ou dedutiva, divorciada da ciência e da própria
realidade humana moral.
Em favor do caráter puramente filosófico da ética, argumenta-se também
que as questões éticas constituíram sempre uma parte do pensamento filosófico. Quase
desde as origens da filosofia, e particularmente desde Sócrates na Antigüidade grega, os
filósofos não deixaram de tratar em grau maior ou menor destas questões. E isto vale,
especialmente, para o vasto período da história da filosofia durante o qual, por não se ter
ainda elaborado um saber científico sobre diversos setores da realidade, seja natural ou
humana, a filosofia se apresentava como um saber total que se ocupava praticamente de
tudo. Mas, nos tempos modernos, lançam-se as bases de um verdadeiro conhecimento
científico – que é, originariamente, físico e matemático –, e, na medida em que a
abordagem científica se estende progressivamente a novos objetos ou setores da
realidade, inclusive à realidade social do homem vários ramos do saber se desprendem
do tronco comum da filosofia para constituir ciências especiais com um objeto
específico de investigação e com uma abordagem sistemática, metódica, objetiva, e
racional comum as diversas ciências. Um dos últimos ramos que se desprendeu do
tronco comum foi a psicologia, ciência natural e social, embora ainda hoje haja quem se
empenhe em fazer dela uma simples psicologia filosófica.20
Hoje trilham este caminho científico várias disciplinas – entre elas a ética
– que eram tradicionalmente, consideradas como tarefas exclusivas dos filósofos. Mas,
20
ARANHA, Maria Lucia de A. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: Moderna, 1996, p. 114.
atualmente, este processo de conquista de uma verdadeira natureza científica assume
antes a característica de uma ruptura com as filosofias especulativas que pretendem
sujeitá-las e de uma aproximação com as ciências que lhes põem em mãos proveitosas
conclusões. Desta maneira, a ética tende a estudar um tipo de fenômenos que se
verificam realmente na vida do homem como ser social e constituem o que chamamos
de mundo moral; ao mesmo tempo, procura estudá-los não deduzindo-os de princípios
absolutos ou apriorísticos, mas afundando suas raízes na própria existência histórica e
social do homem.
Uma ética científica pressupõe necessariamente a concepção filosófica
imanentista e racionalistica do mundo e do homem, na qual se eliminem instâncias ou
fatores extramundanos ou super-humanos e irracionais. De concordância com esta visão
imanentista e racionalista do mundo, a ética científica é incompatível com qualquer
visão universal e totalizadora que se pretenda colocar acima das ciências positivas ou
em contradição com elas. As questões éticas fundamentais devem ser abordadas a partir
de pressupostos filosóficos básicos, como o da dialética da necessidade e da liberdade.
Como teoria de uma forma específica do comportamento humano, a ética
não pode deixar de partir de determinada concepção filosófica do homem. O
comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, isto é,
como um ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia; que faz da
natureza externa um mundo à sua medida humana, e que, desta maneira, transforma a
sua própria natureza. Por conseguinte, o comportamento moral não é a manifestação de
uma natureza humana eterna e imutável, dada de uma vez para sempre, mas de uma
natureza que está sempre sujeita ao processo de transformação que constitui
precisamente a história da humanidade. A moral, bem como suas mudanças
fundamentais, não são senão uma parte desta história humana, isto é, do processo de
autocriação ou autotransformação do homem que se manifesta de diversas maneiras,
estreitamente relacionadas entre si: desde suas formas materiais de existência até suas
formas espirituais, nas quais se inclui a vida moral.
A moral é inseparável da atividade prática do homem – material e
espiritual –, a ética nunca pode deixar de ter como fundamento a concepção filosófica
do homem que nos dá uma visão total deste como ser social, e histórico e criador. Toda
uma série de conceitos com os quais a ética trabalha de uma maneira específica, como,
os de liberdade, necessidade, valor, etc., pressupõem um prévio esclarecimento
filosófico. Também os problemas relacionados com o conhecimento moral ou com a
forma, significação e validade dos juízos morais exigem que a ética recorra a disciplinas
filosóficas especiais, como a lógica, a filosofia da linguagem e a epistemologia.
