UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO: “A VEZ DO MESTRE” A ÉTICA E O FAZER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO Tânia Tito Loureiro Rio de Janeiro, abril de 2002 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO: “A VEZ DO MESTRE” A ÉTICA E O FAZER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO Tânia Tito Loureiro Monografia apresentada a Faculdade Cândido Mendes como requisito parcial a obtenção do título em Reengenharia e Gestão de Recursos Humanos, sob a orientação da Professora Maria Esther de Araujo. Rio de Janeiro, abril de 2002 DEDICATÓRIA Com especial carinho, dedico este trabalho as minhas queridas filhas Marcelle e Danielle. A elas, o meu amor eterno. “A virtude consiste pois no viver consoante a razão; e quem age de acordo com a razão é feliz.” Aristóteles (384-322 a. C.) AGRADECIMENTOS À Deus que me deu coragem para não desistir. Aos professores do Curso que contribuíram para minha formação. Agradeço a todos em geral que, de alguma forma, pensam em mim e querem me ver crescer. RESUMO A presente monografia apresenta aspectos gerais sobre a ética. O trabalho, dividido em quatro capítulos, aborda aspectos relevantes como a moral, em seu primeiro capítulo. Em seguida, apresenta sua definição, seu conceito e finalidade, procurando ainda enfatizar o que mais se relaciona com o tema escolhido. No capítulo três fala sobre ética profissional, abordando dentro deste capítulo a ética e a deontologia assim como a ética e a tecnologia. Enfatiza logo após, a ética e ciência e, finalizando, a ética na visão de Aristóteles. Foram consultadas obras de autores conceituados com opiniões importantes que se relacionam ao tema deste trabalho. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 07 CAPÍTULOS 1 – MORAL ..................................................................................................... 1.1 – Conceito Moral ................................................................................. 1.2 – Caráter Histórico e Social da Moral .................................................. 1.3 – Caráter Pessoal da Moral .................................................................. 1.4 – Caráter Social e Pessoal da Moral .................................................... 1.5 – Estrutura do Ato Moral ..................................................................... 08 08 08 09 09 10 2 – ÉTICA ........................................................................................................ 2.1 – Definição, Conceito e Finalidade ...................................................... 2.2 – Diferença entre os Problemas Morais e Éticos .................................. 2.3 – Principais Posicionamentos Éticos .................................................... 2.4 – A Importância da Ética no Dimensionamento Humano .................... 11 11 12 13 15 3 – ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................ 3.1 – Ética e a Deontologia ......................................................................... 3.2 – Posicionamento Ético ......................................................................... 3.3 – Ética e a Tecnologia ........................................................................... 17 17 18 19 4 – ÉTICA E CIÊNCIA .................................................................................. 24 5 – A ÉTICA NA VISÃO DE ARISTÓTELES ............................................ 28 CONCLUSÃO ................................................................................................. 31 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 33 ANEXOS ......................................................................................................... 34 INTRODUÇÃO No trabalho que está sendo apresentado tentamos mostrar o que significa a ética, no comportamento humano e como as pessoas podem tentar mudar seu comportamento, para que possam se integrar a sua comunidade e a sociedade em geral. Foram abordados temas importantes como a ética profissional e a tecnologia. Foram examinados também outros temas que parecem de suma importância para o trabalho: a moral, o conceito e a finalidade da ética; ética e ciência; e, finalmente, a ética na visão de Aristóteles. Pode-se dizer que a ética profissional nunca ficará desatualizada, sempre haverá novas informações e será destaque, tanto em jornais e revistas como na própria televisão. Deixou-se aqui registrado que independente da profissão, das mais simples as mais complexas, muitos agem corretamente e que a ética está na pessoa, não sendo esta muito fácil de ser adquirida somente com leituras de livros, e sim pela própria personalidade e caráter do indivíduo. A posição de Aristóteles foi examinada já que contribui, de uma maneira ou de outra, para a realização da moral, mas sem nunca esquecer que o verdadeiro comportamento moral coloca sempre em ação os indivíduos como tais, pois o ato moral exige a sua decisão livre e consciente, assumida por uma convicção interior e não por uma atitude exterior e impessoal. 1 – M ORAL 1.1 – Conceito de Moral A palavra moral deriva do latim mores, que significa costumes, hábitos, daí existir a correlação da moral com costumes. Portanto moral é o conjunto de normas que regulam o comportamento individual e social do homem.1 Moral representa o conjunto de princípios que regem a conduta, aceita numa época, por determinada comunidade, onde o desrespeito das regras de conduta pode provocar tácita ou explicitamente uma atitude de desaprovação por parte da sociedade. Moral sempre existiu, pois todas as pessoas possuem consciência moral que os leva intuitivamente a distinguir o bem do mal no contexto histórico-social em que vive. A moral surgiu quando o homem passou a fazer parte de uma coletividade, ou seja, surgiu com a tribo, nas sociedades primitivas.2 1.2 – Caráter Histórico e Social da Moral Moral é a parte da filosofia que se preocupa com a reflexão a respeito dos fundamentos da vida moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas direções, dependendo da concepção de homem que se toma como ponto de partida. 