O SEU BOI DÁ LUCRO ? No Brasil, a atividade pecuária existe há centenas de anos, alternando períodos de lucratividade alta com outros de baixa rentabilidade. Há neste momento uma crise gerada por vários fatores, dentre eles o alto custo do dinheiro, aumento significativo dos custos da mão de obra e da terra e o valor da arroba de boi aquém do desejado. Se observarmos que tradicionalmente um bezerro é desmamado aos 7/8 meses de idade, com 180 kg, vai ao abate 36 meses após pesando 480 kg (Fig. 1), temos um ganho de peso médio diário de 278 gramas. A alternância de períodos de ganhos razoáveis nas épocas de chuva (novembro a maio), com perda de peso nas secas (junho a outubro) alonga demasiadamente a idade de abate. Quando colocamos em uma planilha os custos de produção, verificamos que o tempo é o maior vilão a “comer” o lucro do pecuarista. Tempo de vaqueiro, tempo de pasto, tempo para levar o boi ao abate... (Quadro 1). O custo mensal de manutenção de um boi no pasto, no sistema tradicional, nunca é menor que 29,90 reais (Quadro 1 - Letra F) e a manutenção por 36 meses gera um custo extraordinariamente alto da arroba produzida (R$101,16) (Quadro 1, Letra I), que aliada à baixa capacidade de suporte das pastagens resulta em uma renda líquida de 27,15 reais por hectare por ano (Quadro 1 - Letra K). A pergunta que devemos fazer então: Há alternativa para continuar na atividade pecuária obtendo lucro? Os resultados obtidos em várias propriedades, inclusive na do Sr. Abilio Pacheco, onde está sendo realizado o dia de campo do Congresso Internacional da Carne, nos mostra que o investimento em técnicas que permitam diminuir o tempo gasto entre a desmama e o abate de um boi, quando empregadas estrategicamente, baixam os custos de produção e aumentam o giro da propriedade (Quadro 2). O período mais crítico de um bovino ocorre logo após a desmama, que acontece normalmente no inicio da estação seca, ocasião em que além de perder o leite da mãe encontra pastos de baixa qualidade, podendo perder na primeira seca até 40 kg. Neste período, quando o esqueleto deveria estar na velocidade máxima de crescimento o animal regride e perde então o melhor momento para se desenvolver. Isto compromete toda sua vida futura. A reserva de uma pastagem razoavelmente boa, mais o uso de sal proteinado (NUTROESTE URÉIA PLUS) na primeira seca, com 50% de proteína fornecida por farelos de soja ou algodão (nunca milho ou sorgo) e uréia, mais minerais vitamina A e promotores de eficiência alimentar, permitem ganhos diários de 300 gramas neste período, oferecendo condições de crescimento ao tecido ósseo, apesar do animal se mostrar relativamente magro (Quadro 2 Letra C). Há então uma inversão: ao invés de perder 40 kg, o bezerro ganha 50 kg. Isto muda tudo. Com o início da estação chuvosa este bezerro pesando 230 kg passará a utilizar não mais sal mineralizado tradicional mas sal proteinado para época de chuvas (NUTROMAX RECRIA) (Quadro 2 - Letra D), o que permitirá um ganho de 700 gramas diárias durante os meses de novembro a janeiro, chegando ao final do período com peso próximo de 300 kg. A partir do mês de fevereiro até o final de maio, todo animal com peso em torno de 300 kg deverá receber uma ração de baixo consumo (NUTROMIL), na proporção de 0,5 % do peso vivo, obtendo com isto, em pastagens de boa qualidade, ganho de peso entre 1,0 e 1,2 kg diários (Quadro 2 - Letra E). Ao final de maio teremos os animais com peso médio de 400 