SESSÃO ESPECIAL EM HOMENAGEM AO NASCIMENTO DO POETA CASTRO ALVES REALIZADA NA CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO DE 2013 SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Sob a proteção de Deus, declaro aberta a sessão especial em comemoração ao nascimento do poeta Castro Alves, conforme preceitua o Artigo 244 do Regimento Interno desta Casa Legislativa, requerida pelo vereador que lhes fala, Odiosvaldo Vigas. Vamos solicitar para compor a nossa Mesa o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Dr. Fernando Guerreiro. Por favor, uma salva de palmas. Convidamos para compor a Mesa o nosso palestrante de hoje, o presidente do NEM, o ilustríssimo professor, jornalista, Nilton Nascimento. Convidamos para compor a Mesa o vereador Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer desta Casa. Convidamos o ilustríssimo Sr. Professor Elísio Brasileiro, professor de História - a cidade e o Estado o conhecem -, para compor a Mesa. Convidamos o Sr. tenente Leandro Batista, representando a Companhia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente. Convidamos a Ilustríssima Sra. diretora da Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira, para compor a Mesa, representando as demais escolas. Convidamos a todos a ficarem de pé para ouvirmos o Hino da Cidade do Salvador. (HINO DA CIDADE DO SALVADOR) SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Vamos fazer a apresentação de um vídeo, tendo como fundo a declamação feita por Paulo Autran, do poema Navio Negreiros, e algumas imagens do filme Amistad. Queremos registrar a presença dos vereadores Arnando Lessa e Everaldo Augusto. Uma salva de palmas para os dois vereadores que estão aqui abrilhantando com as suas presenças. (APRESENTAÇÃO DE VÍDEO) SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Convidamos o presidente do PDT, Hari Alexandre Brust, para compor aqui a Mesa. Por favor, presidente. Vamos assistir, agora a apresentação de Elivan Nascimento e Olara, sobre o canto Cidadão. (Apresentação da Música Cidadão, de autoria de Margarete Menezes) SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Comunico a apresentação dos alunos da Escola Estadual Castro Alves. ALUNA: - Boa-tarde a todos e a todas aqui presentes. É um prazer para nós, alunos da Escola Estadual Castro Alves, fazer uma homenagem aos poetas baianos, principalmente ao poeta Castro Alves. Obrigada a todos e também aos professores e gestores de nossa escola, especialmente a nossa professora e diretora Tânia Cerqueira, que nos ajuda para que sejamos o futuro de nosso país. É por isso que digo: obrigada, meu poeta, por seu espírito amigo que nos contagia com essa festa. (APRESENTAÇÃO DE ALUNOS DA ESCOLA CASTRO ALVES) SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Convido o vereador Sílvio Humberto para assumir a presidência enquanto faço meu discurso na tribuna. Sr. presidente, vereador Sílvio Humberto, quero saudar a Mesa: o Sr. Fernando Guerreiro, presidente da FGM; o professor, jornalista Milton; o tenente Leandro; o professor Elísio Brasileiro; Tânia Cerqueira; o presidente do meu partido, Alexandre Brust; todas as escolas presentes; as lideranças presentes; a comunidade presente; os artistas. Não poderia deixar, na tarde de hoje, de registrar essa minha fala, dizendo que no ano passado fizemos Castro Alves, o seu universo de pensamento, na obra de Jorge Amado. E assistimos, agora também, a sua implicação com a obra artística de Luiz Gonzaga, que fez 100 anos. E também, com Vinícius de Morais, que se estivesse vivo estaria fazendo 100 anos. E hoje, também, se comemora o nascimento de Glauber Rocha e de Abdias de Nascimento, primeiro senador negro deste país, pelo PDT, que fez, inclusive, o Teatro Experimental do Negro, viva esta obra de Castro Alves. Castro dizendo o quanto é Alves, 166 anos, abolicionista, a atualidade do poeta nos 125 anos da abolição. A escravidão e o racismo são uma realidade bastante cruel que macula a trajetória histórica do Brasil. Desde os séculos passados até o presente, uma herança que guardamos e hoje com uma nova configuração na sociedade brasileira, é necessário compreendermos em toda a sua plenitude o fato histórico da abolição, entendendo que os negros foram contra a escravidão e construíram a sua própria história. Sabe-se que a abolição aconteceu diante de um amplo espectro de alianças e fatores diversos, inclusive, econômicos internacionais. Podemos citar a Inglaterra que vem, desde a participação dos negros se rebelando, como negros fugidos, os quilombos organizados, as senzalas e o surgimento de grupos abolicionistas. Em pleno século XXI, faz-se a seguinte pergunta, acompanhada da devida reflexão: ―Onde estão situados os negros na sociedade brasileira? E como está incrustado o racismo nessa mesma sociedade‖? A obra do poeta Castro Alves responde plenamente a essas indagações e percebemos a atualidade do poeta nos 125 anos da abolição que precisa acabar por completo a escravidão e o racismo. Avançamos? Sim, avançamos quando o Estado, por pressão da sociedade civil organizada, consegue determinar a política de cotas para vagas nas universidades públicas para negros e afrodescendentes, porque traz para o seio da sociedade a discussão básica do racismo existente neste país, uns a favor, outros contra. No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia como crime o tratamento discriminatório no mercado de trabalho, entre outros ambientes, por motivo de raça e cor, de um deputado também federal, do PDT, de meu partido. A Lei 7.437 classifica o racismo e o impedimento de acesso a serviços diversos por motivo de raça, cor, sexo ou estado civil como crime inafiançável, punível com prisão de até 5 anos. Porém, os negros, na sua quase totalidade, ainda hoje encontram-se nas favelas, nessa nova configuração da escravidão e nas piores condições de trabalho e, muitas vezes, numa relação trabalhista de precarização. O que nos falta, em verdade? O que nos falta é uma classe média forte, composta por negros e por afrodescendentes com grande poder aquisitivo para termos influência nas decisões políticas e na construção de um poder político e econômico participando, efetivamente. Vejam, senhores, que depois de 125 anos o Brasil estampa na sua mídia: " Temos o primeiro presidente do Supremo Tribunal Federal negro". Depois de 125 anos, vemos em outdoors, nessa cidade, uma juíza negra, e ainda mostrando que continuamos na escravidão, nas favelas, onde estão os negros. As conquistas e lutas desse povo negro não terminaram com a escravidão e o racismo, que hoje tem novos aspectos, não sendo extirpada do seio da sociedade brasileira a perversa herança da escravidão, na falta de políticas de Estado voltadas principalmente para a educação em todos os níveis, como fator primordial da busca pela igualdade social, políticas de educação e também reformas de base que devem ser feitas para concluir o fato histórico da abolição. Então, senhores, a obra de Castro Alves está viva e atual diante da realidade vivida pelo povo negro brasileiro, mesmo com o nível de consciência da nossa realidade racial e social alcançada. Castro Alves vive. Muito obrigado. SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Antes de passar a palavra ao nosso palestrante principal, o professor Elísio Brasileiro, para fazer uso de sete minutos, por causa do tempo, quero