ÁREA TEMÁTICA: 18- Dupla Excepcionalidade: altas habilidades/superdotação com TDAH, Dislexia, Asperger, etc... INTELIGÊNCIA E SUPERDOTAÇÃO EM CRIANÇAS ASPERGER E SAVANT METTRAU, Marsyl Bulkool 1 MACEDO, Mariângela Miranda Ferreira 2 AZEVEDO, Sônia Maria Loureço de 3 MACEDO, Cássia Miranda 4 RESUMO: Na Psicologia cognitiva o conceito de inteligência torna-se mais polêmico quando se aborda que tipo de inteligência se mede e que nível de Quociente de Inteligência (QI) as crianças com dupla excepcionalidade, seja Superdotação/Asperger ou Superdotação/Savant apresentam em relação ao seu grupo. Afinal são consideradas crianças com altas habilidades/superdotação? O Objetivo Geral foi investigar o QI de crianças incluindo as diagnósticadas com Transtorno de Asperger e Síndrome de Savant. Os participantes foram 100 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 16 anos e 11 meses, de nível sócio-econômico intermediário. Os instrumentos foram Escalas Wechsler, WISC-III, terceira edição (Wechsler, 2002) e Questionário Análise sócio-econômico (ABEP, 2009). A análise estatística foi realizada através do Programa SPSS. Os resultados mostraram Quociente de Inteligência (QI), significativo para crianças com Transtorno Asperger e resultado de QI abaixo da Média para criança com Síndrome de Savant. Pôde-se confirmar que a dupla excepcionalidade, Superdotação/Savant é questionável, devido resultados de Quociente de Inteligência, não apontarem QI igual ou superior a 130. Ficou confirmado que essas crianças possuem um domínio excepcional em determinada área e déficits em várias habilidades. Os resultados de QI em crianças com Transtorno Asperger foram acima de 130 e pôde-se confirmar a dupla excepcionalidade, apesar de seus comprometimentos graves e persistentes em determinados aspectos. Seria importante em pesquisas futuras realizar medidas de QI diferenciadas nas próprias habilidades que as crianças consideradas Savants obtiveram resultados excepcionais. Palavras-Chave: Altas Habilidades; Escalas de Inteligência Wechsler; Transtornos Globais do Desenvolvimento. 1 Doutorado em Educação pela Universidade do Minho, Portugal. Professor da Universidade Salgado de Oliveira, Niterói – RJ. Brasil. E-mail: [email protected] 2 Mestrado em Psicologia pela Universidade Salgado de Oliveira, Brasil. Clínica de Psicologia (PsicoClin) Vitória, ES. E-mail: [email protected] 3 Mestrado em Psicologia pela Universidade Salgado de Oliveira, Brasil. Psicóloga educacional da Secretaria municipal de Educação Município de Duque de Caxias, Brasil. E-mail: [email protected] 4 Centro Universitário Serra dos Orgãos - Medicina, Teresópolis, RJ ABSTRAT: In cognitive psychology the concept of intelligence becomes more controversial when discussing what kind of intelligence is measured and what level of Intelligence Quotient (IQ) children with dual exceptionality, is Gifted / Giftedness and Asperger / Savant present in relation to its group. After all children are considered high ability / gifted? The general objective was to investigate the IQ of children including those diagnosed with Asperger's Disorder and Savant Syndrome. Participants were 100 children and adolescents aged 6 to 16 years and 11 months, the socio-economic intermediary. The tools were Wechsler Scales, WISC-III, third edition (Wechsler, 2002) and Socio-economic Survey (ABEP, 2009). Statistical analysis was performed using the SPSS program. The results showed Intelligence Quotient (IQ), significant for children with Asperger disorder and IQ score below the average for children with Savant Syndrome. We could confirm that the dual exceptionality, Gifted / Savant is questionable, given the results of intelligence quotient, IQ does not indicate less than 130. It was confirmed that these children have an exceptional area in a given area and deficits in various skills. The IQ scores in children with Asperger Disorder were above 130 and was able to confirm the dual exceptionality, despite his severe and persistent impairments in certain aspects. It would be important in future studies to perform measurements of IQ in the very different skills that children considered Savants have achieved exceptional results. Keywords: High Abilities, Wechsler intelligence scales, Pervasive Developmental Disorders. Introdução