UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE TATIANA PONTRELLI MECCA TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO, FIDEDIGNIDADE E EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BATERIA DE VISUALIZAÇÃO E RACIOCÍNIO DA “LEITER INTERNATIONAL PERFORMANCE SCALE-REVISED” SÃO PAULO 2010 TATIANA PONTRELLI MECCA TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO, FIDEDIGNIDADE E EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BATERIA DE VISUALIZAÇÃO E RACIOCÍNIO DA LEITER INTERNATIONAL PERFORMANCE SCALE-REVISED Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo. SÃO PAULO 2010 M486t Mecca, Tatiana Pontrelli Traduçăo, adaptação, fidedignidade e evidencias de validade da bateria de raciocínio e visualizaçăo da Leiter International Performance Scale Revised / Tatiana Pontrelli Mecca - São Paulo, 2010 161 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2010. Referências bibliográficas: f. 145-158. 1. Avaliação Psicológica. 2. Inteligência. 3. Leiter-R. I. Título. CDD 153.9 TATIANA PONTRELLI MECCA TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO, FIDEDIGNIDADE E EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BATERIA DE VISUALIZAÇÃO E RACIOCÍNIO DA LEITER INTERNATIONAL PERFORMANCE SCALE-REVISED Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Aprovada em __________________ BANCA EXAMINADORA Profº Dr. Elizeu Coutinho de Macedo – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Profª Dra. Alessandra Gotuzo Seabra Universidade Presbiteriana Mackenzie Profº Dr. Ricardo Primi Universidade São Francisco APOIO: Este trabalho obteve apoio e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Mackpesquisa. AGRADECIMENTOS Este trabalho é fruto da dedicação, investimento, colaboração e esforço de muitas pessoas e aqui vai o meu “muito obrigada” a cada um que me ajudou a torná-lo possível. Primeiramente agradeço ao meu orientador, professor doutor Elizeu Coutinho de Macedo. Obrigada por tudo! Pelo que me ensinou enquanto meu professor na graduação, pelos anos de iniciação científica e por ter aceitado orientar este trabalho. Todas as lições, todas as conversas, todos os ensinamentos foram muito valiosos, essenciais e determinantes para o meu caminho profissional e pessoal. Não há palavras que traduzem a imensa admiração que tenho por você. À professora doutora Alessandra Gotuzo Seabra que além de trazer ricas contribuições como parte da banca examinadora, me incentivou e me ajudou com seus conhecimentos na elaboração do projeto inicial que resultou neste trabalho. Sua competência e sua gentileza é exemplo para todos que estão a sua volta. Muitíssimo obrigada Alê! Ao professor doutor Ricardo Primi que contribuiu não só com suas discussões e conhecimento compartilhado como parte da banca examinadora, mas também como autor de muitas das referencias lidas para o corpo teórico deste trabalho. Suas pesquisas têm sido de fundamental importância para aqueles que estudam avaliação da inteligência. Também agradeço pela oportunidade de assistir as aulas de TRI! Agradeço àquelas que me ensinaram a dar os primeiros passos. As colegas de laboratório que fizeram parte do início da minha trajetória profissional e que me serviram de exemplo durante esses anos: Katerina Lukasova, Carolina Nikaedo, Luane Natalle, Carolina Kuriyama e Riviane Borghesi Bravo. Especialmente à Fernanda Tebexreni Orsati, que nestes seis anos não poupou esforços para me ensinar, me orientar e mesmo longe, sempre esteve presente. Fe, deixo aqui registrado o quanto você é essencial na minha formação. Aos professores e colegas do grupo de Transtornos Globais do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie com quem dividi boa parte destes anos. Cada um a sua maneira contribuiu de forma valiosa para o meu crescimento profissional e pessoal: Salomão, Decio, Elói, Maria Cristina, Cristiane, Roberta, Renata e Alessandra. Sou imensamente grata por todos os momentos. Aliás, devo ressaltar aqui que minha maior motivação para este trabalho veio dos 4 anos que dividi com vocês. Darlene, Camila, Bruna, Rivi, Cintia e Natália: mais do que minhas colegas de mestrado ou de laboratório, minhas amigas queridas! Obrigada pelo carinho, amizade, companheirismo, apoio, incentivo...enfim...contar com vocês fez toda a diferença!!!!!! Me sinto honrada de ter amigas como vocês. Àqueles que de alguma forma me ajudaram na execução deste trabalho, seja na tradução e adaptação da Leiter-R, bem como na coleta, tabulação e análise dos dados: professora Ceres Alves de Araújo, Natália Martins Dias, Bruna Tonietti Trevisan, Arthur Berberian, Alexandre Bizzocchi, Mayra Fernanda Ferreira Seraceni e Gizelly de Lima Alemida . Agradeço especialmente à Daniela Aguilera Moura Antonio pela super força e disponibilidade durante a coleta e tabulação dos dados e também por dar continuidade a este trabalho. Dani, obrigada por ter participado deste trabalho como se ele fosse seu. Sua ajuda fez toda a diferença! E ainda temos mais dois anos nessa jornada... Agradeço a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento e aos colegas do Laboratório de Neurociência Cognitiva, por todos os momentos de aprendizado que me proporcionaram. Lembro especialmente da Alícia e Karine, secretárias do Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento e Denise da Coordenadoria de Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que sempre estiveram dispostas a me ajudar em todos os momentos que precisei. À minha família: Aninha, Gordinho, Tico e Le. Vocês tornaram isso possível. Se cheguei até aqui foi graças ao investimento, apoio e auxílio incondicional que eu tive desde o início. Agradeço imensamente todo o esforço e dedicação que vocês tiveram ao me proporcionar todas as condições necessárias para que eu pudesse realizar este trabalho e me dedicar exclusivamente a ele. Eu amo vocês! Por fim, agradeço aos professores, coordenação, direção e a todos os funcionários das escolas que fizeram o possível e o impossível para que eu conseguisse realizar meu trabalho. Aos pais e alunos que participaram da pesquisa. Vocês formam os maiores responsáveis por todo este aprendizado. RESUMO MECCA, TP. Tradução, Adaptação, Fidedignidade e Evidências de Validade da Bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter International Performance Scale Revised. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. Testes tradicionais que avaliam inteligência exigem habilidades e formas de responder que são difíceis para sujeitos com condições clínicas específicas como os distúrbios do desenvolvimento. Assim, é necessário disponibilizar instrumentos que possibilitem essa avaliação. Um teste utilizado internacionalmente para avaliação de inteligência não-verbal nos distúrbios do desenvolvimento é a Leiter-R, aplicada dos 2 aos 20 anos. São fornecidas três medidas de desempenho: Raciocínio Fluido, QI Estimado e QI Total, por meio dos subtestes da Bateria de Visualização e Raciocínio. O objetivo deste estudo foi realizar a tradução, adaptação e verificar parâmetros psicométricos da Bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter-R em pré-escolares. A tradução e adaptação foram realizadas de acordo com pressupostos apresentados nas diretrizes da International Test Commission seguindo as seguintes etapas: tradução, julgamento, adaptação e revisão da versão final. Participaram 254 crianças entre 3 e 6 anos, alunos de 1º a 3º Estágio do Ensino Infantil de duas escolas públicas da cidade de São Paulo. Resultados de análise de variância mostraram efeito da idade e série no desempenho em todos os subtestes da Leiter-R, exceto para o subteste de Sequencias. Diferenças no desempenho devido ao tempo de escolarização foram encontradas no subteste Padrões Repetidos em crianças de 4 anos do 1º Estágio e nos subtestes Figura-Fundo e Formas Completas em crianças de 5 anos no 2º Estágio. ANOVA revelou diferença de gênero para a idade de 6 anos no subteste Dobra de Papel com melhor desempenho no grupo feminino. Padrões de convergência foram verificados através de correlações positivas e significativas entre os escores na Leiter-R com a Escala de Maturidade Mental Columbia e Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Correlações entre teste e reteste foram positivas e significativas para a maioria dos subtestes. Os coeficientes de Spearman-Brown ficaram em torno de 0,84 e Alfa de Cronbach por idade e série, mostraram valores em torno de 0,77 indicando boa precisão dos subtestes. Desta forma, os resultados sugerem boa adequação dos parâmetros psicométricos da Leiter-R, preenchendo requisitos básicos que atestam a qualidade do instrumento. Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Inteligência, Leiter-R. ABSTRACT MECCA, TP. Translation, Adaptation, Reliability and Validity Evidences of the Visualization and Reasoning Battery of the Leiter International Performance Scale Revised. Master's Thesis, Post-Graduation Program in Developmental Disorders. Universidade Presbiteriana Mackenzie, City of São Paulo – Brazil, 2010. Traditional tests that assess intelligence require skills and ways of responding that are difficult for individuals with specific clinical conditions such as developmental disorders. Thus, it is necessary to provide tools that enable this evaluation. An internationally used test for evaluating nonverbal intelligence in developmental disorders is the Leiter-R, applied from ages 2 to 20. Three performance measures are provided: Fluid Reasoning, Estimated IQ and Total IQ, by means of subtests of the Visualization and Raciocínio Battery. The objective of this study was to perform the translation, adaptation and to check psychometric parameters of the Visualization and Reasoning Battery of the Leiter-R in preschool children. The translation and adaptation were performed according to assumptions presented in the guidelines of the International Test Commission by following these steps: translation, examination, adaptation and review of the final version. Participants were 254 children between ages 3 and 6, students of 1st to 3rd Stage of Childhood Education from two public schools in the city of São Paulo. Results of variance analysis showed significant effect of age and grade in performance in all Leiter-R subtests, except Sequential Order. Differences in performance due to the time of schooling were found in the “Repeated Patterns” subtest in children at age 4 of the 1st Stage and in the “Figure-Ground and Form Completion” subtests in children at age 5 of the 2nd Stage. ANOVA revealed differences of gender for age 6 in the “Paper Folding” subtest, with better performance in the feminine group. Patterns of convergence were verified through significant and positive correlations between scores in the Leiter-R with the Columbia Mental Maturity Scale and Raven’s Coloured Progressive Matrices. Correlations between test and retest were positive and significant for most subtests. The Spearman-Brown coefficients were around 0.84 and Cronbach's Alpha for age and grade showed values around 0.77 indicating good accuracy of subtests. Thus, the results suggest good adequacy of psychometric parameters of the Leiter-R, fulfilling basic requirements that attest to the quality of the tool. Keywords: Psychological Assessment, Intelligence, Leiter-R. LISTA DE FIGURAS Pag. Figura 1: Modelo hierárquico de Gustafsson 50 Figura 2: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 2 a 5 anos. 53 Figura 3: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 6 a 10 anos. 53 Figura 4: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 11 a 20 anos. 54 Figura 5. Tendências desenvolvimentais para os escores na Leiter-R. 64 Figura 6. Análise Fatorial Confirmatória para as idades de 4-5 anos. 66 Figura 7. Análise Fatorial Confirmatória para as idades de 6-10 anos. 66 Figura 8. Item 1 da forma A do teste Matrizes Coloridas de Raven 75 Figura 9. Prancha do exemplo 1 da EMMC. 76 Figura 10. Prancha do Item 2 do subteste 1. 77 Figura 11. Cartões A, B e C (esquerda para a direita) do item 2, subteste 1. 78 Figura 12. Prancha do item 1 do subteste 2. 79 Figura 13. Cartões correspondentes ao item 1 do subteste 2. 79 Figura 14. Prancha do item 1 do subteste 3 (Parte I) 80 Figura 15. Cartão correspondente ao item 1 do subteste 3 (Parte I). 80 Figura 16. Prancha do item 10, subteste 3 (Parte II). 80 Figura 17. Cartões correspondentes ao item 10 do subteste 3 (Parte II). 80 Figura 18. Prancha do item 2, subteste 4. 81 Figura 19. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 4. 81 Figura 20. Prancha do item 2 do subteste 5. 82 Figura 21. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 5. 82 Figura 22. Prancha do item 4, subteste 6. 83 Figura 23. Cartões correspondentes ao item 4 do subteste 6. 83 Figura 24. Prancha do item 2, subteste 7. 84 Figura 25. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 7. 84 Figura 26. Prancha do item 4, subteste 8. 85 Figura 27. Cartão correspondente ao item 4 do subteste 8. 85 Figura 28. Prancha do item 2, subteste 9. 86 Figura 29. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 9. 86 Figura 30. Prancha do item 1, subteste 10 87 Figura 31. Cartão correspondente ao item 1 do subteste 10. 87 LISTA DE TABELAS Pag. Tabela1. Modelo da Teoria dos Três Estratos e John Carroll. 20 Tabela 2. Definição dos dez fatores amplos da teoria CHC. 24 Tabela 3. Descrição dos 6 domínios incluídos no Estrato II da CHC. 25 Tabela 4: Valores de índice d e interpretações para diferença de gênero. 37 Tabela 5: Substestes da Bateria de Raciocínio e Visualização (VR) e as idades correspondentes para a aplicação. 52 Tabela 6: Processos cognitivos avaliados pela Bateria VR da Leiter-R. 55 Tabela 7: Subtestes aplicados para obtenção de QI Estimado e QI Total para cada faixa etária. 56 Tabela 8: Subtestes classificados por índices fatoriais e idade. 56 Tabela 9: Descrição das classificações obtidas na Leiter-R pela Bateria de Raciocínio e Visualização. 57 Tabela 10: Consistência Interna dos subtestes da Bateria VR de acordo com a idade. 59 Tabela 11: Médias dos pontos ponderados para Teste, Reteste e Correlação de Pearson. 59 Tabela 12. Valores em porcentagem para sensibilidade e especificidade segundo a amostra normal, com atraso cognitivo e altas habilidades. 61 Tabela 13. Estatísticas descritivas e Correlação de Pearson entre as duas versões da Leiter. 62 Tabela 14: Cargas fatoriais dos subtestes para o Fator Visualização. 65 Tabela 15: Cargas fatoriais dos subtestes para o Fator Raciocínio. 65 Tabela 16: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 2-3 anos. 67 Tabela 17: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 4-5 anos. 67 Tabela 18: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 6-10 anos. 67 Tabela 19: Caracterização da amostra: grupos etários, número de sujeitos, 73 porcentagem e porcentagem cumulativa. Tabela 20: Caracterização da amostra: série, número de sujeitos, porcentagem e porcentagem cumulativa. 73 Tabela 21: Caracterização da amostra: meses de escolarização, número de sujeitos, porcentagem e porcentagem cumulativa. 74 Tabela 22: Estatísticas descritivas da amostra geral para a EMMC, MPCR, subteste 90 Tabela 23. Valores de Alfa de Cronbach dos subtestes da Leiter-R em relação à amostra geral e por faixa etária. 93 Tabela 24: Coeficientes de Correlação de Pearson (r) e valores p para teste-reteste. 94 Tabela 25: Método das Metades para cada subteste da Leiter-R. 94 Tabela 26. Valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene de acordo com os grupos etários para EMMC. 97 Tabela 27. Estatísticas Descritivas da EMMC em função dos grupos etários. 97 Tabela 28. Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade na EMMC. 98 Tabela 29: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para EMMC. 98 Tabela 30: Estatísticas Descritivas da EMMC em função das séries escolares. 99 Tabela 31: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série na EMMC. 99 Tabela 32. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para MPCR. 101 Tabela 33: Estatísticas Descritivas da MPCR em função dos grupos etários. 101 Tabela 34: Teste Mann-Whitney para efeito da idade na MPCR. 101 Tabela 35. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para MPCR. 102 Tabela 36: Estatísticas Descritivas da MPCR em função das séries escolares. 102 Tabela 37: Teste Mann-Whitney para efeito da série na MPCR. 102 Tabela 38. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Figura-Fundo. 104 Tabela 39: Estatísticas descritivas para o subteste Figura-Fundo de acordo com os grupos etários. 104 Tabela 40. Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Figura-Fundo. 105 Tabela 41: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Figura-Fundo. 105 Tabela 42: Estatísticas descritivas para o subteste Figura-Fundo em função das séries escolares. 106 Tabela 43: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Figura-Fundo. 106 Tabela 44. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Formas Completas. 108 Tabela 45: Estatísticas descritivas para o subteste Formas Completas em função dos grupos etários. 108 Tabela 46: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Formas Completas. 109 Tabela 47: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Formas Completas. 109 Tabela 48: Estatísticas descritivas do subteste Formas Completas em função das séries escolares. 110 Tabela 49: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Formas Completas. 110 Tabela 50. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Pareamento. 112 Tabela 51: Estatísticas descritivas para o subteste Pareamento em função dos grupos etários 112 Tabela 52: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade no subteste Pareamento. 113 Tabela 53: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Pareamento. 113 Tabela 54: Estatísticas descritivas para o subteste Pareamento de em função da série. 114 Tabela 55: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Pareamento. 114 Tabela 56: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Sequencias. 115 Tabela 57: Estatísticas descritivas para o subteste Sequencias em função dos grupos etários. 116 Tabela 58: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Sequencias. 116 Tabela 59: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Sequencias. 117 Tabela 60: Estatísticas descritivas para o subteste Sequencias em função das séries escolares. 117 Tabela 61: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série no subteste Sequencias. 118 Tabela 62. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Padrões Repetidos. 120 Tabela 63: Estatísticas descritivas para o subteste Padrões Repetidos em função dos grupos etários. 120 Tabela 64: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade em Padrões Repetidos. 121 Tabela 65. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Padrões Repetidos. 121 Tabela 66: Estatísticas descritivas para o subteste Padrões Repetidos em função das séries escolares. 122 Tabela 67: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série no subteste Padrões Repetidos. 122 Tabela 68. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Classificação. 123 Tabela 69: Estatísticas descritivas para o subteste Classificação em função dos grupos etários. 124 Tabela 70: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Classificação. 124 Tabela 71. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Classificação. 124 Tabela 72: Estatísticas descritivas para o subteste Classificação em 125 função das séries escolares. Tabela 73: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Classificação. 125 Tabela 74: Estatísticas descritivas para o subteste Analogias de Desenho (AD) e Dobra de Papel (DP). 127 Tabela75: Sumário do modelo oriundo da Regressão Linear Múltipla. 129 Tabela 76. Coeficientes de regressão. 130 Tabela 77. Estatísticas descritivas em função de meses de escolarização para crianças de 4 anos do 1º estágio. 131 Tabela 78. Estatísticas descritivas em função de meses de escolarização para crianças de 5 anos do 2º estágio. 132 Tabela 79: ANOVA para o desempenho nos subtestes da Leiter-R em função do tempo de escolarização 133 Tabela 80. ANOVA para efeito de gênero na Leiter-R 135 Tabela 81. Correlações de Pearson entre MPCR, EMMC, QI Estimado e Raciocínio Fluido. 136 Tabela 82 : Correlação da MPCR e EMMC com o QI Total da Leiter-R 137 Tabela 83: Valores de Correlação de Pearson entre os Subtestes da Leiter-R, EMMC e MPCR. 138 Tabela 84: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para a idade de 3 anos. 138 Tabela 85: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 4-5 anos. 139 Tabela 86: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para a idade de 6 anos. 139 Tabela 87. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 3 anos. 140 Tabela 88. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 4-5 anos. 141 Tabela 89. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 6 anos. 142 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO....................................................................................15 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..................................................................17 2.1. Inteligência: Estrutura e Cognição...................................................17 2.2. Instrumentos Psicológicos: Tradução, Adaptação e Parâmetros Psicométricos...............................................................................................27 2.3. Diferenças Individuais na Inteligência em Função de Critérios Externos.......................................................................................................37 2.4. Avaliação da Inteligência na Infância................................................41 2.5. The Leiter International Performance Scale Revised…………….....49 2.5.1. Aspectos gerais do instrumento...............................................49 2.5.2. Parâmetros Psicométricos da Bateria VR da Leiter-R..............58 2.5.3. Leiter-R e os Distúrbios do Desenvolvimento........................68 3. OBJETIVOS...............................................................................................72 3.1. Objetivo Geral.....................................................................................72 3.2. Objetivos Específicos..........................................................................72 4. MÉTODO...................................................................................................73 4.1.Participantes..........................................................................................73 4.2.Instrumentos..........................................................................................74 4.3. Procedimentos......................................................................................87 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................90 5.1. Dados Gerais da Amostra.....................................................................90 5.2. Coeficientes de Fidedignidade.............................................................92 5.3. Evidências de Validade por Mudanças Desenvolvimentais..................95 5.3.1. Escala de Maturidade Mental Colúmbia.........................................96 5.3.2. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven...................................100 5.3.3. Figura-Fundo da Leiter-R.............................................................103 5.3.4. Formas Completas da Leiter-R.....................................................107 5.3.5. Pareamento da Leiter-R................................................................111 5.3.6. Sequencias da Leiter-R.................................................................115 5.3.7. Padrões Repetidos da Leiter-R.....................................................119 5.3.8. Classificação da Leiter-R..............................................................123 5.3.9. Subtestes Analogias de Desenho e Dobra de Papel...................126 5.3.10. Síntese dos Resultados por Tendências Desenvolvimentais....127 5.4. Análise de Regressão Linear Múltipla...............................................129 5.5. Análise por Tempo de Escolarização.................................................130 5.6. Análise por Diferença de Gênero.......................................................134 5.7. Análises de Correlação com outros instrumentos..............................136 5.8. Análise Fatorial Exploratória.............................................................140 6. CONCLUSÃO..........................................................................................143 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................145 8. APÊNDICES............................................................................................159 A. Carta de Informação à Instituição........................................................159 B. Carta de Consentimento Livre e Esclarecido aos pais.........................160 C. Carta de aprovação do Comitê de Ética...............................................161 1. APRESENTAÇÃO A avaliação de habilidades cognitivas de indivíduos com distúrbios do desenvolvimento compreende uma prática clínica e pesquisas fundamentadas em instrumentos adequados para tal. No entanto, os instrumentos atualmente disponíveis no mercado nacional foram construídos e padronizados para a avaliação de indivíduos que possuem certas habilidades preservadas, tais como: linguagem, leitura, escrita e motricidade. Tais habilidades e formas de responder determinados grupos não desenvolveram adequadamente ou até mesmo não as possuem como pode ser observado em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista, Síndrome de Down e outras síndromes genéticas acompanhadas de deficiência intelectual, Distúrbios de Linguagem, Paralisia Cerebral, Deficiência Auditiva, entre outras condições. Conseqüentemente, tais instrumentos não são indicados para avaliação de indivíduos com distúrbios do desenvolvimento já que este grupo apresenta determinadas características como ausência ou prejuízo na linguagem/comunicação e deficiência motora, que freqüentemente impossibilita expressar de fato suas habilidades ou dificuldades. No Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento são conduzidos diferentes estudos que envolvem a avaliação cognitiva de crianças e adolescentes. Desta forma, é importante criar e/ou adaptar instrumentos de avaliação psicológica que possam ser usados nestes estudos, bem como disponibilizá-los para clínicos e educadores. De fato, nos últimos anos tem aumentado, entre os pesquisadores, a preocupação com a disponibilização de instrumentos mais adequados e acessíveis aos grupos avaliados. Por isso, alternativas têm sido propostas para suprir esta lacuna. Entre os aspectos cognitivos mais estudados e de fundamental importância na avaliação cognitiva é a inteligência. Tal construto está relacionado a uma capacidade mental geral que implica em raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata e aprender com a experiência. Uma das possibilidades de avaliar a inteligência de pessoas com distúrbios do desenvolvimento é por meio de testes não-verbais que exijam resposta motora discreta, como é o caso da Leiter International Performance Scale – Revised (Leiter-R). Trata-se de uma escala de avaliação de inteligência não-verbal, aplicada para uma faixa etária de 2 a 20 anos de idade e constantemente utilizada em diversas pesquisas internacionais que 15 avaliam indivíduos com distúrbios do desenvolvimento. Ela é especificamente adequada para ser utilizada com indivíduos que apresentam prejuízos cognitivos, comprometimento auditivo, motor e dificuldades de linguagem. Entretanto, para que um instrumento esteja devidamente qualificado para ser utilizado na avaliação psicológica, a Comissão Internacional de Testes aponta como sendo necessários alguns requisitos básicos relacionados a modelos de adaptação e parâmetros psicométricos. No caso de instrumentos internacionais, alguns requisitos são: tradução e adaptação cultural, bem como medidas adequadas referentes a fontes de evidências de fidedignidade ou precisão e validade que garantem a confiabilidade e especificidade do instrumento. Sendo assim, os objetivos do presente estudo são: traduzir, adaptar e apresentar evidências de fidedignidade e validade da Bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter-R em uma amostra de 200 crianças de 3 a 6 anos, de escolas públicas da cidade de São Paulo. Trata-se de um estudo com relevância social, pois instrumentos que de fato avaliem as reais habilidades do sujeito podem auxiliar em processos diagnósticos e no planejamento de intervenções mais eficazes. A implicação prática da pesquisa é a possibilidade de se avaliar futuramente através de um instrumento adequado, indivíduos, que muitas vezes são considerados incapazes de serem testados, devido à dificuldade de acessar seus conhecimentos através dos testes tradicionais. 16 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 2.1. Inteligência: Estrutura e Cognição De acordo com Mäder, Thais e Ferreira (2004), a inteligência é um conceito amplo, pois a capacidade humana de conceituar, organizar, desenvolver e memorizar é abrangente para ser determinada por apenas um único aspecto. De fato, Almeida (2002) mostra que este conceito ou construto não desfruta de consenso entre os estudiosos do tema. Uma das controvérsias está relacionada à questão se a inteligência é mais bem definida através de uma capacidade geral ou através de um conjunto de aptidões diferenciadas, como no caso das inteligências múltiplas. Mesmo assim, existe um acordo de que a inteligência está relacionada com a capacidade de pensar e de resolver problemas, ou seja, reportam-se as capacidades e habilidades dos indivíduos (Almeida, Guisande, Primi e Ferreira, 2008). Neste sentido, uma declaração assinada por 52 pesquisadores renomados publicada na Revista Intelligence em 1997 define a inteligência como uma capacidade mental geral que implica em habilidades como raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensar de maneira abstrata e aprender com a experiência (FloresMendoza, 2010). Segundo Primi e Flores-Mendoza (2006), o estudo da inteligência se confunde com a história da própria psicologia, pois as primeiras pesquisas empíricas tratavam da medida da inteligência e é marcado por diferentes abordagens teóricas e metodológicas. Neste sentido, três abordagens principais têm sido utilizadas em pesquisas referentes a inteligência: a cognitiva, a desenvolvimental e a psicométrica (Primi, 2002; Almeida, 2002; Roazzi e Souza, 2002; Mader e cols., 2004). A abordagem cognitiva busca identificar os elementos estruturais, esquemas lógicos e processos de funcionamento da atividade mental. Trata-se de uma visão sistêmica da inteligência baseada em seus mecanismos cognitivos, sua arquitetura e dinâmica (Roazzi e Souza, 2002). Sternberg (2008), um dos maiores expoentes desta abordagem, ressalta a importância de se compreender os componentes, estratégias e representações envolvidos nos processos mentais. A inteligência, de acordo com a abordagem desenvolvimental está relacionada ao conceito de adaptação de Piaget que se refere a um estado de equilíbrio para o qual tendem todas as adaptações sucessivas sensório-motoras e cognitivas baseadas na experiência do sujeito. Trata-se de um modelo hierárquico, no qual o desenvolvimento intelectual é 17 dividido em estágios, cada qual mais complexo que o seu precedente e corresponde a uma forma de adaptação biológica. Isto significa que o desenvolvimento cognitivo é construído até o estágio no qual o indivíduo se encontra (Mader e cols., 2004). A abordagem psicométrica será discutida detalhadamente pelo fato de estar mais diretamente relacionada com os objetivos deste estudo. Historicamente, a psicometria começou a ser usada na elaboração de instrumentos de medida sem que se soubesse bem o que eles mediam. Ou seja, sem uma compreensão teórica sobre a inteligência, mas que evoluiu para formulações teoricamente mais sofisticadas (Sternberg, 2008). Nesta abordagem, a inteligência é uma habilidade que pode ser mensurada através do desempenho em testes (Roazzi e Sousa, 2002). E o termo “psicometria” se refere ao foco e esforço colocado sobre a medida e o cuidado despendido na construção e validação de instrumentos (Almeida e cols., 2008a). Gauer, Gomes e Haase (2010) definem a psicometria como o campo de estudos das características de instrumentos ou testes que visam à mensuração de variáveis psicológicas. As características, ou qualidade dos instrumentos são definidas em termos da adequação teórica, empírica, lógica e estatística que eles apresentam, tendo em vista que são utilizados como artefatos de medida. Os indicadores dessas características são analisados desde o nível de operacionalização dos conceitos da teoria nos itens do teste, até as propriedades estatísticas dos valores aferidos pelo instrumento em uma amostra. O início da psicometria se deu a partir das idéias de Francis Galton que focalizou seus interesses na hereditariedade, especialmente na herança de altos níveis de habilidade (Hogan, 2006) e partia do pressuposto de que havia uma habilidade intelectual geral nos indivíduos (Mader e cols., 2004). Partindo desta concepção, o psicólogo inglês Charles Spearman desenvolveu no início do século XX a extração estatística do que veio a denominar de “fator g” (Mader e cols., 2004). Sendo este uma energia mental inata, um fator com base neurológica (Schelini, 2006) capaz de ativar operações cognitivas comuns a todas as atividades mentais (Primi, 2002; Mader e cols., 2004). A concepção bifatorial proposta por Spearman, apresenta um fator geral e outro específico. A alta correlação entre dois testes psicológicos seria explicada por estes serem altamente saturados em g, já que a presença de fatores específicos tenderia a baixar a correlação. (Schelini, 2006; Cruz, 2008). Para Spearman, o funcionamento cognitivo se dava a partir de três processos básicos que estariam presentes em todas as habilidades 18 mentais: 1) apreensão das experiências relacionada à rapidez e acuidade na percepção de estímulos; 2) edução de relações como capacidade de estabelecer relação entre duas ou mais idéias e; 3) edução de correlatos referente à capacidade de criar novas idéias a partir de relações e idéias previamente estabelecidas (Primi, 2002). Embora Spearman não tivesse criado nenhum tipo de teste, tampouco empreendeu projetos para coleta de dados, sua importância se deve ao fato de que através do método estatístico de análise fatorial deu-se a primeira tentativa de fornecer uma teoria da inteligência humana de base empírica (Hogan, 2006). Louis Leon Thurstone também deu continuidade a estudos que explicassem o funcionamento cognitivo e ao verificar os componentes da inteligência através da análise fatorial, propôs a Teoria das Aptidões Primárias. Descreveu sete fatores ou capacidades independentes: habilidade espacial, compreensão verbal, fluência verbal, velocidade perceptiva, aptidão numérica, memória e raciocínio indutivo. A independência dos fatores descarta a idéia de um fator geral subjacente às habilidades específicas (Almeida, 2002; McGrew, 2004). Em 1993, com a publicação de Human Cognitive Abilities: A Survey of Factor Analytic Studies por John Carroll, houve um avanço na visão psicométrica a respeito da inteligência, resultando na criação de um modelo hierárquico chamado de Teoria dos Três Estratos. Os estratos seriam camadas dispostas em três níveis em função da generalidade. O estrato I seria em torno de setenta fatores específicos propostos pelos testes psicométricos. O estrato II agrupa estes fatores específicos em oito fatores mais amplos: raciocínio, conhecimento-linguagem, memória-aprendizagem, percepção visual, percepção auditiva, produção de idéias, velocidade de processamento cognitivo e velocidade de decisão. O Estrato III corresponderia ao fator g (Sternberg, 2008). A tabela 1 mostra o modelo da Teoria dos Três Estratos de John Carroll (1993) adaptado por Primi, Santos, Vendramini, Taxa, Muller, Lukjanenko e Sampaio (2001). 19 Tabela1. Modelo da Teoria dos Três Estratos e John Carroll. ESTRATO III Fator g ESTRATO II Inteligência Fluida Gf Inteligência Cristalizada Gc Memória e Aprendizagem Gsm Percepção Visual Gv Recepção Auditiva Ga Habilidade de Recuperação Glr Velocidade de Processamento Cognitivo Gs DESCRIÇÃO Raciocínio em situações novas, minimamente dependente de conhecimentos adquiridos. Resolver problemas novos, relacionar idéias, induzir conceitos abstratos, compreender implicações. Extensão e profundidade dos conhecimentos adquiridos de uma determinada cultura. Raciocínio adquirido pelo investimento da capacidade geral em experiências de aprendizagem. Manutenção de informações na consciência por um curto espaço de tempo para poder recuperá-las logo em seguida. Capacidade de informação retida após exposição a uma situação de aprendizagem (geralmente conteúdos simples). Gerar, reter e manipular imagens visuais abstratas. Percepção e discriminação de padrões sonoros (incluindo a linguagem oral) particularmente quando apresentados em contextos mais complexos envolvendo distorções ou estruturas musicais complexas. Habilidade associada à extensão e fluência que itens de informação ou conceitos são recuperados da memória de longo prazo por associação. Habilidade associada à taxa de rapidez de processamento cognitivo em tarefas cognitivas simples. ESTRATO I Exemplos de fatores mais significativos Raciocínio sequencial, Indução, Raciocínio quantitativo. Desenvolvimento lingüístico, Conhecimento léxico, Compreensão em leitura. Extensão da memória Memória associativa, Memória visual. Visualização, Relações espaciais, Velocidade de fechamento. Acuidade auditiva, discriminação da linguagem oral, Discriminação e julgamento de padrões tonais musicais. Fluência de idéias, Facilidade de recordação de nomes, Fluência de associações, Originalidade/Criatividade Velocidade perceptual, Tempo de reação simples, Velocidade de processamento semântico. Fonte: Primi e colaboradores (2001, p.154). 