www.rhmjournal.org.uk A 2008 Reproductive Health Matters. All rights reserved. Reproductive Health Matters 2008;16(31 Supplement):57–65 0968-8080/08 $ – see front matter PII: S0 968 - 808 0( 0 8) 313 82- 2 QUESTÕES DE ´ SAUDE reprodutiva Interrupção da gravidez por anomalia fetal: a perspectiva de uma organização de apoio aos pais Jane Fisher Diretora, Antenatal Results and Choices, Londres, Reino Unido. E-mail: [email protected] Resumo: Em 2008, a Antenatal Results and Choices (ARC) celebra seu 20º aniversário como uma instituição de caridade do Reino Unido. A ARC atua fornecendo informação e apoio não-diretivo a pais antes, durante e depois do pré-natal. A maior parte de seu trabalho se concentra em apoiar pais que estejam considerando interromper ou já tenham interrompido a gravidez depois do diagnóstico de anomalia fetal. O artigo descreve a história da ARC e como seu trabalho mudou ao longo desses 20 anos, e examina as interrupções no Reino Unido, a maioria das quais realizadas no segundo trimestre, a partir da experiência de uma organização de apoio aos pais. Também resume a lei que define quando as interrupções por anomalia fetal podem ser oferecidas e explora algumas das questões que tem afetado a experiência parental de interrupção depois do diagnóstico do pré-natal. Descreve como os padrões de cuidado mudaram para melhor, em parte por conta do treinamento e da informação amplamente fornecida, e a experiência e perspectivas de pais sobre a importância de se ter contatos com outros que estejam vivendo a mesma experiência. Palavras-chave: aborto de segundo trimestre, rastreamento pré-natal, anormalidade fetal, organização de apoio a pais, Reino Unido N o Reino Unido, a maioria das mulheres recebe sua assistência materna através do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde – NHS), e a política nacional de rastreamento pré-natal é administrada pelo Comitê Nacional de Rastreamento do Reino Unido. Todas as mulheres grávidas tiveram algum tipo de rastreamento pré-natal1. A Tabela 1 mostra uma variedade de rastreamento prénatal oferecidos atualmente na NHS. A Cláusula E da lei sobre aborto na Grã Bretanha (conforme emendada em 1990)2** permite a interrupção da gravidez com base na anomalia fetal. As interrupções são permitidas a qualquer momento durante a gravidez desde que as seguintes condições sejam atendidas: “Quando existir um risco substancial da criança nascer e sofrer com anomalias físicas ou mentais que causem sérias limitações.” Pela forma em que o rastreamento e teste pré-natal estão organizados, a maioria dos diagnósticos é realizada no segundo trimestre. De acordo com os últimos dados disponíveis (2006), 50% das interrupções feitas sob a **O Ato de Aborto de 1967 abrange a Inglaterra, Escócia e Gales. O aborto é legal somente até a 24ª semana de gravidez quando a continuação da gravidez representa um risco para a saúde física e mental da mulher ou de seu bebê maior do que se a gravidez fosse interrompida. O aborto é legal a qualquer momento se existe risco de vida para a mulher, risco de severa anormalidade fetal ou risco de grave dano físico ou mental à mulher.2 15 J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 Tabela 1. Rastreamento pré-natal e testes diagnósticos realizados no Reino Unido, 2008a Teste/rastreamento Período da gravidez Exame ultra-sonográfico de primeiro trimestre Viabilidade fetal de exame ultrasonográfico 6-10 semanas Exame ultra-sonográfico para determinação da idade gestacional 10-12 semanas Testes e exames de rastreamento Exame de sangue para anemia falciforme e talassemia 8-10 semanas Exame ultra-sonográfico de translucência nucal (TN) para síndrome de Down 11-13 semanas Exame combinado de TN + exames de sangue para síndrome de Down 11-13 semanas Teste integrado para síndrome de Down: (resultados dados após um segundo exame de sangue) 11-13 semanas (Primeiro exame de sangue e TN) 16-20 semanas (segundo exame de sangue) Exames de sangue para síndrome de Down (sem TN) 16-20 semanas Exame ultra-sonográfico em meados da gravidezb (para detectar anomalias estruturais) 18-21 semanas Exames diagnósticos Biópsia de vilo corial (BVC) 11-13 semanas Amniocentese 16-24 semanas Exame ultra-sonográfico em meados da gravidezb 18-21 semanas a Esses são exames recomendados pelo Comitê Nacional de Rastreamento, mas a disponibilidade varia de acordo com as maternidade do Reino Unido Pode ser tanto um exame de rastreamento quanto de diagnóstico b 16 láusula E acontecem entre a 13ª e 19ª