5 – A ÉTICA NA VISÃO DE ARISTÓTELES
Aristóteles21 (384-322 a.C.), filosofo grego, foi um grande pensador
especulativo e profundo psicólogo. Ele parte da correlação entre o Ser e o Bem, insiste
sobre a variedade dos seres, concluindo que os bens devem variar, pois para cada ser
deve haver um bem, conforme sua natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele.
Sciacca afirma que:
“Toda coisa que o homem faz tem em vista um fim que lhe pareça
bom ou desejável. De todos os fins sobressai um desejo por si mesmo,
e neste sentido, é fim supremo ou sumo bem do qual os outros
dependem. Este fim é a felicidade. Não reside ela no prazer
subjetivo, mas na beleza e perfeição, mas não o fim último. O bem ou
o fim de todo ser consiste em atingir a perfeição da atividade que lhe
é própria; ora, a atividade própria do homem é a racional; portanto,
a sua perfeição reside no exercício desta atividade. A virtude consiste
pois no viver em perfeita harmonia com a razão; e quem age de
acordo com a razão é feliz. A vida segundo a virtude está conjugado
ao prazer, não como dela constitutivo, mas como o que acompanha.
Os bens exteriores e corpóreos contribuem para realizar a felicidade,
mas não a formam positivamente. Uma grande felicidade não torna
certamente feliz um homem virtuoso, mas não pode fazê-lo
desgraçado.” 22
21
SCIACCA, Michele Frederico. História da filosofia. 3. ed. v. 1, São Paulo: Mestre Jou, 1968,
pp. 102.
22
Idem, pp. 103-104.
Aristóteles distingue duas espécies de virtudes:
“As virtudes dianoéticas (que consiste no próprio exercício da razão)
e as virtudes práticas ou éticas (que consiste no domínio da razão
sobre as predileções sensíveis para formar o bom costume).
A virtude prática reside precisamente no meio justo. Com
efeito, é ela o hábito de escolher o justo meio adequado a
nossa natureza. A generosidade e a temperança pertencem
a esta categoria, julgam-se as virtudes, as ações dos
homens na prática, tendo em vista um determinado fim; por
isso mesmo incluem-se aqui as virtudes de hábitos ou
tendências.
Superiores às virtudes éticas são as virtudes dianoéticas, que se
reportam à atividade própria do intelecto, como a ciência
(capacidade demonstrativa), a arte (capacidade de produzir qualquer
objeto) e a sabedoria(saber discernir o que é bem ou mal para o
homem). Acima de todas , a sapiência (sophia) ou contemplação
(teoria), que consiste no possuir não apenas a capacidade
demonstrativa(ciência) mas também a de julgar sobre a verdade dos
próprios princípios. 23
Aristóteles foi o primeiro a elaborar um sistema completo de lógica.
Opondo-se ao idealismo platônico, demonstrou que as idéias não podem existir
separadas das coisas, mas são nelas imanentes. E a relação entre coisa e idéia altera-se
em relação de matéria e forma: a primeira é potência pura; a segunda, determinação em
ato.
A realidade é unidade de matéria e forma. O devir das coisas procede do
trânsito da potência ao ato. Somente Deus é Ato puro, único, eterno. O homem, como
todos os seres, é constituído de matéria e forma: a matéria é o corpo; a forma, a alma,
que é dotada de três funções: vegetativa, sensitiva e intectiva. Segundo Aristóteles, a
23
Idem, p. 104.
felicidade do homem consiste na atividade da razão por meio do exercício das virtudes
dianoéticas ou do intelecto, e as virtudes morais.
Ao contrário de Platão, que falava do mundo das idéias, onde estaria a
solução para todo o problema do conhecimento, Aristóteles não acreditava nesse mundo
ideal e ensinava que só existe o mundo sensível (o que se pode ver, ouvir, tocar, etc.).
Para ele, só se conhece alguma coisa a partir da própria sensibilidade e as idéias são
apenas o resultado do que se pensa ao sentir um objeto: a mente distingue os objetos
conforme as características sensíveis próprias a cada um deles – forma, cor, tamanho,
etc. Considerou três características – espaço, tempo e movimento –, muito importante
para se compreender e também explicar o mundo. E, já que para explicar se usam
palavras, criou um sistema de lógica como método de explicação.