também registrar a presença do poeta Cláudio Dória, de Simões Filho. Também queremos uma salva de palmas para o Centro de Cultura Marise Ribeiro. Uma salva de palmas para a coordenadora do Grupo Arte Nossa Poesia, artista plástica. Registrar a presença do vice-presidente da Fecaba, Mestre Raimundo, aqui representando e participando. Do professor Germano Machado, que está aqui também representado. Do Dr. João Machado, presente aqui, companheiro nosso, médico pneumologista. Do pessoal da Fundação Cidade Mãe: Célia, Ariela, Marli e Valéria, e nosso psicólogo, uma salva de palmas para nosso companheiro. Da secretária da Reparação, aqui representando a secretária o Sr. Valdo, uma salva de palmas, sinta-se como se estivesse compondo a Mesa aqui conosco. SR. ELISIO BRASILEIRO: - Caro querido amigo, vereador Odiosvaldo Vigas Bonfim, quero lhe saudar em nome dos demais componentes da Câmara de Vereadores de Salvador; demais autoridades presentes; senhoras e senhores; sinto-me muito honrado em voltar a esta tribuna em um momento tão especial quanto este. Cento e sessenta e seis anos passados de um jovem que morreu aos 24 anos. Tuberculoso, sim, sem um pé, havia sido amputado; sem um pé, com uma passagem difícil pela vida acadêmica; reprovado duas vezes no exame para ingresso na Faculdade de Direito de Recife, só logrou êxito na sua 3ª tentativa; mais adiante, abraçado à sua grande musa, Eugênia, consegue estudar Direito, sim, ingressar no 3º ano na faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde é colega de outro ilustre baiano, Ruy Barbosa. O jovem Castro Alves, 166 anos menos 24 vividos. Quero fazer essa operação com rapidez: 142 anos, como disse muito bem Odiosvaldo, ele está vivo, vivíssimo, porque ele assumiu a grande campanha de sua vida. Ele abraçou uma causa nobre, e quem abraça uma causa nobre, que é a promoção social, não morre. Castro Alves está vivo, tanto tempo se passou, e mais anos se passem. Não se revelou como acadêmico, advogado, sequer, jurista, se destacou como grande poeta do Brasil, se apoiando nos ensinamentos do romantismo francês de Victor Hugo. A sua obra é dividida em dois planos: a obra social, em que ele abraça a causa da defesa do negro, do afro, daquele que vem como escravo e assume, acima de tudo, a grande bandeira da liberdade. E o outro lado, o poeta lírico, apaixonado, cujo coração transborda, se deixa levar pelo amor, suas musas, da atriz a outras tantas. Praticamente órfão muito cedo, nasceu no município de Muritiba, hoje município Cabaceiras do Paraguaçu. Logo, muito cedo, ele fica órfão de mãe, vai morar em São Félix, estudando em Cachoeira. De lá, também muito jovem, se desloca para Salvador e aqui avança nos seus estudos, com muitos irmãos, e aos 13 anos já declamava seu primeiro poema e não para mais. E construindo versos, traduzindo seu coração, assume a grande causa que abalava o mundo, o capitalismo industrial ou financeiro, ele não abrigava mais o escravismo. A segunda Revolução Industrial, da segunda metade do século XIX, precisava de consumidores e escravo não consome, e o grande berço da indústria no mundo, a Inglaterra, não toleraria mais a escravidão. Em 1845, dois anos antes de Castro Alves nascer, a Inglaterra começa a atacar os navios negreiros, unilateralmente, ela decide o fim do tráfico negreiro. Cinco anos depois, Castro Alves tinha três anos, o império brasileiro se rende à pressão inglesa, que era acima de tudo uma pressão do capitalismo precisando ampliar mercados consumidores, e produz a Lei Eusébio de Queiroz. O próprio império brasileiro proíbe o tráfico negreiro, no entanto, a escravidão persistia, se mantinha, e Castro Alves muito cedo interpretou isso e trouxe para dentro do seu coração e de forma intensa deixou essa obra memorável. Ao morrer só havia conseguido publicar uma obra, Espumas Flutuantes. Depois de sua morte, aquele grande poeta que declamava no Rio de janeiro, na Bahia, aqui nessa praça próxima, no Teatro São João, aqui descendo a Rua Chile, ele fazia O Canto do Condor, como vai ser mais tarde chamado para ser um dos patronos da Academia Brasileira de Letras, com a cadeira de número sete. Depois dela criada, esse homem abraça a causa da liberdade e, naquele momento, ele nada teme, no lugar de ser um acadêmico, um juiz, um advogado, ele vai ser o nosso grande poeta, cantar por todos nós. E como dizia há pouco um garoto, e aquilo me emocionou, e uma garota continuou: "Essa luta tem que continuar". A escravidão não acabou. Ficamos envergonhados quando vamos a novela hoje traduz aquilo que sabemos da escravização de mulheres brasileiras em outros países do mundo pelo uso do sexo ao campo e vemos crianças sendo escravizadas e exploradas, quando o lucro capitalista não hesita em sacrificar a liberdade e a dignidade do ser humano. É uma bandeira que ele desfraldou no século XIX e que todos nós, neste século XXI, senhores, senhoras, jovens, certamente iremos desfraldar por muito tempo. Que a luta pela liberdade, pela emancipação do povo brasileiro afrodescendente, pela igualdade, continue e se fortaleça em nossos corações e que transborde nos versos do poeta e no grito de cada um de nós. Castro Alves, viva a liberdade irmão! Viva a liberdade! Sem ela não há construção da civilização. Parabéns à Câmara de Vereadores, ao Odiosvaldo por esse evento significativo, e que em cada um de nós essa luta não deve parar. Viva a liberdade! Viva Castro Alves! SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS - Obrigado, professor Elísio. Convidamos agora o professor Fernando Guerreiro, da Fundação Gregório de Matos, para fazer uso da palavra por sete minutos. SR. FERNANDO GUERREIRO: - Boa tarde a todos os presentes; ao vereador Odiosvaldo que teve essa ideia brilhante de realizar, como sempre vem fazendo, essa sessão solene em homenagem a esse grande artista, esse grande poeta e esse grande homem, Castro Alves; a todos os presentes e a todos os vereadores presentes, a todos os meus colegas, ao professor patriota que fez um pronunciamento maravilhoso, aqui agora, emocionante. Eu acho muito interessante esse poder da palavra, como algumas pessoas sabem usar isso muito bem e emocionam e prendem a atenção. Na condição nova de presidente da Fundação Gregório de Matos, eu que sempre fui um apaixonado por esta cidade, hoje percebo o estado muito grande de abandono em que a gente vive, de políticas públicas na área municipal para a cultura. A cada evento, cada momento, eu estou tentando construir passo a passo uma nova realidade, um novo momento. O Castro Alves representa o grande artista, porque para mim o grande artista não marca apenas por ser um talento, ele marca também pelas posições que ocupa durante sua vida. Muitas vezes nós vimos artistas talentosos, brilhantes, mas eles são esquecidos, porque durante as suas vidas eles não assumiram uma posição, uma postura diante da sociedade que tenha deixado marcas. E o grande diferencial de Castro Alves é esse, além de ter sido um artista brilhante, um poeta interessantíssimo, reconhecido pelo mundo inteiro, foi talvez um dos primeiros artistas do mundo a abordar o tema da escravidão, se eu não estiver enganado Ele foi absolutamente pioneiro nesta abordagem, corajoso, porque na época isso obviamente poderia ser condenado, como foi, poderia transformá-lo até num poeta maldito. E ele fez isso de uma forma tão brilhante, tão