semaC na3, e 35% na 20ª semana e após. Diretrizes nacionais4,5, atualizadas em Janeiro de 2008, incentivam o rastreamento no primeiro trimestre para hemoglobinopatias e síndrome de Down,*† então o número de interrupções entre a 12ª e 14ª semana de gestação podem aumentar. Todavia, a principal ultrassonografia para checar anomalias fetais estruturais ainda é feita entre a 18ª e 21ª semana de gestação6†*, assim as anormalidades continuarão a ser diagnosticadas no segundo trimestre. O Escritório Regional de Estatística para a Inglaterra e Gales menciona que os números de interrupções realizadas sob a Cláusula E em 2006 são de 2.0363 ou aproximadamente 1% do número total de interrupções realizadas nos dois países. Esse número tem sido constante com o passar dos anos. O Trabalho da ARC Em 2008, a Antenatal Results and Choices (ARC) celebra seu 20º aniversário como uma instituição de caridade do Reino Unido. A ARC atua fornecendo informação e apoio não-diretivo aos pais antes, durante e depois do pré-natal. A maior parte de seu trabalho se concentra em apoiar pais‡† que estejam considerando interromper ou já tenham interrompido *† ‘A revisão de evidências apresentadas e discussões de membros especialistas do Grupo de Implementação Consultiva da Síndrome de Down tem mostrado claramente que o caminho a seguir é a introdução do rastreamento no primeiro trimestre.”5 † * Desde julho de 2006, a posição política do Comitê Nacional de Rastreamento tem sido de que os provedores devem assegurar que possam prover uma ultrassonografia para determinação da idade gestacional e outra para detecção de anomalias entre a 18ª e 21ª semana. ‡† Ao longo desse artigo, os termos “pais”, “bebê” e “criança” são utilizados, pois, segundo a experiência da ARC é como a maioria das mulheres e casais designam a si próprios e ao feto dentro do contexto de uma gravidez desejada. J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 uma gravidez depois de um diagnóstico de anormalidade fetal. A ARC começou dentro de um contexto diferente de cuidado pré-natal e com um nome também diferente. A entidade de caridade nacional foi registrada em 1988 como SATFA (Support After Termination for Abnormality). O rastreamento pré-natal para defeitos no tubo neural estava disponível para muitas mulheres naquela época, mas a maior parte dos testes diagnósticos durante o prénatal eram oferecidos para mulheres vistas consideradas “de alto risco”, seja pela idade materna, histórico familiar ou obstétrico. Os fundadores do SATFA eram um grupo de pais enlutados e profissionais de saúde que reconheceram que as necessidades daqueles que haviam passado por uma interrupção após o diagnóstico no pré-natal não eram atendidas. O entendimento convencional da época era de que as mulheres que tivessem interrompido suas gravidezes sob tais circunstâncias haviam feito uma escolha positiva, iriam superar rapidamente e deveriam focar-se em uma próxima e esperançosa gravidez. Essa visão determinou como o cuidado era oferecido nos hospitais. Os direitos e rituais permitidos a outros tipos de perda durante a gravidez, como óbito fetal, não eram oferecidos. “Você é a principal pessoa responsável pela perda; o aborto indica que o bebê não era querido. Ao invés de condoerem-se com a sua perda, as pessoas tendem a dizer que foi sorte a anormalidade ter sido detectada. No caso de um natimorto existe algo mais reconhecível- houve um nascimento, o parto foi realizado... É mais provável que se tenha analgésicos disponíveis, fotografias, registro de natimorto e um funeral, se desejado... Nada disso existe nas interrupções; o bebê não tem identidade, e dessa forma o luto e o sofrimento são mais difíceis de levar a cabo a decisão.” (Diagnóstico de anencefalia com 22 semanas, newsletter da SATFA, Dezembro de 1985) A SATFA forneceu um disque-ajuda, estabeleceu grupos de pares para apoio a mulheres em luto e seus parceiros, e trabalhou de perto com profissionais de saúde para melhorar o atendimento. A ARC teve sorte de ter entre seus fundadores originais um profissional de saúde “esclarecido” que viu a necessidade para tal organização. De início, a ARC havia mantido um relacionamento extremamente próximo e que dava suporte àqueles que trabalham na área. Isso tinha sido providencial na aquisição de um amplo respeito pelo trabalho que fazemos e na motivação de profissionais de saúde para comparecerem em nossos treinamentos e encaminharem pais a ARC. O Guia SATFA foi primeiramente publicado em 1990 como um guia