20 Em 1998, McGrew e Flanagan propuseram uma integração da Teoria dos Três Estratos de Carroll com a Teoria da Inteligência Fluída e Cristalizada de Horn e Cattell. Esta última se refere a dois tipos de inteligência: a cristalizada e a fluída (Primi e cols., 2001) A inteligência cristalizada (Gc) corresponde à extensão e profundidade dos conhecimentos adquiridos de uma determinada cultura e suas aplicações de forma efetiva. Capacidade de raciocínio adquirida pelo investimento da capacidade geral em experiências de aprendizagem e primariamente baseada na linguagem. Está associada ao conhecimento declarativo, como o conhecimento de fatos, idéias e conceitos. E relacionada a habilidades como raciocinar com procedimentos aprendidos previamente para transformar o conhecimento (Primi, 2002; Primi, 2003; Schelini e Wechsler, 2005; Schelini, 2006). Já a inteligência fluída (Gf) está relacionada à inteligência não-verbal, correspondente à habilidade necessária na previsão da capacidade geral de adaptação às situações novas ou inesperadas, pouco estruturadas, que requerem autonomia intelectual, relacionar idéias, induzir conceitos abstratos, compreender implicações, extrapolação, reorganização, transformação e generalização de informações. As deficiências neste fator caracterizam-se pela dificuldade em generalizar regras, formar conceitos e observar implicações (Primi, 2002; Primi, 2003; Schelini e Wechsler, 2005; Schelini, 2006). E devido aos objetivos deste trabalho, o fator Gf será discutido mais detalhadamente. Primi (2002) aponta que Carroll descreveu três grupos de tarefas gerais relacionadas à inteligência fluída: raciocínio seqüencial geral, indução e raciocínio quantitativo. O raciocínio seqüencial é a capacidade de derivar implicações ou conclusões a partir da análise de combinação de premissas claramente formuladas seguindo dois ou mais passos lógicos, tais como tarefas de silogismos categóricos, silogismos lineares e raciocínio verbal geral. Já a indução se refere a tarefas como descoberta de conceitos/regras, seriação, tarefas de múltiplos exemplares, matrizes, elementos ímpares, analogias, nas quais a pessoa deve analisar um conjunto de estímulos observando as regularidades, as características comuns, para inferir as relações entre os estímulos. Enquanto que o raciocínio quantitativo envolve tarefas que utilizam o raciocínio dedutivo e indutivo, misturando-se com conceitos e relações quantitativas matemáticas, como por exemplo, aritmética, álgebra, geometria e cálculo. 21 O fator Gf tem sido associado à complexidade cognitiva que pode ser definida como uma maior utilização de um vasto e diversificado leque de processos cognitivos elementares durante a execução de uma tarefa (McGrew, 2004). O pico de desenvolvimento da Gf se dá no final da adolescência. Esta se mantém estabilizada por alguns anos e partir daí, entra em declínio principalmente no que concerne a habilidade de velocidade de processamento (Arckerman, 1996). Em relação aos processos cognitivos que são elementares durante a execução de tarefas como o raciocínio fluido, estudos de neuroimagem têm buscado compreende-los em termos de estruturas e ativação cerebral. Hampshire e colaboradores (2010) apontam que o raciocínio é um componente fundamental para um comportamento executivo bem adaptado. Estes autores investigaram a relação entre raciocínio, controle executivo e funcionamento de regiões frontoparietais. Os resultados deste estudo mostram que os circuitos frontoparietais devem ser fracionados em sub-regiões que são ativadas de acordo com demandas distintas de raciocínio que são apresentadas. Tarefas de maior complexidade apresentam modulação de atividade no hemisfério direito incluindo giro frontal medial e a parte superior do córtex parietal. Já tarefas de analogias recrutam áreas do hemisfério esquerdo como a região inferior do córtex pré-frontal dorsolateral. Sendo que estas regiões têm sido associadas a uma gama de demandas cognitivas denominadas funções executivas. Estudos têm mostrado que alguns construtos elaborados a partir de perspectivas teóricas diferentes, como a psicometria e a psicologia cognitiva, apresentam sobreposições. Uma das sobreposições que tem sido estudada se dá entre os construtos fator G e inteligência fluida da psicometria e o construto funções executivas definido na psicologia cognitiva (García-Molina e cols., 2010). As funções executivas têm sido definidas como as habilidades cognitivas necessárias para realizar comportamentos complexos dirigidos para determinado objetivo e a capacidade adaptativa a diversas demandas e mudanças ambientais (Hamdan e Pereira, 2009), sendo indicadas como semelhantes ao conceito de resolução de problemas novos relacionados à Gf (García-Molina e cols, 2010). A importância de sua avaliação se dá pelo fato de que elas estão alteradas em alguns quadros de distúrbios do desenvolvimento, tais como os Transtornos do Espectro Autista (Happé e Frith, 1996), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (Gordon, Barkley e Lovett, 2006), a Síndrome de Williams-Beuren (Menghini e cols, 2010), Epilepsia do lobo frontal em crianças (Luton, Burns e Defilippis, 2010) entre outras condições. Além disso, 22 Shelton e colaboradores (2010) apontam que Gf e memória de trabalho são construtos altamente correlacionados. Já Tilman e colaboradores (2009) mostram que velocidade de processamento, controle inibitório bem como a memória de trabalho, são os principais construtos que explicam o desempenho em tarefas de raciocínio fluido. Segundo McGrew (2004), a Gf é pouco dependente de conhecimentos previamente adquiridos e de questões culturais e mais determinada por aspectos biológicos. Entretanto, isto não significa que a Gf não sofre influencia de aspectos ambientais. Um estudo realizado por Flores-Mendoza e Nascimento (2007) em 144 crianças de uma zona rural cuja situação socioeconômica se caracterizava bastante precária, mostrou que os déficits ambientais afetam com maior intensidade a inteligência fluida que a inteligência cristalizada. Desta forma, a estimulação ambiental não pode ser descartada e deve-se levar em consideração que intervenções podem ser eficazes para estimular o raciocínio fluido. Klauer e Phye (1995) em sua obra “Cognitive Training for Children” mostram que é possível estimular a inteligência fluida através de um programa de atividades de raciocínio indutivo e solução de problemas. De acordo com estes autores, habilidades como generalização, discriminação e o reconhecimento de semelhanças e diferenças entre estímulos influenciam no potencial para a aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades para solução de problemas. A inteligência fluida passou a ter maior destaque a partir do último modelo psicométrico proposto por McGrew e Flanagan (1998). Trata-se da Teoria de Catell-HornCarrol (CHC) das habilidades cognitivas que atualmente fundamenta a construção de novos testes de inteligência. A priori esta teoria postulou dez fatores amplos de habilidades cognitivas: inteligência fluída, conhecimento quantitativo, inteligência cristalizada, leitura e escrita, memória de curto prazo, processamento visual, processamento auditivo, armazenamento e recuperação da memória de longo prazo, velocidade de processamento e rapidez de decisão. A estes dez fatores amplos estariam subjacentes pouco mais de sessenta fatores específicos. A Tabela 2 apresenta o modelo CHC de acordo com os dez fatores amplos a ele subjacentes. 23 Tabela 2. Definição dos dez fatores amplos da teoria CHC. Fator do Estrato II Descrição Capacidade ligada às operações mentais de raciocínio em Inteligência Fluida (Gf) situações novas, minimamente dependente de conhecimentos adquiridos. Capacidade de resolver problemas novos, relacionar idéias, induzir conceitos abstratos, compreender implicações, extrapolação e reorganização de informações (os testes psicométricos do fator g geralmente avaliam a inteligência fluida tais como Raven, a maioria dos testes da BPR-5, Colúmbia, R1, INV, etc...). Extensão e profundidade dos conhecimentos adquiridos Inteligência Cristalizada (Gc) de uma determinada cultura e a aplicação efetiva deste conhecimento. Capacidade de raciocínio adquirida pelo investimento da capacidade geral em experiências de aprendizagem. Primariamente baseada na linguagem. Está associado ao conhecimento declarativo (conhecimento de fatos, idéias, conceitos) e ao conhecimento de procedimentos (raciocinar com procedimentos aprendidos previamente para transformar o conhecimento). Estoque de conhecimentos declarativos e de Conhecimento Quantitativo (Gq) procedimentos quantitativos. Capacidade de usar informação quantitativa e manipular símbolos numéricos. Conhecimento adquirido em competências básicas da Leitura e Escrita (Grw) compreensão de textos e expressão escrita. Inclui desde habilidades elementares como decodificação em leitura e ortografia até habilidades mais complexas como a compreensão de textos e a composição de histórias. Capacidade associada à manutenção de informações na Memória de Curto Prazo (Gsm) consciência por um curto espaço de tempo para poder recuperá-las logo em seguida. Capacidade de gerar, perceber, armazenar, analisar, e Processamento Visual (Gv) transformar imagens visuais, isto é, os processos cognitivos específicos de processamento mental de imagens (geração, transformação, armazenamento e recuperação). Capacidade associada à percepção, análise e síntese de Processamento Auditivo (Ga) padrões sonoros. Capacidade discriminativa de padrões sonoros (incluindo a linguagem oral) particularmente quando apresentados em contextos mais complexos como, por exemplo, a percepção de nuances em estruturas musicais complexas. Extensão e fluência que itens de informação ou conceitos Capacidade, Armazenamento e são recuperados da memória de longo prazo por Recuperação da Memória de Longo associação. Está ligada ao processo de armazenamento e Prazo (Glr) recuperação posterior por associação. Capacidade de recuperar os itens de informação da base de conhecimentos por meio de associações. Este fator agrupa os testes psicométricos criados de avaliação da criatividade sendo muitas vezes chamado de domínio da produção de idéias. Velocidade de Processamento (Gs) Capacidade de manter a atenção e realizar rapidamente 24 Rapidez de Decisão (Gt) tarefas simples automatizadas em situações que pressionam o foco da atenção. Está geralmente ligado a situações em que há um intervalo fixo definido para que a pessoa execute o maior número possível de tarefas simples e repetitivas (sustentabilidade). Rapidez em reagir ou tomar decisões envolvendo processamentos mais complexos. Refere-se à reação rápida a um problema envolvendo processamento e decisão (imediaticidade). Fonte: Primi (2003, p.69). Devido a estudos recentes, alguns domínios foram acrescentados ao modelo CHC, incluindo 6 fatores amplos na camada II (McGrew, 2009) conforme apresentados na Tabela 3. Tabela 3. Descrição dos 6 domínios incluídos no Estrato II da CHC. Fator do Estrato II Conhecimento Geral (Gkn) Habilidades táteis (Gh) Habilidades Sinestésicas (Gk) Habilidades Olfatórias (Go) Habilidades Psicomotoras (Gp) Velocidade Psicomotora (Gps) Descrição Amplitude, profundidade e domínio adquiridos pela pessoa em áreas especializadas que não representam a experiência geral e universal adquirida culturalmente pelos indivíduos. Adquirido pela prática e formação intensas e sistemáticas. Especialização. Habilidades envolvidas na percepção e julgamento das sensações que são recebidas através de receptores táteis. Habilidades que dependem de receptores sensoriais que detectam posição corporal, peso, movimento dos músculos, tendões e articulações. Controle e coordenação dos movimentos do corpo, incluindo o andar, falar, expressões faciais, gestos e postura. São habilidades que dependem de receptores sensoriais do sistema olfativo. Capacidade de realizar movimento motores com o corpo (movimento de dedos, mãos, pernas, etc) com precisão coordenação ou força. Comportamentos motores são tipicamente resultados de atividades mentais. Capacidade de executar movimentos corporais de forma rápida e fluente. Em grande parte, independente do controle cognitivo. Fonte: McGrew (2009, p.6-7). O modelo CHC passou a identificar a inteligência fluida como sendo mais próxima ao fator g. Um dos fatores específicos relacionados à Gf, o raciocínio indutivo seria uma das formas de se compreender os processos cognitivos gerais presentes nas mais variadas habilidades. Este tipo de raciocínio está relacionado à capacidade de analisar um conjunto de estímulos observando as regularidades, as características comuns, para inferir relações entre eles (Primi, 2002; Almeida e cols., 2008b). 25 De acordo com Klauer e Phye (1995) o raciocínio indutivo se refere ao descobrimento de regularidades através de processos que comparam atributos e relações de objetos ou eventos. Para estes autores existem 6 processos de raciocínio indutivo: generalização – buscar similaridades entre atributos; discriminação – buscar diferenças entre atributos; classificação cruzada – semelhanças e diferenças nos atributos; reconhecimento de relações – de similaridades; diferenciação de relações – reconhecimento das diferenças; construção de sistemas – relações de similaridades e diferenças. Além da evolução ocorrida na definição e estrutura da inteligência, outras mudanças têm sido descritas na literatura como relevantes para entender este construto. Entre elas, podemos observar um fenômeno denominado Efeito Flynn (EF). O EF é em termos gerais, a tendência a ganhos no QI da população ao longo dos anos. Dados de diferentes países mostram ganhos significativos de QI a cada geração com o passar do tempo. Estudos como o que foi realizado na Holanda em 1982 onde foi observado que jovens de 18 anos apresentavam 20 pontos acima de pares da mesma idade em 1952. Tratase de um desvio padrão de 1,33 que coloca a segunda geração no percentil 90 da primeira (Flynn, 2006). Um dos aspectos percebido é a correspondência entre aumento no QI e industrialização, disponibilidade de escolas e melhoria nos sistemas de saúde (Flynn, 2006). Outra questão levantada é a mudança nas instruções dos testes (Sternberg, 2010). Khou, Zhu e Weiss (2010) mostram que o EF não é distribuído igualmente entre os diferentes níveis de habilidade, ou seja, o efeito pode variar ao longo da distribuição do QI na população. Por isso, Sternberg (2010) aponta que devido à complexidade do construto e das mudanças ocorridas no mundo ao longo dos anos, não é possível atribuir este aumento a um único aspecto. Os ganhos observados nos últimos 55 anos são maiores em testes de inteligência fluida, como nas Matrizes Progressivas de Raven, que avaliam a capacidade de resolver imediatamente problemas para os quais não há método aprendido de antemão. Estudos apontam cerca de 18 pontos a cada 30 anos (Flynn, 2006). Além disso, estudos têm mostrado que ao comparar a proporção de ganhos em testes não-verbais e verbais, os ganhos se apresentam numa proporção de até 4:1 respectivamente (Flynn e Weiss, 2007) Acompanhando a evolução das teorias sobre inteligência, diferentes instrumentos de avaliação têm sido desenvolvidos. Estas mudanças ocorrem desde a primeira escala 26 criada por Alfred Binet que foi uma operacionalização pioneira do construto inteligência (Miranda, 2002) permitindo sintetizar as habilidades cognitivas em uma medida única, aferida com base em itens padronizados e definida como o Quociente de Inteligência (Gauer, Gomes e Haase, 2010). Binet construiu seu instrumento pensando na relação existente entre a inteligência e a eficácia do desempenho acadêmico. O termo Quociente de Inteligência (QI) foi proposto em 1911 pelo psicólogo alemão, William Stern. Segundo ele, o nível obtido na escala Binet-Simon seria o escore de idade mental dividido pela idade cronológica do sujeito para se obter um quociente mental que representaria de forma mais precisa a capacidade em diferentes idades (Urbina, 2007). Outros instrumentos destinados a avaliação de inteligência também foram criados com pressupostos semelhantes ao teste de Binet, como as escalas de David Wechsler, cuja definição de inteligência subjacente se refere à capacidade conjunta ou global do indivíduo para agir com finalidade, pensar racionalmente e lidar efetivamente com seu meio ambiente (Figueiredo, 2002). Esta definição estaria relacionada à teoria da inteligência composta, ancorada em uma perspectiva integral do desenvolvimento e funcionamento cognitivo, justificando uma medida global de potencial cognitivo como o QI. A partir da escala original de Binet-Simon, diversos instrumentos vêm sendo desenvolvidos, desde as revisões e atualizações do teste de Binet (Roid, 2003). As mais conhecidas e utilizadas são as escalas Wechsler de inteligência para crianças e adultos (Wechsler, 1981; 2003), a Kaufman Brief Intelligence Test (1990) passando pelos testes não verbais como as Matrizes Progressivas de Raven (Raven, 1947) e Toni-3 (Brown, Sherbenou e Johnson, 1997) que avaliam o fator g. Posteriormente temos as escalas baseadas na teoria das habilidades cognitivas de Carroll, como a Leiter International Performance Scale Revised (Roid e Miller, 1997) até Woodcock-Johnson PsychoEducational Battery (McGrew e Woodcock, 2001) baseada no modelo CHC. 2.2. Instrumentos Psicológicos: tradução, adaptação e parâmetros psicométricos. A avaliação psicológica compreende um processo de busca de informações sobre o funcionamento psicológico das pessoas sobre determinadas situações para que o psicólogo possa tomar decisões, sendo uma atividade exclusiva do profissional de psicologia. De acordo com Primi (2003) a avaliação psicológica representa um conhecimento legítimo além de se constituir num critério de avanço embasado cientificamente. 27 Quando se trata de avaliação psicológica, o psicólogo precisa ser capacitado a avaliar a qualidade dos instrumentos e fazer um uso adequado dos mesmos em sua testagem psicológica, pois: “...os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação e registro de amostras de comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de descrever e/ou mensurar características e processos psicológicos, compreendidos tradicionalmente nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade, psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais diversas formas de expressão, segundo padrões definidos pela construção dos instrumentos” (CFP, 2003; p.2) Segundo Anastasi e Urbina (2000), o conceito de teste psicológico é: “Uma ferramenta e essencialmente uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento”. Sendo assim, esta definição leva a duas inferências a respeito da testagem psicológica. A primeira seria que os comportamentos são amplos e variados, sendo tecnicamente inviável ou até mesmo impossível a avaliação de todas as suas possibilidades. E a segunda é a possibilidade de avaliar um comportamento a partir de sua amostra. Em 1996, Cronbach adota uma definição mais ampla a respeito de testagem psicológica, alegando se tratar de um procedimento sistematizado com o uso de escalas numéricas e categorias fixas para a observação e descrição do comportamento (Campos, 2008). Ainda de acordo com Cronbach (1996 apud Campos 2008), existem três conceitos fundamentais que devem estar relacionados à testagem psicológica: a objetividade, a padronização e a estruturação. Estes estão relacionadas ao grau de interpretação de diferentes avaliadores a respeito do mesmo resultado obtido no teste, ao grau de similaridade entre as aplicações do teste e ao grau em que um item só pode ser respondido de uma forma, sem que haja diversas interpretações da pergunta ou vários caminhos para respondê-la. Um teste psicométrico tem como objetivo a medida do comportamento em determinada quantidade e tem como alvo comportamentos inerentes a todas as pessoas. Procura-se atingir a objetividade por meio da padronização da aplicação e da estruturação dos itens. O resultado deve ser expresso em forma de números e deve-se avaliar a margem de erro que a medida apresenta (Urbina, 2007). 28 Os instrumentos de medida são classificados de acordo com as diferentes técnicas de aferição dos seus parâmetros psicométricos e teorias que fundamentam sua construção (Pasquali, 2010). Segundo este autor, a taxonomia dos instrumentos psicológicos pode ser dividida em: testes referentes a critério, a construto, a conteúdo, testes comportamentais, levantamentos (survey) e novas tecnologias. Os testes de inteligência se encontram no tipo referente a construto. Sua característica é a construção a partir de uma referencia teórica e o objetivo é representar um traço latente através do comportamento (resposta ao item), ou seja, são construídos e validados para medir traços latentes. Para que um instrumento esteja devidamente qualificado para ser comercializado e conseqüentemente utilizado na avaliação psicológica, são necessários alguns requisitos básicos. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) bem como outras entidades científicas internacionais como a American Educational Research Association, a American Psychological Association e a National Council on Measurement in Education (Aera; Apa; Ncme, 1999), estão empenhados em proporcionar condições efetivas e seguras para a utilização de instrumentos psicológicos e são destinadas a apreciar um conjunto de propriedades básicas que os instrumentos devem possuir de acordo com os parâmetros estabelecidos internacionalmente, reconhecidos pela comunidade científica. Na ausência de instrumentos, cria-se um novo que possa medir o construto desejado para determinada faixa etária ou grupo específico ou adapta-se um já existente em outra cultura. Para Hambleton e Patsula (1999), existem razões a favor da adaptação de instrumentos: Muitas vezes a adaptação de um teste é mais barata e rápida do que construir um novo teste; Quando o instrumento é transcultural, a adaptação é mais eficaz do que a produção de um instrumento equivalente em uma segunda língua; Pode haver falta de conhecimento para o desenvolvimento de um novo instrumento; Quando o teste original é conhecido, há uma segurança maior para utilizá-lo em uma segunda língua. Na tentativa de evitar instrumentos inadequados, modelos de tradução e adaptação cultural têm sido propostos pelas Diretrizes Internacionais de Testes. Dentre os vários modelos, destaca-se o Universal. No modelo universal, em geral, utiliza-se um instrumento com enfoque transcultural. Essa universalização permite equacionar as dificuldades referentes à padronização, equivalência e tradução, considerando as diferenças sociais, econômicas e religiosas dos diferentes países e minimizando a diferença entre as diversas versões adaptadas (Fleck, 2000). 29 Outras importantes contribuições para melhorar a prática do processo de adaptação de testes para outra cultura estão relacionadas ao desenvolvimento de instrumentos a partir de parâmetros como as diretrizes propostas pela International Test Commission (ITC). Foram elaboradas vinte e duas diretrizes divididas em quatro domínios: contexto, descrição dos princípios básicos de estudos em vários idiomas; desenvolvimento, recomendações da prática do desenvolvimento de instrumentos em várias línguas; aplicação, publicação dos procedimentos do instrumento; manual com a interpretação e normatização, relato da interpretação e comparação dos resultados em diversas culturas. Hambleton e Patsula (1999) descrevem etapas nas quais o processo de tradução e adaptação deve ser baseado: 1) Equivalência do construto: é necessário assegurar a equivalência do constructo nas versões original e traduzida, verificando se o mesmo fenômeno pode ser medido nas duas culturas. 2) Criar ou traduzir o instrumento: decidir se é melhor traduzir ou criar um novo instrumento devido a semelhanças ou diferenças nos idiomas em questão. 3) Escolha do tradutor (individual ou comitê): o tradutor deve ter fluência nas duas línguas, familiaridade com as duas culturas envolvidas no estudo, ter conhecimento na construção de teste e saber como mensurá-lo adequadamente. Sendo que a formação de um comitê permite melhores resultados. 4) Tradução e adaptação do teste: deve se utilizar como referência a versão original do teste e não a versão já adaptada para outra língua. Esta etapa envolve a tradução para outro idioma e retrotradução para versão original. 5) Revisão da adaptação: revisão necessária para a equivalência do teste. É necessário verificar a clareza dos itens e também o nível de dificuldade das palavras utilizadas na tradução. As etapas descritas acima são relevantes, pois mesmo em se tratando de instrumentos ditos “transculturais”, como a Leiter-R (Anastasi e Urbina, 2000), é inviável pensar em provas totalmente livres de cultura, levando-se em consideração que o peso das variáveis culturais pode ser diminuído, mas não anulado (Almeida e cols, 2008a) 6) Teste Piloto: realizado com uma amostra menor para verificar a consistência do instrumento. 30 7) Análise estatística: nesta etapa é feita análise dos resultados e dos itens do teste, em que podem ser verificadas possíveis falhas. 8) Comparação com outros grupos: necessária quando o foco da pesquisa for a comparação transcultural ou a normatização na nova versão. 9) Revisão das etapas 7 e 8: No caso do instrumento apresentar falhas, será necessário re-traduzir, re-analisar e re-escrever o teste. 10 e 11) Padronização / normatização e manual: referente à aplicação do teste, validação, normatização, documentação descrevendo o processo de cada etapa e a preparação do manual para os usuários do teste. Além de uma tradução e adaptação consistente e adequada, os testes psicológicos devem ter seus aspectos psicométricos verificados para garantir sua qualidade. De acordo Urbina (2007), as principais características que definem a adequação de um instrumento psicométrico, são a fidedignidade e a validade. A fidedignidade ou precisão do instrumento indica a confiabilidade dos resultados do processo de mensuração, ou seja, é a qualidade dos escores de teste que sugere que eles são suficientemente consistentes e livres de erros de mensuração para serem úteis. Sendo assim, um instrumento pode ser considerado fidedigno à medida que ele mantém estabilidade e consistência da medida de um construto que em teoria deve ser estável e consistente, independente das condições externas. Portanto, vale ressaltar que a qualidade da fidedignidade não pertence aos testes em si, mas aos escores deles obtidos (Urbina, 2007; Gauer, Gomes e Haase, 2010). Os métodos para investigar a fidedignidade dos escores oferecem um meio para estimar escores verdadeiros, ou pelo menos os limites dentro dos quais estes poderiam se localizar. O conceito de escore verdadeiro se refere às entidades hipotéticas que resultariam de mensurações completamente livres de erros (Gulliksen, 1950 apud Urbina, 2007). Na prática é impossível obter tal escore e por isso obtém-se o escore observado, ou seja, escores que os indivíduos efetivamente obtêm. Ao analisar um conjunto de escores observados numa amostra, é possível verificar sua variância. A variância consiste em uma porção de variância verdadeira e uma porção de variância de erro. A primeira se refere as diferenças entre os escores dos indivíduos de um grupo que refletem sua posição na característica avaliada pelo teste. A segunda é composta pelas diferenças entre os escores que refletem fatores irrelevantes ao que o teste 31 avalia. Sendo assim, a fidedignidade dos escores aumenta à medida que o componente de erro diminui. A informação sobre o erro de medida é indispensável para a própria avaliação e para o uso do instrumento (Noronha, Freitas e Ottati, 2002) e por isso a avaliação da fidedignidade de um escore envolve determinar quais as possíveis fontes de erro que podem interferir no escore e estimar a magnitude destes erros. De acordo com Urbina (2007) existem diversas e variadas fontes de erros que cada tipo de teste está propenso. As principais são: diferenças entre avaliadores, erros de amostragem de tempo, erro de amostragem de conteúdo, inconsistência entre itens, inconsistência entre itens e heterogeneidade de conteúdo combinados e por fim, erros de amostragem de tempo e conteúdo combinados. Sendo que para cada tipo de erro, existem medidas apropriadas para estimá-los. Alguns autores descrevem formas de se obter o coeficiente de fidedignidade, tais como: fidedignidade do avaliador, de teste-reteste, de forma alternativa, método das metades, medidas de consistência interna, entre outras. A fidedignidade do avaliador, ou fidedignidade interjuízes, consiste em fazer com que pelo menos dois indivíduos diferentes avaliem o mesmo conjunto de testes, em que o desempenho de cada testando gere dois ou mais escores independentes, sendo um método básico para estimar erros devido a diferenças entre avaliadores. As correlações entre os conjuntos de escores gerados devem ser altas e positivas, ou seja, maior ou igual a 0,90 sugerindo que a proporção do erro deve ser menor ou igual a 0,10. Este tipo de análise se aplica a testes abertos, que envolvem algum grau de subjetividade, em que as respostas não são classificadas com certas ou erradas (Urbina, 2007; Gauer, Gomes e Haase, 2010). A fidedignidade teste-reteste é utilizada em testes de traços ou comportamento relativamente estáveis, cuja fonte de erro está relacionada à amostragem de tempo. Trata-se de uma medida de estabilidade em que o mesmo instrumento é aplicado na mesma amostra de sujeitos em duas ou mais ocasiões, separadas por um certo intervalo de tempo. A correlação entre os escores reflete o quanto o instrumento mantém a consistência de sua medida ao longo do tempo e o quanto os itens são representativos independentemente de fatores externos. No entanto vale ressaltar que o intervalo de tempo entre as duas administrações pode afetar a estabilidade dos escores, pois se for muito curto, os testandos podem lembrar-se das respostas que deram anteriormente e haverá o componente de memória interferindo nos escores. Se for um intervalo demasiadamente extenso, existe a 32 possibilidade de que experiências intervenientes venham afetar os segundos escores, bem como a própria maturação cerebral em caso de crianças em idade escolar. Já a fidedignidade de forma alternativa ou paralela se faz pertinente quando a fonte de erro está relacionada à amostragem de conteúdo em testes que requerem estabilidade e consistência dos resultados como um todo. Para isso, desenvolvem-se duas ou mais formas diferentes de um teste, de itens equivalentes em conteúdo e dificuldade e posteriormente avalia-se a correlação entre os escores obtidos nas duas versões pela mesma amostra. Trata-se de uma forma mais sensível de obter o coeficiente de estabilidade em relação ao teste-reteste porque defende o procedimento contra possíveis efeitos de aprendizagem advindos da aplicação dos mesmos itens. O desenvolvimento de formas paralelas de um instrumento ou seu reteste podem envolver problemas teóricos e práticos. Desta forma, uma solução é administrar um teste em uma amostra e criar dois escores para cada indivíduo. Esta seria a fidedignidade pelo método das metades ou split-half. O método das metades consiste em dividir um teste em duas partes e correlacionar os resultados obtidos nas duas metades. Trata-se de uma forma simples e rápida de verificar a homogeneidade dos itens que compõe um instrumento. Vale ressaltar que este método fornece um índice de heterogeneidade, mas não permite descobrir quais itens são responsáveis por ela. Para que isto ocorra, é necessária uma análise do conteúdo do instrumento para localizar tais itens (Urbina, 2007). Quando se trata de instrumentos que avaliam diversas características para inferir uma terceira, este procedimento deve ser realizado com cada uma das características separadamente (Campos, 2008). No entanto, os escores dos testes podem ser fidedignos e ainda assim não terem utilidade para se fazer inferências. Por isso, além dos escores serem precisos (consistentes e confiáveis), é necessário que sejam válidos. (Pasquali, 1998, Colzby, 2003; Urbina, 2007; Gauer, Gomes e Haase, 2010). O segundo conceito relevante ao falarmos de parâmetros psicométricos é a validade. De acordo com a definição clássica, a validade se refere àquilo que o teste mede e quão bem ele o faz (Anastasi e Urbina, 2000). Entretanto, a definição dada pelos Standards for Educational and Psychological Testing mostra-se mais adequada e por isso mais utilizada atualmente. De acordo com a definição apresentada pelos Standards, a validade se refere ao grau no qual as evidências e teoria apóiam as interpretações dos 33 escores implicadas no uso de testes (Aera; Apa; Ncme, 1999). O conceito atual de validade foi fortemente influenciado por Samuel Messick. Segundo este autor: “A validade é um julgamento avaliativo integrado do grau em que as evidências empíricas e a fundamentação teórica corroboram a adequação e a propriedade de inferências e ações baseadas em escores de teste ou outros modos de avaliação (Messick, 1989, p.13)” A essência do julgamento a respeito da validade dos escores de teste está centrada no relacionamento entre aquilo que os escores representam e as perguntas que os usuários de testes querem responder com o seu uso. Portanto, a validade se estabelece pela adequação do conteúdo semântico dos itens ao construto teórico que o teste quer medir (Urbina, 2007; Gauer, Gomes e Haase, 2010). Sendo assim, Anastasi e Urbina (2000) ressaltam que não se pode afirmar que um teste possui alta ou baixa validade, pois esta precisa ser estabelecida com referência ao uso específico para o qual o teste está sendo considerado. O processo de validação é semelhante à testagem de hipóteses, incluindo noções como a de fidedignidade dos escores e os modos como as aplicações dos dados de teste na pesquisa e na prática psicológica podem ser justificados (Urbina, 2007). E todos os procedimentos para determinar a validade de um teste preocupam-se com as relações entre o desempenho no teste e outros fatos que podem ser independentemente observados que estão relacionados ao comportamento em consideração. De acordo com Urbina (2007), existem fontes de evidências de validade que estão relacionadas a três aspectos: ao conteúdo, a padrões de convergência e divergência e ao critério. Segundo Campos (2008), os tipos de validade não são mutuamente excludentes e podem estar presentes em um mesmo instrumento. Na validade relacionada ao conteúdo, estão incluídas a relevância e representatividade do conteúdo do teste e dos processos de resposta às tarefas e a validade de face (Urbina, 2007). Os procedimentos de validação do conteúdo envolvem o exame sistemático do conteúdo do teste para determinar se ele abrange uma amostra representativa do domínio de comportamento a ser medido. E o domínio do comportamento a ser testado deve ser analisado para assegurar que todos os aspectos mais importantes estão incluídos nos itens do teste e nas proporções corretas (Anastasi e Urbina, 2000). 34 A segunda fonte está relacionada a padrões de convergência e divergência. Estes compreendem a consistência interna de resultados de teste e outras medidas de fidedignidade, correlação entre testes e subtestes, matriz multitraço-multimétodo, diferenciação de escores de acordo com diferenças esperadas com base na idade e outras variáveis de status, resultados experimentais (correspondência entre escores de teste e os efeitos preditos de intervenções experimentais ou hipóteses baseadas em teorias), análise fatorial exploratória e técnicas de modelagem de equação estrutural (Urbina, 2007). Por fim, evidências de validade relacionadas ao critério se referem à precisão das decisões baseadas na validação concorrente (correlação entre escores de teste e critérios existentes) e precisão de decisões ou predições baseadas na validação preditiva (correlação entre escores de teste e critérios preditivos). Desta forma, a validade é a consideração mais fundamental relacionada à construção e análise dos testes, pois revela o quanto a evidência e o suporte teórico do teste estão absorvidos na proposta apresentada que podem corroborar qualquer inferência feita a partir dos resultados do teste (Noronha, Freitas e Ottati, 2002; Urbina 2007). Visto a relevância de estudos que contemplem a tradução, adaptação, fidedignidade e evidências de validade, pesquisas têm sido desenvolvidas no sentido de adaptação de testes para avaliação de diversas habilidades cognitivas. Podemos citar os estudos realizados e orientados por Macedo e outros pesquisadores, que têm por objetivo a a adaptação de testes para avaliação de funções cognitivas, tais como: linguagem (Capovilla, Thiers, Macedo, Duduchi, 1998; Macedo, Charin, Capovilla, 2002; Capovilla, Capovilla, Macedo, Charin, 2004a; Macedo, Capovilla, Duduchi, D'antino, Firmo, 2006; Macedo, Firmo, Duduchi, Capovilla, 2007), leitura e escrita (Capovilla, Macedo, Penna, Capovilla, 2006) atenção (Capovilla, Capovilla, Macedo, Charin, 2004b) entre outros. Além disso, outros estudos tiveram como objetivo realizar adaptações culturais de testes desenvolvidos no Brasil para outros idiomas, como a Bateria de Avaliação de Leitura e Escrita em japonês (Kuryiama, 2007) e hebraico (Dichi, 2008). Com relação aos testes de inteligência, o tema tem sido amplamente estudado a nível nacional, abarcando desde questões teóricas referentes aos modelos existentes, desenvolvimento de instrumentos e aplicações destes em populações específicas. Isto reflete uma preocupação de pesquisadores na busca pela qualidade dos testes disponibilizados no mercado e na criação de novos instrumentos. Nesta linha, podemos 35 citar alguns dos estudos realizados na última década referentes à criação, adaptação e evidências de validade e fidedignidade de instrumentos: Estudo de validação da Bateria de Provas de Raciocínio – BPR-5 (Primi e Almeida, 2000); Matrizes progressivas do Raven Infantil: um estudo de validação para o Brasil (Pasquali, Wechsler e Bensusan, 2002); Uma alternativa na avaliação da inteligência infantil: o Teste R-2 (Rinaldi, 2003); Critério de Integração do Teste de Bender: Explorando Evidências de Validade (Sisto, Santos e Noronha, 2004); Teste dos relógios e R-1: forma B: evidências de validade (Noronha, Santos e Sisto, 2005); Teste de Inteligência R-1 forma B e G36: Evidência de validade convergente (Santos, Noronha e Sisto, 2005); Bateria De Habilidades Cognitivas Woodcock-Johnson III: Validade De Construto (Wechsler e Schelini, 2006); Características psicométricas da Bateria Padrão do Universal Nonverbal Intelligence Test (UNIT): um estudo preliminar (Lopes, Moreira, Guimarães e Lopes, 2006); Novos estudos psicométricos do Teste D-70 (Alves, 2006); Estudo sobre a unidimensionalidade do teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (Sisto, Rueda e Bartholomeu, 2006); TCR e R1: duas medidas do fator g (Sisto, Ferreira e Matos, 2006); Validação do modelo de inteligência de Carroll em uma amostra brasileira (Gomes e Borges, 2007); Estudo de validade do DFH como medida de desenvolvimento cognitivo infantil (Bandeira e Arteche, 2008); Evidências de validade de instrumentos para avaliação de inteligência, personalidade e atenção (Oliveira, 2008); Estudo da Bateria de Provas de Raciocínio Infantil (Cruz, 2008); Teste de Inteligência Não-Verbal de Pierre Wiel: Parâmetros Psicométricos (Lopes, 2009); 36 No entanto, vale ressaltar a necessidade de que estudos continuem sendo realizados com o objetivo de proporcionar instrumentos de qualidade na avaliação de habilidades cognitivas. 