elegante, que conseguiu passar por tudo isso e ficou até hoje. Me emociona também a possibilidade da gente homenagear o Castro Alves durante o ano inteiro. Eu acho que o evento é importante para chamar atenção, mas o dia do Castro Alves passa, o aniversário passa e todos nós mergulhamos no esquecimento de uma série de questões. Então, eu defendo sempre que Castro Alves deve estar presente através de políticas de cultura. durante todo o ano, sendo lembrado, recordado, encenado, discutido, homenageado, e não apenas no dia dele. Como também a poesia, que existe uma discussão, qual é o dia da poesia? É hoje? É novembro? É outubro? Eu acho que nada mais justo do que se chamar este dia do Dia da Poesia. E tentar aproveitar, aí eu digo aos professores, a todos os componentes da rede municipal de ensino, ao pessoal direcionado à educação, à poesia, que a poesia precisa voltar aos bancos escolares, a poesia precisa voltar à nossa cultura, à nossa vida diária. A poesia está esquecida. A poesia está marginalizada. É uma das formas literárias mais brilhantes, mais difíceis. Hoje pela manhã eu estive lá na praça, num pequeno evento realizado pelos grandes batalhadores da poesia, que eu conheço há trinta e tantos anos, quase quarenta, que ainda estão aí na luta, na resistência, levantando sempre a bandeira desse gênero literário, que é tão sublime, tão impactante, tão forte e que emociona tão facilmente. Mas, infelizmente, me desculpem usar essa palavra, nesta rede de emburrecimento que a gente vive hoje, neste país, cada vez mais em cima de fórmulas fáceis, a educação caminhado cada vez mais, em muitos aspectos, para facilitações, que a gente caminhe para achar a poesia difícil, para achar a poesia inacessível, e não para dizer para que eu vou apresentar uma poesia para um aluno se ele não vai entender, porque o vocabulário dele está empobrecido. Claro que isso tudo é consequência do que nós vivemos. Desde essa época de Castro Alves, fazendo um panorama, muito pouca coisa mudou e a consequência é essa hoje: a dificuldade de se entender a poesia, de se perceber o brilho, a importância dessas palavras, dessas junções, dessa criatividade e talento desses poetas. Então, eu terminaria minha fala dizendo Viva a Poesia! Viva esta cidade e esta praça e este poeta que tem que ser homenageado e tem que ser trabalhado durante todo o ano! SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSLVALDO VIGAS: Obrigado presidente Fernando Guerreiro. Convidamos agora, o palestrante, nosso principal, Nilton Nascimento, presidente do NEIM, negro em movimento (inaudível), o jornalista que fará o uso da palavra pelo tempo de vinte minutos. Queremos registrar a presença da Escola Cantinho do Saber de Sra. Zenite, diretora da Federação Espírita da Bahia; e da Sra. Juçara Rosa, representando a Secretaria de Educação do Município, sintam-se aqui apresentados pela Mesa, e uma salva de palmas para a Sra. Juçara. SR. MILTON NASCIMENTO: - Exmo. Senhor vereador Odiosvaldo Vigas, presidente da Mesa; Exmo. vereador Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer desta Casa; Ilmo. Sr. Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos; Ilmo. professor, brilhante orador, Elísio Brasileiro; Ilmo. Leandro Batista, representando a Companhia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente; Ilma. diretora da Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira; Ilmo. Sr. Dr. Alexandre Brust, presidente do PDT; senhoras e senhores. Antes de iniciar a minha conversa, eu desejaria fazer duas homenagens: a primeira pedindo uma salva de palmas em homenagem a um companheiro nosso do negro movimento, o jornalista Agnaldo subitamente Joaquim falecido, que de Santana, comungava dos recentemente mesmos e ideais libertários que nós e era um grande admirador de Castro Alves. A ele, dedicamos esta palestra. A segunda homenagem se impõe, mas já foi feita, na verdade, por Odiosvaldo, que é o dia de hoje; também, se estivesse vivo completaria 99 anos o nosso Abdias Nascimento, um pioneiro, um grande lutador, por acaso também, militante do Partido Democrático Trabalhista, antes do Partido Trabalhista Brasileiro, e que foi o iniciador da luta pela redenção do negro no Brasil. Evidentemente, no século passado, depois de tantos outros, depois dos escravos lutadores, depois dos abolicionistas, o Abdias reiniciou essa luta em meados do século passado. Ele merece, também, a nossa homenagem hoje, aqui. O Alexandre me lembra que o Abdias foi o primeiro deputado negro e o primeiro senador da República negro no Brasil. Essa minha apresentação pretende ser apenas a contribuição de um jornalista e ativista social que aceitou a proposta de um admirador de Castro Alves, o vereador Odiosvaldo Vigas, que também cultiva uma alma condoreira. O condoreirismo é a escola libertária da poesia brasileira marcada pela temática social e pela defesa de ideias igualitárias que produziam uma poesia social comprometida com a causa abolicionista e que tem como principais representantes Castro Alves e Tobias Barreto. Odiosvaldo todos os anos reúne a sociedade baiana aqui, nesta Casa Legislativa, para saudar na sua data de nascimento, o nosso grande poeta Castro Alves. Não vou fazer, até porque não me cabe, Sr. presidente, uma análise estética da poesia castroalvina para a qual não estou preparado. Vou apenas tentar lançar algumas luzes sobre o sentido social da poesia de Castro Alves, especialmente sob o aspecto do seu engajamento na luta abolicionista pela libertação dos escravos, que é o tema que me foi proposto. O meu objetivo é com isso prestar uma homenagem singela no transcurso de seus 166 anos de nascimento a esse intelectual baiano que pautou sua breve vida sob o signo da integridade intelectual e moral e pela defesa dos mais humildes. Vamos, então aos fatos. A vida de Antônio Frederico de Castro Alves foi marcada por uma brevidade angustiante. Nasceu na Fazenda Cabaceiras, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Curralinho, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, em 06 de julho de 1871, vivendo portanto, apenas 24 anos. Ontem, um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por pelo menos 45 anos, certamente.. SR. MILTON NASCIMENTO: - ...apenas 24 anos. Ontem, um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por pelo menos 45 anos, certamente, seria o maior poeta das três Américas e um dos maiores do mundo em todos os tempos. Seu pai, o médico Antônio José Alves, filho de um comerciante lusitano pobre, casou-se com Clélia Brasília Castro, filha natural de um rico fazendeiro. A família de Castro Alves havia sido atingida pela enfermidade do século, a tuberculose. Sua mãe morreu jovem, em 1859, e seu pai também sofria dos pulmões. Quando a família Castro se mudou para Salvador em 1854, Castro Alves tinha 7 anos. A família foi morar no antigo Solar do Sodré, onde fica o Colégio Ipiranga, no Largo 2 de Julho. Em 1858, aos 11 anos, Castro Alves foi matriculado no Ginásio Baiano, onde Ruy Barbosa também estudara. Seu proprietário, o educador e médico, Abílio César Borges, era o inovador pedagógico e também um pioneiro do abolicionismo, tendo fundado a Sociedade Libertadora 7 de Setembro, que publicava o Jornal Abolicionista. Em 1863, com apenas 16 anos, uma primeira hemoptise, revela a Castro Alves que o mal da tuberculose também lhe alcançara e ele