escrito com sensibilidade sobre o que o processo de interrupção pode envolver tanto física quanto emocionalmente e para destacar as escolhas que os pais podem ter durante o processo. Foi desenvolvido para ser oferecido assim que possível após o diagnóstico para permitir aos pais prepararem-se para o que vem à frente. Cópias desse guia foram enviadas a todas as maternidades do Reino Unido. Em parte esse foi o motivo pelo qual a SATFA se tornou amplamente conhecida e mais pais começaram a fazer contato antes de realizar o procedimento. Na maioria das vezes, estavam com dificuldade de aceitar o diagnóstico e a onerosa decisão que teriam que enfrentar. “Uma escolha soa melhor do que não ter uma escolha. Todavia, a ideia de escolher era pesada e confusa. Estávamos devastados com o pensamento de qualquer das decisões. Não foi muito depois que me dei conta de que a real tragédia era a perda de uma criança saudável e que não tinha tido escolha sobre isso. A perda tinha que ser aceita e sofrida e antes que isso acontecesse tínhamos que tomar uma decisão irreversível.” (Diagnóstico de anomalia cromossomial, SATFA News Maio 1991) 17 J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 A organização precisava refletir a mudança no tipo de contato com as pessoas, e então em 1992 o nome se tornou Support Around Termination for Abnormality (Apoio para Interrupções por Anormalidades). Então a SATFA tomou uma posição não-diretiva com o objetivo de ajudar os pais a recolher toda a informação que pudessem precisar e apoiálos na elaboração da melhor maneira de seguir com a gravidez em suas circunstâncias individuais. Conforme o ano de 1990 passava e mais mulheres faziam testes de rastreamento pré-natal, mais delas começaram a entrar em contato com a SATFA enquanto decidiam se faziam o rastreamento ou um exame diagnóstico invasivo. Em 1998 houve outro “reposicionamento de marca” e a instituição de caridade se tornou Antenatal Results and Choices (ARC). O ímpeto para essa importante mudança foi o aumento do volume de ligações do disqueajuda sobre rastreamento pré-natal e testes de diagnóstico e o reconhecimento de que as necessidades das mulheres que escolhiam continuar com suas gravidezes após o diagnóstico pré-natal eram geralmente negligenciadas. Houve certa inquietação entre nosso grupo de clientes, pois este grupo achava que retirando a referência da interrupção, a ARC estava implicitamente concordando com a visão de que isto era algo para se envergonhar e esconder, não ser falado. Eles foram assegurados pelos responsáveis de que a ARC continuaria ainda trabalhando ativamente na conscientização das questões relativas à interrupção, e que o nome refletia mais precisamente seu trabalho. A verdade é que, apesar da ARC fornecer apoio aos pais para qualquer decisão tomada, a maioria das pessoas que entram em contato com a organização depois do diagnóstico estão considerando a interrupção ou acabaram de realizá-la, enquanto aquelas que continuam a gravidez tendem a se desviar para grupos 18 de apoio de condições específicas.** A ARC provavelmente fornecerá a maior parte de seu apoio contínuo para aquelas que optam por interromper suas gravidezes após diagnóstico de pré-natal, uma vez que não há outra organização de apoio disponível. A ARC continua a trabalhar junto a profissionais de atenção à saúde e desenvolveu um programa de treinamento integral para ajudá-los a promover os melhores padrões de atendimento aos pais através de teste pré-natal e suas consequências. A ARC também trabalha no nível legislativo, sendo membro de uma variedade de subgrupos de rastreamento pré-natal do Comitê Nacional de Rastreamento do Reino Unido. Isso nos permite assegurar que as perspectivas dos pais influenciam a implementação e monitoramento dos programas de rastreamento. Fatores que afetam a oferta de interrupção aos pais após o diagnóstico de anomalia fetal A lei que permite a interrupção poderia compreender que os pais podem levar o tempo que for necessário para decidir sobre o futuro daquilo que frequentemente é uma gravidez desejada. A Cláusula E não lista as condições que se encaixam no critério de “severamente limitado”. Cabe aos médicos (são necessários dois para assinar o formulário) tomarem as decisões, com base em casos individuais, sobre se é apropriado para a mulher fazer uma interrupção. Geralmente se tem trabalhado em benefício dos pais e seus médicos, uma vez que cada caso pode ser considerado em relação a circunstâncias específicas. ** No início de