Revista Interfaces: ensino,pesquisa e extensão A RELAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE LÚDICA E A APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA DE COLÉGIOS PARTICULARES Elaine Pioltine Macedo Costato Elisabete Sponda Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ Resumo Ao longo dos anos, estudiosos perceberam a evolução da importância das atividades lúdicas que passaram de um simples ato de lazer para uma contribuição na área cognitiva, que auxilia no processo de aprendizagem e na construção de referenciais de mundo. O lúdico deixa de ser uma prática somente da realidade da educação infantil, podendo ser utilizada em todos os níveis de ensino. Ainda na educação infantil não se pode deixar de mencionar a importância da brinquedoteca, como um espaço destinado especialmente à atividade do brincar, como um local de descobertas, estimulação e criatividade com o objetivo único de resgatar o lúdico e a ludicidade infantil. Esta pesquisa tem como objetivo investigar se os professores de educação infantil utilizam este grande aliado no processo ensino aprendizagem e qual as conseqüências observadas no desenvolvimento cognitivo. Introdução O significado da atividade lúdica e sua relação com o desenvolvimento e a aprendizagem cognitiva há muito tempo vêm sendo investigado por pesquisadores de várias áreas do conhecimento com diferentes contribuições. Ao longo desta trajetória tem-se procurado analisar as atividades lúdicas por intermédio de concepções de ordem psicológica, biológica, antropológica, sociológica e lingüística. O relevante não é o tempo utilizado com a brincadeira e sim as importantes mudanças que ocorrem no desenvolvimento psíquico, que preparam a criança para um estágio de desenvolvimento mais avançado. É através da brincadeira que ela começa a compreender o funcionamento do mundo. Quando empilha ou encaixa peças, adquire noções espaciais fazendo as primeiras tentativas de organizar o mundo. Ao produzir sons, batendo objetos, desenvolve conexões corporais e mentais que a auxiliarão a falar e andar. Brincando a criança constrói valores e aprende principalmente que se perder o jogo o mundo não acaba. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica na busca de referenciais que confirmassem a hipótese de que através do lúdico a criança se desenvolve cognitiva, social, afetiva e fisicamente, e pesquisa de campo para buscar dados sobre a utilização e preparo dos professores de educação infantil de colégios particulares com relação as atividades lúdicas como forte aliado no processo formal inicial de ensino e aprendizagem. O estudo se deu em três etapas. Na primeira buscou-se entender sobre o desenvolvimento físico e cognitivo da criança na faixa etária dos dois aos seis anos, bem como a importância da educação infantil e especificamente a préescola nesse processo. A segunda etapa tratou da atividade lúdica na pré-escola e o uso da brinquedoteca. Na terceira, são apresentadas e analisadas as respostas dos vinte questionários aplicados em professores de educação infantil de colégios particulares, dando base para as considerações finais. O desenvolvimento infantil, a pré-escola e a atividade lúdica Define-se como desenvolvimento a capacidade progressiva do ser humano em realizar funções cada vez mais complexas. Este processo é o resultado da interação entre os fatores biológicos, próprios da espécie humana e os fatores culturais, próprios do meio social onde esse indivíduo encontra-se inserido. Assim, a aquisição de novas habilidades está diretamente relacionada não apenas à faixa etária da criança, mas também às interações vividas com os outros seres humanos do seu grupo social. Para Piaget (apud CUNHA, 2001), por volta dos dois anos acontece grande desenvolvimento intelectual na criança. É o que se chama de função simbólica, ou seja, a capacidade de representar uma coisa através de outra. Além da linguagem existem outras manifestações da função simbólica. Existe o jogo que se torna símbolo: representar alguma coisa por meio de um objeto ou de um gesto. Até este estágio, o jogo era somente uma atividade com exercícios motores. É por volta de um ano e meio que a criança realmente começa a jogar por meio da representação. Por exemplo quando a criança fazendo circular um objeto sobre uma caixa, diz: “miau”. Ainda para Piaget (apud COLL, MARCHESI e PALÁCIOS, 2004) a etapa pré-operacional que coincide com a fase pré-escolar, dos dois aos seis anos de idade, é expressa pela criança por meio de imagens e habilidades de memória. O aprendizado é condicionado e mecânico. A criança ainda mostra um desenvolvimento cognitivo e de linguagem egocêntricos, porém começa gradualmente a assimilar a visão do mundo de outros. Nesta etapa a criança se encontra numa fase de grande desenvolvimento físico e psicomotor, pois estão ocorrendo Ano 1, nº 1, 2009 - 17 - Revista Interfaces: ensino,pesquisa e extensão notáveis transformações tanto na ação como na representação propriamente dita. (Palácios, Cubero, Luque e Mora, apud COLL, MARCHESI e PALÁCIOS, 2004). Fica entendido que o desenvolvimento motor, como o ato de cortar uma linha com tesoura, dobrar papel, colorir ou copiar um quadrado se dá na idade em que a criança freqüenta a pré-escola. Daí a necessidade de se trabalhar as atividades lúdicas direcionadas com o intuído de facilitar este processo, necessário ao aprendizado da leitura e escrita propriamente dita. A qualidade