A inteligência é um conceito que pode ser considerado como o que amarra toda a psicologia cognitiva (Sternberg, 2008). Vários autores revelam dificuldades para definir inteligência e fazem referência à ambigüidade do conceito. Se a contextualização de inteligência é complexa, considerar-se-á o fato da avaliação desta em crianças com Transtorno de Asperger ou Síndrome de Savant serem ainda mais complexas. Para Almeida (1994) a inteligência é basicamente tomada como “energia” ou capacidade de resolver problemas e sua medida feita através dos testes de QI, ou seja, testes que medem o quociente de inteligência do indivíduo. Portanto, é preciso entender o que os testes de QI medem. O estudo da inteligência tem uma longa história na psicologia, com muitas investigações, várias teorias propostas para explicar os fenômenos encontrados e inumeráveis polêmicas (Da Silva, 2005). Torna-se, portanto, relevante saber como investigar este assunto tão complexo que é a inteligência e as questões inerentes à sua definição e avaliação e que ainda provocam grande interesse nos diversos campos científicos. Afinal, percebe-se muita dificuldade para integrar os conceitos da cognição humana e suas teorias. Almeida (1994) relata que o próprio conceito de inteligência aparece em vários estudos reduzidos aos resultados em testes de QI. E no sentido da convergência de aspectos mais gerais e mais específicos na realização cognitiva, podem-se apontar os pressupostos teóricos, subjacentes às Escalas de Inteligência Wechsler. Esta escala, assumida como um instrumento de avaliação cognitiva (Wechsler, 2002), pretende avaliar a cognição intelectual dos indivíduos, fortemente associada ao fator g, ou seja, às habilidades gerais, recorrendo a subtestes de conteúdos diversos. Questões em torno da hereditariedade, meio ambiente, influência cultural, interação social e transtornos sempre se fizeram presentes ao tema. Estudos com objetivos de descobrir evidências com indivíduos com diferentes níveis de QI que apresentam extraordinárias habilidades em certas áreas e em outras não, foram descritos por Eysenck e Kamin (1982) em relatórios pela Universidade de Minnesota que, em média, a inteligência é determinada em 60% pelos caracteres herdados, incluindo com isto, os indivíduos com transtornos em geral. A inteligência também é estudada pelo campo da neurociência. Segundo Posthuma (2008), suas investigações recentes procuram monitorar as influências ambientais e genéticas, de interações no âmbito das características cognitivas como QI, atenção e memória. Sua abordagem é inspirada pelo forte empenho em conhecer os indicadores da hereditariedade cognitiva, como QI, e do fracasso, até agora para descobrir os genes responsáveis por estes fatores da hereditariedade. Aparentemente Posthuma explica que estes genes não atuam sozinhos, sugerindo interações entre genes e fatores ambientais referindo-se a herdabilidade. A maior beneficiária destes avanços na genética molecular será a pesquisa sobre os traços humanos complexos, como a inteligência, que são influenciados por múltiplos genes bem como por múltiplas influências ambientais. De fato, uma das direções mais excitantes da pesquisa genética em inteligência é atrelar-se ao poder do Projeto do Genoma Humano para começar a identificar os genes específicos responsáveis pela herdabilidade da inteligência (Da Silva, 2005). Estudos a respeito de inteligência e transtornos globais de desenvolvimento explicando os níveis de QI, os critérios de diagnósticos diferenciados, a questão da genética e hereditariedade apontam pontos convergentes. A proposta desta pesquisa na área de Psicologia Social, com enfoque na psicometria, teve como questão central de estudo: Crianças, incluindo as diagnósticadas com Transtorno de Asperger e Síndrome de Savant, apresentam que nível de inteligência (QI)? Inteligência Humana e Altas Habilidades/Superdotação O interesse pelo estudo da Inteligência tem-se manifestado há décadas. Uma busca incessante de definir, de relacionar teorias e de pensar processos de medidas. O mais atual dicionário da língua portuguesa (Michaelis, 2009) traz o seguinte conceito de inteligência: “Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto, compreensão, conhecimento profundo. David Wechsler, autor das escalas