sua existência, a ARC trabalhou em conjunto com a Association for Spina Bifida and Hydrocephalus (Associação para Espinha Bífida e Hidrocefalia), por exemplo, uma vez que tinha contato com muitas mulheres que fizeram a interrupção após diagnóstico de defeitos no tubo neural. A ARC também fez contato com várias organizações de apoio ao luto. J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 Na realidade, todavia, pode haver pressões associadas ao limite legal para a maior parte dos abortos de 24 semanas. Pesquisas sugerem, e a ARC vem notando anedoticamente, que existe uma variação na prática em torno do oferecimento de interrupções pós-24 semanas por anomalia fetal, e que há um aumento no cuidado profissional nos últimos anos. Por exemplo, determinados serviços oferecem a interrupção após 24 semanas em casos de diagnóstico de síndrome de Down, enquanto outros não consideram legal. Alguns serviços de medicina fetal organizaram painéis com especialistas em ética para decidir sobre a legalidade das interrupções pós-24 semanas7. Um médico entrevistado como parte de um estudo sobre atitudes para interrupções tardias em serviços de medicina fetal (Statham et al) 8 notou a mudança de atitude. “Apesar das pessoas costumarem dizer, sim, Down é uma condição permanente, você pode realizar uma interrupção após vinte e quatro semanas, agora [existem] muitos que dizem, bem, talvez não... Eu acho que no geral, há uma mudança de clima na sociedade contra esses indivíduos.”8 Talvez outra explicação para mudanças na prática dessa área seja a publicidade gerada em 2003 quando a Reverenda Joanna Jepson buscou uma revisão judicial 9 da decisão da polícia de não processar médicos que interromperam uma gravidez com mais de 24 semanas de gestação na qual o feto foi diagnosticado com fissura completa de lábio e palato bilateral. As autoridades policiais realizaram a investigação do caso e ficaram satisfeitos com a conclusão de que o aborto foi “legalmente justificado e que o procedimento foi corretamente realizado”. Todavia, a Reverenda Jepson desafiou essa decisão com base em que fissura completa de lábio e palato bilateral não é uma “deficiência séria” e, portanto o aborto teria sido ilegal. Após uma nova e detalhada investigação, a decisão de que os médicos envolvidos não seriam processados foi ratificada em Março de 2005. Apesar da tentativa sem sucesso de Jepson, o interesse da mídia na história foi alto e um dos médicos envolvidos foi identificado e sua foto mostrada em um conhecido jornal de circulação nacional.10 Após Jepson, ocorreram outras tentativas antiaborto para limitar ou banir esses abortos. Para gerar interesse, eles sugerem que os pais buscam a perfeição e abortam gravidezes no segundo trimestre ou após, quando condições menores e que podem ser resolvidas são diagnosticadas. As condições que têm sido objeto de várias histórias na imprensa incluíam fissura completa de lábio e palato e planta do pé deformada (pé torto), que podem ser tratados com sucesso após o nascimento11. A experiência da ARC não apóia a asserção que os pais estão buscando algo mais sinistro do que um “bebê saudável”. É válido perceber que a prevalência de nascimento com problemas de planta do pé deformada e fissura completa de lábio e palato no Reino Unido é de aproximadamente 1 em 700 e 1 em 1000, respectivamente.12,13 Em outras palavras, com uma taxa anual de aproximadamente 700.000, cerca de 1.000 bebês nascem com fissuras e cerca 700 com planta do pé deformada a cada ano. A grande maioria dos pais continua a gravidez após o diagnóstico de qualquer uma dessas condições. Um ponto frequentemente desconsiderado é que ambas as condições podem ser, às vezes, indicadores de um cromossoma ou síndrome genética, podendo haver outras, chamadas “marcadores leves”, visíveis através de ultrassonografia, que não estão listadas como motivo para interrupção, pois não são consideradas anomalias estruturais. Muitas síndromes não podem ser diagnosticadas através da amniocentese, dessa forma algumas mulheres podem optar por interromper suas gravidezes, pelo risco significativo de um problema grave. 