sabia que esse mal em breve determinaria a sua morte. Na breve vida que teve Castro Alves, muito se fala da sua obra poética e dos seus tórridos amores, principalmente, da relação com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, mas pouco se fala da sua verve abolicionista, professor Elísio, do espírito revolucionário contra o regime servil que se entranhou na obra em que escreveu e que contrariava os seus contemporâneos do romantismo. Professor Fernando Guerreiro falou um pouco disso aqui agora, que era o estilo literário da épocam como José de Alencar, Gonçalves Dias, entre outros, que, naquele momento do Brasil pós-independência, procuravam, com seus escritos, criar uma espécie de espírito nacional para construir a nova nação, que sabemos que nos é devida até hoje. Antes de prosseguir, quero falar um pouco do que se passava no Brasil naquele momento. O império, especialmente com Dom Pedro II, tinha um projeto de querer se diferenciar das repúblicas da América Latina, buscando assemelhar-se aos modelos europeus de civilização e modernidade. Para a constituição da nação, ele tinha também um projeto literário nacionalista, baseado no projeto historiográfico do Instituto Geográfico Histórico Brasileiro, que foi fundado por Dom Pedro, que começava as primeiras formulações para a história brasileira, e no projeto iluminista de miscigenação para a construção da identidade nacional. Reparem bem, a miscigenação entrava no projeto do governo independente se o povo, especialmente o negro ou o índio, entrava ou não entrava. Dom Pedro queria unir a história e a geografia em um território constituído por um povo, isto é, por três povos distintos, o índio, o branco e o negro no Brasil, e neste sentido criou e fundou os Institutos Geográficos e Históricos para dar organicidade a esta idéia e criar a história nacional. Era preciso consolidar as imagens dos seus mitos fundadores com vista a tornar o Brasil uma nação. Como complemento, surgiram, também, os cursos de direito em São Paulo e em Olinda, inicialmente, em 1827. A ideia era formar pessoas para dirigir as instituições. Enquanto isso, a maior parte da população era analfabeta. A elite forjava um projeto político centrado no progresso, na civilização do país, só que o caminho para esse progresso estava em duas coisas, na agricultura e na escravidão, com esteio da chamada civilização do progresso. O Brasil queria manter a escravidão, ele achava que o progresso estava na escravidão, na manutenção da escravidão, naquele momento, o preconceito racial já era uma coisa patente no Brasil. Vejamos um exemplo: o Instituto Geográfico e Histórico, recém-criado, promoveu em 1844 um concurso sobre como escrever a história do Brasil e foi vencedor Von Martius, um alemão, Friedrich Von Martius. Este apresentou o desenvolvimento da história da nação a partir das três raças mescladas e formadoras. Só que era assim: ao branco cabia ser o civilizador, ao índio a possibilidade de ser civilizado, e ao negro o espaço de detração,por falta de mérito, já que representava motivo de impedimento ao progresso da Nação e com isso atrapalhava a formação de uma verdadeira identidade nacional. O negro servia para sustentar a agricultura, mas na hora da formação da Nação, a ideia e o conceito que apareciam era de que ele não tinha papel e nenhuma importância. Imitando a política, que definia a terra e a escravidão como os motores de desenvolvimento da Nação, a arte, a literatura e a poesia no Brasil viviam o Romantismo, cujo projeto literário se expressava por meio do Indianismo e do Regionalismo. Os literatos se voltavam para o índio, todos aqui se lembram de Iracema, de José de Alencar, de Juca Pirama, de Gonçalves Dias, se lembram dos poemas de Cassemiro de Abreu dentre outros? Outros escritores, ainda, como Bernardo Guimarães, autor da bela, clara e cobiçada Escrava Isaura, que até hoje as televisões não se cansam em passar, em repetir e repetir eternamente - eu particularmente não entendo o porquê -, eles foram buscar inspiração no matuto sertanejo como tema de sua obra, de sua arte. Como vemos, já naquele momento, o projeto de Nação excluía o negro como uma das raças na formação da sociedade brasileira. E Castro Alves vislumbrou isso. As ruas de Salvador, assim como as do Rio de Janeiro, eram repletos de africanos, cativos ou libertos, vestidos com coloridos turbantes e panos nas costas. Eram "pau para toda obra", trabalhavam no serviço doméstico, nos transportes, nos mercados, nos portos. Falavam a língua da Costa Africana, vivendo segundo padrões africanos, aclimatados no Brasil. Castro Alves vai, então, na contramão do ideal romântico dos artistas engajados no projeto imperial. Ele inventou uma linguagem capaz de quebrar o silencio sobre o negro escravo e a escravidão, produzido pelo romantismo vigente, ditado pela colonização na historia e na literatura do país, desconstruindo, desse modo, com seu condoreirismo, os discursos literários hegemônicos que celebravam o índio, o amor, os costumes e a cultura urbana. Em sua singular biografia, ABC de Castro Alves, Jorge Amado lembra que a presença da população escrava de Salvador determinou a formação de Castro Alves. Foi a partir dessa visão cotidiana e da companhia de outros intelectuais, como Ruy Barbosa, que ele passou os primeiros sentimentos abolicionistas aos seus primeiros escritos. Já, em 1861, declamando em homenagem à Independência, referiu-se à escravidão apresentandoa como contingência histórica, insinuando a contradição entre cativeiro e nacionalidade. SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Um momento por favor, professor, quero só anunciar a presença de nosso presidente da Câmara, vereador Paulo Câmara. Se quiser compor a Mesa de nosso trabalho, abrilhantando o compromisso dele, Castro Alves, com a liberdade. SR. MILTON NASCIMENTO: - Em 1863, Castro Alves publica seus primeiros versos abolicionistas, A Canção do Africano, no numero inaugural do jornal acadêmico, A Primavera. Mas apenas o jornal lhe parecia insuficiente para disseminar seu imaginário abolicionista e, logo, ele se utiliza da declamação, era uma coisa em voga na época, em teatros e comícios estudantis, muitas vezes de improviso, quebrando, para os jovens estudantes e seus familiares, o silêncio sobre escravos e escravidão, imposto pela marca colonial e difundido pelo Império. Em 1865, na abertura dos Cursos Jurídicos, recita o poema, O Século, na Faculdade de Recife. Esse poema, escrito quatro meses após a abolição da escravidão, nos Estados Unidos, canta a liberdade dos escravos e conclama a participação de todos os brasileiros para a luta por justiça e liberdade: Lutai... Que Há uma diz: "À Há de a Não ouvis do Que bate aos lei sombra sublime do vingança marchar." Norte um pés crime grito, do infinito, a mocidade Que vai Franklin despertar? Basta!... É Das As Quem Tomba No Eu sei o que Moisés mãos no do Eterno recebe Marchai! tábuas da lei! — cai na luta com nos coração Sinai; braços da do glória, História, Brasil! Moços, do Pirâmides topo dos vastas, Andes, grandes, Vos contemplam séc'los mil! No seu poema, A Canção do Africano, cantou a nostalgia do cativo e colocou em contradição a África sem escravidão e o Brasil pátria do escravismo: ―Lá todos vivem felizes, Todos dançam no terreiro, A gente lá não se vende Como aqui, só por dinheiro.