Wechsler – bellevue (1955), define a inteligência como “a capacidade para aprender, a capacidade para adaptar-se a novas situações, a capacidade para deduzir relações”, entre outras concepções. É necessário admitir que, a inteligência é um conceito flexível, com muitos sentidos e grande variação no tempo e nas diferentes culturas. É no contexto social que o indivíduo interage, portanto a inteligência é a expressão de um processo dinâmico profundamente afetado pela emoção, pelos desejos e pelo afeto (Mettrau, 1995). Mais recentemente entre outras contribuições temos o diagrama do funcionamento da inteligência humana. (Mettrau, 2007). O SER HUMANO O GRUPO SOCIAL Figura I - Diagrama da Inteligência Humana Mettrau, 2007. Desta forma, segundo Mettrau (2007), pode-se observar o aspecto dinâmico da inteligência humana, isto é, que ela pode e deve ser desenvolvida sempre em todas as suas expressões e seus diferentes aspectos: o criar, o sentir e o conhecer. Este enfatiza o dinamismo que ocorre neste funcionamento e a inexistência da hierarquia entre as três expressões, ou seja, nunca se sabe qual delas desencadeia o que: se a cognição ou o afeto, sendo, pois, indissociáveis em suas manifestações. A superdotação, ao menos a intelectual, inclui, segundo Renzulli (1986), três características pessoais: elevada capacidade intelectual, criatividade e motivação e a inteligência deve ser superior a média, ao menos em um desvio. Este pesquisador apresentanos um diagrama chamado Modelo dos Anéis, em que há três círculos ou anéis em cuja interseção estão os portadores de altas habilidades. Os superdotados seriam somente aqueles que estão na interseção dos três círculos, ou seja, que apresentem todas as três características descritas: habilidade (s) acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa (citado in Mettrau, 2000). Renzulli descreve esses três componentes como características quase estáveis da personalidade, entretanto, esclarece que a criatividade e a motivação dependem em grande parte das situações e estimulações. Por isso, outros autores como Mönks, Boxtel, Roclofs e Ysanders (1986, citados por Séller, 1986), introduziram elemento novo, que acrescentaram mais três âmbitos na interação: a escola, a família e os colegas. Com relação ainda aos níveis de inteligência, Mettrau (2000) ressalva que os superdotados se diferem dos demais da mesma maneira que qualquer indivíduo se difere do seu semelhante, por sua personalidade, seu estilo pessoal adaptativo, seu modo de perceber, agir, pensar e sentir. E por se tratar de um grupo minoritário, com características próprias, pode-se detectar traços comuns e modalidades adaptativas peculiares e diferenciadas, que irão depender do tipo de superdotação e dos condicionamentos socioculturais que, muitas vezes, levarão o superdotado a reforçar certos padrões de comportamentos. E ainda Mettrau (2000) descreve que é importante lembrar que as diferenças individuais entre as pessoas impedem a existência de um “padrão”, ou seja, de um tipo de superdotado. A perspectiva em relação à Superdotação/Altas Habilidades foi adotada oficialmente no Brasil, nos anos de 1970, com a seguinte definição divulgada nos documentos oficiais do Ministério da Educação (2007): são consideradas crianças superdotadas e talentosas aquelas que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados tais como, a capacidade intelectual superior, aptidão acadêmica específica, pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora. Avaliação da Inteligência através das Escalas Wechsler Apresentada por David Wechsler em1939, como Bateria Wechsler-Bellevue Inteligence Scale (W-B), publicada no Brasil em 1955, extensão da escala W-B para crianças e segundo Paín (2007), atualmente estão aprovadas pelo Conselho Federal de Psicologia as duas formas adulto (WAIS-III, 3ª edição) e infantil (WISC-III, 3ª edição). A Escala de Inteligência WISC III é um instrumento clínico de aplicação individual para avaliação da capacidade intelectual de crianças e adolescentes na faixa etária entre 6 e 16 anos e 11 meses. Nos testes verbais incluem os seguintes itens: Informação, Semelhanças, Compreensão, Aritmética, Dígitos, Vocabulário. Nos testes de execução incluem os seguintes itens: Cubos, Armar Objetos, Arranjo de Figuras, Completar