19 J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 Fatores que afetam o processo decisório dos pais Embora a tecnologia esteja progredindo e mudanças estejam acontecendo nas atitudes profissionais, o que não mudou nada em 20 anos é o impacto emocional de toda a experiência. Não podemos subestimar o sofrimento de um diagnóstico pré-natal e o processo decisório subsequente. Mesmo com aconselhamento e informação pré-teste compreensivos, a notícia de que existe algo de errado com seu bebê em gestação tem um enorme impacto nas mulheres e em seus parceiros.14 “Meu marido e eu sentimos tudo desmoronar ao nosso redor quando recebemos a notícia. Convicções previamente estabelecidas e decisões previamente tomadas pareciam superficiais e chegavam de forma abrupta agora que a realidade da situação dependia de nós.” (ARC News, Abril 2003)** A ARC sempre manteve a ideia de que se o processo é bem conduzido, o estresse adicional pode ser evitado. É essencial que os pais tenham o apoio e as informações necessárias para tomar a melhor decisão para eles. Isso significa os pais poderem olhar para trás e sentir que foram capazes de fazer o melhor que puderam em circunstâncias difíceis. O importante para isto é não banalizar o processo nem fazer suposições, uma vez que isso pode levar os pais a se sentirem sem apoio. “Essa foi a decisão mais difícil que já tive que tomar e senti que a gravidade e enormidade da responsabilidade foi minimizada por um ou dois profissionais... para nós não foi uma consequência inevitável. Foi algo que pensamos muito a respeito, e uma decisão que foi difícil para ambos. Por outro lado não nos arrependemos da decisão, mas ainda nos lamentamos por aspectos do processo decisório.” (Mãe de um bebê diagnosticado com síndrome de Down, entrevista DIPEx nºAN02) ** O ARC News é um boletim informativo enviado a 1.500 membros do ARC no Reino Unido, três vezes por ano. 20 Aqueles que cuidam de pais que receberam diagnóstico de anomalia fetal necessitam primeiro reconhecer o choque e sofrimento que começa quase que imediatamente e reconhecer que, em um estado emocional de estresse, os pais precisam tomar uma decisão com consequências de longo prazo para seu bem-estar e de sua família. Outro fator é que frequentemente há pouca informação definitiva sobre o prognóstico do bebê, à exceção de quando uma má formação letal é descoberta (e mesmo assim, pode haver incertezas sobre quando a morte do bebê irá realmente acontecer). Por exemplo, existem excelentes fontes de informação sobre o que viver com síndrome de Down pode significar, mas ninguém pode dizer aos pais o nível de dificuldade de aprendizado que seu filho poderá apresentar. Outros diagnósticos podem requerer que os pais pesem possíveis resultados que são igualmente dolorosos de serem encarados. Isso se torna uma tentativa de encontrar a consequência ‘menos pior’ entre cenários igualmente tenebrosos. “Mas, como… sendo um ser humano podemos tomar esse tipo de decisão, você sabe: ‘Será que devo enfiar uma agulha no coração do meu bebê e matá-lo agora? Ou devo dar à luz e então rezar para que ele não morra, tenha um ataque do coração e caia morto com cinco anos de idade, entende? Ou então, se sobreviver de alguma forma, qual é o melhor que podemos esperar, como ele viverá com a carga de saber dessa condição terrível e incurável.’ ...E eu me lembro de ficar remoendo essas coisas na cabeça... E pensando, o que vou escolher agora, entende? Quais desses três terríveis e totalmente diferentes cenários é aquele com que vou conseguir conviver depois, ou eu poderia escolher que ele viva com isso?” (Mãe de bebê diagnosticado com uma doença de coração congênita, DIPEx entrevista AN04) Existe pouca evidência de como os pais de fato tomam suas decisões15, e a delicadeza da situação significa que a pesquisa nessa área J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 sempre será bastante limitada. Quando se fala dos possíveis resultados após um diagnóstico de anomalia fetal no disque-ajuda da ARC ou nas sessões presenciais, os fatores trazidos pelos pais como decisórios têm sido consistentes durante os anos. Em sua maioria incluem a percepção da severidade da condição diagnosticada, a qualidade de vida prevista para a criança e o impacto de inserir uma criança com necessidades especiais na família, incluindo os irmãos existentes ou vindouros. Eles também podem pesar fatores como o estilo de vida escolhido, as situações de trabalho e financeira. Algumas vezes existem valores religiosos, morais ou culturais particulares que influem na tomada de decisão. Os pais estão sempre atentos ao fato de que a decisão tomada será algo com que terão que conviver. Dentro do cenário do Reino Unido, i.e, um Serviço Nacional de Saúde com uma equipe comprometida, mas todos frequentemente sobrecarregados e mal remunerados, pode ser difícil para pais lidando com esses dilemas