do trabalho pedagógico está associada à capacidade de promoção de avanços no desenvolvimento do aluno, destacando-se a importância das atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem, assim como a relevância da proposta pedagógica adotada pela escola. (FERREIRA, 1998). Na pré-escola a criança entra em contato com o mundo real das significações, ela passa a se conhecer, a se descobrir, a se apropriar de novos conhecimentos e a definir conceitos, por isso, as atividades lúdicas nos levam a pensar na educação infantil. Por ser um segmento da sociedade que se organiza e se estrutura formalmente, deve oportunizar o desenvolvimento da criança de acordo com suas potencialidades e seu nível de desenvolvimento, pois a criança não inicia sua aprendizagem somente ao ingressar na escola, ela traz consigo uma gama de conhecimentos e habilidades adquiridas desde seus primeiros anos de vida em seu ambiente sócio-cultural que devem ser aproveitadas para a aquisição de novos conhecimentos e habilidades. Desta forma, a pré-escola deve estar preparada para oferecer estímulos visando o desenvolvimento cognitivo, principalmente, mas também é importante que a criança seja estimulada em casa. A família pode ajudar com brincadeiras, com o diálogo, com o afeto. É sabido que os pais têm pouco tempo, mas uma hora do dia que o adulto reserva para brincar e conversar com a criança, já traz um impacto enorme para o seu desenvolvimento. É importante considerar também que a pré-escola não pode ser vista apenas como uma preparação para a alfabetização, pois para se formarem seres criativos, críticos e aptos para tomar decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil com a inserção de contos, lendas, brinquedos, brincadeiras e jogos, enfim, atividades lúdicas que fazem parte da vida da criança seja na escola ou fora dela. Esta atividade é tanto fonte de lazer como de conhecimento. A característica principal da brincadeira é a inserção do aspecto lúdico às situações e aos objetos. Os objetos utilizados pela criança no jogo perdem a significação habitual adquirindo nova significação. Um exemplo típico é o cabo de vassoura representando um cavalinho. Alguns autores afirmam que tudo pode representar qualquer coisa no jogo, outros acreditam que o emprego lúdico, em relação ao objeto, é limitado, dependendo se o objeto em questão é semelhante exteriormente ao objeto significado ou significante. O simbolismo no jogo, conforme a teoria piagetiana, está diretamente relacionada ao desenvolvimento da inteligência e com o surgimento do símbolo, ou seja, a correspondência entre significado e significante. Na primeira metade do século XX, estudiosos como Piaget e Vigotsky (apud CONTI e SPERB, 2001), definiram que brincar, além de prazeroso, é um grande aliado no desenvolvimento educacional imaginário e auxilia na perspicácia mais aguçada, definem assim os seus papéis no contexto sociocultural. Assim, as atividades lúdicas têm uma função especial na primeira infância. Brincando, a criança explora, descobre e experimenta o mundo, por isso a brincadeira deve estar presente em todo lugar. Além disso, o ato de brincar também permite que meninas e meninos se sintam mais seguros e aprendam a conviver uns com os outros. Daí a importância de espaços como a brinquedoteca, onde as crianças possam se divertir e aprender espontaneamente. Quando o brincar tornar-se a atividade principal da criança, esta se caracteriza como uma atividade cujo motivo reside no próprio processo e não no resultado da ação. A atividade da criança não a conduz a um resultado de modo que satisfaça suas reais necessidades. O motivo que a conduz a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade. Como exemplo, podemos citar uma criança construindo com pequenos blocos de madeira. O alvo da brincadeira não consiste em chegar a um resultado final como montar uma pequena cidade com todos os detalhes que a caracterizam como tal, e sim no próprio conteúdo da ação, no “fazer” da atividade. Nesta perspectiva, a brinquedoteca é um espaço que permite o aprender espontâneo, um momento da criança com ela mesmo e com o seu mundo, pois brincar na pré-escola não é exatamente igual a brincar em outras ocasiões, porque a vida escolar é regida por algumas normas que regulam as ações das pessoas e as interações entre elas e, naturalmente, estas normas estão presentes, também, na atividade da criança. Assim as atividades lúdicas têm uma especificidade quando ocorrem na escola, pois são mediadas pelas normas institucionais. É no papel de resgatar a brincadeira espontânea que surgem as brinquedotecas. Apesar de sua difusão, poucos estudos são encontrados relatando os aspectos essenciais para sua criação e manutenção. São criadas com o objetivo principal de oferecer ás crianças de pré-escolas brinquedos e jogos que possam ser utilizados para desenvolver relações e construir sua afetividade por meio do brincar (MAGALHÃES E PONTES, 2002). Ano 1, nº 1, 2009 - 18 - Revista Interfaces: ensino,pesquisa e extensão Para Kishimoto (1997), no século passado, o vocábulo “Kindergarden” que corresponde ao jardim de infância, foi adotado por Froebel para distinguir instituições que adotavam o tipo francês de escola maternal que objetivava educar e prestar assistência preferencialmente à criança pobre. Os americanos geralmente fazem distinção entre escola maternal como instituição para crianças de 2 a 4 anos e jardim de infância destinado ao