Figuras, Código, Procurar Símbolos. O WISC-III contém um total de 12 subtestes (Wechsler, 2002). Adicionalmente, a escala Wechsler proporciona ao examinador quatro índices opcionais denominados índices fatoriais (Índice de Velocidade de Processamento (IVP); Índice de Resistência à distração (IRD); Índice de Organização Perceptual (IOP); Índice de Compreensão Verbal (ICV), que avaliam a velocidade de processamento à memória operacional/resistência à distração, organização perceptual e a compreensão verbal. O resultado é dado em QI de desvio, que indica “quanto um sujeito se desvia acima ou abaixo da realização média dos indivíduos de seu grupo etário” (Wechsler, 1964, p. 24). Considera-se 100 o QI médio, com um desvio padrão de 15. A WISC-III fornece informações quantitativas e qualitativas, cuja interpretação deve ser integrada a um histórico completo do sujeito e observações clínicas. Wechsler classifica os níveis de inteligência de Extremamente Baixo (≤69) adotada para WAIS-III e Intelectualmente Deficiente na WISC-III, a Muito Superior (≥ 130). De acordo com este autor considera-se superdotado o sujeito que apresenta resultado global, Muito Superior (≥ 130) e debilidade mental (QI ≤ 60) nas escalas Wechsler de inteligência. De acordo com Wechsler (1964), de forma geral, considera-se superdotada a criança que apresenta resultado global muito superior (QI≥130). Entretanto, quando a criança apresenta resultado global superior (QI entre 120 e 130), e destaca-se nos subtestes Aritmética, Semelhança, Cubos ou Vocabulário (resultado ponderado ≥ 15), costuma-se considerá-la superdotada. Wechsler (1964) complementa que é necessário incluir na avaliação o contexto em que a criança vive, considerando as condições que teve para se desenvolver e o que conseguiu dentro de tais condições. Transtornos Globais do desenvolvimento – Transtorno de Asperger e Síndrome de Savant Os Transtornos Globais do Desenvolvimento caracterizam-se por um comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação ou presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo (DSM-IV-TR, 2002). Um bom instrumento de diagnóstico de Transtornos Globais do Desenvolvimento é o DSM-IV: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, incluindo todos os critérios globais do desenvolvimento. O DSM-IV aborda os seguintes transtornos globais: Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Global da Desenvolvimento Sem Outra Especificação. A Síndrome de Savant não é citada no DSM-IV e inclusive é pouca relatada na literatura. Os Transtornos Globais do Desenvolvimento se manifestam nos primeiros anos de vida e frequentemente estão associados com alterações cognitivas e estes transtornos são observados acompanhando um grupo de várias outras condições médicas gerais. Especificamente em relação ao Transtorno de Asperger pode-se dizer que esta é uma psicopatologia que, dentro do espectro autístico, caracteriza-se por prejuízos na interação, bem como interesses e comportamentos limitados. Contudo difere do Autismo clássico, pois, seu curso de desenvolvimento precoce evidencia a falta de qualquer retardo clinicamente significativo na linguagem falada, ou ainda, na percepção da linguagem, no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades de autocuidado e na curiosidade sobre o entorno dos acometidos (Klin, 2007). Com isto, poucos e circunscritos interesses que ocupam intensamente e totalmente o foco da atenção e assim, há uma tendência a falar frequentemente sobre tal temática específica. Segundo Mate (2009), um número reduzido de superdotados sofre de ajustamento social que com a presença do Transtorno de Asperger pode aumentar. As duas Síndromes são difíceis de estarem associadas. A característica de uma pode, às vezes, simplesmente anular a outra. De acordo com DSM-IV (2002), ainda não há dados definitivos quanto à prevalência do Transtorno de Asperger. Em relação à Síndrome de Savant, o termo idiot savant [idiota sábio], um termo francês significado iletrado (idiota) habilidade (erudito) foi cunhado em 1887 pelo médico londrino Langdon Down para referir-se a crianças com retardo mental profundo que possuíam “faculdades” especiais e às vezes impressionantes. Entre essas faculdades estavam uma habilidade excepcional para cálculos ou desenho, aptidões