‖ Em 2 de julho de 1863, declamou poesia em homenagem ao transcurso do aniversário da expulsão dos portugueses da Bahia. A primeira parte do poema é dedicada ao cativo. Na quarta estrofe, "Põe na boca do escravo, ao morrer, um grito de ―vingança", o poeta retomaria, com virulência, o tema do ódio servil. E diz: "Um suor frio lhe passou nos membros... No corpo a vida para sempre cansa. Caiu por terra, mas lembrando o filho Com os lábios hirtos repetiu - vingança.‖ Em 1865, quando a poesia antiescravista de Castro Alves assumiu singular radicalidade, o movimento abolicionista ainda não existia, imperava no Brasil um estado geral de conformidade sobre a sorte dos cativos e se acertava uma discussão casual sobre a extinção lenta, gradual e segura da ordem maldita. Apesar do fim da Guerra de Secessão dos Estados Unidos e do fim do cativeiro em várias nações independentes, o Brasil afirmava sua condição de pátria do escravismo. No início de 1866, na Bahia, Castro Alves fundou, juntamente com Ruy Barbosa, a Associação Abolicionista. Em dezembro, Castro Alves publicou vibrante poema contra a repressão policial de um comício republicano: O Povo ao Poder. ―A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade Cria águias emseu calor! Senhor!... pois quereis a praça? Desgraçada a populaça Só tem a rua seu... Ninguém vos rouba os castelos Tendeis palácios tão belos... Deixai a terra ao Anteu." Ainda neste ano, em Recife, Castro Alves escrevia o drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, onde identificava a abolição com a questão da independência e da nacionalidade. Em 1868, em São Paulo, centro da produção escravista, compôs e recitou o seu maior poema abolicionista. Com o Navio Negreiro, referia-se, alegoricamente, à imensa nação que encobria com sua bandeira o cativeiro. Castro Alves lembrava a bastardia na nacionalidade brasileira enquanto a cidadania não compreendesse todos os seus filhos, coisa que para nós ainda não aconteceu. "Auriverde pendão da minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra, E as promessas divinas da esperança... Tu, que da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!..." Em junho de 1869, Castro Alves, gravemente doente dos pulmões, teve o pé que havia sido ferido a bala em uma caçada no Brás, lá em São Paulo, amputado em uma operação realizada no Rio de Janeiro, e realizada a cru, sem clorofórmio, sem nada, devido a fraqueza dele. Em novembro, embarcou para a Bahia e em janeiro viajou para o interior, buscando melhores ares. Em inícios de 1870, com o fim da guerra do Paraguai, a discussão sobre a escravidão tornou-se questão nacional, debatida nos salões e nas praças públicas. Mesmo se sabendo condenado à morte, Castro Alves planejava escrever um poema histórico sobre o Quilombo dos Palmares. Nos sertões, aqui da Bahia, escreveu sua ―Saudação a Palmares‖, soberbo elogio da revolta negra e implacável crítica dos intelectuais vendidos ao poder. ―Cantem eunucos devassos Dos reis os marmóreos paços E beijem os férreos laços Que não ousam sacudir... Eu canto a beleza tua, Caçadora seminua! Em cuja perna flutua Ruiva, a pele de um tapir." Em outubro deste ano, Castro Alves havia publicado seu primeiro e único livro, enquanto ele estava vivo: Espumas Flutuantes. Mas pouco durou. Sua última aparição em público foi em 10 de fevereiro de 1871, numa festa beneficente. Morreu às 3 e meia da tarde, no Largo 2 de Julho, no Solar do Sodré, em 6 de julho de 1871. Então, eu queria dizer algumas coisas aqui. Ainda hoje, à exceção de alguns estudos de especialistas, como o estudo do professor Edvaldo Boaventura, do emérito professor Germano Machado, de Edson Carneiro, Euclides da Cunha também escreveu algumas coisas, nos ressentimos de uma literatura mais abrangente sobre Castro Alves, o abolicionista. Não se justifica a sua pouca idade, já que, mesmo vivendo pouco, foi profícua a sua obra. É uma interrogação que deixamos aqui. Estudiosos de literatura, igualmente admiradores da poesia de Castro Alves, também se colocam perplexos e assinalam a crescente desvalorização do poeta baiano nos cursos de literatura das nossas universidades e nas escolas nos nossos dias. Sobre ele, em forma lenta, como lembra o professor da universidade de Passo Fundo, o Mário Maestri, lá do Rio Grande do Sul, estendeu-se uma cortina de silêncio, uma espécie de véu de esquecimento. Criou-se também uma mentira quando se afirma, atualmente, que a poesia do nosso mais conhecido poeta ressente-se do tempo, tornando-se na forma e no conteúdo um discurso estranho aos nossos dias. Será verdade isso? Algumas pessoas aqui já falaram que isso não é verdade. Castro Alves é extremamente atual nos nossos dias, em que o racismo, a discriminação e a pobreza contra a população negra brasileira continuam vigentes como uma nova forma de escravidão, extremamente atual nesses 125 anos de abolição inconclusa, que se completa nesse ano de 2013. O Brasil até hoje, enquanto nação formada por várias etnias, não teve a coragem ou a sabedoria, ou ambas, de concluir o processo abolicionista. Temos a abolição inconclusa, e aí, eu acho que nós, negros, também temos responsabilidade nisso, porque não tivemos ainda a coragem de completar a obra dos abolicionistas e até, às vezes, negamos esses abolicionistas, quando negamos o 13 de Maio e pagamos o preço dessa covardia com a imposição pelos grupos dominantes da sociedade, do racismo e da discriminação, no dia a dia, em qualquer lugar que a gente vá. E porque, a exemplo de Castro Alves que rompeu os cânones imperialistas ao cantar o escravo, nós não tivemos ainda a coragem de romper os cânones republicanos que também escravizam os negros na pobreza permanente. Enquanto a produção literária de Castro Alves assumir a denúncia da condição escrava como arma, nós, cidadãos negros nos escondemos em uma conciliação vergonhosa, recebendo as rebarbas da sociedade, esperando que os sucessivos governos republicanos que mantêm os negros na pobreza e na miséria solucionem o que é insolucionável. Ou nós assumimos essa luta diretamente, ou não vai adiantar essa nova forma de escravidão que a pobreza vai continuar a vida toda. Castro Alves em sua criação poética foi além dos valores culturais do seu tempo de espalhar com intensidade e de diferentes formas do imaginário abolicionista a sinceridade de seus propósitos e a energia empenhada que temos que ter hoje para vencer o racismo e a discriminação racial. Um poeta americano, chamado Ezra Pound, falava sobre os artistas que eles são as antenas da raça. Castro Alves é a antena do Brasil, à antena da nossa raça. Hoje, na intensidade e na atualidade de sua obra, ele ilumina o nosso presente que se perde na pieguice, na mediocridade e na superficialidade dos tempos atuais. Quando se completa 166 anos de seu nascimento, podemos dizer um pouco mais: "Ele é o profeta da raça, um profeta do abolicionismo que ainda precisa ser concluído no Brasil". Para concluir, eu peço a tolerância, presidente, para ler o trecho de um poema pequeno, é uma saudação do poeta chileno, Pablo Neruda, que é um prêmio nobre da literatura, ao nosso maior poeta. O título do poema é: "Castro Alves do Brasil". Diz assim, é só três estrofes que eu vou ler. "Castro Alves do Brasil, para quem cantastes? - Cantei para os escravos, eles sobre os navios como um cacho escuro da árvore da ira, viajaram, e no porto se dessangrou o navio deixando-nos o peso de um sangue roubado. - Cantei naqueles dias contra o inferno, contra as afiadas línguas da cobiça, contra o ouro empapado do tormento, contra a mão que empunhava o chicote, contra os dirigentes de trevas. Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro torna a nascer para a terra livre deixam-me a mim poeta da nossa América, coroar a tua cabeça com os louros do povo. Tua voz uniu-se â eterna e alta voz dos homens Cantastes bem. Cantastes como se deve cantar.‖ Muito obrigado. SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Obrigado, professor Milton. Vamos passar a palavra para os vereadores, inicialmente, vereador Everaldo Augusto, que vai ter que sair, posteriormente, vereador Sílvio Humberto. Vereador Everaldo Augusto SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Caro presidente Odiosvaldo Vigas, que todo ano realiza esta sessão especial brilhante, que já faz parte do calendário das sessões da Câmara de Vereadores de Salvador e é, com certeza, uma das homenagens mais simbólicas que a cidade, que a Bahia presta ao nosso poeta maior, o poeta Castro Alves. Quero, portanto, parabenizá-lo vereador, e saudar toda a Mesa. Quero, antecipadamente, pedir desculpas aos presentes por ter que sair para um outro compromisso, mas não poderia deixar de vir aqui, registrar a importância das palestras que foram proferidas: o último professor Milton Nascimento, todas as três palestras foram importantes, claro, destacando o lado social do poeta Castro Alves, da sua obra. Isso é uma coisa brilhante, porque além da sua estética, além do poeta do amor, além do poeta, vamos dizer, da natureza, é o lado social que marca muito Castro Alves e é isso que faz, também, com que Castro Alves seja sempre um poeta atual; isso que falou o professor Fernando Guerreiro. O que torna um artista atual? - É ele ser a antena da raça, falar do mundo vivo, do povo vivo, das coisas vivas, e foi isso que Castro Alves terminou fazendo, e nós precisamos estar atentos para essa necessidade de atualizar Castro Alves. Tem um crítico literário, Jamil Almansur Adad, que escreveu muito sobre Castro Alves e copilou também outros comentários sobre Castro Alves, destacava que em momentos de efervescência política e social no país, a obra de Castro Alves vem à tona e fala de alguns desses momentos. E nós vivemos um, recentemente, que foi a luta contra o regime militar que tinha na poesia de Castro Alves um símbolo de resistência. E, aí, Castro Alves reavivou de novo, saiu para a memória; todo mundo falava de Castro Alves. Hoje, nós não estamos vivendo aquele momento de viragem política no país, como foi o fim do regime militar. Professor Brust está aqui, que viveu, combateu e conduziu essa luta com maestria, sabe do que nós estamos falando, mas, hoje, o Brasil vive um momento muito propício para atualizar a obra de Castro Alves que é, justamente, tratar dessa temática que nosso professor tratou aqui, da necessidade do país promover um grande movimento de reconhecimento do crime, que foi a escravidão e de reparação, e das políticas afirmativas, porque isso está presente na nossa sociedade, isso é um elemento importante para a construção da cidadania e da democracia no nosso país. Nós não podemos conviver com as marcas da escravidão indefinidamente, " ad eternum", nós temos, portanto, de prosseguir nessa luta pela reparação, pela igualdade de direitos, pela equidade, pelas cotas, tudo isso que nós conquistamos até aqui. Castro Alves, ao falar da escravidão, ele fez como o professor muito bem destacou aqui, não criando imagem ideal do homem negro, como tentaram criar uma imagem ideal do índio para ser o símbolo do nosso povo, mas desceu lá, na senzala, para falar do negro como ele era, e não somente falar, mas, também, de acusar aqueles que estavam colocando aquele homem, aquela mulher, aquele filho, aquela filha, naquela determinada situação. Eu acho que é a prova mais viva de que a obra de Castro Alves... l (Continuação...) SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - ... filha, aquela filha, naquela determinada situação. Eu acho que a obra de Castro Alves é a prova mais viva de que é justa toda política de reparação hoje. Queria concluir por aqui, dizendo também, vereador Odiosvaldo Vigas, e anunciando aqui, nesta Casa, que ontem nós apresentamos um projeto aqui na Câmara de Vereadores, que em parte é uma homenagem a Castro Alves, e em parte, também, um compromisso desta Casa com a arte, com a cultura, com a literatura, sobretudo. Nós apresentamos aqui nesta Casa uma proposta, um projeto de resolução para criação de um selo editorial, intitulado Selo Editorial Castro Alves da Câmara Municipal de Salvador. Seria um selo editorial com a finalidade de publicar obras literárias dos mais diversos estilos de autores baianos ou radicados aqui, e que teríamos justamente essa idéia. O projeto foi apresentado, nós vamos discutir com o conjunto dos vereadores, com a Mesa da Câmara, para ver se a própria Câmara assume esse projeto, que não seja um projeto de um vereador, mas de toda a Câmara, e tenhamos mais uma homenagem permanente ao nosso poeta maior Castro Alves. Queria, portanto, lhe agradecer. Já deixei, aqui, uma lembrancinha do poeta com o senhor, no final nós vamos distribuir para todos os presentes aqui. Muito obrigado e peço desculpas, mais uma vez, por ter que me retirar em função de outro compromisso. Viva Castro Alves! SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Obrigado, vereador Augusto. É um projeto justamente importante essa questão do selo. Queremos registrar à presença do vereador Orlando Palhinha aqui, uma salva de palmas; do vereador Alemão também, que compareceu aqui a esta sessão. Passamos agora para o vereador Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer. SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -Boa tarde a todos, boa tarde Sr. presidente Odiosvaldo Vigas, em sua pessoa vou saudar à Mesa. Inicialmente, eu quero parabenizá-lo por esta Sessão especial para alguém tão importante para esta cidade, para este Estado, para este país. E dizer que fiquei extremamente feliz, porque, para mim que sou um professor, e diz que professor é aquele que sempre aprende, aprendi muito nesta tarde. Aprendi quando eu vi estas crianças, estes adolescentes aqui que deram uma aula, e ali ao lado o presidente da Fundação Gregório de Matos, um profundo conhecedor da arte de fazer arte, famoso aqui na nossa cidade. Não é famoso, não é celebridade porque é não, mas é porque faz, porque sabe o que faz. E ele diz, aquela menina está pronta. Ainda brinquei com ele assim, tive a ousadia quando ela sinalizou assim, ainda é diretora. Então isso é fantástico, porque o que nós observamos quantos talentos têm na escola pública. Quantos! E por falta de oportunidades, do que eu diria dessas condições normais de temperatura, de pressão que, geralmente, são encontrados na rede pública, estes talentos não florescem. E aqui eu quero aproveitar para parabenizar a diretoria da escola e os professores da Escola Castro Alves, porque é fácil quando se tem as condições, os meios e as condições. E quando não se tem as condições, você consegui produzir, você consegue estimular esta juventude, mantê-las ali, porque isto é uma forma de prevenir, isto é uma forma de acarinhar, de acolher e isto é o que faz assim, enaltecer