público infantil de 4 a 6 anos. No Brasil, a pré-escola utiliza uma teoria destinada à educação das crianças e as escolas maternais são destinadas a prestar assistência. Nos anos 70, houve uma expansão das creches, devido a movimentos sociais, quando surgiram questionamentos sobre as instituições infantis, colocando o brincar como proposta na educação de crianças em idade pré-escolar. Considerações sobre a pesquisa de campo As cinco primeiras questões são de caráter informativo sobre os participantes da pesquisa, foi diagnosticada uma camada jovem, 65% dos participantes tem entre 20 a 25 anos de idade, são todas do sexo feminino, cursaram ou estão cursando magistério, graduação em pedagogia ou letras, entende-se que esses profissionais tiveram uma formação mais recente e voltada para o trabalho com atividades lúdicas na educação infantil de forma direcionada evitando a educação tradicional que diria que a escola não é um lugar para se brincar e sim aprender. Conforme exemplificado por Piaget (apud COLL, MARCHESI e PALÁCIOS, 2004) as crianças nesta fase, dos dois aos seis anos de idade, direciona suas brincadeiras por base de sua vivência em família e poder e saber observar, isso é em si um avanço no que tange o sucesso do processo ensino aprendizagem. Os jovens professores em contato com os referencias e com a LDB (1996), que determina que as instituições devam promover além da primeira etapa da educação básica o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade, certamente estudaram sobre esse assunto, e a opinião de Carvalho, Alves e Gomes (2005), é de que deve estar incluídas nesse rol a ludicidade e a criatividade. A pesquisa mostrou que as professoras estão lecionando atualmente com uma ou duas turmas, todas na educação infantil de colégios particulares da cidade de Suzano, SP, todos os participantes afirmaram usar joguinhos, brinquedos ou brincadeiras do tipo dominó, jogo da memória, quebra-cabeça, bingo, alfabeto móvel, jogos de alfabetização, jogos de montar, baralho de letras, jogos matemáticos, faz de conta e dama. Além dos joguinhos e brinquedos os participantes indicaram utilizar também outras atividades recreativas como brincadeiras diversas, dança, música, xadrez, dominó, jogo da força, teatro, poesias e aulas de culinária. A maioria dos participantes (58,34%) afirma que não recebeu em nenhum momento, instruções quanto à utilização das atividades lúdicas, deixando clara a falta de comprometimento por parte da equipe gestora no que tange o direcionamento das atividades lúdicas direcionadas ao processo ensino aprendizagem. Na primeira metade do século XX, estudiosos como Piaget e Vigotsky (apud CONTI E SPERB, 2001), definiram que brincar, além de prazeroso, é um grande aliado no desenvolvimento educacional, imaginário e auxilia na perspicácia mais aguçada, definem assim os seus papéis no contexto sociocultural e também já ficou explícito que as atividades lúdicas têm uma função especial na primeira infância, pois é através dela que a criança explora, descobre e experimenta o mundo, por isso a brincadeira deve estar presente em todo lugar, além de socializar meninas e meninos fazendo com que se sintam mais seguros e aprendam a conviver uns com os outros. As atividades lúdicas como jogos, brincadeiras e utilização de brinquedos, ocorrem nestas escolas, diariamente ou ao menos três vezes na semana, porém em 55% dos casos na sala de aula. Apenas 35% das entrevistadas afirmaram que além de coordenar também participam das atividades com os alunos. A totalidade dos participantes afirmou que encontraram resultados relevantes nas crianças como: socialização, participação, estímulo e desenvolvimento do raciocínio bem como o desenvolvimento da coordenação motora fina que irá auxiliar no processo da inicialização da escrita. Através da análise dos questionários das professoras, pode-se verificar também que a maioria está caminhando para garantir o uso da atividade lúdica com um grande auxílio ao aprendizado cognitivo. Considerações Finais Pode-se observar que as professoras de educação infantil, por serem ainda jovens, na faixa etária de 20 a 25 anos, certamente tenham estudado recentemente a importância da atividade lúdica direcionada, porém ainda deparam com algumas barreiras, principalmente no que diz respeito as orientações por parte da equipe diretiva e quanto ao espaço físico. Contudo, pode-se afirmar que o uso das atividades lúdicas deve ser mais divulgado com um grande aliado no início das atividades escolares das crianças na idade pré-escolar, uma vez que pode-se verificar que todas as professores afirmaram ocorrer grande melhora no desenvolvimento físico e psicomotor da criança após as atividades. Ano 1, nº 1, 2009 - 19 - Revista Interfaces: ensino,pesquisa e extensão Referências Bibliográficas COLL,César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús e colaboradores. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva vol. 1. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. CONTI, Luciane de; SPERB, Tânia Mara. “O brinquedo de pré-escolares: um espaço de ressignificação cultural”. In: Psicologia.: teoria. e pesquisa., jan./abr. 2001, vol.17, no.1, p.59-67. CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca um mergulho no brincar. 3. ed. São Paulo: .Vetor, 2001. Disponível em:<http://www.google.com.br/imagens>. Acesso em: 17 set. 2008, 10h40. ESTEVE, J. M. 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