Periodicidade: Diário
Temática:
Economia
Público
Classe:
Informação Geral
Dimensão:
2296
30­06­2015
Âmbito:
Nacional
Imagem:
S/Cor
Tiragem:
51453
Página (s):
8/9
Portugal
prepara se
para o contágio
político
da Grécia
Governos europeus preparam planos de
contingência e apelam à negociação Em
Portugal o Governo diz se tranquilo o
Presidente não acredita em acordo
Paulo Pena
Ocontraste não pode ser mais
evidente
feira
agitada
Numa
porsegunda
todas as
chancelariaseuropeias com
reuniões de emergência
de conselhos restritos em
Madrid Londres Paris parlamentos
Reino Unido Alemanha e muitas
chamadas telefónicas entre chefes
de Estado Lisboa foi um oásis de
calma Tudo tranquilo resume
um membro do Governo a quem
o PÚBLICO pediu para resumir os
acontecimentos do dia no executivo
reuniões contactos cenários
No momento em que Portugal vol
ta a aparecer nos radares dos analis
tas financeiros como a peça seguin
te no dominó e a queda do índice
bolsista português foi a maior em
toda a Europa o Governo tenta des
dramatizar Com todo o respeito
não há qualquer comparação entre
a situação de Portugal e da Grécia
repetiu Paulo Portas na manhã de
segunda feira na sua intervenção
na conferência Caixa 2020 Ser
viços Comércio e Restauração no
Estoril A agenda do Governo não foi
beliscada pela crise europeia Pedro
Passos Coelho foi tal como o previs
to à cerimónia da renovação da
parceria entre a empresa Bosch e a
Universidade do Minho em Braga
E foi aí que comentou pela primeira
vez no dia a evolução da crise
Salvaguardando que ninguém
pode dizer que está imune a um
problema destes Passos garantiu
que do ponto de vista financeiro
Portugal não é apanhado despre
venido Embora admitindo que a
saída da Grécia do euro é hoje mais
provável do que no passado Passos
afirmou que a prioridade europeia
deve ser a de reforçar a coesão dos
países que compõem hoje a zona
euro e que ao mesmo tempo a
Grécia possa encontrar uma saída
para o seu problema De seguida o
primeiro ministro viajou para Viseu
onde jantou com empresários da re
gião no Solar do Vinho do Dão
O Presidente da República Cavaco
Silva também manteve a sua agenda
que neste caso se aproximava um
pouco mais da questão do momento
O seu roteiro para uma economia
dinâmica passou por Paços de Fer
reira e foi aí que Cavaco falou sobre
a crise que abala a Europa O Pre
sidente português destoou do tom
optimista que os líderes europeus
adoptaram para esta segunda feira
Desde logo por se mostrar razoa
velmente descrente num desfecho
positivo Gostaria que houvesse
entendimento acreditar é diferen
te Depois por considerar que o
Governo grego não negociou como
devia disse Há muito que pensava
pela forma como os gregos estavam
a negociar que as coisas iam acabar
mal E por fim na mais surpreen
dente das suas declarações o Pre
sidente deixou a ideia de que uma
eventual saída da Grécia não signi
fica um desaire da moeda única ou
do projecto europeu Penso que o
euro não vai fracassar é uma ilusão
o que se diz A zona do euro são 19
países eu espero que a Grécia não
saia mas se sair ficam 18 países
A pouco mais de três meses das
eleições legislativas portuguesas os
principais dirigentes parecem temer
outro contágio da crise do euro o
efeito político Esse não é um exclu
sivo nacional o que aliás ajuda
a explicar muito do ambiente no
Eurogrupo Os argumentos já estão
preparados há muito tempo mesmo
antes de se terem interrompido as
negociações entre Atenas e as ins
tituições credoras internacionais E
são simples Se as negociações sa
tisfizerem algumas pretensões anti
austeridade da Grécia os partidos
do Governo PSD e CDS ficam na
difícil posição de explicar por que
defendem o caminho dos cortes e
do aumento de impostos Se o caos
se instalar em Atenas e a Grécia aca
bar por sair do euro sem qualquer
tipo de almofada e com uma crise
social e económica é a maioria que
tem o argumento de peso não há
alternativa Isto se a hipótese Gre
xit não trouxer ondas de choque à
economia nacional
Entre quem defende abertamente
a posição do Governo grego Bloco
e de uma forma mais subtil o PCP