1 2 VASQUES, Adolfo Sánches. Ética. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990, p. 12. JÚLIO, Maria da Costa. A ética nos cursos da área das ciências sociais. 1998, p. 31. Exterior e anterior ao indivíduo, há uma moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de normas. Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral ou imoral.3 É de tal importância a existência do mundo moral, que se torna impossível imaginar um povo sem qualquer conjunto de regras. Podemos dizer que uma das características fundamentais do homem é ser capaz de produzir interdições, portanto o comportamento varia espacialmente e temporalmente, conforme as exigências das condições nas quais os homens se organizam ao estabelecerem as formas efetivas e práticas de trabalho. E cada vez que as relações de produção são alteradas, sobrevêm modificações nas exigências das normas do comportamento coletivo. 1.3 – Caráter Pessoal da Moral À medida que os grupos primitivos abandonam a abrangência da consciência mítica, iniciando um maior questionamento racional, e à medida que a criança se aproxima da adolescência, desenvolvendo o pensamento abstrato e a reflexão crítica, todos os valores herdados são questionados. O aumento do grau de consciência e de liberdade introduz um elemento contraditório que irá, o tempo todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos de um grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas. Isso significa que um ato só é propriamente moral se passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma. À exterioridade moral contrapõe-se a necessidade da interioridade, da adesão mais íntima. 1.4 – Caráter Social e Pessoal da Moral 3 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS , Maria Helena Pires. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p. 303. Está-se diante de dois pólos contraditórios. Se aceita-se como predominante o caráter social da moral, inevitavelmente cai-se no dogmatismo e no legalismo. Ou seja, atribui-se um valor maior à lei e aos regulamentos, caracterizando o ato moral como aquele que se adapta à norma estabelecida. Uma educação moral nesse sentido residiria apenas em impor-se nas pessoas o medo às conseqüências da não-observância da lei. Portanto, é necessário considerar esses dois pólos contraditórios em uma relação dialética4, ou seja, uma relação ao mesmo tempo de exclusão e de implicação recíproca; uma relação de determinismo e de liberdade; uma relação de adaptação e de desadaptação à norma; uma relação de aceitação e de recusa da interdição. O homem, ao mesmo tempo que é herdeiro, é criador de cultura, e só terá uma vida autêntica se, diante da moral constituída5, for capaz de propor uma moral constituinte6, isto é, a que se faz por meio das experiências vividas. 1.5 – Estrutura do Ato Moral A instauração do mundo moral exige do homem uma consciência crítica, chamada de consciência moral. Trata-se do conjunto de exigências das prescrições que se reconhece como válidas para orientar a nossa escolha; é essa consciência que vai distinguir o valor moral dos nossos atos. “Percebe-se, então, que o ato moral é feito de dois aspectos: o normativo e o fatual. O normativo são as normas ou regras de ação e os imperativos que enunciam o dever ser. O fatual são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do normativo regras como: ‘Não minta’, ‘Não mate’. O campo do fatual é a efetivação ou não da norma na experiência vivida. Esses dois pólos são distintos, porém inseparáveis. 4 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS , Maria Helena Pires. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p. 304. 5 Idem, p. 305. 6 Idem, p. 305. A norma só tem sentido se orientada para a prática, e o fatual só adquire contorno moral quando se refere à norma.” 7 2 – ÉTICA 2.1 – Definição, Conceito e Finalidade A palavra ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser ou caráter, isto é, ética “é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica do comportamento humano”.8 A ética pode ser definida como uma doutrina disciplinadora do costume ou da boa formação, isto é, uma ciência que cria e consagra os princípios básicos que regem a conduta, os costumes e a moral dos homens. A ética supõe conhecimentos, sendo esta maior que a cultura, tendo surgido com Sócrates. Baseia-se em conhecimentos que a pessoa adquire investigando que poderão ser de origem científica. A finalidade da ética é esclarecer e sistematizar as bases do fato moral, determinando as diretrizes e os princípios fornecidos por ela. A ética se ocupa de um objeto próprio, o setor da realidade humana que é chamamos de moral, formada por um tipo particular de fatos ou atos humanos. Como ciência, parte de um certo tipo de fatos, tentando descobrir princípios gerais. Neste caso, apesar de partir de dados empíricos, isto é, da existência de um comportamento 7 8 VÁSQUEZ, Adolfo Sanchez. Op. cit., pp. 50-51. VÁSQUEZ, Adolfo Sanchez. Op. cit., p. 49. moral efetivo, não pode permanecer no nível de uma simples descrição ou registro dos mesmos, mas o ultrapassa com seus conceitos, hipóteses e teorias. Neste sentido, Adolfo Sanches Vasques assim se expressa: “A ética é uma ciência da moral, ou seja, de uma esfera do comportamento humano. Não deve confundir aqui a teoria com o seu objeto: o mundo moral. Devem, as proposições da ética, ter o mesmo rigor, a mesma coerência e fundamentações das proposições científicas. Opondo-se, os princípios, as normas ou os juízos de uma moral determinada não têm o mesmo caráter. Apesar de que a experiência histórica moral como várias vezes não são conciliados com os conhecimentos fornecidos pelas ciências naturais e sociais.” 