essa profissão que é ser professor. Isso, este retorno, é isso que você sabe, assim, eu vou lá dar aula, eu vou contribuir com a vida desses jovens. E aí eu acho, considero que enquanto presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, nós vamos lutar junto com os meus pares para que este dia não seja um dia mesmo não, porque esta proposta da poesia possa mesmo de fato ali nos currículos escolares, porque isto estimula porque eu sei o que é a poesia, porque eu não sou um poeta, mas a minha entrada no movimento social se deu também com poesia. No início dos anos 80, nós tínhamos um grupo, chamado Grupo Gênese, que nós utilizávamos, fazíamos uso da poesia, para falar das questões raciais, para fazer movimento negro. Foi assim que eu aprendi a fazer movimento negro, também fazendo uso da poesia. E aqui eu quero saudar ali o meu amigo Durval, que está ali... (Continuação...) SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: - ... o meu amigo Durval, que está ali, que participou dessa caminhada, Durval Azevedo. E quando ouvi aqui, hoje, essa história de Castro Alves, que você compara assim, me lembro de Jimmy Cliff falando de Bob Marley, que morreu aos 36 anos, ele disse assim: Que tem pessoas que passam na terra feito um cometa, numa velocidade e rapidez de uma cometa, e o seu brilho intenso. E assim, eu diria que foi Castro Alves, que passou com 24 anos, e nem sequer viu que em 1871 teve a Lei do Ventre Livre, mas ele foi de um brilho intenso e que continua até os nossos dias, pois quando mantemos essa luta contra a discriminação racial, contar o racismo, e dessa abolição inconclusa, é porque sempre digo que o nosso problema não foi o dia 13 e sim o day after, o chamado dia seguinte. E esse dia seguinte é o que faz manter o que Castro Alves denunciava lá atrás, e ali passou naquele filme O Amistad, aquelas agruras, o quanto foi danoso para a humanidade o tráfico de escravos e Castro Alves viu, com Espumas Flutuantes, ele conseguia descrever, que jamais esqueçamos o que foi aquilo, esse crime contra a humanidade que pagamos até os nossos dias. Então, eu diria Sr. presidente, gostaria de parabenizá-lo mais uma vez por manter essa Sessão especial, por trazer essa juventude, e por agora, termos através de nossa TV Câmara, poder isso alcançar milhares de lares daqui, da cidade de Salvador e aí essa é uma forma de manter essa data como o Dia da Poesia. E para finalizar, como hoje, também, é o dia de nascimento de nosso Abdias do Nascimento, esse grande senador, esse grande iconoclasta, desse quebrador de regras, daquele que tinha uma missão que eu diria, essa missão Oguniana, de abrir caminhos, e foi isso o que ele fez; foi o livro que li pela primeira vez, o livro Genocídio do Negro no Brasil, que li quando eu tinha 16 anos, o livro que mudou a minha vida, tem o Sílvio Humberto antes e depois daquele livro, porque ele disse verdades que estavam ali na minha frente, e eu não conseguia enxergar. Então, homenagear a memória de Abdias do Nascimento, aquele que teve que ser tudo porque no Brasil não bastava ele ser somente professor, ele foi artista, foi escultor e chegou até ser senador, secretário de justiça teve que ser tudo, teve que ser um faz tudo para mostrar o quanto eram as dificuldades, que teve de ser diretor de teatro, ator, ele inclusive, começou a sua vida, se não me engano, no Exército, e as suas dificuldades. Eu queria terminar, lendo aqui, uma passagem do autor do livro chamado Cadernos Negros, que, de certa forma, espelha essa continuidade da obra de Castro Alves, esses poetas negros aqui, da nossa cidade, José Carlos Limeira, Landeia, Marcos Guilhon,, uma série de outros, mulheres, Mel, que têm passado aqui, que têm mantido vivo essa chama, vou terminar lendo um poema de Cassabouvo, que é lá de Santos, e falando sobre Abdias. Ele diz: "Dias de Abdias, ele foi, florescer em suas noites, no teatro da tarde, para um público vazio em negritude, aspirou o ato uma falsa falta de ar, contou os cantos para encenar a combinação dos negros em conto, relatou o que a melódica palavra era a ditadura da poesia, scripts de tempo e papel de negrura. Nascimento melhor que o comprometer da alma, corpos armados, incestos perdoando o modo da escrita crua". Muito obrigado. SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Muito obrigado vereador Sílvio Humberto. Vereador Orlando Palhinha usar da palavra, cinco minutos vereador. SR. VEREADOR ORLANDO PALHINHA: - Boa tarde a todos e a todas. Primeiro quero agradecer a Deus, por mais essa tarde maravilhosa, aqui, na Casa legislativa, na Casa do povo. Quero saudar a Mesa na pessoa do presidente, companheiro e vereador Odiosvaldo Vigas, vereador que tem mantido essa chama acesa... (Continuação...) SENHOR VEREADOR ORLANDO PALHINHA: - Quero saudar a Mesa na pessoa do presidente, companheiro e vereador Odiosvaldo Vigas, vereador que tem mantido esta chama acesa, em demonstrar para a sociedade, para os jovens, os adolescentes, quem foi Castro Alves na história da humanidade. Eu sou oriundo de Muritiba, conterrâneo de Castro Alves, não é da minha época, evidentemente, mas acompanho, inclusive, visitei a fazenda onde nasceu, a fazenda Cabaceiras, e tenho assim, vereador, a satisfação de estar neste momento ao lado de V. Exa., com as demais autoridades aqui da Mesa, onde V. Exa. não deixa que esta chama se apague. A Câmara Municipal de Salvador desempenha o seu papel demonstrando para a sociedade a importância do que foi Castro Alves. E falar aqui, nesta tribuna, depois do professor Sílvio, que deu uma aula, tenho pouco a falar. Só para agradecer a oportunidade, vereador, e dizer que continue nesta luta. Nós estamos ao seu lado, aprovamos aqui esta sessão especial porque essa chama jamais poderá ser apagada. Um poeta que viveu muito pouco de tempo de vida, veio a falecer lá, em Muritiba, inclusive, tem próxima à Praça de São Pedro a casa onde viveu Castro Alves. Sempre que vou em minha cidade procuro ir lá na fazenda Cabaceiras, visitar o museu, visitar a casa. E parabéns a V. Exa., parabéns as pessoas aqui, que se fazem presentes, porque esta chama jamais poderá se apagar. Deus abençoe, Deus seja louvado. Obrigado pela oportunidade. SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Queremos registrar a presença da Escola Eloá Ramani, com a sua gestora que está aqui, Evanildes Maria dos Santos. Uma salva de palmas. Registramos também a presença de João Bosco, representando aqui a UBT, União Brasileira de Trovadores da Bahia. O grupo também GAC, o Grupo de Ação Cultural da Bahia, presente conosco, uma salva de palmas. O IEG, o Instituto de Educação Gratuita também aqui presente conosco, nesta tarde de hoje. Bem, antes de concluirmos a nossa sessão que, posteriormente, haverá no Centro Cultural o espaço para a declamação, a performance de poetas, onde será também servido um coquetel, queremos ver aqui, não durante muito tempo, o poeta Edgar Velame, que quer fazer uma apresentação sua e, posteriormente, o poeta Cláudio Dória. DECLAMAÇÃO DA POESIA ―NAVIO NEGREIRO‖ apresentação e adaptação Edgar Velame. São Onde os a Onde A terra voa esposa guerreiros com os tigres São N'alma Como escravos luz, Agar sem o longe... bem com e foi lágrimas Agar também, alquebradas, longe tíbios algemas razão... desgraçadas sedentas, Trazendo Filhos bravos... mulheres Que De fortes, sem nus... mosqueados