kg, estando a cabeceira apta a ser abatida. Os animais restantes devem passar por um período de semi- confinamento (NUTROBOI) (Quadro 2 - Letra F), com consumo de 1,5% do peso vivo, nos meses de junho e julho, antes que as pastagens sequem demasiadamente, para atingirem os 480 kg e serem abatidos com no máximo 24 meses de idade (Figura 2). Figura 2 Desmama 7 meses SISTEMA DE RECRIA E ENGORDA MELHORADO Abate 24 meses 16 meses 300 kg 180 kg 300 kg 16 meses 480 kg 0,625 kg/dia em média Custo de produção de boi gordo a partir de um bezerro desmamado: Quadro 1 - Demonstração dos custos e dos benefícios do sistema tradicional. CUSTO PERIODO CUSTO MENSAL (MESES) NO PERÍODO A - PASTO B - VACINAS, MAO DE OBRA, MEDICAMENTOS C - SUPLEMENTACAO COM SAL MINERALIZADO (100 g / DIA ) D - CUSTO DE OPORTUNIDADE DO CAPITAL INVESTIDO NO ANIMAL ( 6% AO ANO SOBRE R$1200,00) VALOR MEDIO ENTRE BEZERRO E BOI GORDO 16,00 4,00 3,90 36 36 36 576,00 144,00 140,40 6,00 36 216,00 E - TOTAL DE CUSTOS POR BOI F – CUSTO MEDIO MENSAL ( 1076,40 / 36 ) G - ARROBAS PRODUZIDAS ( 16,64 – 6,00 @ ) H - ARROBAS PRODUZIDAS POR HECTARE POR ANO (10,64 / 36 MESES X 12 meses X 2 CAB / HÁ) I - CUSTO DA ARROBA PRODUZIDA ( 1076,4 / 10,64 ) 1076,40 29,90 10,64 7,09 101,16 3,83 27,15 J - LUCRO POR ARROBA (R$ 105,00 – R$ 101,16) K - LUCRO POR HECTARE POR ANO ( 7,09 x 3,83 ) QUADRO 2 - Demonstração dos custos e benefícios do sistema melhorado. CUSTO PERIODO CUSTO NO MENSAL (MESES) PERÍODO A - PASTO B - VACINAS, MAO DE OBRA, MEDICAMENTOS C - SUPLEMENTACAO COM PROTEINADO (NUTROESTE PLUS 0,25 KG/DIA) UREIA 16,00 4,00 10,50 16 16 6 256,00 64,00 63,00 3 44,10 4 144,00 NOS PRIMEIROS SEIS MESES DE SECA APÓS A DESMAMA D - SUPLEMENTACAO COM PROTEINADO (NUTROMAX 14,70 RECRIA 0,35 KG/DIA) NOS 3 MESES INICIAIS DA ESTACAO CHUVOSA (NOV, DEZ, JAN) E - SUPLEMENTACAO COM RACAO DE BAIXO CONSUMO 36,00 (NUTROMIL 1,5 KG/DIA) NA ÉPOCA DE PASTOS BONS (FEV A MAIO) F - SUPLEMENTACAO EM SEMI CONFINAMENTO (NUTROBOI 81,00 2 162,00 16 96,00 16 829,10 51,82 6,5 KG/DIA) POR 60 DIAS (JUNHO E JULHO) G - CUSTO DE OPORTUNIDADE DO CAPITAL INVESTIDO NO 6,00 ANIMAL ( 6% AO ANO SOBRE R$1200,00) H - TOTAL DE CUSTOS I – CUSTO MENSAL (R$ 829,10 / 16 MESES) J - ARROBAS PRODUZIDAS POR BOI (16,64@ ABATE – 6,00@ DESMAMA) K - ARROBAS PRODUZIDAS POR HECTARE POR ANO (10,64 @/ 16 MESES X 12 MESES X 2 CAB / HÁ) L - CUSTO DA ARROBA PRODUZIDA ( R$829,10 / 10,64@ ) M - LUCRO POR ARROBA (R$ 105,00 – R$ 77,92) N - LUCRO POR HECTARE POR ANO ( 15,96@ x R$ 27,08 ) 10,64 15,96 77,92 27,08 432,20 Como podemos ver, a adoção da nova tecnologia na recria e engorda de bovinos acelerando os ganhos nos períodos mais favoráveis do ano, quando há maior disponibilidade de pastagens de boa qualidade, reduz em até 20 meses a idade de abate, dobra o giro da propriedade e produz arroba a R$77,92 ou 23% mais barata que no sistema tradicional. A conseqüência final é o aumento brutal na renda que passa de R$ 27,15 para R$ 432,20 por hectare por ano ou 15,9 vezes superior. Se somarmos a esta renda a remuneração destinada aos pastos (R$16,00 X 2 cabecas X 12 meses), a renda anual ultrapassa R$ 816,2,00, bem acima de um arrendamento. Resta saber agora: tudo isto é possível? Estes custos e benefícios estão corretos? Existe apenas uma maneira de comprovar: implantar um sistema piloto, acompanhar os resultados e tirar suas próprias conclusões. LUIZ ANTONIO MONTEIRO ENG. AGRONOMO M. S. ZOOTECNIA DIRETOR TECNICO DA NUTROESTE NUTRICAO ANIMAL LTDA