e quem diaboliza a estratégia de Tsi
pras e Varoufakis PSD e CDS está
um salomónico PS António Costa
tem tentado uma posição de distân
cia quer da política de austeridade
quer dos métodos do Siryza É ur
gente substituir o confronto entre
posições radicais por uma negocia
ção construtiva afirmou o líder
socialista O insucesso das nego
ciações entre o Governo grego e os
parceiros europeus não é uma boa
notícia para a União Europeia E sus
cita legítima preocupação a quem
tem uma postura responsável pe
rante os riscos que comporta para
a confiança no euro O interesse na
cional o interesse das famílias e das
empresas portuguesas é fortalecer a
zona euro defende Costa
Porfírio Silva do secretariado
nacional do PS exprimiu a mesma
ideia O que precisamos é de um
caminho um caminho que recusa
o pensamento único Recusar a tese
de que quem está na Europa tem de
seguir a austeridade expansionista
Recusar concomitantemente a tese
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30­06­2015
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Economia
S/Cor
O medo do contágio regressou à Europa
onde o primeiro sinal veio dos mercados
Com a Bolsa de Atenas
fechada a praça de Lisboa
foi a que mais caiu Receios
estendem se ao andamento
da economia do euro
não há analista que deixe
Asituação na Grécia atingiu
um ponto crítico tal que
de que para fazer uma política al
ternativa é preciso sair da Europa
ou sair do euro Essas duas teses
têm algo em comum aceitam que na
Europa só é possível o pensamento
único E isso é inaceitável para um
democrata em democracia tem
sempre de haver escolha
Do lado dos que atribuem a res
ponsabilidade por esta crise às insti
tuições europeias Comissão e BCE
e FMI está o Bloco de Esquerda Ape
sar das dúvidas sobre uma hipotética
concessão de Tsipras às reformas
exigidas por Bruxelas Catarina Mar
tins voltou a afirmar que se hoje
não há acordo na Grécia isso deve
se à irresponsabilidade dos governos
e da Comissão Europeia que con
sideram que podem empurrar um
país para fora do euro para tornar
a austeridade como única política
na Europa No mesmo sentido o
Comité Central do PCP condena o
processo de ingerência e chantagem
da União Europeia e do FMI contra o
povo grego e as suas opções
Seja qual for o resultado do refe
rendo grego no próximo domingo
e o desfecho de uma crise insti
tucional política financeira que
se arrasta há cinco anos esta é a
segunda vez que Portugal se prepa
ra para escolher um Governo sob a
ameaça da instabilidade da moeda
única europeia
de acrescentar uma
ressalva a cada comentário
que faz a incerteza é tanta
e as reviravoltas dos últimos dias tão
surpreendentes que o conselho mais
avisado é não dar nenhum cenário
como adquirido Pelo sim pelo
não
O dia de ontem expôs as fragilida
des que as economias da periferia do
euro ainda enfrentam com maior ou
menor grau face à volatilidade da cri
se grega Não foi uma surpresa a ses
são agitada que se viveu nas bolsas
mundiais de Tóquio a Londres de
Lisboa a Frankfurt de Paris a Wall
Street nem o movimento ascenden
te que se verificou nos juros da dívida
de Portugal Espanha e Itália Até ao
referendo no domingo e mesmo al
guns dias depois a incerteza é tanta
que me parece um Totoloto falar dos
mercados compara Filipe Silva di
rector de gestão de activos do Banco
Carregosa
A questão que se coloca de novo
para além da pressão dos mercados
é saber que impactos o prolongamen
to da incerteza grega pode ter econo
micamente nos países mais fragiliza
dos no espaço da moeda única saber
quão segura é a barreira de segurança
que possa evitar o contágio a países
como Portugal Itália Irlanda e Espa
nha economias com elevados níveis
de dívida pública e por isso mais
pressionados num eventual cenário
de abrandamento do PIB
O FMI espera que a economia do
euro cresça cerca de 1
no médio
prazo um ritmo que considera bai
xo numa região ainda vulnerável aos
choques Esta era a análise feita há
menos de duas semanas antes de se
desmoronarem as negociações entre
a Grécia e os parceiros europeus E de
então para cá Washington não se can