9 Portanto, pode-se afirmar que, se existe uma ética científica, da moral não se pode dizer o mesmo. A moral não é científica, porém o conhecimento da moral pode o ser. Sendo assim, não pode existir uma moral científica compatível com os conhecimentos científicos sobre o homem, a sociedade e, em particular sobre o comportamento humano moral. A ética pode servir, fundamentando uma moral, sem ser normativa ou perceptiva. Como a ética não é a moral, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições, seu objetivo é explicar a moral efetiva e, nesse ponto, pode influenciar na própria moral. O objeto de estudo da ética é formado por tipos de atos humanos: os atos conscientes e voluntários dos indivíduos que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais ou a sociedade em seu conjunto. 9 Idem, p. 13. 2.2 – Diferença Entre os Problemas Morais e Éticos A diferença entre os problemas morais e éticos é caracterizada pela sua generalidade. Se na vida real um indivíduo enfrenta uma determinada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita no seu íntimo. O problema é como agir de maneira a que sua opção possa ser boa, ou seja, moralmente valiosa. Será inútil recorrer a ética com esperança de encontrar nela uma norma de ação para cada situação concreta, mas ela poderá dizer, em geral, como é um comportamento pautado de normas, ou em que consiste o fim visado pela moral, do qual faz parte o procedimento do indivíduo concreto de todos. O problema do que fazer em cada situação concreta é um problema prático-moral e não teórico-ético.10 Os problemas morais são aqueles que referem-se as atitudes ou ações reais, efetivas, particulares, vividas no cotidiano em relação com outras pessoas. O que decidir em cada situação concreta é um problema prático, logo moral. Analisar, porém, as razões das nossa decisões, fundamentálas ou formular juízos a respeito delas, é um problema ético ou teórico. Os problemas teóricos e os práticos, se distinguem, mas não estão separados por uma barreira. As soluções dadas aos teóricos não deixam de influir na colocação e na solução dos práticos, ou seja, na prática moral os problemas surgidos pela moral prática, assim como as suas soluções, constituem a matéria de reflexão, o fato ao qual a teoria ética deve voltar constantemente para que não seja uma especulação estéril, porém sim a teoria de um modo efetivo, real, do comportamento humano. 2.3 – Principais Posicionamentos Éticos Da mesma forma que não existe uma ética universal em estrutura e conteúdo, também não poderá existir um valor central único. O valor central situa-se em 10 Idem, pp. 5-9. Deus (Ética Cristã), no Estado (Ética Autoritária) ou no próprio ser humano (Ética Humanística).11 Partindo dos valores considerados centrais, far-se-á uma rápida apresentação dos principais posicionamentos éticos. Não se tem a intenção de indicar este ou aquele posicionamento ético, pois ética é opção, feita com conhecimento fundamentado, gerando convicção. O objetivo é demonstrar como se pode e como se deve adquirir um posicionamento ético e quanto isto é importante para uma pessoa em sua visão histórico-social, em sua atuação a um posicionamento ético, mais autêntico em face da concepção de vida que escolhe. É importante lembrar que uma formação ética autêntica supõe uma incorporação, racional e consciente, dos valores que irão estruturar o caráter da pessoa, e deve ainda ser prática, isto é, traduzir-se em ações e atitudes, compatíveis com o ideal de vida que assumiu. a) Ética Cristã A ética cristã baseia-se em um conjunto de valores com implicações de ordem religiosa, pois para os espiritualistas, em particular os cristãos, o fim último da pessoa humana é Deus. Esta teve origem nos dez mandamentos revelados ao profeta Moisés, no Monte Sinai. Existe uma ciência que estuda a existência de Deus pela razão – Teodicéia, que apresenta provas metafísicas e até morais da existência de Deus. A ética cristã é o conhecimento de Deus pela fé e a ciência, que ocupa este estudo, denomina-se Teologia. Pode-se dizer que a ética cristã é profundamente humanística, mas nem toda ética humanística é cristã. b) Ética Autoritária Tem como valor central o Estado, e como atribuições a defesa interna, administração geral e aplicação da justiça, passa a assumir as funções culturais políticas e sociais. A ação estatal pode intervir também nos órgãos privados da sociedade, assume uma tarefa educadora, desenvolvendo um trabalho ideológico. 11 MOTTA, Nair de Souza. Ética e a vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1994, pp. 30- O bem resume-se aos interesses do Estado, e como a pessoa humana vive em função do todo, a sua auto-realização terá que ser em função do Estado, sendo sua liberdade, encarada como o seu maior bem. O Estado seria o “fim último” a ser atingido e não um “meio” para a auto-realização da pessoa humana. A ética autoritária, além de impedir a liberdade do homem, anula as suas capacidades criativas, restringe o crescimento de sua personalidade. A autoridade, desde que justa no cumprimento de suas funções, é legítima e indispensável à sobrevivência da pessoa humana e da sociedade civil. c) Ética Humanística Tem como valor central o homem, considerado pelos humanistas como a medida de todas as coisas. Diferentemente da Ética Autoritária, a concepção humanística admite que só a pessoa humana estabelece o que é bom ou mau para ela, só o homem é capaz de criar valores, inclusive os éticos. O fim último é a auto-realização do ser humano, excluída qualquer influência transcendental, sua meta é viver a vida em toda a sua plenitude. Os valores éticos são apoiados na autonomia e a razão que os estabelece, independente de qualquer outro poder. A ética humanística tem a capacidade de valorizar a pessoa humana, com o objetivo de definir o ser humano, sua natureza, sua evolução e seu fim. Não admite a natureza como fixa em sua essência, ou seja, que os homens são todos iguais em sua natureza, para os humanistas natureza humana é um objetivo. O homem não é autor de sua vida, logo não pode ser a fonte da moralidade. Pelo exposto, vê-se que a ética humanística difere da ética cristã, esta ética é válida, pelo fato da sua preocupação com a valorização da pessoa humana. 