ter o tempo que necessitam para discutir suas opiniões com os cuidadores. A ARC incentiva as clínicas a nos indicar sempre que apropriado, dessa forma os pais podem ter um espaço seguro e tempo para explorar suas opiniões com alguém independente. Nossos contatos detalhados estão no folheto informativo sobre rastreamento pré-natal entregue a todas as mulheres grávidas. Não há evidências sugerindo que o tipo de procedimento realizado nessas mulheres faça diferença na recuperação emocional em longo prazo14. Todavia, algumas mulheres que receberam diagnóstico precoce irão se pressionar para tomar uma decisão a tempo de realizar a interrupção cirúrgica, uma vez que a ideia de indução médica do aborto é um choque para a maioria. Pode ser muito difícil aceitar a ideia de entrar em trabalho de parto para dar à luz um bebê morto. O Guia ARC para Pais contém informação sobre todos os aspectos do processo de interrupção e dá a mulher a chance de considerar as vantagens e desvantagens dos dois tipos de procedimento.16 Padrões de atendimento para mulheres que optam pela interrupção por anomalia fetal Apesar de haver um pouco de variação nas práticas entre os hospitais do Sistema Nacional de Saúde, a maioria das mulheres tem direito a interrupção cirúrgica antes de 13 semanas, e após esse período, indução medicamentosa. O Royal College of Obstetricians and Gynaecologists recomenda que o feticida seja oferecido como parte de um processo para gravidezes acima de 21 semanas e 6 dias de gestação17,18. O feticídio (na maioria das vezes uma injeção de cloreto de potássio no coração do feto) é normalmente realizado em unidades terciárias especializadas. A interrupção em si acontece na maternidade ou na ala de ginecologia. Geralmente os pais relatam ótimos padrões de atendimento nas maternidades. Alguns pais podem escolher um profissional independente para realizar o aborto cirúrgico após 13 semanas. Todas as interrupções por anomalias após 24 semanas são feitas através do Sistema Nacional de Saúde. Vinte anos atrás, havia pouco ou nenhum cuidado específico para mulheres que faziam interrupção após o diagnóstico pré-natal. Durante a existência da SATFA/ARC, graças, em boa parte, aos treinamentos destinados a profissionais de saúde e ao trabalho junto aos mesmos, o cuidado com as mulheres e seus parceiros foram notavelmente melhorados. No segundo trimestre, a maioria das mulheres tem direito a quartos individuais com instalações para um acompanhante e opções em relação a analgésicos e formas de lembrar-se do bebê, quando apropriado. São frequentes as discussões sobre se os pais devem ver ou segurar o bebê. Os serviços podem oferecer-se para tirar fotos do 21 J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 bebê e ajudar na organização do funeral, se for necessário. Hoje, recebemos poucos relatos tão desesperados como a seguir: “Lá estava eu fazendo a interrupção quando senti meus bebês se mexendo, como se tentassem me dizer ‘Mamãe, eu estou aqui, estou vivo, não faça isso’. Foi muito difícil lidar com isso. Meus filhos foram paridos na hora do almoço do dia seguinte com 10 minutos de intervalo entre um e outro. Disseram-e que era melhor que eu não visse, pois poderia achar muito doloroso. No dia seguinte, após uma visita ao centro cirúrgico para a evacuação, fui liberada para casa me sentindo culpada, deprimida e totalmente inútil – incapaz de me chamar de mãe.” (Diagnóstico de defeitos no tubo neural em ambos gêmeos, SATFA News, Fevereiro 1993) A maioria dos pais que procuram a ARC relata satisfação na forma como o processo é tratado: “Durante o processo, nunca nos sentimos pressionados a fazer nada. Sempre nos sentimos como se tivéssemos escolhas e que estávamos totalmente no controle. Não houve nenhuma pressão ou chantagem emocional em nenhum estágio – do primeiro telefonema, para a amniocentese, ou a interrupção, foi nossa a decisão. Não tenho como dizer o quanto fiquei impressionado com a sinceridade, apoio, compaixão e profissionalismo de toda a equipe envolvida na jornada do nosso bebê.” (Diagnóstico de síndrome de Down, ARC News, Março 2000) Alto grau de satisfação dos pais com o atendimento no hospital também foi encontrado em um importante estudo sobre sequelas psicossociais do diagnóstico pré-natal por Statham et al.19 Após a interrupção: a perspectiva dos pais Durante seus 20 anos, a ARC teve contato com milhares de pais que passaram por uma interrupção por conta de anomalias. Muitos 22 precisarão de um período de luto e ajuste