2.3. Diferenças Individuais na inteligência em função de critérios externos Diversos estudos têm buscando verificar a existência de diferenças na inteligência entre grupos definidos por critérios externos, como sexo, idade, série escolar e aspectos socioeconômicos (Alves, 1998). De acordo com Flores- Mendoza (2000), a busca por diferenças no desempenho intelectual em relação ao sexo tem sido uma prática habitual desde o início da psicometria e, desde então, os achados têm sido alvo de discussões em diversas esferas sociais. A partir da década de 80, a magnitude das diferenças cognitivas entre os sexos passaram a ser calculadas a partir da seguinte fórmula: d=(M1-M2)/s. Onde, M1 representa a pontuação média obtida pelo grupo masculino; M2 representa a pontuação média do grupo feminino; e o valor de s é o desvio padrão da média obtida pelos dois grupos reunidos. As interpretações para o índice d são apresentadas na tabela 4: Tabela 4: Valores de índice d e interpretações para diferença de gênero. Valor do índice d Interpretação d positivo (+) Superioridade do grupo M1 d negativo (-) Superioridade do grupo M2 d ≤ 0,20 Diferença pequena d ao redor de 0,50 Diferença mediana d ≥ 0,80 Diferença altamente significativa Uma revisão de literatura realizada Flores- Mendoza (2000), acerca das diferenças de gênero nas habilidades intelectuais, mostrou que os resultados dos estudos que compararam meninos e meninas em testes de inteligência não apontaram diferenças significativas entre os grupos para inteligência geral. Entretanto, quando analisada habilidades cognitivas específicas, algumas diferenças foram encontradas como maiores pontuações femininas para habilidades de velocidade perceptual, memória de curto prazo, vocabulário e fluência verbal. Já as habilidades visuo-espaciais e numéricas apresentaram pontuações maiores para o sexo masculino. 37 Quando se trata de inteligência geral (fator g), não são observadas diferenças significativas, pois durante a construção de instrumentos que avaliam inteligência, são eliminados itens que são sensíveis a estas diferenças (Lynn, 1996). Para Flores-Mendoza (2000), as diferenças desaparecem quando se trata de fator g por este ser considerado um atributo psicológico relacionado à capacidade do indivíduo de resolver problemas, independente da natureza específica da informação. No entanto, estudo recente que comparou o desempenho de homens e mulheres universitários por meio das Matrizes Progressivas de Raven, revelou maiores escores no grupo masculino com diferença estatisticamente significativa (Ali, Suliman e Iqbal, 2009). Em relação à idade, uma quantidade significativa de estudos utiliza os grupos etários como fonte de evidência de validade do instrumento, pois é verificado que há uma tendência ascendente nos escores dos testes em função da idade. Os aumentos em escores consistentes com expectativas relacionadas à idade fornecem evidências de que é necessário mostrar que o teste está medindo os construtos de habilidade que foi delineado para medir (Urbina, 2007). Weschler e Schelini (2006) verificaram fontes de evidências de validade da Bateria de Habilidades Cognitivas Woodcock-Johnson III. Em análises por mudanças desenvolvimentais, os resultados mostraram um aumento significativo no desempenho em todos os tipos de habilidades cognitivas investigadas pela WJ-III em crianças e adolescentes de 7 a 18 anos de idade. Desta forma, conferiu-se evidências de validade de construto por tendências desenvolvimentais para este instrumento. Da mesma forma, nas Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e no Toni 3 – Forma A, também são observadas diferenças significativas, com aumento dos escores em função da idade (Angelini e cols, 1999; Sisto, Noronha e Santos, 2006). Neste sentido, Almeida e colaboradores (2008) afirmam que embora as pesquisas apontem que o desenvolvimento cognitivo está associado à idade e escolaridade, ainda não se sabe exatamente qual a influência de cada uma dessas variáveis. A escolaridade é uma variável que está associada à estimulação escolar formal e sua relação com inteligência é tida como estimação da influência de fatores ambientais. Por isso, estudos têm mostrado o impacto da escolarização nos desempenhos de testes que avaliam tanto a inteligência fluida como a cristalizada. 38 Tais variáveis influenciam o desenvolvimento de normas dos testes. As normas são o referencial mais amplamente usado para a interpretação de escores de teste (Urbina, 2007). Almeida e colaboradores (2008) apontam para implicações práticas na normatização de testes de inteligência para crianças e adolescentes quando se trata se referencia à idade ou a série escolar. Estes autores justificam as normas por escolaridade na adolescência, pois neste momento a escolaridade reflete a idade acompanhada de avanço de intervenção escolar formal. Desta forma a escolaridade estaria mais associada ao desenvolvimento cognitivo, pois esse crescimento acompanhado de influências acumuladas do ambiente se tornam relevantes ao passar do tempo. Outro aspecto comumente associado à inteligência é a sua capacidade de prever desempenhos em atividades, como é o caso do desempenho acadêmico ou profissional. Diversos estudos correlacionam escores obtidos nos testes de inteligência com notas de avaliações das disciplinas escolares ou desempenho em testes de leitura e matemática. Os resultados têm demonstrado, com bastante regularidade, a existência de uma forte relação entre a inteligência e a exposição à educação formal (Sisto, Ferreira e Matos, 2006). Neste sentido, Mol e Wechsler (2008) avaliaram 60 crianças de 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental, das quais, 30 apresentavam dificuldades de aprendizagem e 30 sem indicativos de dificuldade. Foram correlacionados os escores obtidos nos subtestes da Bateria Woodcock Johnson III (WJIII) com o rendimento acadêmico. Os resultados apontaram para maiores médias nos subtestes da WJIII para o grupo sem dificuldade escolar e ao correlacionar este desempenho com as notas em português, matemática e ciências, observaram-se correlações positivas e significativas no grupo sem dificuldades de aprendizagem. Isto pode ser observado entre as nota em Português e desempenho em tarefas de inteligência cristalizada, raciocínio fluido, memória de trabalho e recuperação de longo prazo. Bradley e colaboradores (2001) ressaltam que a inteligência é influenciada tanto por aspectos hereditários quanto pelo ambiente. Estes autores avaliaram quase 30.000 crianças americanas desde recém-nascidos até os 13 anos de idade entre 1986 a 1994 utilizando o Home Observation for Measurement of the Environment (HOME). Este inventário tem por objetivo medir no ambiente natural a qualidade e quantidade de estímulo e apoio disponíveis para a criança no ambiente familiar através de uma avaliação sistematizada. Entre os aspectos avaliados, estão: interações comunicativas (verbais e nãoverbais) e afetivas entre cuidador e criança, como os adultos disciplinam a criança, como o 39 tempo da criança é organizado, presença de brinquedos apropriados para a idade, como o adulto interage fisicamente com a criança, rotina social da criança com outras pessoas além da mãe, materiais que estimulem o aprendizado, ambiente físico da casa, uso de limites e atividades da criança dentro e fora de casa. Os resultados deste estudo mostraram correlações positivas entre responsividade dos pais, QI, escores em testes de desempenho e comportamento dos filhos e os autores concluem que um ambiente doméstico enriquecido se relacionada com a um aumento na inteligência dos filhos (Bradley e colaboradores, 2001a; Bradley e colaboradores, 2001b; Totsika e Sylva, 2004). A relação entre inteligência e aspectos socioeconômicos tem sido objeto de intenso debate entre pesquisadores . Embora não haja consenso claro na magnitude destes efeitos, parece que a inteligência tem uma influência positiva nos aspectos socioeconômicos e educacionais (Vista e Grantham, 2010). Sendo que os anos de escolarização têm sido alvo de grande parte estudos, pois promove o desenvolvimento de aspectos cognitivos que sustentam o desempenho nos testes de inteligência. Nos países ocidentais, a escolaridade influencia a inteligência através de práticas que parecem alheias a variação encontrada na qualidade das escolas (Ceci, 1991). Além da própria escolarização, o nível de educação parental tem uma influência persistente na vida acadêmica da criança (Vista e Grantham, 2010). Entretanto, estudos mostram que o nível educacional materno tem mais influencia em relação ao paterno (Chevalier, 2005). O estudo de Carneiro, Merghi e Parey (2007) investigou a influencia do nível educacional das mães no desempenho acadêmico dos filhos e constatou que a diferença de um ano a mais de escolaridade materna se correlaciona com uma diferença de 5 pontos percentuais nos resultados de testes dos filhos, indicando a influencia do ambiente na cognição. Por fim, Vista e Grantham (2010) que investigaram a influencia do nível educacional dos pais na inteligência fluida dos filhos, encontrou um aumento de cerca de 3 pontos no QI dos filhos de acordo com os níveis de escolaridade dos pais em relação a Ensino Médio, Graduação e Pós-gradução. Sendo assim, aspectos como idade, sexo, escolaridade dos indivíduos e de seus pais devem ser utilizados na avaliação de inteligência, considerando as normas apropriadas para a população em que o teste será empregado (Alves, 1998). 40 2.4. Avaliação da Inteligência na Infância No Brasil, a partir da década de 1990, o interesse na mensuração dos fenômenos psicológicos se dá pela necessidade de aperfeiçoar os instrumentos psicológicos, sem os quais a prática profissional e as investigações pouco avançariam (Flores-Mendoza, 2006). Neste sentido, a resolução 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos no Brasil. Nesta resolução estão previstas questões referentes ao aprimoramento dos instrumentos e procedimentos técnicos de avaliação psicológica, com o objetivo de garantir a qualidade dos mesmos (CFP, 2003) Com relação à comercialização de instrumentos, o CFP dispõe de um serviço denominado de Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) em que informações a respeito dos testes psicológicos estão disponíveis on line tais como a lista de testes, os anos de publicação e os pareceres da comissão avaliadora. Dos 102 testes aprovados para serem utilizados, mais de 30 são utilizados para avaliação de inteligência e/ou perfil cognitivo (CFP, 2010). Entretanto, de acordo com Wechsler e Schelini (2006) apenas 6 são destinados a avaliação de inteligência em crianças: Raven - Escala Especial (Angelini e cols., 1999), Raven- Escala Geral (Raven, 2000), Escala de Maturidade Mental Colúmbia (Alves e Duarte, 2001), Desenho da Figura Humana (Sisto, 2005), WISC-III (Figueiredo, 2002) e R-2 (Oliveira, 2000). Além dos testes já citados, na última atualização do SATEPSI (CFP, 2010) estão incluídos o Teste Equicultural de Inteligência (Cattell e Cattell, 2002), o Teste Não-Verbal de Raciocínio para Crianças (Pasquali, 2005) e Toni 3 – forma A (Sisto, Noronha e Santos, 2006). No que tange aos testes de avaliação de inteligência infantil, algumas questões devem ser consideradas. Primeiramente, é importante salientar que os testes de inteligência avaliam crianças a partir de 5 anos de idade, e não há instrumentos para população mais nova, com exceção da Escala de Maturidade Mental Colúmbia . Trata-se de uma lacuna no que diz respeito à avaliação psicológica, pois esta possui papel fundamental na detecção de déficits cognitivos. Estudos têm mostrado a importância do diagnóstico precoce de prejuízos cognitivos, pois a sua identificação pode contribuir para intervenções mais eficazes e conseqüentemente, melhores prognósticos (Grillo e Silva, 2004). Sendo assim, a avaliação de pré-escolares tem mostrado fundamental. 41 Os pré-escolares de 2 a 6 anos de idade constituem uma faixa populacional de grande importância, devido ao processo de maturação biológica em que se encontram e pelo seu desenvolvimento sócio-psicomotor (Gandra, 1981). Mas além de buscar o perfil cognitivo, identificando as habilidades que estão comprometidas e preservadas, a avaliação de pré-escolares exige a constante avaliação do impacto que as relações familiares e escolares desempenham no funcionamento cognitivo da criança (Ferreira e cols., 2010). Durante a pré-escola, familiares e educadores passam a observar de forma mais consistente os comportamentos da criança e como está se desenvolvendo o seu aprendizado. E dificuldades em identificar transtornos do desenvolvimento desencadeiam um ciclo complexo e prejudicial para o desenvolvimento da criança que apresenta tais déficits. Desta forma, se faz primordial a avaliação de crianças em fase pré-escolar, pois quanto mais precoce o diagnósticos de déficits cognitivos, mais rapidamente pode ser iniciada uma intervenção, aumentando a probabilidade de eficácia e de promover uma plasticidade neuronal mais significativa (Ferreira e cols, 2010). A fase pré-escolar é um período relevante para o desenvolvimento humano, pois fornece os alicerces para outros acontecimentos importantes que ocorrerão nos anos seguintes (Fernandes e Gandra, 1981). Habilidades cognitivas e psicossociais fundamentais são desenvolvidas, tais como: a motricidade, percepção, habilidade vísuo-especial, autoregulação e auto-monitoramento, habilidades lingüísticas e matemáticas, formação de conceitos e categorias, construção e generalização de estratégias (Papalia, Olds e Feldman, 2009; Ferreira e cols, 2010). E algumas habilidades, como matemática, memória de trabalho e velocidade de processamento são influenciadas pelo nível intelectual, mais especificamente pela inteligência fluida (Kittala, Aunio e Hautamaki, 2010). A avaliação cognitiva de pré-escolares, segundo Ferreira e colaboradores (2010) se trata de um desafio para o examinador, devido a suas especificidades. Segundo estes autores, é necessário considerar algumas peculiaridades, como por exemplo, o padrão de desenvolvimento e as diferenças em relação a avaliação de crianças na faixa etária dos 6 anos em diante e dos adultos. Testar crianças em seus primeiros anos de vida é comparar seu desenvolvimento ao de crianças na mesma faixa etária (Papalia, Olds e Feldman, 2009). Entretanto, devido à escassez de instrumentos disponíveis para a avaliação de préescolares no Brasil, esta tarefa é um desafio ao psicólogo. 42 Uma das possibilidades de avaliação que tem sido frequentemente utilizada é a caracterização do perfil neuropsicomotor de bebês. Testes que avaliam tais aspectos, como o Denver Developmental Screening Test-II (Frankenbrug e cols., 1992) e a Bayley Scales of Infant Development (Bayley, 1993). As Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil foram criadas para avaliar crianças de um mês a três anos e meio. Seu objetivo é indicar pontos fortes e fracos e as competências de uma criança em cinco domínios do desenvolvimento: cognitivo, linguagem, habilidade motora, social-emocional e comportamento adaptativo (Bayley, 2005). Embora amplamente utilizados em pesquisas nacionais com crianças em situação de risco e em programas de acompanhamento (Halpern e cols., 1996; Fisber, e cols., 1997; Eickmann, Lira e Lima, 2002; Andrade e cols., 2005; Schimer, Portuguez e Nunes, 2006; Rocha e cols., 2009), não existem dados normativos nem estudos que buscam por evidências de fidedignidade e validade para a população brasileira das Escalas Bayley e do Denver (Ferreira e cols., 2010). Além da falta de estudos de adaptação e parâmetros psicométricos dos instrumentos citados, Fagan (2006) aponta que medidas sensório-motoras como as fornecidas pelas escalas Bayley possui baixa sensibilidade e especificidade, o que indica pouco poder de predição em relação à identificação de crianças com retardo ou que estão dentro da faixa de normalidade. Um estudo realizado pelo autor e colaboradores (1986) mostrou que quando aplicada a crianças de 8 meses que foram posteriormente avaliadas aos 3 anos de idade, a sensibilidade da Bayley ao retardo foi de 45% e a especificidade para a normalidade foi de 38%. Um dos fatores mais importantes para este baixo fator preditivo de inteligência é a divergência entre os construtos mensurados por estas escalas de desenvolvimento e na inteligência como ela é entendida na abordagem psicométrica, na qual muitos dos testes são desenvolvidos. Um dos instrumentos muito utilizado em pesquisas internacionais para avaliação de inteligência global é a Wechsler Preschool and Primary Scale of Inteligence – WPPSI (Wechsler, 1989). Sua última versão é indicada para crianças entre 2 anos e 6 meses a 7 anos e 3 meses (Wechsler, 2004) e assim como as outras versões das escalas Wechsler para crianças e adultos, a WPPSI um índice de capacidade cognitiva global, QI geral, bem como o QI verbal e de execução. Estudos no Brasil também já foram realizados com este instrumento e assim como aqueles citados anteriormente, não existem dados adaptados para a população brasileira (Méio e cols., 2001; Santo, Portuguez e Nunes, 2009). 43 O estudo de Méio e colaboradores (2001) investigou o desenvolvimento cognitivo de 12 crianças em idade pré-escolar, nascidas prematuras e com baixo peso. O objetivo foi investigar a confiabilidade do instrumento através da fidedignidade entre juízes, avaliando a concordância na aplicação do teste e na pontuação dos itens entre quatro psicólogas previamente treinadas. Os resultados apontaram para coeficientes de 0,99 (escore total), 0,98 (escore verbal) e 0,99 (escore de execução), indicando boa confiabilidade. No entanto, deve ser levado em consideração o número reduzido de crianças avaliadas. Sendo assim, Ferreira e cols (2010) salientam a importância da realização de estudos sobre propriedades psicométricas de instrumentos desenvolvidos e adaptados para o nosso meio, viabilizando a prática da avaliação em pré-escolares. Além disso, outro aspecto a ser considerado na prática da avaliação cognitiva é a testagem de indivíduos com Distúrbios do Desenvolvimento. A importância da avaliação de inteligência nos distúrbios do desenvolvimento é o fato comum que muitos transtornos e alterações genéticas afetam o sistema nervoso central e por isso, cursam com altas taxas de associação com deficiência intelectual. Dentre eles podemos citar a Síndrome de Down, Síndrome de Williams, X-Frágil e cerca de 75% dos quadros de transtornos do espectro autista. De acordo com o DSM-IV, entende-se por Deficiência Mental um funcionamento intelectual significativamente inferior à média (QI<70), acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais / interpessoais, uso de recursos comunitários, autosuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. E início antes dos 18 anos (APA, 2002). Sendo assim, é necessária a disponibilização de instrumentos para avaliação destas condições. Na maioria das vezes os testes disponíveis são difíceis de serem aplicados em populações específicas, como nos transtornos do espectro autista, deficiências sensoriais e motoras, distúrbios de linguagem, etc. Os testes tradicionais que avaliam inteligência exigem habilidades e formas de responder que determinados grupos não desenvolveram de forma adequada e conseqüentemente não são indicados para avaliação, pois sua aplicação se torna inviável ou muito limitada. De acordo com os Padrões de Testagem (Apa, Aera e Ncme, 1999), com o avanço do conhecimento científico, práticas médicas e políticas sociais, têm aumentado o número 44 de indivíduos com deficiência em atividades educacionais, de lazer e sociais. Este aumento na participação tem resultado em uma maior necessidade de testagem e avaliação desta população com diferentes propostas. Por exemplo, a testagem pode ser utilizada com finalidade diagnóstica, para determinar a natureza e existência da deficiência. A testagem também pode ser conduzida com propostas prescritivas, ou seja, planejar uma intervenção e tomar decisões acerca do indivíduo com deficiência. Neste sentido, são feitas considerações acerca de estratégias que podem ser utilizadas ao avaliar indivíduos com deficiência. Como exemplo, é possível modificar o formato de apresentação do teste e da resposta a ser emitida. O tempo pode ser flexibilizado e o lugar de testagem pode sofrer acomodações (para indivíduos com deficiência física, visual, TDAH, entre outras condições). Também pode-se aplicar apenas partes de instrumentos e utilizar formas alternativas de avaliação (Apa, Aera, Ncme, 1999) No Brasil, já existem estudos que objetivam avaliar aspectos cognitivos de indivíduos com distúrbios do desenvolvimento. Como por exemplo, podemos citar Alagao (1984) que realizou um estudo referente ao uso da escala de execução do WISC-III em indivíduos de 7 a 14 anos com deficiência auditiva, caracterizados com hipoacusia bilateral severa ou profunda, inseridas no Sistema Regular de Ensino ou em escolas especiais. Os resultados obtidos mostram que a deficiência auditiva não implica no desenvolvimento da inteligência e deficientes auditivos integrados no Sistema Regular de Ensino obtiveram melhores resultados que os de classe especial. Além disso, indivíduos com hipoacusia severa apresentaram melhor desempenho em relação aos indivíduos com hipoacusia profunda. Barbosa (2007) teve por objetivo buscar evidências de validade do Teste de Inteligência Não-Verbal - TONI-3 nas versões tradicional (lápis e papel) e computadorizada para escolares surdos com idade média de 14 anos. O Toni 3 avalia a inteligência geral e o conteúdo do teste é independente da linguagem, com figuras abstratas que não requerem leitura, escrita, linguagem ou audição. Os resultados mostraram evidências de validade de construto onde foram observadas tendências desenvolvimentais quando a pontuação no teste foi comparada com outras variáveis como idade e escolaridade, com evidências de boa consistência dos itens quando comparados às normas brasileiras para ouvintes, e correlações positivas entre as duas versões do teste. Os dados encontrados mostraram a viabilidade da aplicação do TONI-3 como possibilidade de 45 avaliação do raciocínio não-verbal, mais precisamente a inteligência fluida de crianças surdas. O Toni3- forma A, também foi utilizado no estudo de Pacanaro, Santos e Suehiro (2009), que teve por objetivo buscar evidências de validade deste instrumento na avaliação de indivíduos com Síndrome de Down (SD). As autoras destacam que o uso da linguagem oral tem se mostrado uma experiência comum na avaliação de inteligência, sendo considerada uma habilidade indispensável na manifestação da própria inteligência. Entretanto, muitos comportamentos não dependem do uso da linguagem, mas de aspectos cognitivos como o raciocínio abstrato, numérico e várias formas de resolução de problemas. Ressaltam ainda que a linguagem possa ser considerada um impeditivo na avaliação do potencial cognitivo de alguns indivíduos como no caso da SD. Desta forma, avaliaram 51 indivíduos, de ambos os sexos, com idade entre 6 e 24 anos (M=15,3 e DP=4,9). Os resultados indicam que cerca de 72% da amostra obteve 2 a 10 pontos no teste, sendo que 19 pontos corresponde ao percentil 50 de crianças com 10 anos de idade. Estes achados corroboraram dados da literatura que apontam para um funcionamento deficiente dos aspectos cognitivos na SD. Em relação à dificuldade em avaliar o funcionamento cognitivo global, o estudo de Duarte (2009) objetivou a caracterização do perfil cognitivo de 67 indivíduos com Síndrome de Down (SD) avaliados com as escalas Wechsler de Inteligência para crianças e adultos (Figueiredo, 2002; Nascimento, 2005). Entretanto, a autora relata que 46,2% da amostra foi excluída do estudo e um dos fatores responsáveis foi a falta de compreensão verbal das tarefas ou dificuldade em utilizar expressão verbal como meio de comunicação, correspondendo a 29% da perda amostral. Tais limitações podem ser atribuídas às características do instrumento utilizado que se mostrou pouco adequado devido à população alvo do estudo. Desta forma a autora discute seus resultados referindo-se a especificidade do grupo avaliado, pois o perfil encontrado se aplica apenas a uma parcela de indivíduos diagnosticados com SD. Nascimento e Flores-Mendoza (2007), investigaram a inteligência através das escalas verbais do WISC-III e WAIS em indivíduos com deficiência visual. Algumas adaptações foram realizadas como entrevistas com professores com e sem deficiência visual para verificar a se a população em questão conseguiria responder aos itens, independentemente da falta de visão. No caso da prova de aritmética do WISC-III foi necessário adaptar os cinco primeiros itens. Para eles, foram utilizados nove cubos de 46 madeira de 3 x 2cm e três bonecos de plástico de 7cm. As palavras do subteste vocabulário do WAIS-III foram transcritas para o braile, compondo um novo caderno de estímulos. Os resultados apontam que os altos coeficientes de Alfa de Cronbach em todos os subtestes mostraram que as escalas verbais do WISC-III e do WAIS-III, apesar das modificações em alguns itens, mantiveram adequada consistência interna, uma vez que a maioria dos coeficientes foi acima de 0,80. Os itens adaptados parecem não ter afetado as estruturas fatoriais das escalas, o que permitirá aos profissionais que lidam com deficientes visuais utilizá-las para fins de avaliação da inteligência. É comum na literatura internacional a utilização da escala verbal para indivíduos com deficiência visual e a escala de execução para aqueles com deficiência auditiva. Segundo Nelson, Dial e Joyce (2002) é necessário ir além da utilização das escalas Wechsler e criar instrumentos que avaliam processos cristalizados e fluidos tanto em provas verbais e não-verbais e que possam atender as especificidades de determinadas populações, como no caso das deficiências sensoriais. Neste sentido, nos Standards for Educational and Psychological Testing (Aera, Apa e Ncme, 1999) é salientado que as pessoas com deficiência sensorial constituem grupos que exigem padrões especializados de prática para a avaliação. Hill-Briggs e colaboradores (2007) ressaltam que poucos estudos têm sido realizados no sentido de validar as adaptações e modificações realizadas nos instrumentos de avaliação que diferem da aplicação padronizada. Sampaio (2004) realizou uma avaliação das funções cognitivas em dez pacientes de 6 a 15 anos com Distrofia Muscular de Duchenne pelo WISC-III. Os resultados indicaram QI verbal (QIV) muito diversificado entre os sujeitos, variando entre 53 e 97, sendo o QI verbal médio = 77.4. A mesma variação foi observada no QI de execução (QIE), com resultados variando entre 57 e 88, com QI de execução médio = 71.2. O QI total médio foi de 71.4. Esses resultados localizam-se na faixa limítrofe, dentro das variações normais da inteligência. Houve maior rebaixamento no fator Resistência à Distração, seguido do fator Velocidade de Processamento. Na Escala Verbal, os subtestes que implicavam em utilização da memória foram os mais comprometidos. Na Escala de Execução, o maior prejuízo observado foi devido à dificuldade em códigos e símbolos, sob pressão de tempo. Não foi observada nas crianças com resultados mais baixos, diferença significativa entre o QIV e o QIE. No entanto, vale ressaltar que o WISC-III é capaz de identificar se o indivíduo está funcionando como uma criança de seis anos ou mais, não sendo possível avaliar o quanto ele está abaixo dessa idade mental. 47 Figueiredo e colaboradores (2007) realizaram um estudo que objetivou avaliar crianças de 6 a 16 que apresentavam queixas de dificuldades de aprendizagem através do WISC-III. Os dados da pesquisa apontaram um índice de 30,4% da amostra de sujeitos com deficiência intelectual pelos escores do instrumento, sugerindo que as dificuldades apresentadas na aprendizagem estavam relacionadas ao déficit cognitivo. Além disso, houve evidências de prejuízo na habilidade vísuo-espacial e um déficit de atenção, concentração e processamento seqüencial medido através do fator: Resistência a Distraibilidade. Já nos estudos com o espectro do autismo, a presença de um distúrbio sem um marcador biológico que possa caracterizá-lo, faz com que o diagnóstico seja basicamente clínico (Baird e cols., 2003). Desta forma, uma avaliação de aspectos cognitivos é necessária para que se possa compreender como se dão as relações entre anormalidades estruturais e funcionais no sistema neuronal e a forma com que estes indivíduos executam tarefas (Fecteau, Lepage e Theoret, 2006; Penn, 2006). Estudos prévios realizados no Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, mostram a importância de se disponibilizar instrumentos adequados e formas alternativas que possibilitem esta avaliação (Mercadante e cols., 2006; Orsati e cols., 2008; Orsati e cols, 2009). Pinheiro, Poelman e Camargos Junior (2001) utilizaram a Escala de Maturidade Mental em crianças e adolescentes com Transtornos do Espectro Autista e de acordo com os resultados obtidos, os autores afirmam que é possível fornecer uma base para um trabalho pragmático orientado. Porém vale ressaltar que se trata de um instrumento baseado em instruções verbais e em casos mais comprometidos em que existe um déficit na compreensão da linguagem oral e presença de ecolalia, tal avaliação se torna limitada. Estudos que objetivam avaliar os aspectos cognitivos dos Transtornos do Espectro Autista têm mostrado que quando este quadro está associado a algum grau de retardo mental, testes não-verbais têm se mostrado mais úteis para a avaliação de inteligência quando comparados as escalas Wechsler ou ao Stanford-Binet (Dawson e cols., 2007; Grondhuis, 2010). Pensando na questão da dificuldade em se avaliar indivíduos com distúrbios do desenvolvimento, dentre os instrumentos que avaliam inteligência disponíveis no mercado internacional, a Leiter International Performance Scale-Revised (Roid e Miller, 1997), tem 48 sido utilizada em diversos países. Principalmente desde a década de 80 ela tem sido útil na avaliação de pessoas em que o emprego das técnicas tradicionais não é bem sucedido (Duarte e Bordin, 2000). A última edição do manual da Associação Americana de Retardo Mental (AAMR, 2002) recomenda a Leiter-R como escala para avaliação de inteligência não-verbal amplamente aplicada a populações com distúrbios do desenvolvimento devido a suas especificidades, pois é particularmente indicada para crianças de baixo funcionamento cognitivo, tais como os transtornos do espectro autista e indivíduos com deficiência intelectual. 2.5. - Leiter International Performance Scale-Revised (Roid e Miller, 1997) 2.5.1. Aspectos gerais do instrumento A Leiter-R é uma escala de avaliação não-verbal, que fornece entre outras medidas, a inteligência através do QI, para indivíduos de 2 a 20 anos de idade. Sua aplicação tem sido amplamente útil no caso de indivíduos com distúrbios do desenvolvimento. A Escala original foi construída em 1929 por Russell Graydon Leiter, com o objetivo de avaliar as competências intelectuais de crianças com alguma deficiência que acarretava dificuldades nas respostas verbais em testes tradicionais de inteligência, pois sua forma de resposta é especificamente não verbal. Para Roid e Miller (1997), houve algumas razões primárias que salientaram a necessidade da Leiter-R: Necessidade para identificação precoce de atrasos cognitivos; Necessidade na melhoria de instrumentos de medida de habilidades cognitivas; Necessidade de uma escala de inteligência confiável e válida sem a interferência de habilidades motoras ou linguagem e; Criar um instrumento para auxiliar equipes que trabalham com pessoas com deficiência no planejamento da transição escolatrabalho. O modelo teórico subjacente a versão revisada da Leiter-R consiste na teoria hierárquica de Gustafsson (1994) e das habilidades em três níveis de John Carroll (1993), posteriormente integrado ao modelo de Horn e Cattell das inteligências fluida e cristalizada. Este modelo é amplamente utilizado na construção de testes de inteligência que visam medir habilidades específicas. Por sua vez, estas habilidades se agrupam em fatores mais amplos tendo o fator “g” no topo. O modelo da Leiter-R é baseado na hierarquia de Gustafsson apresentada na Figura 1. 49 Figura 1: Modelo hierárquico de Gustafsson (1994) retirado de Almeida (2002). De acordo com a Figura 1, no nível inferior, aparecem as aptidões intelectuais defendidas por Thurstone. No nível intermédio, surgem fatores ditos gerais e já mais próximos da teoria de Horn-Cattell: Inteligência fluida (Gf) que abarca fatores primários tais como Indução (I), Raciocínio geral (R) e Cognição das relações figurativas (CFR); Inteligência cristalizada (Gc) que abarca fatores primários como a Compreensão verbal (V) e a Cognição de relações semânticas (CMR); o fator geral de Visualização (Gv) que abarca a Visualização (Vz), Orientação espacial (S) e Flexibilidade de encerramento (Cf); o fator de geral velocidade (Gs) e precisão do processamento de informação em tarefas cognitivas de não alta complexidade cognitiva, e que abarca fatores primários como a aptidão Numérica (N) e a aptidão Perceptiva (P); e o fator geral de Evocação (Gr) da informação estruturada em conhecimento, ou seja, na memória em longo prazo, e que abarca fatores primários como a Fluência de idéias (Fi) e a Fluência de palavras (Fw). No nível superior, encontramos um fator de inteligência geral (g), no qual todas as aptidões de segunda ordem apresentam saturações elevadas. E como a saturação de gf é próxima da unidade, este fator g pode assumir-se como equivalente à inteligência fluida (Almeida, 2002). A Leiter-R dá ênfase à inteligência fluida, como a capacidade de formar e reconhecer conceitos, identificar relações complexas, compreensão de implicações e 50 realização de inferências. Tratando-se de uma medida de habilidade inata, ou seja, pouco dependente de aspectos culturais e determinada por aspectos biológicos (Schelini, 2006). De acordo com Anastasi e Urbina (2000), a Leiter-R é um teste não-verbal e intercultural, ou seja, independente da cultura. Segundo estas autoras, este tipo de teste é elaborado especificamente para eliminar vários parâmetros culturais importantes, incluindo não somente a língua, mas também habilidades intelectuais e de conhecimentos específicos de qualquer cultura. Sendo assim, este instrumento vai de acordo com o modelo universal, proposto por Fleck (2000) em que um instrumento possui enfoque transcultural, minimizando características específicas de cada cultura. Este instrumento é especificamente adequado para ser utilizado com indivíduos que apresentam prejuízos cognitivos, deficiência intelectual, comprometimento auditivo, motor e dificuldades de linguagem. Também é utilizado em indivíduos com Déficit de Atenção e Hiperatividade por conta da Bateria de Atenção e Memória. Um dos aspectos deste instrumento é a quase eliminação de instruções verbais. Além disso, foi planejado para abranger grande amplitude de funções semelhantes às encontradas nas escalas verbais (Anastasi e Urbina, 2000). A administração é realizada individualmente e consiste em tarefas que avaliam funções amplas como: raciocínio, visualização, memória e atenção. Estas aptidões são avaliadas, independentemente da capacidade lingüística e/ou motora da criança, uma vez que se utilizam figuras, ilustrações e símbolos e não existe necessidade que a criança perceba, manipule ou raciocine em termos verbais. Uma das principais vantagens deste instrumento seria a variedade de possibilidades do indivíduo comunicar a resposta correta ao avaliador (Roid e Miller, 1997). As instruções são comunicadas através de pantomimas, ou seja, gestos que combinam movimentos das mãos e da cabeça, bem como expressão facial e demonstrações, eliminando o máximo possível de verbalizações. No livro de instruções de cada subteste são apontadas formas de gestos e demonstrações que o avaliador pode se utilizar. Entre as possibilidades do avaliador estão: apontar os cartões, materiais e a prancha na qual a criança deve realizar a tarefa, fazer expressões faciais de questionamento para a criança, colocar as mãos sobre as da criança e realizar os itens de treinos juntos, entre outras. Em alguns casos, é possível combinar algumas breves verbalizações com a criança caso ela solicite (Roid e Miller, 1997). 