2.4 – A Importância da Ética no Dimensionamento Humano 34. A concepção de vida é algo que todo o ser humano precisa ter, para que possa cumprir com os seus deveres, defender os seus direitos, isto é, agir com segurança e firmeza no meio sócio-cultural em que vive. O que a ética pretende mostrar ao homem é o que somos como criatura humanas, para que vivemos, ou seja, qual a finalidade de nossas vidas, nos leva a uma terceira premissa de real importância: como agir, que se traduz em uma hierarquia de valores, que se resume no que foi definido como o bem. Importante a afirmação de Mario Gonçalves Viana: “A vida de um ser humano possui peculiaridades especiais e diferentes de outros seres vivos. Vive em sociedade, a qual deve garantir-lhe direitos que lhe são inerentes, cobrando-lhe, outrossim, deveres os quais ele se obriga pelas exigências da vida grupal. A correlação homem-sociedade é um fato real, evidente, indispensável à auto-realização do homem e a sobrevivência de qualquer tipo de sociedade humana.” 12 Por ser a ética muito controvertida o homem precisa ter dela um conhecimento mais profundo, pois só assim um ser terá a capacidade de contribuir para o seu bem-estar e do seu próximo, garantindo uma convivência social autêntica, em face de qualquer momento histórico. Ao homem, ser criador, social e histórico, cabe orientar as mudanças ou reformas sociais, alterando os rumos da história. Entretanto, é o seu dever estar capacitado moralmente para esta esfera, pois a sociedade em que vivemos é o resultado de esforços anteriores, representa um patrimônio pelo qual o homem tem o dever de zelar, aperfeiçoando cada vez mais, repartindo-o com os seus contemporâneos e não o dilapidando ou esvaziando-o dos seus valores básicos. A ética ao levar a pessoa humana a um ideal na sua maneira de viver, contribui para que sua participação seja mais efetiva e a sua atuação mais eficiente no seu momento histórico. 12 VIANA, Mario Gonçalves. Ética geral e profissional. Porto Figueiras, s/d, p. 18. A luta pelo dimensionamento humano tem sido uma tônica através dos séculos, a ética integra esta luta pela relação do “ser” da pessoa humana com o seu “dever ser”. Os vários tipos de humanismos surgiram em conseqüência desta preocupação constante da história, a qual chegou até a nossa época. 3 – ÉTICA PROFISSIONAL 3.1 – Ética e a Deontologia Imédio Nerici, em seu livro Didática – Uma Introdução – assim define a ética: “Ética profissional pode ser definida como sendo o conjunto de prescrições que diz respeito ao comportamento funcional de determinada profissão. Ou, em outras palavras, deve haver uma modéstia, um respeito digno para com a própria profissão. A ética profissional é o compromisso de o homem respeitar os seus semelhantes, no trato da profissão que exerce.” 13 O objetivo da ética profissional é o relacionamento do profissional com o seu cliente e vice-versa, tendo em vista, principalmente a dignidade do homem e o bemestar do contexto sócio-cultural em que atua a sua profissão. A ética profissional atinge todas as profissões das mais simples as mais complexas, ou seja, a de servente, motorista, digitador, professor, médico, etc. Entretanto, sua extensão aumenta à medida que seu contato seja diretamente com a pessoa humana. Todavia, o aspecto dimensional da ética profissional não diminui a responsabilidade dos profissionais, cada um em sua área de atuação. “A deontologia é a parte da ética que estuda os deveres de certa profissão, é considerada a ciência dos deveres. Esta fornece os elementos ou os métodos para adaptar a conduta dos profissionais. Esses deveres estão nos códigos de ética de cada classe profissional, organizadas pelos órgãos representativo de cada classe.” 14 Acerca do tema, Rui de Azevedo Sodré assim se expressou: 13 14 NERECI, Imédio G. Didática – Uma introdução. São Paulo: Atlas, 1989, p. 116. Idem, p. 117. É importante, para o profissional, que conheça as regras de conduta e os privilégios de seu ofício; pode-se dizer que observar o código de ética profissional é dever inerente ao exercício de profissão. 15 Em se tratando de profissão, os termos Moral, Ética e Deontologia são empregados indistintamente. Na França, por exemplo, usam o termo Deontologia, porém existem nacionalidades que preferem chamar de Código de Moral.16 A maioria das profissões, porém, prefere a expressão “Código de Ética”. Sendo a ética o estudo dos fundamentos da moral, o termo ética por sua essência, é o mais adequado. 3.2 – Posicionamento Ético Embora a ética tenha variado com os diversos tipos de cultura, porque não pode ser dissociada do momento histórico-social em que o homem vive, o mínimo que se pode exigir de um profissional é que ele tenha um posicionamento éticohumanístico. A pessoa humana pela sua inteligência, pela sua liberdade e pelas suas capacidades terá que ser o centro do contexto histórico-cultural em que se acha inserida. Como ser capaz de participar e até de orientar o processo histórico-cultural, é vital o seu engajamento que só estará garantido, mediante um posicionamento ético cristão ou humanístico. Como a ética Cristã possui fundamentos de ordem religiosa, o mínimo que se pode desejar das Universidades é que se preocupem com a formação humanística dos futuros profissionais, por meio de uma segura formação ética. A formação ética de um profissional, entretanto, não se liga apenas aos valores que lhe são transmitidos mediante uma profissão; a sua estrutura ética pessoal terá que ser levada em conta, embora ele não tenha o direito de transmitir ou impor valores éticos aos outros. Não se pode deixar de considerar que, independente da profissão a que se propõe exercer, toda pessoa com maturidade suficiente, já possui um 15 SODRÉ, Rui de Azevedo. O advogado e a ética profissional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967, p. 83. 