mecânicas e, sobretudo, a capacidade de lembrar, tocar e por vezes compor música (Sacks, 2007). A síndrome de savant é citada na literatura científica desde 1789, quando Benjamim Rush, o pai da psiquiatria americana, descreveu a incrível habilidade de calcular de Thomas Fuller, que de matemática sabia pouco mais do que contar. A habilidade matemática que muitos indivíduos savants apresentam é a memória da agenda. Eles poderão ser solicitados a uma pergunta como: “Que dia da semana foi 22 de maio de 1961?, e eles podem determinar a resposta em segundos: segunda feira. Outros podem multiplicar e dividir grandes números em sua cabeça e também pode calcular raízes quadradas e números primos sem muita hesitação. É interessante relatar que as habilidades de savants variam enormemente e existem níveis da síndrome de acordo com o nível de habilidade do savant. Há os savants de conhecimento isolado, que possuem a memorização de trivialidades, como datas e placas de automóvel, os savants talentosos, que possuem geralmente dons musicais e artísticos muito além do esperado para alguém com suas dificuldades e há ainda os savants prodigiosos, com talentos que se destacariam mesmo em pessoas normais. Segundo Sacks (2007), talentos do tipo savant podem, em alguns casos, aparecer em fases posteriores da vida. Há vários relatos sobre ocorrências desse tipo depois de lesão cerebral, derrame, tumor e demência frontotemporal, em especial se o dano limitar-se, inicialmente, ao lobo temporal esquerdo. A rapidez com que os talentos savants podem surgir após um acidente ou uma encefalite indica uma desinibição ou liberação de funções do hemisférico direito que normalmente são inibidas ou suprimidas pelo lobo temporal esquerdo. A razão pela qual alguns indivíduos savants apresenta habilidades extraordinárias, não é conhecida. Existem muitas teorias, mas não há provas para apoiar qualquer um deles. Método Objetivo Geral Investigar o nível de Quociente Intelectual (Escalas Verbal e de Execução), de crianças e adolescentes, incluindo as diagnosticadas com Transtorno de Asperger e de Síndrome de Savant. Objetivos Específicos Verificar o nível dos Índices Fatoriais, da Escala Verbal - Índices de Compreensão Verbal (Vocabulário, Semelhanças, Informação); e Índices de Resistência à Distração (Aritmética, Dígitos e Seqüência de Números e Letras) de crianças e adolescentes com Transtorno de Asperger e de Síndrome de Savant. Verificar o nível dos Índices Fatoriais da Escala Execução - Índices de Organização Perceptual (Completar Figuras, Cubos, Raciocínio Matricial); e os Índices de Velocidade de Processamento (Códigos e Procurar Símbolos) de crianças e adolescentes com Transtorno de Asperger e Síndrome de Savant . Amostra Este estudo foi composto de 100 participantes, sendo crianças e adolescentes com idades entre 6 e 16 anos e 11 meses, de ambos os sexos. Os participantes foram selecionados aleatoriamente através dos prontuários de uma Clínica de Psicologia situada em Vitória/E.S, Brasil, com base nas variáveis relacionadas à idade, à classe social. Instrumentos e Procedimentos Explicados a natureza e objetivo do estudo, solicitada a participação voluntária e garantida a confidencialidade dos resultados, os participantes juntamente com a pesquisadora preencheram os dados contidos no caderno de aplicação do teste. O questionário correspondente à Análise sócio-econômica foi preenchido também anteriormente à testagem e tabulado de acordo com a classificação proposta pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2009). A avaliação da capacidade intelectual foi efetuada através das Escalas Wechsler de Inteligência que contemplam duas versões. Como os participantes tinham de 6 a 16 anos e 11 meses foi aplicada a Escala de Inteligência Wechsler para crianças, Terceira Edição (WISCIII) adaptada e padronizada por Vera Lúcia Marques de Figueiredo (2002). A Escala de Inteligência Wechsler foi aplicada individualmente pela pesquisadora, que é psicóloga em contexto clínico (consultório de psicologia), onde o ambiente e as condições de testagem foram favorecidos. Tratamento dos dados A prioridade foi a análise quantitativa. No que se refere à análise quantitativa, categorizaram-se os dados, que foram inseridos em uma planilha do programa SPSS for Windows, que