51 A escala completa está dividida em três partes distintas: Bateria de Visualização e Raciocínio, que compõe o QI não-verbal (Bateria VR), a Bateria de Atenção e Memória (AM) e quatro escalas sócio-emocionais destinadas a pais, avaliadores, professores e aos próprios sujeitos avaliados (Anastasi e Urbina, 2000). No entanto, devido aos objetivos deste trabalho, serão levados em consideração apenas os subtestes referentes à Bateria de Visualização e Raciocínio por fornecerem uma medida de inteligência não-verbal. Cada subteste tem início com uma tarefa que não apresenta um grau elevado de dificuldade, e este vai aumentando a cada item do subteste. A compreensão da tarefa é considerada como parte do teste e não existe um tempo limite para que a criança responda ao que é solicitado. Entre os subtestes de raciocínio estão: Classification (Classificação-C), Sequential Order (Seqüências- SE), Repeated Patterns (Padrões Repetidos-PR), Design Analogies (Analogias de Desenho-AD). E os subtestes de visualização: Matching (Pareamento-P), Picture Context (Contexto da Figura-CF), Figure-Ground (Figura-Fundo FF), Paper Folding (Dobra de Papel-DP), Form Completion (Formas Completas-FC) e Figure Rotation (Rotação de Figuras-RF). Cada grupo de subtestes é aplicado a faixas etárias específicas em função da complexidade das tarefas exigidas. Na Leiter-R as idades dos 2 aos 20 anos são divididas em três grandes grupos: 2-5; 6-10 e 11-20. Os subtestes de raciocínio quanto de visualização são aplicados de acordo com cada grupo, como descritos na tabela 3 a seguir: Tabela 5: Substestes da Bateria de Raciocínio e Visualização (VR) e as idades correspondentes para a aplicação. Subtestes da VR FF AD FC PA SE PR CF CL DP RF Idade 2-5 Idade 6-10 Idade 11-20 SIM NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM De acordo com os modelos hierárquicos de John Carroll e Gustafsson subjacente a construção do instrumento, a figura 2 ilustra como este se aplica aos subtestes da Leiter52 R destinados as crianças na faixa etária de 2 a 5 anos. Na primeira camada estão as habilidades específicas representadas por cada subteste, na segunda camada encontram-se as habilidades amplas relacionadas ao Raciocínio e a Visualização e por fim, na terceira camada encontra-se o fator g. Seqüências Raciocínio Padrões Repetidos Classificação Fator g Figura-Fundo Formas Completas Visualização Pareamento Contexto da Figura Figura 2: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 2 a 5 anos. Da mesma forma, as figura 3 e 4, ilustram o modelo hierárquico dos subtestes para crianças na faixa etária de 6 a 10 anos e 11 a 20 anos, respectivamente. Seqüências Raciocínio Padrões Repetidos FiguraFundo Fator g Formas Completas Visualização Pareamento Dobra de Papel Analogias de Desenho Figura 3: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 6 a 10 anos. 53 Seqüências Raciocínio Padrões Repetidos FiguraFundo Fator g Formas Completas Visualização Rotação de Figuras Dobra de Papel Analogias de Desenho Figura 4: Modelo hierárquico para os subtestes aplicados a faixa etária de 11 a 20 anos. A cada subteste, são avaliados diversos processos cognitivos subjacentes as tarefas demandadas. Na Bateria de Visualização e Raciocínio (VR) os processos cognitivos avaliados encontram-se sumariados na Tabela 6. Pode-se notar que alguns subtestes apresentam processos comuns, como por exemplo, Analogias de Desenho, Sequencias, Padrões Repetidos e Classificação que comumente envolvem o raciocínio indutivo. O mesmo pode ser observado em outras funções cognitivas, como controle inibitório, flexibilidade, raciocínio dedutivo, vísuo-espacial, seqüenciamento, memória de trabalho bem como exploração e busca visual. Enquanto que outras habilidades como o raciocínio analógico é bem específica a um único subteste, a saber, Analogias de Desenho, e a capacidade de resistência à distração relacionada ao subteste Figura-Fundo (Roid e Miller, 1997). 54 Tabela 6: Processos cognitivos avaliados pela Bateria VR da Leiter-R: Habilidade Raciocínio Dedutivo Raciocínio Indutivo FF AD X FC PA X X X SE X PR CL X Categorizar X Vísuo-espacial X Flexibilidade X Inibição X Resistência à Distração X Relacionar Analogia DP RF X X X X Organização Perceptiva X X X X X X X X X X X X X X X Sequenciamento Reconhecimento de Padrões Exploração/ busca visual Memória de trabalho CF X X X X X X X X X X As habilidades descritas não são avaliadas em todas as faixas etárias as quais o teste abrange. Isso se deve ao fato de que apenas alguns subtestes entram para o cálculo do QI em função de determinados grupos etários. É possível através da Leiter-R estimar dois valores para o QI, sendo o primeiro o QI Estimado e o segundo, o QI total. Na Tabela 7 são descritos os subtestes para cada medida em função dos grupos etários. 55 Tabela 7: Subtestes para obtenção de QI Estimado e QI Total para cada faixa etária. Idades Subtestes 6-20 anos QI Total 2-5 anos QI Total 6-20 anos FF FC SE PR PA X CL X DA X X PF X X 2-20 anos 2-5 anos QI Estimado X X Além dos valores obtidos para o QI, a Leiter-R fornece medidas compostas através de índices fatoriais, como apresentados na Tabela 8. Tabela 8: Subtestes classificados por índices fatoriais e idade. Índices Fatoriais Raciocínio Fluído Visualização Visualização Espacial Subtestes SE e PR PA e CF AD, DP e RF Idades 2-20 2-5 11-20 De acordo com o modelo teórico da Leiter-R o índice fatorial de Raciocínio Fluido é composto por dois subtestes que são aplicados a todas as idades. O Subteste Padrões Repetidos (PR) mostra ser uma única medida de raciocínio fluido em crianças de 2 a 5 anos devido a sua carga fatorial. Mas em crianças mais velhas e adolescentes, o subteste Sequencias (SE) também é apresentado juntamente com o PR como fator de medida para o raciocínio fluido. Devido à importância do subteste PR, na versão original seu escore ponderado é somado duas vezes para a obtenção do índice fatorial. O índice de Visualização Fundamental para crianças de 2 a 5 anos mede um nível básico da habilidade de visualização como evidenciado pelo fato de que aparece como um fator separado quando os dados são explorados através de análise fatorial fora do nível de crianças a partir dos 6 anos de idade. Os subtestes Pareamento (PA) e Contexto da Figura (CF) aparecem como componentes visuais mais básicos, relacionados a um pareamento visual simples de estímulos se comparados com medidas visuais mais complexas ou de 56 processamento espacial. A identificação de formas e figuras requer atenção ao detalhe visual e um entendimento básico de similaridades dentro de um contexto, entre o estímulo alvo e o que é apresentado nas pranchas. Já o índice de Visualização Espacial para adolescentes de 11 a 20 anos, é composto pelos subtestes Analogias de Desenho (AD), Dobra de Papel (DP) e Rotação de Figuras (RF). São habilidades de raciocínio indutivo relacionadas a padrões de sintetização de estímulos visuais e orientação espacial, como matrizes, montar e desmontar mentalmente figuras tridimensionais e percepção de formas rotacionadas espacialmente. A pontuação na Leiter-R se dá a partir dos acertos nos itens de cada subteste. O total bruto de cada subteste é transformado em um valor ponderado e as somas dos valores ponderados são transformadas em índices fatoriais, QI Estimado ou QI total. A classificação da pontuação obtida na Leiter-R traduzida em QI e índices fatoriais é apresentada na tabela 9: Tabela 9: Descrição das classificações obtidas na Leiter-R pela Bateria de Raciocínio e Visualização: QI e Classificação Percentil 130-170 Muito alto/superdotação 98-99 120-129 Alto 91-97 110-119 Acima da média 75-90 90-109 Média 25-74 80-89 Abaixo da média 9-24 70-79 Baixo 3-8 55-69 Muito baixo/deficiência leve 1-2 40-54 Deficiência moderada 0.10 30-39 Deficiência severa 0.04 Índices Fatorais Após a descrição geral dos principais aspectos da Leiter-R, a seguir serão apresentadas as evidências psicométricas que atestam a qualidade desta escala como instrumento de medida. 57 2.5.2. Parâmetros Psicométricos da Bateria de Visualização e Raciocínio Desde a sua construção por Russell em 1929, revisões sucessivas foram realizadas nos anos de: 1934, 1936, 1938, 1940, 1948, 1994, 1995 e 1997. O objetivo destas revisões foi estabelecer parâmetros psicométricos mais adequados e buscar fundamentação teórica em modelos mais recentes como o de Carroll (1993), inexistente quando o instrumento foi elaborado. A seguir, são apresentados os estudos que avaliaram as propriedades psicométricas da última versão da Leiter-R. A fim de que o leitor brasileiro tenha uma idéia dos parâmetros da versão original. A última revisão da escala feita por Roid e Miller em 1997. Esta revisão foi feita a partir dos dados de normatização da edição de 1995. Os dados normativos americanos foram baseados em 1.719 indivíduos com desenvolvimento normal entre 2 a 20 anos e 692 crianças e jovens com desenvolvimento atípico, incluindo os seguintes grupos: indivíduos com atraso de fala ou linguagem, deficiência auditiva, atraso motor, traumatismo cranioencefálico, atraso cognitivo, déficit de atenção com ou sem hiperatividade, superdotação/altas habilidades e distúrbios de aprendizagem. Além disso, dois grupos cujo inglês era a segunda língua também foram incluídos: indivíduos cuja língua dominante é o espanhol e indivíduos com outras línguas dominantes. Para a normatização feita em 1995, os itens e subtestes selecionados foram baseados nos seguintes critérios: Evidências de validade por critério, recomendações feitas pelos pesquisadores de campo, estabilidade ao longo do tempo, contribuição para o fator (carga fatorial) e no total do teste, discriminação de crianças típicas e com deficiência, sensibilidade para tendências desenvolvimentais de acordo com as idades e por fim, não discriminação entre gênero, raça/etnia e viés sócio-econômico. A partir da versão de 1995, foram feitas modificações estruturais na escala como a exclusão de 4 subtestes e a diminuição do número de itens em todos os subtestes com a exceção do Rotação de Figuras (RF) que permaneceu idêntico a versão anterior. Evidências de fidedignidade foram estimadas através de diferentes formas considerando a importância da precisão de um instrumento. Foram empregadas técnicas de análise baseadas na Teoria Clássica dos Testes até modelos estatísticos da Psicometria Moderna como o Modelo de Rasch na Teoria de Resposta ao Item. A consistência interna foi estimada pelo Coeficiente Alfa de Cronbach. Na Tabela 10 serão apresentados os 58 valores obtidos para as idades de 3 a 6 anos nos subtestes que compõe a medida de QI Total em cada faixa etária: Tabela 10: Consistência Interna dos subtestes da Bateria VR de acordo com a idade. Idade N FF AD FC PA SE PR CL DP 3 187 0,73 - 0,87 0,92 0,66 0,75 0,85 - 4 189 0,77 - 0,98 0,88 0,71 0,81 0,82 - 5 179 0,74 - 0,91 0,94 0,79 0,81 0,78 - 6 101 0,76 0,84 0,88 0,80 0,84 0,79 - 0,73 A estabilidade da Leiter-R foi verificada através da correlação de Pearson entre os escores no teste e reteste. Foram selecionados 163 sujeitos para o reteste com idades entre 2 e 20 anos. As faixas etárias foram divididas em três grandes grupos para análise: 2 a 5 anos, 6 a 10 anos e 11-20 anos. Os dados relacionados à correlação teste-reteste para crianças de 2 a 10 anos estão descritos na tabela 11: Tabela 11: Médias dos pontos ponderados para Teste, Reteste e Correlação de Pearson. Idade 2-5 N=57 Teste Reteste r FF 8.8 9.6 0.79 8.1 9.3 0.82 AD - - - 8.9 9.6 0.80 FC 9.2 9.7 0.78 8.4 8.6 0.83 PA 8.8 9.8 0.81 - - - SE 8.5 8.4 0.70 7.6 8.5 0.78 PR 8.5 9.1 0.81 8.3 9.2 0.77 CL 8.2 8.8 0.61 - - - DP - - - 6.7 9.3 0.70 Subteste Idade 6-10 N=48 Teste Reteste r 59 As evidências de validade da Leiter-R foram verificadas de acordo com três fontes: conteúdo, critério e construto. Os dados foram analisados a partir da amostra de normatização de 1995. Evidências de validade baseada no conteúdo do teste foram verificadas através da análise de 174 avaliadores que examinaram os itens de cada subteste cuidadosamente. Um dos objetivos foi assegurar que os materiais podiam ser administrados de um modo nãoverbal como proposto, verificando, portanto as características não verbais de cada subteste. Os examinadores preencheram várias escalas de avaliação do conteúdo e procedimento de cada subteste. Permaneceram somente os subtestes que obtiveram avaliações uniformes entre os pesquisadores e foram excluídos aqueles que requeriam verbalizações durante a administração. Os itens da Leiter original foram analisados e categorizados de acordo com os fatores cognitivos do modelo de Carroll (1993). Os itens originais incluíam uma grande variedade de fatores. Foram excluídos itens que envolviam raciocínio quantitativo, pois estes dependem mais de um processo cristalizado aprendidos na escola. Além disso, os primeiros itens de cada subteste foram designados como itens de treino para assegurar a compreensão da tarefa pelo sujeito. Evidências de validade por critério foram verificadas através dos índices de sensibilidade e especificidade do QI Estimado e QI Total para distinguir grupos. Num primeiro momento, tais índices foram verificados em uma mostra com sujeitos normais e com atraso cognitivo. Posteriormente, o mesmo foi feito com sujeitos normais e com altas habilidades/superdotação. A Tabela 12 apresenta a descrição dos valores em porcentagem para a identificação dos casos tanto para atraso cognitivo quanto para superdotação, bem como os valores de sensibilidade e especificidade, falsos positivos e negativos. Todas as medidas foram realizadas em relação ao QI Estimado e QI Total. 60 Tabela 12. Valores em porcentagem para sensibilidade e especificidade segundo a amostra normal, com atraso cognitivo e altas habilidades. Escore N Total (%) Sensibilidade (%) Especificidade Falso (%) Negativo (%) Falso Positivo (%) 95.8 75.0 97.3 1.6 2.6 96.4 62.5 98.8 2.4 1.2 96.4 84.2 97.3 1.0 2.6 96.6 72.5 98.4 1.8 1.5 85.7 45.3 89.1 4.2 10.1 89.7 15.6 95.8 6.4 3.9 85.2 37.5 89.2 10.0 4.7 89.3 20.3 95.0 6.0 4.6 Atraso Cognitivo QI Estimado (≤ 70) QI Estimado (≤ 65) QI Total (≤ 70) QI Total (≤ 65) Amostra típica 1719 Atraso Cognitivo 120 Altas habilidades QI Estimado (≥ 120) QI Estimado (≥ 125) QI Total (≥ 120) QI Total (≥ 125) Amostra típica 779 Altas habilidades 64 Os valores apresentados mostram um excelente nível de acurácia para a identificação de atrasos cognitivos, usando o QI 70 para ponto de corte no QI total. O QI de 65 é usado apenas como contraste, pois não funciona bem como ponto de corte como o QI 70. Para a identificação de indivíduos com altas habilidades, os valores mostram índices 61 moderados. Para a Leiter-R o ponto de corte considerado adequado para a identificação de indivíduos com altas habilidades é 120 ao invés do que é proposto tradicionalmente por outras escalas como 125 ou 130. Com um ponto de corte de 125 a sensibilidade diminui dramaticamente, indicando que um quarto ou menos de sujeitos com altas habilidades são corretamente identificados. A fim de verificar evidências de validade por padrões convergentes, um grupo de 124 sujeitos entre 2 e 19 anos foram submetidos às versões antiga e atualizada do instrumento, Leiter e Leiter-R respectivamente. Foram verificados valores de média, desvio padrão e correlação entre os dois desempnhos. A Tabela 13 apresenta as médias, desvio padrão e Correlação de Pearson entre as duas versões. Tabela 13. Estatísticas descritivas e Correlação de Pearson entre as duas versões da Leiter. Escore Média DP r Leiter (QI Estimado) Leiter-R 112.4 99.9 27.3 24.4. 0.85 Leiter (QI Total) Leiter-R 112.4 98.5 27.3 25.2 0.85 Os valores de 0.85 para QI Estimado e QI Total revelam altas correlações entre as duas versões do instrumento, considerando que revisões de baterias importantes para avaliação, como as Escalas Wechsler, frequentemente revelam correlações maiores que 0.80. As médias das duas escalas são, entretanto, diferentes em 12 pontos. Os autores da Leiter-R justificam esta diferença com base no Efeito Flynn sobre o aumento das habilidades ao longo dos anos, resultando numa diminuição numérica de 0.3 pontos por ano. Dados os 48 anos entre a versão original e a Leiter-R (1948-1996), de acordo com o efeito Flynn, a diferença seria de -14.4 pontos a qual é bem próxima a observada de -13.9 entre o QI Total da Leiter e Leiter-R (Roid e Miller, 1997). Na comparação dos resultados da Leiter-R com outros instrumentos, observou-se que o QI Total apresenta uma correlação de 0.86 com o QI Total do teste WISC-III, e uma correlação de 0.85 do QI Total com o QI de Execução do WISC-III. Vale ressaltar que o modelo de cognição avaliado pelo WISC-III enfatiza além de habilidades não-verbais, as habilidades verbais. Tais habilidades estão freqüentemente associadas à aprendizagem 62 anterior, conhecimento prévio e às oportunidades vividas pelo indivíduo (Duarte e Bordin, 2000). Em estudos mais antigos de correlação com o Stanford-Binet, os valores obtidos para Correlação de Pearson variam de 0,64 a 0,81 (Anastasi, 1977). Entretanto, de acordo com Roid e Miller (1997), estudos de correlação da última versão da Leiter com alguns subtestes do Stanford-Binet, como o Matrices Subtest, o Paper Folding e o Memory for Objects, moram correlação de 0.66, 0.56 e 0.58 respectivamente. Já estudos que correlacionam os escores na Leiter-R com testes de desempenho como na Bateria Woodcock-Johnson, mostram correlações do QI total com os subtestes Broad Reading (r=0.79) e Broad Mathematics (r=0.80). Além disso, mudanças desenvolvimentais são vistas como evidências de validade, pois estão relacionadas à maturação e desenvolvimento neuronal. No desenvolvimento da Leiter-R a porcentagem de acerto nos itens por idade foi considerada. As mudanças desenvolvimentais foram baseadas nos valores “de crescimento” dados pela Leiter-R. Os itens e escores baseados no “crescimento” foram desenvolvidos para neutralizar uma crítica em relação a normatizações baseadas em escores “ponderados”. Estes nem sempre fornecem informações detalhadas sobre as habilidades do indivíduo e têm se mostrado imprecisos particularmente quando se trata de indivíduos com atraso cognitivo em função de sua idade cronológica (Roid e Miller, 1997). Os escores de “crescimento” foram obtidos através da Teoria de Resposta ao Item pelo Modelo de Rasch no qual é possível estimar a dificuldade dos itens de acordo com o nível de habilidade do sujeito. Os valores de “crescimento” para os itens de cada subteste, para o QI Estimado e QI Total, bem como para índices fatoriais são apresentados numa tabela normativa e transformados com base na pontuação total (Roid e Miller, 1997). Os valores de “crescimento” do item podem variar de 380 a 560. A métrica destes valores é semelhante à desenvolvida por Woodcock e Johnson em 1989. Ou seja, a estimação do grau de dificuldade de cada tarefa é expressa pela sua localização na escala de crescimento. Esta escala fornece uma medida quantitativa da inteligência não-verbal numa escala que está relacionada ao domínio das habilidades mensuradas pela Leiter-R. Por isso, tendências desenvolvimentais podem ser observadas em relação aos escores de “crescimento”. A Figura 5 mostra tendências desenvolvimentais na escala de “crescimento” do QI Estimado ao longo da idade. 63 Figura 5. Tendências desenvolvimentais para os escores na Leiter-R. Fonte: Roid e Miller (1997, p.183). Outra fonte de evidência de validade relacionada ao construto extensamente utilizada na literatura é a análise fatorial que permite verificar o ajuste do instrumento ao modelo teórico subjacente à sua elaboração (Urbina, 2007). Na Leiter-R, análises fatoriais exploratórias e confirmatórias foram realizadas para verificar a existências dos fatores de “Visualização” e “Raciocínio” na versão de 1994. Para o fator “Visualização”, em crianças de 2 a 5 anos, todos os subtestes visuais foram incluídos. A partir dos 6 anos de idade, dois fatores emergiram: “Visualização Fundamental”, com os subtestes Pareamento e Contexto da Figura; e o fator “Habilidade Espacial” como os subtestes Dobra de Papel, Analogias de Desenho e em algumas análises, o subeste Figura-Fundo. Após os 11 anos o fator “Habilidade Espacial” se mostrou particularmente forte com três subtestes: Dobra de Papel, Analogias de Desenho e Rotação de Figuras. Já no fator “Raciocínio”, foram incluídos os subtestes Padrões Repetidos e Sequencias. Os 4 subtestes do QI Estimado forneceram um único fator unidimensional, chamado de fator g. Sendo que este fator explicaria de 54% a 75% da variância nestes 4 subtestes. Na versão final da Leiter-R, análise fatorial exploratória verificou as cargas fatoriais de cada subteste para os índices Visualização e Raciocínio. As Tabelas 14 e 15 descrevem as cargas fatoriais de cada subteste para o fator Visualização e Raciocínio respectivamente, de acordo com os grupos etários. 64 Tabela 14: Cargas fatoriais dos subtestes para o Fator Visualização. Subteste 2-3 anos 4-5 anos 6-10 anos FF 0.48 0.73 0.47 AD - - 0.33 FC 0.52 0.68 0.15 PA 0.71 0.39 -0.20 SE 0.44 0.33 0.00 PR -0.09 -0.03 0.05 CF 0.56 0.31 - CL 0.83 0.15 - DP - - 0.04 Tabela 15: Cargas fatoriais dos subtestes para o Fator Raciocínio. Subteste 2-3 anos 4-5 anos 6-10 anos FF -0.12 0.05 0.37 AD - - 0.15 FC -0.13 -0.27 0.52 PA -0.02 0.10 0.61 SE 0.28 0.15 0.42 PR 0.85 0.45 0.60 CF 0.05 0.35 - CL 0.04 0.16 - DP - - 0.12 Análise fatorial confirmatória foi realizada seguindo diferentes modelos de acordo com as idades, tendo como base o modelo hierárquico de Carroll com “g” no topo da camada, na segunda camada as habilidades amplas de raciocínio e visualização e na terceira camada os subtestes que avaliam habilidades específicas. Este modelo hierárquico é ilustrado nas Figuras 6 e 7, apresentando as cargas fatoriais de cada medida segundo os grupos etários: 65 0.08 Raciocínio fluido Padrões Repetidos 1.00 Figura-Fundo g 0.64 Formas Completas 0.70 0.82 Sequencias 0.53 Visualização 0.58 Classificação 0.56 0.43 Pareamento Contexto da Figura Figura 6. Análise Fatorial Confirmatória para as idades de 4-5 anos. Na Figura 6, é ilustrado apenas um subteste (Padrões Repetidos) como subjacente ao fator amplo de Raciocínio Fluido. Na análise apresentada no manual da Leiter-R, mais dois subtestes da Bateria de Atenção e Memória apresentam cargas fatoriais em Raciocínio Fluido, mas que não foram ilustradas por não se relacionarem a Bateria VR. Padrões Repetidos 0.55 0.80 Raciocínio Sequencias Formas Completas 0.74 0.52 g 0.68 Pareamento 1.00 Visualização Espacial 0.38 0.84 FiguraFundo 0.64 Dobra de Papel Analogias de Desenho Figura 7. Análise Fatorial Confirmatória para as idades de 6-10 anos. Dados de análise fatorial também mostraram correlações entre os subtestes da Bateria de Raciocínio e Visualização de acordo com a divisão das faixas etárias em três grupos: 2-3 anos, 4-5anos e 6-10 anos. As Tabelas 16, 17 e 18 apresentam as correlações 66 obtidas para os diferentes grupos. O número de sujeitos para cada grupo foi de 150, 160 e 204 respectivamente. Tabela 16: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 2-3 anos. Subtestes FF FC PA SE PR CL FF 1 0,50 0,42 0,16 0,01 0,41 FC 0,50 1 0,48 0,21 -0,04 0,48 PA 0,42 0,48 1 0,33 0,11 0,55 SE 0,16 0,21 0,33 1 0,34 0,42 PR 0,01 -0,04 0,11 0,34 1 0,19 CL 0,41 0,48 0,55 0,42 0,19 1 Tabela 17: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 4-5 anos. Subtestes FF FC PA SE PR CL FF 1 0,49 0,37 0,39 0,12 0,33 FC 0,49 1 0,38 0,37 -0,03 0,33 PA 0,37 0,38 1 0,26 0,04 0,33 SE 0,39 0,37 0,26 1 0,19 0,31 PR 0,12 -0,03 0,04 0,19 1 0,10 CL 0,33 0,33 0,33 0,31 0,10 1 Tabela 18: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 6-10 anos. Subtestes FF AD FC SE PR DP FF 1 0,45 0,45 0,37 0,35 0,28 AD 0,45 1 0,35 0,39 0,22 0,07 FC 0,45 0,35 1 0,43 0,34 0,22 SE 0,37 0,39 0,43 1 0,33 0,21 PR 0,35 0,22 0,34 0,33 1 0,15 DP 0,28 0,07 0,22 0,21 0,15 1 Foram observadas correlações positivas entre todos os subtestes da Bateria de Raciocínio e Visualização para os três grupos etários como mostram os valores de correlação de Pearson. A exceção se deu para a correlação entre os subtestes Formas Completas e Padrões Repetidos para crianças de 2 a 5 anos de idade. De fato, como 67 ilustrado anteriormente na Tabela 6 em relação aos processos cognitivos subjacentes a cada subteste, as habilidades necessárias para um bom desempenho em Formas Completas são diferentes daquelas exigidas em Padrões Repetidos com exceção da memória de trabalho. 2.5.3. A Leiter-R na avaliação dos distúrbios do desenvolvimento Um levantamento realizado pela autora na base de dados Pubmed,encontrou 79 artigos sobre a Leiter-R. Analisando os resumos dos artigos encontrados, pode ser observado que a Leiter-R tem sido amplamente utilizada em indivíduos com algum comprometimento, seja cognitivo, físico ou sensorial. Um número significativo de estudos que avaliam inteligência não-verbal com a Leiter-R é destinado à população com distúrbios do desenvolvimento. Pesquisas realizadas desde a década de 1980 mostram a utilização desta escala em indivíduos com: deficiência intelectual (Ractiflle e Ractiflle, 1980; McLaren e Richards, 1986); Síndrome de Down (Carr, 2005; Glenn e Cunningham, 2005; Heller e cols., 2006; Myrelid e cols., 2010); Síndrome de Costello (Axelrad e cols., 2004; Axelrad e cols., 2007), X-Frágil (Hooper e cols., 2000; Skinner e cols., 2005), transtornos de linguagem (Flemmer e Roid, 1997; Farrell e Phelps, 2000; Zeesman e cols., 2006) e deficiência auditiva (Easterbrooks e O’Rourke, 2001; Kutz, Wright, Krull e Manolidis, 2003; Khan, Edwards e Langdon, 2005; Edwards, Khan, Broxholme e Langdon, 2006; Colletti, 2007; Colletti e Zocantte, 2008). Na avaliação de indivíduos com deficiência auditiva, uma metanálise feita por Braden (1992) investigou os principais instrumentos utilizados para avaliação de inteligência, aponta a Leiter-R entre os principais e mais utilizados dos testes. Com relação a Leiter-R e Transtornos do Espectro Autista, muitos autores mostram que esta escala é efetiva para obtenção de QI não verbal e conseqüentemente pode ser utilizada em pesquisas com esta população (Andrew, 1982; Shah e Holmes, 1985; Huang e cols., 2002; Tsatsanis e cols., 2003; Gabriels e cols., 2005; Kuschner e cols., 2007). Devido à maioria das crianças apresentarem dificuldades marcantes da compreensão e o uso da linguagem verbal, tais crianças podem ter seu desempenho nos testes pelo menos parcialmente afetado pela sua inabilidade em compreender as instruções do examinador. Esse tipo de problema tem sido geralmente compensado com a utilização de testes nãoverbais, como o Leiter-R (Silva e Mulick, 2009). No Brasil, dentro do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, três estudos foram realizados utilizando a Leiter-R na avaliação de 68 indivíduos com Transtornos do Espectro Autista e Síndrome de Williams. O estudo de Montenegro (2006) investigou atenção compartilhada num grupo de autistas comparados ao grupo controle. A avaliação cognitiva foi feita através da aplicação de dois subtestes da Leiter-R que fornece uma medida de raciocínio fluido. Desta forma, foi possível parear o grupo caso e o grupo controle em termos de desempenho, controlando esta variável na avaliação da atenção compartilhada. Já o estudo realizado por Monteiro (2008) e Garzuzi (2008), utilizou os mesmos subtestes para avaliação de raciocínio fluido na avaliação cognitiva de pacientes com Síndrome de Williams-Beuren (SWB). Os objetivos destes estudos foram caracterizar fenótipos comportamentais na SWB, bem como compará-los com Síndrome de Down e Prader-Willi. Através da Leiter-R foi possível quantificar o nível de raciocínio fluido destes indivíduos que devido a dificuldades vísuo-espaciais , atencionais e intelectuais (Järvinen-Pasley e cols., 2008) não conseguem se submeter a uma testagem longa com estímulos muito complexos. Entretanto, tais estudos utilizaram dados normativos da amostra original, pois não existem estudos de adaptação e evidências de fidedignidade e validade do instrumento para a população brasileira. Em sua última versão revisada, a Leiter-R trás um capítulo destinado a adaptações na administração para grupos especiais elaboradas por Janet Campbell (Roid e Miller, 1997). Para esta autora, existem formas criativas para permitir que uma criança não-verbal e limitada na sua capacidade motora, demonstrar seu conhecimento durante a administração da Leiter-R. Um dos principais objetivos na construção da Leiter foi a possibilidade de avaliar habilidades cognitivas de populações específicas que não podem ser avaliadas pelos testes tradicionais de inteligência. E as especificidades de cada pessoa com deficiência tornam difícil uma discussão acerca de regras de aplicação na avaliação destes indivíduos e por isso invariavelmente, adaptações específicas precisam ser formuladas. Pensando nestas questões, são sugeridos no manual alguns cuidados, como a necessidade de mostrar previamente aos cuidadores as tarefas que serão solicitadas à criança para que eles possam indicar as melhores possibilidades de respostas efetivas da criança. Com relação a adaptações para crianças com deficiências motoras e de comunicação, uma série de questões foram listadas para que o examinador recolha informações relevantes dos cuidadores. Dentre elas, encontram-se: 69 1) Qual é a forma usual que a criança tem de se comunicar com os outros? 2) Como o cuidador percebe o que ela quer ou que está tentando transmitir? 3) Se a criança possui formas de comunicação alternativa, por exemplo: Pode usar capacidades visuais de forma consistente para responder as questões, como piscar os olhos? Consegue indicar “sim” ou “não” e de que forma? A criança possui meios auxiliares (tecnológicos) de comunicação? E estes poderão auxiliar na avaliação com a Leiter-R? O auxílio de um especialista será útil? 4) Existem adaptações ambientais que precisam ser feitas? 5) Quais as limitações motoras que a criança possui? a. A criança consegue realizar uma varredura visual sem ajuda? b. Quais tipos de movimentos a criança apresenta nos membros superiores? c. Qual a força e resistência no tronco que a criança apresenta? 6) A criança é capaz de distinguir bem as cores? Há sinal de daltonismo? Existem adaptações que podem auxiliar no desempenho, tais como: - Os cartões de resposta devem ser colocados a certa distância da criança para que o avaliador consiga perceber respostas efetivas como olhar o cartão que contém a resposta desejada pelo examinando ou consiga distinguir o apontar para o cartão alvo; - Para crianças que exibem dificuldades em visualizar as imagens e necessitem de uma maior separação visual dos itens a fim de se concentrar melhor nas diferentes hipóteses, pode ser colocada uma prancha com cores alternadas onde são colocados os cartões de possíveis respostas. - Desenvolver um sinal específico de parada que possibilite o examinando escolher a resposta correta. - Tentar estabelecer uma resposta de tipo Sim / Não (Ex: através do piscar de olhos, movimento de cabeça, sorriso, etc.). O avaliador deverá, contudo, certificar-se de que consegue, de fato, identificar a intenção de resposta do sujeito. Desta forma, a Leiter-R é um instrumento com as seguintes vantagens: todas as instruções contidas na escala poderão ser adaptadas, tendo em conta as necessidades ou 70 limitações do sujeito; As respostas não precisam ser dadas respeitando um determinado padrão, pois cada sujeito irá comunicar a resposta de acordo com suas possibilidades, ou seja, qualquer comportamento emitido que indique a comunicação de uma escolha de resposta é válido; Pode ser aplicada em grupos que não se beneficiam dos testes tradicionais; Avalia aptidões intelectuais que envolvem uma multiplicidade de funções tais como: raciocínio, a noção espacial, a visualização bidimensional, a memória, a atenção, a concentração e a velocidade de processamento; Abarca uma faixa etária abrangente e pode ser aplicada a partir dos dois anos de idade, o que não acontece com outros instrumentos até então disponibilizados para avaliação; Possui propriedades psicométricas adequadas como evidências de validade e fidedignidade que garantem a qualidade da escala. 71 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral: O objetivo deste estudo foi realizar a tradução, adaptação, fidedignidade e evidências de validade da Bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter International Performance Scale – Revised. 3.2. Os objetivos específicos: - Traduzir para o português as instruções descritas nos dez subtestes da bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter-R, bem como as normas para aplicação e correção dos subtestes. - Realizar adaptação para a população brasileira da tradução. - Verificar a fidedignidade da Leiter-R através do teste-reteste, método das metades (Split-Half) pelo coeficiente de Spearman-Brown e verificar a consistência interna pelo coeficiente Alfa de Cronbach. - Buscar evidências de validade convergente através da correlação entre os escores obtidos na Leiter-R, na Escala de Maturidade Mental Colúmbia e nas Matrizes Coloridas de Raven – Escala Especial. - Buscar evidências de validade da Leiter-R por mudanças desenvolvimentais de acordo com a diferenciação por idade. - Buscar evidências de validade por critério como sexo, série e tempo de escolarização. 72 4. MÉTODO 4.1. Participantes Caracterização dos sujeitos: Participaram do estudo 254 crianças com desenvolvimento normal, de ambos os sexos, com idades de 3 a 6 anos. A amostra foi composta estudantes do 1º (3 e 4 anos), 2º (4 e 5 anos) e 3º estágio (5 e 6 anos) de duas escolas públicas de Ensino Infantil, escolhidas por conveniência. As escolas estão localizadas nas zonas leste e oeste da cidade de São Paulo. Na primeira escola (zona leste) participaram 101 alunos e na segunda (zona oeste), 153 alunos. Foram avaliados 70 alunos do 1º estágio, 87 do 2º estágio e 97 do 3º estágio. Do total de participantes, 132 são do sexo feminino e 122 do sexo masculino. As Tabelas 19, 20 e 21 sumariam as características da amostra em relação à idade, série e meses de escolaridade, respectivamente. Tabela 19: Caracterização da amostra: grupos etários, número de sujeitos, porcentagem e porcentagem cumulativa. Grupo Etário N (frequência) Porcentagem 3 36 14,2% Porcentagem Cumulativa 14,2% 4 75 29,5% 43,7% 5 89 35,0% 78,7% 6 54 21,3% 100% Total 254 100% Tabela 20: Caracterização da amostra: série, número de sujeitos, porcentagem e porcentagem cumulativa. Série N (frequência) Porcentagem 1 70 27,6% Porcentagem Cumulativa 27,6% 2 87 34,3% 61,8% 3 97 38,2% 100% Total 100% 73 Sobre o tempo de escolarização só foi possível obter dados de 156 sujeitos devido a disponibilização desta informação nos protocolos de registros escolares. Tabela 21: Caracterização da amostra: meses de escolarização, número de sujeitos, porcentagem e porcentagem cumulativa. Tempo de Escolarização (meses) 5 N (frequência) Porcentagem Porcentagem Cumulativa 105 67,31% 67,31% 11 51 32,69% 100% Total 156 100% Seleção dos sujeitos: A participação de todos os sujeitos foi voluntária com a assinatura dos pais e responsáveis pelas instituições do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Critérios de exclusão: Foram excluídas da pesquisa crianças com evidências de deficiências sensoriais, intelectuais ou motoras graves conhecidas e não-corrigidas, conforme os registros escolares. 4.2. – Instrumentos Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial (MPCR): Aplicada à faixa etária de 5 a 11 anos. A MPCR é constituída por três séries de 12 itens: A, Ab e B. Os itens estão dispostos em ordem de dificuldade crescente em cada série, sendo cada série mais difícil do que a série anterior. No início de cada série são sempre colocados itens mais fáceis, cujo objetivo é introduzir o examinando num novo tipo de raciocínio, que vai ser exigido para os itens seguintes. Os itens consistem em um desenho ou matriz com uma parte faltando, abaixo do qual são apresentadas seis alternativas, uma das quais completa a matriz corretamente. O examinando deve escolher uma das alternativas como a parte que falta, como mostra a Figura 8. Pretende avaliar um dos componentes do fator “g”, a capacidade edutiva relacionada à formação de novos insights criativos e de construtos de nível superior (Angelini e cols, 1999; Pasquali, Wechsler e Bensusan, 2002; Bandeira e cols, 2004). 74 Figura 8. Item 1 da forma A do teste Matrizes Coloridas de Raven Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC): é um teste padronizado para a população brasileira que avalia a capacidade geral de raciocínio de crianças entre 3 anos e 6 meses a 9 anos e 11 meses de idade . A EMMC avalia especialmente capacidades que são importantes para o sucesso na escola, principalmente as capacidades para discernir as relações entre os vários tipos de símbolos. A criança deve observar pranchas com 3 a 5 desenhos cada e escolher qual desenho é diferente ou não se relaciona aos outros, como ilustrado na Figura 9. A instrução especifica que a criança deve escolher a figura que não combina com as outras. Para tanto, a criança deve descobrir qual a regra subjacente à organização das figuras, lhe permitindo excluir apenas uma (Alves e Duarte, 2001). 