sa de repetir que é preciso uma solu
ção a bem da economia mundial
Para Portugal o que é que mudou
para que analistas voltassem a falar
do país como um dos próximos da
linha da frente da crise Com o pro
grama de expansão monetária euro
peu o país estava a conseguir trocar
dívida e baixar os juros a apresentar
um crescimento forte e o desemprego
em queda Depois dos ajustes estrutu
rais estamos no ponto de transição
a nível nacional e existe o perigo de
um retrocesso económico evidente
Este pode ser o maior custo da situ
ação grega para Portugal considera
Eduardo Silva gestor da empresa de
corretagem XTB
O andamento da economia euro
peia onde estão os principais parcei
ros comerciais de Portugal Espanha
Alemanha França será determinan
te O Governo português aponta para
um crescimento de 1 6 do PIB este
ano E para isso conta com uma for
te aceleração da procura externa
Como factor de pressão Portugal
continua a enfrentar os mercados e
o elevado nível de dívida pública
que ascende a 130 do PIB 225 720
milhões de euros Mais alto só na
terceira economia do euro a Itália
com uma dívida de 132 do PIB e na
Grécia 177
Que almofada
Ao intervir no mercado para com
prar títulos de dívida pública o Ban
co Central Europeu BCE deu uma
ajuda para que as taxas de juro das
obrigações portuguesas recuassem
este ano Mas se a rendibilidade im
plícita da dívida pública portuguesa
a dez anos atingiu um mínimo histó
rico em Março quando baixou para
os 1 6 o contexto de volatilidade
foi crescendo e as taxas de juro já re
gressaram aos 3 A trajectória dos
juros da dívida no mercado secun
dário tem um impacto indirecto no
custo do financiamento quando os
Estados lançam leilões de dívida
As taxas de juro da dívida grega
com um prazo de dez anos dispa
raram ontem passando para 15
quando na última sexta feira os títu
los estavam em 11 16 E a pressão no
mercado secundário intensificou se
de forma imediata sobre os outros pa
íses periféricos embora com subidas
menos acentuadas O que parecia
um cenário de afastamento definitivo
rapidamente evoluiu para indefinição
em que nenhum cenário parece defi
nitivo nota Eduardo Silva
As taxas de juro da dívida portu
guesa escalaram para os 3 08 ao
final do dia contra os 2 718 de sex
ta feira O mesmo aconteceu com os
títulos de Espanha 2 358 e de Itália
2 395
ao contrário do que se veri
ficou com a dívida alemã referência
no mercado e irlandesa que se ne
gociaram em queda Os países do Sul
da Europa podem ser o next in the
row enquanto os países mais ricos
reforçam o seu papel de refúgio e es
tão com os juros da dívida a descer
nota Filipe Silva director de gestão
de activos do Banco Carregosa
O Governo português tem repetido
que os cofres estão cheios O facto
de as reservas de liquidez estarem
nos 14 900 milhões de euros retira
alguma pressão mas pela frente Por
tugal vai enfrentar ainda este ano e
nos próximos picos de amortização
de dívida exigentes Desde logo em
Outubro quando há para amortizar
cerca de 5500 milhões A expectativa
é que neste segundo trimestre o Te
souro obtenha cerca de 7600 milhões
de euros de financiamento e que a
almofada de liquidez esteja em cerca
de 9800 milhões no final do ano
Ontem foi uma segunda feira de
quedas acentuadas em todas as pra
ças da Europa com a bolsa de Lisboa
à cabeça a registar a maior descida
de 5 22 Nenhuma das cotadas do
PSI 20 escapou O índice chegou mes
mo a deslizar 6 16 e acabou por en
cerrar com a maior desvalorização
desde a crise política de 2013 quando
Vítor Gaspar e Paulo Portas se demi
tiram A bolsa de Atenas permanece
encerrada Milão caiu mais de 5 e
pouco atrás ficou a bolsa madrilena
a recuar 4 56 A pressão vendedora
foi menor nas acções das praças de
Paris e Frankfurt mas nem por isso
deixou de ser significativa com recu
os de 3 74 e 3 56 respectivamen
te O sentimento negativo estendeu
se à City londrina onde o recuo foi de
1 97 e chegou a Wall Street onde o
Dow Jones perdeu 1 95 e o Nasdaq
desceu 2 4
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Filipe Silva, Diretor da Gestão de Ativos