Elaborou também um sistema de física, influenciado por noções
rudimentares da época, quando se achava tudo no mundo era feito de apenas quatro
elementos: terra, ar, água e fogo. Desenvolveu uma metafísica para explicar a existência
das coisas: para ele, o que existe não é apenas aquilo que é, mas também aquilo que essa
coisa pode vir a ser. Para que tudo aconteça, várias causas contribuem, e segundo ele a
mais importante é a intenção de que algo aconteça. Buscando causas finais para tudo,
concluiu que a primeira delas é Deus.
CONCLUSÃO
Com o término deste trabalho pudemos observar que a ética
e a moral estão ligadas no comportamento humano, razão
pela qual não existem de forma isoladas. O conhecimento
do ser humano deve ser pautado em virtudes harmonizadas
com a razão, donde possa obter a felicidade e o prazer.
A ética profissional compreende compromisso de comportamento,
decorrente da própria ação do trabalho, de suas conseqüências, junto aos diretamente
interessados e a sociedade em geral. Ela representa o que se espera da conduta de um
profissional. Representa mesmo uma necessidade e garantia para que haja um clima de
confiança nas relações humanas e sociais de profissional.
Percebe-se que a humanização da tecnologia torna-se urgente, para que
sejam dadas ao homem as prioridades essenciais à sua plena realização num sentido de
vida integral. As máquinas já não são mais passivas. Elas criam situações, fatos, armam
possibilidades que exigem ações imediatas e prontas de cada um. O indivíduo, diante da
tela, tem que se envolver, fazer parte do jogo. O agir hoje ocorre diante de uma
máquina, diante de um sistema que mexe exclusivamente com o cérebro e com a
capacidade imaginativa. Homem e máquina completam-se num todo mais ou menos
entrosado e organizado. Funcionam juntos. A ligação de ambos, sendo de natureza
puramente mental, faz com que fisicamente não haja nenhuma perda, nenhum
envolvimento, nenhum perigo.
Contudo o profissional precisa estar preparado para, de acordo com a
realidade social existente, em sua dinâmica e grau de cultura, acrescentar novos valores
e romper com os preconceitos e mitos, enfim, ter atitudes comparativas com as
exigências da realidade social em que atua. Só uma boa formação ética lhe dá o
discernimento indispensável para agir em face de cada situação encontrada ou dos
problemas que terá que enfrentar.
Finalizando, entende-se que todo profissional, conforme o tipo de sua
profissão é sempre co-responsável na promoção da humanidade, para isso é preciso
possuir um rico conteúdo humano ao lado da capacitação técnico-científica, ser
autêntico e idealista.
Assim, a ética científica está estreitamente relacionada com a filosofia,
embora não com qualquer filosofia; e esta relação, longe de excluir o seu caráter
científico, o pressupõe necessariamente se tratando de uma filosofia que se apoia na
própria ciência .
A ética de Aristóteles está unida a sua filosofia política, já que para ele a
comunidade social e política é o meio necessário da moral. Somente nela pode realizarse o ideal da vida teórica na qual se baseia a felicidade. O homem enquanto tal só pode
viver na cidade; é por natureza, um animal político, ou seja, social. Somente os deuses
ou os animais não têm necessidade da comunidade política para viver em sociedade. Por
conseguinte, não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas como
membro da comunidade. Por sua vez, porém, a vida moral não é um fim em si mesmo,
mas condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual
consiste a felicidade.
BIBLIOGRAFIA
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando –
Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1996.
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1983.
MOTTA, Nair de Souza. Ética e a Vida Profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural,
1984.
NETO, A. Delorenzo. Sociologia aplicada à administração. 7. ed. São Paulo: Atlas,
1996.
PRADO,
Lourenço
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Prado.
Educação:
ajudar a pensar, sim:
conscientizar, não. São Paulo: Agir, 1991.
SCIACCA, Michele Frederico. História da filosofia. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou,
1968.
VALLS, Álvaro L.M. O que é ética. 9.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999.
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A ÉTICA E O FAZER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO Tânia Tito