75 Figura 9. Prancha do exemplo 1 da EMMC. As Matrizes Coloridas de Raven – Escala Especial e a Escala de Maturidade Mental Colúmbia foram escolhidas, pois de acordo com o modelo CHC, são instrumentos utilizados para avaliação de inteligência fluida, tida como o fator amplo mais relacionado ao g, em que são incluídas habilidades como relacionar idéias, induzir conceitos abstratos, compreender relações (Primi, 2003). Sendo estas habilidades também presentes nos subtestes da Leiter-R. Bateria de Visualização e Raciocínio (VR) da Leiter-R: Foram aplicados os subtestes pertencentes à bateria de Visualização e Raciocínio da Leiter International Performance Scale – Revised, que fazem parte do cálculo do QI total, do QI Estimadoe da medida de Raciocínio Fluido. Os subtestes foram aplicados de acordo com cada faixa etária como mostrado na descrição da Leiter-R. Todos os subtestes apresentam critérios de início, sendo que determinadas faixas etárias iniciam em itens diferentes, mas para o presente estudo não foi utilizado este critério por se tratar de adaptação e todas as crianças iniciaram a partir do primeiro item de cada subteste. A pontuação é dada a partir do acerto a cada resposta emitida e não ao item completo, sendo assim é possível que a criança acerte duas respostas em um item de três respostas, caso ela erre apena uma. As interrupções ocorrem após erros acumulados e não consecutivos nas tarefas, assim como previsto no manual. Desta forma, os critérios de interrupção para cada subteste foram os mesmos utilizados na versão original. Os primeiros itens de cada subteste servem de treino, ou seja, o examinador pode dar dicas conforme sugeridas pelo manual até três tentativas, mas caso a criança não consiga realizar de forma independente após a terceira tentativa com dicas do avaliador, o teste é interrompido. Os itens em que cada idade tem início, os critérios de interrupção, pontuações, acréscimo de bônus, número de pranchas e cartões de estímulo variam a cada um dos 10 subtestes que serão descritos detalhadamente a seguir: 76 Figura-Fundo(Figure Ground): É o primeiro subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 2 a 20 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 6 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 10 pranchas que apresentam de dois a cinco cartões conforme aumenta o grau de dificuldade. Nesta tarefa são colocados cartões em ordem alfabética, da esquerda para a direita do examinador, centralizados entre a criança e o cavalete que contém as pranchas de estímulo. Através de dicas não-verbais, é solicitado a criança que encontre no cavalete os desenhos correspondentes aos cartões. O objetivo desta tarefa é identificar figuras iguais. Avalia discriminação, reconhecimento e retenção visual, onde são apresentados estímulos distratores. A figura alvo está sempre incluída no estímulo, mas devido à crescente complexidade deste, pode se tornar de difícil reconhecimento. A execução nesta tarefa está associada à flexibilidade cognitiva (capacidade de mudança perceptual), uma vez que a criança deverá alternar a sua atenção entre uma figura discreta e um fundo / estímulo complexo, necessitando adequar sua forma de percebê-lo. Esta tarefa requer capacidades adequadas de exploração visual, estratégia de busca eficaz e inibição por parte da criança uma vez que a impulsividade poderá resultar num apontar aleatório a formas semelhantes e impedir que a criança preste atenção aos detalhes das figuras. Também é avaliada memória visual a curto prazo, capacidade de reter uma imagem mental do cartão enquanto o procura no estímulo. As Figuras 10 e 11 mostram um exemplo de como são apresentados os estímulos a criança. Figura 10. Prancha do Item 2 do subteste 1. 77 Figura 11. Cartões A, B e C (esquerda para a direita) do item 2, subteste 1. Analogias de Desenho (Design Analogies): É o segundo subteste da Bateria VR e é aplicado a partir dos 6 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 7 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 18 pranchas que apresentam matrizes as quais devem ser completadas com um ou mais dos cartões apresentados conforme aumenta o grau de dificuldade. O objetivo é fazer analogias entre as figuras, escolhendo entre os cartões colocados na frente da criança, qual (ou quais) dele (s) é a(s) figura(s) que completa o espaço vazio da matriz no cavalete. Avalia raciocínio indutivo e habilidade vísuo-espacial nos itens de rotação mental. Este subteste requer a capacidade de formação de conceitos relacionados a espaço, abstração do desenho, conhecimento de padrões e/ou relações de posição. A criança deve selecionar uma resposta correta baseando-se nas relações percebidas entre as figuras da matriz. Avalia a capacidade de gerar regras a partir de informações parciais e de fazer suposições indutivas acerca de qual peça que irá completar o padrão. As características importantes da matriz terão de ser percebidas, pois são a base central da origem de regras e hipóteses e as relações entre o estímulo e as potenciais respostas devem ser verificadas. As crianças impulsivas têm um resultado baixo, uma vez que não analisam todas as respostas possíveis e se centram no primeiro pormenor comum (ex: cor ou forma), sem analisarem as semelhanças conceituais entre elementos. Deve darse particular atenção a preferências visuais unilaterais e posicionais, uma vez que ambas poderão interferir na execução. Uma análise exaustiva (item a item) dos erros cometidos poderá fornecer informação acerca de: erros relativos à parte ou ao todo; perseveração de padrões anteriores; performance associadas apenas a abstrações simples baseadas em uma das dimensões da progressão do padrão. Os problemas analíticos exigem capacidade de raciocínio baseado numa modalidade visuo-espacial. As Figuras 12 e 13 mostram exemplos de como são apresentados os estímulos para que se faça a correspondência. 78 Figura 12. Prancha do item 1 do subteste 2. Figura 13. Cartões correspondentes ao item 1 do subteste 2. Formas Completas (Form Completion): É o terceiro subteste da Bateria VR e é aplicado a todas as faixas etárias. Cada uma tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 7 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 15 pranchas que apresentam de 1 a 3 cartões de estímulo conforme aumenta o grau de dificuldade. Neste subteste, o indivíduo deve olhar para a figura que está desenhada em partes no cartão e apontar para a imagem completa da figura no cavalete. O objetivo é reconhecer um objeto inteiro através da apresentação de partes fragmentadas. Requer a organização de peças fragmentadas ou fora do lugar. Implica uma flexibilidade, na medida em que a criança deverá alternar a atenção entre a parte e o todo para chegar a uma solução, mediante um processo de raciocínio. Nesta alternância entre estímulo e resposta, a memória de trabalho permite a retenção quer do estímulo quer das possíveis respostas enquanto, simultaneamente, se constroem e se desfazem imagens mentalmente. Os itens mais complexos têm ainda subjacentes componentes de rotação mental. Este subteste pode demonstrar-se útil na avaliação de habilidades de organização e percepção, exigindo capacidade de síntese, exploração visual e reconhecer partes fragmentadas como um todo. O subteste é dividido em duas partes (I e II). Sendo a 79 primeira composta por desenhos e a segunda por figuras geométricas e abstratas, como exemplificadas nas Figuras 14, 15, 16 e 17. Figura 14. Prancha do item 1 do subteste 3 (Parte I) Figura 15. Cartão correspondente ao item 1 do subteste 3 (Parte I). Figura 16. Prancha do item 10, subteste 3 (Parte II). Figura 17. Cartões correspondentes ao item 10 do subteste 3 (Parte II). 80 Pareamento (Matching): É o quatro subteste da Bateria VR e é aplicado a faixa etária de 2 a 20 anos, mas entra para o cálculo do QI apenas para crianças de 2 a 5 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 5 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 12 pranchas contendo 3 cartões de estímulo. Nos primeiros 4 itens são utilizadas figuras geométricas em material de EVA ao invés de cartões. Os materiais são colocados de forma centralizada na frente do indivíduo e este deve parear os estímulos de acordo com as figuras correspondentes apresentadas no cavalete. O objetivo é fazer a correspondência entre os mesmos estímulos visuais. Avalia a discriminação e habilidade vísuo-perceptiva, orientação espacial, capacidade de fazer corresponder estímulos visuo-perceptivos sem qualquer recurso à memória. À medida que a tarefa se torna complexa, é necessária a atenção aos detalhes, uma vez que as dimensões de correspondência se tornam menores e menos proeminentes. Este subteste exige uma capacidade de exploração visual e de fazer comparações entre figuras tendo em conta diferentes estímulos, tais como o número, orientação das partes e localização das linhas das figuras. As Figuras 18 e 19 mostram um exemplo de cartões que devem ser pareados seguindo o modelo da prancha no cavalete. Figura 18. Prancha do item 2, subteste 4. Figura 19. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 4. Sequencias (Sequential Order): É o quinto subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 2 a 20 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 7 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O 81 subteste é composto por 13 pranchas que apresentam de dois a sete cartões conforme aumenta o grau de dificuldade. Os cartões colocados na frente da criança devem ser apresentados em uma determinada ordem como exemplificado no manual do avaliador. O objetivo é selecionar o(s) estímulo (s) que progridem numa determinada ordem de acordo com os desenhos apresentados no cavalete, como é mostrado nas Figuras 20 e 21. Avalia raciocínio indutivo para a capacidade de fazer progressões lógicas através de figuras. Este subteste requer uma capacidade de raciocínio não-verbal com um foco na criação de regras relacionadas a problemas de informação seriada ou sequencial. A criança deve perceber a relação entre estímulos de forma a encontrar os elementos ausentes no fim ou meio das séries apresentadas e escolher o(s) cartão(s) que completa a ordem. É avaliada a capacidade de perceber padrões sequenciais e as regras pelas quais se regem as relações entre as diferentes figuras, baseando-se nesses mesmos padrões sequenciais e induzindo conclusões tendo em conta os fatos que lhe são apresentados. Neste subteste o 'todo' é um padrão final que é induzido tendo em conta múltiplos estímulos. Figura 20. Prancha do item 2 do subteste 5. Figura 21. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 5. Padrões Repetidos (Repeated Patterns): É o sexto subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 2 a 20 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 6 erros acumulados e não necessariamente 82 consecutivos. O subteste é composto por 12 pranchas que apresentam de dois a cinco cartões conforme aumenta o grau de dificuldade, sendo que alguns cartões completam a sequencia e outros são apenas distratores. O objetivo é identificar padrões repetitivos através de figuras e completá-los seguindo a sequencia apresentada no cavalete. Avalia raciocínio indutivo. Este subteste requer a combinação das capacidades de raciocínio e sequenciação conceitual em padrões de símbolos, a criação de regras e de hipóteses através de estímulos existentes nesse mesmo padrão. É necessária a memória de trabalho para que a criança consiga reter o padrão enquanto escolhe o cartão de resposta que irá replicá-lo ou dar continuidade à seqüência, manipulando os estímulos de forma adequada. Um exemplo é apresentado nas Figuras 22 e 23. Figura 22. Prancha do item 4, subteste 6. Figura 23. Cartões correspondentes ao item 4 do subteste 6. Contexto da Figura (Picture Context): É o sétimo subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 2 a 5 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 6 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 8 pranchas que apresentam de dois a quatro cartões conforme aumenta o grau de dificuldade. Trata-se de um subteste complementar que junto com o Figura-Fundo formam o índice fatorial de Visualização Fundamental. O objetivo desta tarefa é que a criança possa associar os cartões às partes que faltam na prancha de estímulo, como mostrado nas Figuras 24 e 25. Requer o reconhecimento de objetos desaparecidos de um determinado contexto. Avalia raciocínio dedutivo com um componente visual, uma vez que é fornecida à criança uma imagem que ela terá de 83 manipular e verificar qual a parte ausente, utilizando apenas o contexto. Este subteste avalia a capacidade básica de entendimento do valor ecológico de certo estímulo, perceber semelhanças entre o estímulo e a resposta (local onde a resposta se encaixaria). Requer, ainda, exploração visual e estratégias de busca adequadas para inserir o cartão na sua correta localização (figura correspondente). Testes de organização visual e que requerem o completar de partes desaparecidas são menos afetados por disfunções cerebrais dado que o conteúdo visto é identificável de uma forma estruturada e não distorcida. Como tal, a incapacidade de completar esta tarefa está associada a uma desordem significativa da organização perceptiva. Figura 24. Prancha do item 2, subteste 7. Figura 25. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 7. Classificação (Classification): É o oitavo subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 2 a 5 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 5 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 11 pranchas que apresentam de um a dois cartões conforme aumenta o grau de dificuldade. Nesta tarefa, o objetivo é parear estímulos que estão associados, envolvendo a categorização de objetos, desenhos geométricos ou figuras abstratas. Requer a capacidade de abstração, exigindo o reconhecimento de categorias e a capacidade de 84 discriminar semelhanças visuais. Este subteste avalia a habilidade da criança em alternar conceitos e usá-los de forma adequada. A forma como a criança realiza a tarefa e os processos que utiliza fornecem pistas de como ela se adapta a tarefas abstratas. As relações entre os objetos são induzidas pelo conceito que a criança tem deles ou por elementos das próprias figuras. A criança terá de perceber qual o elemento em questão, atribuir-lhe um significado e conceitualizar quais as características importantes que são partilhadas pelo estímulo e pela resposta. Em um nível superior é pedido à criança que se liberte dos detalhes visuais e crie regras que determinem quais as características que são similares entre estímulo e cartões de resposta. As Figuras 26 e 27 mostram um exemplo de prancha e cartão o qual deve ser associado a uma das figuras. Figura 26. Prancha do item 4, subteste 8. Figura 27. Cartão correspondente ao item 4 do subteste 8. Dobra de Papel (Paper Folding): É o nono subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 6 a 20 anos. Cada faixa etária tem início em um item correspondente e o teste é interrompido após 6 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 12 pranchas que apresentam de um ou dois cartões conforme aumenta o grau de dificuldade. O objetivo é dobrar ou desdobrar mentalmente um objeto bidimensional que é apresentado no cartão e fazer a corresponder a um alvo no cavalete como no exemplo apresentado pelas Figuras 28 e 29. Avalia habilidade vísuo-espacial combinada com raciocínio indutivo e dedutivo. A criança deve escolher uma resposta que represente um determinado objeto caso este estivesse dobrado. Para que o consiga, tem de 85 ser flexível o suficiente para comparar informações provenientes de dois momentos distintos (antes e após a dobra ser feita) e prestar atenção à relação entre o todo e a parte. A criança pode partir do todo e deduzir as partes ou através das partes, induzir o todo. Na maioria das vezes faz as duas coisas, comparando-as depois para ver se são similares. Ressaltando que, a criança não possui nem todas as partes, nem o todo, existindo aspectos 'omissos' que têm de ser assumidos de uma forma lógica e sensata. Um processo iterativo de construção/ desconstrução terá de ser acompanhado por manipulações de orientação espacial, rotação mental e raciocínio. Testes que implicam transformação espacial tal como rotação, inversão ou alternância tridimensional são sensíveis a várias desordens neurológicas. Figura 28. Prancha do item 2, subteste 9. Figura 29. Cartões correspondentes ao item 2 do subteste 9. Rotação de Figura (Figure Rotation): É o décimo e último subteste da Bateria VR e é aplicado na faixa etária de 11 a 20 anos. Todas as faixas etárias iniciam no primeiro item e o teste é interrompido após 7 erros acumulados e não necessariamente consecutivos. O subteste é composto por 14 pranchas que apresentam um cartão cada para ser pareado com a figura na prancha que representa sua forma rotacionada. Avalia habilidade espacial com capacidade para realizar rotação mental em duas ou três dimensões de figuras geométricas. 86 Este subteste avalia a capacidade da criança para perceber posições relativas, tamanhos, e ângulos de figuras que sofrem uma rotação espacial. Existem percepções visuo-espaciais que estão relacionadas com a capacidade construtiva. O processo de resposta é, na maioria das vezes, dedutivo porque a criança começa pelo todo (figura do cartão de resposta que não sofreu rotação) e depois a compara com as possíveis respostas na prancha, que terão de ser desconstruídas, fragmentadas mentalmente até achar a resposta correta. Exemplo de prancha e cartão é apresentado nas Figuras 30 e 31. Figura 30. Prancha do item 1, subteste 10. Figura 31. Cartão correspondente ao item 1 do subteste 10. 4.3. – Procedimento A fim de garantir uma maior adequação do processo de adaptação de um instrumento já existente, em primeiro lugar, a autora deste trabalho fez um treinamento de aplicação e correção da Leiter-R da seguinte forma: realização de um curso online com instrutores da Universidade do Minho de Portugal que forneceram materiais relacionados aos aspectos gerais do instrumento, apresentação das Baterias que o compõe e 87 interpretações a partir de estudos de casos clínicos; treinamento prático dado por profissional experiente na utilização da Leiter-R para avaliação de indivíduos com distúrbios do desenvolvimento. Após esta etapa, iniciou-se a tradução das instruções contidas nos cavaletes de aplicação para os dez subtestes da Bateria de Raciocínio e Visualização da Leiter International Performance Scale- Revised. A versão em português foi traduzida por um especialista em tradução e, posteriormente, três psicólogos especialistas em testagem psicológica verificaram a adequação do conteúdo, forma e clareza das instruções. Assim, as adaptações necessárias à tradução do instrumento foram feitas com base na análise e julgamento da tradução feita por estes profissionais. Com relação a forma, foram dadas sugestões em relação à padronização de forma geral como a descrição dos critérios de interrupção, forma de apresentação dos estímulos e como fornecer auxílio nos itens de treino para melhor entendimento do avaliador. Já com relação ao conteúdo dos estímulos apresentados não foram sugeridas alterações a priori, pois as figuras, desenhos e formas do teste estão presentes na cultura brasileira. Além disso, foram realizadas modificações nas instruções a partir das sugestões dos profissionais. Em seguida, a versão atualizada foi enviada a um quarto profissional com experiência em avaliação psicológica para verificar se alterações realizadas estavam coerentes e adequadas a fim de obter a versão final da tradução. Após esta etapa, o projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CEP/UPM nº 1150/06/2009 e CAAE nº 0048.0.272.000-09 – Apêndice A). Em seguira, foi feito o contato com as escolas, para solicitação da autorização dos responsáveis pela instituição (Apêndice B) e agendamento de reuniões com as famílias para entrega dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C) aos responsáveis pelas crianças para consentir a participação na pesquisa. Foram realizadas 3 sessões de avaliação para cada criança. As sessões foram individuais, a fim de garantir que a criança compreendesse corretamente as instruções e que as respostas pudessem ser registradas com precisão. Na primeira sessão, a Leiter-R foi aplicada de forma individual, com duração de 30 minutos com cada criança. Na segunda sessão foi aplicada a Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC), com duração média de 15 minutos. Na 3ª sessão, o Teste de Matrizes Progressivas Coloridas de Raven 88 (MPCR) foi aplicado para crianças a partir de 5 anos. O intervalo entre uma sessão e outra foi de três semanas, no máximo, para cada criança. A coleta de dados ocorreu nas escolas, durante o período de aula entre setembro de 2009 a junho de 2010. A aplicação da Leiter-R foi feita pela autora desta dissertação. Os demais instrumentos foram aplicados com o auxílio de três alunas de graduação em psicologia após receberem treinamento prévio de aplicação e correção dos testes. Para avaliar a fidedignidade do instrumento foi realizada a correlação entre os escores obtidos no teste-reteste (ou estabilidade), método das metades (split-half) calculando-se a estimativa do coeficiente de Spearman-Brown e consistência interna por Alfa de Cronbach. Já para a medida de estabilidade, 15 crianças da faixa etária entre 4 e 6 anos, de ambos os sexos, escolhidas de forma aleatória por sorteio, realizaram o re-teste da Leiter-R em um intervalo de 1 mês entre a primeira e a segunda aplicação (Anastasi e Urbina, 2000 Para verificar evidências de validade do instrumento foram conduzidas: análises de mudanças ao longo do desenvolvimento, verificando se os escores aumentam com a idade. Também foi realizada análise de variância para critérios externos como sexo, série escolar e tempo de escolarização Com objetivo de verificar evidências de validade convergente com outros instrumentos, foram conduzidas análises de Correlação de Pearson dos escores obtidos na Leiter-R com os escores obtidos nas Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e Escala de Maturidade Mental Columbia. O programa SPSS® 17. for Windows (SPSS Inc) foi utilizado para realização das análises quantitativas. O nível de significância adotado foi de 5% para todos os testes. 89 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Dados gerais da amostra Inicialmente são apresentados os resultados obtidos a partir da aplicação dos instrumentos a todos os participantes. Isto possibilita a análise dos dois testes complementares, bem como dos 8 subtestes da Leiter-R. A tabela 22 apresenta a pontuação bruta de todos os participantes na Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC), Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), e nos 8 subtestes da Leiter-R: FiguraFundo (FF), Analogias de Desenho (AD), Formas Completas (FC), Pareamento (PA), Sequencias (SE), Padrões Repetidos (PR), Classificação (CL) e Dobra de Papel (DP). Tabela 22: Estatísticas descritivas da amostra geral para a EMMC, MPCR, subtestes da Leiter-R. Testes e Subtestes N Média DP Mínimo Máximo Itens no Porcentagem teste de acertos EMMC 242 27,36 9,82 14 62 * * MPCR 144 14,38 3,83 6 25 36 40 FF 244 12,66 3,70 5 24 31 41 AD 54 4,22 2,31 0 11 38 11 CF 244 18,80 4,64 6 32 36 52 PA 190 27,06 4,58 5 33 35 77 SE 244 8,16 3,46 0 28 47 17 PR 244 9,22 4,43 0 22 27 34 CL 190 14,79 3,01 6 20 20 74 DP 54 3,81 1,71 0 9 26 15 *Cada faixa etária pode ter uma pontuação máxima específica aos critérios de padronização do instrumento. Observa-se variação no número de sujeitos que responderam a cada subteste da Leiter-R. Isto se deve ao fato das escalas não serem aplicadas a todas as faixas etárias, pois alguns subtestes são exclusivos para crianças de 2 a 5 anos, outros de 6 a 10 e, por fim, outros para adolescentes de 11 a 20 anos. Além disso, nem todos os sujeitos foram 90 avaliados pelos três instrumentos devido às faltas escolares sucessivas nos dias de coleta de dados. Dentre os 8 subtestes da Leiter-R que foram aplicados neste estudo, pode ser observado que os melhores desempenhos foram em Pareamento (PA) e Classificação (CL), com 77% e 74% de acertos, respectivamente. Estes dois subtestes exigem reconhecimento de estímulos visuais semelhantes como cores, formas, desenhos abstratos e categorização de elementos. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009) entre os 18 e 30 meses, o nível de desenvolvimento cognitivo da criança permite que ela consiga formar conceitos e categorias, tal como exigido nas duas tarefas citadas. Sendo assim, é esperado que a partir dos 3 anos de idade (36 meses), as crianças consigam apresentar bons desempenhos, pelo menos no que diz respeito à complexidade exigida em cada faixa etária. É necessário considerar que estes subtestes são aplicados para a faixa etária de 2 a 5 anos, sendo que o subteste de Pareamento pode ser aplicado a idades mais avançadas apenas como prova complementar. Tais resultados sugerem que estes subtestes avaliam habilidades mais simples, desenvolvidas nos primeiros anos de vida. Por outro lado, crianças maiores com nível de inteligência na média, apresentam efeito teto e, por isso, tais subtestes não seriam representativos da inteligência a partir dos 6 anos. As menores porcentagens de acertors foram observadas nos subtestes Analogias de Desenhos (AD) e Dobra de Papel (DP). Tais índices se encontram dentro do que era esperado, já que foram realizados por crianças de 6 anos de idade, ou seja, primeiro grupo etário a responder estas tarefas. Sendo assim, é esperado que consigam responder aos itens mais simples. Estas tarefas envolvem habilidades de raciocinar analogicamente e manipulação mental de imagens através de raciocínio vísuo-espacial (Roid e Miller, 1977). Com relação à capacidade de fazer analogias, Raven (1993, apud Angelini e cols, 1999) distingue pelo menos cinco etapas do seu desenvolvimento: primeiro as crianças são capazes de distinguir figuras idênticas de figuras diferentes e depois figuras similares de figuras diferentes; algum tempo depois elas conseguem perceber a orientação de uma figura em relação a elas mesmas e a outros objetos no campo perceptivo; em seguida elas conseguem comparar mudanças análogas nos caracteres percebidos e adotar este como um método lógico de raciocínio; posteriormente são capazes de analisar o todo percebido em seus elementos constituintes e distinguir entre o que é dado e o que elas mesmas contribuem; por fim, são capazes de apreender duas ou mais figuras discretas como formando um todo ou uma entidade individual organizada. Já o subteste DP, exige 91 capacidades específicas relacionadas ao processamento visual (Gv) descritas por McGrew (2004, 2009) como habilidades de relações espaciais para perceber e manipular mentalmente estímulos visuais. Estes subtestes são aplicados a partir dos 6 anos, pois dados de análise fatorial apontam que ambos aparacem como um fator de visualização espacial somente para crianças a partir desta faixa etária. 5.2. Coeficientes de Fidedignidade A busca por evidências de fidedignidade é necessária pois reflete a consistência dos escores. Sendo assim, primeiramente foram verificadas medidas de consistência interna através do Coeficiente Alfa. Esta medida leva em conta a correlação entre os itens, ou seja, a correlação entre o desempenho em todos os itens de um teste. Os coeficientes obtidos encontram-se descritos na Tabela 23. Tabela 23. Valores de Alfa de Cronbach dos subtestes da Leiter-R em relação à amostra geral e por faixa etária Subtestes Figura-Fundo Geral 0,81 3 0,67 4 0,75 5 0,69 6 0,79 Analogias 0,69* - - - 0,69 Formas Completas 0,85 0,85 0,83 0,77 0,84 Pareamento 0,83 0,86 0,68 0,82 - Sequencias 0,81 0,51 0,71 0,70 0,87 Padrões Repetidos 0,86 0,80 0,83 0,84 0,86 Classificação 0,79 0,75 0,78 0,59 - Dobra de Papel 0,58* - - - 0,58 É comum em testes psicométricos a utilização de medidas de fidedignidade que representam a amostra como um todo, como apresentado na segunda coluna (Geral) da Tabela 23. Entretanto, para estimar coeficientes de fidedignidade, é recomendável fracionar a amostra em subgrupos mais homogêneos como idade e série e relatar coeficientes separados para cada grupo (Urbina 2007). Ao analisarmos os valores de Alfa de Cronbach na amostra geral, para todos os subtestes as medidas se encontram adequadas, com exceção do subteste Analogias de Desenho e Dobra de Papel. Porém, vale ressaltar que estes valores se referem a 54 crianças na faixa etária de 6 anos. No grupo de 3 anos, todos os subtestes apresentaram valores aceitáveis pelo CFP, com exceção do subteste Sequencias que apresentou um coeficiente 92 abaixo do valor mínimo aceitável de 0,60. No grupo de 4 anos, todos os valores do Coeficiente Alfa foram satisfatórios. Para crianças de 5 anos, o subteste Classificação não mostrou boa adequação da consistência interna. Como medida de estabilidade foram realizadas correlações de Pearson entre a primeira e a segunda aplicação da Leiter-R em 45 crianças entre 4 e 6 anos de idade. Os valores de Correlação de Pearson e de significância são apresentados na Tabela 24. Tabela 24: Coeficientes de correlação de Pearson (r) e valores p para o teste-reteste. Subtestes Figura-Fundo Média 1 13,22 Média 2 14,28 Teste-Resteste (r) 0,60** p 0,00 Analogias 4,86 5,00 0,63* 0,01 Formas Completas 19,91 20,51 0,38** 0,00 Pareamento 26,83 28,10 0,04 0,83 Sequencias 8,95 8,57 0,06 0,68 Padrões Repetidos 9,37 9,17 0,60** 0,00 Classificação 14,80 15,56 0,31 0,09 Dobra de Papel 3,73 4,66 0,73** 0,00 QI Estimado 51,46 52,55 0,64** 0,00 QI Total (6 anos) 67,87 68,40 0,64* 0,01 QI Total (3 a 5 anos) 89,20 93,13 0,38* 0,03 * Correlação é significativa ao nível de 0,05 ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 Os valores de correlação de Pearson mostram que relações positivas e moderadas entre as médias da primeira e segunda aplicação foram observadas nos subtestes FiguraFundo, Analogias de Desenho, Formas Completas, Padrões Repetidos e Dobra de Papel. Pareamento, Ordem Sequencial e Classificação apresentaram correlações positivas porém de baixa magnitude. De acordo com Urbina (2007), a estabilidade pode ser vista como um índice do grau em que os escores pode flutuar como resultado de erro de amostragem de tempo. Se comparadas às correlações obtidas neste estudo com aquelas as da amostra original apresentadas na Tabela 11, verificam-se valores menores na presente amostra. Isto pode ser atribuído a quantidade reduzida de sujeitos para o reteste e o aumento da amostra em termos de maiores faixas etárias permitiria a divisão em subgrupos para as análises de correlação como feitos originalmente. 93 Segundo Cozby (2003) espera-se que a inteligência seja uma variável constante no tempo e por isso, procedimentos de teste-reteste podem ser utilizados para verificar a estabilidade deste construto. No entanto, Urbina (2007), aponta que a administração do mesmo teste duas vezes costuma envolver problemas teóricos e práticos que dificultam este curso de ação. Para esta autora existem muitos fatores que podem afetar de modo diferente os escores de teste derivados de um grupo de pessoas em dias e ocasiões diferentes. Se o intervalo for curo, por exemplo, os testandos podem se lembrar da reposta que deram na primeira ocasião. Por outro lado, se o intervalo for longo demais há possibilidade de experiências intervenientes afetarem os escores na segunda avaliação. Sendo assim, método das metades no qual se administra uma única vez o teste a um grupo de indivíduos e cria-se dois escores para cada um, dividindo o teste pela metade é uma forma alternativa de avaliar a fidedignidade dos escores (Urbina, 2007). A Tabela 25 apresenta as correlações entre as duas metades e os coeficientes de Spearman-Brown derivados das correlações obtidas. Tabela 25: Método das Metades para cada subteste da Leiter-R. Subtestes Correlação entre as duas Formas 0,74 Coeficiente de Spearman-Brown 0,85 Analogias de Desenho 0,61 0,76 Formas Completas 0,80 0,89 Pareamento 0,74 0,85 Sequencias 0,84 0,91 Padrões Repetidos 0,90 0,94 Classificação 0,73 0,84 Dobra de Papel 0,52 0,69 Figura-Fundo Como pode ser observado, os Coeficientes de Spearman-Brown obtidos através da correlação entre as duas metades de cada subteste mostraram-se satisfatórios com valores acima de 0,69. Valores obtidos através de Método das Metades permitem estimar erros cuja fonte está relacionada ao conteúdo. De acordo com Urbina (2007), quanto mais alto for o coeficiente, mais indícios a favor da homogeneidade dos itens que o compõem. Sumariando os achados relacionados à fidedignidade do instrumento, pode-se observar que os valores obtidos pelo Coeficiente de Spearman-Brown é maior em relação ao Coeficiente Alfa de Cronbach em todos os subtestes. Estes achados também são 94 observados em outros instrumentos que avaliam inteligência não-verbal como no caso do Toni 3- forma A (Sisto, Noronha e Santos, 2006). Segundo Urbina (2007) medidas de consistência interna representam uma estimativa combinada do erro de amostragem de conteúdo, bem como da sua heterogeneidade. Caso um teste seja altamente homogêneo, maiores valores do Coeficiente de Spearman Brown são observados em relação aos valores dos coeficientes de consistência interna. Sendo esta premissa observada nos valores de coeficiente Alfa e Método das Metades no presente estudo, pressupõe-se que a Leiter-R apresenta homogeneidade dos itens no que tange as habilidades avaliadas pelo instrumento. Optou-se por verificar as evidências de fidedignidade da Leiter-R através de três medidas distintas devido ao fato de que a precisão de qualquer mensuração, principalmente de escores de testes psicológicos, não é absoluta nem imutável. Existem diversas fontes de erro de mensuração que influenciam os escores de teste, tais como amostragem de tempo, amostragem de conteúdo e inconsistências entre os itens, dentre outras (Urbina, 2007). Para estas três fontes de erro citadas, coeficientes de establidade, método das metades e Alfa de Cronbach são medidas apropriadas para estimá-las. Isto corrobora as diretrizes dos Padrões de Testagem (Aera, Apa e Ncme, 1999) sobre a necessidade de considerar, estimar e relatar as possíveis fontes de erro na mensuração e o grau em que estas influenciam o uso específico de um teste. 5.3. Evidências de Validade por Mudanças Desenvolvimentais A fim de compreender melhor o desempenho dos participantes em cada um dos testes, bem como dos subtestes da Leiter-R, novas análises estatísticas foram conduzidas. Assim, para análises inferenciais foram verificados os pressupostos subjacentes à utilização de testes paramétricos de acordo com Dancey e Reidy (2006): normalidade da distribuição dos dados, homogeneidade das variâncias e exclusão de casos outliers. Análises dos boxplots por grupo etário e série escolar mostraram sujeitos que obtiveram valores extremos em cada subteste e, por serem outliers, foram excluídos da amostra para a realização das análises. A identificação dos outliers foi feita para cada subteste, a fim de serem excluídos da análise, no entanto, o fato de uma criança ser excluída em um subteste, não pressupõe sua exclusão de outras análises. Posteriormente, a normalidade da distribuição dos dados foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov Z para o 95 desempenho na EMMC, na MPCR e nos subtestes da Leiter-R. Este tipo de análise compara a distribuição cumulativa observada com uma distribuição teórica normal. Em seguida foi realizado o teste de Levene com o objetivo de verificar a homogeneidade das variâncias. O critério adotado para distribuição normal e homogeneidade das variâncias são valores de significância (p) acima de 0,05. As análises foram realizadas de acordo com os diferentes grupos etários, séries escolares, tempo de escolarização e gênero. Nas estatísticas descritivas são apresentados valores de Média, Desvio Padrão, Mínimo e Máximo da amostra bem como média da porcentagem de acertos. Já nas estatísticas inferenciais foram utilizados testes de comparação de médias, análises de variância e correlações dos desempenhos entre os grupos. As tabelas onde são apresentadas as estatísticas descritivas constam os valores com a exclusão prévia dos outliers e as inferenciais foram feitas com base nestes dados. A seguir serão apresentados os dados referentes à EMMC e MPCR. Embora o objetivo deste trabalho não seja pormenorizar as análises referentes a EMMC e MPCR, estas serão apresentadas afim de verificar a relação dos desempenhos com critérios externos assim como realizados nos subtestes da Leiter-R, pois se pretende correlacionar os dados entre os instrumentos. Posteriormente serão apresentadas as análises referentes aos subtestes da Leiter-R na sequencia de aplicação como é estabelecido pelos critérios de padronização para crianças de 2 a 5 anos: Figura-Fundo (FF), Formas Completas (FC), Pareamento (PA), Sequencias (SE), Padrões Repetidos (PR) e Classificação (CL). Para as crianças da faixa etária de 6 anos forma aplicados: : Figura-Fundo (FF), Analogias de Desenhos (AD), Formas Completas (FC), Sequencias (SE), Padrões Repetidos (PR) e Dobra de Papel (DP). 5.3.1.Escala de Maturidade Mental Columbia: análise por idade e série escolar A Tabela 26 apresenta os valores de Kolmogorov-Smirnov para cada faixa etária e teste de Levene, bem como as significâncias (p) de cada um referente ao desempenho na Escala de Maturidade Mental Columbia (EMMC). Os valores de significância acima de 0,05 de Kolmogorov-Smirnov indicam normalidade da distribuição dos dados referentes aos 4 grupos etários. Da mesma forma, o Teste de Levene mostra que há homogeneidade das variâncias e por isso justifica-se a utilização de análises por testes paramétricos na EMMC. 96 Tabela 26. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para EMMC. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 0,690 0,727 4 0,896 0,399 5 1,036 0,234 6 0,654 0,800 Levene (p) 1,758 0,156 A Tabela 27 apresenta as estatísticas descritivas dos grupos etários na EMMC. Não foram apresentadas médias de acerto em porcentagem por faixa etária devido ao fato de que cada grupo responde a uma quantidade de itens específica. Devido a essa diferença, para as crianças de 5 e 6 anos foram dados pontos de acréscimo referentes aos primeiros itens que não são respondidos por este grupo. Sendo assim, as estatísticas descritivas e análises inferenciais foram realizadas com base nos pontos brutos da EMMC. Observa-se que a média na pontuação obtida na EMMC reflete tendências desenvolvimentais, pois há um aumento no escore obtido conforme o aumento da idade. Tabela 27: Estatísticas Descritivas da EMMC em função dos grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo 3 28 27,00 6,98 15 42 4 70 32,53 6,50 16 44 5 83 39,10 7,58 16 54 6 54 46,19 8,10 33 62 A fim de verificar se as diferenças observadas apresentam significância, foram realizadas análises inferenciais. ANOVA dos escores totais da EMMC entre os grupos etários mostrou diferença entre as idades [(F(3,231)=56,31; p<0,001]. Análises Post Hoc por 97 comparação de pares de Bonferroni mostraram diferenças significativas entre todas as faixas etárias como apresentado na Tabela 28. Tabela 28: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade na EMMC. Idade (i) 3 4 5 6 Idade (j) 4 5 6 3 5 6 3 4 6 3 4 5 Diferença de Média (I-J) -5,771 -12,726 -19,185 5,771 -6,955 -13,414 12,726 6,955 -6,459 19,185 13,414 6,459 Erro Padrão 1,560 1,522 1,625 1,560 1,129 1,264 1,522 1,129 1,217 1,625 1,264 1,217 p 0,002 0,000 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Embora tenha sido observada tendência desenvolvimental por idade é possível que tais habilidades se manifestem em forma de diferenças no desempenho entre as séries escolares. A Tabela 29 apresenta os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene da EMMC em relação às séries escolares na EMMC. Os valores de significância para KolmogorovSmirnov e Teste de Levene sinalizam a normalidade da distribuição dos dados e homogeneidade das variâncias no que tange ao desempenho dos grupos em função das séries escolares na EMMC. Tabela 29: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para EMMC. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 0,729 0,662 2 0,864 0,444 3 0,962 0,313 Levene (p) 0,744 0,476 A seguir são apresentadas as estatísticas descritivas da EMMC em função do desempenho entre as séries escolares. Para crianças pertencentes ao Estágio 1, somente aquelas acima dos 3,5 anos realizaram o teste devido aos critérios de padronização do 98 mesmo. O mesmo pôde ser observado quando o desempenho foi comparado entre as séries. Houve um aumento na média da pontuação bruta conforme o estágio. A Tabela 30 apresenta as estatísticas descritivas da EMMC em função das séries escolares. Tabela 30: Estatísticas Descritivas da EMMC em função das séries escolares. Série (estágio) N Média DP Mínimo Máximo 1 61 29,66 7,81 14 44 2 84 35,23 7,28 17 51 3 94 44,27 7,52 26 62 ANOVA dos escores totais da EMMC entre as séries mostrou diferença significativa entre os grupos [F(2,236)=75,07; p<0,001]. Análises Post Hoc por comparação de pares de Bonferroni mostraram diferenças significativas entre todas as séries como pode ser verificado na Tabela 31. Tabela 31: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série na EMMC. Série (i) 1 2 3 Série (j) 2 3 1 3 1 2 Diferença de Média (i-j) -5,281 -14,113 5,281 -8,832 14,113 8,832 Erro Padrão 1,252 1,221 1,252 1,107 1,221 1,107 p 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Em suma, o desempenho dos participantes na EMMC foi sensível à idade, bem como a série escolar. Alves (1998) aponta que há um aumento na média de pontos na EMMC em função da idade embora não são relatados estudos de validade por análise de variância na amostra brasileira e na amostra americana. No entanto, as tabelas normativas mostram que com o aumento da idade, as crianças são capazes de apresentar pontuações brutas maiores em relação às faixas etárias precedentes. Além disso, Alves e Duarte (2001) apontam que diferenças significativas em função da idade podem ser verificadas em crianças que apresentam 6 meses de diferença na idade e por isso os grupos forma compostos deta forma para a normatização. 99 Alves e Duarte (2001) apresentam estudos não publicados, relacionados à EMMC. Um estudo feito com 130 crianças entre 5 a 9 anos de idade verificou diferenças significativas nas médias em função da idade, indicando que a EMMC apresenta tendências desenvolvimentais. No entanto, não são descritos os valores obtidos neste estudo. Outra pesquisa também não publicada comparou 200 crianças da cidade do Rio de Janeiro no desempenho na EMMC entre crianças de 5 e 9 anos de idade. Os resultados encontrados revelaram um aumento progressivo nas médias com a idade. Ainda neste estudo foi verificado que o desvio padrão mostrou uma tendência de decréscimo conforme a progressão das idades indicando que os resultados se tornam mais homogêneos com o desenvolvimento. O mesmo padrão não foi observado no presente estudo pois de acordo com os dados apresentados na Tabela 27, o desvio padrão tende a aumentar conforme a idade. Outra variável importante na avaliação de inteligência é o nível de escolaridade (Alves 1998). Entretanto, não são apresentados estudos que mostram diferenças em relação ao grau de escolaridade na EMMC como observado no presente estudo. Por fim, as diferenças obtidas entre todos os grupos etários bem como entre as séries escolares mostram que a capacidade de raciocínio geral baseada na manipulação de conceitos expressos em forma geométrica ou pictórica são sensíveis ao desenvolvimento maturacional e estimulação ambiental. Assim, habilidades como relacionar idéias, induzir conceitos abstratos e compreender relações aumentam com a idade e a série, pois os resultados revelam desempenhos diferentes em cada faixa etária e estágio no qual a criança está inserida. 5.3.2. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: análise por idade e série escolar. As Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) foram aplicadas a crianças de 5 e 6 anos pertencentes ao 2º e 3º estágios escolares. A Tabela 32 apresenta os valores de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene. Os valores de Kolmogorov-Smirnov para cada faixa etária mostraram distribuição normal dos dados em relação à MPCR. Entretanto, o teste de Levene não indicou homogeneidade das variâncias. 100 Tabela 32. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para MPCR. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 5 1,018 0,251 6 0,592 0,874 Levene (p) 3,976 0,048 A Tabela 33 apresenta as estatísticas descritivas do desempenho na MPCR em função da idade. É observado um aumento nas médias em relação à idade na MPCR. Tabela 33: Estatísticas Descritivas da MPCR em função dos grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo 5 89 13,56 3,25 7 22 Porcentagem de Acertos 37,66 6 54 15,54 4,23 6 25 43,16 Devido a não homogeneidade das variâncias entre as idades na MPCR, foi utilizado o teste Mann-Whitney para comparar o desempenho na MPCR entre os grupos. Na Tabela 34 são apresentadas as estatísticas obtidas através do Teste Mann-Whitney de comparação do desempenho em função da idade na MPCR. São apresentados valores da diferença por Teste Mann-Whitney (U), Wilcoxon (W), tamanho do efeito (Z) e significância (p). De acordo com os dados obtidos pelo Teste Mann-Whitney, pôde ser observado o efeito da idade na MPCR com U=1651,500 e p<0,001. Tabela 34: Teste Mann-Whitney para efeito da idade na MPCR. Idade Posto Médio U W Z p 5 63,27 1651,500 5567,500 -3,200 0,001 6 85,97 A Tabela 35 apresenta os valores de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene em função das séries escolares nas MPCR. Os valores de Kolmogorov-Smirnov revelam distribuição normal dos dados em função da série do desempenho na MPCR. Entretanto o Teste de Levene não indicou homogeneidade das variâncias. 101 Tabela 35. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para MPCR. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 2 1,199 0,113 3 0,875 0,428 Levene (p) 5,698 0,018 Acerca das estatísticas descritivas apresentadas na Tabela 36, é verificado que médias por série escolar assim como nos grupos etários são diferentes no sentido de que maiores pontuações são observadas no desempenho do 3º Estágio em relação ao 2º. Tabela 36: Estatísticas Descritivas da MPCR em função das séries escolares. Série (estágio) 2 N Média DP Mínimo Máximo 45 12,78 2,73 7 18 Porcentagem de acertos 35,50 3 96 14,85 3,85 6 24 41,25 A Tabela 37 mostra os valores obtidos via Teste Mann-Whitney de amostras independentes para comparação do desempenho entre o 2º e 3º estágios na MPCR. Teste Mann-Whitney relevou diferenças entres os escores obtidos na MPCR entre as séries, U=1609,00, sendo significativa ao nível de p=0,004. Tabela 37: Teste Mann-Whitney para efeito da série na MPCR. Série Posto Médio U W Z p 2 58,23 1609,00 2737,00 -2,866 0,004 3 74,41 Em suma, os resultados mostram aumento no desempenho em função da idade e séries escolares nas MPCR. As médias encontradas para idade são semelhantes àquelas descritas no manual de normatização para a o Brasil, em que crianças de 5 anos apresentam desempenho médio de 13,1 e crianças de 6 anos, 15,0. O mesmo é observado com relação 102 ao desvio padrão que para ambas as idades nos dados normativos apresenta um valor de 3,3 (Angelini e cols, 1999). Os autores deste teste (Raven, Raven e Court,1993) apontam que de fato há diferenças no desempenho entre crianças de 5 e 6 anos. Para eles, aos 5 anos a criança escolhe uma das alternativas se esta apresenta um aspecto que completa a matriz em uma única direção. Já aos 6 anos a criança pode ser capaz de selecionar uma figura que completa o modelo corretamente mesmo quando a figura a ser selecionada é diferente de qualquer parte do desenho a ser completado. O manual não trás informações a cerca de análises por escolaridade separadamente, mas apenas para a interação deste fator com outras variáveis como idade, tipo de escola e sexo. Porém optou-se por este tipo de análise pois em muitos estudos a escolaridade tem se mostrado com um fator importante que explica a variância no desempenho entre grupos (Almeida e cols, 2008b). Os resultados mostraram que além da idade, o nível de estimulação ambiental medido pela variável série escolar também influencia no desempenho de tarefas que demandam a capacidade edutiva. Raven e colaboradores (1993) apontam que o desenvolvimento da capacidade edutiva, ou seja, do processo de eduzir ou extarir novos insights e informações daquilo que já é percebido ou conhecido pode ser estimulado através de práticas educacionais que objetivem a resolução de problemas. Estes autores ressaltam que estudos destinados ao ensino explícito das estratégias que se presume serem necessárias para a resolução de matrizes mostram efeito nas pontuações dos testes. Entretanto ainda não está claro o quanto de fato as estratégias educacionais podem aumentar fundamentalmente a capacidade edutiva. 5.3.3. Figura-Fundo da Leiter-R: análise por idade e série escolar Primeiramente são apresentados na Tabela 38 os valores de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene para o subteste Figura-Fundo (FF) de acordo com os grupos etários. Valores de significância para Kolmogorov-Smirnov indicam a normalidade da distribuição dos dados em todas as faixas etárias no que tange ao desempenho no subteste FF. Já a significância obtida pelo Teste de Levene mostra que não há homogeneidade nas variâncias. 103 Tabela 38. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Figura-Fundo. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 1,091 0,185 4 0,951 0,326 5 1,208 0,108 6 0,704 0,705 Levene (p) 2,982 0,032 Nas estatísticas descritivas apresentadas na Tabela 39, pode ser observado que há um aumento na média obtida no FF conforme aumento das idades. Entretanto, foram observadas as mesmas variações na pontuação para crianças de 4 e 5 anos de idade. Além disso, crianças com 5 anos de idade apresentaram valor alto para o desvio padrão indicando maior heterogeneidade de desempenho nesta faixa etária em relação às outras. Tabela 39: Estatísticas descritivas para o subteste Figura-Fundo de acordo com os grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo 3 33 8,97 1,91 5 13 Porcentagem de acertos 28,93 4 72 10,90 3,01 6 19 35,16 5 84 13,86 12,85 6 19 44,70 6 51 14,98 3,31 7 21 48,32 Devido a não homogeneidade das variâncias revelada pelo Teste de Levene, optouse pela análise de variância Kruskal-Wallis para verificar a diferença entre os grupos etários no subteste FF. A Tabela 40 apresenta os valores obtidos pela análise de variância Kruskal-Wallis no FF em função das idades. Os Postos Médios obtidos pela análise Kruskal-Wallis indicam crescimento dos pontos em função da idade, exceto para crianças de 5 anos. Assim, crianças de 5 anos obtiveram Posto Médio de 10 pontos acima do valor do Posto Médio das crianças de 6 anos, que foi de 136,80. 104 Tabela 40: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Figura-Fundo. Idades Posto Médio X2 gl p 3 48,91 95,502 3 0,000 4 78,72 5 147,49 6 136,80 Com relação às séries escolares, primeiramente são apresentados na Tabela 41 os valores de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene para o subteste Figura-Fundo (FF) de acordo com as séries escolares. De acordo com os valores obtidos nestas duas condições pode-se observar que os pressupostos subjacentes a utilização de testes paramétricos só formam preenchidos para os 2º e 3º estágios, não havendo distribuição normal dos dados no 1º estágio. Da mesma forma, o Teste de Levene não apontou para homogeneidade das variâncias. Tabela 41: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Figura-Fundo. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 1,440 0,032 2 1,265 0,081 3 1,040 0,229 Levene (p) 5,354 0,005 Na Tabela 42 são apresentadas as estatísticas descritivas para o desempenho no FF de acordo com as séries escolares. 105 Tabela 42: Estatísticas descritivas para o subteste Figura-Fundo em função das séries escolares. Série (estágio) 1 N Média DP Mínimo Máximo 58 9,64 2,10 6 14 Porcentagem de acertos 31,09 2 87 11,89 3,07 6 19 38,35 3 90 14,92 2,99 7 21 48,12 A fim de verificar a variância estatística dos desempenhos obtidos em função das séries escolares, foi realizado o teste de Kruskal-Wallis. Tais dados são apresentados na Tabela 43. A análise de Kruskal-Wallis revelou diferença significativa de desempenho no subteste FF com a progressão das séries escolares. Tabela 43: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Figura-Fundo. Série Posto Médio X2 gl p 1 60,39 87,259 2 0,000 2 107,90 3 164,89 A porcentagem de acertos com relação à idade mostra que as crianças mais novas foram capazes de responder apenas aos itens mais simples em que não há interferência de estímulos distratores, tais como figuras semelhantes, que possam confundir o reconhecimento adequado da figura alvo. Desta forma, tendências desenvolvimentais são corroboradas pela significância estatística observada, indicando que os grupos possuem desempenhos diferentes em função da idade no que concerne a: habilidades de discriminação, reconhecimento, interferência visual. Juntamente com as habilidades relacionadas ao processamento visual (Gv) descritas nos modelos de Carroll e Gustafsson, o subteste FF também avalia a capacidade de controle inibitório relacionadas às funções executivas. Nesta tarefa especificamente, uma capacidade de controle inibitório adequada impede que a criança aponte estímulos aleatoriamente ou até mesmo inibir respostas referentes a estímulos distratores (Roid e Miller, 1997). Neste sentido, estudos têm apontado evidências para tendências no desenvolvimento desta habilidade conforme progressão da idade. Seu curso de 106 desenvolvimento começa no início da infância e continua até a adolescência sendo que em indivíduos aos 12 anos de idade já é possível verificar um desempenho próximo ao adulto (Williams e cols., 1999; Huizinga, Dolan e Molen, 2006; Dias, 2009). As médias de desempenho observadas também mostraram aumento com a progressão das séries escolares em FF de forma semelhante ao que ocorreu em função da progressão das idades. Essa progressão pode ser observada ao longo dos três estágios, indicando que habilidades de busca, reconhecimento, discriminação e interferência visual bem como controle inibitório podem se desenvolver em função da estimulação formal fornecida ao longo da escolaridade. Neste sentido, os dados corroboram estudos que mostram melhores desempenhos com aumento da série escolar na capacidade de inibir estímulos irrelevantes em função de uma resposta mais adequada. Trevisan e colaboradores (2010) avaliaram a habilidade de controle inibitório de 133 crianças pertencentes ao 1º e 2º estágios do Ensino Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental através do Teste de Geração Semântica. Nesta tarefa são apresentadas figuras correspondentes a substantivos e o objetivo é gerar um verbo semanticamente relacionado a cada figura. Há figuras de baixa e alta seleção dependendo do número de ações que podem ser evocadas. Foram calculadas medidas de tempo de reação nos itens de baixa e alta seleção, bem como o efeito de interferência, ou seja, a média do tempo de reação dos itens de alta seleção menos a média do tempo de reação dos itens de baixa seleção. Análise de variância entre as séries controlando o efeito da inteligência revelou diferenças significativas no tempo de reação conforme a progressão dos níveis escolares sugerindo que a escolaridade é uma variável relevante no que tange ao controle inibitório. 5.3.4. Formas Completas da Leiter-R: análise por idade e série escolar A seguir são apresentados na Tabela 44 os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene para o subteste FC de acordo com os grupos etários. Da mesma forma, serão apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. Kolmogorov-Smirnov para os grupos etários indicou normalidade da distribuição dos dados para as faixas etárias de 3 e 6 anos, o que não ocorreu para o grupo de 4 e 5 anos de idade. Homogeneidade das variâncias também não foi verificada pelo Teste de Levene. 107 Tabela 44. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Formas Completas. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 0,704 0,704 4 1,433 0,033 5 1,727 0,005 6 0,924 0,360 Levene (p) 7,296 0,000 A Tabela 45 mostra que as médias no subteste FC aumentaram em função das idades, o que também pode ser observado na pontuação máxima obtida em cada faixa etária. Tabela 45: Estatísticas descritivas para o subteste Formas Completas em função dos grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo Porcentagem de acertos 17 38,66 3 26 13,92 1,89 10 4 72 17,32 4,24 8 30 48,11 5 84 20,26 3,75 12 28 56,27 6 54 20,83 4,47 12 32 57,94 As estatísticas inferenciais foram realizadas através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis como apresentado na Tabela 46. Os Postos Médios obtidos pela análise de Kruskal-Wallis corroboram as estatísticas descritivas, mostrando diferença significativa entre as idades. 108 Tabela 46: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Formas Completas. Idade Posto Médio X2 gl p 3 39,23 64,619 3 0,000 4 96,01 5 143,33 6 148,11 Os dados apresentados na Tabela 47 referem-se aos valores de KolmogorovSmirnov e Teste de Levene para o subteste FC em função das séries escolares. Embora o teste de Levene tenha apontado homogeneidade das variâncias, os valores de KolmogorovSmirnov não revelaram distribuição normal dos dados para 2º e 3º estágios. Tabela 47: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Formas Completas. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 1,065 0,207 2 1,591 0,013 3 1,440 0,032 Levene (p) 2,898 0,057 A Tabela 48 apresenta as estatísticas descritivas em função das séries escolares para o subteste FC. Oberva-se aumento nas médias com a progressão das séries escolares, assimcomo nos valores máximos obtidos por cada grupo. 109 Tabela 48: Estatísticas descritivas do subteste Formas Completas em função das séries escolares. Série (estágio) 1 N Média DP Mínimo Máximo 60 15,47 3,65 7 22 Porcentagem de acertos 42,97 2 87 18,99 4,06 8 26 52,75 3 92 20,59 4,22 12 32 57,19 Análise de variância de Kruskal-Wallis foi utilizada para corroborar as estatísticas descritivas. Na Tabela 49, os valores dos Postos Médios observados por série mostram que de fato, houve uma progressão linear entre os grupos no que se refere a habilidades relacionadas à tarefa de percepção gestáltica como no caso do subteste FC. Foi encontrada diferença significativa entre as séries, semelhante ao encontrado no mesmo subteste em relação aos grupos etários. Tabela 49: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Formas Completas. Série Posto Médio X2 gl p 1 68,52 49,669 2 0,000 2 125,57 3 148,30 A média alcançada para crianças de 3 anos mostra que este grupo apresentou boa capacidade de síntese para reconhecer partes num todo coerente, como reconhecer figuras de animais, brinquedos e objetos a partir de seus fragmentos. Isso se justifica pela porcentagem de acertos por item. Em análise para verificar a dificuldade dos itens de acordo com a Teoria Clássica do Testes, foi calculada a porcentagem de acertos em cada item. No subteste FC o grupo de 3 anos apresentou 100% de acertos nos 3 primeiros itens enquanto que nos itens 4 a 8 que corresponde à metade do teste, houve uma variação de 48 a 100% de acertos indicando que pelo penos a preimeira parte do teste é composta por itens fáceis já para crianças de 3 anos. Também é possível observar pelas médias obtidas ou pela porcentagem de acertos no subteste, que crianças entre 5 e 6 anos apresentam desempenhos semelhantes. Esses 110 valores revelam que além de reconhecerem estímulos simples em uma figura completa, nesta faixa etária as crianças conseguem realizar o mesmo tipo de tarefa com estímulos mais abstratos formados por junções de figuras geométricas. Assim com no subteste FF, o mesmo foi verificado em FC no que tange ao aumento das médias em função das séries escolares. Este aumento também pode ser observado nas pontuações mínimas e máximas ao longo das séries. As habilidades avaliadas especificamente pelo subteste FC é frequentemente avaliada pelo subteste Armar Objetos das Escalas Wechsler, que é aplicada apenas a partir dos 6 anos de idade. Entre os estudos de validade da WISC-III no Brasil, encontram-se análises por tendências desenvolvimentais. Figueiredo (2002) apresenta análises de correlações entre idade e desempenho nos subtestes. Para o subteste Armar Objetos, é verificada uma correlação moderada de 0,64 ao nível de significância com p<0,01. De acordo com Simões (2002), a capacidade de organizar um todo a partir de elementos separados, ou seja, integração perceptiva é sensível a déficits de vísuo-construção e por isso são importantes de serem avaliadas. Sendo assim, os resultados mostram que tendências desenvolvimentais são observadas a cerca de habilidades envolvidas na organização mental de partes fragmentadas para identificar um todo coerente e reconhecível. 5.3.5 Pareamento da Leiter-R: análises por idade e série escolar. A seguir são apresentados na Tabela 50 os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene para o subteste Pareamento de acordo com os grupos etários e séries escolares. Da mesma forma que nos subtestes anteriores, serão apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. Para o subteste Pareamento, os valores de Kolmogorov-Smirnov indicaram que apenas o grupo com 5 anos de idade não apresentou distribuição normal dos dados. O teste de Levene indicou homogeneidade das variâncias e por isso preferiu utilizar análise de variância paramétrica, ANOVA, pois o poder estatístico de testes paramétricos são maiores. Por isso, Dancey e Reidy (2006) afirmam que estes devem ser preferidos ao uso dos não paramétricos sempre que possível. 111 Tabela 50. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Pareamento. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 0,807 0,533 4 1,324 0,060 5 1,504 0,022 Levene (p) 2,210 0,113 As estatísticas descritivas apresentadas na Tabela 51 mostram aumento na pontuação média em função dos grupos etários para o subteste PA. A pontuação máxima obtida neste subteste é de 35 pontos e o número máximo de acertos alcançados por cada grupo mostra que este subteste não apresenta grau de dificuldade elevado. Tabela 51: Estatísticas descritivas para o subteste Pareamento em função dos grupos etários Idades N Média DP Mínimo Máximo 3 32 25,53 2,36 21 31 Porcentagem de acertos 72,94 4 67 27,33 2,38 22 32 78,08 5 79 29,37 1,79 25 33 83,91 Análise de variância entre as idades para o subteste Pareamento revelou diferença significativa entre os grupos [F(2,175)= 38,59 (p<0,001)]. Análises Post Hoc por comparação de pares de Bonferroni mostraram diferenças que estão apresentadas na Tabela 52. As análises de pares de Bonferroni apontam diferenças significativas entre todas as faixas etárias, ou seja, crianças de 3 anos apresentam em média, desempenho diferente das crianças de 4 e 5 anos e o mesmo pode ser observado entre as crianças destes dois últimos grupos. 112 Tabela 52: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade no subteste Pareamento. Idade (i) 3 4 5 Idade (j) 4 5 3 5 3 4 Diferença da Média (i-j) -1,603 -3,836 1,603 -2,233 3,836 2,233 Erro Padrão ,482 ,470 ,482 ,372 ,470 ,372 p 0,003 0,000 0,003 0,000 0,000 0,000 Os valores de Kolmogorov-Smirnov indicam normalidade na distribuição dos dados em relação ao desempenho por série escolar no subteste PA. No entanto, não foi verificada a homogeneidade das variâncias de acordo com o Teste de Levene, como observado na tebla 53. Tabela 53: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Pareamento. Série Escolar Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 0,829 0,498 2 1,189 0,119 3 1,084 0,191 Levene (p) 6,936 0,000 Assim, da mesma forma como foram observadas médias altas neste subteste em função das idades, ocorreu no desempenho em função das séries escolares como descrito na Tabela 54. Os desempenhos de todos os sujeitos ficaram próximos a média de acordo com seu grupo de referencia como mostram os valores de Desvio Padrão. Nas estatísticas descritivas, a progressão da série também esteve associada ao aumento nos escores do subteste. 113 Tabela 54: Estatísticas descritivas para o subteste Pareamento de em função da série. Série (estágio) 1 N Média DP Mínimo Máximo 63 26,30 2,86 18 32 Porcentagem de acertos 75,14 2 79 28,56 2,22 23 33 81,60 3 37 29,22 1,56 26 32 83,48 Por fim, a Tabela 55 apresenta a análise de Kruskal-Wallis em função da série. O aumento nos Postos Médios corrobora as estatísticas descritivas pois apontam para valores maiores com a progressão da série escolar. Kruskal-Wallis revelou diferença significativa entre os três estágios. Tabela 55: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Pareamento. Série Posto Médio X2 gl p 1 60,71 33,666 2 0,000 2 101,32 3 115,70 As porcentagens de acertos tanto nos grupos etários como nas séries escolares mostaram que se trata de uma tarefa que não envolve níveis complexos de capacidade cognitiva, inclusive para crianças pequenas com 3 anos de idade. As habilidades envolvidas nesta tarefa estão relacionadas à discriminação visual básica de cores, formas e figuras abstratas, exigindo da criança apenas o pareamento de estímulos iguais. Por isso não faz parte do protocolo obrigatório para crianças com mais 5 anos, pois apresenta pouco valor informativo devido ao efeito teto observado. Parte desta discussão foi realizada anteriormente a partir dos dados descritivos da amostra geral que revelou a facilidade do subteste Pareamento comparando a porcentagem de acertos obtidos nesta tarefa com outros subtestes. Este subteste é composto por 35 itens no total. Uma análise da porcentagem de acertos por item mostrou que crianças aos 3 anos acertam entre 90 e 100% os 20 primeiros itens. Os últimos itens envolvem atenção aos detalhes, uma vez que as dimensões de correspondência se tornam menores e menos proeminentes e por isso são mais difíceis para crianças nesta faixa etária. 114 5.3.6. Sequencias da Leiter-R: análises por idade e série escolar. A seguir são apresentados os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene para o subteste SE de acordo com os grupos etários e séries escolares. Da mesma forma, serão apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. De acordo com os dados descritos na Tabela 56, o Teste de Levene não relevou homogeneidade das variâncias, mas os valores de Kolmogorov-Smirnov mostraram que para todos os grupos etários houve normalidade na distribuição dos dados. Tabela 56: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Sequencias. Idade Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 1,050 0,221 4 1,023 0,246 5 1,181 0,132 6 1,051 0,219 Levene (p) 2,733 0,045 A Tabela 57 apresenta as estatísticas descritivas do subteste SE em função dos grupos etários. As médias obtidas bem como as porcentagens de acerto por cada faixa etária mostram que os grupos se comportam de maneiras semelhantes em relação ao desempenho neste subteste. Da mesma forma os valores de desvio padrão para todas as idades mostrou desempenho bastante homogêneo pois houve pouca variação em torno das médias. 115 Tabela 57: Estatísticas descritivas para o subteste Sequencias em função dos grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo 3 32 7,22 1,38 5 10 Porcentagem de acertos 15,36 4 65 7,72 1,68 4 12 16,42 5 80 7,68 1,85 4 12 16,34 6 45 8,33 2,33 4 14 17,72 A Tabela 58 sumaria os dados obtidos pela análise de Kruskal-Wallis. Assim como observado nas estatísticas descritivas, o teste de Kruskal-Wallis não mostrou diferença significativa entre as faixas etárias, sugerindo que tendências desenvolvimentais para este tipo de tarefa não puderem ser verificadas entre crianças de 3 a 5 anos. Tabela 58: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Sequencias. Idades Posto Médio X2 gl p 3 93,17 4,682 3 0,197 4 111,33 5 111,14 6 124,86 No que tange a amostra em função das séries escolares. Os dados descritos na Tabela 59 mostram homogeneidade das variâncias e valores de Kolmogorov-Smirnov indicou normalidade nas distribuições dos dados referentes aos estágios 1 e 3, o que não foi observado no 2º estágio. 116 Tabela 59: Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Sequencias. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 1,018 0,251 2 1,395 0,041 3 1,000 0,270 Levene (p) 1,642 0,196 A tabela 60 apresenta as estatísticas descritivas em função das séries para o subteste SE. Ao verificar as médias por série escolar no que tange ao desempenho no subteste SE, os valores de média foram muito semelhantes entre os três grupos indicando que não há diferenças significativas entre eles. Tabela 60: Estatísticas descritivas para o subteste Sequencias em função das séries escolares. Série Mínimo Máximo Porcentagem N Média DP (estágio) de acertos 1 63 7,51 1,83 2 13 15,97 2 80 7,68 1,67 4 12 16,34 3 80 7,94 2,10 4 13 16,89 Análise de variância ANOVA entre as séries para o subteste SE não revelou diferença significativa entre os grupos [F(2,220)=0,956; p=0,386]. Análises Post Hoc por comparação de pares de Bonferroni mostraram que não houve diferenças significativas entre as séries escolares. Os valores de significância apontam para desempenhos semelhantes entre todas as séries. As diferenças encontradas entre 1º e 2º estágio, 2º e 3º estágio mostram que os grupos são semlehantes em termos de desempenho. A Tabela 61 apresenta os valores obtidos pela análise de pares de Bonferroni 117 Tabela 61: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série no subteste Sequencias. Série (i) 1 2 3 Série (j) 2 3 1 3 1 2 Diferença da Média (i-j) -0,167 -0,430 0,167 -0,263 0,430 0,263 Erro Padrão 0,317 0,317 0,317 0,298 0,317 0,298 p 1,000 0,531 1,000 1,000 0,531 1,000 Com exceção do que foi visto até o presente momento, as médias dos grupos em função da idade apontam valores bem próximos indicando um desempenho semelhante entre os grupos etários no subteste SE. Durante a coleta de dados pode ser observado que de forma geral, todas as crianças apresentaram mais dificuldades de compreender e executar esta tarefa quando comparada as demais. Ao contrário das habilidades mais simples relacionadas à visualização, este é o primeiro subteste que envolve raciocínio seqüencial e que demanda maior complexidade cognitiva. No geral as crianças conseguiam acertar os primeiros itens nos quais o objetivo era escolher um estímulo que completaria a ordem, como por exemplo, escolher o gato pequeno quando um gato médio e um grande eram apresentados numa seqüência. Diante de itens mais complexos que exigiam raciocínio visuo-espacial e rotação mental para completar as sequencias muitas crianças cometeram erros independentemente da idade. Tais achados se diferenciam daqueles encontrados para a amostra americana em que todos os subtestes apresentam aumento no desempenho em função da idade (Roid e Miller, 1997). De acordo com Anastasi (1977) um teste psicológico válido em relação ao critério de mudanças desenvolvimentais, mede caractarísticas de comportamento que aumentam de acordo com a idade sob as condições existentes no tipo de ambiante no qual foi padronizado. Por isso, diferentes culturas podem estimular e favorecer o desenvolvimento de diferentes características de comportamento, não se pode supor que o critério de diferencição por idade seja universal, sendo circunscrito ao ambiente cultural específico no qual foi criado. Além disso, o fato deste subteste não apresentar tendências desenvolvimentais pode estar relacionado ao desenvolvimento de raciocínio seqüencial. Isto pode ser verificado nos critérios de padronização de outros instrumentos que avaliam habilidades de raciocínio abstrato e resolução de problemas, presentes em tarefas de seqüenciamento. Os testes de 118 raciocínio abstrato, em geral são normatizados para crianças a partir dos 6 anos de idade como é o caso do TONI-3. Talvez este fenômeno relacionado ao raciocínio serial ou de sequencias pode ser melhor observado em crianças mais velhas, posterior aos 6 anos. De acordo com McGrew (2004), o raciocínio seqüencial é uma habilidade específica relacionado ao fator amplo de inteligência fluida, associado à maior complexidade cognitiva de processos envolvidos em execução de tarefas. Trata-se de um processo dedutivo que evidencia a capacidade de raciocinar e tirar conclusões a partir de premissas gerais para situações mais específicas. Devido a esta complexidade, talvez este subteste possa avaliar de forma mais efetiva crianças mais velhas daquelas pertencentes á amostra do estudo e conseqüentemente discriminar melhor os desempenhos em função das idades. Os resultados observados no subteste Sequencias, quando se considera o efeito de série é semelhante ao que foi observado em função da idade. Como afirma Anastasi (1977), tais critérios podem ser específicos em determinadas culturas e, por isso, nem sempre é possível observar as mesmas tendências em culturas diferentes. Neste sentido, Fagan (2006) afirma que a capacidade de processar informações não varia de uma cultura para outra, mas o que varia são as informações que recebemos para poder processá-las. Por isso, crianças de diferentes culturas diferem naquilo que sabem. 5.3.7. Padrões Repetidos da Leiter-R: análises por idade e série escolar A seguir são apresentados os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene para o subteste Padrões Repetidos de acordo com os grupos etários e séries escolares. Da mesma forma, serão apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. Na Tabela 62 pode ser observado que os valores de Kolmogorov-Smirnov indicam distribuição normal dos dados em todos os grupos etários e o Teste de Levene apontou para a homogeneidade das variâncias. 119 Tabela 62. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Padrões Repetidos. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 1,099 0,178 4 0,740 0,644 5 1,163 0,133 6 0,622 0,834 Levene (p) 1,541 0,205 Os valores apresentados na Tabela 63 mostram aumento da pontuação média com o aumento da idade. A fim de corroborar tais dados, foram realizadas análises de variância, considerando-se a idade como variável independente. Tabela 63: Estatísticas descritivas para o subteste Padrões Repetidos em função dos grupos etários. Idades N Média DP Mínimo Máximo 3 34 6,35 3,39 0 15 Porcentagem de acertos 23,51 4 72 7,64 3,72 0 16 28,29 5 85 10,19 4,15 0 22 37,74 6 53 11,66 4,62 2 21 43,18 ANOVA para verificar o efeito da idade no desempenho do subteste Padrões Repetidos revelou diferença significativa entre os grupos [F(3,240)=17,43; p<0,001]. Análises Post Hoc por comparação de Pares de Bonferroni mostraram diferenças significativas entre os grupos de 3 e 4 anos para os grupos de 5 e 6 anos como mostrado na Tabela 64. 120 Tabela 64: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da idade em Padrões Repetidos. Idade (i) 3 4 5 6 Idade (j) 4 5 6 3 5 6 3 4 6 3 4 5 Diferença da Média (i-j) -1,286 -3,835 -5,307 1,286 -2,549 -4,021 3,835 2,549 -1,472 5,307 4,021 1,472 Erro Padrão ,841 ,820 ,888 ,841 ,648 ,732 ,820 ,648 ,708 ,888 ,732 ,708 p 0,766 0,000 0,000 0,766 0,001 0,000 0,000 0,001 0,231 0,000 0,000 0,231 Além dos dados em função de grupos etários, os valores de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene também indicaram normalidade na distribuição dos dados nos 3 estágios escolares e presença de homogeneidade das variâncias como apresentado na Tabela 65. Tabela 65. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Padrões Repetidos. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 1,114 0,167 2 0,813 0,523 3 1,217 0,103 Levene (p) 0,691 0,502 As estatísticas descritivas de acordo com as séries escolares também mostram aumento nas médias entre os grupos, assim como na pontuação máxima alcançada tal como observado na Tabela 66. 