é um pacote estatístico para as Ciências Sociais, cujas iniciais correspondem à Statistical Package for Social Sciences (Dancey, 2006). Resultados Primeiramente apontaremos os dados alcançados por categoria pelos participantes nas Escalas de Inteligência Wechsler quanto ao Quociente Intelectual Total (QIT) TABELA I - Descrição de percentagem das categorias de QI Total de crianças e adolescentes Participantes Categorias de Quociente Intelectual Total Médio Médio Médio Superior Muito Inferior 90 - 109 Superior 120 - 129 Superior 80 - 89 Crianças/Adolescentes 110 - 119 3% 23% 15% 130 e acima 25% 34% (1% (5% Savant) Asperger) Os resultados mostram que cerca de 3% dos participantes ficaram abaixo da classificação Médio e 34% ficaram na classificação máxima, Muito Superior, considerados com Altas Habilidades/Superdotação. Serão examinados a seguir os Quocientes de Inteligência Total no sistema quantitativo, dos participantes com Transtorno Asperger/Savant. TABELA II - Descrição de QI Total de crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno/Síndrome Participantes Categorias de Quociente Intelectual Total Diagnosticados com Transtorno de Asperger/Síndrome Médio Médio Médio Superior Muito Inferior 90 - 109 Superior 120 - 129 Superior 80 - 89 110 - 119 130 e acima de Savant 1 Asperger (E) 140 2 Asperger (Ga) 140 3 Asperger (V) 153 4 Asperger (L) 140 5 Asperger (Lu) 130 6 Savant (G) 86 Os resultados apontam que das seis crianças diagnosticadas com transtorno, cinco são consideradas Asperger e uma criança Savant. E as crianças com Transtorno Asperger obtiveram QI igual ou superior a 130. E o QIT da criança Savant ficou em 86, classificação Médio Inferior. Serão examinados a seguir os Quocientes de Inteligência Verbal no sistema quantitativo, dos participantes com Transtorno Asperger/Savant. TABELA III - Descrição de QI Verbal de crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno/Síndrome Participantes Categorias de Quociente Intelectual Verbal Diagnosticados com Transtorno de Asperger/Síndrome Médio Médio Médio Superior Muito Inferior 90 - 109 Superior 120 - 129 Superior 80 - 89 110 - 119 130 e acima de Savant 1 Asperger (E) 135 2 Asperger (Ga) 144 3 Asperger (V) 146 4 Asperger (L) 140 5 Asperger (Lu) 122 6 Savant (G) 93 Os resultados apontam que as cinco (5) crianças diagnosticadas asperger obtiveram QI Verbal na classificação Muito Superior e a criança savant com classificação Médio. Serão examinadas a seguir os Quocientes de Inteligência Execução no sistema quantitativo, dos participantes com Transtorno Asperger/Savant. TABELA IV - Descrição de QI Execução de crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno/Síndrome Participantes Categorias de Quociente Intelectual Execução Diagnosticados com Transtorno de Asperger/Síndrome Médio Médio Médio Superior Muito Inferior 90 - 109 Superior 120 - 129 Superior 80 - 89 110 - 119 130 e acima de Savant 1 Asperger (E) 138 2 Asperger (Ga) 129 3 Asperger (V) 151 4 Asperger (L) 136 5 Asperger (Lu) 137 6 Savant (G) 106 Os resultados apontam que as cinco (5) crianças diagnosticadas asperger, obtiveram no QI Execução classificação Superior (1 criança) e Muito Superior (4 crianças). A seguir serão apresentadas os níveis de QI, no sistema quantitativo, correspondentes aos Índices Fatoriais. Convém examiná-las pelo fato de serem medidas mais apuradas das escalas verbais e de execução. TABELA V - Descrição de Índices Fatoriais de crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno Asperger/Síndrome de Savant Participantes Categorias de Quociente Intelectual Total Diagnosticados com Transtorno ICV IOP IRD IVP de Asperger/Síndrome de Savant 1 Asperger (E) 119 120 116 127 2 Asperger (Ga) 143 119 139 115 3 Asperger (V) 153 150 139 124 4 Asperger (L) 139 127 137 150 5 Asperger (Lu) 109 129 143 135 93 83 110 82 6 Savant (G) Os resultados apontam que as crianças diagnosticadas asperger obtiveram classificação acima da Média em todos os Índices Fatoriais (ICV, IOP, IRD, IVP) e a criança savant somente uma classificação na Média (110), no IRD e as demais abaixo da Média. Discussão Os dados e análise dos resultados permitiram concluir que existe uma correspondência significativa entre quociente de inteligência total (QIT), classificação Médio Inferior, em criança diagnosticada