após a perda, mas pela nossa experiência podemos dizer que a grande maioria segue adiante positivamente nas suas vidas familiares. Eles reconhecem que tomaram a melhor decisão que podiam em uma situação extremamente difícil. “(...) durante o atendimento, conforme lia sobre a minha experiência do nascimento dele e minha incerteza sobre se eu tinha feito a coisa certa, meus sentimentos ficaram mais claros. Eram sentimentos de tristeza e perda; a culpa parecia ter ido embora. Senti-me como se tivesse feito o meu melhor, mesmo que não tenha sido muito bom.” (Pai após interrupção devido a um defeito grave no coração)20 Mulheres ficam muito ansiosas para se recuperar fisicamente para que possam começar a pensar em tentar engravidar novamente. É comum que o sangramento continue por algumas semanas após o parto e isso pode ser preocupante, especialmente se não houver acompanhamento. De acordo com a experiência da ARC, isso ainda é irregular. Então que tipo de apoio os pais buscam da ARC após a interrupção? De acordo com uma auditoria realizada em 1998 e feedback recebido desde então, parece ter havido pouca mudança no que os pais desejam da ARC, apesar de ter havido mudanças em como estão sendo oferecidas. Quando a SATFA foi fundada em 1988, o trabalho de apoio era feito por um profissional em meio período e alguns voluntários que ofereciam apoio de pares e organizavam encontros de grupos de apoio local através do país. Esses encontros informais bastante frequentados davam aos pais a oportunidade de reconhecer a perda e compartilhar suas experiências com outros que haviam passado por algo semelhante. Isso foi num tempo em que a interrupção por anomalia não era considerada um luto significativo, assim alguns pais compareciam a grupos para pessoas que haviam passado por outros tipos de perda de gravidez. Embora o apoio ao J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 luto genérico seja apreciado, os pais ficam com a sensação de que ter tomado a decisão de causar a morte do bebê tornou a experiência diferente. Aqueles que frequentavam os grupos de encontro da SATFA frequentemente mencionavam o valor de conhecer outros que tenham passado por dilemas semelhantes e tomado decisões semelhantes. Eles achavam reconfortante saber que outros no grupo eram assim como eles e que poderiam simpatizar com os demais e assim normalizar muitas das intensas emoções associadas com suas perdas. “Eu percebi que tenho o direito de sentir como me sinto, pois todos se sentem assim. Eu não sou fraca ou dramática ou super sensível – eu sou normal. Isso tem sido um tremendo empurrão para mim.” (Formulário de avaliação, encontro de pais da ARC, Liverpool 2003) Gradualmente, os grupos de apoio local diminuíram; os pais ainda buscam apoio de pares, porém de forma diferente. A SATFA treinou voluntários para dar apoio individual por telefone e organizar encontros de pais mensais em suas regiões em diferentes localidades do Reino Unido. Recentemente o número de encontros foi reduzido, pois cada vez mais os pais optam por anonimato do suporte virtual. A lista de discussão moderada da ARC, hospedada pelo Yahoo, é expressivamente utilizada, com cerca de 500 membros. “Como o atendimento é feito através de email, me permite expressar sempre que eu quiser todos aqueles sentimentos que luto durante todo o dia para esconder. Além disso, me permite ter um tempo todo dia para pensar sobre minhas experiências, compartilhar e pensar sobre o que eu perdi. Eu diria que teve um papel inestimável no processo de luto.” (E-mail para ARC, Agosto 2005) Assim como o guia dos pais, outra publicação que os pais frequentemente indicam como sendo especialmente útil na recuperação emocional é nosso informativo, ARC News. São três edições por ano, e a maior parte do conteúdo é retirada das próprias experiências de interrupção dos pais. Além disso, inclui anúncios de gravidezes subsequentes bem sucedidas. Para aqueles que acham difícil falar para outras pessoas sobre o que aconteceu, ler histórias semelhantes às suas é uma maneira de quebrar o sentimento de isolamento. “Fizemos uma cerimônia no túmulo do bebê cerca de quatro meses após nossa perda, e nossos amigos e familiares nos apoiaram muito... Foi nessa época que a ARC entrou mais a fundo em nossas vidas. Nós lemos os informativos sempre que chegam e descobrimos que existem muitas, muitas pessoas como nós. Minha esposa utilizou o apoio através da lista de discussão via e-mail e, além disso, sabíamos que teria alguém do outro lado