121 Tabela 66: Estatísticas descritivas para o subteste Padrões Repetidos em função das séries escolares. Série (estágio) 1 N Média DP Mínimo Máximo Porcentagem de acertos 15 25,48 65 6,88 3,47 0 2 87 8,55 4,07 0 18 31,66 3 92 11,51 4,32 2 22 42,62 ANOVA para verificar variâncias no desempenho em função das séries escolares no subteste Padrões Repetidos revelou diferença significativa entre os grupos [F(2,240)=26,15; p<0,001]. Análises Post Hoc por comparação de pares de Bonferroni mostraram diferenças significativas entre os três estágios escolares como observado na Tabela 67. Os valores de significância mostram que crianças de 3 e 4 anos apresentam desempenhos semelhantes, assim como verificado entre crianças de 5 e 6 anos de idade. Tabela 67: Análise de Pares de Bonferroni para efeito da série no subteste Padrões Repetidos. Série (i) 1 2 3 Série (j) 2 3 1 3 1 2 Diferença da Média (i-j) -1,675 -4,519 1,675 -2,844 4,519 2,844 Erro Padrão 0,651 0,645 0,651 0,596 0,645 0,596 p 0,032 0,000 0,032 0,000 0,000 0,000 Este subteste avalia de forma geral, a capacidade para a generalização de padrões e, para isso, a criança deve descobrir o padrão ou a regra subjacente para que possa reproduzir o modelo. É o segundo teste que apresenta maior nível de complexidade na Bateria (Roid e Miller, 1997) e está fortemente associado ao fator amplo da camada II na teoria de John Carroll, o raciocínio fluido. De acordo com Roid e Miller (1997), este subteste avalia o raciocínio indutivo um dos fatores específicos da inteligência fluida, fortemente relacionado ao fator g. Para Sternberg (2008), o raciocínio indutivo se dá de forma diferente entre as idades, assim como observado nos resultados apresentados. Este autor afirma que crianças com apenas 3 122 anos de idade parecem induzir alguns princípios gerais a partir de observações específicas mais simples e com o aumento da idade são capazes de resolver tarefas mais complexas envolvendo tarefas de múltiplos exemplares, matrizes, analogias, etc. Embora esta habilidade tenha sido frequentemente citada como dependente de fatores inatos, biológicos, estudos como o de Flores-Mendoza e Nascimento (2007) têm mostrado que aspectos ambientais possuem forte influencia em tarefas que medem este tipo de raciocínio. Por isso, outras variáveis como estimulação ambiental e grau de escolaridade devem ser levadas em consideração. 5.3.8. Classificação da Leiter-R: análises por idade e série escolar. A seguir são apresentados os valores de Kolmogorov-Smirnov e Levene para o subteste Classificação de acordo com os grupos etários e séries escolares. Da mesma forma, serão apresentadas as estatísticas descritivas e inferenciais. Salientando que este subteste é aplicado a crianças de até 5 anos de idade. Os valores de Kolmogorov-Smirnov para crianças de 4 e 5 anos não revelaram distribuição normal dos dados e o Teste de Levene não indicou homogeneidade das variâncias como apresntado na Tabela 68. Tabela 68. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com grupos etários para o subteste Classificação. Idades Kolmogorov-Smirnov Z (p) 3 0,718 0,682 4 1,991 0,001 5 1,768 0,004 Levene (p) 15,255 0,000 A Tabela 69 apresenta as estatísticas descritivas para o subtestes CL em função dos grupos etários. Como pode ser observado nas médias obtidas pelos grupos, o desempenho tende a aumentar cerca de 2 pontos conforme progressão das idades. Crianças de 3 e 4 anos apresentaram valores semelhantes quanto ao mínimo e máximo alcançado no subteste. 123 Tabela 69: Estatísticas descritivas para o subteste Classificação em função dos grupos etários. Idade N Média DP Mínimo Máximo 3 34 12,44 3,04 7 18 Porcentagem de acertos 62,20 4 72 14,18 3,11 6 18 70,90 5 83 16,39 1,71 11 20 81,95 As estatísticas inferenciais para o desempenho em função da idade no subteste Classificação foram realizadas através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. Os postos médios, apresentados na Tabela 70, corroboram as estatísticas descritivas indicando tendências no desenvolvimento através das idades entre os grupos de 3, 4 e 5 anos. Tabela 70: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da idade no subteste Classificação. Idade Posto Médio X2 gl p 3 53,75 45,903 2 0,000 4 82,22 5 122,99 Após observação de tendências no desenvolvimento conforme a idade, foram realizadas análises por série escolar para o subteste Classificação. Como observado na Tabela 71, os valores de Kolmogorov-Smirnov para o 2º Estágio não revelou distribuição normal dos dados e o Teste de Levene não indicou homogeneidade das variâncias. Tabela 71. Valores de Kolmogorov-Smirnov Z e Levene de acordo com as séries escolares para o subteste Classificação. Série Kolmogorov-Smirnov Z (p) 1 1,233 0,096 2 1,775 0,004 3 1,232 0,096 Levene (p) 15,147 0,000 A Tabela 72 apresenta as estatísticas descritivas em função das séries escolares para o subteste CL. Os valores obtidos para o desempenho entre os grupos em função das séries 124 no CL é semlhante ao verificado para desempenho em função da idade. As porcentagens de acerto no teste revelam que crianças do 1º Estágio conseguem realizar em média 68% da tarefa. Se comparado aos outros subtestes em relação à porcentagem de acertos, este é o segundo subteste onde aparecemas as maiores porcentagens de acerto indicando que não apresenta nível de dificuldade elevado. Tabela 72: Estatísticas descritivas para o subteste Classificação em função das séries escolares. Série (estágio) N Média DP Mínimo Máximo Porcentagem de acertos 1 65 13,66 2,98 7 18 68,30 2 78 15,55 2,07 6 19 77,75 3 38 16,84 1,49 10 19 84,20 As estatísticas inferenciais para o desempenho em função da série no subteste CL foram realizadas através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. Assim como verificado aumento no desempenho entre os grupos etários, o mesmo ocorreu entre as séries escolares. A Tabela 73 mostra que houve diferença significativa entre grupos. Tabela 73: Teste de Kruskal-Wallis para efeito da série no subteste Classificação. Série Posto Médio X2 gl p 1 64,48 35,197 2 0,000 2 96,00 3 126,09 Assim como discutido nos dados da amostra total, o subteste CL foi o segundo da Bateria VR a apresentar altas porcentagens de acertos em relação aos outros subtestes. No total, CL é composto por 20 itens no total e uma análise da porcentagem de acertos nos itens mostrou que a amostra referente ao grupo de 3 anos apresentou 100% de acertos em um quarto do subteste. Sendo o mesmo verificado para as crianças de 4 e 5 anos. Estes primeiros itens avaliam categorização por cor e tamanho. A partir disso, os itens passam a envolver categorização semântica mais complexa como frutas, objetos, roupas e partes do corpo, o que envolve a capacidade de dar funcionalidade a alguns objetos e crianças com 5 anos apresentam porcentagens maiores de acerto. 125 A principal característica desta tarefa é avaliar a habilidade de categorização. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), dividir o mundo em categorias é vital para pensar sobre objetos ou conceito e suas relações. Esta habilidade pode ser observada em crianças a partir dos 18 meses, ou seja, antes dos 2 anos que é a idade mínima avaliada por este subteste. Booth e Waxman (2002) discutem que esta habilidade tende a aumentar com a idade devido ao desenvolvimento da linguagem. De acordo com estes autores, nomear um objeto ou mostrar sua função pode ajudar crianças na formação de categorias. Para Papalia, Olds e Feldman (2009) a classificação ou categorização exige que a criança identifique similaridades ou diferenças. Aos quatro anos, a maioria das crianças já é capaz de categorizar por meio de dois critérios, como por exemplo, cor e forma. Esta organização de objetos, pessoas e eventos em categorias significativas também trás implicações no desenvolvimento psicossocial das crianças. 5.3.9. Subtestes Analogias de Desenho e Dobra de Papel As análises descritivas por idade e série nos subtestes Analogias e Dobra de Papel são as mesmas em relação aos dados descritos na amostra geral, pois este subteste foi aplicado apenas às crianças de 6 anos do 3º estágio devido aos critérios de aplicação. Sendo assim, encontra-se na Tabela 74, as estatísticas descritivas os dois subtestes após a exclusão de outliers identificados com as análises de Boxplots. Kolmogorov-Smirnov para o subteste Analogias de Desenho foi de 1,078 (p=0,195) e 1,866 (p=0,002) para o subteste Dobra de Papel. Especificamente nestes dois subtestes não foram realizados teste de Levene devido ao fato de um único grupo ter respondido a estas tarefas. Sendo assim, indica-se que análises futuras com crianças acima dos 6 anos de idade e séries do Ensino Fundamental para que se possam buscar evidências de validade com relação à idade e série nestes subtestes. 126 Tabela 74: Estatísticas descritivas para o subteste Analogias de Desenho (AD) e Dobra de Papel (DP). Subteste N Média DP Mínimo Máximo Porcentagem de acertos AD 51 4,02 1,98 0 5 10,57 DP 43 3,70 0,88 2 5 14,23 Devido à aplicação exclusiva para faixa etária de 6 anos nos dois subtestes, as discussões referentes às habilidades que estes avaliam encontram-se descritas no início da sessão de resultados, referentes à amostra total. 5.3.10. Síntese dos Resultados por Tendências Desenvolvimentais Como pode ser observado até o momento, houve diferenças significativas entre os desempenhos nos subtestes Figura-Fundo, Completar Formas, Pareamento, Padrões Repetidos e Classificação em função das variáveis idade e série escolar. Estes achados indicam que as habilidades ou funções avaliadas por estes subtestes são passíveis de discriminação entre grupos determinados, como faixa etária e série escolar. Isso significa que tanto habilidades relacionadas ao fator Gv como estratégias de busca e exploração visual, discriminação de estímulos visuais, organização perceptiva e capacidade de síntese bem como habilidades mais complexas relacionadas ao fator Gf como indução de relações, reconhecimento de padrões, criarem regras e categorizar se desenvolvem em processos seqüenciais. Tais processos podem ser verificados com a progressão da idade, o que indica desenvolvimento e maturação das estruturas e do funcionamento cerebral. Assim como também sofrem influência do ambiente como verificado pelas diferenças no desempenho em relação a serie, indicando a importância da estimulação ambiental formal. Os resultados mostram que maturação cerebral e estimulação ambiental não podem ser dissociadas quando se trata de habilidades cognitivas, pois uma variável influencia e sofre influencia da outra, o que pode ser observado pela semelhança no padrão de desempenho conforme aumento da idade e série escolar. 127 Diferentemente do observado na maioria dos subtestes, o subteste Sequencias não apresentou diferença no desempenho entre crianças de 3 a 6 anos, sendo o mesmo resultado verificado entre as séries escolares. A principal habilidade avaliada nesta tarefa é o seqüenciamento presente na terceira camada da teoria CHC como habilidade específica referente ao fator Gf. Diferentemente do observado na versão americana da Leiter-R, este subteste não possibilitou discriminar os grupos no presente estudo. Além das habilidades referentes aos fatores Gv e Gf descritas anteriormente, outras funções como flexibilidade e controle inibitório são descritas por Roid e Miller (1997) como necessárias para obtenção de repostas efetivas nos subtestes já que na maioria dos itens existem estímulos distratores. De modo geral, o controle inibitório se refere a capacidade de inibir estímulos irrelevantes à solução de um dado problema (Gazzaniga, Yvry e Mangunols, 2006) enquanto que a flexibilidade cognitiva se refere a capacidade de mudanças nas estratégias utilizadas durante uma tarefa cognitiva e de alternar a atenção entre dois ou mais estímulos envolvidos na demanda da tarefa (Malloy-Diniz e cols, 2008) Estudos têm mostrado que estas habilidades também apresentam tendências desenvolvimentais no tocante ao aumento da idade cronológica (Klenberg, Korkman e Lahti-Nuuttila, 2001; Kray, Eber e Lindenberger, 2004) De acordo os resultados das análises de variância observados entre as idades cronológicas e as séries escolares, pode-se notar que houve um padrão semelhante aos achados nos subtestes para estas duas variáveis. Análise de correlação de Pearson foi realizada para verificar a relação entre idade e série. Para um número de 244 sujeitos foi observada uma correlação de r=0,859 a um nível de significância de p<0,001. Tal resultado aponta que existe uma alta correlação entre idade e série. De fato, Almeida e colaboradores (2008b), mostram que em função da alta correlação entre idade e escolaridade a escolha entre uma delas para nortear análises dos instrumentos que avaliam inteligência pode parece ser um tanto quanto arbitrária, mas ressaltam que cada uma reflete aspectos diferentes do desenvolvimento cognitivo,embora muito associados e de difícil separação. No entanto, é necessário ressaltar que em cada série escolar havia crianças com diferenças na idade. Embora alguns autores discutem que na pré-escola não há muita discrepância entre idade e série, é necessário levar em conta que no 1º estágio por exemplo, foram avaliadas crianças entre 3 anos e 1 mês a 4 anos e 10 meses pois o critério para inclusão de um aluno em determinada série se dá pelo ano de nascimento . Por isso é 128 possível encontrar crianças com até 11 meses de diferença dentro da mesma série. Isto significa uma variabilidade significativa em termos de desenvolvimento. 5.4. Análise de Regressão Linear Múltipla Na fase pré-escolar um mês de diferença no desenvolvimento trás repercussões na cognição da criança (Anastasi e Urbina, 2000; Ferreira e cols, 2010). Desta forma, foi realizada análise de regressão para verificar o efeito de ambas as variáveis no desempenho e assim discutir qual melhor critério a ser utilizado quando pensamos por exemplo em dados normativos para instrumentos de avaliação de inteligência não-verbal para a fase pré-escolar. A análise de regressão múltipla foi realizada utilizando como variável dependente o QI Estimado referente à soma dos pontos brutos dos quatros subtestes em comum aplicados em toda a amostra. Como constantes ou explicativas foram inseridas as variáveis série e idade. A análise de regressão possibilitou a identificação de um modelo que apresenta um coeficiente de determinação de 0,335. Isto significa que 33,5% da variância no desempenho em QI Estimado é explicada pelas variáveis idade cronológica e série escolar. O coeficiente ajustamento à população foi de 0,330, ou seja, as constantes explicam até 33% da variância no QI Estimado. A Tabela 75 apresenta o modelo resultante da regressão. Tabela75: Sumário do modelo oriundo da Regressão Linear Múltipla. Modelo R R2 1 0,579 0,335 R2 ajustado 0,330 EP de estimativa 9,976 F p 60,775 0,000 1. Idade e série = constantes (preditoras); QI Estimado = variável dependente A Tabela 76 apresenta os coeficientes de regressão padronizados e não padronizados, bem como os valores de t e o nível de significância. ANOVA referente ao modelo apresentada na Tabela 76 revelou seu ajuste ao nível de significância p <0,001. Como pode ser observado, entre as variáveis preditoras, apenas a idade apresentou um nível de significância estatístico (p<0,001). Desta forma, pode-se verificar que a variável idade possui um maior poder preditivo em relação à variável série para o desempenho no QI Estimado. Vale ressaltar que por QI Estimado foi considerada a soma dos pontos brutos 129 dos subtestes referentes a este índice: Figura-Fundo, Formas Completas, Sequencias e Padrões Repetidos. De acordo com o valore de beta, assumi-se que a idade prediz em 44,8% o desempenho observado. Tabela 76. Coeficientes de regressão. Modelo 1 Coeficientes Não Padronizados B EP Coeficientes Padronizados Beta t p 5,003 0,000 Constante 18,047 3,607 Idade 5,612 1,284 0,448 4,371 0,000 Série 2,247 1,569 0,147 1,432 0,153 Estes achados vão de acordo ao exposto por Almeida e colaboradores (2008b) que apontam sobre a preferência por normas em função da idade nos testes de inteligência. De acordo com estes autores, muitos testes enfatizam mais a idade do que a escolaridade sugerindo até que a partir do final da adolescência exista uma idade única para dados normativos. Na infância a associação entre idade e inteligência possui uma magnitude mais acentuada em função da maturação cerebral que tem uma influencia marcante neste período. Além disso, Urbina (2007) aponta que escores equivalentes a séries escolares podem apresentar algumas limitações principalmente devido a variações nos conteúdos dos currículos e na qualidade do ensino entre as escolas. 5.5. Análise por Tempo de Escolarização Devido ao fato de o ensino infantil ser recomendado e não obrigatório para as crianças de 2 a 6 anos, houve uma variação no tempo de escolarização das crianças que tinham a mesma idade e estavam na mesma série escolar. Essa diferença foi observada em crianças de 4 anos que estavam no Estágio 1 e crianças de 5 anos do Estágio 2. Por isso, foram feitas análises de comparação do desempenho entre crianças que estavam na mesma série escolar, com a mesma idade, mas apresentavam diferenças nos meses de escolaridade. As Tabelas 77 e 78 apresentam estatísticas descritivas das crianças pertencentes ao 1º Estágio na faixa etária de 4 anos e 2º Estágio na faixa etária de 5 anos, respectivamente. 130 Tabela 77. Estatísticas descritivas em função de meses de escolarização para crianças de 4 anos do 1º estágio. Subtestes Figura-Fundo Meses de escolaridade 5 N Média DP 12 10,75 2,63 11 19 11,74 3,58 Formas Completas 5 12 15,58 3,70 11 19 17,95 4,98 Pareamento 5 12 25,58 6,03 11 19 27,53 2,83 5 12 6,75 2,49 11 19 8,37 2,14 Sequencias Padrões Repetidos 5 12 5,75 2,41 11 19 8,53 3,73 Classificação 5 12 14,00 2,73 11 19 15,63 1,73 5 13 32,62 5,36 11 20 31,45 9,23 EMMC 131 Tabela 78. Estatísticas descritivas em função de meses de escolarização para crianças de 5 anos do 2º estágio. Subtestes Figura-Fundo Meses de escolaridade 5 N Média DP 15 11,73 2,15 11 28 13,82 3,03 Formas Completas 5 15 17,60 2,89 11 28 21,43 3,47 Pareamento 5 15 27,67 5,98 11 28 27,93 6,12 5 15 7,73 2,65 11 28 7,82 1,56 Sequencias Padrões Repetidos 5 15 8,40 4,42 11 28 9,21 3,97 Classificação 5 15 15,73 1,33 11 28 15,89 2,47 5 15 12,33 3,26 11 28 13,61 3,25 5 15 34,93 8,80 11 28 39,18 7,75 MPCR EMMC De acordo com as estatísticas descritivas, crianças com a mesma idade e pertencentes à mesma série escolar, mas com diferença de 6 meses de escolarização, apresentam diferenças nas pontuações dos subtestes. Crianças com 11 meses apresentam cerca de 2 pontos a mais quando comparadas a crianças de 5 meses de escolarização. No que tange às médias entre crianças com 5 e 11 meses de escolarização em cada teste, pode-se notar que a maior diferença está no grupo de 5 anos do 2º Estágio para a Escala de Maturidade Mental Columbia. Diferentemente dos outros testes, foi observada uma diferença de 4,25 pontos em favor dos alunos pertencentes ao grupo de 11 meses de escolarização. De acordo com Burgemeister, Blum e Lorge (1972) a avaliação de raciocínio geral como é feita pela EMMC se baseia as suposição básica de que as crianças tenham tido oportinidades subtancialmente iguais de aprender a respeito dos estímulos incluídos no teste. Sendo assim, pode-se sugerir que maior tempo de exposição a ensino formal esteja 132 relacionado à maior pontuação neste instrumento. Para os autores da EMMC estas considerações são necessárias ao interpretar os resultados de crianças com diferentes níveis de estimulação ou privação cultural. Para análises infereciais, primeiramente foram verificados os valores de significância de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Levene para os dois grupos em todos os subtestes. Ambos os grupos apresentaram valores de significância acima de 0,05, ou seja, para todos os subtestes os grupos mostraram distribuição normal dos dados e homogeneidade das variâncias. Os resultados obtidos através de Análise de variância ANOVA são apresentados na Tabela 79. Os dados apresentados indicam que determinadas habilidades sofrem influencia do tempo (meses) de escolarização. No grupo de 4 anos do 1º Estágio verificou-se diferença significativa para o subteste Padrões Repetidos [F(1,19)=5,21; p=0,030]. No tocante ao grupo de 5 anos do 2º Estágio, foram observadas diferenças significativas em função dos meses de escolaridade para dois subtestes referentes ao fator Visualização (Gv). No subteste Figura-Fundo foi observada uma diferença de [F(1,41)=5,57; p=0,023]. Já no subteste Formas Completas houve uma diferença de [F(1,41)=13,20; p<0,01]. Tabela 79: ANOVA para o desempenho nos subtestes da Leiter-R em função do tempo de escolarização. 4 anos 1º Estágio Soma dos Quadrados 7,163 0,418 5 anos 2º Estágio Soma dos Quadrados 42,587 0,675 5,578 0,023 Formas Completas 41,104 1,994 0,169 143,171 13,207 0,001 Pareamento 27,766 1,476 0,234 0,670 0,018 0,894 Sequencias 19,264 3,708 0,064 0,076 0,019 0,892 Padrões Repetidos 56,691 5,219 0,030 6,476 0,379 0,541 Classificação 19,579 4,162 0,051 0,249 0,054 0,818 EMMC 10,700 0,169 0,684 176,029 2,664 0,110 MPCR - - - 15,849 1,490 0,229 Subtestes Figura-Fundo F p F p 133 De acordo com Roid e Miller (1997) este subteste avalia o raciocínio indutivo. McGrew (2004) descreve este fator como a habilidade para descobrir características subjacentes a um problema específico ou um conjunto de observações, ou aplicar uma regra para solucionar um problema. Muitas vezes, exige a capacidade de combinar pedaços de informações na formação de inferências, regras, hipóteses ou conclusões. Embora o raciocínio indutivo esteja fortemente associado a fatores neurobiológicos, alguns estudos sugerem que na verdade é sensível a influencias culturais e ambentais (Flynn, 2007). Por isso, justifica-se as diferenças no desempenho em função do tempo de escolaridade. Isso indica que habilidades como discriminação, reconhecimento e estratégias de busca visual, bem como percepção e organização mental de partes que formam um todo, podem estar relacionadas ao tempo de estimulação ambiental ao qual a criança está exposta. 5.6. Análise por Diferença de Gênero Como descrito em diversos estudos na literatura sobre inteligência, outra variável relevante é a diferença de gênero. Por isso, é de suma importancia verificar se existem diferenças em habilidades específicas (subtestes) e no desempenho geral (QI) entre meninos e meninas (Alves, 1998, Flores-Mendoza e cols, 2007) Para o presente estudo foi realizado análise de Variância ANOVA para comparação do desempenho nos subtestes da Leiter-R entre meninos e meninas. Para o QI Estimado foi considerada a soma dos 4 subtestes que compõe este índice, sendo o mesmo feito para o QI Total de acordo com os subtestes específicos aplicados a cada faixa etária. Os resultados referentes as estatísticas descritivas e inferenciais encontram-se sumariados na Tabela 80. Como pode ser observado em relação as médias, meninas apresentam melhor desempenho em Analogias de Desenho, Formas Completas, Dobra de Papel, QI Estimado e QI Total aos 6 anos. Enquanto que meninos apresentaram maior pontuação no QI Total dos 3 aos 5 anos. ANOVA revelou diferenças significativas para o subteste Dobra de Papel [F(1,52)=4,944; p<0,05] e QI Total aos 6 anos [F(1,52)=7,384; p<0,01]. 134 Tabela 80. ANOVA para efeito de gênero na Leiter-R Gênero N Média DP F p M 117 12,41 3,35 1,053 0,30 F 127 12,90 4,01 Analogias de Desenho M 29 3,69 2,17 3,613 0,06 F 24 4,88 2,40 Formas Completas M 117 18,56 4,32 0,637 0,42 F 127 19,03 4,93 Pareamento M 87 27,03 4,68 0,006 0,93 F 103 27,09 4,52 M 117 8,19 3,48 0,015 0,90 F 127 8,13 3,45 Padrões Repetidos M 117 9,30 4,50 0,069 0,79 F 127 9,15 4,38 Classificação M 87 14,93 3,06 0,326 0,56 F 103 14,68 2,98 Dobra de Papel M 29 3,34 1,71 4,944 0,03 F 24 4,38 1,61 Raciocínio Fluido M 117 17,49 6,32 0,064 0,80 F 127 17,28 6,20 QI Estimado M 117 48,45 11,33 0,236 0,62 (soma dos 4 subtestes) F 127 49,21 12,95 QI Total 35anos (soma dos 6 subtestes) M 87 88,34 14,85 0,180 0,67 F 103 87,93 15,40 QI Total 6 anos (soma dos 6 subtestes) M 29 61,31 13,00 7,384 0,00 F 24 71,54 14,18 Subtestes Figura-Fundo Sequencias Como observado, no geral não há diferença de gênero nos subtestes, no QI Estimado e no QI Total referente à faixa etária de 3 a 5 anos. Entretanto, verificou-se uma tendência no subteste Analogias de Desenho para melhor desempenho no grupo das meninas. No subteste Dobra de Papel e QI Total para crianças de 6 anos pode-se notar 135 diferenças significativas no desempenho de meninos e meninas com maiores médias no grupo das meninas. Essas diferenças corroboram dados da literatura que apontam para diferenças de gênero em habilidades específicas (Flores-Mendoza, 2000). No entanto, vale ressaltar que as habilidades exigidas nestas duas tarefas são comumente associadas à melhor desempenho nos meninos e não nas meninas como mostram os resultados. A diferença no QI Total não corroborou achados da literatura que afirmam não haver diferenças significativas em medidas globais. Entretanto, Lynn (1999) aponta que meninos e meninas apresentam taxas diferentes de amadurecimento físico e mental durante a infância e a adolescência e isso justificaria as diferenças nos testes de inteligência. Mas essas diferenças acontecem dos 9 aos 14 anos em favor de médias mais altas para as meninas e a partir dos 15 este quadro se reverteria em favor dos meninos. Este autor afirma que para as crianças mais novas, entre 6 e 8 anos, essas diferenças não existem porque meninos e meninas se desenvolvem no mesmo ritmo. Além disso, a diferença no QI Total aos 6 anos pode pode ter sido influenciada pelo efeito dos subtestes Analogias de Desenho e Dobra de Papel aplicado exclusivamente a esta faixa etária e onde são verificados maiores desempenhos nas meninas. 5.7. Análises de Correlação com Outros Instrumentos A fim de buscar evidências de validade por padrões de convergência com outros instrumentos, foram realizadas correlações de Pearson entre os Testes Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) e Escala de Maturidade Mental Colúmbia (EMMC) com os índices fornecidos pela Leiter-R. Correlações entre os instrumentos citados com a soma dos pontos brutos referentes ai índice QI Estimado e Raciocínio Fluido são apresentadas na Tabela 81. Tabela 81. Correlações de Pearson entre MPCR, EMMC, QI Estimado e Raciocínio Fluido. Soma dos subtestes (QI Estimado) Raciocínio Fluido Raven 0,588 0,562 Columbia 0,641 0,592 Raciocínio Fluido 0,867 1 Todas as correlações foram significativas ao nível de p< 0,001. 136 Correlações moderadas foram verificadas entre a pontuação total obtida no Raven e o total bruto dos quatro subtestes que compõe uma medida de QI Estimado na Leiter-R. O mesmo foi observado quando a correlação foi feita com o total bruto obtido na EMMC. Entretanto, quando a soma dos subtestes que compõe a medida de Raciocínio Fluido foi correlacionada com a soma dos subtestes do QI Estimado, observou-se uma alta correlação no valor de 0,86. Posteriormente foram realizadas correlações de Pearson entre os instrumentos complementares e as somas dos pontos brutos referentes aos seis subtestes que compõe o índice do QI Total na Leiter-R, apresentadas na Tabela 82. Vale ressaltar que cada índice representa determinado grupo etário. Os subtestes de 3 a 5 anos na Leiter-R são diferentes dos subtestes a partir dos 6 anos e por isso são apresentados em grupos separados. Além disso, a MPCR também foi aplicada a uma parcela da amostra que representa as crianças de 5 e 6 anos de idade. Tabela 82 : Correlação da MPCR e EMMC com o QI Total da Leiter-R MPCR EMMC Soma dos subtestes (QI Total 6 anos) Soma dos subtestes (QI Total 5 anos) Soma dos Subtestes (QI Total 3-5 anos) 0,562 0,650 0,542 - 0,628 Todas as correlações foram significativas ao nível de p< 0,001. Correlações moderadas também foram encontradas quando as pontuações obtidas no Raven na EMMC foram comparadas a soma dos pontos brutos nos 6 subtestes que compõem o QI Total na Leiter-R, para crianças de 6 anos e para crianças de 3 a 5 anos de idade. Embora as analises feitas tenham sido direcionadas conforme os estudos apresentados no manual original do instrumento, as idades da amostra, bem como a disponibilidade de instrumentos que avaliam inteligência na população brasileira representaram algumas limitações deste estudo. As análises que envolvem o QI Total por exemplo, se limitou aos dados de crianças entre 3 e 5 anos. Correlações com os subtestes do QI Total de crianças entre 6 e 10 anos foram realizadas apenas com dados de crianças na faixa etária dos 6 anos de idade. Além disso, os instrumentos utilizados na literatura para convergência com a Leiter-R são o WISC-III que não abrange a faixa etária de préescolares, além do Woodcock Johnson III e o Universal Nonverbal Intelligence Test (UNIT), instrumentos que ainda estão em processo de desenvolvimento no Brasil. 137 Foram realizadas correlações Pearson entre a EMMC e o Raven com os subtestes da Leiter-R. A Tabela 83 apresenta os valores obtidos através desta análise. Tabela 83: Valores de Correlação de Pearson entre os Subtestes da Leiter-R, EMMC e MPCR. FF AD FC PA SE PR CL DP EMMC 0,877 0,942 0,852 0,865 0,833 0,866 0,896 0,956 MPCR 0,952 0,932 0,950 0,955 0,946 0,957 0,974 0,963 Todas as correlações foram significativas ao nível de p< 0,001. Os resultados apontam para altas correlações entre a EMMC e a MPCR com os subtestes da Leiter-R sendo evidenciada como fonte de validade convergente. De acordo com o CFP (2003), esse tipo de validade é verificado a partir do estudo da relação entre teste que em teoria avaliam o mesmo construto. O indicador de evidência de validade se dá a partir de associações significativas e de alta magnitude. Assim como na versão original, foram realizadas correlações entre os subtestes separados nos seguintes grupos: 3, 4-5 e 6 anos. No grupo de 3 anos foram correlacionados os subtestes de 34 sujeitos. No segundo grupo, crianças com 4 e 5 anos, as correlações se deram com 156 sujeitos. E por fim, 54 sujeitos da fixa etária de 6 anos. As correlações de Pearson entre os subtestes para os três grupos encontram-se descritas nas tabelas 84, 85 e 86. Tabela 84: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para a idade de 3 anos. Subtestes FF FC PA SE PR CL Total soma dos subtestes FF 1 0,66** 0,18 0,14 0,39* 0,41* 0,80** FC 0,66** 1 0,35* 0,16 0,28 0,35* 0,50* PA 0,18 0,35* 1 0,07 0,04 0,35* 0,67** SE 0,14 0,16 0,07 1 0,19 0,18 0,66* PR 0,39* 0,28 0,04 0,19 1 0,33 0,64** CL 0,41* 0,35* 0,35* 0,18 0,33 1 0,51** Total 0,80** 0,50* 0,67** 0,66** 0,64** 0,51** 1 soma dos subtestes * Correlação é significativa ao nível de 0,05 ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 138 Tabela 85: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para as idades de 4-5 anos. Subtestes FF FC PA SE PR CL Total soma dos subtestes FF 1 0,59** 0,33** 0,19* 0,46** 0,32** 0,72** FC 0,59** 1 0,25** 0,15* 0,37** 0,31** 0,69** PA 0,33** 0,25** 1 0,14 0,28** 0,26** 0,64** SE 0,19* 0,15* 0,14 1 0,14 0,15 0,37** PR 0,46** 0,37** 0,28** 0,14 1 0,29** 0,67** CL 0,32** 0,31** 0,26** 0,15 0,29** 1 0,56** Total 0,72** 0,69** 0,64** 0,37** 0,67** 0,56** 1 soma dos subtestes * Correlação é significativa ao nível de 0,05 ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 Tabela 86: Correlações entre os subtestes da Bateria VR para a idade de 6 anos. Subtestes FF AD FC SE PR DP Total soma dos subtestes FF 1 0,42** 0,47** 0,47** 0,36** 0,42** 0,80** AD 0,42** 1 0,16 0,37** 0,08 0,20 0,50* FC 0,47** 0,16 1 0,14 0,40** 0,28* 0,67** SE 0,47** 0,37** 0,14 1 0,18 0,28* 0,66** PR 0,36** 0,08 0,40** 0,18 1 0,19 0,64** DP 0,42** 0,20 0,28* 0,28* 0,19 1 0,51** Total 0,80** 0,50* 0,67** 0,66** 0,64** 0,51** 1 * Correlação é significativa ao nível de 0,05 ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 Pode ser observado que em todos os grupos etários houve correlações entre a a maioria dos subtestes. No grupo de 3 anos, apenas o subteste Sequencias ao se correlacionou com os demais, mas apresentou correlação com o total. No grupo de 4 e 5 anos, todos os subtestes apresentaram correlações entre si, exceto o subteste Sequencias que não se correlacionou de forma significativa com Pareamento, Padrões Repetidos e Classificação. Já no grupo de 6 anos pode ser observado que o subteste Figura-fundo se correlaciona significativamente com todos os outros além de todos os subtestes se correlacionarem com o total. Devido ao número de correlações positivas e significativas 139 presente entre os subtestes nos três grupos etários, justifica-se a condução de análises fatoriais exploratórias que serão descritas a seguir. 5.8. Análise Fatorial Exploratória Com o objetivo de avaliar se o número e a composição de variáveis latentes subjacentes ao conjunto de escores do instrumento são mantidos na amostra brasileira, foi realizada análise fatorial exploratória entre os subtestes pertencentes a faixa etária de 3 a 6 anos. De acordo com as análises realizadas na versão original, a amostra foi dividida em 3 grupos etários: 3 anos, 4 e 5 anos e por fim, 6 anos. Desta forma manteve-se o mesmo delineamento, dividindo-se os grupos conforme a versão original. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo de 3 anos de idade revelou os valores de Kaiser-Meyer-Olkin igual a 0,671 e significância do teste de esfericidade de Bartlett igual a 0,001 possibilitando a aplicabilidade da análise fatorial. Utilizou-se o método de análise de componentes principais e rotação varimax. Para a seleção dos fatores o critério adotado foi de eigenvalues maiores ou igual a 1. Esta análise resultou em dois fatores que somados explicam 58,57% da variância total no desempenho na Leiter-R, sendo que a porcentagem restante pode ser explicada por fatores específicos subjacentes a cada subteste. As cargas fatoriais de cada subteste são apresentadas na Tabela 87. Tabela 87. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 3 anos. Subtestes Fator 1 Fator 2 Figura-Fundo 0,638 0,492 Formas Completas 0,756 0,297 Pareamento 0,782 -0,311 Sequencias - 0,613 Padrões Repetidos 0,215 0,753 Classificação 0,649 0,295 Eigenvalues 2,058 1,457 Variância explicada (%) 34,295 24,279 Os resultados da análise fatorial exploratória referente ao grupo etário de 3 anos corroboram os achados de Roid e Miller (1997) os quais maiores cargas dos substestes Sequencias e Padrões Repetidos são observadas em um fator (Fator 2). Enquanto que maiores cargas de Figura-Fundo, Formas Completas, Pareamento e Classificação são 140 observadas no Fator 1. Tais achados revelam evidências de validade relacionadas ao construto no qual a Bateria VR da Leiter-R foi destinada a avaliar. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo de 4 e 5 anos de idade revelou os valores de Kaiser-Meyer-Olkin igual a 0,774 e significância do teste de esfericidade de Bartlett menor que 0,01 indicaram adequação da amostra para a aplicabilidade da análise fatorial. Utilizou-se o método de análise de componentes principais e rotação varimax. Para a seleção dos fatores o critério adotado foi de eigenvalues maiores ou igual a 1. Esta análise resultou em um único fator de eigenvalue igual a 2,499 que explicou 41,65% da variância total no desempenho na Leiter-R, ou seja, mais de 58% da variância é explicada por fatores específicos de cada tarefa separadamente. As cargas fatoriais de cada subteste são apresentadas na Tabela 88. Tabela 88. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 4-5 anos. Subtestes Fator 1 Figura-Fundo 0,807 Formas Completas 0,747 Pareamento 0,571 Sequencias 0,352 Padrões Repetidos 0,687 Classificação 0,607 Diferentemente do observado no grupo anterior, a análise fatorial exploratória referente ao grupo de 4 e 5 anos não revelou a existência de dois fatores subjacentes aos domínios avaliados. Ao observar a matriz de correlação destas faixas etárias (Tabela 85) são verificadas correlações positivas e significativas entre todos os subtestes, exceto para Sequencias em relação aos subtestes Pareamento, Padrões Repetidos e Classificação. Isto corrobora os achados da análise fatorial exploratória em que o subteste Sequencias apresenta a menor carga fatorial em relação aos outros subtestes. Por fim, a Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo de 6 anos de idade revelou os valores de Kaiser-Meyer-Olkin igual a 0,737 e significância do teste de esfericidade de Bartlett menor que 0,01 indicaram adequação da amostra para a aplicabilidade da análise fatorial. Utilizou-se o método de análise de componentes principais e rotação varimax. Para a seleção dos fatores o critério adotado foi de eigenvalues maiores ou igual a 1. Esta análise resultou em dois fatores que explicou 141 61,19% da variância total no desempenho na Leiter-R, sendo cerca de 39% explicada por habilidades específicas referenes a cada tarefa. As cargas fatoriais de cada subteste são apresentadas na Tabela 89. Tabela 89. Análise Fatorial Exploratória referente ao grupo etário de 6 anos. Subtestes Fator 1 Fator 2 Figura-Fundo 0,642 0,559 Completar Formas 0,109 0,810 Analogias de Desenho 0,794 - Sequencias 0,789 0,104 Padrões Repetidos - 0,788 Dobra de Papel 0,428 0,458 Eigenvalues 1,861 1,811 Variância explicada (%) 31,01 30,18 Os resultados obtidos revelam cargas fatoriais semelhantes ao encontrado na versão original. Maiores cargas dos subtestes Formas Completas, Padrões Repetidos e Dobra de Papel encontram-se em um fator (Fator 2), enquanto que maiores cargas de Figura-Fundo e Analogias de Desenho e Sequencias encontram-se em outro fator (Roid e Miller, 1997). No entanto, as cargas fatoriais do subteste Dobra de Papel são muito mais baixas e semelhantes nos dois fatores. Isto replica dados da versão original em que este subteste de fato apresentada menores cargas fatoriais. Desta forma, corrobora-se análises previamente realizadas na versão original da Leiter-R, garantindo a semelhando no agrupamento dos fatores avaliados pelo instrumento. 