16 Idem, p. 85. posicionamento ético em face da vida, isto é, o porque das suas ações e das suas atitudes, enfim um comportamento moral em face da sociedade em que vive. A formação ética, especificamente ligada à profissão, seria a incorporação de novos valores, indispensáveis ao bom exercício profissional, valores estes que viriam reforçar o procedimento ético, uma vez que já existe um conhecimento fundamentado dos valores então incorporados, uma convicção na maneira de agir, uma conscientização maior da importância da ética na atuação profissional. Esta incorporação de novos valores só será válida, se eles forem, de fato, aceitos e interiorizados pelo profissional, e não encarados como meros conceitos abstratos. É bom ressaltar que a ética, por si mesma, já impõe um conjunto de valores que constituem a sua essência e que não poderão ser relegados, principalmente pelos profissionais, que servem também ao bem-comum, não obstante as diferenças culturais por que tem passado a humanidade. 3.3 – Ética e a Tecnologia Máquinas e aparelhos substituem as pessoas no trabalho industrial, nas pequenas atividades domésticas, fazem operações matemáticas, registram a memória das pessoas, em suma, preenchem uma série de funções que até então eram executadas pelos próprios homens. O homem como que transfere à máquina uma grande quantidade de trabalhos que o ligavam diretamente à terra, à produção e mesmo à criação artística. Estamos numa era em que todos esses artefatos, que foram num certo momento considerados prolongamento dos homens, seus utensílios, ferramentas, máquinas, ocupam de tal maneira o cotidiano das pessoas que constituem quase que uma certa vastidão dominante. Isso quer dizer: o homem, no momento em que transfere suas funções às máquinas, abre mão também de grande parte de sua autonomia em relação ao controle de suas coisas. Segundo Nair de Souza Motta: A época é marcada por uma nova relação dos homens diante das máquinas. Nas grandes indústrias, por exemplo, os sistemas computadorizados são os que definem quais os empregados que poderão ser dispensados e quais mantidos, quais são os mais operantes, quais os mais eficazes. Em vez de pessoas avaliarem, agora são os aparelhos que o fazem. E os aparelhos, como se sabe, não têm qualquer tipo de relação subjetiva, emocional, de envolvimento afetivo com as pessoas. Agem a partir de pontos de vista estritamente técnicos e impessoais. Desaparecem os demais julgamentos baseados num componente humano, a saber, seu empenho pessoal em fazer a coisa, sua simpatia pelo trabalho, sua idade, sua facilidade psicológica com a função. 17 No mundo tecnocêntrico, o homem submete-se a esse controle generalizado das máquinas, comportando-se, ele próprio, também, como uma espécie de máquina, tendo um número, uma função, vendo seu trabalho tornar-se componente maquínico de todo sistema. Marcante em todo tipo de sociedade, associado à questão da ampla difusão da técnica e dos sistemas eletrônicos, estende-se agora um grande sistema que servirá de meio para produzir as informações e os comunicados às pessoas: os meios de comunicação eletrônicos, que realizam a própria rearticulação de toda a sociedade. Estamos numa era em que as pessoas na Terra passam a viver a ilusão de que podem tudo: interferir na natureza, na própria sociedade, em todas as relações grandes e pequenas entre homens, animais, objetos e mundo circundante. Trata-se de um sujeito que se assenhora de tudo e acredita que tudo existe pura e simplesmente por sua obra. É sua razão que define quando, como e por que as coisas surgem e desaparecem. Esse sujeito apropria-se do caráter divino de sobrepujar o mundo, a cultura e definir-se como único. A tal característica dá-se o nome de transcendência e o indivíduo que se crê superdotado, capaz de uma interferência fantástica em todo o mundo, foi chamado na filosofia de sujeito transcendental. Ele é marcado pela fantasia megalomaníaca de poderes excepcionalmente grandes nas suas mãos. De certa maneira, incorpora de forma quase 17 MOTTA, Nair de Souza. Op. cit., p. 45. automática um poder outrora atribuído a Deus e se acha por isso capaz de realizar as mesmas obras extraordinárias. O filósofo existencialista alemão dos anos 30, Martin Heidegger,18 dizia que o homem dos tempos atuais é enfraquecido, debilitado. Somente assim é que podemos encará-lo, conta um personagem que se acreditava forte, mas que diante das circunstâncias tem que reconhecer necessariamente seu papel de coadjuvante no teatro dos acontecimentos da sociedade. Isso não quer dizer que as máquinas passem a assumir a posição que na sociedade tecnocêntrica era de Deus e na antropocêntrica era do homem. De alguma forma, as coisas, ou seja, as máquinas e os objetos de forma geral, não devem ser imaginados como tão dominados e manipuláveis. Se aceitamos a idéia de que os homens estão mais debilitados, emagrecidos, isso significa realçar um pouco mais a importância de certos objetos. O que ocorre na sociedade tecnocêntrica é que as pessoas já não formam idéias sobre seu meio, seu país, sua sociedade a partir de impressões pessoais ou de relatos vindos dos mais velhos, ou seja, da transmissão direta, mas sim a partir das cenas transmitidas pelos meios de comunicação. E se os meios de comunicação – cinema e literatura – já ilustravam esse imaginário das massas no início do século com cenas mitológicas e histórias, hoje eles fecharam o circuito fornecendo todas as informações sobre todos os mundos. Para trabalhar o passado, eles selecionam cenas, juntam-nas e criam uma nova montagem novelística de determinada época. A montagem adquire uma certa coerência e apresenta-se como a versão oficial. Em outras épocas, quando a velocidade não ocupava lugar tão decisivo e a motorização não havia se expandido de forma tão ampla, a cidade significava o local de encontro e cruzamento das pessoas; ali elas cumprimentavam-se, viam-se, certificavam-se da presença do outro e de que o mundo continuava o mesmo. Era a marca de uma fixação representada pelas construções. Os edifícios sempre significaram um certo tipo de enraizamento na paisagem urbana. São construções feitas para durar, para ter uma