com Síndrome de Savant e entre QIT, classificação Muito Superior, em crianças e adolescentes indicados com altas habilidades/superdotação. Portanto, confirma-se as crianças/adolescentes com QIT igual ou acima de 130, reconhecido pela literatura como referência de Altas Habilidades/Superdotação associadas com Transtorno Asperger. Somente uma criança foi diagnosticada com Síndrome de Asperger, com QI Total, classificação Média Inferior. Estes dados enriqueceram as conclusões do estudo, mas não podemos concluir que a cada 100 crianças exista um savant. A criança citada, foi encaminhada à clínica para concluir diagnóstico de superdotação/altas habilidades, através de instrumentos psicométricos, por apresentar habilidade extraordinária em matemática. Uma característica, segundo Sacks (2007), na verdade, a característica definidora das síndromes savants é a intensidade de certas capacidades, juntamente com uma deficiência ou subdesenvolvimento de outras. As capacidades que são intensificadas no savants são sempre de tipo concreto, ao passo que as deficientes são abstratas e com freqüências lingüísticas. Muito já se especulou sobre como pode ocorrer tal conjunção de forças e fraquezas. Observamos estes fatos com a criança savant apresentada nesta pesquisa. Seu QIT não corresponde às suas extraordinárias habilidades de matemática, de memória de agenda. Quando interrogado qual o dia da semana que seria o aniversário de uma das pesquisadoras em 2015, ele em segundos respondeu corretamente. De acordo com Sacks (2007), todos os savants passam anos desenvolvendo e aperfeiçoando suas habilidades, às vezes obsessivamente, alguns pelo prazer de exercitar uma habilidade especial, um prazer intensificado pelo contraste com as deficiências intelectuais globais desses indivíduos. E a psicóloga pôde observar estas pontuações na criança savant. Ele ficava, todo momento, solicitando às pessoas as datas de aniversário e relatando corretamente o dia da semana que corresponderia, em um futuro ano solicitado. O quociente de inteligência execução (QIE), foi o que obteve melhor resultado. É um item da escala que reflete habilidades manipulativas, organização perceptual, orientação temporal, discriminação visual e coordenação visomotora. Refere-se aos itens: Cubos, Armar Objetos, Arranjo de Figuras, Completar Figuras, Códigos, Procurar símbolos. O índice fatorial que forneceu maior destaque nas crianças/adolescentes diagnosticadas Superdotadas/Asperger, para confirmar as influências relacionadas à capacidade de atentar-se para a informação, e em mantê-la brevemente na memória e processá-la, para em seguida emitir uma resposta foi o Índice de Compreensão Verbal (ICV). Este item refere-se aos itens Compreensão, Informação, Vocabulário, Semelhança. Outro índice fatorial que forneceu maior destaque nas crianças diagnosticadas Superdotadas/Asperger, para confirmar a resistência à distração, medindo então, os processos relacionados à atenção, memória e concentração para processar rapidamente a informação visual foi o Índice de Velocidade de Pensamento (IVP). Este item refere-se aos itens Completar Figuras, Arranjo de Figuras, Cubos e Armar Objetos. Para Eysenk (1976) a velocidade é um aspecto importante do trabalho intelectual e parece que se verifica nos testes de QI, podendo ser atribuído em função de três mecanismos capitais: velocidade mental, controle de erros e persistência ou continuidade. Segundo Gonzalez (2007), os autistas com inteligência normal obtêm uma boa pontuação na parte de manipulação de cubos, e pontuações muito baixas na parte verbal, principalmente nas provas de compreensão e vocabulário. Em geral, no perfil intelectual do autista predomina uma discrepância entre as provas de manipulação ou não verbais e as verbais. E o autor acrescenta que os autistas funcionam intelectualmente melhor nas provas não-verbais do que nas verbais, inclusive naquelas que requerem a utilização da memória imediata. E observou-se algo destas pontuações no resultado na criança asperger, na qual o índice fatorial com maior pontuação foi Índice Resistência à Distração (IRD), que envolve memória. As escalas de Inteligência Wechsler constituem um instrumento psicométrico confiável na avaliação cognitiva da inteligência humana e estão cada vez mais