142 6. CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos através das análises descritivas e inferenciais, foi possível observar que de modo geral, crianças pré-escolares apresentaram progressões no desempenho para cada subteste conforme aumento da idade cronológica. Tais achados corroboram evidências de validade do instrumento de acordo com tendências desenvolvimentais. Isso porque os resultados de testes consistentes com tendências de desenvolvimento bem estabelecidas entre faixas etárias costumam ser vistos como evidências de validade dos escores, pois na maioria dos testes de habilidades o desempenho das crianças e adolescentes das amostras normativas mostra tipicamente uma tendência ascendente em idades cronológicas sucessivas. Evidências de validade por critério também foram observadas. Foram verificadas diferenças no desempenho entre as séries escolares no geral e para alguns subtestes específicos foram encontradas diferenças de desempenho em função do tempo de escolarização independentemente da idade e série escolar, indo de encontro ao que é discutido por muitos autores a respeito da influencia da estimulação ambiental no desempenho em testes de inteligência. As variáveis idade e série se mostraram relevantes na discriminação entre grupos em relação às médias obtidas em cada subteste da Leiter-R. Mas para este estudo é válido afirmar que a idade mostrou-se melhor preditora do desempenho observado entre os grupos. Além disso, comparações entre o desempenho de meninos e meninas corroboram os dados da literatura sobre algumas diferenças em habilidades específicas. Entretanto, para crianças de 6 anos foi observada diferença no desempenho geral diferentemente do que é discritos em estudos prévios, sugerindo-se aumento da amostra nesta faixa etária e novos estudos para verificar se este resultado se replica. Vale ressaltar também a importância do aumento da amostra para análises fatoriais mais consistentes, considerando no mínimo 100 sujeitos por grupo, além do aumento das faixas etárias para verificar evidências de validade para os subtestes Analogias de Desenho e Dobra de Papel. Também é válido considerar que a amostra do presente estudo é advinda exclusivamente de escolas públicas, sendo necessária a aplicação dos mesmos instrumentos em escolas particulares para posterior comparação entre os tipos de escola. No que diz respeito à fidedignidade, os valores dos coeficientes de Alfa de Cronbach e Spearmam-Brown, no geral, revelaram boa precisão dos subtestes preenchendo 143 os requisitos necessários estabelecidos por órgãos internacionais e nacionais. No entanto alguns valores de Alfa de Cronbach abaixo do esperado em determinados grupos mostram que alguns substestes são mais precisos nas idades inciais enquanto outros em idades mais avançadas. As correlações moderadas entre teste e resteste encontram-se dentro do esperado, levando em consideração que crianças nesta faixa etária prodridem no desempenho em intervalos curtos de tempo. Portanto, foi possível verificar evidências de validade e fidedignidade da Leiter-R para uma população em fase pré-escolar de escolas públicas da cidade de São Paulo. Segundo a International Test Comission, a busca por fontes de evidências de validade e fidedignidade é um dos requisitos necessários para atestar a qualidade de um instrumento para que posteriormente este possa ser disponibilizado para o uso na população. 144 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alagao, T.M.A. Um estudo sobre o teste de inteligência Wechsler para crianças: WISCescala de execução em deficientes auditivos. 1984. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1984. Ali, M.S; Suliman, M.S; Kareem, A; Iqbal, M. Comparison of Gender Performance on an Intelligence Test Among Medical Students. J Ayub Med Coll Abbottabad; v.21, n.3, p.163165, 2009. Almeida, L. As aptidões na definição e avaliação da inteligência: o concurso da análise fatorial. Paidéia (Ribeirão Preto), v.12, n.23, 2002. Almeida, L; Guisande, A; Primi, R; Ferreira, A. Construto e Medida da Inteligência: Contributos da Abordagem Fatorial. In: Candeias, A; Almeida, L; Roazzi, A; Primi, R. Inteligência: Definição e Medida na Confluência de Múltiplas Concepções. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008a. Almeida, L.S; Lemos, G; M. Guisande, A; Primi, R. Inteligência, escolarização e idade: normas por idade ou série escolar? Aval. psicol. v.7, n.2, 2008b. Alves I.C.B. Variáveis Significativas na Avaliação da Inteligência. Psicologia Educacional e Escolar; v.2, n.2, p.109-114, 1998. Alves, I.; Duarte, J. Escala de Maturidade Mental Columbia – Padronização Brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. Alves, I.C.B. Novos estudos psicométricos do Teste D-70. Avaliação Psicológica. v.5, n.2, p.251-253, 2006. American Association on Mental Retardation. Mental retardation: classification, and systems of supports. Washington, DC: AAMR, 2002. definition, American Educational Research Association; American Psychological Association; National Council on Measurement in Education. Standards for Educational and Psychological Testing. Washington, DC: American Educational Research Association, 1999. Anastasi, A. Testes Psicológicos. São Paulo: EPU, 1977. Anastasi, A; Urbina, S. Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2000. Andrade, S.A; Santos, D.N; Bastos, A.C; Pedromônico, M.R.M; Almeida-Filho, N; Barreto, M.L. Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma abordagem epidemiológica. Rev Saúde Pública; v.39, n.4, p.606-611, 2005. 145 Andrew, M. Comparison of cognitive deficits among autistic and retarded children on the Arthur Adaptation of the Leiter International Performance Scales. Journal of Autism and Developmental Disorders. v.11, n.4, p.413-426, 1982. Angelini, A.L; Alves, I.C.B; Custódio, E.M; Duarte, W.F; Duarte, J.L. Matrizes Progressivas Coloridas. São Paulo: CETEPP, 1999. American Psychiatric Association - APA. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV: TR. Washington: APA; 2002. Arckerman, P.L. A Theory of Adult Intellectual Development: Process, Personality, Interests, and Knowledge. Intelligence. v.22, p.227-257, 1996. Axelrad, M.E; Glidden, R; Nicholson, L; Gripp K.W. Adaptive skills, cognitive, and behavioral characteristics of Costello syndrome. Am J Med Genet A. v.128A, n.4, p.396400, 2004. Axelrad, M.E; Nicholson, L; Stabley, D.L; Sol-Church, K; Gripp K.W. Longitudinal assessment of cognitive characteristics in Costello syndrome. Am J Med Genet A. v.143A, n.24, p.3185-93, 2007. Baird G; Cass H; Slonims, V. Diagnosis of autism. Brit. Méd. J, v.327, p.488-493, 2003. Bandeira, D.R; Alves, I.C.B; Giacomel, A.E; Lorenzatto, L. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial: Normas para Porto Alegre. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 3, p. 479-486, 2004. Bandeira, D.R; Costa, A; Arteche, A. Estudo de Validade do DFH como Medida de Desenvolvimento Cognitivo Infantil. Psicologia: Reflexão e Crítica; v. 21, n.2, p.332-337, 2008. Barbosa, A.C.C. Busca por evidências de validade do teste de inteligência não-verbal (TONI-3) para escolares surdos. 2007. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. Orientador: Macedo, E.C. Bayley, N. Bayley Scales of Infant Development (2nd ed.; Bayley II). San Antonio, TX: Psychological Corporation, 1993. Bayley, N. Bayley Scales of Infant Development. (Thrid ed.; Bayley III). New York: Harcourt Brace, 2005. Booth, A.E; Waxman, S. Object names and object functions serve as cues to categories for infants. Developmental Psychology; v.38, p.948-957, 2002. Braden, P.J. Intellectual Assessment of Deaf and Hard-of-Hearing People: A Quantitative and Qualitative Research Synthesis. School Psychology Review, v.21, n.1, p. 82-94, 1992. 146 Bradley, R.H; Corwyn, R.F; Burchinal, M; McAdoo, H.P; Coll, C G. The home environments of children in the United States Part II: Relations with behavioural development through age thirteen. Child Development; v.72, p.1868–1886, 2001a. Bradley, R.H; Corwyn, R.F; McAdoo, H.P; Coll, C.G. The home environment of children in the United States Part I: Variations by age, ethnicity, and poverty status. Child Development; v.72, p.1844–1867, 2001b. Brown, L; Sherbenou, R.J; Johnsen, S.K. Test of Nonverbal Intelligence. Third Edition - A Language-free Measure of Cognitive Ability. Austin, Texas: Pro-ed, 1997. Burgemeister, B.; Blum, L.; Lorge, I. Columbia Mental Maturity Scale. New York: Harcout, Brace & Ovanovich, 1972. Carr, J. Stability and change in cognitive ability over the life span: a comparison of populations with and without Down's syndrome. J Intellect Disabil Res, v. 49, n.12, p.915-28, 2005. Campos, H.R. Noções de Psicometria. In: Fuentes, D; Malloy-Diniz, L.F; Camargo, C.H.P; Cosenza, R.M. (Org). Neuropsicologia: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2008 Capovilla, F.C.; Thiers, V.O.; Macedo, E.C.; Duduchi, M. Validação preliminar da adaptação computadorizada para paralisados cerebrais do Teste de Vocabulário por Imagens Peabody.. Temas sobre Desenvolvimento, n. 37, p. 36-41, 1998. Capovilla, A.G.S.; Capovilla, F.C. ; Macedo, E.C. ; Charin, S. Teste Infantil Computadorizado de Nomeação. 2004a. Capovilla, A.G.S; Capovilla, F.C.; Macedo, E.C.; Charin S. Teste Stroop neutro. 2004b. Capovilla, F.C.; Macedo, E.C.; Penna, J.S.; Capovilla, A.G.S. Teleavaliação de leitura e escrita em surdos de 5a e 6a séries incluídos em três escolas públicas comuns do ensino fundamental. In: Prado, O. Z., Fortim, I., Consentino, L.. (Org.). Psicologia e Informática. 1 ed. São Paulo: Conselho Federal de Psicologia, 2006, v. , p. 199-234. Carneiro, P; Meghir, C; Parey, M. Maternal education, home environments and the development of children and adolescents. IZA Discussion Paper 3072, 2007. Disponível em: http://ftp.iza.org/dp3072.pdf Cattell, RB; Cattell, A.K.S. Teste Equicultural de Inteligência. Rio de Janeiro: CEPA, 2002. Ceci, S.J. How Much Does Schooling Influence General Intelligence and Its Cognitive Components? A Reassessment of the Evidence. Developmental Psychology; v.27, n.5, p.703-722, 1991. Chevalier, A; Harmon, C; O’Sullivan, V; ; Walker, I. The impact of parental income and education on the schooling of their children. The Institute for Fiscal Studies, 2005. Disponível em: http://www.ifs.org.uk/wps/wp0505.pdf 147 Conselho Federal de Psicologia. Resolução 002 de 24 de março de 2003. Brasília, 2003. Disponível em: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/legislacao/resolucao/resolução_2003 _002. 2003. Conselho Federal de Psicologia. Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos - SATEPSI. Disponível em: www.pol.org.br/satepsi/sistema. Colletti, L. Beneficial auditory and cognitive effects of auditory brainstem implantation in children. Acta Oto-Laryngologica, v.127, n.9, p. 943 – 946, 2007. Colletti, L; Zocante, L. Nonverbal cognitive abilities and auditory performance in children fitted with auditory brainstem implants: preliminary report. Laryngoscope. v.118, n.8, p.1443-8, 2008. Colzby, P.C. Métodos de pesquisa em ciência do comportamento. São Paulo: Editora Altas, 2003. Cruz, M.B.Z. Estudo de Validação e Precisão da Bateria de Provas de Raciocínio Infantil – BPR5i. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade São Francisco, Itatiba, 2008. Dancey, C.P; Reidy, J. Estatística sem Matemática para Psicologia: Usando SPSS para Windows. Porto Alegre: Artmed, 2006. Dawson, M; Soulières, I; Gernsbacher, M.A; Mottron, L. The Level and Nature of Autistic Intelligence. Psychological Science; v.18, p.657-662, 2007. Dias, N.M. Avaliação Neuropsicológica das Funções Executivas: Tendências Desenvolvimentais e Evidências de Validade de Instrumentos. 2009. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009. Dichi, R.K. Tradução e adaptação cultural da bateria de avaliação de leitura e escrita para a língua hebraica. 2008. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica -PIBIC/Mackpesquisa). Universidade Presbiteriana Mackenzie.2008. Duarte, C.S; Bordin, I.A.S. Instrumentos de Avaliação. Rev Bras Psiquiatr, v.22, Supl II, p.55-8, 2000. Duarte, C.P. Caracterização do Perfil Cognitivo e Avaliação da Memória de Trabalho na Síndrome de Down. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. 2009. Easterbrooks, S.R; O´Rourke, C.M. Gender differences in response to auditory-verbal intervention in children who are deaf or hard of hearing. American Annals of the Deaf. v.146, n.4, p.309-19, 2001. 148 Edwards, L; Khan, S; Broxholme, C; Langdon, D. Exploration of the cognitive and behavioural consequences of paediatric cochlear implantation. Cochlear Implants Int. v.7, n.2, p.61-76, 2006. Eickmann, S.H; Lira, P.I.C; Lima, M.C. Desenvolvimento mental e motor Aos 24 meses de crianças nascidas A termo com baixo peso. Arq Neuropsiquiatr; v.60, n.3B, p.748-754, 2002. Fagan J.F. Diferenças Individuais na Inteligência dos bebês. In: Flores-Mendoza, C.E.; Colom, R. Introdução à Psicologia das Diferenças Individuais. Porto Alegre: Artmed, 2006. Farrell, M.M; Phelps, L. A Comparison of the Leiter-R and the Universal Nonverbal Intelligence Test (UNIT) with Children Classified as Language Impaired. Journal of Psychoeducational Assessment, v.18, n.3, 2000. Fecteau S., Lepage J.F., Theoret H. Autism Spectrum Disorder: Seeing Is Not Understanding. Current Biology., vol.21, n.16, p.131-133, 2006. Fernandes, J;Gandra, Y.R. Instrumento de avaliação do desenvolvimento de pré-escolares dos Centros de Educação e Alimentação do Pré-Escolar. Rev. Saúde Publ; v.15, p.79-90, 1981. Ferreira, F.O; Coutinho, G; Freitas, P.M; Malloy-Diniz, L.F; Haase, V.G. O exame neuropsicológico na idade pré-escolar. In: Malloy-Diniz, L.F; Fuentes, D; Mattos, P; Abreu, N. (Org). Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2010. Figueiredo, V.L.M. WISC III: escala de inteligência Wechsler para crianças –adaptação brasileira da 3ª edição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. Figueiredo, V.L.M; Quevedo, L.A; Gomes, G; Pappen, L.G. Habilidades cognitivas de crianças e adolescentes com distúrbio de aprendizagem. Psico USF. v.12, n.2, p.281-290, 2007. Fisber, M; Pedromônico, M.R; Braga, J.A.P; Ferreira, A.M.A; Pini, C; Campos, S.C.C; Lemes, S.O; Silva, S; Silva, R.S; Andrade, T.M. Comparação do desempenho de préescolares, mediante teste de desenvolvimento de Denver, antes e após intervenção nutricional. Rev Ass Med Brasil; v.43, n.2, p.99-104, 1997. Fleck, M.P.A. O instrumento de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde: características e perspectivas. Ciência e Saúde Coletiva. v.5, n.1. p.33-38, 2000. Flemmer, D.D; Roid, G.H. Nonverbal intellectual assessment of Hispanic and speechimpaired adolescents. Psychol Rep, v.80, n.3, p.1115-22, 1997. Flores-Mendoza, C. Diferenças intelectuais entre homens e mulheres: uma breve revisão da literatura. Psicólogo inFormação; v.4, n.4, p.25-34, 2000 149 Flores-Mendoza, C. O Estudo das Diferenças Individuais no Brasil. In: Flores-Mendoza, C.E.; Colom, R. Introdução à Psicologia das Diferenças Individuais. Porto Alegre: Artmed, 2006. Flores-Mendoza, C.E; Nascimento, E. Condição cognitiva de crianças de zona rural. Estud. psicol. (Campinas), v.24, n.1, p.13-22, 2007. Flores-Mendoza, C.E; Inteligência. In: Malloy-Diniz, L.F; Fuentes, D; Mattos, P; Abreu, N. (Org). Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2010. Flynn, J.R. In: Flores-Mendoza, C.E; Colom, R. Introdução à Psicologia das Diferenças Individuais. Porto Alegre: Artmed, 2006. Flynn, J.R.; Weiss, L.G. American IQ Gains From 1932 to 2002: The WISC Subtests and Educational Progress. International Journal of Testing, v.7, n.2, p.209–224, 2007. Frankenbrug, W.K; Dodds, J; Archer, P; Shapiro, H; Beverly, B. Denver II: A Major revision and restandartization of the Denver Developmental Screening Test. Pediatrics; v.80, p.91-97, 1992. Gabriels, R.L; Cuccaro M.L; Hill D.E; Ivers B.J; Goldson E. Repetitive behaviors in autism: relationships with associated clinical features. Res Dev Disabil, v.26, n.2, p.16981, 2005. Gandra, Y.R. O pré-escolar de 2 a 6 anos de idade e o seu atendimento. Rev. Saúde Publ; v.15, p.3-8, 1981. Garcia-Molina, A; Tirapu-Ustárroz, J; Luna-Lario, P; Ibáñez, J; Duque, P. ¿Son lo mismo inteligencia y funciones ejecutivas? Rev Neurol; v.50, n.12, p.738-746, 2010. Garzuzi, Y. Comparação dos fenótipos comportamentais de crianças e adolescentes com síndrome de Prader-Willi, síndrome de Williams-Beuren e síndrome de Down. 2008. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2008. Gauer, G; Gomes, C.M.A; Haase, V.G. Neuropsicometria: Modelo Clássico e Análise de Rasch. In: Malloy-Diniz, L.F; Fuentes, D; Mattos, P; Abreu, N. (Org). Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2010. Gazzaniga, M.S; Ivry, R.B; Mangun, G.R. Neurociência cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2006. Glenn, S; Cunningham, C. Performance of young people with Down syndrome on the Leiter-R and British picture vocabulary scales. J Intellect Disabil Res, v. 49, n.4, p.239244, 2005. Gomes, C.M.A; Borges, O.N. Validação do modelo de inteligência de Carroll em uma amostra brasileira Avaliação Psicológica; v.6, n.2, p. 167-179, 2007. 150 Gordon, M; Barkley, R.A; Lovett, B.J. Tests and Observational Measures. In: Barkley, R.A. Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A handbook for diagnosis and Treatment. New York: The Guilford Press, 2006. Grillo, E; Silva, R.J.M. Early manifestations of behavioral disorders in children and adolescents. Jornal de Pediatria; v.80, s.2, p.21-27, 2004. Grondhuis, S.N. Comparison of the Leiter International Performance Scale-Revised and the Stanford-Binet Intelligence Scales, 5th Edition in Children with Autism Spectrum Disorders. 2010. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade de Ohio. 2010. Halpern, R; Barros, F.C; Horta, B.L; Victora, C.G. Desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de idade em uma coorte de base populacional no Sul do Brasil: diferenciais conforme peso ao nascer e renda familiar. Cad. Saúde Públ; v.12, Supl.1, p.73-78, 1996. Hambleton, R.K; Patsula, L. Increasing the validity of adapted tests: myths to be avoid and guidelines for improving test adaptation practices. Journal of Applied Testing Technology, v.1, 1999. Hamdan, A.C; Pereira, A.P.A. Avaliação neuropsicológica das funções executivas: considerações metodológicas. Psicol. Reflex. Crit; vol.22, n.3, pp. 386-393, 2009. Hampshire, A; Thompson, R; Duncan, J; Owen, A.M. Lateral Prefrontal Cortex Subregions Make Dissociable Contributions during Fluid Reasoning. Cerebral Cortex. 2010. In Press. Happé, F; Frith, U. The Neurpsychology of Autism. Brain; v.119, p.1377-1400, 1996. Heller, H.J; Spiridigliozzi, G.A; Crissman, B.G; Sullivan, J.A; Eells, R.L; Li, J.S; Doraiswamy, P.M; Krishnan, K.R; Kishnani, P.S. Safety and Efficacy of Rivastigmine in Adolescents with Down Syndrome: A Preliminary 20-Week, Open-Label Study. Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology, v.16, n.6, p.755-765., 2006. Hill-Briggs, F; Dial, J.G; Morere, D.A; Joyce, A. Neuropsychological assessment of persons with physical disability, visual impairment or blindness, and hearing impairment or deafness. Archives of Clinical Neuropsychology; v.22, p.389-404, 2007. Hogan, TP. Introdução à Prática de Testes Psicológicos. Rio de Janeiro: LTC, 2006. Hooper, S.R; Hatton, D.D; Baranek, G.T; Roberts, J.P; Bailey Jr, D.B. Nonverbal Assessment of IQ, Attention, and Memory Abilities in Children with Fragile-X Syndrome Using the Leiter-R .Jounal of . Psychoeducational Assessment, v.18, n.3, p.255-267, 2000. Huang, HL; Shieh, Y.L; Wu, H.J; Chuang, S.F; Yang, P; Jong, Y.J. Asperger's syndrome and aberrant neurofunctional organization--a case report. Kaohsiung J Med Sci., v.18, n.4, p.198-204, 2002. Huizinga, M. Dolan, C. V. & Molen, M. W. Age-related change in executive function: Developmental trends and latent variable analysis. Neuropsychologia; v,44, p.2017-2036, 2006. 151 Järvinen-Pasley, A; Bellugi, U; Reilly J; Mills DL; Galaburda A; Reiss AL; e cols., 2008. Defining the social phenotype in Williams syndrome: a model for linking gene, the brain, and behavior. Dev Psychopathol. v.20, n.1, p.1-35. 2008. Kaufman, A.S; Kaufman, N.L. Kaufman Brief Intelligence Test. Circle Pines, MN: American Guidance Service, 1990. Khan, S; Edwards, L; Langdon, D. The cognition and behaviour of children with cochlear implants, children with hearing aids and their hearing peers: a comparison. Audiol Neurotol; v.10, n.2, p.117-126, 2005. Khou, X.; Zhu, J.; Weiss, L.G. Peeking inside the “black box” of the Flynn effect: Evidence from three Wechsler instruments. Journal of Psychoeducational Assessment. V.28, p.399-411, 2010. Kittala, M; Aunio, P; Hautamaki, J. Working memory resources in young children with mathematical difficulties. Scandinavian Journal of Psychology; v.51, p.1–15, 2010. Klauer, K.J; Phye, G.D. Cognitive Training for Children: A Developmental Program of Inductive Reasoning and Problem Solving. Toronto: Hogrefe & Huber Publishers, 1995. Klenberg, L; Korkman, M; Lahti Nuuttila, P. Differential development of attention and executive functions in 3 to 12 year-old Finnish children. Developmental Neuropsychology; v.20, 407-428, 2001. Kray, J; Eber, J; Lindenberger, U. Age differences in executive functioning across the lifespan: The role of verbalization in task preparation. Acta Psychogica; v.115, 143-165, 2004. Kuriyama, C.T. Tradução e adaptação da bateria de avaliação de leitura e escrita (Bale) em Hiragana. 2007. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. Orientador: Macedo, E.C. Kuschner, E.S; Bennetto, L; Yost, K Patterns of nonverbal cognitive functioning in young children with autism spectrum disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders v.37, n.5, 2007. Kutz, W; Wright, C; Krull, K.R; Manolidis, S. Neuropsychological testing in the screening for cochlear implant candidacy. The Laryngoscope. v.113, n.4, p.763-766, 2003. Lopes, R.F.F; Moreira, A.P.G; Guimarães, C.A; Lopes, E.J. Características psicométricas da Bateria Padrão do Universal Nonverbal Intelligence Test (UNIT): um estudo preliminar. Psicol. esc. educ. v.10 n.2, p. 273-282, 2006. Lopes, W.M.G. Teste de Inteligência Não-Verbal de Pierre Wiel: Parâmetros Psicométricos. 2009. Tese (Doutorado em Psicologia). Universidade São Francisco, Itatiba. 2009. 152 Luton, L.M; Burns, T.G; DeFilippis, N. Frontal Lobe Epilepsy in Children and Adolescents: A Preliminary Neuropsychological Assessment of Executive Function. Archives of Clinical Neuropsychology; 2010. In Press. Lynn, R. Differences between males and females in mean IQ and university examination performance in Ireland. Personality and Individual Differences; v. 20, n.5, p.649-652, 1996. Lynn, R. Sex differences in intelligence and brain size: A developmental theory. Intelligence; v.27, n.1, p.1-12, 1999. Macedo, E.C. ; Charin, S; Capovilla, F.C. Teste-Token-Comp: Programa para avaliação de compreensão auditiva, 2002. Macedo, E.C.; Capovilla, F. C; Duduchi, M. ; D'antino, M.E.F. ; Firmo, L. S. Avaliando linguagem receptiva via Teste de Vocabulário por Imagens Peabody: versão tradicional versus computadorizada. Psicologia. Teoria e Prática, v. 8, p. 40-50, 2006. Macedo, E.C; Firmo, L.S; Duduchi, M; Capovilla, F.C. Avaliando linguagem receptiva via Teste Token: versão tradicional versus computadorizada. Avaliação Psicológica, v. 6, p. 61-68, 2007. Mader, M.J; Thais, M.E.R.O; Ferreira, M.G.R. Inteligência: um conceito amplo in Andrade, V. M; Santos, F. H; Bueno, O. F. A. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004. Malloy-Diniz, L.F; Sedo, M; Fuentes, D; Leite, W.B. Neuropsicologia das funções ejecutivas. In: Fuentes, D.; Malloy-Diniz, L.F; Camargo, C.H.P; Cosenza, R.M. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. McGrew, K.S; Flanagan, DP. The intelligence test desk reference (ITDR) – Gf-Gc cross battery assessment. Boston: Allyn & Bacon, 1998. McGrew, K. CHC theory and the human cognitive abilities project: Standing on the shoulders of the giants of psychometric intelligence research. Intelligence; v. 37, p. 1–10, 2009. McGrew, K.S; Woodcock, R.W. Woodcock-Johnson III. Itasca, IL: Riverside Publishing, 2001. McGrew, K.S. Carroll Human Cognitive Abilities Project. 2004. Disponível em: http://www.iapsych.com/chcdef.htm. McLaren, K.P; Richards, H.C. Adaptive Behavior Scale Cognitive Triad: discrimination and classification of institutionalized mentally retarded adults. American Journal of Mental Deficiency, v.91, n.3, p.304-07, 1986. Méio, M.D.B.B; Lopes,C.S; Sichieri, R; Morsch, D.S. Confiabilidade do Teste WPPSI-R na avaliação do desenvolvimento cognitivo de pré-escolares. Cad. Saúde Pública; v.17, n.1, p.99-105, 2001. 153 Menghini, D; Addona, F; Costanzo, F; Vicari, S. Executive Functions in Individuals with Williams Syndrome. Journal of Intellectual Disability Research; v.54, n.5, p.418–432, 2010. Mercadante, M.T.; Macedo, E.C.; Baptista, P.M.; Paula, C.S. Schwartzman, J.S. Saccadic movements using eye-tracking technology in individuals with autism spectrum disorders: pilot study. Arq Neuropsiquiatr, v.64, p.559-62, 2006. Messick, S. Validity. In: Linn, R.L. Educational Measurement. New York: Macmillan, 1989. Miranda, M.J. A Inteligência Humana: Contornos da Pesquisa. Paidéia (Ribeirão Preto), vol.12, n.23, 2002. Mol, D.A.R; Wechsler, S.M. Avaliação de crianças com indicação de dificuldades de aprendizagem pela bateria Woodcock-Johnson III. ABRAPEE; v. 12, n.2, p.391-399, 2008. Monteiro, C. Fenótipo comportamental na Síndrome de Williams-Beuren e na Síndrome de Prader-Willi. 2008. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica -PIBIC/Mackpesquisa). Universidade Presbiteriana Mackenzie.2008. Montenegro, M.R.G.N. Avaliação e estudo dos comportamentos de orientação social e atenção compartilhada nos transtornos invasivos do desenvolvimento. 2006. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. 2006. Myrelid, A; Bergman, B; Strömberg, E.M; Jonsson, B; Nyberg, F; Gustafsson, J; Annerén, G. Late effects of early growth hormone treatment in Down syndrome. Acta Pædiatrica. v.99, n.5, p.763 – 769, 2010. Nascimento, N. WAIS III: escala de inteligência Wechsler para adultos–adaptação brasileira da 3ª edição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. Nascimento, E.; Flores-Mendoza, C.E. WISC-III e WAIS-III na Avaliação da Inteligência de Cegos. Psicologia em Estudo, v.12, n.3, p.627-633, 2007. Nelson, P.A,; Dial, J.G.; Joyce, A. Validation of the Cognitive Test for the Blind as an assessment of intellectual functioning. Rehabilitation Psychology, v.47, n. 2, p.184-93, 2002. Noronha, A.P.; Freitas, F.A.; Ottati, F. Parâmetros Psicométricos dos testes psicológicos de inteligência. Interação em Psicologia, v.6, n.2, p.195-201, 2002. Noronha, Santos e Sisto, Teste dos relógios e R-1: forma B: evidências de validade. Psico (Porto Alegre); v. 36, n. 3, pp. 243-250, 2005. Oliveira, R. R-2: Teste de Inteligência não-verbal para crianças. São Paulo: Vetor Editora, 2000. 154 Oliveira, A.F. Evidências de validade de instrumentos para avaliação de inteligência, personalidade e atenção. 2008. Tese (Doutorado em Psicologia). Universidade São Francisco, Itatiba. 2008. Orsati, F.; Schwartzman, J.S.; Brunoni, D.; Mecca, T; Macedo, E.C. Novas Possibilidades na Avaliação Neuropsicológica dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: Análise dos Movimentos Oculares. Revista de Avaliação Psicológica, v.7, n.3, p.281-290, 2008. Orsati, F.T; Mecca, T; Schwartzman, J.S; Macedo, E.C. Percepção de faces em crianças e adolescentes com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Paidéia (Ribeirão Preto). v.19, n.44, pp. 349-356, 2009. Pacanaro, S.V; Santos, A.A.A; Suehiro, A.C.B. Evidências de validade do TONI 3 com pessoas com Síndrome de Down. Arq. Bras. Psicol; v.61 n.3, p.107-116, 2009. Papalia, D.E; Olds, S.W; Feldman, R.D. Desenvolvimento Humano. São Paulo: McGrawHill, 2009. Pasquali, L. Psicometria: Teoria e aplicações. Brasília: Editora da UnB, 1998. Pasquali, L; Wechsler, S; Bensusan, E. Matrizes Progressivas do Raven Infantil: um estudo de validação para o Brasil. Aval. psicol., v.1, n.2, p.95-110, 2002. Pasquali, L. TNVRI - Teste Não Verbal de Raciocínio Infantil. São Paulo: Vetor Editora, 2005. Pasquali, L. Taxonomia dos Instrumentos Psicológicos. In: Pasquali, L. e colaboradores. Instrumentação Psicológica: Fundamentos e Práticas. Porto Alegre: Artmed, 2010. Penn, H.E. Neurobiological correlates of autism: a review of recent research. Neuropsychol Dev Cogn C Child Neuropsychol, vol.12, supl.1, p.57-79, 2006. Pinheiro, I.M.S; Poelman, A.M.S.S; Camargos Junior, W. Avaliação psicométrica da inteligência de crianças portadoras de transtornos invasivos do desenvolvimento (tid). Temas Desenvolv; v.10, n.55, p.14-18, 2001. Primi, R; Almeida, L. Estudo de validação da Bateria de Provas de Raciocínio – BPR-5. Psic.: Teor. e Pesq. v.16, n.2, p. 165-173, 2000. Primi, R; Satos, A.A; Vendramini, C.V; Taxa,F; Muller, F.A; Lukjanenko, M.F; Sampaio, I.S. Competências e Habilidades Cognitivas: Diferentes Definições dos Mesmos Construtos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.17, n2, p.151-159, 2001. Primi, R. A Inteligência Fluida: Definição fatorial, cognitiva e neuropsicológica. Paidéia (Ribeirão Preto), vol.12, n.23, p.57-75, 2002. Primi, R. Inteligencia: Avanço nos modelos teóricos e nos instrumentos de medida. Avaliação Psicológica, v.1, p. 67-77, 2003. 155 Primi, R; Flores-Mendoza, C.E. O Estudo da Inteligência no Brasil. In: Flores-Mendoza, C.E; Colom, R. Introdução à Psicologia das Diferenças Individuais. Porto Alegre: Atrmed, 2006. Ractiflle, M.W; Ractiflle, K.J. A comparison of the Weschsler Intelligence Scale for Children-Revised and Leiter International Performance Scale for a group of educationally handicapped adolescents. Journal of Clinical Psychology, v.36, n.1, p.310-12, 1980. Raven, J.C. Colored Progressive Matrices Sets A, Ab, B. Oxford: Oxford Psychologists Press Ltd, 1947. Raven J.C. Matrizes Progressivas - Escala Geral. Rio de Janeiro: CEPA, 2000. Rinaldi, RH. Uma alternativa na avaliação da inteligência infantil: o Teste R-2. Bol. Psicol; v.53, n.119, p.117-130, 2003. Roazzi, A; Souza, B.C. Repensando a inteligência. Paidéia (Ribeirão Preto), v.12, n.23, 2002. Rocha, T.S; Guardiola, A; Piva, J.P; Ricachinevski, C.P; Nogueira, A. Neuropsychomotor development before and after open-heart surgery in infants. Arq Neuropsiquiatr; v.67, n.2B, p.457-462, 2009. Roid, G. H. Stanford-Binet Intelligence Scales: Fifth Edition. Itasca, IL: Riverside, 2003. Roid, G. H; Miller, L. J. Leiter International Performance Scale-Revised. Wood Dale, IL: Stoelting, 1997. Rosa, H.R; Alves, I.C.B. R-2 - Teste de Inteligência Não Verbal para Crianças. São Paulo: Vetor Editora, 2000. ESSA REFERENCIA NÃO TEM NO TEXTO Rosa, H.R. Uma alternativa na avaliação da inteligência infantil: o Teste R-2. Bol. psicol; v.53, n.119, p.117-130, 2003. ESSA REFERENCIA NÃO TEM NO TEXTO Sampaio, A.E.M. As escalas Wechsler no diagnóstico neuropsicológico de crianças com distrofia muscular de Duchenne. 2004. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2004. Santo, J.L; Portuguez, M.W; Nunes, M.L. Cognitive and behavioral status of low birth weight preterm children raised in a developing country at preschool age. Jornal de Pediatria; v.85, n.1, p.35-41, 2009. Santos, A.A; Noronha, A.P.P; Sisto, F.F. Teste de Inteligência R-1 forma B e G36: Evidência de validade convergente. Estud. psicol. (Natal); v.10, n.2, p. 191-197, 2005. Schelini, P.W; Wechsler, S. Bateria Multidimensional de Inteligência Infantil: Desenvolvimento de Instrumento. Psico-USF, v.10, n.2, p.129-139. 2005. Schelini, P.W. Teoria das inteligências fluida e cristalizada: início e evolução. Estudos de Psicologia, v.11, n.3, p. 323-332, 2006. 156 Schirmer1, C.R; Portuguez, M.W; Nunes, M.L. clinical assessment of language development in children at age 3 years that were born preterm. Arq Neuropsiquiatr; v.64, n.4, p.926-931, 2006. Shah, A; Holmes, N. The use of the Leiter International Performance Scale with autistic children.1985; Journal of Autism and Developmental Disorders, v.15, n.2, p.195-203, 1985. Shelton, J.T; Elliott, E.M; Matthews, R.A; Hill, BD; Gouvier, D. The Relationships of Working Memory, Secondary Memory, and General Fluid Intelligence: Working Memory Is Special. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory and Cognition; v.36, n.3, p. 813-820, 2010. Silva, M.; Mulick, J.A. Diagnosticando o Transtorno Autista: Aspectos Fundamentais e Considerações Práticas. Psicologia: Ciência e Profissão. v.29, n.1, p.116-131. 2009. Simões, M.R. Utilizações da WISC-III na Avaliação Neuropsicológica de Crianças e adolescentes. Paidéia (Ribeirão Preto), v.12, n.23, 2002. Sisto, F.F; Santos, A.A.A; Noronha, A.P.P. Critério de Integração do Teste de Bender: Explorando Evidências de Validade. Avaliação Psicológica, v.3, n.1, p. 13-20, 2004. Sisto, F.F. Desenho da Figura Humana. São Paulo: Vetor Editora, 2005. Sisto, F.F.; Noronha, A.P.; Santos, A.A.A. Toni-3: forma A. São Paulo: Vetor Editora, 2006. Sisto, F.F; Rueda, F.J; Bartholomeu, D. Estudo sobre a unidimensionalidade do teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Psicol. reflex. crit; v.19, n.1, p.66-73, 2006. Skinner, M; Hooper S; Hatton, D.D; Roberts, J; Mirrett , P; Schaaf, J; Sullivan, K; Wheeler, A; Bailey Jr, B.B; Mapping nonverbal IQ in young boys with fragile X syndrome. American Journal of Medical Genetics, Part A, v.132, n.1, p.25-32, 2005. Sternberg, R.J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008. Sternberg, R.J. The Flynn Effect: So What? Journal of Psychoeducational Assessment. NO PRELO. Tillman, C.M; Bohlin, G; Sörensen, L; Lundervold, A.J. Intelligence and Specific Cognitive Abilities in Children. Journal of Individual Differences; v. 30, n.4, p.209-219, 2009. Totsika, V.; Sylva, K. The Home Observation forMeasurement of the Environment Revisited. Child and Adolescent Mental Health. v. 9, n.1, p. 25–35, 2004. Trevisan, B.T ; Godoy, S; Dias, N.M; Prado, J; Tortella, G; Menezes, A; Seabra, A.G. Desenvolvimento do controle inibitório em crianças pré-escolares. In: I Reunião anual do 157 IBNeC, 2010, Rio de Janeiro. I Reunião anual do IBNeC. Rio de Janeiro : INEC/IBNeC, p. 129-130. 2010. Tsatsanis, K.D; Dartnall, N; Cicchetti, D; Sparrow, S.S; Klin, A; Volkmar, F.R. Concurrent Validity and Classification Accuracy of the Leiter and Leiter-R in LowFunctioning Children with Autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, v.33, n.1, 2003. Urbina, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Algre: Artmed, 2007. Vista, A.D.; Grantham, T.C. Effects of Parental Education Level on Fluid Intelligence of Philippine Public School. Journal of Psychoeducational Assessment. v.28, n.3, p.236-248, 2010. Wechsler, D. Wechsler Adult Intelligence Scale. San Antonio, TX: The Psychological Corporation, 1981. Wechsler, D. Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence- Revised. San Antonio, TX: The Psychological Corporation, 1989. Wechsler, D. Wechsler Intelligence Scale for Children – Fourth Edition. San Antonio, TX: The Psychological Corporation, 2003. Wechsler, D. Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence-Third Edition: Canadian Manual. Toronto: Harcourt Assessment, 2004. Wechsler, S; Schelini, P.W. Bateria de Habilidades Cognitivas Woodcock-Johnson III: Validade de Construto. Psicologia: Teoria e Pesquisa; v.22, n.3, p.287-296, 2006. Williams, B. R., Ponesse, J. S., Schachar, R. J., Logan, G. D., & Tannock, R. Development of inhibitory contrl across the life span. Development Psycholog; v.35, 205-213, 1999. Zeesman, S; Nowaczyk, M.J; Teshima, I; Roberts, W; Cardy, J.O; Brian, J; Senman, L; Feuk, L, Osborne, L.R; Scherer, S.W. Speech and Language Impairment and Oromotor Dyspraxia Due to Deletion of 7q31 That Involves FOXP2. Am J Med Genet A., v.140, n.5, p.509-14, 2006. 158 8. APÊNDICES Apêndice A. CARTA DE INFORMAÇÃO A INSTITUIÇÃO Esta pesquisa tem como objetivo realizar a tradução, adaptação, precisão e validação da Bateria de Raciocínio e Visualização da Leiter International Performance Scale – Revised em crianças de 3 a 6 anos de idade. Os dados para o estudo serão coletados através da aplicação da Bateria citada e dos seguintes testes complementares: Matrizes Coloridas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pela pesquisadora responsável em escolas públicas, sem comprometer as atividades escolares do aluno. Para tal solicitamos a autorização desta instituição para a triagem de colaboradores, e para a aplicação de nossos instrumentos de coleta de dados; o material e o contato interpessoal não oferecerão riscos de qualquer ordem aos colaboradores e à instituição. Os indivíduos não serão obrigados a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Tudo o que for falado será confidencial e usado sem a identificação do colaborador e dos locais. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou depois, poderão ser livremente esclarecidas, bastando entrar em contato conosco no telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. Obrigado. _______________________________ Tatiana Pontrelli Mecca Universidade Presbiteriana Mackenzie Tel: 2144-8878 ______________________________ Elizeu Coutinho de Macedo Universidade Presbiteriana Mackenzie Tel: 2144-8878 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)___________ ____________________________________, representante da Instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a Instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,....... de .............................. de .............. __________________________________________ Assinatura do representante legal da Instituição 159 Apêndice B. CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA Esta pesquisa tem como objetivo realizar a tradução, adaptação, precisão e validação da Bateria de Raciocínio e Visualização da Leiter International Performance Scale – Revised em crianças de 3 a 6 anos de idade. Os dados para o estudo serão coletados através da aplicação da Bateria citada e dos seguintes testes complementares: Matrizes Coloridas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pela pesquisadora responsável em escolas públicas, sem comprometer as atividades escolares do aluno. Este material será posteriormente analisado e discutido na comunidade científica. Será garantido sigilo absoluto, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do local da coleta de dados. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum. Os dados coletados serão utilizados na pesquisa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie. _______________________________ Tatiana Pontrelli Mecca Universidade Presbiteriana Mackenzie Tel: 2144-8878 ______________________________ Elizeu Coutinho de Macedo Universidade Presbiteriana Mackenzie Tel: 2144-8878 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ______________________________________, responsável por ______________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,....... de ..............................de.................. ________________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal 160 Apêndice C. 161