míseros ar, aberto solidão... simples, Hoje luz. ousados, na Homens Como homens os deserto a campo dos Combatem Sem do em tribo São Que filhos vêm... passos nos e sofrendo braços, fel. tanto Que nem Têm o que Lá leite dar crianças Viveram moças Cisma um dia a virgem das noites ...Adeus! ó ...Adeus! infindas, no Nasceram Quando Ismael... areias palmeiras Passa pranto para nas Das do país, lindas, gentis... a caravana na cabana nos choça véus... do palmeiras monte!... da fonte!... ...Adeus! amores... adeus!... Depois, o Depois, areal o oceano extenso... em pó. Depois no horizonte imenso Desertos...desertos só... E a fome, o mcansaço, a sede... Ai! quanto infeliz que cede SR EDGAR VELAME:( NAVIOS NEGREIROS(...) E cai Vaga Mas p'ra um o não lugar chacal sobre mais s'erguer!... na cadeia, a areia Acha um corpo Ontem a A guerra, O sono Sob a caça a Pelo toa d'amplidão! negro, fundo, o imundo, peste sono arranco baque por jaguar... sempre cortado de de Ontem um um finado, corpo ao plena A por poder... de maldade, cúm'lo Nem são livres Prende-os p'ra a lúgubre roscas assim Dança morrer. mesma Férrea, Nas serpente da a Deus vós, — escravidão. da lúgubre do . corrente zombando som mar... liberdade, vontade Hoje... Dizei-me à porão o Senhor leão, apertado, E Ao ao tendas o Tendo E Leoa, dormido Infecto, — roer. Serra as Hoje... E que açoute... dos Senhor morte, coorte Irrisão!... desgraçados! Deus, Se eu Tanto deliro... ou horror Ó por de teu manto Astros! os apagas tuas vagas este borrão? tempestades! Que imensidades! mares, Quem são não que excita Quem são?... a rir a em Se a vós da fúria do estrela à se pressa cala, resvala fugaz, noite tu, turba algoz? cúmplice a Dize-o desgraçados calmo um Perante ... estes vaga Como tufão! encontram o Que Se não das Varrei Mais céus?!... noites! Rolai verdade os que esponja Do é perante mar, Co'a se confusa... severa musa, Musa libérrima, audaz! São Onde Onde os a filhos terra voa A tribo dos homens nus... do esposa em campo deserto a luz. aberto São Que os guerreiros com os ousados, tigres Combatem mosqueados na Homens solidão... simples, Hoje fortes, bravos... míseros escravos Sem ar, sem luz, sem razão... São Como mulheres Agar Que desgraçadas o foi também, sedentas, De longe... Trazendo Filhos alquebradas, bem longe com e tíbios algemas N'alma passos nos lágrimas Como e Agar Que nem leite braços, fel. sofrendo o vêm... tanto do pranto Têm que dar para Ismael... Lá Das nas areias palmeiras no Nasceram crianças Viveram moças Passa Quando Cisma ...Adeus! ...Adeus! infindas, país, lindas, gentis... um dia a virgem na cabana das noites nos véus... ó choça palmeiras ...Adeus! amores... adeus!... a caravana do da monte!... fonte!... Senhor Deus Dizei-me dos vós, desgraçados! Senhor Deus! Se eu deliro... ou se é verdade Tanto Ó horror mar, Co'a perante por que esponja De os não de teu céus... apagas tuas manto vagas este borrão? Astros! noite! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!... E existe P'ra cobrir E deixa-a Em manto Meu Deus! Que um povo que tanta bandeira infâmia e transformar-se impuro meu de Deus! impudente Silêncio!... a mas que na Musa! empresta cobardia!... nessa festa bacante fria!... bandeira gávea chora, é esta, tripudia?!... chora tanto minha terra, e balança, sol encerra, Que o pavilhão se lave no seu pranto... Auriverde Que brisa do Estandarte que a E promessas Tu, a pendão as que da Foste hasteado Antes te de Brasil beija luz do divinas liberdade dos houvessem Que servires a um povo de mortalha!... da esperança... após heróis roto a guerra, na lança, na batalha, Fatalidade Extingue O nesta trilho Como atroz que hora que um mente o Colombo íris ...Mas a no é esmaga! brigue abriu pélago imundo na vaga, profundo!... infâmia Da demais... etérea Levantai-vos, Andrada! heróis arranca do este plaga Novo pendão Mundo... dos ares! Colombo! fecha a porta de teus mares! Desculpe, se não foi à altura da bondade de cada um de vocês! Obrigado! De pé para ficar melhor. Obrigado, Odiosvaldo, à altura da sua bondade. Extensão a todos. SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: Convidamos agora o poeta Cláudio Dória, de Simões Filho. Cláudio Dória, você tem o tempo de 5, 7 minutos. SR. CLÁUDIO DÓRIA: - Obrigado. Boa tarde. Eu sou convidado do Edgar Velame. SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: Cláudio Dória, seja breve por causa do tempo, porque nós ainda vamos para o Centro Cultural. temos horário. Se apresente, o tempo é curto e SR. CLÁUDIO DÓRIA – POETA: - Ok. Tudo bem. Meu nome é Cláudio Dória, de Simões Filho, eu vou recitar o poema: "As Duas Flores". São duas São flores duas Talvez do Vivendo,no Da Do mesma das duas um um Como a arrebol, de as asas casal de como os o do suspiro e véu. prantos, descem profundezas céu... andorinhas frouxo parelha penas rolinhas, de no sol. pequenas do tribo em orvalho, de como bem Das galho, raio tarde Unidas, Como mesmo passarinho Como Que nascidas gota mesmo bem Da rosas mesmo Unidas, De unidas tantos olhar... o desgosto, Como as covinhas do rosto, Como as estrelas do mar. Unidas... Ai quem Numa pudera eterna primavera Viver, qual vive esta flor. Juntar as rosas da vida Na rama verde e florida, Na verde rama do amor! Obrigado. SR. VEREADOR igualmente. ODIOSVALDO VIGAS: - Obrigado, Analice, pega o microfone para o poeta, por favor. SR. JOSUÉ RAMIRO – POETA: NORDESTE SEM COR Tórrida terra Alto sertão Brasilidade Nordestinos em foco Verão assombroso Noites Açoites Onde Aqui de é gerado tambem dias calóricos morticínios já e se dor viu Extermínios de Até bichos pequenos o e grandes rio secou Alhures lobisomens Raquíticos homens Nordeste é Esbanja o Aqui pulava Numa A dor nosso saber Saci Pererê perna mata está seca só com a seca Crenças até Zé fora Caipora Havia E lá Pereira boi toca em bumbá nosso carnavá Mas... Gotas de Desaguam E Nesse no ácidas na resto de nosso chuvas rala vida que vegetação ainda esquecido restou sertão Nesse Nordeste sem cor. Viva a poesia! Viva o Nordeste brasileiro que hoje sofre com mais de 50 anos de tanto horror, de tanta tristeza, tanta dor. Nordestino, nós nos lembramos de você. Viva a poesia! SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: - Para encerrar, nós vamos assistir agora um vídeo "Desde que o samba é samba", "Uma lágrima escorrendo sobre uma pele escura", cantada por Caetano Veloso. APRESENTAÇÃO DE VÍDEO. (Continuação...) (Continuação...) (Continuação...) APRESENTAÇÃO DO VÍDEO DE CAETANO VELOSO DESDE QUE O SAMBA É SAMBA SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS Bem companheiros, vocês viram aí esse texto Desde que o Samba é Samba, a capoeira, o samba, a nossa identidade cultural deste país. O samba, o lamento, principalmente do negro, quando o negro cantava, cantava a sua história, cantava a sua tristeza e isso mostra a identidade desse povo. Quero agradecer a presença de todos os senhores e convidamos para o encontro nosso no Centro Cultural, onde lá teremos a apresentação da professora Graça Ramos, com seu grupo de artistas que estarão presentes, a execução de um filme chamado A Noiva, também de Castro Alves, e a declamação de alguns poetas lá presentes. Pode tocar a Abolição, de Margareth Menezes, mostrando a praça dessa galera. Navio negreiro já era, nós vamos conquistar, vamos adiante, estamos avançando, vamos chegar lá. Muito obrigado a todos vocês.