17-06-2013
Tiragem: 18220
Pág: 30
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 8,86 x 34,10 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
SOCIEDADE ABERTA
ELEMENTAR
A expressão “mom-and-pop”, em
inglês dos Estados Unidos da América, significa, em tradução livre (a
única que poderá funcionar de forma minimamente intelegível),
mamã e papá, mas é muito mais do
que isto e traduz, grosso modo, neLuís Lima
Presidente da APEMIP gócios familiares quando estes são
e da CIMLOP
pequenas ou micro empresas. PorConfederação da
Construção e do
tugal está cheio de “mom-andImobiliário de Língua
Oficial Portuguesa
-pop” e isto estará na base dos
crónicos problemas com que se
debate a nossa Economia.
Quem o diz é Matthew O’Brien, um dos directores
da revista norte-americana “The Atlantic”, num artigo sobre os mistérios das nossas desgraças económicas, desgraças que virão de longe mas que, na presente crise, surpreendem quem se debruça sobre o nosso
país pois reconhece-se que embora sem qualquer bolha imobiliária, Portugal cresceu na última década
menos que os EUA durante a Grande Depressão (anos
30 do século passado) e o Japão durante a chamada
década japonesa perdida, ocorrida nos anos 80 do século passado.
Este desfasamento português tem de ter em conta o
atraso que acumulamos com a tardia opção democrática, trinta anos mais tarde do que a maioria da Europa
Ocidental, mas também a tentação, também tão portuguesa, de resolvermos as nossas questões por vias
remediadas que apenas disfarçam os problemas quantas pequenas lojas para venda de fruta e legumes
e quantos pequenos espaços para venda de tabaco e
jornais não nasceram para suprir o desemprego de
quem os criou, sobrevivendo apenas pelo facto dos
respectivos proprietários não contabilizarem o trabalho que eles próprios aplicam nesses projectos.
Tudo isto, o medo de dar o salto para uma escala
potencialmente mais rentável e, na opinião do articulista, o desencanto que a suposta corrupção instalada na grande indústria e no grande comércio gera
nesses eternos candidatos a empresários, com todos
os ésses e érres da função, empurrou a significativa
percentagem de micro e pequenas empresas, no
universo do nosso tecido empresarial, para o conforto remediado da mediania dos “mom-and-pop”
durante anos materializada na triste expressão
“pouquinho mas certinho”.
O problema, reconhece o articulista, é que agora,
no contexto da actual crise, e das soluções que a Europa escolheu, apesar dos duvidosos resultados destas
mesmas soluções, tais empresas já não sobrevivem,
mesmo não contabilizando o trabalho dos seus proprietários - não só enfrentam sérias dificuldades no
acesso ao crédito como, mesmo que estas dificuldades
sejam superadas, estão a ver a austeridade a esmagar
os seus clientes.
Matthew O’Brien é mais uma voz insuspeita a dizer
que a Europa está a exagerar na austeridade como a
receita para sair da crise. Matthew O’Brien, que reconhece que Portugal tem de resolver os seus problemas
estruturais, é claro como água quando diz que a Europa “deve parar de insistir no castigo da austeridade
como o caminho para a prosperidade”.
A menos que o objectivo final de todo este novo
desenho da Europa em curso seja o de fazer diminuir a chamada Zona Euro, conclui Matthew
O’Brien. Elementar, meu caro Matthew, comento
eu. ■ [email protected]
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