Entenda a crise da Grécia e suas possíveis consequências
Fonte: portal G1
A Grécia tem enfrentado dificuldades para refinanciar suas dívidas e despertado preocupação entre
investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Mesmo com seguidos pacotes de ajuste
e ajuda financeira externa, o futuro da Grécia ainda é incerto.
O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a
maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito, o limite de 60%
do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer parte do euro.
A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando
sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os
salários do funcionalismo praticamente dobraram.
Parlamento grego aprovou medidas de contenção de gastos (Foto: AP)
Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de
impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de
2008.
O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles
exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.
Ajuda e protestos
Em abril de 2010, após intensa pressão externa, o governo grego aceitou um primeiro pacote de ajuda
dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 110 bilhões de euros ao longo de
três anos.
Em contrapartida, o governo grego aprova um plano de austeridade fiscal que inclui alta no imposto de
valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos de combustíveis, álcool e tabaco, além de
uma redução de salários no setor público, o que sofre forte rejeição da população.
Apesar da ajuda, a Grécia segue com problemas. Em meados de 2011, foi aprovado um segundo
pacote de ajuda, de cerca de 109 bilhões de euros, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de
euros. Um programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor
privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.
Em outubro, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro alcançaram
um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia, eliminando o último
obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a dívida grega terá um alívio de
100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos bancos, de uma redução superior a 50%
do valor dos títulos da dívida.
No mesmo mês, o país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra um
novo plano de cortes, previdência e mais impostos, demissões de funcionários públicos e redução de
salários no setor privado, pré-requisito estabelecido pela União Europeia e pelo FMI para liberar uma
nova parcela do plano de resgate, de 8 bilhões de euros.
Manifestantes entram em confronto com a polícia em Atenas (Foto: Reuters)
Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores
internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as
medidas de austeridade como “antipopulares” e “bárbaras”.
Plebiscito e turbulências no mercado
Em 1º de novembro, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas turbulências
nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre o novo pacote de
ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou não.
A expectativa do premiê era que o plebiscito “validasse” as medidas de austeridade necessárias para
receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente 60% dos gregos
enxergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de ajuda de 130 bilhões de
euros, como negativa ou provavelmente negativa.
A convocação de plebiscito enfrentou rejeição da oposição e dos membros do próprio partido de
Papandreou. Com isso, o governo ficou enfraquecido, e a oposição já pede eleições antecipadas e a
formação de um governo de transição para garantir a aprovação do plano.
Os líderes das duas maiores economias da zona do euro, a alemã Angela Merkel e o francês Nicolas
Sarkozy, pressionam o governo grego e condicionam a ajuda à adoção das medidas de austeridade.
Nesta sexta-feira (4), a Grécia desistiu de realizar o referendo, que poderia levar a zona do euro a uma
crise pior, informou, em comunicado, o ministro das Finanças Evangelos Venizelos.
'Voto de confiança'
No capítulo mais recente do imbróglio grego, o Parlamento do país aprovou nesta sexta-feira (4), por 153
votos a 145, a moção de confiança ao abalado governo do primeiro-ministro George Papandreou.
Antes do resultado, no entanto, Papandreou já havia afirmado que buscaria formar um governo de
coalizão para apoiar o plano de resgate acordado com a Europa e o Fundo Monetário Internacional
(FMI), o que pode significar sua saída do cargo. Falando ao Parlamento antes da votação, Papandreou
afirmou não se importar com a posição.
“Eu peço por um governo de cooperação. A última coisa com que me importo é o cargo. Não me
importo se nunca mais for eleito”, afirmou. “Vou encontrar com o presidente (Carolos Papulias)
amanhã e explicar a ele que vou conversar com todos os partidos para formar um governo de ampla
cooperação”.
Calote
Como membro da zona do euro, a Grécia enfrenta pressão dos demais membros para colocar suas
contas em ordem e evitar a declaração de moratória – o que significaria deixar de pagar os juros das
dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida.
No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona
do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu
proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.
Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo,
significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo
que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.
Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro
seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.
Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não seguirão o
mesmo caminho. O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem
conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.
A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito
mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa
dimensão.
(Com informações da Reuters, France Presse e BBC)
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