vida que atravesse gerações. Pelo menos esse foi o princípio da arquitetura, o de testemunho das vidas anteriores por que passou a cidade, do conjunto arquitetônico como uma espécie de 18 HEIDEGGER, Martin, In MOTTA, Nair de Souza. Op. cit., p. 27. museu. Através dele, as novas gerações tomam contato com o visual que as gerações de antecessores deixaram e com ele se acostumam. Nele há uma concepção de espaço, de estética, de ocupação de território; é representação do outro lado, do lado público de cada indivíduo. A sociedade tecnocêntrica é aquela em que o espaço público atrofia-se e isso se vê também no papel das cidades. Elas não funcionam mais como local do encontro, do cruzamento. Primeiro, porque tornaram-se muito grandes, fantasticamente inchadas pelas migrações de outras regiões, pelo crescimento vegetativo da população e pela tendência contínua de esvaziamento do campo. É a cidade da revolução urbana, impessoal, desconhecida. No começo do século XX, o grande espetáculo das massas das principais metrópoles eram os cinemas. Verdadeiras multidões freqüentavam as salas de espetáculo, e a atividade repousante de exibição de cenas, histórias e aventuras oferecia um contraponto à atividade (maçante, desgastante, exaustiva, monótona) do trabalho de uma fábrica. Da mesma forma funcionava o rádio, também como um tipo de entretenimento, que chegava aos lares em que as famílias se entretinham consigo mesmas após um jantar, a leitura de um jornal, mas não se reuniam necessariamente em torno de algum objeto. Quando o rádio aparece e torna-se a grande novidade, junta as pessoas pela primeira vez em torno de uma única fonte e de uma emissão: um discurso, uma música, um relato de curiosidades ou um passatempo qualquer. A televisão, apesar de ter sido inventada antes, impôs-se, de fato, no pós guerra. É a partir dos anos 50 que começa a receber altos investimentos econômicos e que a indústria começa a fabricar aparelhos em massa, tornando-se cada vez mais um objeto obrigatório nas residências. Ela rouba o público do cinema e do rádio; chega mais rápido em matéria de notícias, do que o jornal e abarca uma série de outros meios. Por outro lado, ela é um meio completo, por ser tanto imagem quanto som, tanto fala quanto música. Daí ela conquistar rapidamente os demais meios e apresentar de uma forma mais ou menos substituta os mesmos programas que se poderia ter nos outros meios: a televisão transmite uma peça de teatro, um filme, um noticiário, apesar da grande pobreza de reprodução na sua primeira fase de existência. 4 – ÉTICA E CIÊNCIA Ao ser definida como um conjunto sistemático de conhecimento racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral, a ética se nos apresenta com um objeto específico que se pretende estudar cientificamente. Esta pretensão se opõe à concepção tradicional que a reduzia a um simples capítulo da filosofia, na maioria dos casos, especulativa. A favor desta posição se propõem vários argumentos de importância desigual, que conduzem à negação do caráter científico e independente da ética. Argumenta-se que esta não elabora proposições objetivamente válidas, mas juízos de valor ou normas que não podem pretender essa validade. Mas, como isso se aplica a um tipo determinado de ética – a normativa – que se atribui a função fundamental de fazer recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais; mas esta objeção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com as necessidades sociais do homem. De acordo com Battista Mondin: “Um código moral, ou sistema de normas, não é ciência, mas pode ser explicado cientificamente, seja qual for o seu caráter ou as necessidades sociais às quais corresponda. A moral não é científica, mas suas origens, fundamentos e evolução podem ser investigadas racional e objetivamente; isto é, do ponto de vista da ciência. Como qualquer outro tipo de realidade – natural ou social – a moral não pode excluir uma abordagem científica. Até mesmo um tipo de fenômeno, seja cultural ou social como dos preconceitos não é uma exceção no caso; é verdade que os preceitos não são científicos e que com eles não se pode constituir uma ciência, mas é certamente possível uma explicação científica dos preconceitos humanos pelo fato de constituírem parte de uma realidade humana social.” 19 19 MONDIN, Battista. Introdução a filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p. 47. Na negação de qualquer relação entre a ética e a ciência se quer basear a atribuição exclusiva da primeira à filosofia. A ética é então apresentada como uma parte de uma filosofia especulativa, isto é, construída sem levar em conta a ciência e a vida real. Esta ética filosófica preocupa-se mais em buscar a concordância com princípios filosóficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento histórico e real, donde resulta também o caráter absoluto e apriorístico das suas afirmações sobre o bom, o dever, os valores morais, etc. Certamente, embora a história do pensamento filosófico esteja repleta deste tipo de éticas, numa época em que a história, a antropologia, a psicologia e as ciências sociais nos proporcionam materiais valiosíssimos para o estudo do fato moral, não se justifica mais a existência de uma ética puramente filosófica, especulativa ou dedutiva, divorciada da ciência e da própria realidade humana moral. Em favor do caráter puramente filosófico da ética, argumenta-se também que as questões éticas constituíram sempre uma parte do pensamento filosófico. Quase desde as origens da filosofia, e particularmente desde Sócrates na Antigüidade grega, os filósofos não deixaram de tratar em grau maior ou menor destas questões. E isto vale, especialmente, para o vasto período da história da filosofia durante o qual, por não se ter ainda elaborado um saber científico sobre diversos setores da realidade, seja natural ou humana, a filosofia se apresentava como um saber total que se ocupava praticamente de tudo. Mas, nos tempos modernos, lançam-se as bases de um verdadeiro conhecimento científico – que é, originariamente, físico e matemático –, e, na medida em que a abordagem científica se estende progressivamente a novos objetos ou setores da realidade, inclusive à realidade social do homem vários ramos do saber se desprendem do tronco comum da filosofia para constituir ciências especiais com um objeto específico de investigação e com uma abordagem sistemática, metódica, objetiva, e racional comum as diversas ciências. Um dos últimos ramos que se desprendeu do tronco comum foi a psicologia, ciência natural e social, embora ainda hoje haja quem se empenhe em fazer dela uma simples psicologia filosófica.20 Hoje trilham este caminho científico várias disciplinas – entre elas a ética – que eram tradicionalmente, consideradas como tarefas exclusivas dos filósofos. Mas, 20 ARANHA, Maria Lucia de A. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: Moderna, 1996, p. 114. atualmente, este processo de conquista de uma verdadeira natureza científica assume antes a característica de uma ruptura com as filosofias especulativas que pretendem sujeitá-las e de uma aproximação com as ciências que lhes põem em mãos proveitosas conclusões. Desta maneira, a ética tende a estudar um tipo de fenômenos que se verificam realmente na vida do homem como ser social e constituem o que chamamos de mundo moral; ao mesmo tempo, procura estudá-los não deduzindo-os de princípios absolutos ou apriorísticos, mas afundando suas raízes na própria existência histórica e social do homem. Uma ética científica pressupõe necessariamente a concepção filosófica imanentista e racionalistica do mundo e do homem, na qual se eliminem instâncias ou fatores extramundanos ou super-humanos e irracionais. De concordância com esta visão imanentista e racionalista do mundo, a ética científica é incompatível com qualquer visão universal e totalizadora que se pretenda colocar acima das ciências positivas ou em contradição com elas. As questões éticas fundamentais devem ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos básicos, como o da dialética da necessidade e da liberdade. Como teoria de uma forma específica do comportamento humano, a ética não pode deixar de partir de determinada concepção filosófica do homem. O comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, isto é, como um ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia; que faz da natureza externa um mundo à sua medida humana, e que, desta maneira, transforma a sua própria natureza. Por conseguinte, o comportamento moral não é a manifestação de uma natureza humana eterna e imutável, dada de uma vez para sempre, mas de uma natureza que está sempre sujeita ao processo de transformação que constitui precisamente a história da humanidade. A moral, bem como suas mudanças fundamentais, não são senão uma parte desta história humana, isto é, do processo de autocriação ou autotransformação do homem que se manifesta de diversas maneiras, estreitamente relacionadas entre si: desde suas formas materiais de existência até suas formas espirituais, nas quais se inclui a vida moral. A moral é inseparável da atividade prática do homem – material e espiritual –, a ética nunca pode deixar de ter como fundamento a concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste como ser social, e histórico e criador. Toda uma série de conceitos com os quais a ética trabalha de uma maneira específica, como, os de liberdade, necessidade, valor, etc., pressupõem um prévio esclarecimento filosófico. Também os problemas relacionados com o conhecimento moral ou com a forma, significação e validade dos juízos morais exigem que a ética recorra a disciplinas filosóficas especiais, como a lógica, a filosofia da linguagem e a epistemologia. 5 – A ÉTICA NA VISÃO DE ARISTÓTELES Aristóteles21 (384-322 a.C.), filosofo grego, foi um grande pensador especulativo e profundo psicólogo. Ele parte da correlação entre o Ser e o Bem, insiste sobre a variedade dos seres, concluindo que os bens devem variar, pois para cada ser deve haver um bem, conforme sua natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele. Sciacca afirma que: “Toda coisa que o homem faz tem em vista um fim que lhe pareça bom ou desejável. De todos os fins sobressai um desejo por si mesmo, e neste sentido, é fim supremo ou sumo bem do qual os outros dependem. Este fim é a felicidade. Não reside ela no prazer subjetivo, mas na beleza e perfeição, mas não o fim último. O bem ou o fim de todo ser consiste em atingir a perfeição da atividade que lhe é própria; ora, a atividade própria do homem é a racional; portanto, a sua perfeição reside no exercício desta atividade. A virtude consiste pois no viver em perfeita harmonia com a razão; e quem age de acordo com a razão é feliz. A vida segundo a virtude está conjugado ao prazer, não como dela constitutivo, mas como o que acompanha. Os bens exteriores e corpóreos contribuem para realizar a felicidade, mas não a formam positivamente. Uma grande felicidade não torna certamente feliz um homem virtuoso, mas não pode fazê-lo desgraçado.” 22 21 SCIACCA, Michele Frederico. História da filosofia. 3. ed. v. 1, São Paulo: Mestre Jou, 1968, pp. 102. 22 Idem, pp. 103-104. Aristóteles distingue duas espécies de virtudes: “As virtudes dianoéticas (que consiste no próprio exercício da razão) e as virtudes práticas ou éticas (que consiste no domínio da razão sobre as predileções sensíveis para formar o bom costume). A virtude prática reside precisamente no meio justo. Com efeito, é ela o hábito de escolher o justo meio adequado a nossa natureza. A generosidade e a temperança pertencem a esta categoria, julgam-se as virtudes, as ações dos homens na prática, tendo em vista um determinado fim; por isso mesmo incluem-se aqui as virtudes de hábitos ou tendências. Superiores às virtudes éticas são as virtudes dianoéticas, que se reportam à atividade própria do intelecto, como a ciência (capacidade demonstrativa), a arte (capacidade de produzir qualquer objeto) e a sabedoria(saber discernir o que é bem ou mal para o homem). Acima de todas , a sapiência (sophia) ou contemplação (teoria), que consiste no possuir não apenas a capacidade demonstrativa(ciência) mas também a de julgar sobre a verdade dos próprios princípios. 