da linha do telefone se precisássemos – não tenho como explicar a importância que teve para nós saber disso.” (ARC News, Março 2007) A maioria dos pais que procuram a ARC após uma interrupção sempre o fazem cerca de dois ou três meses após o procedimento, coincidindo frequentemente com a data estimada original de parto e a pressão de amigos/ família ou colegas de trabalho para “voltar ao normal”. “Eu sentia que já deveria estar voltando ao normal e não aguentava essa tristeza. Gostaria de poder acelerar um ano e passar por essa dor. Felizmente, liguei para a ARC. Foi um alívio escutar que eles recebiam muitas ligações de mães alguns meses após a realização da interrupção e que eu não estava sendo uma inútil completa. Foi bom falar com alguém que já passou pela mesma coisa e entende totalmente meus sentimentos... Você deve agir de acordo com a informação que tem e as circunstâncias que você está e o que é certo para você e sua família. Eu sei que iremos sair dessa e sei que tomamos a decisão certa.” (ARC News, Outubro 2006) Atualmente, cerca de 500 pais por ano entram em contato com a ARC após uma interrupção por anomalia; eles representam 23 J Fisher / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:15-25 aproximadamente um quarto de todos aqueles que passam por esse procedimento. Continua sendo um desafio para uma pequena instituição de caridade assegurar que os pais sejam encaminhados para nós sempre que necessário, mas temos esperança de que graças ao trabalho da ARC a maioria daqueles que não faz contato esteja recebendo melhor atendimento agora do que quando começamos, e sejam capazes de ficar em paz com suas experiências. Conclusão Conforme a ARC entra em sua terceira década, a tecnologia de diagnóstico pré-natal caminha enormemente. As modernas máquinas de ultrassonografia fornecem imagens cada vez mais claras do desenvolvimento do feto e a pesquisa está bem encaminhada para o uso de DNA fetal no sangue materno para diagnósticos não invasivos de condições genéticas no primeiro trimestre. Não importa quão avançada e “segura” seja a tecnologia de teste, ou quão bom é o atendimento dado aos pais, o impacto de um diagnóstico de anomalia fetal em qualquer momento em uma gravidez desejada é devastador para aqueles envolvidos. O processo decisório nunca é vivido superficialmente, e qualquer que seja a decisão dos pais, eles terão que viver com suas consequências. Sempre existirá sofrimento na perda de um bebê saudável que está sendo esperado, qualquer que seja a decisão tomada. Inevitavelmente, mais anomalias serão diagnosticadas no pré-natal, mas a habilidade dos médicos de fornecer prognósticos definitivos ou tratamentos bem-sucedidos não pode acompanhar. Então a ARC continuará a ser chamada para fornecer informações especializadas e independentes, e ainda apoio individualizado aos pais para quem os resultados de teste pré-natal levam a uma das mais desafiadoras decisões que irão enfrentar. Além disso, a ARC irá colaborar com os envolvidos no atendimento pré-natal para ajudá-los a atender melhor as necessidades dos pais nesse momento delicado. Nota Para mais informações sobre o trabalho da ARC, visite o site: <www.arc-org.uk>. Referências 1. Department of Health Chief Executive Bulletin. Issue 84 NHS Interest (4)14–20 September 2001. 2. Abortion Act (1967) and Section 37, Human Fertilisation and Embryology Act (1990). 3. Department of Health. Abortion Statistics, England and Wales: 2006. Bulletin No. 1, 2007. 4. NHS Sickle Cell and Thalassaemia Programme. Em: http:// sct.screening.nhs.uk/antenatal. htm Acessado em 3 de Março de 2008. 5. Fetal Anomaly Screening Programme Director. 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Much of its core work is supporting parents who are considering or who have already undergone a termination after a diagnosis of fetal abnormality. This paper describes ARC’s history and how its work has changed over the 20 years, and looks at terminations, mostly in the second trimester, in the UK from ARC’s experience as a parent support organisation. It summarises the law on when terminations for fetal abnormality can be offered and explores some of the issues that have affected the parental experience of termination after an antenatal diagnosis. It describes how standards of care have changed for the better, partly due to the training and information they provide widely, and parents’ experience an perspectives on the importance of having contact with others with the same experience. 25