aperfeiçoadas, ampliadas e padronizadas para que todas as habilidades cognitivas possam ser em geral avaliadas. Conclusão Inteligência é um constructo que assume diferentes formas devido ao número e à qualidade de aspectos que a caracterizam, parecendo serem claros os motivos pelos quais a inteligência, entendida como um complexo conjunto de fenômenos, dificilmente receberá uma definição capaz de responder a todas as indagações (Sternberg & Detterman, 1986). Este estudo revela-se importante, na medida em que procura mostrar que as concepções de inteligência e, principalmente às relacionadas aos Transtornos Globais de Desenvolvimento, abrem relações com os diversos aspectos que vão desde os genéticos até aspectos culturais, sociais, ambientais e outros, tendo tudo isso implicações importantes quando se tenta buscar explicações através de instrumentos psicométricos. Possibilita contribuir também para o fortalecimento da noção do que é ser inteligente no mundo contemporâneo. É preciso atualmente que se discuta porque o conceito de inteligência se tornou particularmente importante neste século e necessidade de se pensar suas implicações nas demais áreas. As amplitudes emocional e intelectual existentes em todos os campos da atividade humana transformam o campo de estudo da inteligência em um dos mais complexos, inter e transdisciplinar (Mettrau, 2000). Dentre os transtornos globais de Desenvolvimento pôde-se concluir que crianças e adolescentes com Transtorno de Asperger têm os mesmos traços dos autistas, mas com uma diferença: elas possuem grande capacidade cognitiva, o QI pode variar de Média Superior até níveis mais elevados (Gonzaléz, 2007). Espera-se as habilidades medidas nas Escalas Wechsler de Inteligência, assim como em demais testes psicométricos não sejam um poderoso mecanismo de legitimação da exclusão social. Caminhar em novo sentido, inclusive para a área clínica, possibilitando apontar habilidades que estejam comprometendo o pleno desenvolvimento do indivíduo incluindo os superdotados e os diagnosticados com Transtorno de Asperger ou Síndrome de Savant. Detectar e diagnosticar uma criança com transtorno de desenvolvimento à tempo, supõe proporcionar um futuro com melhor prognóstico para superar suas dificuldades. Médicos e toda uma equipe multidisciplinar devem estar preparados de conhecimentos sobre os transtornos do desenvolvimento para dia- a dia oferecer melhor qualidade de vida para estas crianças e adolescentes. É esperado que contribuições da neurociência e psicometria possam oferecer novas reflexões na compreensão da inteligência e superdotação/altas habilidades, dupla excepcionalidade, seja Superdotação/Asperger ou Superdotação/Savant e nos aspectos de sua avaliação, contribuindo para esta temática tão complexa que é a inteligência. Segundo Candeias e cols. (2008), apesar de inúmeros estudos terem mostrado a importância dos fatores sociais, culturais, ambientais e genéticos, na formação e desenvolvimento das capacidades mentais, o que questiona a premissa de uma inteligência universal e unidimensional, é claro que não se nega a possibilidade de existirem também componentes humanos universais capazes de transcender as peculiaridades históricas e ambientais de cada sociedade. E que a inteligência pode ser concebida como uma capacidade dinâmica, ora delimitada pelos limites de um potencial biológico, ora marcada pela apropriação cultural de um “eu” psicológico que se constrói pela ação e interação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEP, Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. (2009). Disponível em: <http://www.abep.ogr> Almeida, L. S. (1994). Inteligência: definição e medida. Centro de Investigação, Difusão e Intervenção Educacional. Candeias, A.; Almeida, L.; Roazzi, A.; Primi, R. (2008). Inteligência: Definição e medida na confluência de múltiplas concepções. São Paulo: Casa do Psicólogo. Dancey, C. P. (2006). Estatísticas em matemática para psicologia. Porto Alegre: Artmed. Da Silva, J. A. (2005). Inteligência: resultado da genética, do ambiente ou de ambos? São Paulo: Lovise. J. (1976) A desigualdade do Homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Eysenck, H. J., Kamim, L. (1982). O grande debate sobre a inteligência. 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