por Michael Jacobs Reproduzido, com autorização do autor, do seu novo livro, a sair em breve: Tirando dúvidas de inglês - Disal® Editora “O que eu faço para parar com as traduções mentais? Não consigo evitar, traduzo tudo que ouço antes de responder. Me dá uma raiva... não consigo falar naturalmente! Você pode me ajudar?” A minha resposta é... NÃO! Um sonoro NÃO! I’m sorry. Next subject please. O quê? Você esperava mais de mim? Hoje é segunda-feira de carnaval, onze horas e dezoito minutos da manhã... Segunda-feira de Carnaval! Você deve estar na praia, no sítio, onde quer que seja, e eu aqui, na frente do teclado, trabalhando. Você não acha um pouco injusto? Pois eu acho. Pensando bem, vou quebrar o seu galho, afinal, ninguém me mandou ficar em casa sozinho, né? Deixarei meus protestos de lado. Você já deve ter lido os artigos que escrevi a respeito de vocabulário, listening comprehension e fluência, não lembra? O quê? Ainda não os leu? (nota da redação). Então sugiro que os leia primeiro, na seqüência que os mencionei, pois eles têm muito a ver com o problema das traduções mentais. Ok? Já os leu? Vamos então para este terreno fértil das ditas traduções. Aprendi há muitos anos que, quando falamos “não consigo”, na realidade estamos falando – pelo menos na maioria das vezes – “não quero”. Será que é verdade? Suspeito que sim. No nosso caso, você não consegue parar com as traduções mentais porque não quer. E por que não quer? Uma resposta pode ser medo. Medo de errar, medo de ser considerado “um cidadão de segunda classe”, “um ignorante?”. Medo, enfim, de passar por constrangimentos perante os outros. De mostrar ao mundo que não é perfeito – creio que isso se deve aos efeitos do ego, que fica tentando nos proteger de tudo que é ameaçador e novo. Os nossos instintos gritam para que a gente fique numa ‘zona de conforto. “Não cresça!” E, como bons cidadãos que somos, obedecemos. Well, well. Chega, Michael psicólogo, chega! Vamos deixar isso de lado e olhar mais de perto o processo da “tradução mental”. Para isso, vou voltar para o básico. Se eu lhe perguntar “Como vai?”, será que você vai parar para pensar – “Ele me perguntou como eu estou... E como é que estou? Será que ‘como estou’ significa a mesma coisa de ‘como vai’? Acho que estou bem, pelo menos estava quando acordei e parece que nada mudou desde então. Tomei um bom café de manhã. Sim, acho que estou bem mesmo. Então, ‘Eu estou bem’ pode ser uma boa resposta. Acho que não seria muito arriscado avisar que estou, de fato, bem. Talvez chegou a minha vez de falar, e vou dizer. . . vou responder - “Bem, obrigado”. Haja tradução mental! Claro, a gente não faz isso. A pergunta é seguida pela resposta sem pensar. A não ser naqueles casos em que a pessoa está de fato muito mal, e faz questão de informar, nos mínimos detalhes. Mas, normalmente, não é o caso. E, mesmo se fosse, as más notícias também são dadas sem pensar. Voltando ao inglês. E se eu lhe pergunto “How are you?”, será que isso vai desencadeado em inglês um processo similar ao que descrevi em português? Claro que não. Você já está programado a responder desde cedo “I’m fine thank you”. Não há segredo. Não houve nenhuma tradução mental. A resposta veio automaticamente. Mais um exemplo: “What is your name?” “My name is _______” [complete com o seu nome]. Simples, não é? Nada de traduções mentais. “Mas esses exemplos são muito simples, Michael”, você dirá. Ok, vamos para outra hipótese, digamos, mais complexa. Se você ouvir uma frase assim: “But the semantic versa——— of the suf—- can ——- umbig— since the natural of the active de—— by the verba form in this way of — dep—— on the test”, acho que haverá uma boa probabilidade de você ficar “boiando”. Ou conseguiu entender tudo? Pois não é assim que ouvimos na verdade certas coisas, seja em diálogos, seja em noticiários ou músicas? Sim, essa é a dura realidade. E, se não estivermos familiarizados com o assunto, se o vocabulário for estranho aos nossos ouvidos e se um monte de outros fatores acabarem atrapalhando – o uso do português, inclusive – a nossa compreensão será muito limitada. Concorda? (Para não deixar você em suspense, a frase inteira acima é a seguinte: “But the semantic versatility of the suffix can cause ambiguity, since the nature of the activity denoted by the verb formed in this way often depends on the context”. Caso esteja se perguntando se inventei a frase, a resposta é não, de jeito nenhum. A copiei de um dicionário ao lado.) Ao ouvir essa afirmação em inglês, será que você precisará fazer uma tradução mental para o português para entender? Claro que não! Você vai virar as costas ao locutor e procurar alguém que fala a sua língua, não vai? Traduzir? Pra quê? Nem mentalmente, nem mecanicamente. Se eu fosse traduzir a frase, provavelmente levaria alguns minutos. Ok, para ilustrar a dificuldade, vou traduzir: “Porém, a versatilidade semântica do...” Chega! Para quê? Não há necessidade. Tenho certeza de que concorda comigo, mas caso realmente queira uma tradução para português, estará à venda comigo; terei imenso prazer em ficar rico. E onde eu quero chegar com toda essa bobagem? É simples. As chamadas “traduções mentais” vão ocorrer na medida em que precisamos pensar a respeito do que ouvimos para poder responder, ou vice-versa. Mas, se não estamos familiarizados com o conteúdo da conversa, a sintaxe e até o próprio assunto, ficaremos a ver navios. E como é que vamos conseguir reunir os dados necessários para nos inteirar da conversa? Através de... Palavras! As palavras são a chave, e palavras, um montão delas, é o que chamamos de... vocabulário! Wow! Como é simples! Resumindo. Listening comprehension, fluência, ausência de traduções mentais, tudo depende basicamente de um único ingrediente – palavras. E palavras são vocabulário. E vocabulário se adquire como? Fazendo um esforço (ou pedindo para sua mãe fazer o esforço por você). Então, para que complicar? Já são doze horas e vinte e seis minutos. Vou parar por aqui e tomar um café. Acho que fiz por merecer. Só para terminar – enquanto a água ferve –, não custa perguntar de quais outros ingredientes – além de palavras e expressões (que são mais de uma palavra numa determinada seqüência) – são feitos os idiomas? Pelo menos com o inglês e o português é assim. Se você for daquelas pessoas que não gostam de memorizar – decorar – o vocabulário, talvez seja melhor desistir do inglês e procurar uma língua que não tenha palavras para atrapalhar seu progresso. Esta língua pode até ser fácil. É algo assim: “———————————-”. O autor Michael Jacobs é autor de: Como não aprender inglês – Edição definitiva – Editora Campus, e: Tirando dúvidas de inglês – Disal Editora® a sair em breve. e-mail: [email protected] See Events page 42