23 Aristóteles foi o primeiro a elaborar um sistema completo de lógica. Opondo-se ao idealismo platônico, demonstrou que as idéias não podem existir separadas das coisas, mas são nelas imanentes. E a relação entre coisa e idéia altera-se em relação de matéria e forma: a primeira é potência pura; a segunda, determinação em ato. A realidade é unidade de matéria e forma. O devir das coisas procede do trânsito da potência ao ato. Somente Deus é Ato puro, único, eterno. O homem, como todos os seres, é constituído de matéria e forma: a matéria é o corpo; a forma, a alma, que é dotada de três funções: vegetativa, sensitiva e intectiva. Segundo Aristóteles, a 23 Idem, p. 104. felicidade do homem consiste na atividade da razão por meio do exercício das virtudes dianoéticas ou do intelecto, e as virtudes morais. Ao contrário de Platão, que falava do mundo das idéias, onde estaria a solução para todo o problema do conhecimento, Aristóteles não acreditava nesse mundo ideal e ensinava que só existe o mundo sensível (o que se pode ver, ouvir, tocar, etc.). Para ele, só se conhece alguma coisa a partir da própria sensibilidade e as idéias são apenas o resultado do que se pensa ao sentir um objeto: a mente distingue os objetos conforme as características sensíveis próprias a cada um deles – forma, cor, tamanho, etc. Considerou três características – espaço, tempo e movimento –, muito importante para se compreender e também explicar o mundo. E, já que para explicar se usam palavras, criou um sistema de lógica como método de explicação. Elaborou também um sistema de física, influenciado por noções rudimentares da época, quando se achava tudo no mundo era feito de apenas quatro elementos: terra, ar, água e fogo. Desenvolveu uma metafísica para explicar a existência das coisas: para ele, o que existe não é apenas aquilo que é, mas também aquilo que essa coisa pode vir a ser. Para que tudo aconteça, várias causas contribuem, e segundo ele a mais importante é a intenção de que algo aconteça. Buscando causas finais para tudo, concluiu que a primeira delas é Deus. CONCLUSÃO Com o término deste trabalho pudemos observar que a ética e a moral estão ligadas no comportamento humano, razão pela qual não existem de forma isoladas. O conhecimento do ser humano deve ser pautado em virtudes harmonizadas com a razão, donde possa obter a felicidade e o prazer. A ética profissional compreende compromisso de comportamento, decorrente da própria ação do trabalho, de suas conseqüências, junto aos diretamente interessados e a sociedade em geral. Ela representa o que se espera da conduta de um profissional. Representa mesmo uma necessidade e garantia para que haja um clima de confiança nas relações humanas e sociais de profissional. Percebe-se que a humanização da tecnologia torna-se urgente, para que sejam dadas ao homem as prioridades essenciais à sua plena realização num sentido de vida integral. As máquinas já não são mais passivas. Elas criam situações, fatos, armam possibilidades que exigem ações imediatas e prontas de cada um. O indivíduo, diante da tela, tem que se envolver, fazer parte do jogo. O agir hoje ocorre diante de uma máquina, diante de um sistema que mexe exclusivamente com o cérebro e com a capacidade imaginativa. Homem e máquina completam-se num todo mais ou menos entrosado e organizado. Funcionam juntos. A ligação de ambos, sendo de natureza puramente mental, faz com que fisicamente não haja nenhuma perda, nenhum envolvimento, nenhum perigo. Contudo o profissional precisa estar preparado para, de acordo com a realidade social existente, em sua dinâmica e grau de cultura, acrescentar novos valores e romper com os preconceitos e mitos, enfim, ter atitudes comparativas com as exigências da realidade social em que atua. Só uma boa formação ética lhe dá o discernimento indispensável para agir em face de cada situação encontrada ou dos problemas que terá que enfrentar. Finalizando, entende-se que todo profissional, conforme o tipo de sua profissão é sempre co-responsável na promoção da humanidade, para isso é preciso possuir um rico conteúdo humano ao lado da capacitação técnico-científica, ser autêntico e idealista. Assim, a ética científica está estreitamente relacionada com a filosofia, embora não com qualquer filosofia; e esta relação, longe de excluir o seu caráter científico, o pressupõe necessariamente se tratando de uma filosofia que se apoia na própria ciência . A ética de Aristóteles está unida a sua filosofia política, já que para ele a comunidade social e política é o meio necessário da moral. Somente nela pode realizarse o ideal da vida teórica na qual se baseia a felicidade. O homem enquanto tal só pode viver na cidade; é por natureza, um animal político, ou seja, social. Somente os deuses ou os animais não têm necessidade da comunidade política para viver em sociedade. Por conseguinte, não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas como membro da comunidade. Por sua vez, porém, a vida moral não é um fim em si mesmo, mas condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual consiste a felicidade. BIBLIOGRAFIA ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1996. MONDIN, Battista. Introdução à filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1983. MOTTA, Nair de Souza. Ética e a Vida Profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1984. NETO, A. Delorenzo. Sociologia aplicada à administração. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1996. PRADO, Lourenço de Almeida Prado. Educação: ajudar a pensar, sim: conscientizar, não. São Paulo: Agir, 1991. SCIACCA, Michele Frederico. História da filosofia. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1968. VALLS, Álvaro L.M. O que é ética. 9.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. ANEXOS